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MINHA CASA MENTAL

contos para crianças

Carlos Bernardo Gonzalez Pecotche


MINHA CASA MENTAL

contos para crianças

(Traduzido do espanhol por Hugo Teixeira de Carvalho)

(Transcrição para Braille por Raul Alves de Oliveira)

OBRA PÓSTUMA

CARLOS B. GONZALEZ PECOTCHE

1972 ANO INTERNACIONAL DO LIVRO

© Copyright by EDITORIAL SER – Buenos Ayres – Argentina

Editora Logosófica – São Paulo – 1972

Os direitos da tradução pertencem à Fundação Logosófica (Em Prol da Superação


Humana), com sede no Rido de Janeiro (Gb), à Rua General Polidoro, 36.
A PAIS E EDUCADORES

A infância integra o vasto plano educativo da cultura logosófica e MINHA CASA


MENTAL é um atestado de nossa preocupação para despertar na criança a realidade da
vida consciente – atividade não ensaiada ainda pela pedagogia oficial -, indispensável para
preservá-la dos perigos mentais a que sempre se acha exposta.
Nossa pedagogia se dirige à vida interna da criança. Profunda em seus alcances, é, não
obstante, de rápida assimilação, em parte pela simplicidade e clareza de seus conceitos, em
parte porque penetra a fundo em sua intimidade e toma contato com o espírito individual.
Trata-se de uma educação psicológica que este absorve sem esforço algum, enquanto
colabora em sua assimilação. Desse modo o menino pratica uma ginástica mental que nutre
com naturalidade sua inteligência e ao mesmo tempo a fortalece.
MINHA CASA MENTAL não constitui só um mero entretenimento. Corresponde a um
propósito ao mesmo tempo recreativo e formativo, orientado para o desenvolvimento
gradual da vida consciente. Seus relatos descrevem fatos reais, através dos quais o menino
aprende a ver os pensamentos como hóspedes mentais, hóspedes com vida própria, que não
atuam ao acaso, mas em função de estímulos diretos, internos e externos. A criança se
habitua, assim, a captar seus impulsos e a exercitar seu entendimento na análise das causas
que os motivam.
Se levarmos em conta que o menino é um ser em formação, apto para responder às
demandas de uma crescente superação mental, moral e espiritual, será fácil medir a
importância que assume modelar sua psicologia com elementos propícios. Do ponto de
vista logosófico, a plástica mental cumpre essa finalidade, conformando o pensar e o sentir
do educando por meio de imagens vivas, reais, palpáveis, adequadas à sua incipiência
mental e isentas de condimentos estranhos e nocivos à sua débil constituição
psicoespiritual.
Não projetemos sombras chinesas sobre as mentes infantis. A cultura logosófica sustenta
que toda narração, relato ou conto baseados em quimeras costumam ser nocivos ao
desenvolvimento natural das aptidões mentais e espirituais do menino, pois, do mesmo
modo que debilitam sua vontade, embriagam sua imaginação e o inclinam a desfrutar
preferencialmente do fácil e ilusório. Intencionalmente, afastamos de nossa didática tudo o
que tende a desviar a imaginação, por conceituarmos – já o dissemos – que o mágico, o
quimérico, o fantástico, conspiram contra a formação consciente e sensata da criança e, por
conseguinte, contra a saúde mental do futuro adulto.
Instruamos, pois, o menino no conhecimento dos pensamentos e da atividade que estes
exercem dentro da mente. MINHA CASA MENTAL lhe ensina que existem pensamentos
bons e maus. Ensina-lhe também a separar-se dos maus, levando-o a conhecer suas
conseqüências presentes e a vislumbrar as futuras, e o faz provar as vantagens e alegrias
promovidas pelo cultivo dos bons.
Trapacinha

Sabe o que é um divida? Não? Pois convido você a pensar nisso.


