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AJÊ í / f C / ' ( /
VOL. 155
J. S1LV0RA DE BH1TD
Dos consumidores que somos
,1 CHFSPODF CARVALHO
José Régio e a Moda
PMOlS-ALMfflt
Principia Ethica de G. E. Moore
ALFREUQ DINIS SJ
Dezembro 2 0 0 2
BROTÉRIA, SECÇÕES
— Notas bibliográficas
— Subsídios para o vocabulário português
— Notas de aviação
— Correspondência de Espanha
— Direito canónico
— Movimento religioso no estrangeiro
— Correspondência do Brasil
— Revista de revistas
— Notas e factos
— Efemérides
— Crónica literária
— Textos e comentários
— Do que se pensa pelo mundo
— Tribuna de consultas
— Ideias e factos
— Política externa
— Vida literária
— Do pensamento e da vida
— Filmes de que se fala
— Horizonte do mundo
— Actualidade religiosa
— Problemas ultramarinos
— Vida económica
— Para o diálogo
— Caso e circunstância
— Notas e comentários
Brotéria A
I Cristianismo e Cultura ^ B v o u s s
Dezembro 2002
Série Mensal
Assinatura para 2003: Portugal 40.00 €; U. Europeia 75.00 €; Outros países Dol. $75.00
Número avulso: 4.50 € (IVA de 5% incluído)
ISSN 0870-7618
ÍNDICE
521 Bibliografia
452
em relação à aprendizagem do latim clássico, como no tocante
às práticas escolares activas. Por outro lado, o «modus pari-
siensis» foi elegido como modelo educativo para os primeiros
colégios jesuítas, não somente pelo facto de Inácio de Loyola
e os seus companheiros co-fundadores terem estudado na
Universidade de Paris, mas sobretudo devido ao seu método
de ensino, que se diferenciava por ensinar gramática sólida,
graduar classes e cursos, implementar exercícios nas classes
e individualizar o aluno 4 . '' Emile Durkheim, A Evolu-
ção Pedagógica, trad. Bruno
As «Constituições da Companhia de Jesus» dedicaram a Charles Magne, Porto Ale-
gre, Artes Médicas, 1995,
quarta parte, intitulada «Como instruir nas Letras e em outros pp. 100-21; Andre Petital,
Produção da escola/produ-
meios de ajudar o próximo os que permanecem na Compa- ção da sociedade: análise
nhia», à educação dos nascentes colégios jesuítas. É o marco sócio-bistórica de alguns
momentos decisivos da evo-
jurídico-pedagógico da Companhia de Jesus, em que Inácio de lução escolar no ocidente,
trad. Eunice Gruman, Porto
Loyola determinou as orientações fundamentais para a prática Alegre, Artes Médicas, 1994;
Fernando Alvarez-Uría, La
educativa jesuíta, indicando a necessidade de produzir a Ratio educación jesuítica en la
génesis de la Modernidad.
Studiorum5. En torno de la tesis de
Max Weber, Madrid, 1999,
Ademais, a Ratio de 1599 é sobretudo produto da reflexão mimeo., J. Varela, op. cit.,
e sistematização das práticas educativas implementadas nos pp. 35-38, 136-8.
colégios jesuítas durante meio século. Os primeiros planos de ' Inácio de Loyola, Consti-
tuições da Companhia de
estudos foram escritos pelos reitores do Colégio de Messina: Jesus, trad. e notas de Joa-
quim Mendes Abranches,
«De Studiis Societatis Iesu et Ordo Studiorum», de Jerónimo S.J., Lisboa, s. n., 1975.
de Nadal, e «De Ratione Studiorum», de Aníbal du Coudret.
A partir de suas experiências e observações em vários colé-
gios, mas especialmente no Colégio Romano, onde trabalhou
como professor e prefeito de estudos, Diego de Ledesma
publicou «De Studiorum Collegii Romani», que deveria servir
de modelo para todos os colégios da Companhia de Jesus,
sendo considerado a principal contribuição individual para a
Ratio de 1599 6 . 6
Leonel Franca, O Método
Pedagógico dos Jesuítas: O
A partir destes começos parciais, o Padre Cláudio Acqua- •Ratio Studiorum-- introdu-
ção e Tradução, Rio de
viva, quinto superior geral da Companhia de Jesus, liderou Janeiro, Agir Editora, 1952,
pp. 7-17; E. Meneses, op.
o processo de elaboração da Ratio Studiorum «definitiva». cit., pp. 11-23; E. F. Schmitz,
op. cit., pp. 51-78.
Em 1586, nomeou uma comissão de seis representantes para
escrever um anteprojecto, que foi enviado às províncias jesuí-
tas. A partir das apreciações provinciais, cinco anos depois,
foi elaborado um novo texto, remetido a todos os colégios
453
jesuítas. Depois de passar pelo crivo dos revisores nomeados
pelo superior geral, em 1599, a «Ratio Atque ínstitutio Studio-
rum Societatis Jesu» foi aprovada oficialmente pela Companhia
de Jesus, tornando-se obrigatória nas escolas jesuítas.
Em verdade, a versão «definitiva» da Ratio respondeu à
necessidade de uniformização das práticas educativas da rede
de colégios jesuítas, que se formara meteoricamente na segunda
metade do século XVI. A primeira estratégia pedagógica de
controle adoptada pela Companhia de Jesus foi o estabeleci-
mento de «comissários gerais», que visitavam e inspeccionavam
regularmente os colégios jesuítas. Contudo, a diversidade dos
visitadores e os longos intervalos entre as visitas não concor-
riam para a construção da uniformidade pedagógica, que seria
7
L. Franca, op. cit., pp. 15- estabelecida pela Ratio de 15997•
-26; E. F. Schmitz, op. cit.,
pp. 79-88; E. Meneses, op.
cit., pp. 23-34. O presente
ensaio apoia-se na tradução As regras da Ratio
portuguesa feita pelo Padre
Leonel Franca em 1943 e
publicada nove anos depois;
cf. -Organização e Plano de
A Ratio de 1599 é um código educativo composto por 467
Estudos da Companhia de regras, aglutinadas em trinta conjuntos, dirigidas aos agentes e
Jesus-, trad. Leonel Franca,
in L. FRANCA, op. cit., pp. instituições escolares dos colégios jesuítas. As regras abordam
119-236, traduzida de Ratio
Atque ínstitutio Studiorum a administração, o plano de estudos, o método e a disciplina
Societatis íesu. Superiorum
permissu, Neapoli, in Colle-
escolares, sendo dirigidas para as três «classes» do ensino jesuí-
gio eiusdem Societatis. Ex
typographia Tarquinii Lon-
tico - classes inferiores, filosofia e teologia - , que tinham prin-
gui, MDXCVIII, 208 pp., no cípios pedagógicos comuns, mas, enquanto as duas últimas
fim, Neapoli, apud Tarqui-
nium Longum, 1599. eram destinadas à formação do clero jesuíta e de outras con-
gregações religiosas, as classes inferiores admitiam alunos exter-
nos, que seguiam outros estudos, mormente direito e medicina.
Aproximadamente um terço destas regras normatizava os con-
teúdos e as práticas escolares das classes inferiores, que eram
divididas em «séries»: retórica, humanidades e gramática, sendo
que esta era subdividida em inferior, média e superior. A Ratio
determinava que as cinco séries não se deveriam misturar por
meio de fusões ou divisões e que as promoções de uma série
para a outra deveriam ser realizadas anualmente, mas nas
classes de gramática somente quando o aluno demonstrasse
domínio do conhecimento estipulado. Estes graus escolares
de aperfeiçoamento intelectual eram inspirados nos processos
454
progressivos e lineares de busca da perfeição espiritual, pres-
critos nos «Exercícios Espirituais»8. 8
Assim como na vida espi-
ritual, a vida escolar tinha
O objectivo central das classes inferiores era proporcio- uma progressão rumo à per-
feição, pois, nas classes
nar ao estudante jesuíta um sólido conhecimento gramatical, inferiores, a de retórica, a
última, visava «a formação
como auxílio e fundamento para os estudos de filosofia e perfeita da eloquência», a
principalmente de teologia. O núcleo central do currículo das superior de gramática tinha
como objectivo o conheci-
classes inferiores fixado pela Ratio era o ensino das línguas e mento perfeito da gramá-
tica-, enquanto que a média
literaturas clássicas, que era ministrado em todas as classes em de gramática buscava -o
conhecimento ainda que
grau crescente de complexidade e aperfeiçoamento. O recorte imperfeito de toda a gra-
mática- [grifos nossos], cf.
do saber escolar literário, que deveria ser seguido por todos os -Organização...-, pp. 192,
professores jesuítas, estava explicitamente definido na regra 204, 208; San Ignacio de
Loyola, Obras Completas,
relativa à prelecção: «Na prelecção só se expliquem os autores Transcripción, introducción
y notas de Ignacio Iparra-
antigos, de modo algum os modernos». Todavia, tratava-se de guirre y Candido de Dalma-
ses, 3 a ed., Madrid, Biblio-
ensinar as gramáticas latina e grega de maneira formal, des- teca de Autores Cristianos,
1977.
contextualizada da mentalidade pagã das sociedades da anti-
guidade das quais faziam parte.
455
Predominância do latim e da prosa
456
Nas estruturas políticas e culturais do Antigo Regime, o
latim tinha um carácter utilitário, pois era a língua oficial da
Igreja católica e dos Estados absolutistas. Mas sobretudo tinha
a função de distinção social, sendo cultivado pelas elites cor-
tesãs e burguesas com o objectivo de se distanciarem tanto
da antiga nobreza guerreira como das classes populares 13 . 13
Sobre os mecanismos de
distinção social das elites
Analisando as pedagogias renascentistas, Durkheim afirma que cortesãs, consultar Norbert
Elias, El Proceso de la civili-
Erasmo e Rabelais, apesar de suas divergências, acreditavam zación: investigaciones socio-
que a educação aristocrática deveria ter como escopo a preo- -genéticas y pslcogélicas,
Madrid, Fondo de Cultura
cupação estética, desvinculada da vida prática 14 . Nas classes Económica, 1995; Norbert
Elias, La Sociedad Corte-
inferiores, cujo coroamento era a retórica latina, o conheci- jaria, Espana, Fondo de
mento da língua latina era aprendido efectivamente pelos Cultura Económica, 1993.
457
A moldagem da alma do aluno jesuíta previa um conjunto de
estratégias e tácticas disciplinares a serem postas em prática den-
tro e fora da sala de aula. Esta «maquinaria escolar» implicava
o controle do tempo e do espaço, rígida hierarquia, emulação
e competição entre os alunos, individualização das carreiras
escolares, incitamentos à actividade permanente dos alunos.
A Ratio orientava os professores para que exercitassem
sempre os seus alunos, transformando-os em agentes activos
da aprendizagem. Durkheim considera esta transformação
«uma grande revolução», que distinguia as práticas educativas
"' E. Durkheim, op. cu., modernas das medievais l6 . A prescrição jesuítica do exercício
PP
' escolar deriva da ascética inaciana, que previa um conjunto de
exercícios espirituais progressivos e lineares para obter a con-
versão e a salvação. O incitamento permanente ao exercício
deveria criar uma rede totalizante de estímulos que não per-
mitisse a passividade dos alunos, mas a permanente produção
escolar. Referindo-se aos exercícios na aula, o método pedagó-
gico dos jesuítas é categórico: «Nada arrefece tanto o fervor dos
alunos como o fastio». E prescreve que, assim como a leitura
de Cícero, os exercícios e os desafios deveriam ser práticas
comuns às classes inferiores, próprias de uma «pedagogia activa».
A acção permanente dos alunos jesuítas nas aulas deve-
ria ser lograda por meio da prescrição de exercícios variados,
especialmente os trabalhos escritos, transformando a aula numa
«sala de exercícios». Analisando as rupturas provocadas pelas
pedagogias dos reformadores do século XVI, entre os quais os
jesuítas, Petitat constata: «Uma importante alteração em relação
à pedagogia medieval reforça esta escolarização: os exercícios
orais cedem lugar aos trabalhos escritos. Os deveres, provas
17
A. Petitat, op. cit., p. 8 I . e exercícios diversos são realizados por escrito»17. A Ratio
orientava os professores das classes inferiores para que reali-
zassem trabalhos escritos todos os dias, com excepção do
sábado, o dia de sabatina. Insistia sobre a correcção individual
dos exercícios, prescrevendo:
4 58
Os exercícios diversos eram estimulados por meio da
prelecção, que tinha como objectivo "introduzir o aluno numa
compreensão perfeita do autor», como explica Franca:
Emulação e competição
459
vocar a vários; em geral um particular provocará outro particular,
um oficial outro oficial; um particular poderá às vezes desafiar um
oficial e se vencer conquistará a sua graduação, ou outro prémio
20
-Organização...-, p. 187 OU s í m b o l o d e vitória [...] 2 0 .
