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Minho.

Traços de Identidade

A CULTURA CASTREJA NO MINHO


Espaço nuclear dos grandes povoados proto-históricos
do Noroeste peninsular
Francisco de Sande Lemos

1. INTRODUÇÃO

Os povoados fortificados de altura, designados como castros, constituem um dos segmentos


mais expressivos do património arqueológico do Noroeste Peninsular, ou seja o vasto território
delimitado a Sul pelo Douro português; a Leste pelo Douro Internacional, rio Esla e Picos
da Europa (2868 metros de altitude máxima); a Oeste e Norte pelo Oceano Atlântico. Este
espaço distribui-se, actualmente, pelo Norte de Portugal, Galiza, Astúrias, bem como pela faixa
ocidental das províncias de Léon e Zamora (Autonomia de Castilla-Léon).
No Noroeste o castro é o modelo de habitat que marcou o I milénio antes de Cristo,
período que se designa, habitualmente, como Proto-História. Terá sido o modelo dominante,
embora varie muito nas dimensões, contextos de implantação, morfologia, sistema defensivo e
estrutura interna.
Já foram identificados vários milhares de castros, embora não haja um número preciso,
devido à inexistência de um catálogo exaustivo. Para o Entre Douro e Minho, Trás-os-Montes e
Beira Litoral o inventário global de Armando Coelho da Silva (1986) regista 922 sítios. Na Galiza
estima-se que existam alguns milhares, com maior densidade ao longo das rias e nos vales,
predominando contudo os pequenos castros com cerca de 1 hectare (Carballo Arceo, 1996).
122 Em Zamora Ocidental o estudo de A. Esparza Arroyo registou 117 povoados da Idade do Ferro
(1986 e 1990). Em Trás-os-Montes Oriental, onde se realizou um reconhecimento de campo
exaustivo e 90% dos sítios foram visitados e localizados com rigor (Lemos 1993), o número de
castros cartografados, 246, não foi, expressivamente, alterado por estudos posteriores, embora
tenham sido descobertos alguns novos sítios.
Porém, não dispomos de trabalhos do mesmo tipo para todo o Norte de Portugal, mas
somente de catálogos parcelares, elaborados para determinadas bacias hidrográficas, ou para
zonas específicas. Existe um inventário dos castros do litoral do Minho, organizado por Carlos
Alberto Brochado de Almeida (2003), e no qual se registam 156 povoados proto-históricos,
abrangendo os concelhos de Caminha, Vila Nova de Cerveira, Valença, Paredes de Coura, Viana
de Castelo, Ponte de Lima, Esposende e Barcelos. O estudo de Manuela Martins (1990) incidiu
sobre a média bacia do rio Cavado, onde registou 45 povoados fortificados. O vale do Neiva foi
estudado por Tarcísio Maciel (2003), tendo sido assinalados 40 castros. Na bacia do Baixo Ave
(incluindo todo vale do Este) foram identificados 51 (Dinis 1996).
O catálogo de castros organizado por Armando Coelho da Silva (1986), não se baseou em
prospecções de campo, pelo que o valor obtido deve ser ponderado, recorrendo aos trabalhos
A Cultura Castreja no Minho

parcelares. Comparando o número de 230, que aquele autor regista para Trás-os-Montes
Oriental (incluindo os concelhos de Alijó, Murça e Valpaços), com o valor de 246, apurado por
F. S. Lemos (1993), verifica-se um desvio pouco expressivo, ou seja, mais 16. Se aplicarmos o
mesmo método, recorrendo ao trabalho de Brochado de Almeida, a diferença também não é
substancial: 156 e 161 (A.C. Silva).
Pode, assim, dizer-se que o número global em território português, apontado por Armando
Coelho da Silva (1986), apesar de se basear em dados bibliográficos e de exigir correcções
regionais, se aproxima da realidade. Talvez os valores sejam ligeiramente ampliados, ou corrigidos
em baixa, por reconhecimentos exaustivos.
No entanto, o facto de aquele arqueólogo ter apresentado um número fiável, apesar
de não ter visitado a maioria dos sítios, não é uma coincidência. Desde o século XIX que os
arqueólogos do Norte têm procurado identificar, em sucessivos trabalhos de campo, os castros
existentes, sendo muito numerosa a bibliografia. O pioneiro foi Francisco Martins Sarmento,
que divulgou os resultados das suas prospecções na Revista de Guimarães, sob o título Materiais
para a Arqueologia de Entre Douro e Minho (2004) e no manuscrito com o nome de Antiqua.
Apontamentos Arqueológicos (1999).

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Francisco Martins Sarmento, o pioneiro da Arqueologia dos Castros (Sociedade Martins Sarmento, Guimarães).
Minho. Traços de Identidade

Embora seja pouco provável que o inventário dos castros do Norte de Portugal se altere
substancialmente, deve-se esperar que a quantidade de sítios proto-históricos aumente em dois
sentidos. Por um lado na detecção de povoados fortificados do Bronze Final, ou de transição
Bronze/Ferro, discretos e localizados em altura, e que não tiveram subsequentes e expressivas
ocupações da segunda metade do milénio. Por outro de habitats abertos (não fortificados) da
II Idade do Ferro, e de que se conhecem diversos casos, tanto no Minho (Almeida, 2003) como
no Nordeste Transmontano (Lemos, 1993).
Todavia, nem todos os povoados fortificados serão coevos, ou seja, possuem cronologias
idênticas. A par de sítios com uma longa diacronia, como a Citânia de S. Julião (Vila Verde),
cujos parâmetros cronológicos se estendem do século IX ao I d.C. (Martins, 1988c; Bettencourt,
2000a), há outros que cujo tempo de existência foi mais limitado como o Castro do Lago, no
concelho de Amares. Este povoado fortificado surge no século III a.C., sendo abandonado nos
primórdios do século I. d.C. (Martins, 1988b). Existem, por outro lado, povoados tardios, como
o amplo Castro do Monte das Eiras (Vila Nova da Famalicão), cuja datação se insere em finais
do século II/I a.C. (Dinis, 1996).
Mesmo assim a densidade de castros é impressionante, favorecida por um contexto
fisiográfico propício em que a água, um elemento vital para a subsistência das comunidades,
corre em abundância. De facto, o Noroeste de Portugal, e em particular a sua faixa atlântica
e montanhosa, possui elevados valores de pluviosidade, dos mais altos da Europa, atingindo
2500 a 3000 mm por ano nas Serras da Peneda (1416 m), Amarela (1359 m) e Gerês (1556 m)
(D. B. Ferreira, 2005). Por outro lado, o granito, a rocha dominante no Minho, é permeável e
retém quantidades significativas de água, dando origem a numerosas nascentes.
Uma parte substancial dos castros inventariados está classificada ou registada, constando
das Bases de Dados dos Institutos da Tutela (IPPAR e IPA), dos Planos de Ordenamento
Territorial, e dos Planos Directores Municipais. No entanto, na faixa litoral, os últimos trabalhos
de monitorização, efectuados em 2005, no quadro do Projecto Castrenor, revelaram um
preocupante grau de degradação e, mesmo, graves processos destrutivos que afectaram, de
forma quase irremediável, alguns dos sítios mais conhecidos, apesar de classificados como
Monumento Nacional, ou Imóvel de Interesse Público ou protegidos nos PDM. Pelo contrário
a desertificação das áreas interiores, salvo raras excepções, tem sido favorável à salvaguarda
destes sítios arqueológicos.
124 Maugrado as vicissitudes das duas últimas décadas, no seu conjunto, todos estes povoados
fortificados, tanto as grandes citânias como os pequenos castros, de 1 hectare, formam uma
vasta rede patrimonial à qual não tem sido atribuído o devido valor. Constituem, de facto,
um amplo repositório informativo, documentando mais de um milénio de História, sendo que
alguns dos castros foram romanizados e, por vezes, reocupados na Antiguidade Tardia (séculos
V a VII) e, novamente, na Alta Idade Média (sécs. VIII a X). Nalguns casos o local continuou
habitado até ao presente, como se verificou através das primeiras intervenções no Alto do
Morro da Sé, na rua D. Hugo, na cidade do Porto. Os castros são, pois, um precioso arquivo
científico e histórico.
O estudo da rede de castros, ou povoados fortificados, da sua génese e desenvolvimento,
tem sido matéria de bibliografia infindável. No entanto, apesar do elevado número já inventariado
apenas se realizaram escavações sistemáticas em menos de cinco dezenas, no quadro do Minho.
E dos resultados dessas intervenções apenas foram publicadas menos de doze monografias, se
tanto. Em contrapartida é imensa a quantidade de trabalhos parcelares, ou de artigos, da ordem
das centenas, dispersos por revistas, ou actas de reuniões científicas. Contudo, muitos desses
textos retomam assuntos já tratados, por vezes de uma forma cíclica, sem grande proveito
A Cultura Castreja no Minho

para o avanço das pesquisas. Assuntos como o significado e a cronologia das muralhas, dos
banhos ou das estátuas de guerreiros galaicos, apesar da sua importância são, frequentemente,
matéria de artigos especulativos e de generalizações arbitrárias, sem o necessário fundamento
científico, resultante de novas descobertas ou de análises inovadoras.
Por último, nesta breve introdução, convém assinalar que os castros são indissociáveis da
paisagem envolvente, dos territórios em que foram implantados, pelo que o seu estudo implica,
forçosamente, um profundo conhecimento das diferentes regiões pelas quais se distribuem.
Aliás, é significativo que muitos castros sejam os melhores miradouros para a observação das
respectivas regiões.
De facto o estudo dos castros é também a análise da sua inserção no espaço, no relevo,
das suas inter visibilidades, das paisagens e da forma como estas foram estruturadas ao longo
dos milénios, embora no quadro das condicionantes decorrentes de uma extensa e complexa
história geológica. Assim nos projectos de estudo e valorização dos povoados fortificados é
absolutamente necessário incluir não só as ruínas como também a paisagem envolvente. O valor
científico e patrimonial dos castros não reside, exclusivamente, no arqueosítio em si mesmo, no
monumento, nas ruínas, mas também no território em que se implantaram e que moldaram de
forma singular, dando origem a uma paisagem única (Bouhier, 1979).
Neste texto, optou-se por um estilo minimalista, quase neutro, tentando devolver os
castros ao seu espaço específico e ao território, procurando iluminar as questões científicas,
através de vários ângulos, sendo certo que persiste um nevoeiro que dificulta o exercício da
análise. Por outro obedeceu-se, na ordenação das matérias, a uma matriz clássica, por fadiga de
índices inovadores, mas, amiúde, vazios de conteúdo. Finalmente, registe-se que, num trabalho
académico, o número de referências bibliográficas intercaladas no texto seria, necessariamente,
muito superior. Quanto ao recurso frequente à Citânia de Briteiros como elemento de análise
é inevitável, porque se trata do povoado mais escavado de todo o Minho, assim como são
obrigatórias as numerosas menções ao Castro do Lago e à Citânia de S. Julião (Vila Verde), este
último um dos raros povoados da região citados nas mais conhecidas obras de síntese sobre a
Proto-História da Europa (Kristiansen, 2000).

2. CULTURA CASTREJA
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2.1 Conceito

O tema das unidades étnicas e culturais, da sua génese e das nações, agitou a Europa política
oitocentista e redundou no drama de Sarajevo, em 1914. Os investigadores portugueses das
“antigualhas” também se preocuparam com esses assuntos, embora numa perspectiva mais
serena e cosmopolita. Francisco Martins Sarmento, tal como outros investigadores da época,
discorreu, largamente, sobre povos e culturas, num exercício aparentemente supérfluo, mas
de facto muito relevante, porque o que estava em causa eram as raízes de uma Europa, num
horizonte fragmentado pelos nacionalismos. Os estudiosos do século XIX tinham, em geral,
uma perspectiva ampla da Arqueologia, apreciavam o legado mediterrânico e comungavam de
uma perspectiva optimista da Ciência.
No entanto, o desenvolvimento dos estudos da Proto-História na Europa Central e em
particular na Alemanha, condicionou, o rumo da investigação. O engenhoso modelo de Gustav
Kossina (Trigger, 1992), que preconizava a equivalência entre cultura material, unidades étnicas,
filiações linguísticas e tradições, extravasou das academias para a arena política, degenerando
Minho. Traços de Identidade

em tremendas tragédias. Nos anos 10 e 20 do século XX ainda não havia a exacta percepção
dos riscos científicos, ideológicos e mesmo políticos do termo Cultura, quando aplicado a
hipotéticas unidades étnicas, deduzidas de analogias entre modelos de habitat, artefactos e
símbolos.
Foi, aliás, nas décadas de 20/30 do século XX que o arqueólogo catalão Bosch Gimpera
(1932; 1945) num grandioso esforço de síntese, com o louvável objectivo de ordenar os
conhecimentos sobre a Pré-História e a Proto-Hitória da Península Ibérica, utilizou o termo
Cultura dos Castros, para isolar o universo proto-histórico da fachada ocidental atlântica da
Península. A designação, que se perdeu no Sul de Portugal, foi adoptada pelos investigadores
do Noroeste do país e da Galiza, com consequências ambivalentes.
Por um lado, devido às obras de Lopéz Cuevillas (1953 e 1956) e de outros investigadores
galegos, difundiu-se a ideia de que a Cultura Castreja, era um produto da civilização céltica,
ao arrepio do fundador da Arqueologia dos Castros, Francisco Martins Sarmento e do próprio
Bosch Gimpera, que apenas pretendia clarificar narrativas arqueográficas. Na mesma época, em
Portugal, Mário Cardozo foi mais cauteloso, como se deduz de vários dos seus textos (1971 e
1994), talvez influenciado pela leitura da obra do pioneiro do estudo dos Castros.
Por outro lado, a inserção dos castros no universo proto-histórico da Europa, beneficiou o
aprofundamento da investigação, criando uma plataforma de troca de saberes. Deste modo a
expressão Cultura Castreja consolidou-se, mal grado, as vicissitudes de meados do século XX.
Após a II Guerra Mundial, o modelo de interpretação designado histórico-culturalista,
passou a ser encarado com sérias reticências. A investigação, tanto no domínio da Arqueologia
como no campo da Antropologia, demonstrou que as equivalências, tão em voga na primeira
metade do século XX, eram equívocas ou falsas. Em África foi possível encontrar, no mesmo
quadro cronológico e geográfico, comunidades que falavam a mesma língua, mas que habitavam
diferentes modelos de povoados, utilizando distintos tipos de artefactos e com diversas
formas de organização social (Hall, 1987). Admite-se, no entanto, que o abandono total do
evolucionismo e de conceitos outrora operativos, como as migrações de povos, constituíram
uma reacção ideológica subsequente aos horrores da II Guerra (1939-1945) e aos totalitarismos
do século XX, recomendando-se atitudes mais flexíveis (Kristiansen, 2000).
Hoje é possível acolher, a hipótese, embora muito discutida, de que os povos proto-
históricos do Noroeste Peninsular partilhavam um mesmo fundo linguístico celta (Guerra 1999),
126 embora não se encontrem as cerâmicas relacionáveis com a eventual vasta expansão desse
povo, em meados do I milénio a.C., as quais, pelo contrário, se identificam bem no sul de
Portugal. Entretanto, outros especialistas argumentam contra o Celtismo (González Ruibal,
2003), sem que por isso o estudo dos castros seja abalado. Ou seja verifica-se um saudável
clima de convivência de perspectivas no qual se esbatem os conflitos epistemológicos herdados
de oitocentos e da primeira metade do século XX.
Em síntese: o conceito de Cultura Castreja, como uma entidade homogénea, continua
sob crítica, embora de uma forma menos dramática. A relação entre uma palavra tão ambígua
como Cultura e o vocábulo Castro, que designa um habitat de altura e fortificado, suscita
reservas. O seu uso recente por Armando Coelho (1986), que oscila entre o estruturalismo e
a força da diacronia como campo preferencial da História, já pouco tem ver com as anteriores
interpretações lineares. Autores como Manuela Martins (1990) utilizam, sistematicamente, o
termo povoado fortificado, em vez de castro, optando por uma fórmula neutra, sem uma filiação
discursiva predeterminada. Outros aplicam o termo entre aspas ou antecedida pelo inglesismo
“so called”. A proposta daquela investigadora (Martins, 1990) no sentido de se abandonar o
termo Cultura Castreja não colheu. Mas abriu o caminho para que, actualmente, se reconheça a
A Cultura Castreja no Minho

diversidade da Proto-História do Noroeste, como obrigatório ponto de partida (Carballo Arceo


e González Ruibal, 2003).
Despojada de conotações históricas e culturais, tanto a palavra Castro como expressão
Cultura Castreja constituem conceitos operativos eficazes a que recorrem numerosos
arqueólogos. Neste texto também se utilizam, sem pressupostos rígidos. É, na verdade, mais
fácil e económico escrever castro que povoado fortificado. E castro romanizado do que povoado
fortificado romanizado. Por outro lado o termo Cultura Castreja, apesar de todos os equívocos,
é uma plataforma confortável para se navegar num universo imenso de interrogações.

Citânia de S. Julião, Vila Verde (Arquivo fotográfico da Casa de Sarmento, Universidade do Minho).

2.2 Formação 127

A maioria dos autores defende que a Cultura Castreja principiou a organizar-se na transição
do segundo para o primeiro milénio a.C., nos parâmetros da chamada Idade do Bronze Final.
Pensa-se que, nesse contexto, se verificou a emergência de habitats localizados em cumes
dominantes, com um amplo domínio estratégico sobre a área envolvente e com expressivo
controlo sobre os corredores naturais de circulação. Estes primeiros povoados, de pequena
superfície, após uma fase inicial em que não se registam estruturas defensivas, passaram a ser
defendidos por muralhas de terra, ou pedra solta, albergando casas sub-circulares, edificadas
com materiais perecíveis, embora com alicerces pétreos. Com estes sítios está relacionada uma
rica e abundante metalurgia em bronze: pontas de lanças; machados; peças de adornos ou
simbólicas. Neste período o Noroeste Peninsular mantinha contactos assíduos com a Bretanha,
a Inglaterra, a Irlanda, mas também com o Mediterrâneo.
Entre os mais emblemáticos povoados minhotos de altitude do Bronze Final, defendidos
por muralhas, registam-se o Coto da Pena (Caminha), castro estudado por Armando Coelho
da Silva (1986) e a Citânia de S. Julião (Vila Verde), investigada pela Universidade do Minho.
Minho. Traços de Identidade

Vaso recolhido nas escavações da Citânia de S. Julião (Museu D. Diogo de Sousa, Braga).

Situados em pontos geo-estratégicos, tinham ampla visibilidade sobre o espaço envolvente,


como a foz dos rios Minho e Coura (Coto da Pena) ou a confluência dos rios Homem e Cávado
(S. Julião), controlando assim os corredores de circulação de artefactos, armas e utensílios em
bronze, bem como o acesso a relevantes recursos económicos.
128
Embora o Coto da Pena também seja um local assaz importante, o sítio paradigmático
para o conhecimento desse episódio chave é, todavia, a Citânia de S. Julião, devido às sucessivas
campanhas de escavações dirigidas por Manuela Martins na década de 80 e por Ana Bettencourt
nos anos 90 (séc. XX). Foi assim possível estabelecer com rigor a área e a cronologia do habitat
da Idade do Bronze Final, que se instalou no cume de um esporão granítico, dominando tanto
a confluência dos rios supra mencionados, como o corredor Sul – Norte que ligava o vale do
Cávado ao do Lima através da Portela de Vade.
Manuela Martins (1988c) definiu com clareza um momento fundacional, datado por C14
do século X a.C., quando, no alto do monte, se instalou uma pequena comunidade defendida
por uma muralha de terra batida. A cerâmica desta primeira fase da Cultura Castreja é muito
característica, de fabrico manual, boa qualidade das pastas, destacando-se os típicos vasos
carenados e algumas cerâmicas excepcionais como uma peça formado por três pequenos vasos
geminados, muito rara, ou mesmo única no NW (Martins, 1988c).
Posteriormente, com base em escavações mais extensas, e numa larga bateria de datações
absolutas calibradas, Ana Bettencourt (2000a) propõe um processo, por um lado mais antigo
A Cultura Castreja no Minho

e, por outro, mais complexo. Segundo a autora teria havido em S. Julião um primeiro povoado
datável do século XI a.C., embora sem muralhas, a que se seguiu um segundo habitat já
fortificado que assinala a “monumentalização” do sítio, compreendendo um número estimado
de 14 construções. A muralha seria, em terra batida nalguns trechos e, noutros, em pedra solta.
Numa terceira fase o povoado da Idade do Bronze Final alargou-se para Sul (Bettencourt,
2000a).
Noutros castros do Noroeste as muralhas da Idade do Bronze Final são, ora em terra batida,
ora em pedra, de tal modo que, mais do que o seu grau de monumentalização, o que indica,
com relativa segurança, o início da Cultura Castreja é a emergência de povoados com sistemas
defensivos, em locais com grande domínio visual sobre a envolvente. Ocorrem, ainda, na mesma
época, outros habitats dispersos nas encostas e nos vales, mas sem controlo territorial, muralhas
e continuidade de ocupação na I Idade do Ferro.
A Citânia de S. Julião e o Coto da Pena não são, porém, os únicos testemunhos desse
fenómeno que, por certo, se estendeu a todo o Noroeste, embora faltem, na Galiza, evidências
materiais semelhantes, situadas na mudança do II para o I milénio. (Carballo Arceo e González
Ruibal, 2003). Pelo contrário existem, no Minho, outros locais em que foram identificadas
ocupações da Idade do Bronze Final, em relevantes pontos geo-estratégicos.
No vale do rio Minho, a par do já referido Coto da Pena, destaca-se a Citânia de S.
Caetano (Monção), sítio que domina um amplo sector do curso do rio Minho, bem como os
vales de dois afluentes da margem Sul, os rios Gadanha e dos Mouros. Em S. Caetano, embora
ainda não tenha sido identificado o local do povoado da Idade do Bronze, foram descobertos
materiais relacionáveis com esse período (Marques, 1991). O Coto da Pena, onde uma das
casas circulares foi edificada na Idade do Bronze Final III (Silva, 1986), possuía um excepcional
posicionamento estratégico, pois vigiava tanto a foz do rio Minho, no sentido norte, como a
confluência do rio Coura, para Leste. Este último curso de água drena uma zona abundante em
minério de estanho.
No trecho final do vale do rio Lima identificaram-se pelo menos dois povoados com
ocupação da Idade do Bronze Final: o Castro do Peso (Terras de Geraz) e o Castro de
Santo Estêvão da Facha, ambos situados a altitudes aproximadas (183 e 142 metros), com
enquadramento fisiográfico semelhante e estrutura territorial análoga, apenas separados entre
si, pelas cumeadas setentrionais da Serra da Padela. Foram ambos datados do Bronze Final,
devido às cerâmicas recolhidas, se bem que datações de C14 de Santo Estevão, relacionadas 129
com eventuais estratos mais recentes, se enquadrem na II Idade do Ferro (Almeida et al,
1982). Apesar destes dois sítios possuírem uma boa visibilidade sobre os espaços adjacentes,
controlando corredores de circulação Sul – Norte entre o Neiva e o Lima, o seu posicionamento
não faculta o mesmo grau de controlo sobre a envolvente que tinham povoados como S. Julião
ou o Coto da Pena.
No vale do rio Vez, no Castro de Álvora, foi descoberto, no derrube da muralha do povoado,
um molde de foice (tipo Rocanes), que aponta para a Idade do Bronze Final (Bettencourt, 1988).
Tanto pela altitude, como pelo seu posicionamento geo-estratégico, como pelo indicador de
actividade metalúrgica, a possibilidade de uma ocupação dessa fase é provável.
Na bacia hidrográfica do Neiva, Tarcísio Maciel (2003) assinala, para este período, 6
povoados de altura (Chã da Coroa; Castelo dos Mouros, Pomarinho, Padela, Giesta, Talhoz/
Monte da Cerca). Ainda que os vestígios sejam ténues não custa admitir a presença de castros
do Bronze Final ao longo de um rio que também drena importantes jazidas de ouro, prata e
estanho das Serras da Nora e da Padela, de Godinhaços e Marrancos. De facto, nas praias
fluviais do Neiva os metais seriam frequentes.
Minho. Traços de Identidade

No vale do Cávado conhecem-se, a par de S. Julião, vários povoados instalados em cumes


e cuja ocupação remonta aos primórdios do I milénio a. C: Faria (Barcelos); Roriz (Barcelos);
Alto da Torre (Barcelos); Cabanas (Braga); S. Bento de Tibães (Braga); S. João do Rei (Póvoa
do Lanhoso); Lanhoso (Póvoa do Lanhoso) (Bettencourt, 2000b). Os materiais recolhidos são
esclarecedores mas as condições de escavação, os reduzidos limites de área sondada, ou a
escassa potência estratigráfica inviabilizam o mesmo nível de conclusões que foi possível obter
em S. Julião, desconhecendo-se, por exemplo, se eram protegidos por muralhas. Contudo, numa
perspectiva territorial sítios como Faria, Roriz, Santa Marta e Lanhoso, inserem-se na mesma
estratégia que S. Julião, pois vigiam corredores naturais de trânsito, com grande visibilidade.
Quanto aos restantes articulam-se, possivelmente, com a exploração de culturas de regadio
em que se destacavam o milho-miúdo e o linho. Alguns dos locais mencionados possuem um
espectro ocupacional de longa duração (Faria; Santa Marta; Roriz; Lanhoso; S. João do Rei),
enquanto os outros parecem ter uma cronologia restrita, não persistindo na Idade do Ferro
(Cabanas; S. Bento de Tibães).
No estudo do Baixo Ave, António Dinis (1999) considera que vários castros pertencem a
esta primeira fase de génese da Cultura Castreja. No vale do Ave: Alvarelhos (Trofa); Monte do
Facho (Famalicão); Monte Padrão (Santo Tirso); Monte da Forca (Guimarães). No vale do rio
Este: Peníces e Santo Antonino (Famalicão); Lages, Falperra e Monte de Vasconcelos (Braga).
Embora com reservas o autor inclui também na mesma série, a Cividade de Bagunte, o Monte
da Saia (Barcelos), o Alto do Castro (Braga) e Sabroso (Guimarães). Todos estes povoados
foram implantados em altitudes entre os 200 e 400 metros, em cumes dotados de amplo
domínio sobre a envolvente, controlando corredores naturais de circulação. Tal como se verificou
para o vale do Cávado parte dos referidos sítios continuaram ocupados e desenvolvem-se,
plenamente, na II Idade do Ferro.
No conjunto do Minho regista-se, pois, uma expressiva malha de povoados, distribuída
de forma estratégica no território, a maioria dos quais vai ter continuidade habitacional até ao
final da Idade do Ferro. Ou seja o processo de escolha dos habitats fortificados na Idade do
Bronze Final poderá ter sido muito complexo, com distintos tipos de opções de implantação e
de matriz territorial.
Tem-se sublinhado como aspecto marcante o domínio geo-estratégico da generalidade
destes primeiros castros. A organização social destes povoados fortificados de altura deve,
130 também, ser destacada, admitindo-se que os habitantes pertencessem a elites que controlavam
os contactos com os mercadores, os fluxos de bens de luxo e a produção dos minerais preciosos.
A acumulação de riqueza metalífera e de excedentes, o exercício do poder, justificavam as
fortificações.
Por outro lado é necessário assinalar eventuais mudanças de âmbito económico, que
garantiam a continuidade do habitat, através do investimento numa agricultura diversificada.
Nos casos do Castro do Peso e do de Santo Estêvão da Facha, a matriz territorial destes
sítios leva-nos a reflectir sobre estratégias de implantação em que se cruzaram o controlo
de determinados corredores geo-estratégicos e a possibilidade da cultura intensiva do milho
miúdo no âmbito dos território potenciais de 15 minutos, mediante um sistema de socalcos e de
regadio. Na Citânia de S. Julião, a análise da fotografia aérea da década de 50 (séc. XX) evidencia
um sistema de terraços, dispostos a Norte do povoado, que ainda não foram estudados nem
datados. E, embora S. Julião esteja a uma altitude de 297 metros, não é impossível supor um
sistema de regadio, com água canalizada das vertentes que se elevam a Nordeste.
O tema do regadio, a construção de terraços de cultivo remete-nos para o universo da
Ibéria Mediterrânica onde eram conhecidos desde o Calcolítico (III Milénio a.C.) (Chapman,
A Cultura Castreja no Minho

1990). A sua generalização sistemática no Minho poderá ter ocorrido precisamente no contexto
do Bronze Final, numa época em que o tráfico marítimo foi intenso.
Em síntese a génese da Cultura Castreja parece ter sido um movimento assaz complexo,
que apenas começou a ser estudado no Minho na década de 80 (séc. XX), embora esta região
seja uma zona chave para resolver os problemas em aberto. Aparentemente a maior densidade
de povoados de altura do Bronze Final distribui-se nas bacias hidrográficas dos rios, mas
a hipótese de uma zona mais dinâmica centrada no Minho terá de ser comprovada após a
extensão de estudos mais exaustivos a outros vales desta zona, em particular ao Alto Cávado,
Alto Ave e Vez.

