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CONTEÚDO
I. Introdução
II. Contexto geral
III Quadro legislativo e político
IV. Conscientização das empresas e dos direitos humanos
V. Questões relacionadas a projetos de desenvolvimento de larga escala
A. Belo Monte
B. Mineração e desastre no rio Doce
C. Obras de construção das Olimpíadas de 2016
D. Observações gerais
VI. Questões Específicas
A. Povos indígenas
B. Defensores dos direitos humanos
C. Direitos do trabalho
VII. Acesso a medicamentos
A. Mecanismos Judiciais Baseados no Estado
B. Mecanismos de queixa não judiciais com base no Estado
C. Mecanismos de queixa não baseados no Estado
VIII. Reforçar o quadro político
IX. Conclusões e recomendações
I. INTRODUÇÃO
1. Além das resoluções 17/4 e 26/22 do Conselho de Direitos Humanos, dois
membros do Grupo de Trabalho sobre direitos humanos e corporações
transnacionais e outras empresas, Pavel Sulyandziga e Dante Pesce, visitaram
o Brasil de 7 a 16 de dezembro de 2015, a convite do Governo. O objetivo da
visita foi avaliar os esforços envidados para prevenir e abordar os impactos
adversos nos direitos humanos das atividades relacionadas aos negócios, em
consonância com os Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos
Humanos: Implementação da Estrutura das Nações Unidas “Proteger, Respeitar
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20. Devido a limitações de tempo, não foi possível estudar os casos em grande
profundidade, no entanto, o Grupo de Trabalho analisou atentamente alguns
casos que ilustravam as preocupações recorrentes levantadas.
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A. BELO MONTE
24. Segundo relatos, havia pouco planejamento para preparar Altamira para o
grande afluxo de trabalhadores da construção civil, e o crescimento da
população resultante do início das obras foi acompanhado por casos de
violência, tráfico, exploração sexual de mulheres e meninas e abuso de álcool.
A Secretaria de Direitos Humanos destacou a exploração sexual de crianças no
contexto de populações deslocadas e a construção de hidrelétricas.
25. O Grupo de Trabalho visitou o bairro Independente II, uma área residencial
pobre de 400 casas em Altamira, que será inundada quando o reservatório da
represa estiver cheio. Moradores relataram que a Norte Energia resistiu a
reassentá-los e não receberam nenhuma informação nem foram consultados
sobre o seu reassentamento. Após a defesa de organizações da sociedade civil,
o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis incluiu
uma nova condição de licenciamento em novembro de 2015, que exige que a
Norte Energia ofereça moradia alternativa para os moradores de Independente
II antes de outubro de 2016. Os moradores estavam preocupados e eles não
tinham informações sobre planos de realocação.
incluíam material tóxico e que a água era segura para beber após a instalação
de instalações provisórias de tratamento de água. Eles também estavam
preocupados que mais represas pudessem entrar em colapso. O Grupo de
Trabalho observou que foram necessárias quase duas semanas para a Samarco
anunciar que duas outras estruturas não eram seguras e que havia uma falha no
plano de contingência da empresa, pois as pessoas não haviam sido alertadas
sobre o desastre, apesar do intervalo de 10 horas entre elas. a ruptura da
barragem e a inundação de Barra Longa. Um aviso prévio teria permitido que as
pessoas salvassem os pertences e pudessem salvar vidas.
D. OBSERVAÇÕES GERAIS
A. POVOS INDÍGENAS
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46. O Brasil tem cerca de 240 tribos, totalizando cerca de 900.000 pessoas, ou
0,4% da população. Treze por cento do país, ou seja, 690 territórios, são
reconhecidos como terras indígenas, quase todas (98,5%) na região amazônica.
O Grupo de Trabalho repetidamente encontrou problemas de direitos humanos
que afetam os povos indígenas e os quilombolas, pessoas de origem africana.
Nas últimas décadas, os povos indígenas foram submetidos ao deslocamento
forçado devido à expansão do agronegócio e projetos de desenvolvimento de
grande escala. Além das preocupações relacionadas a projetos de
desenvolvimento no Amazonas, o Grupo de Trabalho ficou alarmado ao saber
da sociedade civil e do Ministério Público Federal sobre a falta de consultas
efetivas com povos indígenas e violentos conflitos sociais no Mato Grosso do
Sul, perpetrados por milícias armadas e segurança privada. empresas no
contexto da intrusão do agronegócio em terras indígenas e demarcação ineficaz
ou incompleta da terra indígena. Informações recolhidas pelo Conselho
Missionário para os Povos Indígenas documentaram os assassinatos de 138
indígenas no Brasil em 2014, quase um terço dos quais (41 assassinatos)
ocorreram em Mato Grosso do Sul. A inscrição de 138 homicídios em 2014, ante
97 homicídios registrados em 2013, revela uma preocupante tendência de alta.