[grifos nossos).
460
um condiscípulo ou outra pessoa e, se não apresentar escusas
aceitáveis, seja castigado pela ausência»22. No seu quotidiano 22
Md., PP. 190-1.
Nas aulas não vão de um lugar para outro; mas fique cada um no
seu lugar, modesto e silencioso, atento a si e aos seus trabalhos.
23
ibid., p. 221. Sem licença do professor, não saiam da aula 23 .
462
que deveria ser pública e solene. Para maior visibilidade dos
melhores, os nomes daqueles que se aproximavam dos ven-
cedores também deveriam ser lidos e recompensados com
alguma distinção. Por outro lado, a Ratio determinava que os
professores estimulassem os seus alunos, nas salas de aula,
por meio de pequenos prémios particulares ou «símbolos de
vitória», concedidos àqueles que vencessem o adversário ou
tivessem realizado algum esforço notável.
Desta forma, o método pedagógico dos jesuítas propunha
formar os seus alunos muito mais por meio dos incitamentos
à produção escolar do que por meio dos castigos físicos,
ainda muito usados no início da Idade Moderna. A tradição
pedagógica de recorrer aos castigos físicos como último recurso,
quando «as boas palavras e exortações» estivessem esgotadas,
fora fundada por Inácio de Loyola. Entre outras manifesta-
ções, em 1552, escreveu uma carta a Everardo Mercuriano,
dizendo categoricamente: «Não convém que os professores da
Companhia castiguem senão com palavras». Os castigos corpo-
rais previstos deveriam ser aplicados pelo corrector, alguém
que não pertencesse à Companhia de Jesus, de forma que
nenhum professor jesuíta tocasse ou maltratasse o corpo dos
alunos. Franca esclarece o processo de punição corporal: «Os
golpes não deviam normalmente passar de seis; nunca no
rosto ou na cabeça. Nem tão pouco se devia aplicar o castigo
em lugar solitário, mas sempre na presença de, pelo menos,
duas testemunhas» 25 . Em última instância, depois das advertên- 25
L. FRANCA, op. ar, pp. 62-
3
cias verbais e dos castigos físicos, previa-se a eliminação dos
incorrigíveis dos colégios, contudo podendo serem readmiti-
dos por decisão do reitor. A substituição dos castigos físicos
pela vigilância amorosa e domesticação doce, mais eficaz e
produtiva, proposta pela Ratio, era uma tendência que emer-
giu no século XVI.
Os «bons costumes» também eram produzidos entre os
alunos pelo estímulo aos actos de piedade, especialmente os
de carácter sacramental. A Ratio prescrevia oração antes de
cada aula, que deveria ser feita de cabeça descoberta e de
joelhos, exame vespertino de consciência, recitação diária do
463
terço ou do ofício de Nossa Senhora, missa diária, confissão
mensal. O controle da frequência à confissão deveria ser
feito por meio de cartões contendo nome, sobrenome e classe
do aluno, os quais deveriam ser entregues aos confessores.
Os alunos mais piedosos eram estimulados a fazer parte das
congregações marianas, que tinham exercícios especiais de
devoção à Virgem Maria, devendo ser fermento na massa estu-
dantil. Com o objectivo de moralizar e catolicizar os alunos,
a Ratio previa a realização de representações teatrais, porém
deveriam ser raras, em língua latina e com personagens exclu-
sivamente masculinos.
464
das reformas religiosas e das guerras de religião, foram for-
mulados programas educativos diferenciados, que produziram
e naturalizaram desigualdades sociais. Em primeiro lugar para
os príncipes e cavalheiros, que segundo o novo «ethos» da
nobreza cortesã deveriam ser educados nas armas, como na
Idade Média, mas principalmente nas letras e virtudes. Por outro
lado, para as classes populares, que deveriam preparar-se para
executar trabalhos manuais, previa-se a transmissão de con-
teúdos básicos e a inculcação da submissão e da obediência.
Contudo, havia uma classe intermediária, a burguesia ascen-
dente, que deveria ser educada nas letras latinas e nas virtu-
des católicas e que ocuparia postos burocráticos importantes
nos nascentes Estados absolutistas. Grosso modo, os colégios
jesuítas fabricaram os «funcionários modernos» provenientes de
estratos burgueses, bem como filhos da aristocracia provin-
ciana. Contudo, a Ratio visava fabricar sujeitos letrados e cató-
licos do sexo masculino, seguindo a redefinição e naturaliza-
ção dos papéis e da educação dos sexos, formulada pelos
humanistas e eclesiásticos, em que aos homens caberiam as
funções públicas e, para tanto, deveriam receber estudos mais
teóricos e refinados, enquanto que às mulheres estaria desti-
nado o espaço privado e uma educação mais prática e sóbria 28 . 28
Julia varela, Naamiento
de la mujer burguesa: el
cambiante desequilíbrio de
poder entre los sexos, Madrid,
A Ratio reformada de 1832 La Piqueta, 1997
465
de Jesus, deveria ser adaptada à realidade político-cultural de
cada província jesuíta.
Em relação aos conteúdos curriculares, houve desconti-
nuidade, pois as letras clássicas deixaram de ser o fio condu-
tor do currículo, dando espaço significativo às línguas e lite-
raturas nacionais, bem como às ciências experimentais e às
matemáticas. No entanto, com algumas alterações, o método
de ensino e os mecanismos disciplinares foram mantidos e
burilados, procurando formar sujeitos eruditos e católicos do
sexo masculino. A Companhia de Jesus criou o colégio-inter-
nato para alunos externos - que seria adoptado por outras
congregações religiosas, como os maristas e salesianos - , ver-
dadeira instituição disciplinar que se disseminou na Europa
da «restauração», sendo normatizado pela «maquinaria escolar»
formulada na Ratio Studiorum. Como parte integrante da «euro-
peização» do Brasil, os colégios-internatos foram estabelecidos
no território brasileiro desde meados do século XIX, tendo
crescimento significativo na Primeira República, quando foram
estabelecidos em quase todas as capitais dos estados brasilei-
ros, com o intuito de educar boa parte de suas elites burguesas.
Ética e comunicação social S r e S i t e w
TEXTO BASE DE INTERVEN-
ÇÕES NA ESCOLA SECUNDÁRIA
DA TROKA E N O
A U D I T Ó R I O MUNICIPAL
DE VIANA D O CASTELO.
O l h a n d o para o título deste texto e A ética, mesmo que não respeitada, é condição de
possibilidade da comunicação social, a qual não é
para a comunicação social que nos
um negócio como outro qualquer, su|elto apenas
rodeia, não seremos levados a pensar ao lucro, não podendo abandonar a sua função
estarmos perante um paradoxo? Em vez formativa. Para responder às preocupantes
tendências actuais dos órgãos de comunicação
de «Ética e comunicação social», não seria
social, mais do que regulamentar e fiscalizar pelo
mais correcto dizer «Ética ou comuni- lado da oferta, convém actuar pelo lado dos
cação social»? Se lermos os jornais, se consumidores, pela educação nas famílias,
folhearmos as revistas de informação e a invenção mediática de qualidade e o apoio a
grupos de pressão.
coração, se olharmos para a televisão,
podemos ser levados a pensar que as
duas realidades, ética e comunicação social, são incompatíveis.
E parecem incompatíveis porque a vida ética deve ser presi-
dida por valores que pautam os comportamentos, e o nosso
olhar sobre a comunicação social mostra-nos, ou parece mos-
trar-nos, que nessa área de actividade vale tudo, desde que
traga leitores, audiências e telespectadores. É ver as capas
das revistas, a primeira página dos jornais, o modo como se
faz rádio, o que interessa à televisão, para se concluir que
comunicar, informar, divertir é apenas um pretexto porque o
objectivo é sempre outro: manter presos os destinatários e
manobrá-los porque são mercadoria rentável.
Como não é possível tratar de todos os assuntos - a
bibliografia sobre o tema é extensa - abordarei apenas três
pontos. No primeiro, mostrarei que a comunicação, e portanto
a comunicação social, não é possível sem ética - a ética é a
468
dade nenhuma relativa ao mapeamento do genoma. O que
acontecia é que a referida empresa estava com necessidade de
financiamento, uma vez que os supercomputadores utilizados
na investigação são caríssimos, e, por isso, convinha-lhe que a
sua cotação na Bolsa subisse. Através de uma bem montada
operação de marketing, a que, consciente ou inconsciente-
mente, a imprensa mundial aderiu, transmitiu-se a falsa ideia
de que tinha acontecido algo de novo e importante, quando
tudo continuava na mesma. Contudo, e era o que a empresa
pretendia, as acções subiram. Isso foi possível porque, perante
os discursos produzidos, as pessoas reagiram normalmente
seguindo a condição de possibilidade de toda a comunicação:
«a pretensão de validade».
Dizendo de outra maneira: um discurso estratégico, uma
comunicação baseada numa racionalidade estratégica, que não
é dirigida pela pretensão de veracidade, é possível porque as
pessoas esperam sempre - é condição transcendental de toda
a comunicação - estar perante uma comunicação racional, ver-
dadeira, veraz. Ainda numa outra formulação: faltar à ética
na comunicação é possível porque ainda é a ética a condição
de possibilidade de comunicação.
uisuai, Madrid, Tecnos, 1999, ção social, são diferentes dos outros bens. Nao se pode com-
p 36
' parar uma cadeia de televisão com um hipermercado. Este
rege-se pela ética empresarial, pela ética dos negócios, pela
ética económica. Estas éticas, contudo, não chegam para uma
empresa de comunicação social, precisamente porque esta
negoceia [...] com bens culturais, com produtos -ideológicos- que
contribuem ou não para a formação - em suas múltiplas dimen-
sões - da cidadania. O qual é motivo suficiente para que estas
3
ibidem, p. 37. empresas -sócio-económicas- se submetam a pautas morais 3 ,
472
Quando se pensa em comunicação social como serviço
público, considera-se que aquela dá particular atenção ã sua
função formativa e defende-se que deve ser sustentada pelo
Estado enquanto presta esse serviço. Ora, a definição de ser-
viço público não é imune à controvérsia e muitas vezes o
«serviço público» tem sido capa para serviços a alguém, ao
poder, que é quem financia esse serviço, o que tem dado azo,
e justamente, a muitas críticas provindas de muitos quadrantes,
muito particularmente dos partidos que, no momento, estão
na oposição e se sentem prejudicados. Isto significa que quem
financia o serviço público serve-se dele, directamente ou por
interposta pessoa, quem paga põe esses órgãos de comunica-
ção social ao seu serviço. Para dizer isto com o título de um
livro NãO há almOÇOS grãtÍS\ 5 E aqui está C O m O O S princípios 5
M o César das Neves, Não
bá almoços grátis: colectâ-
acima referidos, a que devem obedecer os órgãos da comuni- ma de artigos de opinião,
. , _ ,. , , , .. . Lisboa, Notícias D.L., 1994.
caçao social, sao distorcidos pelas empresas publicas da comu-
nicação. Quem financia, acaba por encontrar caminho para
ser compensado da sua boa vontade.
474
a que já me referi. No caso português, a RTP tem vivido a
dupla dificuldade: o financiamento público e a concorrência
própria do mercado.
Por tudo isto, a dimensão formativa dos órgãos de comu-
nicação social, um dos seus fins, se não o seu fim funda-
mental, é abandonada e desce-se ao grau zero da cultura e à
boçalidade atroz dos instintos mais primários. E é ver-se quem
desce mais baixo para atrair mais público.
Os responsáveis pelos órgãos de comunicação social dizem
que não têm culpa do baixo nível do que apresentam, que
apenas respondem ao gosto do público e que este quer aquele
produto. Outros chegam mesmo a dizer que não têm respon-
sabilidades culturais, que gerir uma empresa de comunicação
social é como dirigir um outro qualquer negócio. Evidente-
mente que não é! Quem considera que a comunicação social
é como qualquer outro negócio, reduz os outros a meros objec-
tos consumidores, isto é a meros meios para ganhar dinheiro,
o único valor que considera importante. Está-se perante uma
nova idolatria e a coisificação das pessoas.
O que acontece é que na nossa sociedade - Marx tinha
toda a razão - o dinheiro é o valor supremo e, para o adqui-
rir, vale tudo, embora o pudor leve alguns a esconder o que
procuram. Quando a privacidade de alguém é violada, ime-
diatamente o órgão de comunicação social infractor dirá que
tinha a obrigação de informar. Quando a honra de alguém é
molestada, dirá que a verdade é para ser dita, mas, vendo bem
cada caso, normalmente se conclui que a única motivação que
levou à violação da privacidade de alguém ou a beliscar a sua
honra foi prender o público para ganhar ainda mais dinheiro.
