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I·
quão rapidamente as pessoas reconstrução e que as memorias engrama, Karl Lashley concluí paciente H.M .. que foi
reaprendem silabas sem sentido. das pessoas são influenciadas que o cérebro funciona como submetido a uma cirurgia para
Ele apresenta evidências por crenças previas, desafiando a um todo para armazenar epilepsia e, posteriormente,
convincentes de que o idéia de que a memória reg1stra memórias. experienciou profunda perda de
esquecimento ocorre objetivamente a experiência . memória.
rapidamente, a princípio, mas
depois se estabiliza ao longo do
tempo.
1956 Década de 1960 1968-Década de Década de 1970 Década de 1970
Alcance de memória George Teorias da memória em 1970 Níveis de Memória episódica Endel
Miller. um dos inteleàuais estágios Alguns processamento Fergus Craik, Tulving introduz uma
Estudos de caso
fundadores da neurociência pesquisadores da memoria Robert Lockhart e Endel Tulving importante distinção entre a
neuropsicológicos
cognitiva, observa que a desenvolvem teorias da enfatizam que a maneira de memória semântica de fatos e
Pesquisadores como Larry
memória de curto prazo é memória em estag1os. A maioria processar a informação conhecimentos e a memória
Squire, Stuart Zola-Morgan,
limitada e demonstra que as das teorias inclui um breve determina como a memória é episodica de experiências
Lawrence Weiskrantz, Elizabeth
pessoas organizam a informação tampão sensorial de memória. armazenada e, mais tarde, pessoais.
Warrington e Tim Shallice
em unidades, ou blocos, memória de curto prazo e recuperada. Quanto mais
relatam estudos de caso de
significativos. memória de longo prazo. profundamente as pessoas
individuas com lesão cerebral
processam a informação, melhor
que apresentam deficits
conseguirão lembrá-la.
espec1f1Cos de memória .
216 GAZZANIGA e HEATHERTON
\;\(\
Vl
e(ij real (Haber, 1983). Outros pesquisadores questionam
10
Cl!
"D
se ela é, afinal de contas, uma forma de memória ou
e
Cl!
A simplesmente um efeito colateral perceptivo, como os
E
·::J o sinais pretos que vemos depois de sermos ofuscados pelo
z 2 4 6 8 10 2 4 6 8 10 2 4 6 8 10 flash de uma câmera. Isso ocorre devido a processos sen-
Número de tentativas em cada dia soriais, não devido à memória. Um fenômeno relacio-
nado é a afirmação de que existe uma memória fotográ-
FIGURA 7.2 H.M. tinha de traçar a figura de uma estrela enquanto observava em um fica, pela qual um indivíduo pode olhar rapidamente
espelho. Essa é uma tarefa difícil, mas H.M. melhorou com o passar do tempo. Entretanto, para uma cena e depois lembrar detalhes com precisão.
ele não tinha nenhuma consciência de ter realizado a tarefa antes. Sua possível existência é examinada em "Utilizando a
ciência psicológica: Memória fotográfica".
Repetição de manutenção
Memória
-----;1111•
~ de curto
Memória
delongo
sensorial Atenção prazo Codificação prazo
~
Recuperação
rentando lembrar alguma informação nova, como a série de consoantes de três letras, X, C e J.
Enquanto você continuar repetindo a série, vai mantê-la na memória de curto prazo.
Tipicamente, entretanto, você é bombardeado/ a por outros eventos que tentam capturar a sua
atenção, e talvez não consiga permanecer focado/ a. Para simular isso, tente novamente se lembrar da
série X, C, J, mas, desta vez, enquanto conta para trás, de três em três, desde o número 309. Se você for
como a maioria das pessoas, terá dificuldade em lembrar as consoantes depois de alguns segundos de
contagem retrospectiva. Esse procedimento demonstra que, quanto mais você ficar contando, menos
capaz será de lembrar a série de consoantes (Figura 7.4). Aos 18 segundos de contagem, as pessoas
lembram muito mal as consoantes. Isso ocorre devido à interferência de itens prévios na MCP.
MEMÓRIA FOTOGRÁFICA
Você, provavelmente, já ouviu falar sobre memória fotográfica , frase e contar quatro pa lavras. Alguém é capaz de fazer isso?
em que certas pessoas supostamente conseguem lembrar uma Provavelmente não.
imagem tão vividamente que relatam com precisão mínimos Em um estudo de 150 crianças em idade escolar, realizado na
detalhes. Muitos alunos gostariam de ter essa capac idade ao década de 1960, Lyn e Ralph Haber descobriram que 12 das crianças
estudar. Mas será que ela exi ste? E, se existe, quão comum ela é? apresentavam evidências de melhor memória eidética do que as
A idéia da memória fotográfica, que os cientistas psicológicos outras, conforme evidenciado por, aparentemente, manterem a
chamam de imagens mentais eidéticas, baseia-se na suposição de imagem na mente por mais tempo, falarem no tempo presente em
que as pessoas armazenam informações em imagens visua is que vez de no passado e moverem os olhos com se examinassem a
capturam fielmente a cena diante delas, exatamente como uma imagem lembrada. Outros estudos com crianças encontraram índices
fotografia . Contudo, como ficará óbvio durante a leitura deste semelhantes. Assim, poderíamos concluir que cerca de 8%-10% das
capítulo, a memória não é como uma reapresentação dos eventos crianças apresentam alguma forma de capacidade de imagens
em vídeo ou fotografia . No entanto, ainda é possível que algumas mentais eidéticas. Em contraste, estudos com adultos encontraram
pessoas consigam armazenar, e ma is tarde recuperar, imagens uma quase ausência de imagens mentais eidéticas. Robert Crowder
visuais individuais de uma maneira que simula uma fotografia (1992) conclu iu que estas imagens são um fraco substituto de uma
mental. verdadeira memória fotográfica. De fato, em um teste de massa
É possível lembrar imagens. Na verdade, a maioria das publ icado em revistas e jornais, não foi encontrado nenhum caso de
pessoas já viveu a experiência de lembrar que determinada memória fotográfica verdadeira . Nesse estudo, havia duas imagens,
resposta de uma prova poderia ser encontrada em uma pág ina lado a lado, de pontos em um arranjo aparentemente aleatório. Se
específica do livro, com um leve senso de consegu ir en xergar uma alguém consegu isse manter na mente uma imagem enquanto olhava
imagem da página. Mas qual é a quarta pa lavra na segunda frase para a outra, as duas se fund iriam e uma mensagem escondida seria
da página a contar do fim? Essa última pergu nta é um teste de revelada. O fato de ninguém ser capaz de fazer isso levou J. Merrit
memória fotográfica genuína . Se fosse realmente uma imagem (1979) a concluir que a memória fotográfica genuína era um
fotográfica, você poderia simplesmente olhar para a penú lt ima " fen õmeno de nenhum em um milhão" .
