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A todos os animais não-humanos

cujos interesses mais vitais são


desconsiderados em nome de
trivialidades humanas.
Agradecimentos

Ao meu pai, Wilson Júlio da Luz, pela dedicação e


paciência em revisar as diversas versões deste livro.

Aos colaboradores da Fundação Orlando Gomes, que


me acolheram àquela instituição e prestaram serviços bi-
bliotecários indispensáveis à composição deste trabalho.

Ao Centro de Pesquisas e Estudos Jurídicos e seus


membros, pelas lições acadêmicas e pessoais.

À minha amiga Maria Izabel Vasco de Toledo, pelas


discussões que ajudaram no desenvolvimento intelectual
deste trabalho.

Ao professor Heron José de Santana Gordilho, cujas


orientações foram indispensáveis.

Aos professores Frederico Magalhães Costa e Caroli-


na Grant Pereira, cujas críticas em banca examinadora
contribuíram de forma signifcativa para o conteúdo deste
livro.

A todos os professores desta casa que contribuíram


ao amadurecimento de meu conhecimento jurídico, espe-
cialmente àqueles que incentivaram me incentivaram a
pesquisa: Rodolfo Mário Veiga Pamplona Filho, Roseli
Rêgo Santos, Samuel Santana Vida, Sara da Nova Quadro
Côrtes, Selma Pereira de Santana, e Vladmir Barros Aras.
Prefácio

A presente obra, intitulada Os Animais no Direito


Contemporâneo, do advogado Samory Pereira Santos, é re-
sultado de um estudo minucioso realizado durante sua
graduação em Direito pela renomada Universidade Fede-
ral da Bahia, sob orientação do professor Pós-Dr. Heron
José de Santana Gordilho, referência mundial no tema Di-
reitos Animais.

O autor também adquiriu experiência ao elaborar ar-


tigos publicados em seu blog Opinião Vegana, trazendo a
debate questões de extrema relevância com relação ao ve-
ganismo e Direito Animal, atingindo não só acadêmicos
de Direito como também o público em geral, o que é de
grande valia para difundir o assunto, em constante ex-
pansão.

Escrito em uma linguagem clara e objetiva, a obra do


jovem autor busca analisar o fenômeno do especismo, ou
seja, uma forma de discriminação de seres humanos com
relação a não humanos. Para tanto, utiliza-se da História
e de argumentos flosófcos contrários a este pensamento,
expondo teorias de grandes autores como Richard Ryder,
Peter Singer, Tom Regan e Gary Francione.

Ele apresenta, com sua característica da objetivida-


de, uma análise comparativa entre o juspositivismo de Je-
remy Bentham e o pensamento ético de Peter Singer. Em
seguida, traça um paralelo entre a teoria abolicionista de
Tom Regan e o jusnaturalismo racionalista de Kant. Ou
seja, a presente obra contém informações relevantes so-
8 NeoJuris Editora

bre um tema pouco explorado dentro do Direito Animal, o


que demonstra sua inovação.

Desta feita, o Direito Animal se vê enriquecido com a


publicação de um trabalho jurídico de tamanha qualidade,
marcado pela coerência e pela ampla pesquisa, permitin-
do o avanço de novas perspectivas nesta área.

O leitor, por meio de uma visão crítica, terá acesso a


importantes esclarecimentos sobre o especismo e sobre as
teorias relacionadas, indo de encontro ao principal objeti-
vo que é a defesa de um Direito que inclua os animais não
humanos como sujeitos de direitos e não como meros ob-
jetos, ou seja, como seres dignos de tutela jurídica e de
consideração moral.

Salvador, junho de 2014.


Maria Izabel Vasco de Toledo.
INTRODUÇÃO

A relação estabelecida entre os seres humanos e os


demais habitantes do planeta Terra é, historicamente,
marcada por tensão. A humanidade compreende-se dona
do mundo, composta de seres dotados de uma excepcio-
nalidade que os separam do restante do meio o qual fa-
zem parte.

Essa cisão permitiu que a ética humana se alienasse


dos problemas dos demais habitantes do planeta, reper-
cutindo em um antropocentrismo progressivamente exa-
cerbado. Os sistemas jurídicos acabaram por refetir esse
modo de pensar, através do tratamento de desprezo dis-
pensado aos mais básicos interesses dos animais não hu-
manos.

