Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Aula 6
coleção
História
Essencial da
Filosofia
por Olavo de car!âlho
Edlor
Edson Manoel de oh,eira Iilho
Da8ui Design
todosnsdkeiros deíx ohrJ Pniihida rlda c qoalqucr rcprodrçao d.Í. cilçar Ítr
Roservados
qualqrermelo.u lônna sej cLaeleh.ônicà ou DccániF, toLocópla, grava(áo.u qu{lqú0r fri.r.
i
Período Helenístico I
Aula 6
coleçáo
História
Essencial da
Filosofia
I
1
(lroçax) Histó.iâ trssencial da Filosofiâ
Período Helenístico I - Aula 6
por Olavo de Carvalho
condição social sobre a quâl se e*uiâ tlrdo isto, e desde logo a própria
condiÇáo de cidâdâo desaparece
O que é o cidadào no sentido grcgo? É o suicito que está habiliiado
a pa{icipêr da políiicà, eparricipar nâo apcnas con1o cleitor mas como
voz ativâi hoje ele é um eleiior, amanha poderá ser um governânte.
NâluraLnentc, avida dapolls erâ constituída de umâ série de tiltrâgens
e seleçóes dos vários pretendentes. Vimos que quase todos os cidâdáos
âtenienses, por eremplo. eÍanr de âlgum üodo políticos alguns com
mais sucesso, outros com menos sucesso, mas virtualmenie eram todos
politicos e se considerâvâm todos governantes virtuais, prctendentes às
funçôes de governo. de algum modlr.
E
Quârdo isso desaparec€, some tan1bén1 a condiçáo de cidadáo,
(tuc ó subsiituída pcla condição de súdiio. E o súdito, evjdent€mcn-
tc. náo pâÍiicipa de discussóes e muito menos de decisÕes políticas;
(llc nem sabc quâis sáo as decisõcs, pois as ordens vêm dc cima e ele
n,]r) precisâ sequer compreendê-làs. Aí já sc tem uma massa de gente
cxcluída de úm modo de vicla ao qüal tinham se âcosiumâdo durante
alguns séculos. Desâparecendo a polÍtica, é evidenie quc desaparece
tambórn a necessidade da arte retóricâ qüe era o aprendizado no
quât os Iuturos políticos êfiavam as suas capacidâdes.trgunrentativas.
Agom não há mais aiividade polÍticâ. entáo não há mais nccessidade
desse treinamento.
À arte rcióricâ logo reflui paÍâ se tornar uma atividade úerâmcnte
escolar a exprcssào "retóricâ escolar" dcsigna pecisanente o tipo de
relórica quc se ensinava nesse período - que é â de nrero exercício sem
tinalidade. Vira unra espócie de arte pela aÍie. o sujeito aprendiâaqui1o.
t'âziê os exercícios cscolâres para aprendcr a fazer eretcícios escolares.
Nenhum dcsscs discursos tteinados na escola serian1 jamais testados nâ
vidâ real. É como se você entrasse pâra uma academia de boxe, ficâsse
treinando, treinando, c depois losse proibido de participar de campco_
naios. Nâ verdâde. você nunca vai saber se você sabe ou náo.
Como uma espésie de compcNaçáo, surge um segundo tipo de
retódca, que é a "retórica epistolâr". ]üdo aquilo que havia de troca
de idéias em praÇa públicâ passa a haver mais na eslera pÍivâda. Aí
se desenvolvc muito a arte das cal1as. que ao longo do tempo vai
se tornar uma co;sa muito impoftante na literâtura do Ocidente- com
conseqüências dc longo pmzo que, evidenternente. nessaépoca, elcs
nem podedâm irnaginar Às cartas, na medidaem que sãoumatroca
de informaçôes de ordem particular, váo facilitaÍ cada vez mais a
auto-observaqáo das pessoas eascontissóes intimas, etc. Daí vai nasce!
mil e setecentos anos depois, o nodemo romance psicológico.
Os primeiros romances psicológicos \,â o ser todos nâ base dascarias.
Se você pcgâr as Iamosâs llelaçoes perigasas. de Laclos,r csse tivro é
nâ base de cartas e nrulto! erên1 na basc de cartàs. lsto é um filhote.
€m longo prazo, da rctórica epistulâr quc surge nesse período. Mas ó
claro quc, de início, não honvc nenhurn resuliado assirn cspetacular:
ao contrário. aquilo lbi um refluxo c uffa decadênciâ dâ arte rctdrica.
