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Informativo 625-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITO À SAÚDE
Requisitos para a concessão judicial de medicamentos não previstos pelo SUS.
DIREITO ADMINISTRATIVO
ACUMULAÇÃO DE CARGOS
Auditor Fiscal do Trabalho não pode acumular seu cargo com outro da área de saúde.
FGTS
Aplica-se a TR para contas vinculadas ao FGTS.
ROYALTIES
Pontos de entrega de gás canalizado e pagamento de royalties.
DIREITO AMBIENTAL
INFRAÇÃO AMBIENTAL
Apreensão de veículo utilizado no carregamento de madeira sem autorização
DIREITO CIVIL
CONTRATO DE SEGURO
Súmula 616-STJ.
É vedada a exclusão de cobertura de seguro de vida em razão da embriaguez do segurado.
INVENTÁRIO
Averbação das modificações realizadas em imóveis como condição para o inventário.
DIREITO PENAL
HOMICÍDIO
Motivo torpe e feminicídio: inexistência de bis in idem.
NULIDADES
O simples fato de o juiz ser “duro” no interrogatório não implica quebra da imparcialidade.
EXECUÇÃO PENAL
Remição pelo trabalho antes do início da execução da pena.
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITO À SAÚDE
Requisitos para a concessão judicial de medicamentos não previstos pelo SUS
Importante!!!
A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a presença
cumulativa dos seguintes requisitos:
(I) comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por
médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim
como da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;
(II) incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito; e
(III) existência de registro na ANVISA do medicamento.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.657.156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 25/04/2018 (recurso
repetitivo) (Info 625).
O juiz pode obrigar que o Estado forneça esse medicamento? O Poder Judiciário pode determinar que o
Poder Público forneça remédios que não estão previstos na lista do SUS?
SIM, mas desde que cumpridos três requisitos fixados pelo STJ.
A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a presença
cumulativa dos seguintes requisitos:
1) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por médico que
assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da ineficácia,
para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;
2) Incapacidade financeira do paciente de arcar com o custo do medicamento prescrito; e
3) Existência de registro do medicamento na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
STJ. 1ª Seção. REsp 1657156-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 25/04/2018 (recurso repetitivo).
Fundamento constitucional
O direito à saúde foi consagrado pela Constituição Federal de 1988 como direito fundamental do cidadão,
corolário do direito à vida, bem maior do ser humano.
O art. 196 do Texto Constitucional estabelece que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.
A propósito do tema, o STF, ao interpretar os arts. 5º, caput, e 196 da CF/88, consagrou o direito à saúde
como consequência indissociável do direito à vida, assegurado a todas as pessoas (STF. 2ª Turma. ARE
685.230 AgR/MS, Rel. Min. Celso de Mello, DJe de 25/03/2013).
Para alcançar esse objetivo, a Carta Constitucional determinou a criação de um sistema único de saúde
(SUS), que tenha como uma de suas diretrizes o “atendimento integral” da população (art. 198, II, da
CF/88).
Fundamento infraconstitucional
A fim de dar concretude ao SUS, foi editada a Lei nº 8.080/90, que prevê que o Poder Público deverá
fornecer assistência integral, inclusive farmacêutica:
Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições
indispensáveis ao seu pleno exercício.
§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas
econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no
estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços
para a sua promoção, proteção e recuperação.
(...)
Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas
federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo
Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS).
(...)
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):
I - a execução de ações:
(...)
d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;
Em 2011, foi editada a Lei nº 12.401/2011 que incluiu diversos dispositivos na Lei nº 8.080/90 tratando
sobre a assistência terapêutica e prevendo o fornecimento de medicamentos. Veja o que diz o art. 19-M,
um dos dispositivos acrescentados:
Art. 19-M. A assistência terapêutica integral a que se refere a alínea d do inciso I do art. 6º consiste em:
I - dispensação de medicamentos e produtos de interesse para a saúde, cuja prescrição esteja em
conformidade com as diretrizes terapêuticas definidas em protocolo clínico para a doença ou o
agravo à saúde a ser tratado ou, na falta do protocolo, em conformidade com o disposto no art.
19-P;
(...)
O art. 19-P afirma que a dispensação (fornecimento) de medicamentos será feita com base no protocolo
clínico ou de diretriz terapêutica e, na falta disso, com base nas relações de medicamentos do SUS:
Art. 19-P. Na falta de protocolo clínico ou de diretriz terapêutica, a dispensação será realizada:
I - com base nas relações de medicamentos instituídas pelo gestor federal do SUS, observadas as
competências estabelecidas nesta Lei, e a responsabilidade pelo fornecimento será pactuada na
Comissão Intergestores Tripartite;
II - no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, de forma suplementar, com base nas relações
de medicamentos instituídas pelos gestores estaduais do SUS, e a responsabilidade pelo
fornecimento será pactuada na Comissão Intergestores Bipartite;
III - no âmbito de cada Município, de forma suplementar, com base nas relações de medicamentos
instituídas pelos gestores municipais do SUS, e a responsabilidade pelo fornecimento será
pactuada no Conselho Municipal de Saúde.
O art. 19-Q trata sobre o procedimento para incorporação, exclusão ou alteração, pelo SUS, de novos
medicamentos:
Art. 19-Q. A incorporação, a exclusão ou a alteração pelo SUS de novos medicamentos, produtos
e procedimentos, bem como a constituição ou a alteração de protocolo clínico ou de diretriz
terapêutica, são atribuições do Ministério da Saúde, assessorado pela Comissão Nacional de
Incorporação de Tecnologias no SUS.
(...)
O STJ entende que o fato de o medicamento não integrar a lista básica do SUS não tem o condão de eximir
os entes federados do dever imposto pela ordem constitucional, porquanto não se pode admitir que
regras burocráticas, previstas em portarias ou normas de inferior hierarquia, prevaleçam sobre direitos
fundamentais (STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 405.126/DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, DJe 26/10/2016).
