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Informativo 627-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO CIVIL
NOME
Possibilidade de voltar o nome de solteira após a morte do marido.
BEM DE FAMÍLIA
Bem de família dado em garantia hipotecária.
CONTRATOS
Se o devedor de empréstimo consignado morrer, a dívida continua existindo.
RESPONSABILIDADE CIVIL
Acidente de carro sem vítimas: danos morais devem ser provados.
DIREITO DO CONSUMIDOR
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO
Alteração do transporte aéreo para terrestre e ocorrência de roubo: dever de indenizar.
DIREITO EMPRESARIAL
SOCIEDADES ANÔNIMAS
Prescrição em caso de ação de exigir contas pelo pagamento de dividendos e outros rendimentos.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Ação de indenização por danos morais contra empresa em recuperação judicial.
TÍTULOS EXECUTIVOS
Contrato eletrônico de mútuo com assinatura digital é título executivo extrajudicial.
JUIZADOS ESPECIAIS
Ação proposta por associação de moradores cobrando taxa de manutenção do loteamento.
DIREITO PENAL
CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA
Para fazer a prova da constituição definitiva do crédito tributário não se exige a juntada integral do PAF.
DIREITO CIVIL
NOME
Possibilidade de voltar o nome de solteira após a morte do marido
Importante!!!
É admissível o restabelecimento do nome de solteiro na hipótese de dissolução do vínculo
conjugal pelo falecimento do cônjuge.
Ex: Maria Pimentel da Costa casou-se com João Ferreira. Com o casamento, ela incorporou o
patronímico do marido e passou a chamar-se Maria da Costa Ferreira. Alguns anos mais tarde,
João faleceu. Maria poderá voltar a usar o nome de solteira (Maria Pimentel da Costa),
excluindo o patronímico do falecido marido? Sim. Vale ressaltar que não há previsão legal para
a retomada do nome de solteira em caso de morte do marido. A lei somente prevê a
possibilidade de o homem ou a mulher voltarem a usar o nome de solteiro (a) em caso de
divórcio (art. 1.571, § 2º, do CC). Apesar disso, o STJ entende que isso deve ser permitido. A
viuvez e o divórcio são hipóteses muito parecidas e envolvem uma mesma razão de ser: a
dissolução do vínculo conjugal. Logo, não há justificativa plausível para que se trate de modo
diferenciado as referidas situações.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.724.718-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/05/2018 (Info 627).
Importância
A pessoa, ao praticar os atos da vida civil, identifica-se por meio do nome que lhe foi atribuído no registro
de nascimento. Desse modo, toda pessoa tem que ter, obrigatoriamente, um nome. A pessoa recebe o
nome ao nascer e este a acompanha mesmo depois da sua morte, considerando que será sempre
identificada por esse sinal (exs.: inventário, direitos autorais). Veremos mais à frente que, em alguns casos,
é possível a mudança do nome, mas de forma excepcional.
Proteção do nome
O direito ao nome é protegido, dentre outros, pelos seguintes diplomas:
• Convenção Americana de Direitos Humanos (art. 18).
• Convenção dos Direitos da Criança (art. 7º).
• Código Civil (art. 16).
Observações:
Essa alteração é feita mediante processo administrativo.
Deverá haver um requerimento, de forma pessoal ou por procuração, por parte do interessado.
Não é necessário que tal formulação seja feita por meio de advogado.
Não precisa ser declarado nenhum motivo (trata-se de possibilidade de troca imotivada).
Não pode prejudicar os apelidos de família (patronímicos). É isso que está previsto na lei, mas veja
adiante interessante precedente do STJ.
Será averbada a alteração no registro de nascimento e publicada pela imprensa.
Observações:
Essa alteração é feita mediante processo administrativo.
Os erros a serem corrigidos são aqueles facilmente perceptíveis, ou seja, que não exigem qualquer
indagação para a sua constatação imediata. Tais erros poderão ser corrigidos de ofício pelo Oficial no
próprio cartório, mediante petição assinada pelo interessado, representante legal ou procurador.
Ex: na certidão de nascimento da criança, constou o nome do pai como sendo Waldinei, mas na
verdade era Waldiney.
O interessado não precisa de advogado.
O interessado não paga selos ou taxas.
Não é necessária a prévia manifestação do MP. Atenção porque isso é muito importante.
Vale a pena guardar esses cinco incisos do art. 110 para as provas.
Obs.: neste caso, a alteração deve ser feita por meio de ação judicial.
Observações:
Deve haver motivo ponderável.
O requerimento é feito ao juiz.
Será averbado o nome de família do padrasto ou madrasta.
É indispensável que haja a concordância expressa do padrasto ou madrasta.
Não pode haver prejuízo aos apelidos de família do(a) enteado(a).
7) Por via judicial, com motivo declarado, por sentença, após oitiva do MP
Previsto no caput do art. 57 da LRP:
Art. 57. A alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente, após audiência
do Ministério Público, será permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o registro,
arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela imprensa, ressalvada a hipótese do
art. 110 desta Lei.
Observações:
É hipótese de processo judicial de jurisdição voluntária.
É obrigatória a oitiva do MP.
O pedido é decidido pelo juiz por sentença.
Será competente o juiz a que estiver sujeito o registro.
Arquiva-se o mandado no Registro Civil de Pessoas Naturais.
8) Casamento
Segundo o CC-2002, o cônjuge pode acrescentar o sobrenome do outro. Tanto a mulher pode adicionar o
do marido, quanto o marido o da mulher.
Art. 1.565 (...)
§ 1º Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro.
Imagine agora a seguinte situação: marido e mulher se casaram e, no momento da habilitação para o
casamento, não requereram a alteração do nome. É possível que, posteriormente, um possa acrescentar
o sobrenome do outro?
SIM. Aos cônjuges é permitido incluir ao seu nome o sobrenome do outro, ainda que após a data da
celebração do casamento.
Vale ressaltar, no entanto, que esse acréscimo terá que ser feito por intermédio da ação de retificação de
registros públicos, nos termos dos arts. 57 e 109 da Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/1973). Assim,
não será possível a alteração pela via administrativa, mas somente em juízo.
Exemplo: Ricardo Oliveira casou-se com Izabel Fontana. No processo de habilitação, não foi solicitada a
mudança de nome. Desse modo, após o casamento, os nomes permaneceram iguais aos de solteiro.
Ocorre que, após 5 anos de casada, Izabel decide acrescentar o patronímico de seu marido. Para tanto,
Izabel procura o Cartório (Registro Civil) onde foi lavrada sua certidão de casamento e pede essa
providência ao Registrador Civil. Este poderá proceder à inclusão pleiteada? NÃO. Izabel e Ricardo deverão
procurar um advogado e este ajuizará uma ação de retificação de registro público, com base nos art. 57 e
109 da LRP, expondo a situação. O juiz, após ouvir o Ministério Público, poderá determinar que Izabel
inclua em seu nome o patronímico de seu marido, passando a se chamar Izabel Fontana Oliveira.
9) União estável
Se duas pessoas vivem em união estável, é possível incluir o patronímico de um deles no nome do outro?
Ex.: Carlos Andrade vive em união estável com Juliana Barbosa. É permitido que Juliana acrescente o
patronímico de seu companheiro e passe a se chamar “Juliana Barbosa Andrade”?
SIM, também é possível, conforme entendeu o STJ. Foi aplicado, por analogia, o art. 1.565, § 1º do CC,
visto acima, que trata sobre o casamento.
