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UNIP – DIREITO CIVIL – BIODIREITO – ROTEIRO 003 – 1.

º SEM-2018
Prof. Luiz Henrique Beltramini

AVISO:
O presente material serve apenas como apoio às informações ministradas em aula. EM NENHUMA HIPÓTESE SUBSTITUI A NECESSIDADE DE
ESTUDOS DIRETOS NAS DOUTRINAS OFICIALMENTE INDICADAS E CONSTANTES DO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO, ou seja: DINIZ, Maria Helena.
O estado atual do biodireito. São Paulo: Saraiva. DURAND, G. Introdução geral à bioética. São Paulo: Loyola. SÁ, Maria de Fátima Freire de. Biodireito. Belo
Horizonte: Del Rey. ALBANO, L. M. J. Biodireito. São Paulo: Atheneu. CONTI, M. C. S. Biodireito: a norma da vida. São Paulo: Forense. CORREIA, E. A.
Biodireito e dignidade da pessoa humana. Curitiba: Juruá. MEIRELLES, J. M. L. de. Biodireito em discussão. Curitiba: Juruá. SILVA, Reinaldo Pereira e.
Introdução ao biodireito: investigações políticojurídicas sobre o estatuto da concepção humana. São Paulo: LTR. VIEIRA, Tereza Rodrigues. Bioética e direito.
São Paulo: Jurídica Brasileira.

B I O É T I C A – CONTEXTO GERAL:

Com maior ênfase depois da segunda guerra mundial, ou seja, na segunda metade do séc. XX, houve acelerada
mutação do contexto social e cultural, o que faz compreender a emergência da bioética. Segundo alguns
estudiosos sobre o tema, entre os quais destacamos o sociólogo canadense GUY ROCHER, o mundo passou por
grandes transformações, entre elas:

- CRESCIMENTO DA CLASSE MÉDIA: com a intensificação de nova mentalidade, preponderantemente


marcada pelo individualismo, utilitarismo e consumismo exacerbado;

- DESENCANTAMENTO DO MUNDO: recuo e declínio dos mitos, das religiões e das ideologias,
desencantamento que deu ensejo a uma mentalidade racional e prática;

- MUTAÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS: avanço dos movimentos feministas, das imigrações e da
população de terceira idade, dos conflitos de interesse grupal;

- FRAGMENTAÇÃO DAS ESFERAS DA VIDA E DA CULTURA: avanço da autarcia1 das instituições (direito,
moral, religião, política, sistema judiciário, família, escola etc),
especificação das ocupações e profissões, fragmentações e surgimento de
um universo fracionado, pouco coerente.

- CRESCIMENTO ECONÔMICO DO PÓS-GUERRA: aumento da crença no valor do desenvolvimento


tecnocientífico.

O mundo, pelo menos o ocidental, é sacudido, no meio do séc. XX, por uma profunda mutação cultural. É nesse
horizonte que podem ser encontrados diversos fatores particulares que podem explicar de modo mais imediato o
surgimento da bioética: alguns diretamente ligados à evolução cultural (FATORES EXTERNOS), outros
provenientes de escândalos ou de choques ocorridos no próprio mundo da saúde (FATORES INTERNOS).

FATORES EXTERNOS IMEDIATOS

Há inúmeras maneiras de explicitar os diversos fatores que deram origem da bioética, entre os quais:
- o desenvolvimento tecnocientífico,
- a emergência dos direitos individuais,
- a modificação da relação médico-paciente,
- o pluralismo social.

I.- DESENVOLVIMENTO TECNOCIENTÍFICO

A instituição científica viveu plena prosperidade na década de 1960. Depois da segunda guerra mundial, os
orçamentos das pesquisas aumentaram constantemente, com grande estímulo aos setores estratégicos e de
ponta, tais como, por exemplo, as pesquisas agroalimentares, biomédicas e informática, entre outros.

De contemplativa que era, a ciência se tornou operatória, graças à sua associação com a tecnologia ao ponto de
ser praticamente inseparável dela. Tais avanços científicos, particularmente os progressos do domínio
biomédico, são rapidamente aplicados às intervenções sobre os humanos, permitindo assim salvar, melhorar,
prolongar e manter a vida de um modo que jamais havia sido possível anteriormente.

No entanto, ao mesmo tempo em que provocaram fascinação e paixão, tais descobertas e aplicações não foram

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AUTARCIA: sociedade que se basta a si própria em termos econômicos. Tem implícita a ideia de que um país deve produzir tudo aquilo
de que necessita para consumir, não ficando dependente das importações nem de quaisquer fatores externos.

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feitas sem levantar várias questões e controvérsias entre o público e algumas vezes na própria comunidade
científica, como, por exemplo: receio ante os abusos, posturas desmedidas, e da anomia 2.

I.A.- HEMODIÁLISE:

Descoberta em 1961, a técnica da hemodiálise foi a primeira a despertar problemas que causaram fortes
reações públicas, pois representava, para cerca de 15 mil doentes dos Estados Unidos da América, a única
chance de sobrevivência, sendo que, o primeiro centro especializado em hemodiálise, situado em Seattle, não
podia, em razão de sua falta de material e de pessoal qualificado, responder à tamanha demanda.

Assim sendo, foi necessário criar um comitê responsável pelo estabelecimento de procedimentos de seleção dos
doentes que seriam escolhidos para o tratamento. Tal comitê era formado por nove pessoas, entre as quais
somente dois médicos - pela primeira vez, médicos delegavam a leigos seu poder de decisão em relação à
admissibilidade de um tratamento.

