Caro leitor. A vocação mercedária consiste em sentir-se chamado por Deus
para libertar os cativos, como o fez São Pedro Nolasco, nosso fundador. Nossa tradição reconhece que ele teve uma inspiração mariana que lhe suscitou a fundação, mas também que a Sagrada Escritura lhe proporcionava uma espiritualidade redentora. Nosso desejo é mergulhar, através dessa coluna, na Palavra de Deus para, através deles encontrar a Deus que hoje também nos chama a promover a liberdade dos irmãos cativos. 23Muito tempo depois morreu o rei do Egito, e os filhos de Israel, gemendo sob o peso da servidão, clamaram; e do fundo da servidão o seu clamor subiu até Deus. 24E Deus ouviu os seus gemidos; Deus lembrou-se da sua Aliança com Abraão, Isaac e Jacó. 5Deus viu os filhos de Israel, e Deus conheceu... Deus se lembra da aliança feita com seu povo e escutou o clamor deles sujeito à servidão ao faraó. Esse texto nos revela que Deus não está “de costas” às dores da humanidade, mas está atento para suscitar pessoas que promovam a liberdade dos irmãos, como veremos a seguir. 7Iahweh disse: "Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor por causa dos seus opressores; pois eu conheço as suas angústias. 8Por isso desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e vasta, terra que mana leite e mel, o lugar dos cananeus, dos heteus, dos amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus. 9Agora, o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e também vejo a opressão com que os egípcios os estão oprimindo. 10Vai, pois, e eu te enviarei a Faraó, para fazer sair do Egito o meu povo, os filhos de Israel." 11Então disse Moisés a Deus: "Quem sou eu para ir a Faraó e fazer sair do Egito os filhos de Israel?" 12Deus disse: "Eu estarei contigo; e este será o sinal de que eu te enviei:' quando fizeres o povo sair do Egito, vós servireis a Deus nesta montanha." (Ex 2,23-25; 3,7-12) Havíamos dito que Deus não está de costas para as dores da humanidade. Mas como Ele haverá de libertar seus filhos? Suscitando pessoas que hajam em seu nome para os libertar. No caso dos hebreus escravos, Deus suscitou Moisés para enfrentar a tirania do Faraó. A mesma história de libertação se repetiu quando Deus, por meio de Maria, inspirou São Pedro Nolasco para comprar a liberdade dos cristãos cativos, escravizados pelos muçulmanos. Interessante também notar, que no texto bíblico, Deus escutou o clamor dos hebreus que estavam na “servidão” do Faraó. A palavra “servidão”, em hebraico se diz “avodah” que significa também “serviço litúrgico, culto”. O faraó no Egito era considerado a suprema divindade e Deus os quer tirar da servidão (culto egípcio) para trazê-los ao culto a Javé, Deus vivo e verdadeiro. Já na Idade Média, os cristãos cativos estavam em risco de deixar o culto católico para abraçar a fé maometana, e São Pedro Nolasco tocado por este motivo também, coloca seus bens a serviço da redenção dessas pessoas. Quem deseja viver a espiritualidade mercedária hoje, inspirado na Bíblia e em São Pedro Nolasco, deve ser alguém atento ao sofrimento humano ao redor: ainda há cativos que clamam por nossa solidariedade. Além disso, precisamos perceber que há catividades mais sutis: quando Deus não é o senhor de nossa vida, nos proporcionando liberdade, corremos o sério risco de ter “outros senhores” a nos escravizar. O mercedário é aquele que procura promover tanto a liberdade física bem como a liberdade interior dos irmãos com as quais convive. Reze, medite esses primeiros textos bíblicos e procure responder à luz da Palavra: sou indiferente ao sofrimento das pessoas? Percebo pessoas escravizadas interiormente pelos ídolos modernos? Deus nos abençoe e nos conceda sermos redentores dos cativos atuais. Fr. Inácio José, mercedário.