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nos cristianismos

originários, a postura
de paulo diante
da escravidão*
Clodoaldo Moreira dos Santos Júnior
Renato Rômulo dos Santos Suhet**

Resumo: o cristianismo Originário, que teve como grande expoente


Paulo, aborda uma problemática urgente e definitiva referente aos
escravos de todo tipo. O berço do cristianismo originário à luz da
escravidão se baseia na Carta ao Gálatas 3,26-28 com os seguintes
dizeres “Pois todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Porque
todos quantos fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo. Não
há judeu nem grego; não há homem nem mulher; porque todos vós sois
um em Cristo Jesus. Este hino vem ameaçar todo o sistema escravagista
do Império Romana existente. Tal liberdade, em Paulo, ganha impulso
universalista: no novo Reino não perduram classificações de gênero e
etnia, mas todos são iguais perante Deus.
Palavras-chave: Cristianismo Originário. Paulo. Gênero. Império
Romano. Liberdade.

A SITUAÇÃO DA ESCRAVIDÃO EM ROMA

Ao se estudar o cristianismo originário diante da postura da


escravidão é necessário passar por este momento que antecede esse fato
histórico e compreender a escravidão romana.
* Recebido em: 18.08.2011.
Aprovado em: 28.08.2011.

** Doutorando em Ciências da Religião na PUC Goiás. Professor na PUC Goiás, na


UFG e na UNI-ANHANGUERA
*** Mestrando em Ciências da Religião na PUC Goiás.

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Nos anos de 200 a.C a 200 d.C um quarto da população romana
era composta por escravos.
Verifica-se que a liberdade “libertas” era o maior bem do cidadão
romano. A condição de homem livre vigia no apogeu do mundo antigo,
sobretudo no império romano, a qual a liberdade se sobrepõe a de um escravo.
Para os romanos o homem livre era um ser humano, titular de direitos
e obrigações no mundo, enquanto o escravo não era considerado como hu-
mano, mas sim uma coisa “res”. Servus est res o qual serve ao senhor romano.
A distinção entre escravos e cidadãos livres era fundamental para
toda a organização da cidade no mundo greco-romano. Os cidadãos livres
gozavam de todos os direitos políticos e civis. Os não-livres eram privados
dos direitos e da dignidade (FERREIRA, 2005, p. 109).
Com o penoso e longo passar dos anos, surge o cristianismo, marco
este que muda a situação do escravo, passando os mesmos a serem classifi-
cados assim de acordo com a sua condição própria, recebendo alguns um
nome livre, ou poderiam ser considerados semilivres, escravos, ingênuos,
libertos, libertinos em emancipação e colonos.

CLASSIFICAÇÃO DE GAIO

Gaio (apud CRETELLA JÚNIOR, 1970, p. 79-80) classificou


as pessoas em quatro grupos distintos a saber:

I - A divisão fundamental (“summa divisio”) é a que reparte os homens


em livre e escravos. Abrastrai-se que só o homem livre possue capacidade
perante a sociedade, e que os escravos não tem nos dizeres de JUSTI-
NIANO (Institutas, I, 16,4);
II - A segunda divisão diz respeito aos cidadãos e não cidadãos os quais
são compreendidos entre os latinos e peregrinos;
III- A terceira divisão refere-se ao estado das pessoas na casa romana, na
domus, ou seja, toda casa possuía o seu grande chefe o qual é responsável
pela manutenção da casa e todos os demais membros devem obediência
ao mesmo porque ele é pater familias.
IV - O sui júris e o alieni júris, toda família tinham pessoas independentes
ou dependentes.

Escravidão vem do latim servitus, que pode ser compreendido na


privação da liberdade de um ser humano a fim de subjugar a sua vontade
a vontade dele, equiparando-se este a um objeto (res). Servus est res.

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Por ser equiparado a um objeto o mesmo poderia ser vendido e até
mesmo aniquilado, porque o seu senhor tem o domínio absoluto sobre o
seu servo, essa relação de domínio era conhecido como absoluto dominium.

