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EM BUSCA DE UM HOMEM DECENTE

Uma história de sedução, conquista e auto-preservação emocional

Mari Markow
2009
Agradecimentos:

Este livro é dedicado ao meu esposo que realmente acredito ser o melhor
homem do mundo, aos meus queridos filhos e a todas as mulheres que já
encontraram ou ainda estão em busca de homem decente.
1. Casadoira

Sempre fui uma mulher casadoira. O que é isso?


Bem, eu explico: é aquela mulher que logo que arruma um namorado
acha que ele é o homem da sua vida. E que assim que termina o primeiro beijo,
vê passar pela sua cabeça um filme extremamente romântico, no qual vê a si
mesma como a esposa ideal, morando em uma linda casa com um enorme
jardim florido, filhos impecáveis e um marido atencioso e amoroso. Pufff.
É, essa fui eu, uma romântica inveterada.
Meu nome, Sofhia Stéfano, trinta um anos. Atualmente casada, e bem
casada, pelo menos por enquanto.
Por longos anos eu acreditei em príncipe encantado, assim como a
maioria das mulheres. Isso é um problema congênito e freqüente afirmação e
mimo dos pais. Pois quando ainda estamos na barriga de nossas mães já somos
chamadas de princesinhas, e assim segue a vida infantil e a adolescência, com
os nossos pais sempre enfatizando que somos princesas e que devemos nos
comportar como tais, acreditamos piamente e incorporamos o romantismo das
princesas. Mas ninguém fala que as princesas hoje em dia, não são mais tão
recatadas e comportadas e muito menos românticas. Príncipes, então...aff, não
são, se é que um dia foram, românticos, dedicados e decentes, afinal são
homens e essas qualidades não são freqüentes no ser masculino. Este conceito
de homem ideal só está nos livros e filmes infantis e é claro, em uma Linda
Mulher. Com tanta alusão romântica, no final acreditamos que somos
realmente princesas e que nosso destino é casar com príncipes. E sendo assim,
comprovadamente através de pesquisas - revista Claudia, Marie Claire,
discussões de botecos e análises sentimentais de amigas - 80% das mulheres
pensam na consagração do casamento como sendo algo mágico. Mas
infelizmente tenho que dizer que como casadoira e casamenteira inveterada a
vida real é bem mais prática e tenebrosamente má, ainda mais quando se trata
da união de dois indivíduos, independentemente do sexo. E mais malvada ainda
a vida se torna, quando se opta por encontrar alguém e construir uma família, aí
mesmo que a magia não tem vez nenhuma.
Em minha busca por um esposo – namorei muito - o tão desejado
príncipe encantado, logo se transformava em sapo e a tão sonhada casa com
jardim florido se transformava em um pântano lamacento e fedido.
Sempre fui muito romântica, e este sempre foi meu mal e com certeza é
o seu.
Nos meus relacionamentos eu sofria “pra burro”, mas por graça de Deus
sempre tive uma auto-estima elevada e nunca me deixei sofrer por muito
tempo. Acredito que a perda de um grande amor só se cura colocando outro no
lugar e logo arrumava um outro namorado.
Gostava de ser namoradeira e nunca achei que isso fosse um problema.
Na verdade, não queria e nem podia ficar deprimida. Sempre chamei
muito a atenção dos homens - não digo meninos por que esses nunca tiverem
muitas chances comigo - sempre gostei de homens mais velhos.
Eu, curiosamente os atraia, não sei dizer se essa atração se devia por
causa da minha altura ou por eu ser uma pessoa aparentemente madura para
minha idade. Sempre achavam que eu tinha dezoito anos quando na verdade
tinha quinze – não que uma menina de dezoito anos seja totalmente madura,
mas em relação aos homens isso faz uma grande diferença. Mulher com quinze
tem mentalidade de dezoito. Homem com dezoito tem mentalidade de
quinze. Por isso vale à pena investir em homens com mais idade pelo menos
eles estarão na mesma equivalência cerebral que nós mulheres.
Gosto de pensar que apesar do meu romantismo, eu era sim, madura
para minha idade.
Minha vida nunca foi muito fácil, sempre que podia ajudava meus pais de
alguma forma. Sendo a segunda de quatro irmãos, cabia a mim e ao meu irmão
mais velho a responsabilidade de manter a casa organizada, enquanto nossos
pais trabalhavam. A responsabilidade de cuidar de irmãos mais novos e ainda
manter uma casa organizada, dentro dos padrões infantis, é claro – possibilitou
a mim um, amadurecimento mais rápido – trabalho enobrece e também
amadurece, só faz bem.
Com quinze anos arrumei um namorado com o dobro da minha idade – é,
eu sei que com quinze anos eu deveria ainda estar brincando de boneca. Um
namorado com o dobro da minha idade era realmente alarmante e preocupante
para qualquer mãe e pai.
Mas com essa mesma idade eu já trabalhava como Office Girl na Telepar
e ajudava em casa e também tinha dinheiro para meus caprichos. Coisas de
menina... roupas, sapatos, bolsas - sou apaixonada por sapato e bolsas - e é
claro, dinheiro para sair dançar.
Considerando minhas responsabilidades o ato de arrumar um namorado
bem mais velho não me incomodou, mas aos meus pais sim. Principalmente
minha mãe. Mas como disse, eu era um pouco mais madura e consegui com
muito jeitinho convencer meus pais que se eu tinha condições de trabalhar
também tinha o direito de namorar quem eu quisesse. Ela me deu vários
sermões e orientações e tudo ficou bem. Não antes, é claro, de ela chamar o
rapaz e de também fazer várias advertências - quase morri de vergonha. Mas é
isso mesmo que mãe e pai têm que fazer. Cuidar do que é deles. Não são a toa
nove meses gerando e quinze ou dezoito anos de cuidados a uma princesa que
farão com que eles deixem que qualquer marmanjo a pegue, iluda e faça o que
bem entender. Portanto, moças, não fiquem bravas com os pais. Eles só querem
o melhor para vocês. Se orgulhem disso.
Com o trintão, foi um ano de namoro - quando disse que fui muito
namoradeira é verdade. Eu realmente namorava, nunca fui de ficar. Até porque
a ficada virava namoros longos e eram esses namoros que me permitiam ir
preparando o enxoval – brincadeira – mas é verdade que sempre pensava que
era aquele com quem eu iria casar. Não me arrependo deste romance, tirei
experiências gratificantes.
Adoro dançar e sei fazer muito bem o uso dessa técnica. Na verdade é
um hobbie, não sou nenhuma bailarina, nunca participei de nenhuma escola de
dança, mas até que requebro legal.
Eu simplesmente gosto e acho a dança uma verdadeira e poderosa arma
de sedução e quem sabe dançar – homem ou mulher - tem 50% de qualquer
relacionamento na mão.
Não sabe dançar? Pois deveria aprender. Não gosta? Comece a gostar,
além de ser um ótimo exercício para o corpo, também faz muito bem à mente e
a auto-estima.
Eu menina de quinze anos, namoradeira, aparentemente madura para a
idade, entretanto, muito romântica, só me ferrei.
Temos que ser práticas.... no romantismo esteve todo o meu e de
repente está o seu problema.
Na verdade, é um problema em parte. O romantismo é bom, mas saber
ser prática e sensual é “muiiiito” melhor.

Por quê? Continue lendo e eu te explico!!!!


2. Eu.

Apesar de ser uma romântica boboca e uma casadoira ensandecida, acredito


hoje que lá no fundo sempre fui uma mulher muito prática.
Analisando minha vida vejo que desde muito cedo me impus objetivos
muito claros e fáceis de serem completados. Objetivos que só dependiam de
mim e de mais ninguém, objetivos que qualquer mãe ficaria orgulhosa da filha –
pelo menos a minha mãe é. Dos quatro filhos, ela diz que eu sou a única que
não dou problemas – prefiro acreditar. É verdade que quando adolescente a
aborreci muito e devo ter causado algumas mágoas com minhas “verdades
absolutas”. Coisas de “aborrecente”que acha que o mundo gira ao seu redor e
que os adultos só estão no mundo para encher o saco.
Quando “aborrecente” treze, quatorze anos, apostei com minha irmã do
meio, que iria casar depois dela, pois minha meta era casar só com vinte cinco
anos e depois de formada.
Meta clara, prática e objetiva não?
O meu planejamento se consistia em: Primeiro se gradua na faculdade,
constrói uma profissão e depois casa. Plano Perfeito!!! - Mas como todo plano
perfeito, tem sempre um imperfeição, nesse caso o destino, perdi a aposta!
Ah! Também tinha um plano B, caso o plano A – casar – não desse certo.
O Plano B, era que se aos vinte cinco anos eu não estivesse casada eu iria
conceber um filhos de produção independente. Minha mãe queria morrer
quando eu entrava neste assunto.
- Mãe, se prepare! Se por acaso eu não casar até os vinte cinco, eu vou
ter um filho e venho morar com a senhora, tudo bem?
- Você que nem seja louca de me aparecer aqui em casa grávida, sem
estar casada – esbravejava minha mãe pela casa inteira.
Eu me divertia com a irritação dela. Mas a o plano B era uma realidade
em minha vida, eu queria muito ter um filho, casada ou não.
É claro que preferia que o plano A funcionasse primeiro, mas caso ele
não funcionasse....
Bem, casei com vinte anos. Vinte dois dias antes de completar vinte um
anos. Minha mãe teve que autorizar o casamento, eu não era legalmente adulta
ainda.
Dá para imaginar a minha angustia em fazer o plano A funcionar? - Eu
não quis nem esperar completar maior idade para casar.
Para ajudar eu também não estava graduada na faculdade, não tinha
construído uma carreira sólida, mas pelo menos tinha recém terminado o
segundo grau.
Me formei em técnica em prótese dentária pelo Colégio Estadual do
Paraná. Tudo bem que o plano A não estava se completando nas etapas certas,
com todas metas (formar na faculdade, estabelecer profissão, depois casar),
mas isso era só uma questão de ponto de vista. De vez em quando a gente tem
que rever o projeto e adequá-lo aos prazos e riscos.
Na verdade meu instinto romântico/casadoira, falou mais alto, mas nem
tanto... meu lado prático e sensual foram relevantes no processo.
Sabe aquele filminho romântico da donzela encontrando o príncipe e
casando e vivendo felizes para sempre? Pois então, eu em meus devaneios
românticos o assisti muitas vezes. Imaginem... desde dos quinze anos até os
20, rolou muito filme na minha cabeça.
Tinha filme que eu casava de branco com um vestido parecendo um bolo
de aniversário. Tinha vestido tubinho, teve até um vestido amarelo ovo e um
vermelho na jogada. Achou estranho? Pois não eram. Os vestidos eram lindos.
E, é claro, em meus sonhos eu estava linda também.
De onde tirei esses vestidos? Bem, eu não os imaginei se é que querem
saber.... eles eram criações de estilistas, pois meu divertimento nas horas vagas
era comprar revistas e visitar quase que mensalmente lojas de vestidos de
noiva.
Patético não? Com certeza sim. Mas a verdade é que queria estar
preparada para o dia em que fosse me casar - até parece que alguma noiva está
preparada para o dia D.
Eu pelo menos sabia que mesmo com todas as visitas anteriormente
feitas a lojas e estilistas, quando eu fosse pedida em casamento eu iria visitar
pelo menos mais umas duzentas lojas a procura do vestido perfeito. E para ser
bem sincera não fui eu que achei o vestido perfeito, foi ele que me achou.
No meu filminho romântico de casamento feliz , assim como muitas
vezes na vida real, o noivo não importa. O importante era o casamento, a festa
e a casa com jardim - ainda bem que caí em mim antes de fazer qualquer
bobagem.
O noivo importa sim! E importa muito!
3. Cansada

