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TRIBUNAL DO JÚRI: ORIGEM HISTÓRICA E APLICAÇÃO NO

DIREITO BRASILEIRO

Fernanda Gonçalves de Oliveira1

Resumo: Este artigo tem como objetivo fazer um breve resumo acerca do Tribunal do
Júri, instituição prevista na Constituição Federal do Brasil de 1988, destinado a julgar
os crimes dolosos contra a vida. O artigo 5.º, inciso XXXVIII, da Constituição institui a
competência do referido Tribunal e sua regulamentação está presente no Código de
Processo Penal. Assim, através de sintética análise, pretende-se analisar suas origens,
utilidade e fins dentro do direito brasileiro.

Palavras-chave: Tribunal. Júri. História. Constituição. Vida.

1. Introdução

O Tribunal do Júri teve seu surgimento com o intuito de assegurar direitos e


garantias fundamentais àquele que praticava determinados crimes. Assim, o Estado
delegou ao povo a prerrogativa de aplicar a justiça da maneira que achasse cabível,
podendo tomar decisões quanto à autoria, materialidade do delito, excludente de
ilicitude ou mesmo da culpabilidade e das causas de diminuição ou aumento da pena,
quando se tratasse de crimes dolosos contra a vida, como aborto, homicídio doloso
tentado ou consumado, infanticídio e participação em suicídio. Assim, ao superar a
fase primitiva do Direito Penal2, o sistema jurídico passou a ser mais democrático,
incluindo a pessoa comum nos julgamentos, delegando à sociedade, representada por
um corpo de jurados, o poder de decisão em determinados casos, regulamentando a
soberania do veredicto, entre outros princípios, no regime legal do país.

1
Acadêmica do curso de Direito nas Faculdades Integradas IESGO.
2
ARAGÂO, Nancy. Você conhece o Direito Penal? Rio de Janeiro: Editora Rio, 1972. p.26
2. A Origem Histórica do Tribunal do Júri

Na visão moderna, a instituição do Tribunal do Júri surgiu na Magna Carta


Inglesa de 1215. Porém, é sabido que este modelo de julgamento já existia
anteriormente, especialmente na Grécia e em Roma3. No entanto, a propagação do
tribunal popular deu-se a partir de 1215, com o preceito: “Ninguém poderá ser detido,
preso ou despojado de seus bens, costumes e liberdades, senão em virtude de
julgamento se seus pares, segundo as leis do país” 4.

Na época que precedeu o surgimento do tribunal do júri, era vigente a


vingança privada, que consistia na entrega do criminoso à família da vítima, para que
esta fizesse a justiça da forma que bem entendessem os familiares. Porém, esse tipo
de penalização, com o tempo, foi se tornando arcaica e a sociedade começou a
perceber que era necessário ter um procedimento mais humanista e bem elaborado,
que abarcasse os crimes de uma forma geral, igualando as penas para cada tipo de
crime.5

O surgimento do Tribunal do Júri se enquadra neste contexto histórico,


quando as pessoas começaram a perceber que a punição pelas próprias mãos, de
forma arbitrária já se achava bastante ultrapassada. Assim, com o advento do
julgamento pela decisão popular, o Estado passa a representar os ideais da sociedade
nos julgamentos dos crimes, incluindo o homem comum na persecução jurisdicional,
levando em consideração o Estado Democrático de Direito.

A partir da Revolução Francesa de 1789, tendo como objetivo o combate às


idéias utilizadas pelos magistrados que atuavam no regime de monarquia, o Tribunal
do Júri se instalou na França, levantando a bandeira da liberdade e da democracia. 6 A
partir daí, espalhou-se pelo continente europeu, sendo adotado por inúmeros países.
Em cada país em que o Júri foi adotado, acabou por incorporar os contornos próprios
de cada cultura, se alterando em conformidade com as necessidades de cada povo.

3
TÁVORA, Nestor. Curso de Processo Penal. Nestor Távora, Rosmar Rodrigues Alencar. 12. Ed. Salvador:
Ed. JusPodivm, 2017. p.1231
4
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 12ª Edição. Rio de Janeiro:
Forense. 2015. p.677
5
ARAGÂO, Nancy. Você conhece o Direito Penal? Rio de Janeiro: Editora Rio, 1972. p.26
6
Id. Ibid. p. 678
No Brasil, em 18 de junho de 1822, o Tribunal do Júri foi disciplinado no
ordenamento jurídico pela primeira vez, através de um decreto do Príncipe Regente,
que limitou sua competência ao julgamento os delitos de abuso da liberdade de
imprensa. Este júri, formado por vinte e quatro cidadãos “bons, honrados, inteligentes
e patriotas”, decidiria sobre tais delitos, porém suas decisões seriam passíveis de
revisão apenas pelo Príncipe 7.