2.3 Periodização

Um dilatado espaço temporal, com mais de um milénio, exige, forçosamente, uma trave-mestra,
uma tabela cronológica que funcione como suporte narrativo, aspecto que se revelou cada vez
mais indispensável à medida que se verificava a longa diacronia de muitos povoados, e uma
vez que se constatava, ao mesmo tempo, que a Cultura Castreja não podia ser comprimida
nos últimos séculos do I milénio a.C., ou, exclusivamente, na esfera da consolidação da Pax
Romana.
As principais e mais recentes propostas de periodização da Cultura Castreja foram
apresentadas por Armando Coelho da Silva (1986), Manuela Martins (1989/90), Jorge Alarcão
(1992). Recentemente González Ruibal (2003) acrescentou outra que pretende sobretudo ligar
a tabela cronológica do universo castrejo com o esquema adoptado para a generalidade da
Europa Ocidental.
Com pequenas variações sobre as datas os diferentes autores concordam com uma
I Fase, que se insere na Idade do Bronze Final e que se estende dos séculos XI/X a.C. até
VIII. Nas páginas relativas à formação da Cultura Castreja foi analisado o início desta fase. O
tempo seguinte, de transição Bronze/Ferro, e de começo da primeira Idade do Ferro (sécs. VIII
a V a.C.), ou Ferro Antigo, é mal conhecido, por falta de indicadores. Não há uma mudança
radical na olaria, nem se registam novos utensílios que assinalem essa fase. Ocorrem, de facto,
armas em ferro, mas o seu número é limitado. A datação por C14, na ausência de materiais
131
expressivos, é um dos métodos mais fiáveis. Termina no séculos VI quando se verifica uma
quebra nos circuitos comerciais mediterrânicos geridos pelos fenícios (Arruda, 1996), ocorrendo
um eventual isolamento do Noroeste, eventualmente reflectido numa expressiva diminuição da
actividade metalúrgica, em alterações na olaria e na manifestação de uma economia fechada
sobre si (autarcia).
Abre-se assim uma II fase equivalente ao período inicial da II Idade do Ferro, que principia
em meados do milénio. Segundo Armando Coelho da Silva este novo patamar coincide com
movimentos de povos, entre os quais os Celtas e os Turduli Vetere (1986). Todavia os povoados
fundados na Idade do Bronze não estiveram imóveis e sabe-se que se desenvolveram grandes
castros como a Citânia de S. Julião, enquanto que eram fundados novos sítios como o Lago,
em Amares, no vale do Cávado, sem que seja possível relacionar esse processo com migrações
populacionais.
Sobre o início da III Fase não há unanimidade. Seria marcada pelo momento em que os
povos do Noroeste Atlântico surgem na História, no âmbito do relato da expedição de Decimus
Iunus Brutus, em 137 ou 136 a.C. As legiões romanas teriam atravessado o Douro, internando-se
Minho. Traços de Identidade

no Minho até um rio designado como Lethes, que é habitualmente identificado com o Lima. No
regresso teriam travado uma importante batalha contra os Bracari em que estes foram vencidos.
De qualquer modo o exército vencedor regressou à Lusitania, não se registando uma efectiva
ocupação. O cônsul romano passou a ser designado como o Galaico e a região, que abriu para
a História, como a Callaecia. É possível que esta incursão tenha forçado, ou estimulado, uma
maior abertura ao Sul da Península Ibérica e aos contactos com o Mediterrâneo
No entanto, pode-se admitir-se que o processo de abertura ao exterior e desenvolvimento
já estaria em gestação em pleno século II a.C., ou mesmo antes, em consequência de diversas
interacções por influência do comércio marítimo e devido ao aumento da produtividade
agrícola.
Nesta etapa, verifica-se o abandono de alguns povoados, concentrando-se as comunidades
em grandes castros. Para este processo usa-se o termo sinecismo, embora não seja tão evidente
no Minho como é na Vetonia (Álvarez-Sanchís, 1999), ou no território dos Vaceos, ou entre
os Celtiberos (Lorrio e Zapatero, 2005). O sítio central controla uma rede de povoados
dependentes, como teria sucedido no médio vale do Cávado ou no Ave. A formação de lugares
centrais, no conjunto do Noroeste, terá sido muito marcada na área dos grandes povoados e
em particular no Minho, como processo de reacção à crescente ameaça romana. Todavia não
há dados concretos que suportem essa hipótese, sendo mais razoável admitir que tenha sido
um movimento idêntico ao que ocorreu noutras zonas da Europa (González Ruibal, 2003) e que
levou à criação dos grandes oppida da Europa Ocidental e Central (Ardouze e Büchsenschütz,
1991).
Poderá ter sido um processo variável, no espaço e no tempo, sendo provável que a fase
plena da II Idade do Ferro principiou no Noroeste em simultâneo com outras áreas da Península.
Inserem-se neste momento pleno da II Idade do Ferro a generalidade das ruínas observáveis dos
castros, incluindo o chamado proto-urbanismo.
Ao longo do século I a.C. o Noroeste foi atingido por sucessivas expedições (Tranoy, 1981),
movimentos cuja dimensão e influência são mal conhecidos. Todavia o registo arqueológico é
ténue, reflectindo-se em especial na ocorrência de fragmentos de ânfora do Sul da Hispânia e
em escassos materiais finos.
Um novo marco cronológico da Cultura Castreja corresponde às campanhas militares de
Augusto, datadas dos anos 27-25 a.C., quando se verificou a ocupação efectiva do Noroeste
132 Peninsular e um reordenamento territorial sistemático. A época de Augusto (27 a.C. e 14 d.C.)
assinala a penúltima fase da Cultura Castreja, um momento histórico muito complexo, como o
demonstra a tabula do Bierzo (Grau Lobo, 2000), registando-se movimentos de resistência a
par de alianças, à semelhança do relato de Júlio César sobre a Gália. No contexto augustano terá
sido fundado o oppidum de Monte Mozinho, reorganizando-se outros castros. Todavia, não se
entende muito bem porque motivo o poder romano, que já estava a construir a sede conventual,
Bracara Augusta e outras capitais de civitates, como Aquae Flaviae ou Tongobriga teria avançado
para a fundação generalizada de oppida. Essa hipótese tinha sentido quando se pensava que os
programas urbanos das civitates apenas tinham arrancado na dinastia dos flávios. O povoado
de Monte Mozinho é um caso muito particular, eventualmente relacionado com o controlo da
zona mineira de Valongo. Terá havido remodelações específicas, na pavimentação de ruas, em
sistemas de drenagem de águas pluviais, em ligeiras mudanças na arquitectura doméstica, na
generalização das moedas, mas sem quebrar o proto-urbanismo e os modelos ancestrais, como
as construções circulares.
O período que decorre entre o fim do reinado de Augusto e meados do século I d.C.
(dinastia júlio-claudiana) corresponde à derradeira fase da Cultura Castreja, verificando-se
A Cultura Castreja no Minho

na segunda metade desse século o abandono de grande parte dos castros. Nalguns casos
radical, com transferência acelerada, embora não compulsiva, das populações para os novos
aglomerados urbanos, situados noutros locais. Noutros sítios, como no Castro de S. Lourenço,
a relação física entre o antigo castro e o novo aglomerado persiste, embora num quadro cultural
muito diferente. Em S. Lourenço, na base do monte, desenvolve-se um vicus, integrando o antigo
castro.
Imperam um novo conceito e uma nova ordem, mas nada indica que se tenham verificado
deslocações maciças de comunidades e invasão de colonizadores. Na epigrafia funerária latina
predominam os nomes de raiz indígena; os colonos itálicos são raros. Porém a organização
territorial foi profundamente alterada e os castros como lugares de poder, sedes da organização
política, desvanecem-se no Minho, na Callaecia meridional, embora possam ter persistido no
Norte da Callaecia.

2.4 Quadro Geográfico

Os limites geográficos da Cultura Castreja são controversos. Na linha de Bosch Gimpera os


autores castelhanos mantêm um entendimento amplo da área de distribuição dos castros,
coincidente com o Noroeste Peninsular. Os investigadores portugueses e galegos defendem
parâmetros mais restritos, ou pelo menos propõem divisões regionais.
No Norte de Portugal a zona dos grandes castros estende-se desde o corredor atlântico
para o interior, até aos cursos dos rios Rabaçal e Tua, ocupando o Douro Litoral, o Minho, bem
como Trás-os-Montes Ocidental. O limite Oriental não é marcado pelo vale do Tâmega, como
já se sugeriu (González Ruibal, 2003), mas sim pela sequência de relevos que se estendem da
Cota de Mairos (1084 m) até ao Planalto de Alijó (886 m), incluindo as serras da Brunheira, da
Padrela (1148 m) e da Preta. Uma linha de castros, tal como a existente no litoral, assinala a
fronteira leste dos grandes povoados. Indicamos alguns deles: Vilarandelo e Ribas (Valpaços);
Cidadelhe (Vila Pouca de Aguiar); Cadaval (Murça); Castorigo, Carlão, Burmeira e Castelo dos
Mouros de Ribatua (Alijó) (Lemos 1993).
A bacia do Tua terá sido uma faixa de transição, na qual se registam alguns raríssimos castros
de dimensão apreciável como S. Juzenda (Höck, 1979 e 1980; Lemos, 1993). Para Leste, seja nos
vales encaixados do Tuela, do Sabor ou do Douro, seja nas depressões tectónicas da Vilariça, 133
de Macedo de Cavaleiros ou de Bragança, seja nas cadeias montanhosas que correspondem
aos últimos contrafortes da cordilheira cantábrica, como as serras de Montesinho, da Corôa
e da Nogueira, já não ocorrem os grandes povoados característicos do Minho e de Trás-os-
Montes Ocidental. De facto, os castros do Nordeste português são distintos dos povoados da
faixa atlântica e do Ocidente Transmontano. Têm mais analogias com os castros de Zamora,
tanto pelo modo como se distribuem no território, como pela dimensão e sistema defensivo.
Também os materiais dos sítios proto-históricos nordestinos são diferentes, com afinidades
nas cerâmicas dos povoados da Meseta Norte, de tipo Soto de Medinilla (Palol, 1958 e 1963;
Lemos, 1993).
Por outro lado, a Cultura dos Castros, abrange, a Sul do rio Douro, um vasto espaço
equivalente à faixa atlântica drenada pelo Vouga e Dão (Silva, 1986; A.M. Silva, 1994).
Na Galiza os castros estendem-se do mar Cantábrico até ao vale do rio Minho, embora os
investigadores tenham identificado duas áreas distintas, separadas por uma corda montanhosa,
que separa as províncias de Lugo e Ourense e que se designa por dorsal galega (Carballo Arceo,
2003).
Minho. Traços de Identidade

Neste vasto quadro geográfico a região do Minho foi, sem dúvida, uma área central que
se caracteriza pela elevada densidade de povoados e pelas dimensões de uma série de castros,
sem paralelo nas restantes zonas acima referidas. Aliás os castros do Minho possuem evidentes
analogias entre si, quer no modo de implantação, quer nas estruturas arquitectónicas e na
cultura material. Deve salientar-se que esta faixa de grandes castros, ou povoados, característica
do Minho, ultrapassa a actual fronteira entre Portugal e a Galiza, estendendo-se para Norte
do rio homónimo, ocupando toda a bacia final deste curso de água até à confluência com o
rio Sil. Assim os castros do Sul das províncias de Pontevedra e de Ourense Ocidental também
integram a área dos grandes povoados. Destacam-se, por vários motivos, os seguintes: Santa
Tegra (A Guarda); Castro de Vigo; Castro de Troña (Ponteareas); San Cibrao de Lás (Amares);
Cidade de Ármea; Castromao (Celanova); Santomé (Ourense).
Induzidos pela coincidência dessa área com a do posterior conventus bracaraugustanus
há autores que designam a vasta zona dos grandes povoados como a região dos oppida
bracarenses, pelo menos quando entram nos parâmetros cronológicos da II Idade do Ferro
(González Ruibal, 2003). Quanto à palavra oppidum não se registou nenhum documento
epigráfico coevo que confirme o uso generalizado do termo nesta região, embora em rigor seja
aplicável, por comparação à terminologia usada no resto da Europa. Por outro lado a palavra
bracarense implica a hipótese de um povo dominante, os Bracari, para a qual não existe suporte
documental, ou arqueológico. Há uma frase de Plínio que suscita dúvidas quando refere Bracara
oppidum Augusta quos super Callaecia (Tranoy, 1981). Todavia o conventus de Bracara Augusta
é uma divisão administrativa posterior, romana. Por isso prefere-se, neste texto, a expressão
mais neutra de zona dos grandes povoados, eventualmente oppida, o que aliás não significa que
também não se registem no Minho numerosos povoados de pequenas e médias dimensões.
O que distingue, em absoluto, o espaço em análise, é a grande densidade de castros, com
dimensões intramuros que variam entre 5 e 20 hectares. Noutras zonas do Norte da Península
também ocorrem grandes povoados, como por exemplo na Meseta Norte Ocidental, na área
dos Vetões (províncias de Ávila, Cáceres e Salamanca) (Álvarez-Sanchís, 1999, 2003). Alguns
são ainda maiores, com superfícies que alcançam 60 hectares, mas não se verifica a mesma
densidade habitacional intra-muros e o ratio por Km2 é muito reduzido quando comparado
com a Galécia Meridional.
No âmago do espaço dos grandes povoados castrejos do NO de Portugal destacam-se
134 as bacias dos rios Cávado e Ave, onde o número de extensos aglomerados proto-históricos
fortificados é verdadeiramente excepcional. Por outro lado é nesta zona, e em seu redor, que
se regista com maior nitidez a formação dos habitats de altura no contexto do Bronze Final/I
Idade do Ferro e se concentram alguns dos itens mais expressivos da fase plena da Cultura
Castreja (II Idade do Ferro) como os complexos sistemas defensivos, o proto-urbanismo, a
ornamentação geométrica de elementos arquitectónicos, os banhos, as estátuas de guerreiros,
a ourivesaria.
Em Trás-os-Montes Ocidental e na zona Sudeste da Galiza, embora também se registem
imponentes fortificações (Lemos, 1993), bem como a formação de lugares lugares centrais
(Lemos, 1993; González Ruibal, 2005; Fonte et al, 2008), as superfícies intra-muros são menores
e não se nota uma organização proto-urbana como no litoral, embora futuras escavações
possam surpreender.
A Cultura Castreja no Minho

135

Cartografia dos principais povoados castrejos do Minho.


Minho. Traços de Identidade

3. OS CASTROS DO MINHO
3.1 Distribuição territorial

O quadro geomorfológico do Minho é muito característico, sendo já clássica e usada com


frequência, a expressão de “anfiteatro voltado ao Oceano”, com sucessivos patamares de
altitude que se elevam, progressivamente, do litoral até às montanhas interiores, cortados por
uma sequências de vales fluviais, dispostos de Nascente para Oriente e por entalhes tectónicos
no sentido NNO/SSE e N/S (Brum Ferreira, 2005). Este intrincado quadro morfotectónico
produziu uma orografia muito fragmentada, na qual se implantaram os povoados proto-
históricos, o que confere à distribuição dos castros do Minho (e do Entre Douro e Minho)
um ordenamento muito específico, sem paralelo noutras zonas do NO da Península. Assim a
matriz cartográfica dos povoados obedece a um padrão complexo, influenciado pela articulação
simultânea entre vários factores: a plataforma litoral; os estuários; os limites de navegabilidade;
os vales fluviais; as montanhas; e os eixos e depressões tectónicos.
Ao longo da orla marítima, entre o Douro e a Ria de Vigo, regista-se uma distribuição linear
dos castros, erguidos em relevos, mais ou menos elevados, e que controlam, por um lado a costa
oceânica e, por outro, o acesso ao interior, através do principais rios, ou corredores terrestres.
Nesse grupo destacam-se, de Sul para Norte: Morro da Sé (Porto); Guifões (Matosinhos);
Alvarelhos (Trofa); Bagunte (Santo Tirso); Terroso (Póvoa do Varzim); S. Lourenço e Belinho
(Esposende); Castelo de Neiva, Roques e Santa Luzia (Viana de Castelo); Cividade de Âncora
(VC/Caminha); Coto da Pena (Caminha); e Santa Tegra (A Guarda - Pontevedra).
O povoado castrejo do Morro da Sé, local que mais tarde seria o porto de Bracara Augusta,
tinha por certo uma relevância estratégica excepcional, testemunhada pela quantidade de
cerâmica púnica recolhida nas sondagens arqueológicas nos estratos proto-históricos da
escavações realizadas na Rua de D. Hugo (Silva e Osório, 1994). No entanto pouco se sabe
sobre a sua estrutura e dimensão, devido às ocupações sobrepostas.
O Castro de Alvarelhos, no limite entre as bacias do Ave e do Leça, a meia distância
entre os dois cursos de água, fechava o acesso ao coração do território dos Bracari. Por sua
vez a Cividade de Bagunte, situada na mesopotâmia onde confluem os rios Este e Ave, vigiava
também a foz deste último e os caminhos que levam para o centro do Minho. A Cividade de
Terroso destacava-se, a meio da plataforma litoral, entre o Ave e o Cávado. O estuário do
136
Cávado era controlado pelo Castro de S. Lourenço, um dos maiores povoados proto-históricos
do Minho. Por sua vez a Cividade de Belinho, a Sul, e o Castelo de Neiva, a Norte, barravam a
entrada do rio Neiva cujo curso permitia o acesso ao interior, a uma zona rica em ouro, prata e
estanho.
Talvez devido à sua importância estratégica, e como recurso hídrico, em ambas as
margens do estuário do Lima, erguiam-se duas importantes sentinelas. No lado Sul o Castro de
Roques, um amplo habitat, defendido por cinco linhas de muralha e que ainda se encontra bem
preservado, apesar de pouco estudado. No lado Norte a Citânia de Santa Luzia que, embora
tenha sido amputada pela construção do Hotel, ainda conserva o seu esplendor.
A Cividade de Âncora vigiava o estuário do rio homónimo e deste modo o acesso aos
contrafortes setentrionais da Serra de Arga, uma zona igualmente abundante em estanho e
ouro. Finalmente, tal como o Lima e o Neiva, o estuário do Minho era controlado por dois
povoados. Na margem Norte o castro de Santa Tegra. Na margem Sul o Coto da Pena, mais
pequeno, mas com uma cronologia mais antiga. Deste sítio também se avista a foz do rio Coura,
ponto de entrada noutra região mineira rica em estanho e ouro.
A Cultura Castreja no Minho

137

Cartografia dos povoados do litoral do Minho.


Minho. Traços de Identidade

Ligeiramente mais recuados ainda integram essa “muralha” a Citânia de Sanfins (Paços
de Ferreira) e o Monte Padrão (Santo Tirso). O primeiro situa-se num relevo destacado, a 570
metros, dominando as cabeceiras do vale de Ferreira, um tributário do Douro, bem como o
acesso ao vale do Ave e ao território dos Bracari. Por sua vez o Monte Padrão controlava uma
passagem chave entre o litoral e o interior do Minho, pois vigiava, em simultâneo, as cabeceiras
do rio Leça e o troço intermédio do rio Ave.
Na zona intermédia dos vales dos principais rios (Ave, Cávado, Neiva, Lima, Coura e o
Minho), em particular nos pontos de intersecção com os eixos tectónicos NNO/SSE e N/S,
situa-se grande parte dos restantes grandes castros da região do Minho, embora implantados
em diferentes contextos topográficos. A maioria localiza-se em cumeadas que se destacam
das serras envolventes e, por vezes, em posição sobranceira aos cursos de água perene. Como
exemplos desse modelo de implantação podem referir-se:
- Vale do Minho - Castro de São Caetano (Monção);
- Vale do Coura - Cividade de Coussorado (Paredes de Coura);
- Vale do Neiva - Castro de Carmona (Barcelos/Viana de Castelo);
- Vale do Lima - Santo Ovídio (Ponte de Lima), infelizmente muito destruído;
- Vale do Vez - Castro de Álvora (Arcos de Valdevez), também alterado;
- Vale do Cávado - Roriz e Monte da Saia, ambos em Barcelos, bem como a Citânia de S.
Julião (Vila Verde);
- Vale do Este – Penices e Ermidas (Vila Nova de Famalicão); Monte Redondo e Santa
Marta das Cortiças (Braga);
- Vale do Ave - Monte das Eiras (Vila Nova de Famalicão), bem como a Citânia de Briteiros
(Guimarães), situada no extremo Sudeste da Serra do Carvalho.

Há, também, um modelo de implantação nas cabeceiras dos vales do qual é possível citar,
no quadro do Minho, pelo menos dois casos: o Castro de Vieira (Vieira do Minho), no cerne
das cabeceiras do rio Ave; e o Castro de Santo Ovídio (Fafe), edificado no ponto central do vale
superior do Vizela.
Registam-se, por outro lado, castros que ocupam os chamados “castelos graníticos”, uma
feliz expressão escolhida pelo geógrafo alemão Herman Lautensach para designar os cumes
138

Castro de Vieira do Minho, vale do Ave (Fototeca da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho).
A Cultura Castreja no Minho

onde os afloramentos constituem uma muralha natural, por vezes aproveitada como lugar de
habitat, tanto na Idade do Bronze Final, como no período seguinte. Será, por exemplo, o caso do
Castro de Lanhoso, erguido sobre um majestoso batólito granítico. O contexto deste povoado
é notável: edificado nas abas setentrionais da Serra de Carvalho, fica na divisória entre as bacias
do Cávado e Ave, com amplo controlo visual sobre sectores dos dois vales e, em particular,
sobre a portela que a Norte dá acesso às serras da Cabreira e do Gerês.
Outros instalaram-se nos últimos contrafortes das serras de baixa altitude, como se
verifica no vale do Lima, nos castros de Santo Estevão da Facha (extremo Nordeste da Serra da
Padela); ou no vale do Cávado, no Castro de Faria (extremo Noroeste da Serra da Franqueira).
Outro contexto frequente é o aproveitamento de relevos residuais que se destacam sobre
o fundo dos vales. Como exemplos citamos: o Castro da Senhora da Assunção ou da Ascensão
no vale do Minho; o Monte das Caldas (Braga) e o da Santinha (Amares), no vale do Cávado;
e Sabroso no vale do Ave. Por outro lado, dispostos ao longo das margens dos rios, a altitudes
baixas, encontram-se numerosos castros, de pequena dimensão, sendo numerosos, nas bacias
do Lima, Vez e Neiva.
Finalmente, no centro da depressão tectónica de Cabeceiras de Basto, está assinalado um
importante povoado, em Santa Comba de Refojos. Embora não se destaque na paisagem, ocupa
um lugar central em relação aos relevos envolventes, mais altos, situando-se num cume sobre
o rio de Oura, afluente do Tâmega. Neste povoado foi descoberta uma estátua de guerreiro
galaico, sendo possível que o célebre Basto também seja oriundo do mesmo sítio.
Nas plataformas superiores da orografia minhota, com altitude entre 700 e 1500 metros, tal
como se verifica nos relevos da Galiza (Carballo Arceo, 1995) não foram identificados povoados,
de tal modo que é possível que os extensos cumes montanhosos tenham sido escolhidos como
faixas de fronteira entre diferentes populi. Tais espaços fronteiriços parecem evidentes nas
serras de Arga, Extremo, Castro Laboreiro, Peneda, Soajo, Amarela, Gerês e Cabreira. De facto,
apesar de várias prospecções já efectuadas nunca foram detectados castros nos patamares
mais elevados destas montanhas.
Esta matriz de povoamento aparentemente tão fragmentada, mas que esconde uma
organização territorial muito sofisticada, aproveitando ao máximo as oportunidades facultadas
pela orografia, parece ser uma característica específica dos castros do Minho. Convém
esclarecer que a imagem geográfica desenhada é sobretudo válida para a II Idade do Ferro e
que não dispomos, por ora, de elementos suficientes, para os períodos anteriores. Todavia é 139
nesse período que se concretiza, plenamente, uma estratégia regional de controlo do território,
processo cuja origem se atribui aos povoados da Idade do Bronze Final. Uma organização tão
estruturada do espaço não terá sido um simples movimento reactivo à campanha de Décimo
Júnio Bruto, mas um movimento de longa duração, que precedeu, por certo, o final do século
II a.C.
Outros autores têm uma opinião diferente e encaram esta malha de povoados de tamanho e
posicionamento diferenciado, como um fenómeno semelhante, embora mais amplo, à formação
de lugares centrais ocorrida no Bronze Final (González Ruibal, 2003).
Verifica-se, por outro lado, que o complexo jogo entre a plataforma litoral, os eixos
tectónicos que sulcam o Minho, o relevo acidentado, influenciaram a distribuição do habitat
castrejo tanto quanto os vales fluviais, espaço preferencial da investigação: Manuela Martins
(Médio Cávado); António Dinis (Rio Ave) e Tarcísio Maciel (Rio Neiva). Não se pode, aliás,
minimizar a importância das bacias hidrográficas na rede da distribuição dos castros. Pelo
contrário já se estabeleceu analogias com a rede de polei da Grécia, cujo enquadramento será
semelhante (González Ruibal, 2003).
Minho. Traços de Identidade

Aliás o estudo do médio vale do Cávado (Martins, 1990) facultou uma hipotética leitura
diacrónica para a organização da rede de povoamento descrita nos parágrafos anteriores. Os
castros mais antigos, com ocupação da Idade do Bronze Final foram erguidos em plataformas
intermédias com altitudes superiores a 200 m e menores que 400. Na primeira fase da Idade
do Ferro, em que se registam raros utensílios em ferro, os solos mais espessos do fundo dos
vales eram pouco acessíveis, conservando-se ao longo dos rios uma ampla floresta ribeirinha
com o seu cortejo de espécies ripícolas. Pelo contrário os solos das chãs de altitude eram mais
leves e trabalhavam-se com maior facilidade, embora fosse necessária uma área mais vasta,
de forma a permitir longos tempos de pousio. Na segunda fase, a partir do século III a.C.,
em consequência do efeito conjugado da pressão demográfica e de novas técnicas de cultivo,
admite-se que se tenha verificado, de uma forma progressiva, a implantação de povoados nos
patamares inferiores entre 50 e 200 m, junto às margens dos rios.
Tudo indica que foi um processo endógeno, sem influência exteriores como se pretendeu
diagnosticar no vale do Lima, devido a movimentos célticos como sugeriu J. Alarcão (1992) ou
por influência romana, já mais tardias (Almeida, 2003). De facto, os povoados de baixa altitude,
estudados no vale do Lima, não facultaram estratigrafias claras pelo que a sua cronologia
permanece em suspenso.
De qualquer modo a trama distributiva dos castros minhotos é assaz peculiar e distinta
de outras zonas do Noroeste Peninsular. Em Trás-os-Montes Ocidental a cartografia dos
sítios revela a ocupação das zonas planálticas e montanhosas, distribuindo-se os povoados
pela bordadura dos relevos, sobre os vales encaixados e nos cumes proeminentes, formando
redes autónomas como na Serra da Padrela e Planalto de Alijó, por exemplo (Lemos, 1993). A
Leste, já fora da zona dos grandes povoados a matriz cartográfica dos castros articula-se ou
melhor “cola-se” à rede fluvial, tendo os castros escassa visibilidade para a envolvente, como
se verificou nos estudos realizados no Nordeste Transmontano (Lemos, 1993) e em Zamora
Ocidental (Esparza Arroyo, 1986). A Norte da dorsal galega, a distribuição dos castros, quase
sempre com dimensões equivalentes ou inferiores a dois hectares, amarra-se ao litoral e ás rias,
com sítios como Neixón, ou Baroña, ou adapta-se á orografia específica das províncias de Lugo
e da Coruña (Carballo Arceo e González Ruibal, 2003).

