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Programa de Pós-graduação
Mestrado em Arquitetura e Urbanismo
Roberta Laredo
São Paulo
2013
Dissertação de Mestrado
Roberta Laredo
São Paulo
2013
CDD 711.4098161
Aprovada em 21/1/2014
BANCA EXAMINADORA
Agradecimentos
E
ste estudo foi realizado graças às oportunidades imensuráveis que surgiram ao
longo desses dois anos. Agradeço primeiramente à professora Nadia Somekh por
ter me acolhido no grupo de pesquisa, e pela clareza e assertividade com a qual
orientou meus estudos.
Ao Hamilton dos Santos, Cleide Rovai Castellan e Marcelo Bressanin pela generosi-
dade em abrir os arquivos e me contar as histórias.
À arquiteta Adriana Levisky por transmitir que São Paulo é uma cidade possível.
Aos arquitetos Marcos Cartum e Jaime Cupertino pelas conversas e rica indicação
bibliográfica.
Ao meu amigo Mauro Calliari, que não só me abriu algumas portas, como também
dividiu comigo os momentos de trabalho, carregados de entusiasmo e angústia. Tudo
vale pela experiência.
Ao Gustavo Laredo pela revisão e à Maria Thereza Scarazzato Laredo pelo apoio.
Ao Paulo Futagawa pela compreensão nos momentos mais conturbados, pelo com-
panheirismo nos momentos mais solitários e pelo amor em todos os momentos.
Richard Sennett
Resumo
E
sta pesquisa aborda a implantação da Praça Victor Civita, localizada no bairro de Pi-
nheiros, na cidade de São Paulo. Em uma área marcada pela degradação ambiental,
surge a possibilidade de reabilitação por meio da modalidade de financiamento e
gestão denominada “parceria público-privada”. Ao levantar conceitos que definem o que
é público e o que é privado, tentamos verificar se o espaço público, criado por meio da
parceria entre o poder público e o setor privado, é de fato público e feito para o público,
e o seu real significado. Utilizamos alguns exemplos de experiências internacionais para
traçar um paralelo com a situação observada na cidade de São Paulo com o objetivo de
reconhecer as diferenças que tornam as parcerias mais efetivas, considerando não só a
iniciativa privada, mas também a sociedade, como parceiras na construção do espaço
público. Este trabalho oferece um panorama de como foi o processo da parceria, concep-
ção, projeto e implantação da Praça Victor Civita.
Abstract
T
his research approaches the implementation of Praça Victor Civita (Victor Civita
Square), situated in Pinheiros district, in São Paulo. The area, once environmentally
degraded, was rehabilitated through a funding and management modality called
“public-private partnership”. By researching concepts that define what is public and what
is private, we try to determine if the public space created through the partnership betwe-
en the government and the private sector is actually public and made for the public, and
its meaning. We use examples of international experiences to compare the situation ob-
served in São Paulo, aiming at recognizing the differences that make partnerships more
effective, when we consider not only the private business, but also society as a partner in
shaping the public space. This work offers an overview of the partnership, including its
conception, processes, project and deployment of Praça Victor Civita.
Keywords: Public-private partnership; public space; square; Praça Victor Civita; Vic-
tor Civita Square; Cooperation Agreement; São Paulo.
Lista de ilustrações
Figura 1.1 - Pátio do Colégio em ilustração de 1824: A paróquia como centro do espaço
público.............................................................................................................................................................34
Figura 1.4 - Praça Coronel Custódio Fernandes Pinheiro (Praça Pôr do Sol) – 1968:
lazer cultural e a contemplação...............................................................................................................36
Figura 1.5 - Parque ecológico do Tietê – 1982: viés ambiental na concepção de novos
parques............................................................................................................................................................36
Figura 1.7 - Praça Victor Civita – 2008: espaço público caracterizado pelo uso múltiplo................37
Figura 2.1 – POP IBM Atrium, localizado em Nova Iorque: espaço público criado pela
iniciativa privada...........................................................................................................................................44
Figura 2.2: Superfícies e usos projetados no High Line permitem a interação dos usuários..........47
Figura 2.3: Superfícies e usos projetados no High Line permitem a interação dos usuários..........48
Figura 2.4 e 2.5: High Line: bancos projetados para leitura, descanso e contemplação..................48
Figura 2.6 – Mapa representa a distribuição espacial das áreas verdes sob responsabilidade
de subprefeitura de Pinheiros..................................................................................................................53
Figura 3.3 – Localização da Praça Victor Civita em relação a outros pontos da cidade
de São Paulo..................................................................................................................................................58
Figura 4.1: Uma das inspirações para o projeto foi o Terminal Internacional do Porto de
Yokohama.......................................................................................................................................................65
Figura 4.2: Maritime Youth House do Plot Architects, usado como inspiração para o projeto
da praça...........................................................................................................................................................65
Figura 4.3 – Praça Victor Civita: sistema de alagado construído para reter a água da chuva e
tratá-la, a fim de irrigar as árvores do bosque...................................................................................66
Figura 4.4 – Praça Victor Civita: espelho d´água com água de reuso proveniente do esgoto
sanitário tratado............................................................................................................................................ 67
Figuras 4.5 a 4.7 – Praça Victor Civita: estrutura elevada de madeira (deck) que protege os
frequentadores do contato com o solo................................................................................................68
Figura 4.8– Praça Victor Civita: área com painel explicativo sobre o biodiesel...................................69
Figura 4.9 – Praça Victor Civita: Prática de Ioga gratuita no sábado de manhã..................................71
Figura 4.10 – Entorno da Praça Victor Civita: terminal de ônibus urbano. Ao fundo, o prédio
da Editora Abril.............................................................................................................................................72
Figura 4.14 – Entorno da Praça Victor Civita: atividades esportivas no final de semana
atraem usuários pela manhã....................................................................................................................73
Figura 4.15 – Entorno da Praça Victor Civita: horário do almoço durante a semana garante a
frequencia de trabalhadores da região.................................................................................................74
Figura 4.16 – Entorno da Praça Victor Civita: calçamento novo com rampas de acesso..................74
Figuras 4.17 a 4.20 – Bancos instalados na Praça Victor Civita: não favorecem a
contemplação e a leitura............................................................................................................................75
Figuras 4.21 a 4.24 – Perfis metálicos e tábuas de madeira: os elementos mais usados na
obra da Praça em processo de deterioração .....................................................................................76
Figura 5.1 – Entrada da Praça durante evento com a presença de seguranças particulares...........84
Figuras 5.2 a 5.4 – Evento realizado anualmente na Praça Victor Civita com recursos
captados por leis de incentivo.................................................................................................................85
Sumário
Introdução..................................................................................................................................... 11
6. Algumas conclusões..............................................................................................................87
Referências bibliográficas......................................................................................................... 91
Anexos
Anexo A: Tipos de espaços livres.............................................................................................. 98
Anexo B: Minuta do termo de cooperação.......................................................................... 102
Anexo C: Ficha técnica................................................................................................................ 106
Anexo D: Termo de referência.................................................................................................. 108
Anexo E: Portaria 139//SPPI//GAB//2008............................................................................... 119
Anexo F: Termo de Cooperação.............................................................................................. 126
Anexo G: Estatuto AAPVC.......................................................................................................... 144
Anexo H: Entrevista...................................................................................................................... 163
Introdução
O
s espaços públicos sempre foram uma questão que nos vem sendo apresen-
tada sobre o modo como usamos a cidade. Após a formação em engenharia
civil, o trabalho com limpeza urbana trouxe um primeiro contato com o lado
executivo da cidade. Embora não se tratasse do projeto em si, mas sim da manutenção e
limpeza, essas áreas sempre suscitaram o desejo de entender como a população se rela-
ciona com o espaço público e como o projeto, a manutenção e a localização interferem
na sua apropriação pela população.
Mas qual é o papel do poder público na criação desses espaços? Quanto as pre-
feituras se preocupam em executar bons projetos? Qual a importância que os espaços
públicos têm no orçamento municipal? Dentro de um contexto em que os orçamentos
públicos têm sido cada vez mais limitados pelos entraves constitucionais, surge a pos-
sibilidade da parceria entre o poder público e o setor privado construírem espaços que
possam dar à cidade áreas com qualidade para o uso da população.
