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OUSE SER FIRME O LIV RO PIE HISTORLA LE EROEECLAS STUART OLYOTT EDITORA FIEL OUSE SER FIRME Traduzido do original em inglés: Dare to Stand Alone Copyright © Evangelical Press Primeira edigéo em portugués — 1996 Todos os direitos reservados. E proibida a reprodugiio deste livro, no todo ou em parte, sem a permiss4o escrita dos Editores. Editora Fiel da Missao Evangélica Literaria Caixa Postal 81 So José dos Campos, SP 12201-970 Brasil Co ND HW BR WY Boe Be we eB Uns YW NF SO INtrOdUGAO oo... ee sec ceceeeeee cess eeeeeeseeeeeeeeesenaneeeees 5 Montando 0 Cena rio ..........cscceceeeeseceeeeeereeeeeerees 7 A Caminho de Babilénia ... O Sonho de Nabucodonsor .......eeesesscserereteeeeee 23 A Fornalha Ardente ..........ccccescccececscrereeeeeeeees 37 A Ocasiaio de Nabucodonosor.......cc:sscceeeeseeeeeeees 53 Como Perder-se ........escccceeeesceeeeeneeeceseeeaeesseeas 67 Na Cova dos LeG€s ......cccccceeseeeeeeseseeeeeeseceenenes 719 Um Intervalo ....... ccc ceceeceesceeeeeeaeeeeeeeeeaeeeseeenees 93 A Vis&o dos Quatro Animais .... O Chifre Pequeno ........cccccceecceseeee seen eneseeseaees 115 Uma Grande Ora .........ccececceeeeeeseeseeneeeeeeees 129 Um Velho Tem Uma Visa0 ........cccccseeeeeeeeeeeeeee 145 Deus € o Senhor da Historia ...........ccsceeceeeeeeeeee 157 Antfoco Epifanio ........ccccccceceeceeeeeeeeeeeeereeeeee 169 Introducao ste livro é para aqueles que gostariam nao apenas de ler mas também de apreciar o livro de Daniel. Se vocé deseja saber a respeito de todas as teorias enfadonhas que os estudiosos inventaram, tera de procuré-las em outro lugar. Se quiser provas de que 0 livro de Daniel foi escrito no sexto século A.C., nado no segundo, como muitos escritores atuais afirmam, seu ponto de partida deve ser a obra de E.J. Young, “A Commentary on Daniel”. Este livro nfo examina tais assuntos. Seu alvo é muito mais direto. E estimuld-lo a ler Daniel pelo valor do proprio livro e ver que sua mensagem é para o nosso tempo. Daniel é basicamente um livro muito facil de entender. Seus primeiros seis capftulos sdo narrativos. Apés estes, ha seis capitulos repletos de simbolos e aparentemente misteriosos, sobre os quais tem havido grande controvérsia, mas que, de fato, nfo sao tao dificeis. O livro inteiro é bastante pratico — especialmente para crentes que se encontram solitérios, mesmo estando entre colegas de escola, ou de trabalho, ou entre seus familiares e amigos. Que o préprio Deus de Daniel nos abencoe, enquanto perscrutamos sua santa Palavra! Stuart Olyott Montando o Cendrio ‘4 muito tempo, Deus escolheu um homem, Abraao, e prometeu que através dele e de sua semente todas as familias da terra seriam abengoadas. O Panorama Histé6rico Abraio, o homem escolhido por Deus, se tornou uma familia, ea familia, uma nacdo. Finalmente, a nacio desceu ao Egito, onde permaneceu por quatrocentos anos. Depois, saiu. Vocé jé ouviu a respeito das pragas do Egito, da Pascoa e da travessia do Mar Vermelho. Por quarenta anos, a nac&o, guiada por Moisés, vagou no deserto, onde recebeu a lei de Deus e as instrugGes acerca do taberndculo, dos sacrificios e do sacerdécio. Quando as peregrinagdes no deserto terminaram, os israelitas entraram na terra prometida, sob a lideranga de Josué; e, antes de sua morte, a terra foi conquistada, em grande parte, e dividida entre as doze tribos. Isto foi seguido pela época dos juizes, homens a quem Deus levantou para livrar a nacao de sucessivos conquistadores. Veio, entao, o perfodo dos reis. O primeiro foi Saul, seguido por Davi, Salomao e Reoboao. Todos estes governaram sobre um reino unido, formado por doze tribos. 8 OUSE SER FIRME Logo apés 0 inicio do reinado de Reobodo, a nacao se dividiu em duas. Ao norte ficou o reino de Israel (ou Efraim), e ao sul, o reino de Juda. O reino do norte compunha-se de dez tribos, e sua capital era Samaria. O do sul era constituido por duas tribos; sua capital era Jerusalém. No inicio, os dois reinos eram inimigos, A isto, seguiu-se um perfodo de amizade, mas tornaram-se inimigos novamente. Houve varias dinastias no norte, porém nenhum monarca temente a Deus se assentou no trono. Finalmente, Deus castigou o reino do norte, tendo antes condenado sua apostasia, varias vezes, por intermédio de seus profetas. Os exércitos da poderosa Assiria vieram do norte e, em 722 A.C., Samaria caiu. As dez tribos de Israel foram levadas em cati- veiro e, com 0 tempo, perderam sua identidade como povo de Deus. O reino do sul permaneceu por mais cem anos. Todos Os seus reis pertenceram a uma mesma dinastia; eram descen- dentes de Davi. A vida da nagdo foi de crescente apostasia. Todavia, alguns reis foram tementes a Deus, e houve diversos periodos de grande despertamento espiritual. Em 609 A.C., Jeoaquim subiu ao trono. Seu governo nada fez para deter a idolatria e a imoralidade prevalecentes; pelo contr4rio, aumentou-as. Os profetas advertiram que, se nao houvesse arrependimento, haveria julgamento, mas seus avisos nao foram atendidos. De além do horizonte, em 605 A.C., veio Nabu- codonosor. Durante os vinte e trés anos seguintes, em quatro estdgios sucessivos, transportou quase todo o povo de Juda para Babilénia. As margens dos rios de Babilénia, os judeus se assentavam e choravam, quando se lembravam de Sido, e perguntavam como haveriam de entoar o cantico do Senhor em terra estranha (SI 137.1,4). O povo nao quis ouvir as adverténcias de Deus e estava agora 4 mercé de seus inimigos. No entanto, dentro da nacao apéstata, existira um pequeno grupo de pessoas que mantinham- se fiéis a Deus, como haviam predito os profetas. Este mintsculo remanescente fiel existiu também durante os setenta anos do cativeiro, amando a Deus e vivendo para agrada-Lo, MONTANDO O CENARIO 9 até mesmo na longinqua Babilénia. E verdade que a nacdo, como um todo, eliminou a idolatria de seu meio. Mas o amoroso relacionamento com Jeové fora uma experiéncia que poucos desfrutaram. Apds o exilio, 0 remanescente se tornou cada vez menor, havendo ocasido em que consistia apenas de Zacarias e Isabel, Maria e José, Simefio e Ana, e alguns pastores. Ninguém mais, na Judéia, estava pronto para receber a Semente prometida de Abraaio. Ninguém mais reconheceu a Luz que viera a fim de iluminar os gentios; ninguém reconheceu a Gloria de Israel, 0 povo de Deus. Nos dias do cativeiro, este remanescente era representado por Daniel, Hananias, Misael e Azarias (Dn 1.6). Apenas quatro luzes, e mais algumas, brilhavam na escuridio espiritual daqueles dias. Somente algumas pessoas permaneciam fiéis a Deus. Numa época em que ninguém mais se importava, Deus e sua Palavra continuavam a ter importancia para este pequeno grupo. Deus nao se interessa muito por nimeros, mas insiste em que nunca ficaré sem testemunhas. A verdadeira religido continua ininterrupta no mundo, mas raramente seus seguidores sao muitos. Na Babilénia, Deus se contentou em ter seu verdadeiro Israel reduzido a um pequenissimo grupo de pessoas. Os primeiros seis capitulos de Daniel nos contam como este minisculo remanescente permaneceu fiel a Deus em um ambiente hostil. A Ligdo Principal A senteng¢a anterior nos traz a principal ligao deste livro. Daniel nos revela como podemos permanecer fiéis a Deus em um ambiente hostil. Mostra-nos como viver para Deus, quando tudo esta contra nés. De suas paginas, aprendemos como entoar 0 hino do Senhor em uma terra estranha. Daniel e seus trés companheiros conseguiram; nés também podemos. E possivel uma pessoa viver para Deus quando as circunsténcias lhe s4o totalmente contrarias. Noé, Abraio, Moisés e Davi foram homens tementes a Deus, mas a Palavra 10 OUSE SER FIRME de Deus registra que cada um deles, em determinada ocasiao, cometeu uma falta grave. Cada um deles tem pelo menos uma méAcula em seu carter, e alguns deles mais que uma. A Biblia nao esconde os erros de seus principais personagens, nem pretende apresentd-los melhores do que realmente foram. Porém, o mesmo livro nao registra qualquer mancha no carater de Daniel. Espiritualidade e integridade de cardter nado exigem condigées ideais para se desenvolverem. Nao sao plantas que se desenvolvem sob a protecao da estufa, mas crescem melhor quando expostas 4 neve, ao vento, ao granizo, a seca e ao sol escaldante. Pense nisto! Um garoto de quatorze anos (era esta sua idade) foi tirado de sua casa, familia e amigos e forcado a marchar até uma terra estranha. Ali, foi submetido a uma poderosa e sutil forma de instrucao, sobre a qual receberemos algumas informacées. Anos mais tarde, foi cercado por inimigos invejosos, que conspiraram contra sua vida. Em tempo algum Daniel esteve livre da tentacdo de buscar a prosperidade material e pessoal as custas de afastar-se de Deus. Esteve rodeado pelo mal, na juventude, na maturidade e na velhice. Quase nado ha tentagao conhecida que ele nao tenha enfrentado. Entretanto, as Escrituras nao registram uma tinica mancha em seu cardter! Propés em seu coracgao que agradaria a Deus e nunca apartou- se deste propésito. E possivel, sim, vivermos para Deus em um mundo hostil. A verdadeira santidade pode desenvolver-se e florescer diante de condigdes nao-ideais. Pouquissimos de nés enfrentamos as dificuldades que Daniel enfrentou. Ao pensar em dificuldades, normalmente nos lembramos apenas das nossas. Convencemo-nos de que todos os demais tém vida facil e que fariamos mais progresso espiritual se estivéssemos em alguma outra situagao. O operdrio pensa que a secretaria tem maior facilidade para viver a vida crist; a secretdria esté convencida de que a vida crista é mais facil para a dona de casa. A dona de casa acha que 0 estudante encontra poucas dificuldades para desenvolver sua vida crista; © estudante anseia pelo dia em que enfrentard o desafio comparativamente mais facil do trabalho na fabrica. E 0 ciclo continua. Cada um de nés imagina que ninguém tem MONTANDO O CENARIO ll dificuldades tao grandes quanto as nossas. Justificamos nosso mediocre padrao de vida cristé, apontando para as circunstancias em que nos encontramos. O livro de Daniel nos denuncia com- pletamente. Prova que a verdadeira espiritualidade nunca dependeu de circunstancias faceis. Qual era o segredo de Daniel? E simples. Antes de interpretar 0 sonho de Nabu- codonosor, o que Daniel fez? Orou (2.17-19). O que ele estava fazendo, quando houve a conspiracdo que resultou em ser langa- do na cova dos lees? Estava orando (6.10). Qual o assunto do capitulo 9? Daniel em oracéo. Era um homem de oragio. Uma adequada vida de oracgao é uma parte do segredo de permanecer fiel a Deus, em um mundo hostil. A outra parte do segredo é bem simples. No capitulo 9 encontramos Daniel examinando e entendendo os “livros” (v.2). Quais livros? Os livros proféticos do Velho Testamento, os que haviam sido escritos até aquela data. Nos versos 11 e 13, vemos Daniel se referindo 4 “lei de Moisés”. Daniel lia e conhecia a Biblia. Seu segredo é facil de definir, mas nem sempre facil de praticar. Ele permaneceu firme servindo a Deus em um mundo hostil, porque lia sua Biblia e orava! A pratica destas verdades simples precisa ser enfatizada hoje. Pensa-se, muitas vezes, que o segredo da vida crista jaz em termos uma nova e excepcional experiéncia com Deus. Palavras diferentes sio usadas por diversas pessoas, mas a idéia 6, em geral, muito semelhante. Bensinado que uma nova experiéncia com Deus me conduziré a um nivel mais elevado do que aquele em que vivo agora. Se apenas eu tiver esta nova experiéncia, jamais serei o mesmo. Todas as minhas forcas devem ser dedicadas 4 procura desta vida mais elevada, e nao devo descansar até que esta nova experiéncia seja minha. Daniel teve maravilhosas experiéncias com o Senhor, mas néo as procurou. Ele buscava a Deus pela exceléncia de Deus, e nao pelo que Deus poderia fazer por ele. Daniel gostava de estar com o Senhor, discernindo sua vontade, através da Palavra, e de ter comunhio com Ele em oragao. Enfatizamos novamente: seu segredo era simples demais para nao ser percebido — lia a Biblia e orava. 12 OUSE SER FIRME Este foi também o segredo dos primeiros martires cristéos, dos perseguidos durante a Reforma, dos zelosos evangelistas e de seus sucessores. Este foi o segredo dos grandes missiondrios pioneiros que viveram no século passado. Estavam convictos de que “o povo que conhece ao seu Deus se tornara forte e ativo” (11.32). Como Daniel, viviam em dois mundos e, frequentemente, contemplavam aquele mundo que interfere nos afazeres deste. Tornaram-se amigos de Deus e muito amados (10.19) nos céus. Este era seu segredo! Sabendo isto, estudemos agora o livro de Daniel e aprendamos como permanecer firmes. A Caminho de Babilénia Leia Daniel 1 O primeiro capitulo de Daniel, assim como o tltimo, é breve. E uma narrativa simples e direta, para nos ensinar inicialmente uma lig&éo que nao deverfamos esquecer. O capitulo se divide em quatro partes. A Expedicéo de Nabucodonosor Contra Jerusalém Os primeiros dois versiculos nos contam sobre a expedicao de Nabucodonosor contra Jerusalém. E importante lembrar que n4o estamos lendo uma fabula. Estamos lidando com a histéria, com eventos que realmente aconteceram., Em 605 A.C., ano em que Nabucodonosor se tornara rei de Babilénia, ele marcha contra Jerusalém. Ele a sitia. Derrota-a, invade-a e leva para Babilénia as coisas e pessoas que deseja. No entanto, nao deporta o rei. Jeoaquim permanece, como seu rei-fantoche, pelos oito anos seguintes. Depois disto, se rebelard e 0 poder lhe seré tirado. Porém, Nabucodonosor traz 4 Babilénia diversos cativos e uma grande parte dos tesouros do templo. Jerusalém fica intacta, mas 0 templo é saqueado. Isto nao foi por acidente. 14 OUSE SER FIRME Tal como todos os eventos histéricos, este também foi obra do Senhor. Por muito tempo os judeus haviam confiado no templo e nao no Senhor, que diziam louvar ali. Apesar das adverténcias dos profetas, haviam crido que a propria existéncia do templo lhes garantiria imunidade a qualquer ameaca de invasdo. “Enquanto tivermos o templo, estaremos seguros”, eles proclamavam. “Vocé cré que Jeova permitird que seu templo seja destruido? Claro que nao! Quando o templo for ameagado, Ele certamente vird em nosso socorro.” Crendo nisto, a nagdo havia continuado em seu pecado. A idolatria, a imoralidade e a injustiga continuaram ininterruptamente. A mentira e o roubo aumentaram sem restrig¢des. Estavam certos de que, nado importando como vivessem, o templo os salvaria. Mas nao os salvou. O templo estava agora em ruinas. Um rei pagao levara aos seus cofres e A casa de seu deus os tesouros do templo. Através destes acon- tecimentos, Deus demonstrou que nao toleraria o pecado, onde quer que fosse encontrado. Teria feito cessar o seu furor, se 0 povo se tivesse voltado a Ele. Mas confiar no templo nao era substituto para o arrependimento. Deus reina, quer seu templo exista, quer nao. Permanece Deus, acontega o que acontecer na terra. De fato, as coisas acontecem na terra porque Ele é Deus. “O Senhor Ihe entregou nas maos a Jeoaquim, rei de Juda” (v.2). Deus esté controlando perfeitamente a histéria, sendo capaz de implementar suas ameagas. A cidade conquistada, o templo saqueado, 0s tesouros transportados e os cativos a chorar, tudo isso foi obra dEle, destinadas a cumprir seus propdsitos. A experiéncia de seu povo foi a derrota, a ruina e a destruigdo. Contudo, Ele permaneceu invencivel, operando em e através de tudo. Daniel e seus Trés Companheiros séo Apresentados Com este cendrio diante de nds, os versiculos 3 a 7 agora nos apresentam os principais personagens do livro. Nabucodonosor era brilhante. Era um génio, e por A CAMINHO DE BABILONIA 15 demais sutil para cair no mesmo erro de Farad, que havia oprimido os hebreus no Egito. Vocé se lembra que Faraé tratara os hebreus com ampla maldade, tornando-os escravos, afligindo-os e colocando-os sob seu cruel dominio. HA sempre um alto risco de que pessoas tratadas desta maneira se revoltem. Isto Nabucodonosor queria evitar. Babildnia estava conquistando o mundo. Logo, o nimero de conquistados seria muito maior do que os conquistadores. Seria militarmente impossivel para Babilénia sustentar um regime opressivo através do mundo conhecido. Simplesmente havia povos demais para serem oprimidos, e poucos soldados para fazé-lo. Um outro meio teria de ser achado, a fim de que as nagées conquistadas fossem mantidas leais ao império. O método de Nabucodonosor era deportar a nobreza de cada nacao conquistada e integr4-la no servico ptiblico de Babilénia. Deste modo, as varias partes de seu crescente império eram governadas pelos cativos. Aqueles que se rebelassem teriam de fazé-lo contra seu préprio povo, talvez contra seus préprios filhos. Nabucodonosor utilizou este método quando conquistou Juda (v.3). Ele instruiu a Aspenaz, “chefe dos seus eunucos” {isto é, 0 oficial-chefe do seu servigo piiblico), a tomar os melhores da juventude de Judd e coloc4-los em lugares de responsabilidade. Deveriam entrar em seu servico real e na crescente administragao. Deveriam andar pelos corredores do poder. Aspenaz deveria achar os possiveis candidatos entre a realeza e a nobreza da nagdo judaica. Alguns afirmam que Nabucodonosor fez estes jovens tornarem-se eunucos, mas isto nfo pode ser verdade, pois 0 versiculo 4 nos mostra que deveriam ser inteiramente sem defeito. Este versiculo também nos diz que deveriam ser de boa aparéncia, inteligentes, versados em todos os ramos do conhecimento, bem informados e aptos para tomar parte no servigo pessoal do rei. Nabucodonosor deveria ter somente 0 melhor! Uma vez selecionados, estes jovens deveriam ingressar em um abrangente programa de reeducacao, onde particular importancia fosse dada a um completo aprendizado da lingua e 16 OUSE SER FIRME literatura dos babilénios. Nada que os distraisse de seus estudos seria permitido. Além da lingua e da literatura, por trés anos teceberiam licdes de matematica, ciéncia, navegacdo, politica, histéria e geografia; realmente, todo o conhecimento babilénio seria instilado em suas jovens mentes. Nao precisariam se preocupar com sua comida e bebida. Esta lhes seria preparada e servida exatamente como se fossem membros da familia real (v.5). Quantos estudantes, que estao lendo este livro, aban- donaram seus estudos porque, morando em quartos alugados, tinham de comprar sua prépria comida e preparar suas refeigdes! Daniel, Hananias, Misael e Azarias nfo enfrentaram este problema. Tinham de pensar somente em seus estudos. Deveriam até mesmo esquecer que eram judeus, a fim de tornarem-se babilénios. Deveriam esquecer que eram servos de Deus, e tornarem-se servos de um rei terrestre. Isto explica o versiculo 7. Era parte da politica babilénica mudar os nomes de todos os selecionados para a reeducagdo e treinamento especial. Daniel (que significa “Deus & meu juiz”) foi chamado de Beltessazar (“Guarda dos segredos ocultos de Bel”). Hananias (“Jeov4 é gracioso”) recebeu o nome de Sadraque. Nao sabemos 0 que significa este nome, mas contém o nome da divindade pag Marduque. Misael (“Quem é semelhante a Deus?”) passou a ser chamado de Mesaque, um nome que contém uma das antigas formas do nome da deusa Vénus. Azarias (“Jeoya auxilia”) tornou-se Abede-Nego (“o servo de Nego”). Quando olhamos os quatro nomes originais, vemos que dois deles terminam em “el”, que indica um dos nomes de Deus, e dois terminam em “ias”, uma verso abreviada de “Jeova”. Estes nomes foram alterados pelos babilénios para outros, que se referiam as divindades pagds de Bel, Marduque, Vénus e Nego. Os quatro rapazes deveriam ter cerca de quatorze anos de idade quando seus nomes foram mudados, pois esta era a idade em que os babildnios introduziam os jovens em seu programa de reeducacao. Nao teriam descanso até que tivessem completo dominio de tudo que se exigia deles. Isto levaria trés anos. Afastados de seus lares, instruidos a esquecer seu Deus A CAMINHO DE BABILONIA 17 e intensivamente reeducados numa cultura pagd, o que aconteceria a estes jovens rapazes? Permaneceriam fiéis a seu Deus e ao que sabiam ser correto? Ou sucumbiriam? Teriam eles enfrentado outro tipo de pressdo? Sera que, ao sairem em marcha, alguns dos judeus se alegraram e disseram: “O cativeiro nao serd tao mau para eles. O rei fara algo por nossos jovens. Eles sero alguém”? Sim, os jovens seriam alguém, mas correndo 0 risco de perderem sua identidade como filhos de Deus. Resistiriam eles 4 presséo? Pode o cristo hoje permanecer firme, quando a midia e a sociedade em geral bombardeiam sua mente dia e noite, colocando-o sob presséo para mudar sua maneira de pensar? Pode ele lembrar-se de seu privilegiado status de filho de Deus e viver dignamente, quando tudo ao seu redor o esta forgando a pensar em outras coisas? A Posigaéo Ocupada por Eles O que aconteceu depois encontra-se nos versiculos 8 a 16. Para entendé-los devemos recordar por que, afinal, os judeus