Neste panorama, a televisão ocupa um lugar à parte. Hoje
- j á há bastante tempo, aliás - o que não passa na televisão
não existe e o que existe acontece segundo o que a televisão
mostra. Como o estranho, o pitoresco, o bizarro, o chocante,
o escandaloso, o boçal prende audiências, é isso que se emite.
No noticiário sobre a política, fica-se pelo chiste, pelo circuns-
tancial. Dá-se mais tempo de antena ao anedótico ocasional
que apareceu na discussão da proposta de lei do que ao con-
teúdo da lei; dá-se ao Presidente da Comissão Nacional para
as Ciências da Vida um minuto para comentar a licitude ou a
ilicitude da quebra do sigilo profissional de um médico e meia
hora para comentar um assassinato ou, pior ainda, um fait
divers do jet set nacional, que não tem qualquer importância
para o país ou para cidadão comum; repete-se à saciedade
uma gaffe de um político, fora de qualquer contexto que a
permita compreender, e não se refere o que de importante ele
disse antes ou depois.
A rampa na qual se está a deslizar não se sabe até onde
conduzirá, mas não nos levará a bom sítio. Há quem pense
que é a própria liberdade e a democracia que estão em perigo.
Algumas declarações dos principais responsáveis são de tal
ordem que fazem temer o pior. Afirmações tais como: «a comu-
nicação social não tem nada que ter preocupações culturais!»,
«fazem-se presidentes como se vendem sabonetes», não são
de bom augúrio.
Perante tudo isto, o que fazer? Esta questão tem sido imensa-
mente discutida e há diversidade de respostas. Alguns consi-
deram que nada há a fazer, que o poder da comunicação
social - o novo poder, ao lado do poder legislativo, executivo
e judicial de que já falava Montesquieu - é de tal ordem, que
nada o pode controlar. Segundo outros, há que criar um quadro
legal amplo, bem articulado e com um conjunto de penas sufi-
cientemente dissuasor que desencoraje os que são tentados
a ultrapassar os limites. Outros pensam que há que melhorar
a deontologia profissional. Há quem se sinta tentado pela
constituição de comissões de controlo que deverão zelar pela
comunicação social de maneira a evitar abusos. Por último,
e não pretendo ser exaustivo, alguns autores consideram,
8
Esta pane do texto está Francisco Sarsfield Cabral é um deles 8 , que, nesta questão
bastante inspirada pelos es-
critos sobre comunicação dos órgãos de comunicação social, nada há a fazer pelo lado
social que este autor reuniu
no seu livro Ética na socie-
da oferta e, por isso, a única esperança de inverter a situação
dade plural, Coimbra, Edi- calamitosa a que se chegou, principalmente na televisão, é
ções Tenacitas, 2001.
trabalhar pelo lado da procura.
476
Muito sucintamente direi o que penso sobre cada uma
destas tentativas. Não fazer nada é demitir-se da sua qualidade
de pessoa e de cidadão. Uma sociedade de mulheres e homens
livres não pode pactuar com a exploração desenfreada a que
se chegou; há que fazer alguma coisa.
Mas o quê? Considero que é sempre possível melhorar
o quadro legal e os códigos deontológicos, mas por aqui não
se irá muito longe. Há sempre possibilidades de aproveitar a
condição humana de seres hermenêuticos que somos jogando
no campo interpretativo e distorcer os textos ou imagens de
modo a escapar ao estipulado; além disso, não é possível
encontrar um código, jurídico ou deontológico, que preveja
todas as situações. Por último, mesmo que isso fosse possível,
ainda ficava por resolver o principal problema: como levar
os responsáveis a cumprir as normas? Não é a norma jurídica
ou deontológica que leva à necessidade do seu cumprimento;
é a moral que ensina que é nossa obrigação obedecer às leis
justas. Quanto às comissões de fiscalização, estamos perante
uma solução perigosíssima. Rapidamente estaremos perante
comissões de censura cujas funções todos sabem onde come-
çam mas ninguém sabe onde acabam.
Como se vê, pelo lado da oferta não penso que se possa
fazer muito. Efectivamente, o valor supremo para as empresas
de comunicação social é o lucro e a esse valor tudo se sacri-
fica. E quando se fala e pede autocontrolo ou se declara que
se vai enveredar por ele, apenas se pode ter a certeza de uma
coisa: tudo ficará na mesma, isto é, tudo será sacrificado ao
económico.
Fica a possibilidade de trabalhar a questão pelo lado da
procura, isto é pelos consumidores de comunicação social,
havendo vários caminhos possíveis dos quais apontarei três.
O primeiro tem a ver com a educação dos telespectadores, dos
leitores de jornais e revistas e dos ouvintes de rádio. Cabe em
primeira instância às famílias. Os pais devem aproveitar as
oportunidades que surgem ou criá-las para educar os filhos a
ver e a ler, como uma das dimensões fundamentais do pro-
cesso educativo. Isto exige que eles se cultivem e cultivem
os filhos, transmitindo valores e espírito crítico. Para isso, o
direito inalienável à liberdade de ensinar e aprender em real
igualdade, de modo a que os pais possam efectivamente esco-
lher as escolas onde querem que os filhos estudem, é funda-
mental. Uma escola assim será uma óptima ajuda para os pais
na tarefa da educação.
Um segundo caminho, embora não acessível a todos,
é o de trabalhar ou colaborar com qualidade na comunicação
social e nisso procurar formar os consumidores. É um trabalho
pedagógico de grande importância.
O terceiro, e importantíssimo, é o de participar em grupos
de pressão que tentem condicionar os órgãos de comunicação.
É do conhecimento geral a importância e o que consegue
obter uma opinião pública bem organizada.
Em síntese, e para concluir: mostrei que sem ética a
comunicação é impossível. Referi, de seguida, os valores que
dominam a maioria da comunicação social: a propaganda polí-
tica e o lucro. Concluí com o que penso se pode fazer para
sair da situação a que fomos conduzidos. É evidente que os
caminhos propostos para sair do estado actual são longos e os
resultados levarão muito tempo a aparecer, mas numa socie-
dade livre e democrática - a democracia, apesar dos seus
defeitos, ainda é o melhor sistema político que encontrámos -
não há outros, pois que só eles respeitam os indivíduos como
pessoas, isto é, seres que são fins em si mesmos e não meios.
Dos consumidores que somos
Today's consumer has been variously described as
demanding, fickle, informed, sophisticated, disloyal,
footloose, individual and easily bored. It is assumed
that ali consumers can identify themselves through
a combination of any or ali of these characteristics.
FINANCIAL TIMES BUSINESS, 1.998
mer Service Quaiity-, Focus, - e critico para o posicionamento estrategico em todas as econo-
9(5), 1990, pp. i-6. mias de mercado. Na Europa Ocidental, como nas restantes
economias de idêntico perfil, o posicionamento estratégico,
desde que dotado de alguns dos seus ingredientes principais,
ditos atributos, tornou-se uma componente empresarial (ou da
cadeia de valor) com importância histórica sem precedentes.
Porque é por intermédio daqueles atributos, mutáveis consoante
as exigências e o rumo do mercado, que as empresas edificam
oferta, atraem procura e fidelizam clientes/consumidores.
Conjugando o cenário europeu Ocidental com a perspec-
tiva de serviço total temos um teatro de operações interessante,
no mínimo, para podermos perceber o porquê da importância
de tais atributos para poder fazer convergir oferta (de serviço
total) com procura (de bens e de serviços). Primeiro porque
estamos a falar da forma como se move e orienta a nossa
própria casa europeia. Depois porque nela se encontra, salvo
algumas excepções, a base sólida dos principais clientes/con-
sumidores das nossas empresas, a servir. Por último, porque é
ela, reconhecendo nós o fraco alcance da nossa capacidade
altruísta, a que genuinamente mais nos interessa, quer na pers-
pectiva do desenvolvimento económico, quer na perspectiva
do enquadramento à escala global.
Façamos, então, um percurso Ocidental europeu para,
ante a diversidade, podermos caracterizar e explicitar aquilo
que designámos, inicialmente, por padrão tipificável ou cliente/
consumidor homogéneo (mesmo se válido à escala global).
482
apercebermos de que de todas as grandes regiões do globo,
i.e., macro-regiões, é talvez esta a mais heterogénea. Temos
desde heavy drinkers (acima dos 71 litros/ano por habitante),
como o caso da não comunitária mas Ocidental Noruega, até
aos soft drinkers, como Portugal, França e Itália (14-28 litros/ano
por habitante). Pelo meio ficam alguns médium drinkers como
a Áustria e a Espanha (28-50 litros/ano por habitante), por
exemplo.
Nem o clima, nem o rendimento per capita, nem o índice
de desenvolvimento agregado proposto pelas Nações Unidas
(rendimento, educação, saúde e instrução) conseguem expli-
car totalmente as várias diferenças de consumo de Coca-Cola
entre países da Europa Ocidental. Sinais de diversidade, apenas.
Veja-se, também, que a geografia europeia apresenta fron-
teiras físicas não ignoráveis, de que são exemplo os Pirenéus,
acentuando a periferia ibérica, mais ainda a portuguesa, os
Alpes, que constituem, de alguma forma, barreira natural
entre Alemanha, Suíça, Áustria e Itália, a Mancha, separando o
Continente das ilhas britânicas e o Mar do Norte e o Báltico,
afastando Finlândia, Suécia e Noruega da Europa Central.
Mas as diferenças não se ficam pelas barreiras físicas,
estendendo-se a zonas climatéricas que, embora complemen-
tares, apresentam características francamente diversas. As nações
do Centro e Norte da Europa apresentam climas frios, con-
trastando com os climas mediterrânicos dos países do Sul.
Longe da harmonia está também o produto (PIB) per
capita. Homogeneidade, a existir, verifica-se, muito grosso modo,
entre Alemanha, Áustria, Bélgica, Finlândia, França, Holanda,
Itália, Reino Unido e Suécia. No topo superior figuram Luxem-
burgo e Dinamarca e as não comunitárias Noruega e Suíça.
No patamar inferior encontram-se Irlanda, Espanha, Portugal
e Grécia. Aquém destas, e menos ocidentalizadas (geográfica
e economicamente), aparecem as restantes economias euro-
peias não comunitárias.
A população está também concentrada, ou densificada,
em bolsas específicas, sobretudo no centro da Europa, nomea-
damente no Benelux, Alemanha e Noite de Itália, nalgumas
zonas do Reino Unido, como as de Londres, Birmingham e
Manchester, por exemplo, nas extensas zonas urbanas de Paris
e Lyon, em alguns pontos da península Ibérica como Barce-
lona, Madrid e Galiza/La Coruna, bem como, e em menor
escala, na grande Lisboa e grande Porto.
Adicionalmente, existe uma diversidade linguística invul-
gar, com padrões culturais assentes em raízes de natureza dife-
rente. Culturas pró-latinas (com línguas românicas como o
francês, o italiano, o espanhol e o português) que diferem
substancialmente das que derivam da tradição pró-germânica
(dinamarquês, holandês, alemão, inglês, norueguês e sueco)
e das de tradição pró-eslava que, muito embora não comuni-
tárias, tenderão a fazer, cada vez mais, por enquanto por via
indirecta, parte do todo comunitário (casos do polaco e do
checo, por exemplo).
Para além destas existem, ainda, algumas variantes e decli-
nações nacionais ou regionais em vários países, correspon-
dendo a etnias, tradições e formas de estar também diversas.
De realçar os grupos culturais que, reconhecidamente,
se formam subjacentes a este espectro e se podem descrever
como teutónicos, latinos e anglo-saxónicos, variando nas formas
i
Andersen Consulting, Cran- de expressão e abordagem às mais variadas temáticas 3 .
field School of Manage-
ment, Recotifiguríng Euro- O grupo teutónico (de raiz alemã, escandinava ou do
pean /.ogislics S)>siems, para
o Council of Logistics Mana- Norte e Centro da Europa) tem tendência a ser altamente lega-
gement, U.K., 1993.
lista, começando por exprimir a conclusão de um argumento,
dando-lhe continuidade com o desenvolvimento de suporte e
regressando, finalmente, à conclusão.
O grupo latino (França e Sul da Europa) dá prioridade ao
pensamento assente no formalismo, começando com um intróito
ao argumento, usualmente de natureza teórica, e fazendo o
seu desenvolvimento assente em vários pontos, cada um deles
contendo vários subpontos de suporte, e terminando com uma
conclusão, qual tese, que permite a validação, ou não, do
argumento.