ESPÉCIES DE ESCRAVIDÃO

Um escravo poderia ter diversas origens, sendo as principais:


a) Nascimento: todo aquele que nascesse de um escravo será escravo, não
importante a origem paterna;
b) Cativeiro: todos aqueles que fossem considerados inimigos de Roma
e fossem aprisionados era subjulgados a escravidão, podendo serem
vendidos posteriormente;
c) Deserção: todo soldado romano que deserdasse era preso e considerado
desde então escravo, todavia por ser um cidadão romano só poderia ser
vendido fora dos limites da cidade, porque não existe desonra maior para
um romano do que ser vendido em uma cidade na qual vivia livre antes.
d) Negligência de registro: todo aquele que não fizesse registro do censo,
poderia ser vendido como escravo.
e) Insolvência: todo aquele que devesse a um romano e não honrasse o
seu pagamento poderia ser o devedor vendido para pagar a dívida ou
poderia ser condicionado a escravidão.
f ) Prisão em flagrante: todo aquele que cometesse crime de furto e fosse
preso em flagrante poderia ser vendido pela vítima para reparar o seu
prejuízo.
Os escravos romanos eram condicionados as tarefas mais humi-
lhantes como também aos trabalhos forçados, ou levados a arenas para
servirem de banquete às feras do grande circo “ad bestias” ou serem
sacrificadas na grande babel da luxuria romana, sendo descartados como
dejetos humanos.
Com o passar do tempo toda a mulher livre que mantivesse rela-
ção com escravo alheio tornava-se escrava do dominus do companheiro
devendo se subjugar as vontades do seu novo senhor.
A quantidade de escravos possuídos era um dos fatores de detemi-
nação da grandeza do poder de um homem.
Aquele que conseguisse a sua libertação poderia se tornar escravo
novamente por ingratidão ao seu antigo mestre.
O poder econômico e político eram concentrados nas mãos de
poucos privilegiados, que exploravam os pobres e escravos. A escravidão
era uma instituta, brutal, violenta e desumana.

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AS PALAVRAS DE PAULO AOS ESCRAVOS

Com a queda da antiga república passa a vigorar o principado ro-


mano no ano de 27 a.C, passando o estado a se modificar como também
a mentalidade do cidadão romano. A condição do escravo passa a sofrer
grandes mudanças.
A partir do Cristianismo Originário verifica-se um novo movimen-
to religioso na sociedade da época com o intuito de criarem uma nova
filosofia, a filosofia do amor. Esta lei se aplica não somente aos nobres,
mas principalmente aos sofredores, pobres, escravos de toda sorte.
O cristianismo, já nasce como religião universalista. É explícito o
mandato de Jesus: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem
discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo
e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei” (Mt 28, 19-20a).
O cristianismo surgiu não como um anúncio de mudança e sim
como uma religião de continuidade do berço do judaísmo.
O sistema de governo romano era inflexível em suas leis tradicio-
nais e em suas divindades mais sagradas não admitindo oposição seja
de quem for.
Nesta época de mudanças é que o apóstolo Paulo começa o seu
processo de evangelização a essa produção escravagista.
Paulo realizou pregações em todo este contexto do império romano,
precisamente na cidade de Corinto onde a situação era mais grave, em
que os escravos, suas mulheres e crianças não eram definidos como classe
social, eram considerados objetos e não pessoas de decisões próprias, não
podendo, ao menos, se casarem reconhecidamente pela sociedade romana,
sendo certo que, muitas mulheres escravas eram utilizadas, pelos seus
donos, como objetos sexuais.
Na cidade de Corinto, precisamente na 3ª viagem foi que Paulo
conheceu de perto esta realidade da escravidão imposta pelo poderio
romano.
Corinto era uma das cidades mais importante do Império Romano.
Capital da província senatorial da Acaia.
Paulo entra em Corinto pela porta dos escravizados, dos crucifi-
cados da história, em que 2/3 (dois terços) da população eram escravos,
e não pela porta dos poderosos.
A Escravidão em Corinto era nas mesmas proporções do império
romano devido ser um grande centro comercial e Industrial (fundições de
bronze), além de grande centro administrativo, Corinto possuía 2 (dois)