140 3.2 O Contexto Paisagístico

A partir do final dos últimos episódios, glaciar (Würm) e tardiglaciar (10 000 A.C.), o clima da
Europa Ocidental evoluiu, sucedendo-se duas fases, designadas como Pré-Boreal (aquecimento
da temperatura) (9 650 a 7970 a.C.) e Boreal (degradação) (8 000 - 6850 a.C.). De seguida
houve uma fase de estabilidade (anatérmica) conhecida como Período Atlântico, em que
regista um optimum climático com início em 6500 a.C. Neste último contexto formaram-se os
vastos carvalhais (Quercus Robur) que cobriam as vertentes e os cume do Minho, ficando os
pinheiros silvestres (Pinus Sylvestris), os vidoeiros (Betula Celtiberica) e os teixos (Taxus baccatus)
acantonados nos patamares mais elevados, onde ainda hoje se podem observar (na Serra do
Gerês, por exemplo). Também se constituíram matas ribeirinhas ao longo dos cursos de água,
com amieiros (Alnus Glutinosa), salgueiros (Salix Atrocinerea), freixo (Fraxinus Angustifolia).
Todavia a partir do 2000 a 1500 a.C. o período de equilíbrio térmico terminou, entrando-
se num contexto catatérmico iniciado no Sub-Boreal, com expressivas oscilações climáticas e
mudanças na cobertura vegetal, às quais se juntou a intervenção antrópica. Na fase conhecida
A Cultura Castreja no Minho

Mata de Albergaria, Serra do Gerês (Fototeca da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho).

como Sub-Atlântica, mais fria e húmida, correspondente à Idade do Ferro, a desflorestação


acentua-se, e o bosque caducifólo só irá recuperar, transitoriamente, na Alta Idade Média
(Ramil Rego et al, 1996).
As transformações no revestimento florestal e arbustivo, ao longo dos últimos milénios
na Galiza, têm sido estudadas, de forma sistemática, por investigadores da Universidade de
Santiago de Compostela, destacando-se entre eles M. J. Aira Rodríguez e P. Ramil Rego. Os
dados disponíveis foram obtidos, tanto a partir dos estudos palinológicos de turfeiras das serras,
e de paleo-solos detectados em castros, como da análise de perfis edafológicos (solos). Embora
sejam escassos os trabalhos efectuados no Norte de Portugal, considerando a proximidade
geográfica, bem como o facto da Galiza e do Noroeste de Portugal integrarem as mesmas
região (Euro-Siberiana) e província (Cantabro-Atlântica) botânicas, é legítimo extrapolar para
141
o Minho, as sínteses estabelecidas a Norte.
A par das oscilações climáticas da fase catatérmica, ainda vigente, as comunidades
humanas, a partir da Idade do Bronze, intervieram, de forma contínua, no revestimento florestal,
alterando-o. De facto, os estudos paleo-botânicos demonstram que o uso de queimadas é um
método muito antigo, que se intensificou na Idade do Bronze e se generalizou na Idade do Ferro,
assegurando a renovação dos pastos para o gado e de culturas de sequeiro, com longos prazos
de pousio.
Assim durante a Proto-História, os cumes e as vertentes do Minho, tal como da Galiza,
de acordo com todos os indicadores, eram revestidos por matos, ou extensas pastagens, tendo
diminuído, de forma dramática, os carvalhais formados no anterior optimum climático. Todavia
ainda se conservavam, nos vales mais encaixados das montanhas interiores e nas vertentes
mais abruptas, manchas de floresta, em que dominava o carvalhal de folha caduca, ao qual
se associava um conjunto muito característico de outras espécies vegetais, entre os quais o
azevinho (Ilex Aquifolium).
Minho. Traços de Identidade

Chã de Nabia, Serra de Santa Isabel. Terras do Bouro. (Fotografia do autor)

No fundo dos vales mantinham-se as matas ribeirinhas, protegidas pela humidade e pela
profundidade dos solos. Numa fase inicial, em que as ferramentas em ferro ainda eram raras,
as zonas de cultivo incidiam nos solos mais leves, de montanha, como já se referiu. Só na auge
da “Cultura Castreja”, nos três últimos séculos do primeiro milénio antes de Cristo, foi possível
lavrar os solos mais espessos, situados no fundo dos vales, o que permitiu o aparecimento de
novo povoados e uma assinalável expansão demográfica.
Assim a história dos povoados castrejos está, intimamente, relacionada com paisagens
142 que foram construídas ao longo de muitos séculos pelas próprias comunidades. A paisagem
tradicional do Minho, com a sua estrutura tripartida (monte; bosques; socalcos de meia encosta;
e aproveitamento intensivo dos solos mais espessos), tal como se manteve até meados do
século XX, começou a ser moldada no começo do primeiro milénio antes de Cristo. Ao longo
da Idade do Ferro, embora mantendo-se a matriz agro-silvo-pastoril estabelecida na Idade
do Bronze Final, verifica-se uma generalizada e progressiva apropriação dos vales e das faixas
ribeirinhas aspecto bem estudado por Manuela Martins (1990) na média bacia do vale do
Cávado. A fundação do Castro do Lago (Amares), no século III a.C., assinala o desenvolvimento
desse processo. A datação tardia dos chamados castros do Lima, situados junto às margens,
deve ser encarada com prudência, tal como já se referiu. Mesmo que os povoados ribeirinhos do
Lima fossem tardios, os territórios de uma hora dos povoados mais antigos, como o de Santo
Estevão da Facha, incluem já a faixa de solos de vale.
O território, já profundamente humanizado do I milénio a.C., era marcado pelos castros,
onde se concentravam as comunidades, protegidas por linhas de muralha. O povoamento
disperso, que se vai encaixar numa paisagem milenar, é um processo mais recente, que decorre
da romanização e da Antiguidade Tardia (paróquias).
A Cultura Castreja no Minho

Sistema defensivo da Citânia de Briteiros, Guimarães, Vale do Ave (Arquivo Fotográfico da Casa de Sarmento, Universidade do Minho).

3.3 Os sistemas defensivos

A organização defensiva dos castros evoluiu de módulos lineares para múltiplos, adaptados à
morfologia do terreno. Contudo os módulos simples com uma única linha de defesa continuaram
a ser utilizados nos povoados mais pequenos. De facto, embora a generalidade dos povoados
do Minho seja defendido por mais de uma linha de muralha também ocorrem nesta região
pequenos castros com um único perímetro de defesa, como no Lago (Vale do Cávado), á
143
qual será acrescentada, por vezes, uma linha suplementar, como em Sabroso (vale do Ave). Os
chamados “castros agrícolas” do vale do Lima também eram defendidos por uma única linha
de muralha.
As extensas e sofisticadas muralhas são características dos grandes povoados, mas
constituem um dos primeiros elementos aos quais se associa a imagem do universo castrejo.
Na verdade, um dos aspectos mais impressivo dos castros é o complexo sistema defensivo,
normalmente formado por várias muralhas concêntricas, ou descentradas em função de um
ponto mais elevado, conforme a topografia do terreno e a natureza do substrato rochoso. Assim,
no conjunto das centenas de povoados já identificados, as características destas muralhas
variam muito. As muralhas em granito são, porventura, as mais imponentes e possuem uma
força visual muito marcada. As muralhas erguidas em xisto, em contrapartida, adaptam-se
de uma forma mais harmoniosa ao terreno e destacam-se melhor na linha de observação, nas
zonas onde o coberto arbustivo é baixo.
A cronologia das muralhas dos castros é uma questão em aberto que tem suscitado
controvérsia, na ausência de monografias pormenorizadas e de escavações arqueológicas,
Minho. Traços de Identidade

Muralha da Citânia de Briteiros, Guimarães, Vale do Ave (Fototeca do Museu da Cultura Castreja - Solar da Ponte, Sociedade Martins Sarmento).

rigorosas e finas. Parece ter havido uma complexa evolução das fortificações, desde as muralhas
em terra e pedra tosca da Idade do Bronze Final, com eventuais paliçadas em madeira até aos
complexos sistemas de defesa, formando extensos alinhamentos.
No ponto relativo à formação da Cultura Castreja já foi referido o contexto da primeira
muralha da Citânia de S. Julião. Por outro lado no Monte do Castelo, em Barbudo, a primeira
estrutura defensiva terá sido uma paliçada em madeira, assente em blocos de pedra (Martins,
1990). Em complemento deve-se acrescentar que a mais antiga muralha do Coto da Pena,
edificada em pedra partida e sobreposta, de forma maciça, e com uma espessura variável entre
1,80 e 2,60, foi datada dos fins da Idade do Bronze Final, embora sem maior precisão (Silva,
1986). Esta protecção foi abandonada na fase subsequente, devido ao alargamento da área
144
habitacional.
Pode assim admitir-se que no Minho, no contexto do Bronze Final já existiam estruturas
defensivas de pedra, o que aliás não deve surpreender, considerando a abundância do granito
e a tecnologia disponível.
Todavia, e de um modo geral as linhas defensivas que hoje se distinguem em muitos castros
foram erguidas, ou reconstruídas, nos períodos mais recentes da Cultura Castreja. Na última
fase da Cultura Castreja, as muralhas foram edificadas com aparelho de pedra trabalhada a pico
de ferro. Algumas das muralhas, que hoje se observam, não seriam mais do que símbolos de
poder e prestígio. De qualquer modo o escasso número de sondagens realizadas nas muralhas
limita muito o valor das generalizações. Só estudos arqueológicos profundos, castro a castro
podem resolver estas questões.
Mesmo os módulos defensivos simples variam muito. O Castro do Lago, por exemplo, era
um pequeno povoado, com uma superfície de cerca de 1 hectare. Assentava sobre granitos,
cobertos por um depósito fluvial do rio Cávado, sobre o qual se eleva a uma altitude de 66
metros. O estudo realizado por Manuela Martins e divulgado em exaustiva monografia (1988b),
A Cultura Castreja no Minho

Desenho de um torreão da muralha da Citânia de S. Julião, Vila Verde (Unidade de Arqueologia da Univ. do Minho).

permitiu recolher dados relevantes sobre o sítio. Fundado no século III a.C., foi protegido, numa
primeira fase, por uma muralha de terra batida e por um fosso escavado na rocha. No século
II a.C., sobre a anterior fortificação, foi erguida uma segunda muralha com 2,30 de largura, 145
em pedra, cujas faces são compostas por blocos de granito toscamente partidos. O miolo
da muralha é formado por pedra miúda, seixos rolados, e terra. Posteriormente, terá sido
adicionado, no lado interno, um reforço em pedra picada. O fosso envolvente, mais profundo
e largo na zona Nordeste do povoado e onde é observável, constituía um elemento chave do
sistema de defesa. A altura da fortificação não pode ser deduzida dos restos que se conservam,
que não ultrapassam dois metros, na face externa. O povoado foi abandonado na sequência da
conquista romana, no período de Augusto.
O castro de Sabroso, fica situado no vale do Ave, numa colina com 278 metros de altitude,
de substrato granítico. O sistema defensivo foi estudado por C. Hawkes e, mais tarde, por uma
equipa portuguesa. De acordo com A. C. Silva (1986) o castro foi inicialmente protegido por
uma única linha de muralha em pedra, edificada na fase inicial da II Idade do Ferro (séc. IV/III
a.C.). A muralha tinha duas faces, erguidas com blocos graníticos “regularizados”, sendo o miolo
interior constituído por pedra solta. Esta estrutura terá sido reforçada, em alguns pontos, com
parapeitos em excelente aparelho poligonal, obra atribuída aos finais do século II a.C., bem
como as defesas suplementares.
Minho. Traços de Identidade

Citânia de Santa Luzia, Viana do Castelo, Vale do Lima (Fototeca da Direcção Regional da Cultura do Norte).

Em numerosos povoados mais pequenos do Minho, em particular nos castros de baixa


altitude, situados na margem dos rios, regista-se uma única linha defensiva, mas sempre
reforçada com um profundo fosso que a rodeava em grande parte.
No mesmo vale do Ave, as fortificações da Citânia de Briteiros constituem um bom
exemplo de um modelo defensivo mais complexo, embora tardio. No istmo do esporão onde
foi edificado o povoado destaca-se um segmento de muralha a que se sucedem dois profundos
fossos escavados na rocha. A seguir a este conjunto de obstáculos sucediam-se três linhas de
muralha, cujo perímetro se alargava de forma descentrada e progressiva no sentido oposto ao
istmo, neste caso de Noroeste para Sudeste, no sentido do vale do Ave.
Porém a sua cronologia ainda não foi integralmente esclarecida. Em Briteiros na década
de 70 do século XX uma equipa liderada por Armando Coelho da Silva e Rui Centeno efectuou
um corte junto à muralha superior que circunda a acrópole (Silva, 1986). De acordo com a
sondagem a muralha foi levantada na segunda metade do século II a.C., mas sobrepõe-se a
camadas de ocupação mais antigas, pelo que não terá sido a primeira defesa da Citânia. Ainda
de acordo com os resultados dessa intervenção a muralha foi abandonada em meados do séc.
146
I d.C., o que parece razoável.
Todavia é insuficiente uma única sondagem para datar um sistema com mais de um
quilómetro de extensão. Apesar dos restauros e das incertezas cronológicas o sistema defensivo
de Briteiros revela a sofisticação alcançada na II Idade do Ferro, na fase mais tardia que antecede
a conquista romana.
No vale do Cávado o modelo defensivo da Citânia de S. Julião possui analogias com
o de Briteiros, designadamente o reforço das fortificações na zona de mais fácil acesso e o
alargamento das muralhas a partir do cume mais alto, descendo até ao sopé do monte. Neste
sítio foram descobertos torreões que se destacavam no paramento exterior das muralhas.
Noutros casos, como no Monte Redondo (Gondizalves – Braga), as três linhas de muralha
são concêntricas, aproveitando a feição mais plana do cume do relevo onde foi implantado o
castro.
Na Citânia de Santa Luzia, Viana de Castelo, apenas se observa bem a muralha interior
que possui características interessantes: a espessura; os torreões; os acessos em escada, pelo
lado interno.
A Cultura Castreja no Minho

No vale do Lima, junto ao estuário, um dos maiores castros do Minho, o de Roques, era
defendido por cinco linhas de muralha, o que é pouco frequente.
A extraordinária densidade de povoados fortificados, tem suscitado diversas interpretações
acerca do significado das muralhas, independentemente da sua extensão e complexidade, do
tamanho do castro, ou da sua cronologia. De acordo com alguns investigadores as muralhas
demarcavam o espaço doméstico, contribuindo para assegurar a coesão das comunidades
(González Ruibal, 2003). Tinham assim uma dupla função social e simbólica. Separavam o
espaço habitado do meio circundante, sendo ao mesmo tempo uma marca de domínio sobre o
território. O fumo das lareiras deveria acentuar, nos dias mais límpidos, a imagem de pequenas
aldeias e cidades fortificadas, distribuídas pelas alturas dominantes. As comunidades encaixam-
se, assim, no território, como âncoras firmes que agarram as paisagens envolventes.
As muralhas exprimem, talvez e antes de mais, as raízes profundas desse compromisso
com a terra-mãe, eventualmente materializado em rituais específicos de delimitação do castro.
Quando se observa, com cuidado, as fortificações nota-se uma interligação quase perfeita entre
o substrato rochoso e as primeiras fiadas. De uma forma metafórica as muralhas constituem
o abrigo, a gruta, onde a comunidade se acolhe, onde as fragilidades não são tão visíveis. Esta
condição da muralha como espaço de refúgio, de acolhimento, de resguardo, de lugar onde
se unem a terra e o céu, é reforçada pela circunstância das cinzas dos mortos serem, admite-
se, depositadas na interior da área intra-muros. Na superfície irregular do território, na linha
do horizonte, o castro com as suas muralhas é um sinal da individualidade das comunidades,
uma afirmação de perenidade, tal como os monumentos megalíticos tinham garantido numa
outra época. Esta “monumentalização da paisagem”, como se usou dizer durante algum tempo,
ou de “Arquitectura da Terra” como se diz ultimamente, alcançou na II Idade do Ferro uma
expressão territorial única, tanto em relação a períodos anteriores como a épocas históricas
subsequentes.
Outra questão prende-se com o relacionamento entre os diversos castros. Como se
explica que haja povoados tão próximos e coevos defendidos por muralhas? Existiria um
estado endémico de conflitos inter comunidades, como se pretende (Queiroga, 1992) Ou, em
alternativa, os castros formavam unidades defensivas, congregadas em diversos povos?
Haveria, talvez, vários níveis de conflito, tal como noutras sociedades, bem tipificados.
Por exemplo, entre os Macondes, verificou-se que existiam palavras diferentes para designar
os conflitos bélicos inter comunidades e as guerras com outros povos, “Livenda” e “Inondo”, 147
respectivamente (Dias e Dias, 1964 e 1970).
Por outro lado, para atenuar os conflitos latentes existiriam alianças entre os diversos
castella e linhagens do mesmo povo, ou mesmo entre comunidades pertencentes a diferentes
populi. Nas sociedades da África subsahariana, que, do ponto de vista tecnológico, se inseriam na
Idade do Ferro, os pactos de hospitilidade constituíam um mecanismo integrador, sob diversos
nomes, conforme os povos. Entre os Macondes, por exemplo, as linhagens (“likola”) celebravam
entre si alianças “imbodi ya luhunga” que garantiam a uma linhagem o apoio da outra, quer
no desenvolvimento normal das actividades de subsistência, quer nas frequentes situações de
conflito entre linhagens, ou mesmo no caso de guerras inter-étnicas (Dias e Dias, 1970). A
aliança entre as linhagens permitia que o membro de uma dada linhagem se hospedasse no
povoado da linhagem com a qual se tinha estabelecido o pacto, em caso de viagem de comércio
ou lazer, ou de expedições cinegéticas que ultrapassassem o território da aldeia. Mas, apesar de
se reconhecerem como filiadas no mesmo povo as linhagens beneficiavam de total autonomia,
e o território de uma linhagem era interdito aos membros de uma outra, se não estivessem
associadas por pactos de hospitalidade.
Minho. Traços de Identidade

Também no Sudoeste da Angola, entre povos de pastores, mais sujeitos a instabilidade


territorial e susceptíveis de acções de rapina (destinadas ao roubo de gado), encontramos
acordos de hospitalidade entre linhagens de diversas etnias (Estermann, 1983). Laços de
hospitalidade asseguravam aos grupos esquimós Nunamiut, a passagem e a caça em territórios
de comunidades vizinhas (Johnson e Earle, 1987).
Um outro motivo para a densidade de povoados, defendidos por muralhas, terão sido os
movimentos étnicos, ao longo do milénio, designadamente as hipotéticas invasões de povos
celtas, que criaram um contexto de instabilidade, que se acentuou a partir do século II, na
sequência da primeira incursão militar romana a Norte do Douro, evento que serve de referência
para datar níveis de incêndio e reforços de muralha, como no caso do Castro de Sabroso.
Nos grandes povoados do Noroeste de Portugal, na sua zona nuclear, nas bacias do Ave e
do Cávado a área intra-muros é bastante dilatada, abrangendo por vezes mais de 10 hectares. A
Citânia de Briteiros, um dos maiores castros do Noroeste Peninsular, tem uma área intra-muros
de 24 hectares e as muralhas da Citânia de Sanfins defendem cerca de 15 h. Também a área
intramuros do Castro de Vieira é estimada em 15 h. Trata-se, pois, de enormes sítios, quando
comparados com outros castros do Norte de Portugal e da Galiza que raramente ultrapassam
5 hectares. Assim foi sugerido que parte da zona defendida pelas muralhas se destinava a
proteger o gado de maior valor, à semelhança do que se registou nos grandes oppida célticos
(Ardouze e Büchsenschütz, 1991) ou na área dos Vetões (Álvarez-Sanchís, 1999), por exemplo,
não sendo pois a área intra-muros do castro totalmente ocupada por habitações.
Esta ideia de que parte da área protegida por muralhas inclua espaço para o gado, será
talvez uma subavaliação da relevância demográfica dos castros. Os resultados de escavações
em sítios como o Castro de S. Lourenço, ou os trabalhos de emergência efectuados no Castro
Máximo (Braga) e no de Perre (Viana de Castelo), povoados de estatuto menor, supunha-
se, demonstraram que a área habitacional dos povoados do Minho, na Idade do Ferro, era
muito extensa. Nas prospecções realizadas no interior do espaço murado da Citânia de Briteiros
verificou-se que vestígios de estruturas habitacionais e de material (fragmentos de cerâmica)
ocorrem até à última linha de muralha na encosta mais declivosa, voltada a Nascente. De
facto, as áreas intra-muros da Citânia de Briteiros, do Castros das Eiras e de Sanfins não são
excepcionais face aos valores de povoados proto-históricos da Europa Central que chegam a
alcançar 50 hectares (Ardouze e Büchsenschütz, 1991)
148

3.4 Urbanismo e Arquitectura


3.4.1 Áreas Públicas e Equipamentos Colectivos

No Bronze Final e na I Idade do Ferro, provavelmente, o principal investimento colectivo terá


sido a construção das muralhas, embora haja referências a espaços comuns classificados como
rituais na Citânia de S. Julião, nos primórdios do milénio. Todavia, é na II Idade do Ferro e,
em especial a partir do século II a.C. que o espaço intra muros é ordenado de forma assaz
sofisticada, investindo-se em equipamentos públicos, funcionais e simbólicos.

Arruamentos e praças
As ruas que cruzam o espaço habitacional são um dos traços marcantes dos castros do
Noroeste de Portugal, na II Idade do Ferro. Nalguns povoados formam uma malha mais regular;
noutros adaptam-se ao modelado do terreno. Nos eixos principais entroncam áleas de largura
A Cultura Castreja no Minho

mais reduzida e que conduzem a unidades domésticas, mais afastadas. Alguns desses eixos
secundários são autênticos becos que terminam nas entradas dos conjuntos habitacionais,
enquanto outros se desdobram em duas, ou três, pequenas artérias também sem saída. O
pavimento das ruas é lajeado, ou aproveita a própria rocha natural que aplanado para o efeito.
No caso da Citânia de Briteiros observa-se, ao longo do seu maior arruamento uma
conduta que levava água de uma nascente situada no alto da vertente até a uma fonte, situada
a meia encosta, e aos banhos Sul. Em Briteiros não se identificam sistemas de drenagem das
águas pluviais. Os existentes noutros castros serão mais tardios.
Na Citânia de Santa Luzia conhece-se um recinto situado no centro do povoado, que
poderá ter delimitado uma praça. Todavia a sua finalidade é hipotética, pelo que se torna
necessário averiguar a sua efectiva função através de escavações. Também no extremo Sudeste
da Citânia de Briteiros, sobranceiro à Casa do Conselho o eixo que atravessa a cumeada parece
desembocar num espaço aberto, numa plataforma onde mais tarde, em 1853, se edificou a
Capela de S. Romão. Nas últimas sondagens de 2005 e 2006 há um estrato de nivelamento que
poderá assinalar essa eventual praça. Um recinto desta natureza encontra-se bem delimitado
em Monte Mozinho (Queiroga, 2007). Os últimos trabalhos aí realizados não detectaram
qualquer estrutura o que indica a possibilidade ter sido algo semelhante a uma praça (Carvalho
e Queiroga, 2005). De qualquer modo Monte Mozinho é um castro tardio, pelo que não se
pode transpor dados deste sítio para outros povoados mais antigos.

As Casas do Conselho
Os edifícios mais peculiares dos grandes povoados do Minho são, talvez, as grandes casas
circulares, com um banco corrido ao longo da parede interior e que teriam uma função
comunitária. Nestas construções reunia-se o Conselho dos Anciãos, já referido como uma
estrutura social importante por Estrabão, geógrafo grego que viveu no câmbio da Era Cristã..
Mas o que seria este Conselho dos Anciãos?
Considerando a expressão à letra o Conselho reunia os veneráveis, os sábios, os idosos.
Numa outra perspectiva, podemos supor que os “Anciãos” seriam, de facto, os chefes das
principais linhagens que habitavam o castro. Nos grandes povoados é impensável admitir que
todos os chefes das famílias, representando as numerosas unidades domésticas, se reuniam
num espaço tão pequeno. A Casa dos Anciãos era, pois, um lugar de poder e de mediação de
conflitos e não um ponto de encontro amigável dos patrae familiae. 149
A ampla casa circular descoberta na Citânia de Briteiros, no extremo da acrópole, dominava
visualmente o vale do rio Ave, tendo pois uma implantação simbólica. Embora não ficasse no
centro da acrópole, nem no seu ponto mais elevado, ocupava o centro do povoado, uma vez que
as duas outras linhas de muralha se alargavam para Oeste e Sudoeste. Por outro lado, a partir
do local onde foi edificada, controlavam-se as diversas zonas da matriz económica do povoado,
incluindo o leito do Ave. Dominava-se, também, não só o pequeno Castro de Sabroso, como a
rota terrestre que ligava o vale do Ave à bacia do Cávado. Visualizava-se, ainda, um importante
povoado: o Castro de Santa Marta da Falperra. No sentido oposto, ou seja para Nordeste,
abrangiam-se parte das cumeadas ocupadas pelas pastagens.
Outra construção, com as mesmas características, existiria na Cividade de Âncora, o grande
povoado que domina a foz do rio Âncora e fica a meia distância entre as desembocaduras dos
rios Lima e Minho, conforme é sugerido pela magnífico lintel decorado recolhido por Francisco
Martinho Sarmento. Outra padieira, talvez a mais comprida e profusamente decorada de todo
o Noroeste Peninsular, foi descoberta no Castro de Vermoim (Vila Nova de Famalicão).
Minho. Traços de Identidade

150

Casa do Conselho. Citânia de Briteiros, Guimarães, Vale do Ave.

Acumulavam-se na Casa do Conselho diferentes centralidades, de ordem política, social,


económica e territorial. Provavelmente esta estrutura maior, a Casa do Conselho, reproduzia à
escala do povoado e ao nível político, outras construções que, em diversas unidades residenciais,
reuniam a família, os elementos da domus, as pessoas que se consideravam ligados por um
parentesco efectivo, por laços de consanguinidade, vivendo em redor do mesmo ponto central,
o pátio. Há numas das unidades, do sector 8, situado na encosta Leste da Citânia de Briteiros
uma construção circular com bancos dispostos em redor que também se enquadra na descrição
do geógrafo grego. O mesmo se verifica na Cividade de Âncora, onde na sequência de trabalhos
arqueológicos realizados na década de 80 do século XX foi descoberta uma estrutura com
bancos corridos, integrada uma unidade doméstica. Noutros povoados, como em S. Lourenço,
regista-se o mesmo tipo de construção.
A Cultura Castreja no Minho

Pedra Formosa descoberta na Citânia de Briteiros, no século XVIIII. Museu da Cultura Castreja - Solar da Ponte, S. Salvador de Briteiros, Guimarães.