Como já disse sempre fui muito namoradeira e na angustia de namorar


nunca parei para observar direito por quem eu me apaixonava. Para concluir,
todos eram arremedos de homens, e responsabilidade por sentimentos por
sentimentos alheios, não existiam no vocabulário deles.
Um dia, cansada de tanto ser traída pelos namorados e de ficar sempre
aceitando os infelizes de volta, tomei consciência do meu poder como mulher e
dei o fora no namorado da vez.
Sim. Dei o fora. Me senti poderosíssima! Estava cansada. Sempre quem
levava o fora era eu e de forma vergonhosa. Sempre era trocada por outra. De
repente algo inexplicável aconteceu.
Juro! Não fazia idéia do poder que tinha em minhas mãos. Aconteceu
que o namorado, que até então eu “idolatrava” - já o namorava desde dezesseis
anos e entre términos e retornos fui empurrando uma relação sem futuro até os
até os dezoito anos - passou a se ajoelhar aos meus pés.
Quando descobri que era a poderosa na relação, fiquei atônita e meio
abobada, mas por pouco tempo, porque daí foi minha vez de espezinhar. Tanto
tempo sofrendo, me ratejando e mergulhada em pântanos fétidos me fez ficar
malvada. E quando me dei conta, saí do atoleiro e uuhuhu que delícia!!!
O dito cujo que até então, em quase dois anos de namoro nunca tinha
sequer me ligado uma única vez se quer começou a me ligar, finalidade....
simplesmente dar um oi!
Podem imaginar a cena? Sempre quem ligava era a bobona aqui.
Quando o dito cujo queria algum carinho ou uma garota bonita e gostosa
para mostrar aos amigos passava na minha casa e a bobona aqui saía feito um
cão abanando o rabinho, toda feliz e contente.
Depois de dar um basta na mediocridade de um relacionamento de uma
via de mão única - em alto-estilo, é claro - percebi como mulher o tamanho do
poder que tinha em minhas mãos. Quando me dei conta de quem eu era e o
queria realmente para a minha vida consegui me libertar do que era ruim e do
que só me fazia mal.
Me dando conta do que o sofrimento me causará e no que me
transformará, bem como no poder e conhecimento que tinha adquirido refleti e
percebi que ser prática e sensual é muito mais divertido que ser romântica.
Sendo assim quem dava as cartas e dava uma de difícil agora era eu.
Ele começou a ligar, quase que diariamente. Se não era em casa era no
escritório - não sei com quem ele conseguiu o telefone, pois em dois anos nem
sequer tinha se dignado a perguntar onde eu trabalhava.
O objetivo das ligações era tentar amansar a fera aqui e tentar uma
reconciliação – nunca entendi direito essa versão de homem que só dá valor a
mulher depois que ela não o quer mais – não entendo, mas compreendo que
essa busca pelo impossível se torna uma obsessão em querer algo que ainda
não se tem. A conquista e a sedução são muito mais divertidas e prazerosas aos
olhos dos homens. Homem não gosta de mulher disponível e pegajosa. E
pensando bem, eu estava exatamente nessa situação, só que com a desculpa de
que era romântica, mas na verdade era burrice mesmo.
Percebendo tudo isso, resolvi me imbuir um pouco da praticidade
masculina e me tornar desejosa novamente aos meus olhos e aos olhos febris
dos homens. Mas ao tomar para mim um pouco de toda essa praticidade
masculina veio junto algo que não consigo explicar, então resolvi chamar de
individualismo sentimental.
Todas as tentativas do dito cujo, ligações, aparições na minha casa,
encontros inusitados, quando na verdade eu sabia que ele estava me seguindo,
foi me causando um desconforto tão grande e junto uma sensação de nojo -
como ele podia ser tão pegajoso?
Eu resoluta, sempre dizia não aos seus pedidos. Pouco me importava se
minha determinação estava ou não ferindo os sentimentos de Renato – esse era
o nome do dito cujo. Todos os sentimentos – desconforto, frustração, egoísmo e
preservação emocional - até então aplicados a mim por Renato, passaram a ser
meu lema e é o que chamo de individualismo sentimental – esse conceito de
baseia e simplesmente pensar só em si mesma, e abster-se dos sentimentos
alheios. Homens são mestres nesse assunto.
Não querendo Renato mais ao meu lado comecei a sair e procurar
conhecer o mundo dos relacionamentos com mais cuidado. Nesse tempo dei-
me conta que os homens gostam de mulheres que transpirem feminilidade,
sensualidade, determinação e segurança, porém a determinação e a segurança
devem ser veladas e pouco demonstradas. As demonstrações de tais forças
devem na verdade ser sutis o que requer muita inteligência e jogo de cintura. Os
homens não gostam de mulheres que demonstrem muita opinião e
independência, seja ela de personalidade ou financeira.
Percebi que os homens gostam de ter poder sobre suas mulheres,
mesmo que esse poder seja somente ilusório, o qual em muitos casos o são de
verdade.
Mulheres de muita opinião e independência, dificilmente encontram
relacionamentos duradouros. Não estou pregando que as mulheres devam ser
submissas, pelo contrário. Estou falando de algo que percebi e que
historicamente é natural quando se trata de relacionamentos.
Segundo os homens eles sempre serão os chefes de família. Eles sempre
darão a palavra final, até por que sexualmente falando eles acreditam que são
eles que comem, quando na verdade eles é que são comidos - engolidos com
todo prazer. Afinal quem é que tem a boca? A mulher é claro! Não é toa que
nossa vagina tem lábios, e eles são dois. Os internos e os externos. Justamente
para não deixar escapar nada. Os homens simplesmente nos fornecem o
alimento e por isso a mulher é o elo mais forte do relacionamento. Ela pode
optar entre comer sempre o mesmo alimento ou variar. Diferente do homem
que só pode fornecer o mesmo alimento. É claro que como mulher não é
preciso alardear isso a todos os cantos muito menos quando estamos em um
relacionamento, mas com certeza devemos ser e estar sabedoras de nossas
armas. Deixemos que eles pensem que são eles que dominam o relacionamento
– é claro que em situações que nos for conveniente.
Tenho várias amigas e duas irmãs que não conseguem de forma alguma
permanecer em um relacionamento. Atualmente comecei a observar e percebi
que todas essas mulheres são lindas, altivas e super alto astral.
Perguntei-me várias vezes qual seria o problema dessas mulheres em não
encontrar alguém que lhes fizesse feliz. Imaginem o tamanho da minha surpresa
ao constatar que minhas observações de anos atrás tinham fundamento.
As minhas amigas e irmãs têm opinião muito forte e fazem valer de
qualquer maneira essas opiniões; para ajudar são totalmente independentes,
inclusive financeiramente, o que de certa forma assusta os homens e jogam eles
à quilômetros de quererem um relacionamento sério.
Um dia, em um barzinho, jogando conversa fora com minha irmã e o
namorado dela percebi que a hora que chegou a conta ela e o namorado
dividiram as despesas consumidas por eles. Achei tudo muito estranho, pois
quando namorava não saia nem de bolsa, quanto mais dividir conta. – Quer sair
comigo? Então vai ter que pagar – sempre pensei assim e sempre dei certo.
Nunca dividi conta com nenhum homem e me orgulho muito disso.
Mais tarde perguntei para minha irmã se a divisão de contas era uma
atitude freqüente entre ela e os namorados. Ela me respondeu que sim. Percebi
então a grande besteira que ela estava cometendo.
Comecei a perguntar para as minhas outras amigas se elas permitiam a
divisão de contas quando elas saiam com alguém. Todas expressamente
independentes alegaram que sim.
Um dia uma das amigas, meio alcoolizada, começou a descrever para
mim os seus romances. Fiquei assustada com a forma de como os
relacionamentos estão caminhando. Quando ela me deu oportunidade de falar
eu descarreguei.
- Não é toa que você não consiga segurar nenhum namorado!
- Como assim? – ela me olhou assustada.
- Você está sempre em conflito com eles. Sempre levantando bandeira
para as tuas opiniões. – opiniões mudam sabiam? Elas são somente opiniões e
elas estão aí justamente para serem moldadas e mudadas. As pessoas que não
mudam de opinião e que não aceitam a do outro são pessoas intransigentes.
Difíceis de lidar. Mudar de opinião não quer dizer que você estará se
humilhando e sim que está evoluindo - falei com certa dureza na voz.
Ela ficou me olhando e eu continuei – e que história é essa de dividir a
conta? Nunca divida a conta com um homem ele se sentirá inferiorizado
perante o seu poder econômico e declarada independência feminina - eu sei, eu
sei. Não faz sentido! Mas é assim que é. Os homens gostam de ter a sensação
de estar provendo a mulher, seja financeiramente ou sexualmente. Deixe-o
pensar e mostrar ao garçom e aos amigos que estão em volta, que pelo menos
naquele momento, que quem manda é ele.
Ela me olhava estarrecida.
- Jura! E assim que você faz com Nicholas?
- Sim. Eu sei que isso faz bem a ele. Pra que entrar em conflito. – E tem
mais... homens que deixam ou que pedem para dividir a conta pode cair fora...
esse não é um homem decente, com valores de zelo e preservação emocional.
Ele não zela nem pela falsa impressão de homem macho provedor, quanto mais
pelos seus sentimentos.
Depois de descobrir as nuances e peculariedades do mundo masculino,
todas as vezes que saía estava sempre de forma muito feminina, sensual e com
uma sutil altivez. Desta forma não era difícil encontrar com algum rapaz que se
interessasse por mim. Assim sempre estava com alguém a tira-colo e quando
não saía, mentia para deixar o dito cujo com ciúmes e mostrar a ele o que eu já
tinha passado.
O dito cujo em seu desespero começou a vasculhar os bares e
danceterias a minha procura - os lugares em que costumava ir - e quando me
encontrava ficava louco de ciúme.
Quando via que estava desacompanhada nas baladas, aproximavas-se
todo amável acreditando que tinha ainda alguma chance. Coitado!
E assim, tendo “o queijo e a faca na mão” usava meu poder de sedução.
O fazia me levar para casa em segurança, e depois o dispensava com um
beijinho no rosto.
Acha triste a idéia de uma garota sozinha em uma danceteria ou em um
bar? A primeira impressão é essa mesma. Mas como já disse - não me permitia
ficar sozinha em casa deprimida.
Adoro dançar e sendo assim meu espírito não conseguia ficar parado.
Quando se dança é muito fácil arrumar amigos que queiram dançar com você.
As pessoas que gostam de dançar são iguais aos fumantes, logo se entrosam e
fazem boas amizades.
Não estou fazendo apologia ao cigarro, pois este faz mal a saúde. Mas
por que não dançar? E se não quiser dançar, ainda assim pode ficar no bar
bebericando, que logo chegará alguém para conversar com você.
É claro que isso só irá acontecer se você não estiver com um aspecto
derrotado e com cara de quem está morrendo. A técnica de depressa, cara de
cachorro sem dono, abandonado e com fome só funciona de homens para
mulheres.
As mulheres nascem com um instinto materno e não podem ver um
homem deprimido e desgarrado que querem logo ajudar e fazer companhia
Os homens, ao contrário gostam de mulheres altivas, que passam
segurança e que demonstram amor próprio.
Os homens são, historicamente, caçadores. Eles não se sentem impelidos
a caçar aquilo que já está morto. Portanto, mulheres com aspecto derrotado
não atraem homens de valor e sim “homens hienas” que gostam de comer
restos.
Homens de valor gostam de mulheres iluminadas e detentoras de um
poder de auto preservação e auto-estima muito grande.
Entretanto, os homens de valor - não estou falando de valor monetário –
estou falando de homens decentes, inteligentes e cordiais, estes sim conseguem
algumas vezes suplantar seu machismo e aceitar as opiniões e a independência
da mulher (esposa) como uma condição de parceria de vida. Ao aceitar isso há o
amadurecimento no relacionamento e a prosperidade familiar. De encontro,
chocando-se vem os homens cafajestes que ao perceberem em suas mulheres
uma condição de mulher forte, tentam ao máximo dizimar sua auto-estima e
amor próprio para que desta forma elas se tornem mulheres de sentimentos
pobres e escravas de humilhações diárias.
Quando saía para me divertir deixava o baixo astral em casa e me
recusava a estar com aspecto deprimido. Estava sempre radiante e conhecedora
do meu poder como mulher. Sendo assim, sempre tinha com quem conversar
ou dançar.
Foi no auge dos meus dezoito anos que eu cansada de humilhações e de
estar sempre em segundo plano me transformei em uma mulher
deliciosamente má, sensual e muito prática. Prometi a mim mesmo que meu
dedo podre não iria mais me reger.
Orei a Deus e pedi com toda força restante de meu coração ferido, que se
fosse para eu ter alguém novamente em minha vida que essa pessoa deveria ser
descente, querer compromisso sério e poder me sustentar. Eu queria um
homem de verdade.
Não pense que sou caça dote. Não, eu não sou. E se fosse, qual seria o
problema? Cada um sabe o que é importante para si.
Em minha dor adolescente e profunda, ao fazer a oração eu fui muito
clara e prática ao pedir que Deus me desse uma pessoa para construir uma vida
juntos e o mínimo de conforto. Isso é ser prática, esse negócio de que o amor é
suficiente para tudo é balela. Responda-me. Por que eu sairia da casa dos meus
pais, onde tinha carinho, conforto familiar e liberdade, para me meter em uma
furada? E ainda por cima passar dificuldades financeiras?
Não sou de família rica, e desde muito cedo trabalhei, e o que ganhava
era meu, e queria que continuasse assim.
Quando criança pedia algo para a minha mãe e se ela dizia que não podia
dar, logo dava um jeito de juntar dinheiro para comprar aquilo que queria.
Vendia picolé, vendia catálogo do Avon, lingerie; trabalhar nunca foi meu
problema. E é por isso que nunca suportei a idéia de ter que pedir dinheiro para
ninguém e muito menos a marido. Ficar dando satisfação dos meus caprichos
não fazia e não faz minha cabeça.
Quando se entra num matrimônio, começa-se a dividir as contas da casa,
pelo menos dizem que é o mais correto.
Eu na verdade discordo. Acredito que a mulher tem sim que trabalhar,
mas para suprir suas necessidades e caprichos.
Em minha opinião e experiência o homem que trabalhe para suprir as
necessidades da casa. Não acho que a divisão das contas deva ser algo
comandatório. Se for assim, penso que as tarefas domésticas também deveriam
ser divididas de forma comandatória.
Se a mulher trabalha oito horas por dia, igual ao marido e ainda dividi as
contas da casa, porque só a mulher é responsável por chegar em casa e ainda
dar banho nas crianças, fazer o jantar, colocar a roupa para lavar, passar roupa,
ajeitar a casa enquanto o marido assiste o Jornal Nacional e, nos finais de
semana ficar igual uma louca limpando a casa enquanto o marido sai para jogar
seu futebol. É injusto, é injusto não é?
Sempre fui muito radical neste sentido e acho que a mulher deve
trabalhar para ela, já será um grande alívio para o marido se ele não tiver que
pagar pelos sapatos bolsas e salão de beleza – sou uma mulher de opinião com
certeza; e sou dessas que deixa bem claro o que pensa, mas dentro do
relacionamento aprendi a opinar com sutileza e tato.
Quanta a divisão das contas é possível entrar em um acordo, assim como
nas tarefas domésticas.
Pensando desta forma muito racional e feminista às avessas, casar com
alguém que pudesse me dar conforto e segurança era essencial.
Nunca desejei um homem rico, e com a praticidade em voga, a casinha
com jardim caiu por terra e eu comecei a querer alguém que me desse um lar
com todas as contas pagas e ainda algum dinheiro para poder ir ao cinema, ir
jantar fora, poder viajar - tudo que eu julgo importante, financeiramente
falando - para que o casamento não caia na rotina. O resto, basta ter
criatividade, respeito, cumplicidade e paciência, que tudo se ajeita.
A meu ver o casamento tem que ser divertido e são essas pequenas
regalias (cineminha, jantar, motel) que faz com que o casamento não se
desgaste tanto.
3. O Aniversário