EssepeÍíodo é contado denaneira extrâordinária no talvez melhorli\,1.o
ll
quc cssa idóia rlc "irdividuo" sc iorne rerLlnentc irnpofiiinte do dia pâra
â noire O scr hLlnrâno iá nao cra mâis viÍo corno unl cidadãr), comil
mcurbro dc unra coletividâde na qual clc tinhi um lugarl umâ irnçao
conhccldâc Llelennjnada. mas como u,nacspócic de iitlnno sdto. Entáo,
uti dos primeiros traços da lllosolia nunr período quc sc
csle derá por
sóculos é essa preocupaÇão com a idaiâ dr nr.li?iluuhíhde hunana. c
ná1, rnâis conr a cidadaDia. âpolls. ês viúudcs civicas erc
tj\ segutdo lular, já quc sc tràrâ .le lilosotãr sdre o individuo.
làz-sc isso colr uma finalidnde qUc. nlio scndo mais a dc intcgrá lo f.Ls
virtudcs civicas e napolrs. sa) poclc scr a rlc cncr)Itrar nnra mcta dc vldn
que o justifiqüe erqutmto indi\,iduo soito. Nlâs poderíanro! dizer: l{h,
issoéalé unl progrcsso, (lecerto nrodo ltln (lua? Itnq u c cssâ clim ens.Lil
do irdi!íduo iÍrâdo os gregos |ào a tinharir rnuito. Ftlcs náo lrabrthil
raln muito sobrc isso, crnbora o clesti|o dc S(icrr(es. por crcrnplo. iá
puscssc crn qucsrÍr) e§5n situacão do iDclivíduÍr corr.d a coleiividadc,
ou do indiv uo qrLc ó de algum nrodo superior à colctilklade NÍrLs.
vcjâm. o lndiví.tuo scr sup€rior à coleri!idâde eslail porranto. contra
ê col.iividâde naro quer dizer (tue elc estcja forâ dela. ,\o contrário, é
uÍr aLlversário qne i€i. sobre clâ uír ceúo tipo dc supcrioridade, e elâ
tcrn sobre ele uIn outro iipo de supcrioridacle. rnas estão rclactonados
E a situâÇão aqui já náír cra esla. Na novâ situaçaro. poclcnros dizer
qLre os indir,Íduos e!tavanr rcalnrelte soltos: clcs |tro rêm lunrão. a
náo ser que scjârr lirncocs palacixnâs, rs I gâdas ao g.,!.rno
Al srt1c tt]fn leiceia eLeücrlí,. qUr (i I rola antilsc. â !.rlorizrcão do
aprcrldizâdo iécfico pronssiorül Os si) (lados já r:ro sar) cidêdáos qLre
nâs épocàs dequcrmsiro chama.los adclender sua cidâdc são pioiissio,
nâis, eniio surge o âprcrrdizado profissio nlclas arlcs miliiares Asarres
clâ fala e dâ escrita lârnbóm j:i nAo servcnr rnais para discUSSão púbiicu.
mas para o cxcrcício de lunçócs h0rocráticas. E assirn lor diantc. Aí
su€e unra séric dc âprendizaclos pclos quàis o indivÍduo pocle slrbir
t2
, , \ r{ rL lsso aparc.e sirulraneamerÍc à i.léia .l.i tilosofia cont unta
r,rri(rilt,!idirparaomdivid o,ouseiâ uorrro urn guiamento parâ ele
, ,, r:trrLir unr scoti(lo de vidâ r1o melo dâquela ât{)nrizaçào e para
liI\(,rr rlqo q c lhc parecc ser a Lelici.lâdc. preocupaçâo conr a tcli'
^
, r{litrlc individnal ó muito inlênsâ cm toLlos esscs séculos As técrica§
(l( Í'lllvidas pârâ cnconlrá-la, quando âs dcscrevemos hoje. clas nos
rlci\lllr |roliürclâmente inlllizes. Náo chegamos scqucr a conccbcr
r!rrro telicidadc. podc tcr lido aquclas
ó quc o inclivídrro. blrscàndo a
i{lcias, por(lue muitâs delas sâo liancârn€nte deprinlêntcs. (Quundo
.u csl.rva estu.lando [picuro pâra escrcver os capítulos iniciâis dc
t) t.orliÍt das dt'lições,t pouco lalloa parâ qlre eü cstourêsse os miolos
rl. lato horrorizado que liqlrei com aquilol) Ai sur.qe a idóia dâ filLrsoiiâ
r(rno um g!iarncnto e connr o qLl€ chamaritLmos allio_aiu.LL, voliada
para o irdi!iduo isolado quc clevcriâ sc realiTar no mero dessâ âLomi
/açao. Nlas a situação do indi\,ícluo no meio aiolnistico impóe qtre ele
sr-) possa encontrar â sua ltlicidade. â suâ rcalização, crn si nrerno c
t.1
,l rt rlLlrfi (tuc sinr. lrá oLrlras que dizem qüc náo. N'las o qu!'devenros
r ina respo§tit leórica, porqne cssá ráo é uma pcr:gunta
sr)riâs do irldi\,íduo isolado, isso não lbi um.L i.lóia quc unr filósolo tcve.