Vamos agora fazer algumas observações sobre os três requisitos impostos pelo STJ:
PRIMEIRO requisito
O primeiro requisito exigido pelo STJ foi o seguinte:
“Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por médico que
assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da ineficácia, para
o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;”
Sobre esse primeiro requisito, é importante que sejam feitas três observações:
Primeira observação. Na I Jornada de Direito da Saúde, organizada pelo CNJ, foi aprovado o enunciado 15
dizendo como deve ser este laudo médico. O STJ acolhe esse enunciado. Veja a sua redação:
Desse modo, a parte, quando for fazer o pedido do medicamento junto ao Poder Judiciário, deverá ficar
atenta a isso.
Segunda observação. Este laudo médico não precisa ser assinado por médico vinculado ao SUS:
“(...) Ressalte-se, ainda, que não há no ordenamento, jurídico brasileiro qualquer exigência que condicione
o fornecimento de medicamento à prescrição exclusivamente por médico da rede pública. (...)” (STJ. AgInt
no REsp 1.309.793/RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe de 07/04/2017).
Assim, o laudo deve ser emitido pelo médico que assiste o paciente, seja ele público ou privado.
Em outras palavras, o remédio pedido judicialmente deve ser imprescindível ou necessário e aqueles que
existem no SUS não podem substitui-lo.
(...) O Supremo Tribunal Federal tem se orientado no sentido de ser possível ao Judiciário a determinação
de fornecimento de medicamento não incluído na lista padronizada fornecida pelo SUS, desde que reste
comprovação de que não haja nela opção de tratamento eficaz para a enfermidade. (...)
STF. 1ª Turma. RE 831.385 AgR/RS, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de 06/04/2015.
(...) A alegada circunstância de que o medicamento Lantus não consta da lista de medicamentos do SUS deve
ceder lugar às afirmações do médico que a acompanha, quando afiança que todos os tratamentos
disponibilizados pela rede pública e já ministrados à menor mostraram-se ineficazes no combate aos vários
episódios de hipoglicemias graves, com perda de consciência e crises convulsivas por ela sofridas. (...)
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.068.105/RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, DJe de 30/06/2016.
SEGUNDO requisito
Vamos relembrar o segundo requisito exigido pelo STJ: “incapacidade financeira de arcar com o custo do
medicamento prescrito”.
Desse modo, o segundo requisito consiste na devida comprovação da hipossuficiência daquele que requer
o medicamento, ou seja, que a sua aquisição implique o comprometimento da sua própria subsistência
e/ou de seu grupo familiar.
Atenção! Não se exige comprovação de pobreza ou miserabilidade, mas, tão somente, a demonstração da
incapacidade de arcar com os custos referentes à aquisição do medicamento prescrito.
Ex: a pessoa pode ser servidora pública, concursada, recebendo R$ 5 mil por mês; neste caso, não se trata
de pessoa pobre; o remédio, contudo, custa R$ 100 mil cada dose. Ela não terá condições de adquiri-lo,
preenchendo, portanto, o presente requisito.
TERCEIRO requisito
O terceiro requisito exigido pelo STJ diz respeito à “existência de registro na ANVISA do medicamento”.
Assim, exige-se que o medicamento pretendido já tenha sido aprovado pela ANVISA.
Esta exigência decorre de imposição legal, tendo em vista o disposto no artigo 19-T, II, da Lei nº 8.080/90:
Art. 19-T. São vedados, em todas as esferas de gestão do SUS:
I - o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento, produto e procedimento
clínico ou cirúrgico experimental, ou de uso não autorizado pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária - ANVISA;
II - a dispensação, o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento e produto,
nacional ou importado, sem registro na Anvisa.
Fazendo uma interpretação teleológica do art. 19-T, verifica-se que a intenção do legislador foi a de
proteger o cidadão dos medicamentos experimentais, sem comprovação científica sobre a eficácia, a
efetividade e a segurança do medicamento, a fim de assegurar o direito à saúde e à vida das pessoas.
Dessa forma, a tese fixada neste julgamento não vai afetar os processos que ficaram sobrestados
aguardando a definição do tema.
E a oferta de procedimentos terapêuticos não previstos na lista do SUS (inciso II do art. 19-M da Lei nº
8.080/90)?
O julgado acima comentado não abarca essa hipótese. O STJ e o STF ainda terão que se debruçar sobre
essa discussão. A “tendência”, contudo, na minha opinião, será adotar os mesmos critérios acima
explicados.
DIREITO ADMINISTRATIVO
ACUMULAÇÃO DE CARGOS
Auditor Fiscal do Trabalho não pode acumular seu cargo com outro da área de saúde
O Auditor Fiscal do Trabalho, com especialidade em medicina do trabalho, não pode cumular
o exercício do seu cargo com outro da área de saúde.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.460.331-CE, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria,
julgado em 10/04/2018 (Info 625).
João foi aprovado no concurso para exercer o cargo de Médico de um hospital federal.
Surgiu, no entanto, a dúvida se seria possível ele acumular os dois cargos com base no art. 37, XVI, “c”, da
CF/88. Vale ressaltar que há compatibilidade de horários.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.460.331-CE, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria,
julgado em 10/04/2018 (Info 625).
As funções do Auditor Fiscal do Trabalho, com especialidade em medicina do trabalho não se relacionam
diretamente à prestação de serviços médicos à população.
Os Auditores Fiscais do Trabalho são agentes do Estado que analisam as condições de trabalho, as
situações das empresas, liberando estas ou fazendo-lhes exigências de ajustes, funções que não são
específicas do cargo de Médico (art. 11 da Lei nº 10.593/2002).
Assim, o fato de haver cargo de Auditor Fiscal, com exigência de pós-graduação na área de medicina do
trabalho não significa que seus ocupantes – obrigatoriamente médicos – estejam exercendo a medicina
propriamente dita. O simples fato de se exigir essa especialização não faz com que se possa considerar a
carreira de Auditor como sendo igual à de Médico.