Este trabalho aborda a criação e a gestão da Praça Victor Civita, localizada no bair-
ro de Pinheiros em São Paulo, tendo como principal discussão a modalidade de gestão/
financiamento denominada parceria público-privada (PPP), analisando, desse modo, um
modelo de gestão pouco empregado em praças do município. Pretende, ainda, levantar
a questão da construção do espaço público com recursos do setor privado, considerando
essa tendência administrativa não isenta de consequências ao tecido urbano, tais como
valorização da área e a regulamentação de uso.
A Praça Victor Civita foi escolhida como objeto deste estudo por ter sido implanta-
da por meio da parceria entre a Prefeitura do Município de São Paulo (PMSP) e a Editora
Abril. Além disso, a escolha por estudar uma praça em meio a outros equipamentos
públicos que utilizaram o instrumento da PPP para sua implantação e/ou gestão, como
Percebemos, assim, que a praça, dentro de uma gama de elementos urbanos que
chamamos de espaço público, encontra-se como ambiente de troca, conforto e vitalida-
de na cidade, principalmente nas megalópoles do sudeste2 onde podem ser vistas como
refúgios que compõem a paisagem seca da maior parte dos bairros.
1 Guia dos parques municipais de São Paulo. 3ª Edição atualizada e revisada. Disponível em: <http://
www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/meio_ambiente/arquivos/publicacoes/guia_dos_
parques_3.pdf>. Acesso em 26 mai. 2013.
2 QUEIROGA, Eugenio Fernandes. A megalópole e a praça: o espaço entre a razão de dominação e a
ação comunicativa. Tese de doutorado. São Paulo: s.n., 2001, p. 332.
Cabe aqui questionar se essa aliança entre o poder público e a iniciativa privada na
gestão de espaços públicos é uma alternativa que gera benefícios à população ou tem a
finalidade de capitalizar espaços públicos, engessando seus projetos e restringindo seu
uso. Nossa pesquisa busca avançar nesta questão.
Por outro lado, a questão da parceria público-privada poderia ser entendida como
uma “privatização” do espaço público? Nesse sentido, o que seria publicizado como uma
gestão eficiente para revitalização e manutenção do espaço público, na verdade é apenas
um instrumento de marketing utilizado em benefício das empresas para melhorar sua
imagem perante a sociedade (LE GOIX; LOUDIER-MALGOUYERES, 2005).
das políticas atuais chega a atingir as políticas públicas de formação do tecido urbano,
como é o caso de parcerias público-privadas utilizadas na criação do espaço público.
A revisão bibliográfica foi realizada com base em estudos que permitiram identificar
características similares ao modelo de gestão estudado. Partindo de teses e referências
bibliográficas relacionadas ao estudo, foram pesquisados três grandes temas: parceria
público-privada, espaço público e praças, e ainda consultada literatura relacionada à pro-
dução do espaço público, à gestão de áreas verdes, à vida urbana em espaços públicos,
à legislação e às formas de financiamento de projetos baseados nessa forma de gestão.
Como já mencionado, o objeto deste estudo foi a Praça Victor Civita no Município
de São Paulo. A praça está localizada na Rua Sumidouro, nº 580, no Bairro de Pinheiros
e foi construída a partir da parceria público-privada entre a Editora Abril e a Prefeitura
do Município de São Paulo, e suas características estarão descritas em capítulo especí-
fico deste trabalho.
Além da Praça Victor Civita, este estudo pretende dedicar um capítulo à experiência
internacional, relatando algumas parcerias público-privadas realizadas para revitalização,
implantação ou manutenção de praças, com destaque para a cidade de Nova Iorque, que
utiliza essa modalidade de contratação em alguns de seus projetos urbanos.
Como este trabalho tem como eixo a parceria público-privada na criação e gestão
do espaço público, o segundo capítulo tratará do tema observando como esse tipo de
PPP é trabalhado primeiro trazendo as experiências internacionais que aqui tiveram foco
na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, escolhida por tratar a criação e gestão
do espaço público de maneira distinta, porém com grande importância para a qualidade
de vida urbana. Em seguida, no mesmo capítulo apresentaremos um painel com algu-
mas outras iniciativas de PPP em espaços públicos de São Paulo, pois observamos que a
parceria com o poder público tem se materializado não só por meio de grandes projetos
como a Praça Victor Civita, mas também de pequenas ações que partem da sociedade,
representada pela comunidade local em busca de um espaço público aproveitável.
Tendo, desse modo, definido conceitos e exposto outras experiências, o terceiro ca-
pítulo focaliza o objeto de estudo e compartilha os levantamentos, análises e depoimen-
tos que traduzem o processo de criação, projeto e implementação da Praça Victor Civita,
relacionando a pré-existência da área com seu uso atual, relatando como foi o papel dos
diversos atores que compuseram e compõem a história desse espaço.
Por último, as considerações finais fazem um balanço do estudo, partindo dos obje-
tivos e chegando às respostas do que foi proposto. Concluímos, assim, a partir de nossa
linha de argumentação, que a parceria público-privada, na produção do espaço urbano,
é uma realidade presente na cidade contemporânea, onde, tanto o setor privado, quanto
a sociedade civil, representada pelos seus moradores - organizados ou não em asso-
ciações de movimento de bairro - participam cada vez mais da construção do espaço
público por meio de ações de cooperação.
O
espaço público figura como base importante da expressão popular; elemento
urbanístico que, ora é exaltado pelo poder público na medida em que a criação
de alguns deles passa a ser meta de determinadas administrações, ora é apro-
priado pela iniciativa privada, que alavanca empreendimentos imobiliários publicizando a
criação de áreas que, nem sempre, são de fato abertas ao público.
Nesse contexto, este capítulo pretende conceituar o que entendemos por espaço
público e, a partir de sua definição, relacioná-lo com o objeto deste estudo.
Dentro do quadro referencial teórico proposto, muitos autores têm retornado aos
conceitos fundamentais que caracterizam a esfera pública, privada e social cunhados
por Arendt e Habermas. Essas revisões bibliográficas buscam na filosofia e nas ciências
políticas esclarecer determinadas questões que constroem o que entendemos hoje por
espaço público.
Neste trabalho, não poderia ser diferente, pois a discussão sobre o que é esse es-
paço nos fornece a base teórica necessária para avaliar em qual contexto a Praça Victor
Civita está inserida e, outrossim, para classificá-la como um equipamento urbano que
serve ao público.
Como observou Arendt (2007), após a Segunda Guerra Mundial, a esfera pública
entra em decadência, sendo substituída pelo que Habermas (1984, apud CUSTÓDIO et
al., 2011) chama de esfera social, caracterizada basicamente pelas novas relações de mer-
cado (CUSTÓDIO et al., 2011, p. 5). Sendo assim, é pertinente utilizar a proposição feita
por Ascher (2010, p. 18) ao colocar que o novo urbanismo, ou neourbanismo, é pautado
nas mutações das sociedades que implicam em “necessárias transformações na concep-
ção, produção e gestão das cidades e do território”.
Assim como o urbanismo moderno atribuía ao público tudo aquilo que era exter-
no, ou seja, o espaço externo, as grandes infraestruturas e os espaços de uso coletivo,
o neourbanismo deve compreender que a individualização é o sentido no qual nossa
sociedade tem se desenvolvido e, portanto, a noção de público deve também considerar
essa característica para seu entendimento.
como tudo aquilo que é divulgado, visto e ouvido por todos (ARENDT, 2007).. Vejamos
nas citações abaixo os seguintes apontamentos:
[...] tem como público tudo aquilo que é aberto, acessível, ou seja, que
não há restrições quanto à entrada e/ou circulação. [...]. Tem como
privado tudo aquilo que pode ser considerado próprio da intimidade
ou que é restrito ao mundo familiar. Temos então o espaço público
como o oposto à privacidade, associando dicotomias como: casa x
rua, conhecimento x estranho, fechado x aberto, segurança x perigo.
(LAVALLE, 2005 apud CÂNDIDO, 2008, p.19).