O estopim para eu ter me tornado uma mulher extremamente sensual e


prática aconteceu em minha festa de aniversário de dezoito anos.
Fiquei um ano juntando dinheiro para fazer uma festa da qual eu iria para
sempre me orgulhar.
O orgulho se devia porque eu, Sofhia, estava ajudando a pagar a minha
festa. Estava tão orgulhosa de mim mesma, meus então não se continham de
tanto orgulho.
Organizei, convidei, gastei, meus pais gastaram e fizemos a tal festa.
No dia vinte sete de novembro, eu estava linda, radiante e muito feliz em
ver todos que amava e reunidos na minha festa.
Eu finalmente iria debutar - não tive festa de quinze anos, mas teria de
dezoito.
Por volta das vinte horas, caiu uma chuva torrencial. Este era o horário
marcado, escrito em letras pretas, no convite prateado, distribuído com muito
carinho.
Os convidados começaram a chegar. Alguns, feito pinto molhado.
A cada convidado que entrava, espantando as gotículas de chuva em seus
ternos e vestidos eu ficava ainda mais feliz. Eles estavam lá, chegando debaixo
de chuva, só para me prestigiar.
Com muito carinho eu recebia a todos com um sorriso largo no rosto.
Afinal, eu era o motivo de tudo aquilo.
Meus pais orgulhosos, falavam aos que elogiavam a festa e decoração:
- Foi Sofhia que escolheu, e também ajudou a pagar. Ela é uma garota
muito esforçada. Juntou por um ano o dinheiro que ganhou trabalhando, só
para fazer esta festa.
Todos ficavam admirados com a colocação de meus pais. E com razão,
acho. Afinal, quantas garotas teriam maturidade suficiente para organizar e
pagar uma festa daquela?
Com toda aquela rasgação de seda e admiração, eu é claro, me sentia a
poderosa! Além de linda! Já tinha um emprego e objetivos bem traçados - fazer
faculdade e casar, é claro. E meu aniversário de dezoito anos era o marco para
isso. Seria uma nova fase partir daqui.
- Cadê o Renato? - todos começaram a perguntar pelo meu namorado –
Renato é o tal do dito cujo.
- Não chegou. Deve ser a chuva - eu constrangida respondia. Apesar de
saber que como namorado, ele deveria estar ali comigo para receber os
convidados. Mas o fato é que até então isso não estava me incomodando, pois
eu acreditava mesmo que o atraso se devia por causa da chuva.
A ficha só caiu quando os pais e irmãs de Renato chegaram. Todos me
cumprimentaram e parabenizaram pela festa. Entregaram dois lindos
embrulhos os quais fiz questão de abrir imediatamente. Era um lindo relógio
dourado e uma gargantilha com pedras brasileiras. Ambos os presentes eram
lindos.
- Onde está Renato? - perguntei automaticamente.
- Ele foi buscar Carolina. Mas logo ele chega – respondeu Dona Francisca
com certo constrangimento na voz.
Meu rosto rapidamente foi do rosa sorridente para vermelho sangue. A
raiva foi tão grande que os pais de Renato perceberam e ficaram ainda mais
envergonhados.
- Agora eles são só amigos, minha filha... – disse Dona Francisca, com
certo pesar na voz. Dona Francisca era a mãe de Renato. Uma senhora muito
simpática e querida, mas que adorava o filho e por isso encobria todos os seus
deslizes – mães, por favor, não façam isso. Deixem seus filhos amadurecerem.
- Claro Dona Francisca! Nem me passou outra coisa pela cabeça! -
respondi com tom cínico e com um leve sorriso no rosto, tentando ser
simpática.
Dona Francisca só não sabia ou fingia não saber, que Carolina, apesar de
já ter namorado com Renato havia uns quatro anos, tinha sido pivô de alguns
de nossos desentendimentos. Virei-me para cumprimentar outros convidados e
deixei os pais de Renato conversando com os meus pais.
Quando foi próximo das vinte duas horas, super atrasado, chegou
Renato, com Carolina, sua ex-namorada! Carolina sabia e Renato sabia ainda
mais, do meu imenso desprezo por ela.
Como ele ousava trazer aquela lambisgóia para a minha festa? Ela nem
tinha sido convidada - pensava eu raivosamente. Bom, mas isso era comum
dela. invadir festas sem ser convidada.
Renato veio me cumprimentar, com Carolina ao lado, como se ela fosse
a sua namorada. O olhar de Carolina era petulante e sua presença anunciava
uma aura de pura vitória.
Eu os cumprimentei. Dei em Renato um leve beijo na boca. Para ela, me
contive em apenas fazer um aceno com a cabeça - nunca consegui ser falsa e
nem muito política. Quando não gosto de uma pessoa, eu deixo bem claro, e
não é proposital, é algo iinstintivo - meu corpo enrijece e o tom de voz fica
cínico.
Carolina, uma mulher bonita em seus vinte quatro anos - naturalmente
bem mais madura que eu - sorrindo me deu felicitações e me entregou um
pacote de presente. Abri-o rapidamente, não tendo muito cuidado com o
pacote. Estraçalhei-o, como se Carolina e Renato estivessem em minhas
mãos. Dentro tinha uma linda echarpe. Agradeci com os olhos cheios raiva.
Puxei Renato para um canto - a echarpe ainda estava em minhas mãos, minha
vontade era estrangulá-lo com a linda echarpe de Carolina.
- O que isso significa Renato?!!! – falei entre dentes.
- Ela ligou e disse que estava sozinha em casa que resolvi ir buscá-la –
disse ele tentando ser ingênuo.
Juro! Se estivéssemos sozinhos eu teria pegado a echarpe e o teria
estrangulado. Mas na hora bateu-me uma serenidade inexplicável e tive que
tirar o chapéu para Carolina. Ela só estava tentando pegar de volta o que ela
tinha perdido. Estava jogando com as armas que tinha; a sedução e certa
quantidade de maldade.
Percebi naquele momento que ela não queria somente recuperar Renato,
mas sim me magoar. Ela sabendo da “suposta” ingenuidade de Renato, tinha
preparado tudo. Pois se fosse mesmo uma coisa inesperada, como o que disse
para Renato, como ela teria um presente, lindamente embalado para me
entregar.
Ela tinha se organizado, maquinado tudo, inclusive comprado um lindo
presente para não fazer feio na festa, me afrontar e posar de santa. Depois foi
só ligar sedutoramente para Renato e se fazer de coitadinha desolada e
abandonada. Só o boboca do Renato não percebia, ou fingia não perceber - o
que eu acho que era o mais provável, pois com seus neurônios ocupados
com os prazeres da cabeça de baixo, se imbuiu de individualismo sentimental e
não pensou em ninguém além dele mesmo, e no seu breve prazer carnal. Não
pensou que sua atitude “altruísta” em fazer o bem à Carolina me causaria
constrangimento, humilhação e ainda pior, me causaria enorme dor; na hora eu
achei que iria entrar erupção.
Renato era um homem de vinte oito anos, o que acredito que de
ingenuidade não tivesse nada. Ele era é safado mesmo, e um fraco de
sentimentos.
Muito irritada e me sentindo uma palhaça, minha mente deu um giro de
360 graus e de repente passou um filme de todas as outras safadezas que ele
aprontara durante nosso namoro. Com dentes cerrados e e quase a ponto de
chorar de tanta raiva me meio uma sensação de dejávu - uma vez tínhamos um
casamento para ir. Era o casamento de um grande amigo de Renato. Eu tinha
ficado muito amiga de Rosane, a noiva.
Rosane mandara fazer um convite em meu nome e de Renato, pois
acreditava como eu que nosso namoro era sério.
Chegou a semana do casamento e Renato começou a inventar umas
histórias que não sabia se ia porque tinha brigado com Arthur, o noivo.
- Como assim não vai? Ele é seu melhor amigo!
- Arthur é um idiota desaforado - esbravejou e depois não me explicou
mais nada.
Liguei para Rosane para saber o que tinha acontecido, mas ela também
não sabia de muita coisa. Só sabia que eles realmente tinham discutido.
- Mas vocês vão ao casamento, não vão? – perguntou Rosane aflita.
- Olha não posso dizer por Renato, mas eu vou – respondi.
Quando foi sábado, o dia do casamento, liguei para Renato..
- Oi Dona Francisca! Se embelezando para o casamento? - perguntei
- Um pouquinho – respondeu ela da forma mais simpática possível.
- Renato está? Preciso falar com ele?
- Não minha filha. Ele não está.
- Então o avise que eu vou ao casamento. Que estarei pronta às dezenove
horas, caso ele queira vir me buscar. Se ele não vier eu vou sozinha, pego um
táxi
- Tudo bem. Eu aviso.
Desliguei o telefone e fui também me organizar. Escolher roupa, sapato,
bolsa e selecionar os tons de maquiagem e o penteado...
Quando foi dezoito horas e trinta minutos, chega Renato na minha casa
todo molambento, com cara de choro dizendo que apesar de Arthur ser um
ingrato ele também iria ao casamento.
- Mas Renato, já está quase na hora de irmos e você está ainda neste
estado? Perguntei.
- Eu vou para casa correndo me arrumo e venho te buscar.
- Me espere um pouquinho já estou quase pronta, eu vou com você e
saímos direto da sua casa – disse , como forma de forma a poupar tempo.
- Não! A minha casa está uma confusão. Minha mãe e minhas irmãs
estão parecendo umas baratas tontas. Se você chegar lá elas vão ficar ainda
mais nervosas.
- Mas por quê? Não é nenhum de vocês que vai casar – falei tirando sarro.
- Sei lá, mulheres - respondeu.
Concordei e deixei-o ir se arrumar. Bater boca não adiantaria muito.
Renato ficou de me pegar às dezenove e trinta.
Tinha pedido aos meus pais para me deixarem na igreja, caso Renato não
viesse me buscar, depois para ir à festa eu arrumava alguma carona. Com o
novo acordo, falei para meus pais que eles podiam sair, pois Renato viria me
buscar.
Deu dezenove e trinta, dezenove e quarenta cinco e nada de Renato.
Quando foi dez para as oito da noite, liguei para Renato e ninguém
atendeu.
Quando deu vinte horas e trinta minutos, liga Renato dizendo que tinha
pego um engarrafamento e bláblá.
- Então eu vou direto para a festa. Me passa o endereço, pego um táxi e
nos encontramos lá – disse eu querendo agilizar a situação.
- Não! Me espere mais um pouco que eu chego aí daqui uns quinze
minutos – falou Renato.
- Tudo bem. Eu espero – meu tom de voz saiu seco e muito ansioso, pois
eu detesto chegar atrasada, seja qual for o compromisso, ainda mais em
casamento. Adoro ver a noiva entrar pela nave da igreja, toda iluminada e
radiante. Gostava de me imaginar naquela situação.
Vinte uma, vinte uma hora e trinta minutos e nada de Renato. Dez
horas. Eu estava em pânico acreditando que algo de ruim tivesse acontecido.
O pior, quando Renato esteve em minha casa tinha pegado o convite que
me foi endereçado, alegando que não sabia onde era a igreja e o endereço da
festa. Pegou o convite para olhar no mapa e assim não errar. Então estava
eu sem carona e sem endereço. Não sabia nem como orientar um taxista para
chegar à festa.
Tive que me contentar em tirar a roupa e ir dormir e esperar por uma
explicação no dia seguinte.
No dia seguinte liguei Dona Francisca atendeu.
- Oi Dona Francisca! Como foi o casamento e a festa?
- Rosana estava linda e Arthur não parava de tremer. E você, não foi por
quê?
- Uns imprevistos. E o Renato resolveu ir? Fez as pazes com o Arthur? –
perguntei de forma a obter uma resposta agradável.
- Não. Renato não apareceu. Achei que estava com você – respondeu com
firmeza e confiança na voz –uma baita de uma mentirosa, isso sim. O filho tinha
por quem puxar.
- Está dormindo. Depois eu peço para te ligar.
Como era de esperar ele não me ligou e apareceu no final da tarde
dizendo que depois do engarrafamento, furou o pneu e bláblá....
A bobona engoliu a explicação e tudo ficou bem novamente.
Depois de um mês fomos visitar Rosane e Arthur em sua casa nova.
Arthur e Renato ficaram na varanda tomando cerveja, enquanto eu e
Rosane fomos para a cozinha.
- Por que não foi no meu casamento? – Ela perguntou com voz
entristecida.
- Você nem sabe o que aconteceu! Eu estava pronta para ir e de
repente.... expliquei tudo que tinha acontecido e ela foi ficando boquiaberta e
vermelha.
- Eu sabia! Eu disse para o Arthur que era mentira. Que mesmo se vocês
tivessem terminado você iria ao casamento. Você não é mulher de ficar
chorando pelos cantos, ainda mais por este traste do Renato – a voz de Rosane
era de pura raiva
- Como assim? Do que você está falando?
- Renato foi ao casamento e com outra menina, uma horrorosa
desajeitada!
- O quê?
- É, ele disse que vocês tinham brigado e terminado o namoro.
- Que cachorro! Ele me paga! Além de mentiroso era idiota. Tinha me
levado justamente na pessoa que poderia me contar tudo.
- Renato, então quer dizer que você foi ao casamento? – a voz estava
furiosa, mas na verdade eu estava com raiva de mim mesma.
- É fui. Quando vi que não ia mais dar tempo de te buscar eu fui – disse
ele com um sorrisinho idiota na cara.
- Claro, e a garota que estava junto com você foi tirada de dentro do pneu
que furou, certo?
- Você é um safado e mentiroso. Fez-me de idiota e ainda levou uma
desconhecida à festa de casamento do seu amigo em vez de mim que fui
convidada pelos noivos. Não acredito!!!
Arthur entrou no meio da conversa e disse que a briga deles tinha sido
justamente por isso. Porque ele tinha ligado para Arthur para pedir permissão
para levar outra menina ao casamento. Como não tinha dado permissão ele
inventou que tinha terminado o namoro.
Meu desapontamento era tão grande que pedi para Arthur e Rosane me
levarem para casa. Ambos foram super solícitos e gentis. Rosane queria
esmagar a cabeça de Renato de tanta raiva e eu queria ajuda - lá e junto com a
cabeça também estraçalhar o corpo. Mas como sempre deixei de fazer o
escânda-lo que queria e fui me fechar no meu quarto e chorar pela humilhação.
Não por Renato porque esse não merecia, mas pela forma que eu estava me
deixando ser tratada.
Uma semana depois Renato chegou com uma explicação idiota, que nem
me lembro mais. O fato é que reatamos novamente e eu continuava sendo
humilhada da forma mais vil possível. Ele estava acabando com meu amor
próprio.
Tempos depois descobri que a garota do casamento, era Carolina.
Dejavu passando e ainda mais furiosa e tomando consciência da idiota
que fui e de como tudo estava acontecendo novamente e percebi que eu é que
era a burra naquela história. Já tinha considerado tantas outras safadezas. Por
que não mais uma? Pelo menos devia ser assim que a cabeça de Renato estava
pensando, se é que ele pensava. Se eu me deixava ser humilhada o porque ele
não me humilharia. Ainda mais sendo sádico. A madlade vicia.
Desta vez não! – pensei.
Carolina e Renato tinham se esquecido que tinham vindo para o meu
lado do campo. A festa era minha! Ninguém me faria de idiota, ainda mais
naquele dia tão especial para mim e para meus convidados.
Eu era o centro das atenções! E sem falsa modéstia eu estava gloriosa!
Usava um vestido longo em cetim perolado. Lindo! O vestido tinha uma
abertura generosa que descia até o final das costas, mostrando o tom dourado
de minha pele.
O cabelo escuro e longo, preso ao lado, tipo um trançado grego davam a
mim o aspecto de uma Deusa. E na verdade eu estava me sentindo a própria
Deusa da Beleza - Afrodite. Isso é claro, até Renato chegar com Carolina.
Naquele instante, eu me senti a pior das mulheres. Por alguns instantes eu achei
que não iria agüentar a humilhação e tive vontade de sair correndo. Não sei por
que me senti desse jeito, mas ainda bem que esse sentimento durou pouco.
Foi exatamente naquele momento entre humilhação e revolta interior
que me dei conta de que eu não podia me sentir a culpada e muito menos ser
vítima de um homem sem noção de respeito ao próximo. Não podia me deixar
abater por causa daqueles dois escroques. Eles não conseguiriam me
constranger e me deixar infeliz no dia em que completava dezoito anos.
Naquele momento eu deixava de ser uma menina boba para me tornar
uma mulher com todas as dores e responsabilidades que me eram atribuídas.
Retomei minha altivez e minha sensatez. Eles não iriam tirar minha glória.
Engoli seco. Dei as mãos para Renato e comecei apresentá-lo a todos como meu
namorado. Tudo isso aconteceu em fração de segundos. Entre querer
estrangular Renato e perceber que não dava, pelo memos não no sentido
literal da palavra.
Cheguei para meus tios que estavam sentados ao lado da mesa em que
Carolina estava e apresentei Renato como meu namorado. Carolina fervilhou e
eu gargalhava por dentro pensando - chumbo trocado não dói.
Levei Renato para minha mesa na qual estava minha família. Na mesa ao
lado estava os pais de Renato e meus tios. Carolina ficou sentada em uma mesa
sem conhecer ninguém. Não foi proposital. Mas só pude pensar que o acaso
ajuda que tem coração bom e vontade justa de vingança. Pena que não tinha
mais espaço na mesa das crianças, se não ela teria ido com certeza, para essa
mesa.
Será que ela achou realmente que iria invadir minha festa e ainda sentar
ao meu lado e de Renato, ou só ao lado de Renato como se ela fosse a
homenageada?
Jantamos e a pista de dança foi aberta. Eu graciosamente saí de meu
lugar, peguei as mãos de Renato e fui para a pista de dança, atrás de nós vieram
meu irmão, minhas irmãs e meus amigos que são ótimos dançarinos. Em cinco
minutos a pista de dança estava lotada e eu me divertia muito. A dança e a
música são um santo remédio para um coração ferido, pelo menos para meu.
Carolina descaradamente veio como quem não quer nada dançar ao
nosso lado. Imediatamente meus amigos percebendo a intenção da cobra,
intervieram e se colocaram entre ela e Renato. Deixando assim que ela
dançasse somente com desconhecidos.
Depois de dançar muito eu me sentia mais leve, parecia que minhas
preocupações tinham ido embora. E na verdade elas realmente tinham ido. Eu
já estava com minha decisão tomada e ela seria definitiva.
A festa em seus momentos finais, os pais de Renato vieram se despedir.
Eu mais do que rápido pedi-lhes um favor:
- Dona Francisca, será que a senhora pode levar a Carolina para casa? -
perguntei suavemente.
- O Renato a trouxe, mas quem ele vai levar para casa sou eu – sorri
maliciosamente.
- Claro filha! Nada mais justo – respondeu Dona Francisca também se
divertindo.
Renato abobado sorriu sem graça. Dei-lhe um beijo estalado no rosto e
segui com Dona Francisca até Carolina. Comuniquei-a, quase a expulsando da
festa, que se ela quisesse ir embora a Dona Francisca a levaria.
- Renato será meu pelo resto da noite - acrescentei sorrindo.
Os olhos de Carolina escureceram de raiva e me fuzilaram.
Entreguei a ela um pacote, dizendo que era a lembrança do aniversário.
Ela abriu o e me olhou assustada.
Eu lhe devolvia a echarpe com o seguinte bilhete: O que vem ou veio de
você eu não quero! Obrigada pela presença.
Ela desconcertada, agradeceu dizendo que a echarpe era linda. Quem
nos visse pensava: - Nossa! Que damas! Parecem até amigas de infância.
- Realmente ela linda, de ótimo bom gosto, mas a origem é
duvidosa.disse. Não menti, eu realmente tinha gostado da echarpe. Só que
Carolina em seu plano imaturo e recalcado se metera com a pessoa errada, e no
dia errado.
Saiu ela e Dona Francisca. Eu fui até Renato, o abracei e puxei-o para
pista de dança para não dar tempo de Carolina se despedir. Eu ainda o instiguei
dizendo:
- Renato, dê tchau para Carolina, ela está indo embora. Ele do meio da
pista acenou com a mão um tchau desconcertado.
Ficamos na festa mais uma meia hora. Meus pais organizaram no carro os
presentes e se despediriam. Logo atrás saímos eu e Renato.
Pedi que ele me levasse para casa, pois estava muito cansada. Não era
mentira. Eu estava cansada no físico, no emocional e principalmente na
mente. Ser prática e malvada requer um esforço metal impressionante.
Durante todo o período da festa eu me divertia, mas também bolava
minha vingança. E foi doce, muito doce! Tudo tinha dado certo. Nada como
autoconfiança desencadeada pelo instinto da autopreservação.
Fomos para casa. Ele reclamando é claro. Devia estar se contorcendo de
raiva, pois tinha perdido uma transa fácil com Carolina. E provavelmente
pensava como Ele, um homem de vinte oito anos e com necessidades físicas
pungentes – sim, por que é só nisso que a maioria dos homens pensam. Em suas
necessidades físicas - tinha que levar para casa uma debutante envelhecida.
Já com o carro estacionado em frente de casa, ele pediu desculpas pelo
atraso na festa - podia ter parado por aí, mas não, ele teve que acrescentar uma
pequena explicação:
- Desculpa ter levado a Carolina sem te consultar antes, mas foi tão de
repente e ela parecia tão triste em casa sozinha – disse ele se explicando com
cara de cachorro pidão. A voz dele nessa hora já estava me dando náuseas.
- Tudo bem, tudo bem Renato. Agora já foi – falei tentando ser
displicente. Mas na verdade meu coração estava em pedaços, pois eu não
queria saber se era pura ingenuidade ou se era safadeza. Ele não podia ter feito
aquilo e pronto!
O melhor é que meu plano já estava em bolado e já tinha sido colocado
em prática. A magoa era tão grande que nada me faria voltar atrás. Eu seguiria
em frente.
Falei de como estava feliz com a festa, que todos tinham aparecido. Que
tinha ganhado presentes ótimos.
Rapidamente ele se defendeu dizendo que tinha esquecido meu presente
em casa e no outro dia ele me entregaria.
Falei que não tinha problema e sensualmente levantei meu vestido até a
altura das coxas, as quais eram rijas e provocantes – dezoito anos gente, nessa
idade tudo é firme e provocante.
Em seu ouvido falei baixinho:
- Advinha, advinha quem é a aniversariante que não usa calcinha?
Renato arregalou os olhos e sorriu.
- Sério. Você está sem calcinha?
- Claro! Por acaso você queria que a calcinha deixasse marca no meu
lindo vestido de cetim?
Levantei do meu assento. Sentei em seu colo e encaixei-me
sedutoramente como uma garota pervertida. Ele estava adorando o desenrolar
da nossa conversa. Mordisquei sua boca e sussurrei:
- Você será meu presente de aniversário, e eu o quero em uma linda
bandeja! - beijando e mordendo sua orelha falei que ele também ganharia um
presente.
Renato ficou todo animado com o desenrrolar da sedução.
Maliciosamente me comprimi em seu quadril. Dei – lê um beijo
usurpador na boca e perguntei se ele estava gostando. Quando percebi que ele
já estava louco de desejo, me levantei de seu colo, com olhar sedutor, abri a
porta do carro e saí. Dei a volta pedi que abaixasse o vidro. Dei-lhe mais um
beijo e disse friamente:
- Agora pode ir embora! E vai sabendo o que perdeu! Por que eu não te
quero mais! E é para sempre.
Renato ficou me olhando com cara de bobo.
- Como assim? perguntou.
Minha vontade era falar tudo o que estava engasgado. Mas como tinha
certeza que se começasse não pararia e daria brecha para ele se defender,
resolvi não arriscar.
- Eu estou terminando nosso namoro. Se é que um dia isso foi um namoro.
- Acabou! Obrigado por me dar todos os motivos.
Sem entender direito o que tinha acontecido ele respondeu furioso:
- Está bem! Você quem sabe! – ligou o carro e partiu cantando pneu.
Eu entrei em casa e chorei muito. E foi neste momento que pedi a Deus,
com todas as minhas forças que Ele me arrumasse um Homem Decente.