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portos: Laqueu (a oeste) e Cencréia (a leste). Ligavam o centro do Império
(Roma) e a Ásia. Os escravos carregavam as mercadorias e empurravam os
navios por cerca de 6 (seis) km até o porto de Cincréia. Esse corredor se
chamava Diolcos. Trabalho penoso só realizado por escravos (A Primeira
Carta aos Coríntios, 2008, p. 15).
O poder econômico e político eram concentrados nas mãos de
poucos privilegiados, que exploravam os pobres e escravos.
O apóstolo Paulo encontrou uma cidade que tinha má fama. Viver
como Corinto era viver desordenadamente a sexualidade. O corpo tinha
uma única finalidade: o prazer (I Cor 6,9-10). Havia todo tipo de religião
e cultos: cultuavam Poseidon, o deus do mar; deusa Roma. O próprio
imperador era visto e considerado deus. Afrodite era a deusa do amor e
da fecundidade. Cerca de mil mulheres acolhiam e iniciavam os devotos
dessa deusa na arte do amor. Eram chamadas “santas”.
Paulo permaneceu um ano e meio em Corinto por ocasião da fun-
dação da comunidade e ao anunciar o evangelho de Jesus, em Corinto,
faz com que as vítimas da sociedade injusta, um povo escravo e fraco,
do qual a sociedade nada esperava a não ser sua mão de obra gratuita,
deixassem de ser massa de manobra para se tornar parte do povo de Deus
(BORTOLINI, 2008, p. 11).
A ascensão do cristianismo em Roma em um primeiro momento
não melhorou a condição do escravo, mas como uma semente lançada
ao solo as palavras consoladoras foram germes de uma nova esperança
para um momento posterior.
Observa-se que a escravidão é um elemento fundamental da
constituição romana, a qual é incorporada a lei romana, mas também é
essencial a função militar do estado romano.
Os escravos estavam na base da pirâmide de reconhecimento
social e eram forçados a trabalhar em troca apenas do mínimo para a
sobrevivência dos escravizados. A escravidão era somente um meio de
prover mão de obra para os objetivos econômicos de quem detinha o
poder (DUNN, 2003, p. 785).

Da Mensagem Viva aos Escravos

Em gálatas 3:26-28 diz: “não há mais nem judeu nem grego; já não há
mais nem escravo nem homem livre, já não há mais o homem e a mulher”.
A mensagem de Paulo se destina a todas as pessoas independente-
mente de sua origem, condição, até mesmo para aqueles que não possuem

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nada como os escravos de todas as sortes, ou seja, Gálatas 3.26-28 abrange
até os excluídos, assegurando a estes o acesso gratuito da fé.
Para o Império Romano as declarações de Paulo, quando diz que
não há mais nem escravo nem livre (Gl 3, 28), também foram conside-
radas subversivas; pois, ele destruía em seu argumento o sistema romano
de governar baseado no modo de produção escravista e no patriarcado,
que é de “exploração de recursos naturais e humanos, de violência, física,
sexual e psicológica, contra todas as pessoas, de expansão e construção
na base do trabalho escravo e da imposição de impostos e tributos”
(REIMER, 2006, p. 74).
Na concepção de Paulo a liberdade tem posição privilegiada, este
privilégio vinha de Deus que dizia que todos foram conclamados a serem
livres. “Irmãos, vocês foram chamados para serem livres” (Gl 5,13).”Cristo
nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres. Portanto, fiquem
firmes e não se submetam de novo ao jugo da escravidão” (Gl 5,1).
Paulo nos chama a refletir de forma mais ávida e consciente para
os chamamentos de cristo, na edificação do amor ao próximo, e não o
engessamento de uma sociedade, por leis, costumes, normas etc. A liber-
tação não nasce com a pessoa ou é um direito adquirido e sim o exercício
do evangelho.
Paulo desconstrói o sistema escravista afirmando aos gálatas que
é para a liberdade que eles foram chamados (Gl 5,13) e que deviam per-
manecer firmes não se deixando sujeitar de novo ao jugo de escravidão
(Gl 5,1b). Paulo coloca em jogo a tensão entre ser livre ou submeter-se
à escravidão, uma metáfora muito real na economia escravista romana.
Não se deve esquecer que Gl 3,28 só é possível em conexão com
os versos 26 e 27, que diz: “pois todos vós sois, pela fé, filhos de Deus,
em Jesus Cristo. Sim, vós todos que fostes batizados em Cristo vos reves-
tistes de Cristo”. A liberdade que Paulo defende é para os que estão em
Cristo, pela fé. Nessa carta aos gálatas percebe-se claramente que viver
em Cristo é viver em liberdade, e sujeitar-se à lei é retornar à escravidão
(TAMEZ, 1995, p. 123).
Podemos citar um exemplo no qual o escravo demonstra a sua avidez
(http://www.bbc.co.uk/history/ancient/romans/slavery_01.shtml):

Um senador romano chamado Pupius Piso vez ordenou que seus escravos
para não falar a não ser se for chamada para falar. Ele não tinha tempo
para conversa fiada. Ele também organizou um elegante jantar em que
o convidado de honra era para ser um dignitário chamado Clódius.