estavam sendo levados em cativeiro. A nagdo inteira se encon- trava em um baixo nivel espiritual e moral. Seu maior pecado era a idolatria. O exilio era um castigo por todos os pecados da nagao, mas por este em particular. O povo deveria permanecer em Babilénia até que a idolatria fosse abandonada para sempre. Entre os erros cometidos pelos judeus no periodo pés-exilico, ndo se inclui a idolatria. O exilio os havia curado para sempre. Mas, por ocasiao do exilio, a idolatria fazia parte da vida da nagao, e o que distinguia o remanescente fiel de todos os outros judeus era sua recusa inflexivel de participar de qualquer forma de idolatria. Imagine, ent&o, estes quatro rapazes iniciando sua reeducagao. So informados de que, ao invés de prepararem sua prépria comida, serao alimentados da mesa real. A razio por que recusaram a comida real nao foi as leis alimentares judaicas. Poderiam, ao menos, tomar vinho, pois nenhuma lei alimentar judaica o proibia. A razdo para sua recusa foi que a 18 OUSE SER FIRME comida da mesa real era oferecida a idolos, antes de ser posta a mesa. Cada refeigao, no palacio real de Babildnia, se iniciava com um ato de adoracao paga. Aqueles jovens mostraram-se muito mais diligentes, quanto a isto, do que muitos cristaos hoje sobre o dar gracas antes de comer. Nada se comia ou se bebia antes que fosse dedicado a certos deuses pagdos. Consi- derava-se que aqueles que comiam o alimento haviam participado nos ritos pagaos. Foi precisamente por se recusarem a comprometer-se com a idolatria que os quatro rapazes fizeram parte do remanescente fiel. Se nao se envolveram antes com a idolatria, nao seria agora que o fariam. “Mas Daniel, vocé nao esta sendo um tanto exagerado?” Isto € 0 que muitos diriam hoje. “Por que criar um caso sobre uma coisa téo pequena como comer alimento oferecido aos idolos? Vocé perderia sua cabeca por recusar a comida da mesa real. Por que nao colocar os escripulos de lado? Pense na influéncia que vocé pode exercer, encontrando- se no servigo publico de Babilénia. Talvez vocé possa chegar ao auge. Nao seria maravilhoso para um dos filhos de Deus estar nesta posigéo social? Com esta atitude, vocé est4 pondo em risco sua propria vida. Mesmo que nao perca a cabega, provavelmente vocé terminaré em uma masmorra. Certamen- te jamais chegar4 ao topo, se nado obedecer as instrugdes do rei.” A resposta de Daniel, e de cada um de seus trés com- panheiros, foi: “Nao! Nao comerei, e me absterei de qualquer aparéncia do mal. Embora signifique grande perigo pessoal e possa custar-me a vida, é melhor apodrecer em uma masmorra ou morrer executado a associar-me 4 idolatria. Prefiro a morte do que pecar, ainda que um pouco”. Este é 0 espirito a que nos referimos quando dizemos: “Ouse ser como Daniel!” Naturalmente, nao devemos ter a impressao que Daniel foi mal-educado, ao ter recusado a comida real. A linguagem do versiculo 8 demonstra cautela: “Resolveu Daniel firme- mente nado contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com 0 vinho que ele bebia; entéo pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse nao contaminar-se”. Foi ao chefe dos eunucos e apresentou-lhe seu caso. Permaneceu firme em seus A CAMINHO DE BABILONIA 19 principios, mas foi gentil e cortés quando pediu para ser eximido de sua obrigacao de comer o alimento. A absoluta integridade de Daniel lhe conquistara 0 favor do chefe dos eunucos (v.9), mas este, naturalmente, estava um pouco preocupado com sua prdpria vida. “Veja, Daniel, se vocés nao se tornarem aquilo que 0 rei deseja, serei responsa- bilizado por isso.” O carater de Daniel é visto no fato de nao ter ele desistido. Nao voltaria atras. Nos versiculos 11 a 14 vemo-lo dirigir-se ao cozinheiro-chefe, © oficial inferior ao chefe dos eunucos, solicitando: “Experimenta, pego-te, os teus ser- vos dez dias; e que se nos déem legumes a comer e Agua a beber”. Legumes nao parece ser algo apetitoso! Realmente, era uma mistura de verduras e frutas frescas. Daniel estava requi- sitando uma constante dieta de salada, sem importar-se quio frequentemente se alimentaria, Qualquer coisa seria melhor do que alimentos que estivessem associados 4 adoracdo aos idolos, “Experimente-nos dez dias; naéo beberemos vinho, somente Agua.” Este exemplo é digno de nossa séria conside- racao. Daniel era s4bio, discreto, gentil e sensivel. Mas também era firme. Os versiculos 15 ¢ 16 nos contam 0 efeito desta moné- tona dieta. Os jovens nada sofreram por absterem-se das finas iguarias da mesa real. Apds dez dias, houve uma notdvel melhora em suas aparéncias, e também mostravam-se mais sadios. Em todos os aspectos estavam melhores que os outros jovens que desfrutaram da dieta prescrita pelo rei. Isto nos ensina que ninguém perde coisa alguma quando se recusa a comprometer sua fé, O chefe dos eunucos sentiu-se inteiramente tranquilo e permitiu que os rapazes continuassem na dieta que haviam escolhido. Ninguém fora ofendido. Porém, nem Daniel, nem seus trés companheiros se haviam acomodado. Foram fiéis no pouco, e isto seria 0 inicio para serem fiéis no muito. Se Daniel nao permanecesse firme nesta ocasiao, teria como se mostrar firme depois, quando ameacado com a morte, 20 OUSE SER FIRME na cova dos ledes? Se seus trés companheiros tivessem se comprometido no inicio de suas vidas, em Babilénia, como reagiriam ao serem confrontados com a fornalha ardente? Por terem honrado a Deus em uma coisa pequena, puderam honrd- Lo também diante de questdes mais importantes. Pessoas caem em pecados sérios somente porque aprenderam a tolerar pecados menores. O Resultado O resultado imediato de sua agdo corajosa e espiritual é regis- trado nos versiculos 17 a 21. Eles colocaram Deus acima de todas as outras consideragGes. Por sua vez, Ele os honrou e despertou em suas vidas dons que nem imaginavam possuir. Isto acontece frequentemente. Conheci um homem, ha anos, que era totalmente analfabeto. Nao podia ler sequer uma palavra. Quando o Senhor o salvou, concluiu que poderia melhor andar com Deus se pudesse ler a sua Palavra. Com consideravel perseveranga e grande esforco pessoal, aprendeu a ler. Fazendo isto, descobriu (para seu deslumbramento) que tinha uma inteligéncia bem agugada. Tornou-se um vido leitor e conseguiu um emprego como carteiro. Em anos recentes, tornou-se um pastor. Desde sua infancia, todos lhe diziam que nada realizaria. Quando colocou a Deus em primeiro lugar e decidiu agrad4-Lo, subitamente descobriu que tinha dons que nem ele nem ninguém havia imaginado possuir. Foi exatamente isto 0 que aconteceu a Daniel, Hananias, Misael e Azarias. Puseram Deus em primeiro lugar e se aplicaram ‘nos estudos. Foram abengoados com sabedoria. J& aconteceu algo semelhante em sua prépria experién- cia? Vocé viu alguma coisa que precisava ser feita, e, somente por causa do Senhor, comegou a realiz4-la. Fazendo isto, descobriu que possuia dons, os quais desconhecia inteiramen- te. Percebeu, por exemplo, que tinha uma propensdo para administrar ou que poderia liderar facilmente os jovens. Os dons vieram 4 tona em sua vida simplesmente porque vocé colocou Deus em primeiro lugar; e, frequentemente, a A CAMINHO DE BABILONTA 21 descoberta destes dons ajudaram-no a aprimorar-se em seu proprio trabalho. Esta experiéncia nao é, de modo algum, diferente da que é descrita em Daniel 1. Daniel certamente tinha outro dom que se destacar4 neste livro, e a primeira mencao dele ocorre no versiculo 17. Assim, finalmente, o curso de trés anos terminou. Era hora dos exames finais. Como nas universidades britanicas em dias passados, estes exames n4o eram escritos, mas orais. Os estudantes apresentaram-se ao rei, que, pessoalmente, examinou acada um e deu seu parecer. Sua avaliagdo de Daniel, Hananias, Misael e Azarias é preservada para nds nos versiculos 19 ¢ 20. Eram melhores que todos os outros estudantes. Porém, isto nao é tudo. Mostraram-se mais cultos que os graduados que ja haviam concluido seus estudos e agora ocupavam posigdes de lideranga no império. De fato, dez vezes mais sdbios! Como resultado, cada um dos quatro foi colocado em um alto cargo, onde poderiam usar sua influéncia para Deus. O Senhor poderia confiar-lhes tal posigéo, pois haviam demonstrado que, diante de qualquer circunstancia, mesmo em perigo de vida, ser-Lhe- iam fiéis. Daniel permaneceria nesta posi¢do por setenta anos (v.21). Muitos crentes anseiam por posigdes mais altas, onde podem ter mais influéncia espiritual. Professores querem ser diretores, balconistas querem tornar-se gerentes, sécios de sindicato esperam tornar-se representantes de classe. “Se eu apenas estivesse naquele cargo”, pensam eles, “que influéncia poderia exercer para o Senhor!” Se nao vivermos para Deus agora, nenhum de ndés poder fazer com que uma posigdo mais elevada se torne valiosa para Ele. Se nao estamos dispostos a permanecer firmes e com- prometidos com Ele em pequenas coisas, como o faremos nas grandes? E possivel ser fiel no muito, sem primeiro ter sido fiel no pouco? Se nao podemos resistir a tentagdes comparati- vamente pequenas, o que faremos quando estas forem intensificadas? O ensino central deste capitulo pode ser resumido em uma frase: “Aos que me honram, honrarei” (1 Sm 2.30). O Sonho de Nabucodonosor Leia Daniel 2 Bicomame-n0s entao, no século VI A.C. Como castigo por seus pecados, especialmente a idolatria, os judeus esto cativos em Babilénia. Deus os advertira repetidamente, e nado O ouviram. Mas, em meio 4 nacao apéstata, hd ainda alguns que Lhe sao fiéis; quatro destes agora ocupam impor- tantes e influentes posigdes no servigo ptiblico de Babilénia. Sao os principais personagens do livro de Daniel. Neste capi- tulo, vemos como este remanescente piedoso foi, nado apenas preservado, mas elevado a uma posicdo de grande influéncia na Babilénia paga. Parecia certo que o verdadeiro Israel de Deus seria eliminado. Parecia certo que o pequeno grupo que se apegava a sua verdade seria destrufdo. Mas o remanescente de Deus € objeto de seu cuidado especial, e Ele governa a hist6ria para proveito deles. Isto é 0 que veremos agora. O Que Nabucodonosor Viu? Os primeiros treze versiculos do capitulo 2 nos contam trés coisas que o rei Nabucodonosor viu. A primeira foi um sonho, que ele se recusou a relatar ou descrever. Nabucodonosor havia 24 OUSE SER FIRME se deitado, pensando sobre o futuro. Era ele 0 cabeca de um imenso império; e era bem natural que, como ultimo pensa- mento do dia, houvesse conjecturado a respeito do que aconteceria no futuro (v.29). Isto aconteceu no segundo ano de seu reinado, Como sabemos, muitas vezes as coisas que passam por nossas mentes durante o dia, especialmente quando vamos dormir, séo aquelas sobre as quais sonhamos. Mas o sonho de Nabucodonosor foi incomum. Foi dado por Deus. Sua vivacidade era particularmente intensa, ¢ 0 rei ficou apavorado. Frequentemente, quando alguém tem um pesadelo, acorda de repente, e a impress4o de seu sonho continua. No entanto, Jogo desaparece. Nao aconteceu assim com Nabucodonosor! Agitado em espirito, acordou e nao conseguiu esquecer o sonho. O sono se fora, e Nabucodonosor jazia apavorado no leito real, Imediatamente, convocou as pessoas que acreditava poderem interpretar seu sonho e esclarecer seu significado (v.2). Em sua corte, ele possuia todo tipo de “agregado”: os adivinhadores, os magicos, os astrdlogos, os feiticeiros e um grupo especial de pessoas chamadas de “caldeus”, que ndo devem ser confundidos com a nacido que tinha o mesmo nome. Narrou-lhes sua agitagao de espfrito e seu desejo de saber 0 significado do sonho (v.3). O sonho o perseguia. Nao péde tird-lo de sua mente. Do versiculo 4 até o fim do capitulo 7, 0 livro de Daniel esté escrito em siriaco, mais conhecida como lingua caldéia ou aramaico. O versiculo 4 registra a resposta dos homens da corte ao pedido do rei. Respondem com um outro pedido. E uma solicitagdo razoavel, se bem que proferida um tanto arro- gantemente. “O rei”, dizem eles, “dize o sonho a teus servos, e daremos a interpretacéo”. “Descreva o que viu, e lhe diremos 0 que significa.” Esta solicitacao aparentemente razoavel é respondida com uma ameaga horripilante! Tais ameacas eram tipicas dos déspotas orientais naquele tempo; Nabucodonosor poderia executar o que falou. Quando Nabucodonosor disse: “Uma cousa é certa”, O SONHO DE NABUCODONOSOR 25 isso nao significou que ele tivesse dito: “Néao me lembro mais”. Ele nao havia esquecido totalmente 0 sonho, como é frequen- temente imaginado. Se este fosse 0 caso, como poderia o sonho ainda estar a perturba-lo? Se o rei néo pudesse lembrar o sonho, ento o final do versiculo 9 nao teria sentido. Visto que o rei se lembrava do sonho, poderia conferir se o haviam relatado corretamente e, portanto, ter confianga na sua interpretacdo. Quando Nabucodonosor declarou “Uma cousa é certa”, ele quis dizer: Ja esta decretado que “se nao me fizerdes saber o sonho e a sua interpretagao, sereis despedagados, e as vossas casas serfo feitas monturo” (v.5). “Afinal, a func4o de vocés é interpretar sonhos; sao pagos para fazer isso.” As honras extravagantes, prometidas no versiculo 6, também eram tipicas dos governantes daquela época. O fracasso em contar o sonho e interpret4-lo significaria morte certa. Atender o pedido do rei significaria honra, promogiéo e recompensa. Além do sonho, Nabucodonosor também viu os astré- logos tentando ganhar tempo (vv.7-11). A ameaga terrivel e a promessa extravagante rapidamente curaram a arrogancia deles. No versiculo 7, os astrélogos falam ao rei de um modo mais reverente: “Diga 0 rei o sonho a seus servos, e lhe daremos a interpretagdo”. A resposta do rei é Aspera (vv.8-9): “Vocés est&o apenas tentando ganhar tempo, porque sao totalmente incapazes de fazer o que lhes pedi. Esperam que eu mude de idéia sobre destrui-los, se néo derem a interpretagao. De fato, se nem podem dizer-me o que é 0 sonho, tampouco poderao dar-me a interpretagao correta. Se nado podem me contar o sonho, estao demonstrando, com certeza, que nada sao, além de enganadores e charlataes. Pessoas assim sao dignas apenas de uma coisa — 0 decreto de morte, sobre o qual ja falei”. “Mas”, gaguejam os astrélogos, “o que tu pedes esta acima da capacidade humana. Ninguém, em toda a histéria, jamais pediu tal coisa. Normal- mente, s6 interpretamos 0 sonho, mas desta vez espera-se que também o contemos a ti. Isto é dificil demais para meros homens. Os wnicos que poderiam fazé-lo siéo os préprios deuses” (v.10). 26 OUSE SER FIRME Ent&o, Nabucodonosor encolerizou-se! “O rei muito se irou e enfureceu” (v.12). Deve ter sido uma cena apavorante! O mais poderoso homem do mundo num acesso de raiva! Nao manifestou paciéncia ante a confissdo de incapacidade de seus servos. Os astrélogos e magos disseram que nao podiam atender o pedido do rei. Haviam feito todo o tipo de afirmagées orgulhosas, mas agora Nabucodonosor podia ver o intimo deles. Declaravam poder revelar segredos, mas nem mesmo podiam contar-lhe o contetido de um sonho que ainda o aterrorizava, Se néo podiam fazer isto, como poderiam realizar a coisa mais profunda e dificil que prometiam, ou seja, interpretar sonhos? “Matem a todos!”, disse o rei de Babilénia. A ordem 4spera do rei é uma indicagao de quanto 0 sonho o preocupava. Precisava saber 0 que significava! Nao conseguia retiré-lo de sua mente. O sonho estava roubando sua paz. Estava com ele momento a momento. Perseguia-o e nunca 0 deixava. Como resultado, o rei encontrava-se em uma turbuléncia inexprimivel. Precisava saber o que significava e, portanto, nado tinha paciéncia com aqueles que confessaram ser completamente incapazes de ajuda-lo. “Matem todos os sabios.” A ordem era o fim de Daniel, Hananias, Misael e Azarias. Eles ndo eram astrélogos, pois haviam recusado envolver-se com qualquer coisa pagd ou iddlatra. Mas precisamos lembrar que haviam sido educados pelos sdbios de Babilénia, e estavam, portanto, no sentido mais amplo, incluidos entre eles. O decreto do rei impaciente, se fosse realizado, significaria o fim do remanescente fiel. Os tnicos no mundo que eram leais 4 verdade de Deus seriam eliminados. O verdadeiro Israel de Deus seria extinto. Venceram a tentaco de comprometer sua fé, no capitulo 1, mas como poderiam sobreviver a isto? O Que Daniel Viu? Respondemos esta pergunta ao lermos do versiculo 14 ao final O SONHO DE NABUCODONOSOR 27 do capitulo. J4 consideramos trés coisas que Nabucodonosor viu e percebeu. Agora, consideraremos trés coisas percebidas por Daniel. Primeiramente, ele viu quem é Deus (vv. 14-23). Falou discretamente com o oficial encarregado de executar os sabios €, como resultado, a realizac4o do decreto foi adiada. O préximo passo de Daniel foi dirigir-se ao rei. Conseguiu uma audiéncia real (v.16). “Da-me tempo”, pediu, “e satisfarei o teu pedido e dar-te-ei a interpretacao”. O rei, evidentemente, acedeu ao pedido de Daniel, pois 0 terceiro passo de Daniel revela isto (vv.17,18). Voltou ao remanescente fiel e os quatro homens de fé se uniram em oracao. Sua preocupacao, enquanto oravam, nao era que Daniel tivesse uma grande reputag&o como intérprete de sonhos. Desejavam as misericérdias do Deus dos céus, para que nao perecessem com os demais sdbios da Babilénia. Quatro homens, em sua prépria casa, comegaram a orar, sem dtvida usando argumentos, como fazem todos os bons homens de oragdo: “Senhor, somos o teu remanescente. Foi decretada a execucdo de todos os sdbios de Babilénia, e estamos incluidos entre eles. Se 0 decreto for cumprido, teu remanescente desaparecer4, e 0 povo de Deus sera extinto da terra. O verdadeiro Israel sera aniquilado. O Senhor, mostra tua misericérdia para conosco. Dé-nos um relato do sonho e uma compreensao do que significa”. Do que lemos em 1.17, sabemos que Daniel tinha “inteligéncia de todas as visdes e sonhos”. Era um dom especial de Deus para ele. Naquela noite ou em outra logo depois, a oracgdo undnime do povo de Deus foi respondida, e Daniel soube tanto o que o rei sonhara como o que o sonho significava (v.19). O texto biblico nao nos declara imediatamente 0 que era. Mas nos conta que a reagdo imediata de Daniel 4 revelacao foi explodir em louvor a Deus. Daniel recebeu uma compre- ens&o clara a respeito do sonho e sua interpretagéo. Porém, adquiriu uma compreensao ainda mais clara sobre a natureza e os atributos de Deus. Veja as suas afirmacdes sobre Deus no versiculo 20: Deus é gracioso, sdbio e poderoso. 28 OUSE SER FIRME E este Deus que controla a histéria (v.21). Nao éa natureza. Nao sao os idolos. E Deus! Ele exerce seu poder nao apenas no céu, mas também aqui na terra, Nao podemos dizer que cremos na soberania de Deus, se nio crermos nisto. Daniel recebera uma sabedoria superior a de todos os sdbios de Babilénia, mas observe o que ele afirma sobre este assunto (v.21): Se um homem tem sabedoria, é porque a recebeu de Deus, que é a fonte de toda a sabedoria. Daniel reconhece que o entendimento que possui agora resulta téo-somente da imerecida bondade de Deus (vv.22-23). Daniel percebeu quem é Deus. Temos aqui uma reve- lagao de como é o coragéo de um homem de Deus. Tal pessoa é disposta a erguer sua voz a Deus e admira-Lo. Esta ciente de que tudo o que é, em si mesmo, e tudo 0 que possui, nao sio de valor algum. Nao reivindica méritos para si, e insiste que a Deus somente devemos dirigir nossas palavras e pensamentos de adoracao. Os versiculos 24 a 45 nos contam 0 que Daniel viu na viséo da noite. Havendo agradecido a Deus pela oragao respondida, est4 agora pronto a se apresentar ao rei. Na corte de Babilénia havia um protocolo muito severo para que os stiditos se aproximassem do rei. Sem divida, esta formalidade fora observada no versiculo 16, mas ndo é relatada ali. E mencionada no versiculo 24. No versiculo 25, vemos que Daniel é introduzido 4 presenga do rei por Arioque, e que Arioque toma para si todo o mérito por haver descoberto um homem que podia interpretar o sonho do rei. “Podes?”, pergunta o rei. “Podes tu fazer-me saber 0 que vi no sonho e a sua interpretagao?” (v.26). “Nem encantadores, nem magos, nem astrélogos o podem revelar ao rei; mas h4 um Deus nos céus, o qual revela os mistérios; pois fez saber ao rei Nabucodonosor o que ha de aser nos tltimos dias”, responde Daniel. Ao ouvirmos a expresséo “os ultimos dias”, nossos corag6es ficam alertas. A Biblia consistentemente usa esta expressdo para se referir ao perfodo entre o nascimento de Cristo e o fim do mundo. Nao é usada para se referir as tiltimas horas antes da volta de Cristo, como alguns crist@os 4s vezes O SONHO DE NABUCODONOSOR 29 imaginam, mas para o periodo da histéria do mundo que comegou na manjedoura de Belém. O sonho de Nabucodonosor nos dird algo sobre o periodo da histéria em que estamos vivendo! Daniel continua: “Este sonho é a resposta de Deus aos teus pensamentos no leito. Tu foste para a cama inquirindo sobre © futuro. Deus te respondeu através de um sonho, e eu posso relatar tanto 0 sonho como a sua interpretagdo. Eu nao sou especialmente sébio ou exaltado, mas Deus me deu a interpretagdo simplesmente para que seja conhecida”. Os versiculos 31 a 35 mostram Daniel descrevendo o que o rei sonhou, e nos trazem ao climax do capitulo. O rei, em seu sonho, contemplou uma imensa estatua (v.31). Sendo quase totalmente metalica, brilhava ao sol. Seu brilho e tamanho a tornavam apavorante e assustadora. Olhando para a imagem, 0 rei vira que era composta de diferentes materiais, todos metais, menos um. A cabega era feita do melhor ouro (v.32). O peito e os dois bragos eram de prata. O ventre e os quadris, de bronze. As pernas, dos joelhos para baixo, eram de ferro (v.33). Os dedos nao séo mencionados nesta passagem, mas os pés eram, em parte, de ferro e, em parte, de barro. Coisas estranhas acontecem em sonhos, e o que aconteceu depois era tao estranho como qualquer coisa que alguém jamais viu. Em direcao a estatua veio uma pedra insig- nificante. Talvez fosse como uma das pequenas pedras que achamos na estrada. Nao ha indicagao de onde a pedra veio; parecia vir do nada. O sonho do rei nao deu detalhes quanto a sua origem. Apenas notou que ela veio e caiu sobre os pés da imagem (v.34). Imediatamente, toda a imagem desmoronou e foi reduzida a pé. O vento soprou sobre ela e logo nao havia sinal de que estivera ali. O que era tao apavorante, que parecia téo permanente e formiddvel, havia desaparecido. Ent&o, a pequena pedra come¢ou a crescer, tornando- se um seixo, e depois uma rocha. Enquanto o rei, assombrado, olhava, a pedra crescia, tornando-se maior que uma casa, maior que o prédio mais elevado e maior que os montes. De fato, tornou-se uma grande montanha, que enchia toda a terra (v.35). 