Vejamos agora se sua resposta coincide com esta: uma divida é o saco de balas, a caixa de
brinquedos ou a bola de futebol que compramos sem entrega imediata de dinheiro,
comprometendo-nos a pagá-la dentro de um prazo combinado.
Sabe o que é um valor? Um valor é, por exemplo, fazer se responsável dessa dívida e saldá-
la sem que ninguém tenha de censurá-lo em nada.
A esse valor denominamos honestidade. Não é o único; a outros, a justiça por exemplo.
Hoje resolvi falar lhe de Trapacinha. Mas antes queria interessá-lo seriamente nisto: um
divida por insignificante que seja, diminui valores em lugar de somá-los.
Bem, Trapacinha é reconhecido pelo talento de suas artimanhas, pela variedade de suas
astúcias, de seus ardis, de suas tramas. Quem lhe deu um lugar em sua casa mental costuma
considerar-se muito esperto na arte do engano.
Luizinho, um menino dentre tantos, sujeito, como outros, aos assédios de Trapacinha, se
perguntava se seria em realidade mau trocar um lápis de cor por um livro ou por um álbum
de figurinhas. Mas trapacinha, de seu posto de vigilância, pequeno como um dedal, lhe fez
chegar sua mensagem com a velocidade de um raio. E Luízinho pensou: “Que tolo sou.
Que tem de mal? É um jogo, uma demonstração de esperteza.”
Outro dia indeciso, Luizinho se perguntava se seria desonesto, como asseguram alguns,
destacar-se na sala de aula com a leitura de uma formosa composição que não havia sido
feita por ele. Certeiro e ágil como sempre, Trapacinha lhe fez chegar a mensagem. Livre de
dúvidas, o menino se animou: Desonesto? E o que se ganha? Vamos, molóide quem não
arrisca não petisca.
O pior é que para o velhaco ocupante da casa mental não basta que seus companheiros
façam de vez em quando tais coisas ou outras semelhantes, pois um mau momento qualquer
pessoa tem. Não ele quer que suas trapaças se repitam e repitam para que se desenvolva nos
meninos um defeito muito feio, que você, sem dúvida, sabe qual é.
Recordo que perseguido por Trapacinha, um menino se tornou tão hábil em idear tretas, que
sua propensão a enganar, a enredar, a trapacear, a fazer e passar gato por lebre o havia
convertido pouco a pouco, enquanto ia crescendo e se tornava homem, num especialista de
fraude. Por essa razão uns o chamavam de trapaceiro, trapacinha e outros. Mas como esse
caminho se chega a nada bom, casado já e com filhos, o desalojaram um dia de sua casa e o
afastaram do emprego por ser devedor fraudulento. Isto é, caloteiro. Sua mulher chorava
desconsolada e seus pobres filhos tiveram de sofrer muitas penúrias.
Felizmente, esse homem, ao ver tanta dor em torno de si, resolveu mudar de vida,
convencido afinal, daquilo que disse antes: as dívidas diminuem os valores ao invés de
aumentá-los.
Bem, agora você conhece as artimanhas de trapacinha. Sabe que começa inspirando
pequenas argúcias; que treina depois os meninos na arte de dissimular esquecimentos e
inventar mentiras para não enfrentar suas dívidas; que à medida que passa o tempo,
converte as pequenas tretas em hábitos contagiosos e doentios que terminam por edificar
em quem os abriga em sua casa mental uma vida infeliz.
Você gostaria de ser intermediário, títere, representante de Trapacinha?
Pense e responda você mesmo.

* Retire do saco o pote cilíndrico mais comprido.