Como a união estável e o casamento são institutos semelhantes, é possível aplicar a regra de um para o
outro, pois “onde impera a mesma razão, deve prevalecer a mesma decisão” (ubi eadem legis ratio ibi
eadem dispositio).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.206.656–GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/10/2012.
10) Separação/Divórcio
Regra: na separação e no divórcio, o nome é mantido, salvo se a pessoa que acrescentou o sobrenome de
seu cônjuge desejar retirá-lo.
Exceção: somente haverá a perda do sobrenome contra a vontade da pessoa que o acrescentou se
preenchidos os seguintes requisitos:
1) houver pedido expresso do cônjuge que “forneceu” o sobrenome;
2) a perda não puder causar prejuízo à identificação do cônjuge. Ex.: Marta Suplicy;
3) a perda não puder causar prejuízo à identificação dos filhos;
4) restar provada culpa grave por parte do cônjuge.
SIM. Vale ressaltar que não há previsão legal para a retomada do nome de solteira em caso de morte do
marido. A lei somente prevê a possibilidade de o homem ou a mulher voltarem a usar o nome de solteiro
(a) em caso de divórcio.
Apesar disso, o STJ entende que isso deve ser permitido.
A viuvez e o divórcio são hipóteses muito parecidas e envolvem uma mesma razão de ser: a dissolução do
vínculo conjugal. Logo, não há justificativa plausível para que se trate de modo diferenciado as referidas
situações. Assim, o dispositivo que apenas autoriza a retomada do nome de solteiro na hipótese de
divórcio deverá ser estendido também às hipóteses de dissolução do casamento pela morte de um dos
cônjuges.
Vale a pena transcrever esta observação da Min. Nancy Andrighi sobre o tema:
“É da nossa tradição aceitar que uma pessoa, geralmente a mulher, abdique de parte significativa dos seus
direitos da personalidade para incorporar o patronímico do cônjuge após o casamento, adquirindo um
determinado sobrenome que não lhe pertencia inicialmente e, assim, transmudando-se a sua própria
genética familiar.
Os motivos pelos quais essa modificação foi – e ainda é – socialmente aceita com tamanha naturalidade,
aliás, são diversos: vão desde a histórica submissão patriarcal, passam pela tentativa de agradar ao outro
com quem se pretende conviver e chegam, ainda, em uma deliberada intenção de adquirir um status social
diferenciado a partir da adoção do patronímico do cônjuge.
Todavia, é indiscutível que a transformação e a evolução da sociedade em que vivemos coloca essa
questão, a cada dia, em um patamar de muito menor relevância e, mais do que isso, a coloca na esfera da
liberdade e da autonomia da vontade das partes, justamente porque se trata de uma alteração substancial
em um direito da personalidade, indissociável da própria pessoa humana.”
de seu pai registral pelo pai biológico. As partes ingressam com pedido para que o juiz
homologasse esse acordo. O pedido deverá ser negado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.698.717-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/06/2018 (Info 627).
Acordo
Sandro (pai registral), João (pai biológico) e Marcela (representada por sua mãe Letícia) celebraram um
acordo extrajudicial de anulação de assento civil.
Por intermédio deste instrumento, as referidas partes acordaram que haveria a retificação do registro civil
da menor Marcela para que houvesse a substituição do nome de seu pai registral Sandro pelo pai biológico
(João), bem como a retificação do registro no que diz respeito aos respectivos avós paternos.
As partes ingressaram com pedido para que o juiz homologasse esse acordo.
3) Esse negócio jurídico não preenche os requisitos básicos previstos no art. 104, II e III, do CC, uma vez
que se negociou objeto ILÍCITO – direitos da personalidade de uma menor sem que tenha sido observada
a forma prescrita em lei quando se trata de retificação de registros civis.
4) Não se fez uma apuração mais aprofundada a respeito da existência de erro ou de falsidade do registro
da criança, condições indispensável para que se possa modificar o registro de nascimento, na forma do
art. 1.604 do CC.
5) Em um caso desta natureza, não se pode relegar ao Ministério Público o papel de mero opinante no
processo de homologação.
6) Não se pode utilizar o exame de DNA realizado em clínica particular como meio de prova válido para
homologar o acordo extrajudicial, especialmente porque a prova pericial válida é aquela submetida ao
crivo judicial, em que se deve observar o efetivo contraditório e a ampla defesa, com a possibilidade de
acompanhamento da produção da prova por todos os atores do processo, com oportuna quesitação,
diligências, participação do assistente técnico e produção de laudos técnicos convergentes ou divergentes.
7) Deveria ter sido realizado um estudos psicossocial para se verificar se existia ou não vínculo socioafetivo
entre a criança e o pai registral.
BEM DE FAMÍLIA
Bem de família dado em garantia hipotecária
Importante!!!
O bem de família é IMPENHORÁVEL quando for dado em garantia real de dívida por um dos
sócios da pessoa jurídica, cabendo ao credor o ônus da prova de que o proveito se reverteu à
entidade familiar.
O bem de família é PENHORÁVEL quando os únicos sócios da empresa devedora são os
titulares do imóvel hipotecado, sendo ônus dos proprietários a demonstração de que não se
beneficiaram dos valores auferidos. Assim, é possível a penhora de bem de família dado em
garantia hipotecária pelo casal quando os cônjuges forem os únicos sócios da pessoa jurídica
devedora.
STJ. 2ª Seção. EAREsp 848.498-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/04/2018 (Info 627).
Como vimos acima, em regra, o bem de família não pode ser penhorado (art. 1º da Lei nº 8.009/90).
Esse inciso V diz, contudo, que o bem de família pode ser penhorado se o imóvel foi oferecido em hipoteca
como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar.
A hipoteca é uma espécie de direito real de garantia, disciplinada nos arts. 1.473 a 1.505 do Código Civil.
Se a parte que deu o bem em hipoteca não cumprir a sua obrigação, o credor poderá executar a hipoteca,
hipótese na qual o imóvel dado em garantia será alienado e o valor obtido utilizado para pagar o débito.
Assim, em regra, é possível a penhora do imóvel que tiver sido oferecido como garantia real pelo casal ou
pela entidade familiar.
O STJ, contudo, ao interpretar esse inciso, faz a seguinte distinção:
1) Se o imóvel foi dado em garantia de uma dívida 2) Se o imóvel foi dado em garantia de uma
que beneficiou o casal ou entidade familiar: dívida que beneficiou um terceiro:
Este bem poderá ser penhorado. Este bem NÃO poderá ser penhorado.
A situação se enquadra no inciso V do art. 3º. A situação NÃO se enquadra no inciso V do art. 3º.
Ex: Antônio toma um empréstimo junto ao banco Ex: João toma um empréstimo junto ao banco a
(contrato de mútuo) a fim de pagar a faculdade de fim de pagar tratamento médico de seu filho. Ele
sua filha. Ele oferece o seu apartamento em precisava dar uma garantia real para o caso de não
hipoteca como garantia da dívida. Se Antônio pagar as parcelas do mútuo. Como não tinha
deixar de pagar as prestações, o banco poderá nenhum bem para oferecer em garantia, pediu
executar a hipoteca, ou seja, vender o ajuda a seu amigo Pedro. Assim, Pedro ofereceu a
apartamento e utilizar o dinheiro para quitar o sua casa em hipoteca como garantia de uma dívida
saldo devedor. de terceiro (João).