30 OUSE SER FIRME “Este é 0 sonho; e também a sua interpretacaio diremos ao rei” (v.36). “A cabega, 6 rei Nabucodonosor, és tu! Es um poder mundial. Es um reino. Es um império. Tu és a cabeca de ouro” (v.37). Devemos ter cuidado e notar que Daniel dirigiu suas palavras diretamente ao rei diante dele, ndo dando de modo algum a impressdo de que falava sobre um império babilénio renascido, como pensam alguns. “O peito e os bracgos so também um império, menos poderoso, que te sucedera” (v.39). “O ventre e as coxas sio outro império mundial que sucedera aquele” (v.39), “As pernas e os pés sao ainda outro império mundial que, por sua vez, sucederd ao terceiro. Este quarto império ser particularmente notdvel pelo seu poder de destruicao. Tera a forca do ferro e sera constituido de uma mistura de ferro com barro. Seus dois elementos finalmente serio impossibili- tados de permanecerem ligados e se tornarao um reino dividido. Uma das partes permanecera forte, mas a outra sera fragil e mais facilmente destruida.” “E a pequena pedra? Bem, durante o governo deste quarto poder mundial, ocorrer4 um evento de grande signifi- cado. Nos dias destes reis, o Deus do céu suscitara um reino que nao ser4 jamais abalado. Este reino nao passar4 a outro povo; esmiucaré e consumiré todos estes reinos, mas ele mesmo subsistira para sempre” (v.44). “Como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxilio de maos, e ela esmiugou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro. O Grande Deus fez saber ao rei o que ha de ser futuramente. Certo é 0 sonho, e fiel a sua interpretagao” (v.45). Desta forma, Daniel percebeu quem é Deus, além de ter ficado ciente do sonho e de sua interpretag4o. A terceira coisa que viu, foi algo que ninguém em Babildnia jamais esperaria. Lemos a este respeito na narragdo do versiculo 46 até o final do capitulo: Ele viu o rei, humilhado; o verdadeiro Deus, glorificado; e 0 remanescente temente a Deus, promovi- do. Quem esperaria ver 0 mais poderoso homem da terra cair 0 SONHO DE NABUCODONOSOR 31 sobre o seu rosto, em atitude de homenagem? Mas foi precisamente isto que aconteceu. Ao mesmo tempo, 0 rei ordenou que fosse queimado incenso em honra a Daniel. Alguns tém pensado que Nabucodonosor estava prestando a Daniel a adoragdo que é devida somente a Deus. Mas nao foi isto que aconteceu. Talvez possamos compreender, se lembrarmos um incidente semelhante, na vida de Alexandre, o Grande. Quando chegou a Jerusalém, prostrou-se aos pés do sumo sacerdote e foi severamente repreendido por um de seus auxiliares. “Nao faga isto”, ele disse. “Eu nao adoro o sumo sacerdote”, replicou Alexandre, “mas 0 Deus a quem ele ministra”. Algo semelhante aconteceu na sala do trono de Nabucodonosor. O rei caiu aos pés de Daniel, nao porque o estava adorando como Deus, mas porque reconheceu Daniel como um porta-voz de Deus. Ent&o, o verdadeiro Deus foi glorificado, Nabucodonosor ainda nado compreendia que o Deus de Israel era 0 tinico Deus, mas O reconheceu como 0 supremo Deus. Ninguém poderia pensar, algumas horas antes, que isto aconteceria. Tudo indicava que os dias do remanescente fiel estavam contados. Parecia certo que os piedosos seriam mortos e que desapareceriam para sempre. Mas agora Daniel, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego estavam todos recebendo promo¢ao, Daniel foi colocado como governador da provincia de Babilénia e como o chefe supremo de todos os sdbios. A arqueologia ainda nao conseguiu esclarecer-nos 0 que este cargo envolvia, embora o titulo “o chefe supremo”, cargo ao qual Daniel foi promovido, j4 tenha sido encontrado entre as inscrig6es antigas. Os seus trés companheiros de oracéo foram promovidos a sub-chefes, para servir sob a autoridade de Daniel. O remanescente fiel nao apenas estaria seguro, mas exerceria influéncia. Tudo havia estado contra ele, mas nao fora aniquilado. Nao pereceram no capitulo | simplesmente por recusarem-se a fazer algo pecaminoso. Tampouco 32 OUSE SER FIRME pereceram no incidente deste capitulo, pois se entregaram unanimemente a oracdo. E assim que uma testemunha de Deus é preservada no mundo. Faremos bem em guardar estas lic¢des em nosso coragao. O Que Devemos Aprender Neste capitulo, notamos 0 que Nabucodonosor e Daniel viram. O que devemos nés aprender disto? Além de algumas ligdes a que ja nos referimos, ha trés coisas principais. Em primeiro lugar, a Palavra de Deus é verdadeira. Daniel falou as palavras que Deus lhe deu, e tudo o que anunciou que aconteceria realmente aconteceu. O império de Nabucodonosor foi sucedido por trés outros. Nao precisamos indagar quais os impérios referidos no sonho e na sua interpretagdo; trés deles sio identificados no préprio livro de Daniel, e a identidade do quarto é revelada por nosso Senhor Jesus Cristo. Este ponto deve ser enfatizado, especialmente nestes dias em que tantas coisas contraditérias foram escritas sobre a visdo do capitulo 2. Nao ha dtvida possivel a respeito de quais os poderes mundiais referidos aqui. No entanto, néo foram quatro imagens que Nabu- codonosor viu, mas somente uma. Isto porque, num sentido muito real, todos os impérios descritos por Daniel sao o mesmo império. O segundo conquistou o primeiro. O terceiro venceu o segundo. E o quarto derrotou o terceiro. O primeiro teve um sucessor, assim como 0 segundo e 0 terceiro. O quarto nfo teve um sucessor, mas, no perfodo deste quarto império, um outro reino se levantou. Pode-se afirmar com certeza que a pequena pedra destruiu os quatro impérios, e nado apenas o ultimo. Babilénia desapareceu, como um poder mundial, quando foi conquistada e incorporada pelos medos e persas. A Medo-Pérsia, por sua vez, foi conquistada e absorvida pela Grécia. O poderoso império da Grécia foi, por sua vez, conquistado pelos romanos. Estes néo apenas apropriaram-se de todas as terras do império grego, mas estabeleceram um O SONHO DE NABUCODONOSOR 33 império ainda mais abrangente e expansivo do que qualquer outro que o havia precedido. Foi nos dias do império romano que um outro reino foi estabelecido, um reino que esta sempre crescendo e nunca terminar4, Pensemos um pouco mais sobre esta maravilhosa visio profética, De todos os quatro impérios, somente um era total- mente unificado. Este era Babilénia, que é, portanto, retratado como a cabega de ouro da imagem. A Medo-Pérsia nunca possuiu a mesma gléria que Babilonia, e para a sua descrigao, nada melhor do que a prata. Embora formasse uma unidade, na realidade era constituida de dois bragos, exatamente como o sonho da imagem havia profetizado. A Grécia veio a seguir. Sob Alexandre, o Grande, a Grécia foi um império unificado, mas eventualmente se dividiu em duas pernas, a Siria e o Egito. Da mesma forma, 0 império romano teve duas grandes divisdes, do oriente e do ocidente (eventualmente se dividiu em dez reinos menores, ou seja, dez dedos — um assunto que esta fora do escopo deste capitulo). Foi nos dias do império romano que uma Pedra, sem origem, veio a este mundo. Nao teve origem, pois existia mesmo antes de existir 0 tempo. Joao Batista proclamou a respeito dEle: “O que vem depois de mim tem, contudo, a primazia, porquanto jé existia antes de mim” (Jo 1.15). O eterno Filho de Deus veio a Belém como um insignificante menino, a fim de estabelecer um reino que permanecerd para sempre. Hoje, os reinos que o antecederam estéo aniquilados. Mas 0 reino de Cristo permanece, esta crescendo e durar4 para sempre. Nunca tera sucessor. Tudo aconteceu conforme Daniel profetizou. Quando Deus fala, o que Ele diz é verdadeiro. Um capitulo como este deve renovar nossa confianga na Palavra de Deus. Deveriamos admiré-la e descansar nela, de um modo que nao fizemos antes. O capitulo deve levar-nos a recordar que “os juizos do Senhor s4o verdadeiros e todos igualmente justos” (S1 19.9). Mas devemos aprender algo mais: a histéria estd nas maos de Deus. O livro de Daniel foi escrito no século VI A.C. Ha 34 OUSE SER FIRME muitos que nao créem nisto e insistem que deve ter sido escrito no século II A.C. Esta teoria pode ser inteiramente descartada; e mais uma vez,, recomendo aos leitores interessados a obra de E.J. Young. Ele, Robert Dick Wilson e outros explicam clara- mente a impossibilidade desta teoria. Esta visio equivocada tornou-se popular porque muitos homens e mulheres néo podem aceitar a idéia da profecia preditiva. Nao conseguem acreditar que a Palavra de Deus prevé corretamente os eventos antes que estes ocorram. Se nao créem nisto, nem mesmo a mais bem elaborada argumentagdo pode convencé-los. Esta é a principal raz&o por que a insisténcia, segundo os estudiosos, em uma data do sexto século nfo tém sido aceita. Mas os sensatos acharao seus argumentos convincentes. E importante notar que o Senhor Jesus atribuiu a Daniel a autoria do livro que tem 0 seu nome (Mt 24.15). Quem ousaria dizer que o perfeito Filho de Deus estava enganado? Podemos, entéo, confiantemente, afirmar que Daniel registrou a histéria antes de sua concretizacio. Como pode acontecer isto, se Deus nao controla a hist6ria? Nao é suficiente dizer que Deus meramente previu o que aconteceria. Poderia Ele ter feito isto, sem ter controle dos eventos que Ele mesmo previu? Poderia Ele té-los previsto com exatidao, se nao os controlasse perfeitamente? Ninguém pode profetizar infalivelmente aquilo que nao controla plena- mente. Se nao fosse assim, alguma coisa poderia acontecer de modo errado. Alguém poderia colocar areia na engrenagem. Alguém poderia tomar uma deciséo de modo contrario As profecias feitas. Ninguém pode prever o futuro, sem ter controle sobre ele. E exatamente isto que as Escrituras ensinam. Contam- nos que “de um sé fez toda a raga humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitagdo” (At 17.26). Daniel j4 havia dito que é Deus quem estabelece e remove reis (v.21). Deus controla a histéria. Este 6 um pensamento que se mostra maravilhoso para mim, enquanto escrevo estas paginas. Nao vivo em um universo descontrolado. Vivo em um mundo onde os propésitos de Deus esto se © SONHO DE NABUCODONOSOR 35 cumprindo, ainda que muitos eventos sejam horriveis e amedrontadores, como o eram nos dias dos impérios mencionados neste capitulo. Todos os acontecimentos estao se realizando de acordo com o que Deus planejou. Deus con- tinua no trono. Isto nos traz 4 compreensdo de uma terceira verdade: ndo hd razGo para o cristéo ficar desencorajado. Cristo, a Pedra, estabeleceu um reino onde Ele mesmo governa. Nao é um reino politico, porque Ele dogmaticamente asseverou: “O meu reino nao é deste mundo” (Jo 18.36). Ele nos explicou sobre a qualidade do seu reino: “O reino de Deus esta dentro em vés” (Lc 17.21). O reino de Cristo é espiritual. Em todo o mundo ha homens, mulheres, jovens, meninos e meninas em cujos coragdes Cristo reina. De todas as nagdes, Ele tem constitufdo uma nova nagdo. Dentre as pessoas de todas as racas, Ele tem formado uma nova raga. Pessoas de todas as cidadanias tém adquirido uma nova cidadania. As barreiras entre judeus e gentios, escravose livres, barbaros e gregos foram destruidas. A extensdo do reino de Cristo nao é medida por fronteiras visiveis em um mapa. O Filho de Deus governa no corag&o de todas as pessoas que foram unidas a Ele pelo evangelho. Cristo estabeleceu este reino com a autoridade do Deus do céu (v.44). Iniciou-se nos dias do império romano, como fora profetizado, e nunca passara. Cristo permanece como o seu Rei perpétuo e nunca ter4 sucessor. Ele mesmo é 0 Deus todo-poderoso, e, portanto, seu reino jamais ser4 conquistado. Os cidadaos do reino nunca Lhe serao tomados e jamais se revoltarao, pois cada um deles é um stidito voluntario. Este capitulo fala deste maravilhoso reino. Nada pode evitar o crescimento deste reino; deste fato devemos receber imenso encorajamento. O reino tem preva- lecido e sempre prevalecer4 contra toda oposig&o. Os crist&os podem ser queimados vivos (como Nero o fez), jogados as feras em anfiteatros ou exilados as ilhas. Podem ser encerrados em covas, horrivelmente torturados ou publicamente executados. Porém, nada do que é feito contra eles impede o 36 OUSE SER FIRME crescimento de seu mimero, O sangue dos martires é a semente da igreja. O reino cresce.., cresce... cresce... Finalmente, sera semelhante a uma montanha que enche toda a terra. Isto nao significa, naturalmente, que todos serao salvos, mas que, por fim, haverd pessoas de todas as na¢des e linguas na proclamagao do louvor celestial ao Senhor Jesus Cristo: “Digno 6 0 cordeiro, que foi morto...” (Ap 5.12). O reino de Cristo é eterno. O dia se aproxima quando ele destruiré todas as outras autoridades, governos e poderes (1 Co 15.24). Seu governo, ent4o, sera 0 tnico a permanecer. O universo inteiro reconhecer4 seu senhorio, enquanto seus stiditos voluntérios ficarao emocionados, ao ouvirem: “Vin- de, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos est4 pteparado desde a fundagaéo do mundo” (Mt 25.34). Sem diivida, 0 povo do Senhor ser4 sempre um rema- nescente, uma pequena minoria em relagao a toda a populacéo do mundo. Porém, o ensino deste capitulo nos assegura que o remanescente existira sempre e estar4 continuamente aumentando, até que se estenda aos confins da terra. Nao precisamos temer quanto ao futuro da causa de Cristo. A arca de Deus vai muito bem; nao precisamos estender nossas maos para manté-la firme. O futuro do reino de Cristo est4 tio seguro quanto as promessas de Daniel 2. Este reino nao falhara; em breve serd o tinico a existir. Portanto, vale a pena consagrar tudo que temos e somos 4 ampliagao do reino de Cristo. Todas as nossas posses, talentos e energia devem ser devotadas ao grande trabalho de ganhar outros para Jesus. Nao podemos parar. Enquanto semeamos, nem toda a semente germina; nem a maior parte. Mas uma parte dela sempre germina; e os que vio sendo salvos comegam a viver uma outra vida, sob o senhorio de Cristo. Quiao maravilhoso é tornar-se um membro deste reino! . Quo terrivel, pela incredulidade e falta de arrependimento, é estar eternamente fora dele! A Fornalha Ardente Leia Daniel 3 S vocé sorriu quando leu o texto que fala sobre os “satrapas, os prefeitos e os governadores, os juizes, os tesoureiros, os magistrados, os conselheiros e todos os oficiais das provincias”, é porque deveria mesmo. Isto é também verdade acerca do texto da “trombeta, do pifaro, da harpa, da citara, do saltério, da gaita de foles e de toda sorte de miisica”. Daniel 3 zomba da pompa e da cerimdnia de idolatria paga nele registradas. E escarnecedor. Os capitulos anteriores nos contaram como um pequeno grupo de pessoas manteve-se fiel a Deus em um ambiente hostil. Entre os judeus, agora castigados por sua idolatria, havia apenas um nimero reduzido de pessoas cujos coragdes eram fiéis a Deus. Tentados a transigir, recusaram-se a fazé-lo. Estando aparentemente a ponto de serem aniquilados, Deus os preservou miraculosamente. O capitulo que consideramos agora, registra um outro livramento maravilhoso e, novamente, nos assegura que os poucos que permaneceram fiéis a Deus foram objetos de seu especial cuidado. O estudo deste capitulo oferece enorme encorajamento e algumas importantes licdes praticas para cada crente que nao se encontra em harmonia com os padrées e valores do mundo ao seu redor. 38 OUSE SER FIRME Um dos mistérios deste capitulo é a auséncia de Daniel. Ninguém sabe 0 motivo desta auséncia, embora, naturalmente, ja tenha havido muita especulag4o. Onde estava e o que fazia ele nesta ocasiao nao é revelado. Os seus trés amigos sao ressaltados neste capitulo. Sadraque, Mesaque e Abede-Nego jahaviam sido mencionados algumas vezes no livro, mas Daniel fora sempre 0 mais proeminente. Seus trés amigos foram obscurecidos por ele e colocados em segundo plano. Agora, os veremos em suas circunstancias pessoais. O capitulo 3 é um relato simples de como trés homens corajosamente desafiaram o mais poderoso homem no mundo, a fim de nao desagradarem a Deus. Para eles, agradar a Deus era mais importante do que preservar suas préprias vidas. O exemplo destes jovens nos mostra a esséncia da fidelidade a Deus. O capitulo também registra como Deus interviu e sustentou-lhes a fé. O principal ensino deste capitulo nao é o livramento miraculoso. Nao temos dificuldades em acreditar em milagres, temos? Visto reconhecermos que Deus € todo-poderoso e crermos que Ele ressuscitou a seu Filho dentre os mortos, os milagres nao sao mais problemas para nds. O poderoso livra- mento registrado neste capitulo enche nossos coragées de louvor a Deus, mas nao é 0 assunto mais importante que devemos observar. O principal ensino, neste capitulo, é que trés crentes jovens sao tentados a praticar o mal e recusam-se a fazé-lo. Estao dispostos a nao trilhar o mesmo caminho que todos os demais, ainda que isto signifique uma morte horrfvel. “Transigir” nao é uma palavra do vocabulario deles. O pecado é pecado, e eles nao 0 cometerao, ainda que corram perigo. Nio tolerarao 0 pecado, nem mesmo lhe dardo ouvidos. A este aspecto devemos dar nossa atengdo, pois nos ensina, uma vez mais, como o testemunho de Deus mantém-se vivo em um mundo pagao. Se desejamos ser fiéis a Deus em um ambiente hostil, nds mesmos precisamos seguir 0 exemplo de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Este capitulo traz 4 nossa mente a antiga indagacao: “O que acontece quando uma forca irresistivel encontra um A FORNALHA ARDENTE 39 objeto irremovivel?”