l i'dir r.1,. c.rl1\1 l r.alrlrrr.. i'o :,1." l-1, . nr r..j n,, ii,.i,,,,, r r "
lunros .lc individuos isolacl{)s porqLrc elc I unr indiví.luo isolâdÍr. Esta
,. ,r ,,, .ir|,. i. (,r, , " q,,. .. n,ú. J, L c.
,\lunor ,fÍrs dí 4 suÍri(ro tla qlte se passo )to cabeçtt (1o ÍiLósolo à
l.alidatl?. sat:ídl e polílica que ele 1)í|re é plalicakrct)te toÍíl|... é aca
s(lliado u ret 0s caletoias (...)?
ti
Pois ó. o que acontece nessc periodo ó exalarncnre isio. é uma silua,
ção, umâ rnudança social que cria c{rltas situaçoes. e cstas determinam
as caiegoriâs dc pensanento. Háumâ passjvidadc da mentc individual,
e isto é a coisâ espanlosa nesse periodo, porque nós nos perglrntêIl1os
assim: OIha, se mudou a situaqâo, sc houÍc uflâ série cle modificaçÕes
ai. o quelhe impcde de reflcrir critica mcn rc sobrc o que estáacontecen-
do à luz do que vocô já aprendeli anres? por que esses novos filósofírs,
tcndo o legado de Sócraics, plaráo c Arjltótclcs, não l'ortun câpazes de
usar as categorias de pensamento âprcndidas pârâ interprciâr a nova
siruação e, não podcndo modil'icá la, pclo nrenos conservar dcntrô Llelâ
a consciência do que se sabia ânicri(rnientc? Essa é a perguntâ que
laço. c náo encontro respostâ
O lãto é que elcs náo conscguirilm laz.r isio. O iàio é que a sirüâç.ro
pass,Ju por cina dâs inteligênciasi as iDicligôncias l'orânr atropcla.l:rs
pela siilraçâo c, qüaudo rccomeçêm a |ilosolãrt clas o lãzcm de urna
torna passiv.r em rêlaçio à situâção. Elas riem mesmo percebem que
sua filosofia ou prcicnsâ iilosofia é apenas um eco passivo ale caicgo
rias iirpostas pelá mudânçâ sociâ]. Estâ é uma pergunta terrilicanic,
tí
i,(.ii, si,ciêl dctcrmina o pensamento dos indivíduos, ou â outra que diz
i, ((nrlrLirio, isso é urrra estupidcz. Nào se iraia de umâ leoria, poque
irs i[r.rs coisas iá acontcceram. Se êconicccram. as duas são possíveis.
(llxI)(lo vocô iefl unl 1àto. e o laio já dá a resposia do quc você está pro'
irrrrlldo. vlrcê nao lem qrc inventar uma teoriâ: sabe que já acontcceu
r[ uLll jcilo e já aconteceu do oulro. O quc nós nos petguDtamos con1
ll]Lrçro a esse pcriodo é: Conro loi possível qlre se pâssâssc de uma coisâ
l rtrrLra assin láo rapidâmentc?
o quc Voltâire escrevcu sobre Leibnjz, a gcnte diz: "Esse eÍa üm coitado
de Lrm joÍnâlista metido a discutir com um suieiio que cra um verdadeim
Arisiótelcs'. Continüamos lendo Voltaire por divertimerlo e por uma
,\,'"'ffi
17
núbrmaçáo hisiórica. e só, n1as Lcibniz ien uúlidadc cicDiílica aindu
hoje e vâi conlinnar tcnl:lo por nruito ternpo.