FGTS
Aplica-se a TR para contas vinculadas ao FGTS
Importante!!!
A remuneração das contas vinculadas ao FGTS tem disciplina própria, ditada por lei, que
estabelece a TR como forma de atualização monetária, sendo vedado, portanto, ao Poder
Judiciário substituir o mencionado índice.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.614.874-SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 11/04/2018 (recurso
repetitivo) (Info 625).
FGTS
FGTS é a sigla para Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
O FGTS foi criado pela Lei nº 5.107/66 com o objetivo de proteger o trabalhador demitido sem justa causa.
Atualmente, o FGTS é regido pela Lei nº 8.036/90.
O FGTS nada mais é do que uma conta bancária aberta em nome do trabalhador e vinculada a ele no
momento em que celebra seu primeiro contrato de trabalho.
Nessa conta bancária, o empregador deposita todos os meses o valor equivalente a 8% do salário pago ao
empregado, acrescido de juros e atualização monetária (conhecidos pela sigla “JAM”).
Assim, vai sendo formado um fundo de reserva financeira para o trabalhador, ou seja, uma espécie de
“poupança”, que é utilizada pelo obreiro quando fica desempregado sem justa causa ou quando precisa
para alguma finalidade relevante, assim considerada pela lei.
Se o empregado for demitido sem justa causa, o empregador é obrigado a depositar, na conta vinculada
do trabalhador, uma indenização compensatória de 40% do montante de todos os depósitos realizados
na conta vinculada durante a vigência do contrato de trabalho, atualizados monetariamente e acrescidos
dos respectivos juros (art. 18, § 1º da Lei nº 8.036/90).
O trabalhador que possui conta do FGTS vinculada a seu nome é chamado de trabalhador participante do
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço.
Art. 17. A partir de fevereiro de 1991, os saldos das contas do Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço (FGTS) passam a ser remunerados pela taxa aplicável à remuneração básica dos depósitos
de poupança com data de aniversário no dia 1º, observada a periodicidade mensal para
remuneração.
Essa tese foi acolhida pelo STJ? É devida a substituição da TR como índice de correção monetária dos
saldos das contas vinculadas ao FGTS?
NÃO. Vamos entender com calma.
Papel do Legislativo
A substituição da TR como fator de correção dos depósitos a título de FGTS é matéria que está sendo
discutida no Congresso Nacional.
Desse modo, segundo entendeu o STJ, esse tema está inserido no âmbito da competência do Poder
Legislativo, e a atuação do Poder Judiciário só estaria legitimada se houvesse vácuo legislativo ou inércia
do Parlamento, hipóteses essas não verificadas no caso concreto.
A aplicação desses recursos que ficam depositados gera rendimentos que favorecem a execução da
política habitacional no país. Em outras palavras, o dinheiro depositado serve para promover moradia,
principalmente para famílias de baixa renda, com a oferta de crédito com custo baixo de financiamento.
Em suma:
Tendo o legislador estipulado a TR como o índice legal de remuneração das contas vinculadas ao FGTS,
não pode tal índice ser substituído por outro, pelo Poder Judiciário, simplesmente sob a alegação da
existência de outros índices que melhor repõem as perdas decorrentes do processo inflacionário, porque
tal providência está claramente inserida no âmbito de atuação do Poder Legislativo, sob pena de vulnerar
o princípio da Separação dos Poderes.
STF
Vale ressaltar que o tema acima ainda poderá sofrer mudança. Isso porque existe uma ADI no STF na qual
se alega a inconstitucionalidade de trecho do art. 13, caput, da Lei nº 8.036/90 e do art. 17, caput, da Lei
nº 8.177/91, ao argumento de que viola o direito de propriedade, o direito dos trabalhadores ao FGTS e o
princípio da moralidade administrativa a utilização da Taxa Referencial (TR) como índice de correção
monetária dos depósitos vinculados ao FGTS.
Assim, o Supremo é quem dará a palavra final sobre o assunto.
Por enquanto, porém, permanece válida a TR como índice de correção monetária das contas do FGTS.
ROYALTIES
Pontos de entrega de gás canalizado e pagamento de royalties
A Lei nº 12.734/2012, que alterou os arts. 48, § 3º, e 49, § 7º, da Lei nº 9.478/1997 e passou a
considerar os pontos de entrega de gás canalizado (city gates) como instalações de embarque
e desembarque, para fins de pagamento de royalties aos municípios afetados por tais
operações, não tem eficácia retroativa.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.452.798-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria,
julgado em 19/04/2018 (Info 625).
Lei nº 9.478/97
A Lei nº 9.478/97 dispõe sobre a política energética nacional e sobre as atividades relativas ao monopólio
do petróleo.
Os arts. 48 e 49 tratam sobre a distribuição dos royalties de petróleo, a fim de dar cumprimento ao art.
20, § 1º da CF/88.
Existe um conceito legal de royalties trazido pelo art. 2º da Lei nº 12.351/2010. Assim, royalties
constituem-se na “compensação financeira devida aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem
como a órgãos da administração direta da União, em função da produção de petróleo, de gás natural e de
outros hidrocarbonetos fluidos sob o regime de partilha de produção, nos termos do § 1º do art. 20 da
Constituição Federal.”
City gates
City gates são postos onde o gás é entregue pelas transportadoras à concessionária estadual distribuidora
de gás canalizado.
Lei nº 12.734/2012
A Lei nº 12.734/2012 alterou os arts. 48 e 49 da Lei nº 9.478/97, com o objetivo de determinar novas
regras de distribuição entre os entes da Federação dos royalties devidos em função da exploração de
petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos.
Art. 49 (...)
§ 7º Os pontos de entrega às concessionárias de gás natural produzido no País serão considerados
instalações de embarque e desembarque, para fins de pagamento de royalties aos Municípios
afetados por essas operações, em razão do disposto na alínea “c” dos incisos I e II. (Incluído pela
Lei nº 12.734/2012)
Em palavras mais simples, esses dois novos dispositivos passaram a prever o pagamento de royalties aos
Municípios que disponham de pontos de entrega às concessionárias de gás natural.