. Porém, neste caso ha trés objetos irremoviveis! Veremos primeiro a forga, depois, os objetos. Finalmente, veremos 0 que aconteceu quando os dois se confrontaram. A Forca Irresistivel A forca irresistivel € 0 rei Nabucodonosor, e, se verificarmos os versiculos 1 a 7, ficaré evidente por que Ihe damos este nome. A narrativa se inicia com o rei erigindo uma imagem. Precisamente quando ele fez isto, no o sabemos; e 0 texto nao nos informa. Talvez logo apés Daniel té-lo descrito como “cabeca de ouro”. Possivelmente, esta descrigéo o havia enchido de orgulho e, portanto, ele seguira o sonho de uma imensa estatua, edificando uma imagem de verdade. Era comum entre os potentados babildnios e sirios, construir imagens em sua propria honra; 0 que Nabucodonosor fez nao era considerado particularmente inusitado. A imagem era, quase certamente, uma representagdo dele mesmo. Também é certo que ele estava pensando nao somente em sua propria honra, mas também na honra dos deuses aos quais prestava adoracao. O custo de fabricagdéo desta imagem deve ter sido exorbitante. Folheada a ouro, erguia-se sobre um pedestal e tinha mais de trinta metros de altura, mas sua largura era apenas dois metros e setenta centimetros, Estas proporgdes sio um tanto grotescas, mas sao tipicas das estatuas de Babilénia. Nao devemos concluir que Nabucodonosor fosse alto demais e pateticamente magro! Esta imagem imensa e desproporcional foi erguida no campo de Dura. A palavra aramaica aqui traduzida por “campo” se refere a uma Area plana entre montanhas. A imagem foi erguida em uma espécie de arena natural. Ao seu redor havia uma grande drea bastante plana, com montanhas de cada lado. Provavelmente seria visivel a dezenas de quilémetros, especi- almente quando seu revestimento dourado brilhasse ao sol. Ao ficar pronta a imagem, houve uma ceriménia de 40 OUSE SER FIRME dedicagado, como era 0 costume babildnio. Isto é relatado nos versiculos 2 e 3. Oficiais importantes vieram dos lugares mais remotos do império babilénio; seus diversos escalées sdo apresentados. Talvez ninguém, no mundo inteiro, participara de uma celebragdo como aquela. A multidéo era imensa e todo 0 espetaculo seria infinitamente mais espléndido do que a mais extravagante coroacdo. Era uma imagem erguida pelo poderoso imperador de Babilénia, em honra a ele e a seus deuses; e, de todos os seus territérios, muitos vieram para contempla-la. No versiculo 4, temos uma afirmacao apenas indicativa. A frente desta multidao sem precedentes, “o arauto apregoava em alta voz”. Que voz teria ele! Para a multidao silenciosa, ele transmite um decreto, em nome do rei. Ninguém estd isento de suas exigéncias. Diferentes povos, nagdes e linguas encon- tram-se presentes, de todas as partes do império babilénio. O que é ordenado se aplica a todos. Uma orquestra também est4 presente 4 ceriménia, cujos instrumentos sao listados nos versiculos 5,7,10 e 15. “Toda sorte de mtsica” € uma expresso persa, indicando que a orquestra continha alguns instrumentos persas. Isto nao é surpreendente, visto que a Pérsia era um pais vizinho. A “trombeta” e o “pifaro” eram semiticos e sugerem que alguns dos misicos eram judeus exilados. A “harpa”, a “citara” eo “saltério” eram instrumentos gregos. Babilénia comerciava com a Grécia hd mais de um século e, evidentemente, também acrescentara a musica grega 4s suas proprias tradigdes. O arauto proclamava que, quando a orquestra tocasse, todos, quem quer que fosse ou onde quer que estivesse, deveriam prostrar-se em terra e adorar a imagem recém-erigida. Se o versiculo 6 nos traz perplexidade e nos parece irracional, ha algo que devemos lembrar. Esta estdtua grotesca havia sido erguida em honra do rei e seus deuses. Nao curvar- se a ela somente poderia ser interpretado como um ato de infidelidade. Era insubmissdo a palavra do rei; era traigdo. Este tipo de comportamento mau somente poderia ser recom- pensado com a horrivel morte na fornalha de fogo ardente. Curvar-se ao idolo nao era problema para a grande A FORNALHA ARDENTE 41 maioria das pessoas no império babilénio, ainda que procedessem de nacdes conquistadas. Precisavam apenas raciocinar: “E 6bvio que os deuses de Babilénia sao mais fortes do que os nossos, pois, doutra forma, n4o teriamos sido derrotados. Podemos ao menos reconhecer isto”. Até mesmo para os judeus exilados, prostrar-se ao idolo nao era problema. Por geragdes haviam desobedecido a Deus e se envolvido em idolatria. As severas palavras dos profetas condenando esta pratica haviam sido deliberada e continua- mente ignoradas. Nao teriam escrapulos de consciéncia sobre © prostrarem-se ante a imagem de ouro. A idolatria estava arraigada em seus coragdes. Por que morrer ao se recusarem a fazer algo que por muitos anos haviam feito? A submissaéo de todos ao edito do rei era esperada, pois ninguém desejaria ser oprimido ou prejudicado por ele. Ninguém, exceto o remanescente fiel a Deus. A evidéncia de que eles permaneciam fiéis a Deus estava no fato que de forma alguma se envolveriam no culto a deuses falsos. O primeiro mandamento era de suprema importancia para eles. Nada consideravam mais importante do que amar o Senhor, seu Deus, com todo o seu coracao, alma, mente e forcas. Haviam recusado comer alimentos oferecidos aos idolos e, portanto, certamente nao se prostrariam diante de uma imagem. Todos os outros poderiam submeter-se ao decreto do rei, mas nao eles, HA um Poder mais alto que devia ser obedecido. Somente eles seriam diferentes, ndo-conformistas. O pecado é pecado e nao pode ser cometido, ainda que ndo pratic4-lo implique em morte certa em uma fornalha ardente. Quando todos se curvassem, eles permaneceriam de pé! Durante vinte séculos, os regimes totalitérios disseram aos cristéos que estes deveriam conformar-se com suas exigéncias impias ou morreriam. Nunca isto foi tao verdadeiro quanto no século atual. Em muitos paises do mundo, 0 povo de Deus sofre perseguicdes. Definham na priséo, condenados as tarefas mais insignificantes da sociedade, suportam a dor de perderem suas criancas, gritam sob tortura e morrem horrivel- mente. Enfrentam tudo isto para néo se conformarem com as exigéncias das autoridades que Ihes ordenam abandonar sua fé 42 OUSE SER FIRME ea dar-lhes o primeiro lugar em suas vidas, 0 qual deve ser dado somente a Deus. Muitos dos cristéos vivem sob tais regimes. Mas as palavras de Samuel Rutherford permanecem verdadeiras: “Vocé nao conseguira entrar sorrateiramente no céu, acompanhado de Cristo, sem conflitos e uma cruz”. Pessoas ao nosso redor nos pressionam para que nos unamos a elas em seus pecados. Insistem repetidamente: “Todos 0 fazem, por que nao vocé? Por que ser diferente? Vamos, apenas esta vez; s6 esta vez”. Jovens cristaos sao instados a se embriagarem com seus amigos ou a perder sua virgindade antes do casamento. Sao tentados a mentir, a roubar, a ler livros impréprios e a ver programas de televisdo e filmes indecentes. A profanagao do Dia do Senhor, o desperdicio de dinheiro, o mau uso do tempo, os jogos de azar, a aquisi¢do desonesta de riquezas e muitos outros pecados e indecéncias sao exaltados como virtudes. A coisa “legal” é ficar sob luzes piscantes e “curtir” mtsicas maliciosas. O mundo tem sua prépria fornalha ardente a espera daqueles que nao se conformam em adorar seus fdolos. E a fornalha de ser desprezado, ridicularizado, escarnecido, repudiado e ignorado, Aqueles que temem a Deus e mantém vidas puras séo considerados “quadrados” e indiferentes, que nao participam da vida e dos interesses dos outros ao seu redor. Para muitos jovens crentes, a pressdo parece irresistivel. Sentem-se forgados a uma escolha. Ou se identificam e vivem como todos os demais; ou assumem uma postura firme e per- dem tudo. : Esta foi a escolha apresentada a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego! Trés Objetos Irremoviveis Tendo esta escolha muito clara diante deles, o que fizeram estes trés jovens? Os versiculos 8 a 18 nos mostram. Decidiram agradar a Deus, apesar das consequéncias. Desta posi¢do nao se arredaram, nem um centimetro. A forca A FORNALHA ARDENTE 43 irresistivel de um decreto do rei encontrou trés objetos irremoviveis! Imaginemos a cena registrada nos versiculos 8 a 12. Pensemos na imensa multidaéo, a agitacio e o ambiente de expectativa. Finalmente, a orquestra toca, e, como ordenado, a multidao se prostra a terra. Ali, tao visiveis quanto era possivel, encontram-se apenas trés pessoas ainda de pé! Sem diivida, j4 vimos na igreja alguém permanecer de pé apés os demais se assentarem. Ninguém deixa de percebé- lo. Todos os olhares se voltam para ele. Quao mais visiveis estariam Sadraque, Mesaque e Abede-Nego! Todos haviam se curvado, mas trés, somente trés, audaciosamente permane- ceram de pé! A luz do capitulo 1, provavelmente todos sabiam que estes trés nao aprovavam a idolatria. Mas, nesta ocasiao, parece que serao arruinados. S40 denunciados ao rei. Sem dtvida, muitas coisas boas poderiam ser ditas a respeito deles, para contrabalancar esta denincia. Porém, nada disto se fala. E severamente declarado que estes trés proeminentes oficiais nao obedecem ao rei. Os versiculos 13 a 15 contam-nos como o rei, na sua féria, ordenou que os trés fossem imediatamente trazidos a ele. “B verdade?”, pergunta-Ihes Nabucodonosor. Entio lhes assegura, como o fazem as pessoas ao nosso redor, que, se for verdade, ainda ha tempo para mudarem de atitude e tornarem-se como os demais: “Agora, pois, estai dispostos e, quando ouvirdes 0 som da trombeta, do pffaro, da citara, da harpa, do saltério, da gaita de foles, prostrai-vos e adorai a imagem que fiz; porém, se nao adorardes, sereis no mesmo instante lancados na fornalha de fogo ardente. E quem é o deus que vos poderd livrar das minhas maos?” (v.15). O mundo ao nosso redor anseia ardentemente persuadir os cristéos a se conformarem aos seus padrdes, Nao pode tolerar a firmeza daqueles que nao o fazem e, antes de tentar arruind- los, procura persuadi-los a serem como todos os outros. Ha algo inerente ao mundo que o torna muito ansioso por ver 0 povo de Deus conformado aos padrdes do mundo. Sente-se 44 OUSE SER FIRME perplexo e perturbado por aqueles que nao se prostram ante os seus fdolos. Nao pode compreender aqueles que possuem valores diferentes. E particularmente desapontado por aqueles que, acima de qualquer coisa ou pessoa, cultuam e amam o Deus invisivel. Preferiria persuadi-los a castigd-los, mas, se nao puder persuadi-los, certamente os castigard. De fato, a ameaga de punicéo é parte de seu argumento de persuasao. Nabucodonosor mostra-se mais irado neste capitulo do que no anterior. Como se atrevem eles a recusar reconhecé-lo como autoridade suprema? Se nao aceitarem sua supremacia desta forma, deverao fazé-lo de outro modo. A fornalha ardente demonstraria onde estava 0 verdadeiro poder. Depois que ele, o rei, os langasse ali, que Deus poderia livr4-los? Este é o homem que recentemente havia reconhecido o poder e a supremacia de Deus (2.47)! Em sua indignacao, esquecera as ligdes do passado recente. Quando uma pessoa se entrega a ira, perde o discernimento, ficando mais propenso a empregar as ameagas do que a razao. O versiculo 16 mostra-nos porque é correto referir-se a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego como “objetos irremoviveis”. Responderam: “O Nabucodonosor, quanto a isto nao necessitamos de te responder”. Isto quer dizer: “Sim, as demincias so verdadeiras. Nao temos nenhuma defesa, escusa ou desculpa a apresentar. Confirmamos os fatos, E perfeitamente verdadeiro que nao nos prostramos ante a imagem de ouro. Se tu nos langares na . fornalha de fogo ardente, que assim seja. Nosso Deus pode livrar-nos. Realmente, Ele o faré. Porém, se em sua soberana vontade, escolher nGo nos livrar, ainda assim nao cometeremos © pecado que estés ordenando” (vv.16-18). Isto é f6 em acao! E facil recusar a prostrar-se quando a integridade fisica é assegurada. Estes trés homens estavam confiantes no livramento. Mas sua determinacao era que, embora ndo fossem livrados, nao se prostrariam. Esta é a forma como age a fé em Deus. Devemos lembrar um grande princfpio da vida crista. Nas palavras de C.H.Spurgeon: “Nosso dever é praticar aquilo que é correto; as consequéncias pertencem a Deus... E para A FORNALHA ARDENTE 45 vocé e eu fazermos o correto, ainda que os céus caiam, preci- samos seguir a ordem de Cristo, apesar das consequéncias... Senhores, 0 que podemos fazer em relagdo 4s consequéncias? Que caiam os céus, mas que o homem seja obediente a seu Senhor e fiel 4 sua verdade. O homem de Deus, seja integro e nao tema! As consequéncias pertencem a Deus e nao a vocé”. Este principio biblico é exemplificado em Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Nosso dever é fazer 0 que é correto. Nada mais. Se fazer 0 correto significa que estamos arruinados, isto € assunto de Deus. As consequéncias estaéo em suas maos, mas o dever est4é em nossas. Nao importa o custo ou as consequéncias, cumpre-nos fazer aquilo que agrada a Deus. Sadraque, Mesaque e Abede-Nego viviam de acordo com este principio. Segundo o nosso conhecimento, nunca antes haviam eles, intencionalmente, desapontado o rei de Babilénia. Nao ha indicagao de que isto era algo que eles descjavam. Mas quando temos de escolher entre agradar 0 homem mais poderoso da terra e o Deus eterno, ha somente um caminho a seguir. O pior que o mundo pode fazer é nos matar. Este € um pensamento que nos conforta intensamente! Todos morreremos, mais cedo ou mais tarde, e comparece- remos diante de Deus. Sem divida, é melhor ser morto prematuramente e encontré-Lo em paz do que viver um pouco mais e apresentar-se a Ele em terror. Sabemos que a morte nao é o fim de tudo. Por que, entao, deixar que a mera ameaga de morte seja uma razao para nao mais procurarmos agradar a Deus, a quem deveremos prestar contas apds a morte? Quanto menos deveria a fraca ameaga de sermos escarnecidos, desviar- nos de seguir ao nosso Senhor, neste mundo? Poucos crentes consideram a légica do principio que acabamos de mencionar. Isto explica porque tantos deles cedem As pressées da época. Pensam nas consequéncias temporérias de desagradarem o mundo e tomam suas decisdes a luz dessas consequéncias. Sadraque, Mesaque e Abede-Nego fizeram exatamente 0 oposto. Nao obstante as consequéncias, 0 correto €é correto, e o pecado é pecado. Portanto, resolveram fazer 0 correto e deixar as consequéncias com Deus. Este tipo de raciocinio mantém vivo um testemunho de Deus no mundo. 46 OUSE SER FIRME Quando o abandonamos, perdemos todo o nosso poder de influenciar para Deus aqueles que vivem ao nosso redor. A forga irresistivel encontrou trés objetos irremoviveis. A forga mais poderosa no mundo ordenou: “Fagam isto!” Encontrou a resposta mais temida pelo mal: “Nao!” Nabucodonosor nao voltar4 atrés, e Sadraque, Mesaque e Abede-Nego nao abandonardo a postura que assumiram. Qual sera 0 resultado? Os versiculos 19 a 30 nos contam. O que Aconteceu O resultado foi que os trés crentes n&o-conformistas foram lancados na fornalha ardente. Porém, ali receberam livramento. Devemos notar que receberam livramento no fogo e nao do fogo. A intensidade da firia de Nabucodonosor alterou até mesmo sua aparéncia! (v.19) Em seu furor, ordenou que a fornalha fosse aquecida sete vezes mais do que o normal. Quando os santos se recusam a pecar, nado ha limites 4 firia dos impios. Aqueles que dizem estar preparados para entrar na fornalha, por amor ao Senhor, devem ser alertados de que a fornalha pode ser consideravelmente mais quente do que podem imaginar. E obvio, do versiculo 20, que Nabucodonosor esperava oposic¢éo A sua ordem para executar os trés rebeldes, pois colocou esta tarefa nas mos dos homens mais fortes de seu exército. Os versiculos 21 a 23 nos mostram aqueles homens carregando os trés jovens, atados em suas roupas palacianas, ao topo da fornalha. A fornalha era como um grande caldeirao. Na parte lateral, ao fundo, havia uma porta através da qual se colocava a lenha. Mas a parte de cima era aberta. O remanescente fiel a Deus foi conduzido a esta parte superior. A fornalha estava téo quente que os auxiliares de Nabucodonosor, que os carregavam, foram mortos pelo intenso calor; mas nao antes de langarem para dentro Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Os que olhavam para a abertura cheia de fumaca, viram-nos A FORNALHA ARDENTE 47 caindo através das chamas até o fundo da fornalha. Estavam atados e indefesos; e o fogo, que ja matara os de fora, os mataria também. Com certeza, seria o fim do povo de Deus. E tolice dizer isto! Nunca acontecer4 o fim do povo de Deus! O remanes- cente fiel nunca desaparecer4. Seu niimero pode ser pequeno, porém jamais deixard de existir. Nunca! O livro de Apocalipse indica que este mundo vera 0 fim da igreja cristé como uma instituicdo organizada. O tempo viré quando as pessoas procurarao igrejas no sentido em que sempre as viram, mas n4o as encontrarao. Contudo, isto nao significa que a igreja cristé acabara. O povo de Deus estaré aqui na terra até o momento da vinda de nosso Senhor. Considere a Albania. Nao se encontra 14 qualquer sinal visivel da igreja cristé. Nao ha indicagao visivel de que a igreja cristé tenha exercido qualquer influéncia naquela nag4o. Nenhum livro, em qualquer biblioteca, traz o nome de Deus, a nao ser com desprezo, e nao ha nem uma cruz em qualquer cemitério, Ainda assim, hé muitos que créem e amam a Cristo naquele pais. Os esforgos para erradic4-los falharam. O rema- nescente de Deus nunca poderd ser destrufdo. Nabucodonosor e seus cortesdos certamente esperavam ouvir alguns gritos e ver trés corpos explodirem nas chamas. Isto, pensavam eles, seria o fim do caso. Nao haveria mais rebeldes. Todos os habitantes de Babilénia seriam pessoas dispostas a curvarem-se 4 imagem de Nabucodonosor. Mas, como todos os impios que j4 maquinaram contra 0 povo de Deus, Nabucodonosor viu o que nao desejava. Viu algo que o Jevou a saltar de seu trono, para averiguar com seus conselheiros! “Quantos homens foram langados na fornalha?” “Trés.” “Em que condigao?” “Atados.” “Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem nenhum dano; € o aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses” (v.25). Sem dtivida, Nabucodonosor descreveu a quarta pessoa 48 OUSE SER FIRME nos termos permitidos pela sua prépria capacidade religiosa. Ele 0 chamou de “um filho dos deuses”. Nao ha diivida, porém, de que a quarta Pessoa é 0 Filho de Deus. A Biblia ensina claramente que o Filho de Deus muitas vezes apareceu na terra, em forma humana, antes que vivesse entre nds, em carne humana. Frequentemente, nestas teofanias anteriores 4 encarnagdo, Ele é descrito como o “anjo do Senhor” ou “o Anjo” (Gn 48.16). Portanto, nado ficamos surpresos ao ouvirmos a referéncia a Ele como “seu anjo” (v.28). O Senhor Jesus andou entre as chamas juntamente com Sadraque, Mesaque e Abede-Nego! Uma promessa, dada ao Israel de Deus através dos labios de Isaias, nao muito tempo antes, mostrou-se verdadeira nesta ocasido: “Quando passares pelas Aguas, eu serei contigo; quando pelos rios, eles nao te submergirao; quando passares pelo fogo, nao te queimaras, nem a chama arderé em ti” (Is 43.2). Se os trés houvessem obedecido a Nabucodonosor, jamais teriam desfrutado deste privilégio de andar com Cristo entre as chamas da fornalha. Sua comunhao com Deus teria sido quebrada e estariam atados para sempre, nao com cordas € correntes, mas com um profundo sentimento de fracasso, desapontamento e inutilidade. Ao invés disto, seis séculos antes que a segunda Pessoa da Trindade, o Filho de Deus, nascesse como homem, tiveram 0 privilégio de andar com Ele. Ao rejeitarem o pecado, tiveram uma experiéncia de comunhao com 0 Senhor Jesus Cristo; uma experiéncia quase sem igual nas paginas do Velho Testamento. Quem imaginaria ser isto possivel neste mundo? Se houvessem tentado salvar suas proprias vidas, verdadeiramente as teriam perdido. A vida seria uma existéncia sem sentido e sem comunhao. Mas, dispondo-se a perder suas vidas, de fato as encontraram, Ninguém perde por recusar-se a pecar, apesar de tudo que se diga ao contrario. Serem livres do fogo nunca antes fora uma experiéncia deles. O livramento no fogo é a estratégia de Deus. Deus consola extraordinariamente aqueles seus filhos que se recusam a desonr4-Lo. Que influéncia poderiam estes trés ter exercido sobre os impios, se tivessem se prostrado A FORNALHA ARDENTE. 