Com efeito, havia-se julgado que os leigos eram capazes de tomar tão boas decisões quanto os médicos em um
caso semelhante, uma vez que a justiça na seleção dos pacientes candidatos a um tratamento não dependia
propriamente de uma aptidão médica.

Como a maior parte dos pacientes era "medicamente escolhível”, o citado comitê servia-se, para tal seleção, de
critérios sociais tais como: produtividade no seio da comunidade e bom comportamento. Note que, aqueles cuja
candidatura era rejeitada em função de tal critério eram, praticamente, condenados à morte.

A opinião pública criticou fortemente o emprego de critérios sociais para decisões tão cruciais como as que
implicam a vida e a morte de seres humanos.

Tal situação suscitou questões que, posteriormente, se tornariam centrais na bioética, tal como pertinentes a
justiça na alocação dos recursos e as tomadas de decisões que tinham como consequência a vida ou morte
de um ou vários indivíduos. Tais questionamentos, basicamente versavam sobre:
- Quem deve viver?
- Quem deve morrer?
- Quem deve decidir?

I.B - TRANSPLANTES:

As mesmas questões foram (e ainda são) colocadas a respeito dos transplantes.

As técnicas se aperfeiçoavam cada vez mais e a demanda dos doentes aumentava. Os cirurgiões, porém, não
podiam responder à demanda, pois a oferta de órgãos era insuficiente.

O primeiro transplante cardíaco foi feito na África do Sul, em 1967, sob a coordenação do doutor CHRISTIAN
BARNARD.

Ainda que tenham suscitado entusiasmo no início, os transplantes conheceram em seguida sucessos muito
brandos, já que a taxa de sobrevivência dos transplantados era muito baixa. Tal situação levou os médicos, em
1969, a impor uma moratória, encerrada em 1980, depois da descoberta e do aperfeiçoamento da ciclosporina,
substância imunossupressora que revolucionaria os transplantes.

Outros pesquisadores procuraram (e ainda procuram) desenvolver implantes artificiais que visam assistir ou
substituir o coração. O primeiro teste clínico ocorre em 1969, nos Estados Unidos.

O desenvolvimento dos transplantes suscitou outro questionamento, ou seja, os critérios de determinação da


morte.

2
O termo ANOMIA foi cunhado por Émile Durkheim em seu livro O Suicídio, servindo para mostrar que algo na sociedade não funciona
de forma harmônica. Algo desse corpo está funcionando de forma patológica ou "anomicamente." Em seu famoso estudo sobre o suicídio,
Durkheim mostra que os fatores sociais - especialmente da sociedade moderna - exercem profunda influência sobre a vida dos indivíduos
com comportamento suicida. Segundo Robert King Merton, em sua obra Estrutura Social e Anomia – (1.949, a anomia significa uma
incapacidade de atingir os fins culturais, ocorrendo quando o insucesso em atingir metas culturais, devido à insuficiência dos meios
institucionalizados, gera conduta desviante. A teoria da anomia de Merton explica por que os membros das classes menos favorecidas
cometem a maioria das infrações penais, e crimes de motivação política (terrorismos, saques, ocupações) que decorrem de uma conduta
de rebeliões, bem como comportamentos de evasão como o alcoolismo e a toxicodependência.

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A retirada de órgãos, imediatamente após o óbito, exigia uma nova definição de critérios de determinação da
morte. A morte, até então, era definida como a parada completa da respiração e da circulação sanguínea, sendo
preciso, portanto, esperar certo tempo antes de constatar o óbito, assim, os órgãos destinados ao transplante
frequentemente estavam irremediavelmente comprometidos e não mais apresentavam qualquer utilidade no
momento da retirada.

A partir de 1968, um comitê da ESCOLA DE MEDICINA DE HARVARD editou novos critérios de determinação
da morte, a saber, a morte cerebral. Esses critérios foram rapidamente adotados pelos meios científico e
jurídico. Segundo ROBERT M. VEATCH, os trabalhos de tal comitê constituíram o primeiro exercício de bioética
visando distinguir os FATOS dos VALORES. Colocou-se então a questão de saber se a morte era um fato
biológico ou um julgamento filosófico.

Apesar da aceitação pelos meios científico e jurídico, os critérios elaborados pelo comitê de Harward tiveram de
ser redefinidos, acabando por conduzir, nos Estados Unidos, a promulgação da UNIFORM STATUTE FOR THE
DETERMINATION OF DEATH. – (Estatuto uniforme para determinação de morte). Tal lei, adotada em 1981,
ainda vigora na maior parte dos estados americanos.

I.C - REANIMAÇÃO POR RESPIRAÇÃO ARTIFICIAL E EUTANÁSIA

Descobertas em 1952, na Dinamarca, as técnicas de reanimação por respiração artificial possibilitam


progressos espetaculares. Contudo, embora tenham permitido salvamento de vidas, certas pessoas
permaneciam, indefinidamente, em um estado de suspensão (COMA), entre a vida a morte. Tal situação
inaugurou a seguinte questionamento:

Podia-se eticamente retirar o respirador?

Tão complexo e inquietante questionamento levou STANLEY REISER a vincular o aparecimento da bioética ou
do "modern biomedical ethics movement” – (moderno movimento de ética biomédica), como ele o chama, à
criação do respirador artificial e às dificuldades de ordem ética criadas por essa nova tecnologia.