Trata-se de situação que se enquadra no inciso V Se João não conseguir pagar as parcelas
do art. 3º (é uma exceção à proteção do bem de combinadas, o banco NÃO poderá executar a
família). hipoteca e vender a casa. Isso porque se trata de
bem de família e NÃO se enquadra na exceção do
inciso V do art. 3º.
Desse modo, para a jurisprudência do STJ, a exceção prevista no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90 não se aplica
aos casos em que a hipoteca é dada como garantia de empréstimo contraído em favor de terceiro,
somente quando garante empréstimo tomado diretamente em favor do próprio devedor.
1) Se apenas um dos cônjuges for sócio da pessoa 2) Se os cônjuges forem os únicos sócios da
jurídica: em regra, o bem será impenhorável pessoa jurídica devedora:
O bem de família é IMPENHORÁVEL quando for O bem de família é PENHORÁVEL quando os únicos
dado em garantia real de dívida por um dos sócios sócios da empresa devedora são os titulares do
da pessoa jurídica, cabendo ao credor o ônus da imóvel hipotecado, sendo ônus dos proprietários
prova de que o proveito se reverteu à entidade a demonstração de que não se beneficiaram dos
familiar. valores auferidos.
Ex: Lúcio e Carla são casados e moram em um Ex: Sandro e Michele, casados entre si, são os dois
apartamento com os filhos. Lúcio é sócio da únicos sócios da sociedade empresária SM
empresa LT. O outro sócio é seu amigo Tiago. Comércio Ltda. A empresa SM contraiu um
A empresa LT contraiu um empréstimo para empréstimo junto ao banco (contrato de mútuo).
comprar equipamentos e Lúcio deu em garantia o O casal deu o apartamento em que mora como
imóvel em que reside. Ainda que dado em garantia garantia da dívida (garantia hipotecária). Se o
de empréstimo concedido a pessoa jurídica, é empréstimo não for pago, o banco poderá
impenhorável o imóvel (bem de família), já que executar e penhorar o apartamento.
não se pode presumir que o mútuo tenha sido
concedido em benefício da família.
Em suma:
É possível a penhora de bem de família dado em garantia hipotecária pelo casal quando os cônjuges
forem os únicos sócios da pessoa jurídica devedora.
STJ. 2ª Seção. EAREsp 848.498-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/04/2018 (Info 627).
CLÁUSULA PENAL
Possibilidade de redução de ofício da cláusula penal manifestamente excessiva
CLÁUSULA PENAL
Conceito
Cláusula penal é...
- uma cláusula do contrato
- ou um contrato acessório ao principal
- em que se estipula, previamente, o valor da indenização que deverá ser paga
- pela parte contratante que não cumprir, culposamente, a obrigação.
A cláusula penal também pode ser chamada de multa convencional, multa contratual ou pena
convencional.
Natureza jurídica
Trata-se de uma obrigação acessória, referente a uma obrigação principal.
Pode estar inserida dentro do contrato (como uma cláusula) ou prevista em instrumento separado.
Finalidades
A cláusula penal possui duas finalidades:
• Função ressarcitória: serve de indenização para o credor no caso de inadimplemento culposo do
devedor. Ressalte-se que, para o recebimento da cláusula penal, o credor não precisa comprovar qualquer
prejuízo. Desse modo, a cláusula penal serve para evitar as dificuldades que o credor teria no momento
de provar o valor do prejuízo sofrido com a inadimplência do contrato.
• Função coercitiva ou compulsória (meio de coerção): intimida o devedor a cumprir a obrigação,
considerando que este já sabe que, se for inadimplente, terá que pagar a multa convencional.
Espécies
MORATÓRIA COMPENSATÓRIA
(compulsória): (compensar o inadimplemento)
Estipulada para desestimular o devedor a incorrer Estipulada para servir como indenização no caso
em mora ou para evitar que deixe de cumprir de total inadimplemento da obrigação principal
determinada cláusula especial da obrigação (inadimplemento absoluto).
principal.
É a cominação contratual de uma multa para o
caso de mora.
Funciona como punição pelo retardamento no Funciona como uma prefixação das perdas e
cumprimento da obrigação ou pelo danos, ou seja, representa um valor previamente
inadimplemento de determinada cláusula. estipulado pelas partes a título de indenização
pela inexecução contratual.
Ex.1: em uma promessa de compra e venda de um Ex.: em um contrato para que um cantor faça um
apartamento, é estipulada multa para o caso de show no réveillon, é estipulada uma multa de R$
atraso na entrega. 100 mil caso ele não se apresente.
Ex.2: multa para o caso do produtor de soja fornecer
uma safra de qualidade inferior ao tipo “X”.
A cláusula penal moratória é cumulativa, ou seja, A cláusula penal compensatória não é cumulativa.
o credor poderá exigir o cumprimento da Assim, haverá uma alternativa para o credor: exigir
obrigação principal mais o valor da cláusula penal o cumprimento da obrigação principal ou apenas
(poderá exigir a substituição da soja inferior e o valor da cláusula penal.
ainda o valor da cláusula penal).
Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para
o caso de mora, ou em segurança especial de outra o caso de total inadimplemento da obrigação, esta
cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de converter-se-á em alternativa a benefício do
exigir a satisfação da pena cominada, juntamente credor.
com o desempenho da obrigação principal.
O juiz julgou improcedente o pedido afirmando que, por se tratar de obrigação personalíssima, não seria
possível exigir o cumprimento, devendo a questão ser resolvida mediante a cobrança do pagamento da
cláusula penal.
O contrato previa multa de 20% sobre o valor do ajuste, ou seja, R$ 20 mil.
O juiz, contudo, entendeu que a cláusula penal era excessiva e, de ofício, reduziu-a para R$ 10 mil.
Agiu corretamente o magistrado? O juiz deve reduzir, de ofício, a cláusula penal contratada, por
considerá-la excessiva?
SIM.
Constatado o caráter manifestamente excessivo da cláusula penal contratada, o magistrado deverá,
independentemente de requerimento do devedor, proceder à sua redução.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.447.247-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/04/2018 (Info 627).
A cláusula penal é fixada por meio de ajuste de vontade entre as partes. Apesar disso, não se pode dizer
que a sua fixação fique ao total e ilimitado alvedrio (arbítrio, livre vontade) dos contratantes.
O Código Civil de 2002 prevê normas de ordem pública, imperativas e cogentes, que possuem o objetivo
de preservar o equilíbrio econômico-financeiro do contrato, afastando excessos que gerem
enriquecimento sem causa de qualquer uma das partes.
Entre tais normas, destaca-se o art. 413 do CC:
Art. 413. A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver
sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-
se em vista a natureza e a finalidade do negócio.
Vale ressaltar que não se trata de uma faculdade do juiz, mas sim de um poder/dever do magistrado de
coibir os excessos e os abusos que venham a colocar o devedor em situação de inferioridade desarrazoada.
Superou-se, assim, o princípio da imutabilidade absoluta da pena estabelecida livremente entre as partes,
que, à luz do código revogado, somente era mitigado em caso de inexecução parcial da obrigação.
Veja o que diz o genial Bruno Miragem:
(...) A orientação da legislação, em diferentes sistemas jurídicos, é a de impor limites à estipulação
da cláusula penal, assim como mecanismos para sua redução, quando se entendê-la como
excessiva. Em geral, estes limites resultam em norma com caráter imperativo.
(...)