5. O MENINO

Sozinha e triste há mais de cinco meses – eu me recusava a ficar


com qualquer um que aparecesse na minha frente, até porque era
justamente nessa euforia de cessar a dor e de querer curar um amor com
outro amor, que acabava sempre me dando mal e arrumando somente
trastes. Não observava e nem analisava direito o indivíduo e muito
menos puxava a sua ficha corrida emocional , para assim obter
informações concretas quanto ao seu caráter.
Renato com dor de cotovelo, estava atrás de mim o tempo todo.
Não largava do meu pé, e enchia o saco quase que diariamente se
desculpando e pedindo que eu o perdoasse.
As investidas de Renato eram realmente cansativas. Ligava-me
duas, três vezes ao dia. Aparecia no colégio para me buscar. Perseguia-
me nos lugares. Ia até minha casa e falava com meus pais para
intercederem junto à mim - meus pais até tentavam, mas eu fingia que
não era comigo. Para mim o tinha sido a gota d´água ele ter levado
Carolina em minha festa de aniversário. Eu não queira mais ver aquele
traste nunca mais.
Em uma noite de sexta-feira Fernanda, uma amiga do colégio, me
convidou para ir a um bar, logo após o termino da aula. Retorci o nariz e
disse que não estava afim. Sabe aqueles dias em que você não quer
nada com nada; sair então seria a última das coisas. Estava cansada,
irritada, de saco cheio de homens babacas. E eu sabia que Fernanda
queria sair justamente para paquerar – e isso é o que menos eu queria.
Não estava no clima e nem de bom humor, e quando estou assim não
sou uma boa companhia.
Fernanda começou a implorar e fazer biquinho para eu ir com ela
no barzinho, ela queria encontrar um rapaz que a tempos ela vinha
azarando. Eu achava aquela técnica de Fernanda muito arriscada e
impulsiva. Mas ao se tratar de Fernanda tudo é impulsividade pura. Ela
não pensa muito nas conseqüências. Ela quer o hoje e o agora. O
amanhã ela resolve outro dia.
Eu quando me interessava por alguém tentava pelo menos
observar se o rapaz me daria opções de conforto naquela noite.
Exemplo: levar-me para a casa de carro, pagar minha conta. Fernanda
não. Ela só olhava a beleza. E eu já tinha sacado o cara. Sabe aqueles
bonitões, mas cafajestes que nem fazem questão de esconder que são.
Pois bem, Fernanda tinha marcado encontro justamente com um tipo
desses.
Eu me achando a migalha do pacote da pipoca murcha, me imbui
de forças e fui com Fernanda ao barzinho – como ia deixar minha amiga
sozinha com um tipo desses? Não dá né? Amigas precisam e devem dar
apoio as amigas impulsivas, cegas e surdas, já que conselhos, quanto se
referem a homens elas nunca conseguem ouvir. Se ouvem fazem tudo
ao contrário. Coisas de mulher.
Achando tudo um saco, entrei no bar com a cara mais amarrada
possível. Quem me olhasse acharia que eu era a guarda costa sapatão
de Fernanda, pois minha postura era tão rígida e severa que acredito não
poder haver outro tipo de pensamento a quem quer que me olhasse.
Pedimos uma cerveja e sentei emburrada em um banco do lado de
fora do bar. Fernanda, consternada com minha birra veio conversar
comigo e de repente aconteceu...
Deus é mesmo maravilhoso!!!!
Do outro lado do corredor apareceu um Menino de terno.
Eu adoro homens de terno. Tudo bem que esse não era nnenhum
Hugo Boss, seu corte não era tão refinado, mas servia para deixar um
homem mais elegante.
Eu o olhei de forma insistente e interrogativa e comecei a falar com
Fernanda e logo em seguida começamos a rir. A minha expressão
guarda costa “sapatão” se moveu para uma sensação de conforto e pura
adrenalina. Eu estava feliz. e o riso é um santo remédio. Minha
expressão carrancuda se desfez de imediato – meu Deus eu sou bi-polar
- pensei de imediato e em choque, com a minha nova descoberta. Como
posso sair de um azedume enorme, para um riso tão reparador. O
pensamento logo se desfez e eu em uma aura de pura leveza sorria e
cochichava com Fernanda que a esta altura estava adorando todo o
ocorrido.
Vendo os risinhos e cochichos e tendo certeza que tudo se devia a
sua presença , o Menino ficou todo inflado de si e começou a devolver os
olhares; e eu comecei a ficar desconfortável com aquele assédio.
O Menino achou que eu estava flertando com ele, mas nem sequer
podia imaginar o que eu e Fernanda estávamos comentando.
Além do terno, extremamente grande para seu corpo miúdo o que
me chamou a atenção no Menino foi seu rosto. Era um rosto doce,
jovem, porém com um olhar forte, perturbador...sedutor até; mas o que
mais me incomodou nisso tudo é que ele tinha e ainda tem, o rosto do
meu sobrinho. Meu sobrinho na época tinha apenas dois aninhos.
- Como ele é lindo...! Tirando o terno que estava enorme em seus
ombros -falei. Até parece criança quando pega roupa do pai, sabe? Ele
estamuito engraçado.
- Olhe como é marcante o seu rosto! – falava com em puro êxtase,
na voz.
- É ele é bonito sim, mas nada de mais. Parece muito novo – disse
Fernanda.
- Tem razão. Mas seu rosto....é lindo!
- Tem rosto de neném – replicou.
- É isso! Ele tem rosto de neném, mas tem algo mais. Seu rosto,
sua atitude é forte, é inocente.
- Claro! Ele parece com seu sobrinho – lembrou Fernanda, e nós
caímos em risos.
- Você se interessou por um rapaz que tem o rosto do seu
sobrinho? Isso é incesto. - Fernanda ria.
- Não! Mas não é só isso. Tem algo diferente - resumindo o Menino
tinha um rosto de neném sim, só que com expressões muito poderosas e
marcantes.
Esses comentários descontraídos chamaram a atenção do Menino
e ele achou que eu estivesse interessada nele. Após algumas cervejas e
com o bar já muito movimentado e todos cantando o som de Alceu
Valença “ morena tropicana, eu quero seu sabor, ahh iaiaiô”, olhares
sedutores entre o Menino e eu começaram a ser trocados.
Não me culpei, afinal fazia cinco meses que eu estava sem
nenhum namorico. Que tipo de mal poderia haver em flertar um pouco.
De repente me senti impelida a ir urgente ao banheiro, a cerveja
fazia efeito. Muito líquido e lúpulo.
Quando voltei, fui barrada na escada pelo Menino, que com uma
cara super preocupada me perguntou:
- Moça será que você pode me dar uma informação?
- Claro se puder ajudar - respondi solícita e visivelmente
atordoada.
- Qual o seu nome - perguntou ele em um tom muito sério e
preocupado.
- Sofhia Martins - respondi meu nome completo por que achei que
ele estava me confundindo com alguém.
- Você pode me acompanhar, por favor? Até ali. - apontou para o
banco onde eu e Fernanda havíamos sentado. Era um banco escondido
em um canto meio escuro.
Eu o acompanhei e ele rindo me disse que precisava de socorro,
pois tinha uma moça GORDA e horrorosa querendo agarrá-lo dentro do
bar. Ele queria saber se poderia se esconder atrás da minha linda
cabeleira.
Eu comecei a rir. Ele conseguiu quebrar o gelo de uma forma tão
original - a cantada foi o máximo! Nunca tinha ouvido uma cantada
desse tipo.
Ao nos sentar começamos a conversar e logo surgiu uma
discussão entre nós. Eu como boa capricorniana que sou, refuto todas as
discussões. Isso às vezes me atrapalha e me incomoda. Porque nem
sempre temos que emitir uma opinião sobre tudo. Mas quando vejo já
falei...
Entramos em um assunto de trabalho, dele. Eu perguntei a ele
qual era a sua profissão - o lado prático aflorando – ele me respondeu
dizendo que era consultor tributário – interroguei-o querendo saber
exatamente que profissão era aquela.
De uma forma muito didática ele me explicou dizendo que o seu
trabalho consistia em ajudar legalmente, empresas a pouparem dinheiro
tomados pelas altas taxas de impostos.
- As leis brasileiras quando se referem à impostos deixam muitas
brechas, as quais sabendo utilizar, podem trazer grandes benefícios às
empresas.
Eu fiquei furiosa! Comecei a debater perguntando como que ele
podia ajudar as empresas sendo que nós assalariados pagávamos tantos
impostos e as empresas conseguiam se livrar assim, desta forma fácil.
Minha indignação era concreta, porque eu ouvia constantemente meus
pais reclamarem da quantidade de impostos que lhes eram tirados a
cada salário que recebiam. Eu também era assalariada, nessa época, só
que de outra forma; eu era estagiária em uma instituição sem fins
lucrativos.
Na verdade ele podia ter desconsiderado todo aquele blá, blá...
Afinal eu estava embriagada. E bêbados falam coisas nada haver.
Mas ele não. Ele foi gentil e me explicou que por ser feito tudo
dentro da lei, não era tão simples e que dava muito trabalho, mas quando
bem feito rendia uma boa grana, tanto para as empresas como para
quem fazia o trabalho.
Blim! Uma luz ascendeu. Se ele ajudava a poupar tanto dinheiro
para as empresas, inteligente, ele era e, provavelmente ser consultor
tributário era uma profissão valorizada economicamente.
Amenizei minha ira e começamos a falar de coisas mais tranqüilas
e engraçadas como a GORDA. O assunto tirou boas risadas, pois toda
vez que a GORDA aparecia no corredor ele se escondia atrás de mim.
Nas escondidas, carinhos foram roubados.
Fernanda cansada do bonitão cafajeste, estava ficando irritada - o
sujeito passava, descaradamente, cantada nas outras garotas na frente
dela - veio me chamar, queria ir embora. O combinado era que eu iria
dormir em sua casa. Mas eu não estava nenhum um pouco afim. Eu
queira minha cama. Dormir apertada no humor que eu estava não fazia
minha cabeça, nem depois de umas cervejas.
O Menino interveio e se ofereceu para levar-me para casa. Eu
aceitei prontamente. Fernanda ficou furiosa. Levamos Fernanda ao ponto
de ônibus e ficamos sozinhos, eu e ele. Conversamos mais um pouco e
pedi para ir embora.
O bar era no centro de Curitiba – rua XV de Novembro - saímos
em direção a minha casa. Disse que morava no Campo Comprido. Ele
não fazia idéia de onde ficava esse bairro. Expliquei o caminho, ele ficou
preocupado, não conhecia a região e era bem distante - também pudera
há uns 15 anos a região em que eu morava era meio desprovida de
habitação. Tínhamos somente como referência o Carrefour e o
Condomínio Residencial “PALAIS LAC LEMAN”, chiquérrimo na época. Hoje o
bairro Campo Comprido é uma “cidade” de prédios e condomínios de alto
padrão.
Seguimos em frente e chegamos ao meu bairro.
- Longe! – resmungou o Menino.
Ele estacionou na frente da minha casa, conversamos mais um
pouco e ele se despediu dizendo que iria viajar cedo para Goiânia, iria
levantar dados para um projeto tributário.
Meu lado prático e sensual aflorou.
No tempo em que ficamos conversando puxei a ficha corrida. O
Menino tinha faculdade de economia, tinha profissão, tinha carro e algo
me dizia que ele era descente - afinal, Deus não me abandonaria, pois
eu tinha lhe pedido tanto um homem bom. E acho que se não fosse para
ser desta maneira ELE, não teria colocado o Menino na minha frente. E
em uma fração de segundos pensei como tudo aconteceu - a forma, foi
tudo tão estranho: Um cara magnificamente perturbador, só que com
rosto de neném e ainda por cima parecido com meu sobrinho. Acredito
que Deus só fez isso para chamar a minha atenção... ELE sabe que sou
avessa a garotos. Sabe que se não tivesse algo familiar e perturbador no
Menino eu jamais o olharia. Eu tinha lhe pedido com toda força do meu
coração um Homem de verdade, decente e sincero em sentimentos, e
que pudesse zelar por mim e pela família que construiríamos, tanto
financeiramente como emocionalmente. ELE sabe que gosto de homens,
com jeito e cheiro de homem... eu tinha lhe pedido e isso e ainda mais,
além de homem, um Homem Decente. Será que é este? Este Menino
com rosto de neném, mas responsabilidades iguais a de homens de
verdade? Minha cabeça girava em pensamentos repetitivos e
questionamentos. Avaliado os pormenores, resolvi arriscar e colocar meu
lado sedutor para trabalhar.
Dei-lhe um beijo usurpador de despedida e um abraço intenso, no
qual meu seio que não é lá grande coisa, pode ser sentido com todo
fervor.
Ao soltá-lo do beijo vi em sua expressa, algo interessante - tipo um
ufa... o que foi realmente isso? - achei realmente, que aquele encontro
iria ficar por ali, naquele beijo ursupador.
