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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA


CIENCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO SOCIAL
MESTRANDA VALESCA DAIANA BOTH AMES

PINCH, T.; BIJKER, W. The Social Construction of Facts and Artifacts: Or How the
Sociology of Science and the Sociology of Technology Might Benefit Each Other. In:
BIJKER, W.; HUGHES, T.; PINCH, T. (Eds.). The Social Construction of
Technological Systems. Massachusetts: MIT Press, 1987. p. 17-50.

Introdução
Nos anos recentes verifica-se uma separação entre os estudos sociológicos que
versam sobre a ciência e estudos que versam sobre a tecnologia. No que diz respeito à
sociologia da ciência, os estudos nesta área tem tornado-se abundantes, porém não
encontramos nenhuma tentativa para trazer tais conhecimentos (científico e técnico) à
uma análise conjunta. De acordo com Pinch e Bijker (1987), estes estudos podem e
devem beneficiarem-se mutuamente, especialmente através da aplicação da abordagem
sócio-construtivista à análise da tecnologia.
Neste sentido, os autores apresentam a possibilidade de entendimento da
tecnologia a partir de uma abordagem sócio-construtivista, abordando analítica e
empiricamente a história de um determinado artefato tecnológico a partir de conceitos-
chave utilizados pela sociologia do conhecimento científico.
Em um primeiro momento os autores irão revisar corpos de literatura que
consideram ser relevantes para o objetivo proposto. Em um segundo momento
apresentam duas abordagens: uma presente na sociologia do conhecimento científico e a
outra na sociologia da tecnologia. Finalmente, na terceira parte, apontam de que formas
ambas as abordagens podem beneficiarem-se mutuamente, através da analise de um
exemplo empírico.