Os fundamentos para admitir-se o controle da cláusula penal são diversos. O principal será a
própria preservação da equivalência material, de modo a impedir que, por convenção, se imponha
sanção desproporcional ao devedor inadimplente.
(...)
No direito vigente, a disposição do art. 413 se reconhece como norma de ordem pública,
insuscetível de convenção em contrário das partes ao constituírem a obrigação.
A redução equitativa da cláusula penal, neste caso, orienta-se, conforme já se referiu, pela
preservação da equivalência material, assim também com a incidência do princípio da boa fé. (...)
(MIRAGEM, Bruno. Direito civil: direito das obrigações. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 574-578)
O controle judicial da cláusula penal abusiva consiste, portanto, em uma norma de ordem pública, que
tem como objetivos concretizar o princípio da equidade (preservação da equivalência material do pacto)
e impor o paradigma da eticidade aos negócios jurídicos.
Existem dois enunciados doutrinários sobre o tema:
Enunciado 356 - CJF: Nas hipóteses previstas no art. 413 do Código Civil, o juiz deverá reduzir a cláusula
penal de ofício.
Enunciado 355 - CJF: Não podem as partes renunciar à possibilidade de redução da cláusula penal se
ocorrer qualquer das hipóteses previstas no art. 413 do Código Civil, por se tratar de preceito de ordem
pública.
Ademais, importante destacar o disposto no parágrafo único do art. 2.035 do CC, segundo o qual
“nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos
por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos”.
CONTRATOS
Se o devedor de empréstimo consignado morrer, a dívida continua existindo
Empréstimo consignado
Uma prática muito comum entre os servidores públicos são os chamados “empréstimos consignados”.
O servidor público vai até o banco e consegue um empréstimo de forma mais fácil, rápida e com taxas de
juros menores porque aceita que as parcelas de pagamento deste mútuo sejam descontadas diretamente
da sua remuneração.
Assim, no empréstimo consignado (também chamado de consignação em folha de pagamento), antes
mesmo de a pessoa receber sua remuneração/proventos, já há o desconto da quantia, o que é efetuado
pelo próprio órgão ou entidade pagadora. Em outras palavras, há um desconto direto no salário,
remuneração ou aposentadoria.
A partir da leitura dos arts. 3º e 4º da Lei nº 1.046/50 chega-se à conclusão de que este diploma sobre a
consignação em folha de pagamento é voltado aos servidores públicos civis e militares.
Ocorre que o STJ entende que, com a edição da Lei nº 8.112/90, foi revogada a Lei nº 1.046/50. Isso porque
a Lei nº 8.112/90 disciplinou a consignação em pagamento envolvendo servidores públicos federais.
Houve, portanto, a ab-rogação tácita ou indireta da Lei nº 1.046/50, na medida em que a Lei nº 8.112/90
tratou, inteiramente, da matéria contida naquela.
A Lei nº 8.112/90 não trouxe nenhum dispositivo semelhante ao art. 16 da Lei nº 1.046/50. Logo, conclui-
se que, com a edição da Lei nº 8.112/90, acabou a regra que autorizava a extinção da dívida em razão da
morte do consignante.
A Lei nº 10.820/2003 regula a consignação em folha de pagamento dos empregados regidos pela CLT e
dos titulares de benefícios de aposentadoria e pensão do RGPS (INSS). Assim como na Lei nº 8.112/90, não
há na Lei nº 10.820/2003 a previsão de que a morte do consignante extinga a dívida por ele contraída.
RESPONSABILIDADE CIVIL
Acidente de carro sem vítimas: danos morais devem ser provados
O reconhecimento do dano moral como categoria de dano indenizável, mesmo antes da edição do novo
Código Civil brasileiro, enfrentou uma rápida evolução decorrente de sua conformação aos paradigmas da
Constituição Federal de 1988.
Seguindo um movimento de despatrimonialização, pautado na consagração do direito subjetivo
constitucional à dignidade, o dano moral passa a ser entendido como aquele decorrente da mera violação
DIREITO DO CONSUMIDOR
Ex2: cracker invade o sistema do banco e consegue Ex2: um terremoto faz com que o telhado do
transferir dinheiro da conta de um cliente. banco caia, causando danos aos clientes que lá
estavam.
Ex3: durante o transporte da matriz para uma das
agências, ocorre um roubo e são subtraídos
diversos talões de cheque (trata-se de um fato que
se liga à organização da empresa e aos riscos da
própria atividade desenvolvida).
O fortuito interno NÃO exclui a obrigação do O fortuito externo é uma causa excludente de
fornecedor de indenizar o consumidor. responsabilidade.
Assim, pode-se dizer que a alteração substancial e unilateral do contrato firmado – de transporte aéreo
para terrestre -, sem dúvida alguma, acabou criando uma situação favorável à ação de terceiros, não
podendo a transportadora agora, após a criação efetiva do risco de ocorrência de roubo contra os
passageiros, valer-se da excludente do fortuito externo para se eximir da responsabilidade.
Por esse motivo, também NÃO é possível invocar o art. 14, § 3º, II, do CDC, pois não se verificou culpa
exclusiva de terceiro, em virtude da concorrência da transportadora para o resultado lesivo:
Art. 14 (...)
§ 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
(...)
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Em suma:
A alteração substancial e unilateral do contrato firmado de transporte aéreo para terrestre impede a
utilização da excludente de fortuito externo para eximir a empresa de transporte aéreo da
responsabilidade civil por danos causados por roubo ao ônibus.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.728.068-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018 (Info 627).
Uma última pergunta: em nosso exemplo, a companhia aérea pagou para uma empresa de transporte
rodoviário levar os passageiros. Se Pedro tivesse ajuizado a ação contra esta empresa de transporte
rodoviário, ele teria tido êxito? Essa empresa de transporte rodoviário que levou Pedro também é
responsável civilmente?
NÃO. Se a demanda tivesse sido manejada contra a empresa responsável pelo ônibus fretado, que realizou
o trajeto entre Brasília e São José do Rio Preto, o pedido de Pedro deveria ser julgado improcedente. Isso
porque, neste caso, seria reconhecido o fortuito externo, considerando que a empresa de ônibus não
contribuiu em nada para a produção do evento lesivo.
DIREITO EMPRESARIAL
SOCIEDADES ANÔNIMAS
Prescrição em caso de ação de exigir contas pelo pagamento
de dividendos e outros rendimentos
Desse modo, em princípio, o indivíduo que confiou a administração de seus bens a um terceiro goza do
prazo de 10 anos para exigir que o gestor de seus bens preste as respectivas contas.
Depois que o réu apresentar as contas, se ficar constatado que havia saldo em favor do autor, será possível
pedir o pagamento desta quantia no bojo da mesma ação.
Veja-se, portanto, que as pretensões de exigir contas e a de obter o ressarcimento, na eventualidade de
se apurar a existência de crédito a favor do demandante, embora não se confundam, são umbilicalmente
ligadas e instrumentalizadas no bojo da mesma ação. Em razão disso, o prazo para se exigir contas deve
ser o mesmo prazo para se pedir o pagamento dos valores residuais que eventualmente existam.
Logo, não havendo na lei um prazo específico para a satisfação (“cobrança”) desse crédito, oriundo da
administração/gestão de bens alheios, o exercício dessa pretensão observa, naturalmente, o mesmo prazo
prescricional da ação de exigir as contas em que veiculada, que é de 10 anos.