O termo “público” para Arendt (1999) nos remete a dois fenômenos
que se relacionam, mas não são idênticos. O primeiro refere-se à apa-
rência, ou seja, a tudo o que pode ser visto e ouvido por todos, sendo
esta a característica que dá realidade ao mundo em que vivemos e à
nossa própria existência. O segundo significa o mundo que é comum
a todos nós, o mundo do artefato humano, ou seja, que é produzido e
negociado pelas mãos humanas (ARENDT, 1999 apud CÂNDIDO, 2008,
p. 21).
Freire (2006, p. 78) sintetiza com precisão as diferenças entre o público e o privado:
É essa soberania Estatal que está relacionada à produção do espaço público con-
temporâneo, à medida que este é construído sobre as permissões e regras do Estado.
Para Laband (apud DALLARI, 2013, p. 93), a soberania do Estado é traduzida como seu
poder sobre o território, atuando como seu proprietário, podendo usá-lo e disponibilizá
-lo com poder absoluto e exclusivo (DALLARI, 2013), esclarecendo que aqui não estamos
tratando de propriedades privadas.
A Praça Victor Civita, mesmo tendo sido concebida, implantada e gerida através da
parceria com a iniciativa privada, faz parte do território pertencente ao Estado. Também é
importante ressaltar que o que é Estatal é, em princípio, público; todavia, o que é público
pode não ser Estatal, se não faz parte do aparato do Estado (BRESSER-PEREIRA; GRAU,
1999, p. 17). Revendo os conceitos sobre o que é público podemos extrapolar essa teoria
para a construção do entendimento do que seria o espaço público.
É sobre essa nova sociedade, interconectada através de redes, que Ascher (2010,
p. 45) comenta, trazendo a solidariedade como elemento essencial para a discussão da
construção da cidade contemporânea:
E essa sociedade dinâmica, ligada por redes, não se fecha para a cidade, pelo con-
trário, através da comunicação mais rápida, é capaz de se mobilizar e avaliar melhor o es-
paço que a ela é oferecido. Vejamos o que Ascher (2010, p. 67) tem a nos dizer sobre isso:
A terceira revolução urbana não gera, portanto, uma cidade virtual, imó-
vel e introvertida, mas sim uma cidade que se move e se telecomunica,
constituída de novas decisões de deslocamento das pessoas, bens e in-
formações, animada pelos eventos que exigem a copresença, e na qual
a qualidade dos lugares mobilizará todos os sentidos, inclusive o toque,
o gosto, o cheiro.
Voltando ao neourbanismo de Ascher (2010, p. 84), que está aqui entendido como
uma forma cunhada pelo autor para denominar a sociedade na cidade contemporânea,
temos que esta:
Portanto, além da coletividade ligada por meio de redes, a velocidade das trans-
formações e os signos citados anteriormente refletem a fragmentação e a ideia de co-
lagem que a pós-modernidade trouxe com o rompimento do moderno que “privilegia
Para Borja (1998), uma forma de entender as transformações sofridas pela cidade
é justamente analisando o espaço público, uma vez que sua importância na questão
das novas dinâmicas urbanas torna sua concepção um desafio a ser vencido. Essa “nova
realidade urbana” é traduzida pelo autor por meio do binômio mobilidade-centralidade
como nos mostra a seguir:
Mas ainda devemos considerar o caráter sócio-cultural que também define o es-
paço público como vimos anteriormente; e é importante notar que o espaço público
pode, nem sempre, ter a demarcação judicial, já que algumas vezes espaços privados
abandonados podem ser apropriados pela comunidade, tranformando-os em locais para
recreação, como, por exemplo, os campos de futebol de várzea localizados em cidades
menores ou em bairros da periferia das metrópoles. Ou seja: “o que define a natureza do
espaço público é o uso e não o estatuto jurídico” (BORJA, 1998).
Com base nessas referências, podemos concluir até aqui que o espaço público se
define como o espaço onde a sociedade se manifesta publicamente, onde se dá a troca
das relações interpessoais e onde podemos exercer e notar as transformações sociais de
cada tempo.
Com a ascensão da classe média urbana, no século XX, e, a partir disso, a crescente
necessidade de aquisição de bens de consumo, as pessoas passam a ter de encontrar um
espaço onde seria possível exibir o status conquistado. O espaço público passa ser, então,
o espaço de quem consome: o consumo da cultura, da ação e do estilo. Nas palavras de
Custódio et al. (2011):
Cabe aqui questionar até que ponto a vida contemporânea tem atraído ou esva-
ziado o espaço público urbano. O Arquiteto Michael Brill (1989, apud ABRAHÃO, 2008,
p. 146), discorrendo sobre a vida pública na sociedade americana, a definiu como o lócus
das principais trocas sociais, apontando que seu esvaziamento havia ocorrido pela perda
dos limites entre o público e o privado e pelas leis de zoneamento nas cidades norte-a-
mericanas, que desagregavam a vida comunitária e, consequentemente, limitavam as
trocas sociais da vida pública.
O espaço abstrato é materializado pelas relações sociais; são elas que dão vida, mo-
vimento e sentimento, tornando-o conteúdo e natureza, forma e lugar. Assim, podemos
entender que é nesse lugar que se reproduz a vida cotidiana como nos mostra Carlos
(2001, p. 35):
4 VIRILIO, P. (2005:24) escreve: “A transparência torna-se evidente, uma evidência que reorganiza a apa-
rência e a medida do mundo sensível e, portanto, muito em breve, sua figura, sua forma-imagem”
(apud CUSTÓDIO et al., 2011, p. 6).
podem ser mais do que pontos de troca de mercadoria, pois criam pos-
sibilidades de encontro e guardam uma significação como elementos de
sociabilidade.
Para Santos (2012, p. 322), é no lugar que os códigos racionais traduzidos por “ações
condicionadas” se manifestam e vão além da sociabilização da vida cotidiana, passando
para um campo onde emoções e criatividade se evidenciam construindo a personalidade
de cada sociedade:
Além disso, não podemos deixar de destacar a relação que este espaço tem com a
cultura e a natureza, o que Castells chamou de “debate sobre a teoria do espaço” (1977,
apud SOJA, 1993, p. 106). Essa construção do lócus como espaço para as interações
sociais também leva em consideração fatores determinantes como, esses apresenta-
dos por Castells; desse modo podemos compreender o espaço como a conjunção
de elementos que se somam para formar uma estrutura sócio espacial necessária à
comunidade.
Vejamos o que diz Santos (1996, apud QUEIROGA, 2001, p. 43) a respeito da relação
espaço-paisagem e espaço-conteúdo:
Sem querer esgotar os diversos conceitos de espaço e, muito menos, sem a preten-
são de analisá-lo quanto à sua produção, este trabalho aborda o espaço como lócus da
complexidade das relações humanas que nos incita a pesquisar o que é um bom espaço
público para que essas relações se deem de modo a manter a fruição das cidades. Para
Lefebvre (1975, p. 223 apud CARLOS, 2001, p.42):
estava sendo construído na maioria das grandes cidades americanas, o urbanismo busca
um retorno aos valores da vida pública exercida em seus espaços livres.
O arquiteto Michael Brill (1989 apud ALEX, 2008, p. 20) foi um dos que chamou a
atenção para o fato dessa tentativa de resgatar algo que nunca existiu, visto que a socie-
dade americana nunca exerceu a vida pública como a praticada nos moldes europeus e,
portanto, seria incapaz de vivenciá-la da forma como estavam idealizando os urbanistas
daquela época. Alex (2008, p. 20) comenta o pensamento de Brill:
Para Brill, essa nostalgia tornou-se uma ideologia de projeto, para a qual
o espaço público “tradicional” traria automaticamente de volta aquela
“antiga vida pública perdida”, que provavelmente nunca existiu dessa
forma nos Estados Unidos. O autor afirma que, no contexto america-
no, pautado pela segmentação, pluralismo e estratificação da sociedade,
não há lugar para uma vida pública diversificada, democrática e sem
distinção de classes.
De fato, como ressalta Brill, as sociedades vivenciam o espaço público conforme sua
cultura e seus costumes; no entanto, é senso comum que este espaço é o lócus da cidade
acessível a todos, capaz de exibir as transformações da sociedade, que, individual ou co-
letivamente, exerce as trocas interpessoais e se manifesta publicamente. Esse espaço, por
seu caráter público, contém as relações humanas e para elas deve ser construído.