Nâo se vai poder clplicâr üü eleito tão grandc â pâdlr de causas
iáo pcqucrâs. Houve ali unl outroclenrento  inieligênciado individuo
siÍnplesnente lura o i|vóhcro sociâl e cnncrga nuiio adiante. Quan.lo
cnxcrya nrulto àdianic, elc às veTes lcm rlnra influôncia histórica du-
radoura, mâs, às vezes, justamcntc por ter enxergado ião âci )a, su.t
inflLrência demora â apârecer Primcilo tcr]l qüe esgotar êquele rcpcrtóri.)
social enr lorno pâra. rnuito nrâis urde. as pessoas descobrircm aquilo
e entcndcrcnr do que Lr sujcito cstâvâ làlando. pois às vczcs a dis(:us
sao em krrno cstá iáo polar-izada cln ccrtos iênras. e o que o filósofo
está fâlando é tao esiranho àquik), que fio há urna li|guâgem pública
cêpâz dc ahsorvê lo. Por exenpl.,. lctltranros (lc lalar dc Vdtaire. Veja.
Voltaire é o grande divulgoclor do urccâricisrrrí) de Newto|. quc ramLrór!
ninguém podia cntcndcr tuIas Volla;re escrcvc um \i\fi', Eletne tos da
ÍilosaÍía de Nealo .: ,tLte cobca aqrilo à disposiçâo de unr público n,to
especiâlizaclo, c gradâlivalncnte aquilovai entrando na moda. NIas isso
já loi dep0is de Nc$'ton.
Existc scmpre o probleDra da cornpactaçAo da linguâgcm As.lesco
berks filosóficas iôm que aos poucos scr descornpâcttdas parâ cnirar
nurnâ linguâgen quc seiâ à da convcrsaçào culra correrre. Isso podc
dernorar uur pouco, e às vezcs dc[rom séclrlos. Lcibniz pcfinaneceu
incunprcendido dlIÍ:rnte ttxlo o sécuk) XIX, p{)rque âs cârcgoriâs de
pensitnento eranr muiio estr.rnhas. tjÍâlnnr lr).los nru 1o cnrb<rlacbs
na idóia do necaticisnn) c âiLi cnlusirsnrir.los (orr a posslbilidàde dc
estender o mccanicisrno às ciônciâs bnn(tgicâs c mcsmo às ciôncias
soci.lis e politicas. Elcs ainda estavaln lãzcndo lsto e l,eibniz iá estava
com o negócio do indcrcrmilrisnro lênr que cspcrar cles acahrarem,
frin,( ru prcci.d cl. .,lrerr.. r rrú lrrra -ô J, \... n(!.,r:r i.Ir,, prl" cri.i^
percunrareljlr.Tjg!1{q1ljgsj:!1que o suie o rá ârrás iá
i tr NI d. \t, nmr.Ir.,.nrrs th li\)eÍia tu Ncara
IE
^
Canrpn'as. Lrniump. r 996
r,, r(stx,r)(lido lsso rcon{ece muitas vezes. e é noflnalque aconi€çâ
r:r
r.rrr llr(' iLo tirio (lLrd cíarnos investigando aqui, cssc pcríodo histórico é
,, ,ri ,, ilri)rllâ1. porqnc o esqueclmellto é nruito rápido.
|Alrno' L, í etplictiteis.l
Não erplicá\,cis, porque eslranhâmos isso hoie e talvez esle seiâ
i) rcnra principal da Hisiória da Iilosofia, que é o dà continuidadc ou
l9
da descontinujdade. Você só pode lâlar em progrcsso do corhecinenlo
quando exisle uma aclrmulaçâo, quando ern cima dâquilo quc foi con-
quistâdo você pode conquislar novos conhecimentos; ou seja, âquilo
quc t'oi adquirido se iorna premissa daquilo que é descoberlo depois.
Dizemos que uma ciência progride Por quê? Porqüe as descober-
tas da gemçáo anterior sáo prcmissas para as descobeÍas seguintes.
Sc você descobre uúr no\]o lato, esse novo faio se lorna a prmissarnenor
de um silogismo cuja prcmissa rnaior são os conhecimentos adqlriddos
anieriormente. É assim que a coisa vai andando, pois sevocê descobre
um fato novo, rnas não tem prcmissas com às quais ârticulá-lo, vocênão
tirâ conclusão nenhuma, dâí a coisa náo lbl nem paÍa lrenle nem para
lrás. As ciênciâs só existen porque â progressão icnporal vâi sendo
gradativamenie n1ontadâ sob a lorma de uma progressáo lógica.