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No momento oportuno todos os convidados chegaram, exceto Clodius.
Então Piso enviou o escravo responsável por ter convidado o convidado
de honra para ver onde ele estava - várias vezes - mas ainda Clodius não
apareceu. Em desespero Piso finalmente questionou o escravo: ‘Você
mandou para Clodius um convite? ‘Sim’. ‘Então, por que não veio?’
‘Porque ele se recusou’. ‘Então por que não me disseste antes? ‘Porque
você não pediu.’
Esta anedota foi gravado, cerca de 100 dC, pelo Plutarco moralista gre-
go. É uma história que pressupõe uma constante tensão entre escravo e
senhor do mundo romano, e é um notável exemplo de como um escravo
humilde romano poderia superar seu mestre superior.
Tecnicamente, os escravos romanos eram a propriedade, os bens móveis,
de seus proprietários, realizada em um estado de sujeição total. Mas, para
despistar um proprietário de escravos como Piso fez foi uma vitória no
jogo de guerra psicológica que sempre existiu entre o senhor e o escravo.

De forma geral, se observava que o escravo era considerado como


um bem, ou seja, uma propriedade, estando sujeito a uma situação de
total subjulgação. Mas de acordo com a anedota acima demonstra a guerra
psicológica entre o escravo e o seu senhor.
Analisando o caso chega-se a conclusão que o cristianismo como
palavra redentora veio a possibilitar ao escravo o poder da ousadia, de
não se considerar somente como uma propriedade e sim como um serer
humano com vontade própria, a partir do momento em que o escravo
mesmo que obedecendo no pé da letra a vontade do seu senhor (Piso),
por um breve momento inverteu os papéis, colocando Piso na posição
inferior que normalmente ocupava.
Observa-se que as relações entre os senhores e os seus escravos,
foi uma luta travada em relação mente a mente, entre os senhores que
se utilizavam dos seus instrumentos como o estatuto de direito, e a sua
autoridade estabelecida pela sua condição social romana privilegiada
enquanto os escravos só poderia se utilizar de sua inteligência, contra a
vontade daqueles que os possuíam.
Paulo passou por diversas prisões como em Jerusalém (At 21,27-
40), em Cesaréia (At 24,27), em Roma (At 28,16ss), sofreu perseguição,
açoites, torturas (2 Cor, 11,23-25), escreveu várias cartas na cadeia, entre
elas aos Filipenses e o bilhete a Onésimo (FERREIRA, 2012, p. 43).
Diante de todo este sofrimento Paulo, por renúncia a si mesmo e por amor
a missão cristã entende que todo este sofrimento constitui uma forma

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de marca do ministério de Cristo a todos os marginalizados. Segundo
2 Co 12.9-10 diz:

Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfei-


çoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas,
para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas
fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias,
por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.