220 GAZZANIGA e HEATHERTON
1,0
.. 3 seg .
6 seg .
o - - - -O 9 seg.
--·-·-· .. 12 seg.
Experimentador
0,8
• - - - .... 15 seg.
18 seg . ..
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0,6
Participante
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_ ... - - - - - -
~ ·-
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/ ,
voz alta a série de consoantes. .:/
~
Observe que a capacidade de Participante
lembrar a série diminui conforme
aumentam os intervalos de Latência (seg)
retenção.
OSUPHDNYUMAUCLABAMIT.
Essas 20 letras seriam difíceis até para o maior de todos os alcances de memória. Mas e se organizar-
mos a informação em unidades menores e significativas?
OSU-PHD-NYU-MA-UCLA-BA-MIT
Aqui nós vemos as letras separadas para produzir os nomes de universidades ou graus acadêmicos.
Essa organização torna muito mais fácil lembrar, por duas razões. Primeiro, o alcance de memória se
limita no máximo a sete itens, e provavelmente menos, mas os itens podem ser letras, números,
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 221
palavras ou, inclusive, conceitos. Segundo, é mais fácil lembrar unidades significativas do que uni-
memória de trabalho Um
dades sem sentido. O processo de organizar a informação em unidades significativas é conhecido sistema de processamento at ivo que
como agrupamento, como quando separamos as informações em partes. Quanto mais eficientemente mantém "na linha" difere ntes tipos
agrupamos as informações, mais conseguimos lembrar. Os grandes jogadores de xadrez conseguem de informações para uso co rre nte.
olhar por alguns segundos para um tabuleiro e, depois, reproduzir o arranjo exato das peças (Chase
e Simon, 1973). Eles conseguem fazer isso porque são capazes de dividir o tabuleiro em subunidades
significativas com base em sua experiência passada com o jogo. Interessantemente, se as peças do
tabuleiro estão colocadas aleatoriamente sobre o tabuleiro, de modo que o arranjo não faz sentido
em termos de xadrez, os peritos não conseguem reproduzir o tabuleiro melhor do que os iniciantes.
Em geral, quanto maior a sua experiência no assunto, mais eficientemente você consegue agrupar a
informação e, portanto, mais vai lembrar. A capacidade de agrupar a informação eficientemente
depende do nosso sistema de memória de longo prazo, que logo discutiremos.
Memória de trabalho O conceito inicial de memória de curto prazo era o de que se tratava
simplesmente de um tampão em que as informações verbais eram repetidas até serem armazenadas
ou esquecidas. Mas ficou claro que a MCP não é um simples sistema de armazenamento, e sim uma
unidade processadora ativa, que lida com múltiplos tipos de informação, como sons, imagens e
idéias. O psicólogo britânico Alan Baddeley e seus colegas desenvolveram um influente modelo de
sistema de memória ativo com três partes, que chamaram de memória de trabalho (Figura 7.5). A
memória de trabalho é um sistema de processamento ativo que mantém as informações "na
linha", para que possam ser utilizadas para atividades como solução de problemas, raciocínio e
compreensão. Por exemplo, H.M., do início deste capítulo, só consegue manter uma conversa en-
quanto estiver ativamente envolvido nela. Os três componentes da memória de trabalho são a execu-
tiva central, a alça fonológica e o bloco de notas visuoespacial.
Aexecutiva central preside as interações entre os subsistemas e a memória de longo prazo: ela é
a chefe. Ela codifica informações dos sistemas sensoriais e filtra as informações suficientemente
importantes para serem armazenadas na memória de longo prazo. Ela também recupera informa-
ções da memória de longo prazo conforme necessário. Aexecutiva central depende de dois subcom-
ponentes que retém temporariamente informações auditivas ou visuais.
Aalça fonológica codifica informações auditivas e está
ativa sempre que lemos, falamos ou repetimos palavras para
nós mesmos a fim de não esquecê-las. Você provavelmente
percebeu essa ''voz interior" que lê conforme seus olhos pro-
cessam o material escrito. Se não percebeu, tente ler a pró- ®
xima frase sem "falar" as palavras na sua cabeça. É difícil
obter um significado simplesmente passando os olhos pelo
texto. Evidências da alça fonológica são encontradas em es-
tudos em que as pessoas são solicitadas a ler listas de con-
1
( \ Bloco de notas Alça
V
soantes e lembrá-las depois. As pessoas tendem a cometer ( . _ . visuoespacial fonológica
erros com consoantes que soam parecidas, por exemplo, Repetiçao {material (fala, palavras,
visual e espacial) números)
trocam um Gpor um T, em vez de um Q. Arecordação tam-
bém é pior quando muitas palavras de uma lista têm o mes-
mo som, se comparadas a palavras que soam diferentemen-
te, mesmo quando as últimas palavras estão relacionadas
umas às outras em significado. Esses exemplos sugerem que
as palavras são processadas na memória funcional por seu
som e não por seu significado.