O grupo anglo-saxónico (Reino Unido, na Europa) privi-
legia a inferência a partir de uma aproximação empírica, ini-
ciando com uma série de observações concretas e pragmáticas
para passar rapidamente à conclusão mais lógica.
484
Adicional e paralelamente, alguns aspectos parecem poder
ser mais ou menos esboçáveis. Em primeiro lugar, a Europa
constrói-se sobre terreno instável e marcado por clivagens pro-
fundas, facto que só contribui para tornar o projecto mais
interessante, ambicioso e arrojado.
Em segundo lugar, e face às inúmeras diversidades apon-
tadas, o tempo de negociação de cada etapa, no sentido de
atingir pontos comuns, é francamente demorado e revela ao
exterior, qual open-book, toda a sua hipotética componente
estratégica (se é que ainda a tem, ou alguma vez ousou ter).
As empresas e os indivíduos sentem-se, eles próprios, reféns
desta inércia e, talvez por isso, menos propensos à criatividade,
à construção de novas ideias e à empresarialidade pró-activa.
Por último, se há aspecto que convém realçar é o facto
de a história da Europa, qualquer que seja o grupo cultural
em que possamos pensar, ter demorado sempre séculos a
construir, o que poderá tornar a União Europeia num projecto
à la longue, potenciando a sua paralisia e alargando o fosso
que nos separa, queiramos ou não, da economia empresarial
mais incubadora do mundo, ou seja, os E.U.A.
Todavia, acima de todos estes aspectos e já numa tenta-
tiva de encontrar pontos comuns, é possível delimitar dois
grandes grupos europeus. Um mais federalista, acreditando
que a Europa se pode construir assente num governo supra-
nacional, com uma política externa e de defesa comum, uma
moeda única e um parlamento com poderes alargados. Outro
mais céptico, acreditando na União Europeia sob o ponto de
vista estritamente económico e sem que cada estado-nação,
e porque não região, se veja obrigado a ceder autoridade que
deva ser pertença dos vários governos nacionais/regionais.
No meio de todo um cenário de génese separatista e,
paradoxalmente, muito embora persistam, sejam visíveis e
notórias as diversidades climatéricas, orográficas e físicas,
excessivas diferenças entre sistemas de saúde e de educação,
desníveis acentuados entre poderios económicos e políticos,
barreiras sociológicas, religiosas e culturais latentes, proteccio-
nismos mais ou menos subtis e passados à prática pelo mundo
empresarial e por cada uma das nações per se, ou por agru-
pamentos sectários, de tipo racial, religioso ou outros, sobe ao
palco europeu, e acima de tudo isto, um comprador/consumi-
dor, geralmente pró-urbano, com características próprias, unas
e impensáveis face à diversidade de origem, não tendo outra
alternativa senão apresentar-se como o consumidor da Europa
(perfil também válido para um consumidor global).
3. Do Cliente/Consumidor Padrão
Sinais de homogeneidade
486
local de venda; um conjunto de pontos de venda ou formatos
de distribuição demasiadamente iguais e prototipados (forma-
tos conhecidos da moderna distribuição de base alimentar,
sobretudo), através dos quais aprendeu, ele próprio, a fazer
o seu benchmarking e a gerir proveitos. Outros exemplos de
natureza semelhante poderiam ser apontados.
Sempre que se apresentem ao consumidor da Europa (ou
global) um conjunto de soluções repetitivas mas que dêem
margem de manobra para alternativas, pela multiplicidade da
oferta, ele consegue tirar delas o melhor partido e depressa
as passa a encarar como previsíveis, gerívéis e só capazes
de desanuviarem, momentaneamente, a sua eterna monotonia.
488
um alvo de mercado demasiadamente importante para o mundo
empresarial, e as economias europeias (e globais) em geral,
uma vez que, e por recurso a ele, se podem formular estraté-
gias e utilizar atributos adaptáveis ao melhor posicionamento
da oferta.
Paralelamente à emergência do consumidor da Europa,
e qualquer que seja o movimento do velho Continente em
termos de união e/ou integração, as empresas, embora muito
reactivas, percebem cada vez melhor a mensagem e, elas pró-
prias, desenvolvem esforços (e adoptam movimentações em
tudo semelhantes a outras de índole externa e oriundas hoje,
sobretudo, do Continente americano) no sentido de alimenta-
rem o padrão encontrado.
0 consumidor da Europa
489
sivos de âmbito cognitivo-comportamental-avaliativo) e recaem
frequentemente sobre produtos não necessários, sendo que
o dispêndio em bens essenciais tem vindo a reduzir-se para
ceder lugar a compras ostentativas, compras para a casa ou
compras de produtos de lazer.
A procura por variedade e novidade é uma constante,
sendo que se verifica uma apetência crescente por produtos
que incorporam tecnologia (encarada, no sentido amplo, como
ciência da técnica), i.e., quer os melhor trabalhados em termos
de merchandising, por exemplo, quer os que incorporam
possibilidade de entrega em casa, encomenda à distância e/ou
8
Rodenck Younger, Logis- estejam associados à compra e pagamento via Web6.
Iks Ttvnds In Eiimpcan
Consunier Goods, Financial
Times Hetail & Consumcr A ^
Publishinn, London, 1997. COPIClUSãO
490
a nós próprios podemos pensar, por analogia, que a maioria
do mercado há-de querer o que nós queremos de pior. E, atra-
vés desse conhecimento, podemos encarar a possibilidade de
nos mudarmos, sendo que assim estaremos a mudar um pouco
o mercado. Porque nós somos mercado. E, como mercado,
temos a obrigação de contribuir para a correcção, para a regu-
lação da oferta e para a migração das empresas.
Ou seja, se não queremos compactuar com o mercado,
como o conhecemos, temos que ser nós a contribuir para
o mudar. Por nós. Pelas nossas ideias. Pelas nossas adesões
e convicções de compra/consumo. Pelo testemunho real de
que não fazemos parte de uma massa humana cujo comporta-
mento podemos reprovar e onde alegremente também nos
incluímos. Apetece referir Confúcio para dizer que «uma pessoa
superior é modesta nas suas palavras, mas inexcedível nas
suas acções». Tal como devemos ousar ser.
José Régio 8 3. Modâ Paulo Morais-Alexandre'
DESENVOLVIMENTO DE UMA
CONFERÊNCIA NA ESCOLA
SUPERIOR DE T E A T R O E
C I N E M A , NAS C O M E M O R A -
ÇÕES D O C E N T E N Á R I O D O
N A S C I M E N T O D O ESCRITOR.
494
Mas essa vida não seria tumultuosa, nem sequer vaga-
mente agitada, como a de outros autores. Pelo contrário,
«.. .Régio evitaria todo e qualquer acidente na sua vida privada,
a fim de mais deleitosamente se entregar à sua obra» 4 . 4
ibidem, pp. 293-4. Veja-se
a este propósito a descrição
E é essa a postura vestimentar de Régio: absolutamente do dia em que não come-
morou os seus cinquenta e
correcto, absolutamente clássico, absolutamente neutro. oito anos: -...faço hoje 58
anos. Aqui estou sozinho,
Raras são as imagens de Régio, em que este aparece sem âs seis horas da tarde, no
estar formalmente vestido, embora por vezes existam indícios meu quarto da casa de
madrinha Libânia [...] Mais
de algumas concessões ao conforto. Assim sucede numa foto- ninguém [...] porque o João
Maria está fora. No ano pas-
grafia datada de 1957, onde o escritor surge acompanhado de sado, ainda o convidei a
ele e ao Orlando, - fomos
seu pai José Maria Pereira Sobrinho e seus irmãos João e Júlio. almoçar juntos. Resolvi, este
Aí verifica-se que todos envergam fato de três peças, ou seja ano, passar inteiramente o
dia como qualquer outro.
calças, colete e casaco, enquanto que Régio substituiu o formal Almocei só, tomarei um leite
à hora do jantar...• (José
colete do fato, por um mais confortável casaco de malha 5. Régio, Páginas do Diário
íntimo, Lisboa, Imprensa
No geral vestiria fato, com camisa invariavelmente branca Nacional-Casa da Moeda,
e com gravatas particularmente sóbrias, numa postura aliás não 2000, p. 342).
495
vem provar exactamente o contrário, já que essas referências
são mínimas, esparsas e pouco elucidativas, mesmo quando
José Régio se torna mais descritivo.
Poesia
Teatro
Contos e Romance
496
Em «Davam Grandes Passeios aos Domingos», Régio dá ao
leitor alguns elementos da indumentária na época do final da
2.a Guerra Mundial. Assim, quando Rosa Maria desembarca na
estação de Portalegre, o registo de um artigo obrigatório, também
na bagagem de uma jovem rapariga era a caixa do chapéu 1 3 . 13
José Régio, -Davam Gran-
des Passeios aos Domingos-,
Um aspecto a que Régio recorria para falar de riquezas in Histórias de Mulheres,
p. 25.
passadas era a referência à preservação de velhas colecções
de vestidos. Este aspecto merece ser analisado, já que daí se
podem tirar ilações curiosas. Assim, numa situação de ruína
pode-se recorrer à venda das propriedades e dos diversos
bens móveis, mas verifica-se que o valor do vestuário em
segunda mão é absolutamente residual, nomeadamente o ves-
tuário de Alta Costura, para o qual não existe mercado de
usados; assim estas peças não são alienadas, situação que Régio
regista por diversas vezes. Desta forma e ainda em «Davam
Grandes Passeios aos Domingos», a arruinada tia Vitória, «...da
sua brilhante existência passada, conservara sempre algumas
jóias, meia dúzia de bons vestidos...» l4 . 14
Ibidem, p. 29.
497
Olímpia os mesmos vestidos rosa-chá, azul-celeste, verde-mar, só
um pouco desbotados, hoje: sim um pouco desbotados! Só com as
rendas e guarnições um pouco amarrotadas; talvez quase rotas
15
José Régio, -Menina Olím- aqui e além... 15 ,
pia e a sua Criada Belar-
mina-, in Histórias de Mu-
lheres, p. 107. tendo-se salvo «...os vestidos, os sapatos, os chapéus, até
16
Ibidem, p. 108. leques e luvas, até capinhas, bichos para o pescoço...» 1 6
acrescentando ainda que
...aquela trapagem foi de ela própria, foi de sua mãe, foi d e sua tia.
Para a menina Olímpia, há muito não corre o tempo [...] para
menina Olímpia, esses gastos ouropéis continuam na moda, frescos
" Ibidem, p. 107. e galantes, como há trinta, há sessenta anos 17,
498
que velava o nascer das suaves redondezas. Pôs-lhe depois, aos
ombros uma capa muito rica, toda veiada de reflexos marmórea -
dos, - também desencantada no maravilhoso guarda-vestidos.. ,21. 21
Ibidem, pp. 49-51.
499
No entanto, considera-se que esta referência não tem de
forma alguma a riqueza e sobretudo a força da descrição que
o modernista António Ferro, em Viagem à Volta das Ditadu-
25
António Ferro, Viagem à ras, traçou da ligação do traje à dança na era do Jazz25.
volta das Ditaduras, Lisboa,
Empresa -Diário de Notí- A agitação frenética de Ferro, dá lugar à contenção em
cias-,1927, pp. 363-4. Vide a
este respeito, Paulo Morais- Régio, podendo ver-se dois mundos em confronto à volta de
-Alexandre, -António Ferro -
O Traje e a Moda-, Brotéria um vestido e uma mesma dança.
141 (1995) 397-411, Lisboa,
onde o texto citado é trans- Seria Régio profundamente conservador? Efectivamente
crito.
pode-se considerar que o que em Ferro surgia como moder-
nidade, nomeadamente o Jazz, fenómeno cosmopolita, arauto
de novas e melhores realidades, via Régio decadência, relaxa-
mento de costumes, associado à música que as prostitutas de
casino dançavam quando na busca de clientes.
A questão da elegância
500
número oitavo daquele nome e ainda mais tarde, após a abdi-
cação, Duque de Windsor, filho do rei George V, que gover-
nou entre 1910 e 1936.
Descontando os posteriores escândalos amorosos que há
data ainda não se haviam sucedido, lembre-se que a obra
é publicada pela primeira vez em 1934, o príncipe Eduardo 21
-Whatever the Prince
havia-se indubitavelmente afirmado como o grande árbitro do wore, every man of his
generation wanted to wear,
gosto europeu e até norte-americano, sendo seguidas as suas though trying to keep up
vvith him could be as bewil-
propostas vestimentares, mesmo as mais insólitas, sem serem dering as it was expensive.