Dessa forma, a Lei nº 12.734/2012 inovou no ordenamento jurídico e, ao contrário do que os Municípios
city gates queriam, ela não pode ter eficácia retroativa. Não se trata de uma lei meramente interpretativa,
considerando que o entendimento jurisprudencial era diferente daquilo que a lei passou a prever.
DIREITO AMBIENTAL
INFRAÇÃO AMBIENTAL
Apreensão de veículo utilizado no carregamento de madeira sem autorização
O art. 2º, § 6º, inc. VIII, do Decreto nº 3.179/1999 (redação original), quando permite a
liberação de veículos e embarcações mediante pagamento de multa, não é compatível com o
que dispõe o art. 25, § 4º, da Lei n. 9.605/1998; entretanto, não há ilegalidade quando o
referido dispositivo regulamentar admite a instituição do depositário fiel na figura do
proprietário do bem apreendido por ocasião de infração nos casos em que é apresentada
defesa administrativa - anote-se que não se está defendendo a simplória liberação do veículo,
mas a devolução com a instituição de depósito (e os consectários legais que daí advêm),
observado, entretanto, que a liberação só poderá ocorrer caso o veículo ou a embarcação
estejam regulares na forma das legislações de regência (Código de Trânsito Brasileiro, p. ex.).
STJ. 1ª Seção. REsp 1.133.965-BA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 25/04/2018
(recurso repetitivo) (Info 625).
O art. 25 prevê a apreensão dos produtos e instrumentos utilizados em caso de infração administrativa ou
crime ambiental:
Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos, lavrando-se os
respectivos autos.
Decreto nº 3.179/99
A fim de regulamentar esse perdimento, o Presidente da República editou o Decreto nº 3.179/99.
Veja o que estabeleceu o art. 2º, § 6º, VIII do Decreto:
Art. 2º As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções:
(...)
IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos,
equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração;
V - destruição ou inutilização do produto;
(...)
§ 6º A apreensão, destruição ou inutilização, referidas nos incisos IV e V do caput deste artigo,
obedecerão ao seguinte:
(...)
VIII - os veículos e as embarcações utilizados na prática da infração, apreendidos pela autoridade
competente, somente serão liberados mediante o pagamento da multa, oferecimento de defesa
ou impugnação, podendo ser os bens confiados a fiel depositário na forma dos arts. 1.265 a 1.282
da Lei nº 3.071, de 1916, até implementação dos termos antes mencionados, a critério da
autoridade competente;
Revogação do Decreto
Vale ressaltar que o presente tema perdeu quase toda a importância tendo em vista que o Decreto
3.179/99 foi, posteriormente, alterado pelo Decreto nº 5.523/2005 e depois revogado pelo Decreto nº
6.514/2008.
Assim, desde 2005 esta regra questionada não mais existe.
DIREITO CIVIL
SEGURO DE VIDA
É vedada a exclusão de cobertura de seguro de vida em razão da embriaguez do segurado
STJ. 2ª Seção. EREsp 973.725-SP, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado Do TRF 5ª
Região), julgado em 25/04/2018 (Info 625).
A jurisprudência do STJ entende que a cláusula presente no contrato de seguro de vida que exclua a
cobertura em caso de morte decorrente de embriaguez é uma cláusula muito restritiva que acaba
contrariando a própria finalidade do contrato. Essa é também a posição da Superintendência de Seguros
Privados, que editou a Carta Circular SUSEP/DETEC/GAB n° 08/2007 orientando que as seguradoras não
incluam cláusulas excluindo a cobertura na hipótese de sinistros ou acidentes decorrentes de atos praticados
pelo segurado em estado de insanidade mental, de alcoolismo ou sob efeito de substâncias tóxicas.
Compare:
No SEGURO DE VIDA (seguro de pessoas) é devida No SEGURO DE AUTOMÓVEL (seguro de bens)
a indenização securitária mesmo que o acidente celebrado por uma empresa com a seguradora, é
que vitimou o segurado tenha decorrido de seu devida a indenização securitária se o condutor do
estado de embriaguez? veículo estava embriagado?
SIM. Ocorrendo o sinistro morte do segurado e • Em regra: NÃO.
inexistente a má-fé dele (ex: deixar de revelar que • Exceção: será devido o pagamento da
possuía doença grave antes de fazer o seguro) ou indenização se o segurado conseguir provar que o
o suicídio no prazo de carência, a indenização acidente ocorreria mesmo que o condutor não
securitária deve ser paga ao beneficiário, visto que estivesse embriagado.
a cobertura neste ramo é ampla. Não é devida a indenização securitária decorrente
Assim, é vedada a exclusão de cobertura do seguro de contrato de seguro de automóvel quando o
de vida na hipótese de sinistro ou acidente causador do sinistro (condutor do veículo
decorrente de atos praticados pelo segurado em segurado) estiver em estado de embriaguez, salvo
estado de embriaguez. se o segurado demonstrar que o infortúnio
STJ. 3ª Turma. REsp 1.665.701-RS, Rel. Min. ocorreria independentemente dessa circunstância.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/5/2017 STJ. 3ª Turma. REsp 1.485.717-SP, Rel. Min.
(Info 604). Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/11/2016
(Info 594).
CONTRATO DE SEGURO
Súmula 616-STJ
Indenização securitária
É o valor pago pela seguradora caso o risco coberto se concretize (sinistro).
Ex: João faz um seguro de vida em favor de seus filhos; se ele morre, o risco se concretizou, e a seguradora
terá que pagar a indenização securitária aos beneficiários da apólice (filhos de João).
Prêmio
É a quantia paga pelo segurado para que a seguradora aceite assumir o risco.
Ex: João faz um seguro de vida em favor de seus filhos. Ele combinou de pagar à seguradora, como prêmio,
R$ 1 mil por mês.
Em palavras simples, o prêmio é a contraprestação paga à seguradora e que foi combinada no contrato.