O bloco de notas visuoespacial é utilizado para pro-
\: ·: :~ ~· )) {coordena o
material)
ter grande dificuldade para lembrar configurações espaciais, nas pouca dificuldade para lembrar
memória de longo prazo
(MLP) A armazenagem
palavras, ao passo que outros apresentam justamente o padrão oposto. Esses achados de pesquisa
relativamente permanente de demonstram que a memória de curto prazo consiste em muito mais do que simplesmente um
informações. tampão que inclui tudo.
efeito da posição serial A
capacidade de lembrar itens de
uma lista depende da ordem de
apresentação, com os itens
A memória de longo prazo é relativamente permanente
apresentados no início ou no f ina l
da lista mais bem lembrados do que Quando as pessoas falam sobre suas memórias, elas geralmente estão se referindo ao armaze-
os do meio. namento relativamente permanente de informações, conhecido como memória de longo prazo
efeito de primazia Em uma lista, (MLP) . Na analogia com o computador, a MLP é semelhante às informações guardadas em um disco
a melhor memória para itens rígido. No entanto, diferentemente da armazenagem em computador, a MLP humana é quase ilimi-
apresentados primeiro . tada. Amemória de longo prazo nos permite lembrar canções de ninar da nossa infância, os signifi-
efeito de recentidade Em uma cados e grafia de palavras raramente utilizadas como azodiisobutironitrila, e o que você comeu on-
lista, a melhor memória para tem no almoço.
palavras apresentadas no final da
lista .
Distinguindo a memória de longo prazo da memória de curto prazo A memó-
ria de longo prazo é distinta da memória de curto prazo em dois aspectos importantes: duração e
capacidade. Mas existe uma controvérsia: será que a MLP é um tipo de armazenamento de memória
realmente diferente da MCP? As evidências iniciais de que a MLP e a MCP são sistemas separados
vêm da pesquisa que pede às pessoas que lembrem longas listas de palavras. Acapacidade de recor-
dar itens da lista depende da ordem de apresentação, com os itens apresentados no início ou no fim
da lista mais bem lembrados do que os do meio. Essa melhor recordação dos primeiros e últimos
itens é conhecida como o efeito de posição serial (Figura 7.6), que na verdade envolve dois
efeitos separados. O efeito de primazia se refere à melhor memória das pessoas para os itens
apresentados primeiro, enquanto o efeito de recentidade se refere à melhor memória para os
itens mais recentes.
Uma explicação comum para o efeito da posição serial baseia-se numa distinção entre a MCP
e a MLP. Quando as pessoas estudam a longa lista, elas repetem mais os primeiros itens, e essa
informação é transferida para a MLP. Os últimos itens, ao contrário, estão na MCP. A idéia de que
os efeitos de primazia se devem à MLP,
enquanto os efeitos de recentidade se
devem à MCP, é apoiada por estudos em
1,00
que existe um intervalo entre a apre-
sentação da lista e a tarefa de recordar.
Esse intervalo interfere no efeito de re-
0,80 centidade, mas não no efeito de prima-
~
zia, exatamente como poderíamos es-
.o"' perar se o primeiro envolve a MCP.
E
_!!' 0,60
Entretanto, é questionável atribuir o
QJ
-o
efeito de recentidade inteiramente à
QJ
-o MCP. Afinal de contas, você provavel-
~"' mente se lembra de sua última aula me-
:.o 0,40 lhor do que das anteriores, mesmo que
"'o
..o
não esteja mantendo o material na MCP.
o: Na verdade, estudos mostram que exis-
0,20 te um efeito de recentidade mesmo para
as informações apresentadas no decor-
rer de dias e semanas, o que torna im-
Início Final provável que o material seja mantido
0,00 -+-~~~~"--.~~~~~~~~~~-;...~~~~~~~~~~~
Adistinção mais básica entre os sistemas de memória é entre aqueles em que nós lembramos e
usamos informações conscientemente e aqueles em que a memória se manifesta sem esforço ou
intenção consciente. A memória explícita envolve os processos empregados para lembrar infor-
mações específicas. A informação recuperada na memória explícita é conhecida como memória
declarativa, que se refere à informação cognitiva que pode ser trazida à mente, isso é, o conheci-
memória explícita Os processos mento que pode ser declarado. Muitos cientistas psicológicos usam os termos intercambiavelmente,
envolvidos quando as pessoas mas a memória explícita se refere ao processo de memória, ao passo que a memória declarativa se
lembram informações específicas. refere ao conteúdo da memória.
memória declarativa A Você usa a memória explícita quando tenta lembrar o que comeu no jantar ontem à noite ou o
informação cognitiva recuperada que significa a palavra azodiisobutironitrila. As memórias declarativas podem envolver palavras ou
da memória expl ícita;
conhecimentos que podem ser
conceitos, imagens visuais ou ambos. Por exemplo, imagine o satélite da Terra. Você, provavelmente,
declarados. está recuperando tanto a imagem como o nome da lua. A maioria dos exemplos que usamos até
agora neste capítulo se refere a memórias explícitas.
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 225
Em 1972, Endel Tulving introduziu uma ourra distinção na memória explícita: memória epi-
memória episódica A memória
sódica e memória semântica. A memória episódica se refere às nossas experiências passadas. das nossas experiências passadas .
..\ memória semântica representa o nosso conhecimento de fatos triviais ou importantes inde-
memória semântica A memória
pendentes da experiência pessoal. Por exemplo, as pessoas conhecem as capitais de países que do conhecimento sobre o mundo.
nunca visitaram e mesmo aquelas que nunca jogaram beisebol sabem que crês strikes significam
memória implícita O processo
que você está fora.
pelo qual as pessoas manifestam
As evidências de que os sistemas de memória explícita episódica e semântica são separados uma intensificação de memória,
podem ser encontradas em casos de lesão cerebral em que a memória semântica está intacta, geralmente pelo comportamento,
mesmo que a memória episódica esteja prejudicada. Esse exemplo foi encontrado em um grupo de sem esforço deliberado e sem
qualquer consciência de estar
crianças britânicas que tiveram lesão cerebral durante o período de bebê ou início da infância e lembrando alguma coisa .
desenvolveram péssima memória para informações episódicas (Vargha-Khadem et ai., 1997). Elas
memória de procedimento Um
::inham dificuldade para contar o que haviam comido no almoço, sobre o que estavam falando ou t ipo de memória implícita que
assistindo na televisão há cinco minutos ou o que tinham feito nas férias de verão. Os pais relata- envolve habilidades motoras e
rnm que as crianças tinham de ser constantemente monitoradas para não esquecer de fazer as hábitos comportamenta is.