O espaço público é, então, definido como palco dos acontecimentos das manifesta-
ções urbanas, coletivas ou individuais, local que pode ser de passagem ou permanência,
de encontro ou de contemplação, sempre estruturante e vinculador da vida urbana.
O espaço público em seus tipos, características e diferenças que podem ser encon-
trados na cidade contemporânea é o que veremos a seguir.
encerram o espaço público, tal qual nós o conhecemos, a fim de caracterizarmos nosso
objeto de estudo dentro desse espectro.
Como já mencionado no item anterior, o Espaço Livre (EL) apresenta várias tipolo-
gias que contemplam ruas, calçadas, avenidas, calçadões, jardins, matas, parques, pátios,
praças, quintais, rios, vazios urbanos e outros (CUSTÓDIO et al., 2011, p. 3). Os ELs ur-
banos podem ser de natureza, pública ou privada, e, neste trabalho, trataremos dos ELs
públicos considerando aqueles que são acessíveis a todos. Alex (2008, p. 19) considera
que a palavra “público” deve ser empregada para determinar locais “abertos e acessíveis,
sem exceção, a todas as pessoas”.
Esses espaços representam diversos papéis na sociedade, sendo usados para a ex-
pressão humana, para atividades de lazer, contemplação, circulação, preservação am-
biental e drenagem, além de poderem ser vistos como patrimônio que constituem a
identidade social de uma comunidade (MACEDO, CUSTÓDIO et al. 2009, p.5 apud CUS-
TÓDIO et al., 2011, p. 3).
Dentre os ELs públicos urbanos, as praças e parques são os tipos mais comuns
no Brasil (MACEDO, 1999, CUSTÓDIO et al., 2011, p. 10). Entretanto, os parques exercem
maior atração à população, principalmente aos finais de semana, mesmo havendo praças
com boa manutenção nos bairros residenciais (CUSTÓDIO et al., 2011, p. 11).
Além de classificarmos os espaços livres por meio de seus tipos, podemos, ainda,
agrupá-los através de seus subtipos e caracterização (CUSTÓDIO et al., 2011). Dentro des-
sa classificação, são levantadas diversas categorias de espaços livres, como por exemplo,
Para este estudo, considerando a classificação proposta por Custódio et al. (2011),
podemos definir que, dentre os ELs elencados, o Espaço Livre de práticas sociais melhor
representa nosso objeto, uma vez que, seu subtipo – praça, contém elementos que a ca-
racterizam como um espaço para desenvolvimento de atividades contemplativas, recre-
ativas, mistas (lazer, cultura, esporte), de conservação e até memorial, já que uma parte
do patrimônio histórico da cidade foi conservado. O anexo A – Tipos de Espaços Livres
apresenta essas classificações em sua completude.
Outros autores também classificaram esses espaços; Lima (Org, 1994 apud LOBO-
DA; DE ANGELIS, 2005) conceitua essas áreas com termos como espaço livre, que é um
conceito mais abrangente, pois integra outros espaços e se diferencia daqueles ocupados
por construções dentro da área urbana. Áreas verdes é um termo que também figura
nas proposições de Lima5 e caracteriza espaços com predomínio de vegetação como nas
praças, parques, jardins públicos, canteiros centrais, rotatórias etc. Em contrapartida, o
parque urbano tem uma função ecológica preponderante, além de integrar atividades de
lazer e estética e é diferenciado das outras áreas pela sua dimensão.
Podemos dar destaque ao que Lima6 define como praça, pois sua definição a ca-
racteriza como área cuja principal função é o lazer e, mesmo não sendo permeável pela
presença de área verde, pode ter a função de contemplação e convivência.
A denominação que Llardent (1982, p. 151 apud LOBODA; DE ANGELIS, 2005) usa
para essas áreas está resumida em três dimensões, onde a primeira é um sistema de
espaços livres que engloba o espaço livre caracterizado por áreas verdes livres de edifi-
cações e que, por sua vez, integra as “zonas verdes”, cujas áreas com predominância de
vegetação correspondem ao que se denomina como parques, praças e jardins.
5 (LIMA, org., 1994 apud LOBODA, Carlos Roberto; DE ANGELIS, Bruno Luiz Domingos. Áreas verdes pú-
blicas urbanas: conceitos, usos e funções. Ambiência, Guarapuava, PR v.1 n.1 p. 125-139 jan./jun. 2005.
Disponível em: <http://www.unicentro.br/EDITORA/REVISTAS/AMBIENCIA/v1n1/artigo%20125-139_.
pdf>. Acesso em: 07 mai. 2012
6 Ibid.
Alex (2008) define a praça “não apenas como um espaço físico aberto, mas também
como um centro social integrado ao tecido urbano” e ainda cita Kevin Lynch (1981, apud
ALEX, 2008, p. 23) para evidenciar sua argumentação:
7 Sobre os jardins públicos brasileiros, sobretudo do século XIX, cf. SEGAWA, Hugo. Ao amor do público:
jardins do Brasil. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP, 1996, apud QUEIROGA, 2001, p. 60.
8 Classificada pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente como Parque Buenos Aires desde
1988. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/meio_ambiente/parques/
regiao_centrooeste/index.php?p=5732>. Acesso em 29 set. 2013.
No Brasil, que apesar de ter sofrido influência europeia na constituição de suas pra-
ças, habituou-se a chamar de praça áreas verdes públicas arborizadas ou simplesmente
gramadas como, por exemplo, as rotatórias e canteiros centrais de avenidas nem sempre
acessíveis ao público devido ao tráfego e à falta de estrutura de lazer. Robba e Macedo
(2010, p.17) definem praças como: “espaços livres de edificação, públicos e urbanos, des-
tinados ao lazer e ao convívio da população, acessíveis aos cidadãos e livres de veículos”.
No entanto, ainda pode ser motivo de dúvida a distinção entre parque e praça.
Usualmente, no município de São Paulo, a implantação, manutenção e gestão dos
parques está sob responsabilidade da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente
e as praças sob responsabilidade das subprefeituras, possuindo elementos que os dis-
tinguem entre si.
Segundo Buzzo et al. (2012), as principais diferenças entre os parques e praças são
que os parques possuem cerca e horários de funcionamento, estruturas de apoio, como
banheiros e bebedouros, possui segurança terceirizada, sendo administrados por um con-
selho gestor, enquanto as praças, tendem a não ter gradeamento e ter acesso irrestrito.
Isso posto, podemos caracterizar a Praça Victor Civita, objeto de nosso estudo,
como um Espaço Livre público, de práticas sociais de uso misto: uma praça; entretan-
to, algumas de suas características a enquadram como um parque, como por exemplo,
ter horário de funcionamento determinado. Porém, a fundamental característica – estar
sob a responsabilidade da Subprefeitura de Pinheiros – a define como praça e assim a
classificaremos.
É evidente que, como veremos mais à frente, nem todos os elementos apontados
por Lynch (1981, apud ALEX, 2008) são encontrados na Praça Victor Civita, pois esta foi
criada em local onde antes funcionava outro equipamento urbano; no entanto o partido
adotado em seu projeto sugere o lazer e a convivência como principais âncoras do espa-
ço, caracterizando-a, portanto, como uma praça.
Podemos concluir que, como espaço livre público, a praça possui características con-
cretas – forma e espaço – e subjetivas – interações sociais e exercício da vida pública – ob-
tendo grande importância para a cidade e para as pessoas, e absorvendo as transforma-
ções sociais, econômicas e políticas ao longo da história. Portanto, a forma dos espaços
Como vimos, dentro do espectro das tipologias apresentadas, a praça tem caracte-
rísticas específicas e formais que a definem como espaço público, voltado para a convi-
vência, exercida por meio das práticas sociais e de lazer, além de ser um espaço dotado
de certos elementos construtivos, como acesso, mobiliário, vegetação, água, sombra,
limpeza, segurança e recreação, que podem ser encontrados em bons projetos e repre-
sentam a forma contemporânea da praça.
Dentro das tipologias estudadas, a Praça Victor Civita, apesar de não possuir todos
os elementos formais que caracterizam uma praça, encerra grande parte dos princípios
fundamentais que explicam uma praça em seu programa, concentrando atividades de
lazer, educativa e cultural. Podemos assim perceber que, em sua criação, o espaço deve
prever que as trocas e atividades pessoais devem acontecer livremente, mesmo havendo
regras que organizem a sociedade e o coletivo.