Os Banhos
O estudo destes equipamentos, considerados a justo título como um dos elementos que
caracterizam a área dos grandes povoados, principiou com o enigma da Pedra Formosa. Esta
extraordinária peça é um verdadeiro ícone da Cultura Castreja. Desconhecem-se as condições
exactas em que ocorreu a sua descoberta, sendo citada desde os primórdios do século XVIII,
quando se redigiram numerosas memórias, muitas das quais permaneceram inéditas até ao
século XX. O nome de Pedra Formosa, que perdurou, deve-se a Francisco Craesbeeck (1726),
que sobre esta peça escreveu as primeiras linhas e esboçou o primeiro desenho, referindo que
teria sido descoberta na Citânia, em local que até hoje não se conseguiu determinar de maneira
definitiva. Da Citânia foi levada para uma quinta do termo de Santo Estevão de Briteiros, 151
propriedade de um sacerdote, antiquário e chantre de Braga. Daí foi transferida, em 1718,
para o adro da Igreja de S. Salvador de Briteiros. Estava neste local quando Francisco Martins
Sarmento a adquiriu e a fez transportar para o alto da Citânia, onde pôde ser admirada durante
várias décadas, em especial pelos eruditos que participaram na Conferência de 1877 e pelos
especialistas que integraram a excursão ao Norte do Congresso Internacional de Antropologia
e Arqueologia Pré-Históricas de 1880. Mais tarde, em 1897 foi conduzida para o claustro
do antigo Convento de S. Domingos, onde ficou instalada no Museu da Sociedade durante
décadas. Finalmente, em 2004, foi transferida para o Museu da Cultura Castreja, no Solar da
Ponte, onde pode ser observada.
A sua função continuou, durante as primeiras décadas do século XX a ser matéria das
mais diversas especulações. Porém a descoberta de uma nova Pedra Formosa, quando se
rasgou a estrada que passa na encosta Sul da Citânia de Briteiros, circunscreveu o âmbito
da controvérsia. Embora menos decorada conservava-se in situ, integrada numa construção
formada por três módulos. Para Mário Cardozo (1994), que acompanhou a descoberta, a
estrutura seria um crematório. Posteriormente foram identificados outras estruturas do mesmo
Minho. Traços de Identidade

Banhos Sudeste da Citânia de Briteiros. Guimarães, Vale do Ave.

tipo, designadamente em Sanfins. Surgiu assim uma nova proposta, da autoria de Carlos
Alberto Ferreira de Almeida (1974) sobre o significado destas construções, que se baseou numa
passagem das breves páginas que Estrabão dedica ao Ocidente da Iberia. Segundo este geógrafo
grego: “Dos que habitam junto ao Douro diz-se que alguns vivem à maneira do Lacedemónios,
untam-se duas vezes ao dia e tomam banhos de vapor que fazem com pedras ao rubro e que
tomam banhos de água fria…”
Todavia a interpretação como monumentos funerários manteve-se pelo menos até à
década de 80 do século XX (Tranoy, 1981).
Actualmente, e tendo em conta a referência de Estrabão e novas descobertas, como a de
152 Tongóbriga, considera-se que seriam estruturas de banhos, construídas segundo um modelo
tripartido: sala de sauna, aquecida por um forno adjacente; uma sala intermédia de transição,
com bancos laterais; um pátio destinada ao banho frio, com água. As dimensões são variáveis,
embora dentro de certos limites. No forno eram colocadas pedras ou seixos aquecidos em lume
vivo, sobre os quais se vertia água, a fim de induzir os vapores da sauna. Entre o compartimento
de sauna e a sala intermédia erguia-se uma pedra, talhada num único bloco, com uma pequena
passagem semicircular de reduzida dimensão, de forma a evitar a fuga de calor, mas suficiente
para permitir a passagem de uma pessoa. Estes monólitos podem ser, mais ou menos, decorados.
De todos os exemplares descobertos até esta data a Pedra Formosa é, sem dúvida, o maior e
com decoração mais exuberante. Os motivos gravados inserem-se na gramática decorativa da
Idade do Ferro e são semelhantes aos que se encontram noutros materiais, tanto de uso comum
(a cerâmica), como ornamentais (a ourivesaria).
A Pedra Formosa pertencia, sem dúvida, a uma segunda estrutura de banhos, da Citânia
de Briteiros, talvez situada na vertente Noroeste, próximo de uma das portas de acesso.
Considerando a vasta dimensão da Citânia, uma autêntica cidade, com milhares de habitantes,
a existência de dois ou mais banhos, em pontos distintos, não nos deve surpreender.
A Cultura Castreja no Minho

153

Cartografia dos balneários no Minho.


Minho. Traços de Identidade

Banhos castrejos de Braga (Fototeca da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho).

A cobertura dos banhos seria em pedra, com lajes rectangulares assentes nas paredes
laterais e numa trave central de madeira de modo a formar um telhado de duas águas, conforme
se observa nos monumentos deste tipo descobertos na Citânia de Briteiros, em 1930 (Cardozo,
1994) e Santa Maria de Galegos (Barcelos) (Silva, 1986). A ausência de lajes similares nos
banhos de Braga, recentemente identificados, indica que outros poderiam ter sido cobertos de
uma forma menos monumental.
No Norte de Portugal o número de banhos deste tipo, assinalados até ao momento, é
restrito. Evidencia-se uma maior concentração no Vale do Ave onde se registam cinco, a saber,
de montante para jusante: Alto da Quintães (Castro de Calvos - Póvoa de Lanhoso) (Dinis,
154 2002); Citânia de Briteiros (dois) (Cardozo, 1994); Castro de Sabroso - Guimarães (Cardozo,
1994); Castro do Monte da Eiras - Vila Nova de Famalicão (Queiroga e Dinis, 1997). No vale
do Cávado já foram reconhecidas três estruturas deste tipo: em Braga (Lemos et al, 2002);
em Santa Maria de Galegos – Barcelos (Silva, 1986) e no Monte da Saia – Barcelos (Cardozo,
1994). Conhecem-se, ainda, outros dois exemplares, no vale do Sousa, na Citânia de Sanfins
- Paços de Ferreira (Almeida, 1974; Silva, 1986) e no vale do Tâmega, em Tongóbriga - Marco
de Canavezes. Recentemente foram descobertos mais três banhos. Um no vale do Lima, no
Castro de Roques, o que não surpreende dada a dimensão deste sítio (Silva e Maciel, 2004),
e outro em Ribalonga no Planalto de Alijó, no canto sudeste da zona dos grandes povoados
(Parente, 2003) e um terceiro no Monte Padrão em Santo Tirso (inf. Álvaro Moreira, a quem
se agradece).
Se a funcionalidade destes monumentos é consensual já a sua cronologia suscitou dúvidas
a diversos autores que os situam no século I d. C., considerando-os como uma adaptação do
modelo ternário dos balneários romanos (caldarium; tepidarium; e frigidarium) (Calo Lourido,
1993/94; Ríos Gonzalez, 2000). Para tanto fundamentam-se na cronologia dos estratos de
utilização da generalidade das estruturas, os quais incorporam materiais da época romana.
A Cultura Castreja no Minho

Reconstituição 3D dos banhos castrejos de Braga (Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho).

A descoberta dos banhos pré-romanos de Braga, onde os níveis de uso e de abandono não
continham fragmentos de cerâmica romana (Lemos et al, 2002) parece ter esclarecido em
definitivo este problema.
A distribuição dos banhos coincide com uma área correspondente ao âmago da Cultura
Castreja, ou seja com o Minho, com a área dos grandes povoados, destacando-se o vale do
Ave como eixo dominante, quer pelo número, quer pela exuberância decorativa das Pedras
Formosas. Verifica-se, também, uma assinalável sobreposição entre a cartografia dos banhos e
a dos guerreiros, o que reforça a hipótese de uma zona nuclear dos grandes castros, ancorada
nas bacias do Ave e do Cávado. Na Galiza apenas se conhecem 4 destes monumentos (Carballo
Arceo e González Ruibal, 2003). Nas Astúrias foram identificados 14 (Villa Valdés, 2007).

3.4.2 Arquitectura Doméstica


155
A par do uso sistemático de pedra nas construções, outro aspecto dos castros do Minho que
sempre impressionou os estudiosos, e os visitantes, são os núcleos residenciais, ou unidades
domésticas, embora seja preferível esta última designação, porquanto a cada grupo de
construções equivalia uma família. A sua história no âmbito da Cultura Castreja ainda suscita
muitas questões, sendo possível que derivem das habitações do Bronze Final, sem prejuízo
de influências sucessivas e diversas, ao longo da I Idade do Ferro. No Ferro recente a unidade
doméstica predomina na Callaecia meridional. Embora o modelo e a área sejam variáveis,
distinguem-se bem os conjuntos habitacionais e os corredores de circulação, uns e outros
delimitados por muros.
Nestas unidades destacam-se as construções circulares, algumas com átrio exterior. Estas
estruturas teriam um pavimento de terra batida, e uma lareira, normalmente de cor alaranjada,
devido à forte percentagem de argila. Ao lado das construções de formato circular encontram-
se outras, de modelo variado, que poderiam ser locais destinados a guardar alfaias ou produtos,
bem como cisternas para armazenar água. As superfícies destes conjuntos habitacionais variam
dentro de cada povoado, bem como o número e o tipo de estruturas de cada um. O elemento
Minho. Traços de Identidade

ordenador da unidade doméstica é o pátio em redor do qual se distribuem as construções. Os


pátios são normalmente lajeados, ou em rocha aplanada, sendo um dos aspectos visuais mais
marcantes dos castros da II Idade do Ferro, no Minho.
Na Citânia de Briteiros, que foi divida em sectores, com o objectivo da analisar o urbanismo,
temos o seguinte quadro, para um dos sectores, o nº 2:

Verifica-se a predominância de estruturas rectangulares nas unidades domésticas 4, 5, 6,


7, 10, 11 e 12, facto porventura relacionado com a ortogonalidade dos eixos viários, que ordenou
a construção urbana nestas unidades. Na UH4 conserva-se o alinhamento de uma estrutura
circular sobreposta por estruturas rectangulares que definem o conjunto actualmente visível,
indiciando a substituição de uma unidade doméstica mais antiga, eventualmente formada
exclusivamente por construções circulares por um novo conjunto adaptado à rua.
Na UH9 observa-se um excelente exemplar de lajeado, assim como de aparelhos
reticulados na estrutura circular central com vestíbulo. A estrutura rectangular, existente neste
conjunto, apresenta, também um vestíbulo de singular morfologia, característica pouco comum
neste modelo construtivo. Nos conjuntos periféricos deste sector constata-se que as estruturas
aparentam menores dimensões e uma construção menos cuidada. Daqui se pode, talvez, inferir
a localização das famílias mais abastadas na área nuclear da Citânia, implantando-se as de
menor estatuto junto da muralha, em áreas marginais, e mais distantes das vias de acesso.

156

Planta do sector 3 da Citânia de Briteiros (Mapoteca do Museu da Cultura Castreja - Solar da Ponte, S. Salvador de
Briteiros.)
A Cultura Castreja no Minho

Unidade doméstica designada como Casa da Espiral, Citânia de Briteiros (Fototeca do Museu da Cultura Castreja - Solar da Ponte, S. Salvador de Briteiros).

Outro sector relevante da Citânia é o número 5, pois situa-se num dos locais mais altos,
com visibilidade sobre o Ave.

157
As portas de acesso aos complexos domésticos abrem para os eixos viários, preferencialmente
para Nordeste e Sudeste; as portas das estruturas circulares abrem preferencialmente para o
centro do pátio da casa de família, sobretudo voltadas a Nascente. São interessantes os dados
relativos às áreas das unidades domésticas: a UH 6, a casa de Coronerus filho de Câmalo ocupa
uma superfície total de 320 m2. A UH 12, a chamada Casa da Espiral tem 300 m2.
Quanto às construções circulares, na “Casa de Câmalo” a estrutura 6 tem 17 m2. Aqui,
a superfície do espaço interno das unidades circulares é bastante uniforme, dando a entender
que se seguiu um padrão previamente estipulado. Na “Casa da Espiral” a estrutura 1 tem 18 m2,
a estrutura 2 tem 19 m2, e a estrutura 3 tem 16m 2. O diâmetro oscila entre 4,6 e 4,9 metros.
Esta unidade doméstica formada pela 3 estruturas possui um magnífico pátio, totalmente
lajeado. Com base em recentes sondagens (2005/2006) foi possível obter indicadores sobre o
sistema construtivo e cronologia. Nas valas de fundação das duas construções intervencionadas
recolheu-se material exclusivamente indígena, da II Idade do Ferro, não se registando qualquer
fragmento de ânfora ou de outra olaria romana importada. Admite-se, porém, que o átrio de
uma das estruturas seja posterior. Por outro lado é curioso observar que as três construções
Minho. Traços de Identidade

possuem aparelho de estilo diferente: helicoidal a da estrutura com átrio; poligonal e ortogonal
o das restantes duas. Os distintos aparelhos podem ter um sentido funcional ou social, pois as
estruturas parecem ter sido edificadas na mesma fase (Lemos e Gonçalo, 2007).
No geral, a área dos complexos domésticos difere pouco de uns para outros, salvo nas
zonas em que a topografia do terreno condiciona a construção, havendo unidades maiores,
enquanto que noutras, a superfície diminui. Apresentam uma superfície média entre 250 e 350
metros quadrados.
O modo de cobertura das construções das unidades domésticas, circulares ou rectangulares
tem levantado algumas dúvidas, por ora irresolúveis. O travejamento seria em madeira sobre
o qual era aplicado colmo. Todavia, a forma destes telhados de colmo não se encontra bem
definida, bem como o nível a que principiava o telhado. Por outro lado Mário Cardozo (1971)
observou em Sabroso pedaços de lousa, que sugere terem sido utilizados nas coberturas. Nas
escavações de Briteiros também foram detectados alguns fragmentos desse material.
Na Cividade de Âncora, conserva-se uma unidade doméstica assaz interessante. É
composta por 4 construções, ordenadas em função do acesso à rua e do pátio central lajeado:
uma circular com vestíbulo e com um banco corrido adossado à parede interna; outras duas,
também circulares, dispostas no lado oposto; uma rectangular com um forno de cozer pão,
encostada à rua. Na mesma unidade destaca-se, junto à entrada, um pequeno compartimento,
talvez um pequeno alpendre, bem como uma fonte de mergulho. O conjunto ilustra a autonomia
da vida familiar (Silva, 1986).
As unidades habitacionais observáveis nos grandes castros, devem ser inseridas no momento
pleno da Cultura Castreja, pelo que se pode admitir uma longa história de soluções diferenciadas.
A arquitectura mais elaborada, visível nos grandes povoados, terá materializado, no quadro de
uma nova dinâmica económica e social, a estrutura ancestral e nuclear da sociedade castreja, a
família extensa. De qualquer modo, na II Idade do Ferro, quer a organização dos arruamentos,
quer a existência de espaços públicos e equipamentos colectivos, quer, ainda o modo como
se distribuem as unidades domésticas, tudo indica um programa prévio de larga escala. Na
Citânia de Briteiros um projecto desse tipo parece ter sido concretizado após a desmontagem
do anterior modelo de organização do espaço interno do povoado, por ora desconhecido.
Entende-se que esse programa foi dirigido pelas elites que governavam os grandes castros.
Por outro lado, terá sido um movimento paralelo e coevo a outros que ocorreram na Península
158 Ibérica, eventualmente por influência das cidades do Sul e não, forçosamente, como um reacção
à primeira campanha militar romana a Norte do Douro. Nesse programa, os espaços públicos e
equipamentos colectivos eram lugares preferenciais de coesão comunitária, embora também de
exercício de poder como garante do seu uso quotidiano e simbólico. A arquitectura doméstica,
embora ainda evoque, a nível simbólico, o castro como a família alargada (Lemos e Cruz, 2007),
passa a ser o marcador, por excelência, da diferenciação social, o sinal de prestígio e de poder.

3.4.3 Arquitectura e Ornamentação

Um dos aspectos mais relevantes da Cultura Castreja, tal como já sublinhámos, é o uso
sistemático da pedra, nas muralhas, nas casas e noutras construções. No Minho o granito é o
material utilizado, enquanto que na Galiza, muitos povoados foram implantados em locais onde
predomina o xisto. A aplicação da pedra, e em particular do granito, confere aos castros uma
imponência e grandiosidade excepcionais. Todavia a data em que principiou o uso generalizado
do granito é assunto que ainda se discute, mantendo-se em suspenso a hipótese que situa
A Cultura Castreja no Minho

Lintél recolhido na Citânia de Briteiros (Museu da Cultura Castreja - Solar da Ponte, Sociedade Martins Sarmento).

esse facto na Idade do Bronze Final, como pretende Armando Coelho da Silva, com base nas
escavações do Coto da Pena (1986). De qualquer modo, como tem sido salientado, os muros
de construção mais cuidada, os aparelhos mais impressivos datam da fase plena da Cultura
Castreja, dos dois últimos séculos do primeiro milénio antes de Cristo e talvez sejam o culminar
de um processo endógeno, embora nada obste à hipótese de influências derivadas de um maior
contacto com o universo mediterrânico, em plena expansão.
Para além do recurso abundante à pedra como material, são relevantes os efeitos
decorativos, quer os que resultam de determinado tipo de assentamento da pedra, como é
o caso dos aparelhos helicoidal e poligonal, quer o diversificado leque de motivos esculpidos
na superfície do granito. Aliás desde as primeiras escavações que as pedras ornamentadas
suscitaram o interesse dos estudiosos. Francisco Martins Sarmento foi o primeiro a sublinhar
este aspecto da arquitectura dos povoados, tanto mais que recolheu um numeroso conjunto.
Entre os elementos decorados destacam-se os lintéis ou padieiras, blocos rectangulares que
rematavam, no topo, as portas das habitações.
Encontram-se as mais variadas decorações, todas geométricas, umas mais simples,
outras mais exuberantes. Entre os lintéis mais sóbrios, podemos referir dois, recolhidos por
Francisco Martins durante as primeiras campanhas de escavação na Citânia: um de 105 cm de
comprimento por 35 de largura, decorado com duas rosáceas sexfólias; outro com 114 cm de
comprimento por 43 de largura, decorado com duas rosáceas sexfólias menos estilizadas e um
159
tetrásceles no centro.
Entre os mais ornamentados registam-se os umbrais recolhidos no Castro de Sabroso e
na Cividade de Âncora.
Os motivos decorativos são os mesmos que encontramos nos utensílios da vida quotidiana
como a olaria: espirais; trísceles; suásticas; sequências de SSS; cordões entrelaçados, ou seja
elementos abstractos, que revelam um alto grau de elaboração artística. Não é fácil decifrar
esta arte geométrica. Por exemplo considera-se que os motivos ditos “em espinha de peixe”
gravados em frisos e umbrais, reproduziam palmetas, ou seja tinham influência orientalizante
(González Ruibal, 2004). Mas é um motivo registado noutros suportes e com uma longa
tradição (caso da cerâmica incisa).
Entre os lintéis, ou padieiras, mais decorados, há vários que referem a abreviatura do nome
do proprietário, como por exemplo: CORONERI/ CAMALI/ DOMUS. A tradução é evidente:
Casa de Coronerus, filho de Camalus. Esta inscrição latina, inserida na padieira decorada, é
um elemento a que se recorre com frequência para sustentar que as unidades habitacionais
correspondiam a famílias extensas.
Minho. Traços de Identidade

Lintél da Casa de Coronerus Camali. Citânia de Briteiros (Fotografia de Francisco Martins Sarmento, Fototeca da SMS)

160

Reconstituição de uma construção do Castro de Sabroso (Fotografia de Francisco Martins Sarmento, Fototeca da SMS)
A Cultura Castreja no Minho

Lintéis, ou padieiras, umbrais e lambris decorados integravam, por certo, as casas das
famílias mais ilustres dos povoados proto-históricos do Minho, constituindo um elemento
diferenciador de estatuto, tal como se verifica em muitas outras sociedades. Se, por um lado,
sabemos que alguns dos lintéis seriam aplicados em construções privadas, através dos indícios
recolhidos na Citânia de Briteiros, é possível admitir que algumas das peças de maior dimensão,
como as que foram recolhidas na Cividade de Âncora, e em Vermoim, poderiam integrar um
edifícios públicos, com funções religiosas, ou políticas, como a casa dos “Anciãos”. No caso
dos elementos recolhidos, durante as escavações de Martins Sarmento, em 1879, na Cividade
de Âncora, deduz-se das dimensões da padieira e da ombreira que a porta teria de altura 1,75
metros e de largura 0,97 m (Cardozo, 1985).
Outros elementos, pedras decoradas sem uma função arquitectónica definida, poderiam
ser colocadas em locais muito específicos de cada casa, com uma finalidade que desconhecemos.
Algumas talvez fossem inseridas nos paramentos exteriores das muralhas, como se observa,
por exemplo, no Castro de Ribas (Valpaços) ou nos muros que delimitavam cada bairro, onde
residia uma família extensa. Podemos, mesmo, supor, que um determinado símbolo poderia
estar relacionado com uma determinada família, ou linhagem. Outros indicavam uma actividade
específica como os blocos gravados com tenazes de ferreiro.
No Museu da Sociedade Martins Sarmento encontra-se reunida a mais vasta colecção de
elementos pétreos decorados do Minho e do Noroeste da Península, grande parte dos quais
oriundos da Citânia de Briteiros e do Castro de Sabroso, mas também de outros povoados:
Monte Redondo (Braga); Vermoim (Famalicão); Caires (Amares) (Cardozo, 1985).
A aplicação na arquitectura pública e privada, designadamente nos balneários e nas casas,
de símbolos que também encontramos na Arte Rupestre e na ornamentação da cerâmica,
ou da ourivesaria, é um dos aspectos mais destacados e interessantes da Cultura Castreja,
como entidade social homogénea, pois são escassas as diferenças regionais entre os padrões
decorativos, embora se insiram na área dos grandes povoados. Deve-se, no entanto, ressalvar,
que o aparelho da maioria dos conjuntos habitacionais é assaz comum, irregular, despido de
ornamentos, o que levanta a questão de diferenças sociais, no âmbito do mesmo povoado. Os
efeitos decorativos no aparelho granítico seriam, talvez, restritos às famílias de estatuto mais
elevado, conforme já se sublinhou, o que não significa que os mesmos motivos não fossem
aplicadas por meio de pintura, ou gravura, nos rebocos exteriores de muitas casas. Todavia,
a descoberta de lareiras e pavimentos em barro decorados com círculos, ou outros motivos,
frequentes em vários sítios, no Castro de Faria, no Castro Máximo, em Briteiros, e tantos outros 161
sítios, é um argumento favorável à hipótese formulada.
Se por um lado o granito confere aos castros uma solidez que desafia o tempo, por
outro estabelece um fundo cromático cinzento, que seria atenuado quer pelos elementos
arquitectónicos decorados, quer por pavimentos e eventuais rebocos gravados ou pintados.
A cronologia destes elementos arquitectónicos continua a ser um tema em aberto, pois
há autores que defendem que se trata de um processo tardio, contemporâneo da romanização
(Almeida, 1985; Calo Lourido, 1994), ainda que inspirado na geometria estilística da cerâmica
e da joalharia, enquanto outros sustentam que é uma arte mais antiga, datável pelo menos
do século II a.C. (Silva, 1986; González Ruibal, 2003 e 2004). De facto não só há peças, com
decorações, reutilizadas em estruturas posteriores, em Santa Tegra e Briteiros, como também,
um dos castros que facultou uma magnífica série de elementos, Sabroso, não tem vestígios
significativos de romanização, tendo sido abandonado em finais do séc. I a.C. (Silva, 1986). Este
argumento é reforçado pela circunstância dos motivos e estilos não terem quaisquer indícios de
influência romana, aspecto que é aceite por todos, sendo pois quase absurdo propor que a arte
aplicada á pedra se desenvolveu nos castros no contexto da romanização.
Minho. Traços de Identidade