coisas, como ir à escola. Notavelmente, essas crianças freqüentavam escolas comuns e se saíam
razoavelmente bem. Além disso, seus Q!s estavam dentro do intervalo normal. Elas aprendiam a
ialar e a ler e eram capazes de lembrar uma grande quantidade de fatos. Por exemplo, à pergunta
-Quem é Martin Luther King?" uma das crianças respondeu: "Um americano; lutou pelos direitos
dos negros, líder dos direitos dos negros na década de 1970 [sic]; foi assassinado". Essas crianças,
então, são capazes de codificar e recuperar informações semânticas, mas não lembram como ou
quando aprenderam a informação.
que poderia torná-lo famoso nos círculos científicos), ou talvez lembre de ter lido o nome antes, mas
aprimoramento de repetição
priming A melhora na
não sabe onde e, portanto, supõe que ele é uma pessoa famosa. O psicólogo Lany Jacoby chamou
identificação ou processamento de isso de efeito da falsa fama (Jacoby et al., 1989). Jacoby faz os sujeitos de uma pesquisa lerem uma
um estímulo que fo i experien ci ado lista de nomes fictícios como um teste de pronúncia. No dia seguinte, os sujeitos participaram de um
previamente. estudo aparentemente não-relacionado, em que tinham de ler uma lista de nomes e decidir quais
codificação O processamento da pessoas eram famosas e quais não eram. Os sujeitos fizeram julgamentos equivocados sobre alguns
informação de modo a poder dos nomes fictícios do dia anterior, considerando-os famosos. Por que isso aconteceu? Os sujeitos
armazená-la.
sabiam que tinham ouvido o nome antes, mas não conseguiam lembrar onde. Portanto, a memória
implícita os levou a supor que o nome provavelmente era de uma pessoa famosa.
Amemória implícita também está envolvida no aprimoramento de repetição (priming),
a melhora na identificação ou processamento de um estímulo que foi experienciado previamente.
Em um típico experimento de aprimoramento, os sujeitos são expostos a uma lista de palavras e
solicitados a fazerem alguma coisa, como contar o número de letras nas palavras. Depois de um
breve intervalo, mostram-se a eles fragmentos de palavras, que devem completar com a primeira
palavra que lhes vier à mente. Você pode experimentar fazer isso. Conte as letras das seguintes
palavras: aparência, castanha, patente. Agora, complete os fragmentos ap __ , cas _ _ , par
_ _, com a primeira palavra que lhe vier à mente. É muito mais provável que o sujeito complete
os fragmentos com as palavras encontradas previamente, que ficaram impressas e, portanto, são
mais acessíveis. No nosso exemplo, é mais provável que você complete os fragmentos como aparên-
cia, castanha e patente do que como, digamos, aplicação, casaco ou paterno. Esse efeito ocorre mesmo
quando os sujeitos não lembram explicitamente as palavras da primeira tarefa; mesmo várias horas
depois de vê-las, os sujeitos manifestam memória implícita sem explícita lembrança das palavras.
:atir e ser peludo. A representação mental de "cachorro" difere da de "gato", mesmo que os dois
armazenamento A retenção de
sejam semelhantes em algumas coisas. Você também tem representações mentais de coisas comple- representações codificadas ao
xas, como idéias, crenças e o sentimento de se apaixonar. longo do tempo, que corresponde a
Quer simples, quer complexa, a informação é armazenada em redes de neurônios no cérebro. O alguma mudança no sistema
armazenamento se refere à retenção de representações codificadas ao longo do tempo e corres- nervoso que registra o evento.
ponde a alguma mudança no sistema nervoso que registra o evento. As representações armazenadas recuperação O ato de recordar
são referidas como memórias. As memórias representam muitos tipos diferentes de informação, como ou lembrar informações
armazenadas, para poder utilizá-las.
:magens visuais, fatos, idéias, sabores e inclusive movimentos musculares, como a memória para
andar de bicicleta. Arecuperação é o ato de recordar ou lembrar a informação armazenada para repetição de manutenção Um
tipo de codificação que envolve
?Oder utilizá-la. O ato de recuperação geralmente envolve um esforço explicito para acessar os con- repetir continuamente um item .
:eúdos do armazenamento de memórias, tal como quando você tenta lembrar o capítulo anterior ou
repetição elaborativa A
o seu quinto aniversário. Mas muitas vezes você recupera informações implicitamente, sem nenhum codifica ção de informações de uma
esforço, como quando lembra imediatamente o nome de um conhecido que encontra na rua. Assim, maneira ma is significativa, tal como
a recuperação está envolvida em ambos os sistemas de memória, explícito e implícito. vinculá-la a conhecimentos da
memória de longo prazo.
esquemas Estruturas cognitivas
O armazenamento de lonqo orazo baseia-se no siqnificado hipotéticas, que nos ajudam a
perceber, organizar, processar e
utilizar as informações.
Os livros são armazenados por números da Biblioteca do Congresso, as locadoras de vídeo
costumam organizar os filmes por tipo, e as listas telefônicas são organizadas alfabeticamente. As
:nemórias são armazenadas por significado. No início da década de 1970, os psicólogos Fergus Craik
e Robert Lockhart criaram uma influente teoria da memória baseada na profundidade da elabora-
::ào. Segundo o seu modelo de níveis de processamento, quanto mais profundamente um item é codi-
:lcado, mais significado tem e melhor é lembrado. Craik e Lockhart propuseram que diferentes tipos
de repetição levam a diferentes codificações. Arepetição de manutenção envolve simplesmente
~epetir muitas vezes o item. Arepetição elaborativa envolve codificar a informação de maneiras
:nais significativas, como quando pensamos conceitualmente sobre o item ou decidimos se ele se
refere a nós. Em outras palavras, nós elaboramos a informação básica ligando-a a conhecimentos da
memória de longo prazo.
Como esse modelo funciona? Suponha que você mostre a participantes uma lista de palavras e
depois peça para fazerem uma de três coisas. Você poderia pedir que fizessem julgamentos percepti-
·:os simples, como: ''As palavras estão impressas em letras maiúsculas ou minúsculas?" Ou poderia
pedir que julgassem a acústica das palavras, como: ''A palavra rima com barco?" Ou você
poderia perguntar sobre o significado semântico das palavras, como: "Eles tinham de cruzar o _ _
para chegar ao castelo?". Depois de terem processado a informação, você poderia, mais tarde, pedir
que lembrassem o máximo possível de palavras (Figura 7.8). Você descobriria que as palavras pro-
cessadas no nível mais profundo, com base no significado semântico,
eram as mais lembradas. Estudos com imagens cerebrais mostraram
que a codificação semântica ativa mais regiões do cérebro do que a co-
~ 100
dificação superficial (Kapur et al., 1994). Essa maior atividade cerebral > 90 Semâ ntica
~
está associada à melhor memória.