O valor do prêmio é fixado a partir de cálculos atuariais e o seu valor leva em consideração os riscos
cobertos. Ex: se João tem 40 anos, o prêmio a ser pago será menor do que se ele tiver 80.
Código Civil
O Código Civil trata sobre o tema no art. 763:
Art. 763. Não terá direito a indenização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio,
se ocorrer o sinistro antes de sua purgação.
A interpretação dada pela doutrina e pelo STJ é a de que a constituição em mora de que trata o art. 763
do CC exige prévia interpelação. Nesse sentido:
Enunciado n. 376 Jornada de Direito Civil CJF: Para efeito de aplicação do art. 763 do Código Civil, a
resolução do contrato depende de prévia interpelação.
Desse modo, pode-se dizer que a mora, no contrato de seguro, é classificada como ex persona (e não ex
re). Relembre a diferença:
Mora ex re (mora automática) Mora ex persona (mora pendente)
Determinadas obrigações possuem mora ex re, ou Outras obrigações possuem mora ex persona, ou
seja, se o devedor não cumprir a obrigação no dia seja, exigem a interpelação judicial ou extrajudicial
certo do vencimento, considera-se que ele está, do devedor para que este possa ser considerado
automaticamente, em mora. em mora.
A mora ocorre de pleno direito, Apenas depois dessa notificação é que o credor
independentemente de notificação. estará desautorizado a cumprir suas obrigações
Aplica-se a máxima dies interpellat pro homine: o contratuais.
dia interpela pelo homem (o termo interpela no
lugar do credor).
E se no contrato houver uma cláusula dizendo que a mora é “ex re” e que, havendo o atraso, o segurado
perde o direito à indenização independentemente de prévia interpelação?
Tal cláusula é considerada abusiva, nos termos do art. 51, IV, do CDC:
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento
de produtos e serviços que:
(...) IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
Considera-se abusiva a cláusula contratual que prevê o cancelamento ou a extinção do contrato de seguro
em razão do inadimplemento do prêmio, sem a prévia constituição em mora do segurado, mediante prévia
notificação.
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 292.544/SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 23/04/2013.
Veja um modelo de notificação que é enviada pelos Correios para os segurados inadimplentes:
Diante disso, ele ajuizou contra Maria uma ação de alienação judicial do bem e extinção de condomínio.
O que pediu João? Para vender em juízo o apartamento e dividir o dinheiro entre eles.
O juiz, contudo, extinguiu o processo sem resolução do mérito por impossibilidade jurídica do pedido.
Alegou que, nos termos do art. 1.275 do CC, a alienação é causa de perda de propriedade e que João e
Maria não têm a propriedade do apartamento em questão. Isso porque o imóvel foi objeto de
compromisso de compra e venda e o casal não terminou de pagar as prestações. Logo, seria juridicamente
impossível o pedido.
Em suma:
É juridicamente possível o pedido de alienação judicial de bem imóvel objeto de compromisso de
compra e venda.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.501.549-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/05/2018 (Info 625).
INVENTÁRIO
Averbação das modificações realizadas em imóveis como condição para o inventário
Inventário
Inventário é o processo instaurado com o objetivo de se apurar quais foram os bens deixados pelo falecido
e, após isso, realizar a partilha entre os herdeiros.
Consiste, portanto, na descrição pormenorizada dos bens da herança, tendente a possibilitar o
recolhimento de tributos, o pagamento de credores e, por fim, a partilha.
O problema é que João fez essas acessões no imóvel, mas não realizou a averbação perante o respectivo
Registro de Imóveis.
Essa providência era obrigatória. Isso porque a Lei de Registros Públicos (Lei nº 6.015/73) determina a
averbação das alterações realizadas em bens imóveis, na forma do art. 167, II, “4”, e do art. 169, que assim
dispõem:
Art. 167. No Registro de Imóveis, além da matrícula, serão feitos.
(...)
II – a averbação:
(...)
4) da mudança de denominação e de numeração dos prédios, da edificação, da reconstrução, da
demolição, do desmembramento e do loteamento de imóveis;
Art. 169. Todos os atos enumerados no art. 167 são obrigatórios e efetuar-se-ão no Cartório da
situação do imóvel, salvo: (...)
Percebendo essa situação, o juiz proferiu decisão interlocutória determinando que o inventário somente
poderia prosseguir depois de a inventariante providenciar a referida averbação. “Enquanto a inventariante
não providenciar isso, o inventário ficará suspenso”, afirmou o magistrado.
A inventariante recorreu contra a decisão afirmando que ela violava o livre acesso à Justiça.
IMPENHORABILIDADE
Pacto de impenhorabilidade não pode ser oposto a terceiros
Assim, o executado argumentou que este título é impenhorável, nos termos do art. 833, I, do CPC/2015:
Art. 833. São impenhoráveis:
I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução;
A parte final do art. 833, I, do CPC/2015 realmente prevê que atos voluntários declarem a
impenhorabilidade de determinados bens, afastando-os de eventual execução. Permite-se, assim, a
celebração do pacto de impenhorabilidade.
No entanto, esse pacto de impenhorabilidade fica limitado às partes que o convencionaram, não podendo
envolver terceiros que não anuíram.
Se assim não fosse, particulares poderiam celebrar convenções de impenhorabilidade com o intuito de
prejudicar a satisfação do crédito de terceiros.
“Trata-se de impenhorabilidade relativa, porque o ajuste não envolve pessoas alheias ao pacto.” (ASSIS,
Araken. Manual da Execução. São Paulo: RT, 2015, p. 267).
DIREITO PENAL
HOMICÍDIO
Motivo torpe e feminicídio: inexistência de bis in idem
Importante!!!
Não caracteriza bis in idem o reconhecimento das qualificadoras de motivo torpe e de
feminicídio no crime de homicídio praticado contra mulher em situação de violência
doméstica e familiar.
