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Introdução à Análise Complexa

Luı́s V. Pessoa

14 de Setembro de 2009

1
Não obstante o pensamento constitua parte das acções livres, carece de liberdade necessária às suas acções. O autor dedica
o decorrente texto aos indivı́duos empenhados na protecção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais.
Conteúdo

Prefácio 5

1 Números complexos 7
1.1 Estrutura algébrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2 Coordenadas polares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.3 Radiciação e polinómios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.4 Métrica e geometria elementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.5 Transformações lineares-fracionárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

2 Funções analı́ticas 35
2.1 Séries numéricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.2 Séries de potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
2.3 Funções trigonométricas e exponencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
2.4 Funções inversas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

3 Holomorfia 69
3.1 Funções C-diferenciáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
3.2 Regras de derivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
3.3 Integrais de linha e função Índice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
3.4 Fórmula de Pompieu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
3.5 Fórmulas integrais de Cauchy e fórmula de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
3.6 Funções Harmónicas e o núcleo de Poisson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116

4 O teorema dos resı́duos 123


4.1 Séries de Laurent e teorema dos resı́duos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
4.2 Zeros e singularidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
4.3 Integrais de variável real. Integrais impróprios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
4.4 Transformada de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142

5 Exemplos de Resoluções e Sugestões 149


Prefácio

O decorrente documento intenta acrescentar valias de ordem diversa ao seu antecessor “Apontamentos
em Análise Complexa”, publicado à data de 1 de Maio de 2008, tanto honrar o interesse no mencionado
documento e demonstrado por P. Girão.

14 de Setembro de 2009

A preparação do decorrente texto motivou-se na intenção em fornecer apontamentos de apoio aos alunos
da disciplina de Análise Complexa e Equações Diferenciais, inclusa nos diversos planos curriculares dos
cursos de licenciatura ou mestrado integrado pós-Bolonha do Instituto Superior Técnico e sobre alçada
da responsabilidade do autor. Não obstante, optou-se por exposição de forma a prever aditamentos
futuros e tão simplesmente o seu actual conteúdo gravita em torno do conteúdo programático de análise
complexa da disciplina mencionada. O desenvolvimento de esforços na redacção do actual texto, em
grande parte razoa-se na inabilidade do autor em encontrar textos de análise complexa elementar
abrangendo o conteúdo programático acima referido e com discorrer semelhante ao abaixo, tão bem
quanto na profunda crença que mantêm nas vantagens cientı́fico-pedagógicas em apresentar as funções
analı́ticas enquanto elementos com a regularidade induzida da análise real e no núcleo do operador de
derivação em ordem a z. Após uma inércia inicial por parte do aluno, com facilidade entende que as
regras de derivação dos operadores ∂z e ∂z , são em todo análogas às que aprendeu a utilizar na análise
real. Habitua-se a lidar com as variáveis z e z, como variáveis independentes. Assim, a holomorfia
apresenta-se ao aluno na forma de independência da variável conjugada.

O autor não assume conhecimentos prévios em séries numéricas ou séries de potências. Assume-
se o conhecimento das derivadas das funções trigonométricas e função exponencial de variável real,
eventualmente introduzidas por intermédio de integrais indefinidos. Em consequência da definição
de exponencial de variável complexa, deduz-se tratar-se de generalização da exponencial de variável
real e obtêm-se os desenvolvimentos em série de potências das funções de variável real. Excluindo o
desenvolvimento de funções de várias variáveis reais em fórmula ou em série de Taylor, assumem-se
conhecidas as técnicas de cálculo diferencial e integral de funções dependentes de variáveis reais e
normalmente inclusas nos cursos de cálculo em engenharia.

Os exercı́cios propostos servem a intenção em facilitar ao leitor, o acompanhamento das diversas


matérias. Pretende-se distribuir os diversos problemas em diversos graus de dificuldades de resolução.

5
6 Conteúdo

Da frase anterior não se deve inferir qualquer algoritmo ou habilidade do autor na seriação dos ditos
problemas em distintos graus de dificuldade. Em contrário, confessa inabilidade em com seriedade pro-
por alguma possı́vel seriação, tanto profunda crença de que o reconhecimento do grau de dificuldade
de determinado problema constitui per si um problema que o leitor deverá assumir, com evidentes van-
tagens pedagógicas, razoam a ausência de sinalização de quaisquer das possı́veis ordenações referidas.
Tal como qualquer outro problema, certamente que o anterior revelará distintas soluções e em cada
uma encontrar-se-á o prezável cunho pessoal.

A notação utilizada é a normalmente aceite no discorrer dos conteúdos comuns às disciplinas de análise
elementar. Cumprem no entanto as seguintes observações. Com frequência considerável utilizamos a
simbologia “:=” com objectivos em indicar que em sua utilização procede-se a uma definição, pre-
cisamente, define-se o lado esquerdo do sinal “:=” através do respectivo lado direito. Incluı́mos o
número real “zero” no conjunto dos números naturais e que denotamos por N, i.e. N = {0, 1, · · · } .
Para indicar o conjunto dos naturais superior ou iguais a um dado natural fixo j, usamos o sı́mbolo Nj ,
i.e. Nj = {j, j + 1, · · · }. Encontrar-se-ão nas secções sequentes, outros comentários acerca questões de
notação e considerados necessários ao discorrer objectivo do texto.

1 de Maio de 2008

Luı́s V. Pessoa
Capı́tulo 1

Números complexos

1.1 Estrutura algébrica


Identificamos o conjunto dos números complexos C , com o conjunto dos pares ordenados de números
reais R2 = {(x, y) : x, y ∈ R} , munido com a soma vectorial usual e o produto introduzido abaixo, i.e.
C = (R2 , +, .), aonde

(x1 , y1 ) + (x2 , y2 ) = (x1 + x2 , y1 + y2 ) , xj , yj ∈ R, j = 1, 2


. (1)
(x1 , y1 ).(x2 , y2 ) = (x1 x2 − y1 y2 , x2 y1 + x1 y2 ) , xj , yj ∈ R, j = 1, 2

O conjunto dos números reais R é identificado, por intermédio da aplicação R # x → (x, 0) ∈ C, com
o subconjunto de R2 dado por {(x, 0) : x ∈ R} . Sem dificuldades, das definições em (1) obtém-se

x1 + x2 → (x1 , 0) + (x2 , 0) e x1 x2 → (x1 , 0)(x2 , 0) , quaisquer que sejam x1 , x2 ∈ R.

Logo, as tabuadas de multiplicação e adição de números reais deduzem-se, por intermédio da aplicação
atrás definida, das tabuadas das operações introduzidas em (1). A unidade para o produto de números
reais é uma unidade para o produto de números complexos, i.e.

1.(x, y) = (1, 0).(x, y) = (x, y) , x, y ∈ R. (2)

Os elementos do conjunto {(0, y) : y ∈ R} ⊂ C, são designados por números complexos imaginários


puros. Definindo a unidade imaginária i := (0, 1), obtemos iy = (0, 1)(y, 0) = (0, y), y ∈ R. Logo, o
conjunto dos imaginários puros é dado por iR e os números complexos são representados através de

x + iy := (x, y) , x, y ∈ R.

Se z ∈ C, definimos respectivamente Re z e Im z, a parte real e imaginária de z, como os únicos


números reais x ∈ R e y ∈ R, tais que z = x + iy. As operações em (1) são reescritas na forma

zw = (Re z Re w − Im z Im w) + i(Im z Re w + Re z Im w)
, z, w ∈ C.
z+w = (Re z + Re w) + i(Im z + Im w)

Como sabemos do estudo elementar de espaços vectoriais, o conjunto C munido com a soma de vectores
8 1.1. Estrutura algébrica

em R2 , têm a estrutura de grupo comutativo, i.e.

∀zj ∈C, j=1,2,3 (z1 + z2 ) + z3 = z1 + (z2 + z3 ) associatividade;

∀zj ∈C, j=1,2 z1 + z2 = z 2 + z 1 comutatividade;


(3)
∃0∈C ∀z∈C z+0=z existência de elemento neutro;

∀z∈C ∃w∈C z+w =0 existência de simétrico.

Sem dificuldades, da definição (1) conclui-se

∀zj ∈C, j=1,2,3 (z1 z2 )z3 = z1 (z2 z3 ) associatividade;

∀zj ∈C, j=1,2 z1 z2 = z2 z1 comutatividade; (4)

∀zj ∈C, j=1,2,3 (z1 + z2 )z3 = (z1 z3 ) + (z2 z3 ) distributividade.

Considerando o grupo comutativo C, munido com a multiplicação por escalares

R × C # (x, z) → x.z ,

definida em (1), obtemos que C é um espaço vectorial sobre R de dimensão 2 e a multiplicação por
escalares em C coincide com a multiplicação por escalares induzida de R2 . É usual representar os
espaços vectoriais bi-dimensionais sobre R, por intermédio do conjunto dos ponto do plano, munido
com as operações usuais de soma de vectores e multiplicação de vectores por escalares. O referido
plano é designado por plano complexo.

iR z+w
"
%%'
(#
% '
z
#
'
#$ # w
#'%&
# %
%
' !
R

Figura 1.1: Adição de vectores

É portanto legitimo considerar em C, a estrutura métrica induzida da norma euclidiana em R2 , i.e.


considerar a distância à origem de z ∈ C, dada por
!
|z| := (Re z)2 + (Im z)2 , z ∈ C.

Tendo em conta as propriedades (4) e a igualdade

i2 = i.i = (0, 1)(0, 1) = (−1, 0) = −1 ,

é imediato verificar que


2 2
(Re z + i Im z)(Re z − i Im z) = (Re z) − (i Im z) = |z|2 . (5)

O número complexo Re z − i Im z, é designado por conjugado de z e é denotado por z. No plano


complexo, z coincide com a reflexão de z no eixo real e é evidente que z = z, z ∈ C.

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Números complexos 9

iR
"
z
'
(
'
' !
) R
)
z)
*

Figura 1.2: Conjugação

Como |z| é a distância euclidiana do vector (Re z, Im z) à origem, então

|z| = 0 sse Re z = Im z = 0 sse z = 0, (6)

e tendo em conta (5) segue que


z z
z =1 e logo zw = 1, aonde w = , z ∈ C, z )= 0.
|z|2 |z|2

Considerando (2), obtivemos

∀z∈C, z"=0 z.1 = z existência de unidade;


(7)
∀z∈C, z"=0 ∃w∈C zw = 1 existência de inverso.

Por analogia com a análise real, o inverso multiplicativo dum número complexo z não nulo é denotado
por 1/z. Porque (C, +, .) verifica as propriedades (3), (4) e (7), diz-se um corpo, usualmente designado
por corpo dos números complexos.

De seguida resumem-se algumas importantes propriedades da operação de conjugação


z+z z−z 1 z
z = Re z − i Im z , Re z = , Im z = , zz = |z|2 e = 2 .
2 2i z |z|
A operação de conjugação é aditiva, i.e.

z + w = z + w.

Em relação ao conjugado do produto, é evidente que

xz = xz , x ∈ R, z ∈ C e iz = −i Re z − Im z = −iz , z ∈ C,

e, porque o conjugado da soma é a soma dos conjugados, obtém-se

zw = z w , z, w ∈ C.

Da equação anterior infere-se

|zw|2 = (zw)(zw) = (zw)(z w) = (zz)(ww) = |z|2 |w|2 , z, w ∈ C,

e logo
|zw| = |z||w| e |z| = |z|. (8)

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10 1.2. Coordenadas polares

1.1 Problemas
1. Considere números complexos z, w ∈ C nas condições indicadas e demonstre as seguintes igualdades

i) Re(xz) = x Re z (x ∈ R) ; ii) Im(xz) = x Im z (x ∈ R) ;

z
iii) Re z = Im(iz) ; iv) Im z = Re( ) ;
i

v) 2z Re z = |z|2 + z 2 ; vi) i 2z Im z = z 2 − |z|2 ;

1+z 1 − |z|2 1+z Im z


vii) Re = ; viii) Im =2 ;
1−z |z − 1|2 1−z |z − 1|2
az + b ad − bc z+1 Re z Im z
ix) Im = Im z (a, b, c, d ∈ R) ; x) Im =2 ;
cz + d |cz + d|2 z−1 |z − 1|2

xi) |z − w|2 = |z|2 + |w|2 − 2 Re(zw) ; xii) 2 Im z Im w = Re(zw) − Re(zw) ;

xiii) 2 Re z Re w = Re(zw) + Re(zw) ; xiv) 2 Re z Im w = Im(zw) + Im(zw) ;

xv) #z, w$ = Re(zw) .

2. Verifique a seguinte igualdade


1 + (−1)n n 1 − (−1)n n−1
in = (−1) 2 + i (−1) 2 , n ∈ N.
2 2
3. Considere números complexos z, w e estabeleça uma prova das seguintes desigualdades:

i) ||z| −| w|| ≤ |z − w| ; ii) | Re z| ≤ |z| ≤| Re z| + | Im z| ;


` ´` ´
iii) |z − w|2 ≤ 1 + |z|2 1 + |w|2 ; iv) 2| Im z| ≤| 1 − z 2 | ;

v) 2| Re z| ≤| 1 + z 2 | ; vi) 2|z| ≤| 1 + z 2 | + |1 − z 2 | .

1.2 Coordenadas polares


Se z é um número complexo no circulo unitário, então existe θ ∈ R tal que z = cos θ + i sin θ. Definimos

E(iθ) := cos θ + i sin θ , θ ∈ R.

Das seguintes fórmulas para funções trigonométricas de variável real

cos (θ + ϕ) = cos θ cos ϕ − sin θ sin ϕ


, θ, ϕ ∈ R ,
sin (θ + ϕ) = sin θ cos ϕ + cos θ sin ϕ

obtem-se

E(iθ) E(iϕ) = (cos θ + i sin θ)(cos ϕ + i sin ϕ)

= (cos θ cos ϕ − sin θ sin ϕ) + i(sin θ cos ϕ + cos θ sin ϕ)

= cos (θ + ϕ) + i sin (θ + ϕ) = E(i(θ + ϕ)) ,

i.e.
E(iθ) E(iϕ) = E(i(θ + ϕ)) , θ, ϕ ∈ R. (1)

Luı́s V. Pessoa
Números complexos 11

Em particular, E(ikθ) = E(i(k − 1)θ) E(iθ) , k ∈ N1 . Por indução matemática infere-se que

E(ikθ) = Ek (iθ) , k ∈ N. (2)

Tendo em linha de conta a identidade fundamental da trigonometria

cos2 θ + sin2 θ = 1 i.e. | E(iθ) | = 1 , θ ∈ R

obtém-se
E(iθ) = E−1 (iθ) = E(−iθ) . (3)

Segue que (2) é válido para k ∈ Z, i.e. são válidas as fórmulas de Moivre

E(ikθ) = Ek (iθ) , k ∈ Z. (4)

A função polivalente
Arg z := {θ ∈ R : E(iθ) = z/|z|} , z ∈ C\ {0}

diz-se a função argumento. De (1) e (3) inferem-se sem dificuldades as seguintes propriedades

1
Arg (zw) = Arg z + Arg w , Arg = − Arg z , Arg z = − Arg z , z, w ∈ C\ {0} .
z
Da igualdade (1) e de | E(iθ) | = 1 , θ ∈ R segue que
" # $" " "
" θ+ϕ θ−ϕ ϕ − θ "" " θ − ϕ ""
| E(iθ) − E(iϕ) | = "" E(i ) E(i ) − E(i ) " = 2""sin .
2 2 2 2 "

Como sin(x) = 0, x ∈ R sse x = kπ, k ∈ Z então da igualdade anterior deduz-se que as funções
trigonométricas de variável real são periódicas de perı́odo 2π (facto bem conhecido) e que a função
θ → E(iθ) é injectiva em qualquer intervalo semi-aberto de comprimento inferior ou igual a 2π. Se
θ, ϕ ∈ Arg z , z )= 0 então existe k ∈ Z tal que θ − ϕ = 2kπ. Para qualquer θ ∈ Arg z obtém-se

Arg z = {θ + 2kπ : k ∈ Z} .

Conclui-se que a função argumento principal

arg : C\ {0} → ] − π, π ] , arg z = θ se Arg z ∩ ] − π, π ] = {θ} ,

está bem definida e verifica o seguinte

Arg z = { arg z + 2kπ : k ∈ Z} , z )= 0 .

iR
"
z
'
(
'
'+ θ !
R
Figura 1.3: Representação polar

Luı́s V. Pessoa
12 1.2. Coordenadas polares


Ξ
Θ
Θ
1

Figura 1.4: Multiplicação por números complexos unitários

Cada número complexo não nulo z ∈ C\ {0}, tem uma representação polar única, i.e. existem únicos
r > 0 e θ ∈ ] − π, π ] tais que z = r E(iθ) , precisamente r = |z| e θ = arg z. Diz-se que o par ordenado
(r, θ) são as coordenadas polares do número complexo z. Anotamos a arbitrariedade da escolha do
intervalo ] − π, π ] , para definir a função argumento principal e que qualquer outro intervalo de R
semi-aberto de comprimentos 2π serviria à boa definição do argumento principal tanto à unicidade da
respectiva representação polar.

As coordenadas polares permitem com facilidade estabelecer uma interpretação geométrica da multi-
plicação de números complexos. De facto, a multiplicação do número complexo z, por determinado
complexo unitário ξ, corresponde no plano complexo, à rotação de ângulo arg ξ, do vector correspon-
dente ao número complexo z.

1.2 Problemas
1. Considere z ∈ C e θ, ϕ ∈ R. Verifique as seguintes igualdades:

i) [ E(−iθ) − E(iθ) ]2 = −|1 − E(i2θ) |2 ; ii) [ E(−iθ) + E(iθ) ]2 = |1 + E(i2θ) |2 ;

iii) 1 + E(i2θ) = 2 cos(θ) E(iθ) ; iv) |1 − E(i2θ) |2 = 4 sin2 (θ) ;

ϕ−θ θ+ϕ
v) E(iθ) + E(iϕ) = 2 cos( ) E(i ) ; vi) |z − E(iθ) | = |1 − z E(iθ) | .
2 2
2. Mostre a seguinte desigualdade
|1 − E(iθ) | 2
≥ , θ ∈ ] 0, π ] .
θ π
Forneça uma interpretação geométrica no plano complexo.

Sugestão: Note que a asserção é equivalente a


θ θ
sin ≥ , 0 < θ ≤ π,
2 π
e em seguida estude o sinal de f ! (θ) aonde f (θ) = sin(θ/2) − (θ/π) , 0 < θ ≤ π .

3. Tendo em linha de conta que


1 − zn
1 + · · · + z n−1 = , z '= 1, n ∈ N1
1−z

Luı́s V. Pessoa
Números complexos 13

demonstre as seguintes igualdades:


n n
" #2
X E(−ijθ) X E(ijθ) sin (n + 1) θ2
i) + = θ
;
j=0
1 − E(iθ) j=0
1 − E(−iθ) sin 2
n
X Xn
E(−ijθ) E(ijθ) sin (2n + 1) θ2
ii) + = θ
;
j=−n
1 − E(iθ) j=−n
1 − E(−iθ) sin 2

para θ ∈ R tal que θ '= 2kπ, k ∈ Z.

4. Considere as fórmulas de Moivre para demonstrar as seguintes asserções:


` ´
i) cos nθ = cosn θ − n2 cosn−2 θ sin2 θ + · · ·
` ´
ii) sin nθ = n cosn−1 θ sin θ − n3 cosn−3 θ sin3 θ + · · ·

5. Dados quaisquer n, j ∈ Z escreva os seguintes números complexos na forma x + iy ; x, y ∈ R:


1 (1 + i)3
i) (1 − i)3 ; ii) (1 − i)3 (1 + i)2 ; iii) ; iv) ;
(1 − i)2 (1 − i)2

(1 + i)13 (1 + i)n+2j
v) ; vi) ; vii) in + (−1)n+1 in ; viii) in + (−1)n in .
(1 − i)11 (1 − i)n
6. Determine os argumentos principais e uma forma polar dos seguintes números complexos:
√ `√ ´2
i) 3 + i ; ii) (1 + i)2 ; iii) 3 + i (1 + i) ;

` ´
π 5
`√ ´17
iv) sin π
5
+ i cos 5
; v) 3+i ; vi) (1 + i)12 ;

√ √
vii) (1 + i)13 ; viii) (2 − i 12)31 ; ix) − (2i + 12)31 ;

„√ «12 “ ”5
`√ ´17 √ (1 + i)13 3+i √
x) i 3 − 1 (2 − i 12)31 ; xi) ; xii) 3+i .
(i − 1)12 1+i
7. Seja z = |z| E(iθ) , θ ∈ R e suponha θ/π = p/d, aonde p, d ∈ N1 são primos entre si. Se q e r são
respectivamente o cociente e o resto da divisão de p por d i.e. p = qd + r com q, r ∈ N e r = 0, · · · , d − 1 então
r π
arg z = π − (1 − (−1)q ) , z '= 0 .
d 2
8.
i) Verifique as seguintes igualdades entre conjuntos
1
Arg (zw) = Arg z + Arg w , Arg = − Arg z , Arg z = − Arg z (z, w ∈ C\ {0}).
z
ii) Encontre exemplos de números complexos z e w tais que
1
arg (zw) '= arg z + arg w , arg '= − arg z , arg z '= − arg z (z, w ∈ C\ {0}).
z
9. Considere a função sinal sgn : R\ {0} → {−1, 1} definida por
(
1 ,x>0
sgn (x) = .
−1 , x < 0
Verifique a validade da seguinte igualdade
π
arg (xz) = arg z − sgn ( arg z)(1 − sgn x) , x ∈ R\{0}, z ∈ C\R+
0 .
2
Finalmente mostre que
1
arg z '= − arg z sse arg '= − arg z sse z ∈ R− .
z

Luı́s V. Pessoa
14 1.3. Radiciação e polinómios

10. Seja arctan x a inversa da restrição da função tan x ao intervalo ] − π/2, π/2 [ . Verifique que

y π
arg z = arctan + (1 − sgn x) sgn y , para z = x + iy, x, y ∈ R e x '= 0 , y '= 0.
x 2

1.3 Radiciação e polinómios


Inicia-se a secção com o estudo da operação de radiciação, i.e. fixos n ∈ N2 e w ∈ C\ {0} estudam-se
as soluções da equação
z n − w = 0.

Tendo em linha de conta as fórmulas de Moivre, as representações polares z = r E(iθ) , r > 0, θ ∈ R


e w = ρ E(iϕ) , ρ > 0, ϕ ∈ R obtemos que
 √
 r= ρ
 n

rn E(inθ) = ρ E(iϕ) é equivalente a , k∈Z. (1)


 θ = ϕ + k 2π

n n
Em (1) obtivemos, indexadas em Z, as raı́zes de ordem n de w, precisamente as raı́zes de ordem
n ∈ N2 de w = ρ E(iϕ) , são dados por
√ ϕ 2π
zk = n
ρ E(iθk ) , aonde θk = +k e k ∈ Z. (2)
n n
De seguida afixa-se a existência de precisamente n raı́zes distintas. Da igualdade

zk+n = n
ρ E(iθk+n ) = zk E(i2π) = zk , k ∈ Z

obtém-se que a sucessão bilateral zk , k ∈ Z é periódica de perı́odo n, i.e. zk+n = zk , para qualquer
que seja k ∈ Z. Embora de caracter elementar, demonstra-se abaixo que o conjunto dos termos de
qualquer sucessão bilateral zk , k ∈ Z periódica com perı́odo n, n ∈ N1 é um conjunto finito com no
máximo n elementos.

Lema 1 Seja zk , k ∈ Z uma sucessão bilateral com perı́odo n. O conjunto dos seus termos verifica

{zk : k ∈ Z} = {zl , zl+1 , · · · , zl+n−1 } , para qualquer que seja l ∈ Z.

Demonstração: Para k ∈ Z e m ∈ N1 , é sucessivamente evidente que

zk+mn = zk+(m−1)n = · · · = zk e zk−mn = z(k−mn)+mn = zk .

Com objectivo em aplicar o algoritmo de divisão exclusivamente aos números naturais, consideramos
separadamente os casos k ≥ 0 e k < 0, para demonstrar que para qualquer k ∈ Z, o termo zk coincide
com algum dos números z0 , · · · , zn−1 . Se k ∈ N é tal que k ≥ n, então existem naturais m ∈ N e
0 ≤ j < n, tais que k = mn + j. Logo zk = zmn+j = zj , aonde j ∈ N e 0 ≤ j < n. Se −k ∈ N1
então −k = mn + j = (m + 1)n + (j − n), para determinados naturais m e 0 ≤ j < n. Conclui-se que
zk = z−(m+1)n+(n−j) = zn−j e 0 < n − j ≤ n. Se j = 0 então zk = zn = z0 . Em quaisquer dos casos
zk , k ∈ Z coincide com algum dos números z0 , · · · , zn−1 . De novo considerando a periodicidade da
sucessão zk , k ∈ Z infere-se que o conjunto dos seus termos coincide com o conjunto de quaisquer n
termos consecutivos.

Luı́s V. Pessoa
Números complexos 15

Se zk , k ∈ Z é a sucessão bilateral das raı́zes de ordem n de w, dada por (2), então verifica-se que

θ0 < θ1 < · · · < θn−1 e θn−1 − θ0 < 2π .

Tendo em conta a injectividade, em qualquer intervalo semi-aberto de comprimento 2π, da função


θ → E(iθ) , infere-se que a sucessão bilateral periódica zk , k ∈ Z possui n termos consecutivos dis-
tintos. Logo, do Lema 1 deduz-se que o conjunto das raı́zes de ordem n de w é um conjunto finito
com exactamente n elementos, e que pode ser enumerado variando o ı́ndice k em (2), num conjunto
arbitrário de n inteiros consecutivos. Escolhendo os n primeiros naturais, as raı́zes de ordem n ∈ N2
são representadas por
! arg w 2π
zk = n
|w| E(iθk ) , aonde θk = +k e k = 0, · · · , n − 1 .
n n
Adiante tornar-se-á evidente que um polinómio de grau n têm no máximo n zeros.

Π
""""
4
1

Figura 1.5: Raı́zes oitavas da unidade

Um polinómio na variável z é uma combinação linear finita de potências de z, i.e. p(z) diz-se um
polinómio, se existe n ∈ N e coeficientes ak ∈ C, k = 0, · · · , n tais que
n
)
p(z) = ak z k .
k=0

Se an )= 0, então p(z) diz-se um polinómio de grau n, e o número natural n diz-se o grau de p(z).

Os polinómios identificam-se com funções complexas de variável complexa, usualmente designados por
funções polinomiais. Desta forma, no conjunto dos polinómios encontram-se definidas as operações de
soma e multiplicação por escalares. Tais operações estabelecem uma estrutura de espaço vectorial no
conjunto de todos os polinómios. Por igual, sabemos que a multiplicação de polinómios é um polinómio.
Abandona-se ao cuidado do leitor, a verificação de que o grau do polinómio soma é inferior ou igual
ao maior dos graus das respectivas parcelas aditivas, tanto quanto o grau do polinómio produto iguala
a soma dos graus dos polinómios factores.

Dois polinómios p(z) e q(z) são idênticos, se para qualquer que seja o número complexo z, verifica-se

Luı́s V. Pessoa
16 1.3. Radiciação e polinómios

p(z) = q(z). De seguida demonstramos que p(z) = q(z) sse os polinómios têm o mesmo grau e os
coeficientes das respectivas potências de z são idênticos, asserção usualmente designada por princı́pio
de identidade entre polinómios.

Proposição 2 (Identidade entre polinómios) Considerem-se polinómios p(z) e q(z), respectiva-


mente dados por
n
) m
)
p(z) = ak z k , a0 , · · · , an ∈ C e q(z) = bk z k , b0 , · · · , bm ∈ C ,
k=0 k=0

aonde n, m ∈ N e an , bm )= 0. Então p(z) = q(z) sse n = m e a0 = b0 , · · · , an = bn .

Demonstração: Mostramos por indução na variável n + m, que n = m e an = bn , · · · , a0 = b0 .


Se n + m = 0 então p(z) e q(z) são polinómios constantes e a asserção é evidente. Supomos como
hipótese de indução que se dois polinómios c(z) e d(z) verificam c(z) = d(z), e a soma dos seus graus
é inferior ou igual a n + m − 1 então os graus e os respectivos coeficientes de c(z) e d(z) coincidem.
Porque p(0) = q(0) então a0 = b0 e consequentemente

z(an z n−1 + · · · + a1 ) = z(bm z m−1 + · · · + b1 ).

Logo an z n−1 +· · ·+a1 = bm z m−1 +· · ·+b1 e por hipótese de indução n−1 = m−1 e an = bn , · · · , a1 = b1 .

Exemplos
1. Para qualquer que seja o número natural n deduz-se do binómio de Newton o seguinte
)n # $
n k
(1 + z)n = z .
k
k=0

Em consequência
n # $# $
) n n k+j
p(z) := (1 + z)2n = (1 + z)n (1 + z)n = z .
k j
k,j=0

O coeficiente da potência z no polinómio p(z) é dado por


n

)n # $# $ ) n # $2
n n n
= .
k n−k k
k=0 k=0

De novo o binómio de Newton permite deduzir o seguinte


2n #
) $
2n
p(z) = (1 + z)2n = zk . (3)
k
k=0
*2n+
Considerando (3) infere-se que o coeficiente da potência z n no polinómio p(z) é dado por n . Do
prı́ncipio de identidade dos polinómios deduz-se a seguinte igualdade não evidente
# $ ) n # $2
2n n
= , n ∈ N.
n k
k=0

Luı́s V. Pessoa
Números complexos 17

De seguida estabelece-se a possibilidade da divisão entre polinómios. O leitor deverá atentar a que a
demonstração contém um algoritmo de cálculo dos polinómios cociente e resto.

Proposição 3 (Divisão de polinómios) Sejam p(z) e d(z) polinómios, aonde d(z) é não constante.
Existem únicos polinómios q(z) e r(z), tais que r(z) tem grau estritamente inferior ao grau de d(z) e

p(z) = q(z)d(z) + r(z).

Demonstração: Iniciamos mostrando a unicidade dos polinómios cociente e resto. Suponha-se

p(z) = q1 (z)d(z) + r1 (z) = q2 (z)d(z) + r2 (z),

aonde r1 (z) e r2 (z) são polinómios de grau estritamente inferior ao grau de d(z). Então

r1 (z) − r2 (z) = (q2 (z) − q1 (z))d(z). (4)

Se q1 )= q2 , infere-se de (4) que r1 (z) − r2 (z) é polinómio de grau superior ou igual ao grau de d(z),
o que é contraditório com as hipóteses. Então q2 (z) − q1 (z) é o polinómio nulo e em consequência
r1 (z) = r2 (z), como querı́amos demonstrar.

Se o grau de d(z) é superior ao grau de p(z) então considere-se q(z) = 0 e r(z) = p(z). Logo, sem perda
de generalidade supomos

p(z) = am z m + · · · + a0 e d(z) = bn z n + · · · + b0 , am )= 0 )= bn , m ≥ n ,

e procedemos por indução matemática no grau do polinómio p(z). O polinómio


am m−n am bn−1 m−1
p1 (z) = p(z) − z d(z) = (am−1 − )z + ···
bn bn
é bem definido e tem grau inferior a m. Por hipótese de indução existem polinómios q1 (z) e r1 (z) tais
que
p1 (z) = q1 (z)d(z) + r1 (z),
e r1 (z) têm grau inferior ao grau de d(z). Logo
am m−n
p(z) = (q1 (z) + z )d(z) + r1 (z).
bn
Terminamos a prova anotando a evidência da asserção para o caso em que p(z) é polinómio de grau 1.

Os polinómios q(z) e r(z) no enunciado da proposição anterior, dizem-se respectivamente os polinómios


cociente e resto da divisão de p(z) por d(z).

Exemplos
2. Consideramos a divisão do polinómio p(z) = z 4 − 1 por d(z) = z 2 − i. É evidente que

p(z) = (z 2 + i)(z 2 − i) − 2 .

Luı́s V. Pessoa
18 1.3. Radiciação e polinómios

Logo q(z) = z 2 + i e r(z) = −2 são respectivamente o cociente e o resto da divisão de p(z) por d(z).
No entanto, exemplificamos de seguida como o algoritmo apresentado na demonstração da proposição
anterior, pode ser utilizado para calcular q(z) e r(z). Esquematicamente obtemos

z4 − 1 | z2 − i
−−−−−
* +
z4 − 1 | z2 − i − z 4 − iz 2 z2 + i
−−−−− − − − − −−
* +
− z 4 − iz 2 z2 e finalmente iz 2 − 1
− − − − −− * +
iz 2 − 1 − iz 2 + 1
− − − − −−
−2

Se p(z) é polinómio não constante, então qualquer que seja z1 ∈ C tem-se

p(z) = (z − z1 )p1 (z) + r , aonde r = p(z1 ) é polinómio constante.