Prazo para cobrança de dividendos é de 3 anos e, portanto, interfere no prazo para exigir contas
O titular ações de uma sociedade anônima possui o prazo prescricional de 3 anos para exigir o pagamento
dos dividendos. Isso está previsto no art. 287, II, da Lei nº 6.404/76 (Lei das SA):
Art. 287. Prescreve:
(...)
II - em 3 (três) anos:
a) a ação para haver dividendos, contado o prazo da data em que tenham sido postos à disposição
do acionista;
Esse dispositivo legal dispõe sobre a ação de cobrança de dividendos. Não trata expressamente a respeito
da pretensão de exigir contas. Porém, como já explicado, não se pode deixar de reconhecer que a
pretensão do acionista de exigir contas da companhia não se exaure na sua simples prestação, pois se
destina, em última análise, à apuração do saldo de dividendos e, caso existente, também à sua satisfação.
Em outras palavras, sendo de 3 anos o prazo prescricional de cobrança dos dividendos, também deve ser
de 3 anos o prazo prescricional para o ajuizamento da ação de exigir contas. Isso porque o objetivo final
do autor é o de receber o saldo que ele entende que pode existir.
Seria inútil que se permitisse que o autor ajuizasse ação pedindo a prestação de contas dos últimos 6 anos,
por exemplo, e, constatada a existência de um saldo (porque os pagamentos não foram feitos
corretamente), esse mesmo autor só tivesse direito de cobrar os valores dos últimos 3 anos.
A ação de exigir contas deve se revelar útil, a um só tempo, à pretensão de exigir contas e, caso apurado
crédito existente em favor do demandante, também à sua satisfação.
A ação de exigir contas não serve apenas para tirar uma “dúvida” pessoal do autor sem que isso tenha
reflexos jurídicos.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Ação de indenização por danos morais contra empresa em recuperação judicial
A ação de compensação por danos morais movida contra empresa em recuperação judicial não
deve permanecer suspensa até o trânsito em julgado da decisão final proferida no processo de
soerguimento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.710.750-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 627).
Depois de alguns anos de tramitação, o Juiz da Vara de Falência entendeu que estavam cumpridas as
obrigações e decretou, por sentença, o encerramento da recuperação judicial (art. 63 da Lei 11.101/2005).
Um dos credores, contudo, não concordou e apelou contra a sentença.
Foi o tempo que o advogado de João lembrou do processo e pediu ao Juiz da 6ª Vara Cível que retomasse
o cumprimento de sentença, pedido que foi acolhido pelo magistrado.
A Viplan, porém, recorreu contra a decisão do Juiz da 6ª Vara Cível alegando que não se mostra plausível
a retomada das execuções individuais após o mero decurso do prazo de 180 dias, sob pena de violação ao
princípio da continuidade da empresa. Argumentou que o cumprimento de sentença deverá permanecer
suspenso até a conclusão final da recuperação judicial.
Todavia, não se pode admitir prorrogação genérica e indiscriminada do prazo de suspensão do art. 6º, §
4º para todo e qualquer processo relacionado à empresa recuperanda, sendo sempre necessário analisar
as circunstâncias do caso concreto.
No caso concreto, além de se ter esgotado o prazo de 180 dias, percebe-se que o próprio processo de
recuperação judicial já havia se encerrado (ainda que pendente recurso). Logo, não havia qualquer motivo
para se manter suspenso o cumprimento de sentença.
Não seria razoável que João tivesse que continuar com sua execução suspensa, especialmente porque:
• seu crédito é muito pequeno se comparada ao porte econômico da empresa; e
• passou-se um grande tempo desde o ajuizamento da ação, o que afronta o princípio da efetividade da
jurisdição.
Em suma:
A ação de compensação por danos morais movida contra empresa em recuperação judicial não deve
permanecer suspensa até o trânsito em julgado da decisão final proferida no processo de soerguimento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.710.750-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2018 (Info 627).
DIREITO NOTARIAL
E REGISTRAL
ECA
RECURSOS
(In)aplicabilidade do art. 942 do CPC/2015
Importante!!!
A técnica de julgamento do art. 942 é aplicada no caso de apelação não unânime em processo no
qual se apura a prática de ato infracional por adolescente?
5ª Turma do STJ: SIM
Admite-se a incidência do art. 942 do CPC/2015 para complementar o julgamento da apelação
julgada por maioria nos procedimentos relativos ao estatuto do menor.
STJ. 5ª turma. AgRg no REsp 1.673.215-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
17/05/2018 (Info 627).
Técnica de julgamento do art. 942 do CPC/2015 (técnica de complementação de julgamento não unânime)
O resultado do julgamento da apelação pode ser unânime (quando todos os Desembargadores
concordam) ou por maioria (quando no mínimo um Desembargador discorda dos demais).
Se o resultado se der por maioria, o CPC prevê uma nova “chance” de a parte que “perdeu” a apelação
reverter o resultado. Como assim?
Se o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá prosseguimento em uma nova sessão, que
será marcada e que contará com a presença de novos Desembargadores que serão convocados, em
número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado inicial.
Ex: o resultado da apelação foi 2x1; 2 Desembargadores votaram pelo provimento da apelação (em favor
de João) e um Desembargador votou pela manutenção da sentença (em favor de Pedro); significa dizer
que deverá ser designada uma nova sessão e para essa nova sessão serão convocados dois novos
Desembargadores que também irão emitir votos; neste nosso exemplo, foram convocados 2 porque a
convocação dos novos julgadores deverá ser em número suficiente para garantir a possibilidade de
inversão do resultado inicial (se os dois novos Desembargadores votarem com a minoria, o placar se
inverte para 3x2).
Veja a previsão legal:
Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá prosseguimento em
sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, que serão convocados nos termos
previamente definidos no regimento interno, em número suficiente para garantir a possibilidade
de inversão do resultado inicial, assegurado às partes e a eventuais terceiros o direito de sustentar
oralmente suas razões perante os novos julgadores.
Juízo de retratação
Os julgadores que já tiverem votado poderão rever seus votos por ocasião do prosseguimento do
julgamento (§ 2º do art. 942). Mesmo que isso ocorra, ou seja, que alguém mude de opinião, ainda assim
deverão ser colhidos os votos dos Desembargadores convocados. Nesse sentido:
Enunciado 599-FFPC: A revisão do voto, após a ampliação do colegiado, não afasta a aplicação da técnica
de julgamento do art. 942.
Embargos infringentes
Os embargos infringentes eram uma espécie de recurso previsto no CPC/1973.
Os embargos infringentes só cabiam para questionar acórdão. Não bastava, contudo, que fosse acórdão.
Era necessário que ele fosse NÃO UNÂNIME, ou seja, acórdão em que houve voto vencido.
A finalidade dos embargos infringentes era a de renovar a discussão para fazer prevalecer as razões do
voto vencido.
Segundo o art. 530 do CPC/1973, cabiam embargos infringentes em duas hipóteses:
1) contra acórdão não unânime (por maioria) que reformasse, em grau de apelação, a sentença de mérito.
2) contra acórdão não unânime (por maioria) que julgasse procedente a ação rescisória.
O CPC/2015 acabou com a existência dos embargos infringentes, mas criou essa “técnica de julgamento” do
art. 942, que possui algumas semelhanças com os embargos infringentes, mas que não se trata de recurso.
“(...) Esse mecanismo, conquanto não tenha natureza recursal, faz lembrar os embargos
infringentes. Por não ser recurso, no entanto, não depende de interposição, constituindo apenas
uma fase do julgamento da apelação, do agravo de instrumento contra decisão de mérito e da
ação rescisória, não unânime.”
(GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2016. p. 885).
IMPORTANTE. Situações nas quais não se aplicará a técnica de julgamento do art. 942
Não se aplica a técnica de julgamento do art. 942 do CPC ao julgamento:
I - do incidente de assunção de competência e ao de resolução de demandas repetitivas;
II - da remessa necessária;
III - não unânime proferido, nos tribunais, pelo plenário ou pela corte especial.
A técnica de julgamento do art. 942 é aplicada no caso de rescisão apenas parcial do julgado rescindendo?
SIM. Enunciado 63 – Jornada CJF: A técnica de que trata o art. 942, § 3º, I, do CPC aplica-se à hipótese de
rescisão parcial do julgado.
A técnica de julgamento do art. 942 é aplicada no caso de apelação não unânime em processo no qual
se apura a prática de ato infracional por adolescente?
5ª Turma do STJ: SIM
Admite-se a incidência do art. 942 do CPC/2015 para complementar o julgamento da apelação julgada
por maioria nos procedimentos relativos ao estatuto do menor.
STJ. 5ª turma. AgRg no REsp 1.673.215-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 17/05/2018
(Info 627).
Por quê?
O art. 198 do ECA diz que, nos procedimentos de competência da Justiça da Infância e da Juventude,
inclusive os relativos à execução das medidas socioeducativas, deve-se adotar o sistema recursal previsto
no CPC.
Como o sistema recursal do CPC prevê a técnica de complementação do julgamento (art. 942), isso deverá
ser também aplicado para os recursos do ECA.
É inaplicável a técnica de julgamento prevista no artigo 942 do CPC/2015 nos procedimentos afetos à
Justiça da Infância e da Juventude quando a decisão não unânime for favorável ao adolescente.
STJ. 6ª Turma. 6ª Turma. REsp 1.694.248-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
03/05/2018 (Info 626).
Por quê?
Realmente o sistema recursal do CPC deve ser aplicado para os procedimentos da Justiça da Infância e da
Juventude. Isso está expressamente previsto no art. 198 do ECA.
Ocorre que ao menor infrator devem ser assegurados os mesmos direitos de que gozam os maiores de 18
anos que forem réus em processo criminal.
Por mais que a medida socioeducativa não seja considerada “pena”, ela possui, indiscutivelmente, uma
natureza sancionatória.
Se for aplicado o art. 942 do CPC em uma apelação não unânime que tenha sido favorável ao adolescente
infrator (ex: o Tribunal rejeitou a medida socioeducativa), isso significa que esse adolescente terá um
tratamento mais gravoso do que os réus maiores de 18 anos possuem no processo penal. No processo
penal, se a apelação for favorável ao réu, não se aplica o art. 942 do CPC nem caberão os embargos
infringentes do art. 609 do CPP. Isso porque os embargos infringentes somente são cabíveis na hipótese
de o julgamento por maioria ter sido contrário ao réu. Em outras palavras, os embargos infringentes são
um recurso exclusivo da defesa.
Ora, se não cabem embargos infringentes do art. 609 do CPP quando o acórdão não unânime foi favorável
ao réu, com maior razão também não se pode admitir a técnica do art. 942 do CPC se o acórdão não
unânime foi favorável ao adolescente infrator.
COMPETÊNCIA
Demanda contra as operadoras de plano de saúde de autogestão: Justiça comum
Compete à Justiça Comum Estadual o exame e o julgamento de feito que discute direitos de ex-
empregado aposentado ou demitido sem justa causa de permanecer em plano de saúde
coletivo oferecido pela própria empresa empregadora aos trabalhadores ativos, na
modalidade de autogestão.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.695.986-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/02/2018 (Info 620).
destinado exclusivamente a pessoas (e seus dependentes) a ela ligadas por vínculo jurídico ou estatutário,
ou aos participantes (e seus dependentes) de associações, fundações, sindicatos e entidades de classes,
nos termos dos incisos I, II e III e § 2º, do art. 2º.
A principal característica das entidades de autogestão que operam planos de saúde é constituir-se em um
sistema fechado sem a finalidade lucrativa, ou seja, os planos por elas administrados não são oferecidos
ao mercado de consumo em geral, mas apenas a grupos restritos. É por isso que não se aplica, nesses
contratos, o Código de Defesa do Consumidor.
Surgiu, no entanto, uma dúvida sobre a competência. De quem será a competência para julgar a
presente ação: Justiça comum estadual ou Justiça do Trabalho?
Justiça Estadual.
Compete à Justiça Comum Estadual o exame e o julgamento de feito que discute direitos de ex-
empregado aposentado ou demitido sem justa causa de permanecer em plano de saúde coletivo
oferecido pela própria empresa empregadora aos trabalhadores ativos, na modalidade de autogestão.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.695.986-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/02/2018 (Info 620).
Compete à Justiça Comum Estadual o julgamento de demanda com natureza predominantemente civil
entre ex-empregado aposentado ou demitido sem justa causa e operadoras de plano de saúde na
modalidade autogestão vinculadas ao empregador.
STJ. 2ª Seção. CC 157.664-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/05/2018 (Info 627).
A relação jurídica mantida entre o usuário do plano de saúde e a entidade de autogestão empresarial não
é apenas uma derivação da relação de emprego.
O próprio art. 458, § 2º, IV, da CLT, incluído pela Lei nº 10.243/2001, é expresso em dispor que a assistência
médica, hospitalar e odontológica concedida pelo empregador, seja diretamente ou mediante seguro-
saúde, não será considerada como salário. Isso porque o plano de saúde fornecido pela empresa
empregadora, mesmo a título gratuito, não possui natureza retributiva, não constituindo salário-utilidade
(salário in natura), sobretudo por não ser contraprestação ao trabalho.
Ao contrário, referida vantagem apenas possui natureza preventiva e assistencial, sendo uma alternativa
às graves deficiências do Sistema Único de Saúde (SUS), obrigação do Estado.
Ademais, as entidades de autogestão são enquadradas como operadoras de planos de saúde, de modo
que são reguladas e fiscalizadas pela ANS.
Desse modo, em virtude da autonomia jurídica, as ações originadas de controvérsias entre usuário de
plano de saúde coletivo e entidade de autogestão (empresarial, instituída ou associativa) não se adequam
ao ramo do Direito do Trabalho, tampouco podem ser inseridas em “outras controvérsias decorrentes da
relação de trabalho” (art. 114, IX, da Constituição Federal), sendo, pois, predominante o caráter civil da
relação entre os litigantes, mesmo porque, como visto, a assistência médica não integra o contrato de
trabalho.
Assim, as ações que discutem abusividade de mensalidades, cobertura de tratamento médico, deficiência
de prestação de serviços suplementares de saúde propostas pelos usuários contra as operadoras de plano
de saúde, incluídas as autogestões, são de competência da Justiça comum estadual.
Com maior razão, por já ter sido encerrado o seu contrato de trabalho, a pretensão do ex-empregado de
manutenção no plano de assistência à saúde fornecido pela ex-empregadora não pode ser vista como
simples relação de trabalho.
Dessa forma, conclui-se que a Justiça competente para o exame e julgamento de ação fundada nos arts.