Isso se dá porque o feminicídio é uma qualificadora de ordem OBJETIVA - vai incidir sempre
que o crime estiver atrelado à violência doméstica e familiar propriamente dita, enquanto que
a torpeza é de cunho subjetivo, ou seja, continuará adstrita aos motivos (razões) que levaram
um indivíduo a praticar o delito.
STJ. 6ª Turma. HC 433.898-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 24/04/2018 (Info 625).
O que é feminicídio?
Feminicídio é o homicídio doloso praticado contra a mulher por “razões da condição de sexo feminino”,
ou seja, desprezando, menosprezando, desconsiderando a dignidade da vítima enquanto mulher, como
se as pessoas do sexo feminino tivessem menos direitos do que as do sexo masculino.
O Código Penal prevê o feminicídio como uma qualificadora do crime de homicídio. Confira:
Homicídio simples
Art. 121. Matar alguem:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
(...)
§ 2º Se o homicídio é cometido:
Feminicídio
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
(...)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Feminicídio X femicídio
Existe diferença entre feminicídio e femicídio?
• Femicídio significa praticar homicídio contra mulher (matar mulher);
• Feminicídio significa praticar homicídio contra mulher por “razões da condição de sexo feminino” (por
razões de gênero).
O art. 121, § 2º, VI, do CP, trata sobre FEMINICÍDIO, ou seja, pune mais gravemente aquele que mata
mulher por “razões da condição de sexo feminino” (por razões de gênero). Não basta a vítima ser mulher.
Sujeito ativo
O feminicídio pode ser praticado por qualquer pessoa (trata-se de crime comum).
O sujeito ativo do feminicídio normalmente é um homem, mas também pode ser mulher.
Sujeito passivo
Obrigatoriamente deve ser uma pessoa do sexo feminino (criança, adulta, idosa, desde que do sexo
feminino).
• Mulher que mata sua companheira homoafetiva: pode haver feminicídio se o crime foi por razões da
condição de sexo feminino.
• Homem que mata seu companheiro homoafetivo: não haverá feminicídio porque a vítima deve ser do
sexo feminino. Esse fato continua sendo, obviamente, homicídio.
Tentado ou consumado
O feminicídio pode ser tentado ou consumado.
Tipo subjetivo
O feminicídio pode ser praticado com dolo direto ou eventual.
Natureza da qualificadora
Para o STJ, a qualificadora do feminicídio é de natureza OBJETIVA.
A justificativa apresentada para isso está no fato de que tal qualificadora “incide nos crimes praticados
contra a mulher por razão do seu gênero feminino e/ou sempre que o crime estiver atrelado à violência
doméstica e familiar propriamente dita, assim o animus do agente não é objeto de análise.” (Min. Felix
Fischer, no REsp 1.707.113/MG, julgado em 29/11/2017).
É possível que o agente seja condenado pelas qualificadoras do motivo torpe e também pelo
feminicídio? É possível a incidência das duas qualificadoras em um caso concreto?
SIM.
Não caracteriza bis in idem o reconhecimento das qualificadoras de motivo torpe e de feminicídio no
crime de homicídio praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar.
STJ. 6ª Turma. HC 433.898-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 24/04/2018 (Info 625).
Isso se dá porque o feminicídio é uma qualificadora de ordem objetiva - vai incidir sempre que o crime
estiver atrelado à violência doméstica e familiar propriamente dita enquanto que a torpeza é de cunho
subjetivo, ou seja, continuará adstrita aos motivos (razões) que levaram um indivíduo a praticar o delito.
Exemplo concreto:
“No dia 12 de março de 2017, por volta de 01h40min, no endereço XXX, o denunciado FULANO DE TAL,
com intenção de matar (animus necandi), tentou disparar uma arma de fogo contra sua companheira XXX,
após agredi-la com socos que lhe causaram as lesões descritas no laudo de fls. 22/23.
Assim agindo, o acusado deu início à execução de um crime de homicídio que não se consumou por
circunstâncias alheias à sua vontade, eis que a munição não foi deflagrada, tendo a vítima corrido do local
e encontrado abrigo antes que o réu pudesse alvejá-la.
O acusado agiu por motivo torpe, eis que tentou matar a vítima em razão de infundado ciúme, após a
vítima ter atendido a uma ligação telefônica de um amigo.
O delito foi praticado contra mulher, em contexto de violência doméstica e familiar (feminicídio), pois o
denunciado e a vítima mantinham um relacionamento de muitos anos.”
Importante!!!
A assinatura do termo de ajustamento de conduta com órgão ambiental não impede a
instauração de ação penal.
Isso porque vigora em nosso ordenamento jurídico o princípio da independência das
instâncias penal e administrativa.
STJ. Corte Especial. APn 888-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 02/05/2018 (Info 625).
“(...) mostra-se irrelevante o fato de o recorrente haver celebrado termo de ajustamento de conduta, (...)
razão pela qual o Parquet, dispondo de elementos mínimos para oferecer a denúncia, pode fazê-lo, ainda
que as condutas tenham sido objeto de acordo extrajudicial” (STJ. 5ª Turma. RHC 41.003/PI, Dje
03/02/2014).
Em suma:
A assinatura do termo de ajustamento de conduta com órgão ambiental não impede a instauração de
ação penal.
STJ. Corte Especial. APn 888-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 02/05/2018 (Info 625).
COMPETÊNCIA
Crime cometido no exterior e cuja extradição tenha sido negada: competência da Justiça Federal
Importante!!!
Compete à Justiça Federal o processamento e o julgamento da ação penal que versa sobre
crime praticado no exterior, o qual tenha sido transferido para a jurisdição brasileira, por
negativa de extradição, aplicável o art. 109, IV, da CF/88.
STJ. 3ª Seção. CC 154.656-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/04/2018 (Info 625).
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes
condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a
punibilidade, segundo a lei mais favorável.