Estava errada, o beijo fez efeito. Em seguida o Menino perguntou
como poderia entrar em contato comigo novamente, porque assim que
chegasse de volta de Goiânia faria contato.
Eu dei o número de telefone de onde trabalhava, ficava mais
tempo no escritório que em casa. Querendo ser gentil e não perder o
hábito, também pedi o número de telefone dele. Ele me entregou um
cartão. Nicholas Stéfano – Consultor Tributário - ele tem até cartão,
chiquérrimo! - pensei.
Meu padrão estava subindo, e era isso que eu estava gostando
naquilo tudo - homens de terno, profissional formado, que tinha futuro -
perdida em meus pensamentos Nicholas me chamou e pediu novamente
o número do meu telefone.
Voltando a mim, percebi que não tinha nada para anotar, nem
caneta, nem papel. O único material disponível no momento era um lápis
de olho e um pedaço de papelão que estava no carro.
Para não perder o homem da minha vida eu criei o meu cartão
particular. Rasguei um pedaço do papelão.... e sim, eu estraguei um lápis
de olho novinho!
Escrevi o meu nome, de modo a não criar confusão com números
de outras garotas, ao lado o número de telefone de onde trabalhava.
Aguardei uma semana, quando não tive retorno, liguei. Achou
meio desesperado?
Na verdade não é não! Tinha pra mim que ele seria o homem da
minha vida - lado romântico aflorando – e no amor e na guerra diz que
vale tudo, não é? – na verdade ,mais ou menos. Nem tudo é tão
permitido assim. Existem formas certas de se fazer as coisas.
Pensei comigo que se tinha tido coragem para descartar um
homem, porque não poderia ter coragem para buscar outro. Depois disso
comecei a acreditar que as mulheres devem fazer seus caminhos e não
esperar por eles.
A secretária de Nicholas atendeu – ele tinha secretária gente - e
explicou que ele ainda estava em Goiânia, que havia aparecido mais um
projeto e que ele teve que ficar para dar continuidade ao trabalho - qual
secretária em sã consciência dá todas essas informações, a uma pessoa
que nunca ouviu falar? Eu pensava feliz que só podia ser Deus fazendo
sua obra.
Pedi para que ela anotasse meu nome e meu telefone e que se
possível passasse o recado para ele – “O seguro morreu de velho....”
quis me garantir. Afinal, eu tinha anotado meu telefone em um pedaço de
papelão, com uns garranchos de lápis de olho. Era bem possível que a
mãe dele ao vasculhar o carro jogasse o arremedo de cartão fora. Vou
eu lá saber se a velha era boazinha ou uma mãe prá lá de ciumenta. Eu
hein! Não quis marcar bobeira e pedi que a secretária anotasse meu
recado.
Minha parte tinha sido feito. Agora era só esperar. Passou uma,
duas, três semanas, NADA! Já estava desistindo quando o telefone tocou
e adivinha quem era? O Menino! Espera, espera... deixa eu corrigir –
Não era mais o Menino e sim, Nicholas Stéfano.
Ele pedia desculpas e explicava que tinha acabado de voltar de
viagem e que assim que recebeu o recado ficou muito feliz e por isso
estava ligando – amém à secretária eficiente! Depois de quase um mês,
ela se lembrou de passar o recado. Obrigado! Célia, é o nome dela.
Marcamos um encontro para o sábado. Íamos a uma casa de
pagode com minha prima e o namorado dela. Em 1998, as casas de
pagode estavam em alta e eu para variar, tenho não só um, mas os dois
pés na ladeira.
Ele me explicou que só poderia ir me pegar às vinte duas horas.
Tinha o churrasco de um amigo para ir - tudo bem, afinal casas de
pagode não abrem às dezoito horas, mesmo. Acho que ele não é íntimo
dessas baladas - pensei comigo.
Esperei, 22h, 22:15, 22:30, 23h. Liguei para o celular dele para
saber o que tinha acontecido - ele poderia ter se perdido, afinal de contas
como ele mesmo disse, eu morava longe e era noite, blá,blá...,
resumindo, poderia não se lembrar do caminho.
Nicholas atendeu.
- Oi! É Sophia. Está tudo bem? Por acaso está perdido? –
perguntei descarregando um monte de perguntas
- Não! Aconteceu um imprevisto, mas já estou saindo.
Ao fundo, no telefone eu ouvia risos e um pessoal gritando.
Perguntei se ele ainda estava no churrasco e ele me disse que sim.
Quando ele respondeu afirmativamente, me subiu o sangue e eu
comecei a dizer impropérios. Perguntei a ele o que ele estava
pensando....
- Escuta aqui, eu estou toda arrumada, gastei meu batom, meu
perfume para um cara que vai me dar o “bolo”?
- Não. Estou indo – respondeu ele nervoso.
- Não precisa! Já está muito tarde e agora perdi a vontade. Vou
dormir – disse asperamente
Nicholas imediatamente se desculpou e perguntou se poderia ir à
minha casa no domingo.
- Pra quê? - perguntei brava.
Nicholas educadamente me respondeu que era para se redimir.
Mal humorada, respondi que ele que fizesse o que bem entendia.
Ele respondeu que às quinze horas estaria na minha casa.
Chegou o domingo e eu comecei a ter cólicas de nervoso
pensando se ele viria mesmo, ou não.
Ele não vem – pensava eu. Imagina... que homem em sã
consciência viria?
Eu disse tantos desaforos. Eu tratei o cara, daquele jeito... Era
óbvio que ele não viria - minha cabeça girava em pensamentos
negativos.
14:30h. Sentada na varanda com minha família, toda descabelada
e com uma roupa que mais parecia um pijama. - era domingo e o
“homem da minha vida” tinha me dado um bolo. Eu tinha que estar me
sentindo péssima - o aspecto condizia com isso. Eu estava horrorosa!
14:45h. Deu-me um estalo.
Vai que ele aparece mesmo?... e eu aqui nestes trajes... Fiquei ali
uns dez minutos com meus botões. Vou ou não vou me arrumar?
Fui. 14:55 entrei para dentro de casa.
15:00h. Estacionou um carro na frente da minha casa. Desce
Nicholas e pergunta por mim. Minha irmãzinha, oito anos, grita....
Sophia.... seu namorado chegou!
Foi cômico. Imaginei a cena dele arregalando os olhos e
pensando, como...? Namorado? Mal a conheço! Nem lembro do rosto
dela direito, e agora sou o namorado!
Pedi a minha irmã para avisá-lo que estava no banho e que em
quinze minutos ficaria pronta.
Bom, a minha vingança não poderia ter sido mais açucarada –
pensava sorrindo. Deu-me o bolo, agora terá que esperar quinze
minutos sentado ao lado de minha mãe. Tempo suficiente para ela
descobrir tudo sobre a vida dele - minha mãe não deixaria Nicholas sair
ileso dessa.
Ciente do martírio em que Nicholas se encontrava, fiquei pronta em
exatamente quinze minutos, conforme combinado. Nunca me arrumei tão
rápido.
Apareci na porta da varanda e ele me olhou de cima em baixo e
veio me cumprimentar com um beijo no rosto. Ao se aproximar
aproveitou para dizer que eu estava linda.
Eu usava calça jeans, babylook bege com flores enormes em tons
de azul piscina. Até aí nada de mais. O motivo dos olhos arregalados de
Nicholas se dava por que o tecido da camiseta era transparente, desse
tipo meia calça, só que um pouco mais grosso, mas mesmo assim
deixando transparecer de forma insinuante, a forma do meu corpo e os
detalhes da renda do sutiã.
Quando o olhar de Nicholas me encontrou eu me senti
desejosamente aparente. Vale mencionar que esse tipo de roupa se
usava muito na época, eu tinha dezoito anos, corpo magnífico e era
malvadamente sensual - apesar do nosso primeiro encontro que foi
puramente casual, mas engendrado por DEUS, nada mais era feito sem
que eu estivesse ciente dos meus atos e do que eles poderiam me
acarretar. Eu queiria jogar com uma arma muito poderosa, que era a
sedução. O alvo, o coração de Nicholas.
Não posso dizer que a impressão que tive de Nicholas, fosse tão
desejosa assim, quanto a que ele teve de mim.
Ele estava de camisetão, calca de moleton surrada e jaqueta
jeans. Sabe... aquelas jaquetas jeans de 20 anos atrás?? Pois é, essa
mesma! Eu morena, alta, linda e sexy ao lado de um Sherek - não que
ele fosse feio. De forma alguma. Ele tinha traços lindos e bem definidos,
apesar do rosto de menino, mostrava e transpirava segurança de homem
responsável. O que incomodou mesmo foi a vestimenta. As roupas o
faziam ficar desajeitado, feito um ogro. Mas nada que um pouquinho de
toque feminino e o tempo não desse jeito.
Bom, peixe fisgado. Fomos ao Parque Barigui. Não tinha uma
pessoa que não olhasse. Não sei dizer se era por causa do casal
estranho que formávamos ou porque eu estava radiantemente desejosa
a todos os olhos masculinos, e terrivelmente altiva, talvez até esnobe,
para os olhares femininos O fato é que ambos estávamos nos sentindo
bem, e muito bem obrigado! Eu, por estar confiante, afinal de contas,
depois de brigar tanto ao telefone com Nicholas, ele apareceu às quinze
horas em ponto, na minha casa. Sinal de que realmente estava
interessado – isso faz qualquer mulher ficar confiante.
E ele felicíssimo por eu não ser uma “baranga” tremendamente
horrorosa e ainda assim poder me desfilar orgulhosamente para todos no
parque como um troféu.
Quanto ao baranga são palavras dele. Ele confidenciou, que
estava terrivelmente preocupado com o fato de não se lembrar como eu
era.
Não sabia se era bonita, feia, desdentada, vesga. Só sabia que eu
era morena e com uma risada gloriosa. Sem falar, que não sabia se iria
conseguir chegar à minha casa. Como estava alcoolizado no dia que me
ofereceu carona, não conseguia lembrar direito o caminho. Chegou na
tentativa e erro.
Ele contando tudo isso, na maior simplicidade me fazia rir muito.
Eu gargalhava e ficava cada vez mais encantada com ele. As horas
passaram e não nos demos conta. Ele foi tão autêntico e divertido que
não teve como não aceitar o convite dele para jantar. Havia tanto ainda a
ser dito.
Mas o ponto alto da nossa conversa foi ainda no parque - essa eu
tenho que dividir. Andando e conversando, o celular dele tocou e ele
atendeu. Era uma garota.
Eu percebi pelo modo como ele falava. Ele dizia:
- Não, hoje não vai dar. Estou no meio de um compromisso. Não,
hoje não! Depois eu te ligo, nos vemos outro dia – quando as respostas
são vagas e sérias pode saber que tem mulher na jogada.
Ele desligou e eu perguntei quem era.
- É uma louca – disse ele.
- Acredita que essa garota grudou em mim. Dou graças a Deus de
estar aqui com você. Ela queria me ver hoje de qualquer maneira. Você
não sabe da maior, ela me ameaçou no telefone.
- Ela é “louca, louca, louca” - dizia ele.
E eu me divertia com a história. Continuou a contar que estava
saindo com essa garota, mas que não tinha nenhum compromisso sério
com ela. E que dias atrás ela tinha surtado.
- Nós voltávamos do motel e ela encasquetou que eu a estava
traindo. Eu falei que não e que se estivesse, qual seria o problema, afinal
de contas não tínhamos nenhum compromisso, era sexo por sexo –
explicava ele.
- De repente a louca grudou no meu cabelo e começou a puxar e
gritar, eu dirigindo tentando tirar a louca de cima de mim e ela grudava
ainda com mais força.... quase bati o carro!
Enquanto ele contava fazia gestos com as mãos e mímicas,
parecia que estava dentro do carro com a louca em cima da cabeça
dele. Ao contar tudo isso e a forma como contou. Eu caí na risada, eu
não me segurava, não conseguia me conter, eu ria tão alto, tinha
convulsões imaginando a cena dele tentando se livrar da louca e ainda
tentando dirigir o carro.
Todos que passavam no parque paravam para olhar.
Ele era, e é muito engraçado, ele conta as histórias e ainda faz a
atuação - pense na cena, e me diga se não é dos outros olharem - um
cara se estremecendo todo no parque tentando tirar uma louca
imaginária da sua cabeça e uma garota gargalhando, quase de joelhos,
segurando a barriga de tanto que ria.
Depois de uma tarde tão divertida, é claro que eu iria dar mais
crédito para o Sherek. Sabe-se lá o que o jantar reservava? Se fosse
para continuar rindo daquele jeito, já valia à pena.
Fomos ao Pamphilha, restaurante tradicional de Curitiba que serve
comida italiana e sopas. A noite foi super agradável e ele continuou
contando fatos de sua vida, só que de uma maneira divertida e sedutora.
É claro que o ambiente escuro e a luz de velas propiciavam melhor esse
clima. Mas ele, o Menino, era encantador. Nesta noite aconteceu o
segundo beijo e vários outros no decorrer da noite.