Se o que vem ântes é premissa do quevem depois, existe nâo apenâs a
relâçâo temporal, rnas un1â a.riiculaçáo 1ógica. Claro que essââftjculâção
lógica náo se produz por si, que é cada novo pesq isador que, tendo
descoberto alguma cojsa nova. ien que aniculàr aquilo togicamente com
a anterior Se ele náo conseguirarticular, das duas uma: ou o lâto que ele
descobriu é fâlso e aquilo náo acontece, ou €ntáo a ieoria anterior csiavâ
errada, daí ele tem que montâr de outro jeito. Mas seja num câso, sejâ
no outÍo, ou mesrro no câlo de ele conseguirlazer a articulaçao, o fato
é quc o progresso da ciência náo é nadâ mais do que a transposiçáo de
uma progressâo temporal para uma progressâo lógica, quc é o cdilÍcio
teóÍico dessas ciências tal como é rcpassâdo à geraçáo seguinte.
Estamos tãoâcostumados conr essa idéiâqüejá nen nos lembramos
mais de que issotem de ser assim. Achamos que ciêrcia broia cm áNore.
Hoje em dia, temos tanto conhecinento acumulado, registrado, que
náo lembramos como é que isso loi apârecendo, e em gerâl ráo temos
consciôncia de como isso se produz ao iongo do iempo. No Seminário
de Filoso6a temos cstudâdo um pouco aquele texio de Edmundo Husserl
2A
Í)irrc a origern da geornciria, texto que de lato dá o critédo para res'
ponder a essas quesiôes que estamos colocando.
Para quesurja umâciência é necessário: primeiro. que algunsindivi
duos tenharn alÊ'um contalo com algum tipo de objeto l1a sua cxperiência
rcal: seguncto, ráo bâsta que eles tenhafl tido csses contâlos. é preciso
que esses objeios sc tomem como imâgens ou sinais relatjvamentc cs_
ràbilizados nâconsciênciâ, â ponto de cles poderen lalarrlcssas coisas
Isso tlrdo ânies de apareccr a ciência. Por exemplo. quando.tparece a
geometria. antes dc aparecer o primeim g€ôm€tra é preciso que alguérn
tcnha percebido que existem quadrados, triángulos. elc. sem sâbcrnada
degeomctriê. M.Ls ele pÍecisâ podcr identlficar essas fornras de rnâneirâ
csiâbilizada e poder 1ãlar delas.
E você acha quc o hom""m nasce sâbendo isso? Não, isso dá um
trabalho miscrávell Ou seja, !In suicito. uma geraçáo percebcu; percebetr
rnas nâo criou os remros para aquilo. Então aquilo sc perde. e â geraçáo
sc!]rinie teü que pcrceber de novo. Aos poucos, sediz: "Foi esiabilizâclo
ra linguagem. tcmos o nome para essa coisa, entáo podemos comcqar a
l lar dcla" Érnuito ienrpo.lcpois de se poder idlârdcla quc surge aidéja
dc estudá lacientificamenie. Mas iudo isso d epcndc de regishos qlre per-
nitam a cada gcraçáo o retorno às mesmâs cxperiências jnielêctivas que
pelnliiiram o sursimenio da primeim investigâ(áo Se vocô nâo é capaz
dc tcr as mesnlas inilriçôes que Eüclicles teve qLrando estava conpondo
ns Eleúentas rle geamettid. você náo poderia entcndernada dâ geometria
de t]uclides. É que ela eíá montada numa orden lógica que lhe pcrmite
cstudarcâda teoremâparavocé esmointuiras relaçócs queeleestáque'
|cndo lhe nr(xirar. Nlasvamos suporque, no mciodasligtlras d.rnalurezâ,
(là inlinidâde de n»m s da nâtureza, vocô náo tivesse ainda eíabilizado
.ssâ idóia do quadrêclo, ln)Í e{ernplo. Dá unl habalho rniserávcl chegar
rié aí, não é? O qüadrado. o triângulo, o cículo... Bom. circulo é quâse
i possível. porquc você vé o Sol e a Lua c mais ou eros percebc.