Ainda que de autenticidade duvidosa, uma passagem atribuída a Reiser é muito significativa. Segundo tal
relato, um anestesista austríaco, o DR. BRUNO HAID, preocupado com tais questões, teria enviado
correspondência ao PAPA PIO XII em 1957 para pedir-lhe ajuda diante das questões colocadas pela possível
retirada do respirador. ELE SE PERGUNTAVA SE TAL DECISÃO PODIA SER TOMADA E, EM CASO
AFIRMATIVO, POR QUEM. O PAPA PIO XII teria RECONHECIDO A GRANDE COMPLEXIDADE DAS
QUESTÕES COLOCADAS E ADMITIDO SUA IMPOTÊNCIA PARA RESPONDÊ-LAS CLARAMENTE.

I-D - ENGENHARIA GENÉTICA

A engenharia genética, em seus primeiros movimentos, também veio inaugurar uma nova sequencia de
numerosas questões. Em meados de 1953, ocorreu a descoberta da estrutura do DNA por WATSON e CRICK, à
decodificação do código genético e ao desenvolvimento da técnica do DNA recombinado.

Os cientistas ficaram preocupados com seus novos poderes de intervenção sobre a vida. Em meados de 1974, a
National Academy of Sciences solicita que o biólogo PAUL BERG e outros pesquisadores de renome se reúnam
para debater esse tema. A reunião levou à publicação, em três revistas científicas importantes, de uma carta
aberta convidando os colegas a uma moratória tendo por objeto a suspensão de pesquisas que implicassem
manipulações genéticas até a realização de uma grande conferência internacional.

Em fevereiro de 1975, houve a realização da CONFERÊNCIA DE ASILOMAR, nos Estados Unidos, onde muitos
membros da comunidade científica debateram os riscos das manipulações genéticas e dos meios para controlá-
los. Iniciada com debates agitados, a conferência encerrou-se com duas decisões:
- a suspensão da moratória, e
- a instauração de regras de segurança que inspiraram posteriormente vários organismos e governos.

Por outro lado, a genética conduziu à elaboração de testes de investigação genética e à instauração de
programas de detecção de males genéticos em populações de risco tais como:

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- anemia falciforme3 entre os negros,


- doença de Tay-Sachs4 entre os judeus asquenazes5 ou
- a fenilcetonúria6.

Tais programas de investigação fizeram surgir problemas éticos ligados à discriminação étnica ou racial, à
violação do sigilo etc. Tais situações originaram a organização de numerosos foros de discussão e a criação de
centros de reflexão.

I.e - EUGENISMO, ABORTO E REPRODUÇÃO ASSISTIDA

Na França, nos anos 1970-1975, dois assuntos ganham destaque:


- o ABORTO ou IVG (interruption volontaire de grossesse - Interrupção Voluntária da Gravidez) e
- as TECNOLOGIAS DE REPRODUÇÃO.

A técnica de preservação de esperma humano [criopreservação) causa inquietações.

Em 1980, a inseminação de três jovens mulheres norte-americanas com esperma de ganhadores do prêmio
Nobel chocou, despertando assim o espectro do EUGENISMO7.
3
Anemia falciforme: doença genética caracterizada pela presença de glóbulos vermelhos endurecidos no sangue das pessoas
acometidas. São decorrentes de alterações nas cadeias que formam a hemoglobina: pigmento responsável pela cor vermelha dessas
células, e que propicia o transporte de oxigênio. Os pacientes podem ter recebido os genes de ambos os pais. Em virtude da conformação
das hemoglobinas e suas hemácias, a oxigenação dos tecidos corporais não é satisfatória, e a passagem do sangue pelos vasos pode ser
dificultada, em razão da pouca flexibilidade das células alteradas. O paciente pode apresentar pele e olhos amarelados, dores pelo corpo e
articulações, pés e mãos doloridos e inchados, maior tendência a infecções, a pele pode se apresentar ulcerações. O baço pode perder
suas funções. Tal anemia ocorre em aproximadamente uma pessoa a cada 380 nascimentos, sendo mais frequente na raça negra. O teste
do pezinho é capaz de detecta-la, como também através do exame denominado eletroforese de hemoglobina. Tal doença não tem cura.
Tais indivíduos devem ter o esquema de vacinação em dias, adotar uma dieta equilibrada, e ingerir muito líquido; buscando auxílio médico
imediato em casos em que perceber alguma alteração significativa. Pessoas com anemia falciforme, ou com essa doença na família,
devem estar atentas caso desejem ter filhos, uma vez que, caso tenham parceiros com essa doença ou com o traço falciforme, poderão ter
filhos com a doença.
4
Doença de tay-sachs: enfermidade causada pela disfunção dos lisossomos, organelas responsáveis pela digestão celular. Resulta de
um defeito na enzima que catalisa uma das etapas da digestão intracelular. É uma doença autossômica recessiva, ou seja, o indivíduo só
desenvolve a doença quando herdar os genes defeituosos tanto do pai quanto da mãe. Aqueles que recebem os genes recessivos de
apenas um dos genitores não desenvolvem, mas são portadores de genes, e caso tenha filhos com outro portador, os filhos terão a
doença. Os sintomas podem se manifestar ainda no primeiro ano de vida. Por ser uma doença neurodegenerativa, a criança tem
seu sistema nervoso comprometido, em especial no que concerne à capacidade psicomotora. Um dos sinais da doença é o aparecimento
de mancha vermelha no olho, seguida de cegueira, surdez, incapacidade de engolir, atrofia dos músculos e paralisia. Em alguns casos,
essa mancha pode não aparecer no início do quadro, o que não descarta o diagnóstico da doença, visto que ela pode surgir
posteriormente. Por volta dos dois anos de idade, a criança pode apresentar sinais de demência, com a perda das capacidades cognitivas,
como percepção, atenção, linguagem, memória, raciocínio, pensamento, imaginação. As células nervosas dos portadores incham,
provocando aumento expressivo do crânio. A doença evolui irreversivelmente ao óbito, que se dá, geralmente, até os 5 anos de vida. O
diagnóstico é dado por meio de um teste laboratorial. Os sinais clínicos e o histórico familiar muito contribuem para o diagnóstico. A doença
também pode ser detectada durante a gestação quando há certeza de que os pais são portadores. Para isso, é feita a biópsia das
vilosidades coriônicas (estruturas presentes na placenta), exame que possibilita a identificação de genes mutantes do feto. Muitos casais,
aos descobrirem que o feto é portador da doença, optam por interromper a gestação. Não existe cura para tal doença, mas sim
tratamentos e medidas paliativas para os sintomas. Os portadores da doença, em geral, fazem uso de medicamentos anticonvulsionantes,
que diminuem as crises de convulsões. O transplante de medula óssea pode ser indicado, pois a introdução de células sadias no
organismo acarretará na produção de enzimas totalmente ativas. É possível, também que o indivíduo passe por uma terapia gênica, ou
geneterapia, em que novos genes serão inseridos nas células somáticas, que passarão a produzir a enzima em quantidades suficientes.
Embora promissora, a geneterapia é ainda é um tratamento em pesquisa.
5
JUDEUS ASQUENAZES: judeus provenientes da Europa Central e Europa Oriental
6 FENILCETONÚRIA: doença genética, diagnosticada através do teste do pezinho ainda no hospital. Tal doença faz com que os