He would not only appear
sequer discutidas já que se partia do princípio que o príncipe in several outfits a day, but
de Gales sabia melhor 2 1 . Tal aconteceu por exemplo quando he would keep it up week
after week. (...] 'As worn
o futuro Eduardo VIII introduziu o uso de sapatos de camurça by the Prince' became the
catch-phrase of the West
castanhos com fatos azuis escuros 28. End shops, and then of the
world. 'His fair and clean-
Voltando ao texto de Régio, será abusivo considerar que cut goocl looks were suffi-
cient to make him an idol,
a afirmação transcreve uma dúvida do próprio autor? Efectiva- considering his position,' an
American critic summed up,
mente analisadas as referências à indumentária na obra de 'but he possessed just that
combination of conventio-
Régio verifica-se a existência de mais dúvidas, às quais o autor nal good taste and siight but
never exaggerated whimsy
não procurava sequer encontrar respostas, já que o assunto to make him a fashion idol.'
manifestamente não lhe interessava. With perhaps a touch of
exasperation, Mens Wear in
New York reported that the
average young man in Ame-
rica is more interested in
Os mecanismos da moda the clothes of the Prince of
Wales than in the clothes
of any individual on earth'-
No romance Príncipe com Orelhas de Burro há no entanto (Richard Walker, Savile Row,
New York, Rizzoli Inter-
um momento excepcional na obra de Régio, que embora não national Publications, Inc.,
1989, p. 94).
alterando o que se disse anteriormente, indicia alguma sensi-
bilidade para o assunto dos mecanismos da Moda. 28
-The Duke of Windsor
once caused a sensation by
Assim, perante a absurda universalização do uso do tur- wearing brown suede shoes
with a dark blue suit. But
bante, que o leitor sabe motivado por um defeito físico do when a bystander expressed
surprise at this sartorial faux
príncipe Leonel, primeiro expandindo-se para a corte que gra- pas, one of the Duke's
friends justified it thus: 'It
vitava à volta da família real e depois para os que tinham would be wrong if it were a
pretensões a aristocratas, Régio descreve o percurso que vai mistake. But the Duke knows
better - so it's alright'- (Paul
do aparecimento de uma nova tendência à sua generalização: Keers, A Gentleman's War-
drobe, Londres, Weidenfeld
& Nicolson, 1987, p. 6l).
501
Mas como havia surgido a Moda?
32
quado à profissão e por último conhecimento seguido da não
Régio, O Príncipe com
Orelhas de Burro, p. 82. aceitação, contrariando as tendências vigentes.
502
Régio registou ainda sobre o desconforto e a insensatez
de certas modas que chegavam a causar dano à saúde:
0 Vestido Cor-de-Fogo
503
Conclusão
504
depuração, tornaram este tema quase inexistente na sua
obra. Pode pois concluir-se que as historietas de um coleccio-
nador de Antiguidades não incluíram jamais o registo de uma
visita às adeleiras, pelo que, da sua obra, à qual sacrificou
toda a sua vida, se salvou um vestido de mulher, um vestido
cor-de-fogo.
Ética naturalizada, cem anos depois
dos Principia Ethica de G. E. Moore
COMUNICAÇÃO APRESENTADA
N O I ENCONTRO NACIONAL
DE FILOSOFIA ANAÚTICA,
FACULDADE DE LETRAS,
COIMBRA, 1 6 - 1 8 MAIO 2 0 0 2 .
508
0 naturalismo de Moore nos Principia Ethica está pre-
sente sobretudo na sua abordagem das seguintes questões:
se nos perguntarem 'o que é bom?' a nossa resposta será que bom
é bom e ponto final na questão. Ou ainda, se nos perguntarem
'como havemos de definir 'bom'?, responderemos que não pode
ser definido e que é tudo o que temos a dizer sobre o assunto 12 .
pode ser verdade que todas as coisas que são boas sejam também
outra coisa qualquer [...] E é um facto que a Ética tem por objec-
tivo descobrir quais são essas outras propriedades que pertencem
a todas as coisas que são boas. Mas a verdade é que um número
excessivo de filósofos tem pensado que ao enumerar todas essas
outras propriedades estava de facto a definir bom, e que essas
propriedades não eram 'outras', diferentes, mas se identificavam
total e absolutamente com bondade. A esta proposição propomos
que se dê o nome de 'falácia naturalista' 13 .
Esta é uma das questões que até hoje nunca deixou de levan-
tar polémica, como veremos a seguir.
" Mind 48 (1939), pp. 464- duas palavras, ou conjuntos de palavras representam ou significam
-77. a mesma propriedade. Moore foi em parte enganado pelo modo
510
material de expressão, como Carnap lhe chama, em tais proposi- 20
William K. Frankena, -The
ções como -bondade é agradabilidade», «conhecimento é crença naturalistic fallacy-, in James
P. Sterba (ed.), Contempo-
verdadeira-, etc. Quando alguém afirma «A palavra 'bom' e a pala- rary Ethics. Selected Read-
vra 'agradável' significam a mesma coisa", etc., é evidente que não ings, Englewood Cliffs, N.J.,
Prentice Hall, 1989, p. 33.
está a identificar duas coisas. Mas Moore não quis entender isto
afirmando que não estava interessado em quaisquer afirmações 21
W. D. Hudson, The Is/
acerca do uso de palavras 20. Ought Question, p. 11.
22
Carl Wellman, The Lan-
Frankena conclui que a hipotética falácia definicionista não guage of Ethics, Cambridge,
MA, Harvard University
invalida uma definição naturalista dos termos éticos. O seu Press, 1961, p. 45. Segundo
E. Dussell, a falácia natura-
texto tornou-se entretanto um clássico da crítica a Moore, de lista tem pelo menos quatro
dimensões nem sempre con-
tal modo que continua a ser até hoje uma referência obrigató- venientemente distinguidas:
1- a redução de -is- a -ought-
ria nos estudos sobre a ética deste autor. no sentido humeano; 2- a
identificação entre proprie-
Na introdução a uma colecção de ensaios publicada em dades naturais e proprieda-
des éticas; 3- a redução do
1969 sobre «a questão é/deve» W. Hudson afirma que esta •dever ser- (juízo normativo)
ao -ser- (juízo empírico)
constitui «o problema central na filosofia moral»21. Mas embora num sentido lógico-formal;
4- a redução prática de con-
a falácia naturalista seja um dos temas da ética de Moore que teúdos normativos a juízos
empíricos. O autor procede
têm sido mais discutidos até hoje, alguns autores consideram a uma análise de cada uma
destas dimensões em E.
que não é claro em que consiste exactamente esta falácia. Dussel, op. cit.
«O que é exactamente esta falácia naturalista?» pergunta Carl
23
S. Darwall, A. Gibbard,
Wellman. P. Railton, -Toward fin de
siècle ethics: some trends-,
The Phitosophical Review
Esperar-se-ia que isso se pudesse saber examinando as passagens 101 (1992), p. 115.
de Principia Ethica em que é elaborada esta acusação ao natura- 24
John Searle, -How to
lismo ético. Infelizmente, não é de todo claro qual dos muitos erros derive 'ought' from 'is'-, The
de que Moore acusa os naturalistas deva ser considerado a falácia Phitosophical Review 73
(1964), pp. 43-58.
naturalista 22 .
25
Anthony Flew, -On not
deriving 'ought' from 'is'-,
Por outro lado, S. Darwall, A. Gibbard e P. Railton, proce- Analysis 25 (1964), pp. 25-
-32. James and Judith Thom-
dendo a uma identificação das principais correntes éticas em son, -How not to derive
'ought' from 'is'-, in W. D.
finais do século XX, são de opinião que «se sabe desde os Hudson, op. cit., pp. 163-
-167; W. D. Hudson, -The
últimos cinquenta anos que Moore não descobriu realmente 'is-ought' controversy-, in
ibid-, pp. 168-172; R. Hare,
qualquer falácia»23. -The Promising game», in
ibid., pp. 144-156.
No final dos anos sessenta, o tema foi retomado por John
26
Searle 24 , o qual mostra como, contrariamente à tese de Moore, J. E. McCIellan and B. P.
Komisar -On deriving 'ought'
os valores se podem derivar dos factos. O texto deste autor from 'is'-, in ibid., pp. 157-162.
511
A dicotomia facto/valor não se extinguiu com o fim da
controvérsia provocada pelo texto de Searle. Com o reacender
do naturalismo evolucionista e cognitivo no último quartel do
século XX, a questão voltou a ser objecto de inúmeros estudos
como se verá a seguir. E dado que a mesma questão se faz
remontar habitualmente a David Hume, também a posição
28
A. C. Maclntyre, -Hume deste autor tem sido objecto de debate 2 8 .
on 'is' and 'ought'-, in W. D.
Hudson, op. cit., pp. 35-50; Mais recentemente, A. Maclntyre considerou que
R. F. Alkinson, -Hume on 'is'
and 'ought'; a reply to Mr.
Maclntyre-, in ibid., pp. 51-
as afirmações iniciais de Aristóteles na Ética a Nicómaco pressu-
-63; A. Flew, -On the inter- põem que o que Moore chamaria «falácia naturalista» não é de
pretation of Hume-, in ibid., forma alguma uma falácia, e que os juízos sobre o bom - o justo,
pp. 64-69; G. Hunter, -A
reply to Professor Flew-, in o valoroso ou excelente, por outros modos - sejam um género
ibid., pp. 70-72; W. D. de proposição factual. Os seres humanos, tal como os membros
Hudson, -Hume on is and
ought-, in ibid., pp. 73-80.
de todas as demais espécies, têm uma natureza específica; e essa
No seu ensaio -Moore, natureza é tal que tem certos propósitos e finalidades através dos
Spencer, and the naturalistic
quais tendem para um fim específico. O bem define-se em termos
fallacy-, History of Philo-
sopby Quarterly 10 (1993), das suas características específicas 29.
pp. 271-277, James Fieser
argumenta que a crítica de
Moore a Spencer é inválida Para Maclntyre a separação entre proposições puramente fac-
dado que Spencer não deu
à expressão -mais evoluído- tuais e proposições puramente normativas não tem razão de
criticada por Moore como
significando -eticamente me- ser. Esta posição foi fortemente acentuada pela ética evolucio-
lhor», qualquer carácter ético. nista e pela ética cognitiva em décadas recentes.
8
A. Maclntyre, After Viriue,
3.
trad. esp., Barcelona; Crítica,
2001, p. 187. O naturalismo evolucionista
512
eido, pelo menos até muito recentemente, tão evidente que os seus
críticos não consideraram necessário apresentar com algum por-
menor a doutrina que eles já rejeitaram de modo tão constante 31. 31
G. J. Wnrnock, Contem-
porary Moral Philosopby,
London, MacMillan and Co.
Todavia, já nas décadas de cinquenta e sessenta se procedia a Ltd., 1967, p. 62.
513
verdades independentes vibrando numa dimensão não material da
mente. Elas são mais provavelmente produtos do cérebro e da
cultura. Do ponto de vista consiliente das ciências naturais elas não
são mais do que princípios do contrato social, concretizados em
regras e mandamentos, em códigos de conduta que os membros de
uma sociedade ardentemente desejam que os outros sigam e que
eles próprios aceitam para o bem comum. As normas são o ponto
extremo numa escala de acordos que vão de assentimentos casuais,
ao sentimento público, à lei, e àquela parte d o cânone considerado
35
Ibid., pp. 249-250. inalterável e sagrado 35
514
Tal como fizera David Hume, Ruse coloca-se na linha emoti-
vista uma vez que para ele «a ética é apenas uma questão de
emoções e sentimentos humanos» 38 , por oposição a qualquer 38
ibid., p. 236.
Se «deve» não pode ser derivado de «é», de onde pode então «deve»
ser derivado? É a ética uma área de investigação inteiramente 'autó-
noma? Será que ela voa indiferente aos factos provenientes de
qualquer outra disciplina ou tradição? Será que as nossas intuições
éticas emergem de algum inexplicável módulo ético implementado
nos nossos cérebros (ou nos nossos 'corações' para usar uma ter-
minologia tradicional)? Tal constituiria um duvidoso guindaste do
qual poderíamos suspender as nossas convicções mais profundas
sobre o que é certo e errado 40 . 40
Daniell Dennett, Darwi-
n's Dangemus Idea. Evolu-
tion and the Meanings of
Esta posição de Dennett vai ser também a de grande parte dos Life, London, Penguin Books,
1995, p. 467.
autores das ciências cognitivas.
4. 0 naturalismo cognitivo
515
lucionista, os cientistas e filósofos cognitivos argumentam
assim em favor de uma «ética corpórea», uma ética de factos.