Alguma literatura relevante


Sociologia da ciência
Pinch e Bijker (1987) irão apresentar a nova abordagem sociológica da ciência
que desenvolveu-se a partir da década de 1970, através do programa de pesquisa
cunhado por David Bloor, o chamado programa forte. O programa forte afirma a
possibilidade de uma analise sociológica do conteúdo do conhecimento científico,
contrastando com trabalhos anteriores em sociologia da ciência, que eram preocupados
com a ciência como uma instituição e com o estudo das normas sociais, padrões de
carreiras e recompensas, cujo fundador e principal representante foi o sociólogo Robert
Merton.
Para o estudo do conhecimento científico, Bloor (1976/2008) formulou quatro
princípios que devem orientar o trabalho do sociólogo: o princípio da causalidade,
imparcialidade, simetria e reflexividade. Destes quatro princípios, o princípio da
simetria foi o mais importante visto que pretendia “indagar a necessidade de dar
tratamento equivalente ao verdadeiro e ao falso, ao científico e ao social” (ALMEIDA;
PREMEDIBA; NEVES, 2011, p.27). Este princípio posteriormente influenciou outros
sociólogos da ciência, como Bruno Latour, por exemplo, que formula o princípio de
simetria generalizada, procurando equivaler humanos e não-humanos na análise dos
ambientes sócio-técnicos.
Além do princípio de simetria, o princípio de imparcialidade também mostrou-se
muito importante para o estudo do conhecimento científico, visto que afirma que na
investigação das causas das crenças, os sociólogos devem analisar tanto crenças
consideradas verdadeiras quanto aquelas consideradas falsas. Dentro de tal programa a
verdade e legitimidade do conhecimento possuem correlação com as dinâmicas sociais
que perpassam o campo científico. Nesse sentido, o conhecimento é tratado como
socialmente construído, isto é, a explicação para a gênese, aceitação e rejeição do
conhecimento são procurados também no domínio do mundo social.
Esta abordagem gerou um rigoroso programa de pesquisa empírica, tornando
possível entender o processo de construção do conhecimento científico em uma
variedade de locais e contextos, como faz, por exemplo, Bruno Latour, em seus estudos
sobre a produção da ciência em laboratórios. No mesmo sentido, Collins toma como
centro de suas investigações as controvérsias entre cientistas, observando como as
controvérsias se fecham e o conhecimento considerado verdadeiro emerge.
Embora existam diferenças entre as abordagens sociológicas da ciência, há um
consenso de que o conhecimento científico é constituído socialmente. Por este motivo,
estas abordagens são denominadas construtivistas e marcam um novo desenvolvimento
da sociologia da ciência.
Relação entre ciência e tecnologia
Ao analisar a relação entre a ciência e a tecnologia, Pinch e Bijker (1987)
apresentam algumas interpretações a respeito desta problemática. Uma delas refere-se a
visão filosófica a respeito da ciência e da tecnologia, que as separam por razões
analíticas. Tal distinção é feita com base na consideração de que a ciência versa sobre a
descoberta de verdades, enquanto que a tecnologia versa sobre a aplicação da verdade.
No mesmo sentido, alguns pesquisadores da inovação preocupam-se em
investigar o grau em que a inovação origina-se da ciência básica, o que mostra a
pressuposição, implícita nesta abordagem, de que a tecnologia possui um
desenvolvimento linear, que tem como ponto de partida a formulação de conhecimentos
científicos.
Ao contrário da visão linear, Pinch e Bijker afirmam que está se desenvolvendo
uma abordagem mais sociológica sobre a relação entre ciência e tecnologia, que enxerga
entre elas uma relação não-linear, vendo-as como misturadas, e onde o próprio
desenvolvimento técnico pode ser anterior e influenciar as pesquisas científicas.
[Tecnólogos podem trabalhar como cientistas e cientistas como tecnólogos] Segundo
essa perspectiva, que tem Layton e Barnes como representantes, a ciência e a tecnologia
são socialmente produzidas em uma série de circunstancias sociais.
Estudos da tecnologia
Em relação aos estudos que versam especificamente sobre a tecnologia, Pinch e
Bijker (1987) apresentam três abordagens: estudos sobre inovação, história da
tecnologia e sociologia da tecnologia.
A maioria dos estudos sobre inovações foram realizados por economistas que
concentram-se em explicar os aspectos que condicionaram o sucesso das inovações.
Para esta abordagem, a tecnologia é vista como uma “caixa-preta”, visto que o processo
através do qual a tecnologia foi construída não é analisado. O processo de inovação é
visto através de um modelo linear. [pesquisa básica – pesquisa aplicada –
desenvolvimento tecnológico – desenvolvimento do produto – produção – uso]
A história da tecnologia apresenta estudos bastante importantes na compreensão
do desenvolvimento de tecnologias particulares. Entretanto, segundo Pinch e Bijker,
este tipo de trabalho apresenta dois problemas: concentram-se em descrever o processo
de inovação, não tornando possível a realização de generalizações alem dos exemplos