alimentos que tenham a substância chamada fenilalanina intoxique o cérebro, causando, por exemplo, retardo mental irreversível. É um
defeito no metabolismo e não tem cura, mas seu tratamento consiste basicamente em seguir uma alimentação sem de fenilalanina. O
tratamento consiste basicamente em evitar alimentos de origem animal, por exemplo. Para evitar anemias, normalmente se faz
uma suplementação de ferro, sendo que o tratamento deve ser seguido por toda a vida, para que o paciente não tenha nenhum
comprometimento do sistema nervoso central. O diagnóstico é feito ainda na maternidade, entre as primeiras 48 e 72 horas de vida do
bebê. Crianças que não tenham realizado o teste do pezinho podem ser diagnosticadas com a doença através de análise laboratorial
relacionada aos sintomas da doença, que surgem por volta dos 4 ou 6 meses de vida. O teste sanguíneo deve ser repetido todas as
semanas até que o bebê complete 1 ano de vida, a cada 15 dias entre 2 e 6 anos e mensalmente a partir dos 7 anos de idade. Os
principais sintomas são: Feridas na pele semelhante ao eczema, odor corpóreo característico, náusea e vômito, comportamento agressivo
ou auto-agressivo, hiperatividade, retardo mental, geralmente grave e irreversível; convulsões. Porém tais sintomas podem ser evitados e
só se manifestam quando não se segue a dieta adaptada com alimentos pobres em fenilalanina.
7
EUGENIA: deriva da junção dos vocábulos gregos “eu” (bem) e “genos” (raça, linhagem, espécie), portanto, significa bem nascido” ou
de boa linhagem, boa espécie. O termo, contudo, foi forjado apenas em 1.883, por Francis Galton, que o definiu como sendo o estudo
dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou
mentalmente. Considera-se eugenia como um termo genérico do século XIX, indicativo da ciência responsável pelo estudo das melhores
condições para a reprodução e o melhoramento da espécie humana. Eugenética seria a forma recente da eugenia, oriunda da junção da

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A questão das mães de aluguel8 também desencadeou paixões logo depois da revelação, em 1982, do caso de
uma jovem mulher que carregava dentro de si uma criança destinada a sua irmã gêmea e a seu cunhado. A
jovem havia sido inseminada artificialmente pelo esperma desse cunhado.

A fecundação in vitro surge nesses mesmos anos e é levada ao conhecimento mundial em 1978 pelo
nascimento, na Inglaterra, do primeiro "bebê de proveta", uma menina chamada LOUISE BROWN.

Alguns anos após, uma declaração de IACQUES TESTART, o primeiro biólogo francês a "conseguir" o primeiro
"bebê de proveta" francês, tem grande repercussão ao anunciar que não mais tentaria tal procedimento, que
reservaria mais prioridade à reflexão ética, recusando-se a basear-se no poder médico para julgar o fundamento
das demandas e que será preciso basear-se no parecer do Comitê Consultivo Nacional de Ética no que diz
respeito às pesquisas futuras.

Nesse meio tempo, o então presidente da República francesa, FRANÇOIS MITTERAND, tinha estabelecido, em
1983, o Comitê Consultivo Nacional de Ética para as Ciências da Vida e da Saúde (CCNE). Em um discurso
frequentemente citado, o presidente francês menciona que A CIÊNCIA AVANÇA MAIS RÁPIDO QUE A
REFLEXÃO e que isso aumenta ainda mais a necessidade de uma PAUSA PARA REFLETIR ETICAMENTE.

O Comitê hesita em tomar posição sobre as técnicas de reprodução artificial e sugere, em 1984, uma consulta
pública.

Esse não é o caso na GRÃ-BRETANHA, onde a WARNOCK COMISSION apresenta em 1984 um relatório sobre
as repercussões sociais, éticas e jurídicas do desenvolvimento da embriologia humana e das técnicas destinadas
a paliar a esterilidade, e recomenda a adoção de medidas jurídicas.