Sujeirinha

Sujeirinha se destaca pelo seu aspecto desarrumado. É o inimigo número um do sabão e da


toalha, o inimigo número um da higiene, porém o amigo mais fiel dos contágios e das
infecções.
Encanta-lhes instalar-se na casa mental das crianças para infundir-lhes, a partir dali, seus
feios hábitos. Mas sua presença é percebida com facilidade: basta uma simples olhadela.
Apesar disso, sujeirinha conta com muitos amigos, não só entre as crianças, mas também –
isto é que é o pior – entre os adultos, pelo fato de que os maus hábitos da infância
costumam crescer com o tempo e permanecem toda a vida.
Quando sujeirinha contagia as crianças com seu desleixo, estas logo lançam ao
esquecimento todas as recomendações que recebem de seus pais. Eis aqui um caso:
Teresinha tinha dez anos quando. Por inadvertência, começou a prestar atenção aos
cochichos do feio pensamento. Seu lindo rostinho, doce e vivo, mudou de expressão, sem
melhorar. É natural, porque Teresinha pensava agora de maneira muito diferente. (“ De que
maneira me serviu até agora ser tão cuidadosa? O tempo que Júlia e Alice empregam em ler
revistas ou em brincar, eu o gasto em fazer os deveres, em trocar a capa dos cadernos, em
ordenar todas as minhas coisas. E que ganho com isso se a professor esquece de corrigi-los?
Enquanto me aborreço, pondo as coisas em ordem e limpando, elas brincam, alegres e
despreocupadas”).
Alheia às investidas de seu perseguidor. Teresinha começou a ceder e, como é lógico,
pouco a pouco. Sujeirinha foi ficando cada vez mais audaz. Choviam sobre ela as idéias
mais convincentes, mas muito enganadoras! E que enganadoras! (“Agora sim, a vida
tornou-se menos complicada! A quem interessa se os deveres não estão caprichados? A
quem interessa se os vestidos não estão impecáveis? A quem interessa o penteado, as
unhas, as meias e os sapatos? Futilidades! Manias de gente exagerada”).
E enquanto Teresinha cedia e cedia aos puxões mentais daquele mau amigo, sua professora
começava a alarmar-se. Que estava ocorrendo à boa aluna que , de repente apresentava os
cadernos desarrumados, com folhas manchadas e capas rasgadas? E seus cabelos? Parecem
um ninho de guaxe. Sim, de guaxe, de guaxe.
Um dia começou a sentir-se sozinha, muito sozinha. É natural, os meninos asseados
procuram a companhia de meninos asseados. E ela havia deixado de ser assim.
Não obstante, não lhe faltavam recursos para defender-se de Sujeirninha. Apenas uma
sacudidela, nada mais que uma sacudidela.