Conclui-se que p(z1 ) = 0 sse o polinómio p factoriza-se na forma p(z) = (z − z1 )p1 (z). O número
complexo z1 diz-se um zero do polinómio p(z) com multiplicidade m, m ∈ N1 se

p(z) = (z − z1 )m q(z) , aonde q(z) é polinómio e q(z1 ) )= 0 .

Do princı́pio de identidade entre polinómios, deduz-se que um polinómio de grau n têm no máximo
n zeros, contados de acordo com a sua multiplicidade. Defronte demonstraremos o teorema funda-
mental da álgebra (ver corolário [5 sec. 4.1]), de acordo com o qual todo o polinómio não constante
admite um zero. Repetindo o argumento para o polinómio p1 e assim sucessivamente, conclui-se que o
teorema fundamental da álgebra é equivalente à existência de números complexos z1 , · · · , zk distintos
dois a dois e naturais n1 , · · · , nk tais que n1 + · · · + nk = n e

p(z) = c(z − z1 )n1 · · · (z − zk )nk , c ∈ C\(0),

aonde n é o grau do polinómio não nulo p e o natural nj é a multiplicidade do zero zj , j = 1, · · · , k. É


usual enunciar o teorema fundamental da álgebra dizendo que todo o polinómio de grau n ∈ N1 , tem
n zeros contados de acordo com sua multiplicidade.

Um polinómio com coeficientes complexos p(z), diz-se redutı́vel se é factorizado no produto de


polinómios não constantes, i.e. se existem polinómios não constantes, com coeficientes complexos
q1 (z), q2 (z) tais que p(z) = q1 (z)q2 (z). Se p(z) não é redutı́vel então diz-se irredutı́vel. Do teorema
fundamental álgebra é evidente que os polinómios irredutı́veis são precisamente os polinómios de grau
inferior ou igual à unidade. Em analogia, introduzimos o conceito de redutibilidade nos polinómios com
coeficientes reais. Um polinómio com coeficientes reais diz-se irredutı́vel sobre R se não é factorizado
em polinómios não constantes com coeficientes reais, i.e. p(z) = an z n + · · · + a0 , aj ∈ R, j = 0, · · · , n
é irredutı́vel sobre R se não existem polinómios não constantes com coeficientes reais q1 , q2 tais que
p(z) = q1 (z)q2 (z). Mostra-se de seguida que o teorema fundamental da álgebra permitir classificar os
polinómios com coeficientes reais e irredutı́veis sobre R.

Luı́s V. Pessoa
Números complexos 19

Suponha-se que p(z) é polinómio de coeficientes reais e p(z1 ) = 0, z1 ∈ C. Das igualdades


n
)
0 = p(z1 ) = ak z k1 = p(z 1 ),
k=0

conclui-se que o conjunto dos seus zeros é invariante para conjugação, i.e. p(z1 ) = 0 sse p(z 1 ) = 0.
Logo, se p(z1 ) = 0, z1 = a + ib, a, b ∈ R, b )= 0 obtém-se
, -
p(z) = (z − z1 )(z − z 1 )q(z) = (z 2 − 2az + a2 + b2 )q(z) = (z − a)2 + b2 q(z).

Como q(z) é polinómio com coeficientes reais, aplique-se o mesmo procedimento a q(z), e assim suces-
sivamente. Obtêm-se a existência de reais aj , bj , j = 1, · · · , k (bj )= 0) e naturais n1 , · · · , nk tais que
, -n1 , -nk
p(z) = (z − a1 )2 + b21 · · · (z − ak )2 + b2k q0 (z), (5)

aonde q0 (z) é um polinómio só com zeros reais. Em particular, se p(z) é polinómio de grau n com
coeficientes reais e sem zeros reais então
, -n1 , -nk
p(z) = (z − a1 )2 + b21 · · · (z − ak )2 + b2k .

De (5), é imediato que os polinómios com coeficientes reais e irredutı́veis sobre R, são os polinómios
afins com coeficientes reais e os polinómios do segundo grau da forma

(z − a)2 + b2 , a, b ∈ R aonde b )= 0.

Tanto quanto de (5) infere-se que qualquer polinómio de coeficientes reais não constante, é o produto
de potências naturais de polinómios irredutı́veis sobre R, i.e. se p(z) é polinómio de coeficientes reais
então existem a1 , · · · , ak b1 , · · · , bk e números reais x1 , · · · , xj tais que
, -n1 , -nk m m
p(z) = c (z − a1 )2 + b21 · · · (z − ak )2 + b2k (x − x1 ) 1 · · · (x − xj ) j ,

aonde k, j ∈ N , c ∈ C e b1 )= 0, · · · , bk )= 0.

1.3 Problemas
1. Encontre as soluções das seguintes equações e represente-as no plano complexo:

i) z 3 = −i ; ii) z 4 = −16 ; iii) z 2 = 2 + i 12 ;

iv) 2z 4 = 3i − 1 ; v) z 4 − (9 + 4i)z 2 + 36i = 0 ; vi) 1 + iz − z 2 − iz 3 = 0 ;

vii) z 6 + iz 3 + 2 = 0 ; viii) z 2 + z 2 − 2z + 1 = 0 ; ix) z 3 z 2 − 5z 2 z + 6z = 0 .

2. Diz-se que um número complexo ξ é uma raı́z de ordem n , (n ∈ N1 ) da unidade se ξ n = 1. Denote o conjunto
das raı́zes de ordem n da unidade por Tn , i.e
 ff

Tn := E(ik ) : k = 0, · · · , n − 1 .
n
p
Verifique que fixo w ∈ C , (w '= 0), o conjunto das raı́zes de ordem n de w é dado por n |w| E(i arg w/n) Tn ,
p
i.e. o conjunto das raı́zes de ordem n de w coincide com a dilatação de razão n |w| da rotação de ângulo
arg w/n do conjunto Tn .

Luı́s V. Pessoa
20 1.3. Radiciação e polinómios

3. Mostre que o polinómio 1 + z + · · · + z n não têm raı́zes reais, caso n seja par, e z = −1 é a única raı́z real
(com multiplicidade 1) se n é ı́mpar. Ademais, é válida a seguinte factorização
„ „ « «„ „ « « „ „ « «
2π 2π 2π
1 + z + · · · + z n = z 2 − 2z cos +1 z 2 − 2z cos 2 + 1 · · · z 2 − 2z cos n +1 .
n+1 n+1 n+1

4. Encontre os factores irredutı́veis sobre R dos seguintes polinómios:

i) z 3 − 3z 2 + 4z − 2 ; ii) 4z 4 − 2z 2 − 6 ; iii) 4z 4 + 6z 2 + 3 ;

iv) z 4 + 16 ; v) z 8 − 1 ; vi) 1 − z 2 + z 4 − z 6 .

5. Considere um polinómio p(z) = an z n + · · · + a0 de grau n ∈ N1 , com coeficientes complexos tais que


1 1
an−k = ak , k = 0, · · · , n. Mostre que p(0) '= 0 e p(z) = z n p( ). Em particular, p(z) = 0 sse p( ) = 0.
z z
ˆ ˜
6. A função racional i (z − i)−k − (z + i)−k , k ∈ N1 é o cociente de polinómios com coeficientes reais.

7. Em seguida pretende-se indicar procedimento para determinar as soluções de equações polinomiais cúbicas

z 3 + a2 z 2 + a1 z + a0 = 0. (6)

i) Faça z = w − a2 /3 e determine coeficientes complexos b1 e b0 tais que (6) é equivalente à equação

w3 + b1 w + b0 = 0. (7)

ii) Considere a transformação de Vieta w = ξ − b1 /(3ξ) para determinar coeficientes complexos c1 e c0 tais
as soluções de (7) são soluções de
ξ 6 + c1 ξ 3 + c0 = 0. (8)

iii) Observe que (8) é uma equação quadrática na variável ξ 3 e aplique a bem conhecida " fórmula resol-
vente# para determinar as suas soluções.

8. Indicar-se-á de seguida procedimento para determinar as soluções de equações polinomiais de ordem quatro

z 4 + a3 z 3 + a2 z 2 + a1 z + a0 = 0. (9)

Algoritmos para calcular as soluções de equações polinomiais de ordem inferior ou igual a quatro eram conhe-
cidas no século XVI e por Scipio del Ferro e Ferrari.

i) Aplique a mudança de variável z = w − a3 /4 e verifique que (9) equivale à seguinte equação

w4 + b2 w2 + b1 w + b0 = 0. (10)

ii) Verifique que para arbitrários números complexos λ a equação (10) equivale à seguinte
» – » –
λ2 λ2
w4 + λw2 + − (λ − b2 )w2 + b1 w + ( − b0 ) = 0. (11)
4 4

iii) Verifique que se u é solução da equação polinomial cúbica (λ2 − 4b0 )(λ − b2 ) = b21 então (11) equivale a
„ «2 “
λ ν ”2 b1
w2 + − w+ aonde ν= . (12)
2 2 λ − b2

iv) Resolva (12) para encontrar as soluções de (10).

Luı́s V. Pessoa
Números complexos 21

1.4 Métrica e geometria elementares


A identificação natural das estruturas vectoriais de R2 e C, permite introduzir a métrica induzida da
distância euclidiana no corpo dos números complexos. Se .(x, y). , x, y ∈ R denota a norma euclidiana
do vector (x, y) em R2 , então considera-se a única definição de módulo |z|, tal que a aplicação

R2 # (x, y) → x + iy ∈ C

é linear e isométrica. Necessariamente, tem-se que


!
|z| := .(x, y). = x2 + y 2 , z = x + iy, (x, y) ∈ R2 .

A distância entre complexos arbitrários C # z = x + iy ≡ (x, y) ∈ R2 e C # w = u + iv ≡ (u, v) ∈ R2 ,


é definida como sendo a distância do complexo z − w à origem, i.e.
!
|z − w| := .(x, y) − (u, v). = (x − u)2 + (y − v)2 .

Em consequência, deduz-se da teoria elementar dos espaços normados de dimensão finita, subentendida
de entre os domı́nios de conhecimento do leitor, que

i) |z + w| ≤ |z| + |w| , z, w ∈ C ;

ii) |xz| = |x||z| , z ∈ C,x ∈ R ;

iii) |z| = 0 sse z = 0 , z∈C.

No entanto, incitando ao desenvolvimento de técnicas de análise complexa, apresentamos de seguida


argumentos distintos dos usuais em espaços de dimensão finita. A propriedade ii) é uma caso particular
de [8 sec. 1.1] e iii) é [6 sec. 1.1]. Quanto a i), tendo em conta a desigualdade | Re z| ≤| z|, z ∈ C obtém-se

|z + w|2 = (z + w)(z + w) = |z|2 + |w|2 + 2 Re(zw) ≤ |z|2 + 2|z||w| + |w|2 = (|z| + |w|)2 ,

e logo é válida a desigualdade triangular

|z + w| ≤| z| + |w| , z, w ∈ C.

Da desigualdade triangular deduz-se

|z| = |(z − w) + w| ≤| z − w| + |w| e |w| = |(w − z) + z| ≤ |z − w| + |z| .

Subtraindo ordenadamente as duas desigualdades anteriores, obtemos

||z| −| w|| ≤ |z − w|.

Discutimos de seguida algumas noções geométricas em torno de rectas, semi-planos, cı́rculos e discos.
Se Rξ é a recta que passa por a origem e por o ponto ξ = |ξ| E(iθ) , então rodada de −θ irá coincidir
com o eixo real, i.e. E(−iθ) Rξ = R. De forma equivalente
0 1
. / z
Rξ = ξR = z : ξz ∈ R = z : Im( ) = 0 .
ξ

Luı́s V. Pessoa
22 1.4. Métrica e geometria elementares

Se Rξ,η denota a recta euclidiana que passa por os números complexos distintos ξ e η, então z ∈ Rξ,η
sse z − η ∈ Rξ−η , i.e 0 1
z−η
Rξ,η = z : Im( )=0 . (1)
ξ−η
Uma recta demarca C em dois semi-planos disjuntos. Define-se o semi-plano superior atravês de

Π := {z : Im z > 0} ,

e em geral o semi-plano superior definido por números complexos ξ e η aonde ξ )= η, é o conjunto


0 1
z−η
Πξ,η := z : Im( )<0 . (2)
ξ−η

Se w := (z − η)/(ξ − η) então w ∈ Π sse z ∈ eiθ Π + η, aonde θ := arg (ξ − η). Assim, a recta Rξ,η
divide o plano em duas partes, sendo o semi-plano Πξ,η a parte à esquerda da recta orientada com o
sentido de ξ a η. De acordo com (2), verifica-se Π = Π0,1 .

w
Ξ

Figura 1.6: O semi-plano Πξ,η e o disco aberto D(w, r)

O disco aberto centrado em w ∈ C e de raio r > 0 é definido como o conjunto dos números complexos
cuja distância a w é inferior a r, i.e.

D(w, r) := {z ∈ C : |z − w| < r} , 0 < r < +∞.

O conceito de disco é essencial para introduzir as definições topológicas elementares do corpo dos
números complexos. Tais definições coincidem com as induzidas de R2 , i.e. um subconjunto U ⊂ C,
diz-se aberto, fechado, compacto e conexo sse a sua natural identificação com o subconjunto
de R2 correspondente é respectivamente aberto, fechado, compacto e conexo. Assume-se que o leitor
domina as técnicas necessárias ao manejo rudimentar da noção de convergência em espaços vectoriais
de dimensão finita sobre R, tanto as definições topológicas elementares. No entanto, não se evita
introduzir as respectivas definições e notação. Precisamente, U ⊂ C diz-se aberto se coincide com
uma união, possivelmente vazia, de discos abertos; diz-se fechado se o seu conjunto complementar é um
conjunto aberto. Se U ⊂ C é um subconjunto de algum disco, então U diz-se um conjunto limitado.
Os conjuntos compactos são precisamente os conjuntos limitados e fechados. O subconjunto U ⊂ C
diz-se desconexo se existem conjuntos abertos Ω1 e Ω2 , tais que Ω1 ∩ U )= ∅ = ) Ω2 ∩ U e

Ω1 ∩ Ω2 = ∅ , U = (Ω1 ∩ U ) ∪ (Ω2 ∩ U ) .

Diz-se que U ⊂ C é conexo se não é desconexo.

Luı́s V. Pessoa
Números complexos 23

Os conjuntos interior, exterior e fronteira de U, respectivamente denotados por int U, ext U e ∂U


são definidos de forma semelhante, i.e. as definições conhecidas em espaços vectoriais de dimensão
finita aplicam-se ao subconjunto de R2 identificado com U . Resulta que int U é a união de todos os
c
conjuntos abertos contidos em U, ext U = int (U c ) e ∂U = (int U ∪ ext U ) . O fecho dum conjunto
U ⊂ C coincide com a união U ∪ ∂U e é denotado por cl U. Assim, a circunferência centrada em w de
raio r > 0 é definida por

∂D(w, r) := {z ∈ C : |z − w| = r} , 0 < r < +∞,

e o disco fechado por

cl D(w, r) := D(w, r) ∪ ∂D(w, r) = {z ∈ C : |z − w| ≤ r} , 0 < r < +∞.

Tal como as definição topológicas elementares, as sucessões convergentes de termos complexos


definem-se em correspondência com as sucessões convergentes de termos em R2 , i.e. diz-se que a
sucessão zn , n ∈ N é convergente ao número complexo z sse a sucessão (Re zn , Im zn ), n ∈ N é con-
vergente em R2 ao par ordenado (Re z, Im z) ∈ R2 , i.e. a sucessão de termos complexos zn , n ∈ N é
convergente sse
∀$>0 ∃p∈N (n ≥ p) ⇒ |zn − z| < (.
Evitando menção directa á noção de distância, a sucessão de termos complexos zn , n ∈ N é convergente
ao complexo z sse para qualquer que seja o disco aberto (não vazio) centrado no ponto z, então todos
os termos da sucessão com ordens superiores a determinado natural, incluem-se no disco fornecido.

Em diversas situações é útil considerar a convergência ao usualmente designado ponto infinito ∞. Em


rigor, diz-se que a sucessão de termos complexos zn , n ∈ N é convergente ao ponto ∞ sse

lim |zn | = ∞ i.e. ∀C>0 ∃p∈N (n ≥ p) ⇒ |zn | > C.


n→∞

!
Introduzimos a notação C para designar o conjunto C ∪ {∞}, aonde o elemento ∞ não coincide com
qualquer número complexo. Introduzem-se por igual os discos abertos centrados no ponto infinito, i.e.

D(∞, r) := C\cl D(0, 1/r) ∪ {∞} , r > 0 .


! !
Desta forma, a sucessão zn , n ∈ N (de termos em C) diz-se convergente ao ponto z ∈ C sse para
qualquer que seja o número positivo r > 0, então todos os termos de zn , n ∈ N com ordens superiores
!
a determinado natural, são elementos de D(z, r). O conjunto C munido com a noção de convergência
acima é usualmente designado por plano complexo compactificado a um ponto. As definições
topológicas elementares resultam do conceito de conjunto aberto. Por seu turno, os abertos do plano
compactificados são os conjuntos união de discos abertos, eventualmente discos centrado no ponto
!
infinito. As operações algébricas naturais no plano complexo compactificado C extendem as operações
entre números complexos por intermédio das seguintes definições
!
1/0 = ∞ ; z∞ = ∞z = ∞ (z )= 0 , z ∈ C) ; z/∞ = 0 (z ∈ C) e z+∞ = ∞+z = ∞ (z ∈ C) .

Funções complexas de variável complexa são identificadas com funções de duas variáveis reais e com
imagens em R2 , i.e. fixa uma função f : U ⊂ C → C identificamos U com um subconjunto de R2 e

Luı́s V. Pessoa
24 1.4. Métrica e geometria elementares

a função f (z) com f (x, y) := f (x + iy), aonde f (x + iy) é identificado com um par ordenado em R2 .
Em diversas situações consideraremos sem menção as observações atrás. A definição de continuidade
para funções de variável complexa decorre da forma habitual. Assim, a identificação entre funções de
variável complexa e funções dependentes de duas variáveis reais, preserva a noção de continuidade i.e.
f (z) é contı́nua sse f (x, y), z = x + iy é contı́nua. Por exemplo, as funções racionais R(z, z) na variável
complexa e complexa conjugada, são funções contı́nuas no seu domı́nio. De facto, as partes reais e
imaginárias são funções racionais nas variáveis x, y ∈ R.
! !
A respeito de funções g : D ⊂ C → C, a noção de continuidade poder-se-á introduzir da forma usual e
recorrendo à definição de Heine. Assim porque acima introduziu-se a noção de convergência a qualquer
!
ponto do plano compactificado. Em resumo, g diz-se contı́nua à Heine no ponto w ∈ C se para qualquer
sucessão zn , n ∈ N convergente a w verifica-se lim g(zn ) = g(w). A noção de continuidade de Cauchy
no ponto w, por igual introduz-se de forma semelhante ao caso real, eventualmente considerando discos
!
centrados no ponto infinito. Diz-se que g é contı́nua à Cauchy no ponto w ∈ C se para qualquer disco
D(g(w), δ), δ > 0 existe ( > 0 verificando f (D(w, ()) ⊂ D(g(w), δ). A noção de continuidade à Heine
equivale à noção de continuidade de Cauchy .

Exemplos
2 2
1. Considerem-se funções racionais R(z) := P (z)/Q(z), aonde P (z) = k pk z k e Q(z) = qk z k são
polinómios não identicamente nulos com graus respectivamente dados por n e m. Então R(z) admite
limite no ponto infinito dado por
 pn

 se n = m

 qn
lim R(z) = ∞ se n > m .
z→∞ 



0 se n < m
Sem perda de generalidade supõe-se a não existência de zeros comuns ao numerador e denominador.
Logo R(z) admite limite infinito em qualquer complexo anulando o denominador. Defina-se R(z) nos
zeros do denominador ou no ponto infinito por intermédio do valor do seu limite, para concluir-se que
!
qualquer função racional é contı́nua em C. No entanto, nem todas as funções racionais R(z, z) são
contı́nuas no plano complexo compactificado, e.g. R(z, z) = z/z.

O plano complexo identifica-se canonicamente com um subespaço do espaço euclidiano de dimensão


três. Observe que o segmento de recta entre o complexo z = x + iy e o “pólo norte” p = (0, 0, 1),
intercepta S 2 (a esfera de raio unitário no espaço R3 ) num e só num ponto φ(z). Ademais, o pólo norte
é o único ponto da esfera que não é imagem de nenhum complexo, tanto p = limz→∞ φ(z). Definindo
# $
! 2 Re z 2 Im z |z|2 − 1
φ : C → S 2 , aonde φ(z) = , , e φ(∞) = p
|z|2 + 1 |z|2 + 1 |z|2 + 1
deduz-se que φ é função contı́nua com inversa contı́nua. A função φ−1 é usualmente designada por
projecção estereográfica. Poder-se-ia dizer que o plano complexo compactificado identifica-se continu-
amente com esfera de Riemann S 2 e assim sendo detêm a mesma estrutura topológica.

Luı́s V. Pessoa
Números complexos 25

p
Φ!z"
z i!

Figura 1.7: A esfera de Riemann S 2 e o plano complexo compactificado

Terminamos a secção observando que tanto discos quanto circunferências poderiam ter sido introduzi-
dos de forma semelhante às definições de recta e semi-plano, respectivamente em (1) e (2). De facto,
considerando o circulo centrado na origem de raio |a|, a ∈ C e tendo em linha de conta a evidente
, -
igualdade Re [(z − a)(z + a)] = Re |z|2 − |a|2 + 2i Im(za) = |z|2 − |a|2 , obtém-se sucessivamente que
z−a
|z| = |a| sse Re [(z − a)(z + a)] = 0 sse Re = 0 ou z = −a , z ∈ C . (3)
z+a
Se z ∈ ∂D(w, r) então z − w ∈ ∂D(0, r). Se a, b ∈ ∂D(w, r) são tais que o segmento de recta de a a b
é um diâmetro de ∂D(w, r) então w = (a + b)/2 , r = |a − b|/2. De (3) verifica-se sem dificuldades que
0 1
z−a
∂D(w, r) = z ∈ C : Re = 0 ∪ {b}, aonde a = w + reiθ , b = w − reiθ (θ ∈ R) . (4)
z−b
O circulo ∂D(w, r), w ∈ C, r > 0 divide o plano complexo em duas componentes conexas disjuntos,
precisamente o disco D(w, r) e o complementar do seu fecho. A função ϕ(z) = Re[(z − a)/(z − b)] é
sobrejectiva e continua no plano complexo compactificado. Porque funções contı́nuas transformam co-
nexos em conexos então ϕ tem sinal constante em D(w, r). É obvio que T (∞) = 1 e consequentemente
0 1
z−a
D(w, r) = z ∈ C : Re < 0 , aonde a = w + reiθ , b = w − reiθ (θ ∈ R) .
z−b

1.4 Problemas
1. Represente as seguintes regiões no plano complexo:
n √ √ o
i) {z : Re z Re(1/z) > 0} ; ii) z : | 2 + i 2 − 2z| > 2 ;

n √ √ o n √ o
iii) z : ( |z| − 1 )( | 2 + i 2 − 2z| − 2 ) < 0 ; iv) z : Re[ ( 3 + i)z ] ≥ 0 ;

˘ ¯
v) {z : |z| Re(iz) ≥ Re(iz)} ; vi) z : |z| Re(iz 2 ) ≥ Re(iz 2 ) ;

n √ √ o ˘ ¯
vii) z : Im[ ( 3 + i)z ] Im[ (i − 3)z ] > 0 ; viii) z : Re[ (iz + i)(1 − z)−1 ] > 0 ;

˘ ¯
ix) z : Im[ (1 − i)z 3 ] + |z|2 Im[ (1 + i)z ] < 0 ; x) {z : |z − i| > |z + i|} ;

xi) {z : |z − 1| + |z + 1| = 4} ; xii) {z : |z| −| z − 2| > 2} .


Sugestão: Para a alı́nea ix) poder-lhe-á ser útil considerar a igualdade 2 Re z Im w = Im(zw) + Im(zw).

Luı́s V. Pessoa
26 1.4. Métrica e geometria elementares

2. Considere números complexos distinto dois a dois zj , j = 1, · · · , n (n ≥ 3). Justifique que


zj − z2
Im = 0 , j = 1, · · · n sse os complexos zj , j = 1, · · · , n são colineares.
z1 − z2
3. Demonstre sucessivamente as seguintes asserções:
i) se Rξ é a recta que passa por a origem e por o ponto ξ então
˘ ¯
Rξ = z : ξz − ξz = 0 ;

ii) se Rξ,η é a recta que passa por os números complexos distintos ξ e η então
˘ ¯
Rξ,η = z : (ξ − η)z − (ξ − η)z = 2i Im(ηξ) ;

iii) se a e b são complexos verificando a '= 0 e b ∈ R, então o conjunto das soluções da equação az + az = 2b
define uma recta no plano complexo.

4. Se A ⊂ C é conjunto não vazio e z ∈ C, então dist (A, z) denota a distância de A ao ponto z, i.e.

dist (A, z) := inf{|z − w| : w ∈ A} .

Considere números complexos ξ e η, tais que ξ '= η. Demonstre sucessivamente as seguintes asserções:
i) Existe um único numero real t verificando a condição i(ξ − η)t ∈ Rξ,η ;
ii) É válida a seguinte igualdade ˛ ˛
˛ Im(ηξ) ˛
dist (Rξ,η , 0) = ˛˛ ˛;
ξ−η ˛
iii) A recta Rξ,η passa por a origem sse Im(ηξ) = 0.

5. Pode dizer-se que Re(az) = 1, a ∈ C\{0} é a equação geral das rectas que não passam na origem. De facto:
i) Considere a '= 0 fixo. Mostre que o conjunto {z : Re(az) = 1} , é uma recta que não passa por a origem.
Em função de a, determine complexos ξ e η tais que Rξ,η = {z : Re(az) = 1} ;
ii) Suponham-se fornecidos complexos distintos ξ e η, tais que 0 ∈
/ Rξ,η . Em função de ξ e η, determine um
complexo a tal que Rξ,η = {z : Re(az) = 1}.

6. Suponha fornecida uma recta R := {z : Re(az) = 1} , aonde a '= 0. Verifique que 1/a é o ponto de R “mais
próximo” da origem (poder-lhe-á ser útil considerar o problema 4).

7. Considere a reflexão αξ : C → C, relativa à recta Rξ que passa pela origem e intercepta a circunferência
unitária no ponto ξ. Diz-se que αξ (z) é a imagem simétrica de z, relativa à recta Rξ .
i) Mostre que αξ (z) = ξ 2 z.
ii) Se Rξ = {xzm : x ∈ R} , aonde zm = (1 + im) e m ∈ R então

zm (1 − m2 ) + i2m
αξ (z) = z= z.
zm 1 + m2

8. Considere a reflexão αξ,η : C → C relativa à recta Rξ,η (ξ, η ∈ C, ξ '= η). Justifique a seguinte igualdade

ξ(z − η) − η(z − ξ)
αξ,η (z) = .
ξ−η

9. Considere números complexos ξ, η, w tais que ξ '= η. Justifique a evidência das seguintes igualdades

Πξ,η = C\cl Πη,ξ , Πw+ξ,w+η = w + Πξ,η e Πwξ,wη = wΠξ,η .

Luı́s V. Pessoa
Números complexos 27

10. Considere um número natural k e uma sucessão complexa an , n ∈ N tal que

lim (an+1 + · · · + an+k ) existe em C.


n

i) Mostre que limn (an+k − an ) = 0 ;


ii) Fixo k ∈ N1 , considere θk = 2π/k e an = En (iθk ) , n ∈ N. Mostre que a sucessão an , n ∈ N verifica as
condições do enunciado e limn an não existe.

11. Considere um número complexo z. A sucessão zn , n ∈ N diz-se a sucessão geométrica de razão z. Mostre
sucessivamente as seguintes asserções:
i) Se |z| > 1 então limn z n = ∞;
ii) Se |z| < 1 então limn z n = 0;
iii) Se |z| = 1 e z '= 1 então limn z n não existe.

12. Considere uma sucessão an , n ∈ N de termos reais positivos. De acordo com as convenções usuais 1/0+ = +∞
e 1/ + ∞ = 0 verifique a seguinte igualdade
1 1
lim sup = .
an lim inf an
13. Determine os únicos números reais t e τ , respectivamente tais que

z(1 − t) + pt ∈ S 2 , z ∈ C e p(1 − τ ) + φ(z)τ ∈ R2 , φ(z) ∈ S 2 \{p} .

Deduza o seguinte
„ «
2 Re z 2 Im z |z|2 − 1 η1 + iη2
φ(z) = , , , z∈C e φ−1 (η) = , η = (η1 , η2 , η3 ) ∈ S 2 \{p} .
|z|2 + 1 |z|2 + 1 |z|2 + 1 1 − η3

14. Demonstre que rectas que passam na origem e cı́rculos centrados na origem são respectivamente transfor-
mados por a projecção estereográfica em cı́rculos meridianos e cı́rculos paralelos.

1.5 Transformações lineares-fracionárias


Designam-se por transformações lineares-fracionárias, as funções racionais cujos denominador e
numerador são funções afins, i.e. são as funções T (z) definidas no plano complexo compactificado por
az + b !
T (z) = , aonde a, b, c, d ∈ C (z ∈ C) .
cz + d

É usual designar as transformações lineares-fracionárias por transformações de Möbius. Se c = 0, a


boa definição de T (z) requer d )= 0. Caso em que T (z) é a função linear afim T (z) = (a/c)z + (b/c). As
funções lineares afins z → Az + B, A, B ∈ C são a composição da dilatação z → |A|z, com a rotação
z → e arg A z e finalmente com a translação z → z + B. Tanto dilatações quanto rotações e translações
são caracterizadas por significados geométricos elementares e bem conhecidos. Se c )= 0 então
1 (az + ad/c) + (b − ad/c) a ad − bc 1 !
T (z) = = + , z∈C (c )= 0) . (1)
c z + d/c c c cz + d

Em quaisquer dos casos, a transformação T (z) é não constante sse ad − bc )= 0, condição adiante
assumida. De (1) deduz-se que as transformações lineares-fracionárias resultam da composição de
translações, rotações, dilatações e da função z 4→ 1/z. A linear-fraccionária S(z) = 1/z é usualmente

Luı́s V. Pessoa
28 1.5. Transformações lineares-fracionárias

! !
designada por transformação de inversão. A inversão é bijectiva de C em C, admite inversa contı́nua
(diz-se um homeomorfismo) e actua de forma notável em circunferências ou em rectas.

Iniciamos por considerar o lugar geométrico da imagem de cı́rculos por intermédio da transformação
de inversão. Considerem-se números complexos a e b, tais que o segmento de recta de a a b é um
diâmetro do circulo C. Subdividimos o estudo em dois casos distintos. Se 0 ∈ / C, então é possivel
escolher a e b tais que a = λb, para algum λ ∈ R. Então, para qualquer z ∈ C e w = 1/z, verifica-se
# −1 $ # −1 $
w −a a −w
0 = Re = λ Re , z )= b . (2)
w−1 − b b−1 − w

Logo, w varia na circunferência cujo diâmetro é o segmento de recta entre 1/a e 1/b. Se 0 ∈ C, então
é possı́vel escolher b = 0. Argumentos semelhantes aos anteriores establecem
# −1 $
w −a
0 = Re = 1 − Re (aw) , z )= 0 . (3)
w−1

Logo, w varia na única recta na qual incluem-se os complexos 1/a e (1 + i)/a (ver problema [5 sec.1.4]).
De seguida consideramos o lugar geométrico da imagem de rectas por intermédio da função de inversão.
Diremos que L é uma recta no plano complexo compactificado se L ∩ C é uma recta no plano
!
complexo e ∞ ∈ L. Se L é uma recta em C que passa por a origem então é evidente que sua imagem
por z 4→ 1/z é uma recta que passa por a origem. Suponha-se que a recta L não passa por a origem,
z ∈ L e w = 1/z. Então, o problema [5 sec.1.4] assegura-nos a existência dum complexo não nulo a
verificando
* + w−a
0 = Re 1 − aw−1 = Re , z )= ∞ . (4)
w
Logo, w varia na circunferência cujo diâmetro é dado por o segmento de recta entre a origem e a.
!
Em diante designamos por circulo no plano complexo compactificado, quaisquer rectas em C ou
cı́rculos no plano complexo.
! !
Proposição 1 Transformações linear-fraccionárias são bijectivas de C em C, continuas e admitem
!
inversa contı́nua. Transformam cı́rculos do plano complexo compactificado em cı́rculos de C.

Demonstração: Considere-se a transformação linear-fracionária T (z) = (az + b)/(cz + d), aonde


ad−bc )= 0. Resta mostrar que T é um homeomorfismo no plano complexo compactificado. Resolvendo
a equação T (z) = w, sem dificuldades obtém-se o seguinte

dz − b !
T −1 (z) = , z ∈ C. (5)
−cz + a
!
Logo T −1 é linear-fraccionaria e em consequência contı́nua em C.