49 como todos os demais? Nenhuma! Mas eis agora os impios a contempld-los, boquiabertos e com admiracdo, através da abertura no lado da fornalha. Eram testemunhas de que os jovens insubmissos caminharam com Cristo, entre as chamas, e estavam inteiramente ilesos. Quanto ao que sabemos, ninguém se converteu naquele dia. Mas receberam uma impressio a respeito de Deus que por toda a sua vida jamais esqueceriam. Ao final daquele dia inesquecivel, todos conversavam sobre o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Nao houve mais qualquer mengao da horrenda imagem! A pedido de Nabucodonosor, os trés sairam da fornalha, sem ter sequer um fio de cabelo chamuscado! Nem suas roupas foram afetadas, nem mesmo havia cheiro de fumaga neles! Que Deus! Seus servos completamente ilesos! Que grande Deus! Nabucodonosor nao se convertera ainda, mas os eventos do dia foram demais para ele. Uma vez mais, é levado a um reconhecimento ptiblico acerca de Deus. Ao escrever estas paginas, encontro-me em um escri- tério em Liverpool, na Inglaterra. No passado, houve dias em que até mesmo os nao-convertidos desta na¢do tinham um certo reconhecimento acerca de Deus. De modo geral, os homens e as mulheres nao possuiam a fé salvadora, mas ainda assim, Deus era reconhecido em toda a vida da nacdo. Dezenas de milhares de pessoas, inclusive as nao-convertidas, iam regu- larmente aos locais de culto, davam gragas pelas refeigdes e guardavam o Dia do Senhor. Recusavam-se a usar linguagem inconveniente, a mentir e a se embriagarem. Opunham-se aqueles que tentavam destruir a vida familiar, ou jogavam, ou se envolviam em qualquer forma de desonestidade. Isto acontecia néo por serem homens e mulheres salvos, mas por Possuirem fortes impress6es a respeito de Deus, gravadas em suas consciéncias. A moralidade da nagdo estava muito ligada ao senso que 0 povo tinha acerca de Deus. Nosso pais nao é mais assim e est4, de fato, se afastando desta posigdo a cada minuto. O declinio se iniciou quando a igreja comegou a ceder. Quanto mais buscava estar “na onda” e “levar vantagem em tudo”, menor influéncia manifestava sobre o povo, no sentido de aproximda-lo de Deus. Ao 50 OUSE SER FIRME comecarem a enfraquecer sua mensagem, por nao pregar algo que fosse ofensivo, como o inferno e os milagres, as igrejas perderam seu poder. Quando o povo de Deus responde “Nao!” Aquilo que desagrada a Deus, nao importando quao ofensivo isto seja para Os outros, somente entio eles exercem forte influéncia sobre os impios. Veja o que Nabucodonosor foi levado a reconhecer. No versiculo 28, vemos que ele reconheceu quem é Deus. Compreendeu que Deus tem servos, que havia enviado seu anjo e que era mais poderoso que ele proprio, embora fosse ele o mais poderoso homem no mundo. Reconheceu que Deus é maior do que qualquer outro deus e digno de ser louvado. Nao chegou a reconhecer que Deus é 0 tinico Deus, nem alcancou a fé em Cristo. Porém, certas verdades foram indele- velmente marcadas em seu coracdo. Sua reagao foi editar um decreto (v.29). Nao ha como justificar ou aprovar o que ele ordenou. Devemos lembrar que ele ainda era um homem ndo-convertido; e, através dos tempos, procurar trazer outros a algum tipo de fé, pelo poder da espada, tem sido uma das caracteristicas de tais homens. Esta nao é a maneira de pessoas chegarem 4 fé. Somente homens de fé tem o discernimento espiritual para compreender esta verdade. Nabucodonosor nao possuia tal discernimento. Portanto, ordenou que qualquer pessoa que falasse mal do Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego fosse cortada em pedacos e sua casa reduzida a monturo. Discordamos inteiramente deste decreto, mas salientamos o fato que ele havia recebido uma poderosa influéncia a respeito de Deus. Os piedosos foram maravilhosamente preservados pelo gracioso poder de Deus, e o testemunho de Deus permaneceu naquele império pagao. A continuagao do verdadeiro testemunho de Deus neste mundo depende de uma tinica palavra. De igual modo, todo 0 poder do povo do Senhor para ser uma testemunha eficiente para com os que esto ao seu redor pode ser arruinado por uma Unica palavra. Esta palavra é “sim”. Quando os incrédulos sugerem 0 pecado e aqueles que cultuam a Deus concordam em pratica- A FORNALHA ARDENTE 51 lo, estes tornam-se como todos os demais. Assim, perdem todo o seu poder para fazer qualquer bem ou preservar a verdade. Quando as tentagdes sfo enfrentadas com um firme “Nio!”, a situacdo € inteiramente diferente. Para comecar, uma fornalha ardente é certa. Ou ficamos fora da fornalha, com Nabucodonosor, ou dentro dela, com Cristo. Nao ha meio termo. Mas o lugar de calor irresistivel € também o lugar de comunh4o intensa com o Salvador. Aqueles que andam por entre as chamas também gozam a certeza de que estdo fazendo uma marca indelével, a respeito de Deus, sobre as consciéncias dos n&o-convertidos. Nao ha fornalha ardente que consiga destruir 0 povo de Deus. Tais fornalhas, de fato, acabam se tornando o préprio meio que Deus usa para preservar seu remanescente fiel ¢ manter viva a sua verdade, no mundo. A Ocasiao de Nabucodonosor Leia Daniel 4 Dz 4 apresenta Nabucodonosor como o personagem principal e relata uma grande mudanga ocorrida na vida do rei. Por estas duas razGes, temos este titulo: “A ocasiao de Nabucodonosor”. Nabucodonosor Antes dos Eventos do Capitulo 4 Recordemos © que jd lemos sobre o rei Nabucodonosor. No capitulo 1, aprendemos acerca de sua brilhante politica de engajar em seu servico publico os cativos judeus, com a intencao de coloc4-los em posigées de lideranca no seu império. Vimos como quatro dos que foram selecionados para serem reeducados, negaram-se a comer 0s manjares que 0 rei lhes prescrevera, pois estes haviam sido oferecidos aos idolos. O resultado foi que Deus os honrou por terem eles honrado a Deus. Estes quatro demonstraram ser melhores do que todos os seus companheiros estudantes e, ainda, melhores do que seus professores! “Entio o rei falou com eles; e, entre todos, nao foram achados outros como Daniel, Hananias, Misael e Azarias; por isso passaram a assistir diante do rei” (1.19). 54 OUSE SER FIRME Nabucodonosor nunca havia encontrado homens como estes! Quatro rapazes, com apenas dezessete anos, eram mais sdbios do que seus mais experientes conselheiros. Estes mesmos quatro jovens destacaram-se pelo fato de temerem a Jeovd4. Isto deve ter causado profunda impresséo na mente de Nabucodonosor. Mas o convivio com pessoas crentes, por si s6, nao converte ninguém. Isto é verdade, ainda que tais crentes sejam excepcionais, como aqueles quatro rapazes. Os eventos do capitulo 2 esclarecem isto, Nabucodonosor permanecia ainda pagao. Vemo-lo ali sob 0 pior Angulo possivel — atribulado, furioso e sem compaixao. Sua furia para com os sdbios, que nao puderam contar nem interpretar seu sonho, levou-o a ordenar precipitadamente a execucio de seus sdbios em todo 0 reino. Somente um homem sem Deus poderia se comportar assim. Atribuindo a Deus todo 0 mérito, Daniel interpretou o sonho. Descreveu como um reino terreno daria lugar a outro, e como, na época do quarto grande império mundial, seria estabelecido um reino que jamais findaria. O que os conselheiros pagaos nao puderam ver foi revelado ao piedoso Daniel, em resposta 4 ora¢4o undnime do remanescente fiel. Nabu- codonosor foi levado a contemplar a ruina de sua prépria religiéo ¢ a confessar que “Deus é 0 Deus de deuses, e 0 Senhor dos reis, e o revelador de mistérios” (2.47). Este versiculo enfatiza quanto o rei ficou impressionado. Nabucodonosor reconheceu que Deus existe, mostrando nao encontrar-se na total incredulidade. Embora nao tenha chegado a admitir que Ele € 0 tinico Deus, o rei confessa que Jeova é Deus verdadeiro, maior do que todos os deuses. Mas a mente humana esquece tao cedo! Com frequéncia, algo que nos parece imensamente importante logo desaparece de nossas mentes. Por isso, o homem que, no final do capitulo 2, manifestava possuir profunda percepgao de Deus parece nao mais possui-la ao iniciar-se o capitulo 3. Assim, encontramos Nabucodonosor como um monarca que fez uma hedionda estdtua e ordenou que deveria ser adorada. Onde estava sua forte conviccfo de que Deus é 0 A OCASIAO DE NABUCODONOSOR 55 maior de todos os deuses? Agiu em direta contradigaio as verdades que to recentemente confessara. As palavras de sua boca nao alcangaram seu corag4o. A vontade nao se encontrava submissa aquelas verdades. Nao devemos pensar que esta atitude de Nabucodonosor seja incomum. Hé muitas pessoas assim. Eles ouvem a verdade do evangelho. Ela thes causa profunda impressao. A verdade cativa-os € os entusiasma. Ficam inquietos pelo que ouviram. Mas hé algo em seu intimo que nao deseja que estas coisas sejam verdadeiras. Frequentemente, tais pessoas procuram viver como se o que acabaram de admitir nao seja verdadeiro. N&o dao lugar ao evangelho em suas vidas. Imagine um homem que sai de férias e descobre que a casa que alugou localiza-se ao lado de uma fabrica barulhenta, que trabalha vinte e quatro horas por dia! Durante a primeira noite, nao consegue dormir. Jamais ouvira um barulho assim, tao terrivel que parecia sacudir-lhe a cama! Na noite seguinte, o mesmo barulho! Nao é, em nada, diferente. Porém, consegue cochilar por alguns minutos. Dentro de uma semana est4 dormindo quase toda a noite e, antes de terminarem suas férias, dorme serenamente como os que moram na vila hé muitos anos. Aquilo que o deixou tao inquieto nao mais 0 impressiona. E como se nao houvesse qualquer barulho. N&o produz mais efeito sobre ele. Comumente, esta é a experiéncia de muitos homens e mulheres que sao expostos 4 Palavra de Deus. Quando a ouvem ‘pela primeira vez, ficam inquietos, mas eventualmente chegam a indiferenca em relacdo ao que ouvem. Nao estao mais perto de dobrarem os joelhos diante de Deus do que estavam antes. Esta era a condi¢&o de Nabucodonosor no capitulo 3, e Deus realmente teve de sacudi-lo. Sua ftria ndo-convertida motivou-o a langar os trés jovens na fornalha ardente, mas o livramento miraculoso, aliado 4 sua prépria visdo do Filho de Deus, levou-o 4 confissio apresentada nos versiculos 28 e 29. Seu reconhecimento anterior de Jeové, como o maior Deus, se torna ainda mais claro. Admite que nenhum outro Deus pode livrar como o Deus daqueles jovens. Esta quase para dizer que nao hd outro Deus. 56 OUSE SER FIRME Porém, a narrativa néo fornece a menor indicagao de que sua propria vontade foi quebrantada. Nao ha indicios de que chegara a ocasiao de prostrar-se e adorar a Deus. No intimo de seu coracdo, permanecia tao obstinado como antes. Usando a linguagem de nossos antepassados, Nabucodonosor possuia a notitia e 0 assensus, mas nao a fiducia. Em outras palavras, ouviu a verdade e a reconheceu como verdade — aceitou o fato de que ela é a verdade. Mas nado se comprometeu com aquilo que sabia ser a verdade. Nao descansou nela e nao a tornou o fundamento de sua confianga. Nabucodonosor nos faz perceber quao longanimo é Deus. Deus se manifestou a ele indiretamente no capitulo 1, abordou-o diretamente no capitulo 2 ¢ sacudiu-o no capitulo 3. Deus insistiu, insistiu e insistiu de novo. Mas o coracao do rei ainda nao se encontrava aberto para Deus. No capitulo 4, Deus instou mais uma vez. A graca de Deus é soberana, e, nesta ocasiao, Ele agira de tal forma que destruir4 toda a resisténcia ao seu poder. Deus determinou entrar no coragéo de Nabucodonosor, e o fara! Nabucodonosor Apés os Eventos do Capitulo 4 Obviamente, o capftulo 4 foi escrito depois dos eventos ali registrados. Considerando seu inicio e seu final, podemos ver como os fatos ocorridos mudaram profundamente a Nabucodonosor. O capitulo comega com uma proclamacdo, nos versiculos 1 a 3. De um modo tipico dos reis babilénios, Nabucodonosor se apresenta como o rei do mundo conhecido. Porém, o versiculo 2 atrai nossa atenc4o. Ali, o rei declara abertamente que Deus trabalhou em sua vida. A palavra hebraica traduzida por “sinais” refere-se a um evento miraculoso. A palavra “maravilhas” significa um acontecimento com efeitos maravilhosos. Nabucodonosor esté dizendo a seus leitores: “Deus trabalhou em minha vida. Fez algo miraculoso, que teve efeitos maravilhosos”. O versiculo 3 nao é menos impressionante. Proclama a A OCASIAO DE NABUCODONOSOR 37 grandeza dos milagres que Deus faz e exalta os efeitos extra- ordindrios produzidos nas vidas das pessoas. Mas encontramos uma nova e estranha humildade na sentenga seguinte. Detectamos um sentimento de louvor reverente nas suas palavras: “O seu reino é reino sempiterno, e o seu dominio, de geracao em geracao”. Estamos cientes de que o rei conhecia a verdade (notitia). Sabemos que a havia reconhecido como a verdade (assensus). Mas, agora, parece curvar-se ao Deus do céu (fiducia). Nao mais fala sobre Ele comparando-O a outros deuses. Suas palavras nado admitem que haja quaisquer outros. Uma grande mudanga sobreveio a Nabucodonosor, enfatizada ainda mais pelo estudo do final do capitulo. O versiculo 34 contém o seguinte reconhecimento: “Eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao céu, tornou-me a vir 0 entendimento, e eu bendisse o Altissimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo dominio é sempiterno, e cujo reino é de geracdo em geracao”. Entretanto, h4 mais ainda! O versiculo 35 também relata palavras de Nabucodonosor, e contém a mais abrangente afirmativa da soberania de Deus encontrada no Velho Testa- mento: “Todos os moradores da terra sdo por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com 0 exército do céu e os moradores da terra; nao ha quem the possa deter a mo, nem lhe dizer: Que fazes?”. Mas isto nao é tudo. O ultimo versiculo do capitulo contém a confissio de fé de Nabucodonosor: “Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, exalco e glorifico ao Rei do céu, porque todas as suas obras sao verdadeiras, e os seus caminhos, justos, e pode humilhar aos que andam na soberba” (4.37). O capitulo 4 de Daniel termina com um rei adorando. Vemos um homem prostrado perante Deus, reconhecendo-O como verdadeiro ¢ justo. No seu louvor, h4 evidéncia tanto de entusiasmo como de humildade. Sua fé pode ter sido muito fraca, mas era real. Seu conhecimento pode ter sido deficiente, mas era verdadeiro. O fato importante é que o rei tornou-se um homem transformado. Mostrou-se diferente, mudou a direc&o de sua vida, foi convertido! 58 OUSE SER FIRME Gragas a Deus pela conversdo! Aquilo que antes era uma coisa agora é outra. Agora ha vida espiritual no coragdo do rei. Mas quais sio os eventos que transformaram sua vida? O que causou a transformacgéo de Nabucodonosor? Eventos do Capitulo 4; A Converséo de Nabucodonosor Nosso objetivo nao é examinar todos os detalhes da narrativa de Daniel 4. Focalizaremos apenas dois pontos de particular importancia. O primeiro fato importante é 0 que Deus realizou. Foi Deus quem realizou a converséo de Nabucodonosor. Deus a concretizou! Nos versiculos 4 e 5 lemos que, quando tudo ia bem com ele, Deus interveio e lhe deu um sonho terrivel. Mais uma vez, Nabucodonosor chamou aqueles que deveriam ser capazes de interpretar sonhos e, mais uma vez, nado puderam ajudé-lo. Considerando sua experiéncia anterior, por que motivo nao chamou logo a Daniel? A resposta é que Nabucodonosor tinha uma forte idéia a respeito do significado do sonho, mas desejava profundamente que o mesmo nao fosse verdade. Por esta razéo nao chamou a pessoa que, conforme estava convicto, Ihe contaria algo que nao queria ouvir. Na literatura babilénica era comum representar o rei como uma d4rvore. Nabucodonosor sabia muito bem que a arvore, em seu sonho, era ele mesmo, e os animais 4 sua sombra € OS passaros nos seus ramos eram os cidaddos que viviam sob sua autoridade e protegdo. Ao ver a 4rvore ser derrubada, sabia que ele mesmo seria grandemente humilhado. O versiculo 17 deixa claro que ele deve ter entendido que Deus lhe faria o que estava previsto no sonho. Em seu estado de nao-converti- do, esta era uma verdade que nao podia enfrentar, uma verdade que nao queria ouvir. Portanto, manda que venham todos os seus intérpretes pagdos, nutrindo a esperanga de receber uma interpretagio A OCASIAO DE NABUCODONOSOR 59 diferente daquela que sua consciéncia sabia ser verdadeira, a qual Daniel lhe daria, se estivesse presente. Simplesmente nao queria ser informado do fato que Deus iria prostré-lo. Mas, visto que ninguém fornecera qualquer interpretacaio, obrigou- se a chamar Daniel e ouvir do profeta de Deus a verdade que fizera o maximo para evitar. Os versiculos 10 a 16 contam-nos sobre o sonho. Ha uma 4rvore... e cresce... e cresce... e cresce. Parece alcancar o céu e pode ser vista de onde se estiver, néo importando a distancia. Um anjo desce e ordena que a 4rvore seja derrubada. Seus ramos serao cortados, suas folhas derrigadas, seus frutos espalhados. Os animais e pdssaros nado mais gozarao de seu refiigio. A linda arvore serd destruida. Nada serd deixado, além de uma cepa atada com correntes de metal. A cepa nada é, se comparada a arvore original. Ficaré no campo, com os animais que 14 pastam e o orvalho a molharé. O coracao the seré tirado (v.16) e lhe seré dado um coraco de animal. Ficard assim “sete tempos”, que significa sete periodos definidos, emboram nao se saiba se estes sdo meses ou anos. Tudo isto acontecer4 por decreto de anjos. Nos versiculos 19 a 27, Daniel, com sua habilidade de interpretar sonhos, que lhe foi dada por Deus, revela o significado. Danie! deseja prosperidade ao rei. Fica admirado ante o pesado julgamento de Deus, prestes a cair sobre Nabucodonosor. Reluta em anunciar a interpretagdo, mas obedece 4 ordem real para fazé-lo. “Rei Nabucodonosor, tu és a arvore. Cresceste e te fortaleceste, mas serds derrubado. Isto nao acontecera por decreto de anjos, e, sim, por decreto de Deus, a quem os anjos servem” (vv.20-24). Qual o propésito disto tudo? O versiculo 25 nos conta: “Até que conhecas que 0 Altissimo tem dominio sobre 0 reino dos homens e o d4 a quem quer”. “Mas”, continuou Daniel, “nao perderds todo o teu reino. Depois que tudo isto te acontecer, serds restaurado ao trono. Portanto, arrepende-te! Teu arrependimento nado 60 OUSE SER FIRME impedird que o sonho se realize, mas talvez prolongue o perfodo de tua tranquilidade” (vv.26-27). “Todas estas cousas sobrevieram ao rei Nabuco- donosor” (v.28). O sonho, da forma como fora interpretado por Daniel, se cumpriu em todos os seus detalhes. Este cumprimento esta registrado nos versiculos 28 a 33. O momento da humilhag&o do rei foi durante a mais forte manifestagéo do seu orgulho. Ocorreu enquanto contemplava sua capital, andando no terraco de seu palacio. Dizia para si mesmo: “Nao é esta a grande Babilénia que eu edifiquei para a casa real, com o meu grandioso poder e para gloria da minha majestade?” (v.30). Doze meses haviam se passado desde que sua humilhagdo fora profetizada; talvez o rei pensasse que nao mais ocorreria. Mas 0 propdsito de Deus permanece, exatamente como sua Palavra declara, ainda que os calenddrios humanos considerem-no atrasado. A hist6ria e a arqueologia nos revelam que Nabu- codonosor foi um grande construtor. Em todos os seus dominios, havia grandes templos erigidos sob seu patrocinio, bem como dezenas de maravilhosos prédios piblicos em sua capital. Entre as suas realizag6es inclufam-se os famosos jardins suspensos de Babilénia, que por muito tempo foram contados entre as sete maravilhas do mundo. Babilénia era uma cidade linda. As realizagées do rei causavam admiracdo. Seu coracio estava repleto de exaltacgdo propria: “Eu o fiz. Foi necessdrio muito poder para edificar tudo isto, e fui eu quem manipulou este poder. Jamais houve majestade semelhante 4 minha!” Deus humilhou um homem cujo coragao transbordava de orgulho. Uma voz do céu anunciou que havia chegado a destruicdo prometida (vv.31-32). “Seras expulso de entre os homens, e a tua morada ser4 com os animais do campo; e far- te-4o comer ervas como os bois, e passar-se-A0 sete tempos por cima de ti, até que aprendas que o Altissimo tem dominio sobre o reino dos homens e o dé a quem quer.” E aconteceu! “No mesmo instante se cumpriu a palavra sobre Nabucodonosor; e foi expulso de entre os homens, e passou a comer erva como os bois, 0 seu corpo foi molhado do orvalho do céu, até que lhe cresceram os cabelos como as A OCASIAO DE NABUCODONOSOR 61 penas da dguia, e as suas unhas como as das aves” (v.33). O grande rei de Babilénia ficou completamente louco. Deus tirou-lhe o entendimento, dando-Ihe um coragdo de animal. Seu cabelo cresceu até parecerem penas. Suas unhas logo se assemelharam a garras. Vivia como um animal, no campo, alimentando-se de capim e sendo molhado pelo orvalho da manha, como os bois que 0 cercavam. Os escritores pagaéos do mundo antigo nos contam que depois de travar suas grandes batalhas e haver retornado 4 Babilénia, Nabucodonosor desapareceu subitamente, reapare- cendo apenas um pouco antes de sua morte. Contam que, em certo dia, foi visto no terrago de seu palacio, de onde poderia apreciar toda a sua cidade. Esta foi a ultima ocasiao em que foi visto, passando-se, entéo, um considerdvel periodo de tempo, até que apareceu novamente pouco antes de sua morte. Alguns desses escritores dizem que ele foi tomado por alguma forma de divindade, enquanto outros comentam que foi afligido por uma estranha doenga. Deus humilhou este rei orgulhoso com uma doencga conhecida como “licantropia”, onde a pessoa acredita ser um animal, enquanto, ao mesmo tempo, preserva suficiente consciéncia interior, para lembrar-se do que realmente é. Pessoas que sofrem desta terrivel enfermidade, agem como 0 animal que imaginam ser e emitem os ruidos que 0 caracterizam. Uma forma particular desta doenga é chamada de “boantropia”. Muitos casos ja foram registrados. No século dezenove, houve um ntimero surpreendentemente alto de casos desta doenca nas ilhas briténicas. Certas pessoas acreditavam ser bois ou vacas e agiam exatamente como estes animais, nio esquecendo completamente sua verdadeira identidade. Foi a esta situagao que o Senhor trouxe o mais poderoso homem no mundo, usando-a como um castigo por seu orgulho e como um meio de ensinar-lhe uma ligdo espiritual que resultaria em sua conversao. Os palacianos retiraram para fora o soberano enlouquecido e o observavam com espanto, enquanto comia capim e rolava no campo, com unhas e cabelos crescidos. Quem imaginaria que tal coisa pudesse acontecer ao rei de Babilénia? O homem a quem nada parecia impossivel havia 62 OUSE SER FIRME sido entregue ao total desamparo. Ele, que sempre fora honrado com temor servil, era agora objeto de compaixdo. Porém, havia um propdsito bondoso no julgamento divino. J4 vimos que seus resultados espirituais est&o registrados nos versiculos 34 e 35. Ao trazer-lhe de volta o entendimento, Deus também restaurou o reino de Nabucodonosor a sua gloria anterior. Os conselheiros que haviam administrado o império durante sua auséncia, agora dirigiam-se a ele buscando conselho € orientacdo, como o faziam