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O sentido "econômico" do
Jubileu bíblico. Artigo de
Fabrice Hadjadj - Instituto
Humanitas Unisinos
Moisés Sbardelotto
8-11 minutos

“Quem, hoje, ainda conserva um sentido econômico


do Jubileu? Os economistas não sabem que a
economia tem uma relação com tudo isso. E os
cristãos evaporam em um jubileu abstrato.”

A opinião é do filósofo francês Fabrice Hadjadj,


diretor do Instituto Philanthropos (Associação
Francesa de Estudos Antropológicos), em artigo
publicado por Avvenire, 07-05-2017. A tradução é
de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

A grande instituição econômica de Israel é o


Jubileu, sábado dos sábados e perdão dos perdões,
já que ele acontece uma vez a cada sete vezes sete
anos, no Yom Kippur. Na época, fazia-se tocar uma
trombeta feita com o chifre de um carneiro, jobel em

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hebraico (onde a “tragédia” é o “canto do bode”


sacrificado no culto dionisíaco, o jubileu é a “voz do
carneiro”, que toma o lugar de Isaac no sacrifício de
Abraão).

Lendo o Levítico, o católico romântico conserva


apenas o versículo 18 do capítulo 19, aquele que
contém a frase “amarás o próximo como a ti
mesmo”. O amor sempre, mas que, tão isolado,
separado das raízes e das ramificações dos outros
versículos, flutua na ausência de gravidade. Jubilar
se reduz a uma emoção individual, a um orgasmo
permitido também às virgens, sem nenhuma relação
com a economia – que ideia bizarra!

Porém, basta ler o texto que conclui o livro dos


Levitas para se dar conta de que a trombeta soaria
a alegria em vão se não rompesse as correntes da
escravidão e não impedisse especialmente aos filhos
de Israel de se tornarem novos Faraós: “Farás soar
a trombeta no dia dez do sétimo mês. No dia do
Grande Perdão fareis soar a trombeta por todo o
país. Declarareis santo o quinquagésimo ano e
proclamareis a libertação para todos os habitantes
do país. Será para vós um jubileu. Cada um de vós
poderá retornar à sua propriedade e voltar para sua
família. O quinquagésimo ano será para vós um ano
de jubileu: não semeareis, nem colhereis o que a
terra produzir espontaneamente, nem fareis a
colheita da videira não podada. Porque é o ano de
jubileu, sagrado para vós. Mas podereis comer o que

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produzirem os campos não cultivados. Neste ano de


jubileu cada um poderá retornar à sua propriedade.
Se venderes a teu concidadão ou dele comprares
alguma terra,que ninguém explore aquele que é seu
irmão” (Lv 25: 9-14; trad. Bíblia da CNBB).

Do que fala exatamente essa passagem? Durante 49


anos, foram levadas a termos inúmeras trocas,
dependendo dos casos do tempo e das escolhas das
pessoas. Um fez uma má colheita, enquanto o outro
colheu em abundância. Um desperdiçou a sua
herança, enquanto o outro a poupou ou a fez render.
O rico teve que extinguir a dívida do pobre, e este,
não podendo honrar os vencimentos do seu crédito,
foi contratado como diarista. “Que ele viva com você
como assalariado ou hóspede. Trabalhará com você
até o ano do jubileu, e então ele e seus filhos ficarão
livres para voltar à própria família e recuperar a
propriedade paterna” (Lv 25, 40-41; trad. Bíblia da
CNBB).

No 50º ano, os contadores são colocados de volta no


zero, cada família volta para a sua propriedade,
reencontra o seu oikos. Essa perspectiva coloca um
limite a todas as transações efetuadas nos anos
anteriores. O empresário sabe que as suas
aquisições em excesso, mesmo que feitas de modo
legítimo e merecido, como recompensa de um
afiado senso de negócios, não poderão superar uma
determinada duração, cerca de uma geração e meia,
que corresponde, grosso modo, à sua esperança de

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vida e delimita, portanto, o excedente ao seu mérito


individual: “Cada um em Israel retornará à sua
herança e à sua família, se tiver sido alienado
pessoalmente. Essa lei abrange o tempo, porque não
só o machado cai a cada 50 anos, mas também se
calculam as vendas a partir do último Jubileu, e isso
significa que a sombra (aos olhos do avarento) ou,
melhor, a luz do Jubileu, dada viva e vibrante, dura
pelos 49 anos por vir”.