3.5 Economia e Sociedade


3.5.1 Economia

3.5.1.1 Sistema agro-silvo-pastoril

O espaço dos assentamentos castrejos do Minho é uma área de transição climática, em


que persistem algumas características mediterrânicas, mas onde predominam os factores
oceânicos, como a significativa pluviosidade média anual, variável entre 1600 e 2500 mm.
O Minho insere-se, por outro lado, no âmbito climático dos Invernos frescos (no Litoral e
vales) a muitos frios (zonas montanhosas) e Estios moderados a frescos (D. B. Ferreira,
2005). Ou seja clima ameno, com um Verão suave e um Inverno com reduzido número de
dias de geadas, globalmente favorável às comunidades humanas, salvo nos patamares mais
altos nos quais, aliás, não se registam povoados. Nalguns anos também ocorrem Verões secos,
embora mitigados pelo elevado número de nascentes e cursos de água perene. Nos patamares
intermédios, ou inferiores, onde foram implantados a generalidade dos castros, a ocorrência
simultânea de carvalhos e sobreiros é um aspecto assaz interessante, que assinala a transição
do clima mediterrânico para o atlântico. Este último só possui uma expressão plena nas zonas
de maior altitude, acima da cota de 500 metros. No Gerês a Mata de Albergaria é um excelente
exemplo da floresta clímax das serras do Noroeste.
Admite-se que o clima do I milénio a.C. tenha sido ligeiramente mais frio e húmido, pouco
diferente das características resumidas no parágrafo anterior, propícias ao modelo económico
desenvolvido pelos povoados proto-históricos.
Para reconstituir a economia dos castros há numerosos e diversos indicadores, que se
podem agrupar em dois segmentos principais: os chamados ecofactos; e a matriz territorial. No
estudo dos ecofactos incidem diversas disciplinas: a palinologia; a antracologia; o carpologia;
a arqueozoologia. A análise da matriz territorial implica um bom conhecimento do espaço
envolvente, e baseia-se no pressuposto de uma economia organizada em redor do habitat,
deslocações pedonais mensuráveis e um pensamento sofisticado sobre o uso dos recursos
naturais.
A análise cruzada dos ecofactos com a matriz territorial é decisiva, embora nem sempre
possível, devido à ausência de material que proporcione indicadores, uma das facetas negativas
162 dos solos ácidos do Minho, pouco favoráveis à conservação de restos osteológicos, por exemplo.
Seja como for não se pode reduzir as comunidades do passado a materiais e fragmentos de
carvão, sendo necessário admitir que os habitantes dos castros pensavam o território em
que viviam e que as opções por determinados contextos de assentamento não resultaram de
caprichos, mas de uma reflexão profunda. Nesta perspectiva a matriz territorial é um poderoso
foco de iluminação sobre a vida económica dos povoados castrejos.
Na verdade, um dos aspectos mais fascinantes da história dos povoados proto-históricos
do Minho é a forma como geriram os seus recursos, revelando um saber profundo, cumulativo.
De uma forma genérica pode afirmar-se que a sua economia se apoiava num complexo modelo
agro-silvo-pastoril que se estabeleceu no Bronze Final e se consolidou, prosperando ao longo
do I milénio a.C.
Lidas de um outro modo as análises antracológicas e polínicas da Citânia de S. Julião,
relativas às ocupações do Bronze Final (Bettencourt, 2000a) ilustram o aproveitamento
cuidadoso de todos os recursos que a envolvente facultava, não só os mais próximos, como
também os da montanha e da mata ribeirinha, espaços mais afastados, num contexto ambiental
claramente antropizado. Efectivamente o estudo antrocológico dos carvões (Figueiral, 2000)
A Cultura Castreja no Minho

destacou o leque muito diversificado de espécies arbóreas, que inclui, para além, do carvalho e
do sobreiro, como seria de esperar, taxones de solos mais húmidos ou ripícolas (freixo, amieiro,
salgueiro, olmeiro), cuja recolha implicava uma caminhada até ao rio Homem, que aliás fica
exactamente no limite da isócrona de 60 minutos do povoado (Martins, 1990).
A abundante presença de espécies vegetais do “monte”, não é apenas um sinal da sua
aplicação no revestimento das casas (Bettencourt, 2000a), ou na cama do gado (Figueiral,
2000), mas sobretudo a recolha do material energético essencial ao próprio funcionamento
do agricultura e da pecuária, como Abel Bouhier já ensinou em 1977, na sua esplêndida obra,
intitulada: La Galice. Essai Géographique et d’analyse d’un vieux complexe agraire. Segundo o
geógrafo francês a economia tradicional das aldeias da Galiza, implicava uma vasta área de
recolha de mato, de modo a assegurar a fertilização dos campos e a agricultura intensiva com
um ciclo rotativo de cereais de Verão e de Inverno. Ora o povoado de S. Julião dispunha a
Nordeste de uma ampla zona de montanha onde o mato crescia em abundância.
Nesta perspectiva a eventual interpretação do significado do nome Malceinus, inscrito
na estátua de guerreiro encontrada em S. Julião, como “Senhor da Montanha” (Silva, 2005)
adquire um duplo sentido, mitológico é certo, mas também económico, como garante político
de um bem colectivo essencial à prosperidade do povoado. Também é simbólico, de certo
modo, o molde de foice do Castro de Álvora uma alfaia multiusos, tão relevante na apanha dos
cereais como na recolha do mato e, mesmo, no corte das ramadas de freixos e olmos.
Da análise dos indicadores paleo-ecológicos de S. Julião, sublinhe-se, ainda, a ocorrência
de outras árvores como o castanheiro e a nogueira, que para além dos frutos proporcionavam
madeira e lenha de excelente qualidade.
Embora em S. Julião não tenham sido recolhidas grandes quantidades de sementes de
milho-miúdo, como tem acontecido noutros castros de Portugal e da Galiza, este cereal mais
o linho seriam dois relevantes produtos no quadro da agricultura. O cultivo do milho-miúdo,
já assinalado em numerosos outros castros, em estratos datáveis de diferentes momentos da
Proto-História, esclarece o antigo enigma do pão de bolota de carvalho do qual se alimentariam
os habitantes dos povoados, metáfora a que terá recorrido Estrabão para sublinhar a diferença
cultural entre os povos do Mediterrâneo e os montanheses da Hispania atlântica.
Também se desconhece, com suficiente amplitude, o espectro de animais consumidos,
mas há dados sobre gado porcino, que poderia alimentar-se de bolotas, farelo de cevada, e
folhas de olmo. O gado bovino, ovino e caprino, dispunha de dilatados espaços de pastagens; os 163
primeiros nas chãs montanhosas, e as cabras nas encostas mais pedregosas da Serra Amarela,
amplamente desflorestadas. As ramagens de freixo contribuíam para alimentar bois e ovelhas.
Para além da economia de subsistência, deve admitir-se outras actividades económicas
de âmbito regional. O registo de restos de um punhal de bronze, de contas em vidro, a par
dos antigos achados, remete para a existência de trocas (Bettencourt, 2000a). Elementos de
cadinho assinalam a actividade metalúrgica.
Tal como os dados facultados pelos trabalhos arqueológicos revelam, na matriz económica
do povoado de S. Julião, na Idade do Bronze Final encontram-se já definidas as regras de
gestão do espaço que se consolidam e aperfeiçoam ao longo do I milénio a.C., mesmo após a
reorganização territorial da II Idade do Ferro. Embora a generalidade dos investigadores sublinhe
uma quebra das rotas comerciais no fim da Idade do Bronze, gerando uma retracção económica
com reflexos na ausência de materiais exóticos e no empobrecimento morfológico da cerâmica,
é possível que a vertente económica de exploração do território tenha persistido e, mesmo
inovado, num contexto de autarcia, ao longo da transição para a Idade do Ferro e nos primeiros
séculos desta época, abrangendo novos territórios.
Minho. Traços de Identidade

Deste modo a notória apropriação de novos espaços, no vale, será a resultante de um saber
acumulado sobre a envolvente e bem como de eventuais influxos tecnológicos (metalurgia do
ferro), surgindo assim castros junto à margem dos rios, como o Lago (fundado no séc. III a.C.),
eventualmente especializados na agricultura em solos espessos.
Na II Idade do Ferro a organização do território já estava muito desenvolvida, com
uma malha de lugares centrais e de inter-dependências regionais. Recuperou-se, também, o
sistema de rotas comerciais, que possivelmente nunca se dissolveu, desenvolvendo-se novas
actividades que asseguram a prosperidade dos grandes povoados e mesmo dos castros que
deles dependiam, ou com os quais estavam aliados.
A análise do território envolvente dos castros é, por si mesmo, apesar da ausência de
ecofactos, um bom indicador para se reconstituir a sofisticada economia dos grandes povoados.
O exemplo da Citânia de Briteiros é esclarecedor. Para além das nascentes, situadas no interior
do castro e que brotavam do substrato granítico cortado por múltiplas diáclases, favoráveis à
formação de lençóis de água subterrâneos, os habitantes da Citânia tinham acesso ao rio Ave
que ficava a menos de meia-hora de caminho a pé. O mesmo cenário encontra-se em muitos
castros do Lima, do Âncora ou do Minho, onde o rio nunca fica para além de uma hora de
caminho. Os cursos de água perene eram não só um abastecimento seguro nos estios mais
duros e uma fonte de proteínas (pesca), como também eixos de comércio.
No Lima, no lugar da Passagem, entre margens de Geraz e de Lanheses, foram descobertas
em 2003 duas pirogas proto-históricas datadas por C14 do século II a.C. (Rodrigo et al, 2005).
Uma com 6,61 metros de comprido e 0,90 de largura; a outra com 5, 85 e 0,80. “A primeira
apresenta uma tábua de acrescento, a bombordo e à proa, fixa em três sítios pelo sistema
encaixe-mecharespiga, típico da construção naval mediterrânica da Antiguidade” (Alves et al,
2005), o que não deixa se ser coincidente com a expressiva ocorrência de cerâmica grega em
Santo Estevão da Facha.
Nas praias fluviais, pelo método de bateamento seria possível recolher minerais preciosos,
como grãos, ou pepitas de ouro. O rio facultava, também, recursos piscatórios abundantes.
Nas cascalheiras recolhiam-se seixos de quartzito que poderiam funcionar como pesos de rede
ou de teares. Apanhavam-se, também, os pequenos seixos redondos que serviam para polir a
cerâmica e que se recolhem com tanta frequência nos castros.
As matas ribeirinhas proporcionavam diversas madeiras, utilizadas na construção, em
164 utensílios diversos, e também como lenha, ou ainda ramos, para a alimentação do gado nos
estios mais prolongados. No sopé das encostas, drenadas pelos pequenos afluentes do rios
de maior caudal, cultivavam-se os produtos que cresciam nos solos mais húmidos, como o
milho miúdo, um cereal importante na alimentação das pessoas e do gado, e o linho, essencial
para o vestuário. Os interflúvios mais secos e bem drenados eram os terrenos adequados
para os cereais de sequeiro. Pelo contrário, nas extensas superfícies montanhosas, existiam
amplos espaços para a criação de gado bovino, cavalar, ovino e caprino. As queimadas anuais
renovavam os pastos e o mato era cortado para a cama do gado. Por outro lado, nas encostas
mais íngremes, impraticáveis para a agricultura e menos favoráveis à pastorícia, conservavam-se
manchas de carvalhais e de sobreiros, úteis como material de construção e lenha, assegurando
também a recolha dos frutos, ou seja das bolotas. Efectivamente têm sido encontradas grandes
quantidades de bolotas de carvalho em diversos castros, por vezes queimadas, o que levou
diversos investigadores a admitir o seu consumo pelos habitantes dos castros, depois de moída
como farinha ou sob a forma de sopas. Tal como já referiu esta hipótese deve ser encarada com
precaução. O mais provável é que as bolotas se destinassem a alimentar o gado suíno.
A Cultura Castreja no Minho

Os cereais eram tratados, numa primeira fase, em mós manuais, ou de vaivém, que se
encontram com muita frequência nos povoados e que correspondem a uma pedra escavada
côncava. No fundo eram depositados os grãos de cereal que eram esmagados por um rolo, uma
pedra cilíndrica. Numa fase mais adiantada (a partir do século IV a.C.), por influência púnica,
foram adoptadas as mós rotativas (Carballo Arceo et al, 2003), de que se conservam muitas
dezenas de exemplares em todos os castros do Minho. Pode admitir-se que a adopção deste
novo utensílio, contribuísse para a fundação dos castros de baixa altitude, pois assegurava uma
maior produtividade de farinhas.
A partir da cevada produzia-se uma bebida alcoólica, semelhante à cerveja. De facto
não se cultivavam videiras, embora a espécie selvagem existisse. Os habitantes dos castros
só passaram a consumir vinho, numa fase adiantada da Cultura Castreja., quando surgem as
ânforas. Numa fase mais antiga, de origem púnica e, mais tarde, a partir de meados do século I
a.C., exemplares importados da Hispania já romanizada, da Baetica.
Temos, assim, um vasto leque de recursos que garantiam a subsistência dos habitantes dos
castros do Minho. Este conjunto de recursos proporcionava uma alimentação rica e variada que
incluía cereais, leguminosas, carne de animais domésticos (caprídeos; ovinos; bovídeos; suínos),
e, mesmo, carne de caça, designadamente javali.
O sal era produzido na costa e não faltam os testemunhos arqueológicos. Ao longo do
litoral minhoto, nas praias, quando as dunas se movimentam, ou quando a transgressão do mar
descobre níveis mais antigos, encontram-se estruturas ordenadas e blocos côncavos soltos que
se destinavam à produção de sal. Numa fase inicial foi sugerido que esses elementos seriam da
época romana ou medieval (Lemos, 1982). No entanto, os trabalhos de Carlos Alberto Brochado
de Almeida, em Esposende, demonstraram que essas frustres salinas eram mais antigas pois
foram reutilizados em construções da Idade do Ferro (Almeida e Cunha, 1997). Assim, o Castro
de S. Lourenço, tal como outros povoados alinhados ao longo da plataforma costeira, seria um
importante núcleo produtor de um bem essencial para as comunidades do interior.

3.5.1.2 Produção oleira

No entanto, a economia dos grandes povoados seria, por certo mais complexa. A produção
artesanal constituía uma actividade não menos importante. Neste âmbito insere-se o fabrico
da olaria, que provavelmente se destinava ao próprio povoado e a mercados locais. De facto,
165
uma das características da faixa ocidental da Cultura Castreja é a grande quantidade de
fragmentos de olaria, recolhidos quer em prospecções, quer em trabalhos arqueológicos de
escavação. Esta circunstância revela que o vasilhame em cerâmica era muito abundante, sendo
utilizado no quotidiano das comunidades para armazenar água, bebidas e cereais. E, também,
na cozinha para cozer os alimentos. Ou na mesa para servir os produtos cozinhados, bem como
em cerimónias rituais votivas ou funerárias, como oferendas. Pode-se admitir que existissem
outros artefactos com a mesma finalidade, para guardar água ou alimentos, em pele ou em
madeira. A predominância da olaria talvez possa resultar da acidez dos solos, pouco favoráveis
à conservação de objectos em materiais mais perecíveis, como a madeira, mas também porque
constituía, sem dúvida, um dos utensílios básicos da vida quotidiana dos castros.
Ao longo da história da Cultura Castreja, ou seja desde a Idade do Bronze Final até ao
final do primeiro milénio a.C., o modo de fabrico da olaria evoluiu muito. As peças da Idade do
Bronze Final possuem pastas, formas e decorações muito específicas.
De um modo geral reconhece-se que na I Idade do Ferro se verificou uma mudança na
produção da olaria, mudando as pastas, com a introdução da mica, e reduzindo-se o número
Minho. Traços de Identidade

Púcaro recolhido na Citânia de Briteiros (Museu da Cultura Castreja - Solar da Ponte, Sociedade Martins Sarmento).

de formas. Aparecem as pastas, muito micácias, proporcionando superfícies brilhantes, pelo


que o uso da mica poderá ser considerado como um efeito estético intencional. Contudo, a
generalidade da olaria castreja era lisa, sem decorações, pelo menos nos castros do interior do
Minho, mesmo nas grandes citânias como S. Julião e Briteiros. Apenas um número limitado de
peças era ornamentada com motivos que se inserem na gramática decorativa e simbólica do
universo castrejo e que encontramos, quer em elementos arquitectónicos, quer na metalurgia,
quer, ainda, na arte rupestre. Tais motivos são geométricos e muito elaborados, revelando
um elevado grau de padronização, uma simbologia bem estruturada. Porém na zona litoral a
percentagem das peças decoradas parece ser maior, ainda que não haja valores divulgados de
forma sistemática.
Ao longo da II Idade do Ferro detecta-se a introdução do torno lento e surgem novas
formas, embora em reduzido número. No final do milénio o uso da roda de oleiro estava já
bastante generalizado. Nas cerâmicas, para além das técnicas de fabrico, que são locais, o
catálogo das formas e a diversidade da decoração constituem pontos de referência básicos.
A morfologia da cerâmica está directamente relacionada com a funcionalidade.

166 Os potes maiores eram vasos de grande dimensão, usados para armazenar produtos
alimentares. Entre estes as bebidas: água, leite e cerveja. E, também, os cereais, como o milho-
miúdo e o trigo. Os potes médios constituem uma forma muito frequente, cuja dimensão
variava. Eram utilizados para confeccionar e guardar e, também, como louça de mesa. Pode-se
admitir que há uma relação directa entre o uso e a dimensão. Os grandes potes serviam para
armazenar as sementes dos diversos cereais. Os outros, de tamanho médio, ou pequeno, iam ao
lume, podendo depois ser levados à mesa.
Os potinhos e púcaros são peças bastante comuns, no conjunto das cerâmicas dos
castros. Destinavam-se, essencialmente, a conter líquidos e eram utilizados á mesa para ingerir
o conteúdo, fosse água, leite ou cerveja. Os púcaros, com uma, ou duas pequenas asas, parecem
ter sido especialmente usados nas bebidas aquecidas.
No quadro da cerâmica castreja os tachos, ou panelas, foram especificamente produzidos
para a cozinha, o que se depreende da sua forma e dos vestígios de combustão. Os tachos, ou
panelas de asa interior, peças muito frequentes e características, eram usados directamente
sobre o lume ou suspensos, conforme o grau de temperatura que se pretendia alcançar. Usadas
também para cozinhar, suspensas sob a lareira, seriam as panelas de asa em orelha.
A Cultura Castreja no Minho

Panela de asa para suspensão, Citânia de Briteiros (Museu da Cultura Castreja - Solar da Ponte, SMS).

As tigelas e malgas, embora se possa admitir que também fossem ao lume para cozer, ou
aquecer alimentos, constituíam o essencial da louça de mesa. Nestes recipientes eram servidos
os alimentos sólidos, depois de confeccionados
As copas ou taças são peças requintadas, de fabrico cuidado, de pastas finas e superfícies
polidas ou alisadas. Baixas, possuem um perfil em S, com bordos esvasados. Integravam as peças
de louça de mesa, destinadas a servir bebidas como atestam os bordos boleados. Encontram-
se, com frequência, os pequenos seixos de rio, utilizados para polir a superfície destas peças,
por vezes decoradas.
Os almofarizes possuem pastas e formas semelhantes às panelas de asa interior. Rematam
em bordos de asa soerguida moldurada internamente, na zona de contacto com a pança.
Distinguem-se pelo bico que se observa no bordo da peça. Estas peças, menos frequentes nas
séries de material recolhido nos povoados, permitiam misturar diversos tipos de produtos e
vertê-los com maior cuidado, para outros recipientes, louça de mesa ou de cozinha.
As talhas correspondem à evolução dos grandes potes, sendo produzidas especificamente
para a armazenagem dos alimentos. De padrão assaz homogéneo, apresentam uma pasta
grosseira com muita mica, perfis em S, com grandes bordos soerguidos. Inserem-se na última
fase da Cultura Castreja.
Os testos, ou tampas, são raros, mas quase sempre decorados .
Finalmente, há um tipo de peça, com uma forma muito específica e rara, da II Idade do
Ferro: as pequenas urnas funerárias, pois ocorrem em diversos povoados, surgindo quase
sempre intactas, com oferendas (jóias), ou mesmo em cistas sepulcrais (Cividade de Terroso)
(Gomes, 1996). 167
Na Citânia de Briteiros, mas também noutros castros, embora com menos frequência, em
numerosos fragmentos de olaria observam-se marcas impressas, ora símbolos geométricos ora
acrónimos de nomes dos quais o mais frequente é o de Câmalo. Há várias interpretações para
estas marcas. Para uns seria o nome do fabricante das peças, a marca do oleiro (Silva, 1986). No
entanto há quem entenda que as cerâmicas eram produzidas pelas mulheres da comunidade e
que o registo de um nome masculino indica um controlo de grupos dirigentes sobre o trabalho
feminino, uma forma de exercício de poder (González Ruibal, 2003). Há outra hipótese: estas
marcas assinalariam o nome dos proprietários da louça, as famílias mais ilustres que habitavam
o povoado. Normalmente as marcas de oleiro são impressas no fundo do vasilhame, enquanto
que estas se encontram na superfície exterior das peças, em local evidente. A possibilidade
de encomendar o fabrico de louça com o nome da família seria assim uma forma de distinção
social, tal como mais tarde, na Idade Moderna, se inserem os brasões das linhagens nobres nas
peças de porcelana.
Os cossoiros, muitas vezes decorados, com incisões ou estampilhas, são abundantes
nos povoados da Idade do Ferro. Eram, normalmente, fabricados em cerâmica e inseridas nos
Minho. Traços de Identidade

168

Em cima: imagem de uma copa. Em baixo: fragmento de testo (Museu da Cultura Castreja - Solar da Ponte, Sociedade Martins Sarmento).
A Cultura Castreja no Minho

Cossoiros decorados (Museu da Cultura Castreja - Solar da Ponte, Sociedade Martins Sarmento, S. Salvador de Briteiros).

utensílios de tecelagem do linho. Nas unidades domésticas surgem em diversos pontos, o


que indica que a fiação era uma actividade frequente e disseminada. Ilustram a importância
da produção do linho, cultivado em solos húmidos. De facto, parte do vestuário de homens,
mulheres e crianças, bem como outras peças do quotidiano dos castros, era tecido em linho.
Também eram utilizados para fiar a lã. Na Citânia de Briteiros, nas antigas escavações recolheu-
se um número apreciável destas pequenas peças, cerca de duzentas, estudados de acordo com
uma tabela tipológica (Silva e Oliveira, 1999).
A cerâmica é um tipo de material que favorece a decoração, devido às suas características
plásticas. As técnicas de decoração da olaria castreja são diversas: incisão; impressão, simples ou
com estampilhas; cordões em relevo. As diferentes técnicas eram combinadas de tal modo que
os efeitos estéticos são assaz impressivos e o resultado final muito variável. Ao longo da história
da Cultura Castreja verifica-se uma manifesta tendência para um aumento da complexidade
decorativa, em que se combinam diferentes técnicas e motivos. Já foi sugerido que a temática
169
decorativa incisa se terá inspirado em utensílios de madeira (Reys Castiñeira, 2005). Também
se pode admitir que o vestuário de linho sobre o qual era possível criar múltiplos padrões, tenha
influenciado os motivos aplicados na olaria. Embora diversos autores (Silva, 1986; Martins,
1990; Dinis, 1993; M. A. D. Silva, 1987) tenham estabelecido quadros da gramática decorativa
da cerâmica da Idade do Ferro do Noroeste de Portugal, encontra-se sempre um fragmento que
não se insere nos modelos estabelecidos, o que revela uma notável criatividade individual.
A decoração incisiva é observável em numerosos fragmentos de olaria. É uma técnica muito
simples que permite obter efeitos complexos e distintos: sequências simples ou de triângulos
abertos; triângulos fechados; motivos em espinha; reticulados; enfim, uma enorme variedade de
desenhos, associados ou não a outras técnicas decorativas.
Os motivos decorativos por impressão são, talvez, os mais característicos da cerâmica dos
povoados castrejos. Neste caso eram aplicadas estampilhas com diversos ornamentos. Os mais
frequentes são as sequências de SSS, mais ou menos inclinados, e os círculos concêntricos, em
número variável. O uso generalizado destes padrões decorativos coincide com o auge da Cultura
Castreja no Minho.
Minho. Traços de Identidade

Sobre a superfície exterior destas cerâmica podem observar-se, em alguns casos, cordões
de espessura variável, normalmente discretos, e que por vezes são decorados com sequências
de incisões.
Tem-se procurado paralelos noutras zonas, no mundo céltico ou no Mediterrâneo, para
os motivos decorativos, esquecendo que o NO tem uma tradição estilística muito antiga que
remonta ao Calcolítico e que se materializou tanto na olaria como na Arte Rupestre, onde
círculos concêntricos e espirais já se encontram em gravuras da Pré-História Recente. Por outro
lado deve ser ponderada a possibilidade da decoração de parte do vasilhame cerâmico também
se inspirar nos desenhos de outros artefactos, designadamente os metálicos (Reys Castiñeira,
2005).

3.5.1.3 Produção metalúrgica

Na sua primeira fase, no âmbito da chamada Idade do Bronze Final, os numerosos achados
de peças avulsas, ou de conjuntos, revelam a dinâmica da metalurgia, as trocas comerciais e
contactos com outras áreas da Europa Ocidental e do Mediterrâneo. O estanho era abundante
no NO de Portugal, designadamente no Alto Minho, nas serras da Nora*, Padela* e Arga*,
ou seja nas bacias drenadas pelos rios Neiva, Lima e Coura. O cobre, mais raro, podia ser
importado do Sul da Península, através de rotas longitudinais, quer ao longo da costa, quer pela
Meseta, como é o caso da célebre Via da Prata. Há, todavia, ocorrências de cobre em Trás-os-
Montes, ainda que escassas. O ferro surge associado a outros metais, sendo relativamente fácil
a sua obtenção em diversos tipos de jazidas. Não será, pois, necessário colocar a hipótese de
importações de ferro da zona de Torre de Moncorvo (Serra de Roboredo ou Cabeço da Mua),
ainda que em Vale de Ferreiros se conserva um castro (Cigadonha de Carviçais) especializado
na produção deste minério (Lemos, 1993).
Na I Idade do Ferro, mantém-se a tradição do chamado Bronze Atlântico, mas terá havido
uma quebra na actividade metalúrgica, em especial nos circuitos comerciais. Todavia a hipótese,
vigente durante muitos anos, de um acesso tardio dos povos do NO à metalurgia do Ferro está
actualmente afastada, pois foram encontrados utensílios desse metal em contextos datáveis do
Bronze Final e do Ferro Inicial, designadamente em S. Julião (Bettencourt, 2000a). Na Galiza é
cada vez mais frequente o registo de artefactos de ferro, entre os séculos XVIII e VI a.C. Alguns,
170 os mais antigos, seriam oriundos do Mediterrâneo, transportados pelos Fenícios, enquanto
outros já eram produzidos no NO (Carballo Arceo e González Ruibal, 2003).
A metalurgia, embora seja um dos temas mais relevantes da Cultura Castreja, com
numerosa bibliografia, suscita controvérsias. Os artefactos metálicos, testemunhos mudos, na
sua maioria recolhidos em contexto indefinidos, foram transformados pelo próprio discurso
arqueológico como objectos simbólicos, manipuláveis conforme as teorias. Durante décadas
de investigação foram considerados bens de prestígio, reservados às elites, aos aristocratas.
Os achados isolados eram indicadores seguros de rotas de comércio. Todavia, estudos recentes
na Asturia Augustana (Léon Ocidental) demonstraram claramente que a metalurgia era uma
actividade complementar, no âmbito de um pequeno povoado (Fernandez-Posse, 2000).
Mas se a metalurgia era um saber e uma técnica acessíveis às pequenas aldeias fortificadas,
subsiste uma outra questão, a do aprovisionamento em recursos metalíferos. Muitos dos castros
do Noroeste Peninsular não dispunham, no seu território, da matéria-prima necessária, o que
implicava uma rede de trocas. Contudo, a partir da II Idade do Ferro, em particular na última
fase da Cultura Castreja, desde os séculos III/II a.C até ao século I d.C., a metalurgia tornou-se
A Cultura Castreja no Minho

Lingotes de estanho recolhidos na Citânia de Briteiros (Museu da Sociedade Martins Sarmento, Guimarães).