47. O Grupo de Trabalho está preocupado com as terras indígenas que ainda
não foram demarcadas. Os povos indígenas e organizações da sociedade civil
com os quais se reuniu estavam ansiosos com uma proposta de emenda
constitucional, a PEC 215/2000, que visa transferir a competência de decisões
sobre a demarcação de territórios indígenas da Fundação Nacional do Índio
Brasileiro e do Presidente (o poder executivo) para o Congresso. O Grupo de
Trabalho questiona a adequação de tal medida e destaca a importância da
imediata demarcação de terras e da defesa dos direitos dos povos indígenas,
conforme previsto na Convenção nº 169 da OIT e na Constituição Federal. A
esse respeito, o Grupo de Trabalho observa as preocupações manifestadas pelo
Juiz do Supremo Tribunal, Luis Roberto Barroso, sobre a constitucionalidade da
emenda PEC 215/2000. Em 23 de setembro de 2013, ao rejeitar um pedido de
liminar (MS 32262) contra a PEC 215/2000, ele declarou que “não era descabido
para os autores da liminar alegar que a proteção constitucional dos direitos
indígenas poderia ser prejudicada pela atribuição de à competência do legislativo
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C. DIREITOS TRABALHISTAS
53. O Grupo de Trabalho foi informado de que, em 1995, foi lançado um órgão
interministerial para coordenar a ação contra o trabalho escravo e que o
Ministério do Trabalho e Emprego lançou um grupo especial de fiscalização
móvel para trabalhar com a polícia e promotores para investigar as empresas
suspeitas de usar trabalho escravo. Empresas colocadas na chamada “lista suja”
foram pegas usando trabalho escravo em suas cadeias de suprimentos foram
proibidas de contratos governamentais, seu acesso a crédito e financiamento
público foi limitado e outras empresas foram desencorajadas a fazer negócios
com elas. O Grupo de Trabalho tomou conhecimento de que a lista era uma
ferramenta eficaz para tornar os registros de trabalho transparentes e para
responsabilizar as empresas pelo uso de mão-de-obra escrava. Em dezembro
de 2014, o Presidente do Supremo Tribunal Federal do Brasil concedeu uma
liminar - impetrada pela Associação Brasileira dos Desenvolvedores Imobiliários
- determinando a suspensão da publicação da lista suja. Organizações de
direitos humanos estão desafiando essa injunção. Por meio de um pedido de
liberdade de informação, Repórter Brasil obteve do Ministério do Trabalho e
Emprego uma lista de empregadores que utilizaram trabalho escravo entre 2012
e 2014 e uma lista de 340 empresas brasileiras com funcionários trabalhando
em condições de escravidão. O Grupo de Trabalho considera a lista suja como
uma ferramenta útil e elogia a iniciativa. Ele estava preocupado em saber sobre
a suspensão da publicação da lista e observou que o governo indicou que
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gostaria de reativá-la. Embora entenda que o processo legal deve seguir seu
curso, o Grupo de Trabalho apoia ações legais, como a liberdade de solicitações
de informações, para disponibilizar informações publicamente disponíveis sobre
os empregadores que estão usando o trabalho escravo. O Grupo de Trabalho
espera que a suspensão da publicação da Lista Suja seja suspensa em breve.
68. Uma conclusão importante da visita foi a necessidade de reforçar ainda mais
o apoio prestado aos detentores de direitos para que possam estar em posição
equilibrada em relação a empresas e funcionários públicos. As comunidades
afetadas com as quais o Grupo de Trabalho se reuniu e transmitiram uma
sensação de vulnerabilidade, isolamento e rejeição pelos tomadores de decisão
e aqueles com poder. O Grupo de Trabalho enfatiza a importância do governo e
das empresas que escutam a voz dos mais marginalizados. Considerar
profundamente as opiniões e experiências das pessoas afetadas, por exemplo,
por meio de grandes projetos de desenvolvimento, é essencial para garantir que
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