Podemos, então, definir o espaço público como aquele aberto e acessível a todos,
onde são exercidas as manifestações individuais ou coletivas capazes de transmitir e
Na cidade atual, a sociedade está conectada por redes que têm a solidariedade
como elemento indispensável para a discussão da construção do espaço público con-
temporâneo, visto como um espaço efêmero que se transforma à medida que a socieda-
de quer ou necessita.
2. A parceria público-privada na
construção do espaço público
C
ódigos e regulações de uso e ocupação do solo – mais precisamente leis que
autorizam os empreendimentos imobiliários a terem uma taxa de ocupação do
terreno maior que a permitida em uma determinada região, desde que estes des-
tinem parte de sua área a espaços livres com acesso ao público – oficializaram as PPPs
para a construção do espaço público. Mas a parceria público-privada não ficou só nessa
concessão de uso de área; hoje, muitas cidades do mundo têm transferido a construção
e manutenção de praças e outras áreas verdes municipais aos cuidados de empresas que,
em troca de publicidade, cuidam dessas áreas.
Essa condição, em que o poder público partilha com a iniciativa privada – e muitas
vezes com a população, os cuidados na manutenção da cidade, não é novidade. Nos
Estados Unidos, desde a década de 1960, são feitas parcerias, que nem sempre são bem
vistas pela sociedade, mas que refletem a forma da cidade contemporânea que podemos
entender como esforços conjuntos para construção coletiva do espaço. Vejamos o que
Ascher (2010, p. 56) nos diz a respeito:
assegurá-los e, por isso, são pequenos lugares que fazem nos sentir seguros, aquecidos e
reservados. Esses espaços teriam certas características fundamentais para despertar uma
sensação de acolhimento e induzir o uso e relaxamento, porém sem a necessidade de
uma proposta particular (FUJIMOTO, 1988, p. 15), como, por exemplo, a presença de água
e áreas verdes. Especialmente quanto às áreas verdes dos pockets parks, TAKAGI (1988, p.
74) acredita que “a seleção e produção de áreas verdes é um elemento crucial na criação
de um pocket park que o tornará popular e amado”.
9 William Whyte é considerado um mentor dos projetos para espaços públicos, pois realizou estudos que
analisavam o comportamento humano nesses espaços.
Nunca foi público porque, desde o início, as decisões como ele se-
ria conduzido ao longo do tempo estavam fora das mãos do público.
O acesso é uma questão de colaboração contínua no que diz respei-
to aos processos de mudança e manutenção. Em outras palavras, o
acesso físico é obviamente crucial para que os espaços sejam públi-
cos. Mas igualmente importante é o acesso e a atuação dentro dos
processos que governam os espaços públicos. (Miller, 2007, p. 76,
tradução nossa).
Isso significa dizer que a criação de espaços públicos, que deve ser responsabilidade da
municipalidade, passa a ser viabilizada pela inciativa privada, sem entrar nos gastos de orça-
mento do poder público e, nesse momento, tendem a perder seu caráter público essencial.
Como podemos notar, em Nova Iorque, os espaços públicos construídos por meio da
parceria público-privada têm, em sua grande maioria, um viés comercial, ou seja, estão liga-
dos ao poder de compra de seus usuários, ou ainda, mais precisamente, voltados para o pú-
blico que, em algum momento, será capaz de consumir, ou um produto a venda no próprio
espaço ou, ainda, um produto ligado à marca que fomentou a construção daquele espaço.
Isso não é diferente na Europa onde exemplos como Potsdamer Platz, em Berlim, ou o
Bercy Village, em Paris, são espaços totalmente voltados ao público consumidor, deixando os
usos como o encontro, a troca e o descanso apenas no plano simbólico, com a diferença de
que esses espaços representam uma pequena parcela dos espaços públicos revitalizados; os
demais continuam sendo conduzidos pelo poder público (FLEURY, 2010).
Em Berlim, nos espaços públicos de escala local, não vinculados a centros comerciais, a
parceria público-privada para a manutenção ou renovação de áreas verdes é feita por meio
de mecanismo semelhante ao do termo de cooperação usado pela Prefeitura do Município
de São Paulo; esses espaços são conservados por empresas privadas em troca de publicida-
de. Sem o aporte financeiro feito pela inciativa privada, os Berzike11 não poderiam realizar as
mudanças demandadas pela população (FLEURY, 2010).
Segundo Fleury (2010), em Paris, a política de espaços públicos tem contado com a par-
ticipação popular dentro de conselhos que debatem sobre os projetos de desenvolvimento
dos bairros, cujas propostas são ações concretas em nível local, podendo até ser possível, a
partir disso, a reconstrução do espaço, participando, inclusive, da concepção do projeto. Os
conselhos possuem orçamentos específicos chamados de “fonds de participation des habi-
tants”12; tal orçamento destina-se a pequenas melhorias e à organização de eventos.
É com essa diversidade que diferentes metrópoles têm lidado com a questão da PPP
para a construção e manutenção de espaços públicos; todavia, não podemos deixar de res-
saltar que, mesmo com a interferência da iniciativa privada, a população tem tido importante
papel na requalificação, construção e apropriação dos espaços públicos. Um exemplo disso é
o caso emblemático da High Line, em Nova Iorque.
Na área onde atualmente é um dos pontos turísticos mais visitados da cidade, até 1980
funcionava uma linha férrea elevada, de aproximadamente 2,4 quilômetros de extensão, que
transportava mercadorias em larga escala desde Spring Street até o Terminal St. John’s, na rua 34.
Nessa época, dois moradores da região, Joshua David e Robert Hammond que se co-
nheceram na reunião do conselho local, onde foi apresentado o estudo feito para a High
Line, descobriram o interesse comum em tentar preservar a estrutura, por razões históricas e
arquitetônicas. Nas conversas posteriores, amadureceu-se a ideia de criar uma organização
específica para esse empreendimento e, em 1999, decidem criar a Organização Não Gover-
namental (ONG) Friends of the High Line, e começam a angariar suporte para o projeto de
criação de um parque na linha férrea abandonada.
Para convencer a opinião pública de que a criação do parque era uma boa ideia, seus
idealizadores instituíram campanhas promocionais em defesa do “patrimônio histórico” da
cidade. Além do argumento emocional, havia também uma aposta na valorização possível
da área. Os cálculos feitos mostravam um retorno de US$ 262 milhões, em aumento de im-
postos, a partir de um investimento de US$ 100 milhões14.
A área foi oficialmente doada pela empresa proprietária da linha para a cidade de
Nova Iorque e se encontra sob a jurisdição do Departamento de Trânsito; desde a sua
inauguração em 2009, o High Line, tem sua gestão e manutenção privada, através de
uma PPP com a Friends of the High Line que administra o parque e é responsável pela
contratação da equipe de jardinagem, limpeza e segurança, pelo que recebe uma parte
das despesas (10%). A diferença, 90%, é captada através de doações.
Temos, então, um caso onde a PPP teve um reflexo positivo na construção do es-
paço público, partindo não só de iniciativa popular como se mantendo ativa diante das
pressões de grupos contrários, graças aos financiamentos privados.
A Lei nº 10.676 de 1988, que aprovou o Plano Diretor, institui o Sistema de Plane-
jamento do Município de São Paulo e tem em seus objetivos estratégicos “ampliar e
agilizar as formas de participação da iniciativa privada em empreendimentos de interesse
público” e “ampliar a transferência da ação do Governo”, além de “estimular a participa-
ção de terceiros quanto à ampliação e manutenção de áreas verdes e outros espaços”.
Na Lei nº 13.430, de 2002, que dispõe sobre o Plano Diretor Estratégico revogando
a Lei nº 10.676 de 1988, está prevista a participação da iniciativa privada e de moradores
em ações relacionadas ao desenvolvimento urbano e a criação de instrumentos legais
que estimulem essas parcerias, com destaque para a manutenção de áreas verdes e es-
paços ajardinados.
Em 30 de dezembro de 2004, foi sancionada a Lei Federal nº 11.079 que institui nor-
mas gerais para a licitação e contratação da parceria público-privada.