históricos e, por outro lado, dedicam-se somente ao estudo de inovações bem sucedidas,
deixando de lado aquelas que fracassaram, realizando uma abordagem assimétrica do
desenvolvimento tecnológico.
A possibilidade de uma visão construtivista da tecnologia tem sido
proporcionada por Mulkay. O argumento que ele deseja combater é aquele segundo o
qual a efetividade pratica da tecnologia torna dispensável uma explicação sociológica.
Ele demonstra que é possível que uma teoria falsa ou parcialmente falsa seja usada
como base de aplicações práticas bem sucedidas. O sucesso da tecnologia, segundo ele,
não tem nada a dizer sobre a verdade do conhecimento científico no qual se baseia. [a
ciência pode estar errada, mas uma boa tecnologia ainda pode estar baseada nela. A
tecnologia, assim como a ciência, é socialmente construída, o significado técnico da
tecnologia é socialmente construído]
Estudos que demonstram que a tecnologia é socialmente construída tem
começado a emergir. Michel Callon, neste sentido, é um exemplo, com seu estudo sobre
o carro elétrico na França, demonstrando que quase tudo é negociável: o que é certo, o
que não que é, o que é tecnológico, o que é social.
De acordo com Pinch e Bijker, os estudos predominantes no entendimento da
tecnologia – estudos sobre inovações e história da tecnologia – ainda não fornecem
muitas contribuições para o desenvolvimento de uma sociologia da tecnologia. Uma
exceção refere-se aos estudos que vem sendo desenvolvidos na sociologia do
conhecimento científico, que pode levar à construção de uma abordagem unificada entre
a sociologia da ciência e a sociologia da tecnologia.
EPOR e SCOT
O programa empírico do relativismo (EPOR)
O programa empírico do relativismo é uma das abordagens presentes na nova
sociologia do conhecimento científico. Esta abordagem produziu vários estudos
demonstrando a construção social do conhecimento científico nas ciências “hards”. A
característica principal desta abordagem em relação as demais abordagens presentes na
sociologia do conhecimento científico é o foco em estudos empíricos do conhecimento
científico contemporâneo e o estudo, em particular, das controvérsias científicas.
No estudo da construção do conhecimento científico pelo programa empírico do
relativismo podemos identificar três estágios. No primeiro estagio é apresentada a
interpretação flexível das descobertas científicas, demonstrando que o artefato está
aberto à várias interpretações diferentes entre si. O segundo estagio procura
compreender como tais controvérsias cessam e um consenso sobre a verdade
usualmente emerge. O terceiro estágio refere-se ao relato do mecanismo de fechamento
em relação ao meio sócio-cultural.
A construção social da tecnologia (SCOT)
Segundo a visão socio-construtivista da tecnologia, o desenvolvimento
tecnológico não possui uma direção linear e pré-determinada, mas pode variar
imensamente dependendo do contexto social de sua produção. O artefato tecnológico,
segundo essa perspectiva, passa por um processo de “seleção social” visto que existem
múltiplas variações possíveis, onde apenas uma delas sobrevive. Para ilustrar esse
desenvolvimento Pinch e Bijker detem-se sobre o processo de construção social da
bicicleta, utilizando para tanto os conceitos elaborados pelo programa empírico do
relativismo na analise da ciência.
O primeiro estágio do EPOR consiste na demonstração da flexibilidade
interpretativa das descobertas científicas. Neste estágio é demonstrado que existem
várias interpretações da natureza disponíveis, e portanto, a natureza sozinha não é
determinante para o resultado do debate científico. Em SCOT, o referente a este
primeiro estágio do EPOR consiste na demonstração de que os artefatos tecnológicos
são culturalmente construídos e interpretados, ou seja, a flexibilidade interpretativa dos
artefatos pode ser demonstrada.
Essa flexibilidade interpretativa dos artefatos refere-se às diferentes
interpretações que são feitas sobre eles por diferentes grupos sociais, assim, grupos
sociais que possuem normas, valores diferentes irão interpretar de maneiras distintas o
artefato considerado. Essa flexibilidade não refere-se somente a uma flexibilidade em
relação a maneira com que os artefatos são interpretados e pensados, mas também com
relação a maneira com que eles são designados. Ex.: o “pneu de ar” era visto por alguns
grupos sociais como solução ao problema da vibração das pequenas rodas do veiculo,
para outros ele era visto como uma maneira de andar mais rápido, enquanto que para um
terceiro grupo ele era considerado apenas como uma maneira de tornar as rodas baixas
ainda menos seguras.
Um segundo componente utilizado pela abordagem SCOT [e que não origina-se
do EPOR] refere-se ao conceito de grupo social relevante. Este conceito é utilizado para
referir-se a instituições e organizações bem como a grupos de indivíduos que
compartilham um mesmo conjunto de significados a respeito de um artefato específico.
No caso da bicicleta, esses grupos constituem-se, por exemplo, dos possíveis usuários
