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CostelaAndnae Adão
Alice Sant’

3a temporada
alexandre sant’anna

alice sant’anna nasceu em 1988, no Rio de Janeiro.


Publicou Dobradura (2008, 7 Letras), Rabo de baleia
(2013, Cosac Naify, prêmio APCA) e Pé do ouvido
(2016, Companhia das Letras).
Alice Sant’Anna

Costela de Adão

Belo Horizonte, 2017


Este livro foi realizado com recursos da Lei Municipal
de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Belo Horizonte.
Fundação Municipal de Cultura.
118/2014 – FPC
Tiragem: 2.500 exemplares
© 2017 coleção leve um livro
Os textos deste livro são de propriedade dos autores. Direitos desta edição
cedidos à coleção Leve um Livro. Todos os direitos reservados. Reprodução
permitida mediante autorização dos autores e dos editores.

editores
Ana Elisa Ribeiro e Bruno Brum

projeto gráfico
Bruno Brum

logo da coleção
Bruno Brum e Tatiana Perdigão

revisão
Ana Elisa Ribeiro

ilustração de capa
Tatiana Perdigão

desenvolvimento do site
Bruno Brum e Mozart Brum

produção
Ana Elisa Ribeiro e Rafael F. Carvalho

conheça mais
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sem saber se ainda é dia ou noite
puxa um pouco de lado a cortina
pra ver lá fora o barulho
que faz o mundo quando desaba
pancadas de água no prédio verde
entrando a toda pelas janelas
o prédio bambo talvez caia
nunca sabe se é melhor assistir às tragédias
ou fechar a cortina e ouvir
o estrondo ou ainda
fechar a cortina e os ouvidos
para ter certeza de que nada está se passando
ficar imune a tudo não sentir mais
do que se sente (que já é tanto)
o prédio da frente está no limite
mas talvez esteja também este aqui
não sabe como é a vista da janela
de lá pra cá o prédio esguio
sob as nuvens chumbo
como bate a chuva como treme

alice sant’anna 5
um enorme rabo de baleia
cruzaria a sala neste momento
sem barulho algum o bicho
afundaria nas tábuas corridas
e sumiria sem que percebêssemos
no sofá a falta de assunto
o que eu queria mas não te conto
era abraçar a baleia mergulhar com ela
sinto um tédio pavoroso desses dias
de água parada acumulando mosquito
apesar da agitação dos dias
da exaustão dos dias
o corpo que chega exausto em casa
com a mão esticada em busca
de um copo d’água
a urgência de seguir para uma terça
ou quarta boia, e a vontade
é de abraçar um enorme
rabo de baleia seguir com ela

6 coleção leve um livro


há aquilo que fica firme (um poste)
e não comove e há o que se mexe
[(uma árvore)
e faz barulho e chega a parecer
um polvo com tentáculos
tentando agarrar as nuvens, ao contrário
das montanhas muito firmes
e sérias e certas de onde estão
mas há também o que se movimenta
rápido demais na moldura da janela: um
[pássaro
sempre pode ser uma andorinha ou uma
[águia
e um avião nunca sabemos
de onde parte para onde segue

alice sant’anna 7
a aranha se escondia
atrás da parede como que
para dar o bote
a projeção da sombra as pernas
contorcidas quase troncos
de uma árvore nascendo do chão e do teto
lúgubre lúgubre mais que lúgubre
o susto me recomendava
a correr tomar um táxi
mas ao mesmo tempo me forçava
a caminhar lentamente em torno da
[aranha
e olhar bem de perto
do que é feita (aço maciço): material do
[medo
me aproximar das pontas
das pernas que não são pés
lanças apontadas para o chão
que a qualquer momento se desgarram
e enlaçam a presa, têm vida própria
os tentáculos de aranha

8 coleção leve um livro


eu sozinha com ela
não espantaria ninguém
se ela sumisse comigo

alice sant’anna 9
diálogo de peixes

nara tem um aquário


redondo no centro da mesa
em vez de uma fruteira
ou um abajur
nara gosta de assistir
à conversa dos peixes
outro dia reclamavam
do calor e nara
foi para o chuveiro
se refrescar de madrugada
é um péssimo hábito
o peixe vermelho disse
dormir de cabelos molhados