A AMNIOCENTESE9, um teste que visa à detecção de anomalias do feto durante os primeiros meses de
gravidez, surge durante esses anos. Essa técnica contribuiu para a reanimação de um debate sempre atual
sobre o aborto.

No CANADÁ, um forte movimento pela descriminalização do aborto se organiza. Diversos projetos de lei são
declarados inconstitucionais. Diversas práticas de médicos e de cidadãos originam processos de grande
repercussão.

Na FRANÇA, depois de muitas lutas, o aborto ganha condição legal com a LEI VEIL, de 1975 . Tal lei 10

estabeleceu as condições, as consultas prévias a serem efetua das e as precauções necessárias a serem tomadas
para fazer um aborto.

Como vários autores enfatizam, a humanidade, por exemplo, praticou a eutanásia11 e o aborto desde sempre.

genética, biologia molecular e engenharia genética. Eugenismo, por sua vez, haveria de ser considerado como a ideologia da eugenética,
crente que a substituição dos genes maus pelos genes bons será capaz de conceber uma humanidade nova e melhorada, livre do peso do
sofrimento. A eugenética pode ser dividida em duas partes: a EUGENÉTICA NEGATIVA, cuja preocupação é prevalente no sentido em
prevenir e curar doenças e más-formações de origem genética; e EUGENÉTICA POSITIVA, cujo objetivo precípuo é a melhoria das
capacidades humanas objetivamente, nas várias ordens de categoria psicofísicas. A EUGENIA NEGATIVA É ACEITA SEM GRANDES
ÓBICES, no entanto, a grande polêmica reside na eugenia positiva e seu ânimo em alterar a natureza humana. Esta tendência ao
reducionismo de todo social e cultural do homem a uma mera genetização, em virtude da exacerbação das pesquisas, segundo alguns
estudiosos, pode conduzir a uma nova sociedade bioantropossocial, formada pelos novos humanos, o que, somado ao processo de
intensificação do controle e transformação dos sistemas sociais, vai ao encontro dos objetivos da globalização. Logo, o que aparentemente
é melhor para a espécie homo sapiens sapiens, pode ser altamente arriscado e prejudicial ao indivíduo.
8
Conforme Resolução do Conselho Federal de Medicina n.º 2121/2005, de 24/09/2015 – anexo.
9
Amniocentese: teste pré-natal usado para diagnosticar síndromes cromossômicas (como a Síndrome de Down) e defeitos congênitos –
como espinha bífida e anencefalia. Ela é feita a partir de uma amostra do líquido amniótico, retirado com agulha guiada pelo ultrassom,
portanto é um exame invasivo. O público-alvo desse teste são mulheres a partir dos 35 anos, ou com histórico de doença cromossômica na
família. Isso porque esses fatores aumentam o risco de a paciente ter uma gravidez com presença de anomalia cromossômica no feto. Por
apresentar riscos, ele costuma ser indicado apenas após a identificação de alterações na ultrassonografia morfológica e outros exames de
triagem – dessa forma, só pode ser feito a partir da 12ª semana de gestação. Segundo estimativas, uma Amniocentese realizada no
segundo trimestre de gestação oferece um risco de aborto entre 1 em 300 a 1 em 500 pacientes. Se realizado antes de 15 semanas de
gravidez, o teste invasivo oferece um risco ainda maior de interrupção da gravidez. Outros problemas – que atingem cerca de 1% das
gestantes submetidas ao exame – são sangramento vaginal, perda de líquido amniótico, infecção e contaminação por Rh. Portanto, após a
realização do exame é preciso observar os sintomas presentes na mulher e, em caso de Rh diferente entre a mãe e o bebê, medicá-la para
evitar a eritroblastose fetal.
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França: Lei n.º 75-17, de 17 de janeiro de 1975, relativa à interrupção voluntária da gravidez.

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Contudo, as novas tecnologias que podiam agora ser associadas a esses gestos exigiam um novo
questionamento.

Segundo alguns pensadores, pode-se dizer que, tanto o aborto como o emprego de todos os recursos
terapêuticos, pertenciam a zonas obscuras da ética médica em que os praticantes eram levados a decidir de
alguma maneira fugindo das normas e em virtude apenas de seu senso de responsabilidade.

Os progressos biomédicos tornaram possíveis situações que ultrapassavam o campo em que se exercia até então
a decisão médica, de tal modo que os critérios antigos acabaram por parecer insuficientes.

Outras questões novas foram surgindo, tais como:


- embriões humanos podem ser congelados?
- pode-se intervir nos genes?

O ser humano toma consciência de novos poderes: a tecnociência não é mais um simples instrumento para
facilitar a vida, ela permite a transformação do próprio ser humano.

O público passa a sofrer certa inquietação diante dos possíveis efeitos perversos da ciência e dos avanços
tecnocientíficos. Na FRANÇA, por exemplo, IEAN-PAUL THOMAS descreve a situação como marcada
globalmente pela desconfiança, afirmando que em uma década, passou-se da boa consciência esclarecida para o
alarmismo, até mesmo para o catastrofismo. O consenso dos espíritos esclarecidos foi sucedido pela emergência
de uma reflexão ética e depois pelo recuo para posições de retração, como se os problemas éticos colocados
ultrapassassem as capacidades da reflexão humana.