"'~ 80
(lJ
u 70
(lJ
_;:: Acústica
e
Os esquemas proporcionam uma o
u
60
~
estrutura organizacional (lJ
50
& 40
As pessoas armazenam memórias pelo significado. Mas como o E
(lJ 30
significado é determinado? Anteriormente, nós mencionamos o agru- O'l
pamento como uma boa maneira de codificar grupos de itens para "'e
+-'
(lJ
20 Visual
~ 10
serem lembrados facilmente. Quanto mais significativos os agrupa- o
"- 0-'-~_._~~~~~~~~~~~~~~~
mentos, mais eles são lembrados. Decisões sobre como agrupar as in-
formações dependem de estruturas organizacionais prévias na memó- Tipo de codificação
bre o mundo para representar a informação que chega. Ao fazer isso, elas constroem novas memó-
rias. Elas preenchem lacunas, ignoram informações inconsistentes e interpretam o significado
com base em experiências passadas.
Esquemas existentes nos ajudam a compreender o mundo, mas podem levar a uma codifica-
ção tendenciosa. Em uma clássica demonstração realizada na década de 1930, Frederick Bartlett
pediu a participantes britânicos que escutassem uma lenda popular nativa americana. Após um
intervalo de 15 minutos, ele pediu aos sujeitos que repetissem a história exatamente como a
tinham ouvido. Bartlett descobriu que os participantes distorceram bastante a história, e fizeram
isso de maneira consistente - eles alteraram a história de modo que ela fizesse sentido do seu
próprio ponto de vista cultural.
Os esquemas influenciam as informações que armazenaremos na memória. Considere um estu-
do em que os alunos lêem uma história sobre uma garota selvagem, rebelde. Alguns dos participan-
tes foram inicialmente informados de que a garota era Helen Keller, enquanto outros foram informa-
dos de que seu nome era "Carol Harris'', um nome inventado (Sulin e Dooling, 1974). Uma semana
mais tarde, os participantes que tinham sido informados de que a garota era Helen Keller tendiam
mais a relatar, erroneamente, ter visto a frase "Ela era surda, muda e cega" do que aqueles que
pensavam que a história era sobre Carol Harris.O nosso esquema para Helen Keller inclui suas várias
incapacidades e, quando recuperamos informações sobre Helen Keller da memória, tudo o que sabe-
mos sobre ela é recuperado juntamente com a história específica que estamos tentando lembrar.
Leia cuidadosamente o seguinte parágrafo:
Oprocedimento é realmente muito simples. Em primeiro lugar, organize as coisas em pilhas diferen-
tes, de acordo com as características. Não faça demais de uma vez só. No curto prazo isso pode não
parecer importante, mas as complicações surgem facilmente.Um erro pode custar caro. A seguir
encontre instalações adequadas. Algumas pessoas talvez tenham de ir a algum outro lugar para isso.
Amanipulação dos mecanismos apropriados deveria ser auto-explicativa. Lembre-se de incluir todos
os outros suprimentos necessários. Inicialmente, a rotina pode ser esmagadora, mas logo se tomara
apenas mais uma faceta da vida. Finalmente, reorganize tudo em seus grupos iniciais. Devolva-os a
seus lugares habituais. Eventualmente eles serão novamente utilizados. Então todo o ciclo terá de ser
repetido. (Bransford e Johnson, 1972)
Você achou fácil de entender? Se tivesse de lembrar as frases desse parágrafo, seria capaz de
fazer isso? Talvez você se surpreenda ao saber que os pesquisadores apresentaram esse parágrafo a
universitários e que esses alunos o acharam de fácil compreensão e relativamente fácil de lembrar
Como isso é possível? É fácil se você souber que o parágrafo descreve lavar roupas! Volte e leia o
parágrafo novamente. Observe como o seu esquema para lavar roupas o/ a ajuda a compreender e
lembrar como as palavras e frases estão conectadas entre si .
Veículo
Rua
j Ôn1bus
Ca rro
Ca min hã o
Caminhão de
Laranja ~ Bombeiros
Maçã
Amarelo
/~ Vermelho / \
~ /
Verde
Cereja
- Pê ra
Pôr-do-sol
Rosa ,,
IC
,::
e
:=::.
:.~
FIGURA 7. Uma rede semântica em que conceitos semelhantes são conectados por suas associações.
central dos modelos de memória de ativação por difusão. Segundo essa visão, estímulos na memória
de trabalho ativam nodos específicos na memória de longo prazo, o que facilita o acesso àquele.-
material, facilitando assim a recuperação.
Aorganização global de redes associativas baseia-se em categorias hierarquiÇ91Rente estrutura-
das, fornecendo uma planta clara e explícita de onde procurar infOímações_necéssárias. Dada a vasta
quantidade de material na memória, é realmente espantoso quão/rapídamente podemos buscar e
obter as memórias necessárias no armazenamento. Sempr~ ouvimos urna frase, não só temos de
lembrar o que todas as palavras significam; como t s também de recordar todas as informações
relevantes que nos ajudem a compreender o · cado. Para que isso ocorra, a informação precisa
ser organizada de um modo lógico. !r e tentar achar um arquivo específico em um disco rígido
de 40 gigabytes, cheio, abrindo um arquivo de cada vez. Tal método seria desanimadoramente lento.
Em vez disso, a maioria discos dos computadores está organizada em pastas, e dentro de cada
pasta estão pastas 1s especializadas, e assim por diante. Esse sistema de armazenamento hierár-
quico nos pemúte encontrar rapidamente os arquivos necessários.
Como em um computador, a estrutura hierárquica da memória facilita a recuperação eficiente.