numa das principais actividades, desenvolvida em numerosos povoados, quer nos pequenos
castros quer nas grandes citânias.
Como prova da intensa actividade metalúrgica de um castro a Citânia de Briteiros é um
bom exemplo. Pode-se referir um molde em pedra, recentemente descoberto, um conjunto de
pequenos lingotes de chumbo ou estanho, pingos de fundição, e escórias, tanto de bronze como
de ferro. Graças aos relatórios e apontamentos de Francisco Martins Sarmento e do Coronel
Mário Cardozo foi possível cartografar alguns dos locais de actividade metalúrgica. Novos
dados foram facultados pelas sondagens de uma unidade doméstica, estudada em 2002. Esta
sondagem, apesar da sua pequena dimensão, facultou indicadores de actividade metalúrgica:
nos níveis sobrepostos, que foi possível identificar, encontraram-se escórias (Nogueira e Lemos,
2002). Aliás, de acordo com Armando Coelho da Silva (1986) a ocorrência de fíbulas anulares
inacabadas, de um braço de balança e de um aro de torques, entre os materiais recolhidos em
Briteiros e guardados nas reservas do Museu da Sociedade, revela a existência de uma, ou mais,
oficinas de produção metalúrgica.
Não dispomos, para o Norte de Portugal de uma carta de síntese com todos os castros
onde se registou actividade metalúrgica, de maneira a confrontá-la com as ocorrências
mineiras. De qualquer modo sabe-se que nos territórios da Citânia de Briteiros ou de Castro de
Sabroso, não há recursos metalíferos. No vale do Ave, aparente eixo de produção metalúrgica,
não ocorrem jazidas de estanho e cobre, pelo que os minérios tinham de ser adquiridos noutras 171
zonas, no Alto Minho, ou em Trás-os-Montes Ocidental, implicando um sistema de trocas
com os povoados dessas regiões. De qualquer modo, no Minho, os locais onde se poderiam
adquirir os lingotes nunca ficavam a grandes distâncias. Talvez a dois, ou três dias de distância,
fosse no litoral, da zona do vale do Neiva, fosse no interior, a partir dos castros situados em
territórios estanhíferos e nos quais a metalurgia está documentada por trabalhos arqueológicos,
ou prospecções: Castroeiro – Vale médio do Tâmega (Dinis, 2001); Castro de S. Vicente da
Chã – Barroso (Santo Júnior e Isidoro, 1963; Santo Júnior e Freire, 1964; Carvalho, 2006); ou,
ainda, dos povoados das vertentes setentrionais da Serra do Larouco (Carvalho et al, 2006).
Numa sondagem recente (2008) em Outeiro Lesenho (Boticas), dirigida por João Fonte, Carla
Martins e Gonçalo Cruz, ficou demontrada a produção de estanho.
Outro aspecto interessante é a localização da actividade metalúrgica no interior dos
castros. No caso da Citânia de Sanfins teriam sido identificados bairros, onde residiam os
artesãos especializados na produção destes bens (Silva, 1986). Em Terroso os vestígios parecem
distribuir-se pelas unidades domésticas mais afastadas da zona central (Gomes, 1996). Todavia,
na Citânia de Briteiros, ao contrário de Sanfins, os artífices não se concentravam num ponto
Minho. Traços de Identidade

específico, mas estariam espalhados por várias unidades. Tanto o local de antigas recolhas como
as sondagens mais recentes de 2002, indicam que em Briteiros terá havido uma expressiva
dispersão das famílias que se dedicavam à metalurgia. Efectivamente a cartografia dos pontos
onde foram registados vestígios de actividade metalúrgica indica que se distribuiam ao longo
dos principais eixos de circulação, à semelhança do que se tem registado em alguns oppida
da Europa Central (Ardouze e Büchsenschütz, 1991). As pedras decoradas com tenazes são
uma evidência consistente com essa hipótese porquanto não fariam sentido caso a metalurgia
estivesse confinada num quarteirão.
Um dos elementos mais curiosos produzidos pela metalurgia proto-histórica é, sem
dúvida, o carro votivo de Vilela, o qual, de acordo com A. C. Silva (1986) ou A. González Ruibal
(2004), representa uma cena ritual, um cortejo em que participa toda a comunidade e que
precede o sacrifício de um animal, o que está de acordo com os relatos de Estrabão sobre os
sacrifícios de caprinos e com a inscrição do Cabeço das Fráguas (Guarda), na leitura que remete
para o panteão indo-europeu. Outros autores consideram que a peça representa uma cena de
entronização (Peña Graña, 1999 in Rey Castiñeira, 2005). Esta segunda hipótese articula-se
com o conceito das realezas célticas (García Quintela, 2005). O carro foi descoberto em Vilela,
Paredes, e consta das colecções do Museu da Sociedade Martins Sarmento.
Das colecções oriundas de Briteiros e Sabroso constam dois pequenos machados votivos
em bronze. Sendo pouco provável, devido ao tamanho, uma função ritual como o machado
de Cariño (A Corunha) (Rey Castiñeira, 2005), é possível o uso como amuletos ou funerário
(oferenda depositadas em pequenas urnas).
Outro elemento metálico, enquadrável em contextos religiosos, em banquetes rituais ou
funerários, são as sítulas, caldeiros formados por várias placas de bronze soldadas, ou interligados
por cravos ou rebites. Estas peças são, relativamente, frequentes na área dos castros, podendo
deduzir-se a sua ocorrência quer dos fragmentos, normalmente com uma decoração esmerada,
ou dos moldes em argila, que serviam para as produzir. Placas de bronze pertencentes a esses
vasos foram descobertas na Citânia de Briteiros e em Castelo de Neiva. O maior conjunto de
moldes de argilas, destinados a produzir estas peças foi encontrado em Braga (Morais, 2004).
Também é interessante verificar que os padrões decorativos parecem variar muito pouco, desde
Léon Ocidental até ao Minho. A datação destas peças suscita problemas porque o seu padrão
pouco evoluiu. A maioria será tardia (sécs. II e I a.C.). Os moldes de Braga foram atribuídos à
172 primeira metade do século I d.C. (Martins, 1988a; Morais, 2004).
Quanto aos artefactos de uso comum, produzidos tanto em bronze como em ferro,
destacam-se as armas, os machados, foices, vasilhame e, sobretudo, numerosos objectos de
adorno, fíbulas e alfinetes de cabelo, estes últimos na escala das centenas.
Conforme já foi salientado as armas, em bronze ou em ferro, ou ainda com a lâmina em
ferro e o punho em bronze, são escassamente ornamentadas, o que é paradoxal em sociedades
que alguns autores classificam como guerreiras (González Ruibal, 2004). Na Callaecia
Meridional destacam-se as falcatas; na setentrional as espadas de antenas (Rey Castiñeira,
2005). Na Citânia de S. Julião foi descoberta uma falcata em ferro, curiosamente num estrato
relacionado com um torreão da primeira linha de muralha (Martins, 1988c). Estas falcatas
parecem ser uma peça característica do Minho, talvez ilustrando uma diferente maneira de
combater, comparando com a área setentrional, zona onde predominam as espadas de cabo
com “antenas” (Rey Castiñeira, 2005).
De Briteiros conserva-se um fragmento de punhal com cabo de bronze e lâmina de ferro.
Pontas de lança em bronze ou em ferro são relativamente numerosas.
A Cultura Castreja no Minho

173

Carro votivo de Vilela (Museu da Sociedade Martins Sarmento, Guimarães).


Minho. Traços de Identidade

Capacete em bronze do Castro de Lanhoso (Museu de D. Diogo de Sousa, Braga).

Os três capacetes de bronze recolhidos no Minho constituem, porventura, a evocação


artística mais forte da guerra. Entre eles destaca-se o esplêndido capacete do Castro de
Lanhoso, encontrado em admirável estado de conservação, incluindo a corrente, bem como
outros dois capacetes do mesmo tipo, embora com variações decorativas, descobertos em
Castelo do Neiva (C.A.F. Almeida, 1980b e 1980c). Fragmentos foram recolhidos em Briteiros,
Âncora e Sanfins. Estes elmos, datados da II Idade do Ferro, eventualmente do séc. I a.C., são
peças de grande qualidade com interessantes pormenores técnicos e decorativos, descritos de
174
forma exaustiva por diversos autores (Silva, 1986; Rey Castiñeira, 2005).
Em Briteiros foi identificado um umbo de bronze aplicável nos escudos redondos dos
guerreiros (caetra). Outro umbo de escudo em bronze foi recolhido no Castro de Alvarelhos no
vale do Ave, embora neste caso destinado a escudos maiores e quadrangulares.
Um número apreciável de utensílios seria usado na construção: picos, dos quais foram
recolhidos fragmentos na Citânia de Briteiros (Lemos e Cruz, 2005); compassos (Cardozo,
1994); cinzéis, como o que foi encontrado sob o pavimento de uma rua, no Castro de Santo
Ovídio (Martins, 1991); punções. A arte de decorar a pedra exigia, por certo, uma gama variada
de utensílios refinados, sendo possível que existissem artífices especializados. Na verdade alguns
elementos arquitectónicos recolhidos em Briteiros, em Sabroso, ou no Monte Redondo são tão
parecidos, que parecem ter sido produzidos na mesma oficina.
Outro grupo de peças é constituído pelas alfaias agrícolas em ferro, cuja funcionalidade
foi, recentemente, estudada de forma exaustiva (Teira Brión, 2003). Na Citânia de Briteiros
foram recolhidos um sacho e um machado. Outras peças deste último tipo foram encontradas
em Castelo de Neiva e Sanfins (Silva, 1986). Nos castros Máximo e de Sabroso, bem como
A Cultura Castreja no Minho

Fíbula de tipo Sabroso (Museu da Cultura Castreja - Solar da Ponte, Sociedade Martins Sarmento).

em Sanfins, foram descobertas enxadas. No povoado de Santo Ovídio foi recolhido um


ancinho (Martins, 1991). Este conjunto de artefactos de ferro situa-se na fase plena da Cultura
Castreja.
No conjunto o número de armas e de utensílios, registados até há data, não é muito amplo.
Pelo contrário os objectos de adorno são muito mais numerosos, em particular as fíbulas de
bronze. Estas eram utilizadas para prender vestuário, como camisas de linho ou capas, por
exemplo. Peças deste género já se encontram nos estratos do Bronze Final, mas generalizam-se
na Idade do Ferro. De acordo com os modelos a sua estrutura era variável. Há um tipo de fíbula
que tem o nome de Sabroso, por ter sido encontrada neste castro um número apreciável de
exemplares (10 ex.), embora menor que em Briteiros (20 ex.). A cartografia da sua distribuição
no Minho indica que o médio Ave seria o centro produtor desse modelo (Silva, 1986).
No Minho também foram identificados outros modelos, um dos quais é designado de
Santa Luzia, ainda que o maior número de exemplares deste tipo tenha sido recolhido em
Briteiros. Por sua vez as fíbulas anulares que se estendem por um vasto período da Cultura
Castreja, incluindo a fase final, são numerosas.
Os pormenores ligados ao fabrico e decoração destas peças (as fíbulas) são assaz
interessantes, excedendo porém os limites deste texto, remetendo-se para a extensa bibliografia
sobre o tema, designadamente para A. C. Silva (1986) e Sallete da Ponte (1984).
A quantidade de fíbulas que se recolhem nos grandes povoados, tendo em conta que uma
vez quebradas, na maioria das vezes, o material era reaproveitado, sugere que o vestuário era
uma das preocupações dos seus habitantes. Provavelmente, tecidos de luxo seriam um dos bens
175
importados do Sul da Ibéria e do Mediterrâneo.
A par das fíbulas registam-se outros objectos de adorno, sendo numerosos os alfinetes
de cabelo. Estas peças revelam um fabrico esmerado que se reflecte na cuidada decoração da
cabeça de cada alfinete. No Museu da Sociedade Martins Sarmento, das antigas escavações,
conservam-se 226 completos e 156 fragmentos, ou seja um número sem paralelo noutros
castros (M. A. D. Silva, 2000).
Mais raras são as jóias em bronze. No Castro de Sabroso registou-se o achado de um
bracelete em bronze e, noutros castros do Minho, recolheram-se pequenos pendentes e contas
de colar, produzidos no mesmo metal.
Fabricavam-se, também, outros materiais de uso quotidiano, incluindo agulhas, espátulas
em bronze, que serviam para misturar ungentos, com fins curativos ou de beleza. Ou anzóis.
Finalmente deve referir-se que são muitos abundantes rebites, cavilhas e pregos, em bronze
e ferro.
Minho. Traços de Identidade

176

Fíbulas (de tipo anular e Aucissa): alfinetes de cabelo (Museu da Sociedade Martins Sarmento, Guimarães).
A Cultura Castreja no Minho

3.5.1.4 Joalharia

A produção de artefactos, em ouro e prata, é uma tradição que remonta, no Noroeste da


Península, ao período calcolítico (Comendador Rey, 1998; Sousa, 2004) e que se manteve nos
milénios subsequentes. De resto, o ouro, bem como a prata, eram abundantes nas areias dos
rios, pelo que não faltava a matéria-prima (Perea Caveda e Sánchez-Palencia Ramos, 1995).
Na Galécia meridional os principais rios auríferos/argentíferos era o Minho e o seu afluente Sil,
embora também ocorram numerosos filões Au/Ar nos relevos drenados pelas bacias do Lima,
Neiva, Âncora e Coura. Nos sedimentos dos rios Cávado e Ave talvez se encontrassem pepitas
de metais preciosos, embora raramente.
s zonas mais ricas em ouro e prata situavam-se no interior do Noroeste, quer nas Astúrias
A
e faixa ocidental das províncias de Léon e de Zamora Ocidental, quer ainda na Província de
Ourense e em Trás-os-Montes (nas duas zonas, Ocidental e nordestina). Foi nestas áreas
que mais tarde se instalaram os principais territoria metallorum, após o domínio romano, época
em que se exploraram, de forma exaustiva, todas as ocorrências auríferas, tanto as jazidas
secundárias, aluviões e sedimentos coluvionares, como as primárias (filões de quartzo, filonetes
dispersos em granitos ou xistos) (Sánchez-Palencia Ramos, 2000; Orejas e Sánchez-Palencia,
2002; Lemos e Meireles, 2006).
Pouco se sabe, no entanto, sobre a mineração proto-histórica. Nas praias fluviais, e noutros
locais propícios, as comunidades autóctones procediam ao bateamento das areias, sendo
pouco provável a exploração sistemática de maior envergadura, ou de jazidas primárias. Deve,
contudo, admitir-se que, na II Idade do Ferro, ou mesmo antes, algumas formações primárias,
de rocha pouco dura e alterada, tenham sido desmontadas a pico, moendo-se e lavando-se, de
seguida, os sedimentos assim extraídos (Fonte et al, 2008). Todavia o aproveitamento quase
total destas jazidas, na época romana, terá obliterado os indícios de trabalhos mais antigos.
No vale superior do rio Terva (Boticas), onde se conservam abundantes cortas da época
romana (Lemos e Morais, 2005; Martins, 2005; Lemos e Meireles, 2006) o desmonte da rocha
apodrecida estava perfeitamente ao alcance técnico das comunidades proto-históricas. Os
veios auríferos ocorrem em granitos apodrecidos, pouco consistentes, facilmente desagregáveis
com um utensílio de bronze, ou com um pico de ferro, sem exigir grande aparato técnico. De
facto, junto dessa zona mineira conservam-se três povoados proto-históricos.
No âmbito da Cultura Castreja um dos artefactos considerados como mais expressivos 177
do estilo de vida e a da arte, são as jóias em ouro e prata, com decorações muito elaboradas e
delicadas. O tipo de peças é variado, desde os torques às arrecadas. No entanto, o mapa global
da distribuição dos achados de ourivesaria do Noroeste da Península não coincide, exactamente,
com as zonas de maior densidade de jazidas auríferas. Numa perspectiva geográfica registam-
se diferentes regiões.
Há uma área homogénea que ocupa o território a Norte de Lugo e a Asturia Transmontana
(actual Astúrias). Neste amplo espaço o número de peças é francamente superior, o que
contrasta com a pequena dimensão dos povoados.
No Norte de Portugal distinguem-se duas áreas (Silva, 2005). Uma situa-se em redor
de Chaves e outra em torno de Braga. Embora o território de Chaves também se inclua no
espaço dos grandes povoados castrejos, não é fácil saber se as jóias descobertas nessa zona
eram para uso das comunidades locais, ou se tinham por destino o litoral, ou se cumpriam
as duas finalidades. De facto, em redor da futura Aquae Flaviae (Chaves), no vale do Tâmega,
existiam importantes depósitos aluvionares ricos em ouro. Os castros existentes em redor do
Minho. Traços de Identidade

178

Pulseira em ouro do Tesouro de Lebução, Valpaços (Museu da Sociedade Martins Sarmento, Guimarães).
A Cultura Castreja no Minho

vale superior do rio Terva poderiam ser os locais onde se concentrava a actividade mineira, se
produziam os lingotes e se fabricavam peças (Fonte et al, 2008). Efectivamente, de acordo com
a bibliografia mais recente a metalurgia do ouro estaria ao alcance das pequenas comunidades
do interior, como em El Castrellín, no extremo ocidental de Léon (Fernández-Posse, 2000).
O conjunto de peças de ourivesaria descobertas na zona flaviense possui um estilo distinto,
revelando uma maior influência continental da joalharia celtibérica (Silva, 1986; Sousa, 2004).
Em Trás-os-Montes Ocidental há uma outra zona de concentração de achados, na
extremidade Sul da zona dos grandes povoados, entre as faixas terminais dos rios Pinhão e
Tua. O primeiro nasce no coração da zona aurífera da Padrela, em Jales, pelo que as suas areias
continham ouro. Quanto ao segundo deve assinalar-se que o último dos principais afluentes
do Tua é o rio Tinhela que drena os contrafortes orientais da mesma serra, nascendo na zona
aurífera de Três Minas.
O rio Tâmega, no curso a jusante de Chaves, parece ter sido outro eixo relacionado com
a distribuição da ourivesaria proto-histórica (bracelete de Telões; torques do Castro de Cavês;
tesouro de Gondeiro).
Todavia grande parte dos achados de joalharia do Norte de Portugal concentra-se no
Minho nas bacias do Cávado e do Ave, ou seja na área dos grandes povoados, num perímetro
bem definido: entre o Cávado e o Douro, no sentido Norte Sul; no sentido oposto entre o
Oceano e o arco de montanhas formado pelas serras da Cabreira, do Barroso, do Alvão e
Marão. Esta concentração de jóias em ouro e prata, na Idade do Ferro é muito interessante, por
vários motivos. Tal como se referiu não está ainda esclarecido se as jóias eram produzidas em
castros das zonas interiores, ou se o ouro era transportado em pequenos lingotes e as peças
fabricadas nos povoados do litoral, ou se esta é uma falsa questão. Em abono da primeira
hipótese convém salientar que o grupo de jóias do litoral possui um estilo diferente em que
a influência mediterrânica será expressiva, tanto nas técnicas como na decoração (filigrana
e granulado) (Silva, 1986; Sousa, 2004; Martins, 2008). Em Terroso encontraram-se indícios
claros de fabrico (Gomes, 1996).
Por outro lado, talvez não fosse necessário importar os metais preciosos das regiões do
interior. As quantidades de Au/Ar recolhidos nas areias fluviais seria suficiente para fabricar uma
peça, como demonstram observações etno-arqueológicas efectuadas no rio Minho, na zona de
Ourense (Vasquez Varela, 1995).
De acordo com uma linha tradicional de estudos, os objectos de adorno em ouro e a 179
prata constituíam indicadores de prestígio, reservado às famílias mais ricas. Encontram-se,
provavelmente, relacionados com a emergência de elites, formadas por famílias mais poderosas,
que se afirmaram por motivos de ordem política, ou económica. Os artefactos em ouro mais
conhecidos da Cultura Castreja são os torques, colares usados pelos membros masculinos
das famílias mais ilustres, pelo que se deduz das estátuas de guerreiros onde se encontram
representados. Nada indica porém que o seu uso fosse restrito ao sexo masculino. Há uma
estátua feminina descoberta na Citânia de Briteiros na qual se observa um torques, pelo que se
pode admitir que também as mulheres das famílias mais poderosas os usassem.
As arrecadas, a par dos braceletes e pulseiras eram outro tipo de jóias que consta da lista
das peças descobertas
Há, no entanto, quem questione, quer a interpretação das jóias de ouro e prata como
bens de prestígio, quer a necessidade da existência de escolas de artífices para a sua
produção, contrariando assim uma linha quase consensual. Com base em sólidos argumentos
de ordem tecnológica e arqueológica defende-se que o fabrico das peças estava ao alcance
Minho. Traços de Identidade

180 Estatueta feminina descoberta na Citânia de Briteiros (Museu da Sociedade Martins Sarmento, Guimarães).

das comunidades menos complexas, ditas segmentárias, não implicando qualquer hierarquia
(Fernández-Posse et al, 2004). Por outro lado, se a produção não exigia saberes especializados,
as diferentes decorações e técnicas, não possuem um particular significado cultural.
Aliás, recentemente, foram divulgadas nova leituras sobre ourivesaria, incidentes sobre os
torques, propostas que cruzam, de maneira inovadora, os aspectos técnicos, morfológicos e
decorativos das jóias, também apresentando uma sequência cronológica, do Bronze á II Idade do
Ferro. São consideradas quatro fases, em função de um padrão (cânon) simbólico e comunitário:
Antiga (séc. VII – VI a.C.); Transição (séc. V a.C.); Clássica (séc. IV-III a.C.); Transgressora (da
segunda metade do século III a.C. em diante) (Perea, 2003). Os torques de Lanhoso, com os aros
interiores em bronze e um estilo “barroco”, pertenceriam à última fase. Esta linha interpretativa
não considera relevante o jogo de influências continentais ou mediterrânicas, inserindo-se no
quadro dos que entendem o desenvolvimento da Cultura Castreja como um processo endógeno.
Por outro lado, é dado como adquirido que a capacidade técnica para produzir as jóias já estava
ao alcance dos artífices das comunidades do Bronze Final (Armbruster e Perea, 1994; 2000).
A Cultura Castreja no Minho

181
Arrecadas (brincos) descobertos numa pequena urna funerária, Citânia de Briteiros (Museu da SMS, Guimarães).

As diferentes hipóteses carecem, para serem verificadas, de artefactos contextualizados,


com registos arqueológicos firmes, e de uma maior quantidade de peças. Na verdade, tendo em
conta a dimensão das superfícies escavadas e os volumes de terras removidas nos castros, os
achados de ourivesaria são, apesar de tudo, escassos em especial nos maiores e mais escavados
povoados do Minho. Na verdade, mal grado a circunstância da Citânia de S. Julião ser um
dos sítios do Noroeste em que se realizaram sucessivas e amplas campanhas de escavações,
nunca foi encontrada qualquer peça de ourivesaria da Idade do Ferro, embora tenham sido
detectados vestígios de actividade metalúrgica (Sousa, 2004). Também na Citânia de Briteiros,
apesar de ser um povoado proeminente no âmbito da Cultura Castreja e onde viviam famílias
preponderantes, o número de objectos em ouro recolhidos no povoado limita-se a um par
de pingentes, depositadas num vaso de cerâmica, recolhido durante trabalhos de limpeza do
interior de uma habitação do povoado sob o pavimento, em 1937, ou seja em possível contexto
funerário (Cardozo, 1994).
Minho. Traços de Identidade

Torques em ouro provenientes do Castro de Lanhoso, Póvoa do Lanhoso (Museu de D. Diogo de Sousa, Braga).

odavia, noutro ponto do vale do rio Ave, no Castro de Lanhoso, foram recolhidos na
T
década de 30 do século XX, quando se abriu a estrada que conduz ao cume, três torques em
ouro/prata, apesar deste castro não ser, de modo algum, o maior povoado do vale do Ave.
Noutros castros do Minho e zonas adjacentes ocorreram as seguintes descobertas:
182
Cividade de Bagunte (cinco torques de prata); Monte da Saia (1 bracelete); Sanfins (1 arrecada
e fragmento de torques); São Félix de Laúndos (2 arrecadas, num pequeno vaso e torques). Na
Cividade de Terroso registaram-se indicadores de actividade metalúrgica. A par destes achados
há raríssimos conjuntos excepcionais como o Tesouro de Estela (Póvoa de Varzim).
Em síntese, apesar da relevância atribuída pela literatura da especialidade à joalharia proto-
histórica, a quantidade de peças recolhidas no Minho é pouco significativa quando comparada
com tesouros como os do Castro de Arrabalde (Zamora Ocidental) (Delibes e Martín Valls,
1982) ou com o número de jóias dos pequenos povoados da Callaecia Setentrional e das Asturia
Trasmontana. Mais expressiva é a sua concentração no território dos Bracari e dos Callaeci,
destacando-se os rios Cávado e Ave como eixos distribuidores.
A desproporção entre áreas escavadas nos castros do Minho e as jóias recolhidas pode ser
significativa. Provavelmente atribuía-se mais importância aos artefactos em ouro nas pequenas
comunidades do que nos grandes povoados. Esta hipótese articula-se com a hipótese das
jóias e torques, das fases de transição e clássica, serem investimentos colectivos, “tesouros”
comunitários (Fernández-Posse, 2000; Perea, 2003; Fernández Posse et al, 2004).
A Cultura Castreja no Minho

3.5.1.5 Complexidade económica

Podemos assim imaginar os grandes castros do Minho como vastos aglomerados laboriosos,
com abundantes recursos económicos, uns colectivos como as pastagens ou os bosques,
outros privados como parcelas agrícolas ou hortas. No âmbito da comunidade, a distribuição
e usufruto dos recursos colectivos seria regulada pelo Conselho das linhagens, ou famílias mais
ilustres, que, em Briteiros, se reuniam na grande casa, voltada a Sul, de onde se dominava uma
vasta panorâmica sobre o Rio Ave.
Também é legítimo supor que as famílias completassem os rendimentos da agricultura
e pecuária com outras actividades como a produção de olaria, a metalurgia e, mesmo, a
ourivesaria. Na fase final da Cultura Castreja, nos grandes povoados, existiriam mesmo
famílias especializadas em determinadas áreas económicas, designadamente a metalurgia.
Talvez as unidades domésticas, com oficinas de metalurgia, fossem assinaladas com elementos
decorativos próprios como as pedras gravadas com tenazes, das quais se podem observar dois
exemplares no Museu da Cultura Castreja.
Aliás o posicionamento da Casa do Conselho, com amplo domínio visual é assaz sugestivo.
Locais como a Citânia de Briteiros eram plataformas da circulação e distribuição regionais
de determinados bens. Ao longo do vale do Ave, chegavam mercadorias oriundas da orla
marítima, como o sal, uma das mais importantes, e não só para consumo local. Este produto
seria, redistribuído para os povoados da zona montanhosa interior da serra da Cabreira e dos
altiplanos do Barroso, onde devido às condições propícias do território, os efectivos pecuários
tinham mais relevância. Para a pecuária o sal é um bem de primeira necessidade. Deve-se, ainda,
considerar como expressivo o comércio, entre a costa e o interior, de peças de luxo (contas de
colar, jóias, vasos de olaria fina, tecidos) importadas do longínquo mediterrâneo, que circulavam
através dos principais cursos de água. Do interior para o litoral, transportavam-se, certamente,
metais como o ouro, a prata e o estanho.
Desconhece-se, por ora, o tipo de embarcação fluvial que transportavam os produtos,
rio acima. Mas talvez fossem menos elaborados que as pirogas descobertas no rio Lima. Aliás
ao longo do Ave, a distâncias regulares, distribui-se uma sequência de grandes povoados:
Bagunte; Alvarelhos; Monte Padrão; Monte das Eiras; Briteiros; Castro de Vieira. Todos estes
sítios possuem áreas superiores a 10 hectares, não existindo outro vale, na região Minho, com
tal coincidência de povoados de tal amplitude intra-muros, pelo que o Ave, poderá ter sido, a
183
principal rota económica do Entre Douro e Minho.
Os recursos agro-silvo-pastoris, a produção artesanal e o comércio, constituíram o
fundamento da prosperidade dos grandes povoados da Idade do Ferro do Noroeste de Portugal.
Por outro lado devemos admitir uma economia ancorada numa certa especialização, com os
castros mais próximos dos solos profundos, como seria o Castro de Sabroso. Este povoado
possui uma implantação distinta da Citânia de Briteiros. Situa-se a uma cota inferior. Os ribeiros
que o ladeiam transportavam água suficiente para o abastecimento do povoado. Ficava mais
próximo de terrenos férteis, como os aluviões arrastados pelas ribeiras que desciam do monte
de Santa Marta da Cortiças, ou da cumeada da Falperra. Nesses aluviões cultivavam cereais
adaptados a solos húmidos e linho. Na zona mais próxima do povoado ficavam as hortas.
Quanto aos pastos seriam aproveitadas as vertentes meridionais da pequena cumeada que
se levanta a sul, pois que as encostas de Santa Marta das Cortiças estavam englobadas no
território do castro aí existente.
Pelo posicionamento do Castro de Sabroso em relação à Citânia deve admitir-se que os dois
povoados mantinham laços de aliança e de hospitalidade. Nada indica que o Castro de Sabroso
Minho. Traços de Identidade

fosse mais antigo. Sabe-se apenas que não foi romanizado como a Citânia de Briteiros.
Se os parágrafos anteriores relatam um contexto harmonioso e estável, é necessário
conjecturar períodos de seca, ou Invernos pluviosos, com as consequentes crises alimentares.
Nestas situações, esgotadas as reservas familiares e das famílias mais poderosas eram
inevitáveis confrontos, nos quais os guerreiros se destacavam como garantia da sobrevivência
das comunidades.