10 coleção leve um livro


ausência

tenho te escrito com calma


cartas em um caderno azul
arranco da espiral e não posto
por preguiça ou nem morta
tenho medo da espera
durante dias ou semanas um animal horrível
(espécie de raposa) vai me perseguir
por dentro, ou serei eu mesma
(um rato?) a me roer
enquanto a resposta não chega
perco muito tempo tentando
dar nomes aos bichos
que sobem a cortina do quarto

alice sant’anna 11
desenhava tudo o que via
com uma estranha compulsão
passava cinco, seis horas na frente
de um quadro, uma maçaneta, um pastel
[de nata
completamente absorto
sacava do bolso o lápis
corria para rabiscar, depois anotava
a data ao lado, a rua, nada
se perdia no caderno
enquanto isso eu aflita queria repetir
o gesto, documentar tudo, dizer do gosto
da canela no pastel de nata
do primeiro dia azul de lisboa
mas não escrevia e com pressa para
[registrar
me tornava burocrática
no diário: hoje fomos de trem, estava
[quente

12 coleção leve um livro


cine palácio

sentada no sofá
do cine palácio
caderno na mão rosto sem
maquiagem espera terminar
a sessão de indiana jones
às oito e vinte
os dias têm sido longos
e não chove há três semanas
a promessa de que algum dia
vai morar bem longe
o senhor na bilheteria
reclama do preço do ingresso
não tem meia-entrada? a mocinha
é irredutível
luz fraca e quadrados
de mármore nos pés
uma vassoura esfrega o salão
nenhum sinal de besouros
ou fuligem de mariposa

alice sant’anna 13
costelas de adão

não serve de nada a janela


a não ser para amparar do vidro do carro
a estrada que escapa veloz
e separar a montanha do céu noturno
na linha que divide o escuro do ainda
[mais escuro
você no banco um pouco mareado
estar perto não quer dizer muito
enquanto ainda não se chega lá
olhar pela janela uma tontura
a mesa que espera em casa
firme em suas quatro pernas
sustenta o vaso verde e nele
duas costelas de adão
as folhas estão prestes a irromper do vaso
assim que a luz for acesa
são fogos de artifício
estourando na fotografia

14 coleção leve um livro


Onde encontrar nossos livros 
 biblioteca pública estadual luiz  estação central do metrô
de bessa Praça Rui Barbosa - Centro,
Praça da Liberdade, 21 – Funcionários Belo Horizonte
 biblioteca pública infantil e juvenil
/ centro de referência da juventude  estação vilarinho do metrô
Praça da Estação, s/n Av. Vilarinho, 36

 borrachalioteca  fundação municipal de cultura


Praça Paulo de Souza Lima, 22, Bairro / belotur
Caieira – Sabará-MG Rua da Bahia, 888 – Centro
 café cine brasil
Rua Carijós, 258 – Centro  livraria crisálida
Rua da Bahia, 1148, sobreloja 63 – Centro
 café com letras
Rua Antonio de Albuquerque, 781 – Savassi  livraria scriptum
 café kahlua Rua Fernandes Tourinho, 99 – Savassi
Rua Guajajaras, 416 – Centro
 livraria ufmg – campus pampulha
 cantina do lucas Av. Antônio Carlos, 6627
Av. Augusto de Lima, 233, loja 18 – Praça de Serviços
– Edifício Maletta – Centro
 livraria ufmg – liberdade
 centro cultural liberalino alves
de oliveira Espaço do Conhecimento UFMG
Mercado da Lagoinha, av. Antônio Praça da Liberdade, 700
Carlos, 821 – Lagoinha
 uai praça sete – unidade de
 centro cultural ufmg atendimento integrado (psiu)
Av. Santos Dumont, 174 – Centro Av. Amazonas, 500 – Centro
 cefet-mg campus i
Av. Amazonas, 5253 – Nova Suíça  terminal rodoviário
de belo horizonte
 conservatório de música da ufmg Centro de Atendimento ao Turista
Av. Afonso Pena, 1534
Praça Rio Branco, 100 – Centro
 escola livre de artes – arena
da cultura  sesc palladium
Av. Andradas, 367, 2º Andar – Centro Av. Augusto de Lima, 420 – Centro

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gratuito em nosso site. Acesse: www.leveumlivro.com.br
alice sant’anna 15
Poesia circulando na cidade
Chegamos à terceira temporada da Coleção
Leve um Livro. Durante os anos de 2015 e
2016, pusemos nas ruas, gratuitamente, 120 mil
exemplares de livros de poesia de 48 autores
brasileiros contemporâneos. Em 2017, o projeto
continua e convidamos outros 24 autores para
publicarem novas microantologias. Como de
costume, repaginamos o projeto gráfico da co-
leção. Os displays continuam em vários pontos
de Belo Horizonte, sendo abastecidos, mensal-
mente, para que todos possam colecionar. Em
nosso site é possível fazer o download gratuito
de todos os livros dos anos anteriores e, é claro,
a cada mês deste ano. Com uma resposta tão
positiva dos leitores, que descobrem e redesco-
brem a poesia viva, a coleção não poderia parar.
Boa leitura!

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br1design.com.br

16 coleção leve um livro

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