Se nós ativarmos memórias da sua professora de biologia, por exemplo, perguntando o nome dela, e
depois perguntarmos se ela ou algum amigo casual usa óculos, você provavelmente conseguirá lem-
brar se ela usa óculos mais rapidamente do que se o seu amigo usa. Isso ocorre porque todas as
informações sobre a sua professora de biologia são ativadas ao mesmo tempo, permitindo que você
responda rapidamente. Para responder à pergunta sobre o seu amigo casual, você precisa primeiro
ativar a memória para esse amigo.
230 GAZZANIGA e HEATHERTON
Especificidade de codificação Quase qualquer coisa serve como uma deixa de recupera-
princípio da especificidade de
codificação Um princípio que
l ção, incluindo o cheiro de um peru assado, uma música favorita de quando estudávamos no ensino
afirma que qualquer estímulo que é
médio, ou entrar num prédio conhecido. Encontrar esses tipos de estímulo geralmente desencadeia
codificado junto com uma memórias involuntárias. De acordo com o princípio da especificidade de codificação do
experiência pode, mais tarde, psicólogo Endel Tulving, qualquer estímulo que é codificado juntamente com uma experiência pode,
desencadear memórias da mais tarde, desencadear memórias da experiência. Em um interessante estudo com achados provo-
experiência.
cativas, Steven Smith e seus colegas fizeram alunos estudarem 80 palavras em uma de duas salas
diferentes. As salas diferiam de várias maneiras, incluindo tamanho, localização e cheiro. Os alunos
foram então testados quanto ao que lembravam, na sala em que haviam estudado ou na outra sala.
Quando o estudo e as sessões de teste foram realizados na mesma sala, os alunos lembraram corre-
tamente cerca de 49 palavras. Entretanto, quando testados na sala onde não tinham estudado, eles
lembraram corretamente apenas 35 palavras (Smith et ai., 1978). Essa intensificação da memória
quando a situação em que lembramos é semelhante à situação em que codificamos é conhecida
como memória dependente do contexto. Amemória dependente do contexto pode basear-se em coisas
como odores, música de fundo e localização física. A demonstração mais dramática foi a que mos-
trou que mergulhadores que aprenderam informações embaixo da água mais tarde se saíram melhor
no teste embaixo da água do que em terra (Godden e Baddeley, 1975; veja a Figura 7.10)
CIÊNCIA PSICOLÓGICA 231
:r,::
(a) e
~
:.d'.
Deixa e
resposta
(b)
Intervalo
IGURA 7 16 Regiões frontais ativas durante a formação da memória podem depender do material
que está sendo memorizado. A memorização de material verbal (palavras) ativa o córtex frontal esquerdo,
ao passo que a memorização de material não-verbal, pictórico (rostos desconhecidos) ativa o córtex frontal
direito. lnteressantemente, a memorização de objetos (associados tanto à imagem quanto ao nome) ativa
tanto o córtex frontal direito quanto o esquerdo.
236 GAZZANIGA e HEATHERTON
Transitoriedade Esquecimento Memória reduzida com o passar do tempo, tal como esquecer o enredo de um filme.
Desatenção Esquecimento Memória reduzida por não se prestar atenção, tal como perder as chaves ou esquecer de um almoço
marcado.
Bloqueio Esquecimento Incapacidade de lembrar informações necessárias, tal como não conseguir recordar o nome de uma pessoa
que encontramos na rua.
Má atribuição Distorção Atribuir uma memória à fonte errada, tal como pensar, falsamente, que Richard Shiffrin é famoso.
Sugestionabilidade Distorção Alterar uma memória devido a informações enganadoras, tal como desenvolver uma falsa memória de
eventos que não aconteceram.
Vi és Distorção Influência de conhecimentos correntes sobre a nossa memória de eventos passados, tal como lembrar
nossas atitudes passadas como semelhantes às nossas atitudes atuais, mesmo que elas tenham mudado.
Persistência Indesejado O ressurgimento de memórias indesejadas ou perturbadoras que gostaríamos de esquecer, tal como
lembrar uma gafe embaraçosa.
fur exemplo, se você tem uma nova combinação no seu cadeado do armário a cada ano, talvez tenha r- transitoriedade O padrão de
dificuldade em se lembrar dela por ficar se lembrando da antiga. Na verdade, o contexto físico
esquecimento com o passar do
fornece deixas de recuperação para essa combinação mais antiga e, desse modo, fica mais difícil tempo.
embrar a nova enquanto você está em pé diante do seu armário. Na interferência retroativa,
interferência proativa Quando
novas informações inibem a nossa capacidade de lembrar antigas informações. Agora que você final- informações anteriores inibem a
mente sabe a nova combinação do seu cadeado, talvez descubra que esqueceu a antiga. A Figura capacidade de lembrar novas
~.18 mostra os testes experimentais típicos utilizados para demonstrar as interferências proativa e informações.
retroativa. Em ambos os casos, nós esquecemos porque informações concorrentes deslocam a infor- interferência
mação que estamos tentando recuperar. retroativa Quando novas
informações inibem a capacidade
de lembrar antigas informações.
bloqueio A incapacidade
O bloqueio é temporário temporária de lembrar alguma
coisa que sabemos.
Obloqueio ocorre quando a pessoa apresenta uma incapacidade temporária de lembrar algu- fenômeno na ponta da
ma coisa que ela sabe. Bloqueios temporários são comuns e frustrantes: esquecer o nome de um CD língua Um fenômeno que ocorre
favorito, esquecer as falas durante uma peça de teatro, ou esquecer o nome da pessoa que estamos quando as pessoas experienciam
apresentando a alguém. Outro bom exemplo de bloqueio é o fenômeno na ponta da língua, grande frustração ao tentar
lembrar palavras específicas que
descrito por Roger Brown e David MacNeill, em que as pessoas experienciam grande frustração ao estão um tanto obscuras.