30 e 31 da Lei nº 9.656/98, que discute direitos de ex-empregado aposentado ou demitido sem justa causa
de permanecer em plano de saúde coletivo oferecido pela própria empresa empregadora aos
trabalhadores ativos, na modalidade de autogestão, é a Justiça Comum estadual, visto que a causa de
pedir e o pedido se originam de relação autônoma nascida com a operadora de plano de saúde, a qual
possui natureza eminentemente civil, envolvendo tão somente de maneira indireta os aspectos da relação
de trabalho.
TÍTULOS EXECUTIVOS
Contrato eletrônico de mútuo com assinatura digital é título executivo extrajudicial
Importante!!!
O contrato eletrônico de mútuo com assinatura digital pode ser considerado título executivo
extrajudicial.
Neste caso, não será necessária a assinatura de 2 testemunhas, conforme exige o art. 784, III,
do CPC/2015.
Na assinatura digital de contrato eletrônico, uma autoridade certificadora (terceiro
desinteressado) atesta que aquele determinado usuário realmente utilizou aquela assinatura
no documento eletrônico. Como existe esse instrumento de verificação de autenticidade e
presencialidade do contratante, é possível reconhecer esse contrato como título executivo
extrajudicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.495.920-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 15/05/2018
(Info 627).
Caso João não pague o empréstimo, esse contrato poderá ser executado? O contrato de mútuo constitui-
se em título executivo extrajudicial?
SIM. O contrato de mútuo, desde que assinado pelo devedor e por 2 testemunhas, constitui-se em título
executivo extrajudicial. É o que prevê o art. 784, III, do CPC/2015:
Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:
(...)
III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas;
Sem a assinatura das 2 testemunhas, é possível que o contrato seja considerado título executivo
extrajudicial?
• Em regra, para que o instrumento particular sirva como título executivo, é necessário que seja assinado
por 2 testemunhas.
• Excepcionalmente, mesmo sem essas duas assinaturas, é possível que o contrato continue sendo título
executivo se houver outras provas que comprovem a avença.
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 800.028/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 02/02/2016.
As testemunhas precisam presenciar as partes assinando o contrato? Todo mundo tem que assinar no
mesmo momento?
NÃO.
E se esse contrato for eletrônico? Ex: Pedro celebra contrato de mútuo com uma instituição financeira;
ocorre que o negócio é todo feito por meio de uma página na internet; não há papel; e a assinatura de
mutuário também é digital. Esse contrato pode ser considerado título executivo extrajudicial?
SIM.
O contrato eletrônico de mútuo com assinatura digital pode ser considerado título executivo
extrajudicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.495.920-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 15/05/2018 (Info 627).
Assinatura digital
Para que o contrato eletrônico possa ser considerado como título executivo, ele precisa ter sido celebrado
com assinatura digital cuja autenticidade possa ser aferida.
Existe uma “lei”, ou melhor dizendo, uma medida provisória que vigora com prazo indeterminado (art. 2º
da EC 32/2001) e que regulamenta como deve ser essa assinatura digital.
Trata-se da MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil). Veja
o que diz a MP:
Art. 1º Fica instituída a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, para garantir a
autenticidade, a integridade e a validade jurídica de documentos em forma eletrônica, das
aplicações de suporte e das aplicações habilitadas que utilizem certificados digitais, bem como a
realização de transações eletrônicas seguras.
Art. 10. Consideram-se documentos públicos ou particulares, para todos os fins legais, os
documentos eletrônicos de que trata esta Medida Provisória.
§ 1º As declarações constantes dos documentos em forma eletrônica produzidos com a utilização
de processo de certificação disponibilizado pela ICP-Brasil presumem-se verdadeiros em relação
aos signatários (...)
Chave pública
Segundo o glossário da ICP-Brasil, assinatura digital é o “código anexado ou logicamente associado a uma
mensagem eletrônica que permite de forma única e exclusiva a comprovação da autoria de um
determinado conjunto de dados (um arquivo, um e-mail ou uma transação). A assinatura digital comprova
que a pessoa criou ou concorda com um documento assinado digitalmente, como a assinatura de próprio
punho comprova a autoria de um documento escrito. A verificação da origem do dado é feita com a chave
pública do remetente.”
Desse modo, a verificação da autenticidade da assinatura digital é realizada mediante um sistema
denominado “chave pública”.
A chave pública adota um padrão de criptografia assimétrico por meio do qual o usuário assina
digitalmente o documento e uma autoridade certificadora atesta (confirma) a identidade do signatário.
Apenas para você entender, é como se essa autoridade certificadora fizesse o papel de um “cartório”
(tabelionato de notas), mas tudo on line e em fração de segundos.
Autoridade Certificadora
A Autoridade Certificadora é uma entidade que emite, renova ou revoga certificados digitais.
JUIZADOS ESPECIAIS
Ação proposta por associação de moradores cobrando
taxa de manutenção do loteamento
9.099/95. Argumentou que as “taxas” criadas pela associação não possuem natureza de “taxa
condominial”, de forma que isso não pode ser cobrado no Juizado Especial.
Quanto ao mérito, João afirmou que a cobrança é indevida considerando que ele não é filiado a esta
associação.
Pergunta inicial: o Juizado Especial Cível detém competência para julgar ação proposta por associação
de moradores visando à cobrança de taxas de manutenção de loteamento?
SIM.
Os Juizados Especiais Estaduais são regidos pela Lei nº 9.099/95.
O art. 3º trata sobre a competência dos Juizados. Repare o inciso II:
Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das
causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:
(...)
II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;
(...)
Inciso II
O inciso II do art. 3º da Lei prevê que compete ao Juizado Especial Cível julgar as causas “enumeradas no
art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil”.
Quando fala em Código de Processo Civil, ele está se referindo ao CPC/1973, considerando que a Lei nº
9.099/95 é anterior ao CPC/2015.
Desse modo, o art. 3º, II, da Lei nº 9.099/95 falou o seguinte: os Juizados Especiais são competentes para
julgar todas as causas elencadas no art. 275, II, do CPC/1973. Vejamos quais são elas:
Art. 275. Observar-se-á o procedimento sumário:
(...)
II - nas causas, qualquer que seja o valor
a) de arrendamento rural e de parceria agrícola;
b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio;
c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;
d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre;
e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo, ressalvados
os casos de processo de execução;
f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em legislação
especial;
g) que versem sobre revogação de doação;
h) nos demais casos previstos em lei.
Vale ressaltar que, mesmo o CPC/1973 tendo sido revogado, essa relação prevista no art. 275, II, do
CPC/1973 (Lei nº 5.869/73) ainda é utilizada para definir a competência dos Juizados Especiais. Isso por
força do art. 1.063 do CPC/2015, que diz o seguinte:
Art. 1.063. Até a edição de lei específica, os juizados especiais cíveis previstos na Lei nº 9.099, de
26 de setembro de 1995, continuam competentes para o processamento e julgamento das causas
previstas no art. 275, inciso II, da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973.
Assim, o condomínio possui legitimidade para ajuizar ação de cobrança de débitos condominiais no
Juizado Especial, sendo de competência do Juizado julgar esta demanda, com base no art. 3º, II, da Lei nº
9.099/95 c/c o art. 275, II, “b”, do CPC/1973.
Mas, no caso concreto, não se trata de condomínio (e sim de associação de moradores). Da mesma
forma, não se trata de taxa condominial...
O STJ falou o seguinte: realmente, são situações diferentes, porém, apresentam muita semelhança, de
forma que se pode aplicar o mesmo raciocínio jurídico para fins de fixação da competência.