Não pretendemos com este trabalho analisar os termos da legislação que regem as
PPP, no entanto, os marcos legais criados e regulamentados são importantes para con-
textualizar o período em que as parcerias que resultaram na implantação da Praça Victor
Civita foram firmadas.
Embora o uso da PPP esteja começando a ganhar força no Brasil, ainda existe o que
Robba e Macedo (2010, p. 48) chamam de barreira psicológica entre o espaço público e
o privado, no sentido de não haver a abertura e a comunicação entre esses dois espaços,
a exemplo do que se praticam nos pockets parks americanos.
Existe pressão da sociedade para a criação de novos espaços públicos para recre-
ação e por isso a Prefeitura do Município de São Paulo tem dado maior importância
a essa demanda que se traduz no aumento da qualidade ambiental da cidade (GA-
LENDER, 2010). Essa preocupação com a melhoria dos espaços públicos tem usado o
instrumento da PPP como forma de garantir a participação da sociedade nas melhorias
dos espaços.
Como forma de melhorar a gestão dos espaços públicos, a prefeitura, em 2006, cria
a Lei nº 14.223, que dispõe sobre a ordenação dos elementos que compõem a paisagem
urbana do Município de São Paulo e passa a contar com esse instrumento de parceria
com a sociedade, conforme disposto no artigo 50 desta Lei:
17 Aqui entendidos, como os de prática social e reduzidos aos parques, praças, jardins e canteiros (áreas
ajardinadas).
18 Entrevista concedida em 05 jun. 2013.
A Figura 2.6 apresenta mapa com a localização das áreas verdes sob responsa-
bilidade da subprefeitura de Pinheiros.
Quanto à segurança que esses espaços públicos oferecem para os usuários, o atual
subprefeito de Pinheiros, Angelo Filardo afirma que:
20 O CADES é um órgão de natureza participativa e consultiva que tem o papel de propor e colaborar com
a formulação de políticas públicas relacionadas à proteção ambiental, à implantação de programas que
fomentem a cultura de paz e à implementação da Agenda 21 Local, sempre promovendo e incentivan-
do a participação social. O objetivo desse conselho é engajar a população, através de seus represen-
tantes, na discussão e formulação de propostas socioambientais junto às subprefeituras. Constituído
de forma bipartite, seus componentes são 50% eleitos pela sociedade civil e 50% por representantes
do poder público. O mandato dos conselheiros é de dois anos, cabendo duas reconduções, por igual
período. O trabalho dos conselheiros não pode ser remunerado e é considerado serviço público rele-
vante. Disponível em: <http://cadespinheiros.wordpress.com/about/>. Acesso em 09 nov. 2013.
Esse trabalho teve foco nas praças da região da Subprefeitura de Pinheiros; aponta
para a falta de manutenção crescente e sugere que os termos de cooperação sejam flexi-
bilizados para atrair mais cooperados. Segundo o estudo, a burocracia, a demora em ser
concretizado e as penalidades e multas previstas no caso de desistência ou problemas
com a área, faz com que a população tenha receio em firmar termos com a prefeitura.
É possível notar, portanto, que a PPP para a construção do espaço público está li-
gada a um ganho da iniciativa privada, seja em aumentar o potencial construtivo de uma
área, seja de modo indireto, promovendo a imagem institucional da empresa. Nesse sen-
tido, uma nova forma de negociar compromissos que garantam benefícios, tanto ao se-
tor privado quanto para o poder público tem sido delineada na cidade contemporânea.
Mas como não poderia deixar de ser, essas negociações resultam em regulações
que podem chegar a distanciar o público, do espaço. No entanto, muitas parcerias têm
surgido impulsionadas por lideranças de bairros, como vimos no caso do parque High
Line, em Nova Iorque.
No município de São Paulo, isso já é uma realidade, tendo como resultado uma
legislação que considera a parceria entre a iniciativa privada e o poder público, um ins-
trumento para melhorar a qualidade dos espaços públicos.
Vejamos, então, como a parceria entre o poder público se constitui no nosso objeto
de pesquisa.
A
Praça Victor Civita faz parte da parceria público-privada entre a Editora Abril e
a Prefeitura de São Paulo. Outras formas de PPP são mais comuns em São Pau-
lo, como a construção de áreas com acesso público em prédios comerciais nas
regiões financeiras da cidade, em troca da permissão do aproveitamento maior da área
construída, traduzida em prédios mais altos. A Praça Victor Civita, no entanto, é uma
praça para uso recreativo, contemplativo e de lazer, diferente das áreas disponíveis nos
centros comerciais. Além disso, não houve exatamente nenhuma permissão de uso de
outras áreas que não a própria área recuperada para uso público gratuito.
O terreno, adquirido da Cia. City em 1942, em vários momentos foi transferido para
setores da administração municipal, desde a transferência para a divisão de limpeza em
1951, passando para a divisão de pavimentação em 1955, até ser totalmente partilhado
entre várias divisões administrativas municipais.
21 Praça Victor Civita – Espaço Aberto da Sustentabilidade. Sobre a Praça. Linha do Tempo. Disponível em:
<http://pracavictorcivita.org.br/conceito/linha-do-tempo/>. Acesso em 10 abr. 2013.
A Editora já havia mostrado interesse em dar o nome de seu fundador a algum lo-
gradouro do município, a exemplo do que havia acontecido com a Avenida Roberto Ma-
rinho. Entretanto, devido aos trâmites burocráticos para a nomeação de um logradouro e
com a constatação da área degradada ao lado de sua nova sede, surge a ideia de propor
à prefeitura uma parceria para a recuperação da área e a transformação em espaço que
pudesse ser devolvido e utilizado pela população.
A
busca por projetos que apresentem soluções para o ambiente básico encontra-
do em cada situação e sejam de fato agradáveis e convidativos ao uso, no caso
especial de praça, passa pela análise e incorporação de vários elementos que
garantem que um espaço público tenha o uso que dele se espera.
Para esse capítulo usaremos como base as premissas estabelecidas por autores que
evocam o bom uso do espaço público de maneira universal, considerando o bom projeto
como patamar fundamental a ser alcançado.
Partindo desse princípio, podemos considerar o que diz Bartalini (2007) ao ressaltar
a importância da localização da praça como um dos elementos a ser considerado quan-
do criamos o espaço público:
sentido, cabe relembrar como se deu o desenvolvimento do projeto desde o início das
tratativas da prefeitura com a Editora Abril.
Ainda sobre a qualidade que o espaço deve ter, Borja (1998) traz questões que vão
além da forma do projeto e mobiliário, e que se relacionam com o modo como o espaço
é utilizado. Vejamos o que Borja diz a respeito:
Em primeiro lugar, chama a atenção o uso do público apenas nos eventos de es-
porte, cultura e lazer oferecidos pela praça, principalmente nos finais de semana, em
que se espera que o espaço seja usado como recreação espontânea sem a necessidade
de eventos para atrair os usuários. Entretanto, através dos parâmetros preconizados
por Whyte (2001) é possível identificar alguns pontos que justificam a não apropriação
efetiva do espaço fora do período de atrações específicas.
A questão do nome Victor Civita, em algum momento, foi vista como um obstáculo
para a captação de recursos porque os potenciais parceiros não se sentiam confortáveis
em investir em algo que levava o nome de apenas um deles.
Além disso, o Ministério Público (MP) entrou com liminar contra o município de
São Paulo através da Ação Civil Pública em 13 de julho de 2007, onde requeria, além da
paralisação da obra, a interdição do direito e cessão ou direito de uso, assim como o li-
cenciamento urbanístico ambiental da área, anulando o inciso VII do artigo 1º da Lei Mu-
nicipal nº 13.880/04 que autorizava o Poder Executivo a alienar, mediante procedimento
licitatório, áreas de propriedade municipal, dentre elas a que se destinava a implantação
da praça, o Decreto nº 48.116/07, que nomeava a área como Praça Victor Civita e o ter-
mo de cooperação firmado entre a Editora Abril e a Prefeitura de São Paulo. No entanto,
requereu que as medidas necessárias para a descontaminação e reabilitação ambiental
da área fossem implantadas, e também a implantação de um “parque público voltado
à fruição coletiva da população, assim como um centro de convivência de idosos” (SÃO
PAULO, 2007, p. 14), visando perscrutar a regularidade da alienação da área pública. Essa
ação foi motivada por representação feita pela população, em especial por uma listagem
com 215 assinaturas, inclusive a do Pré-Conselho Regional de Cultura de Pinheiros e pelo
Centro de Integração, Informação e Preparação para o Envelhecimento (CIIPE).