Exemplos
1. A demonstração da proposição anterior estabelece critérios efectivos para determinar funções
lineares-fracionárias transformando determinado circulo ou recta em determinada recta ou circulo.

Luı́s V. Pessoa
Números complexos 29

! !
Por exemplo, se R designa o eixo real compactificado a um ponto, i.e. R := R ∪ {∞} então procure-se
uma linear fraccionária cuja imagem do eixo real corresponde ao circulo unitário. A recta R + i não
passa na origem. Como R + i = {z : Re(z/i) = 1} então a inversão de R + i corresponde ao circulo com
diâmetro dado por o segmento de recta entre −i e a origem. Assim, a transformação linear fraccionária
z→z+i z→1/z 1 z→2z 2 z→z+i 2 z−i
R#z &−→ z +i &−→ &−→ &−→ + i ∈ ∂D(0, 1) i.e. T (z) = i ,
z+i z+i z+i z+i
transforma o eixo real compactificado a um ponto, bijectivamente no circulo unitário ∂D(0, 1).

2. Do exemplo anterior sabemos que qualquer linear-fracionaria da forma M (z) = ξT (z), |ξ| = 1
transforma o eixo real no circulo unitário. Se M (z) = −iT (z) então com S(z) = M −1 (z) obtemos que
S(z) transforma o circulo unitário no eixo real compactificado a um ponto. Argumentos de continuidade
tanto de conexidade estabelecem que S(D(0, 1)) coincide com o semi-plano inferior ou superior. Como
S(0) = i ∈ Π então S(D(0, 1)) = Π.

1 z"1
z!
i z#1

Figura 1.8: Transformação de Möbius S(z)

Poder-se-á revelar fastidioso seguir a demonstração da proposição 1 para determinar uma função linear-
fracionária que transforme um dado circulo no plano complexo compactificado num outro. Expõe-se
de seguida um procedimento alternativo.

Um circulo no plano complexo compactificado é determinado por três dos seus elementos. De facto,
para cada triplo de pontos distintos dois a dois no plano complexo compactificado zj , j = 1, 2, 3,
!
existe um único circulo em C que inclui os três pontos, respectivamente uma recta no plano complexo
compactificado ou um circulo em C, se os elementos zj , j = 1, 2, 3 são coliniares ou não. Na frase
anterior deve entender-se que se algum dos pontos zj , j = 1, 2, 3 coincide com ∞ então os elementos
zj , j = 1, 2, 3 dizem-se colineares.

Suponha-se que C1 e C2 são cı́rculos no plano compactificado. Escolham-se triplos de elementos


distintos dois a dois e tais que zj ∈ C1 , j = 1, 2, 3 e wj ∈ C2 , j = 1, 2, 3. Por igual suponham-se
conhecidas transformações lineares-fracionárias T e S verificando as seguintes condições

T (z1 ) = S(w1 ) = 0 , T (z2 ) = S(w2 ) = 1 e T (z3 ) = S(w3 ) = ∞.

Luı́s V. Pessoa
30 1.5. Transformações lineares-fracionárias

z2

z1 z3

z2
z1
z3

Figura 1.9: Os complexos z1 , z2 e z3 determinam um circulo no plano complexo compactificado

!
Então S −1 T é uma transformação linear fraccionária cuja imagem de C1 é um circulo em C e inclui
wj , j = 1, 2, 3. Logo a imagem de C1 por S −1 T é C2 . Fixos pontos zj , j = 1, 2, 3 no plano complexo
compactificado, distintos dois a dois, então a linear fraccionária z → (z ; z1 , z2 , z3 ), definida por
z2 − z3 z − z1
(z, z1 , z2 , z3 ) := , zj )= ∞ , j = 1, 2, 3
z2 − z1 z − z3
ou, se respectivamente z1 = ∞, z2 = ∞ ou z3 = ∞, dada por
z2 − z3 z − z1 z − z1
, ou ,
z − z3 z − z3 z2 − z1
transforma respectivamente z1 , z2 , z3 em 0, 1, ∞. Desta forma estabeleceu-se um algoritmo para de-
terminar uma transformação linear-fraccionária cuja imagem de determinado circulo seja um outro
previamente fixado.

Proposição 2 Fornecidos pontos z1 , z2 , z3 no plano complexo compactificado, distintos dois a dois,


então existe uma única transformação linear-fraccionária T (z) tal que T (zj ) = wj , j = 1, 2, 3. A função
T (z) pode ser obtida resolvendo a equação

(z, z1 , z2 , z3 ) = (w, w1 , w2 , w3 ) aonde w = T (z) . (6)

Demonstração: A existência da linear-fracionária T (z) encontra-se demonstrada nos parágrafos


anteriores. A unicidade afixa-se de seguida. De facto, se existem lineares fraccionárias T (z) e S(z) tais
que T (zj ) = S(zj ), j = 1, 2, 3, então S −1 T é linear fraccionária admitindo três pontos fixos distintos.
Suponha-se que S −1 T (z) = (az + b)/(cz + d) e que zj )= ∞, j = 1, 2, 3. A igualdade S −1 T (zj ) = zj
significa que zj , j = 1, 2, 3 é solução da equação quadrática cz 2 + (d − a)z − b = 0. Logo c = b = 0
e d = a. Em consequência S −1 T é a função identidade, i.e. S = T . Se algum zj coincide com ∞
então c = 0 e a equação z(a/d) + (b/d) = 0 admite duas soluções distintas. Logo a = b = 0, e deduz-
se o absurdo S −1 T = 0. Para terminar defina-se M (z) = (z, z1 , z2 , z3 ). A linear-fracionária M T −1
transforma T (z1 ), T (z2 ) e T (z3 ) respectivamente em 0, 1, ∞. Por unicidade obtém-se

M T −1 (z) = (z, T (z1 ), T (z2 ), T (z3 )) i.e. M (z) = (T (z), w1 , w2 , w3 ).

Dado um triplo de números complexos distintos zj , j = 1, 2, 3 então o conjunto dos elementos no plano
complexo compactificado que verifica a seguinte condição 1

Im(z ; z1 , z2 , z3 ) = 0 ou z = z3 (7)
1O leitor deverá ter presente que não se definiu parte real tanto parte imaginária do ponto ∞.

Luı́s V. Pessoa
Números complexos 31

coincide com a imagem inversa do eixo real compactificado por intermédio da transformação linear-
fraccionára T (z) := (z ; z1 , z2 , z3 ). Logo coincide com a imagem do eixo real compactificado por in-
termédio duma linear-fraccionária. Deduz-se que o conjunto dos pontos que verifica (7) é uma recta no
plano complexo compactificado ou um circulo, respectivamente se os pontos zj , j = 1, 2, 3 são coline-
ares ou não. Também qualquer circulo no plano complexo compactificado pode ser descrito da forma
(7). Para tal é suficiente considerar quaisquer triplo de complexos distintos nele incluı́dos. Assim (7)
poder-se-ia designar como a equação geral dos cı́rculos no plano complexo compactificado.

Seja C um circulo no plano compactificado e pontos zj , j = 1, 2, 3 ∈ C distintos dois a dois. Se


ϕ(z) := Im(z ; z1 , z2 , z3 ) então ϕ é função contı́nua no plano compactificado. O conjunto C divide o
plano complexo em dois conjuntos abertos e conexos disjuntos. Como ϕ é contı́nua então tem sinal
constante em cada uma das componentes conexas do complementar de C. Assim, o sinal de ϕ permite
distinguir as componentes conexas. Qualquer triplo ordenado de pontos (z1 , z2 , z3 ), z1 , z2 , z3 ∈ C diz-
se uma orientação de C. A esquerda e a direita do circulo no plano complexo compactificado C,
orientado por (z1 , z2 , z3 ), são respectivamente os subconjuntos
0 1 0 1
! !
z ∈ C : Im(z ; z1 , z2 , z3 ) > 0 e z ∈ C : Im(z ; z1 , z2 , z3 ) < 0 .

Proposição 3 Suponha C circulo no plano complexo compactificado, orientado por o triplo ordenado
(z1 , z2 , z3 ) e T uma transformação linear-fraccionária. Se o circulo T (C) é orientado por o triplo
ordenado (T (z1 ), T (z2 ), T (z3 )) então a direita e esquerda de C são respectivamente transformados na
direita e esquerda de T (C).

Demonstração: A demonstração termina se demonstrada a seguinte igualdade


!
(z, z1 , z2 , z3 ) = (T (z), T (z1 ), T (z2 ), T (z3 )) , z ∈ C . (8)

Se z = zj , j = 1, 2, 3 então (8) é evidente. Sabemos da proposição 2 que lineares-fracionárias estão


determinadas por os valores que assumem em três pontos distintos dois a dois. Deduz-se (8).

Justificamos de seguida o significado geométrico do conceito de orientação dum dado circulo no plano
compactificado. Seja C um circulo em C orientado por o triplo (z1 , z2 , z3 ), zj ∈ C (j = 1, 2, 3).
Considerando coordenadas polares com origem no centro de C, então existem números reais r > 0 e
0 ≤ θj < 2π tais que zj = reiθj , j = 1, 2, 3. Como nenhum zj , j = 1, 2, 3 iguala o ponto infinito então

z 2 − z 3 z − z1 eiθ2 − eiθ3 sin[(θ2 − θ3 )/2]


lim Im(z ; z1 , z2 , z3 ) = lim Im = Im iθ2 = Im ei(θ3 −θ1 )/2
z→∞ z→∞ z 2 − z 1 z − z3 e − eiθ1 sin[(θ2 − θ1 )/2]

sin[(θ2 − θ3 )/2] sin[(θ3 − θ1 )/2]


= .
sin[(θ2 − θ1 )/2]

Considerando as desigualdades −π < (θj − θk )/2 < π, j = 1, 2, 3 deduz-se que o sinal de (z ; z1 , z2 , z3 )


na componente conexa ilimitada do complementar de C coincide com o sinal de

(θ2 − θ3 )(θ3 − θ1 )(θ2 − θ1 ). (9)

Luı́s V. Pessoa
32 1.5. Transformações lineares-fracionárias

Se definirmos as orientações positivas como o conjunto dos triplos ordenados (z1 , z2 , z3 ) tais que
Im(z ; z1 , z2 , z3 ) < 0, para z na componente conexa ilimitada do complementar de C, então a orientação
(z1 , z2 , z3 ) é positiva em um dos dois seguintes casos: um dos factores em (9) é negativo e os restantes
positivos ou então todos os factores em (9) são negativos, i.e.

θ 2 < θ3 < θ1 , θ 1 < θ2 < θ3 ou θ3 < θ1 < θ2 .

Assim, se o circulo é percorrido sem intercepções de z1 a z2 e por sua vez a z3 , então a orientação
positiva corresponde a percorrer o circulo por formas a deixar o disco à esquerda. Orientação essa
também designada por orientação contrária ao sentido dos ponteiros do relógio. Abandonam-se
ao cuidado do leitor, eventuais dissertações acerca significados geométricos de orientação de rectas no
plano complexo.

1.5 Problemas
1. Identifique a transformaçao linear-fracionária T (z) = (az + b)/(cz + d) com a matriz A ∈ C2×2 dada por
" #
a b
A := ∈ C2×2 .
c d

Demonstre sucessivamente as seguintes asserções:


i) Se S é linear-fracionária identificada com a matriz B então a composição de lineares-fracionárias T ◦ S
é uma transformação linear-fracionária e identifica-se com o produto de matrizes AB;
ii) A transformação linear fracionária T −1 identifica-se com a matriz (cof A)t ;
iii) Forneça exemplos de lineares-fracionárias S e T tais que a função z → S(z) + T (z) não é uma trans-
formação linear-fracionária. Finalmente, demonstre que a linear-fracionária λT, λ ∈ C (λ '= 0) não se
identifica com a matriz λA.
!
2. Seja T (z) = 1/z, z ∈ C e suponha que T transforma cı́rculos do plano complexo compactificado em cı́rculos
do plano complexo compactificado. Sem utilizar os passos da demonstração da proposição 1, demonstre suces-
sivamente as seguintes asserções:
a) Se C = ∂D(z, r), aonde z ∈ C e r > 0 então

i) Se 0 ∈ C então T (C ) = Rµ,ν , aonde µ = (1 + i)/(2z) e ν = (1 − i)/(2z);


/ C então T (C ) = ∂D(w, δ), aonde w = z/(|z|2 + r2 ) e δ = r/(|z|2 + r2 ).
ii) Se 0 ∈

b) Se C = Rξ,η , aonde ξ, η ∈ C e η '= ξ, então

i) Se 0 ∈ C então T (C ) = Rµ,ν , aonde µ = ξ e ν = η;


ii) Se 0 ∈
/ C então T (C ) = ∂D(w, δ), aonde w = i(η − ξ)/ Im(2ηξ) e δ = |η − ξ|/| Im(2ηξ)|.

3. Esboce no plano complexo os conjuntos Ω indicados nas seguintes alı́neas:


a) O conjunto Ω consiste no conjunto das imagem, por intermédio da transformação linear fraccionária
z → 1/(z − i), das regiões indicadas nas seguintes alı́neas:
 !
ff  !
ff
i) Ω := z ∈ C : Im z > 0 ; ii) Ω := z ∈ C : Re z > 0, Im z > 0 ;
 !
ff  !
ff
iii) Ω := z ∈ C : Re z > 0, Im z > 0, |z| < 1 ; iv) Ω := z ∈ C : 0 < Re z < 1, 0 < Im z < 1 .

Luı́s V. Pessoa
Números complexos 33

b) O conjunto Ω é definido por Ω := f (Π), aonde as funções f (z) são indicadas nas seguintes alı́neas:
1 z z−1 1
i) f (z) := ; ii) f (z) := ; iii) f (z) := ; iv) f (z) := .
z+i z+i iz − 1 z2

4. Seja T (z) a transformação de inversão. Represente T (Ω) no plano complexo, aonde Ω é a região definida por

Ω := {x + iy : |x| + |y| < 1 , x, y ∈ R} .

5. Seja T (z) uma transformação linear-fraccionária. Demonstre sucessivamente o seguinte:


i) T (R) = R sse existem a, b, c, d ∈ R tais que

az + b
T (z) = , a, b, c, d ∈ C aonde ad − bc '= 0 .
cz + d

ii) T (Π) = Π sse verifica-se i) e ad − bc > 0.


!
6. Considere pontos zj ∈ C, j = 1, 2, 3 distintos dois a dois. Justifique as seguintes asserções:
i) (z ; z1 , z2 , z3 ) ∈ R sse z é elemento do circulo (no plano compactificado) definido por z1 , z2 e z3 ;
ii) (z ; z1 , z2 , z3 ) ∈ R, ∀z∈R sse zj ∈ R, j = 1, 2, 3.

7. Considere C um circulo no plano complexo compactificado e uma transformação linear-fraccionária T (z) tal
que “T (C ) ”= R. Definimos αC (z), a imagem simétrica de z, relativa ao circulo C por intermédio αC (z) =
T −1 T (z) . Demonstre sucessivamente as seguintes asserções:
i) A imagem simétrica αC está bem definida, i.e. se S(z) é linear-fraccionária tal que S(C ) = R então
“ ” “ ” !
S −1 S(z) = T −1 T (z) , z ∈ C;

ii) Se existem complexos ξ e η tais que ξ '= η e C = Rξ,η , então αC (z) = αξ,η , aonde a aplicação αξ,η
encontra-se definida no problema [8 sec.1.4];
iii) Suponha C = ∂D(0, r), r > 0 e verifique as seguintes propriedades

r2
αC (z) = , |zαC (z)| = r2 e arg αC (z) = arg z , z ∈ C .
z
8. Suponha fornecida uma recta L com orientação (z1 , z2 , ∞), zj ∈ L, z1 '= z2 (j = 1, 2). Verifique que o lado
esquerdo da recta orientada L coincide com o semi-plano Πz1 ,z2 . Assim, Πz1 ,z2 é o lado esquerdo da recta L
orientada por (z1 , z2 , ∞). Justifique a evidência da igualdade T (Πz1 ,z2 ) = ΠT (z1 ),T (z2 ) , para qualquer que seja
a linear-fraccionária T .
!
9. Defina as orientações positivas do eixo real R, como aquelas cujo lado esquerdo de R corresponde ao semi-plano
superior. Caracterize geometricamente as orientações positivas do eixo real.

Luı́s V. Pessoa
Capı́tulo 2

Funções analı́ticas

2.1 Séries numéricas


Dada uma sucessão an , n ∈ N de termos complexos, definimos a sucessão das somas parciais
Sn , n ∈ N1 , cujo termo de ordem n é a soma dos n primeiros termos da sucessão an , n ∈ N, i.e.

Sn = a0 + · · · + an−1 , n ∈ N1 .

Exemplos
1. [Série telescópica] Considere-se a sucessão telescópica an = cn − cn+1 , n ∈ N, aonde cn , n ∈ N é
uma sucessão de termos complexos. Tendo em conta que
n−1
) n−1
) n−1
) n−1
) n−1
) n
)
ak = (ck − ck+1 ) = ck − ck+1 = ck − ck = c0 − cn , n ∈ N1 ,
k=0 k=0 k=0 k=0 k=0 k=1

obtemos
Sn = c0 − cn , n ∈ N1 .

De forma semelhante, fixo um natural j ∈ N2 , considere-se bn = cn − cn+j , ∈ N. Então

n−1
) n−1
) n−1
) n+j−1
) j−1
) n+j−1
)
bk = (ck − ck+j ) = ck − ck = ck − ck , n ≥ j .
k=0 k=0 k=0 k=j k=0 k=n

2. [Série geométrica] Seja an , n ∈ N a progressão geométrica de razão z ∈ C, i.e. an = z n , n ∈ N.


Tendo em linha de conta as seguintes igualdades
* + * +
(1 − z) 1 + z · · · + z n−1 = 1 + z · · · + z n−1 − (z + · · · + z n ) = 1 − z n ,

deduz-se 
 1−z
n

, z )= 1
Sn = 1−z , para n ∈ N1 .

 n ,z=1
36 2.1. Séries numéricas

3. Fixa um sucessão de termos complexos an , n ∈ N e um numero natural positivo k, consideramos a


sucessão das somas parciais
n
)
Sn (j) = k j (ak − ak+1 ) , n ∈ N1 .
k=1

Pretendemos obter uma fórmula de recorrência em j para as somas Sn (j) , j ∈ N. Tendo em linha de
conta o binómio de Newton, obtém-se
n
) n
) n
, j - ) , -
Sn (j) = k j (ak − ak+1 ) = k ak − (k + 1)j ak+1 + (k + 1)j − k j ak+1
k=1 k=1 k=1
n
) j−1 # $ )
n j−1 # $ )
n
, j - ) j ) j
= k ak − (k + 1)j ak+1 + k l ak+1 = a1 − (n + 1)j an+1 + k l ak+1 .
l l
k=1 l=0 k=1 l=0 k=1

Em particular, é válida a seguinte fórmula


j−1 # $ )
) n
j
Sn (j) = a1 − (n + 1)j an+1 + k l ak+1 . (1)
l
l=0 k=1

Suponha-se que a sucessão an , n ∈ N é uma progressão geométrica, i.e. an = z n , n ∈ N. Para j ∈ N


fixo, denote-se por Tn (j), o termo de ordem n da sucessão das somas parciais

z + 2j z 2 + · · · + n j z n , n ∈ N 1 .

Para quaisquer que sejam j ∈ N e n ∈ N1 , verifica-se


n
) n
)
Sn (j) = k j (z k − z k+1 ) = (1 − z) k j z k = (1 − z)Tn (j) .
k=1 k=1

Consequentemente, de (1) infere-se


j−1 # $ n
1 z − (n + 1)j z n+1 z ) j ) l k
Tn (j) = Sn (j) = + kz
1−z 1−z 1−z l
l=0 k=1
j−1 # $
z − (n + 1)j z n+1 z ) j
= + Tn (l).
1−z 1−z l
l=0

Mostrámos que é possı́vel calcular as somas parciais Tn (j) por intermédio de combinações lineares das
somas parciais Tn (l) , l = 0, · · · , j − 1, i.e. é válida a seguinte fórmula de recorrência
j−1 # $
z − (n + 1)j z n+1 z ) j
Tn (j) = + Tn (l) , j ∈ N , n ∈ N1 . (2)
1−z 1−z l
l=0

Determinamos Tn (1) por intermédio de aplicação da fórmula (2). Como Tn (0) é a sucessão das somas
parciais da progressão geométrica, obtemos sucessivamente

z − (n + 1)z n+1 z 2 − z n+2 z − (n + 1)z n+1 + nz n+2


Tn (1) = z + 2z 2 + · · · + nz n = + = , z )= 1.
1−z (1 − z)2 (1 − z)2

Luı́s V. Pessoa
Funções analı́ticas 37

2
Definição 1 Fixa uma sucessão an , n ∈ N de termos complexos, diz-se que a série n=0 an é con-
vergente se a sucessão das somas parciais tem limite finito, i.e. se
n−1
)
lim Sn = lim ak existe em C.
n n→+∞
k=0
2 2
A série n=0 an diz-se divergente no caso contrário. Se n=0 an converge, a sua soma é o número
2∞
complexo s := limn Sn e denotamo-lo por n=0 an .

Exemplos
2 2
4. Suponha-se que n=0 an e n=0 bn são duas séries convergentes. Mostraremos de seguida que a
2
série n=0 (an + bn ) é convergente. Se Sn , Tn e Un denotam respectivamente os termos de ordem n
2 2 2
das sucessões das somas parciais das séries n=0 an , n=0 bn e n=0 (an + bn ) então

Un = (a0 + b0 ) + · · · + (an−1 + bn−1 ) = (a0 + · · · an−1 ) + (b0 + · · · bn−1 ) = Sn + Tn , n ∈ N1 .

Como as sucessões de termo geral Sn e Tn são sucessões convergentes então Un , n ∈ N1 é uma sucessão
convergente e

) ∞
) ∞
)
(an + bn ) = lim Un = lim(Sn + Tn ) = lim Sn + lim Tn = an + bn .
n n n n
n=0 n=0 n=0
2
De forma semelhante mostra-se que n=0 α an , α ∈ C é convergente e é válida a seguinte igualdade

) ∞
)
α an = α an , α ∈ C.
n=0 n=0

5. Considere-se a sucessão an = (−1)n , n ∈ N e Sn o termo geral da sucessão das somas parciais da


2
série n=0 an . Tendo em conta que

S2n = (a0 + a1 ) + · · · + (a2n−2 + a2n−1 ) = 0 e S2n+1 = S2n + a2n = 1 ,

conclui-se que as subsucessões dos termos pares e dos termos ı́mpares de Sn , n ∈ N1 convergem a
2
limites distintos. Logo, a série n=0 (−1)n diverge.

2 2 2
Em alternativa à notação n=0 an , utilizamos n an ou an , de acordo com critérios de simplicidade
2 2
e consoante a adequação gráfica. A simbologia n=k an denota a série n=0 an+k . A omissão do ı́ndice
2
inferior no sı́mbolo an , não deverá causar confusão, e em consideração das seguintes observações.
Mostramos abaixo que a convergência ou divergência duma série não depende do ı́ndice aonde se inicia
a “soma”. Ao que respeita à soma de séries convergentes, facilmente se obtêm a igualdade

) ∞
)
an = (a0 + · · · + ak−1 ) + an .
n=0 n=k
2 2∞
Frequentemente confundem-se séries n=0 an convergentes com a sua soma n=0 an . A imprecisão
mencionada não ofende os objectivos do decorrente texto.

Luı́s V. Pessoa
38 2.1. Séries numéricas

Proposição 2 A natureza duma série não depende dum número finito de termos, i.e. se an , n ∈ N
2
e bn , n ∈ N são duas sucessões tais que o conjunto {n ∈ N : an )= bn } é finito, então as séries an e
2
bn tem a mesma natureza.

Demonstração: Como an = bn , n ∈ N excepto num número finito de termos, então está bem
definido o número natural m := max {n ∈ N : an )= bn } . Se Sn e Tn denotam respectivamente as
2 2
sucessões das somas parciais das séries n=0 an e n=0 bn , então

Sn = (a0 + · · · + am ) + (am+1 + · · · + an ) = Tn + Sm+1 − Tm+1 , n ≥ m.

Considerando que Sm+1 − Tm+1 é uma constante independente de n, da igualdade anterior é imediato
que limn Sn existe sse limn Tn existe.

Proposição 3 (Condição necessária) Seja an , n ∈ N uma sucessão de termos complexos. Se a


2
série an é convergente então limn an = 0.

Demonstração: Seja Sn a sucessão das somas parciais Sn = a0 +· · ·+an−1 , n ∈ N1 . A convergência


2
da série an equivale à existência em C do limite da sucessão Sn , n ∈ N1 . Tendo em conta que
subsucessões de sucessões convergentes convergem ao mesmo limite, obtém-se

an = Sn+1 − Sn −
−→ lim Sn − lim Sn = 0.
n→∞ n n

Exemplos
6. [Série telescópica] No exemplo 1 obteve-se
n−1
)
(ck − ck+1 ) = c0 − cn , n ≥ 1.
k=0
2
Consequentemente a série (ck − ck+1 ) converge sse lim cn existe. Em caso afirmativo verifica-se

)
(ck − ck+1 ) = c0 − lim cn .
n
k=0
2
De novo do exemplo 1 infere-se que a série (ck − ck+j ), j ∈ N2 converge sse limn (cn + · · · + cn+j−1 )
existe em R e em caso afirmativo obtem-se

) j−1
) n+j−1
)
(ck − ck+j ) = ck − lim ck .
n
k=0 k=0 k=n

Anote que a existência de limite finito da sucessão cn , n ∈ N não é condição necessária à convergência
2
da série (ck − ck+j ), j ∈ N2 . Como exemplo considere θj = 2π/j, j ∈ N2 e cn = En (iθj ) , n ∈ N. De
2 2
cn+j = E(inθj ) E(ijθj ) = E(inθj ) , é evidente que a série (ck − ck+j ) = 0 converge. No entanto,
a sucessão cn , n ∈ N é periódica com perı́odo j e têm j termos distintos, precisamente as raı́zes de
ordem j da unidade. Consequentemente cn , n ∈ N não é convergente.

Luı́s V. Pessoa
Funções analı́ticas 39

7. [Série geométrica] No exemplo 2 obteve-se




 1 − zn
n−1
) , z )= 1
zk = 1−z , para n ∈ N1 .


k=0 n ,z=1
2
Se |z| ≥ 1 então z n , n ∈ N não é infinitésimo e consequentemente a série z n diverge. Caso |z| < 1
então limn |z|n = 0 e logo
)∞
1
zn = , |z| < 1.
n=0
1 − z

8. No exemplo 3 obteve-se uma fórmula de recorrência em j para a sucessão das somas parciais da
2 j n
série n z . Se |z| ≥ 1 então o termo geral não é um infinitésimo e consequentemente a série diverge.
Tendo em conta que limn nj z n = 0, |z| < 1, j ∈ N e (2), deixamos ao ligeiro cuidado do leitor mostrar
2 j n
por indução matemática que a série n z , |z| < 1 é convergente, qualquer que seja j ∈ N. Definindo

)
T (j) = nj z n , |z| < 1
n=1

de (2) obtêm-se a relação de recorrência


j−1 # $
z z ) j
T (j) = + T (l) , j ∈ N1 , |z| < 1.
1−z 1−z l
l=0

Em particular
z z2 z
T (1) = z + 2z 2 + · · · + nz n + · · · =+ = , |z| < 1.
1−z (1 − z)2 (1 − z)2
2 2
9. Suponha convergentes as séries de termos complexos an e bn e considere a sucessão cn , n ∈ N
cujos termos pares são dados por c2n = an , n ∈ N e os termos ı́mpares definidos por c2n+1 = bn , n ∈ N.
2 2 2
Se os termos gerais das sucessões das somas parciais das séries an , bn e cn são respectivamente
denotados por Sn , Tn e Un então

U2n = (a0 + b0 ) + · · · + (an−1 + bn−1 ) = (a0 + · · · an−1 ) + (b0 + · · · bn−1 ) = Sn + Tn

U2n+1 = (a0 + b0 ) + · · · + (an−1 + bn−1 ) + an = (a0 + · · · an−1 ) + (b0 + · · · bn−1 ) + an = Sn + Tn + an .


2 2
Porque as séries an e bn são convergentes então limn Sn , limn Tn existem e limn an = 0. Logo
limn U2n = limn U2n+1 e em consequência limn Un existe e

) ∞
)
cn = lim Un = lim(Sn + Tn ) = (an + bn ).
n n
n=0 n=0

2
Proposição 4 Seja an , n ∈ N uma sucessão de termos reais não negativos. Então a série an é
convergente sse a sucessão das somas parciais Sn = a0 + · · · + an−1 , n ∈ N1 é majorada.

Demonstração: De an ≥ 0, n ∈ N obtêm-se Sn+1 = Sn + an ≥ Sn , n ∈ N1 , i.e. a sucessão Sn é


monótona crescente. Conclui-se que limn Sn é finito sse Sn é majorada.

Luı́s V. Pessoa
40 2.1. Séries numéricas

Exemplos
10. Considere an , n ∈ N uma sucessão de termos reais não negativos e suponha a existência duma
constante C > 0 verificando
n−1
)
ak rk ≤ C , para qualquer n ∈ N1 e 0 ≤ r < 1. (3)
k=0
2
Da proposição 4 deduz-se a convergência da série an rn , qualquer que seja r ∈ [ 0, 1 [ e de (3) infere-se

)
an rn ≤ C , 0 ≤ r < 1.
n=0
!
Se rn = n
1/2, n ∈ N1 então
# $k/n
1 1
0 < rn < 1 e rnk = ≥ , k = 1, · · · , n .
2 2

Consequentemente

)
* +
0 ≤ a0 + a1 + · · · + an−1 ≤ 2 a0 + a1 rn + · · · an−1 rnn−1 ≤ 2 aj rnj ≤ 2C.
j=0

2 2
De novo a proposição 4 permite afirmar que a série an é convergente. É evidente que se an é
uma série convergente de termos reais não negativos então a condição (3) é verificada. Portanto, uma
2
série an , de termos não negativos, converge sse verifica a condição (3), usualmente designada por
condição de Abel.

11. Seja an , n ∈ N uma sucessão de termos reais não negativos e Sn , n ∈ N1 a sucessão das somas
parciais Sn = a0 + · · · + an−1 . Considere a média aritmética dos n primeiros termos da sucessão de
termo geral Sn , i.e.
# $ # $
S1 + · · · + Sn 1 2 1
σn = = a0 + 1 − a1 + 1 − a2 + · · · + an−1 , n ∈ N1 .
n n n n

Suponha a convergência (em C) da sucessão σn , n ∈ N1 . Então


3 # $ 4 6 3 6
1 n5 1 n
Sn+1 = a0 + 1 − 3 a1 + · · · + 1 − 3 an + 3 a1 + · · · + 3 an
n n n n
1
≤ σ n3 + Sn+1 .
n
Logo, para ordens superiores a determinado natural verifica-se
n
0 ≤ Sn+1 ≤ σ n3 .
n−1
Segue a majoração da sucessão das somas parciais Sn , n ∈ N1 e em consequência a sua convergência.

A sucessão σn , n ∈ N1 encontra-se bem definida, caso os termos da sucessão an , n ∈ N incluam-se no


2
plano complexo, não necessariamente não negativos. Mostra-se de seguida que se a série n=0 an é

Luı́s V. Pessoa
Funções analı́ticas 41

2∞
convergente então a sucessão σn , n ∈ N1 converge e verifica-se limn σn = n=0 an . Denote a soma da
2
série n=0 an por s. Dado ( > 0 considere uma ordem p ∈ N tal que (j > p) ⇒ |Sj − s| ≤ (. Então

|(S1 − s) + · · · + (Sp − s) + · · · (Sn − s)|


0 ≤ |σn − s| =
n
| S1 − s | | Sp − s | n − p
≤ + ··· + + ( −
−→ (.
n n n n→∞

Da arbitrariedade de ( > 0 deduz-se a igualdade limn σn = s. Em resumo, conclui-se que uma série de
termos reais não negativos é convergente sse a sucessão σn , n ∈ N1 é convergente e em caso afirmativo

)
an = lim σn .
n
n=0

Terminamos o exemplo anotando a importância em se considerar sucessões de termos reais não nega-
tivos. De facto, considerando an = (−1)n , n ∈ N e o exemplo 5, o leitor sem dificuldades deduz
1 n+1 1
σ2n = e σ2n+1 = −
−→ .
2 2n + 1 n→∞ 2
2
Logo a sucessão σn , n ∈ N1 é convergente e no entanto a série (−1)n é divergente. É usual dizer que
2
a soma de Cesàro da série n=0 (−1)n é 1/2.
2
12. [Série Harmónica] A série n=1 1/n é usualmente designada por série harmónica. Demonstra-
se a divergência da série harmónica, não obstante o termo geral 1/n, n ∈ N1 ser um infinitésimo.
Considere Sn = 1 + 1/2 + · · · + 1/n a sucessão das somas parciais da série harmónica. Em conta de
1 1 1 1 1
S2n − Sn = + + ··· + ≥n = , (4)
n+1 n+2 2n 2n 2
obtemos
n−1
) 1
S2 n − 1 = (S2j+1 − S2j ) ≥ n −
−→ + ∞.
j=0
2 n→∞

Assim, a sucessão Sn , n ∈ N1 não é majorada e logo não converge em R. A série harmónica diverge.