:entar lembrar palavras específicas que estão um tanto obscuras. O pesquisador Alan Brown (nenhu-
desatenção A codificação
ma relação com Roger) mostrou que o fenômeno na ponta da língua pode ser confiavelmente produ- desatenta ou superficial de eventos.
zido em laboratório (Brown, 1991). Por exemplo, ao serem solicitadas a fornecer uma palavra que
signifique "patrocínio concedido a um parente, em negócios ou na política", as pessoas geralmente
se atrapalham. E no caso de "um instrumento astronômico para encontrar a posição"? 'As vezes, as
pessoas sabem com qual letra a palavra começa, quantas sílabas ela tem e inclusive como ela soa,
mas não conseguem empurrar a palavra para a memória funcional. Você sabia que as palavras são
nepotismo e sextante? O bloqueio freqüentemente ocorre pela interferência de palavras semelhantes
em som ou significado. Essas palavras semelhantes ficam recorrendo enquanto tentamos lembrar a
palavra-alvo.
entação; os universitários eram muito bons em notar a mudança. Isso acontece porque as pessoas
amnes1a Déficits na memória de
longo prazo, resultantes de
mais velhas são especialmente desatentas? Ou é porque as pessoas processam os aspectos essenciais
doenças, lesão cerebral ou trauma da situação e não os detalhes? Talvez os adultos mais velhos codifiquem a pessoa simplesmente
psicológ ico. como "um estudante universitário" e não procurem detalhes mais precisos. Para testar essa idéia,
amnésia retrógrada A condição Simons e Levin realizaram um estudo adicional em que um operário da construção civil pedia orien-
em que as pessoas perdem tação a estudantes universitários. Realmente, os estudantes universitários não perceberam a substi-
memórias passadas, tal como tuição do operário, provando essa última hipótese.
memórias de eventos, fatos, pessoas
ou mesmo informações pessoa is.
amnésia anterógrada A
incapacidade de formar novas A amnésia é um déficit na memória de lonao orazo
memórias.
Às vezes, nós perdemos a capacidade de recuperar vastas quantidades de informação da memó-
ria de longo prazo. A amnésia se refere a déficits na memória de longo prazo, resultantes de
doenças, lesão cerebral ou trauma psicológico. Existem, essencialmente, dois tipos de amnésia: re-
trógrada e anterógrada. Na amnésia retrógrada, as pessoas perdem memórias passadas de even-
tos, fatos, pessoas ou mesmo informações pessoais. A maioria das descrições de amnésia na mídia
são de amnésia retrógrada - a estrela da novela acordando de um coma sem saber quem é. Em
contraste, na amnésia anterógrada, as pessoas perdem a capacidade de formar novas memórias.
H.M. era um caso clássico de amnésia anterógrada. Ele conseguia lembrar antigas informações sobre
seu passado, mas desde a cirurgia perdeu a capacidade de formar novas memórias. Muitos casos de
amnésia, como o de H.M., resultam de lesões nos lobos temporais mediais. Mas lesões em outras
áreas subcorticais, como ao redor do tálamo, também podem levar à amnésia. Uma causa comum
desse tipo de amnésia é a síndrome de Korsakoff, uma forma grave de perturbação da memória asso-
ciada ao alcoolismo crónico. O abuso de álcool prolongado pode levar ao déficit de vitaminas que
resulta em dano talâmico e, subseqüentemente, amnésia.
A amnésia é uma condição fascinante que pode variar muito de caso para caso. Por exemplo.
depois de levar uma pancada na cabeça ou perder o fluxo de sangue para o cérebro, algumas pessoas
experienciam uma perda temporária de memória que passa depois de um ou dois dias. Uma forte
pancada na cabeça pode causar uma concussão, que envolve uma perda de consciência capaz de
durar momentos ou semanas. Trevor Rees-Jones, o guarda-costas particular da princesa Diana, so-
freu uma concussão durante o acidente de carro que lhe tirou a vida. Mais tarde, ele conseguiu se
lembrar de entrar no carro, mas não lembrou nada da perseguição que levou ao acidente. Isso é
típico da amnésia que se segue à concussão. Geralmente existe um período de amnésia retrógrada
para eventos que levaram ao incidente e, às vezes, amnésia anterógrada temporária. As pessoas que
visitam esses pacientes no hospital freqüentemente se surpreendem, pois a pessoa parecia lúcida
durante a conversa, mas depois não consegue se lembrar da visita. Isso ocorre porque a memória
funcional não foi perturbada, mas as memórias não são consolidadas na memória de longo prazo.
V esquecer informações é tão importante como a capacidade de lembrá-las. O esquecimento que ocorre com o passar
do tempo geralmente se deve à interferência de estímulos concorrentes. O bloqueio é a incapacidade temporária
de recuperar informações específicas, conforme exemplificado pelo fenómeno na ponta de língua . Ele também é
causado por interferência . A desatenção é resultado da codificação superficial, que ocorre quando as pessoas não
prestam atenção suficiente a detalhes. A amnésia se refere a um déficit na memória de longo prazo, em que as
pessoas esquecem informações passadas (amnésia retrógrada) ou são incapazes de armazenar novas informações
(amnésia anterógrada). A maioria das amnésias é causada por lesões no cérebro.
que a memória humana é tendenciosa, imperfeita e distorcida. Ilusões de memória são comuns e
muitas foram descritas anteriormente neste capítulo. Mas nem todas as distorções de memória são
assim benignas. Nesta seção, você verá como os sistemas de memória humana proporcionam uma
descrição muito pouco exata dos eventos passados. Só que você não deve pensar que simplesmente
porque uma coisa não funciona como acreditamos que funciona ela é defeituosa. Conforme Dan O que faz com que as pessoas
tenham memórias distorcidas,
Schacter argumentou, muitos dos aspectos aparentemente defeituosos da memória podem ser sub- falsas ou inexatas?
produtos de mecanismos benéficos. Vamos examinar alguns dos exemplos mais surpreendentes da
aparente falibilidade da memória humana.
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CIÊNCIA PSICOLÓGICA 243
:dentificar com exatidão indivíduos de outras etnias. Esse efeito ocorre em caucasianos, asiáticos,
sugestionabilidade O
afro-americanos e hispânicos. Aexpressão "todos eles parecem iguais" parece adequada para todas desenvolvimento de memórias
as pessoas que não são membros do nosso grupo étnico. Uma explicação para esse problema é que as tendenciosas, quando fornecidas
;>essoas tendem a ter um contato menos freqüente com os membros de outras etnias; outra é que as informações enganadoras.