antes. Apés ter sido restaurado, 0 rei proclamou sua confissao de fé (v.37), governou brevemente como um rei temente a Deus e morreu pouco tempo depois, em comunhio com Deus. Deus o fez! Aquele que se mostrara um nado-convertido antes do capitulo 4 mostrou-se bem diferente depois. A mudanga teve uma origem divina. Deus a realizou! O segundo fato a observar é como Deus operou a conversdo de Nabucodonosor; nao foi exaltando-o, mas derru- bando-o. E assim que Deus converte as pessoas! Um dia o rei estava em sua espléndida Babildnia, cheio de orgulho e inflado pelo seu préprio senso de realizagdo. Em sua majestade, olha ao seu redor: os jardins, os templos e os magnificos edificios, Nao precisa de ninguém. Fez-se por si mesmo. Pode ter qualquer coisa que desejar. Tudo que ordenar sera feito imediatamente. Entao, dentro de pouco tempo, encontra-se vivendo como os bois no campo! Sete “tempos” se passam — semanas, meses ou quaisquer que sejam estes periodos de tempo. Pouco a pouco, enquanto est4 revirando 0 chido e comendo grama, vem a en- tender uma coisa. Quase totalmente enlouquecido, procedendo € mugindo como o animal que imagina ser, ainda possui cons- ciéncia interior suficiente para reconhecer verdades que deveria ter assimilado antes. Verdades que ouvira e aceitara voltam 4 sua mente. Nao de imediato, mas com firmeza, adquire a convicgao de que Deus é 0 tinico Deus e 0 Rei do céu. Agora est4 convicto de que isto é verdade. Por fim, chega 4 fiducia e se compromete a verdade a respeito da qual foi persuadido. Nunca mais viverd como se ele, ou qualquer ser humano, fosse A OCASIAO DE NABUCODONOSOR 63 o centro do universo. Jamais cair4 na armadilha de pensar que o mundo gira em torno de sua propria pessoa. Deste momento em diante, vivera como um stdito do verdadeiro Rei. Buscar4 a Deus como um suplicante. Abragaré a Deus como uma criancinha abracaria seu pai. Quando alguém se torna como uma pequena crianga, pode ver o reino do céu (Mt 18.3). Finalmente este grande rei esté no lugar onde todo homem e mulher devem estar. Prostrado ante a face de Deus. Seu coragao foi transformado, seu entendimento restaurado. Nabucodonosor volta 4 sua humanidade plena e 4 gléria anterior. Caminha para a eternidade em comunhao com o Rei do céu. Assim ocorreu sua conversdo. Deus a realizou, néo o levantando, mas derrubando-o! Duas Ligées a Aprender Esta narrativa histérica nos ensina duas ligdes importantes. Primeira, nunca devemos desistir da conversaéo de qualquer pessoa. Poderiamos imaginar que este poderoso rei, que levou cativo 0 povo de Deus e procurou forcar o remanes- cente fiel a unir-se a ele na pratica da idolatria, estaria, depois, ele mesmo, em comunhao com Deus? Foi perante um rei completamente pagao que os exilados se curvaram em 605 A.C. Certamente seria impossivel que este monarca se tornasse parte do povo de Deus! Contudo, para Deus nada é impossivel. E, quando se mostrou furioso e irracional, ordenando a execugdo dos sfbios, quem poderia supor que tal homem, em algum tempo, se tornaria um crente? Parecia ainda menos provavel quando virou as costas 4 verdade que ouvira e ordenou todo o seu povo a adorar aquela horrivel estdtua. Poderia este homem, que ordenou a destruigéo do remanescente de Deus em uma fornalha, fazer parte daquele mesmo remanescente? Isto estava fora de cogitagao. Mas, ao terminar nosso capitulo, vemo-lo como uma criancinha aos pés de Deus. Como stidito e suplicante, esta 64 OUSE SER FIRME adorando, louvando, exaltando e honrando o Rei do céu! Enquanto o Deus de Nabucodonosor continuar sendo Deus, nunca devemos desistir quanto 4 conversao de qualquer pessoa. Muitas vezes somos tentados a questionar se ha qualquer razio para prosseguirmos com o trabalho cristo. As pessoas ao nosso redor parecem intoleravelmente duras ou incrivel- mente apaticas. Quase tudo Ihes parece mais importante do que as coisas de Deus. Nossa mensagem a eles tem sido gentilmente ignorada ou cinicamente resistida. Temos a impressio de que siéo homens e mulheres que nunca serdo quebrantados. Parece impossivel que qualquer deles venha a se converter. Achamos dificil imaginar que alguém esteja mais longe de Deus do que eles. Desistiremos, em desespero total, se esquecermos que Deus é onipotente. Se Ele péde quebrantar um coragdo como 0 de Nabucodonosor, quem Ihe seré demasiadamente dificil? Fez “impossivel” e pode fazé-lo de novo. Sendo colaboradores dEle, é nosso dever continuar trabalhando pela conversio de todos ao nosso redor, confiando que seu infinito poder nunca sera resistido por qualquer pessoa que Ele determinou salvar. Aquilo que nao podemos, Ele pode! Nunca devemos perder a esperanga quanto a conversao de alguém. Ha uma segunda licdo a aprender deste capitulo, a qual enderego a qualquer leitor ndo-convertido. A razio por que até 0 momento vocé nfo se converteu, apesar de todo o seu interesse na Biblia, 6 esta: vocé ainda ndo esta suficientemente humilhado. Vocé tem um elevado conceito a respeito de si mesmo e nao pode ir a Deus, como uma crianga. E muito orgulhoso para, como um stdito, prostrar-se ante o trono divino. Acha-se muito importante para aproximar-se a0 Rei como um mero pedinte. 7 Dirijo-me com franqueza a vocé. E hora de vocé encarar 0 fato de que nao ser salvo enquanto estiver confiando em sua respeitabilidade. Deus nao o salvard se nao houver humilhacdo de sua parte. Aqueles que se achegam a Deus, por meio de Cristo, precisam ir a Ele da mesma forma que o fizeram todos os demais antes deles. O publicano nem mesmo ousou levantar os olhos ao A OCASIAO DE NABUCODONOSOR 65 céu, mas suplicou, de coracao: “6 Deus, sé propicio a mim, pecador!” (Le 18.13). O grande intelectual, Saulo de Tarso, converteu-se enquanto ainda estava agitado e cego na estrada de Damasco, orando: “Senhor, que queres que eu faga?” (At 9.6). O rude carcereiro de Filipos caiu de joelhos e implorou: “Senhores, que devo fazer para que seja salvo?” (At 16.30). A tinica maneira de nos aproximarmos do Altissimo é descendo ao mais baixo de todos os lugares. A conversio de Nabucodonosor nos ensina isto. E o Senhor Jesus Cristo salva pessoas que se encontram naquela posicao, porque nao veio chamar os justos, e, sim, os pecadores ao arrependimento (Mc 2.17). O ato mais misericordioso que Deus pode realizar a favor de um pecador é quebranta-lo. Nesta condig4o, qualquer homem ou mulher sempre estara seguro. A tinica direg&o para a qual pode voltar seus olhos é para o alto, tendo no céu o Unico lugar ao qual pode apelar. Uma Adverténcia Final Aqueles que relutam em prostrar-se aos pés de Deus, devem atentar a esta adverténcia final. Deus poderia tornar louca qualquer pessoa. Quem sabe como Deus reagira a sua constante tejeigdo aos convites e adverténcias dEle? Deus pode quebrantar vocé, sem que haja cura (Pv 29.1). Se Ele decidisse tornar vocé louco e nao restaura-lo, como, ent&o, vocé clamaria por misericérdia? Ele Ihe tem dado a capacidade de raciocinar; porque nado agir de acordo com 0 que vocé reconhece ser a verdade? Amanha Ele poderé dizer: “Basta!”, e deixd-lo sem forca para saber ou aceitar a sua verdade e muito menos ainda para descansar nela. Nao precisamos temer ser quebrantados por Deus. O que Ele quebranta, s6 Ele pode restaurar. Ele nao despreza um coragdo quebrantado e contrito (S] 51.17). Também nao devemos ter receio de ser governados por Ele. Todas as suas obras sao verdadeiras, e seus caminhos, justos (Dn 4.37). Ao findar este capitulo, devemos lembrar a grandeza 66 OUSE SER FIRME divina e admitir a nossa prépria insignificancia. Deus nfo tem boas novas para os que imaginam ser alguma coisa. Porém, Ele nunca vira as costas aos que vém a Ele com as maos vazias, nada tendo a reivindicar. Ele nao escuta as oragdes que procedem de coracées orgulhosos, mas suplicas que procedem de um espirito contrito ecoam alto em seus ouvidos e recebem toda a sua atengao. Cristo, nosso Salvador, j4 viveu de modo perfeito em nosso lugar, por isso Deus nao espera que vivamos de modo perfeito, antes de sermos salvos e termos comunhio com Ele. Nao hd mais penalidade com a qual Ele nos castigara, porque o Filho, que enviou, j4 pagou tudo. Todas as stiplicas repletas de orgulho séo uma contradicéo a estas grandes verdades; somente os clamores dos quebrantados séo compati- veis com elas. Por esta razio, Nabucodonosor teve de ser tao humilhado antes de entrar em comunhao com Deus. Agora, faca da confissio de Nabucodonosor a sua confissio pessoal de fé. “Agora, pois, eu... louvo, exalgo e glorifico ao Rei do céu, porque todas as suas obras sao verda- deiras, e os seus caminhos, justos, e pode humilhar aos que andam na soberba” (v.37). Como Perder-se Leia Daniel 5 abucodonosor foi um homem muito impio. Porém, no final de sua vida, tudo lhe correu bem, pois Deus o humilhou, e o orgulhoso rei se tornou servo de Deus. Mas isto nem sempre acontece com todas as pessoas. Esta é a ligfio de Daniel 5. O caminho em que andam os nao-convertidos € permeado por uma linha invisivel, uma linha vista somente por Deus. Deus é paciente e longanimo para com aqueles que O rejeitam e desprezam. Ele Ihes oferece muitas oportunidades de converterem-se. Convida-os insistentemente a se voltarem para Ele e os persuade. Seu grande desejo é que eles se arrependam e O busquem, ao invés de continuarem a se afastar dEle. Os que persistem em andar no caminho que escolheram um dia cruzam aquela linha invisivel. Cruzam a ténue fronteira entre a paciéncia e a ira de Deus. Finalmente Ele diz: “Basta!”, e desiste deles. Nao hé um caminho especial que conduz ao inferno. E necessério apenas permanecer, por tempo suficiente, em nosso préprio caminho. Homens e mulheres se perdem nao por serem grandes pecadores. O Senhor Jesus tem poder suficiente para salvar o 68 OUSE SER FIRME maior dos pecadores. Pessoas vao ao tormento eterno nao por causa do numero ou da frequéncia de seus pecados. No inferno, hd grandes pecadores e também os que sao chamados de “pequenos” pecadores. Homens e mulheres perecem eternamente porque, durante sua vida, seus coragées resistem a Deus e seguem os seus prdprios caminhos, até que a paciéncia de Deus se esgota. Reprimindo suas consciéncias muitas vezes, chegam ao ponto em que Deus nada mais tem a dizer-lhes. Nunca procuram sua misericérdia, humildemente. Nunca se aproximam do Salvador, mas permanecem obstinados, arrogantes e voluntariosos. Por nao se humilharem e prostrarem, homens e mulheres se perdem. Este capitulo grava de modo eficaz esta lig&o em nossos coracgdes. Faz isto apresentando-nos cinco personagens, e 0 primeiro deles é mencionado nos versiculos 1 a 4. Beisazar “Belsazar” quer dizer “Bel proteja o rei” e é, naturalmente, um nome pagao. No passado, muitos céticos asseveraram que esta hist6ria era ficgao, pois Belsazar nunca existira. Mas os documentos cuneiformes do Oriente Médio os silenciaram, Nao hé mais qualquer diivida a respeito da historicidade de Belsazar. Como sempre acontece, a Biblia estava certa, e os criticos, errados. Daniel 5 chama Belsazar de “rei”, mas ele nfo era 0 unico rei. Naquele tempo, Nabonidus era 0 rei de Babilénia e Belsazar era seu co-regente. Este possuia todos os direitos, prerrogativas e majestade do rei, exceto em um aspecto. Nas inscrigées oficiais do império, Nabonidus era sempre chamado “o rei”, e Belsazar recebia um titulo menor, que designava alguém que substitufa o rei. Quanto aos assuntos didrios do império, ele governava juntamente com Nabonidus; ambos tiveram um relacionamento harmonioso. Se houvesse diferenga de opiniao entre eles, Nabonidus teria a palavra final. Porém, nao sabemos de qualquer ocorréncia neste sentido. Governavam juntos o vasto império de Babilénia. COMO PERDER-SE 69 Como Nabonidus, Belsazar era filho de Nabucodonosor. Mas é possivel que tenha sido filho (ou filho adotivo) de Nabonidus e que a palavra “pai”, neste capitulo, tenha a idéia de “antepassado” ou “avd”. Isto significa que vivenciara, quando menino e mogo, os eventos relatados nos primeiros quatro capitulos de Daniel. Belsazar testemunhou 0 fato de Nabucodonosor ter descoberto que quatro jovens eram extraordindrios e adoradores de Jeova. Provavelmente ele ouviu a interpretagao dada por Deus, através de Daniel, do horroroso sonho de seu pai. Possivelmente participou da admiracao surgida por terem Sadraque, Mesaque e Abede-Nego andado com o Filho de Deus, entre as chamas da fornalha. Deve ter visto seu pai (ou av6) tornar-se como um animal e tinha conhecimento de como Nabucodonosor passara seus ultimos dias na terra gozando de uma fé pessoal no Deus vivo. Belsazar crescera praticamente ao lado de Daniel e seus trés companheiros. Estes tinham apenas catorze anos quando foram exilados; a diferenca de idade entre eles nado deve ter sido muito grande. Talvez tenha ouvido Daniel orar ou pregar. Certamente o viu permanecer firme por amor a Deus. Neste capitulo, nos deparamos com um homem que, desde seus primeiros anos de vida, havia presenciado um testemunho vivo do verdadeiro Deus. Nunca devemos pensar que, em Babilénia, Nabucodonosor foi a tinica pessoa exposta a verdade de Deus; Belsazar teve a mesma experiéncia. Como seu pai, teve a oportunidade de acertar sua vida com Deus. O Salvador havia batido em seu coragao, através dos eventos que testemunhara. Foi um homem que viu Deus tratando de modo pessoal com alguém préximo a ele. Sabia 0 que era a conversao, pois contemplara seu préprio pai tornar-se um servo de Jeova. O verdadeiro Deus fora louvado e adorado no paldcio que agora ele ocupava, como rei. Este homem agora da uma festa para mil de seus digni- tarios! Chegamos ao ponto em que a paciéncia de Deus para com Belsazar esta se esgotando. Ao invés de submeter-se a Deus, continua a resistir-Lhe. Permanece inquebrantavel, e 0 10 OUSE SER FIRME dia do acerto de contas est4 chegando. Sem que Belsazar saiba, mais um passo no caminho da incredulidade o fara ultrapassar aquela linha invisivel. Dara somente mais um passo para longe de Deus, e Deus apresentard a sua conta. Mais um ato de desprezo a pessoa de Deus causard que Este declare: “Basta!” . O dia de sua oportunidade para arrepender-se esté terminando rapidamente. Nao podemos ir até onde desejamos em nosso pecado, e a histéria de Belsazar nos mostrara isto. Mais um pecado, e serd o fim de Belsazar! A ocasido para 0 seu ultimo pecado foi um enorme banquete. Tais eventos eram muito comuns na antiga Babilénia. Um grande dignitério convidara outras personalidades para se reunirem a ele, unicamente com 0 propésito de se embriagarem. Era uma ocasiao para canticos espalhafatosos e lascivos e para um comportamento desenfreado. A noite terminava com os hdspedes sendo ajudados a chegarem em suas casas, para, no dia seguinte, se orgulharem de que haviam “se divertido”. Os efeitos da embriagués sfo bem conhecidos, e a Palavra de Deus frequentemente alerta contra ela. A medida em que Belsazar fica sob 0 efeito da bebida, despoja-se de toda a decéncia e decoro. Convida a multidao de farristas que juntem- se a ele na profanagao dos vasos que seu pai trouxera do templo de Jeové, quando conquistou Jerusalém. Embriagam-se com os vasos que haviam sido consagrados ao louvor do unico Deus. Enquanto fazem isto, cangdes so entoadas em louvor aos idolos babilénios. A cena é de desprezo ao Deus do céu, 0 Deus a respeito de quem Belsazar ouvira desde a meninice, e de rejeigao ao testemunho que havia sido exposto durante toda sua vida. O rei coloca os vasos de ouro nas maos de seus héspedes e lidera a orgia; escarnecem do sagrado e exaltam 0 profano. “Beberam o vinho e deram louvores aos deuses de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra” (v.4). Os Dedos de Mao Humana O segundo personagem desta narrativa sdo os dedos de uma mao humana. Lemos a respeito disto nos versiculos 5 a 9. COMO PERDER-SE 7 Quantas reprodugées imagindrias temos visto desta cena! Em quase todas, os livros retratam a escrita sendo feita por uma m§o inteira. Mas nado foi assim; eram “dedos de mao de homem e escreviam” (v.5), Em nossa mente, podemos imagina- los a rir e a zombar. O clima é de hilaridade e deboche, quando vozes ébrias entoam cAnticos abjetos em louvor a divindades pagas. O pecado é geral e desregrado, procurando mostrar-se como algo agraddvel. A atmosfera é de impiedade sem limites, e nada ha que frustre suas crescentes manifestagées. Entao, sobrevem um siléncio atordoante e estarrecedor! Assim acontece; Deus pode mudar de forma rapida uma situacgéo. Num piscar de olhos, tudo terminou para o monarca arrogante. Deus anotou todos os seus pensamentos, palavras e obras. Agora, encontra-o e apresenta-Ihe a conta! De acordo com o costume babilénio, 0 saléo de ban- quetes devia ter uma pequena plataforma ou palco em uma das extremidades. Esta era muito bem iluminada com lustres e candelabros, pois ali encontrava-se a mesa do anfitrido. Através da arqueologia, sabemos que atras desta plataforma real havia uma parede revestida de branco. Todos os olhos estao agora voltados a ela, pois, no meio da orgia altiva e desregrada, move-se uma silhueta escura. Sao dedos de uma mo humana. Nenhma pessoa, nenhum braco, nenhuma m4o; somente alguns dedos. Quatro palavras confrontam todos os rostos. Estas, diz o aramaico deste capitulo, nao foram escritas, mas inscritas| A parede real parece a lépide de um timulo, e todos viram o epitafio sendo gravado nela7 MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM (v.25). As faces, avermelhadas pelo vinho, se tornaram pélidas, especialmente a do rei. Onde esté agora o desdenhoso e impiedoso rei de Babilénia? Com as faces descoradas e a cons- ciéncia apavorada, o poderoso rei treme de medo, enquanto os joelhos batem um no outro. Em seu pavor, gagueja promessas fantdsticas a qualquer um que possa interpretar a inscrigéo sobrenatural. Mas ninguém pode. Os caracteres nao sao apenas diferentes, também é preciso discernimento espiritual para entender a mensagem gravada pelos dedos sinistros. Esta qualidade nao se encontra onde ha bebedeiras. nd OUSE SER FIRME Acabou-se a festa. Quatro palavras de Deus reduziram- naa panico, medo, terror e confusdo. Quando os impios fazem as piores coisas que podem imaginar, “ri-se aquele que habita nos céus; 0 Senhor zomba deles” (S1 2.4). Devemos temer a Deus, mas nunca os impios. A Rainha O terceiro personagem a aparecer na narrativa é a rainha (vv.10-12), que nao é uma das mulheres de Belsazar, pois estas j4 se encontravam na festa, como os versiculos 2 ¢ 3 nos revelam. Quem, entdo, é esta rainha? Possivelmente, é a esposa de Nabonidus. Ela possui o direito de entrar livremente na sala do banquete real, sem o protocolo exigido de outros. Seu marido é 0 primeiro no reino, e Belsazar, o segundo. Isto explica porque ele prometeu 0 ferceiro lugar no reino a quem pudesse interpretar a escrita na parede. Esta rainha nao esquecera aquilo que Belsazar havia esquecido. Nos versiculos 10 a 12, emprega um vocabuldrio pagao que devia ser-lhe peculiar. Porém, reconhece que Daniel tem uma sabedoria sobrenatural. Era necess4rio apenas chaméa- lo, e a interpretacgdéo das palavras seria conhecida, pois ele possufa o dom de decifrar enigmas e de interpretar sentengas dificeis. Se Deus quisesse, poderia ter usado outra maneira para dar a interpretagdo a Belsazar. Poderia, por exemplo, ter enviado os dedos sinistros uma segunda vez, para escrever 0 significado da primeira mensagem. Mas este nao é o método divino. Deus nao despreza o instrumento humano. Sua mensagem sera apresentada pelo seu servo, Labios humanos trario a mensagem ao rei. Deus envolver4 o remanescente nesta tarefa, nado por ter necessidade de fazer isso, mas porque seu método permanente € utilizar homens e mulheres fiéis como seus cooperadores. Nao prosseguiré sem eles. E assim que Ele mantém viva, neste mundo, a sua verdade. A chegada de Daniel nos traz 0 personagem que ocupa a maior parte deste capitulo (vv. 13-29), COMO PERDER-SE 73 Daniel As perguntas dirigidas a Daniel, no versiculo 13, confirmam que Belsazar ja sabia bastante a respeito dele. Isto sublinha o fato que sua ignorancia quanto aos caminhos de Deus era voluntéria. Belsazar fora exposto s coisas sagradas desde a meninice e, quando se tornou rei, preferiu nao ter Daniel na corte. Nao queria, em seu paldcio, um profeta de Jeovaé. A Ultima pessoa que desejava como seu conselheiro e confidente era o mensageiro escolhido de Deus. Quo diferentes seriam os acontecimentos, se tivesse Daniel no paldcio, desde o inicio de seu reinado! De qualquer modo, Daniel encontrava-se agora diante dele. Nos versiculos 14 a 16, vemos Belsazar explicando a situagdo ao profeta e prometendo recompensé-lo, se inter- pretasse o que estava escrito na parede. Nao precisamos de muita imaginagdo para visualizar a cena, enquanto Daniel ponderava sua resposta. Mil dos grandes de Belsazar estio quietos, aterrorizados. Aqueles que h4 pouco zombayvam do Deus vivo esto