Com o advento da Constituição Imperial de 1824, o Tribunal do Júri passou a


integrar o Poder Judiciário como órgão. Sendo assim, os jurados poderiam julgar
causas criminais e também cíveis.

Após a proclamação da República, a Constituição da República dos Estados


Unidos do Brasil, de 24 de fevereiro de 1891, aprovou a emenda que dava ao art. 72, §
31, a garantia de que deveria ser mantida a instituição do Júri.8

Com a Constituição de 1937, que não fazia menção ao Júri, houve diversos
debates e opiniões divergentes acerca da inclusão ou exclusão do tribunal no
ordenamento jurídico brasileiro. Contudo, o Decreto-lei nº 167 de 1938 acabou por
instituir e regular o Tribunal do Júri. 9

A Constituição democrática de 1946 reinseriu o Tribunal do Júri no capítulo de


direitos e garantias individuais. Já a Constituição do Brasil de 1967, em seu art. 150, §
18, apenas manteve o Júri no capítulo dos direitos e garantias individuais, dispondo:
“São mantidas a instituição e a soberania do Júri, que terá competência no julgamento
dos crimes dolosos contra a vida”. Assim também foi feito na Emenda Constitucional
de 1969.10

Por fim, em 1988, como retorno da democracia à carta magna brasileira, o júri
voltou a ser previsto no capítulo dos direitos e garantias individuais, trazendo os
princípios da soberania dos veredictos, sigilo das votações e plenitude de defesa,

7
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 12ª Edição. Rio de Janeiro:
Forense. 2015. p.678
8
Id. Ibid. p. 678
9
Id. Ibid. p. 678
10
Id. Ibid. p. 678
sendo disciplinado no artigo 5º, XXXVI como órgão judicial de 1º grau, da justiça comum,
estadual e federal. 11

3. Princípios Constitucionais do Tribunal do Júri

3.1. Plenitude de Defesa e Devido Processo Legal

A Plenitude de Defesa é um desdobramento do princípio da Ampla Defesa,


presente no artigo 5º, LV da Constituição Federal. Porém, possui conceito mais
abrangente do que “ampla defesa”, pois nele abre-se a possibilidade de ter uma gama
maior de argumentos para assegurar que todos os meios de defesa lícitos e possíveis
para tentar convencer os jurados a formar sua íntima convicção. Tal princípio refere-se
ao Tribunal do Júri apenas.

Guilherme de Souza Nucci ensina que:

“Um tribunal que decide sem fundamentar seus veredictos precisa


proporcionar ao réu uma defesa acima da média e foi isso que o
constituinte quis deixar bem claro, consignando que é qualidade
inerente ao júri a plenitude de defesa. Durante a instrução criminal,
procedimento inicial para apreciar a admissibilidade da acusação,
vige a ‘ampla defesa’. No plenário, certamente que está presente a
ampla defesa, mas com um toque a mais: precisa ser, além de ampla,
‘plena’.”12

3.2. Sigilo das Votações

Este princípio, além de presente na Constituição Federal, possui


complemento no Código de Processo Penal, que ao regulamentar o Tribunal do Júri
também defende que é de responsabilidade do juiz presidente advertir os jurados
sobre suas responsabilidades, neste caso a da incomunicabilidade. 13

Sendo assim, o sigilo das votações objetiva assegurar a liberdade da formação


do entendimento dos jurados, para que ocorra uma decisão justa e livre de

11
Id. Ibid. p. 679
12
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal comentado. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais.2004.
13
Código de Processo Penal, Decreto Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 13 out.1941. Artigo 497, VII.
interferências externas prejudiciais ao julgamento. Este princípio configura uma das
exceções à regra da publicidade dos atos jurisdicionais prevista no inciso IX, artigo 93
da Constituição Federal. 14

Assim, a manifestação da opinião dos jurados é resguardada em sigilo.


Sendo assim, este princípio se mostra primordial na proteção da livre manifestação da
decisão de cada jurado, que possuem a soberania em suas decisões.

Neste sentindo, o doutrinador Aramis Nassif ensina que:

“Assegura a Constituição o sigilo das votações para preservar, com


certeza, os jurados de qualquer tipo de influência ou, depois do
julgamento, de eventuais represálias pela sua opção ao responder o
questionário. Por isso mesmo a jurisprudência repeliu a idéia de
eliminação da sala secreta, assim entendida necessária por alguns
juízes com base na norma da Carta que impõe a publicidade dos atos
decisórios” (art. 93, IX, da CF).15

3.3 Soberania dos Veredictos

Soberania pode ser definida como o “poder supremo”16, e neste mesmo sentido a
soberania dos veredictos se apresenta como uma característica fundamental do
Tribunal do Júri. Desta forma, ao analisar este princípio pode-se afirmar que a decisão
proferida pelos jurados não deixa de ter força em instância superior, se da sentença
proferida houver interposição recursal.