3.5.2 Sociedade

Pouco se sabe acerca da estrutura social das comunidades que habitaram os grandes povoados
do Minho. Na ausência de necrópoles e de escavações minuciosas de conjuntos habitacionais,
todas as considerações suscitam legítimas dúvidas. No entanto, ultrapassada a fase em que
a discussão se referia às fontes antigas e ao saber histórico-culturalista, o cruzamento da
antropologia com as teorias históricas, tem permitido avanços sugestivos. Em Portugal, na
década de 80 do século XX surgem as primeiras interpretações que ultrapassam a transposição
automática para a Cultura dos Castros de paradigmas exteriores, como o Celtismo.
Fundamentando-se na convicção de que o substrato étnico da Cultura Castreja teve origem
em povos indo-europeus Armando Coelho da Silva (1986) adoptou o esquema estruturalista
de George Dumézil. Assim, segundo aquele investigador, a sociedade castreja seria formado
por guerreiros, sacerdotes e camponeses. Numa perspectiva estritamente arqueológica não
há indícios que suportem esse modelo, salvo o carro de Vivela, peça que no entanto faculta
outras leituras, como já se referiu. Nem se entende muito bem como se articulavam esses
estratos funcionais com as famílias extensas que viviam nas unidades domésticas. De qualquer
modo, sem atender às dificuldades espaciais e económicas inerentes à aplicação do modelo de
Dumézil, A.C. Silva entende que essa matriz ternária será o cerne da Sociedade Castreja. Sendo
óbvio que os guerreiros estão presentes na sociedade castreja, esta circunstância pode, por
exemplo, ser explicada por um esquema conforme ao que apresenta K. Kristiansen (2000) ou
por um modelo de “sociedade heróica” (Parcero Oubiño, 2002). Faltam, os sacerdotes, para os
quais não há qualquer evidência material indicativa, salvo dois ou três machados rituais, o que
é muito pouco.
Com base na análise comparada da dimensão dos povoados do Noroeste Peninsular, bem
184 como dos objectos de prestígio (ourivesaria), e face à circunstância da área nuclear dos grandes
povoados se concentrar no Minho (por oposição aos pequenos povoados de Trás-os-Montes
Oriental e da Callaecia Setentrional), há autores que abordam de uma outra forma o problema
(Ruibal Gonzalez, 2003; Sastre, 2004).
Assim os pequenos povoados do Leste transmontano, raramente maiores que 1 ou 2
hectares, seriam habitados por uma ou mais famílias nucleares que se reviam num antepassado
comum, ou seja a cada castro correspondia uma linhagem, mais ou menos ilustre (Lemos, 1993).
O território era vivido como um prolongamento do povoado, não havendo propriedade privada.
Nestes pequenos castros, mesmo quando os recursos assim o permitiam, não parecem ter
surgido estratégias de acumulação de poder e riqueza. Domina uma profunda relação entre
a comunidade e o território, que apenas será quebrada após a conquista romana. A mesma
estratégia social foi admitida para o extremo ocidental de Castilla-Léon, com base no estudo
arqueológico de Castrellin de San Juan de Pazuelas (Fernández-Posse, 2000). Para referidos
autores castelhanos esses povoados seriam habitados por sociedades ditas segmentárias, ou
seja que se dividiam sempre que o crescimento demográfico, ou crises de governação interna,
ocasionavam conflitos, criando-se um novo povoado. Trata-se de um processo que etnólogos
A Cultura Castreja no Minho

descreveram em variados locais do planeta. A estrutura destes castros não sofreu profundas
alterações, nem na morfologia interna, nem na superfície, até à conquista do NO por Augusto
no final do I milénio a.C.
Para a Callaecia setentrional onde apesar da dimensão dos povoados que raramente
alcançam 5 hectares, se registam objectos de prestígio, designadamente jóias, foi proposto
um modelo social designado por heróico, associado ao modo de produção germânico (Parcero
Oubiña, 2002). Nesse modelo, os guerreiros não estão vinculados aos castros, mas ao território,
às paisagens antigas.
Como é óbvio estas hipóteses, por muito sedutoras que sejam para as regiões citadas, não
são, de modo nenhum, aplicáveis aos grandes povoados da zona nuclear da Cultura Castreja,
onde, pelo menos na II Idade do Ferro, há indícios claros de riqueza acumulada e de formas de
afirmação social, materializada em significativas diferenças tanto nas superfícies dos habitats,
como qualidade arquitectónicas das unidades domésticas.
Deste modo, foram apresentadas diversas explicações para a estrutura social dos grandes
castros. Num trabalho recente Alfredo González Ruibal (2003) encontrou em Lévy-Srauss o
conceito de “societés à maison” e aplica-o, de forma inteligente, sem porém o desenvolver
de maneira conclusiva. Por sua vez Inês Sastre (2004) parte do esquema de comunidades
segmentárias e “adapta-o” aos grandes povoados da Galécia Meridional, sugerindo um tipo
de complexidade semelhante ao que foi proposto para a fase que precede a formação da polis
grega (Bintliff citado por Sastre, 2004). Todavia a ligação entre as elites que governavam os
povoados e o território causa-lhe perplexidade, estranhando um duplo sistema de dependências:
no interior do castro e deste sobre os restantes situados na envolvente.
De facto, os grandes castros da região que se estende entre o Minho e o Douro e cuja
área nuclear se divide pelas bacias do Cavado e do Ave, foram habitados por comunidades com
um expressivo grau de complexidade e diferenciação social, podendo ser incluídas no sistema
de chefados, estudados em várias obras de antropologia política (Johnson e Earle, 1987; Earle,
1991). Coexistiam, talvez no mesmo castro, várias linhagens, a par de famílias dispersas sem
estatuto. Os representantes das linhagens fundadoras, ou mais poderosas, proprietárias de
terrenos de cultivo e com controlo sobre os bens comuns (pastagens e terrenos de caça e
recolecção), teriam assento na Casa do Conselho, sendo os “anciãos” referidos pelos textos
estrabonianos. Aliás, por si mesmo, a existência deste equipamento indica que haveria um
estado de desigualdade social, o que exigia um lugar específico para resolver os conflitos. A vida 185
social de cada povoado assentava numa complexa teia de alianças no seio das linhagens, destas
entre si, e com as famílias que não estivessem integradas no sistema, a par de fenómenos de
exclusão, quer no âmbito do parentesco, quer no uso dos equipamentos colectivos. Assim a
grande estrutura de banhos da Pedra Formosa de Briteiros, profusamente decorada, seria de
acesso restrito às linhagens mais poderosas (Lemos et al, 2008).
Também as estátuas dos guerreiros galaicos, que se concentram no Minho, representavam
os chefes das linhagens proeminentes (como seria o caso de Malceino, filho de Dovilon) efectivas,
perpétuas (Cunissom, 1956) ou míticas.
De qualquer modo a persistência das unidades domésticas, como elemento preponderante
da paisagem urbana, sugere que a comunidade familiar extensa continuou a ser o núcleo de base
da sociedade castreja, embora com diferentes graus de riqueza e de poder. Podemos admitir
um sistema complexo em que grupos de famílias se constituíam como clientelas das linhagens
mais poderosas, não sendo possível averiguar se um determinado quarteirão cristalizava um
sistema desse tipo ou se, pelo contrário, não há coincidência, e a rede de fidelidades cruzava os
diversos bairros.
Minho. Traços de Identidade

O castellum seria assim governado por um conjunto de linhagens com um antepassado


comum, forçosamente um herói mítico. O nome de cada povoado terá derivado do nome da
linhagem preponderante, ou do antepassado mítico. Cada povoado teria um expressivo grau de
autonomia, num contexto organizacional que precede o das cidades-estado da Grécia, embora
seja lógico que pudesse integrar uma unidade superior, ou seja num povo. Esta unidade poderia
implicar a existência de um local de reunião periódica dos diferentes castella, como seria o
caso da colina onde mais tarde, no período romano, foi edificada a cidade de Bracara Augusta
(Tranoy, 1981; Lemos, 2008).

3.6 Religião e Morte


3.6.1 Os Cultos

Um dos aspectos menos conhecidos da Cultura Castreja é a religião, ou seja as divindades, os


cultos, as crenças das comunidades. No entanto, existe numerosa bibliografia sobre o assunto,
com base em áreas distintas, desde a mitologia comparada, aos estudos paleo-linguísticos. As
epígrafes latinas, inscritas em santuários, aras e estelas, embora já enquadráveis em contexto
romano, também contribuem para desvendar as raízes indígenas da sociedade e a sua religião.
Deste modo, sobre esta matéria, foram apresentadas muitas teorias, faltando-lhes, muitas
vezes, o necessário fundamento arqueológico.
Seja como for há, na religiosidade das sociedades castrejas, vários aspectos essenciais,
derivados do que sabemos sobre os próprios povoados e sobre os cultos de origem autóctone,
praticados na época romana. Estes cultos, embora inseridos em novos suportes e formatos, são
ancestrais, ou seja expressam um legado que se desenvolveu ao longo do primeiro milénio a.C.
Os aspectos mais relevantes da religião castreja, tal como em muitas outras sociedades
da época e posteriores, articulam-se com a comunidade e o seu território. A propósito da
estrutura social das comunidades proto-históricos do Noroeste, já se referiu o forte vínculo
entre o castro e o espaço envolvente, muito profundo nas unidades mais simples, catalogadas
como segmentárias e camponesas. Para os habitantes dos castros, o território não seria um
espaço liso, ou neutro, meramente entendido como um recurso económico. Pelo contrário era
sinalizado por uma malha de locais sagrados que incluíam afloramentos graníticos, destacados
186 na paisagem, bosques, cursos de água ou nascentes, os próprios caminhos. Também os rios e as
montanhas seriam considerados como entes divinos. Todo este conjunto de pontos sagrados
garantia ao território uma espessura mitológica de grande beleza, integrando-se, provavelmente,
em narrativas transmitidas de geração em geração, pelo que grande parte desta religiosidade
difusa se perdeu para sempre. Nalguns casos, os pontos sagrados eram assinalados com figuras
cujo exacto significado se perdeu, devido ao seu estilo abstracto (figuras antropomórficas,
círculos concêntricos, espirais, labirintos), narrativas simbólicas gravadas na rocha e que se
inserem na tradição da magnífica Arte Rupestre da Idade do Bronze do Noroeste da Península.
Para alguns autores este culto pela diversidade da natureza é uma característica céltica, ou
indo-europeia. Em boa verdade, é conhecido em muitas sociedades, em diferentes pontos do
planeta. A conhecida inscrição do Cabeço das Fráguas, embora localizada na distante Lusitânia,
testemunha a força do território e os ritos associadas, de acordo com a última das várias leituras
propostas (Prósper, 2002) e que parece a mais expressiva e consistente: “… uma ovelha à charca
do povoado; um porco ao pântano?; uma (…) prenhe Eknoña, deusa das pradarias, uma ovelha
de um ano ao ribeiro do povoado; e um bovídeo macho ao rio Tret[…].”.A inscrição do Cabeço
das Fráguas é também interessante porque revela uma língua não celta, talvez a lusitana.
A Cultura Castreja no Minho

Nos povoados, que alcançaram uma grande complexidade, a Religião, como entidade
formal, controlada pelos grupos dirigentes, organizou e memorizou em mitos e locais específicos
esse vínculo territorial fluído e diversificado. Na fase final da Idade do Ferro desenvolveu-se um
esforço ordenador da religiosidade difusa indígena, programa assumido pelos lugares centrais,
pelos “oppida”, e que o poder romano aprofundou, embora de forma progressiva. No contexto da
Pax Romana os novos suportes, incluindo o latim, facilitam e reforçam a organização ideológica
do espaço. Mesmo assim, por vezes, é possível deduzir os cultos proto-históricos relacionados
com a envolvente, graças às inscrições gravadas em santuários ou monumentos epigráficos
romanos.
A divinização das montanhas ficou registada em epígrafes latinas, como na serra do
Larouco, um imponente relevo que se ergue no extremo oriental do vale do Cávado, já na
região do Barroso. De facto, no termo de Vilar de Perdizes, Montalegre, no santuário rupestre
da Penha Escrita foram descobertas duas aras, uma dedicada ao deus da montanha, Larouco e
outra a Júpiter. Verifica-se, assim, uma interessante dualidade, em que a divindade tópica terá
atributos idênticos a deus romano.
Diversos cumes do Minho, designadamente a Serra do Gerês, foram divinizados. Por outro
lado é possível que a implantação de alguns povoados como a Citânia de Briteiros tenha sido
influenciada pelas cumeadas da Serra da Cabreira que se destaca no horizonte visual de muitas
das unidades domésticas voltadas a nascente. Na encosta voltada ao raiar do sol e à Serra da
Cabreira situam-se as duas estruturas de banhos já identificadas.
A par das montanhas determinados grupos de afloramentos, ou rochas, tinham um
significado religioso que será difícil recuperar. Em Panóias (Vila Real), talvez o mais conhecido
santuário e que ainda fica na área dos grandes castros, regista-se uma entidade étnica dedicante,
os Lapíteas. Corresponderá esta entidade um populus, a vicani, ou uma ilustre linhagem
de chefes? Por outro lado, se aceitarmos que a reorganização do culto, operada no século
II por um ilustre romano, o senador Gaius Calpurnius Rufinus, procurou manter o significado
ancestral, então os penedos de Panóias sinalizavam, na Proto-História, um espaço de morte
e ressurreição, um ponto sagrado em que os diversos mundos se interligavam (Alfoldy, 2002).
O senado romanor que “reinterpretou” os cultos e ritos anteriores, introduzindo também uma
divindade mediterrânica, Serápis, esteve em Panóias no século II d.C. Cruzando todos estes
dados, incluindo a inscrição dos Numina (deuses protectores) dos Lapitae, podemos admitir
uma interessante simbiose entre os rituais e a própria comunidade, que tutela o território em 187
que se inclui o santuário. A morte e a vida seriam mistérios já encenados na Proto-História, em
contextos sociais específicos, no domínio simbólico da comunidade que se perpetuava para
além dos sucessivos ciclos geracionais.
Na verdade estes santuários, ditos rupestres, nunca foram matéria de um trabalho
monográfico, mas constituem uma das pistas mais interessantes para desvendar a profunda
relação entre as sociedades proto-histórica e o espaço que as envolvia (Gonzalés Ruibal, 2003).
A sua distribuição sobrepõe-se, aliás, à área dos grandes castros, o que não é uma simples
coincidência. Assinalam, talvez, a política dos grupos dominantes no sentido de materializar, em
locais específicos, a religiosidade difusa no território. Na perspectiva da religião proto-histórica
da II Idade do Ferro, como exercício de poder e de ordenamento ideológico do território, os
santuários rupestres constituem um das suas expressões de maior monumentalidade e
simbolismo.
São frequentes na fronteira oriental dos grandes castros, aspecto bem evidente em Mau
Vizinho (Chaves), Argeriz (Valpaços) e Cadaval (Murça), mas também se distribuem pela faixa
litoral. No célebre penedo de Sanfins, descoberto por Martins Sarmento, foram gravadas
Minho. Traços de Identidade

Estátua feminina do Castro de Sendim, Felgueiras (Museu da Sociedade Martins Sarmento, Guimarães).

inscrições aos Numidi Fiduenearum e a Cosuneae (Silva, 1999). Neste caso as divindades protegem
uma linhagem (Fidueneae) ou o próprio castellum, assegurando não só a coesão e pervivência da
entidade inscrita na rocha, mas também o domínio político e controlo territorial.
188
Situa-se no Minho um dos mais complexos e interessantes desses santuários: a Fonte do
Ídolo, que tem sido matéria de sucessivas interpretações. Trata-se de um ponto duplamente
sagrado (a rocha e a água) em que se cruzam múltiplas alianças, entre o poder romano e o
universo indígena, entre o estilo clássico das figuras e o seu nome, entre um emigrante (Celicus
Fronto) e a cidade que o acolheu (Bracara Augusta). Neste santuário, na parede rochosa de
onde brota uma nascente, foram representadas uma Nabia Fortuna e um deus paredro Tongoe
Nabiagoi (Rodríguez Colmenero, 2002). Admite-se que o santuário seria proto-histórico, mas
tal como Panóias foi integrado no universo romano, mediante o seu enquadramento urbano,
artístico e epigráfico, na transição da Era Cristã (Garrido et al, 2008).
Sabe-se mais, acerca da relação religiosa e simbólica com o território, incluindo os penedos
e fontes, do que sobre os cultos intramuros. Não se conhecem templos bem definidos, embora
diversas estruturas, por serem mais amplas e devido ao seu posicionamento na organização
interna dos povoados, sejam interpretadas como tal (Silva, 1986). A representação de divindades
é também muito limitada. Algumas raras figuras femininas em pedra podem estar relacionadas
com divindades, como é o caso das estátuas descobertas no Castro de Sendim em Felgueiras,
A Cultura Castreja no Minho

189

Estátua sedente masculina de Braga (Museu de D. Diogo de Sousa, Braga).

ou na Citânia de Briteiros. Armando Coelho da Silva (1986) inclui estas estátuas no âmbito do
seu esquema ternário, relacionando-as com a fertilidade e agricultura. Outros poderão arguir
que se filiam na antiga tradição mediterrânica das deusas-mães.
Relacionam-se, de qualquer modo, com a outra faceta da religiosidade dos castros: a
comunidade como entidade divinizada, para além do território e do tempo.
Também as estátuas sedentes masculinas de que se conhecem, no Minho, dois exemplares,
podem representar deuses protectores da comunidade. Uma das estátuas foi descoberta no
Castro de Lanhoso; a outra em Bracara Augusta. Os únicos paralelos são duas peças recolhidas
em Xinzo de Limia e a da Perafita*, ou seja também na área dos grandes castros. A estátua de
Minho. Traços de Identidade

Braga, recolhida num contexto secundário (deslocada do sítio original), numa insula romana da
periferia da cidade, é assaz expressiva. A personagem masculina (o falus é evidente) e que veste
um saio, está sentada numa cadeira cujos apoios dianteiros representam cascos de cavalo. A
mão direita, encosta ao peito e segurava um elemento que se perdeu. A mão esquerda segura
um vaso. Pelas dimensões (altura máxima 77 cm; larg. máxima 43,5 e base 50 cm) é pouco
provável que se insira num contexto doméstico. Provavelmente estava colocada sobre um
pedestal num templo.
Esses lugares sagrados, para além da sua função estritamente religiosa e simbólica,
constituíam espaços sociais que atenuavam as diferenças de classe e contribuíam para a unidade
do povoado. Todavia, nada se apurou sobre as hipotéticas divindades e respectivos cultos. A
existência de um templo, edificado de acordo com os cânones romanos, em Monte Mozinho
(Penafiel), um oppidum que se perdurou no Alto Império poderá ser um indicador de que houve,
anteriormente, construções de estilo autóctone com funções sagradas. Há no Castro de Roques
um afloramento granítico, com vestígios de talhe que poderá ter integrado um templo. Tanto
em Briteiros como em Santa Luzia, conservam-se recintos circulares, no topo do povoado, mas
os dados sobre a sua finalidade são meramente conjecturais.
Haveria também lugares mais complexos, pois garantiam a convivência entre as diversas
comunidades castrejas (os castella) que formavam um povo. Seriam locais onde se derrimiam
conflitos, se trocavam bens. Assim, é possível que o sítio onde mais tarde foi fundada a
cidade de Bracara Augusta tenha sido a “Colina Sagrada” dos Bracari. Já Alain Tranoy (1981)
teceu algumas considerações sobre esta questão. Dispomos, actualmente, de um conjunto
de testemunhos arqueológicos, que se encaixam numa hipótese mais elaborada. A estrutura
pré-romana encontrada durante as obras de renovação da gare ferroviária de Braga seria um
local de banhos rituais (Lemos et al, 2003). O santuário da Fonte do Ídolo, dedicada à Deusa
Navia, seria outro ponto dessa colina sagrada. A estátua sedente descoberta num contexto já
romanizado, poderia estar num templo existente no Alto da Cividade cuja estrutura se perdeu,
devido às obras da nova cidade de Bracara Augusta. A representação do deus terá sido recolhida
na casa de um dos numerosos indígenas que se instalaram na urbe. Outro indicador favorável
dessa hipótese é a numerosa série de moldes de sítula (vasos utilizados em cerimónias religiosas
ou em banquetes) com ornamentação castreja, descobertos na zona do Alto da Cividade, na
zona das Cavalariças (terrenos do actual Museu de D. Diogo de Sousa) e no logradouro de Casa
190 Grande de Santo António das Travessas) (Morais, 2004).
comprovação da hipótese de Bracara Augusta ter sido fundada num lugar sagrado dos
A
Bracari exige outros vestígios arqueológicos mais elucidativos que talvez sejam descobertos
em novas escavações. Convém, no entanto, ter em conta os nomes das duas outras grandes
cidades do Noroeste Peninsular: Lucus Augusti e Asturica Augusta. O termo Lucus designa um
bosque sagrado, um local com as mesmas características da colina de Bracara. Por outro lado a
cidade foi fundada a pouca distância das nascentes do rio Minho, num local de fontes termais.
Em Asturica Augusta foi encontrada uma ara dedicada ao rio Astur. Na escolha dos locais onde
foram edificados os futuros centros administrativos do Noroeste da Hispania, terá havido por
parte do novo poder romano uma estratégia de integração de lugares com uma poderosa carga
simbólica ou, mesmo religiosa, tornando assim mais forte a aliança entre Roma e os populi da
Callaecia e da Asturia.
Reforçam a ideia de uma extensa e ancestral rede de divindades territoriais proto-
históricas o elevado número de teónimos específicos, ou seja que não se repetem uma segunda
vez e noutros lugares. Estas divindades territoriais são entidades tópicas, por vezes nem sequer
nomeadas, pois o seu nome era assaz conhecido pela comunidade, ou mesmo, um segredo
A Cultura Castreja no Minho

partilhado, cuja divulgação poderia fragilizar o povoado. Associados a um castellum, ou a uma


linhagem, são téonimos que garantiam a perpetuidade de um castro determinado, ou de um
grupo social.
Pelo contrário o número de deuses que se repetem em diversas inscrições é assaz limitado,
tal como é escassa a quantidade de inscrições registadas, o que de certo modo questiona a
hipótese de uma religião ordenada, de um culto dominado por um grupo especializado (os
sacerdotes), de um eventual esquema ternário de origem indo-europeia. Há, mesmo assim, um
leque de divindades indígenas transcritas para latim, as mais frequentes em aras votivas da
Callaecia, que poderiam configurar um panteão comum: Bandue, Reve, Coso, Nabia.
Sobre os atributos destas divindades não há, todavia, consenso. Curiosamente nenhuma
destas divindades ocorre noutras regiões da Europa céltica, ao contrário de Lug, ou de Bormanicus
(Caldas de Vizela). Bandue poderá ser uma entidade que cria laços, pelo que terá sido venerada
como protectora da comunidade castreja. Cosus tem sido relacionado com a guerra, um dos
pilares do modelo indo-europeu proposto por A. C. Silva (1986), ainda que outros investigadores
apontem atributos diferentes. A Reve têm sido atribuídas funções na esfera da agricultura e da
fertilidade (Silva 1986), mas outros autores como Eugenio Luján Martínez (2006), consideram
que a etimologia do nome não está esclarecida. Quanto a Nabia, uma divindade frequente
no Noroeste Peninsular, tem sido, habitualmente, associada ao culto das águas e, também, à
fertilidade (Encarnação, 1975). Todavia, segundo propostas mais recentes Nabia poderá ser uma
deusa aglutinadora (González Ruibal, 2003), função que se insere, perfeitamente, no contexto
da Fonte do Ídolo, onde se encontra representada. Noutra hipótese (Luján Martínez, 2006) a
sua etimologia significa “vale entre montanhas” sentido igualmente verosímil tendo em conta o
posicionamento da Colina Sagrada onde foi edificada Bracara Augusta (Lemos, 2008).
Tal como a propósito dos cultos incidentes em determinados cumes, ou afloramentos
rochosos, se verifica um ensaio político de ordenamento da religiosidade difusa, processo
relacionada com a emergência dos grandes castros, também se considera que um eventual
panteão se insere num mesmo esforço de controlo dos mitos e narrativas ancestrais. Mas não
só: formavam uma plataforma mitológica comum indicadora de alianças ideológicas entre os
diversos grupos de castella.
No universo castrejo, a par da religião ligada à comunidade e ao território, bem como um
eventual panteão, o culto dos antepassados também terá sido relevante. O hábito de enterrar
as urnas funerárias junto a estruturas domésticas, revela-nos uma sociedade na qual as famílias 191
extensas consideram o espaço, em que habitam e convivem, como uma área sagrada, o lugar
por excelência da longa duração. Esse vínculo terá persistido não só na referência ao castellum
de origem, nas inscrições das estelas funerárias da época romana, mas também em elementos
decorativos gravados nas lápides. Particularmente interessante são os exemplos das estelas
funerárias da necrópole sul de Braga, onde se observam ornamentos que remetem para a
decoração das construções castrejas (Tranoy e Leroux, 1989/90).

3.6.2 Ritos Funerários

Ao contrário de outras sociedades da Idade do Ferro que nos legaram magníficos túmulos,
com diversas oferendas, como sucede na Europa Central ou mesmo noutras áreas da Península
Ibérica, os ritos funerários da Cultura Castreja constituem um enigma, apenas parcialmente
desvendado. Face à escassez dos dados, a hipótese aceite pela generalidade dos investigadores
indica que os mortos seriam cremados e as suas cinzas colocadas em vasos enterrados no
interior das unidades domésticas, sob o pavimento das habitações ou em locais adjacentes. O
Minho. Traços de Identidade

Guerreiro de Santo Ovídio, Fafe (Museu da Sociedade Martins Sarmento, Guimarães).

rito da cremação poderá ter origem numa matriz inicial já observável na Idade do Bronze Final,
em diversos arqueossítios do Noroeste de Portugal, como na Citânia de S. Julião (Bettencourt,
192 2000a), em Beiriz (século VIII a.C.) (Silva, 1985), ou ainda em Braga, na zona designada como
Granjinhos (Bettencourt, 2000b).
De qualquer modo é curioso verificar como o culto dos mortos, ao longo de todo o I
milénio a.C., se manteve num registo discreto e familiar, enquanto que as habitações e os
equipamentos colectivos dos castros adquiriam uma expressiva materialidade na II Idade do
Ferro. Por outro lado é importante sublinhar que essa discrição é extensiva tanto aos grandes
como aos pequenos castros. No Noroeste Peninsular os marcadores de prestígio, mesmo nas
monumentais citânias, não se estenderam à evocação dos mortos.
Na Citânia de Briteiros, o achado de um par de arrecadas em ouro, que se encontravam
num pequeno pote de cerâmica indígena, descoberto num canto de uma casa, a escassa
profundidade (Cardozo, 1994), poderá corresponder a uma pequena urna funerária na qual
foram depositadas como oferenda as jóias, que teriam pertencido à falecida. Este achado tem
um paralelo muito semelhante, pela circunstância de também se tratar de arrecadas de ouro
guardadas num vaso com a mesma forma, no Castro de Laúndos, na Póvoa de Varzim (Silva,
1986). Infelizmente tanto num como noutro caso, o contexto exacto das descobertas não está
bem definido.
A Cultura Castreja no Minho

Devemos, pois, admitir que diversas outros peças recolhidas na Citânia de Briteiros, ou
no Castro de Sabroso, quer vasos de cerâmica, intactos ou ligeiramente fragmentados, quer
artefactos de bronze votivos, podem apontar para a possibilidade de se tratar de indicadores
funerários que, na altura, passaram despercebidos. Será, pois, necessário tentar recuperar com
muita atenção os contextos em que ocorreram esses achados, aproveitando as notas de Martins
Sarmento e os textos de Mário Cardoso.
Nas escavações realizadas nos anos 80 do século XX em Santo Ovídio (Fafe), local que
terá sido a sede de um povo, instalado na bacia do Alto Vizela, foi encontrado um pequeno vaso
intacto numa fossa aberta no saibro, diante de uma casa (Martins, 1991). Todavia, uma vez que
apareceu em conjunto com outros materiais fragmentados é mais provável que se trate de uma
fossa preenchida num contexto que a arqueóloga interpretou como vazadouro. Também no
Castro do Lago (Amares - vale do Cavado) foram encontrados, no interior de fossas localizadas
na área interna do povoado, diversos vasos intactos. No entanto apenas uma das fossas, onde
foi encontrada um grande pote, foi considerada funerária. As restantes seriam detríticas. Uma
nova interpretação foi recentemente adiantada por González Ruibal (2003) que, baseado no
padrão homogéneo do espólio recolhido em várias fossas, sugere que poderiam ter um carácter
intencional, relacionado com banquetes simbólicos. Ora alguma dessas cerimónias estariam
associadas a ritos funerários.