l{llrt-to: E o canbúrio. é o quadrcdo que a &enle nao percebe a
suieiio que el€ nunca viu pessoâlL cnic. mas que pâm clLr ó um membríl
da niesna conlunidâ.]c. Dc rlrpcntc, da llenascençâ ató o século XX, rós
Hci\ti,)iir riir.tr /./,tl,rLt)vr)1tit inntrnltr. C,)nr..Laborr!iLt
(r S.§,rd Oscii NarrL t\rirLi \ih!. l'r i. (;xlinrx'd lq6'1
li'rnr r\r.r t.s dr,,r rr lr 7
21
n úo recehemos rnais notÍciê algunr a e ac red iiamos q uc o lnllndo islánrico
cstou iazcndi) âqui eslou usando a noçâo da po1is, .lo cidâdào. dos
direitos. eic , dcscrcvcndo ê situ.iç,o enr icrr os âristotélico plalônicos.
lvlas na época teria sido preciso cssc duplo eslorEo por um lado, para
você nào esqlrecer o que aprcndcui por outro lado, porquc você vai 1er
que usar âqtl ilo não apenas para conserválo, mâs conio m instru rento
para lnvcsiigar e cnler.ler unr negócio quc está aconlecendo agorâ c que
náo csiava acontecendo rlo tcmpo de Plâiaro e Arlslótelcs. (...)
.r!rnplo. se vocô tãz unra psicoterapia c âlgLrm diâ âquilo desâta âlgunr
rrl da sua !id:I, conÍ, é quc loi lciro isso'l Náo loi de bocâ"? As \'czcs.
!r,ra vai licrr anos lâlando p.Lra pcrceber ulnâ irnica coisa: sc reti|asse
!,ssc diáLogo, você náo percebcria aquilo. Quer dizer. â lirglragerrr vai
cstfururanclo possibilidâdcs.]e corrccpção que dc reptnle pcrnitcnl
inlrir cerias coisâs. e isso dl,r unr trâbâlho nrisclável.
Desleito unr certo anrbienic dialogalqnc havia nâ Grócia ci.issica,
rs .orlccpçóes a que ele dâva aces§o acabanr dcsapârecendo dc vislir
LIosrno. Quando desapârcccm us conccpqÕes rrrcialisicas o qrc âcorrlecel
À ris r(ilelcs tinha est ruturado as ciôncias ló!ioas, lisicas e rrctalisicas ialrio
( Lrc sLrnriu a nrcraÍjsica, bairorL paraà lísicâ. que passa a s€rarelcrôncia
,\ristóreles diz que, se â rcali.ladc mâis elevadâ c universal q[e e\rsle
t,sse de orden lísicâ. cn1áu a lísica scriâ a ciÓncia slrpr'ernâ. Co$o ao
ai. conú alénr.lo rnundo iisico teln aigo airlda qüe sc pode corrccber
qlre legou a suâlortunâ pâra o gato? O gâio naro ten] mcios de receb€râ
toúuna, assim cono a pedrâ não tcm a menLrr condiÇào de respondcr à
"scnhordolltor" nàovai .esolvcr nâd.r,
süa pcrguntâ. Vocô chanrrt la dc
chamar o hipopótamo dc "vosstr e\celôncia" lanrbém não Esse é um
lalso diálogo Náo há csse nivel de ürtegração com a nêiureza, colno
nAo há csse nível de absorçáol
Quando âparecem essas nlodas culturais, elas scmpre relletem
un1â n\Lrdança cletivâ quc houve, e â partir dos ânos 60 há ÚilhÕcs .le
. ,r',r,'," r, i],r * ,,,,,'
URSS/lâpa..l!7.1 13inirl. únor n,r', i6rnm ?a
pêssoas sc scutindo lorâ da sociedade ll de irto se colocarn lora dela,
porque às veTes lérn e{pcrlênciâs sLihi ivâs quc não são.analiziil,ejs
no Lliscurso social. Aquelc pcssoaL rodo qLLe sc encheu de drogÂs. o q.re
o sujcito scntiu c passou, aqullo lá é ltl0 subjeli\,o e tão i,rslgnificantc
para as ourras pessoâs quc tte nio tenr uonro dizet aquikr Aquilo não
tenr inrB»lânria; se dlsscr niniluirn vâi prcstar aicnçào. iissa assa de
expcriônciâs pnranlcntc subjctnas iÍna o sujeilo da soriedade, âindaqüe
clc csicja fisiramentc núegrado nela llle eslil inlegrâdo, ffâs scntc quc
intcgrq porque selnpre vai ler
náo eslil mais, e não ierr rrais ieiro dc sc
u1r Íesíduo dc !i!ôncias pcssoâis absolutâDlefte s"-m sigfilrc.rdo que rao
sáo vcrbalizávcis c não síro trociveis eln nroeda coÍenie lillgilistica.