Em “A contra-epopeia do deserto. Ensaio sobre


o Êxodo, o Levítico e o Deuteronômio”, o
excelente exegeta Jacques Cazeaux apresenta
essa reintegração jubilar como uma verdadeira
“revolução social e política”, onde a palavra
“revolução”, por uma vez, assume plenamente o seu
duplo sentido de acontecimento e de retorno: “A
supressão dos latifúndios ou, mais simplesmente, a
impossibilidade de fazer perdurar as grandes
propriedades sabota na raiz as veleidades de um clã
ou de uma tribo, e, com maior razão, de um rei”.

Essa supressão, no entanto, é benéfica para o


próprio grande proprietário: “O que se pode fazer
com um milhão de acres?, pergunta-se um
personagem de ‘Furor’. Anda-se por aí em um carro
blindado. Torna-se um tipo gordo e mole, com
pequenos olhos maus e uma boca semelhante ao
buraco de um ânus. E se tem medo de morrer [...]
Se alguém precisa de um milhão de acres para se
sentir rico, deve ser porque se sente terrivelmente

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pobre dentro...”.

Uma propriedade grande demais, que supera a


escala do nosso cuidado atento, nós a possuímos
menos do que ela nos possui: a sua realidade dá
lugar aos inúmeros cálculos que invadem a nossa
cabeça. O Jubileu nos alivia desse peso. Delimita
um campo à nossa medida, ao da nossa família,
onde podemos agir realmente como “senhores”.

Dessa lei, insuportável para a hegemonia do


mercado liberal, é preciso fornecer uma explicação e
notar uma exceção. A explicação é que toda
aquisição se fundamenta em um dom original, seja
da coisa adquirida, seja do próprio comprador, tendo
sido uma e outro criados pelo Eterno: ““As terras não
se venderão a título definitivo, porque a terra é
minha, e vós sois forasteiros e meus inquilinos” (Lv
25, 23; trad. Bíblia da CNBB).

Paradoxalmente, só está verdadeiramente na sua


casa própria aquele que reconhece que é somente
um hóspede na terra que Deus lhe dá. Nesse
reconhecimento, ele acolhe a sua herança como
uma providência e se recorda de que, sem a mão
forte e o braço estendido do Senhor, estaria ainda
no país da escravidão, labutando pelas cidades-
depósito de Pitom e Ramsés.

Assim, sabendo que deve a sua situação a uma


graça, a pessoa não busca se arrogar daquilo que
pertence à outra família, e cuja acumulação seria

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também a sua própria alienação. Ao contrário, tendo


recebido sem mérito, restitui sem retorno, liberta-se
do excedente, deixa aos catadores o restolho da sua
colheita e as bordas do seu campo: “Quando
fizerdes a colheita em vossa terra, não ceifarás até o
limite extremo do campo, nem ajuntarás as espigas
que restam para catar. Deixarás isto para o pobre e
o estrangeiro. Eu sou o Senhor vosso Deus” (Lv 23,
22; trad. Bíblia da CNBB).

A exceção diz respeito às cidades. As casas urbanas


– pelo menos aquelas que originalmente não
pertencem aos Levitas – escapam da lei do Jubileu.
O primeiro proprietário dispõe de um direito de
resgate, mas, se não tiver os meios, não recupera
automaticamente o seu bem. A cidade é o lugar
próprio do comércio, enquanto o campo é o da
agricultura.

Ora, trata-se de garantir, acima de tudo, não o


apartamento, nem o edifício, nem o World Trade
Center, que têm o seu valor secundário e relativo,
mas sim o oikos, a casa com o seu pedaço de terra
que permite assegurar a subsistência da família. Mas
quem, hoje, ainda conserva esse sentido econômico
do Jubileu? Os economistas não sabem que a
economia tem uma relação com tudo isso. E os
cristãos evaporam em um jubileu abstrato.

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