Uma sucessão an , n ∈ N diz-se uma sucessão de Cauchy se verifica a seguinte condição

∀$>0 ∃j∈N ∀m,n∈N (m, n ≥ j) ⇒ |an − am | < ( .

Da análise real elementar em espaços euclidianos de dimensão finita sabe-se que as sucessões de Cau-
chy são precisamente as sucessões convergente. Anota-se que os argumentos na demonstração da
divergência da série harmónica, exposta no exemplo 12 , poder-se-iam resumir à observação de que de
(4) infere-se que a sucessão Sn , n ∈ N não é sucessão de Cauchy e por tão pouco diverge. No seguinte
resultado expõe-se genericamente os argumentos em questão.
2
Proposição 5 (Cauchy) Seja an , n ∈ N uma sucessão complexa. Então an converge sse

∀$>0 ∃j∈N ∀m,n∈N (m ≥ n ≥ j) ⇒ |an + · · · + am−1 | < ( .

Luı́s V. Pessoa
42 2.1. Séries numéricas

Demonstração: A demonstração resume-se à observação de que as sucessões convergentes são


2
precisamente as sucessões de Cauchy. Por definição, a série an é convergente sse a sucessão das
somas parciais Sn = a0 + · · · + an−1 , n ∈ N1 é convergente. Porque as sucessões convergentes são
2
precisamente as sucessões de Cauchy então an é convergente sse para qualquer que seja ( > 0 existe
uma ordem j ∈ N tal que a condição |Sm − Sn | < ( é verificada para quaisquer n, m ≥ j. Para verificar
|Sm − Sn | < (, supomos m > n. Terminamos a prova considerando que

|Sm − Sn | = |(a0 + · · · + am−1 ) − (a0 + · · · + an−1 )| = |an + · · · + am−1 | , m > n .

2
Uma série an de termos complexos diz-se absolutamente convergente se a série dos módulos
2
|an | é convergente.
2
Proposição 6 Seja an , n ∈ N uma sucessão de termos complexos. Suponha-se que a série an é
2
absolutamente convergente. Então a série an é convergente e verifica-se a seguinte desigualdade
"∞ "
") " ) ∞
" "
" an " ≤ |an | .
" "
n=0 n=0

Demonstração: Sejam Sn , Mn , n ∈ N1 respectivamente as sucessões das somas parciais das séries


2 2
an e |an |. Por hipótese, a sucessão Mn , n ∈ N1 é uma sucessão de Cauchy. Logo, dado ( > 0 existe
uma ordem p ∈ N tal que m ≥ n ≥ p ⇒ |Mm+1 − Mn | < (. Tendo em conta a seguinte desigualdade

|Sm+1 − Sn | = |an + · · · + am | ≤| an | + · · · + |am | = |Mm+1 − Mn | , m ≥ n,

conclui-se que Sn , n ∈ N1 é sucessão de Cauchy e consequentemente converge. Para demonstrar a


desigualdade entre somas das respectivas séries, é suficiente considerar o seguinte

)
0 ≤ |Sn | = |a0 + · · · + an−1 | ≤| a0 | + · · · + |an−1 | ≤ |an | .
n=0

2
Uma série de termos complexos an diz-se simplesmente convergente se é convergente e não é
absolutamente convergente.

Exemplos
2
13. Seja γn , n ∈ N um infinitésimo de termos complexos e considere a série γn ξ n , |ξ| = 1. Clara-
2 2
mente γn ξ é absolutamente convergente sse
n
|γn | converge. De seguida procuramos condições
2
mais gerais assegurando a convergência da série γn ξ n , caso |ξ| = 1 e ξ ∈/ R. Precisamente, mostramos
2 2
que se |γn+2 − γn | converge, então a série / R converge. Como ξ ∈
γn ξ n , ξ ∈ / R, a natureza da
série é inalterada multiplicando todos os termos por (ξ − ξ). Designando por Sn a sucessão das somas
2
parciais da série (ξ − ξ) γn ξ n , obtemos
n−1 n−1
) * + ) * + n−1
)* + n−1
)
Sn = γk ξ − ξ ξ k = γk ξ k+1 − ξ k−1 = γk+2 ξ k+1 − γk ξ k−1 + ξ k+1 (γk − γk+2 ).
k=0 k=0 k=0 k=0

Luı́s V. Pessoa
Funções analı́ticas 43

Porque lim γn ξ n+1 = 0, então a série telescópica



) * +
γn+2 ξ n+1 − γn ξ n−1
n=0
2
é convergente e em consequência γn ξ n converge sse converge a seguinte série

)
ξ n+1 (γn − γn+2 ). (5)
n=0
2
Como por hipótese a série |γn − γn+2 | é convergente então a série em (5) é absolutamente con-
2
vergente e a prova da asserção inicial está terminada, i.e. γn ξ n é absolutamente convergente sse
2 2 2 2
|γn | converge e γn ξ é simplesmente convergente sempre que as séries
n
|γn − γn+2 | e |γn | são
respectivamente convergentes e divergentes. Como exemplo concreto da convergência simples da série
2
γn ξ n , |ξ| = 1 , ξ ∈
/ R considere-se a sucessão
1
γn = , n ∈ N. (6)
n + (−1)n
2
Porque γn ≥ 1/(n − 1) e a sucessão das somas parciais da série harmónica converge a +∞, então γn
2 2
diverge. No entanto γn −γn+2 ≥ 0 e logo a série |γn −γn+2 | = (γn − γn+2 ) é uma série telescópica.
2
De lim γn = 0 segue lim (γn + γn+1 ) = 0 e consequentemente a série telescópica (γn − γn+2 ) é
convergente. No caso (6) acima, é óbvia a importância da condição |ξ| = 1, ξ ∈
/ R. De facto, verificou-
2
se que a série γn ξ n diverge, se ξ = 1. Não obstante, no caso ξ = −1 a série converge. Tal facto
é eventualmente sem dificuldades averiguado, e.g. considerando que determinada série converge sse o
termo geral é infinitésimo e a sucessão das somas parciais de ordem par é convergente [ver pro.9]. É
evidente no exemplo 21 adiante, que a condição ξ )= −1 não pode ser levantada.

2 2
Proposição 7 (Critério geral de comparação) Sejam an e bn séries de termos reais não
2 2
negativos, tais que a partir de certa ordem verifica-se an ≤ bn . Se bn converge então a série an
é necessariamente convergente.

Demonstração: A proposição 2 permite supor, sem perda de generalidade, que an ≤ bn , n ∈ N.


2 2
Denotem-se respectivamente as sucessões das somas parciais das séries n=0 an e n=0 bn por Sn e
Tn . Segue sem dificuldade que

Sn = a0 + · · · + an−1 ≤ b0 + · · · + bn−1 = Tn , n ∈ N1 .

Como a sucessão Tn , n ∈ N1 é convergente então é majorada e consequentemente também Sn , n ∈ N1


é majorada. O termino da demonstração segue da proposição 4.

Corolário 8 Considerem-se sucessões an , bn , n ∈ N de termos reais não negativos. Para ordens


superiores a determinado natural, suponha-se

bn > 0 e λ1 bn ≤ an ≤ λ2 bn ,
2 2
aonde λj > 0, j = 1, 2. Então as séries an e bn são da mesma natureza.

Luı́s V. Pessoa
44 2.1. Séries numéricas

2 2
Demonstração: Supondo a convergência da série bn , infere-se a convergência de λ2 bn . Do
2 2
critério geral de comparação, deduz-se a convergência da série an . Reciprocamente, se an converge
2 2
então λ−1 1 an converge. De novo, a convergência da série bn , segue do critério geral de comparação.

Corolário 9 Considerem-se sucessões an , bn , n ∈ N de termos não negativos e suponha-se que o limite


l := lim an /bn existe. São válidas as seguintes asserções:
2 2
i) se l ∈ R+ então as séries an e bn são da mesma natureza;
2 2
ii) se l = 0 então da convergência de bn infere-se a convergência de an ;
2 2
iii) se l = +∞ então da convergência de an infere-se a convergência de bn .

Exemplos
14. Para qualquer que seja α < 1, é evidente a seguinte desigualdade

1 1
≥ , n ∈ N1 .
nα n
Logo, considerando a divergência da série harmónica, conclui-se a divergência das seguintes séries
) 1
, α < 1.

15. Tendo em conta que a série
) 1 )#1 1
$
= −
n=1
n(n + 1) n=1 n n + 1

é uma série telescópica convergente, segue do critério geral de comparação e das desigualdades

1 1 1 1
0≤ ≤ = − ,
(n + 1)2 n(n + 1) n n+1

que a seguinte série


) 1 ) 1
=
n=1
n 2
n=0
(n + 1)2

é absolutamente convergente. Em consequência, deduz-se do critério geral de comparação, a con-


vergência das séries
) 1
, α > 2.

Se p(z) = ck z k + · · · + c0 e q(z) = dj z j + · · · + d0 são polinómios em z, respectivamente de graus k ∈ N
2
e j ∈ N, mostramos de seguida que a série p(n)/q(n) converge absolutamente sse j − k ≥ 2. O leitor
poderá confirmar sem dificuldades que
" "
" p(n) "
lim " " = | ck | =
) 0.
n→+∞ " q(n)nk−j " dj

Luı́s V. Pessoa
Funções analı́ticas 45

2 2
Do corolário 9 infere-se que as séries | p(n)/q(n) | e 1/nj−k têm a mesma natureza. A prova da
asserção termina considerando o critério geral de comparação, as seguintes desigualdades
 1 1

 j−k ≤ 2 , j − k ≥ 2
n n
, n ∈ N1 ,
 1 ≥ 1

, j − k ≤ 1
nj−k n
2
a convergência de 1/n e a divergência da série harmónica.
2

16. Considere a sucessão de termos positivos dada por


3 62 3 6n
2n − 1 2n + 1 4n − 3
an = ··· , n ∈ N1 .
2n 2n + 2 4n − 2

É evidente que
3 63 62 3 6n 3 6Pnj=1 j 3 6 n(n+1)
1 1 1 1 1 2
an = 1 − 1− ··· 1 − ≤ 1− = 1− .
2n 2n + 2 4n − 2 4n − 2 4n − 2

Fixe-se um número real r nas condições 1/ 8 e < r < 1. Porque
# $ n2
1 1
lim 1 − = √ ,
n 4n − 2 8
e
então, para ordens superiores a determinado natural, verifica-se
3 6 n(n+1)
1 2
0 ≤ an ≤ 1 − ≤ rn+1 .
4n − 2
2 2
A série rn+1 é convergente. Do critério geral de comparação conclui-se a convergência da série an .

O seguinte resultado é usualmente designado por critério da raiz.


!
Proposição 10 Seja an , n ∈ N uma sucessão de termos complexos e considere-se γ := lim sup n
|an |.
2
i) Se γ < 1 então an é absolutamente converge.
2
ii) Se γ > 1 então an diverge.

Demonstração: Inicia-se demonstrando a alı́nea i). Suponha-se γ < 1 e determine-se ( > 0 tal
que γ + ( < 1. Da definição de limite superior, retira-se a existência duma ordem j ∈ N tal que
!k
|ak | < (γ + () < 1, para k ≥ j. Consequentemente

k ≥ j ⇒ |ak | ≤ (γ + ()k .
2
Como r := |γ + (| < 1 então a série k rk é convergente e do critério geral de comparação conclui-se
2 2
que k |ak | é convergente, i.e. ak é absolutamente convergente. De seguida demonstramos ii). Se
γ > 1 então existe r > 1 e uma subsucessão ank , k ∈ N verificando
1
|ank | nk ≥ r > 1 e logo |ank | ≥ rnk −
−→ ∞.
k→∞

Luı́s V. Pessoa
46 2.1. Séries numéricas

Porque |an |, n ∈ N tem subsucessões infinitamente grandes então an , n ∈ N não é infinitésimo. Logo
2
a série an diverge.
!
Para determinadas sucessões an , n ∈ N é laborioso lidar com o limite lim n |an |. O seguinte resultado
oferece-se alternativas a tal proceder.

Proposição 11 Seja an , n ∈ N tal que para n suficientemente grande verifica-se an )= 0. Então


! !
lim inf |an+1 /an | ≤ lim inf n
|an | ≤ lim sup n |an | ≤ lim sup |an+1 /an | .

Demonstração: Seja r := lim sup |an+1 /an | e ( > 0. Para n superior a determinado natural,
verifica-se |an+1 /an | < r + (. Em consequência e sem dificuldades obtém-se
" " " " " " " "
" an " " aj+1 " " " " "
" "=" " × · · · × " an−1 " × " an " ≤ (r + ()n−j , n ≥ j .
" aj " " aj " " an−2 " " an−1 "

Atentando à monotonia da função R+
0 #x→
n
x ∈ R, n ∈ N deduz-se que
! 7
0≤ n
|an | ≤ n
|aj | (r + ()1−j/n −
−→ r + (.
n→∞

Da arbitrariedade de ( > 0 conclui-se que


!
lim sup n
|an | ≤ lim sup |an+1 /an | .
!
Resta demonstrar a desigualdade lim inf |an+1 /an | ≤ lim inf n |an |. Se an , n ∈ N é uma sucessão nas
condições do enunciado, e de acordo com as convenções usuais 1/0+ = +∞ e 1/(+∞) = 0, abandona-se
ao cuidado do leitor a prova da seguinte asserção

1 1
lim sup = .
|an | lim inf |an |

Considerando a sucessão bn = a−1


n , n ∈ N, bem definida para ordens superiores a determinado natural,
obtemos da primeira parte da prova que
" "
1 1 " an "
" "= 1
! = lim sup ! ≤ lim sup " .
lim inf n |an | n
|an | an+1 " lim inf |an+1 /an |

Assim terminamos a demonstração.

Corolário 12 (Critério da razão) Seja an , n ∈ N uma sucessão de termos complexos não nulos.
2
i) Se lim sup |an+1 /an | < 1 então an é absolutamente converge;
2
ii) Se lim inf |an+1 /an | > 1 então an diverge.

Demonstração: Da proposição 11 deduz-se que se lim sup |an+1 /an | < 1 ou lim inf |an+1 /an | >
! !
1 então respectivamente lim sup n |an | < 1 e lim inf n |an | > 1. As conclusões são por tão pouco
consequências imediatas da proposição 10.

Luı́s V. Pessoa
Funções analı́ticas 47

Exemplos
17. Considere uma sucessão an , n ∈ N nas condições do corolário 12 e suponha a existência do limite
γ := lim |an+1 /an |. Logo lim sup |an+1 /an | = lim inf |an+1 /an | = lim |an+1 /an | = γ. Conclui-se:
2
i) se γ < 1 então an é absolutamente converge;
2
ii) se γ > 1 então an diverge.

18. Com propósito em comentar o corolário 12, anota-se a existência de sucessões an , n ∈ N e cn , n ∈ N,


verificando as condições lim inf an+1 /an < 1, lim sup cn+1 /cn > 1, e não obstante, tais que as séries
2 2
an e cn respectivamente divergem e convergem. Como exemplos considerem-se

an = 2 + (−1)n+1 e cn = 2−nan , n ∈ N.

De facto, de a2n /a2n−1 = 1/3 , n ∈ N1 deduz-se lim inf an+1 /an ≤ 1/3 < 1. Da desigualdade an ≥ 1,
2
segue que a série an diverge. Finalmente, se bn = nan − (n + 1)an+1 , então
cn+1 1 n+1
= 2bn = 2[(−1) (2n+1)] .
cn 4
Logo lim sup cn+1 /cn = +∞. No entanto, como 0 < cn ≤ 2−n , n ∈ N segue do critério geral de
2
comparação que a série cn converge.

Proposição 13 (Critério integral) Seja f : [ 0, +∞ [ → R+ uma função decrescente. Então a série


2 8r 2
f (n) é convergente sse o limite limr→+∞ 0 f (x) dx existe e é finito. Se f (n) diverge então
)n 9 n
f (k) ∼ f (x) dx , n → +∞ . (7)
k=0 0

Demonstração: Tendo em linha de conta que a função f é monótona decrescente, conclui-se


n−1
) 9 n ) 9 j+1
n−1 n−1
)
f (j + 1) ≤ f (x) dx = f (x) dx ≤ f (j) . (8)
j=0 0 j=0 j j=0
2n−1 8n
Como f (x) ≥ 0, x ≥ 0 então as sucessões j=0 f (j) e 0 f (x) dx são monótonas crescentes e logo
2
convergem para limite finito sse são majoradas. Portanto de (8) resulta que a série f (n) converge
8n 8 r
sse limn 0 f (x) dx é finito. Porque a função de variável real R+ 0 # r → 0 f (x) dx é crescente
8r 8n
então limr→+∞ 0 f (x) dx (r ∈ R+ ) é finito sse limn 0 f (x) dx (n ∈ N) é finito. Para terminar,
2
suponha-se que a série f (n) é divergente. Dado tratar-se duma série de termos positivos então
2n−1 2n−1
limn k=0 f (n) = +∞. Em particular, a partir de certa ordem k=0 f (n) > 0, o que permite dividir
os membros das inequações (8) para obter
8n
f (n) − f (0) f (x) dx
1 + 2n−1 ≤ 20 n−1 ≤ 1.
k=0 f (n) k=0 f (n)

Como
f (n) − f (0)
lim 2n−1 = 0,
k=0 f (n)
n

do teorema das sucessões enquadradas deduz-se (7).

Luı́s V. Pessoa
48 2.1. Séries numéricas

Exemplos
−α
19. [Séries de Dirichlet] A função fα : [ 0, +∞ [ → R+ , fα (x) = (x + 1) , α > 0 encontra-se nas
condições da proposição 13. Logo

) 9
1 r
1
α converge sse lim α dx é finito.
n=0
(n + 1) r→+∞ 0 (x + 1)

Porque
 
9 
 1 : 1−α
;
 +∞
 , α≤1
r
1 (r + 1) −1 , α )= 1
lim α dx = lim
1−α = ,
(x + 1) r→+∞   1
r→+∞ 0  ln (r + 1) , α=1  , α>1
α−1
conclui-se o seguinte
)∞ )∞
1 1
= converge sse α > 1.
n=1
n α
n=0
(n + 1)α

Se 0 < α ≤ 1 então

1 :
 1−α
;
1 1 (n + 1) −1 , α<1
1 + α + ··· + α ∼ 1−α .
2 n 
 ln (n + 1) , α=1

Abaixo introduz-se uma técnica de soma elementar, por semelhança com a primitivação por partes
do cálculo integral, usualmente designada de soma por partes . A soma por partes será ferramenta
essencial à demonstração dos resultados finais da secção, em si as únicas proposições apresentadas no
decorrente texto e adequadas ao estudo de séries simplesmente convergentes.

Se un , vn , n ∈ N são sucessões de termos complexos e Un , n ∈ N1 é a sucessão das somas parciais


Un = u0 + · · · + un−1 então é válida a seguinte fórmula
n
) n
)
uj vj = Un+1 vn+1 + Uj+1 (vj − vj+1 ).
j=0 j=0

Embora a fórmula anterior seja de natureza elementar, apresentamos de seguida uma prova baseada
em manipulações algébricas do sı́mbolo de somatório:
n
) n
) n
) n
) n+1
)
Uj+1 (vj − vj+1 ) = Uj+1 vj − Uj+1 vj+1 = Uj+1 vj − Uj vj
j=0 j=0 j=0 j=0 j=1
n
) )n
= U1 v0 − Un+1 vn+1 + (Uj+1 − Uj )vj = ( uj vj ) − Un+1 vn+1 .
j=1 j=0

Proposição 14 (Critério de Dirichlet) Considerem-se sucessões un , vn , n ∈ N de termos comple-


xos e Un , n ∈ N1 a sucessão das somas parciais Un = u0 + · · · + un−1 . Se a sucessão vn , n ∈ N é
2
decrescente a zero e Un é limitada então a série un vn é convergente.

Luı́s V. Pessoa
Funções analı́ticas 49

2
Demonstração: Seja Sn , n ∈ N1 a sucessão das somas parciais da série n=0 un vn . Da soma por
partes, para m ≥ n; n, m ∈ N verifica-se
2m 2m
|Sm+1 − Sn | = | j=n uj vj | ≤ |Um+1 vm+1 | + |Un vn | + j=n |Uj+1 |(vj − vj+1 )
2m (9)
≤ M ( vm+1 + vn + j=n (vj − vj+1 ) ) = 2M vn .

Porque limn vn = 0, dado ( > 0 existe uma ordem p ∈ N tal que se n ≥ p então 0 < vn < (/(2M ).
Tendo em conta (9) obtemos
m ≥ n ≥ p ⇒ |Sm+1 − Sn | < (

e portanto Sn é sucessão de Cauchy.

Corolário 15 (Critério de Abel) Sejam un , n ∈ N e vn , n ∈ N sucessões respectivamente de ter-


mos complexos e de termos reais, tais que a sucessão das somas parciais Un = u0 + · · · + un−1 é
2
convergente e a sucessão vn , n ∈ N é decrescente e limitada. Então a série un vn é convergente.

Demonstração: Como a sucessão vn , n ∈ N é decrescente e limitada então é convergente em R.


Seja v := lim vn e considere-se a sucessão v<n , n ∈ N aonde v<n = vn −c. Então v<n , n ∈ N é uma sucessão
2
decrescente a zero e do critério de Dirichlet infere-se que n (vn − c)un é uma série convergente. Se
2 2
S<n e Sn designam respectivamente as sucessões das somas parciais das série v<n un e vn un , então

Sn = S<n + cUn ,

e logo Sn , n ∈ N é convergente.

Exemplos
20. Considere-se a sucessão das somas parciais da progressão geométrica de razão ξ ∈ C

Un = 1 + ξ + · · · + ξ n−1 , n ∈ N1 .

Supondo |ξ| = 1 e ξ )= 1, do exemplo 2 obtém-se


n−1
) " "
" 1 − ξn " 1
|Un | = | "
ξ |="
k "≤ ,
1 − ξ " | sin θ/2|
k=0

aonde ξ = E(iθ) , θ )= 2kπ, k ∈ Z. Porque a sucessão Un , n ∈ N1 é limitada, em conta do Critério de


Dirichlet, conclui-se que se γn , n ∈ N é uma sucessão de termos positivos decrescentes a zero, então
2 2
a série γn ξ n é convergente. No entanto γn ξ n não é necessariamente absolutamente convergente.
Por exemplo, considerando γn = n−α , 0 < α ≤ 1 temos que
)∞ " n" ∞
"ξ " ) 1
" "= , 0 < α ≤ 1 diverge.
" nα " n α
n=1 n=1

21. Considera-se de seguida a sucessão

1 (−1)n
γn = √ + , n ∈ N1 .
n n

Luı́s V. Pessoa
50 2.1. Séries numéricas

É evidente que γn , n ∈ N é uma sucessão de termos positivos. Porque a sucessão 1/n, n ∈ N1 é


2 √ 2
decrescente a zero então do exemplo 20 deduz-se a convergência da série (−1)n / n. Como 1/n
2 2
diverge então a série γn é a soma duma série divergente com outra convergente. Logo γn é
divergente. De forma semelhante, do critério de Dirichlet deduz-se a convergência (simples) das séries
2 n 2 √ 2
ξ /n, |ξ| = 1, ξ )= 1 e de (−ξ)n / n, |ξ| = 1, −ξ )= 1. Logo, as séries γn ξ n , |ξ| = 1, ξ )=
±1 convergem simplesmente. Assim, duas aplicações sucessivas do critério de Dirichlet permitiram
ultrapassar a dificuldade constituı́da no facto da sucessão γn , n ∈ N1 não ser monótona. Anota-se que
a técnica exposta no exemplo 13 serviria os mesmos efeitos. Terminamos afixando a divergência nos
casos ξ = ±1. A hipótese ξ = 1 foi estudada acima, e se ξ = −1 então a série
) ) (−1)n ) 1
(−1)n γn = √ + ,
n n

é a soma duma série convergente com outra divergente. Logo é uma série divergente.

2.1 Problemas
1. Averigue se as seguintes séries são absolutamente convergentes, simplesmente convergentes ou divergentes:
X (−1)n n X −√n X “p √ ”
i) 2 ; ii) e ; iii) nj + 1 − nj , j ∈ N1 ;
n n n

X X „ « X „ «
1 1 (−1)n
iv) , j ∈ N1 ; v) ln 1 + j , j ∈ N1 ; vi) sin nπ + , j ∈ N1 ;
n
( ln n)j n
n n
nj

X„ «n X„ «n 2
X n3 2n + n 1 2(−1)n − 3
vii) ; viii) 1− ; ix) 1+ ;
n
n2 3n + 1 n
n n
n
X 1 + √n ξ n X 1 + √n ξ n X 1 + n ξn
x) , |ξ| = 1 ; xi) , |ξ| = 1 ; xii) , |ξ| = 1 ;
n
n2 + 1 n
n−1 n
n2 − 1
X „ « X „ « X
1 1 1
xiii) sin nπ + , xiv) E i(nπ + ) ; xv) , j ∈ N1 ;
n
n n
n n
n( ln n)j
X 1 X 1 X 1
xvi) ; xvii) , j ∈ N1 ; xviii) √
2n
ξ n , |ξ| = 1 ;
n
ln n! n
ln (jn)! n nn+2
X 1 X 1 X 1
xix) ξn , α < 1 ; xx) ; xxi) (−1)n .
n
n + (−1)n nα n
n + (−1)n n
n + (−1)n

2. Calcule a soma das seguintes séries ou justifique a sua divergência:



X X∞ ∞
X
(1 − z)n+1
i) zn , z ∈ C , k ∈ N ; ii) ,z ∈ C ; iii) nz n , z ∈ C ;
n=1
(1 + z)n−1 n=0
n=k

X ∞
X ∞
X
1 1 n
iv) , p ∈ N1 ; v) , j ∈ N2 ; vi) ;
n=1
n(n + p) n=0
(n + 1) · · · (n + j) n=1
(n + 1)!

X ∞
X
ln (1 + n1 ) 2n + 1
vii) ; viii) n 2 .
n=2
ln n ln (n + 1) n=2
(n − 1)(n2 + 2n)

Luı́s V. Pessoa
Funções analı́ticas 51


3. Calcule os limites superior e inferior das sucessões de termo geral an+1 /an e n an e averigue da convergência
P
da série an , nos diferentes casos em que os termos da sucessão an , n ∈ N são definidos por:
np an nn nn
i) ,p∈N; ii) , a > 0, p ∈ N ; iii) ; iv) ;
n! np n! (2n)!
„ «n „ «n! √
an bn 1 1 e n
v) , a, b ∈ R+ ; vi) 1+ ; vii) 1+ ; viii) ;
an + bn n+2 n n2
√ n
n2 n
ix) n2 e− n
; x) nr rn , r > 0 ; xi) r(−1) ,r > 0 ; xii) r(n )
,r > 0 ;

n 1
xiii) 2 + (−1)n ; xiv) 2−n(2+(−1) )
; xv) .
1 + (−1)n n
P
4. Seja an , n ∈ N uma sucessão decrescente tal que a série an converge. Mostre que an ≥ 0 , n ∈ N.

5. Considere uma sucessão de termos positivos an , n ∈ N e a sucessão das somas parciais

Sn = a0 + · · · + an−1 , n ∈ N1 .
P P n
Suponha que n an converge e mostre que a série n Sn z , z ∈ C converge sse |z| < 1.
P
6. Considere δ > 0 fixo e mostre que a série rn diverge, para qualquer que seja a sucessão rn , n ∈ N cujo
conjuntos dos termos verifica
{rn : n ∈ N} ⊃ Q ∩ [−δ, δ] .

7. Seja an , n ∈ N uma sucessão de termos complexos e defina-se a sucessão de termo geral

αn = an + · · · + a2n−1 , n ∈ N1 .
P
i) Mostre que se a série convergente an converge então limn αn = 0.
P
ii) Forneça exemplo duma sucessão an , n ∈ N tal que a série an diverge e limn αn = 0.

8. Seja an , n ∈ N uma sucessão decrescente de termos positivos.


P
i) Mostre que se a série an < ∞ converge então limn nan = 0.
P
ii) Forneça exemplo duma sucessão an , n ∈ N decrescente de termos positivos tal que a série an diverge
e limn nan = 0.

9. Seja an , n ∈ N uma sucessão de termos complexos e Sn = a0 + · · · + an−1 a sucessão das somas parciais da
P
série an . Demonstre que:
P
i) a série an converge sse a sucessão S2n , n ∈ N é convergente e lim an = 0 ;
P
ii) se an = (−1)n , n ∈ N então S2n é convergente e an diverge.

10. Seja an , n ∈ N uma sucessão de termos complexos.


P
i) Mostre que a série ∞ n
n=0 (−1) (an + an+1 ) converge sse lim an = 0, e em caso afirmativo a sua soma
P∞ n
verifica n=0 (−1) (an + an+1 ) = a0 .
P P
ii) Mostre através de exemplo que é possı́vel as séries (−1)n an e (−1)n (an + an+1 ) serem respectiva-
mente divergente e convergente.
iii) Suponha que a sucessão de termos complexos an , n ∈ N é limitada e mostre que a seguinte série

X 1
(−1)n (an + an+1 )
n=1
n
converge.

Luı́s V. Pessoa
52 2.1. Séries numéricas

11. Seja an , n ∈ N uma sucessão de termos complexos. Mostre sucessivamente que:


P P P
i) se as séries a2n e a2n+1 são convergentes então an converge;
P
ii) Dê um exemplo duma sucessão an , n ∈ N de termos complexos tal que as série an converge e no
P P
entanto a2n e a2n+1 divergem.

12. Considere uma sucessão an , n ∈ N de termos não negativos.


P P 2
i) Mostre que se an converge então an converge.
P P
ii) Encontre um exemplo duma sucessão nas condições do enunciado tal que a2n converge e an diverge.
iii) Justifique que retirando a hipótese an ≥ 0, n ∈ N, a asserção em i) não é válida.

13. Considere uma sucessão an , n ∈ N de termos não negativos.


P 2 P
i) Mostre que se a série an converge então a2n a2n+1 converge.

Sugestão: Considere a desigualdade (a − b)2 ≥ 0 , a, b ∈ R.


P P
ii) Dê exemplo duma sucessão an , n ∈ N nas condições do enunciado, tal que a2n a2n+1 converge e a2n
diverge.
P
iii) Suponha adicionalmente que a sucessão an , n ∈ N é monótona. Mostre que se a série a2n a2n+1
P 2
converge então an também converge.

14. Considere uma sucessão an , n ∈ N de termos não negativos.


P 2 X an
i) Mostre que se a série an converge então converge para α > 12 .

P 2 X an
ii) Dê exemplo duma sucessão an , n ∈ N de termos não negativos tal que an converge e √ diverge.
n
1 2
Sugestão: Para a alı́nea i) considere a desigualdade (an − ) ≥ 0 , n ∈ N1 .

15. Uma sucessão αj , j ∈ N diz-se convexa se a sucessão an = αn − αn+1 , n ∈ N é decrescente.
i) Verifique a seguinte igualdade
m−1
X
αn − αm = aj , m > n,
j=n

e conclua que se existe an < 0 então limn αn = +∞.


ii) Suponha que αj , j ∈ N é convexa e limitada e conclua que αj , j ∈ N é decrescente e lim nan = 0.

Sugestão: A monotonia é consequência imediata de i). Para mostrar que lim nan = 0 tenha em conta
P
que an converge e o problema 8.
P
iii) Nas condições da alı́nea ii) conclua que ∞
n=0 n(an − an+1 ) = α1 − limn αn .