De modo mais geral, o público e os próprios pesquisadores estão divididos entre sentimentos diversos:
fascinação, desejo de conhecer, medo das desmedidas, temor dos abusos. Em suma, não há mais a convicção
de que a ciência é sempre boa e de que suas descobertas devam necessariamente ser aplicadas.

A bioética se vincula à corrente de ideias e de sensibilidade segundo a qual os avanços tecnocientíficos não
constituem automaticamente progressos para a humanidade em geral, de tal modo que o que é
tecnocientificamente possível não é ipso facto sempre bom nem necessariamente deve ser permitido.

A bioética é crítica no sentido em que considera que a articulação e a integração da pesquisa e do


desenvolvimento tecnocientíficos na sociedade global não são evidentes, são complexos e exigem negociação.

11
Eutanásia vem do grego, podendo ser traduzida como "boa morte" ou "morte apropriada". O termo foi proposto por FRANCIS
BACON, em 1623, em sua obra "Historia vitae et mortis", como sendo o "tratamento adequado as doenças incuráveis". De maneira
geral, entende-se por eutanásia quando uma pessoa causa deliberadamente a morte de outra que está mais fraca, debilitada ou em
sofrimento. Neste último caso, a eutanásia seria justificada como uma forma de evitar um sofrimento acarretado por um longo período de
doença. O termo eutanásia é muito amplo e pode ter diferentes interpretações. Existem dois elementos básicos na caracterização da
eutanásia: a intenção e o efeito da ação. A intenção de realizar a eutanásia pode gerar uma ação (eutanásia ativa) ou uma omissão,
isto é, a não realização de uma ação que teria indicação terapêutica naquela circunstância (eutanásia passiva). Ortotanásia é deixar que
o paciente siga seu caminho natural para a morte sem aumentar-lhe a vida de forma artificial, ou seja, apenas o acompanhamento para
que a morte seja menos sofrível possível e de forma natural. Distanásia é o ato de prolongar a vida do paciente seja por drogas de
qualquer tipo para esse fim, seja por meio de aparelhos de forma inútil, uma vez que a morte já é uma sentença e não uma possibilidade.
Mistanásia: também chamada de eutanásia social. LEONARD MARTIN sugeriu o termo mistanásia para denominar a morte miserável,
fora e antes da hora. Segundo o citado "... dentro da grande categoria de mistanásia quero focalizar três situações: primeiro, a
grande massa de doentes e deficientes que, por motivos políticos, sociais e econômicos, não chegam a ser pacientes, pois não
conseguem ingressar efetivamente no sistema de atendimento médico; segundo, os doentes que conseguem ser pacientes para,
em seguida, se tornar vítimas de erro médico e, terceiro, os pacientes que acabam sendo vítimas de má-prática por motivos
econômicos, científicos ou sociopolíticos. A mistanásia é uma categoria que nos permite levar a sério o fenômeno da maldade
humana...".

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ANEXO – 01

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA.

RESOLUÇÃO CFM nº 2.121/2015


(Publicada no D.O.U. de 24 de setembro de 2015, Seção I, p.117)

Adota as normas éticas para a utilização das técnicas de Reprodução assistida – sempre em
defesa do aperfeiçoamento das práticas e da observância aos princípios éticos e bioéticos
que ajudarão a trazer maior segurança e eficácia a tratamentos e procedimentos médicos –
tornando-se o dispositivo deontológico a ser seguido pelos médicos brasileiros e revogando
a Resolução CFM nº 2.013/13, publicada no D.O.U. de 9 de maio de 2013, Seção I, p. 119.

O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, no uso das atribuições conferidas pela Lei n.º 3.268, de 30 de setembro de 1957,
alterada pela Lei nº 11.000, de 15 de dezembro de 2004, regulamentada pelo Decreto nº 44.045, de 19 de julho de 1958, e
pelo Decreto nº 6.821, de 14 de abril de 2009, e

CONSIDERANDO a infertilidade humana como um problema de saúde, com implicações médicas e psicológicas, e a
legitimidade do anseio de superá-la;

CONSIDERANDO que o avanço do conhecimento científico já permite solucionar vários casos de problemas de reprodução
humana;

CONSIDERANDO que o pleno do Supremo Tribunal Federal, na sessão de julgamento de 5 de maio de 2011, reconheceu e
qualificou como entidade familiar a união estável homoafetiva (ADI 4.277 e ADPF 132);

CONSIDERANDO a necessidade de harmonizar o uso dessas técnicas com os princípios da ética médica;

CONSIDERANDO, finalmente, o decidido na sessão plenária do Conselho Federal de Medicina realizada em de 16 de julho de
2015,

RESOLVE:

Art. 1.º - Adotar as normas éticas para a utilização das técnicas de reprodução assistida, anexas à presente resolução, como
dispositivo deontológico a ser seguido pelos médicos.

Art. 2.º - Revogar a Resolução CFM n.º 2.013/2013, publicada no D.O.U. de 9 de maio de 2013, Seção I, p. 119 e demais
disposições em contrário.

Art. 3.º - Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 16 de julho de 2015.

CARLOS VITAL TAVARES CORRÊA LIMA - Presidente

HENRIQUE BATISTA E SILVA – Secretário geral.

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NORMAS ÉTICAS PARA A UTILIZAÇÃO DAS TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA

I - PRINCÍPIOS GERAIS

1 - As técnicas de reprodução assistida (RA) têm o papel de auxiliar na resolução dos problemas de reprodução humana,
facilitando o processo de procriação.

2 - As técnicas de RA podem ser utilizadas desde que exista probabilidade de sucesso e não se incorra em risco grave de
saúde para o(a) paciente ou o possível descendente, sendo a idade máxima das candidatas à gestação de RA de 50 anos.