Além disso, existe uma previsão específica no Tratado de Extradição firmado entre o Governo da República
Federativa do Brasil e o Governo da República Portuguesa (incorporado no ordenamento brasileiro pelo
Decreto nº 1.325/94). Este Tratado prevê que se não for possível a extradição do indivíduo pelo fato de
ele ser nacional do Estado requerido, então, neste caso, o infrator deverá ser julgado pelo juízo
competente do país, em conformidade com a sua lei, pelos fatos que fundamentaram o pedido de
extradição.
Em outras palavras, o Tratado diz o seguinte: se o Brasil não puder extraditar para Portugal o indivíduo
que cometeu o crime lá em virtude de ele ser brasileiro nato, então, neste caso, a Justiça brasileira deverá
julgá-lo.
De quem é a competência para julgar este delito aqui no Brasil: da Justiça Estadual ou Justiça Federal?
Justiça FEDERAL.
Segundo dispõem os arts. 21, I, e 84, VII e VIII, da CF/88, compete à União manter relações com Estados
estrangeiros e cumprir os tratados firmados:
Art. 21. Compete à União:
I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais;
Desse modo, a União possui compromissos internacionais com a apuração criminal (persecutio criminis)
em caso de delitos praticados por brasileiro no exterior e no qual este infrator esteja agora no Brasil e não
possa ser extraditado, devendo responder em nosso país pelo crime cometido lá fora.
Há, portanto, interesse da União, que justifica a competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109,
IV, da CF/88:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
Em suma:
Compete à Justiça Federal o processamento e o julgamento da ação penal que versa sobre crime
praticado no exterior, o qual tenha sido transferido para a jurisdição brasileira, por negativa de
extradição, aplicável o art. 109, IV, da CF/88.
STJ. 3ª Seção. CC 154.656-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/04/2018 (Info 625).
Vale fazer uma advertência. O STF já decidiu que o fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no
exterior, por si só, não atrai a competência da Justiça Federal:
O cometimento de crime por brasileiro no exterior, por si só, não atrai a competência da Justiça Federal,
sendo neutra, para tal fim, a prática de atos preparatórios no território nacional.
STF. 1ª Turma. HC 105461/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/3/2016 (Info 819).
NULIDADES
O simples fato de o juiz ser “duro” no interrogatório não implica quebra da imparcialidade
A condução do interrogatório do réu de forma firme e até um tanto rude durante o júri não
importa, necessariamente, em quebra da imparcialidade do magistrado e em influência
negativa nos jurados.
STJ. 6ª Turma. HC 410.161-PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 17/04/2018 (Info 625).
No caso concreto, a juíza, durante o interrogatório no plenário do júri, agiu com extrema firmeza, sendo
até um pouco rude com o réu.
O STJ entendeu, contudo, que isso não é motivo para imputar à magistrada a pecha da falta de
imparcialidade.
O juiz não é mero espectador do julgamento e tem, não só o direito, mas o dever (art. 497 do CPP) de
conduzi-lo e, ao interrogar a ré, não há notícia de que tenha tratado de alguma prova ou emitido qualquer
opinião sobre elementos colhidos na instrução ou na própria sessão do Júri, isto sim, causa plausível de
quebra da parcialidade.
A quebra da imparcialidade tem de estar atrelada a alguma conduta do magistrado que possa
desequilibrar a balança do contraditório, ou seja, favorecer, para qualquer dos lados, a atuação das partes.
Em suma:
A condução do interrogatório do réu de forma firme e até um tanto rude durante o júri não importa,
necessariamente, em quebra da imparcialidade do magistrado e em influência negativa nos jurados.
STJ. 6ª Turma. HC 410.161-PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 17/04/2018 (Info 625).
Tema correlato:
A utilização de termos mais fortes e expressivos na sentença penal condenatória — como “bandido
travestido de empresário” e “delinquente de colarinho branco” — não configura, por si só, situação apta
a comprovar a ocorrência de quebra da imparcialidade do magistrado.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.315.619-RJ, Rel. Min. Campos Marques (Desembargador convocado do TJ-PR),
julgado em 15/8/2013 (Info 530).
EXECUÇÃO PENAL
Remição pelo trabalho antes do início da execução da pena
Importante!!!
É possível a remição do tempo de trabalho realizado antes do início da execução da pena,
desde que em data posterior à prática do delito.
Ex: Em 2015, João praticou o crime “A”, respondendo o processo em liberdade. Em 2016, João
cometeu o crime “B” e, por conta deste segundo delito, ficou preso por 3 meses. Durante esse
período, João trabalhou todos os dias na unidade prisional. Em 2017, João foi absolvido do delito
“B”. Em 2018, João foi condenado pela prática do crime “A”, recebendo 6 anos de reclusão.
Iniciou-se a execução penal quanto ao crime “A”. João poderá aproveitar o tempo que ficou preso
quanto ao crime “B” para ser beneficiado com a remição relativa ao período. Isso porque o
trabalho em questão foi realizado em momento posterior (2016) à prática do delito cuja
condenação se executa (crime “A” praticado em 2015).
Desse modo, ainda que o trabalho tenha sido realizado antes do início da execução penal, será
possível a remição da pena porque o delito que está sendo agora executado foi praticado antes
do trabalho exercido.
Não interessa, portanto, se o trabalho foi realizado antes ou depois do início da execução penal
(início do cumprimento da pena).
O que interessa analisar é se o trabalho foi realizado antes ou depois do cometimento do crime
no qual se quer aproveitar a remição.
• Se o trabalho foi realizado ANTES do crime: não será possível a remição na execução penal
deste delito.
• Se o trabalho foi realizado APÓS o crime: será sim possível a remição na execução penal deste
delito.
STJ. 6ª Turma. HC 420.257-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/04/2018 (Info 625).
O que é a remição?
Remição é...
- o direito que possui o condenado ou a pessoa presa cautelarmente
- de reduzir o tempo de cumprimento da pena
- mediante o abatimento
- de 1 dia de pena a cada 12 horas de estudo ou
- de 1 dia de pena a cada 3 dias de trabalho.