16. Considere uma sucessão de termos complexos an , n ∈ N. Demonstre sucessivamente que:


P P
i) se o limite limn n2 an existe, então as séries n(an − an+1 ) e an são convergentes e as suas somas
verificam
X∞ X∞
n(an − an+1 ) = a1 − an+1 .
n=1 n=1
P P
ii) se o limite limn nk+1 an existe, então as séries n nk (an − an+1 ) e n nj an+1 , j = 0, · · · , k − 1 são
convergentes e as suas somas verificam
∞ k−1
! ∞
X k
X k X
n (an − an+1 ) = a1 + nj an+1 .
n=1 j=0
j n=1

Luı́s V. Pessoa
Funções analı́ticas 53

iii) Fixos j ∈ N e p ∈ N2 , considere a sucessão de termo geral

1
an =
(n + j)(n + j + 1) · · · (n + j + p)

e aplique as asserções em i) e ii) para calcular a soma


X
n2 (an − an+1 ).
n=1

P
17. Seja f : [ 0, +∞ [ → R+ uma função decrescente e f (n) uma série convergente. Mostre que
Z r ∞
X Z r
lim f (x) dx ≤ f (n) ≤ f (0) + lim f (x) dx.
r→+∞ 0 r→+∞ 0
n=0

18. Fixo 0 ≤ α ≤ 1, considere as sucessões de termos gerais an = n−1 ( ln n)−α , n ∈ N2 e sn = a2 + · · · + an .


Mostre que
8 1−α
< ln
> n
α<1
sn ∼ 1−α .
>
:
ln ln n α=1

19. Considere uma sucessão infinitésima γn , n ∈ N. Mostre que se existe j ∈ N1 tal que γn − γn+2j é uma
P
sucessão de termos reais decrescentes então a série n ξ n γn é convergente para ξ = E(iθ) , θ '= kπ/j , k ∈ Z .

P
20. Considere uma sucessão infinitésima γn , n ∈ N. Mostre que se existe j ∈ N1 tal que n |γn − γn+2j | é
P n
convergente então a série ξ γn é convergente para ξ = E(iθ) , θ '= kπ/j , k ∈ Z .

2.2 Séries de potências


Seja an , n ∈ N uma sucessão de termos complexos. Uma série de potências de z é uma série indexada
no parâmetro complexo z, da forma
)∞
an z n . (1)
n=0

O termo an diz-se o coeficiente da potência z n . As regiões de convergência e de convergência


absoluta da série de potências (1) são respectivamente os subconjuntos de C definidos por
) )
{z ∈ C : an z n converge} e {z ∈ C : an z n converge absolutamente}.

Se f : U → C é uma função definida no conjunto aberto não vazio U ⊂ C, então f diz-se analı́tica
em U se para qualquer w ∈ U existe ( > 0 e uma sucessão an , n ∈ N de termos complexos, tais que

)
f (z) = an (z − w)n , para qualquer z ∈ D(w, () , (2)
n=0

i.e. se numa vizinhança de w, a função f coincide com a soma duma série de potências. Nas condições
2
de (2), diz-se que no disco D(w, (), a função f é representada por a série de potências an (z − w)n .
A função f diz-se analı́tica no ponto w ∈ C, se é analı́tica numa vizinhança de w e diz-se uma
função inteira, se é representada por uma série de potências convergente no plano complexo.

Luı́s V. Pessoa
54 2.2. Séries de potências

Proposição 1 Seja an , n ∈ N uma sucessão de termos complexos e w ∈ C. De acordo com as usuais


convenções 1/0+ = +∞ e 1/(+∞) = 0, considere-se
1
r := ! ∈ [0, +∞] . (3)
lim supn n |an |
2 n
Se 0 < r < +∞, então a série de potências an (z − w) converge absolutamente no disco aberto
2 n
D(w, r) e diverge em C\cl D(w, r). Se r = 0 ou r = +∞ , então an (z − w) converge absolutamente
no conjunto {w} ou C , respectivamente, e diverge no complementar.

Demonstração: Suponha-se inicialmente que 0 < r < +∞. Atentando a


! !
lim sup n |an (z − w)n | = |z − w| lim sup n |an | , (4)
n n
2
sabemos da proposição [10 sec. 2.1] que a série an (z − w)n converge absolutamente se |z − w| < r,
!
e diverge se |z − w| > r. Se r = 0 ou r = +∞ então respectivamente lim supn n |an | = +∞ e
+
!
lim supn n |an | = 0. Consequentemente, de (4) e novamente da proposição [10 sec. 2.1], conclui-se que
2 n
a série an (z − w) diverge para todo o z ∈ C\ {w} ou converge absolutamente para todo z ∈ C,
2
respectivamente. Resta observar que a série de potências an (z − w)n , em quaisquer dos casos é
absolutamente convergente para z = w.

Região de divergência

w
Região de convergência
absoluta

Figura 2.1: Região de convergência

2
O valor do limite em (3) é designado por raio de convergência da série an (z − w)n . Suponha-se
de seguida que os coeficientes an , n ∈ N não são nulos, para ordens superiores a determinado natural.
Da proposição [11 sec. 2.1], conclui-se que se o seguinte limite
" "
" an "
"
r := lim " "
n an+1 "
existe, então coincide o raio de convergência. Porque
1 1
r= ! = lim inf ! ,
lim supn n
|an | n n
|an |
da proposição [11 sec. 2.1], infere-se a validade das seguintes desigualdades
" " " "
" an " " "
lim inf "" " ≤ r ≤ lim sup " an " . (5)
n an+1 " n
" an+1 "

Luı́s V. Pessoa
Funções analı́ticas 55

Exemplos
1. [Polinómios] Se p(z) é um polinómio de grau n ∈ N então existem ak ∈ C, k = 0, · · · , n tais que
2n
an )= 0 e p(z) = k=0 ak z k . Como qualquer soma finita está bem definida, o raio de convergência
associado ao polinómio p é infinito. Logo os polinómios são funções inteiras.

2. [Função exponencial] Define-se a função exponencial na região de convergência da série

)∞
zn
ez := . (6)
n=0
n!

De
(n + 1)!
lim = lim(n + 1) = ∞
n n! n

conclui-se que a função exponencial z → ez está bem definida para qualquer z ∈ C. Consequentemente,
a função exponencial é uma função inteira. O numero complexo e1 é adiante designado por o sı́mbolo
e (sem indicação de exponente).

3. Seja an , n ∈ N uma sucessão de termos complexos, não nulos para ordens suficientemente grandes.
2
Fixo w ∈ C, considere-se a série de potências an (z − w)n . Anotamos que é possı́vel as desigualdades
em (5) serem estritas. De facto, considerando a sucessão no exemplo [18 sec. 2.1], i.e. a sucessão de
termo geral an = 2 + (−1)n+1 , então
" " " "
" = 3 , lim sup " an " = 1 e r = 1 .
" an " " "
lim inf "" " "
an+1 an+1 " 3

Tão bem quanto as referidas desigualdades poderão ser o “mais estritas possı́veis”. Para tal exempli-
ficar, é suficiente considerar a sucessão bn = 2−nan , n ∈ N e verificar que
" " " "
" bn " " "
lim inf "" " = 0 , lim sup " bn " = +∞ e γ = 1 ,
bn+1 " " bn+1 "
2
aonde γ designa o raio de convergência da série de potências bn (z − w)n .

Fixo w ∈ C, da proposição 1 sabemos que a região de convergência simples duma série de potências
2
an (z − w)n , com raio de convergência r ∈ ] 0, +∞ [ , é um subconjunto de ∂D(w, r). Dada a di-
ficuldade do problema, está fora dos objectivos do decorrente texto apresentar resultados de escopo
genérico acerca de caracterizações das referidas regiões. Apresentam-se no entanto alguns exemplos.

Exemplos
2 n
4. A série geométrica z converge absolutamente no disco unitário aberto. Se |z| = 1 então
2 n
z n , n ∈ N não é um infinitésimo. Logo z diverge em quaisquer pontos do circulo unitário.
2 n 2
5. A série de potências z /n têm raio de convergência r = 1. Tendo em linha de conta a
2 2 n 2
convergência da série numérica 1/n2 , conclui-se que z /n converge absolutamente no disco
unitário fechado.

Luı́s V. Pessoa
56 2.2. Séries de potências

2 n
6. A série de potências z /n converge absolutamente no disco unitário aberto. Considerando o
critério de Dirichlet, infere-se a convergência simples em quaisquer pontos do circulo unitário, excep-
tuando o ponto de divergência z = 1.

7. Fixo um número complexo unitário ξ, deduz-se do exemplo anterior que a série de potências
2 n
ξ z n /n converge simplesmente no circulo unitário, exceptuando o ponto z = ξ. Como a soma de
séries convergentes é uma série convergente, tanto quanto a soma duma série convergente com outra
divergente é uma série divergente, conclui-se sem dificuldades que a seguinte série
∞ n n ∞ n ∞ n
) ξ1 + · · · + ξk n ) ξ1 n ) ξk n
z = z + ··· + z , aonde |ξj | = 1, j = 1, · · · , k
n=0
n n=0
n n=0
n

converge simplesmente no circulo unitário com excepção do conjunto finito de pontos {ξ1 , · · · , ξk }.
2
8. Seja an z n uma série de potências com raio de convergência r = 1 e an ≥ 0 , n ∈ N. Suponha-se
2
que a função f (z) = an z n é limitada para z ∈ D(0, 1). Do exemplo [10 sec. 2.1] conclui-se que a série
2 2
an é convergente, e logo an z n é absolutamente convergente no disco unitário fechado.

Diz-se que a função R(z) de variável complexa é uma função racional, se existem polinómios p(z)
e q(z), tais que q(z) é um polinómio não nulo e R(z) = p(z)/q(z). Logo, a função racional R(z) está
definida em C, excepto possivelmente num número finito de pontos, precisamente em C excepto o
conjunto dos zeros de q(z).

Lema 2 Se an , n ∈ N é uma sucessão de termos complexos e R(z) uma função racional, então as
2 2
série de potências R(n)an z n e an z n têm o mesmo raio de convergência.

Demonstração: Considerem-se polinómios p(z) e q(z), tais que q(z) é polinómio não nulo e
R(z) = p(z)/q(z). A asserção obtém-se tendo em conta que
" " " "
" R(n) " " p(n) q(n) ""
"
lim " " "
= lim " = 1,
n R(n + 1) " n p(n + 1) q(n + 1) "

e consequentemente
! ! ! !
lim sup n
|R(n)an | = lim n |R(n)| lim sup n |an | = lim sup n |an |.

Em semelhança com a análise real, se f é uma função complexa definida no disco D(z, (), ( > 0 então
a aplicação
f (z + h) − f (z)
D(z, ()\ {0} # h → ∈C
h
diz-se a razão incremental no ponto z da função f. No seguinte resultado demonstraremos que a
razão incremental de funções analı́ticas no ponto z, é prolongável por continuidade à origem.

Luı́s V. Pessoa
Funções analı́ticas 57

Proposição 3 Seja f uma função analı́tica na origem e suponha-se que f é representada por a série
2 2
de potências an z n , com raio de convergência 0 < r ≤ +∞. Então n=1 nan z n−1 converge absolu-
tamente em D(0, r) e representa uma função analı́tica g(z) que verifica a propriedade

f (z + h) − f (z)
lim = g(z) , para qualquer z ∈ D(0, r).
h→0 h
Demonstração: Sem perda de generalidade suponha-se que r )= +∞. Do lema 2 infere-se que
2 2
as séries an z n e nan z n−1 têm o mesmo raio de convergência. Fixo z ∈ D(0, r), considerem-se
ρ := (r + |z|)/2 e números complexos h ∈ C tais que |h| < ρ − |z|. Como |z + h| ≤| z| + |h| < ρ<r
então z e z + h pertencem à região de convergência das séries de potências que representam as funções
f e g. Consequentemente
" " "" " "∞ "
(z + h)n − z n "" "" ) z n + nhz n−1 − (z + h)n ""

)
"g(z) − f (z + h) − f (z) " = ""g(z) −
" "
" " " an "=" an " . (7)
h h " " h "
n=0 n=2

Tendo em linha de conta o binómio de Newton e a evidente igualdade


# $ # $
n n(n − 1) n − 2
= , k = 2, · · · , n ,
k k(k − 1) k − 2

para |h| < ρ − |z| , obtém-se


" n " " "
") n # $ n # $
" z + nhz n−1 − (z + h)n
"
"
" " n k−1 n−k "" ) n
" " = " h z " ≤ |h| |h|k−2 |z|n−k
h " k " k
k=2 k=2
n #
) $
n(n − 1) n−2 n(n − 1) n−2
≤ |h| |h|k−2 |z|n−k = |h|(|z| + |h|) .
2 k−2 2
k=2
2
De novo o lema 2 assegura que o raio de convergência da série de potências n(n − 1)an z n−2 coincide
2
com r. Consequentemente, a série n(n − 1)|an |ρn−2 é convergente. Logo, inserindo a desigualdade
anterior em (7), obtém-se
" " ∞ ∞
"
" f (z + h) − f (z) "" |h| ) n−2 |h| )
0 ≤ "g(z) − " ≤ n(n − 1)|an |(|z| + |h|) ≤ n(n − 1)|an |ρn−2 −−
→ 0,
h 2 n=2 2 n=2 h→0

o que termina a demonstração.

As funções analı́ticas constituem uma generalização natural das funções polinomiais, cujos valores em
determinado ponto calculam-se efectuando um número finito de somas e multiplicações entre números
complexos. Os polinómios são funções regulares, se a regularidade for definida por intermédio das
noções de diferenciabilidade real em espaços de dimensão finita, induzidas em funções de variável
complexa. Em generalidade, dada uma função f definida num subconjunto U aberto e não vazio de
C, poder-se-á proceder ao estudo da diferenciabilidade real, às questões de existência das derivadas
parciais de ordem arbitrária, etc. Em todo o texto diz-se que f ∈ C n (U ) , n ∈ N sse
∂nf
∈ C(U ) para todo j, k = 0, · · · , n tais que j + k ≤ n,
∂xj ∂y k
aonde
∂0f ∂0f
= = f.
∂x0 ∂y 0

Luı́s V. Pessoa
58 2.2. Séries de potências

Diz-se igualmente que f ∈ C ∞ (U ) se f ∈ C n (U ), para qualquer que seja n ∈ N. Os polinómios na


variável complexa z, são funções cujas funções coordenadas são polinómios nas variáveis x e y, aonde
z = x + iy. Logo são funções da classe C ∞ (U ). No próximo resultados mostra-se que as funções
analı́ticas no subconjunto U ⊂ C, aberto e não vazio, são também elementos da classe C ∞ (U ). No
capı́tulo seguinte será evidente que a classe das funções analı́ticas é uma subclasse estrita de C ∞ (U ).

Corolário 4 Seja U ⊂ C um conjunto aberto. Se f é uma função analı́tica em U então f ∈ C ∞ (U ).

Demonstração: Seja w ∈ U e considere-se ( > 0 tal que f é representada em D(w, () por uma
2
série de potências an (z − w)n . A proposição 3 assegura a existência do seguinte limite
f (z + h) − f (z)
lim := g(z) , para qualquer que seja z ∈ D(w, ().
h→0 h
Em particular, deduz-se que existe δ > 0 tal que para |h| < δ verifica-se

0 ≤ |f (z + h) − f (z)| ≤ (|g(z)| + 1)|h| −


−→ 0.
h→0

Em consequência, a continuidade da função f no ponto z segue sem dificuldades. Relativamente à


existência de derivadas parciais, temos em conta a proposição 3 para obter
∂f f (x + t, y) − f (x, y) f ((x + iy) + t) − f (x + iy)
(x, y) = lim = lim = g(z) ,
∂x t→0 t t→0 t
t∈R t∈R
(8)
∂f f (x, y + t) − f (x, y) f ((x + iy) + it) − f (x + iy)
(x, y) = lim = i lim = ig(z) .
∂y t→0
t∈R
t t→0
t∈R
it

De novo da proposição 3, infere-se que a função g é analı́tica em U, e da parte inicial da decorrente


demonstração conclui-se que g é contı́nua. Logo f ∈ C 1 (U ). Terminamos a prova indicando a pos-
sibilidade em proceder por indução matemática. De facto, de (8) deduz-se que as derivadas parciais
de primeira ordem da função f, são funções analı́ticas e portanto têm derivadas parciais de primeira
ordem contı́nuas. Logo f ∈ C 2 (U ) e assim sucessivamente.

Se f é uma função analı́tica no ponto z = x + iy, (x, y) ∈ R2 então de (8) é evidente a igualdade
∂f ∂f
(x, y) = −i (x, y) . (9)
∂x ∂y
A equação anterior será adiante designada por equação de Cauchy-Riemann.
2
Corolário 5 Considere-se um complexo fixo w e n=0 an (z − w)n uma série de potências com raio
de convergência 0 < r ≤ +∞. Para qualquer que seja z ∈ D(w, r) são válidas as seguintes igualdades
∂ ) ) ∂ ∂ ) ) ∂
an (z − w)n = an (z − w)n e an (z − w)n = an (z − w)n . (10)
∂x n=0 n=0
∂x ∂y n=0 n=0
∂y

Demonstração: Defina as seguintes funções


) )
f (z) := an (z − w)n , z ∈ D(w, r) e g(z) = an n(z − w)n−1 , z ∈ D(w, r).
n=0 n=1

Porque qualquer polinómio é uma função analı́tica então considerando (8) sabemos que
∂f ∂
(z) = g(z) e (z − w)n = n(z − w)n−1 (n ∈ N1 ).
∂x ∂x

Luı́s V. Pessoa
Funções analı́ticas 59

e assim obtém-se o lado esquerdo de (10). Argumentos análogos conduzem a


∂f ∂
(z) = ig(z) e (z − w)n = in(z − w)n−1 (n ∈ N1 ).
∂y ∂y
Simples substituições conduzem ao lado direito de (10).

Exemplos
9. [Generalização da exponencial real] Tendo em conta que

) ∞ ∞
1 n−1 ) 1 ) 1 n
n z = z n−1 = z = ez ,
n=1
n! n=1
(n − 1)! n=0
n!

da proposição 3, deduz-se a seguinte igualdade

ez+h − ez
lim = ez , z ∈ C.
h→0 h
Em particular, considerando a função de duas variáveis reais

φ : R2 → C , φ(x, y) = ex+iy , x, y ∈ R,

as fórmulas (8) permitem calcular as derivadas parciais da função exponencial, i.e.


∂φ ∂φ
(x, y) = ez e (x, y) = iez , aonde z = x + iy (x, y ∈ R). (11)
∂x ∂y
Denote-se momentaneamente a função exponencial conhecida da analise real por exp (x) , x ∈ R. De
(11) e das bem conhecidas regras de derivação da análise real, deduz-se o seguinte
d d d
( exp (−x)ex ) = exp (−x) ex + ex exp (−x) = exp (−x)ex − ex exp (−x) = 0.
dx dx dx
Logo, a função R # x → exp (−x)ex é constante. Sabemos que exp (0) = 1 e da definição de
exponencial complexa (6) também é obvio que e0 = 1. Consequentemente
)∞
xn
exp (x) = ex = , x ∈ R.
n=0
n!

Conclui-se que a função exponencial complexa é uma generalização da exponencial de variável real.

10. [Conjugação de funções analı́ticas] Da proposição 3, sabemos que funções analı́ticas são contı́nuas.
A aplicação de conjugação C # z → z ∈ C é isométrica e logo é continua. Se f é representada no disco
2
D(x, (), ( > 0 , x ∈ R por a série de potências an (z − x)n e Sn (z) = a0 + · · · + an−1 (z − x)n−1 , então
k−1
) ∞
)
f (z) = lim Sk (z) = lim S k (z) = lim an (z − x)n = an (z − x)n , z ∈ D(x, ().
k k k
n=0 n=0

Se an ∈ R, n ∈ N então conclui-se que f (z) = f (z), para qualquer z ∈ D(x, (). A função exponencial
é inteira e representada por uma série de potências com coeficientes reais. Logo ez = ez , z ∈ C.

Luı́s V. Pessoa
60 2.2. Séries de potências

2.2 Problemas
P
1. Determine o raio de convergência das séries de potências an z n , aonde o termo geral da sucessão an , n ∈ N
é indicado nas diferentes alı́neas do problema [3 sec. 2.1].
P
2. Verifique que a série de potências an z n converge absolutamente no disco fechado cl D(0, r), r > 0 sse
converge absolutamente em algum ponto da fronteira ∂D(0, r).

3. Determine a região de convergência absoluta das seguintes séries de potências:


X X 1 X n X n
i) n3 z n ; ii) 2 + (−1)n n3
zn ; iii) n(−1) z n ; iv) n(−1) n n
z ;
n n
n n n
X 1 X n! n Xn n n X (2n)! n
v) (−1)n n
zn ; vi) z ; vii) z ; viii) z ;
n
1 + n n
nn n
n! n
(3n)!
X n n2 X n3 + 1 n n2 X (−1)n n2 n X (−1)n n n2
ix) 2 z ; x) 2 z ; xi) 2 z ; xii) 2 z ;
n n
n2 − 1 n n
X 1 n! X nn n X X nn n!
xiii) z ; xiv) z ,. > 0 ; xv) nn z n! ; xvi) z ;
n
n! n
.n! n n
n!
X
xvii) cos(nθ)z n , θ ∈ R .
n

4. Determine a região de convergência simples das seguintes séries de potências:


X1 n X (n + 1)n n X nn
i) z ; ii) z ; iii) zn ;
n
n n
nn n
(n + 1)n+1
X n! n X 1 X
iv) z ; v) √ zn ; vi) cos(nθ)z n , θ ∈ R .
n
nn n
n + (−1)n n
n
P
5. Considere uma sucessão de termos complexos an , n ∈ N. Se an z n é uma série de potências com raio de
convergência r ∈ [0, +∞] , mostre sucessivamente que:
P √
i) para k ∈ N1 fixo, a série de potências n an z kn tem raio de convergência k r ;
P
ii) se b, c ∈ C e b '= 0 então a série de potências an (bz + c)n têm raio de convergência r/|b| ;
P
iii) se existe k ∈ N tal que n > k ⇒ an '= 0, então a série n a−1 n
n z tem raio de convergência r
−1
.

6.
P
a) Determine o raio de convergência da série de potências an z n , aonde an , n ∈ N denota uma sucessão
complexa, tal que, para ordens suficientemente grandes, o termo geral verifica as condições indicadas nas
seguintes alı́neas:

i) existem constantes positivas 0 < λ1 ≤ λ2 tais que λ1 ≤ |an | ≤ λ2 ;


ii) existem constantes positivas 0 < λ1 ≤ λ2 tais que λ1 n2 ≤ |an | ≤ λ2 n3 ;
iii) existem constantes positivas 0 < λ1 ≤ λ2 tais que λ1 (3n − n2 ) ≤ an ≤ λ2 (3n + n3 ) ;
iv) existe p ∈ N tal que 0 < an ≤ np e an + am ≤ anm , para n, m superiores a determinado natural.

b) Verifique que para cada j ∈ N, as sucessões ln j n, n ∈ N1 estão nas condições da alı́nea a) iv).

7. Considere a série de potências


X zn
(n + 1)k , aonde k∈N está fixo. (12)
n=0
n!

Mostre sucessivamente que:

Luı́s V. Pessoa
Funções analı́ticas 61

i) a série de potência (12) tem raio de convergência r = +∞;


ii) denote a soma da série de potências (12) por S(z, k) , k ∈ N e obtenha a fórmula de recorrência
k−1
!
X k
S(z, k) = ez + z S(z, j) .
j=0
j+1

iii) Determine a soma S(z, 1), S(z, 2) e S(z, 3), para qualquer que seja z ∈ C.
P
8. Considere uma função analı́tica em D(0, 1) e representada (em D(0, 1)) por uma série de potências an z n
com coeficientes positivos, i.e. tal que an ≥ 0 , n ∈ N. Mostre que se f é uma função limitada em D(0, 1) então
P
an z n converge absolutamente em cl D(0, 1).

9. Considere w ∈ C fixo e a função g(z) = ewz , z ∈ C. Mostre que limh→0 [g(z + h) − g(z)] /h , existe para algum
z ∈ C sse w = 0.

2.3 Funções trigonométricas e exponencial


Considere a função de variável real definida por intermédio de

ϕ:R→C , ϕ(x) = eix , x, y ∈ R.

De [11 sec. 2.2], obtém-se que ϕ é diferenciável em R e ϕ' (x) = ieix , x ∈ R. Do conhecimento das
derivadas das funções trigonométricas de variável real segue que

E' (ix) = − sin x + i cos x = i(cos x + i sin x) = i E(ix) . (1)

Da regra de derivação do produto de funções de variável real e de simples manipulações algébricas,


segue a sua aplicabilidade para o produto de funções de variável real com valores complexos, i.e. se
f, g : R → C são diferenciáveis em R então é valida a regra de derivação

d(f g) df dg
= g+f .
dx dx dx
O leitor poderá consultar a demonstração da proposição [1 sec. 3.1] defronte, e aonde encontrará justi-
ficação da asserção anterior. Em conta de ϕ' (x) = ieix e de (1), a regra de derivação do produto de
funções de variável real estabelece

d
( E(−ix) eix ) = i E(−ix) eix − i E(−ix) eix = 0 .
dx

Logo a função R # x → E(−ix) eix é constante. É evidente que E(i0) = 1. Da definição de


exponencial complexa [6 sec. 2.2], também é obvio que e0 = 1. Em consequência E(−ix) eix = 1, para
qualquer x ∈ R. Tendo em atenção a igualdade E(−ix) E(ix) = 1, obtém-se

eix = E(ix) = cos x + i sin x , x ∈ R. (2)

A fórmula (2) é designada por fórmula de Euler. Definimos a função

ψ : R2 → C , ψ(x, y) = e−x e−iy ez aonde z = x + iy.

Luı́s V. Pessoa
62 2.3. Funções trigonométricas e exponencial

Considerando [11 sec. 2.2] e a regra da derivação da composta de funções de variáveis reais, obtém-se
∂ψ
= e−x e−iy ez − e−x e−iy ez = 0 ,
∂x
(3)
∂ψ
= ie−x e−iy ez − ie−x e−iy ez = 0 .
∂y

Infere-se que a função ψ é constante em R2 . É evidente que ψ(0, 0) = 1, e logo e−x e−iy ez = 1, para
qualquer z = x + iy. Considerando a propriedade da exponencial real ex+y = ex ey tanto quanto a
fórmula de Euler, obtemos

ez = ex eiy = ex (cos y + i sin y) , z = x + iy ,

i.e.
Re ez = ex cos y e Im ez = ex sin y , aonde z = x + iy (x, y ∈ R).
Da igualdade ex+iy = ex eiy , x, y ∈ R obtida acima, segue sem dificuldades de maior a asserção

ez+w = ez ew , quaisquer que sejam z, w ∈ C.

Fixos números reais a < b, consideramos a faixa horizontal semi-aberta (à esquerda), definida por

Y ]a,b ] = {z ∈ C : a < Im z ≤ b} .

Diz-se que Y ]a,b ] tem largura b−a. Na seguinte proposição resumimos os resultados obtidos e mostramos
a injectividade da exponencial restrita a qualquer faixa horizontal semi-aberta de largura 2π.

Proposição 1 A função exponencial complexa é uma função periódica com perı́odo 2πi, é injectiva
em qualquer faixa horizontal semi-aberta de largura 2π e verifica as seguintes propriedades

e0 = 1 e ez+w = ez ew ,

Re ez = eRe z cos(Im z) e Im ez = eRe z sin(Im z) ,

para quaisquer que sejam z, w ∈ C.

Demonstração: Resta mostrar que a função exponencial é periódica e injectiva em faixas hori-
zontais semi-abertas de largura 2π. A periodicidade da função exponencial obtém-se de

ez+2πi = ez e2πi = ez (cos 2π + i sin 2π) = ez , z ∈ C.

Suponha-se z, w ∈ Y ]a,b ] com a, b ∈ R verificando b − a = 2π. Se Re z )= Re w então

|ez − ew | ≥ ||ez | −| ew || = |eRe z − eRe w | > 0.

Se Re z = Re w = x e z )= w então ez )= ew é consequência da injectividade da função R # x → eix , em


qualquer intervalo semi-aberto de comprimento 2π. Note-se que a asserção anterior foi demonstrada
na secção
7. Por motivos de clareza, transcrevemos os argumentos então expostos. Segue das hipóteses
Im z = y1 , Im w = y2 e 0 < |y1 − y2 | < 2π o seguinte
" y −y " " # $"
"
x " iy1
"
iy2 " x" i 1 2 2 i 22 1 "
y −y "
x" y1 − y2 ""
|e − e | = e e − e
z w
= e "e −e " = 2e "sin " )= 0.
2

Luı́s V. Pessoa
Funções analı́ticas 63

Da fórmula de Euler (2), obtemos

eix + e−ix eix − e−ix


cos x = e sin x = , aonde x ∈ R. (4)
2 2i
Considerando a definição de exponencial complexa, infere-se que para qualquer y ∈ R verifica-se
∞ ∞ 2n 2n ∞
1 iy 1) in y n ) i y ) (−1)n 2n
(e + e−iy ) = [1 + (−1)n ] = = y ,
2 2 n=0 n! n=0
(2n)! n=0
(2n)!
∞ ∞ 2n+1 2n+1 ∞
(5)
1 iy 1) in y n ) i y ) (−1)n
(e − e−iy ) = [1 − (−1)n ] = −i = y 2n+1 .
2i 2i n=0 n! n=0
(2n + 1)! n=0
(2n + 1)!

Consequentemente, as funções trigonométricas reais coincidem com a soma das seguintes séries
)∞ )∞
(−1)n 2n (−1)n
cos x = x , x∈R e sin x = x2n+1 , x ∈ R.
n=0
(2n)! n=0
(2n + 1)!

A generalização das funções trigonométricas reais encontra motivos em (4) e efectua-se por intermédio
das seguintes definições

eiz + e−iz eiz − e−iz


cos z := , z∈C e sin z := , z ∈ C. (6)
2 2i
As computações em (5) permitem estabelecer representações em série de potências das funções trigo-
nométricas complexas, precisamente
)∞ )∞
(−1)n 2n (−1)n 2n+1
cos z = z , z∈C e sin z = z , z ∈ C.
n=0
(2n)! n=0
(2n + 1)!

Em particular, as funções cos z e sin z são funções inteiras. Tendo em linha de conta que a exponencial
é uma função periódica com perı́odo 2πi, das definições (6), conclui-se que as funções trigonométricas
complexas são periódicas com perı́odo 2π.

Demonstra-se de seguida que o conjunto dos zeros das funções trigonométricas complexas coincide com
o conjunto dos zeros das trigonométricas reais, i.e. todos zeros das funções trigonométricas complexas
são números reais. Multiplicando por eiz ambos os membros da igualdade definindo a função coseno
em (6), obtém-se que as soluções da equação sin z = 0 , z ∈ C coincidem com as soluções de e2iz = 1.
Se z = x + iy (x, y ∈ R) então
  
 ex cos y = 1  (−1)k ex = 1 , k ∈ Z  x = 0
e =1 ⇔
z
⇔ ⇔
 ex sin y = 0  y = kπ , k ∈ Z  y = 2kπ , k ∈ Z

i.e. ez = 1 sse z = 2kπi , k ∈ Z. Consequentemente

sin z = 0 ⇐⇒ z = kπ , k ∈ Z . (7)

Na secção seguinte ir-se-á obter as soluções da equação ez = w , w ∈ C\ {0} usando ideias distintas. No
entanto, as computações acima poder-se-iam resumir à simples observação de que da injectividade da

Luı́s V. Pessoa
64 2.3. Funções trigonométricas e exponencial

função exponencial em faixas horizontais semi-abertas, da sua periodicidade e da evidente igualdade


e0 = 1, deduz-se que o conjunto das soluções da equação e2iz = 1 é dado por kπ, k ∈ Z. Com intuitos
em obter os zeros da função cos z, note-se que
4π 5 ei( π2 −z) − e−i( π2 −z) ie−iz + ieiz
sin −z = = = cos z , (8)
2 2i 2i
e consequentemente # $
1
cos z = 0 ⇐⇒ z= k+ π, k ∈ Z.
2
Simples operações algébricas nas igualdades (6), permitem obter as fórmulas trigonométricas

cos(z ± w) = cos(z) cos(w) ∓ sin(z) sin(w) ;


(9)
sin(z ± w) = sin(z) cos(w) ± cos(z) sin(w) .

Em particular, se z = x + iy (x, y ∈ R) então

cos(z) = cos(x) cos(iy) − sin(x) sin(iy) = cos(x) cosh(y) − i sin(x) sinh(y) ;

sin(z) = sin(x) cos(iy) + cos(x) sin(iy) = sin(x) cosh(y) + i cos(x) sinh(y) ;

aonde cosh e sinh designam as funções trigonométricas hiperbólicas reais, i.e.

ex + e−x ex − e−x
cosh x = , x∈R e sinh x = , x ∈ R.
2 2
Portanto

Re cos(z) = cos(Re z) cosh(Im z) Im cos(z) = − sin(Re z) sinh(Im z)


e .
Re sin(z) = sin(Re z) cosh(Im z) Im sin(z) = cos(Re z) sinh(Im z)

As funções trigonométricas hiperbólicas complexas são definidas por

ez + e−z ez − e−z
cosh z := , z∈C e sinh z := , z ∈ C.
2 2
Da definição de função exponencial, infere-se que as funções trigonométricas hiperbólicas são funções
inteiras representadas por os seguintes desenvolvimentos em séries de potências

) ∞
)
1 1
sinh z = z 2n+1 , z ∈ C e cosh z = z 2n , z ∈ C .
n=0
(2n + 1)! n=0
(2n)!