Não obstante, a humanidade, ao decorrer da história,


passou a, também, eleger determinadas espécies como
mais dignas de consideração que outras. Essa seleção mo-
ral ocorreu apesar da proximidade fsiológica e de capaci-
dade mental entre espécies que foram colocadas em cate-
gorias morais distintas.
12 Introdução

Vozes dissidentes deste discurso hegemônico surgi-


ram através do questionamento das bases fundamentais
do antropocentrismo moral. Dentre essas vozes, o Aboli-
cionismo Animal se manifesta como um posicionamento
flosófco crítico capaz de construir uma ética compatível
com a dignidade dos outros animais.

Este trabalho se posiciona de forma crítica à proble-


mática da situação dos animais não humanos dentro do
Direito brasileiro contemporâneo, em especial quanto ao
esvaziamento da efcácia das normas que possui como fm
proteger os animais, através do discurso hegemônico an-
tropocentrista. Para tanto, teve como marco teórico o
Abolicionismo Animal enquanto corrente ético-flosófca
crítica para se operar a análise deste fenômeno.

Partiu-se da hipótese de que o especismo é um fator


determinante na incapacidade das normas protetivas dos
animais em proteger os não humanos. O especismo esva-
ziaria a norma de signifcado, diminuindo a abrangência
das normas protetivas. Contudo, o especismo se releva
como uma discriminação arbitrária e injusta e, portanto,
não deve ser um valor prestigiado pelo intérprete do Di-
reito.

O raciocínio interdisciplinar foi a metodologia de


abordagem utilizada. Fez-se necessário, no desenvolvi-
mento deste livro, uma análise de informações e refexões
do Direito, em especial da Filosofa do Direito e da Ética.
Os animais no Direito Contemporâneo 13

A técnica de pesquisa empregada foi a denominada


pesquisa teórica, com enfoque na análise e crítica do as-
pecto ideológico do Direito1. Também se valeu de um es-
tudo crítico-refexivo, através da análise de livros, peri-
ódicos, legislação e jurisprudência.

Adotou-se o tipo de investigação inicialmente ju-


rídico-compreensiva ou jurídico-interpretativa, buscando
a decomposição do problema jurídico em seus diversos
aspectos, a fm de, diante da sua complexidade, melhor
compreendê-lo e as suas implicações para, em um segun-
do momento, verifcar tendências de solução do proble-
ma, através da investigação jurídico-prospectiva2.

O livro foi dividido em cinco capítulos.

O primeiro capítulo, introdutório, é este que se faz


presente, em que se faz uma breve exposição do proble-
ma, hipótese e metodologia utilizados.

O segundo capítulo delimita o histórico do especis-


mo, bem como seu conceito, variações conceituais e clas-
sifcações, defnindo, portanto, o marco teórico adotado.
Neste capítulo fez-se uma análise das teorias de Richard
Ryder, Peter Singer, Tom Regan e Gary Francione, contex-

1 GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza


Fonseca. (Re)pensando a pesquisa jurídica. 2. ed. Belo
Horizonte: Editora del Rey, 2006, p. 22.
2 GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza
Fonseca. (Re)pensando a pesquisa jurídica. 2. ed. Belo
Horizonte: Editora del Rey, 2006, p. 29.
14 Introdução

tualizando-as dentro de suas respectivas tradições ético-


flosófcas, informando as críticas frequentemente levan-
tadas.

O terceiro capítulo, após conceituar e caracterizar


cada escola jurídica examinada, estabelece relações entre
o juspositivismo, o jusnaturalismo e as teorias de Peter
Singer e Tom Regan, respectivamente, demonstrando a li-
mitação da tradição da escola de Peter Singer em traba-
lhar a superação do especismo dentro da linguagem ju-
rídica.

O quarto capítulo, por sua vez, traça a origem his-


tórica do pós-positivismo, suas características, para, en-
tão, fazer uma análise antiespecista do discurso antropo-
centrista hegemônico no pós-positivismo, discorrendo,
após, de perspectivas pós-positivistas no sentido de mu-
dança da atual disciplina do Direito em relação aos de-
mais animais de forma a incluí-los dentro do pensamento
jurídico.

O quinto capítulo expõe as conclusões observadas


no fnal da pesquisa.
A IDEOLOGIA ESPECISTA

A ideologia especista, também conhecida por antro-


pocentrismo, permeia o pensamento humano em diversas
frentes. Seja na Filosofa, seja no Direito, o antropocen-
trismo marcou o desenvolvimento da ciência e da com-
preensão humana sobre o mundo, apesar de historica-
mente encontrar rivalidade com outras formas de pensa-
mento.