5 – O Pedido

Eu estava com dezoito anos e fazia o quarto ano técnico prótese


dentária, no Colégio Estadual do Paraná, estudava à noite e saia por
volta das dez horas e quarenta da noite. Chegava em casa quase meia
noite.

Nos dias seguintes ao encontro do parque eu e Nicholas nos


falávamos diariamente por telefone, duas ou três vezes por dia.
Na quarta feira daquela mesma semana fomos almoçar juntos. Ele
me buscou no consulorio e seguimos para o restaurante. Ficamos
nesses encontros pelo menos duas semanas; quando do nada, eu
saindo para almoçar, Nicholas estacionou na frente do escritório e me
chamou. Levei um susto. Não tínhamos combinado de almoçar naquele
dia. Aproximei-me do carro e lhe dei um beijo.

- Quer almoçar comigo? - ele perguntou

Falei com minhas colegas que estavam me aguardando e expliquei


que não poderia almoçar com elas, e entrei no carro.

Comecei a ficar apreensiva, pois tinha percebido em sua voz, um


pouco de ansiedade. Eu comecei a ficar tensa e uma dor de barriga
começou do nada - realmente estou nervosa – pensei.

Comecei a pensar bobagens e me preparei para o pior - estava


certa que Nicholas iria terminar comigo.

Fomos à lanchonete Karina e lá pedimos um sanduíche aberto. Eu


achava aquele prato o máximo! Bonito, para falar a verdade. Para mim
comida tem que ter um visual legal. Grande maioria das pessoas pedem
só porque a apresentação do prato estimula as papilas gustativas e as
vezes a comida nem é tão boa assim. Bom, eu não sou diferente. Me
alimento primeira mente com os olhos.

Pratos servidos e a inquietação de ambos só aumentava. Eu já


estava preparada - vinha bomba! Era uma pena, mas antes assim do que
eu realmente ficar apaixonada e acabar desiludida – pensava eu com as
mãos suando frio.

Nicholas começou a falar.

- Olha, já faz quase três semanas que estamos nos falando, nos
encontrando. Eu estou gostando muito disso... Acho você uma garota
legal, bonita... - sua voz saia nervosa. Eu fui me encolhendo por dentro -
afinal, quem é que gosta de levar um fora? Ninguém!

Ele continuou e de repente falou:

- Você quer namorar comigo?

Eu entrei em choque! Ainda bem que ele continuou falando, antes


de querer ouvir a resposta.

Eu nunca tinha sido pedida em namoro! Os meus namoros sempre


foram acontecendo - sabe aquela coisa de ir ficando e quando se
percebe já faz seis meses que está com o cara? E eu ingênua, boba,
pateta, pode escolher... naturalmente me considerava namorando.

Ninguém fica tanto tempo alimentando sentimentos e saindo com


alguém se não estiver namorando, certo? Ou será que é coisa de gente
romântica?

Na verdade é. Aprendi isso no momento em que Nicholas me


propôs namoro. Se alguém realmente quiser um compromisso sério irá
oferecer, propor um compromisso sério e não esperar para ver no que
vai dar. Isso é coisa de gente indecisa. E se por acaso estiver em um
relacionamento que não sabe qual é realmente a sua situação, o seu
papel ...seu lado prático, tem que perguntar para ter certeza.

As mulheres são diferentes dos homens, e isso é fato. Enquanto


eu pensava estar namorando com compromisso sério com Renato -
afinal fazia dois anos que estávamos saindo juntos, ele pensava estar
ficando, apenas uma transa segura e sem muitos incômodos. E foi por
causa da minha falta de determinação e romântica displicência que ele
nunca deu tanta importância para meus sentimentos. É claro que nisto
tudo também tinha uma certa dose de cafajestagem da parte de Renato.

Se você parar pra pensar, e ainda mais se for uma mulher


romântica, você também tem, teve ou terá um Renato em sua vida. Por
isso não podemos esquecer que é nosso dever perguntar se o individuo
da vez , quer ou não um compromisso sério . Frisar nunca é demais.

Nicholas tinha me pedido em namoro! Eu não acreditava... e


olhando nos meus olhos perguntou, novamente se eu aceitava namorar
com ele. Eu angustiada com o pedido, disse enraivecida:

- Vou ser bem objetiva com você - em um tom muito severo, que
Nicholas chegou a franzir as sobrancelhas assustado.

- SIM!!!

Na verdade minha resposta ia ser não, juro! Até porque eu estava


cor de barriga esperando o pior. Mas quando dei por mim eu tinha dito
sim.