Tendo em linha de conta as seguintes igualdades

cosh z = cos(iz) e sinh z = i sin(iz) ,

obtém-se sem dificuldades que as trigonométricas hiperbólicas são periódicas com perı́odo 2πi e

sinh z = 0 ⇔ z = kπi , k ∈ Z , k∈Z


# $ .
1
cosh z = 0 ⇔ z= k+ πi , k∈Z
2

Luı́s V. Pessoa
Funções analı́ticas 65

2.3 Problemas
1. Tenha em consideração a fórmula de Euler (2), para reduzir o calculo das seguintes primitivas de funções de
variável real ao cálculo de primitivas imediatas::
Z Z Z Z
1
i) et cos t dt ; ii) cos3 t dt ; iii) et sin3 t dt ; iv) dt .
1 − cos t

2. Determine a região de convergência absoluta das seguintes séries:


X nz X nz2 X nz X
i) e ; ii) e ; iii) (e + enz ) ; iv) cosn (z − z) .
n n n n

3. Sejam z, w ∈ C. Demonstre as seguintes igualdades:

i) cos(z ± w) = cos(z) cos(w) ∓ sin(z) sin(w) ; ii) sin(z ± w) = sin(z) cos(w) ± cos(z) sin(w) ;

iii) cos(2z) = cos2 (z) − sin2 (z) ; iv) sin(2z) = 2 sin z cos z ;
z+w w−z z+w z−w
v) cos z − cos w = 2 sin sin ; vi) sin z − sin w = 2 cos sin ;
2 2 2 2
vii) cos2 (z) + sin2 (z) = 1 ; viii) |cos z|2 + |sin z|2 = cosh(2 Im z) ;

ix) |cos z|2 − |sin z|2 = cos(2 Re z) ; x) |cos z|2 = sinh2 (Im z) + cos2 (Re z) ;

xi) |sin z|2 = cosh2 (Im z) − cos2 (Re z) .

4. Sejam z, w ∈ C. Demonstre as seguintes igualdades:

i) cosh(z ± w) = cosh(z) cosh(w) ± sinh(z) sinh(w) ; ii) sinh(z ± w) = sinh(z) cosh(w) ± cosh(z) sinh(w) ;

iii) cosh(2z) = cosh2 (z) + sinh2 (z) ; iv) sinh(2z) = 2 sinh(z) cosh(2) ;

v) cosh2 (z) − sinh2 (z) = 1 ; vi) |cosh z|2 + |sinh z|2 = cosh(2 Re z) ;

vii) |cosh z|2 − |sinh z|2 = cos(2 Im z) ; viii) |cosh z|2 = sinh2 (Re z) + cos2 (Im z) ;
` ´
ix) |sinh z|2 = sinh2 (Re z) + sin2 (Im z) ; x) sinh z − i π2 = −i cosh z .

5. Mostre que se w ∈ C é um perı́odo da função exponencial, i.e. ez+w = ez , para qualquer complexo z ∈ C,
então existe k ∈ Z tal que w = 2kπi.

6. Mostre que as funções trigonométricas complexas são ilimitadas em qualquer recta não paralela ao eixo real.

7. Mostre que as funções trigonométricas hiperbólicas complexas são ilimitadas em quaisquer rectas não paralelas
ao eixo imaginário.

2.4 Funções inversas


Da asserção |ew | = eRe w )= 0, deduz-se que a equação ew = 0 não têm soluções complexas. Suponha-se
|z| =
) 0 e determinem-se as solução da equação ew = z. Considerando coordenadas polares, obtém-se
 
 |ew | = |z|  Re w = ln |z|
e =z⇔
w
⇔ , (1)
  Im w ∈ Arg z
arg (ew ) = arg z

Luı́s V. Pessoa
66 2.4. Funções inversas

aonde ln |z| designa a função logarı́tmica real calculada no número positivo |z| > 0. O logaritmo
polivalente do número complexo não nulo z, é definido como o conjunto de todas as soluções da
equação ew = z , i.e.
Ln z := { ln |z| + i(arg z + 2kπ) : k ∈ Z} ,

e relaciona-se com a função argumento polivalente através da seguinte fórmula

Ln z = ln |z| + i Arg z , z )= 0 .

Como para qualquer número complexo z não nulo, verifica-se Ln z )= ∅, então o contradomı́nio da
função exponencial é C\ {0} . Na proposição [1 sec. 2.3] consta que a função exponencial tem perı́odo
2πi e é injectiva em faixas horizontais semi-abertas Y ]a,b ] , a, b ∈ R de largura 2π = b − a. Conclui-se
que a função
Y ]a,b ] → C\ {0}

z → ez
é injectiva e sobrejectiva, para quaisquer a, b ∈ R tais que b − a = 2π. Em consequência, admite função
inversa, usualmente designada por ramo da função logaritmo polivalente. Denota-se por ln ]a,b ] , o
ramo do logaritmo que é a função inversa da exponencial restrita à faixa horizontal semi-aberta Y ]a,b ] ,
com 0 < b − a = 2π, i.e.

ln ]a,b ] : C\ {0} → Y ]a,b ] , ln ]a,b ] z = ln |z| + i arg ]a,b ] (z)

aonde
arg ]a,b ] (z) =θ sse Arg z ∩ ]a, b ] = {θ} .

O conjunto dos pontos de descontinuidade da função arg ]a,b ] , coincide com a semi-recta eib R+ . De
1
facto, considerando z = reib ∈ eib R+ , então definindo as sucessões zn± = rei(b± n ) , n ∈ N1 tem-se que
lim zn± = z. No entanto
lim arg ]a,b ] (zn± ) = b − π [1 + sgn (±1)] .
n

Consequentemente, o ramo da função logaritmo dado por ln ]a,b ] , apresenta descontinuidades na semi-
recta z = eib R+ , usualmente designada por linha de ramificação da função logarı́tmica.

A função logaritmo principal define-se como a função inversa da restrição da função exponencial à
faixa horizontal Y ]−π,π ] e é denotada por ln z , para z )= 0. Logo

ln : C\ {0} −→ Y ]−π,π ] aonde ln z = ln |z| + i arg z , z )= 0. (2)

Anote-se que o logaritmo principal restrito ao eixo real positivo coincide com a função logaritmo
introduzida na análise real e que a linha de ramificação do logaritmo principal é R− . Considerando a
mudança de coordenadas cartesianas para coordenadas polares, obtem-se

arg z = arg (reiθ ) = θ, para z = reiθ , r > 0, −π < θ ≤ π .

Consequentemente a função C # z → arg z é elemento da classe C ∞ (C\R− 0 ). Logo, da conhecida


regularidade da função logarı́tmica de variável real, conclui-se que a função logaritmo principal pertence
à classe C ∞ (C\R−
0 ).

Luı́s V. Pessoa
Funções analı́ticas 67

A operação de potenciação complexa é a função polivalente definida por z α := eα Ln z . Se o expoente


é real, deduz-se
. /
z x = |z|x eix arg z eix2kπ : k ∈ Z , para x ∈ R. (3)
De (3) é evidente que no caso de expoente inteiro, o conjunto z k (k ∈ Z) têm um único elemento,
determinado por recorrência da seguinte forma
=
z k = zz k−1 1
se k ∈ N e z −k = k .
z0 = 1 z
No caso de expoente racional x = p/q , p, q ∈ Z aonde p e q não têm divisores naturais comuns e q ∈ N1 ,
então o conjunto z p/q é dado por
>! ?
z p/q = q |z|p ei(p arg z)/q eikp (2π/q) : k ∈ Z .

Considerando a igualdade |z|p ei(p arg z) = z p , de [2 sec. 1.3] obtém-se sem dificuldades que z p/q = q z p .

Com intuitos em definir a inversa da função coseno, pretendemos calcular as soluções da equação
cos w = z, aonde w é um número complexo fixo. Multiplicando por eiw , ambos os membros da
equação definindo a função coseno em [6 sec. 2.3], obtemos sem dificuldade que
!
cos w = z ⇔ e2iw − 2zeiw + 1 = 0 ⇔ (eiw − z)2 = z 2 − 1 ⇔ w ∈ −i Ln (z + z 2 − 1)

A função arco coseno polivalente do número complexo z é definida como o conjunto de todas as
soluções da equação cos w = z , i.e.
!
Arccos z = −i Ln (z + z 2 − 1) .

Dado que para qualquer número complexo tem-se que 0 ∈ / z + z 2 − 1, deduz-se a sobrejectividade da

função coseno. Se z 2 − 1 = {z1 , −z1 } então (z − z1 )(z + z1 ) = 1, e da igualdade

Ln (zw) = Ln z + Ln w

infere-se sem dificuldade que −i Ln (z − z1 ) = i Ln (z + z1 ). Logo

Arccos z = {∓ i ln |z + z1 | ± arg (z + z1 ) + 2kπ : k ∈ Z} . (4)

É possı́vel resolver a equação sin w = z de forma semelhança ou simplesmente considerar [8 sec. 2.3]
para obter
π
Arcsin z = − Arccos z.
2

2.4 Problemas
1. Considere quaisquer números z, w ∈ C , n ∈ N e x ∈ R no domı́nio das seguintes expressões e demonstre-as:
i) Ln (zw) = ln z + Ln w ; ii) Ln (zw) = Ln z + Ln w ; iii) n Ln z ⊂ Ln z n ;

1
iv) Ln z = Ln z ; v) Ln = − Ln z ; vi) Ln ez = z + i Arg 1 ;
z
πˆ ˜ π
vii) ln (−1)n = i (−1)n+1 + 1 ; viii) ln (x) = ln |x| + i (1 − sgn x) ; ix) ln (ix) = ln |x| + sgn x ln i ;
2 2
1 1
/R;
x) ln z = ln z , z ∈ xi) ln = − ln z , z ∈ /R; xii) ln = − ln x + iπ(1 − sgn x) .
z x

Luı́s V. Pessoa
68 2.4. Funções inversas

2. Considere complexos não nulos x e z. Mostre a seguinte fórmula


π
ln (xz) = ln z + ln x − i / R+ , x ∈ R .
[1 + sgn ( arg z)] [1 − sgn x] , z ∈
2
Sugestão: Poder-lhe-á ser útil considerar o problema [9 sec. 1.2] e a alı́nea viii) do problema 1.

3. Calcule
i) i4i ; ii) 1i ; iii) ln i2ni , n ∈ N ; iv) |ix | , x ∈ R ; v) (ei)i ;

vi) ln eπ−iπ ; vii) i1−i ; viii) ii ; ix) i1−i ii ; x) Ln i2 ;

xi) 2 Ln i ; xii) ln i3 ; xiii) 3 ln i ; xiv) (eπ )i ; xv) (ei )π .

4. Considere quaisquer números z, w ∈ C , n ∈ N e x ∈ R no domı́nio das seguintes expressões e demonstre-as:

i) Ln z w = w Ln z + i Arg 1 ; ii) |z ix | = e−x Arg z ; iii) (zw)ξ = z ξ wξ ;


˛ ˛ ˘
πˆ ˜ ˛ ˛ ¯
iv) ln eπ+inπ = π + i (−1)n+1 + 1 ; v) |(ez )x | = |exz | ; vi) ˛(ez )i ˛ = eiz e−2kπ : k ∈ Z .
2

5. Demonstre a seguinte igualdade Arcsin z = −i Ln (iz + 1 − z 2 ).

6. Considere um número real x ∈ [−1, 1] . Mostre que o conjunto das soluções das equações na variável complexa
sin z = x, z ∈ C e cos z = x, z ∈ C é um subconjunto de R.

7. Determine as soluções das seguintes equações:


2 √ √
i) eiz = i ; ii) eiz ( 3 + i) + e−iz ( 3 − i) = 0 ; iii) cos z = sin z ;

iv) eiz − 4e−iz = 2i ; v) e−2z + ie−z − iez + 1 = 0 .

8. Considere um complexo não nulo z ∈ C e x ∈ R. Mostre que o conjunto z x é finito sse x ∈ Q.

Luı́s V. Pessoa
Capı́tulo 3

Holomorfia

3.1 Funções C-diferenciáveis


Diz-se que a derivada duma função de variável real existe no ponto x ∈ R, se existe o limite da razão
incremental em x, quando os acréscimos reais tendem a zero. Na proposição [3 sec. 2.2], validou-se
asserção análoga para a classe das funções analı́ticas de variável complexa, i.e. existe o limite da razão
incremental de determinada função f, em qualquer ponto aonde f é analı́tica, e quando os acréscimos
complexos convergem à origem. Motivos de tal ordem compelem a seguinte definição:

Definição 1 Uma função f : U ⊂ C → C diz-se C-diferenciável no ponto z ∈ int U, se existe o


seguinte limite
f (z + h) − f (z)
lim . (1)
h→0 h
Se f é C-diferenciável no ponto z ∈ int U, então a derivada f ' (z) é definida como sendo o valor do
limite em (1).

A função dada no seu domı́nio de definição por z → f ' (z), diz-se a função derivada de f. Se a
função f ' está bem definida numa vizinhança do ponto z ∈ U, então o número complexo f '' (z) é
definido por intermédio da definição 1 aplicada à função f ' . Em geral, definimos recursivamente as
derivadas complexas de ordem superior f (n) (z), n ∈ N1 . Se a função f (n−1) está bem definida
numa vizinhança do ponto z, então f (n) (z) é o valor do limite (1) aplicado à função f (n−1) , para
qualquer n ∈ N1 e aonde f (0) = f.

Exemplos
1. [Derivadas de funções analı́ticas] Seja f uma função analı́tica no disco D(w, r), r > 0. Suponha-
2
se que f é representada por a série de potências an (z − w)n , z ∈ D(w, r). Da proposição [3 sec. 2.2]
sabemos que f é C-diferenciável em todos os pontos de D(w, r), r > 0, tão bem quanto a série de
2
potências n=1 nan (z − w)n−1 é absolutamente convergente em D(w, r) e representa a função f ' (z),
para z ∈ D(w, r), r > 0. Em particular f ' é analı́tica em D(w, r) e consequentemente C-diferenciável
em todos os pontos de D(w, r), r > 0. Sem dificuldade, conclui-se por indução matemática que está
70 3.1. Funções C-diferenciáveis

bem definida a função f (k) (z), para qualquer k ∈ N1 e z ∈ D(w, r). Ademais, a série de potências

)∞
(n + k)!
an+k (z − w)n
n=0
n!

converge absolutamente em D(w, r) e

)∞
(n + k)!
f (k) (z) = an+k (z − w)n , z ∈ D(w, r). (2)
n=0
n!
2
Suponha-se que a função analı́tica f é representada por uma outra série de potências bn (z − w)n ,
convergente em algum disco aberto centrado em w . Então, de (2) obtém-se

k! ak = f (k) (w) = k! bk , k ∈ N

e logo ak = bk , para qualquer que seja k ∈ N , i.e. existe uma única série de potências que representa
a função f numa vizinhança de w. A asserção anterior é uma generalização do princı́pio de identidade
dos polinómios. Defronte será evidente que tal principio corresponde à unicidade da série de Taylor.

2. [Derivadas de funções elementares] Se f (z) = ez , z ∈ C, em conta do exemplo [9 sec. 2.2] e da


definição 1, conclui-se f ' (z) = f (z), z ∈ C. Logo f (n) (z) = ez , para quaisquer que sejam z ∈ C e n ∈ N.
Do conhecimento da regra de derivação da função exponencial, seguem-se sem dificuldades as regras
de derivação das funções trigonométricas e das trigonométricas hiperbólicas, precisamente

sin' z = cos z , cos' z = − sin z , sinh' z = cosh z e cosh' z = sinh z.

De facto, porque as funções trigonométricas são combinações lineares (complexas) de funções expo-
nenciais, é suficiente calcular a derivada da função f (z) = eξz , z ∈ C , aonde ξ denota uma constante
complexa não nula. O leitor poderá proceder por intermédio da proposição [3 sec. 2.2] ou simplesmente
consider o limite da razão incremental como se segue

f (z + h) − f (z) eξz+ξh − eξz eξz+ξh − eξz


f ' (z) = lim = lim = ξ lim = ξeξz .
h→0 h h→0 h h→0 ξh

3. Considere-se a função f (z) = z. Claramente o limite da razão incremental

f (z + h) − f (z) h
= = e−2iθ , h = reiθ
h h
não existe, caso h → 0, uma vez que existem limites direccionais distintos. Assim deduz-se a não
C-diferenciabilidade da função f (z) = z, em qualquer ponto do plano complexo.

4. Considere-se a função f (z) = z n , n ∈ N2 . Tendo em conta o binómio de Newton , obtemos


42 5
n n k n−k
f (z + h) − f (z) (z + h)n − z n k=0 Ck z h − zn n−1
h ) n k n−k−1
= = = Ck z h ,
h h h h
k=0

aonde Ckn designa o número de combinações de k em n, i.e.


# $
n n!
Ck :=
n
:= , n, k ∈ N, k ≤ n.
k (n − k)! k!

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 71

Considerando o limite direccional r → 0, h = reiθ , r > 0 e θ um número real fixo, obtemos


) n−1
f (z + reiθ ) − f (z) n−k−1

= e−2iθ Ckn z k h −
−→ ne−2iθ z n−1 .
re r→0+
k=0

Logo, se z )= 0 infere-se a existência de limites direccionais distintos. Consequentemente a função f


não é C-diferenciável no ponto z, z )= 0. Caso z = 0
" " " "
" f (h) − f (0) " "" hn ""
" " = " " = |h|n−1 −−
→ 0, n ≥ 2
" h " "h" h→0

e logo f é C-diferenciável na origem.

Se f : U ⊂ C → C é C-diferenciável no ponto z, então o limite em (1) independe da direcção de


convergência à origem, do acréscimo h. Em particular, se h → 0, h ∈ R ou h → 0, h ∈ iR, obtemos
∂f f (z + h) − f (z) f (z + ih) − f (z) f (z + ih) − f (z) ∂f
(z) = lim = f ' (z) = lim = −i lim = −i (z).
∂x h→0
h∈R
h h→0 ih h→0 h ∂y
h∈R h∈R

Definindo os operadores de derivação ∂z e ∂z por intermédio de


# $ # $
∂f 1 ∂f ∂f ∂f 1 ∂f ∂f
∂z f := := +i e ∂z f := := −i (3)
∂z 2 ∂x ∂y ∂z 2 ∂x ∂y
obtêm-se que se f é C-diferenciável no ponto z ∈ int U então

∂z f (z) = 0 e ∂z f (z) = f ' (z). (4)

A equação ∂z f (z) = 0 é designada por equação de Cauchy-Riemann. Recorde que, para a classe
das funções analı́ticas, a validade da equação de Cauchy-Riemann encontra-se afixada em [9 sec. 2.2].
É possı́vel reescrevê-la usando derivadas parciais ao invés do operador ∂z , tanto quanto funções com
valores reais ao invés de funções com valores complexos. De facto, se u = Re f e v = Im f , então
# $ 3 # $6
1 ∂f ∂f 1 ∂u ∂v ∂u ∂v
∂z f (z) = (z) + i (z) = (x, y) + i (x, y) + i (x, y) + i (x, y)
2 ∂x ∂y 2 ∂x ∂x ∂y ∂y
3# $ # $6
1 ∂u ∂v ∂v ∂u
= (x, y) − (x, y) + i (x, y) + (x, y) , z = x + iy (x, y ∈ R).
2 ∂x ∂y ∂x ∂y
Infere-se que a equação de Cauchy-Riemann equivale ao sistema de equações às derivadas parciais

 ∂u ∂v
 ∂x (x, y) = (x, y)


∂y
. (5)

 ∂u ∂v

 (x, y) = − (x, y)
∂y ∂x
Se f é C-diferenciável no ponto z ∈ int U, também a derivada f ' (z) exprime-se por intermédio das
derivadas parciais das suas partes real e imaginária, e.g.
∂u ∂v
f ' (z) = (x, y) + i (x, y).
∂x ∂x

Luı́s V. Pessoa
72 3.1. Funções C-diferenciáveis

Exemplos
5. Considere-se a função f (z) = ez , z ∈ C. As funções

Re f (z) = ex cos y e Im f (z) = −ex sin y , aonde z = x + iy (x, y ∈ R)

admitem em C derivadas parciais contı́nuas de todas as ordens, i.e. f ∈ C ∞ (C). Se f é C-diferenciável


em z então f verifica as equações de Cauchy-Riemann no ponto z, i.e. z = x + iy (x, y ∈ R) é solução
do sistema de equações às derivadas parciais (5), no caso particular do decorrente exemplo, dado por
 
 ex cos y = −ex cos y  cos y = 0
que é equivalente ao sistema .
 
−ex sin y = ex sin y sin y = 0

Como as funções trigonométricas reais não têm zeros comuns, conclui-se que f (z) = ez não é C-
diferenciável em nenhum ponto do plano complexo.

6. Considere-se a função f (z) := z 2 z + z 3 /3, z ∈ C. As regras de derivação dos operadores ∂z e ∂z


são em todo análogas às regras de derivação parcial. Na seguinte secção tentar-se-á atribuir rigor à
asserção anterior. Em particular, são válidos os cálculos
* +
∂z f (z) = ∂z z 2 z + z 3 /3 = z 2 + z 2
* + , z ∈ C.
∂z f (z) = ∂z z 2 z + z 3 /3 = 2|z|2

Em consequência, f é C-diferenciável no ponto z = x + iy (x, y ∈ R) sse y = ±x. Determinam-se as


derivadas parciais da função f, por intermédio dos operadores de derivação ∂z e ∂z , precisamente

∂f : ;
2
(z) = ( ∂z + ∂z )f (z) = (z + z) − 2zz + 2|z|2 = 4x2
∂x
: ; , z = x + iy (x, y ∈ R) .
∂f 2
(z) = i( ∂z − ∂z )f (z) = i2|z|2 − i (z − z) + 2zz = 4iy 2
∂y

i!
y"#x
! yf

!xf

y"x

Figura 3.1: C-diferenciabilidade da função de variável complexa f (z) = z|z|2 + z 3 /3

Observe a ortogonalidade das derivadas parciais em ordem a x e y, nos pontos aonde não nulas.

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 73

Recorde-se a noção de diferenciabilidade à Frechet no espaço vectorial R2 . Uma função

f : U ⊂ R2 → R2 , U # (x, y) → (u(x, y), v(x, y)) ∈ R2

é R-diferenciável no ponto z = x + iy ∈ int U, x, y ∈ R se está bem definida a matriz Jacobiana


 
∂u ∂u
(x, y) (x, y)
 ∂x ∂y 
Jf (z) := 
 ∂v


∂v
(x, y) (x, y)
∂x ∂y
e verifica
f (z + v) − f (z) = Jf (z)v + o(v) , v → 01
aonde v = (v1 , v2 ), vj ∈ R, j = 1, 2 e Jf (z)v designa o vector resultante da multiplicação da matriz
Jf (z) por a matriz coluna [v1 , v2 ]T , associada ao vector v = (v1 , v2 ), i.e.
∂f ∂f
Jf (z)v = (x, y)v1 + (x, y)v2 , z = x + iy (x, y ∈ R).
∂x ∂y
Em conta das igualdades
∂ ∂
= ∂z + ∂z e = i( ∂z − ∂z ) (6)
∂x ∂y
facilmente obtém-se que
Jf (z)v = ∂z f (z)v + ∂z f (z)v , (7)
aonde o vector v = (v1 , v2 ) é identificado com o número complexo v1 + iv2 e os produtos em ∂z f (z)v
e em ∂z f (z)v , são produtos de números complexos.

Intenta-se no decorrente parágrafo convencer o leitor da semelhança entre as noções de diferenciabili-


dade real e complexa. Diz-se que uma aplicação L : C → C é R-linear se

L(λv + µw) = λL(v) + µL(w) , λ, µ ∈ R e v, w ∈ C .

Como bem deverá ser conhecido, a condição de R-diferenciabilidade da função f equivale à existência
duma transformação R-linear L : C → C tal que

f (z + v) − f (z) = L(v) + o(v) , v → 0 . (8)

Diz-se que uma aplicação L : C → C é C-linear se

L(λv + µw) = λL(v) + µL(w) , λ, µ ∈ C e v, w ∈ C .

Se L é aplicação C-linear então existe ξ ∈ C tal que L(v) = vξ, v ∈ C. O leitor deverá verificar que uma
função f é C-diferenciável em z sse é possı́vel considerar em (8) uma aplicação C-linear L : C → C.

No seguinte resultado estabelece-se que a classe das funções C-diferenciáveis é uma subclasse estrita
da classe das funções R-diferenciáveis, classes essas distinguidas por a equação de Cauchy-Riemann.
1 Considerem-se funções g e h de variável complexa e com valores complexos. Diz-se que g(v), é um ó pequeno da
função h(v), quando v → 0 i.e. g(v) = o(h(v)) , v → 0 se limv→0 g(v)/h(v) = 0.

Luı́s V. Pessoa
74 3.1. Funções C-diferenciáveis

Proposição 2 Seja U ⊂ C um conjunto não vazio, z = x + iy ∈ int U e f : U ⊂ C → C. A


função f é C-diferenciável no ponto z sse f é R-diferenciável no ponto (x, y) e é válida a equação de
Cauchy-Riemann no ponto z.

Demonstração: Suponha-se inicialmente que f é C-diferenciável no ponto z. Tal como em (4)


demonstramos a validade das equações de Cauchy-Riemann. Resta provar que f é R-diferenciável no
ponto (x, y). Tendo em conta (4) e (7), é necessário mostrar que

f (z + v) − f (z) − f ' (z)v = o(v) , C # v → 0.

Tendo em linha de conta o seguinte


" " " "
|f (z + v) − f (z) − f ' (z)v| "" f (z + v) − f (z) − f ' (z)v "" "" f (z + v) − f (z) "
"
0≤ =" =
" " − f '
(z)"

−→ 0,
|v| v v v→0

termina a primeira parte da demonstração. Inversamente, suponha-se que f é R-diferenciável no ponto


(x, y) e que são válidas as equações de Cauchy-Riemann. Então ∂z f (z) está bem definida e
" " " "
" f (z + v) − f (z) " " f (z + v) − f (z) − ∂z f (z)v " |f (z + v) − f (z) − Jf (z)v|
" − ∂ f (z)"=" "= −
−→ 0.
" v
z " " v " |v| v→0

Consequentemente f é C-diferenciável no ponto z e f ' (z) = ∂z f (z).

Corolário 3 Seja U ⊂ C um conjunto não vazio, f : U ⊂ C → C e z ∈ int U. Se f é elemento


da classe C 1 (D(z, ()), para algum ( > 0, então f é C-diferenciável em z sse satisfaz as equações de
Cauchy-Riemann no ponto z.

Demonstração: De acordo com a proposição 2, é suficiente ter em conta que da existência das
derivadas parciais de f numa vizinhança de z ∈ int U e da sua continuidade no ponto z, deduz-se que
f é R-diferenciável em z.

Tratamos abaixo com caminhos definidos em intervalos abertos I, aonde inclui-se a origem. Uma
função contı́nua α : I → C diz-se um caminho. Caso α' (0) )= 0 então α' (0) é um vector tangente ao
caminho α no ponto α(0). Consideram-se caminhos α admitindo derivada na origem e tais que

α(0) = z e α' (0) )= 0 . (9)

Suponha-se fornecida f : U → C uma função R-diferenciável em z ∈ int U, cujo determinante da


matriz Jacobiana é não nulo. Se α : I → U é caminho diferenciável na origem e nas condições
(9) então αf (t) = f (α(t)), t ∈ I define um caminho diferenciável na origem, verificando a condição
αf (0) = f (z). Se o determinante da matriz Jf (z) é não nulo então αf' (0) )= 0. Caso em que αf' (0)
é vector tangente ao caminho αf no ponto f (z). O determinante da matriz Jacobiana Jf (z)
denota-se por |Jf (z)| e supõe-se |Jf (z)| = ) 0. Diz-se que f é conforme no ponto z ou que preserva
ângulos no ponto z, se para quaisquer caminhos α e β diferenciáveis na origem e nas condições (9)
então o ângulo entre α' (0) e β ' (0), respectivamente tangentes a α e β no ponto z, coincide com o ângulo
entre os vectores αf' (0) e βf' (0) respectivamente tangentes aos caminhos αf e βf , no ponto f (z).

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 75

Β!t" Α!t"

Figura 3.2: Ângulo da intercepção de duas curvas regulares

É evidente que f preserva ângulos no ponto z sse o conjunto Arg αf' (0) − Arg α' (0) não depende de
α. A derivação da função composta para funções R-diferenciáveis junto com (6), permitem estabelecer

∂f ' ∂f '
αf' (0) = x + y = ( ∂z f + ∂z f )x' + ( ∂z f − ∂z f )iy ' = α' (0) ∂z f (z) + α' (0) ∂z f (z) , (10)
∂x ∂y

aonde α(t) = (x(t), y(t)), t ∈ I. Se ∂z f (z) = 0 então de (7) conclui-se ∂z f (z) )= 0. De (10) deduz-se

Arg αf' (0) − Arg α' (0) = Arg ∂z f (z) .

Em consequência f é conforme em z. Se ∂z f (z) )= 0 então


3 6
α' (0)
Arg αf' (0) − Arg α' (0) = Arg ∂z f (z) + Arg ∂z f (z) , ∂z f (z) )= 0
α' (0)
3 6 . (11)
α' (0)
Arg αf' (0) − Arg α (0)
'
= Arg ∂z f (z) ' , ∂z f (z) = 0
α (0)

Considerando caminhos α arbitrários (e.g. α(t) = z + ξt, |ξ| = 1), obtém-se que ∂z f (z)α' (0)/α' (0)
varia no circulo de raio | ∂z f (z)| e centrado na origem. Logo f não é conforme em z . Demonstrou-se:

Proposição 4 Seja f : U → C uma função R-diferenciável em z ∈ int U. Suponha-se que |Jf (z)| =
) 0.
Então f é conforme no ponto z sse f é C-diferenciável em z e f ' (z) )= 0.

Como corolário do resultado anterior, em latas condições ir-se-á demonstrar que as curvas de nı́veis
da parte real e imaginária duma função C-diferenciável no ponto z0 , interceptam-se ortogonalmente.
Considere-se um conjunto aberto não vazio U ⊂ C e f : U → C uma função admitindo derivadas
parciais contı́nuas em U . Definam-se as funções u := Re f e v := Im f e os conjuntos de nı́vel

Uz0 := {z : u(z) = u(z0 )} e Vz0 := {z : v(z) = v(z0 )}.

Suponha-se que f é C-diferenciável em z0 e f ' (z0 ) )= 0. Deduz-se da condição f ' (z0 ) )= 0 conjuntamente
com as equações de Cauchy-Riemann, que ∂u/∂x(z0 ) )= 0 ou ∂u/∂y(z0 ) )= 0, tanto ∂v/∂x(z0 ) )=
0 ou ∂v/∂y(z0 ) )= 0. O teorema da função implı́cita permite afirmar a existência de Ω, uma
vizinhança de z0 aonde os conjuntos Uz0 e Vz0 são conjuntos de chegada de caminhos continuamente
diferenciáveis, admitindo derivada não nula (é usual dizer-se que Uz0 e Vz0 admitem parametrizações
uni-dimensionais). A imagem de Uz0 ∩ Ω e de Vz0 ∩ Ω por intermédio da função f , são segmentos
de recta respectivamente verticais e horizontais interceptando-se no ponto f (z0 ). Como f é conforme
em z0 então Uz0 e Vz0 interceptam-se no ponto z0 ortogonalmente, i.e. os seus respectivos vectores
tangentes são ortogonais.

Luı́s V. Pessoa
76 3.1. Funções C-diferenciáveis

2
1

0 0

!1
!2

!2

!4

!3
!3 !2 !1 0 1 2 3 !4 !2 0 2 4

Figura 3.3: Curvas de nı́vel das partes reais e imaginárias respectivamente das funções z 3→ z 2 e z 3→ ln z.

Se determinada função f é C-diferenciável no ponto z então é por demais evidente o seguinte


" "
" f (w) − f (z) "
lim "" " = |f ' (z)| .
" (12)
w→z w−z
Em (12) avalia-se no limite, o cociente entre o comprimento do segmento de recta entre z e w e o
comprimento do segmento entre as imagens dos pontos z e w por intermédio da função f . Abaixo
será evidente que a existência do limite em (12) não é suficiente para garantir a diferenciabilidade
complexa. Suponha-se fornecida f : U ⊂ C → C, determinada função R-diferenciável no ponto
z ∈ int U. A definição de R-diferenciabilidade junto de (7) estabelecem
3 6
f (w) − f (z) w−z
= ∂z f (z) + ∂z f (z) + o(1) , w → z . (13)
w−z w−z
Tão simplesmente considerando em (13) limites direccionais w −z = tξ (t ∈ R, |ξ| = 1), deduz-se que se
limw→z |f (w) − f (z)|/|w − z| existe então | ∂z f (z) + ξ ∂z f (z)| deverá ser constante para |ξ| = 1. Como
∂z f (z) + ξ ∂z f (z), |ξ| = 1 é a equação do circulo de centro em ∂z f (z) e raio | ∂z f (z)| então necessa-
riamente ∂z f (z) = 0 ou ∂z f (z) = 0. Reciprocamente é evidente que a condição ∂z f (z) ∂z f (z) = 0 é
suficiente para garantir a existência do limite limw→z |f (w) − f (z)|/|w − z|.