Mão de Gato

Este sim que é aborrecido! Um aborrecido de marca maior! Vive inspirando travessuras aos
meninos. Algumas, muito poucas, inofensivas; mas outras, em grande parte, terríveis!
Mão-de-Gato é um pensamento esm fazer jogar pedras e esconder a mão. Adestra os
meninos na arte sem graça de prejudicar e incomodar meio mundo, mas, quando chega o
momento de prestar contas ou de tomar a responsabilidade, infunde-lhes a picardia da
dissimulação, com o que os priva de exercer a valentia.
Era isso justamente o que acontecia com Daniel. Entre outras coisas, agradava a Daniel
quebrar vidraças a pedradas, e ninguém sabia disso! Quando não tinha a seu alcance o
tronco de alguma árvore corpulenta ou qualquer outro esconderijo, recorria à astúcia. Quem
iria duvidar da "inocência" desse rapazinho que caminhava pela rua lendo um livro ou uma
revista, sem despertar suspeitas?
Outra das predileções que mão-de-gato lhe infundia era a de lambuzar as fachadas das casas
com desenhos horríveis, travessura da qual escapava sempre com sorte, graças a sua astúcia
e às suas pernas, que lhe permitiam desaparecer como um gamo veloz.
Seu próprio pai custou a convencer- se de que era ele quem metia pregos no guarda roupas,
provocando estragos nas roupas. Como suspeitar de Daniel, se na casa o único que andava a
toda hora com o martelo era Carlos, o mais novo de seus filhos?
E aqui não terminam as artes de mão-de-gato, pois além de encantar seu amigo com tantas
e tão daninhas travessuras, convertia-o em mentiroso. De outro modo, como escapar das
punições? E não só mentiroso, mas, também indiferente à dor dos seus irmãozinhos, que
carregavam suas culpas, ou à de algum companheiro de escola, maliciosa e injustamente
acusado de haver posto um alfinete na cadeira da professora.
Daniel, porém ainda era menino e pode corrigir a tempo o defeito inculcado por mão-de-
gato.
De que forma conseguiu tirar de si tão endiabrado pensamento?
Você gostaria de saber, não é?
Bom, foi muito fácil: cada vez que se sentia perseguido por ele, detinha se, pensava um
instante, e imediatamente se aquietava o desejo de satisfazê-lo. Por exemplo: um dia, quase
na hora do lanche, passou pela copa justamente quando a criada colocava um prato de
pastéis sobre a mesa. Que bela oportunidade! Era fácil encher os bolsos e culpar Carlos ou
apontar o bichano como autores do furto. Mas algo muito sutil o conteve: um pensamento
bom, sem dúvida! E ali foi o difícil, porque também mão-de-gato defendia seu reinado na
casa mental.
Passou um tempo, um longo tempo entre o "faço" e o "não faço" até que, ao final, decidiu
valentemente derrotar o intruso.
Pouco tempo depois, sentados em torno da mesa, a mamãe punha com amor um prato cheio
de pastéis diante do filho. Que prêmio, heim Daniel? Nem poderia suspeitar!
Daí por diante mão-de-gato não voltaria a dar lhe trabalho, porque o menino, que havia sido
terrível até aquele dia, começava a aproveitar as compensações que produzem os esforços e
a valorizar o afeto de todos que o rodeavam.

Toribio

Na aparência Toríbio é um palhaço divertido. Com seu descaramento e sua vivacidade,