A Prática de Paulo no Bilhete a Filémon

Paulo diante do carcere em Roma, escreveu uma carta a Onésimo


falando Filémon e os membros de sua família. Foi escrito de próposito
de interceder em favor Onésimo que havia abandonado o seu senhor
Filémon. Paulo encontrou Onésimo na prisão, e diante das suas palavras
consoladoras acabou por converter Onésimo e o manda de volta Filémon
juntamente com um bilhete.
Este bilhete comunitário dirige-se, fortemente, a Filémon, a propó-
sito do seu escravo Onésimo que fugira, talvez furtando algum bem. A lei
romana era clara, em tais casos, o escravo devia ser devolvido ao patrão e
punido. Paulo devolve Onésimo, porém, não mais como escravo, e sim,
como irmão, como se fosse o próprio Paulo, como se fosse o seu coração.
O escravo, agora, na mentalidade cristã, não voltará como escravo, mas
livre, como cidadão pleno, como irmão muito querido” (FERREIRA;
SILVA, 2009, p. 41-4).
Quando a palavra de Paulo consegue alcançar a todos os mise-
ráveis, não poderia ele que as suas palavras fossem mudar um sistema
arcaico alicerçado em um sistema de exploração. O sistema social foi
gradualmente afetado com mudanças nas leis, adotando um novo sen-
timento em relação à classe dos escravos. Essa mudança não pode ser
condicionada exclusivamente a doutrina cristã e sim também inspirado
e um movimento pacifista.
Esse sistema de exploração do menos afortunados não poderia ser
tão facilmente vencido, mas sim perturbado na ordem existencial romana.
Se a ideia de Paulo acabasse com todo o sistema escravagista de imediato
seria desastroso, principalmente para os próprios escravos.
A carta a Filémon, como diz Comblin, não resolve o problema
social, mas constitui uma condenação do sistema vigente e propõe uma
alternativa provisória. Assim, Paulo deslegitimou a escravidão e desen-

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cadeou uma crítica que infelizmente não será reassumida com o mesmo
vigor por todos os seus sucessores (FERREIRA, 2011, p. 103).
Antes de qualquer mudança se faz necessário uma reestruturação
da sociedade romana para que a mesma possa sobreviver já que depen-
diam para quase tudo dos escravos. Esta transformação não poderia ser
feita em um dia.

CONCLUSÃO

Paulo à luz do Cristianismo utiliza-se das armas de Jesus e obser-


vando as falhas do sistema romano seja por suas peregrinações ou pelas
diversas prisões, teve a coragem de desafiar este sistema, seja porque não
tinha medo de morrer por uma causa nobre ou muito menos por perder
uma condição mundana, os quais muitos não abriam mão e acabavam
aceitando o sistema escravagista romano.
Com Gálatas 3.26-28, as palavras de Paulo vêm acolher a todos, até
mesmo aqueles que não são detentores de coisa alguma nem mesmo da sua
liberdade. A finalidade do evangelho é incluir os excluídos, dando-lhes a
boa nova, que todos somos filhos de Deus.
As palavras de Paulo em Gálatas são tão poderosas que conclamam
a todos os escravos à liberdade e à conscientização dos seus senhores que o
escravo não é uma propriedade e sim um irmão, adotando um princípio
de isonomia entre todos os filhos de Deus.
Os dizeres santificadores de Jesus Cristo, oferecido aos escravos,
como um bálsamo a todo sofrimento pelo qual passaram, possibilita a
criação de uma nova identidade, totalmente diferente da qual eles eram
subjulgados, pois agora todos são filhos de Deus todo poderoso. Tal
assertiva abre os meios de comunicação e de sentimento dos escravos de
toda sorte a qual vem modificar a forma de ver a si mesmo e o próximo,
com uma esperança de um mundo melhor na comunidade na qual vive.
Essa forma de pensar e de agir é bem clara no texto abaixo:

Eras escravo quando fostes chamados? Não te preocupes com isto. Ao


contrario, ainda que te pudesses tornar livre, procura antes tirar pro-
veito da tua condição de escravo. Pois aquele que era escravo quando
chamado no Senhor, e um liberto do Senhor. Da mesma forma, aquele
que era livre quando foi chamado, e um escravo de Cristo. Alguém pa-
gou alto preço pelo vosso resgate; não vos torneis escravos dos homens
(1 Cor 7,21-23).

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CHRISTIANITIES AND THE ORIGIN OF SLAVERY IN FRONT
STANCE

Abstract: Originally Christianity, which was a great exponent Paul addres-


ses an urgent and final issue related to the slaves of all kinds. The cradle of
Christianity in the light originating from slavery is based on the Letter to
Galatians 3: 26.28 with the following words “For ye are all sons of God
through faith in Christ Jesus. For all you who were baptized into Christ
have put on Christ. There is neither Jew nor Greek, there is neither male
nor female: for ye are all one in Christ Jesus. This hymn is threatening the
whole system of slavery existing Roman Empire. Such freedom in Paul gains
momentum universal: do not linger in the new kingdom classifications of
gender and ethnicity, but all are equal before God.

Keywords: Originating Christianity. Paul. Genre. Roman Empire. Freedom.

Referências

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