As funções R-diferenciáveis no ponto z na condição ∂z f (z) = 0, dizem-se C-anti-diferenciáveis em


z. Com respeito à questão geométrica de preservação de ângulos, abandona-se ao cuidado do leitor
verificar que a existência do limite em (12) equivale à função f transformar caminhos ortogonais em z
em caminhos ortogonais em f (z) i.e. à propriedade de preservação de ângulos rectos. Entendendo-se
que dois caminhos α e β nas condições (9) dizem-se ortogonais em z se 9α' (0) , β ' (0): = 0. No parágrafo
anterior demonstrámos a seguinte proposição:

Proposição 5 Seja f : U ⊂ C → C uma função R-diferenciável em z ∈ int U. O seguinte limite


" "
" f (w) − f (z) "
lim "" "
" (14)
w→z w−z
existe e é finito sse f é C-diferenciável ou C-anti-diferenciável em z. Em caso afirmativo, o limite em
(14) vale | ∂z f (z)| ou | ∂z f (z)|, respectivamente se f é C-diferenciável ou C-anti-diferenciável em z.

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Holomorfia 77

3.1 Problemas
1. Seja f : R2 → R2 . A derivada direccional de f em ordem ao vector v ∈ R2 \{0} é definida por

∂f f (z + tv) − f (z)
(x, y) := lim .
∂v t→0
t∈R
t

Como sabemos, se f é R-diferenciável no ponto (x, y) ∈ R2 então

∂f
(z) = Jf (z)v = ∂z f (z)v + ∂z f (z)v , aonde z = x + iy.
∂v
Considere, nas diferentes alı́neas abaixo, funções R-diferenciáveis no ponto z = x + iy ∈ C.

a) Seja z ∈ C fixo. Mostre que não existe v ∈ C\{0} tal que

∂f
(z) = ∂z f (z) , para qualquer que seja a função f.
∂v
» –
∂f ∂f
b) Demonstre a seguinte igualdade (z) = (z) e conclua de a) que não existe v ∈ C\{0} tal que
∂v ∂v

∂f
(z) = ∂z f (z) , para qualquer que seja a função f.
∂v

c) Prove adicionalmente que:


» – » –
v ∂f ∂f v ∂f ∂f
i) ∂z f (z) = (z) + i (z) ; ii) ∂z f (z) = (z) − i (z) .
2|v|2 ∂v ∂(iv) 2|v|2 ∂v ∂(iv)

2. Se f : U ⊂ C → C é função admitindo derivadas de primeira ordem em z ∈ int U, então é válido o seguinte

|Jf (z)| = | ∂z f (z)|2 − | ∂z f (z)|2 .

3. Considere uma função ϕ definida numa vizinhança do ponto z ∈ C e v ∈ R2 \{0}. Demonstre sucessivamente
que se ϕ é C-diferenciável em z então:

∂ϕ ∂ϕ ∂ϕ
i) (z) = ϕ! (z) ; ii) (z) = i ϕ! (z) ; iii) (z) = ϕ! (z) ;
∂x ∂y ∂x
∂ϕ ∂ϕ ∂ϕ
iv) (z) = −i ϕ! (z) ; v) (z) = v ϕ! (z) ; vi) (z) = v ϕ! (z) .
∂y ∂v ∂v

4. Determine o domı́nio de C-diferenciabilidade das seguintes funções na variável complexa e calcule as suas
respectivas derivadas

i) |z| , z ∈ C; ii) z|z| , z ∈ C; iii) z/z , z '= 0;

iv) Re(z/z) , z '= 0; v) Im(z/z) , z '= 0; vi) Re(z 2 /z 2 ) , z '= 0.

5. Determine o domı́nio de C-diferenciabilidade das seguintes funções na variável z := x + iy; x, y ∈ R e calcule


as suas derivadas nos pontos aonde definidas

i) eix ; ii) eix|x| ; iii) (x2 + y 2 ) + i(x2 − y 2 ) ;

iv) z + 4ixy ; v) z + 4ixy ; vi) z 3 + 2(x2 − y 2 ) ;

vii) arg z + z 2 ; viii) x + i arg z ; ix) |z|2 + i arg z .

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78 3.2. Regras de derivação

z2 − z2
6. Considere a função f (z) = , z ∈ C\{0} e f (0) = 0.
|z|
i) Mostre que f verifica as equações de Cauchy-Riemann na origem.
ii) Mostre que |f (z)| ≤ 2|z| , z '= 0 e conclua que f é contı́nua em C.
iii) A função f é C-diferenciável na origem?

7. Sejam f, g : C → C funções R-diferenciáveis em C e considere a função composta ϕ = f ◦ g. Mostre que para


qualquer vector v ∈ R2 verifica-se
∂ϕ ∂g ∂g
(z) = ∂z f (w) (z) + ∂z f (w) (z) aonde w = g(z) . (15)
∂v ∂v ∂v
Deduza [10 sec. 3.1] da igualdade (15) anterior.

8. Seja f : U ⊂ C → C uma função R-diferenciável em z ∈ int U. Demonstre a equivalência entre as asserções:


i) f é C-diferenciável ou C-anti-diferenciável no ponto z;
˛ ˛
ii) O módulo da derivada direccional ˛Jf (z)eiθ ˛ não depende de θ ∈ R;
iii) O limite limw→z |[f (w) − f (z)]/(w − z)| existe e é finito.
Suponha |Jf (z)| =
' 0. Verifique a equivalência de quaisquer das asserções nas alı́neas anteriores com a seguinte:
iv) Caminhos ortogonais em z são transformados por f em caminhos ortogonais em f (z).

3.2 Regras de derivação


Os operadores de derivação ∂z e ∂z são combinações lineares (complexas) dos operadores de derivação
parcial. Consequentemente, a sua linearidade é imediata, i.e.

∂z (λ1 f +λ2 g)(z) = λ1 ∂z f (z)+λ2 ∂z g(z) e ∂z (λ1 f +λ2 g)(z) = λ1 ∂z f (z)+λ2 ∂z g(z) , λj ∈ C, j = 1, 2

aonde f e g são funções admitindo derivadas parciais de primeira ordem no ponto z. É igualmente
imediato formular a dependência da ordem de aplicação dos operadores de derivação e da operação de
conjugação de funções complexas. Senão vejamos. Se f é uma função complexa de variável complexa
e admitindo derivadas parciais de primeira ordem, então sem dificuldades verificam-se as igualdades

∂f ∂f ∂f ∂f
= e = .
∂x ∂x ∂y ∂y
Em consequência das definições dos operadores ∂z e ∂z [3 sec. 3.1] infere-se
* +
∂z f = ∂z f . (1)

Abaixo expõem-se outras regras de derivação dos operadores ∂z e ∂z , relativas a operações entre
funções complexas de variável complexa.

Proposição 1 (Derivação do produto) Considerem-se funções f : U ⊂ C → C e g : V ⊂ C → C


com derivadas parciais de primeira ordem no ponto z ∈ int (U ∩ V ). São válidas as regras de derivação

∂z (f g)(z) = g(z) ∂z f (z) + f (z) ∂z g(z) , (2)

∂z (f g)(z) = g(z) ∂z f (z) + f (z) ∂z g(z) . (3)

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 79

Demonstração: A prova consiste num conjunto elementar de manipulações algébricas. Conju-


gando ambos os membros de (3), e tendo em atenção (1) obtém-se
, -
∂z (f g)(z) = ∂z f (z) g(z) + f (z) [ ∂z g(z)]

i.e. obteve-se (2) substituı́das as funções f e g respectivamente por f e g. Conclui-se que é suficiente
mostrar (2). De seguida demonstra-se a regra de derivação parcial do produto de duas funções comple-
xas com variável complexa. Da regra de derivação parcial do produto de duas funções reais de variável
complexa, obtêm-se
3 6 3 6
∂ Re(f g) ∂(Re f Re g − Im f Im g) ∂ Re f ∂ Im f ∂ Re g ∂ Im g
= = Re g − Im g + Re f − Im f
∂x ∂x ∂x ∂x ∂x ∂x
# $
∂f ∂g ∂f ∂g
= Re( g) + Re(f ) = Re g+f ,
∂x ∂x ∂x ∂x
e da equação anterior deduz-se
# $ # $
∂ Im(f g) ∂ Re(−if g) ∂f ∂g ∂f ∂g
= = − Re i g+f = Im g+f .
∂x ∂x ∂x ∂x ∂x ∂x
Consequentemente
∂(f g) ∂f ∂g
= g+f . (4)
∂x ∂x ∂x
Por analogia (ou considerando a composição com a mudança de coordenadas (x, y) → (y, x)) segue
∂(f g) ∂f ∂g
= g+f . (5)
∂y ∂y ∂y
Tendo em linha de conta (4) e (5), conclui-se
3 6 3 # $6
1 ∂(f g) ∂(f g) 1 ∂f ∂g ∂f ∂g
∂z (f g) = +i = g+f +i g+f
2 ∂x ∂y 2 ∂x ∂x ∂y ∂y
# $ # $
1 ∂f ∂f 1 ∂g ∂g
= g +i +f +i = g ∂z f + f ∂z g.
2 ∂x ∂y 2 ∂x ∂y

Corolário 2 Considerem-se funções f : U ⊂ C → C e g : V ⊂ C → C, admitindo derivadas parciais


de primeira ordem no ponto z ∈ int (U ∩ V ). Suponha-se que f é C-diferenciável em z. Então

∂z (f g)(z) = f (z) ∂z g(z) ,

∂z (f g)(z) = f ' (z)g(z) + f (z) ∂z g(z) .

Em particular, f g é C-diferenciável no ponto z sse g é C-diferenciável no ponto z ou f (z) = 0.

Exemplos
1. [Operadores de derivação e polinómios] Seja p(z) = a0 + · · · + an z n um polinómio com co-
eficientes complexos. Sabe-se da proposição [3 sec. 2.2] que p(z) é uma função inteira. Considerando
conjuntamente [4 sec. 3.1] obtém-se

∂z p(z) = p' (z) = a1 + · · · + nan z n−1 e ∂z p(z) = 0 .

Luı́s V. Pessoa
80 3.2. Regras de derivação

Seja q(z) é o polinómio na variável complexa conjugada z dado por q(z) = p(z). Considerando a
linearidade dos operadores ∂z e ∂z , conjuntamente com (1), obtemos o seguinte
)
∂z q(z) = ∂z aj z j (z) = p' (z) e ∂z q(z) = 0 .

Infere-se que o conjunto de C-diferenciabilidade de q é o conjunto finito constituı́do por os conjugados


dos zeros do polinómio p' (z), i.e. q é C-diferenciável no ponto z sse p' (z) = 0, caso em que q ' (z) = 0.

Casos particulares dos dois parágrafos anteriores evidenciam-se nas seguintes igualdades
∂z z n = nz n−1 , ∂z z n = 0
(n ∈ N). (6)
∂z z n = 0 , ∂z z n = nz n−1

Poder-lhe-á ser útil observar que quaisquer das afirmações constando nos parágrafos anteriores do
decorrente exemplo, poderiam estabelecer-se afixando as evidentes igualdades
∂z ∂z
=1 e = i, (7)
∂x ∂y
com intuitos de em consequência das definições 3 obter ∂z z = 0 e ∂z z = 1. Seguir-se-ia uma elementar
demonstração por indução matemática das igualdades em (6). Por sua vez, a linearidade dos operadores
de derivação permitiria estabelecer os restantes resultados.

2. Considere-se a função no exemplo [5 sec. 3.1], i.e. f (z) = ez . Em conta de (1) e (6) obtém-se

∂z ez = ∂z ez = (ez ) = ez . (8)

Porque a função exponencial não se anula (|ez | = eRe z )= 0), conclui-se que ∂z ez )= 0. Logo ez não é
C-diferenciável em nenhum ponto. Se f é uma função C-diferenciável no ponto z ∈ C e g(z) = f (z)ez
então ∂z g (z) = f (z)ez . Em consequência, g é C-diferenciável no ponto z ∈ C sse f (z) = 0. Em
particular, fixado um conjunto finito Fn = {z1 , · · · , zn } e o polinómio pn (z) = (z − z1 ) · · · (z − zn ),
aonde zj , j = 1, · · · , n são números complexos distintos dois a dois, então a função

gn (z) = pn (z)ez , z ∈ C

é exemplo duma função cujo conjunto de C-diferenciabilidade coincide com Fn . Tendo em conta que
∂z ez = ∂z ez = 0, é possivel calcular as derivadas gn' (zj ), j = 1, · · · , n da seguinte forma
n
F
gn' (zj ) = ∂z gn (zj ) = ezj ∂z pn (zj ) + pn (zj ) ∂z ez (zj ) = ezj (zj − zk ) .
k=1
k&=j

Corolário 3 (Derivação do cociente) Considerem-se funções f : U ⊂ C → C e g : V ⊂ C → C


admitindo derivadas parciais de primeira ordem no ponto z ∈ int (U ∩ V ). Se g(z) )= 0, então são
válidas as seguintes regras de derivação do cociente
# $
f g(z) ∂z f (z) − f (z) ∂z g(z)
∂z (z) = , (9)
g g 2 (z)
# $
f g(z) ∂z f (z) − f (z) ∂z g(z)
∂z (z) = . (10)
g g 2 (z)

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 81

Demonstração: Sem excepção, todas as derivadas parciais na decorrente demonstração são cal-
culadas no ponto z. Omitisse-o por razões de clareza gráfica. Suponha-se inicialmente que g assume
valores reais. De acordo com as regra de derivação parcial do cociente de função escalares, obtêm-se
# $ 3 # $ # $6 # $
1 1 ∂ 1 ∂ 1 1 ∂g ∂g ∂z g
∂z = +i =− 2 +i =− 2 .
g 2 ∂x g ∂y g 2g ∂x ∂y g
Se g é uma função com valores complexos, tendo em conta a proposição 1 conclui-se
# $ # $
f fg 1 g ∂z g + g ∂ z g ∂z f f ∂z g g ∂z f − f ∂z g
∂z = ∂z = 2 (g ∂z f + f ∂z g) − f g = − = .
g |g|2 |g| |g|4 g g2 g2

Proposição 4 (Derivação da composta) Considerem-se funções f : U ⊂ C → C e g : V ⊂ C → C


tais que g(V ) ⊂ U. Se f e g são respectivamente R-diferenciais nos pontos w = g(z) ∈ int U e z ∈ int V,
então são válidas as seguintes regras de derivação

∂z ϕ(z) = ∂z f (w) ∂z g(z) + ∂z f (w) ∂z g(z) , (11)

∂z ϕ(z) = ∂z f (w) ∂z g(z) + ∂z f (w) ∂z g(z) , (12)

aonde ϕ designa a função composta ϕ = f ◦ g.

Demonstração: Atentando a (1) e em analogia com a demonstração da proposição 1, conclui-se


que é suficiente demonstrar (11). Considerando a linearidade dos operadores ∂z e ∂z , sem perda de
generalidade e objectivando facilitar o entendimento, supõe-se que a função f assume valores reais. Se
g1 = Re g e g2 = Im g, da regra da cadeira para funções escalares, obtêm-se
# $
∂ϕ ∂f ∂g1 ∂f ∂g2 ∂g ∂g ∂g
(z)= (w) (z) + (w) (z)=2 Re ∂z f (w) (z) = ∂z f (w) (z) + ∂z f (w) (z),
∂x ∂x ∂x ∂y ∂x ∂x ∂x ∂x
# $ (13)
∂ϕ ∂f ∂g1 ∂f ∂g2 ∂g ∂g ∂g
(z)= (w) (z) + (w) (z)=2 Re ∂z f (w) (z) = ∂z f (w) (z) + ∂z f (w) (z).
∂y ∂x ∂y ∂y ∂y ∂y ∂y ∂y
Consequentemente
# $ # $ # $
1 ∂ϕ ∂ϕ 1 ∂g ∂g 1 ∂g ∂g
∂z ϕ(z) = (z) + i (z) = ∂z f (w) (z) + i (z) + ∂z f (w) (z) + i (z)
2 ∂x ∂y 2 ∂x ∂y 2 ∂x ∂y

= ∂z f (w) ∂z g(z) + ∂z f (w) ∂z g(z).

Corolário 5 Considerem-se funções f : U ⊂ C → C e g : V ⊂ C → C tais que g(V ) ⊂ U. Suponha-se


que f e g admitem respectivamente derivadas de primeira ordem no ponto g(z) ∈ int U e z ∈ int V . Se
f é C-diferenciável no ponto w = g(z) ou g é C-diferenciável no ponto z, então

∂z ϕ(z) = f ' (w) ∂z g(z) ∂z ϕ(z) = ∂z f (w)g ' (z)


respectivamente ,
∂z ϕ(z) = f ' (w) ∂z g(z) ∂z ϕ(z) = ∂z f (w)g ' (z)

aonde ϕ designa a função composta ϕ = f ◦ g.

Luı́s V. Pessoa
82 3.2. Regras de derivação

Corolário 6 (Função inversa) Sejam f : U ⊂ C → C e g : V ⊂ C → C funções tais que g(V ) ⊂ U.


i) Suponha-se que f e g são funções R-diferenciáveis respectivamente no ponto w = g(z) ∈ int U e
z ∈ int V, tanto a função composta f ◦ g é C-diferenciável em z ∈ int V. Se f é C-diferenciável
no ponto w e f ' (w) )= 0 então g é C-diferenciável no ponto z;

ii) Suponha-se que f e g são respectivamente C-diferenciável em U e R-diferenciável em V. Se


f ◦ g(z) = z , z ∈ V então f ' (g(z)) )= 0 , z ∈ V. A função g é C-diferenciável e
1
g ' (z) = , z∈V aonde w = g(z) .
f ' (w)

Demonstração: Demonstre-se inicialmente i). Do corolário 5 infere-se 0 = ∂z (f ◦ g)(z) =


f ' (w) ∂z g(z) e logo ∂z g(z) = 0, i.e. a função g é C-diferenciável no ponto z. Para demonstrar ii),
considere-se a derivação da composta f ◦ g para obter

1 = ∂z (f ◦ g) = f ' (w) ∂z g(z). (14)

Logo f ' (g(z)) )= 0, para qualquer z ∈ U e de i) infere-se que g é C-diferenciável em U. De (14) segue
a igualdade g ' (z) = 1/f ' (g(z)) , z ∈ V.

Exemplos
3. Considere-se a função ϕ(z) = ep(z) , aonde p(z) = an z n + · · · + a0 é polinómio de grau n. A
exponencial é C-diferenciável em C. Do exemplo 1 sabe-se ∂z q(z) = p' (z), aonde q(z) = p(z). Então

∂z ϕ (z) = p' (z)ep(z) .

Conclui-se que ϕ é C-diferenciável em z sse p' (z) = 0. Se ϕ é C-diferenciável em z, do corolário 5 e do


exemplo 1 obtém-se ϕ' (z) = ep(z) ∂z q(z) = 0.

4. Seja h : C → C uma função C-diferenciável em C. Considere-se g(z) = h(z) = h ◦ c(z), z ∈ C;


aonde c : C → C é a função de conjugação c(z) = z. Do corolário 5 e do exemplo 1 obtém-se

∂z g(z) = h' (z) ∂z c(z) = h' (z) e ∂z g(z) = h' (z) ∂z c(z) = 0.

Logo g é C-diferenciável no ponto z ∈ C sse h' (z) = 0, e em caso afirmativo g ' (z) = 0. Por exemplo,
o conjunto dos pontos de C-diferenciabilidade das funções g1 (z) = cos(z) e g2 (z) = sin(z) coincidem
respectivamente com {kπ : k ∈ Z} e {(1 + 2k)π/2 : k ∈ Z}. Nos pontos de C-diferenciabilidade, são
nulas as derivadas das funções gj , j = 1, 2.

5. Se f (z) = ez , z ∈ C e g(z) = ln z, z )= 0 então f ◦ g(z) = z . Logo, a função logaritmo principal


é C-diferenciável em qualquer ponto z )= 0 aonde admite derivadas parciais de primeira ordem. Da
secção 2.4 sabemos que g ∈ C ∞ (C\R− −
0 ) e logo z 4→ ln z é C-diferenciável em C\{R0 } e

1 1
ln ' (z) = = , z ∈ C\R−
0.
e ln z z
Argumentos semelhantes conduzem às regras de derivação dos diversos ramos da função logaritmo
polivalente, i.e. se a, b ∈ R e b − a = 2π então
1
ln ']a,b ] (z) = , z ∈ C\eib R+
0.
z

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 83

Denotando os operadores ∂z e ∂z respectivamente por ∂/∂z e ∂/∂z, então as regras de derivação (11)
e (12) são reescritas na forma

∂ϕ ∂f ∂g ∂f ∂g
(z) = (w) (z) + (w) (z) ,
∂z ∂z ∂z ∂z ∂z
∂ϕ ∂f ∂g ∂f ∂g
(z) = (w) (z) + (w) (z) .
∂z ∂z ∂z ∂z ∂z
A notação anterior inspira semelhanças mais profundas com a regra da cadeia clássica. No entanto
poderá com mais facilidade sugerir a proposição errónea de que os operadores ∂z e ∂z são operadores
de derivação direccional [3.1 pro.1].

No seguinte teorema expomos regras de derivação para funções C-diferenciáveis. Anote-se a pos-
sibilidade de assumir técnicas de demonstrações análogas às normalmente utilizadas para demonstrar
os resultados transcritos para a análise real, i.e. usando a definição de diferenciabilidade (1) e esti-
mando os erros de aproximação da razão incremental. No entanto, considera-se de importância para
o decorrente texto, o estudo dos operadores ∂z e ∂z e em particular as regras de derivação acima ex-
postas. Assim estabelecem-se provas imediatas das regras de derivação para funções C-diferenciáveis.
Ademais, evita-se repetir ou direccionar o leitor para técnicas que deverá dominar.

Teorema 7 (Regras de derivação para funções C-diferenciáveis) Sejam U, V ⊂ C abertos não


vazios e z = x + iy ∈ int (U ∩ V ). Suponha-se que f : U ⊂ C → C e g : V ⊂ C → C são funções
C-diferenciável no ponto z. São válidas as seguintes asserções:

i) λ1 f + λ2 g, λj ∈ C, j = 1, 2 é C-diferenciável em z e
'
(λ1 f + λ2 g) (z) = λ1 f ' (z) + λ2 g ' (z) , λj ∈ C, j = 1, 2 ;

ii) f g é C-diferenciável em z e

(f g)' (z) = f ' (z)g(z) + f (z)g ' (z) ;

iii) se g(z) )= 0 então f /g é C-diferenciável em z e


# $'
f f ' (z)g(z) − f (z)g ' (z)
(z) = .
g g 2 (z)

Finalmente, se g(V ) ⊂ U e as funções f e g são respectivamente C-diferenciáveis nos pontos z ∈ int V


e g(z) ∈ int U então a função composta ϕ = f ◦g é diferenciável em z e é válida a fórmula de derivação

(f ◦ g)' (z) = f ' (g(z))g ' (z) .

Demonstração: Iniciamos demonstrando as asserções de i) a iii). Por hipótese as funções f, g


são R-diferenciáveis no ponto z, o que equivale à R-diferenciabilidade das suas funções coordenadas.
Das regras de derivação para funções R-diferenciáveis escalares, conclui-se sem dificuldades que as

Luı́s V. Pessoa
84 3.2. Regras de derivação

funções λ1 f + λ2 g, f g e f /g são R-diferenciáveis. Resta mostrar a validade das equações de Cauchy-


Riemann. Porque ∂z f (z) = ∂z g(z) = 0 então de (9), (2) e da linearidade do operador ∂z , infere-
se respectivamente que ∂z (f /g)(z) = ∂z (f g)(z) = ∂z (λ1 f + λ2 g)(z) = 0. De (4) sabemos que se
ψ é C-diferenciável então ψ ' (z) = ∂z ψ(z) e logo de (10), (3) e da linearidade de ∂z mostram-se
respectivamente as regras de derivação em iii), ii) e i).

Em essência, os argumentos acima servem para demonstrar a regra da derivação complexa da função
composta. Dado que f e g são R-diferenciáveis, sabemos da análise real que a função composta f ◦ g
é R-diferenciável. Porque ∂z f (g(z)) = ∂z g(z) = 0, de (11) deduz-se ∂z ϕ(z) = 0 e em consequência
a C-diferenciabilidade de ϕ = f ◦ g no ponto z. A fórmula de calculo da derivada da composta é
consequência imediata de (12).

Corolário 8 Seja U ⊂ C aberto não vazio e z = x + iy ∈ int U. Se f : U ⊂ C → C é uma função


C-diferenciável no ponto z então f n (z) , n ∈ N1 é C-diferenciável em z e é valida da regra de derivação

(f n )' (z) = nf ' (z)f n−1 (z) , n ∈ N1 .

Considere-se um conjunto U ⊂ C aberto e não vazio. Suponha-se que f : U → C é uma função da


classe C 1 (U ) e f é C-diferenciável no ponto z ∈ U. Considerando [6 sec. 3.1] deduz-se
G H
∂f ∂f I J
|Jf (z)| = (z) , −i (z) = f ' (z) , −i2 f ' (z) = |f ' (z)|2 , (15)
∂x ∂y

aonde |Jf (z)| e 9. , .: designam respectivamente o determinante da matriz Jacobiana Jf (z) e o


produto interno euclidiano em R2 . Logo, se f ' (z) )= 0 então o teorema da função inversa garante
que f é localmente invertı́vel, i.e. existe uma vizinhança V de z tal que W := f (V ) é uma vizinhança
−1 −1
de f (z), a função f : V → W é invertı́vel e f|V ∈ C 1 (W ). Do corolário 6, deduz-se que f|V é
C-diferenciável no ponto w := f (z) ∈ W e

d −1 1
f (w) = ' .
dz |V f (z)

Obtivemos o seguinte resultado:

Proposição 9 Seja U ⊂ C um conjunto aberto e não vazio. Suponha-se que f : U → C é uma função
com derivadas parciais de primeira ordem continuas numa vizinhança do ponto z ∈ U. Se f ' (z) está
bem definida e f ' (z) )= 0 então existem vizinhanças V e W respectivamente dos pontos z e w := f (z)
−1
tais f : V → W é invertı́vel. A função f|V pertence à classe C 1 (W ), é C-diferenciável em w e

d −1 1
f (w) = ' .
dz |V f (z)

Considere-se de novo a derivação da função composta f (z), z = z(u + iv), u, v ∈ R. No caso em que f é
uma função real, estabeleceu-se em (13) uma fórmula de cálculo das derivadas parciais de f em ordem
a u e v, envolvendo as derivadas parciais de z = z(u + iv) e os operadores ∂z e ∂z aplicados à função f.
Se f não é necessariamente real, aplicamos o procedimento referido às suas partes reais e imaginárias

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 85

para obter a validade de (13) para função complexas de variável complexa. Simbolicamente escrevemos
∂ ∂z ∂z
= ∂z + ∂z ,
∂u ∂u ∂u
∂ ∂z ∂z
= ∂z + ∂z .
∂v ∂v ∂v
Em particular, mudando a variável da função f para coordenadas polares, i.e f (z) = f (reiθ ) obtém-se
∂ ∂z ∂z
= ∂z + ∂z = eiθ ∂z + e−iθ ∂z ,
∂r ∂r ∂r
(16)
∂ ∂z ∂z , -
= ∂z + ∂z = ir eiθ ∂z − e−iθ ∂z .
∂θ ∂θ ∂θ
Resolvendo (16) em ordem a ∂z e ∂z obtém-se os operadores de derivação em coordenadas polares
# $
eiθ ∂ i ∂
∂z = + ,
2 ∂r r ∂θ
# $ (17)
e−iθ ∂ i ∂
∂z = − .
2 ∂r r ∂θ
Se f : U ⊂ C → C é uma função R-diferenciável no ponto z = x + iy ∈ int U, distinto da origem, então
f é C-diferenciável no ponto z = reiθ sse
∂f i ∂f
(r, θ) = − (r, θ). (18)
∂r r ∂θ
Caso f seja C-diferenciável no ponto z = reiθ = ) 0 então
−iθ
# $
e ∂f i ∂f
f ' (r, θ) = (r, θ) − (r, θ)
2 ∂r r ∂θ
A equação (18) é designada por equação de Cauchy-Riemann em coordenadas polares. Se u = Re f e
v = Im f então (18) é equivalente ao sistema de equações às derivadas parciais


 ∂u 1 ∂v
 (r, θ) = (r, θ)
∂r r ∂θ
.

 ∂u ∂v
 (r, θ) = −r (r, θ)
∂θ ∂r

Defronte, qualquer referência a diferenciabilidade será respeitante a C-diferenciabilidade. Para menci-


onar questões relativas a diferenciabilidade à Frechet usaremos os termos R-diferenciável, etc. A secção
termina introduzindo a definição central do decorrente texto. Precisamente, diz-se que uma função
f : U → C, definida no conjunto U ⊂ C aberto não vazio, é holomorfa em U se f é C-diferenciável
em todos os pontos de U. A classe das funções holomorfas em U é denotada por H(U ).

3.2 Problemas
1. Seja U ⊂ C aberto não vazio. Suponha definidos operadores lineares Dz , Dz : C ∞ (U ) → C ∞ (U ) verificando

Dz z = 1 , Dz z = 0
.
Dz z = 0 , Dz z = 1

Luı́s V. Pessoa
86 3.2. Regras de derivação

Mostre que se Dz e Dz verificam a regra de derivação do produto [2 sec. 3.2] e [3 sec. 3.2] então

Dz p = ∂z p e Dz p = ∂z p ,

para qualquer que seja a função polinomial p(z, z), nas variáveis complexa e complexa conjugada.

2. Considere U aberto conexo não vazio e u ∈ H(Ω). Demonstre que se o contradomı́nio de u inclui-se numa
variedade uni-dimensional então a função u é constante. Deduza que se Re u, Im u, |u| ou arg u são holomorfas
em U então u é constante.

3. Seja U ⊂ C um conjunto aberto, conexo não vazio e f : U → C uma função admitindo derivadas de primeira
ordem. Demonstre que se ∂z f (z) = ∂z f (z) = 0 , z ∈ U então f é constante em U .

4. Sejam f, g : C → C funções admitindo derivadas de primeira ordem em C. Suponha-se que f e g são


C-diferenciáveis respectivamente em w = g(z) e em z ∈ C. Mostre que a função composta ϕ = f ◦ g é
C-diferenciável no ponto z sse f ! (w) = 0 ou g ! (z) = 0, e se ϕ é C-diferenciável no ponto z então ϕ! (z) = 0.

5. Considere f ∈ H(C) e a função de conjugação c(z) = z , z ∈ C. Defina ϕ(z) := c ◦ f ◦ c(z) , z ∈ C. Verifique


que ϕ é função inteira e a validade da igualdade ϕ! (z) := f ! (z) , z ∈ C.

6. Determine o domı́nio de C-diferenciabilidade das funções definidas por as seguintes expressões e calcule as
respectivas derivadas:

i) z 2 + 2z + z , z ∈ C ; ii) z 3 − 3i z 2 − 6z + 3 , z ∈ C ; iii) z 5 + 5z + z 3 , z ∈ C ;
5
+5z+z 3
iv) 3z 5 − 5z 3 + 15z + z 3 , z ∈ C ; v) ez ,z ∈ C ; vi) cos z ez , z ∈ C ;

1 z 2
vii) cos e , z ∈ C\{0} ; viii) cos(ez ) , z ∈ C ; ix) cos(ez+z ) , z ∈ C ;
z
x) cos |z| , z ∈ C ; xi) z 2 z 2 − 2zz + z 2 , z ∈ C ; xii) z 2 + 2|z|2 , z ∈ C ;

xiii) 3|z|2 z − z 3 , z ∈ C ; xiv) | sin z|2 , z ∈ C ; xv) ln |z| , 0 '= z ∈ C .

7. Considere n ∈ N1 e o polinómio em z e z dado por ψn (z) = (n + 1)|z|2 z n−1 − z n+1 , z ∈ C. Mostre que o
conjunto de C-diferenciabilidade da função ψ coincide com o conjunto das rectas que passam por a origem e
por as raı́zes de ordem 2n da unidade.

8. Fornecidos n, k = 1, · · · considere as funções ϕn,k (z) = z n+k /z n , z '= 0 e ϕn,k (0) = 0. Verifique sucessivamente
as seguintes asserções:
i) As funções ϕn,k são contı́nuas em C;
ii) As funções ϕn,1 não são C-diferenciáveis em qualquer número complexo z;
iii) As funções ϕn,1 verificam a condição de Cauchy-Riemann na origem sse n é par;
iv) As funções ϕn,k , k = 2, · · · são C-diferenciáveis em z sse z = 0. Ademais ϕ!n,k (0) = 0.