sabe cativar as crianças de tal modo que rara vez elas conseguem desprender-se de suas
armadilha. Hoje, porém, vamos desmascará-lo, para que se veja como é incômodo esse
velhaquete.
Toribio ri, ri e ri. E como as crianças que se habituam as suas maldades não levam nada a
sério, ninguém leva a sério o que fazem e dizem essas crianças.
Sob sua máscara risonha, Toribio oculta um rosto no qual se percebem claramente suas
intenções. O danado do ladino, quando consegue provocar um alvoroço, não enfrenta nunca
as conseqüências, mas sim deixa que seus festejadores se arranjem com elas como possam.
Então vem a reprimenda, e como são duras, às vezes!
Toríbio tem o péssimo defeito de exceder-se. A primeira vista, qualquer um diria que só
quer converter a vida das crianças em permanente algazarra. Mas não é assim, ao contrário!
Gosta de transformar seus risos em lágrimas amargas.
Ele não ensina as vantagens do estudo, ou as do trabalho, ou as de tudo que vai
contribuindo para fazer, das crianças, pessoas úteis. Que esperança! Nem sonhar! Toribio
as distrai, afasta as de toda ocupação útil e faz tudo para que as puras carinhas infantis se
convertam em um feio mostruário de caretas. Faz as crianças perderem tempo e as torna
com seus trejeitos, tão aborrecidas, que freqüentemente tiram a calma do papai mais
tolerante.
Ah, se as crianças não lhe fizessem tanto caso! Se deixassem de zombar às escondidas da
atarefada professora, ou de arremedar o velhinho manco que vende balões na praça! Se
deixassem de revirar os olhos imitando o porteiro vesgo da escola! Então sim, pouco a
pouco Toríbio iria perdendo seu reinado na casa mental e desapareceriam esses cartazinhos
humilhantes que penduram nas costas de outras crianças, ou bilhetinho piadista e
irreverente que anda de mão em mão em plena sala de aula.
O coração das crianças, o de todas as crianças, é bom, muito bom. Se de vez em quando os
amiguinhos de Toribio recordassem o bem que recebem de muitas pessoas que são alvo de
suas zombarias, acabariam também os gracejos de mau gosto e cederiam ao desejo de dar a
essas pessoas a consideração e o respeito que merecem.
Veja o que aconteceu a um jovenzinho que parecia incorrigível. Despreocupado e pouco
afetuoso. Jorge tinha, não obstante, certa preferência pelo pequeno Roque, de quem
costumava mostrar se protetor.
Porque, enquanto ele era sadio e forte. Roquinho era um garoto miúdo, de pouca saúde e
extremamente tímido. Aconteceu, porém que Toribio, incansável e sem escrúpulos em seu
afã de inspirar ao robusto Jorge novas aventuras, um dia escolheu o seu pequeno amigo
para vítima de suas mortificações. Prontamente surgiu em sua casa mental a seguinte
decisão: [“Dependure nele estes guizos, antes de ele ir à frente! Mãos à obra, não percam a
oportunidade! Vamos, vamos! Isso vai ser de abafar!"].
E assim quando chegou sua vez de dar a lição sobre as invasões inglesas, Roquinho se pôs
de pé e avançou confiante de sua carteira.
Porém, oh! Surpresa! Um fio de algodão, serpenteava entre suas pernas, em cuja ponta o
“clic-clic-clic” ia deixando pra trás uma torrente de gargalhadas.
Não demorou que o menino compreendesse o que estava sucedendo e, cada vez mais sem
jeito, parou um instante colhido por uma vertigem de sensações estranhas. Imediatamente,
escapando aturdido da barafunda infernal, lançou se nos braços de sua professora! Que
doces, que ternas foram para ele suas carícias!
Um respeitoso silêncio apagou instantaneamente os risos. E já não houve necessidade de
repreender a Jorge, pois a própria força do silêncio se encarregou de dar ao palhaço da
classe uma lição inesquecível.
Observe agora como é necessário o aprender a defender-se dos excessos de Toríbio. Você
que ainda é novo procure não divertir se demasiadamente com Toribio, nem dar o seu
aplauso ao companheiro que, por levá-lo em sua casa mental, se conduz como um pobre
fantoche desse pensamento abobalhado.

*Retire do saco o potinho cilíndrico mais curto.


Ducontra

Sabe o que é por o pé num formigueiro? Não? Bem, nunca se assentou sobre um montão de
espinhos? Nem isto, não é assim? Pois se deseja sabê-lo, não lhe aconselho o caminho da
experiência pessoal.
Conhece Ducontra, o rei da desobediência? Se deseja conhecê-lo, não lhe aconselho o
caminho da amizade com ele.