Recentemente essa ideologia tem encontrado resis-


tência em uma novel ideologia contestadora, qual seja: os
Direitos Animais. O especismo, não por acaso, é o concei-
to central do Direito Animal, sendo um tema recorrente
na sua doutrina, impondo-se como ponto de partida obri-
gatória para qualquer discussão animalista contra-hege-
mônica.

Por conta dessa centralidade, contudo, o especismo


torna-se uma palavra plurívoca, possuindo uma diversida-
de de signifcados – e, sobretudo, alcances discursivos.
Cada proposta doutrinária de Direito Animal acaba por,
em seu bojo, trazer um conceito de especismo que diver-
16 A Ideologia Especista

ge, ou ampliando o alcance ou diminuindo-o, de outras


propostas.

A origem do especismo

A história do especismo, sua origem e desenvolvi-


mento como ideologia, remonta a tempos imemoriais.
Está intimamente ligada à relação que os seres humanos
desenvolveram com seus coabitantes terráqueos, variando
em intensidade e construção ao decorrer das eras.

Cogita-se que, antes do desenvolvimento da Filoso-


fa, os seres humanos, por serem caçadores coletores, pos-
suíam, naquele momento, uma relação de antagonismo
com os demais animais. Afnal, a sobrevivência naquele
modelo de sociedade, ágrafa e nômade, estava condicio-
nada plenamente na aquisição de qualquer tipo de ali-
mento3.

Contudo, com o desenvolvimento da agricultura e,


especialmente, da domesticação, que, juntos, combina-
ram-se na atividade pecuária, a relação de antagonismo
que antes os humanos mantinham com os demais animais
foi substituída por uma relação de dominação. Este senti-
mento, de dominação, deu a tônica do especismo que co-
nhecemos hoje.

3 ENGELS, Friederich. A Origem da Família, da Propriedade


Privada e do Estado. Tradução: Ciro Mioranza. 2. ed. São Paulo:
Editora Escala, [S.d.], p. 32 – 33.
Os animais no Direito Contemporâneo 17

A relação de dominação dos animais é condicionada,


pois, ao controle que o humano pecuarista exerce sobre a
vida destes indivíduos não humanos. Com efeito, através
da pecuária o humano deixou de observar os animais
como presas, que podem fugir, ou predadores, preparados
para liquidá-lo. Passou a vê-los como frutos a serem culti-
vados, geridos e, por fm, colhidos. A submissão do animal
ao processo pecuarista, pois, defniu o especismo neste
segundo momento, reduzindo o animal a qualidade de
propriedade4.

A Filosofa grega antiga, gênese do pensamento oci-


dental, não olvidou de discutir a relação que os demais
animais possuiriam com os humanos. É verdade que o
pensamento pitagórico entendia que nos animais não hu-
manos podiam habitar almas de ancestrais humanos e
que, portanto, causar dano a estes animais poderia reper-
cutir no dano a um ancestral. Criava-se, pois uma linha de
continuidade entre todos os animais, não havendo uma
diferença crucial entre os humanos e os demais 5. A essên-
cia das pessoas, sua alma, que se transferia, podendo ha-
bitar um animal, constitui o liame dessa igualdade. Toda-
via, não foi este o posicionamento que se tornou prepon-
derante6.

4 ENGELS, Friederich. A Origem da Família, da Propriedade


Privada e do Estado. Tradução: Ciro Mioranza. 2. ed. São Paulo:
Editora Escala, [S.d.], p. 64 – 65.
5 LOURENÇO, Daniel Braga. Direito dos Animais: fundamentação
e novas perspectivas. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Ed.,
2008, p. 52 – 53.
6 SINGER, Peter. Animal Liberation. Nova Iorque: HarperCollins,
2009, p. 189.
18 A Ideologia Especista

O pensamento socrático é marcado, por sua vez, pelo


antropocentrismo, tendo em vista que, nele, pondera-se
que “[…] as leis morais se originam unicamente do ho-
mem, desempenhando a razão o papel de condutor da
verdade e da unidade“ 7. Não é à toa que Platão, além de
não contradizer essencialmente o pensamento de seu
mestre, o aprofundou. Este flósofo privilegia o campo das
ideias, vinculando a concepção ética ao racionalismo e,
portanto, condicionando o justo ao domínio sobre o emo-
cional. A diferenciação e identifcação dos humanos como
detentores de racionalidade defniram, pois, a qualidade
de em que os demais animais situavam-se no mundo pla-
tônico. Não obstante, para este, apenas os seres humanos
possuiriam a alma racional, que em seu sistema é a alma
que realmente possui relevância moral8.