;>essoas codificam a etnia de acordo com regras de categorização, tal como nos experimentos de
cegueira para a mudança em que as pessoas mais velhas viam "um estudante universitário" e os
estudantes viam um "operário da construção civil''.
provavelmente será inexata ou mesmo falsa. Entretanto, algumas pessoas são especialmente confiantes.
amnésia para a fonte Um tipo
de amnésia que ocorre quando uma
estando certas ou erradas, e os jurados as acham convincentes.
pessoa lembra um evento, mas não
consegue lembrar onde encontrou
a informação. As pessoas têm lembranças falsas
confabulação A falsa recordação
de uma memória episódica. Aamnésia para a fonte ocorre quando a pessoa lembra um evento, mas não consegue lembrar
onde encontrou aquela informação. Pense em sua lembrança mais remota da infância. A maioria das
pessoas não consegue lembrar memórias específicas de antes de três anos de idade. A ausência de
memórias anteriores é conhecida como amnésia da infância, e pode ser devida à falta inicial da capaci-
dade lingüística e a lobos frontais imaturos. Mas vamos considerar aquela primeira memória. Quão
vívida ela é? Como você sabe que não está se lembrando de alguma coisa que viu em uma fotografia oe
de alguma história que um membro da família lhe contou? Quando as pessoas recordam eventos de.
infância, as memórias são geralmente parciais e nebulosas. Como você sabe que a memória é real?
Confabulação Alguns tipos de lesão cerebral estão associados à falsa recordação de uma me-
mória episódica, o que é chamado de confabulação. Morris Moscovitch descreveu a confabulaçã
como "mentir honestamente'', pois não existe nenhuma intenção de enganar e a pessoa não es._
consciente da falsidade de sua história. Moscovitch (1995) dá um exemplo surpreendente de confa-
bulação. H.W. era um homem de 61 anos, pai biológico de quatro filhos, todos eles já adultos. HY
teve uma grave lesão no lobo frontal após uma hemorragia cerebral. Apresentamos aqui parte d:
entrevista clínica:
'--~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~1 t.
----1 ~
Pacientes como H.W confabulam sem um propósito aparente. Eles simplesmente recordam
fatos equivocados e, quando questionados, tentam dar sentido às suas recordações acrescentando
fatos que tornem a história mais coerente. Lembre, do Capítulo 4, a teoria de Gazzaniga do intérpre-
te e como os pacientes com cérebro secionado confabulam para dar sentido a informações discrepan-
tes fornecidas a cada hemisfério cerebral. Um exemplo dramático de confabulação ocorre na síndro-
me de Capgras, em que os pacientes têm a crença delirante de que os membros de sua família foram
substituídos por impostores. Nenhuma evidência os convence de que seus irmãos, pais, cônjuges e
filhos são genuínos. Os pacientes com Capgras geralmente apresentam lesões nos lobos frontais e
nas regiões cerebrais límbicas.
sido no início do curso, dessa forma "conseguindo o que queriam, ao corrigir o que tinham" (Conway
e Ross, 1984).
As pessoas tendem a recordar suas atitudes e crenças passadas como sendo consistentes com
suas atuais atitudes e crenças, freqüentemente corrigindo suas memórias quando modificam atitu-
des. As pessoas também tendem a lembrar os eventos de modo que lancem sobre elas uma luz
proeminente ou favorável. Nós tendemos a exagerar a nossa contribuição para o trabalho de equipe,
a assumir o crédito pelo sucesso e a pôr a culpa dos fracassos nos outros, e a lembrar os nossos
sucessos mais do que os nossos fracassos.
Não são só os indivíduos que revelam um viés ao recordar eventos passados; as sociedades
também fazem o mesmo. A memória coletiva dos grupos pode distorcer seriamente o passado, con-
forme expresso na idéia orwelliana de que nós só podemos mudar o passado, não o futuro. Considere
que a história da maioria das sociedades tende a subestimar os comportamentos incorretos, imorais
e inclusive assassinos de seu passado, e as memórias dos perpetradores geralmente são mais curtas
que as das vítimas. Existe uma realidade objetiva? Conforme Leon Festinger observou, nós construí-
mos nossas memórias para nossos propósitos pessoais. A nossa memória dos eventos tende a ser
altamente consistente com as nossas crenças pessoais.
CONCLUSÃO
O cérebro é um instrumento maravilhosamente evoluído que permitiu aos humanos desenvol-
ver a linguagem, construir civilizações e visitar a lua. Entretanto, nós nem sempre conseguimos
lembrar onde deixamos nossas chaves, o rosto das pessoas que vimos cometer um crime, se Richard
Shiffrin é famoso ou detalhes do livro que lemos no ano passado. Devemos enfatizar que a memória
evoluiu para resolver certos problemas relacionados à sobrevivência, tal como lembrar nossos ami-
gos e inimigos. A memória não evoluiu para lembrar números de telefone, definições de livros didá-
ticos ou como dirigir um carro, mas ela faz um trabalho danado de bom em todas essas coisas. A
memória é um sistema que fornece ao organismo a capacidade de reter informações e habilidades
úteis para a sobrevivência. Como tal, ela funciona muito bem, considerando a quantidade de infor-
mações que bombardeiam o sistema nervoso. Finalmente, como urna das áreas de pesquisa mais
dinâmicas na ciência psicológica, a memória ressalta os nossos quatro temas fundamentais, em par-
ticular a maneira pela qual os pesquisadores estão trabalhando em vários níveis de análise para
decifrar o mistério da mente.
LEITURAS AD C ONAIS
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Eichenbaum, H. B.; Cahil, L.; Gluck, M. ; Hasselmo, M. ; Keil, F. ; Martin, A. et ai. (1999). Learning and
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Gazzaniga, M. S. (2000) . The new cognitive neurosciences (2nd ed.). Cambridge, MA: MIT Press.
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Squire, L. R.; Kandel, E. R. (1999). Memory: From mind to molecules. New York: Scientific American Library:
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Ciência psicológica : mente, cérebro e comportamento /
Michael S. Gazzaniga e Todd F. Heatherton; trad . Maria
Adriana Veríssimo Veronese. - 2. imp. rev. - Porto Alegre:
Artmed, 2005.
ISBN 978-85-363-0432-8
CDU 159.9.01/.98