3 - As exceções ao limite de 50 anos para participação do procedimento serão determinadas, com fundamentos técnicos e
científicos, pelo médico responsável e após esclarecimento quanto aos riscos envolvidos.

4 - O consentimento livre e esclarecido informado será obrigatório para todos os pacientes submetidos às técnicas de
reprodução assistida. Os aspectos médicos envolvendo a totalidade das circunstâncias da aplicação de uma técnica de RA
serão detalhadamente expostos, bem como os resultados obtidos naquela unidade de tratamento com a técnica proposta.
As informações devem também atingir dados de caráter biológico, jurídico e ético. O documento de consentimento livre e
esclarecido informado será elaborado em formulário especial e estará completo com a concordância, por escrito, obtida a
partir de discussão bilateral entre as pessoas envolvidas nas técnicas de reprodução assistida.

5 - As técnicas de RA não podem ser aplicadas com a intenção de selecionar o sexo (presença ou ausência de cromossomo Y)
ou qualquer outra característica biológica do futuro filho, exceto quando se trate de evitar doenças do filho que venha a
nascer.

6 - É proibida a fecundação de oócitos humanos com qualquer outra finalidade que não a procriação humana.

7 - O número máximo de oócitos e embriões a serem transferidos para a receptora não pode ser superior a quatro. Quanto ao
número de embriões a serem transferidos, fazem-se as seguintes determinações de acordo com a idade:
a) mulheres até 35 anos: até 2 embriões;
b) mulheres entre 36 e 39 anos: até 3 embriões;
c) mulheres com 40 anos ou mais: até 4 embriões;
d) nas situações de doação de óvulos e embriões, considera-se a idade da doadora no momento da coleta dos óvulos.

8 - Em caso de gravidez múltipla, decorrente do uso de técnicas de RA, é proibida a utilização de procedimentos que visem a
redução embrionária.

II - PACIENTES DAS TÉCNICAS DE RA

1 - Todas as pessoas capazes, que tenham solicitado o procedimento e cuja indicação não se afaste dos limites desta
resolução, podem ser receptoras das técnicas de RA desde que os participantes estejam de inteiro acordo e devidamente
esclarecidos, conforme legislação vigente.

2 - É permitido o uso das técnicas de RA para relacionamentos homoafetivos e pessoas solteiras, respeitado o direito a objeção
de consciência por parte do médico.

3 - É permitida a gestação compartilhada em união homoafetiva feminina em que não exista infertilidade.

III - REFERENTE ÀS CLÍNICAS, CENTROS OU SERVIÇOS QUE APLICAM TÉCNICAS DE RA

As clínicas, centros ou serviços que aplicam técnicas de RA são responsáveis pelo controle de doenças infectocontagiosas, pela
coleta, pelo manuseio, pela conservação, pela distribuição, pela transferência e pelo descarte de material biológico humano
para o(a) paciente de técnicas de RA. Devem apresentar como requisitos mínimos:

1 - Um diretor técnico – obrigatoriamente, um médico registrado no Conselho Regional de Medicina de sua jurisdição – com
registro de especialista em áreas de interface com a RA, que será responsável por todos os procedimentos médicos e
laboratoriais executados;

2 - Um registro permanente (obtido por meio de informações observadas ou relatadas por fonte competente) das gestações,
dos nascimentos e das malformações de fetos ou recém - nascidos, provenientes das diferentes técnicas de RA aplicadas
na unidade em apreço, bem como dos procedimentos laboratoriais na manipulação de gametas e embriões;

3 - Um registro permanente das provas diagnósticas a que é submetido o(a) paciente, com a finalidade precípua de evitar a
transmissão de doenças;

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4 - Os registros deverão estar disponíveis para fiscalização dos Conselhos Regionais de Medicina.

IV - DOAÇÃO DE GAMETAS OU EMBRIÕES

1 - A doação não poderá ter caráter lucrativo ou comercial.

2 - Os doadores não devem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa.

3 - A idade limite para a doação de gametas é de 35 anos para a mulher e de 50 anos para o homem.

4 - Será mantido, obrigatoriamente, o sigilo sobre a identidade dos doadores de gametas e embriões, bem como dos
receptores. Em situações especiais, informações sobre os doadores, por motivação médica, podem ser fornecidas
exclusivamente para médicos, resguardando-se a identidade civil do(a) doador(a).

5 - As clínicas, centros ou serviços onde é feita a doação devem manter, de forma permanente, um registro com dados clínicos
de caráter geral, características fenotípicas e uma amostra de material celular dos doadores, de acordo com legislação
vigente.

6 - Na região de localização da unidade, o registro dos nascimentos evitará que um(a) doador(a) tenha produzido mais de duas
gestações de crianças de sexos diferentes em uma área de um milhão de habitantes.

7 - A escolha dos doadores é de responsabilidade do médico assistente. Dentro do possível, deverá garantir que o(a) doador(a)
tenha a maior semelhança fenotípica e a máxima possibilidade de compatibilidade com a receptora.

8 - Não será permitido aos médicos, funcionários e demais integrantes da equipe multidisciplinar das clínicas, unidades ou
serviços, participarem como doadores nos programas de RA.

9 - É permitida a doação voluntária de gametas masculinos, bem como a situação identificada como doação compartilhada de
ócitos em RA, em que doadora e receptora, participando como portadoras de problemas de reprodução, compartilham
tanto do material biológico quanto dos custos financeiros que envolvem o procedimento de RA. A doadora tem preferência
sobre o material biológico que será produzido.