Para que tenha idéia de quem é este personagem e o que ele faz, vou contar-lhe as
desventuras de um menino chamado Inácio.
No dia de seu aniversário, os pais o tinham presenteado com um lindo cachorrinho, de cuja
coleira pendia este enternecedor cartãozinho: “Inácio, seja bom comigo”.
Ele foi bom, sim; um dia, dois, três, até que começou a experimentar o maldoso prazer de
incomodá-lo. Agradava-lhe ouvi-lo uivar, achava graça nas suas raivinhas caninas.
De repente, vendo o cartãozinho, olhou-o com desprezo. (“Afinal de contas, de quem é o
cachorrinho?...Vou arrancá-lo”).
E, zás! Lá se foi o cartãozinho.
Sem dar-se conta de onde vinham tais idéias, Inácio lançou um diabólico olhar para o
cachorro. (“Farei com ele o que me der na telha”).
O que lhe estava acontecendo?
Não se esqueça que Inácio é amigo de Ducontra, que Ducontra observa tudo e que, quando
os meninos estão distraídos, plaff! Cai sobre eles e finca-lhes o ferrão da desobediência.
Instigado por Ducontra, começaram pois as estrepolias. (“E se lhe puxar o rabo?”)
Alguns uivos queixosos demonstraram como Inácio errava em seu papel de amo.
Aos puxões de rabo seguia-se logo um pontapé humilhante, o primeiro que o pobrezinho
recebia em sua curta vida de cão.
As heresias continuaram, e o animalzinho agüentava e agüentava. Mas, como bom “fox-
terrier”, também ele, embora cachorro, tinha seu caráter. Cansado, atormentado, dolorido,
não quis saber de mais nada com seu amo, e de repente, nhac!, deu-lhe uma mordida no
nariz.
Uivando de susto mais que de dor, tal como uivava seu cachorrinho quando ele o torturava,
Inácio correu em busca da mamãe. Ela lavou com água e sabão a pequena ferida e aplicou-
lhe um antisséptico de cor vermelho. Desapareceu a dor e desapareceram os choros. Mas,
aquele nariz... Inchado pela mordida e vermelho pela tintura, mais que um nariz parecia
ujm piment5ão.
Os irmãos zombavam de Inácio, Inácio chorava de raiva e Ducontra, triunfante, descansava
satisfeito, enquanto o herói da aventura, caninamente arrependido, se havia enroscado em
um canto, de orelhas murchas.
Aquilo passou!
Em outra ocasião, papai e mamãe levaram Inácio e seus irmãos para passar o dia no campo.
Todos haviam recebido já a prudente advertência de conformar-se com olhar as frutas das
árvores, mas não tocá-las e nem comê-las.
-Parecem maduras, mas não estão; podem fazer-lhes mal, relembrou a mamãe quando iam
chegando à chácara.
Os meninos, obedientes, aproveitaram então aquele imenso espaço para brincar de esconde-
esconde. Todos, menos Inácio. O escravo de Ducontra se valeu do brinquedo para realizar
seu próprio brinquedo, quer dizer, a arte do Ducontra. (“Que se escondam eles. Eu vou
visitar o pomar”).
Ela foi com a desobediência às costas, isto é, com Ducontra em sua casa mental.
O olhar de Inácio percorria cuidadosamente os ramos das árvores. (“Aquele pêssego está
amadurecendo”).
Aproximou-se do fruto e o acariciou com gulodice (“Vou comê-lo!”).
Jogando o caroço quis acertar um pássaro, sem atingir o alvo.
Avançou um pouco mais e, depois de um breve assovio de admiração, viu umas sete ou oito
ameixas, que não mais chegariam a amadurecer.
A inspeção continuou com entusiasmo. Na ponta dos pés alcançou uma pêra, fincando a
unha em sua polpa. (“Hum!, muito verde. Aquela parece boa!”).
Também as pereiras sofreram o estrago.
Ao anoitecer, de volta para casa, Inácio começou a sentir as primeiras cólicas. Como a dor
ia aumentando, a mãe, trim-rim-rim...,
Pobre Inácio! Enquanto ele tomava uma horrível colherada de óleo de rícino, seus irmãos
saboreavam o delicioso doce de figo que dona Laura havia guardado para eles.
Isso também passou.
-Inácio! Meu filho! Não pule assim na escada. Cuidado, que você cai daí! – foi a primeira
advertência de uma série de advertências.
Mamãe voltou a suas tarefas, Ducontra voltou às provocações e Inácio às corridas.
Os pulos continuaram. De cima pra baixo, de baixo pra cima. Em um desses, cataplum!
-Teve sorte, senhora – disse o médico depois de examiná-lo. Seu filho não quebrou nenhum
osso, mas tem o corpo cheio de contusões.
Acredita você que Ducontra é realmente um amigo?
Volto ao que disse no começo: É preferível por o pé num monte de terra cheio de formigas
ou sentar-se num montão de espinhos, que ser amigo desse rei da desobediência.
Cuidado com Ducontra e seus maus conselhos!

*Retire do saco o pote triangular.

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