r\luno: Qua d., làLes ctuloü lulaúlo que a água é que esÍata
a (»igem de ludo. lai lintbAn n experiêtlLia esotlriut. subíclita
(le1e... Qua I é a dilere tryo? |
lz
r\pcriências llumanâs âssim. expcriências ertrcnas Por cxcmplo. a
r)c a da posslhilidâde da conuricação. do diálogo que lhe perrritia
sllbir a certas concepçÕcs. Para tornar isso colllprccnsível para nós
frcsmos (por nim é pâra min trrcsnlo, € depois parÀ vocôs), a gcrle
lcLr qre ach.u anáLogos nx)dcrnos. Ilm ânálogo nÚdcrno seria. por
c\crnplo, essâ invasio dâs drogas a pariir da décâda de 1960, qLLc iaz
(tuc inrlivíduos qne csiáo realnr€ntc integrâdos na souiedadc (cles 1ênr
piri. tôrn màe, !ôrn cndereço, iônl CPt''. RG, tudo) sintam, no en(ânto,
Ia cabeça.lclcs. qlre são totalmente páriâs. Nao sc senlenr inicgrados'
râo sabcm qualé a tünçáo deles âlidcniro
Clâro qlre é urna situêçao diltrcnte desta que eslarrros descrevendo,
rs ieln urrâ analogia A analogia nos pernri{c iornar Inais próxima
tl expeÍiêrcia desses prinlciros E sc você p€rgun1âr: "Corno c qlre o
sr)iciro, suâ giandc providência lilosóllca loi de ir momr nurn barrill'
Àbalt.ionoü aquclas nnesLiilaEócs todas da i\caderniâ plaia)nica€ dccidiu
rrorar num balril?" .. É unra dilcrcnçê lao râdicalL
Mas eles eslavam laLLnrlo dc rnct.Liisica, dâs categorias lógic.Ls, dâs
cspócies ilrimais, etc. O quc lnorar nunr bãrril leÍÍ â vcr conr is§o:'^
rcspostâ ó nada. não tcnl abn)lutamcnte. íras isso pareccu lilosolia
Dârâ o sujeilo qLlc cÍava ÍaTendo Por.luê1\bcês lenrbranlcono ó
quc
(lcnni tibsoÍia no conreço!' Nâo ioi: 'A unidade do conhecinrenn, nâ
nnidadc da corsciênciâ ? Enlao. ó claro que â filosoli.L possívcl parú
o süicito dependc do conhccirncnto que elc tcrn c Llo eslorqo qLre ele
làz pâra unificar isso na consciênria delc mesm{r Mâs acoDlece quc
nenhurn ser humano ó onipolenie pâra, parlindo dc un câos gcral.
unificar llrdo N{uita cojsa já prccisa es(ar organizâda na linguager ,
,. -ri-J,uc t,a-oqI(t'\. p., ."r ' r rL",. r|, 'r'o.d rJú\c'.ltr''
você seiâ rcalrnente u il!flin dr), a lorqâ esiruttrmnte dâquilo, colrnl
loi S(-rcrâtes. NÍas isso não àcolllcce lodo dia _ nào é (odo dia que lem
um Sócrates quc cheg.L lá no neio da confus,Lr e clc nlesmo c()locâ
orden Náo. às !'czes é necessário o irabalho dc nuiias tserâçoes quc
houvessc os so$slas'
váo depurando a linguagen. Por e{emplo se não
'e ntru r '! r"cm drpr'-_' lo d"
'"r'le
' ' _ln' r iÍ''
rlà d;'' t'"a" írrnrr'
tl.o netnótico- tta lãta da psicôtico. tlue aqüilo cru cafisirle tdL' 'Ah
debia üo lá poÍque é um ttai(to. deixa
pru lá paxl e o rlüe elc esla
ttõo ten tueÉncial"? Se Frcuà pantt
pafti Pe sat en 7)ez de
laloúdL)
"dei:w üa lú" (. .)1.