do artefato. Porem Pinch e Bijker afirmam a importância de considerar-se também
aqueles grupos que são contrários ao desenvolvimento do artefato, os chamados anti-
ciclista, para os quais o artefato também adquire um sentido.
Um grupo social relevante apenas pode ser considerado como tal se todos os
membros que compõem o grupo possuem um mesmo conjunto de significados a
respeito do artefato. Caso contrário, este grupo pode ser dividido em grupos sociais
diferentes entre si.
Uma vez identificado os grupos sociais relevantes, eles são descritos em mais
detalhes. Neste sentido torna-se importante definir as interpretações que adquire o
artefato em relação a cada grupo social. Ex.: para o grupo social dos homens jovens a
função da bicicleta serviu principalmente para o desporto (ao invés de transporte, por
exemplo). Cada grupo formula problemas e vantagens diferentes com relação ao
artefato. Sobre os problemas, varias soluções podem ser identificadas, o que pode gerar
conflitos entre os grupos sociais.
Seguindo o desenvolvimento desta maneira, nos vemos aumentar e diminuir
graus de estabilização de diferentes artefatos [a invenção da bicicleta segura não foi um
evento isolado, mas um processo de 19 anos].
O terceiro estágio do SCOT consiste em analisar como o artefato é estabilizado,
o que equivale ao segundo estágio do EPOR, que busca mapear os mecanismos de
fechamento do debate. O encerramento do debate na tecnologia, segundo Pinch e Bijker
envolve a estabilização de um artefato e o desaparecimento do problema. Para o
encerramento de uma controvérsia tecnológica os grupos sociais relevantes devem
enxergar os problemas como sendo resolvidos. Estes mecanismos de fechamento podem
ser de dois tipos: fechamento retórico e fechamento por redefinição do problema.
O fechamento retórico refere-se ao convencimento dos grupos por meios como a
publicidade, por exemplo, visto que ela joga um papel importante na formação do
sentido que o grupo social dá ao artefato.
O fechamento por redefinição do problema refere-se a estabilização do artefato
através do convencimento de grupos sociais relevantes por meio de um processo que
converte o sentido que os grupos sociais dão ao artefato. A mudança de sentido pode
referir-se a uma redefinição dos problemas aos quais o artefato deve ter o significado de
uma solução.
No caso da bicicleta, Pinch e Bijker demonstram as controvérsias que existiam
entre os grupos em torno do pneu de ar. Para o grupo de engenheiros ele era
considerado uma “monstruosidade teórica e pratica”. Para o publico geral ele
significava “um acessório esteticamente horrível”. Para Dunlop e outros protagonistas
ele significava a solução para o problema da vibração. Só que a vibração só
apresentava-se como um problema para os usuários de rodas baixas. Enquanto que para
os ciclistas esportivos (que utilizavam rodas altas) a vibração não era vista como um
problema. Portanto, tínhamos três grupos opostos ao pneu de ar. Mas, em seguida, o
pneu de ar foi montado em bicicletas de corrida, o que fez com que se alcançasse uma
maior velocidade. Este fato acabou convencendo o grupo dos ciclistas e do publico geral
sobre as vantagens da utilização do pneu de ar, o que fechou a controvérsia. Portanto, o
pneu de ar foi adotado como solução ao problema da velocidade e não como um
dispositivo anti-vibração (p. 45).
Podemos dizer que o sentido do pneu de ar foi traduzido para constituir uma
solução para outro problema: o problema de como ir mais rápido possível. E então,
redefinindo o problema fundamental com respeito ao qual o artefato deve ter o
significado de uma solução, o fechamento foi alcançado por dois dos grupos sociais
relevantes (p. 46)
O quarto estágio do SCOT consiste em relacionar o conteúdo dos artefatos
tecnológicos à um contexto sociopolítico mais amplo, que refere-se a situação cultural e
sociopolítica dos grupo sociais que formam suas normas e valores, que por sua vez
influenciam o sentido dado ao artefato.
Conclusão
O objetivo o texto de Pinch e Bijker consiste em delinear e integrar as
abordagens construtivistas nos estudos empíricos da ciência e da tecnologia,
demonstrando que os conceitos de flexibilidade interpretativa, mecanismos sociais de
fechamento e grupos sociais mais amplos podem dar referencias empíricas em estudos
sociais da tecnologia.
Por outro lado, em nossos estudos da tecnologia pareceu ser frutífero a inclusão
de vários grupos sociais na analise, e há algumas indicações de que esse método poderia
ser muito frutífero nos estudos sobre ciência.
REFERENCIAS:

BLOOR, D. Conhecimento e imaginário social. São Paulo: UNESP, 2008.

PINCH, T.; BIJKER, W. The Social Construction of Facts and Artifacts: Or How the
Sociology of Science and the Sociology of Technology Might Benefit Each Other. In:
BIJKER, W.; HUGHES, T.; PINCH, T. (Eds.). The Social Construction of
Technological Systems. Massachusetts: MIT Press, 1987. p. 17-50.

PREMEBIDA, A; F. NEVES; J. ALMEIDA. Estudos sociais em ciência e tecnologia e


suas distintas abordagens. Sociologias, 13, p. 22-42

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