Eu ia dizer não, porque meu espírito estava preparado, recluso e pronto


para receber um fora, e antes de levar, eu o daria. Eu estava tão
ressentida com as malandragens de Renato que de forma alguma eu
aceitaria de novo, passar por tudo aquilo que passei. Então, na minha
cabeça antes de me envolver e sofrer eu iria terminar, antes de começar.
Estava tudo muito obvio naquele inicio de relacionamento - a paixão
aguda, por minha parte, logo chegaria e me arrasaria, como sempre. Eu
lamberia o chão novamente.

Quando disse sim, os ombros de Nicholas relaxaram e ele abriu um


sorriso tão maroto, de menino que ganha um punhado de balas sem
merecer, que cheguei a ficar contente por ter dito sim. Afinal, naquele
momento alguém estava feliz por minha causa. Era visível a alegria dele.
Tudo aconteceu muito rápido. Eu sorri e logo ele disse:

- Bom, agora que você é minha namorada oficial, eu tenho um convite


para te fazer. Preciso ir à uma festa no sábado, e quero te levar. Você
aceita? Agora eu sei em que termos se baseiam este relacionamento e
vou poder te apresentar como minha namorada, estava me matando a
idéia de levá-la para conhecer meus amigos e não saber como te
apresentar – disse ele sorrindo.

- Você quer me levar para conhecer os teus amigos? Não é muito cedo –
perguntei.

- Sim. Eles estão loucos para te conhecer. E inclusive organizaram esta


festa para que você possa ir.

-Ah! Então quer dizer que eu serei a sensação do local?

- De certa forma...

- Ah, é uma festa junina. Tem que ir fantasiada - disse ele.

- Ainda tem mais isso, é? - Tudo bem, então, adoro me fantasiar.

- Você sabe cozinhar?

- Sei. Adoro cozinhar!

- Então já que você gosta, será que consegue fazer um bolo para levar?

-Sim.

Saímos da lanchonete e ele me deixou no escritório

Eu estava meio desconcertada e com um pouco de raiva ao


analisar a situação em que me encontrava naquele momento. Estava eu
com um namorado, e este já tinha me colocado na cozinha para fazer um
bolo para ele e seus amigos. Só faltava alcançar a cerveja e os
amendoins - como eu podia ser tão idiota? Isso não iria dar certo -
pensava cheia de raiva.
Sábado chegou. Fiz um bolo de maçã caramelada. Não sei se
estava gostoso, mas pelo menos bonito estava. O gosto só iria saber
depois de cortá-lo e comê-lo. Não entendi porque fiz esse bolo, nem sou
tão chegada assim em bolo de maçã.

Quando Nicholas chegou para me pegar eu entendi, porque aquela


receita caiu na minha mão, naquele dia e porque eu só tinha maçãs em
casa. Coisas estranhas, muito estranhas.

Nicholas perguntou que bolo tinha feito.

- Maçã - respondi.

- Adoooro bolo de maçã! – respondeu Nicholas entusiasmado.

- Ai! – pensei e automaticamente respondi consternada: - Quem


bom! Vai poder comer todinho se quiser.

Fomos à casa de uns amigos dele. Eles iriam pegar uma carona
conosco. Chegamos e eu fui apresentada à Paulo e Maíra - perto de meu
ouvido Nicholas falou:

- Este cara aqui é o responsável por eu estar com você, sabia?

- Como assim? – perguntei.

- Ele me arrastou aquele dia para aquele lugar em que nos conhecemos.
O bar.

Paulo deu um cutucão em Nicholas. Maíra, a namorada de Paulo não


sabia que ele tinha ido a um bar, sem ela e ainda acompanhado de uma
outra garota.

Na verdade, Paulo era mesmo o responsável. Além de levar


Nicholas meio a força tinha arrumado um encontro às cegas para ele.
Lembram da GORDA. Pois bem. Paulo queria ficar com uma colega de
trabalho, mas a garota tinha marcado de se encontrar com uma amiga.
Paulo disse que ela poderia levar amiga, pois ele levaria um amigo.

Quando Nicholas viu a amiga. Quase tevê um infarto. A menina era


baixinha e rechonchuda. Ele ficou consternado com Paulo. Como ele
poderia marcar um encontro desses?

Enraivecido saiu para o corredor e exatamente naquela hora eu


estava bicuda no corredor peça insistência de Fernanda em me levar
para aquele boteco.
Ao Nicholas sair no corredor, naquela hora nossos olhos se
encontraram. Ele estava tão angustiado com a possibilidade de ter que
ficar com a GORDA - não por ela ser gorda - ele me disse, mais tarde no
banco em que estávamos sentados conversando.

– Não tenho nada contra, elas normalmente são


divertidas,simpáticas, têm o rosto bonito – explicava ele. Mas a fuga se
dava pelo fato de que assim que eles foram apresentados a GORDA
arregalou os olhos e disse:

- Hum! É com você que vou ficar hoje? -Nicholas falou imitando o
possível som da voz e a cara da GORDA interessada.

Segundo ele, achou aquela colocação horrível e de extremo mau


gosto.

- Como assim ficar com você? Nem te conheço! Nem sequer


conversamos ainda! – pensava sorrindo sinicamente para a GORDA e
olhando furioso para Paulo.

Paulo nesta hora já estava abraçado ao seu par, que não era de se
jogar fora e sorria satisfatoriamente para Nicholas, como quem diz: - está
ferrado cara!

Nicholas respirou fundo e pediu licença dizendo que ia ao banheiro


e foi respirar no corredor quando se deparou comigo do outro lado do
corredor, sentada, conversando com Fernanda e sorrindo para ele. Pelo
menos foi o que ele achou.

Paulo ficou assustado com o fato de eu comentar alguma coisa


com Maíra e pediu para Nicholas me avisar do acontecido e não
comentar nada sobre o bar e a menina ficante daquele dia; ou seja, não
falar e nem sequer mencionar onde tínhamos nos conhecido.

Eu sem muito querer ajudar acabei concordando. Afinal, quem era


eu para destruir algum romance. Eu estava mais preocupada em
construir o meu.

E foi assim que ao entrar na cozinha, na qual Maíra fritava


salgadinhos para levar à festa junina, que começamos a conversar. De
repente ela perguntou:

- Onde você conheceu Nicholas?

- Num barzinho. Eu respondi rindo e pensando: - essa aí não é


boba!
- Engraçado Nicholas não gosta desses lugares. É do tipo mais
contido, sabe?

Não entendi direito o que ela quis dizer, mas respondi


monissilabicamente: - Éh! – e ela continuou.

- Sabe ele nunca apresentou nenhuma namorada, mas a gente


sabe que ele tem muitas - ela enfatizou quando disse a palavra muitas.
Eu fiquei meio cabreira e perguntei:

- Como assim muiiitas? - Maíra era uma Loira alta, tipo Cindy
Lauper. Cabelo repartido ao meio gorduroso e jeitão de menina rippie.
Sensualidade zero. Na verdade pela sua conversa percebi certo exagero
em algumas colocações, mas que mesmo assim incomodaram.

- Ah! É que ele nunca está com uma só. Ele sempre está saindo
com várias. No sábado ele sai com uma. No domingo ele sai com outra.
Varia bastante sabe? - ela disse em tom debochado e maldoso.

Irritada com o que ela dizia, pois fazia total sentido. - Lembra da
ligação no parque? Pois bem. Provavelmente ele tinha marcado com a
Louca. E tinha dado o bolo e por isso ela ligou para saber onde ele
estava.

Sábado à noite com Sofhia, domingo com a Louca. Tinha sido


assim que Nicholas tinha pensado e se organizado. Mas como eu tinha
surtado e deixado ele com dor na consciência, ele deu o cano na Louca e
foi se encontrar comigo no domingo.

Paranoica eu tinha juntado 2 com 2 e quanto mais pensava, mais


ficava irritada. - Será que eu tinha feito besteira? - Será que durante
estas três semanas eu estava sendo feita de palhaça?

Saindo dos meus pensamentos resmunguei com uma expressão


severa e determinada como se ninguém estivesse naquela cozinha.

- Ah! Mas comigo ele não vai fazer isso não! - Maíra, arregalou os
olhos e disse.

- É, pode ser. Você é a primeira garota que ele vai apresentar para
toda turma. Quem sabe você é diferente?

- Pode apostar que sim - eu respondi com um sorriso dissimulado.

Eu fiquei muito incomodada com os comentários de Maíra. Sabe


quando tem alguma coisa que não está encaixando. Pois é, foi assim que
senti. Talvez sexto sentido. Continuamos a conversar e o mal estar
passou - tenho cada vez mais certeza que sou bi-polar. Vou de um
humor azedo aos mais histéricos dos risos em questão de segundo.

Fomos à festa junina que estava acontecendo na casa de Sandro,


um dos amigos de Nicholas.

Fui recepcionada na porta por Camila e Beatriz, ambas trajadas de


caipirinhas – não a de limão e vodka, mas sim caipiras juninas.

Camila era recém casada com Marcelo e Beatriz a namorada


enfezada de Sandro. Já tinha sido informada por Maíra e Paulo desse
sentimento enfurecido, e que se por acaso presenciasse alguma cena
entre ambos era para desconsiderar.

Beatriz é do tipo baixinha e ciumenta. Na verdade Sandro e Beatriz


formam um casal engraçado. Ela tem 1,50m e Sandro 1,98m. Ela bate na
cintura de Sandro. E é exatamente onde alcança que ela bate quando
está enfurecida - coitado dos rins de Sandro.

Está provado. Homem não gosta de mulher boazinha....No dia do


casamento dos dois a diferença de tamanho quase não se percebia, pois
ela mandou fazer um sapato plataforma estilo drag Queen. Só a
plataforma tem quase 10cm e o salto vai para uns 20. No Cabelo ela
mandou fazer um penteado desfiado que proporcionasse a ilusão de ser
maior do que era, sem falar na sua coroa alta, e lindíssima toda
cravejada de pedrarias. Atualmente formam uma família linda, com três
filhos. E são nossos maiores amigos junto com Camila e Marcelo. Neste
grupo todos são padrinhos e afilhados de alguém. Acabou se tornando
uma grande família. Laços construídos por afeto vindos do coração.

Ao entrar deixei meu bolo na mesa. Nicholas orgulhosamente me


apresentou à todos, como sua namorada. Todos me receberam muito
bem. Beatriz e Camila ficaram me rodeando, esbanjando cuidados.
Queriam me deixar confortável e na verdade, com todo aquele mimo
estavam conseguindo me deixar nervosa. De repente um barulho enorme
irrompeu a sala em que estávamos. Olhamos todos assustados para
onde vinha o barulho.

Um rapaz, sentado em uma cadeira, se espatifava no chão com


cadeira e tudo. A cadeira, essas de plástico branco, tinha aberto as
pernas e levado o rapaz ao chão de forma desastrosa. Todos
rapidamente socorreram o rapaz e com vários cuidados perguntava se
estava tudo bem.

No momento que a cadeira quebrou e levou ao chão Alberto, eu


comecei a rir e rir muito. Não conseguia parar. Foi quando me dei conta
que além das perguntas de cuidados só se ouvia na sala o meu
riso.Olhei em volta e só eu estava rindo. Fiquei meio constrangida e sem
entender a situação, afinal tinha sido uma cena engraçada. Até aquele
momento eu estava me sentindo presa e o meu riso me libertava da
angustia. Liberta, logo tive que voltar a ficar enclausurada, pois todos me
olhavam e Nicholas correu para o meu lado e falou:

- Pare de rir!

Tentei rapidamente recolher o meu riso - mas vamos combinar,


não é assim que funciona. Depois de começar a rir não é tão rápido
assim que se termina. Pelo menos não o meu. Engoli em seco. Mas
continuava rindo, meio que um riso amarelo, mas ainda assim divertido.

- O Alberto acabou de sair do hospital! – resmungou Nicholas com


uma voz irritada.

- O que aconteceu? – perguntei engolindo o riso assustada, quase


me afogando com a saliva.

- Ele sofreu um acidente grave, de carro. Ficou meses na UTI. Saiu


faz uma semana.

Olhei para todos e balbuciei um Desculpe, meio miado. O


embaraço da situação, cortou minha voz e com certeza o acesso de riso.

Socorreram o rapaz e graças a Deus nada demais aconteceu.

O resto da noite transcorreu bem e Nicholas me levou para casa.

Chegando a frente de casa, começamos namorar. A festa tinha


sido mesmo para apresentação, tinha tantos olhos nos vigiando que o
máximo a que nos proporcionamos foram toques de mão e alguns
beijinhos no rosto. Estávamos ambos precisando de carinhos mais
sérios.

Começamos a nos beijar e abraçar. O ambiente começou a ficar


quente. Mãos quentes, rostos quentes e o corpo então nem se fala.
Estava entrando em erupção - como começo de namoro é bom! É tudo
tão novo, tão fresh. Pra mim então, era ainda mais. Afinal, eu era
oficialmente a namorada. Não era mais uma ficante. Vale lembrar que eu
só me dei conta da minha posição - ficante x namorada - depois que fui
oficialmente pedida em namoro. Antes eu me considerava namorada,
mas não o era efetivamente.

Tudo pegando fogo, conseguimos ficar nos bulinando por


aproximadamente uma hora. Tempo suficiente, para deixar um homem
babando e uma garota feliz. Dei um beijo rápido de despidas e saí do
carro.

- Você vai me deixar assim? – disse ele.

- Assim como?

- Assim abandonado – e fez um beicinho.

- Primeiro você não esta abandonado. Eu sou sua namorada,


lembra?

- Segundo, você sabe o caminho para casa, certo?

- Terceiro, amanhã ainda estarei aqui e poderei lhe dar mais


alguns beijos - sorri maliciosamente e deixei-o com cara de quem
“chupou manga” e não gostou.

Entrei em casa, coloquei meu pijama de moletom surrado. Fazia


frio, era mês de junho. Portanto, não ia ser um “pijaminha” que iria me
esquentar. Apesar do meu corpo ainda estar ardendo de tesão, nada
melhor que um pijama de moletom surrado para espantar o frio e fazer
qualquer mulher voltar à realidade.