calados, pélidos e perplexos, aguardando com grande expectativa a resposta do homem de Deus. Em suas palavras iniciais, Daniel informa sua rejeigao aos presentes do rei (v.17). Diferentemente dos astrdlogos e sdbios ao seu redor, ele nao dava interpretagdes visando o ganho pessoal. Nao procurava recompensas ou favores. Nao fazia isto por dinheiro. Estas palavras devem ter causado impress&o naquelas pessoas, tal como ainda o fazem, quando os servos de Deus mostram nio estar interessados nas honras do mundo. E claro que, apesar das consequéncias, Daniel proclamaria a verdade. N&o aceitaria suborno para dizer 0 que a assembléia desejava ouvir, Tampouco se deixaria aliciar, a fim de evitar 0 que seria ofensivo aquele povo. A interpretagdo seria verdadeira. Daniel prosseguiu, falando sobre o pai de Belsazar: “6 rei! Deus, 0 Altissimo, deu a Nabucodonosor, teu pai, 0 reino e grandeza, gloria e majestade” (v.18). Belsazar era somente um co-regente. O império j4 nao era mais como antes. Em sua histéria, nunca houvera outro 74 OUSE SER FIRME maior que Nabucodonosor; entretanto, este devia ao Deus altissimo tudo o que possuia. Deus é maior que Nabucodonosor! Nabucodonosor era responsdvel perante Deus pelo exercicio de seu poder. E veja o que Deus fez a ele! Daniel recorda a Belsazar como Deus humilhou seu pai: “Até que conheceu que Deus, o Altissimo, tem dominio sobre o reino dos homens e a quem quer constitui sobre ele” (v.21). E como se Daniel estivesse dizendo: “Tu, Belsazar, agiste como se fosses a maior pessoa que j4 existiu. Porém, teu pai foi maior do que tu e Deus é maior do que ele! Foi Deus quem Ihe deu tudo o que ele possuia. H4 um Deus altissimo, e, embora sejas, na terra, 0 homem a quem todos prestam contas, tu mesmo é responsdvel perante Deus. Ele te deu tudo o que tens e, da mesma forma, pode tomé-lo. Isto se aplica até mesmo ao teu entendimento”. “Sabias disto, Belsazar. Sabias como Deus humilhou a teu pai, até que este se tornou um suplicante, mas nao seguiste o seu exemplo. Agiste como um homem independente e sem responsabilidades. Foste ainda mais longe. Desafiaste ao Deus do céu. Vé a quem adoraste: ‘Aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que nao véem, nao ouvem, nem sabem’”. “Vé, Belsazar, a quem desprezaste. ‘Deus, em cuja mao estd a tua vida e todos os teus caminhos, a ele nao glori- ficaste’ (v.23). Por isso, os dedos vieram e inscreveram na parede. Era uma mensagem enviada por Deus!” Belsazar foi condenado por seu orgulho. O orgulho, na Biblia, é a auséncia de humilhacdo. Uma pessoa orgulhosa é aquela que nao se humilha perante Deus. Diante de seus colegas, pode nao parecer orgulhosa. Pode mostrar-se humilde entre seus vizinhos, e sua familia pode nao perceber seu orgulho. Porém, um coracao que nao louva e adora a Deus, é um coracao orgulhoso. Este orgulho caracteriza todos os homens e mulheres que seguem o caminho que conduz ao inferno. Belsazar foi um grande pecador, mas este nao é o assunto em questéo. Sua culpa estava no fato de nada querer com o Deus vivo e verda- deiro. Nao O buscou, como uma crianga, nem permitiu que Ele governasse sua vida. Permaneceu nesta situagdo até que COMO PERDER-SE 75 chegou a zombar do Altissimo. Neste ponto, cruzou a linha invisivel. Dizemos outra vez: ninguém precisa escolher um caminho especial para ir ao inferno; necessita somente permanecer, por tempo suficiente, no caminho em que se encontra. O versiculo 25 preserva para nds 0 contetido da escrita na parede. Consistia de trés termos diferentes, um dos quais foi escrito duas vezes. MENE, MENE quer dizer “contado, contado”. Apdés estes, TEQUEL, que significa “pesado”, seguido da palavra PARSIM. “PARSIM” € 0 plural de PERES com a palavra “e” a sua frente. Por isso, a nés, que nao conhecemos aramaico, parece que a interpretagdo difere das palavras escritas. Ao repassar cada palavra, Daniel pronunciou-as em sua forma singular e nado na forma em que foram inscritas na parede. A escritura na parede dizia, entéo: “Contado, contado, pesado e dividido”. Isto era tudo que Deus tinha para comunicar ao arrogante Belsazar, mas a amplitude total do significado seria explicada pelo integro Daniel. “MENE significa ‘contado’, porque os teus dias estado contados, rei Belsazar! Deus decidiu trazer ao fim o teu reino impio. Teu periodo de governo terminou. Durante todos estes anos, Deus tem pesado o teu dominio; agora, é tempo de find4- lo. Ele esta dizendo: ‘Basta!’; o teu reino acabou. Deus o acabou!” (v.26). “TEQUEL significa ‘pesado’. Belsazar, Deus tem pesado cada ato de tua vida. Ele tomou nota das oportunidades em que, na tua meninice, rejeitaste vir a Ele. Anotou todos os convites que desprezaste, convites que tinham o propésito de tornar-te um stidito dEle. Os dedos enviados por Deus, escreveram na parede o teu epitdfio. Sem dtivida, enquanto o faziam, tua vida passada flamejava em tua mente. Teus peca- dos ocultos e conhecidos, tuas horas desperdicadas, tua crueldade, teu orgulho, tuas desordens e bebedeiras, tua rejeigao as coisas santas e tua resisténcia ao que é espiritual — Deus pesou tudo. Colocou tudo em sua balanga. Ponderou tua vida do principio ao fim; ela nao alcangou, nao satisfez o padrao exigido por Deus” (v.27). 6 OUSE SER FIRME Quando as pessoas escarnecem do Altissimo, Ele nao o ignora. Uma vez que Deus nao age imediatamente, os impios concluem que nao o far4 de modo algum. Porém, Ele pesa em sua balanca toda zombaria e afronta. Nada é esquecido. Ele registra todos os convites para vir a Cristo que foram rejeitados. Anota cada desprezo 4 sua ordem de arrependimento. Todos que nao valorizam 4 fé evangélica, que zombam das coisas santas e, especialmente, aqueles que rejeitam a ternura de seu Criador tém suas ag6es gravadas no céu. Deus registra tudo. “A vida cristé nio é para mim”, dizem alguns, “O custo é muito grande”, afirmam outros, “Nao quero ser diferente. Todos pensardo que sou uma pessoa esquisita. Os crentes sao fandticos; por que deveria eu ser um extremista?” O Deus sempre-presente ouve e lembra estes e todos os demais comentdrios. Por fim, Ele nfo os aceitard mais, e a escrita aparecerd na parede. Os dias de frivolidades terminarao. Chegard o dia da condenagao. “PERES quer dizer ‘dividido’. Teu reino seré dividido e destruido. Isto acontecera pelo poder dos medos e persas. ‘O reino sera tomado de ti, Belsazar, e seré dado a outro’” (v.28). E nao foi somente aquele reino que Belsazar perdeu. Ele perdeu também o reino de Deus. Nosso Senhor Jesus Cristo fez uma acusagao semelhante aos judeus. Disse-lhes que haviam rejeitado os profetas, apedrejando-os e matando-os. Finalmente, rejeitaram o filho de Deus. A resposta de Deus foi tomar a vinha de suas mos e da-la a outros (Mt 21.33-43). Paulo repetiu esta mesma verdade. Quando os judeus rejeitaram a mensagem do evangelho, advertiu-os de que Deus tomaria seus privilégios e os daria aos gentios (At 13.44-50). Algo semelhante acontece aqueles que constante e obstinada- mente rejeitam o evangelho. Deus anuncia-lhes 0 que aconteceu a Esati: “Pois, sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a béngao foi rejeitado, pois ndo achou lugar de arrependimento, embora, com l4grimas, 0 tivesse buscado” (Hb 12.17). A linha invisivel foi ultrapassada, nao ha mais retorno. Tudo est4 acabado para quem a ultrapassou. Nao hd mais opor- tunidade para alcangar misericérdia. Tudo que agora o espera COMO PERDER-SE 71 é “certa expectacio horrivel de juizo e fogo vingador” (Hb 10.27). Ha um tempo, nao sabemos quando, Um lugar, nao sabemos onde, Que marca o destino do homem Em gloria ou desespero. Ha uma linha, para nés invisivel, Que atravessa cada caminho, A fronteira oculta entre A paciéncia e a ira de Deus. Oh, qual é aquela misteriosa linha Que atravessa o caminho do homem, Além da qual, Deus mesmo jurou, A alma que for, estard perdida? Quanto tempo poderei continuar em pecado? Quanto tempo Deus me poupara? Onde termina a esperanca e Comegam os limites do desespero? A resposta dos céus esté enviada: “Vos que de Deus vos afastais, Enquanto o dia é hoje, arrependei-vos E néo enduregais 0 coragao”. Dario Embora Daniel tenha recusado recompensas terrenas, estas Ihe foram concedidas, porque Belsazar reconhecera ter ouvido a verdade (v.29). Mas tudo isto é efémero; e este capitulo solene termina, introduzindo-nos um quinto personagem — Dario (vv.30-31). Durante aquela noite em que Daniel profetizou, os exércitos de Nabonidus lutaram contra os medos e persas que mi) OUSE SER FIRME ameacavam as fronteiras de Babilénia. Mas Ciro, o persa, agiu rapidamente. Desviou 0 curso do rio Eufrates e o transpés. Pela manhi, os exércitos dos medos e persas haviam invadido e conquistado a Babilénia. Belsazar era um cadaver no palécio e ouvia a condenacao do Criador que ele tao afrontosamente havia desprezado e de quem zombara na noite anterior. A profecia de Daniel se cumprira, e Deus demonstrara, mais uma vez, que € o verdadeiro Governador da histéria deste mundo. A cabega de ouro deu lugar ao peito e bragos de prata. Dario, com sessenta e dois anos, ascendeu ao trono. Nao sabemos quando Deus dird a alguém: “Mais um pecado, e ser 0 tiltimo. Entao a escrita na parede se aplicaré a ti. Eu te chamarei 4 eternidade, enquanto todos no céu se juntarao a Mim, dizendo: ‘Louco, esta noite te pedirao a tua alma!’” (Le 12.20). “Buscai 0 SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto est4 perto. Deixe o perverso 0 seu caminho, 0 iniquo, Os seus pensamentos; converta-se a0 SENHOR, que se compade- cer4 dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar” (Is 55.6-7). Na Cova dos Ledes Leia Daniel 6 Ihegamos agora ao ultimo capitulo histérico do livro de Daniel, pois os seguintes sao de visdes proféticas. Este é um dos mais conhecidos capitulos de toda a Biblia e, realmente, nao necessita de introdugao. Registra um incidente que ocorreu quando Daniel era idoso. No capitulo 1, era um jovem de apenas quatorze anos; porém, neste capitulo, podemos ver como permaneceu fiel a Deus mesmo em seus dias avangados. Um Plano para Aniquilar Daniel O capitulo se divide naturalmente em trés segdes. A primeira abrange os versiculos 1 a 9 e registra um plano para aniquilar Daniel. A narrativa comega com uma mudanga de dinastia, O império babilénio agora é algo do passado, Fora conquistado pelo poder conjunto dos medos e persas; 0 segundo grande império do sonho de Nabucodonosor torna-se realidade. O primeiro soberano da nova dinastia é um medo quase desco- nhecido, chamado Dario, que sobe ao trono com sessenta e dois anos de idade. Sabemos que nao reinou por muito tempo, 80 OUSE SER FIRME pois ao juntar os dados histéricos, descobrimos que Ciro, 0 persa, assume 0 trono, pouco tempo depois. Coube a Dario a dificil tarefa de governar o império babilénio e dar-lhe nova diregao e identidade, sob a autoridade dos medos e persas. As dificuldades administrativas diante dele devem ter sido imensas, e os versiculos iniciais do capitulo revelam como as enfrentou. Colocou os negécios do império nas mos de cento e vinte sdtrapas. Presumivelmente, cada um assumiu a responsabilidade por uma area em particular. Estes prestavam contas a trés presidentes, “para que 0 rei nado sofresse dano” (v.2). Os presidentes, por sua vez, respondiam ao proprio rei. Deste modo, Dario mantinha seu poder absoluto, e 0 governo nao ficava distante do povo. Daniel era um dos trés presidentes, e somos informados que era tao notavel que o rei pensava em colocd-lo sobre todo 0 reino (v.3). Contemplava-se uma mudanga na hierarquia, de modo que um dos presidentes seria superior aos demais e se tornaria 0 representante do rei. O que levou Daniel a alcancar imediatamente uma posigéo de tao grande importancia no novo império? Como poderia alguém que era tao proeminente na dinastia conquis- tada alcangar logo tao alta posic¢éo no governo dos que a conquistaram? Com frequéncia, esta pergunta tem sido considerada como dificil de responder, mas a resposta, de fato, é simples. O império babilénio caiu assim como qualquer outro grande império. Estava degenerado. Estava repleto de amor pela luxiria, e faltava-lhes o desejo pelo trabalho arduo. Havia o abandono generalizado de principios morais e um irrestrito aumento na imoralidade e desonestidade. A situacdo moral era irremedidvel. Os oficiais de Babilénia haviam se tornado, em geral, homens que tinham como seu maior interesse 0 encher os préprios bolsos e acumular riquezas. A mentalidade “enriquega-se rapidamente” governava-os de tal modo que abandonaram todos os escripulos e se entregaram 4 busca de enriquecimento e de prosperidade. Uma mudanga de governo nao produz, por si sé, uma mudanga na situacdo moral. Dario nao tinha qualquer garantia NA COVA DOS LEGES 81 de que os satrapas que havia nomeado seriam em qualquer aspecto diferentes dos oficiais babilénios. Talvez se submeteriam as mesmas tdticas, tornando-se mais preocupados com seus préprios interesses do que com a correta administragao do império. Portanto, era mister que no pusessem as maos em recursos ptiblicos com facilidade. Para evitar isto, Dario necessitava de um homem de impecavel honestidade, a quem pudesse entregar o tesouro piiblico. Se nao encontrasse este homem, provavelmente toda sua administracgo estaria arruinada. Reconhecia que Daniel era aquele homem. A sua espiritualidade garantia que nao seria subornado ou comprado (v.3). Diz-se hoje que todo homem tem seu prego; mas nao era assim com Daniel. O temor de Deus reinava em seu coragado e poder-se-ia confiar que ele seria inquestionavelmente leal ao rei. Sua honestidade era indiscutivel. Daniel possuia exceléncia moral, um espirito de integridade e pureza. Os oficiais de conduta deturpada precisavam encarar o fato de haver uma barreira insuperdvel entre eles e 0 abuso do dinheiro publico. Daniel era essa barreira. Talvez alguns de vocés vivam no mundo dos negécios. Sabem que homens poderosos, que desejam riquezas faceis, podem ser totalmente inescrupulosos em alcanga-las. Nada os detém. N&o se preocupam quando a realizagao de suas ambigdes significa a destruicao de concorrentes menores e honestos. Nao ha medida para a sua vileza, a fim de conseguirem vultuosos lucros. Nao ha fim para a sua desumanidade e insensibilidade na busca de seus prdéprios interesses. De igual modo, os cento e vinte sdtrapas e os outros dois presidentes resolveram acabar com Daniel (v.4). Sabiam. que jamais poderiam acus4-lo quanto ao desempenho de seus deveres ptiblicos. Nao haveria oportunidade. Daniel era tudo o que deveria ser. Seu testemunho no trabalho era irrepreensivel (um exemplo a ser seguido por todo o povo de Deus). Portanto, tinham de idealizar um plano diferente. Um plano que deveria resolver 0 caso, uma vez por todas, e tira-lo do caminho. Logo Daniel estaria fora de cena. O raciocinio deles era mais ou menos o seguinte: a 82 OUSE SER FIRME fidelidade de Daniel a Dario ocorre porque, em primeiro lugar, Daniel é fiel a seu Deus. Sua espiritualidade garante sua integridade. Uma é a causa da outra... Se pudermos coloca-lo em uma situacao onde ele tenha de escolher entre seu Deus € 0 rei, sem duivida escolher4 a favor de seu Deus. Assim, caira em desgraga perante o rei, e sera morto. Com esta légica em suas mentes, dirigiram todos os esforcos na elaboracao de um plano para apanhar Daniel. Uma pessoa que permanece firme, motivado por honestidade e justiga, causa impress4o. Inevitavelmente, essa pessoa incomoda os outros, que chegam a odid-la por isto. Os impios procuram colocar os crentes em situagaéo onde tenham de escolher entre ser fiéis a Deus e perder tudo ou ficar com tudo e perder seu brilhante testemunho. Os meios usados pelos inimigos de Daniel foram bajulagao e mentiras. Estes foram os mesmos instrumentos utilizados pelo diabo no jardim do Eden; e ainda hoje ele os utiliza. Satands disse a Eva que, ao desobedecerem a Deus, ela e seu marido se tornariam deuses — bajulagao! Assegurou-lhe que, se comesse 0 fruto proibido, no morreria — mentira! Sua tatica continua a mesma, pois, em geral, é bem-sucedida. As propostas que os invejosos fizeram ao rei com certeza devem té-lo bajulado. Foi-Ihe sugerido que, por um periodo de trinta dias, seria visto como o representante terreno de qualquer deus que existisse. Foi-lhe também sugerido que nenhuma suplica deveria ser dirigida a qualquer deus, exceto através de sua mediacéo. Nenhuma religido seria banida ou declarada ilegal. As oragdes aos varios deuses prosseguiriam como antes, porém todas as oragées e pedidos seriam apresen- tados através de Dario e “que todo homem que... fizer petigdo a qualquer deus ou a qualquer homem e ndo a ti, 6 rei, seja langado na cova dos ledes” (v.7). Sem diivida, os sétrapas e presidentes deram a Dario muitas boas razGes para justificar a aprovag4o destas medidas: seria um elemento unificador no novo império; criaria respeito para com a nova monarquia; estabeleceria a autoridade do rei em todos os afazeres de seus stditos, etc. Outros tipos de argumentos poderiam ter sido sugeridos a um rei vaidoso, como NA COVA DOS LEGES 83 razao suficiente para que o decreto fosse promulgado. Se o rei fosse um homem sébio, teria desconfiado ime- diatamente de que havia algo errado. Mas a bajulacdo produz um efeito surpreendente. Exalta o orgulho da pessoa e a torna cega quanto aos verdadeiros aspectos do assunto. Dario ouviu os seus mais altos oficiais sugerindo que ele deveria, de fato, ser considerado um deus. Esta sugestdo fora extraida daquela que caracterizou muitos impérios antigos — a deificagdo dos teis. A bajulagao levou-o a nao perceber um detalhe importan- tissimo. Por isso, as Escrituras, em particular o livro de Provérbios, falam tao diretamente contra a lfngua bajuladora! Que detalhe o rei deixou de perceber? Deveria ter notado que as palavras de seus oficiais eram uma grande mentira. Diziam que “todos os presidentes do reino... concordaram em que o rei estabelega um decreto”. Se isto era verdade, por que Daniel, o mais excelente de seus presidentes, nao se encontrava presente quando fizeram a sugestao? Se todos estavam de acordo com as propostas, por que nao foram apresentadas pelo principal deles? Estes pensamentos deveriam ter passado pela mente de Dario, mas, aparentemente, nado passaram. Logo depois, assinou o decreto, e, conforme o costume medo-persa, tornou- se lei permanente. Uma vez assinadas, as leis reais nao poderiam ser mudadas. Se tentasse mudé-las, Dario causaria uma revolta maciga em seu império; ele ndo estava preparado para este tipo de acontecimento, tao cedo em seu reinado. Ja vimos como a ordem de Nabucodonosor, para que todos se curvassem a sua imagem, trouxe consequéncias apenas para o remanescente fiel. Agora nos deparamos com uma situacao semelhante. Todo o império medo-persa era constituido de iddlatras politefstas. Nada havia neste novo decreto que inquietasse qualquer deles. Sua religiao continuaria sem alteragdes. Porém, nao seria assim com Daniel. A lei de Deus 0 proibia de curvar seus joelhos diante de um homem e reconhecer nele o mediador divinamente indicado. Nao poderia agradar a seu Deus e obedecer 0 edito do rei. O dilema era complicado. Se Daniel orasse a Jeova, como sempre fizera, certamente incorreria na firia do decreto real. Se nao continuasse sua pratica costumeira de devocao a 84 OUSE SER FIRME Deus, certamente perderia sua espiritualidade e, conse- quentemente, sua integridade. Precisava escolher entre continuar sendo um homem de Deus que desagradaria ao rei ¢ morreria ou um homem impio que viveria. De qualquer modo, tudo indicava que os impios triunfariam. Pois haveria apenas uma destas duas alternativas: ou nao existiria mais qualquer Daniel ou existiria um Daniel que teria sacrificado seus principios e renunciado a seu cardter integro. Parecia que os que planejaram a trama nao poderiam perder. Daniel na Cova dos Leées A segunda parte do capitulo inclui os versiculos 10 a 17, e jaa partir deste texto o intitulamos de “Daniel na cova dos ledes”. Quando Daniel soube que o edito irrevogdvel havia sido assinado, 0 que fez ele? Nao fez o que a maioria de nds faria. Ficariamos apavorados ou reagiriamos dramaticamente de algum modo diferente ao de Daniel. Se um decreto semelhante fosse promulgado hoje, a maioria de nds correria as casas uns dos outros ou procurarfamos o aeroporto mais préximo, na espe- ranga de emigrar. Nossos coragdes se encheriam com o pior tipo de preocupa¢4o imaginavel. O que fez Daniel? Continuou realizando normalmente suas atividades, “como costumava fazer” (v.10). Permaneceu firme, calmo e inalterado. As circunstancias certamente haviam mudado, mas nao alteraram o homem de Deus. Daniel tinha 0 habito de orar trés vezes ao dia. Fazia isto em frente as janelas de sua residéncia, abertas em direcio a Jerusalém. Estava no exilio h4 muito tempo, mas nfo esquecera a cidade e o pais de onde fora tomado. Nem havia