Mark Johnson é certamente um dos autores das ciências
cognitivas mais críticos de Moore, sobretudo por este ter esta-
belecido um hiato intransponível entre a ética e as ciências
empíricas:
516
Olhando para trás, pareceria que o intuicionismo de Moore consti-
tuiu um infeliz episódio na teoria moral. Ao afirmar que a evidên-
cia empírica sobre quem somos e como funcionamos é simples-
mente irrelevante para as questões fundamentais da filosofia moral,
Moore deu início a um sério declínio em ética e igualmente na
teoria do valor em geral neste século (XX), d o qual só agora come-
çamos a recuperar 44. 44
Mark Johnson, Moral
Imagination, p. 140.
517
Slephen Maizen, -Closing de 'deve' ('ought') a partir de 'é' ('is')»48. Maizen afirma-se
the 'is'-'ought' gap-, Cana-
iliiin Journal of Pbilosopby preocupado pelo facto de a posição de Karmo «não ter sido
28:3 (1998), pp. 349-366.
refutada; pelo contrário, ganhou até recentes apoios, dado que
alguns filósofos acreditam que aquele autor pôs finalmente fim
49
Ibid., p. 349. Como exem- ã questão da autonomia lógica da ética»49. No entanto, poder-
plo de um apoio recente, cf.
Mark Wheeler, -In defense se-á dizer em abono da verdade que são mais os críticos de
of a derivation of 'ought'
from 'is'-, Indian Philosophi- Moore do que os seus discípulos.
cal Quarterly 26:3 (1999),
pp. 343-353. Cem anos depois da publicação dos Principia Ethica,
a questão da relação entre as proposições da ética e as das
ciências naturais, nomeadamente da biologia em geral e das
neurociências em particular, continua a ser problemática. A eli-
minação do hiato entre o facto e a norma, afirmada pela linha
naturalizante, parece, para os adversários desta corrente e na
linha de Moore, terminar com a possibilidade de qualquer dis-
curso ético. Reduzir a norma ética a «o que é o facto» empírico,
objecto de estudo das ciências naturais não deixa qualquer
lugar para um discurso sobre «o que deve ser o facto», o
domínio específico da ética. Para estes autores a questão da
falácia naturalista denunciada por Moore mantém hoje perfeita
actualidade. Todavia, o extraordinário desenvolvimento da
perspectiva evolucionista e das ciências cognitivas tem condu-
zido a uma visão mais realista da ética. Embora não se possa
dizer que são os factos empíricos que determinam em abso-
luto os valores éticos em cada estádio da evolução biológica
em geral, e da evolução do sistema cognitivo humano em
particular, não é possível ignorar por completo a forma como
a dimensão corpórea da existência humana condiciona, talvez
mais do que tenhamos considerado até agora, a forma como
pensamos e agimos eticamente.
Fazendo um balanço da situação actual, deve afirmar-se
que a polémica que continua a opor naturalistas e antinatura-
listas não se poderá resolver simplesmente pela vitória de uma
das partes. Por um lado, os antinaturalistas não poderão igno-
rar as dramáticas repercussões que os actuais desenvolvimen-
tos quer da teoria evolucionista, quer das ciências cognitivas,
estão a ter na concepção do que é ser humano. Mas por outro
518
lado, os naturalistas que investigam nestas áreas deverão
manter um espírito suficientemente crítico de forma a não
serem vítimas de um empirismo ingénuo e simplista. Por isso
mesmo, mais do que uma declaração de vitória por uma das
partes em confronto, toma-se necessário desenhar criativa-
mente um novo paradigma do que é ser humano, e que repre-
sente verdadeiramente um passo em frente no conhecimento
da totalidade da realidade do que somos nós mesmos.
Cem anos depois dos Principia Ethica, Moore continua a
ser uma referência fundamental nos debates sobre a temática
ética, e a questão da relação entre facto e valor não deixou
ainda de estar na agenda dos teóricos da ética. Neste sentido,
os Principia conservam uma impressionante actualidade.
no mesmo vol. pane do ensino dispen-
Bíblia sado no quadro do Instituto de História
das Religiões da Faculdade de Ciências
Históricas da Universidade Marc-Bloc de
BLANCHETIÈRE, François: Estrasburgo.
Enquête surles racines juives du mouvement Como é óbvio, não pretendeu Blan-
chrêtien (30-135). chetière abordar aqui o «problema de
587 págs. CERF, PARIS, 2001. Jesus» por si mesmo, mas tão somente na
medida em que ele mantém alguma rela-
C o m diferente e mais amplo propósito ção com o das origens do Cristianismo
d o que muitos dos seus predecessores, palestiniano: «Isso justifica a data de 30
visou o A. oferecer-nos aqui uma base da nossa era como terminus a quo, visto
sólida de trabalho e de reflexão sobre que a crucifixão e morte de Jesus de
uma etapa da história d o cristianismo mui- Nazaré podem ser aproximadamente fixa-
tas vezes deixada de lado, apesar de fun- das nesta data com dois ou três anos de
damental, etimologicamente falando. diferença, enquanto que 135 parece im-
Ao tentar compreender e reconstruir, por-se como terminus ad quem com o
numa perspectiva histórica, os múltiplos aparecimento de uma kxxXr\oía - com
aspectos da evolução desse «movimento unidade exclusivamente heleno-cristã em
suscitado pela personalidade fora do comum Jerusalém». Estes limites cronológicos são,
de Jesus de Nazaré-, começa o A. por todavia, «transgredidos», sempre que pre-
recusar a tese da escola de Tubinga, «que ciso, assim como as fronteiras do domínio
ainda vigora como lei na historiografia geográfico da Palestina, «domínio que pa-
judia das origens cristãs-, retomando, pelo rece suficientemente rico e complexo para
contrário, os mais recentes trabalhos que reter a atenção em exclusivo».
desembocam numa consideração funda- É sabido que as origens da corrente
mental do Judaísmo palestiniano, antes e cristã na sua componente «hebraica- não
depois da destruição do Templo em 70. foram até aqui abordadas pelos historia-
Acolhe, por outro lado, Blanchetière o dores da Igreja senão de maneira margi-
contributo dos manuscritos d o Mar Morto nal, rápida e esquemática, com uma ex-
e apoia-se, obviamente, nos trabalhos exe- cepção digna de ser relevada e imputável
géticos dos últimos anos em torno dos à grande figura que foi Jean Daniélou
Actos, dos Evangelhos canónicos, sobre- com os contributos por ele publicados
tudo Mateus, e da literatura apócrifa. desde 1958 em Recherches de science
Temos, assim, em mãos não só o fruto religieuse, além das páginas consagradas
de uma investigação de grande fôlego, também ao judio-cristianismo na Nouvelle
levada a cabo pelo A., que integrou ainda histoire de l'Église (1963). De resto, até
muito recentemente, o Judaísmo dos pri- meio durante o qual se pensou e cons-
meiros séculos da nossa era foi encarado, truiu noutras matrizes diferentes da da
pelos historiadores do Cristianismo, ape- religião» {op. cit., 11-12).
nas numa perspectiva heilsgeschichtliche, Daí a intenção e o sentido profundo
ou seja, como pedagogia (Gál. 3, 24-25) do texto de D. Marguerat que surge em
ou praeparatio evangelica (Eusébio) ou epígrafe às conclusões gerais d o vol.:
ainda como pano de fundo sobre o qual «A nossa imagem do alvorecer da cristan-
aparece e se destaca o cristianismo: -Por dade deve ser recomposta: a tarefa ainda
outros termos, o judaísmo, não é abor- mal começou [...] restituir à genealogia do
dado por si mesmo, mas enquanto pavi- cristianismo a amplidão que lhe é devida
antes que medidas de constrangimento
mentou o caminho ao cristianismo, de-
façam nascer a ilusão (e o dever) da una-
vendo este substituir aquele».
nimidade».
Declara o A. (515) que o seu trabalho
Voltando ao ponto de partida, acaba
é devedor, a vários títulos, ao estudo de Blanchetière por reconhecer, enfim, algum
M. Sachot, L'invention du Christ. Genèse resultado positivo à tese da escola de
d'une religion (Paris, 1997), para acres- Tubinga: «tornar a pôr em evidência a
centar de seguida, entre as conclusões da existência de uma corrente hebreófana
II parte, que -os conceitos a que recorre- ou arameófana no seio da nebulosa cristã
ram os especialistas modernos para des- original, durante esse primeiro século».
crever os primeiros decénios do movi- Estêvão Trocmé denominou-o de modo
mento saído do ensinamento do Rabi feliz A Infância do Cristianismo (1997),
de Nazaré estão carregados de implica- sem cair todavia, nas conclusões discutí-
ções muitas vezes marcadas ao canto do veis de Jean Daniélou. Esse primeiro sé-
historicismo». Assim, falar de origem, por culo -parece-nos pessoalmente mais como
exemplo, não é apenas evocar começos, a embriogénese do cristianismo- (521),
mas é recorrer também a uma metáfora irrompendo este como corrente também
genética que leva a não encarar a história complexa no seio de um judaísmo poli-
de maneira redutora como se ela fosse morfo - o que não lhe rouba em nada a
a mera explicitação progressiva de um sua originalidade e novidade (522), como
conteúdo inteiramente dado na origem e se Deus tivesse mudado de plano ou
de parecer quanto ao autêntico Israel da
que se desenvolve de modo contínuo.
Aliança.
Em consequência disso, diz-nos o A. Uma coisa é clara, ao encerrar este
(516), que falar de religião cristã no estudo denso e de grande fôlego: »A his-
I século da nossa era não é apenas ina- tória do cristianismo primitivo revela-se,
dequado mas mesmo um anacronismo portanto, altamente paradoxal» (523), so-
porque, como bem explica M. Sachot, esta bretudo pelas razões que o A. seguida-
noção -não é primitiva nem universal. Ela mente enuncia quanto à influência pro-
não é a matriz na qual se verteu o cristia- funda da herança judaica que continua a
nismo. Mas foi a matriz que ele mesmo exercer-se mesmo quando se reforça a
moldou ao procurar definir-se no seio da proporção dos cristãos que já não têm
latinidade depois de século e meio de nenhum vínculo pessoal com o judaísmo.
existência, isto é, depois de um século e - / . Ribeiro da Silva.
522
LÉGASSE, Simon: ciliável. Esforça-se, pelo contrário, e m
L'épitre de Paul aux Romains. compreender Paulo e a sua linguagem,
992 págs. CERF, PARIS, 2002. nem sempre fácil. Para tal, segue-o nos
meandros e nos confrontos d o seu pensa-
N a colecção lectio divina, com o n.° 10 mento, no seio d e uma obra magistral que
d e «Comentários", aparece este vol. denso exprime e veicula as convicções e as teses
e de peso n o qual, seguindo os mesmos fundamentais d o seu autor - «o mais antigo
princípios aplicados às Cartas aos Tessa- testemunho d o cristianismo em Roma-,
lonicenses e Gálatas, o A. se dedica a O professor emérito d o Instituto Ca-
comentar a Carta aos Romanos. tólico de Toulouse informa-nos também
Uma «verdadeira carta missiva», aliás, acerca das origens da comunidade cristã
motivada pelas prerrogativas de apóstolo de Roma e alude ainda aos judeus da
que levam Paulo a dar conselhos e adver- capital d o Império, «porque foi entre eles
tências a uma comunidade na qual ainda que o cristianismo romano recrutou os
não estivera. seus primeiros fiéis». Com efeito, a pre-
sença d e judeus em Roma inscreveu-se no
Mas é o conteúdo do escrito que se
grande movimento da Diáspora que os
sobrepõe às suas características e razões
levou a expandir-se tanto no Oriente como
circunstanciais, já que, em grande parte,
no Ocidente, a partir da Palestina. Assim,
ele emerge como uma «apologia-: defesa
é incontestável q u e «no século I antes da
d e Deus e defesa d e Paulo e das suas
nossa era, os judeus constituíam uma parte
perspectivas categóricas relativamente ao
notável da população romana» (30).
dilema que o p õ e a Lei de Moisés, dada
Ao contrário d e outras cartas d e Paulo,
por Deus, e a Redenção, operada por
a Carta aos Romanos não deixa entrever
Deus em Jesus Cristo.
facilmente as razões que levaram o Após-
Considerada, às vezes, como o testa-
tolo a escrevê-la; elas «permanecem um
mento espiritual d o Apóstolo, a Carta aos enigma para q u e m as queira reduzir à
Romanos n ã o se apresenta como uma unidade». Sumariamente, as opiniões divi-
exposição teológica completa mas é, cer- dem-se em dois grupos: para uns, a Carta
tamente, «a última palavra» que nos che- é motivada, antes de mais, pelas necessi-
gou de Paulo, esse judeu «convencido d e dades da comunidade destinatária; para
ter sido objecto de uma revelação divina» outros, é necessário partir da situação de
e que se e m p e n h o u totalmente para que Paulo, da sua reflexão teológica e da sua
«a nova via- aparecesse como «a sucessão experiência adquirida (38).
e o desenvolvimento- da antiga aliança Todavia, anteriormente a qualquer con-
q u e Deus estabeleceu com Israel. sideração, acentua Légasse o carácter de
Dando por assente que o pensamento carta-missiva, a fim de não a tomarmos
d e Paulo «não é imóvel nem imune a como composição trabalhada ou trans-
certas tensões», Légasse procura, no seu formada em carta mas sem obedecer às
erudito comentário, não estabilizar o que regras d o género epistolar. Não se trata,
aparece em movimento nem conciliar a em suma, d e u m simples discurso teoló-
qualquer preço o que é dificilmente con- gico.