É uma forma de estimular e premiar o condenado para que ocupe seu tempo com uma atividade produtiva
(trabalho ou estudo), servindo, ainda, como forma de ressocialização e de preparação do apenado para que,
quando termine de cumprir sua pena, possa ter menos dificuldades de ingressar no mercado de trabalho.
O tempo remido será considerado como pena cumprida, para todos os efeitos (art. 128).
Obs: a remição de que trata a LEP é com “ç” (remição). Remissão (com “ss”) significa outra coisa, qual seja,
perdão, renúncia etc., sendo muito utilizada no direito civil (direito das obrigações) para indicar o perdão
do débito.
Obs.: somente poderão ser considerados, para Obs.: as 12 horas de estudo deverão ser divididas
fins de remição, os dias em que o condenado em, no mínimo, 3 dias.
cumprir a jornada normal de trabalho, que não
pode ser inferior a 6h nem superior a 8h (art. 33).
Somente é aplicada se o condenado cumpre pena Pode ser aplicada ao condenado que cumpra
em regime pena em regime fechado, semiaberto, aberto ou,
fechado ou semiaberto. ainda, que esteja em livramento condicional.
(...) No presente caso, verifica-se que o período trabalhado pelo paciente, e sobre o qual se pretende a
remição da pena (28/6/2012 a 8/5/2013), é anterior à data do cometimento do crime de tráfico (9/7/2013),
cuja pena está sendo executada, razão pela qual não é possível a remição pretendida, tal qual ocorre com a
detração, sob pena de criação de um crédito em favor do paciente contra a Justiça Criminal. (...)
STJ. 5ª Turma. HC 377.703/SP, Rel. Min. Felix Fischer, DJe 10/08/2017.
Não interessa, portanto, se o trabalho foi realizado antes ou depois do início da execução penal (início do
cumprimento da pena).
O que interessa analisar é se o trabalho foi realizado antes ou depois do cometimento do crime no qual se
quer aproveitar a remição.
• Se o trabalho foi realizado ANTES do crime: não será possível a remição na execução penal deste delito.
• Se o trabalho foi realizado APÓS o crime: será sim possível a remição na execução penal deste delito.
Para facilitar o entendimento. Por que não se admite a remição se o trabalho foi realizado antes do crime?
Porque a jurisprudência entende que se isso fosse possível, haveria um estímulo à criminalidade. Seria
como se o réu fizesse uma “poupança” de dias a serem remidos a fim de que ele pudesse utilizar, no
futuro, nos crimes que ainda viesse a cometer. Seria como dar ao réu uma “carta branca” para cometer
outro crime já que ele teria esse “crédito” para descontar de uma futura condenação.
Mesmo raciocínio do caso da detração
O entendimento acima explicado é o mesmo que é adotado para o caso da detração.
É possível que haja a detração em processos criminais distintos?
1) Se a prisão cautelar foi ANTERIOR ao crime pelo qual a pessoa foi condenada: NÃO
2) Se a prisão cautelar foi POSTERIOR ao crime pelo qual a pessoa foi condenada: SIM
É cabível a aplicação do benefício da detração penal, previsto no art. 42 do CP, em processos distintos,
desde que o delito pelo qual o sentenciado cumpre pena tenha sido cometido antes da segregação
cautelar, evitando a criação de um crédito de pena.
STJ. 5ª Turma. HC 178.894-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 13/11/2012.
O que fazer com esse tempo que o indivíduo ficou preso indevidamente e que não poderá ser utilizado
para detração e/ou remição?
A pessoa poderá ajuizar ação de indenização contra o Estado, nos termos do art. 5º, LXXV, da CF/88,
aplicável analogicamente: o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar
preso além do tempo fixado na sentença.
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) A jurisprudência pacificou-se no sentido de que não é possível a concessão de medicamentos não
incorporados em atos normativos do SUS. ( )
2) O Auditor Fiscal do Trabalho, com especialidade em medicina do trabalho, pode cumular o exercício do
seu cargo com outro da área de saúde, desde que haja compatibilidade de horários. ( )
3) A remuneração das contas vinculadas ao FGTS tem disciplina própria, ditada por lei, que estabelece a TR
como forma de atualização monetária, sendo vedado, portanto, ao Poder Judiciário substituir o
mencionado índice. ( )
4) É possível a exclusão de cobertura do seguro de vida na hipótese de sinistro ou acidente decorrente de atos
praticados pelo segurado em estado de embriaguez, desde que expressamente prevista no contrato. ( )
5) A indenização securitária é devida quando ausente a comunicação prévia do segurado acerca do atraso
no pagamento do prêmio, por constituir requisito essencial para a suspensão ou resolução do contrato
de seguro. ( )
6) É juridicamente possível o pedido de alienação judicial de bem imóvel objeto de compromisso de compra
e venda. ( )
7) Não é legítima a decisão judicial que determina a averbação, no respectivo registro, das modificações
realizadas em bens imóveis submetidos à partilha como condição de procedibilidade da ação de
inventário. ( )
8) O pacto de impenhorabilidade de título patrimonial contido explicitamente em estatuto social de clube
desportivo não pode ser oposto contra exequente/credor não sócio. ( )
9) Caracteriza bis in idem o reconhecimento das qualificadoras de motivo torpe e de feminicídio no crime
de homicídio praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar. ( )
10) A assinatura do termo de ajustamento de conduta com órgão ambiental impede a instauração de ação
penal. ( )
11) Compete à Justiça Federal o processamento e o julgamento da ação penal que versa sobre crime
praticado no exterior, o qual tenha sido transferida para a jurisdição brasileira. ( )
12) A condução do interrogatório do réu de forma firme e até um tanto rude durante o júri não importa,
necessariamente, em quebra da imparcialidade do magistrado e em influência negativa nos jurados. ( )
13) Não é possível a remição do tempo de trabalho realizado antes do início da execução da pena. ( )
Gabarito
1. E 2. E 3. C 4. E 5. C 6. C 7. E 8. C 9. E 10. E
11. C 12. C 13. E