Neste cenário o juiz de direito não tem autonomia para substituir a decisão
tomada pelos jurados. Dito isto, o Código de Processo Penal regulamenta que, se a
decisão dos jurados for manifestamente contrária à prova dos autos alegada em sede
de apelação, o Tribunal ad quem deverá sujeitar o réu a novo Júri, anulando o anterior,

14
BRASIL. Constituição Federal do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 05 out.1988.
15
NASSIF, Aramis. O Júri Objetivo.2. Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001.

16
Definição encontrada em https://dicionariodoaurelio.com/soberania. Acesso em: 05/06/2018
não podendo modificar a decisão proferida anteriormente e este fato corrobora o
referido princípio que configura cláusula pétrea na constituição Federal de 1988.17

Nucci ainda afirma que, “soberania quer dizer que o júri, quando for o caso,
assim apontado por decisão judiciária de órgão togado, terá a última palavra sobre um
crime doloso contra a vida”.

3.4. Competência para o Julgamento de Crimes Dolosos Contra a Vida

O Tribunal do Júri é um órgão de 1º grau da Justiça Comum, Estadual ou Federal,


cuja competência é para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. Neste sentido,
são crimes dolosos contra a vida: o homicídio, o auxílio ou instigação ao suicídio, o
aborto, em suas várias modalidades, e o infanticídio, na forma consumada ou tentada,
ou quando houver concurso de crime doloso contra a vida com outro que seja do juízo
singular ou de outro rito especial, sendo a competência que prevalece, a do Tribunal
do Júri. 18

Neste aspecto, quando o constituinte decidiu manter o Tribunal do Júri como


instituição democrática de participação popular no sistema judiciário brasileiro na
Constituição Federal de 1988, acabou por compor uma instituição composta por
pessoas comuns da sociedade, prezando pelo Estado Democrático de Direito. Assim,
estabeleceu que, obrigatoriamente, a apreciação dos delitos contra a vida seria de
competência do júri popular.

Porém, esta competência pode ser ampliada, como fez o Código de Processo
Penal para outros crimes: os conexos. Tal ampliação encontra respaldo também na
jurisprudência, conforme entendimento da primeira turma do Supremo Tribunal

17
Código de Processo Penal, Decreto Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 13 out.1941. Artigo 593, §3º.
18
Código Penal, Decreto Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 7 dez.1940. Do artigo 121 ao 128.
Federal, com a Presidência do Ministro Ricardo Lewandowski, por meio do Habeas
Corpus 101.542/SP, julgado aos 4 de maio de 2010.

4. Conclusão

O Tribunal do Júri, como instituição democrática e formal tem como base a


Constituição Federal, que elenca seus princípios fundamentais os quais foram objeto
de análise por este artigo.

A participação popular nos julgamentos criminais é de extrema importância para


a manutenção da democracia e inclusão popular no Poder Judiciário. Desta forma, esta
instituição é o que há de mais concreto quando se fala em participação da população
brasileira na organização Estatal.

Contudo, a Constituição atribuiu apenas competência mínima ao Júri, reduzindo sua


análise aos crimes dolosos contra a vida. Assim, esta competência poderia ser
ampliada para alcançar crimes diversos àqueles atribuídos pelo constituinte, uma vez
que, se a instituição do Tribunal do Júri é competente para julgar crimes tão graves
quanto os crimes contra a vida, é também plenamente capaz de julgar crimes de
outras espécies, de médio e também pequeno potencial ofensivo.

5. Referências

 ARAGÂO, Nancy. Você conhece o Direito Penal? Rio de Janeiro: Editora Rio,
1972.
 BRASIL. Constituição Federal do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 05 out.1988.
 Código Penal, Decreto Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 7 dez.1940.
 Código de Processo Penal, Decreto Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941.
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 13
out.1941.
 Definição encontrada em https://dicionariodoaurelio.com/soberania. Acesso
em: 05/06/2018
 TÁVORA, Nestor. Curso de Processo Penal. Nestor Távora, Rosmar Rodrigues
Alencar. 12. Ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2017.
 NASSIF, Aramis. O Júri Objetivo.2. Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2001.
 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal comentado. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais.2004.
 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 12ª
Edição. Rio de Janeiro: Forense. 2015.

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