A ação civil pública alegava, ainda, que a implantação da praça excluía a população
da possibilidade de opinar e decidir sobre a não-implantação do parque público, basea-
da no principio constitucional da democracia participativa e tendo em vista que a praça
seria implantada em apenas 13.700 m² de uma área total de 34.008,65 m² destinada para
implantação de um parque público municipal previsto no Plano Diretor Estratégico (PDE),
a área remanescente seria valorizada, o que, segundo o MP serviria, no futuro, para “sa-
ciar o apetite do mercado imobiliário” (SÃO PAULO, 2007, p. 10).
Outro motivo que gerou conflito foi a possível abertura de uma área contaminada
para uso público. Para sanar qualquer dúvida a respeito do nível de contaminação, foram
feitos diversos testes que indicaram o grau de contaminação do solo e da área do inci-
nerador, e a GTZ, em parceria com a CETESB, indicou como essas estruturas deveriam ser
tratadas para não haver risco.
Para consolidar as futuras tratativas entre Editora Abril e prefeitura, foi constituído
o Instituto Abril, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), que
passaria a fazer a gestão da praça. Foi feito um termo aditivo à parceria.
O modelo de gestão estudado pelo Instituto Abril propunha que, após a consolida-
ção da gestão, a praça fosse administrada pela comunidade com supervisão da prefeitu-
ra. A partir dessa proposta, em setembro de 2010, foi criada a OSCIP Associação Amigos
da Praça Victor Civita (AAPVC) (ANEXO G). Essa OSCIP tem um conselho presidido pela
Editora Abril. Nesse formato, os parceiros que atuam na manutenção do espaço e dos
projetos são representados no Conselho Diretor e no Conselho Administrativo. Hoje, a
Associação Amigos da Praça Victor Civita é totalmente independente da Editora Abril,
possuindo orçamento próprio e aporte dos parceiros diretamente à Praça.
Os recursos para a construção vieram da Editora Abril, Itaú e Even, que financiaram
os testes, projetos e implantação da praça com o aporte de onze milhões e oitocentos
mil reais. A manutenção é dividida entre os parceiros e soma um milhão de reais por ano.
As parcerias são renovadas anualmente.
A publicidade é feita pela Editora Abril que doa um valor superior ao que é gasto
com a manutenção para divulgar as ações da praça. Segundo a Presidente do Conselho
da AAPVC, Cleide Rovai Castellan24, essa publicidade é responsável por atrair não só o
público, mas também investimentos. Outra fonte de recursos foram os financiamentos
recebidos através de leis de incentivo como o Programa de Ação Cultural da Secretaria
da Cultura do Estado de São Paulo (PROAC) e a Lei Rouanet (Lei de Incentivo à Cultura
do Ministério da Cultura).
Como vimos, proteção, conforto e prazer são temas macros que devem ser con-
siderados quando se planeja um espaço. Iluminação, bancos, boas superfícies, respeito
à escala humana, bons materiais, mobiliário urbano que favoreça a contemplação da
paisagem, vistas e fachadas interessantes e a liberdade de escolha das atividades são ele-
mentos considerados por Gehl (2013, p. 239) e que fazem parte das diretrizes observadas
em bons projetos.
Mas a “cidade das ruas” citada por Gehl (2013, p. 38) também abre espaço para
as praças e as valoriza como espaço do descanso e da observação, e os define: a rua
como espaço de movimento e a praça como espaço de experiência; “enquanto a rua
simboliza o movimento – “por favor, siga em frente” –, psicologicamente a praça sinaliza
permanência.”
A criação da Praça Victor Civita carrega em seu projeto vários elementos que são
considerados fundamentais para que seja qualificado como um bom espaço. Segundo
uma das autoras do projeto, a arquiteta Adriana Levisky, existe um respeito muito grande
por parte da AAPVC pelo projeto. O valor do projeto dentro do processo foi, e ainda é,
muito simbólico e significativo. Essa é a principal característica que faz da Praça um lugar
de qualidade na cidade: apostar no largo alcance de um projeto, desde a concepção do
instrumento de parceria público-privada, até a manutenção desse espaço em transfor-
mação que é a praça.
Vimos que o modelo de gestão foi trabalhado tendo em vista parceiros que pudes-
sem manter o espaço; regulamentos, planejamento, leis de incentivo e publicidade são
capazes de atrair investidores e mantê-los quase sem contar com a atuação do poder
público.
5. Perspectivas: o espaço
transformado e a comunidade
A
criação, requalificação e transformação de uma área, seja por meio da PPP,
ou apenas pela vontade do poder público, não está completa se o uso do
espaço não é feito pelo público. Avaliar o grau de satisfação, dentro da pers-
pectiva de que a transformação veio a melhorar o bairro no qual o espaço público foi
concretizado, pode ser possível não só por meio da verificação da apropriação pelo
público, mas também pelo reconhecimento de como os usuários são considerados
no momento do projeto, programação e manutenção do espaço.
manter o espaço, foi pensada a possibilidade de alugá-lo para eventos, nos moldes
do que é praticado pela OSCIP, que administra o Auditório do Ibirapuera e, com isso,
gerar recursos para a manutenção. No entanto, os eventos que possivelmente acon-
teçam devem estar inseridos na vocação do espaço e ainda serem realizados somente
nos períodos em que a praça estiver fechada ao público, ou seja, após as 19 horas.
Um dado curioso é que apesar de ser um espaço público, a PPP não conseguiu
atrair interesse da prefeitura, nem no compartilhamento da manutenção, nem na
própria utilização do espaço para eventos públicos. Ou seja, não há nenhum tipo de
envolvimento do poder público na gestão e utilização do espaço, a não ser pela anu-
ência do supervisor de cultura da subprefeitura que aprova os eventos e atividades
mantidas na praça. Quanto à manutenção, atualmente, a subprefeitura arca com as
despesas de água e energia; no entanto, como já mencionado anteriormente, as pra-
ças que são de responsabilidade da subprefeitura são espaços que não comportam
Como vimos, o programa dos espaços públicos geridos pelo setor privado pode
fazer com que essas áreas sejam apenas a extensão institucional de uma marca, re-
fletindo valores próprios para reforçar sua própria imagem sem se preocupar com o
que o público espera e precisa.
É importante que o processo decisório sobre o que será feito no espaço tenha
participação do poder público e da população e que seja constantemente revisto e
reavaliado.
6. Algumas conclusões
V
imos que o espaço público é definido e entendido como local para as manifes-
tações da sociedade. Encerra-se em seu significado o fato de que, para ser de
fato público, deve ser acessível a todos. Esse espaço absorve as transformações
sociais de cada tempo, refletindo em sua tipologia o desejo e comportamento da so-
ciedade que nele se projeta. As tipologias materializadas ao logo da dinâmica urbana
repercutem na concepção dos espaços públicos, em especial na praça que, por princípio,
deve possuir elementos concretos ou subjetivos que favoreçam a convivência, o lazer e as
expressões individuais e coletivas. É nesses espaços que notamos as transformações da
sociedade o que, na cidade contemporânea, tem se traduzido em uma corrente cada vez
maior de valorização desses espaços e cuja construção tem sido feita com a participação
dos diversos atores que compõem a cidade.
É dentro de uma gama de tipologias que representam o espaço público que estão
as praças, espaço livre urbano, local de trocas, manifestações, lazer e contemplação, ar-
borizado ou não, que deve ser capaz de atrair e proporcionar o uso e estar incorporado
ao tecido urbano. Esse espaço efêmero e mutante, mesmo possuindo regras, deve per-
mitir o livre acesso e a máxima expressão, mantendo-se sempre como referencial de lazer
e qualidade de vida.
Assim, para caracterizar as relações observadas pela parceria entre o poder público
e o setor privado abordamos conceitos que nos mostram que o público pode ser consi-
derado o que é acessível a todos, enquanto o privado – definido como o que é particular
– não exclui um viés público, pois deve considerar o bem estar comum em suas ações.