Além da bibliografia geral no início como a elaborar uma base de partida
do vol., cada perícopa comentada por comum, optando pelo Status quaestionis
Légasse apresenta uma bibliografia parti- da obra de Goppelt, atrás citada, para
cular em que as remissões são efectuadas orientar a pesquisa de «um aparelho con-
pelo nome de autor munido de asterisco, ceituai e das categorias mentais úteis para
enquanto os comentários aparecem com a investigação». A panóplia das categorias
indicação exclusiva do respectivo autor. - encontradas foi considerável, já que, à
I. Ribeiro da Silva. «fluidez da terminologia», vieram juntar-se
categorias como a intertextualidade, a ale-
goria, a citação e o seu funcionamento
KUNTZMANN, Raymond (dir.): literário, etc. A síntese final do vol. aponta
Typologie biblique. De quelquesfigures vives. a convergência do trabalho realizado por
278 págs. CERF, PARIS, 2002. cada colaborador e define algumas aquisi-
ções incontornáveis dessa forma de exe-
O b r a colectiva, fruto do trabalho da gese que a tipologia representa n o interior
Equipa de acolhimento 2328 em ciências d o Antigo e do Novo Testamento e na
bíblicas da Universidade de Marc-Bloc relação entre os dois.
(Estrasburgo); trabalho realizado entre Como resultados obtidos, são de assi-
1997 e 2001. Colaboram aqui 13 autores nalar principalmente: a definição de uma
- Beauchamp, Bons, Coulot, Deneken, tipologia fundada sobre a constituição e a
Duval, Gerber, Husser, Kuntzmann, Mor- exploração das figuras bíblicas e distinta
gen, Renaud, Rõmer, Schlosser e Siffer- da alegoria simplesmente ilustrativa; a
-Wiederhold - provenientes de diferentes orientação da tipologia para novas reali-
horizontes e com formações e sensibi- dades, definitivas ou actuais; a própria
lidades diversificadas, naturalmente; isso construção do «tipo» para que ele possa
redunda em riqueza pluridisciplinar no abrir o futuro e culminar «numa ultrapas-
trabalho de pesquisa levado a cabo por sagem» na cristologia do Novo Testamento;
cada um no respectivo domínio. a relação da tipologia com a cristologia;
Partiram os AA. da urgência constatada a escatologia aberta pela tipologia, etc.
em estabelecer uma definição mais precisa O grupo de investigação em referência
da tipologia e em explorar também o seu revela-se inteiramente consciente da uto-
funcionamento, tomando em conta as inves- pia que representa pretender atingir uma
tigações literárias recentes. É que, com •visão definitiva e comum» acerca da tipo-
excepção de «Paul Beauchamp e alguns logia. Existe uma pluralidade de aborda-
outros», os biblistas «mal ultrapassaram gens possíveis. Inscrita nos textos bíblicos,
as vias abertas pelo estudo de Leonard a função da tipologia é dinâmica; e é pela
Goppelt, Typos. Die typologische Deutung sua ; f u n ç ã o de orientação para novas
des Alten Testaments im Neuen- (1938). realidades que a tipologia se demarca da
É certo que a questão da tipologia «está sua parte de analogia- (270). Em suma, a
longe de fazer unanimidade» entre os tipologia bíblica é «um movimento que
investigadores. Mas este esforço de cola- assume o passado para o projectar na
boração levou não só a ultrapassar um escatologia e o tornar a trazer para o pre-
conceito muito elementar de tipologia sente» (274). - 1. Ribeiro da Silva.
524
nidade duma pessoa é um valor superior
Ética social ao respeito das regras que aplica ou que
pede para aplicar o Estado» (11).
Tudo isso porque «o respeito do Estado
Églises, terres d'asile. Les chrétiens solidaires não é um absoluto- mas deve ir a par com
des réfugiés. «um espírito crítico»: «A confiança conce-
50 págs. LABOR ET F I D E S , G E N È V E . dida ao Estado não pode ser cega, porque
o Estado não é um fim em si, mas um
V o l colectivo, publicado pela Comissão instrumento ao serviço do respeito dos
Nacional Justiça e Paz Suíça e pelo Ins- direitos humanos fundamentais. O respeito
tituto de Ética Social da FEPS, sobre a destes direitos é o critério último de julga-
situação dramática dos que vêem rejeitado mento do Estado- (11).
definitivamente o seu pedido de asilo e Mas se a responsabilidade do cidadão
obrigam as Igrejas a acudir em defesa da vai para além do respeito formal da lei,
sua dignidade através de iniciativas e de só os valores fundamentais podem justifi-
soluções lançadas, tantas vezes, «à margem car actos de resistência, sempre no quadro
da legalidade contra decisões administra- do Estado de direito e em favor do Estado
tivas do Estado de direito». de direito.
É a legitimidade de tais acções que é Claro que é preciso ponderar bem o
aqui discutida, através de uma série de estado de necessidade que se apresenta
interrogações iniludíveis: Poderão justifi- para que o acto de resistência tenha
car-se tais acções num Estado de direito? dimensão profética ou remeta verdadeira-
Até que ponto é legítimo assumir esses mente para o respeito dos direitos funda-
actos de resistência, abrindo «refúgios de mentais.
Igreja- sem pôr em perigo os valores que Mas uma conclusão ressalta do que foi
fundamentam a realidade jurídica de uma vivido em confronto com o apelo a ser
democracia? Autorizará, acaso, a fé cristã, sal, luz e fermento evangélicos (Mt. 5, 13
em determinadas circunstâncias, que se e 14; 13, 33): «A nossa responsabilidade
actue à margem da lei aprovada democra- consiste em levar uma mensagem, uma
ticamente pela maioria? Boa Nova ao conjunto da sociedade a que
Registe-se que a acção mais notória, na pertencem, a nossa cidadania está assim
Suíça, foi a que levaram a cabo paróquias vinculada à nossa fé. Nós queremos reali-
católicas e reformadas no cáritãò de Berna, zar gestos que possam ser lidos e rece-
em favor dos kosovares que em 1993- bidos pelo conjunto da sociedade, que
-1994 requeriam asilo. A iniciativa suscitou possam trazer um contributo a uma Suíça
toda a gama de questões acima aponta- portadora de direito e de justiça» (22).
das, já que estava em jogo «a responsabi- Através de contributos orais ou escri-
lidade dos cidadãos, cristãos ou não, face tos, colaboraram nos debates em causa
ao Estado, face às pessoas que desejavam teólogos e juristas, cabendo a Doroteia
proteger»; responsabilidade que, perante Wilhelm, colaboradora do movimento cris-
uma vivência tão marcante, os levou a agir tão para a paz em Zurique, apresentar os
em virtude da seguinte afirmação: «« dig- fundamentos teológicos do tema refúgio
de Igreja, que «significa rotura- (43) com farçadas... Mediante essa quase identifica-
as abstracções que não tomam em conta ção, consegue ir além da história literária
o medo, o desespero ou a morte da pes- e chegar ã interpretação da história pessoal
soa, quando se trata de nos abrigarmos d o árcade sadino, isto é, -transporta o lei-
e declararmos -que a barca está cheia, tor para o ambiente vivido nos primeiros
tentando proteger a nossa ilha das vagas anos d o século XIX e para a mente de um
ameaçadoras- (45). O refúgio de Igreja -não homem que foi mais do que o imaginário
tem qualquer significado jurídico- mas «um popular lhe atribui- (capa).
alcance eminentemente profético- (46). Também n o texto de Letria, u m dos
A encerrar o vol., encontramos o texto traços salientes é a seriedade da reflexão.
da célebre Carta de Groningen (1987) De qual dos dois é esta verdadeira efusão
sobre a qual baseiam o seu trabalho mais de alma ou -a minha inebriante sede de
de 700 comunidades eclesiais. - I. Ribeiro absoluto- (12), mas -sempre aquém d o que
da Silva. quis e d o que sonhei- (19)? Por uma vez
sério: -Quem serei eu agora se já Bocage
não sou?» (39). Destroço? Fogo fátuo? Farol
na procela? Viver é escolher. Reconhecendo
529
tura com uma campanha eleitoral e em Todo o romance é, na sua brevidade,
versão 'New Age', desbocada, aventureira esse -fico d e s e n h a n d o no silêncio o teu
e artifical. rosto sem idade» (14). Uma dedicação
No m e s m o contexto e muito n o género digna, sem cair na lubricidade. Marta sem
d o já traduzido 'Danos pessoais' (cfr. Bro- idade é a mulher miragem na evanescên-
téria, Jan.-02, 90); a saber: «Vergonha para cia física sem qualquer resto d e materia-
a causa da justiça- (273). Uma promessa lidade real. Outra característica louvável:
no dia d e julgamento: «Se sobreviver a fraseado curto para não s o b r e p o r nem
isto, tornar-me-ei o melhor- (190), -para confundir ideias. Já menos agradável algu-
atingirmos a boa vontade e o perdão» ma mistura d e estilo directo e indirecto
(274). -A corrupção é uma doença pro- (vg. 18). Um refrigério para a invasão de
gressiva» (278). sexismo que por aí suja ecrãs, papel e
vidas. Grande tema: os apelos da vida a
Segunda página, primeiro tropeço n o
dissipar-se c o m o fumo e n q u a n t o não a
português: -Todos vós aceitaram-. Paciência!
vivemos a sério. Um rasto d e poesia con-
2. Personagens: -Marta, Rogério, eu de
tudo. Marta, uma figura poética: mulher
outrora» (89). Memorial d e um amor d e
d e sonhos, antes d e ser a mulher real.
jovens, e m paixão sem idade e nunca
•Se te esqueceres d e mim, n ã o esqueças
amadurecida, tem e m Marta um símbolo
o amor- (47). - F. Pires Lopes.
d e certa ligeireza volúvel e m q u e nem
os solavancos da vida lhe acomodam a
carga. -Perder a idade- é perder o ritmo e
ERSKINE, Barbara:
o significado d e viver. O q u e logo sobres-
Segredos na areia.
sai é a ligação entre o descritivo exterior e
o aprofundamento psicológico (nem sem-
WERBER, Bernard:
O império dos anjos.
pre interior: -uma lâmina d e xisto) da per-
352, 288 págs. Contemporânea-63, 65.
sonagem focada que vai crescendo -den-
EUROPA-AMÉRICA, M E M MARTINS, 2002.
tro d e mim-, fazendo d o A. o responsável
d o retrato como -existência onírica» que
1. Neste romance, a A. conta (2000) duas
é a imagem d o escritor a o espelho dela.
viagens paralelas, a 140 anos d e distân-
Mas a interioridade vivida está sempre a
cia: a d e uma recém-divorciada (Ana) que
marcar a exterioridade envolvente e des-
resolve minorar a depressão e m cruzeiro
crita. -O q u e és d e mim e o que eu fui
pelo Nilo, imitando o e x e m p l o d e uma
em ti... uma intenogação ã qual a única
trisavô (Luísa) e levando c o m o talismãs o
resposta é a morte» (41-2) - um -simples-
diário q u e esta escrevera e u m perfume
mente narrar-te- (58) e -inscrever-te no
egípcio que deixara. No m e s m o percurso,
Infinito- (93) ou -a minha imagem de ti»
lido e revivido, surpresas e coincidências
(97). Há ainda textos avulsos ficticiamente
acumulam-se: à medida q u e descobre as
enquadrados mas que servem para melhor
velhas belezas mitológicas, descobre igual-
definir o autor e dar c o r p o ao texto base
mente n o diário n ã o só a velha história
a fim d e consciencializar o oposto -reino de amor da antepassada mas também o
sórdido» (86). mistério d o tal perfume e o seu próprio
drama íntimo. Só q u e pelo m e s m o cami- 'reencarnação' - reciclagem da morte, 'mais
n h o se vai meter na boca d o lobo e em uma vida para nada'.
perigos q u e n ã o sabe vencer. Uma salgalhada ecléctica e materialista.