\rr< rÔ l,er.l, I'u...i p''irr''l nrorr lr'?(r i'*' \1'' f 'l''Ía i,i' \r r,.
sabe cxistâ aLi ltnra
lentar botar-orilem nessc outro pedaqo aqui Qtrerrl
outrâ oralem'. O p(rblcma ó que Freud acho ulna
ordcn dcpois lung
outrà' c
acbo oulra. clepois o r\dler achou ou i ra depois o Szondi athou
de orden§
esLáo âclÉndo oulrâs ordcns atóhojc' Hàvcr unrâ pllrralidade
Signilica
côcxillcfltes significa, liicralmente, que nâo l1á oldcn âlgunâ'
qLLc lodLr eÍe nrundo é Lr lnun'lo de mcras
potênciâs de.mcràs polen_
jeilos E por isso qre
ciâiiclades que poLlelr se cstruiurar 'lc Inilhôes de
ncnh!nra dessâs icoriâs dn irsicanálise nào está cert ncm está
errâda'
1.1
( \t)rctaiivas do terapcut.r e ele vai ac|ar que a tcoria dele eslí certa,
rLirs cstii certa só para aqueles casos. É isso quc Leiblliz charnavâ dc
l!irrrrcria preesiabeleclda .
ilristcmvários pcriodos na Hisrória, nâo sornente esie. en1que tudo
ri)s fêrece tao esqujsiro qlre ientos de procurar eriemflos, Procurâr
rL rilogos nâ siiüaÇão arLlâl, c so cncontramos anábgos nuito parciais.
rLs \,rzcs |1uito dislântes. Esic exemplo de isolâmcrlio.lo indivíduo em
rclaçào ao organismo sociâl e torno, isso ró(.n.nntrâtrrnc nô.âcô
([) sujeiú drogado. É evidcntc qLrc, sc houvcr um monlâo de drogados.
iod{)s sc scntirldo párias. elcs naturalnentc váo lentâr se organizrr de
rLn ouiro jclto para se sentir inlegra.los errlre si, r as é evidenie que
is\o ranrbérr não vai tuncitnlat: Isso significa quc pcríodos csquisitos
rcqucrcrr dc nars unr csli)rço de imaginaçào. E por issú que.L nâuaiiv.r
i r,.ri.'nr ,pod, \r.r.li l r rr \u,..\!-'c'f,L.i\i, rc.rrfd'J
(lar Lrns conceitos scn os quais âqLicic pcriorkr vira inconprccnsn cl.
Os li\,ros dc Históri.r dâ Filosofia. âcho todos mlriio engraçâ{los.
Qüando chesan nessa pârie eu náo consigo deixar de dar risadâ . Veja
J história de Di(lgenes g1e eslá prolunda r€rÍe inrprcssionado por cssa
siiurcáo dc atomismo, dc isolamento nÍelicid.Lde lerêl, ent.to quer
e de
indo par.r olrdr bcnr entendesse de acordo conr o I)uro instinto do corpo
liberdade' a independêncià'
Entáo Dióge cs lorma essa idéia de quc a
exclüsivallrente âos
a teliciclade tlo individlto consisiem en1 obcde'o
o ;rmbie te em torno'
impulsos Llo seü organisrno scm tcr em conla
já revela a sua íntimâ
A icléia. evidentenrenLe, iáo logo loÍmu]âdâ
isnro náo sâo só do nosso
contracliçáo, porquc os irrpulsos do nosso orga'
e nâo nossos' Vocé icm
organismo, n1as sào herdadosi eles sáo daêspécie
tnLe. sc,no. etc nao erq uênio I ndivíduo isolâdo mas enquanio membro
da espécic la rbém têm'
da cspécie, porque todos os olLÚos mcnrbros
Os impulsos intcmosdo orgânislno,
ldrge de provar algumâ auionomra
conlrário â suâ süieição à genética'
sua provam e{ataüentc o
en reldcia rL itu)i|íduas
fAluno: ,le esl, faLando de attton')tnia
coficrclos. não a?l
Nào, a iodo o lneio em torno
,11
Você está vendo que é um eniiâquecimenro, que o suieito está
cÀindo'
isolaÍnenta do nlüfido?]
lAlunai (.. ) DiÍjErre§ (.. ) é possít)eL esse
É impossível. Quânto mais se isola, mâis impotente fica, e nais
não ê?
lAlunaj Hole a Sente rcco hece essa impossibiliclade'
Naquele tefipo nao se Íeconhecia.)
Porque a noqáo de ind ivialualidade humaná que ele tinhâ era muito
fisicistâ. era individualidade iísica Aâutonomiada individuêlidâde
só a
Leiturâs sugeridas