Comecei a pensar em tudo que Maíra havia me dito. Aquilo


realmente me incomodou e ainda incomodava. Passei a noite
perturbada. Não consegui dormir direito.

Quando foi domingo, a festa junina tinha sido no sábado, próximo


às 14 horas, apareceu Renato em minha casa e disse que queria falar
comigo. Perguntou se eu poderia dar uma volta com ele.

- Não. Estou esperando meu namorado e daqui a pouco vou me


arrumar – respondi debochadamente.

- Namorado? - enfatizou Renato incrédulo..

- Sim Renato. Eu estou namorando. E daqui a pouco ele vai


chegar.

- Mas e a gente?

- Que gente? Não existe mais a gente! Para de encher o saco, já


disse que não tem mais nada entre nós.

- Nem mais um chance?


- Lógico que não Renato! Já terminamos faz seis meses. Será que
não entendeu ainda? E agora eu estou namorando - falei orgulhosa e
com o nariz empinado – e com um homem decente – pelo menos parece
– pensei.

- Decente? O que você quer dizer com decente?

- São valores que você não entenderia, porque você não os tem –
respondi. Renato ficou irritadíssimo e saiu cantando pneu. No que ele
saiu por uma esquina, surgia pela outra o carro de Nicholas. Eu esperei
ele encostar o carro em frente ao portão e dei um beijo de boas vindas.

- Você ainda não está pronta?

- Não. Você não vai acreditar quem acabou de sair daqui!

- Quem?

- Renato.

- Seu ex-namorado?

- Sim. O próprio.

- O que ele queira?

- Voltar.

- A namorar?

- Sim. Queria voltar a namorar. Pode?

- E você? O que disse?

- Disse que não. Que estava namorando e que logo você chegaria.

-Vou me arrumar se não vamos nos atrasar - saí correndo e deixei


- o entrar para dentro do portão. Em seguida ouvi um pronunciado
raivoso às minhas costas.

- Babaca! - era Nicholas mal-dizendo Renato. Eu concordei em


pensamento.

- Ei, sua mãe está em casa?

- Está. Por quê? - perguntei como se não soubesse do que ele


estava falando. Na verdade Nicholas tinha tido uma experiência ruim com
minha mãe. Logo no primeiro encontro, o do parque. L lembra que
mencionei que minha vingança pelo “furo” que Nicholas tinha me dado
tinha sido doce; pois então, naquele dia eu experimentei vários
“bombons” e todos eles estavam deliciosamente doces para quem não
tinha planejado nenhuma vingança.

Naquele dia como u tinha ido me arrumar, nos quinze minutos do


segundo tempo. Nicholas ao chegar à minha casa e perguntar por mim,
se deparou primeiramente com minha irmãzinha histérica gritando pela
casa e para quem queria ouvir que meu namorado tinha chegado. Até ai
tudo bem o pior é que minha mãe estava na garagem sentada na rede.

Como pedi para ele esperar ele não teve alternativa a não ser
aceitar o convite de minha mãe para sentar em uma cadeira ao lado dela.

Nicholas sentou e apresentou-se:

- Prazer, Nicholas.

- Ahã! Clariça - minha mãe respondeu com cara de não muito


amistosa. – ela é assim sempre. Tem uma fisionomia carrancuda que na
verdade assusta todo mundo, mas é uma boa pessoa.

Nicholas tremendo pelo tom de voz empregado por dona Clariça se


fechou em copas. Minha mãe, sem muitas enrolar perguntou:

- Em que você trabalha?

- Em uma empresa de auditoria e consultoria?

- Tudo bem, mas e o que essa empresa faz?

- Ajuda as empresas a ganharem dinheiro – resumiu Nicholas.

- Ahh! É bom?

- É, é sim.

- Mora onde?

- Em São José dos Pinhais.

- Longe, né?

- É, é bem longe.
- Quanto tempo de carro até aqui? – minha mãe perguntava
curiosa.

- 40 minutos.

- Nossa! É longe mesmo! - E seus pais?

- O que é que têm eles?

- Você mora com eles?

- Só com minha mãe. Meu pai já é falecido.

- Sim. E irmãos, você tem? Quantos?

- Tenho três. Quatro comigo. Dois meninos e duas meninas.

- Bom né? Você é o mais velho? – minha mãe afirmava e


perguntava ao mesmo tempo e na mesma frase.

- Sou.

- Quantos anos você têm? – essa é clássica, nenhuma mãe deixa


passar essa pergunta.

- Vinte cinco.

Neste momento eu apareci na porta e Nicholas veio me


cumprimentar. Ao levantar da cadeira percebi nele certo alivio e um
agradecimento no olhar pela minha agilidade em me arrumar. Diz ele que
foram os quinze minutos mais longos e angustiantes da vida dele.

Ao entrar no carro perguntou ele tirando sarro:

- Sua mãe é detetive? ou algo parecido?

- Não. Por quê?

- Perguntou tudo sobre minha vida enquanto eu esperava. - Ele me


explicou que ela tinha feito um interrogatório e que toda a conversa era
seguida de um silêncio assustador. Só não era mais silencioso por causa
de minha irmãzinha que brincava na varanda.

Após os segundos de silêncio, Dona Clariça continuava a


questioná-lo. E sempre que ele respondia, ela balançava a cabeça como
quem dissesse: - Ahã! Estou de olho em você. - Pelo menos foi essa a
impressão que Nicholas teve dela. E eu acredito, pois é bem o estilo da
Dona Clariça.

- Não se preocupe. Você falou a verdade, não falou? Respondeu


tudo com sinceridade, não é? Então tá tudo certo. Agora, se você e
mentiu para Dona Clariça você não poderá passar para o próximo nível,
e o bicho vai pegar. Falei me divertindo em um tom aterrorizador tirando
sarro de Nicholas

- Tem próximo nível?

- Ah! Se tem! E ele é bem mais difícil – falei rindo.

Ele falou que nunca tinha passado por algo tão assustador. Falar
com a mãe de uma garota, antes mesmo de falar com ela. Ou pelo
menos conferir se ela era ou não uma pessoa que valia a pena - segundo
Nicholas, ele não se lembrava como eu era.

Depois de ficar furioso com o aparecimento de Renato, Nicholas na


verdade, ao perguntar de Dona Clariça, só queria saber se por acaso
teria que passar por todo um interrogatório novamente, o próximo nível
como eu dissera. Mas agora em um estágio mais avançado. Tipo:

- Qual é o compromisso que você tem com minha filha? - Vocês


estão namorando ou ficando? Quando você vai pedi-la em casamento? –
Nicholas exagera em seus pensamentos sobre minha mãe, mas era
divertido ver ele pensar assim. Pensar que eu estava protegida por uma
família e que não era qualquer uma para ele querer brincar e depois
jogar fora. Dona Clariça tinha feito seu papel de mãe com muita presteza
e eu a admirava por isso e por muito mais.

Até aquele momento, Nicholas nunca mais tinha ficado tanto tempo
com minha mãe. Quando ia me pegar em casa eu sempre estava pronta,
então ele entrava cumprimentava e logo saímos com um reforçar da
minha mãe para não chegar muito tarde.

- Não se preocupe Dona Clariça, Ela está comigo! Nicholas


respondia.

Minha mãe olhava de canto de olho e bufava como quem dissesse


– hum, está bem.

Entrei no chuveiro rapidamente e me arrumei mais rápido ainda do


que antes.

Ao sairmos, olho para esquina e vejo o carro de Renato


estacionado. Quando estou para entrar no carro de Nicholas ele passa
por nós e canta pneu. Nicholas já dentro do carro olhou assustado. Eu
entrei rapidamente e disse:

- Que cara louco! Não vê que tem crianças brincando na rua?

Não fiz nem menção de que aquela louco, era Renato consternado
por eu estar verdadeiramente com outro - acho que ele não acreditou em
mim quando disse que ia sair com meu namorado e voltou para conferir.

Eu apesar de ter ficado furiosa com a cena, pois realmente poderia


ter machucado alguém, ganhei uma altivez e um brilho no rosto que era
visível. Estava feliz com a ceninha de ciúmes de Renato. Normalmente
quando me sentia feliz Nicholas falava que eu ficava ainda mais linda.

Eu estava me sentindo vitoriosa por ter conseguido “dar o troco”.


Na verdade não era uma vingança. Eu só estava feliz por ter conseguido
me desligar daquelas garras usurpadoras que era a paixão que sentia
por Renato e que nunca foi, nem sequer notado. Acho que era isso que
mais deixava Renato angustiado – a sensação de perda. De não ter mais
o controle sobre meus sentimentos. Não precisava mais de suas
migalhas de afeto. Eu me sentia livre, radiante, pronta para outra!

Dentro daquele torvelinho de felicidade, alguma coisa me


consumia e não estava me deixando ser a mulher que queria. Estava
angustiada e meu humor girava entre altos e baixos.

Fomos ao cinema, não lembro o que assistimos. Acho que nem


sequer prestei atenção no filme. E olha que para eu não prestar atenção
em um filme é que realmente algo esta errado. Eu sou cinéfila. Adoro
filmes e quando começo a assistir, dificilmente consigo parar, pode ser a
porcaria que for.

Ao sair do cinema ele me perguntou se por acaso eu me importava


de ir a um aniversário com ele. Respondi que não e seguimos para o
carro. Já dentro do carro ele falou que teria que primeiro passar em casa
para pegar o presente e sua família.

- Sua família? – como assim? – eu ainda não tinha sido


apresentada a família de Nicholas.

- Ah! É que o aniversário é de uma priminha, ela vai fazer 3 anos.


Jéssica e o nome dela. O Aniversário vai ser na casa da minha tia.

- Ahh! Então quer dizer que vai estar a sua família toda? Primos,
tios, irmãos?

- Sim. Algum problema?


- Não - respondi assustada e pensando: agora vai ser minha vez
de passar pelo interrogatório.

Chegamos à casa de Nicholas e sua família já o aguardava.


Descemos do carro e sua mãe veio ao nosso encontro.

A mãe de Nicholas, Dona Nair. Uma senhorinha carismática veio


sorridente me cumprimentar.

- Oi. Até que enfim vou conhecer a menina que está fazendo meu
filho feliz!

- Oi - dei um abraço - pois quando ela veio ao meu encontro já


estava com os braços abertos. Não adiantava mais nada a não ser
receber e dar o abraço carinhosamente.

Entramos todos no carro e partimos. No trajeto Dona Nair falava o


tempo todo, assuntos calorosos e engraçados. Conseguia agora ver bem
de quem Nicholas tinha todo aquele carisma e charme divertido.

Dona Nair, muito autentica e entusiasmada, falou:

- Sabe querida, que você é a segunda namorada que Nicholas me


apresenta? Só que a outra eu não gostei não! Era estranha, meio
emburrada. – Mal sabia ela dos meus acessos de humor.

Eu ri divertidamente e Nicholas se encolheu constrangido. Tive a


impressão que iria gostar daquela mãe. Daria uma boa sogra.

Chegamos ao aniversário e todos vieram me receber com uma


curiosidade acerbada. - ainda bem que não me vesti tão indecente –
pensei comigo. Se estivesse vestida de outra forma, provavelmente eu
seria mais uma “Estranha” ou quem sabe uma despudorada aos olhos de
Dona Nair e toda sua família. Sim, da família; por que aos olhos de
Nicholas eu estaria linda. Ele adorava minhas mini saias e blusas
transparentes.

Fiquei na festa junto com os demais e me comportei com uma


simpática e recatada namorada. Nicholas estava radiante com fato de ter
me apresentado à sua família e todos aparentemente, terem gostado de
mim.

Sua avaliação se devia porque todos estavam a minha volta


tentando me agradar e os assuntos falados eram os mais naturais
possíveis.
Ao deixarmos a família de Nicholas em casa, Dona Nair me
abraçou e falou:

- Gostei de você!

- Obrigada - e emendando o meu agradecimento Nicholas me


abraçou e falou:

- Que bom mãe! Porque eu também gosto dela – e me deu um


grande e estalado beijo no rosto. Senti-me envergonhada e abracei-o
também fazendo uma careta de ai, meu Deus... dei-lhe um apertão na
barriga; ele riu e saiu saltitando para o carro como se fosse um moleque
de cinco anos.

Sentindo-me totalmente acarinhada, partimos para mais uma


viagem de quarenta minutos até o Campo Comprido, bairro em que
morava.

Vinte duas horas chegamos em frente de casa. Como de praxe


continuamos no carro e começamos a nos beijar. Era bom beijar
Nicholas. Ele tinha a boca volumosa e macia. Ele estava sempre bem
cheiroso. Na época ele usava Stileto, do Boticário e eu particularmente
adorava esse cheiro. Em Nicholas então o cheiro ficava ainda mais
poderoso.

Dizem que perfume é meio mágico, pois apesar de ser o mesmo


em várias pessoas, ele ganha um aroma diferenciado em cada tipo de
pele. Na pele de Nicholas o cheiro era impressionantemente bom.

Quando cheirava seu pescoço r seu cabelo, ficava até meio


atordoada. Sabe aquele cheiro que impregna e esquente a pele. Pois
bem, esse era o cheiro de Nicholas; sufocante de tão bom.

O perfume de Nicholas misturado com beijos deliciosos e quentes


era quase impossível se conter. Eu ficava mole, mole.

Quando os carinhos estavam em ritmo de pegar fogo, eu saia do


carro, deixando Nicholas aos suspiros. É fato que não era só Nicholas
que ficava desse jeito. Eu também ficava prejudicada e ardendo em um
desejo interno e perturbador. Se Nicholas ficava febril eu não ficava
diferente. Como diz o ditado. “Toma lá da cá”!

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