esquecido a promessa divina de restaurar a Israel e reconstruir Jerusalém. Como Daniel podia ser tao piblico em suas oragdes? Nosso Senhor nao nos manda entrar em nossos quartos, fechar a porta e orar secretamente ao nosso Pai celestial? (Mt 6.6). Precisamos lembrar que Daniel era um importante NA COVA DOS LEGES 85 servidor ptblico, em um império oriental. Os servos estariam cumprindo seus deveres no interior da casa; é provavel que Daniel nao tivesse muita privacidade. Era impossivel manter em segredo as suas devogées. E agora havia espides por toda parte, deliberadamente atentos em descobrir se ele continuava em suas devog6es particulares, durante o periodo do decreto. Suas devogdes nunca foram pomposas, mas também nunca foram um segredo. Desempenhar suas atividades normalmente significava que sua vida devocional nado poderia se tornar um segredo agora. Trés vezes ao dia, o homem de Deus se punha de joelhos € orava, como sempre fizera. A ameaga de morte nao significava que deixaria de fazer 0 que era correto. O correto permanecia correto. As circunsténcias podem alterar-se, mas os absolutos de Deus, nao. Como enfatizamos antes, nossa responsabili- dade é fazer o que é correto, ainda que os céus caiam. As consequéncias estéo nas maos de Deus. Mas como é que um homem idoso podia continuar tao firme e mostrar tanta coragem e f€? Estas qualidades nao surgem de repente na vida de alguém. Por ter desenvolvido, durante toda a vida, o habito de responder “Nao!” ao mal, Daniel pode fazé-lo novamente em tempos tao desesperadores. Se quisermos a explicagdo do versiculo 10, devemos ler novamente o versiculo 8 do capitulo 1. Ali, um rapaz de quatorze anos “resolveu... firmemente nao se contaminar”. Em sua juventude, Daniel recusara praticar um mal relativa- mente pequeno. Para quaisquer males que tenha enfrentado NOS anos seguintes, sua resposta foi uma consistente recusa. Desenvolvera uma inflexivel disciplina de responder “Nao!” ao que era errado. Cada vez que dizemos “Nao!” ao pecado, estamos mais aptos a fazé-lo novamente. Cada vez que nos rendemos a ele, nossa capacidade para resistir-Ihe enfraquece. Sugiro que a verdadeira cova dos ledes era 0 quarto de Daniel. Sabia que se desobedecesse a ordem do rei, seria estracalhado por animais selvagens e perderia sua vida, mas nao o seu testemunho. Como notamos antes, o diabo prefere 86 OUSE SER FIRME que preservemos nossas vidas e percamos nosso testemunho. Portanto, é certo que, ao ajoelhar-se para orar, Daniel era tentado pelo diabo. Podemos facilmente imaginar 0 que passou em sua mente: “Por que nao facilitar as coisas? Veja a sua posicdo e os privilégios que goza. Pense na influéncia que continuard exercendo, se mantiver 0 seu status, Assegure 0 seu futuro; néo ore a Deus durante os préximos trinta dias. Por que sacrificar seu futuro, de longo prazo, no altar de uma alegria, de curto prazo, na oragao? Ore secretamente em seu corac4o, se quiser; mas por que fazé-lo como sempre o fez? Certamente vocé serd notado e perderd tudo. E s6 uma questao de principios? Vale realmente a pena? Pelo menos, vocé poderia orar onde nem os espides, nem os servos, pudessem vé-lo, Por que criar um problema, ao ser visto orando? Afinal, apés somente trinta dias, o perigo tera passado, e vocé mantera suas devocdes exatamente como antes”. Esta tentagdo pode ter vindo a Daniel pela manha, ao meio-dia e 4 noite. Deve ter escutado mil razdes plausiveis a fim de parar com o que estava fazendo. Quem pode dizer quio repetidas e cansativas foram estas tentagdes didrias? H4 muitos crentes fortes que nao podem ser derrubados por tentagdes drdsticas e stibitas, mas cuja resisténcia pode ser arruinada. Prejudicar os santos do Altfssimo (Dn 7.25) é uma das taticas do maligno. Ele bem sabe que a 4gua, pingando constantemente, desgasta a pedra dura. Assim, muitas de suas tentagdes nfo s4o violentas, mas sutis e suaves. Apresenta as mesmas sugest6es uma, duas, trés ou mais vezes, até que estas nos impressionem. Semeia a idéia de que um determinado pecado talvez nado seja prejudicial, podendo até mesmo ser Util. E, mau como é, pode preferir manifestar-se como um anjo de luz. Com frequéncia, a resisténcia de um crente des- morona diante destas abordagens, arruinando o seu testemunho. Esta bem experimentada tatica foi totalmente infrutifera com Daniel. A pressao exercida por esta tentacao didria foi sua verdadeira prova, sua cova dos ledes. Mas, em cada ocasiao, ele dizia “Nao!”, punha-se de joelhos “e orava, e dava gragas, diante do seu Deus, como costumava fazer” (v.10). Os espides viram uma inquebrantdvel firmeza em NA COVA DOS LEGES 87 Daniel. Nada o havia mudado, era o mesmo; estava t&o firme como sempre. Certamente devemos concordar que sua inflexivel recusa em ser intimidado por ameagas ou entregar-se as habi- lidosas sugest6es do diabo eram um milagre maior do que seu posterior livramento da boca dos ledes. Quando se tornou evidente que Daniel nao obedecia ao decreto do rei, os que tramavam contra ele apressaram os acontecimentos que levariam a sua execucdo. O primeiro passo deles foi denuncid-lo ao rei (v.12). Ao fazerem isto, nada men- cionaram de sua conhecida integridade. Nem uma palavra foi dita elogiando sua honestidade ou sobre quéo bem havia cumprido suas responsabilidades em sua atual funcéo. Ao contrario, os conspiradores lembraram ao rei que Daniel nada mais é do que um exilado cativo, insinuando uma deslealdade e infidelidade politica. Este preconceito e falta de justiga 6 caracteristica do modo como as pessoas mas agem. Daniel profetizara a Nabucodonosor que o reino posterior ao seu seria mais fraco (Dn 2.39). Os eventos que seguem mostram quao verdadeira era esta profecia. Nabucodonosor havia sido um monarca absoluto, mas agora vemos 0 rei Dario preso na teia de suas préprias leis, sendo manipulado por seus cortes4os e conselheiros. O rei do império se tornou um tolo! Assinou algo a respeito do qual nio pensara seriamente. Estava agora experimentando o remorso, mas nada podia fazer. Seu dilema era terrivel. Sua prépria lei condenara Daniel, porém, em seu coracao, deseja salv4-lo. Em sua propria es- tupidez, assinara um decreto que condenou o homem de Deus. No entanto, agora seu desejo pessoal mais profundo é salva- lo. Durante todo o dia, tenta encontrar na lei uma brecha pela qual a vida de Daniel pudesse ser poupada, mas é rudemente lembrado pelos conspiradores que ndo pode voltar atras em seu decreto. Os impios estavam dando as cartas e triunfando. Muitos dos que tém escrito sobre o livro de Daniel, pedem-nos que facamos uma pausa neste ponto, a fim de considerar “uma outra Lei e um outro Amor” (Gaebelein). Havia uma lei justa que nos condenava. Mas Aquele que a estabeleceu ansiava salvar-nos com um cora¢do repleto de amor. 88 OUSE SER FIRME A sabedoria divina resolveu o dilema enviando o Senhor Jesus Cristo ao mundo. As exigéncias da lei divina foram satisfeitas por Ele, em nosso lugar — tanto a exigéncia de cumpri-la como a de suportar 0 castigo por nds, visto que a transgredimos. Deus resolveu o dilema através da vida, morte e ressurreigaéo de seu Filho. Mas nao havia solucdo para o problema do rei Dario. Nesta situacdo, ele nada mais é do que um rei fraco e incapaz, que publicara um impensado decreto, estando a lamentar sua propria estupidez. Manifesta profunda tristeza, ao enviar Daniel 4 cova dos ledes, expressando sua esperanga de que Deus intervenha para livra-lo. Seu coracéo sente repugnancia pela lei que fizera. Porém, ainda ser4 testemunha de grande ironia. Um selo € posto na entrada da cova dos ledes, para demonstrar a todos que Daniel fora posto ali pela autoridade do rei e qualquer tentativa de solt4-lo seria um ato de traigao e rebeldia a palavra do rei. Sem divida, os conspiradores se regozijavam ao voltarem as suas casas; mas nio o rei. Diante dele estava uma noite de insénia. Nao desejou qualquer alimento e sabia nao haver misica capaz de fazé-lo esquecer a insensatez de suas agées. Todos os seus pensamentos eram a respeito de seu querido e fiel amigo Daniel, trancado na cova dos leGes. Daniel achava-se em grande perigo fisico; contudo, devemos lembrar, nado estava em qualquer perigo espiritual. Havia enfrentado as tentagdes do maligno tendo escapado inteiramente de suas garras. Satands nao tivera qualquer influéncia sobre Daniel. Nao obteve qualquer vitoria e em nenhum aspecto conseguiu ter Daniel sob seu poder. “Resisti ao diabo, e ele fugird de vés”, afirmam as Escrituras (Tg 4.7); Daniel provara a verdade destas palavras, antes mesmo que fossem escritas. Sua integridade e espiritualidade perma- neceram inalteradas e intactas. Todos nés precisamos imitar seu exemplo. O unico modo de escapar ao diabo é enfrent4-lo com determinacéo. Nao ha outro jeito de evitarmos suas garras e permanecermos livres de seu poder: “Resisti-lhe firmes na fé” (1 Pe 5.9). Ao dizer “Nao!” & tentacdo, Daniel forgou 0 diabo NA COVA DOS LEOES 89 a deixd-lo. E verdade que estava na cova dos ledes, mas ali nao precisava tolerar a companhia de Satanés. Como veremos a seguir, sua companhia era muito melhor! O Livramento de Daniel e 0 Resultado Final O restante deste capitulo, a partir do versiculo 18, nos conta a grande histéria do livramento de Daniel e 0 resultado final. Apés uma noite sem dormir, Dario volta 4 cova dos ledes, logo ao romper da manha. Havia uma abertura no topo da cova, para que os espectadores pudessem ver 0 que se passava 14 embaixo. Através desta abertura, Dario grita com Jamento e com voz cheia de ansiedade: “Dar-se-ia 0 caso que © teu Deus, a quem tu continuamente serves, tenha podido livrar-te dos ledes?” (v.20). Realmente, nao esperava qualquer resposta; esperava apenas ver o que restara do servo de Deus, que morrera de forma horrivel, durante a noite. “O rei, vive eternamente!”, responde-lhe uma voz firme, a qual o rei nao esperava ouvir novamente. A voz do homem que todos pensavam haver morrido, responde cortes- mente, desejando vida ao rei! Com que transbordante alegria Dario ouviu a resposta! “O meu Deus enviou o seu anjo e fechou a boca aos ledes, para que n4o me fizessem dano, porque foi achada em mim inocéncia diante dele; também contra ti, 6 rei, nao cometi delito algum” (v. 22). Naquela noite, Satands nao incomodou Daniel, porque este Ihe havia resistido. Daniel teve a companhia do Senhor Jesus Cristo! O Anjo do Senhor, que guiou a Jacé através de sua longa vida, o Anjo que andou com Sadraque, Mesaque e Abede-Nego na fornalha de fogo — este mesmo Anjo abencoou a Daniel, estando ao seu lado durante aquela noite. Aquele que, anos depois, mostraria sua autoridade sobre os ventos e as ondas do mar, naquela noite, havia demonstrado sua autoridade sobre os leGes, restringido todos os seus instintos naturais, a fim de néo matarem brutalmente a vitima que lhes fora apresentada! 90 OUSE SER FIRME Dario nao péde esperar até que o selo fosse retirado. Desceram cordas imediatamente, e Daniel foi erguido para fora. Ao sair examinaram-no meticulosamente. Nao havia um arranhdo sequer! Tampouco Daniel se mostrava apavorado! Uma vez mais, Deus livrou seu servo em meio d difi- culdade e nao da dificuldade, como fez com os jovens na fornalha ardente. Aconteceu 0 mesmo com 0 apéstolo Paulo. Que lista de sofrimentos ele nos mostra em 2 Corintios 11.23- 33! Porém, no contexto de sofrimento, estava persuadido de que nada poderia separé-lo de seu Salvador (Rm 8.35-39). Esta sera também a nossa experiéncia. Todos que querem manter vidas cristas fiéis a Deus estejam certos da perseguicao (2 Tm 3.12). Nao é correto afirmar que Deus se encarrega de nos livrar de dificuldades e experiéncias dolorosas e apavo- rantes, Entretanto, é verdade que Ele nos livrardna dificuldade, até mesmono martirio. Em todas as situacdes que enfrentarmos, Cristo estard ao nosso lado. E nao h4 sofrimento, ainda que seja 0 martirio, do qual nao saiamos vivos! Os impios nado tém estas consolagées para proteger- Ihes os coracgées. Esta verdade é enfatizada pelo versiculo 24 — um versiculo terrivel. Os conspiradores s&o langados a sua condenagao e, de acordo com o costume persa, também suas mulheres e criancas. E uma cena horrivel! As Escrituras nao dizem que isto foi ordenado por Deus; foi a ordem de um rei ndo-convertido. A Palavra de Deus nao 0 aprova. Mas registra 0 fato. Logo que os perversos conspi- radores e suas pobres mulheres e criangas foram jogados na cova, foram devorados pela ferocidade dos leGes. Esta terrivel cena deve nos entristecer. Também deve servir para enfatizar, em nossas mentes, quéo miraculoso foi o livramento de Daniel, naquela mesma cova. Deus 0 realizou! Dario foi levado a reconhecer isto, como se torna evidente do decreto, no final do capitulo. Escrevendo a todos os povos de seu reino, confessa ser Deus o grande Deus, embora, como Nabucodonosor apés o acontecimento da fornalha ardente, nao O confesse como 0 sinico Deus. A cegueira espiritual é algo que nos causa admiracao. Uma pessoa pode chegar a perceber que Deus é grande, que NA COVA DOS LEGES 91 seu dominio é eterno e seu reino nao tera fim. Pode ser levada a temer e tremer ante o Deus que reconhece permanecer para sempre. Pode, de fato, reconhecer que este Deus faz o que Lhe agrada, tanto no céu quanto na terra. E, ainda assim, pode deixar de compreender que Ele é 0 tinico Deus. Tal pessoa pode viver e morrer sem qualquer alianga pessoal com Ele. Isto foi 0 que aconteceu a Dario. Entao, Dario saiu do cen4rio da histéria. O rei medo foi substituido por Ciro, 0 persa (v.28). Assim como os impérios, reis surgem e desaparecem. O remanescente, porém, permanece. Esta é a principal ligdo deste capitulo e ndo deveria jamais deixar de nos animar e encorajar. Mas, se o sal vier a perder o sabor? Até mesmo em nossos dias, o remanescente é colocado em situacdes onde tem de escolher entre agradar o seu Deus ou satisfazer os outros. Dizem-lhes que somente agradando os outros tém esperanga de sobreviver; mas, se agirem desta forma, sabem que perderao © brilho de seu testemunho. O remanescente, que nos da seu testemunho através deste texto da Escritura, sem dtivida viveria um pouco mais, mas a sua piedade, que o identifica como remanescente, desapareceria. Se o testemunho de Deus deve ser mantido no mundo, é essencial que o remanescente nao pense em sua sobrevivéncia fisica, mas apenas em sua pureza espiritual. A preocupagao pela pureza espiritual — uma consis- tente recusa em praticar qualquer mal — torna a cova dos leSes uma certeza para os que sao fiéis ao Senhor. Mas estes podem estar certos de que ali desfrutarao da comunhiéo com Cristo e que seu poder assegurard a sobrevivéncia fisica de tantos quantos sejam necessdrios para que seu testemunho seja mantido. De qualquer modo, embora tenham de enfrentar 0 martirio, todos os fiéis podem estar seguros de que sairao vivos de suas tribulacdes! Um dia, os impios terao de entrar na cova. Nao sera a cova da malicia de um conspirador, mas a cova da justa indig- nacao de Deus. Quando os impios entrarem 14, irao sés. Nada saberdo a respeito da presenga e do resgate divino. Seu castigo serd para sempre... sempre... sempre... 92 OUSE SER FIRME Que grande diferenca existe entre o crente e o descrente! O descrente prefere os eternos sofrimentos do inferno a suportar perseguicao por Cristo e seu evangelho, nesta vida presente. Ao contr4rio, o crente considera a comunhio com Deus a coisa mais preciosa no mundo. Prefere gozar desta comunhao do que viver, e afirma constantemente: “Tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente nao sao para comparar com a gléria por vir a ser revelada em nés” (Rm 8.18). Um Intervalo ntes de prosseguir aos préximos seis capitulos de Daniel, é necessério um pequeno intervalo. Precisamos olhar estes seis capitulos como um todo. Desta forma, entdo, teremos condigdes de examin4-los um a um. Apocaliptico Isto se deve ao fato que a segunda parte do livro de Daniel é bem diferente da primeira. A diferenca mais ébvia é a mudanca de estilo. Os primeiros seis capitulos foram narrativos e hist6ricos e, portanto, faceis de considerar. Os préximos seis capitulos sao principalmente apocalipticos. O que € isto? E um tipo singular de literatura judaica, da qual os seis iltimos capitulos de Daniel sao o exemplo mais antigo. Grande quantidade desta literatura foi produzida pelos judeus entre 200 A.C. e 100 D.C. Estes livros nao foram divi- namente inspirados e, portanto, ndo se encontram em nossas Biblias. Mas ha passagens apocalipticas em diversos dos pro- fetas; bons exemplos sao Isaias 24 a 27, Joel e Zacarias 9 a 14. Os exemplos do Novo Testamento so o discurso de nosso Senhor no monte das Oliveiras (Mateus 24) e, de modo espe- cial, 0 livro de Apocalipse. 94 OUSE SER FIRME A maior parte da literatura apocaliptica foi escrita para encorajar os fiéis em tempos de perseguic¢ao. Seus principais temas so sempre os mesmos: 0 crescimento do mal, 0 cuidado de Deus por seu povo e a seguranga de que o mal nao prevalecer4. A tinica coisa de duracao eterna é 0 reino de Deus. Todos os escritos apocalipticos afirmam ser revelagées de Deus, dadas de modo extraordindrio, em geral através de visdes e sonhos. Foi assim que surgiram os primeiros textos apocalipticos; ¢ nao nos surpreende que tal afirmacdo seja atribuida também aos livros nao-inspirados. Todos, em maior ou menor grau, so baseados nos admiraveis capitulos que estudaremos agora. A caracteristica mais notdvel da literatura apocaliptica é seu simbolismo, Em Daniel 7 a 12, o futuro curso da histéria seré delineado pelo profeta, através de nimeros, animais e chifres. A linguagem é misteriosa. De fato, as vezes é quase grotesca. Mas, quando tentados a pensar que é desnecessaria- mente extravagante, devemos apenas lembrar que sua linguagem é simples e modesta, se a compararmos aos falsos apocalipses de anos posteriores. Nestes a linguagem é quase ininteligivel, e os autores andnimos utilizaram todos os tipos de animais em suas supostas visdes. A Palavra de Deus esté livre destes extremos fantasiosos. A literatura apocaliptica € histéria escrita sob o disfarce de profecia. Naturalmente, no caso de textos apocalipticos das Escrituras, a histéria 6 genuinamente profética. Os eventos foram registrados antes de acontecerem. Os escritos apocalipticos que nao se encontram na Biblia sao diferentes. Os eventos j4 haviam acontecido quando os autores escreveram; estes simplesmente registraram o passado. Entdo anexaram o nome de um autor que havia morrido ha muito tempo e se esforcaram a fim de que tal escrito fosse aceito como profecia genuina. Mas, ninguém era enganado por muito tempo. Os Unicos escritos apocalipticos que nao foram posteriormente demonstrados como falsos sao os que se encontram nas paginas da Biblia; esta é mais uma demonstragdo de que a Palavra de Deus tem origem celestial, sendo inteiramente distinta das meras inveng6es humanas. UM INTERVALO 95 Chegamos, ent&o, aos capitulos que profetizam tribu- lag6es futuras aos fiéis. Sempre viveréo em um mundo hostil e perseguidor. Mas nao precisam desanimar. Deus é o Senhor da histéria. Todos os eventos estéo firmemente consumando 0s seus propésitos. No tempo oportuno, aniquilara o dominio do mal, estabelecendo o seu reino eterno. Propésito Com isto em mente, 0 propésito geral dos capitulos 7 a 12 ja deve estar ficando claro para nés. Pessoas que permanecem firmes, sozinhas, por amor a Deus, necessitam de enco- rajamento. Nao é suficiente que saibam como permanecer firmes; também precisam saber por que vale a pena manter esta atitude. Isto fica claro quando o crente é informado a respeito do futuro da historia mundial e adquire alguma compreensao do desenrolar do plano de Deus na histéria. Afinal, os capitulos que estudaremos tiveram um efeito maravilhoso sobre 0 proprio Daniel. Por exemplo, no capitulo 5, vemo-lo completamente sozinho na corte blasfema de Belsazar, profetizando tanto a morte iminente do rei como a imediata tomada do império babilénio pelos medos e persas. Quem pode imaginar a coragem necessria para anunciar tais coisas? Onde Daniel obteve for¢as para fazé-lo? Por que julgou que deveria dizer a verdade, ainda que significasse perder sua propria vida? Compreenderemos a resposta quando tivermos lido os capitulos 7 e 8. O capitulo 7 registra um sonho; 0 capitulo 8, uma visao. O sonho profetizava a ascensio e queda dos impérios apresentados no sonho de Nabucodonosor (capitulo 2). Daniel chegou 4 compreensio de que a hist6ria humana é dirigida por uma corte celestial, que decreta que somente 0 reino do Senhor Jesus Cristo permanecera eternamente. A visio que seguiu o sonho se referia a um futuro imediato. Enfatizava que o império medo-persa, o qual estava préximo, daria lugar ao império grego; deste se levantaria um terrivel perseguidor do povo de Deus, mas Deus o aniquilaria, no auge de sua influéncia.

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