Dando continuidade ao desenvolvimento da ideolo-


gia especista na Grécia Antiga, Aristóteles deu uma rou-
pagem teleológica a ela. Compreendia ele que existia sca-
la naturae, em que os animais ocupavam uma posição in-
ferior dos humanos, possuindo apenas valor instrumental
para eles. Nesta posição inferior, os animais, bem como as
plantas e os escravos, exerciam o papel de serviçais aos
homens9. Homens estes que não correspondem a todos os

7 LOURENÇO, Daniel Braga. Direito dos Animais: fundamentação


e novas perspectivas. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Ed.,
2008, p. 61.
8 LOURENÇO, Daniel Braga. Direito dos Animais: fundamentação
e novas perspectivas. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Ed.,
2008, p. 64.
9 SPICA, Marciano Adilío. Do Valor da Vida, dos Interesses, do
Sujeito. ethic@, Florianópolis. v. 3, n. 3, dez. 2004, p. 69.
Os animais no Direito Contemporâneo 19

seres humanos, tampouco os seres humanos do sexo mas-


culino, mas sim os cidadãos atenienses10.

Em sentido similar, os estoicos viam os animais


como iguais no plano espiritual, todavia destituídos de
valor intrínseco11. Enquanto que para um de seus expoen-
tes, Sêneca, os animais eram destituídos de memória, a
escola pós-aristotélica compreendia que os animais “[…]
eram coisas postas a serviço do homem” 12, acompanhando
o pensamento primitivo.

As religiões abraâmicas, de origem teológico-judai-


ca, também contribuíram de forma signifcativa para a
consolidação do especismo. Em seu mito de criação, o ju-
daísmo, bem como o cristianismo e o islamismo, atribuí-
ram um papel de dominação dos seres humanos sobre os
demais animais, como se verifca em Gêneses 1:28 13. Em
Gêneses 9:2-3, a divindade judaico-cristã autoriza que os
seres humanos se alimentem e, portanto, matem os de-
mais animais14.

10 FELIPE, Sônia Teresinha. Valor Inerente e Vulnerabilidade:


critérios éticos não-especistas na perspectiva de Tom Regan.
ethic@, Florianópolis. v. 5, n. 3, jul. 2006, p. 69 – 70.
11 GORDILHO, Herón José de Santana. Abolicionismo Animal.
Salvador: Evolução, 2008, p. 21.
12 LOURENÇO, Daniel Braga. Direito dos Animais: fundamentação
e novas perspectivas. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Ed.,
2008, p. 81.
13 A BÍBLIA SAGRADA. Tradução: João Ferreira de Almeida. 2ª
Ed.. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993, p. 4.
14 A BÍBLIA SAGRADA. Tradução: João Ferreira de Almeida. 2ª
Ed.. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993, p. 10.
20 A Ideologia Especista

O judaísmo, historicamente, possui uma tradição de


sacrifício de animais a Jeová, que remonta aos costumes
praticados na região do Oriente Médio, conforme nos in-
forma Rynn Berry. Inclusive, o contrato supremo de alian-
ça foi fechado com o sangue de animais15.

O cristianismo concebe que “o homem é mais que


um ser racional, social e político: o homem é um animal
espiritual. Na sua inteligência está presente uma verdade
que não do sentido e da razão: a verdade da revelação,
que é transcendente”16. Assim, apenas o ser humano, que
foi feito à semelhança da divindade, goza de um status es-
pecífco que o torna especial, o destacando perante os de-
mais animais.

Desta forma, não é de surpreender que, com a Idade


Média e sua mudança paradigmática, cambiando para o
teocentrismo, o especismo não foi apenas mantido, mas
renovado. Neste contexto, um dos principais pensadores
cristãos da época, São Tomás de Aquino, compreendia que
“[…] só existem pecados contra Deus, contra nós mesmos
e contra nossos semelhantes, nunca contra os animais e o
mundo natural”17. Além disso, como informa Spica, Tomás
de Aquino compreende que os demais animais sequer me-
recem ser considerados como amigos, tendo em vista que

15 BERRY, Rynn. Food for the Gods: Vegetarianism & the World’s
Religions. Nova Iorque: Pythagorean Books, 1998, p. 150.
16 CASTRO JÚNIOR, Marco Aurélio de. Direito e Pós-Modernidade:
quando os robôs serão sujeitos de direito. Curitiba: Juruá,
2013, p. 44. Grifado no original.
17 GORDILHO, Herón José de Santana. Abolicionismo Animal.
Salvador: Evolução, 2008, p. 23.

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