Essa característica, que dá ao privado um caráter público, pode ser entendida e exter-
nalizada com as cooperações que têm sido realizadas para a criação e manutenção de
espaços públicos. É por meio de redes que englobam indivíduo e coletivo que a cidade
Mesmo não tendo indicadores que definam exatamente em quais pilares a rela-
ção entre o poder público e o setor privado está embasada, tampouco quais são as
contrapartidas de ambos na construção do espaço público, foi possível notar que a PPP
formada para a construção do espaço público pode não estar ligada ao aumento de po-
tencial construtivo, mas sim relacionada a um ganho do setor privado com sua imagem
veiculada através do marketing institucional alavancado pelo bem público. É claro que as
relações de troca entre o poder público e o setor privado não são feitas de maneira al-
truísta, mas sim por meio de um formato onde ambos visam algum ganho – seja do lado
do poder público, que tem a obrigação e necessidade de criar ou devolver à população
espaços muitas vezes abandonados, seja por parte do setor privado que potencializa sua
imagem com ações de cunho social, que subliminarmente podem representar benefícios
que vão além da imagem e podem alcançar o controle e a moderação das relações e ma-
nifestações sociais. É nesse momento que negociações transparentes e acertadas podem
gerar bons resultados também para o poder público e para a população, com regula-
mentações que não limitem o uso e garantam qualidade no projeto, programação e ma-
nutenção da área. A parceria público-privada formada entre a Editora Abril e a Prefeitura
de São Paulo teve esse caráter institucional, mas aproveitou os anseios da administração
pública da época de revitalizar o espaço e devolvê-lo ao público.
A Praça Victor Civita teve como elemento chave do termo de cooperação o projeto,
que foi elaborado atendendo as demandas dos atores que participaram do processo. Di-
versos setores da administração pública, da sociedade e da Editora Abril foram ouvidos, o
que resultou em um projeto que trouxe, além dos elementos característicos consagrados
sobre o bom espaço público, questões muito atuais como preservação ambiental e pre-
servação do patrimônio histórico. Além disso, o projeto foi capaz de atrair parceiros que
suportam a manutenção do espaço com todas as suas atividades praticamente sem a
atuação do poder público.
Fica evidente que as atividades desse espaço são programadas pela lógica e pelos
conceitos do setor privado, sempre considerando e controlando a imagem que se quer
passar. Nesse sentido, a participação da prefeitura e até de membros da comunidade
convidados a participar do conselho seria uma forma mais democrática de gerir o espa-
ço. No caso da criação da Praça Victor Civita, o poder público teve o papel fundamental
de reunir diversos setores da administração pública que formularam as diretrizes neces-
sárias para que o projeto fosse elaborado de forma a respeitar as limitações ambientais,
sociais e históricas da área. No entanto, a continuidade da atuação do poder público é
fundamental para que o espaço não seja capitalizado, transformando-se em palco ex-
clusivo das manifestações do setor privado, e deve, portanto, garantir a participação da
sociedade de forma abrangente e democrática, além de acompanhar os reflexos que o
projeto tem ou terá com relação à valorização das áreas do entorno, definindo políticas
que coíbam a especulação imobiliária alavancada por um bom projeto. Essa atuação mais
democrática e participativa é um desafio imposto ao poder público dentro dessa nova
lógica de formatação do espaço público.
Fica claro que viabilizar projetos como o da Praça Victor Civita requer vontade e
preparo de todos os atores envolvidos, não só pelo poder público que deve planejar suas
ações, preparando-se para estabelecer as diretrizes que melhor garantam que espaços
públicos sejam de fato construídos e mantidos para a sociedade, mas também pelo setor
privado que deve estar preparado para os limites e dificuldades que possam aparecer
durante o projeto. Caso contrário, a PPP pode não só gerar maus espaços públicos, mas
também restringir e limitar a expressão da sociedade.
No caso da Praça Victor Civita, podemos observar que, apesar do projeto conter
elementos que caracterizam um bom espaço público, grades, cercas, regulamentos e
horários de funcionamento cerceiam o uso da área. No entanto, esse é um formato cada
vez mais utilizado em espaços públicos, como por exemplo o parque High Line e mesmo
os POPS novaiorquinos, que, também construídos e geridos por meio de PPPs, possuem
regulamentos que, se não são bem coordenados pelo poder público, tendem a virar uma
extensão do grupo que os controla.
Resta-nos, ainda, questionar que, se a PPP para a construção da praça nos moldes
do que foi firmado para a criação da Praça Victor Civita é uma ferramenta que traz bene-
fícios à sociedade e ao setor privado, por que novas iniciativas como estas não têm sido
mais amplamente aplicadas na cidade de São Paulo? Aparentemente o tempo, entraves
administrativos, altos investimentos e a falta de uma legislação clara que garanta com
mais agilidade os direitos e deveres das partes envolvidas são fatores que ainda devem
ser melhor equacionados, de forma a atrair mais parceiros interessados em participar não
só da construção da cidade mas também dispostos a contribuir para a ressignificação dos
espaços públicos para a sociedade.
Foi possível notar que a parceria público-privada na Praça Victor Civita tem sido,
aparentemente, absorvida pela comunidade e que pode ser tida como exemplo para a
recuperação ou criação de novos espaços de qualidade, uma vez que reabilitou uma área
altamente degradada após intensos estudos que tiveram a participação efetiva do poder
público, resultando em um projeto que previu o desejo da comunidade em sua concep-
ção. Projeto, processo transparente, pessoas e empresas engajadas e, principalmente, o
espírito de cooperação são elementos fundamentais para que a sociedade contemporâ-
nea produza espaços para o público.
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Anexo A
Tipos de espaços livres
APP
Corpos d’água
Encostas
Matas nativas
De caráter ambiental
Dunas
Manguezais
Bosques Urbanos
Florestas urbanas
Mirantes
Pátios
Recantos
Jardins
Largos
Escadarias
Contemplativas
Recreativas
Esportivas
Praças
Mistas
Conservação
Memoriais
Contemplativas
Recreativas
Parques nucleares intraurbanos e Esportivas
lineares da rede hídrica Mistas
Conservação
Especiais: Jd. Botânico, horto
De práticas sociais
Parques de vizinhança
Parques de Bairro
Opção: Parques nucleares
Parques Regionais
Parques da Cidade
Tipo 1 – Alta integridade
Opção: Parques lineares Tipo 2 – Média integridade
Tipo 3 – Integridade nula
Parques de Bolso ou pocket parks
De praia, agregado ou não a
ciclovia
Calçadão
Beira-rio, com ou sem praia, com
ou sem ciclovia
Marítima, fluvial, lacustre
Praia urbana
Orlas tratadas ou não
Quadras esportivas Polivalentes ou não
Campos de futebol de várzea
Piscinão Ex: de Ramos
Piscinas públicas
Parques
Lajes (tetos de moradia)
Jardins
Praças
De espaços livres privados de Pátios
uso coletivo Parques de bolso ou pockets
parks
Centro campestre / clube de
campo
Centro de compras
Pátios
Jardins
De espaços livres particulares
Bosque
Quintais
Áreas de reflorestamento
Outros
Viveiros de plantas e hortos
Áreas de chácaras ou sítios de
recreio
Pesqueiros
De espaços livres com ou Pastos
sem vegetação significativa, Chácara/horta/sítio
produtivos ou não Haras/criação de animais
ELs industriais
Terrenos não ocupados (espaços
em transição)
Elaboração: Ana Cecília Arruda de Campos, 2011, modificado por nós.
1 Fonte: CUSTÓDIO et al. Espaços Livres nas Cidades Brasileiras. Revista Geográfica de América Central.
Número Especial EGAL, 2011, Costa Rica, p. 1-31. II Semestre 2011. <http://www.revistas.una.ac.cr/index.
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Anexo B
Minuta do termo de cooperação
Anexo C
Ficha técnica
Anexo D
Termo de referência
Anexo E
Portaria nº 139/SPPI/GAB/2008
Anexo F
Termo de Cooperação
Anexo G
Estatuto AAPVC
Anexo H
Entrevista