A contribuição cobrada pela associação tem por objetivo o custeio das despesas e serviços relacionados à
administração das áreas comuns, exatamente como ocorre em relação às despesas ordinárias e
extraordinárias do condomínio edilício. Ademais, a cobrança dessa contribuição, em regra, segue a mesma
lógica inerente ao rateio das despesas condominiais.
Dessa maneira, sendo nítida a similaridade fática existente entre a cobrança de cotas condominiais e taxas
de manutenção pedidas por associações de proprietários e/ou moradores de loteamentos fechados, não
se vislumbra motivo razoável para impedir que as referidas associações proponham a ação de cobrança
no âmbito dos Juizados Especiais.
Os Juizados Especiais devem ser responsáveis pelo julgamento das causas mais simples, que podem ser
solucionadas de maneira mais célere e efetiva, sem as amarras formais que impregnam o processo civil
tradicional.
DIREITO PENAL
Importante!!!
Para o início da ação penal, basta a prova da constituição definitiva do crédito tributário
(Súmula Vinculante 24), sendo desnecessária a juntada integral do Procedimento
Administrativo Fiscal correspondente.
STJ. 5ª Turma. RHC 94.288-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 22/05/2018 (Info 627).
Lei 8.137/90
A Lei nº 8.137/90, em seus arts. 1º e 3º, define crimes contra a ordem tributária.
O art. 1º prevê o delito de sonegação fiscal, que é um crime tributário MATERIAL (com exceção do inciso
V, que é formal). Veja a redação do dispositivo:
Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social
e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;
II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de
qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;
III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento
relativo à operação tributável;
IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou
inexato;
V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente,
relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em
desacordo com a legislação.
Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Ao apresentar a denúncia imputando ao réu um crime material contra a ordem tributária, o Ministério
Público precisa fazer prova de que houve a constituição definitiva do crédito tributário?
SIM. É necessária a comprovação da constituição definitiva do crédito tributário a fim de que se possa
atender a exigência contida na SV 24.
Assim, na denúncia, o MP deverá indicar o número do auto de infração, cuja inscrição definitiva em dívida
ativa constituiu o crédito tributário.
Ao apresentar a denúncia imputando ao réu um crime material contra a ordem tributária, o Ministério
Público precisa juntar a integralidade do Procedimento Administrativo Fiscal?
NÃO.
Mas e se o réu quiser impugnar esse lançamento? Se ele quiser dizer que o lançamento não deveria ter
ocorrido, que não havia fato gerador, que a alíquota foi errada etc.?
Os documentos tributários e a correção ou não do lançamento já foram analisados no procedimento
administrativo fiscal. Se o réu ainda deseja questioná-los judicialmente, apontando alguma irregularidade
ou equívoco no procedimento tributário, deverá fazê-lo por meio de ação judicial própria (ação anulatória,
mandado de segurança etc.), não podendo questionar a constituição definitiva do crédito tributário na
esfera criminal.
Assim, não se revela necessária a juntada dos documentos tributários, mas apenas a comprovação da
constituição definitiva do crédito tributário. Eventual questionamento da constituição do tributário não
pode ser feito no juízo criminal, cabendo ao réu se valer dos meios próprios para tanto.
Nesse sentido:
(...) 2. É descabida a discussão sobre a nulidade ou não do procedimento administrativo fiscal em processo
criminal. A alegação da existência de vícios no referido procedimento deve ser manejada na esfera
adequada para o exercício da pretensão anulatória do crédito tributário, e não no âmbito da Justiça
Criminal. (...)
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 469.137/RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 05/12/2017.
Dizendo isso de forma bem clara: a constituição definitiva do crédito tributário não pode ser anulada,
desfeita, desconstituída no processo penal.
Em suma:
O crime tributário material somente se consuma quando houver a constituição definitiva do crédito
tributário, nos termos da SV 24.
Para o início da ação penal, basta a prova da constituição definitiva do crédito tributário, não sendo
necessária a juntada integral do Procedimento Administrativo Fiscal (PAF) correspondente.
Se o réu deseja questionar a validade do crédito fiscal, deve fazer isso por meio da ação própria, no Juízo
cível. É descabida a discussão sobre a nulidade ou não do Procedimento Administrativo Fiscal no
processo criminal.
Caso a defesa entenda que a documentação apresentada pelo Parquet é insuficiente e queira esmiuçar
a dívida, pode apresentar cópia do referido PAF ou dizer que está tendo obstáculos administrativos de
conseguir os autos.
Se houver qualquer obstáculo administrativo para o acesso ao procedimento administrativo fiscal
respectivo, a parte pode sugerir ao Juiz sua atuação até mesmo de ofício, desde que aponte qualquer
prejuízo à defesa que possa interferir na formação do livre convencimento do julgador.
STJ. 5ª Turma. RHC 94.288-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 22/05/2018 (Info 627).
TRIBUNAL DO JÚRI
Sustentação oral em tempo reduzido
Diante das peculiaridades do Tribunal do Júri, o fato de ter havido sustentação oral em plenário
por tempo reduzido não caracteriza, necessariamente, a deficiência de defesa técnica.
STJ. 6ª Turma. HC 365.008-PB, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 17/04/2018 (Info 627).
Obs: existe decisão reconhecendo a ocorrência de nulidade pelo simples fato de a sustentação oral ter
sido feita em poucos minutos: STJ. 6ª Turma. HC 234.758-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado
em 19/6/2012. No entanto, entendo que a posição majoritária é no sentido que isso não conduz,
obrigatoriamente, à nulidade, conforme decidido no HC 365.008-PB.
O tema é pacífico?
NÃO. Existe decisão reconhecendo a ocorrência de nulidade pelo simples fato de a sustentação oral ter
sido feita em poucos minutos: STJ. 6ª Turma. HC 234.758-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
19/6/2012.
No entanto, entendo que a posição majoritária é no sentido que isso não conduz, obrigatoriamente, à
nulidade, conforme decidido no HC 365.008-PB:
(...) embora seja realmente estranho que um advogado, durante a plenária do Tribunal do Júri, faça uso
da palavra por apenas onze minutos, isso pode, de acordo com as peculiaridades que sabemos haver no
Tribunal do Júri, decorrer de uma percepção ou de uma sinalização de que a providência máxima a ser
alcançada independerá de esforço maior. Ainda é possível ser o defensor dotado de um poder de síntese
muito grande ou, até mesmo, sinalizar essa postura uma conformidade entre as partes, visto que houve
um pedido inicial de homicídio qualificado e o próprio Ministério Público retirou da acusação a
qualificadora. (...)
STJ. 6ª Turma. HC 288.978/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para o acórdão Min. Rogerio Schietti,
julgado em 15/3/2018.
(...) 1. Segundo a legislação penal em vigor, é imprescindível quando se trata de alegação de nulidade de
ato processual a demonstração do prejuízo sofrido, em consonância com o princípio pas de nullité sans
grief, consagrado pelo legislador no art. 563 do CPP.
2. Conforme informação prestada pelo Tribunal de origem, o recorrente não esteve indefeso durante a
sessão de julgamento, apenas porque o defensor foi sucinto, objetivo, pugnando pela absolvição do
acusado, pelo argumento da tese de negativa de autoria. Prejuízo para defesa não demonstrado. (...)
STJ. 5ª Turma. RHC 480.001/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, DJe 23/6/2017.
EXERCÍCIOS
Gabarito
1. C 2. C 3. E 4. E 5. E 6. E 7. C 8. E 9. E 10. C
11. C 12. C 13. E 14. C