V - CRIOPRESERVAÇÃO DE GAMETAS OU EMBRIÕES

1 - As clínicas, centros ou serviços podem criopreservar espermatozoides, óvulos, embriões e tecidos gonádicos.

2 - O número total de embriões gerados em laboratório será comunicado aos pacientes para que decidam quantos embriões
serão transferidos a fresco. Os excedentes, viáveis, devem ser criopreservados.

3 - No momento da criopreservação, os pacientes devem expressar sua vontade, por escrito, quanto ao destino a ser dado aos
embriões criopreservados em caso de divórcio, doenças graves ou falecimento, de um deles ou de ambos, e quando
desejam doá-los.

4 - Os embriões criopreservados com mais de cinco anos poderão ser descartados se esta for a vontade dos pacientes. A
utilização dos embriões em pesquisas de células-tronco não é obrigatória, conforme previsto na Lei de Biossegurança.

VI - DIAGNÓSTICO GENÉTICO PRÉ-IMPLANTAÇÃO DE EMBRIÕES

1 - As técnicas de RA podem ser utilizadas aplicadas à seleção de embriões submetidos a diagnóstico de alterações genéticas
causadoras de doenças – podendo nesses casos serem doados para pesquisa ou descartados.

2 - As técnicas de RA também podem ser utilizadas para tipagem do sistema HLA do embrião, no intuito de selecionar
embriões HLA-compatíveis com algum(a) filho(a) do casal já afetado pela doença e cujo tratamento efetivo seja o
transplante de células-tronco, de acordo com a legislação vigente.

3 - O tempo máximo de desenvolvimento de embriões in vitro será de 14 dias.

VII - SOBRE A GESTAÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO (DOAÇÃO TEMPORÁRIA DO ÚTERO)

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As clínicas, centros ou serviços de reprodução assistida podem usar técnicas de RA para criarem a situação identificada como
gestação de substituição, desde que exista um problema médico que impeça ou contraindique a gestação na doadora genética
ou em caso de união homoafetiva.

1 - As doadoras temporárias do útero devem pertencer à família de um dos parceiros em parentesco consanguíneo até o
quarto grau (primeiro grau – mãe; segundo grau – irmã/avó; terceiro grau – tia; quarto grau – prima). Demais casos estão
sujeitos à autorização do Conselho Regional de Medicina.

2 - A doação temporária do útero não poderá ter caráter lucrativo ou comercial.

3 - Nas clínicas de reprodução assistida, os seguintes documentos e observações deverão constar no prontuário do paciente:

3.1. Termo de consentimento livre e esclarecido informado assinado pelos pacientes e pela doadora temporária do útero,
contemplando aspectos biopsicossociais e riscos envolvidos no ciclo gravídico-puerperal, bem como aspectos legais
da filiação;

3.2. Relatório médico com o perfil psicológico, atestando adequação clínica e emocional de todos os envolvidos;

3.3. Termo de Compromisso entre os pacientes e a doadora temporária do útero (que receberá o embrião em seu útero),
estabelecendo claramente a questão da filiação da criança;

3.4. Garantia, por parte dos pacientes contratantes de serviços de RA, de tratamento e acompanhamento médico,
inclusive por equipes multidisciplinares, se necessário, à mãe que doará temporariamente o útero, até o puerpério;

3.5. Garantia do registro civil da criança pelos pacientes (pais genéticos), devendo esta documentação ser providenciada
durante a gravidez;

3.6. Aprovação do cônjuge ou companheiro, apresentada por escrito, se a doadora temporária do útero for casada ou viver
em união estável.

VIII - REPRODUÇÃO ASSISTIDA POST-MORTEM

É permitida a reprodução assistida post-mortem desde que haja autorização prévia específica do(a) falecido(a) para o uso do
material biológico criopreservado, de acordo com a legislação vigente.

IX - DISPOSIÇÃO FINAL

Casos de exceção, não previstos nesta resolução, dependerão da autorização do Conselho Federal de Medicina.

EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS DA RESOLUÇÃO CFM Nº 2.121/2015

No Brasil, até a presente data, não há legislação específica a respeito da reprodução assistida (RA). Tramitam no Congresso
Nacional, há anos, diversos projetos a respeito do assunto, mas nenhum deles chegou a termo.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) age sempre em defesa do aperfeiçoamento das práticas e da obediência aos princípios
éticos e bioéticos, que ajudarão a trazer maior segurança e eficácia a tratamentos e procedimentos médicos.

Manter a limitação da idade das candidatas à gestação de RA até 50 anos foi primordial, com o objetivo de preservar a saúde
da mulher, que poderá ter uma série de complicações no período gravídico, de acordo com a medicina baseada em evidências.

Os aspectos médicos envolvendo a totalidade das circunstâncias da aplicação da reprodução assistida foram detalhadamente
expostos nesta revisão realizada pela Comissão de Revisão da Resolução CFM nº 2.013/13, em conjunto com representantes
da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia e da
Sociedade Brasileira de Reprodução Humana e Sociedade Brasileira de Genética Médica, sob a coordenação do conselheiro
federal José Hiran da Silva Gallo.

Esta é a visão da comissão formada que trazemos à consideração do plenário do Conselho Federal de Medicina.

Brasília-DF, 16 de julho de 2015.


JOSÉ HIRAN DA SILVA GALLO
Coordenador da Comissão de Revisão da Resolução CFM nº 2.013/13 – Reprodução Assistida

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