193

Urna funerária do Castro do Lago, Amares (Reproduzido de Martins 1988b, acervo do Museu D. Diogo de Sousa, Braga).
Minho. Traços de Identidade

Segundo Armando Coelho da Silva os numerosos vasos intactos descobertos nas escavações
dos inícios do século XX na Cividade de Terroso, efectuadas por Rocha Peixoto e que na altura
não chegaram a ser divulgados, poderiam corresponder a urnas funerárias descobertas em
fossas circulares e rectangulares escavadas no interior das habitações (Silva, 2003a). Este tipo
de ritual funerário em que as cinzas dos mortos são guardadas no interior dos habitats, sob o
pavimento das construções habitacionais, nas zonas adjacentes, ou nos pátios, é uma prática
que se encontra em numerosos povos e em diversos continentes.
A par deste rito mais discreto, registou-se, em alguns castros, a cremação, ou deposição das
cinzas, em estruturas materiais formadas por pequenas cistas quadrangulares. Estes conjuntos,
situados na área exterior das construções, embora nos terrenos da unidade familiar, foram
descobertos por Rocha Peixoto na Cividade de Terroso, e confirmados por Armando Coelho,
quer em novos trabalhos em Terroso, quer na Cividade de Âncora (Silva, 1986; 2003a), onde
numa das cistas foi recolhido um espigão de um capacete. As referidas cistas encontravam-
se agrupadas, formando pequenos recintos funerários, dos quais o mais numeroso é o da
Cividade de Âncora, com onze sepulturas (Silva, 1986). O material votivo integrava cerâmicas
de importação Deste modo Armando Coelho da Silva insere-as no âmbito da última fase da
Cultura Castreja, já sob a influência romana (1986). Assim o pequeno grupo de sepulturas
descoberto no referido castro, poderá expressar uma primeira fase da monumentalização do
culto dos mortos.
De qualquer modo representam um interessante exemplo da flexibilidade do exercício do
novo poder romano, já que os cânones, aplicados por este povo, estipulavam que as sepulturas
deveriam ser colocadas fora das zonas habitacionais. Provavelmente a nova regra irradiou dos
primeiros núcleos urbanos, das sedes conventuais e de civitates, alargando-se progressivamente
a todo o território, apenas incluindo os castros numa fase tardia.
Uma segunda fase de monumentalização do ritual funerário materializa-se nas estelas
gravadas com o nome do defunto. A circunstância de existirem estelas funerárias de indígenas,
datáveis do século I, quando ainda grande parte das comunidades desconhecia o latim, é um
sinal de prestígio e de mudança, embora o número de estelas funerárias recolhidas em castros
seja, no Minho, muito reduzido, o que pode significar: ou a resistência à adopção de uma nova
regra; ou o efectivo abandono dos castros. Pelo contrário as estelas de autóctones, algumas
das quais incluem motivos de tradição proto-histórica (aspecto já referido) são abundantes na
194 capital, em Bracara Augusta, nas sedes de civitates, nos vici, surgindo também em villae.
Se a cremação terá sido o rito funerário dos habitantes dos castros resta saber em que
locais eram colocadas as piras para queimar os corpos. Devido à acidez dos solos faltam,
por ora, elementos para responder a esta pergunta. Neste domínio, o das questões sobre os
cultos funerários da Cultura Castreja, ainda há muito por esclarecer, sendo necessário que as
escavações se realizem com extremo cuidado.

3.7 Estatuária - Os Guerreiros

As estátuas em granito, representando guerreiros, constituem um dos aspectos mais peculiares


da Cultura Castreja. As primeiras foram divulgadas por Emílio Hübner (1861), atraído pelas
inscrições dos escudos. Pela sua parte Martins Sarmento identificou duas, ambas na bacia do
Vizela, em Santo Ovídio (Fafe) e em S. Jorge de Vizela (Vizela), inserindo-as no mundo dos
castros, apesar das inscrições latinas. Deste modo, a expressão inicial de “guerreiro galaico”,
A Cultura Castreja no Minho

Desenho do guerreiro descoberto na Citânia de S. Julião (Arquivo da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho).

utilizada pelo sábio alemão foi alterada para “guerreiro lusitano” por influência do investigador
vimarenense o qual, pela primeira vez, as comparou com as páginas do geógrafo grego Estrabão,
onde este descreve os lusitanos.
A intrincada história do estudo destes monumentos foi esboçada por Martin Höck
(2003). Na verdade, desde finais do século XIX, os guerreiros de pedra motivaram diferentes
comentários e interpretações, admitindo uns que seriam heróis divinizados, enquanto outros se
limitavam a uma leitura mais prosaica, sugerindo que se tratava da representação dos chefes
das comunidades.
As dimensões das estátuas, que ultrapassam a escala natural, indicam um efeito plástico de
majestade e de força. Não há grandes variações nos padrões. Pelo contrário possuem expressivas
similitudes entre si. Destaca-se, em primeiro lugar, o aparente posicionamento hierático. As
vestes (profusamente decoradas), o armamento, os adornos, são muito semelhantes: o elmo;
a cota de malha ou de linho; o saio; o cinto; o escudo redondo; os viria, o punhal ou falcata; as 195
polainas ou grevas. As estátuas ilustram, pois, em pormenor, a indumentária e o armamento dos
guerreiros castrejos, incluindo o escudo e a arma (Quesada, 2003).
Embora grande parte dos guerreiros tivesse sido descoberta nas últimas décadas do século
XIX, ocorreram novos achado ao longo do século XX, o mais recente dos quais na Citânia de
S. Julião (Vila Verde) (Martins e Silva, 1984). No escudo do guerreiro foi gravado o nome:
Malceinus filho de Dovilo, parecendo haver poucas dúvidas de que corresponda à personagem
representada. Seria, pois, o chefe, ou um dos chefes do povoado, ou um antepassado mítico.
Apesar do estudo destes monumentos ter principiado em oitocentos só em 1986 foi
publicado um primeiro catálogo, com bons desenhos (Silva, 1986). Ao todo já foram identificadas
32 estátuas ou fragmentos deste tipo (Calo Lourido, 2003a). No entanto parte dos elementos
citados nesse catálogo, incluindo algumas cabeças, suscitam dúvidas. Com maior rigor o total
seria de 27. A sua distribuição é ampla, mas, aspecto muito importante, não ultrapassa a área
dos grandes povoados, sendo de referir que, em diversos casos, ocorrem duas ou mais estátuas
no mesmo castro. No Minho regista-se a concentração mais expressiva do Noroeste, nas bacias
dos rios Ave, Cávado e Lima onde foram assinalados 8 estátuas inteiras, ou fragmentos das
Minho. Traços de Identidade

196

O guerreiro de S. Julião, fotogrado logo após a sua descoberta (Fototeca do Museu de D. Diogo de Sousa, Braga).

mesmas: Castro de Santo Ovídio; S. Jorge de Vizela; Braga; Citânia de S. Julião; Roriz; S. Paio de
Meixedo; Cendufe. Conhecem-se outras peças do mesmo tipo, nas bacias do Tâmega (ao todo
seis) (Outeiro Lesenho - Boticas e Cabeceiras Basto) e do Sousa (Sanfins e Monte Mozinho)
(ao todo 3), já a Sul do eixo central do Minho. A Norte, na faixa terminal do rio Minho, ou seja
a jusante da sua confluência com o Sil, outras 5: Anlló; Armeá, Castromao e Sanbale.
Tem sido sublinhada a circunstância de algumas destas estátuas, ou fragmentos, terem
sido encontradas junto das muralhas, como se verificou em Sanfins, ou na Citânia de S. Julião.
Num e noutro caso na segunda linha defensiva, sugerindo um cenário em que estes guerreiros
se erguiam de forma simbólica como protectores do espaço intra-muros, ou das portas de
A Cultura Castreja no Minho

197

Cartografia da distribuição dos guerreiros castrejos.


Minho. Traços de Identidade

acesso (Silva, 1986). Embora sedutora e provável esta hipótese ainda não foi comprovada, em
definitivo, uma vez que nenhuma das estátuas recolhidas até hoje foi descoberta em contexto
arqueológico selado, sendo certo que em Sanfins foi localizada a rocha onde encaixava a base
da peça.
A cronologia destes monumentos foi muito discutida. Autores como Armando Coelho
da Silva (1986; 2003) filiam as estátuas dos guerreiros numa antiga tradição que remonta à
Idade do Bronze apresentando como argumento exemplares de estátuas arcaicas: a estatuária
antropomórfica de Chaves, ou de Vila Pouca de Aguiar. Outros autores, entre os quais se
destaca Calo Lourido (2003b) entendem que todas estas representações são já da época
romana, revelando um processo de aculturação, em que as comunidades autóctones imitam a
estatuária clássica. Segundo Jorge Alarcão (2003a) representavam os príncipes, ou chefes de
cada povo, que teriam sido considerados como os interlocutores oficiais do poder romano, até
à implantação definitiva do sistema de civitates. Assim, os povoados em que foram descobertas
estátuas seriam as capitais dos diferentes populi que se distribuíam pelo território do Minho e
do Norte de Portugal, entre a época de Augusto e a dinastia dos Flávios.
Recentemente T. Schattner procurou estabelecer, entre as estátuas, diferenças com
eventual significado cronológico (2004). Segundo o autor é possível diferenciar elementos
mais arcaicos, pré-romanos e outros marcadamente romanos, como um ligeiro movimento no
posicionamento dos membros, ou decoração do escudo (Schattner, 2004). Para o investigador
alemão as estátuas mais antigas poderiam ser remontar ao século II a.C. (Schattner, 2004),
sendo possível estabelecer paralelos com a restante estatuária da Idade do Ferro europeia,
designadamente os guerreiros de Glauberg e de Hirschlanden, na área dos Celtas. A análise de
T. Schattner foi recebida com reservas, perguntando-se, por exemplo, Jorge Alarcão (2004) se
as diferenças assinaladas não seriam o produto de distintos artistas. Todavia os argumentos do
investigador alemão parecem sólidos e lógicos, tendo sido bem acolhido por Armando Coelho
da Silva (2004).
Seja como for, parece evidente que os guerreiros materializam a complexidade social
alcançada pelos grandes castros antes da conquista da Noroeste Peninsular. Representavam os
heróis míticos, os pais fundadores da linhagem dominante, mesmo que a memória de eventuais
laços de consanguinidade se tivesse desvanecido, ilustrando a linhagem perpétua que unia a
comunidade, ou mesmo um povo.
198 Muitos investigadores pensam que os guerreiros galaicos não seriam um fenómeno
circunscrito a um espaço específico, ou seja à zona dos grandes castros do NO, mas que se
integravam num arco mais amplo, englobando outros pontos da Europa proto-histórica. Porém
poderá ser circunstancial a relação com estátuas da Idade do Ferro de outras zonas da Europa,
como a Gália e a Germânia. De facto, embora haja similitudes entre as representações galaicas
e dos guerreiros da Europa Central, a quase total ausência de estátuas em áreas intermédias,
comparada com a expressiva concentração nas bacias hidrográficas do Minho, Lima, Cávado,
Ave, Sousa e Tâmega, suscita reservas sobre a validade desses paralelos. Assim é muito arriscado
deduzir destas estátuas a comprovação de uma eventual matriz indo-europeia, sendo também
possível uma influência mediterrânica, sem ligação com o mundo romano (Sazbö, 2003).
Em suma, entende-se que a representação em granito dos guerreiros é a expressão da
força estética e plástica da zona dos grandes castros, da complexidade social dos povoados,
um elemento criativo próprio, que se insere, de forma lógica, num universo em que a pedra é um
suporte preferencial, tanto nas construções das muralhas, como nas unidades domésticas e na
escultura (Lemos et al, 2008).
A Cultura Castreja no Minho

4. ABANDONO E PERDURAÇÃO DOS CASTROS

Um dos temas mais interessantes da Cultura Castreja é a persistência, ou abandono dos castros,
após o domínio romano. Este assunto, embora seja um dos mais expressivos indicadores do
modo como se estabeleceu uma nova ordem, a Pax Romana, tem sido tratado como uma
questão de fé, ou com indiferença. Os que acreditam num universo galaico romano, sem
rupturas, consideram desnecessário aprofundar o tema; outros encaram-no como um capítulo
complementar da Proto-História.
Todavia é matéria muito importante, que levanta numerosas questões. Uma delas é o
cálculo do número de castros que foram abandonados e em que contexto histórico. Outra
relaciona-se com o próprio conceito de abandono. Face ao reduzido número de escavações o
principal critério aplicado tem sido a ausência, ou presença, à superfície dos sítios, de materiais
de tipologia romana, designadamente, cerâmicas domésticas, ou de construção. Contudo, tal
como já sublinhou Jorge Alarcão (1992) importa distinguir entre uma continuidade de ocupação
plena, com um amplo leque de materiais, e a mera sobrevivência de comunidades residuais que
possam ter adoptado alguns dos novos materiais, mantendo o modo de vida tradicional até
finais do século II d.C. Casos deste tipo terão sido em pequeno número, limitados a regiões
periféricas do Minho.
A maioria dos castros que subsistiu, ou foi por razões de ordem política, ou porque se
especializou num dos vários segmentos específicos do novo quadro económico (comércio;
pastorícia; produção de bens agrícolas ou exploração metalífera), conforme o espaço em que
estavam inseridos.
De facto, a antiga estrutura agro-silvo-pastoril, dissolveu-se no novo sistema económico,
generalizado logo após a conquista do Noroeste. Não se pode, portanto, afirmar que um castro
foi romanizado, pressupondo a persistência da antiga comunidade como um todo, só porque
numa prospecção de superfície se recolhem fragmentos de tegula, ou de imbrex, ou, mesmo, um
leque maior de cerâmicas incluindo cerâmicas importadas (terra sigillata).
Pelo contrário, a ausência destes novos materiais, rapidamente adoptados pelas comunidades
indígenas, é significativa. Aliás é mais fácil contabilizar o número de castros abandonados, do
que avaliar, exactamente, os sentidos territorial e económico, da expressão “castro romanizado”.
Deste modo, devem ser encarados, com prudência, os catálogos elaborados para a faixa litoral
do Noroeste, que apontam para um número relativamente abundante de povoados em que se 199
terá verificado uma continuidade habitacional, confirmada apenas pela presença de fragmentos
de cerâmica de construção romana, olaria comum, ou importada, sem contextos elucidativos.
Admite-se que grandes povoados como a Citânia de Briteiros, a Citânia de S. Julião,
a Citânia de Sanfins, a Cividade de Bagunte, o Monte Padrão, o Castro de Santo Ovídio, a
Citânia de Santa Luzia, persistiram no século I d.C e, alguns deles, no seguinte. Não se pode,
porém, incluir estes castros, devido á sua evidente relevância política, nos mesmos diagramas
que os habitats mais pequenos. A eventual continuidade destes povoados será apenas um
indicador de uma política de alianças, semelhante à expressa na Tabula do Bierzo, nalgumas
áreas tão transitória como o projecto da província Transduriana. Noutras essa política implicou
a deslocação voluntária das elites indígenas para os novos aglomerados urbanos, principais e
secundários, conforme está documentado pela epigrafia votiva (Martins, 2000) e funerária de
Bracara Augusta (Tranoy e Le Roux, 1989/90), embora mantendo laços com a comunidade de
origem que permaneceu no castro.
Por outro lado, é indispensável validar, mesmo nos casos dos aglomerados castrejos
supracitados qual foi o grau de romanização, examinando a percentagem de materiais,
Minho. Traços de Identidade

delimitando a área habitada, bem como os vínculos com os núcleos urbanos romanos próximos.
Um sítio da amplitude da Citânia de Sanfins, na segunda metade do século I estava reduzido
a um pequeno aglomerado (Silva, 1999). Na Citânia de Briteiros a romanização não terá sido
tão expressiva como se pretendeu, segundo uma reavaliação recente (Lemos e Cruz, 2006). O
número de cerâmicas importadas é, de facto, reduzido quando se compara com a abundância
dos materiais da Idade do Ferro, embora a quantidade de ânforas seja elevada.
Por outro lado, é necessário distinguir entre uma eventual continuidade populacional e a
persistência de habitat como tal. Ou seja, considerando os castros como povoados de altura,
defendidos por linhas de muralha, é óbvio que o povoado aberto da base do monte, embora
habitado por eventuais descendentes directos das famílias que viveram no cume, não pode, de
modo nenhum, ser designado como castro. Ao romperem com um modelo de habitat secular, as
comunidades instalam-se numa ordem territorial distinta, inscrevem-se numa nova paisagem,
mesmo que mantenham os laços de parentesco, as divindades, os mitos ancestrais e os costumes
funerários. Deste modo cabe perguntar se a designação castella indica, no contexto do séc. I
d.C., exclusivamente os castros, conforme é aceite pela bibliografia, ou se abrangia, de facto,
os núcleos habitacionais localizados no sopé dos relevos, ou seja a comunidade “castreja”. Os
castellani seriam os habitantes desses novos locais, cuja relação directa com os antigos “castros”
era notória e visível, como em S. Lourenço (Esposende) ou como em Lovelhe (Vila Nova de
Cerveira) para apenas citar dois exemplos, entre muitos possíveis. No primeiro caso desenvolve-
se, na base do monte, um vicus com evidentes funções comerciais. O segundo destaca-se, na
época romana, como porto fluvial. Admite-se, mesmo, a persistência dos territórios, ainda que
o seu uso fosse reorientado para uma economia distinta, originando uma nova paisagem.
A derradeira fase da chamada Cultura Castreja terminou em meados do século I d.C. Será,
assim, paradigmática a cronologia do abandono do povoado de Santo Estevão da Facha (Ponte
de Lima), que terá ocorrido em meados da centúria, de acordo com os resultados das escavações
(Almeida et al, 1981) e do inventário dos sítios (Almeida, 1990), elementos a partir dos quais
Jorge Alarcão (1999) apresentou uma leitura da mudança de paisagem ocorrida no vale do Lima,
no séc. I d.C. Prospecções realizadas nestes últimos dois anos, em Geraz de Lima, confirmam
as conclusões desse artigo, em particular a hipótese de vários casais agrícolas romanos terem
um centro religioso e funerário comum, neste caso no lugar da igreja de Santa Leocádia, onde
foi descoberta uma ara e uma necrópole. Não poderiam os habitantes destes novos habitats,
que se dispersaram a partir do Castro do Peso (Geraz do Lima), formar uma unidade cultural
200 e tributária, designada por Castellum, incluindo o núcleo residual que permaneceu na base do
povoado, tal como os elementos oriundos de Santo Estevão da Facha, que se distribuíram por
diversas granjas e casais do vale contíguo, constituir uma outra comunidade de castellani?
Por outro lado, é necessário utilizar os itens da cultura material, com rigor, não abstraindo
do contexto em que se inserem. Por exemplo, os moldes de sítula constituem um item muito
expressivo do universo castrejo, identificado em diversos sítios, desde a Galiza litoral (Santa
Tegra, na foz do rio Minho) (Carballo Arceo, 1983 e 1989) ao extremo ocidental montanhoso da
província de Léon (Castrelín de San Juan de Paluezas, no vale superior do rio Sil) (Férnandez-
Posse, 2000). Há, porém, numerosos moldes de sítula, com motivos geométricos análogos,
em Bracara Augusta. Estes achados, e outros do mesmo tipo, em nada podem legitimar a
hipótese de que Bracara Augusta ter sido fundada sobre um castro, como ainda se pretende
(Almeida, 2003a). De facto, na área da cidade de Braga, em mais de uma centena de trabalhos
arqueológicos, escavações, sondagens ou acompanhamentos, nunca foi detectada qualquer
estrutura da Idade do Ferro, muralha ou habitação (Martins e Lemos, 1998).
Na verdade, a diversidade dos contextos arqueológicos de itens relacionáveis com a Proto-
História, tem suscitado equívocos sobre o limite temporal da Cultura Castreja. Determinados
A Cultura Castreja no Minho

201

Estela funerária de Arquius (Casa dos Avelares, Braga), destacando-se a iconografia castreja (Museu de D. Diogo de
Sousa).

elementos persistiram, porque as elites indígenas participaram, activamente, na construção da


Gallaecia romana, mantendo, numa primeira fase, artefactos próprios do seu gosto e estilo de
vida. Entretanto a análise e cronologia do reordenamento territorial e populacional, revelam
que estão em curso, nos reinados de Augusto e Tibério, profundas alterações na economia, na
sociedade e na paisagem.
O amplo processo de abandono dos castros raramente tem sido analisado nessa
perspectiva, ou seja como uma mudança complexa, num quadro territorial e paisagístico,
em que se cruzaram dinâmicas distintas. Num texto recente Almudena Orejas e J. Sánchez-
Minho. Traços de Identidade

Palencia (2002) enfatizam a mineração aurífera como o mecanismo primordial dessa mudança,
considerando a excepcional riqueza mineira do NW. Admite-se que esse terá sido um dos
vectores mais relevantes, em particular na Asturia, onde o universo dos castros teria sido
integrado no sistema tributário do Império, através de aristocracias locais que, no entanto,
não se deslocam para a sede conventual, pois são escassas as estelas funerárias de indígenas
(Mañanes Pérez, 2000).
Entende-se, porém, que a apropriação dos novos territórios, pelo menos na Callaecia
meridional, se operou com objectivos mais amplos, segundo vários mecanismos de segmentação
do espaço, interactivos (Lemos, 2004). As mudanças no território decorrem da instalação de
novos equipamentos, de uma nova ordem e economia, da criação de um leque hierarquizado de
habitats, desde as sedes de civitates às villae, granjas e casais, passando pelo vici, pelos povoados
mineiros e pelas mansiones (Martins, 1995b; Martins et al, 2005).
Em síntese, considera-se que no âmbito da romanização, e no Minho, alguns raros castros
sobreviveram e foram importantes núcleos populacionais. Contudo, na sua maioria foram
abandonados. Admite-se, porém, que este quadro apenas seja válido para o Norte de Portugal,
incluindo o Nordeste Transmontano (Lemos, 1993) e para a Galiza meridional, sendo distinto o
processo no conventus de Lucus Augusti (Árias Vilas, 2005) e Asturia.
Resta saber se a Callaecia era apenas mais uma província da Hispania. O investigador
Pereira Menaut (1984 e 1988) propôs que à Cultura Castreja teria sucedido uma nova formação
histórica, específica do Noroeste, denominada Galaica e assente nos castella. Recentemente,
numa perspectiva fenomenológica, Adolfo González Ruibal admite que do “encontro” entre a
Cultura Castreja e o Império Romano, se criou uma nova entidade, cujos contornos ainda são
imprecisos (2003).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este texto não esgota todos os aspectos da Cultura Castreja no Minho, pois muitas questões
ficaram por tratar. Todavia é evidente a centralidade da zona situada entre as bacias dos rios
Ave e Minho, como ponto nuclear do universo dos grandes castros do Noroeste. Em redor
deste universo distribuíam-se espaços contíguos (Douro Litoral, Trás-os-Montes Ocidental,
202
Pontevedra e Ourense) e periféricos, de amplitude variável: a Callaecia Setentrional (Coruña e
Lugo); a Astúria Ocidental; Zamora Ocidental; o Nordeste Transmontano. Cada um deles com
as suas especificidades e diferenças assinaláveis, bem como aspectos comuns (González Ruibal,
2003).
Os caminhos pelos quais os castros da zona do Minho (ou Entre Douro e Minho) se
consolidaram como os pontos mais dinâmicos da Idade do Ferro, formando lugares centrais
sem paralelo nas outras zonas do Noroeste da Peninsula Ibérica, ainda não foram inteiramente
esclarecidos. A geomorfologia e o clima foram condicionantes muito favoráveis. Por outro lado,
convém sublinhar que a leitura deste canto da península como periferia ou plataforma central
depende da orientação pela qual se lêem os mapas da Europa, como demonstrou Barry Cunliffe
(2000). Os contactos com Fenícios, Gaditanos, Gregos, Ibéricos e Cartagineses foram assíduos,
talvez mais importantes que a influência romana, pelo menos até ao século I a.C.
De qualquer modo este dinamismo do Noroeste de Portugal, tanto no Bronze Final como
na II Idade do Ferro, não implica qualquer superioridade tecnológica, ou cultural. De facto, o
que caracteriza a Cultura Castreja é a sua diversidade regional, sobre um fundo comum, seja
A Cultura Castreja no Minho

histórico, seja geográfico ou ecológico. Os Zoelas ou Zelas, que viviam em pequenos castros na
periferia das periferias, nos limites entre supostas unidades étnicas peninsulares (os Galaicos,
os Astures, os Vetões e os Lusitanos) tinham uma cultura tão rica como os demais populi, tendo
gerido com autonomia o seu território, mesmo após a conquista romana ainda que num novo
quadro económico e de povoamento (Lemos, 1993).
A análise da distribuição dos castros no Minho revela um pensamento a uma escala mais
ampla que a comunidade isolada. A criação da densa rede de lugares centrais não foi, por
certo, desenvolvida somente após a campanha de Décimo Júnio Bruto (137 a.C.). Terá sido um
movimento mais demorado cujas raízes remontam à I Idade do Ferro. Quando os trabalhos
arqueológicos começam a revelar que estavam errados certos pressupostos como, (entre outros
exemplos possíveis), o da introdução muito tardia da mó rotativa, um elemento decisivo para o
aumento da produtividade agrícola e mineira, é necessário aprofundar as propostas de Manuela
Martins e de Xúlio Carballo Arceo sobre a complexa evolução endógena destas sociedades.
Por outro, é muito forçado incluir os castros do Minho, bem como toda a área dos grandes
povoados, no âmbito das comunidades segmentárias, ou nas heróicas. O proto-urbanismo
e o esplendor da arquitectura doméstica não se resumem às grandes citânias, como se tem
imaginado. Estendeu-se a povoados considerados secundários, como o Castro de Perre, como
revelaram os recentes trabalhos de emergência. Também algumas das construções de Sabroso
são tão elaboradas como as de Briteiros. As sociedades das citânias e dos castros alcançaram,
na II Idade do Ferro, um elevado grau de complexidade, com grupos dominantes, aristocracias
hereditárias, ou linhagens perpétuas, que exerciam o seu poder de acordo de mecanismos
diferenciados, embora conservando, a nível ideológico e religioso, a memória de valores
ancestrais e dos mitos fundadores. A força política desses chefes, ou príncipes, ficou registada
na organização interna dos povoados, sendo indicadores do seu estatuto não tanto as jóias ou
as armas, mas a arquitectura, que corresponde a um nível superior de afirmação de poder, bem
como a nova organização territorial. Assim era inevitável o abandono generalizado dos castros,
pelo menos na área dos grandes povoados, após a conquista romana.
O poder romano exerceu-se, e consolidou-se, através de novos mecanismos, designadamente,
por ambiciosos programas de arquitectura e engenharia, destacando-se a estruturação da rede
viária e os equipamentos urbanos. Foram, assim, edificadas cidades ex-novo, quer de estatuto
conventual como Bracara Augusta, quer sedes de civitates como Tongobriga e Aquae Flaviae.
Cidades e espaços que foram governados pelas elites forjadas nos castros, conforme se deduz 203
da epigrafia de Bracara Augusta.
Minho. Traços de Identidade

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