História(s) d e amor e vingança, n o cená- Mas também lições à esquerda e à direita.
rio d e deserto e rio. Parte gaga, mas peça Procurando «empurrar as fronteiras d o
de resistência e travejamento: o ocultismo, conhecido... sempre e m direcção ao des-
crendices femininas, ideias fixas e medos, conhecido. .. Mas nem dispomos d o conhe-
a par com verdades antigas. Evo, história, cimento q u e nos permita medir a nossa
vida e... sonhos d e infância. -A areia vem ignorância-, -Tudo o que é dotado d e alma
e todas as coisas desaparecem: o epitáfio tem vontade d e evoluir-, E os humanos?
d e uma civilização» (39). «O Egipto é um «Antes d e se julgarem super-homens, tor-
local mágico» (248) q u e estimulou a A. nem-se homens».
(formada em história medieval escocesa) A simplicidade da criança e a malícia
a escrever sobre imaginação e divindades,
d o adulto. Perigo d o género: cair n o banal
mas descambando para a magia. No prin-
e descosido. Umas vezes interessa, outras
cípio entusiasma. Depois torna-se repeti-
empata - farófias. Quanto mais para o fim,
tivo. Ao fim satura.
mais repetitivo. Muita sucessão de peque-
Tradução razoável com alguns erros d e
nos quadros. Em suma: u m romance d e
concordância verbal (14, 52, 122, 181, 197,
cultura geral. Desapiedado o m u n d o , visto
293, 328), confusão entre estacar e 'estan-
d e cima 'à vol d'oiseau', mas c o m a n d a d o
car' (162, 245, 364), a contradição «erguer
por homens com livre arbítrio.
o olhar esfregando os olhos- (27), repe-
Erros d e concordância verbal: 106, 203,
tição de 'erguer uma sobrancelha (?) e
244. - F. Pires Lopes.
'ecoar através de' n o sentido d e 'para lá
de' (passim).
2. Ideia original a deste original francês
SOUSA, Sérgio de:
(2000): o A. recolhe a opinião d e várias
Restara-lhes o sexo - Romance + Na senda
pessoas sobre 'os bastidores d o paraíso'
dos utopistas - Ficção.
e 'o que há lá e m cima'. Começa c o m o
o 11 de Set. d e 2001 e pela morte, para
FREIRE, Henrique Lima:
Vidas infaustas - Contos.
chegar ao 'mundo dos anjos' e, d e lá, ver
o dos homens. Acompanha o nascimento, TINOCO, José Luís e
infância e vida d e três e m paralelo. A brin- ANTUNES, António Lobo:
car com tudo e com todos, n u m realismo Diálogos.
superficial e desrespeitador, com recurso 312, 224, 100, 120 págs. ESCRITOR, LISBOA,
1. DE AUTORES
ASSUNÇÃO, Paulo d e
— O espectáculo da morte e a imortalidade d o poder na celebração
das exéquias d e D. João V 273-294
CARNEIRO, Roberto
— Indústria de conteúdos culturais, valores e identidade: Um breve
ensaio seminal 7-29
DALLABRIDA, Norberto
— Moldar a alma plástica da juventude: a Ratio Studiorum e a
manufactura de sujeitos letrados e católicos 451-466
MORAIS-ALEXANDRE, Paulo
—José Régio e a Moda 493-505
RENAUD, Michel
— O terrorismo na dialéctica da ideologia e da utopia 231-241
SALINGAROS, Nikos A.
SENA-LINO, Pedro
— O corpo consumido: Fascínio ou ditadura da própria imagem . . . 259-272
540
SILVA, Manuela
— A economia de comunhão na rota de uma globalização solidária 119-130
— As mulheres perante os desafios da globalização 363-372
2. DE MATÉRIAS
ARTES
— Luís de Freitas Branco e Francisco de Lacerda 147-162
— Anti-arquitectura e religião 381-388
CULTURA
<—Indústria de conteúdos culturais, valores e identidade: Um breve
ensaio seminal 7-29
— Uma realidade de evidências invulgares 171-195
— O corpo consumido: Fascínio ou ditadura da própria imagem . . . 259-272
—José Régio e a Moda •••• 493-505
CULTURA RELIGIOSA
— A dimensão intelectual dos apostolados jesuítas 197-205
DIREITO
—Justiça e perdão face à criminalidade 343-361
EDUCAÇÃO
— Política, ética e educação 131-145
— Relação Escola-Família numa sociedade pós-moderma 243-257
— Moldar a alma plástica da juventude: a Ratio Studiorum e a
manufactura de sujeitos letrados e católicos 451-466
ÉTICA
— Tolerância: Entre o absolutismo e o indiferentismo morais 31-39
— Terrorismo e tragédia: Um apelo à ética 373-380
— Ética e comunicação social 467-478
541
FILOSOFIA
— O terrorismo na dialéctica da ideologia e da utopia 231-241
— Ética naturalizada, cem anos depois dos Principia Ethica de
G. E. Moore 507-519
HISTÓRIA
— Os colégios jesuíticos no Brasil: Educação e civilização na Colónia
(1549-1759) 69-91
— O espectáculo da morte e a imortalidade do poder na celebração
das exéquias de D. João V 273-294
— Antijesuitismo pedagógico e científico e o nascimento da Brotéria 295-318
— Aldeamentos portugueses: Jesuítas e carijós 389-399
JUSTIÇA E SOLIDARIEDADE
— A economia de comunhão na rota de uma globalização solidária 119-130
— As mulheres perante os desafios da globalização 363-372
LITERATURA
— Mar-Poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen: Poética do
espaço e da viagem - II 41-68
— ... que o meu pé prende... de Fernando Campos ou o convite
onírico à reflexão 401-425
3. BIBLIOGRAFIA
D O M I N G U E S , Francisco — O eu cósmico 97
542
DOYLE, Arthur Conan — Um estudo em escarlate + O sinal dos quatro + /Is aven-
turas de Sherlock Holmes + As aventuras de Sherlock Holmes 214
D U M A S , Alexandre — O conde de Monte-Cristo 527
D U P U I S , Michel (et aO — Dor e sofrimento 431
H O F F M A N N , E . T . A . — O quebra-nozes 211
543
MONFORTE, Josemaría — Conhecer a Bíblia 427
MONOD, Jacques — O acaso e a necessidade 321
MONTA VONT, Anne — Dela passivité dans la phénomênologie de Husserl 319
MONTCLOS, Xavier de — Breve histoire de l'Église de France 325
NIETZSCHE, Friedrich — A genealogia da moral 321
N O D E T , Étienne — Le Fils de Dieu. Procès de Jésus et Évangiles 94
544
o b r a s r e c e b i d a s n a r e d a c c ã o
2) José Augusto Alves de SOUSA, S.J., A Bíblia, mestra da vida, Vol. II - Do Livro
de Josué até ao Livro do Profeta Malaquias, Braga, Moçambique, Fátima,
Editorial A. O., Paulinas Editorial, Difusora Bíblica, (s.d.).
3) Thomas MICHEL, Um cristão encontra o Islão. Na confluência dos Dois Alares
(Alcorão, XVIII: 60), 2002.
4) Vais sempre comigo. Guia de oração, Lisboa, Braga, Edições S. T.J., Editorial
A. O., 2002.
545
C e r f - 2 9 , bd. La Tour-Maubourg - 75340 Paris Cedex 07 (França):
1) Henry Morru, DietríchBonhoeffer, 2002..
2) Hubert GOUDINEAU, Jean-Louis SOULETIE, Júrgen Moltmann, 2002.
EDIPUCRS - Av. Ipiranga, 6681 - Prédio 33 - Caixa Postal 1429 - 90619-900 Porto Alegre/RS (Brasil):
Nicolau d e CUSA, A Douta ignorância, 2002.
IN-CM - Imprensa Nacional Casa da Moeda - Av. António José de Almeida -1000-042 Lisboa:
1) António de MACEDO, Da essência da libertação. Ensaio antropológico a partir
da poesia de Félix Cucurull, 2002.
2) David HUME, Tratados filosóficos, Vol. 1 - Investigação sobre o entendimento
humano, 2002.
3) Jorge BARBOSA, Obra poética, 2002.
4) José da Silva Maia FERREIRA, Espontaneidades da minha alma, 2002.
5) José Luís Brandão da Luz, Introdução à epistemologia. Conhecimento, verdade
e história, 2002.
6) Tomaz d e FIGUEIREDO, NÓ cego, 2002.
Política & S o c i e d a d e :
Ensaios Filosóficos
JoAo J. V I I A - C H À Politica & Sociedade: A Questão das Origens
Acluo E. ROCHA Filosofia e Ideia de Europa: Cosmopolitismo
e Paz no "Iluminismo''
JEAN-CIAUDE ESIIN L'Au-delà dans la Vie de la Cité:
Le Rôle Politique des Peines de 1'Enfer
d'apròs Hannah Arendt. Essai d'lnterprétation
JOHN MIIBANK The Last of the Last:
Theology, Authority and Democracy
REYES MATE La Justlcla de las Victimas
ANTHONY W . BARTIETT The Swerve of Desire:
Eplcurus, Economics and Violence
PAUI DUMOUCHEI Hobbes, Contractarlans and Scepticism
SÉRGIO L. PERSCH A Questão do Pacto na Teoria Politica de Splnoza
WOLFGANG PALAVER Sakrales Kõnigtum, Todesstrafe, Krleg: Der
(Jrsprung politischer Instltutionen aus der Sicht
der mimetischen Theorle René Girards
LÍDIA FIGUEIREDO O Pensamento Politico de Hannah Arendt:
Uma Revolução Copernlcana?
C R Ú M C A / C H R O N C U • RECENSÕES / BOOK REVIEWS • FICHEIRO DE REVISTAS / INDEX OF ARTICIES
rcumnm COMULTWO • A. T. DALKVO (KAMÍALA) I Aduo E. ROCHA (BRAÇA) I ADELA CORTOU (VALENCIA) I ADRIAN PEPERZAK (CHICAGO) I
M T. QLBUSA (COWOÍTRA) I ANTÓMO MASTINS (CORÁU) I CHARLES T«U» (MONTREAL) I ELEONORE Sn» (Swi Lous) I Fwastoxiss (PAUS)
I FRB®KX LMRENCE (BOSTON) I FBEDO R O A (MOWHEN) I GERHARD BOKRMG (NEW HWEN) I HEKRUUE C. DE LMA VAZ (BEU> HOHZOKTE) I
JACOUES TAKKWJX (BRUXELAS & BOSTON) I JEAN GREGCH (PAUS) I JOAQUM CERQUEIRA GONÇALVES (IJSSOA) I JOHN D. CAPUTO (VUAMM) I JOHN
0 ' M A U B (CUEMICE, MASS.) I )0RS SPLETT (FRANKFURT & MONCHEN) I IOSÉ BARATA MOURA (LISBOA) I JOSÉ ENES (UBOA) I JOSÉ GOHEZ
CAFMCNA (MADRD) I JosC Uis BRANDÃO » Luz (PONTA OE USADA) I JOSÉ M.* MARDONES (MADRD) I JUAN CARIOS SCANNONE (BUENOS AIRES) I LEONEL
RIBEIRO DOS SANTOS (USBM) I MANUEL PATRÍCIO (ÉVORA) I MARCELO F. OE Agumo (SAo LEOPOLDO) I MARCO OLIVETTI (ROMA) I MARIA JOSÉ
CÍNTBTA (PORTO) I MARIA MMIUEL ARAÚIO JORGE (PORTO) I MARIA OO CÉU PATMO NEVES (PONTA DEIOIM) I MKKL RENAUD (Usem) I NORBERTO
CUNHA (BRAGA) I Oua BUNOCTTE (BOSTON) I PAU. DUMOUCXEL (MONTREAL) I PAU. GIBERT (ROMA) I PAUL MENDES-FUWR (JERUSALEM) I PAUL
VAIAOER (PARIS) I PEDRO CALWATE (LISBOA) I PETER KOSUOKB (HAHNOVER) I PERRE-IEAN LABASRÍRE (PARE) I RKHARD COBB-STEVEHS (BOSTON) I
RDURD KEARNEY (DUBLK & BOSTON) I STANLEY ROSEN (BOSTON) I XWIERTIUJETTE (PARS)
José Barreto
Edouard Dhanis, Fátima e a II Guerra Mundial
Jorge Biscaia
Envolvimento familiar e os filhos de mães toxicodependentes