9. Fornecido n = 1, · · · considere as funções ψn (z) = z n /z n , z '= 0. Denote por Tk , k ∈ N1 o conjunto das raı́zes
de ordem k da unidade e verifique sucessivamente as seguintes asserções:
i) As funções ψn não são C-diferenciáveis em qualquer z '= 0;
ii) As funções Re ψn são C-diferenciáveis no conjunto T4n ;
ii) As funções Im ψn são C-diferenciáveis no conjunto eiπ/(4n) T4n .

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 87

10. Seja f : R+
0 → C uma função diferenciável.

i) Considere a função módulo m(z) = |z| , z ∈ C e mostre que


z z
∂z m(z) = e ∂z m(z) = , aonde z '= 0.
2|z| 2|z|

ii) Se ϕ(z) = f (|z|) , z '= 0 então


z z
∂z ϕ(z) = f ! (|z|) e ∂z ϕ(z) = f ! (|z|) , aonde z '= 0.
2|z| 2|z|

iii) Se ϕ é C-diferenciável em C então ϕ é a função constante.


iv) Seja z ∈ C. A função ϕ é C-diferenciável em z sse ϕ é C-diferenciável em z.

3.3 Integrais de linha e função Índice


Sejam a, b ∈ R são tais que a < b. Diz-se que uma função γ : [a, b] → C é um caminho se γ é contı́nua.
Um caminho γ : [a, b] → C diz-se de classe C 1 se γ ∈ C 1 ([a, b]), i.e. se γ ∈ C 1 ( ] a, b [ ) e a função γ ' é
prolongável por continuidade ao intervalo [a, b] . Anota-se que sem dificuldades o leitor demonstrará [ver
pro.1] que a asserção anterior equivale a γ ∈ C 1 ( ] a, b [ ) e à existência de derivadas laterais γd' (a) e γe' (b)
tais que limt→a+ γ ' (t) = γd' (a) e limt→b− γ ' (t) = γe' (b). Uma curva de classe C 1 é o contradomı́nio
dum caminho de classe C 1 . Um caminho γ : [a, b] → C diz-se seccionalmente de classe C 1 , se
existem números reais a = t0 < t1 < · · · < tn+1 = b tais que γ : [tj , tj+1 ] → C é um caminho de classe
C 1 , qualquer que seja j = 0, · · · , n. Uma curva seccionalmente de classe C 1 é o contradomı́nio
dum caminho seccionalmente de classe C 1 , o qual se diz uma parametrização da curva. Designa-se
por caminho seccionalmente regular ou curva seccionalmente regular respectivamente um
caminho ou uma curva seccionalmente de classe C 1 . O decorrente texto ocupar-se-á exclusivamente de
caminhos e curvas seccionalmente regulares.

Exemplos
1. [Segmento de recta] O segmento de recta de z a w é uma curva C 1 parametrizada por

γ : [0, 1] → C , γ(t) = tw + (1 − t)z , aonde z, w ∈ C ,

e é denotado por [z, w] . Se z1 , z2 , · · · , zn são números complexos, então o caminho

γ : [0, n − 1] → C , γ(t) = (t − j)zj+1 + (1 + j − t)zj , se j ≤ t ≤ j + 1 , j = 1, · · · , n − 1

diz-se uma parametrização da linha poligonal unindo z1 a z2 , z2 a z3 , · · · , zn−1 a zn . A linha poligonal


é denotada por [z1 , z2 , · · · , zn ] . É evidente que a linha poligonal é um caminho seccionalmente regular.
Sem dificuldades conclui-se que [z1 , z2 , · · · , zn ] é um caminho de classe C 1 sse os números complexos
z1 , z2 , · · · , zn incluem-se numa mesma recta, i.e. sse z1 , z2 , · · · , zn são colineares.

2. [Cı́rculo] O cı́rculo ∂D(w, r) de raio r > 0 e centrado no complexo w é uma curva de classe C 1
parametrizada por o caminho

γ : [−π, π] → C , γ(t) = w + reit .

Luı́s V. Pessoa
88 3.3. Integrais de linha e função Índice

z2
z4

z1
z3

Figura 3.4: Linha poligonal [z1 , z2 , z3 , z4 ]

Um caminho γ : [a, b] → C diz-se fechado se γ(a) = γ(b) e diz-se simples se γ : ] a, b [ → C é injectiva.


Um caminho de Jordan é um caminho γ : [a, b] → C fechado e simples. Uma curva de Jordan é o
contradomı́nio dum caminho de Jordan. Se γ : [a, b] → C é um caminho, denotamos por C γ a curva
γ([a, b]). Se γ é um caminho definido no intervalo não vazio [a, b] então C γ é compacto e em particular
está contido num disco D(0, r) , r > 0. Porque C\D(0, r) é um conjunto conexo, então qualquer
componente conexa ilimitada de C\C γ , contêm C\D(0, r). Consequentemente uma única componente
conexa de C\C γ é ilimitada e as restantes são limitadas. É conhecido que se C γ é uma curva deJordan,
então C\C γ têm precisamente duas componentes conexas, asserção usualmente parafraseada no dizer
de que uma curva de Jordan "separa o plano complexo em duas partes#, i.e. o complementar duma
curva de Jordan é a união de dois conjuntos abertos e conexos disjuntos. A proposição anterior
é usualmente nomeada de teorema da curva de Jordan, cuja demonstração encontrasse fora do
escopo da decorrente comunicação. Diz-se que a componente conexa limitada do complementar da
curva de Jordan C γ é o interior de γ. O exterior de γ é a componente conexa ilimitada. Interior
e exterior de γ são respectivamente denotados por ins γ e out γ.

Relembre-se o leitor de que uma função limitada u : [a, b] → R diz-se Riemann integrável [4, V§1], se
para qualquer ( > 0 existe P uma partição do intervalo [a, b], i.e.

P = {t0 , t1 · · · , tn , tn+1 : a = t0 < t1 < · · · < tn < tn+1 = b} (1)

verificando a seguinte condição


n
)
(Mj − mj )(tj+1 − tj ) < (, aonde Mj = sup u(t) e mj = inf u(t) .
t∈[tj ,tj+1 ] t∈[tj ,tj+1 ]
j=0

As somas superior e inferior associadas à partição P são respectivamente definidas por


n
) n
)
S(f, P) := Mj (tj+1 − tj ) e s(f, P) := mj (tj+1 − tj ) .
j=0 j=0

Dada uma partição (1), define-se o seu comprimento da seguinte forma

|P| := sup {tj+1 − tj : j = 0, · · · , n} .

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 89

As somas de Riemann da função u associadas à partição P são quaisquer somatório


n
)
u(ξj )(tj+1 − tj ) aonde ξj ∈ [tj , tj+1 ] , j = 0, · · · , n .
j=0

A função u é Riemann integrável sse existe I ∈ R, tal que para um arbitrário ( > 0 existe δ > 0 tal
que qualquer soma de Riemann associada a partições de comprimento inferior a δ verifica
n
)
| u(ξj )(tj+1 − tj ) − I| < ( . (2)
j=0

Se u é Riemann integrável, então o número real I em (2), diz-se o valor do seu integral e denota-se por
9 b
u(t) dt := I .
a

É usual simbolizar a asserção em (2) por intermédio da seguinte simbologia


n
) 9 b
lim + u(ξj )(tj+1 − tj ) = u(t) dt .
|P|→0 a
j=0

Na teoria de integrais de linha de funções de variável complexa que exposta, não revelar-se-á necessário
considerar integrais de Riemann outros que não de funções reais seccionalmente contı́nuas. No entanto,
em escassas situações não se evita apresentar enunciados mais gerais do que os necessários aos objectivos
da teoria de holomorfia inclusa no documento. Ao empreendimento será útil o resultado de seguida
sem demonstração enunciado, por intermédio do qual caracteriza-se a classe das funções Riemann
integráveis. Assim é necessário o conceito de conjunto de medida nula. Diz-se que M ⊂ R têm
medida nula, se para arbitrário ( > 0 existem intervalos de números reais I1 , I2 , · · · tais que

K ∞
)
M⊂ In e |In | < ( , aonde |In | designa o comprimento do intervalo In .
n=0 n=0

Proposição 1 (Lebesgue) [7, IX§6 Teo.20] Considerem-se números reais a < b e suponha-se que
u : [a, b] → R é uma função limitada. Então u ∈ R([a, b]) sse o conjunto dos pontos de descontinuidade
da função u tem medida nula.

Uma função com valores complexos f : [a, b] → C diz-se Riemann integrável em [a, b] , se Re f e
Im f são Riemann integráveis no intervalo [a, b] , aonde a, b ∈ R e a < b. A classe das funções com
valores complexos e Riemann integráveis em [a, b] é denotada por R([a, b]). Se f ∈ R([a, b]) então o
seu integral define-se por intermédio de
9 b 9 b 9 b
f (t) dt := Re f (t) dt + i Im f (t) dt .
a a a

É evidente que
9 b 9 b 9 b 9 b
λ f (t) dt = Re [λf (t)] dt + i Im [λf (t)] dt = λf (t) dt , λ ∈ R
a a a a
9 b 9 b 9 b 9 b
i f (t) dt = Re [if (t)] dt + i Im [if (t)] dt = if (t) dt , λ ∈ R.
a a a a

Luı́s V. Pessoa
90 3.3. Integrais de linha e função Índice

Em consequência, obtém-se a linearidade do integral


9 b 9 b 9 b
(ξ1 + ξ2 ) f (t) dt = ξ1 f (t) dt + ξ2 f (t) dt , ξj ∈ C , j = 1, 2.
a a a

Lema 2 Se a função f : [a, b] → C é Riemann integrável então |f | ∈R ([a, b]).

Demonstração: Por definição f é Riemann integrável sse u := Re f e v := Im f são Riemann


integráveis. É evidente que se u e v são funções contı́nuas no ponto t ∈ [a, b] então |f | é contı́nua em
t. De forma equivalente, o conjunto dos pontos de descontinuidades da função |f | é um subconjunto
da união dos conjuntos de descontinuidades de u e v. Consequentemente têm medida nula.

Proposição 3 Sejam a, b ∈ R são tais que a < b. Para qualquer que seja f ∈ R([a, b]) verifica-se
"9 " 9
" b " b
" "
" f (t) dt"≤ |f (t)| dt .
" a " a

8b
Demonstração: Considere-se o número complexo I := a f (t) dt . Se I = 0 então a proposição é
evidente. Caso I )= 0, então é possı́vel escolher θ ∈ Arg I. Tendo em conta a linearidade do integral,
sem dificuldades obtém-se
"9 " 9 b 9 b 9 b 9 b
" b " , −iθ -
" "
" f (t) dt" = e−iθ
f (t) dt = Re e−iθ
f (t) dt = Re e f (t) dt ≤ |f (t)| dt .
" a " a a a a

Considere-se um caminho seccionalmente regular γ : [a, b] → C. Diz-se que uma função f : C γ → C é


integrável ao longo do caminho C γ se (f ◦ γ)γ ' ∈ R([a, b]). O conjunto das funções Riemann integráveis
ao longo do caminho γ é denotado por R(γ). Definimos os integrais de linha na variável complexa
9 9 b 9 9 b
f (w) dw = (f ◦ γ)(t) γ (t) dt
'
e f (w) dw = (f ◦ γ)(t) γ ' (t) dt , para f ∈ R(γ). (3)
γ a γ a

Diz-se que uma função g : [a, b] → C é seccionalmente contı́nua se é contı́nua excepto possivel-
mente num número finito de pontos, aonde os limites laterais existem. Denota-se a classe das funções
seccionalmente contı́nuas por P C([a, b]). Se γ : [a, b] → C é um caminho seccionalmente regular e
f ∈ P C(C γ ), então a função (f ◦ γ)γ ' é seccionalmente contı́nua. Segue em consequência que os in-
tegrais de linha em (3) encontram-se bem definidos para funções seccionalmente contı́nuas em curvas
parametrizadas por caminhos seccionalmente regulares.

Tendo em conta as evidentes igualdades


, - , -
Re (f ◦ γ) γ ' = [Re(f ◦ γ) γ ' ] e Im (f ◦ γ) γ ' = − Im [ (f ◦ γ) γ ' ]

obtém-se 9 9
f (w) dw = f (w) dw .
γ γ

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Holomorfia 91

Proposição 4 (Mudança de parâmetro) Sejam [a, b] e [c, d] intervalos não vazios de números re-
ais e γ : [a, b] → C um caminho seccionalmente regular. Suponha-se que s : [c, d] → [a, b] é uma função
estritamente crescente e sobrejectiva. Se s é diferenciável, excepto possivelmente num número finito
de pontos, então 9 9
f (w) dw = f (w) dw ,
γ σ
aonde σ : [c, d] → C é o caminho σ(t) = γ(s(t)) , t ∈ [c, d] .

Demonstração: Não se perde generalidade supondo que a mudança de parâmetro s(t), t ∈ [c, d] é
diferenciável em [c, d] . Do teorema de mudança de variável para integrais de funções reais de variável
real, obtém-se
9 9 d 9 d
f (w) dw = (f ◦ σ)(t)σ ' (t) dt = (f ◦ γ)(s(t))γ ' (s(t))s' (t) ds
σ c c
9 b 9
= (f ◦ γ)(s)γ (s) ds =
'
f (w) dw .
a γ

Se na proposição 4 considerarmos a função s : [c, d] → [a, b] estritamente decrescente, os caminhos γ e


σ dizem-se percorridos em sentidos opostos. Tendo em conta a demonstração do referido resultado,
é evidente que se γ e σ são percorridos em sentidos opostos então
9 9
f (w) dw = − f (w) dw .
γ σ

Nas condições anteriores, o caminho σ obtém-se de uma mudança de parâmetro seccionalmente dife-
renciável e estritamente crescente do caminho inverso de γ, denotado por γ − e definido por

γ − : [0, 1] → C γ e γ − (t) = γ(at + (1 − t)b) , t ∈ [0, 1] .

Considera-se por igual o integral de linha em ordem ao comprimento de arco


9 9 b
f (w) |dw| = (f ◦ γ)(t)|γ ' (t)| dt .
γ a

Seja γ : [a, b] → C um caminho seccionalmente regular e s uma mudança de parâmetro estritamente


monótona e seccionalmente diferenciável. De acordo com argumentos semelhantes aos que conduziram
à proposição 4, demonstra-se que
9 9
f (w) |dw| = f (w) |dw| ,
γ σ

aonde σ é o caminho definido por σ = γ ◦ s. Sabemos que o integral de linha em ordem ao comprimento
de arco permite calcular comprimentos de caminhos seccionalmente regulares, precisamente
9
1 |dw| = |γ| ,
γ

aonde |γ| denota o comprimento do caminho γ, definido por intermédio do seguinte


 
)n 
|γ| := sup |γ(tj ) − γ(tj+1 )| : a = t0 < t1 < · · · tn < tn+1 = b .
 
j=0

Luı́s V. Pessoa
92 3.3. Integrais de linha e função Índice

Proposição 5 Considere-se o intervalo não vazio de números reais [a, b] e um caminho seccionalmente
regular γ : [a, b] → C. Então "9 " 9
" "
" f (w) dw" ≤ |f (w)| |dw| ,
" "
γ γ

para qualquer que seja f ∈ R(γ).

Demonstração: Da proposição 3 obtém-se


"9 " "9 " 9 9
" " " b " b
" f (w) dw" = "" (f ◦ γ)(t) γ '
(t) dt
"
" ≤ |f ◦ γ(t)| |γ '
(t)| dt = |f (w)| |dw| .
" " " a "
γ a γ

Teorema 6 (Teorema fundamental) Seja γ : [a, b] → C um caminho seccionalmente regular e


U ⊂ C um aberto tal que C γ ⊂ U. Se f é diferenciável em U então é válida a seguinte igualdade
9
f ' (z) dz = f (γ(b)) − f (γ(a)) .
γ

Demonstração: De [7 sec. 3.1] infere-se sem dificuldades que

d(f ◦ γ)
(t) = Jf (γ(t))γ ' (t) = ∂z f (γ(t))γ ' (t) + ∂z f (γ(t))γ ' (t) = (f ' ◦ γ)(t)γ ' (t) .
dt
Da conhecida regra de Barrow para funções de variável real, obtém-se
9 9 b 9 b
d
f ' (w) dw = (f ' ◦ γ)(t)γ ' (t) dt = (f ◦ γ)(t) dt = f (γ(b)) − f (γ(a)) .
γ a a dt

Em particular, da proposição anterior deduz-se que se γ : [a, b] → C é um caminho seccionalmente


regular fechado e f é diferenciável num conjunto aberto que contém a curva C γ , então infere-se
9
f ' (z) dz = 0 .
γ

Diz-se que uma função f admite primitiva no conjunto aberto U ⊂ C, se U é subconjunto do domı́nio
de f e existe uma função diferenciável F : U → C tal que F ' (z) = f (z) , para qualquer z ∈ U. Se F1 e
F2 são duas primitivas em U da função f, considerando F = F1 − F2 obtemos [ver 3.2 pro.3]

∂z F (z) = 0 e ∂z F (z) = 0 , para qualquer que seja z ∈ U .

Supondo U conexo conclui-se F1 (z) = F2 (z) + C, z ∈ U aonde C ∈ C é uma constante complexa.

Exemplos
3. [Primitivas de funções analı́ticas] Seja f uma função analı́tica em w ∈ C, representada por a
2∞
série de potências n=0 an (z − w)n convergente em C. Do lema [2 sec. 2.2] sabemos que as séries

) )∞
an
an (z − w)n e (z − w)n+1 têm o mesmo raio de convergência.
n=0 n=0
n + 1

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Holomorfia 93

Da proposição [3 sec. 2.2] conclui-se que as primitivas de f em D(w, r) são funções analı́ticas e

)∞
an
F (z) = (z − w)n+1 é uma primitiva de f em D(w, r).
n=0
n +1

4. Considere-se o caminho γr : [−π, π] → C , γr (t) = z + reit , r > 0 e os integrais


9
(w − z)n dw , se n ∈ Z .
γr

O caminho γr parametriza a curva fechada ∂D(z, r). Se n )= −1 então a função w → (z − w)n admite
primitiva no conjunto aberto C\{z}. Como ∂D(z, r) ⊂ C\{z}, da proposição anterior infere-se
9
(w − z)n dw = 0 , se n )= −1 .
γr

Para estudar o caso n = −1, considere-se o caminho γr,$ : [( − π, π − (] → C, aonde γr,$ (t) = γr (t).

r
Θ
z
Θ

Figura 3.5: O caminho γr,'


Do Teorema Fundamental sem dificuldades obtém-se o seguinte
9 9 : ;
1 1
dw = lim+ dw = lim+ ln (rei(π−$) ) − ln (rei($−π) ) = lim+ (2πi − 2i() = 2πi.
γr w − z $→0 γr," w − z $→0 $→0

Deduz-se que a função w → 1/(w − z) não admite primitiva em qualquer conjunto aberto que contenha
* +
∂D(z, r). No entanto, a função w → ln (w − z) é uma primitiva no conjunto C\ z + R−0 .

Seja γ : [a, b] → C um caminho seccionalmente regular fechado. Define-se a função ı́ndice


9
1 1
I(γ, z) := dw , para z ∈ / Cγ .
2πi γ w − z

Em termos geométricos I(γ, z) indica o número de rotações (contabilizadas de acordo com a sua
orientação) do caminho γ em torno do ponto z ∈
/ Cγ .

Proposição 7 Seja γ : [a, b] → C um caminho seccionalmente regular fechado. Então

I(γ, z) ∈ Z , para qualquer que seja / Cγ .


z∈

Demonstração: Fixo z ∈
/ C γ considere-se a função
9 s
γ ' (t)
ϕ(s) = dt , a ≤ s ≤ b.
a γ(t) − z

Luı́s V. Pessoa
94 3.3. Integrais de linha e função Índice

Como a função [a, b] # t → γ ' (t)/(γ(t) − z) é seccionalmente contı́nua então ϕ é contı́nua e dife-
renciável, excepto possivelmente num número finito de pontos. Se ϕ' (s) está definida então
γ ' (s)
ϕ' (s) = , a ≤ s ≤ b.
γ(s) − z
Logo
d4 5 γ ' (s) −ϕ(s)
(γ(s) − z)e−ϕ(s) = γ ' (s)e−ϕ(s) − (γ(s) − z) e = 0.
ds γ(s) − z
Porque a função [a, b] # s → (γ(s) − z)e−ϕ(s) é contı́nua e admite derivada nula, excepto possivelmente
num número finito de ponto, então é constante. Tendo em conta que ϕ(a) = 0, obtém-se
γ(a) − z
e−ϕ(s) = e em particular eϕ(b) = 1 , i.e I(γ, z) ∈ Z .
γ(s) − z

Considere-se z ∈ C fixo e seja dz a distância de z à curva C γ , i.e.

dz := dist(z, C γ ) := inf {|z − w| : w ∈ C γ } ,

aonde γ é um caminho seccionalmente regular. Porque o conjunto C γ é compacto, então de z ∈


/ Cγ
infere-se dz > 0. Supondo |z − ξ| < dz /2 obtém-se
" " " "
" 1 1 "" "" " ≤ 2 |z − ξ| , para w ∈ C γ .
z−ξ "
" − =
"w − z w−ξ " " (w − z)(w − ξ) " d2z
Logo, para quaisquer z, ξ ∈
/ C γ é válida a desigualdade
|γ| dz
|I(γ, z) − I(γ, ξ)| ≤ |z − ξ| , se |z − ξ| < .
πd2z 2
Em consequência deduz-se a continuidade da função ı́ndice. Como o ı́ndice I(γ, z) é um número
inteiro, então é necessariamente constante em cada componente conexa de C\C γ . Se z é elemento da
componente conexa ilimitada de C\C γ , então
|γ|
|I(γ, z)| ≤ −→ 0 .
2πdz |z|→+∞

Conclui-se que I(γ, z) = 0 , para qualquer elemento z da componente conexa ilimitada de C\C γ .
Demonstrou-se o seguinte resultado:

Proposição 8 Seja γ um caminho seccionalmente regular fechado. A função ı́ndice I(γ, z) verifica:

i) I(γ, z) é constante em qualquer componente conexa de C\C γ ;

ii) I(γ, z) é identicamente nula na componente conexa ilimitada de C\C γ .

Diz-se que um caminho de Jordan γ é percorrido no sentido positivo, se para qualquer z no interior
da curva C γ verifica-se que I(γ, z) ∈ Z+ . Diz-se percorrido no sentido negativo se I(γ, z) ∈ Z− . Em
termos geométricos, o caminho γ é percorrido no sentido positivo, se ins γ encontra-se à esquerda do
caminho γ. O sentido positivo é também usualmente designado de sentido anti-horário. Defronte
demonstra-se que se z ∈ ins γ então I(γ, z) = ±1.

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 95

3.3 Problemas
1. Considere sucessivamente os problemas nas seguintes alı́neas:
a) Seja f : [a, b] → R uma função contı́nua tal que f ! ∈ C( ] a, b [ ).

i) Demonstre que se f ! é prolongável por continuidade ao intervalo [a, b] sse as derivadas laterais fd! (a)
e fe! (b) existem e respectivamente igualam limx→a+ f ! (x) e limx→b− f ! (x).

Sugestão: Considere o teorema de Lagrange.


ii) Se f : [0, 1] → R , f (t) = t2 sin 1/t e f (0) = 0 então fd! (0) existe mas f ! (t) não é prolongável por
continuidade à origem.

b) Se γ : [a, b] → C e γ ! ∈ C( ] a, b [ ) então γ ! é prolongável por continuidade ao intervalo [a, b] sse γd! (a) e
γe! (b) existem e verifica-se limx→a+ γ ! (t) = γd! (a) e limx→b− γ ! (t) = γe! (b).

2. Considere r > 0 e aplique a definição de integral de linha para calcular:


Z Z Z
i) arg z dz ; ii) arg z dz ; iii) arg z dz ;
[0,2i] [0,1+i] |z|=r

Z Z Z
iv) arg z dz ; v) arg z |dz| ; vi) arg z dz ;
|z|=r |z|=r γ

aonde
γ : [0, 1] → C , γ(x) = x + ix2 .

3. Considere o caminho γ : [0, 2π] → C , γ(x) = xeix e calcule os seguintes integrais de linha:
Z Z Z
i) z dz ; ii) z dz ; iii) arg z dz ;
γ γ γ

Z Z Z
e|z|
iv) Re z dz ; v) Im z dz ; vi) dz .
γ γ γ i − |z|

4. Considere uma caminho γ : [0, 1] → C de classe C 1 , verificando as seguintes condições:

Re γ(0) = Im γ(1) > 0 , Im γ(0) = Re γ(1) = 0 ; Re γ(t) > 0 , Im γ(t) > 0 (0 < t < 1) .

Defina os caminhos γk , k = 1, · · · , 4 da seguinte forma γk (t) = ik−1 γ(t) , 0 ≤ t ≤ 1. Aplicando a definição de


integral de linha verifique que se f : R+ 0 → C é função integrável em intervalos compactos então
Z Z
f (|z|) dz = f (|z|) dz = 0 ,
α α

aonde α é o caminho fechado seccionalmalmente regular definido por as seguintes condições

α : [0, 4] → C , α(t) = γk (t − k + 1) , k − 1 ≤ t ≤ k (k = 1, · · · , 4).

/ C γ aonde o caminho
5. Considere a definição de integral de linha tanto a proposição 8 para calcular I(γ, z) , z ∈
γ encontra-se indicado nas seguintes alı́neas:

i) γ(t) = ei2nπt , 0 ≤ t ≤ 1 (n ∈ N1 ) ; ii) γ(t) = sgn t − ei2πt sgn t , −n ≤ t ≤ m (n, m ∈ N1 ) .

Na alı́nea ii) o sı́mbolo sgn t designa o sinal de t ∈ R. No problema assume-se sgn 0 = 0. Esboce as curvas C γ
no plano complexo.

Luı́s V. Pessoa
96 3.3. Integrais de linha e função Índice

h i h i
6. Considere os caminhos γ1 , γ2 e γ3 respectivamente definidos por 0, e−iπ/4 , eiπ/4 , 0 e

γ3 : [−π/4 , π/4] → C , γ3 (t) = eit .

i) Represente no plano complexo as curvas C γj , j = 1, · · · , 4, aonde γ4 é uma parametrização seccional-


mente regular da curva fechada C γ1 ∪ C γ2 ∪ C γ3 , percorrida no sentido postivo;

ii) Calcule os integrais indicados nas seguintes alı́neas:


Z “√ ” Z Z “√ ”
i) cos 2πz dz ; ii) cos z dz ; iii) cos 2πz dz ;
γ3 γ4 γ1
Z “ √ ” Z √ Z
1 2
iv) sin πz/ 2 dz ; v) sin( 2π Re z) dz ; vi) e|z| dz ;
γ3 z2 γ2 γ3
Z Z Z
2
vii) zeπ|z| dz ; viii) z ln z dz (. > 0) ; ix) z ln z dz .
γ4 'γ3 γ4

7. Considere os caminhos γ1 e γ4 referidos no problema 6. Demonstre que


˛Z ˛ ˛Z ˛
˛ 2 ˛ ˛ 2 ˛ 2
˛ ez dz ˛˛ ≤ r e ˛ ez |dz|˛˛ ≤ 2r(1 + er ) , (r > 0).
˛ ˛
rγ1 rγ4

8. Seja γ : [a, b] → C um caminho seccionalmente regular e U ⊂ C um aberto tal que C γ ⊂ U. Se F : U → C é


diferenciável e F ! (z) = f (z) , z ∈ U então
Z
f (z) dz = F (γ(b)) − F (γ(a)) .
γ

9. Seja z ∈ C tal que Im z ≥ 0, Re z > 0 e [−z, z] o segmento de recta de −z a z. Justifique que o integral de
linha Z
w ln w dw ,
[−z,z]

está bem definido e calcule-o.

P
10. Considere f : C → C uma função inteira, representada por uma série de potências n=0 an z n convergente
no plano complexo. Suponha que an , n ∈ N é uma sucessão de termos reais e justifique que
Z
z2 − z1
f (w) dw = [F (z 2 ) − F (z 1 )] ,
[z1 ,z2 ] z2 − z1

P an n+1
aonde F é a função inteira representada por a série de potências n=0 n+1 z .

11. Seja U ⊂ C um conjunto aberto não vazio e f : U ⊂ C → C uma função R-diferenciável no ponto ξ ∈ int U.
Demonstre que
Z Z
1 1
∂z f (w) = lim f (ξ) dξ e ∂z f (w) = lim f (ξ) dξ .
'→0+ 2πi.2 '→0+ 2πi.2
|w−ξ|=' |w−ξ|='

Sugestão: Considere que f (w + v) − f (w) = v ∂w f (w) + v ∂w f (w) + o(v) , v → 0 .

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 97

3.4 Fórmula de Pompieu


Considere-se um caminho seccionalmente regular γ : [a, b] → C e um campo vectorial f : C γ → R2 na
classe C(C γ ). O trabalho realizado por o campo vectorial f ao longo do caminho γ é o integral de
linha definido através de 9 9 b
f (w) dγ(w) := 9f ◦ γ , γ ' :(t) dt ,
γ a

aonde 9. , .: designa o produto interno euclidiano no espaço vectorial R2 . Nas condições anteriores,
verificamos que o trabalho relaciona-se com o integral de linha [3 sec. 3.3] na variável complexa. De
facto, se f1 = Re f e f2 = Im f, obtém-se
9 9 b 9 b 9 b
f (w) dw = (f ◦ γ)(t) γ ' (t) dt = [(f1 ◦ γ)γ1' − (f2 ◦ γ)γ2' ] dt + i [(f1 ◦ γ)γ2' + (f2 ◦ γ)γ1' ] dt
γ a a a
9 b 9 b 9 9
I J I J
= f ◦ γ , γ (t) dt + i
'
i f ◦ γ , γ (t) dt =
'
f (w) dγ(w) + i i f (w) dγ(w) ,
a a γ γ

i.e. 9 9 9 9
Re f (w) dw = f (w) dγ(w) e Im f (w) dw = i f (w) dγ(w) .
γ γ γ γ

Considerem-se caminhos seccionalmente regulares γ0 , · · · , γn , n ∈ N. Define-se o sistema de cami-


nhos γ := γ0 + · · · + γn , o sistema de curvas C γ := C γ0 ∪ · · · ∪ C γn e o integral em γ
9 n 9
)
f (w) dw = f (w) dw .
γ j=0 γj

Suponha os caminhos γk , k = 0, · · · , n caminhos de Jordan verificando as seguintes propriedades

C γj ∩ C γk = ∅ ; k )= j ; k, j = 0, · · · , n se n∈N
. (1)
C γk ⊂ ins γ0 ; k = 1, · · · , n se n ∈ N1

Então o sistema de caminhos γ = γ0 + · · · + γn diz-se orientado positivamente se γ0 é percorrido


no sentido anti-horário e γ1 , · · · , γn são percorridos no sentido horário.

Γ0 Γ0

Γ1 Γn

Figura 3.6: Conjunto n-multi conexo respectivamente nos caso n ∈ N1 e n = 0.

O teorema de Green da análise real elementar é usualmente enunciado para conjuntos abertos com
fronteira constituı́da por um número finito de curvas de Jordan seccionalmente regulares verificando

Luı́s V. Pessoa
98 3.4. Fórmula de Pompieu

as condições (1). Precisamente, se

U = ins γ0 ∩ out γ1 ∩ · · · ∩ out γn , n ∈ N1 ou U = ins γ0 , n = 0 (2)

e se f : U ⊂ C → C é um campo vectorial na classe C 1 (cl U ), com funções coordenadas dadas por


f1 := Re f e f2 := Im f, então são válidas as fórmulas de Green
9 99 3 6
∂f2 ∂f1
f (w) dγ(w) = (w) − (w) dA(w) , w = x + iy , (3)
γ ∂x ∂y
U
88
aonde dA(w) designa o integral de Riemann bi-dimensional e o sistema de caminhos de Jordan
γ = γ0 + · · · + γn é orientado positivamente, i.e. o sistema γ é percorrido por forma a que o domı́nio
U se encontre à sua esquerda. Os conjuntos U verificando as condições do teorema de Green dizem-se
conjuntos n-multi conexos, com fronteira orientada positivamente. É usual designar os conjuntos U
acima como o interior duma curva de Jordan seccionalmente regular com “n buracos”, constituı́dos
por os interiores de n curvas de Jordan seccionalmente regulares. De seguida reescrevemos (3) em
notação mais adequada à análise complexa. Nas condições do teorema de Green, obtemos
 
99 99 # $ 99 # $
1 ∂f1 ∂f2 ∂f2 ∂f1
∂w f (w) dA(w) = − dA(w) + i + dA(w)
2 ∂x ∂y ∂x ∂y
U U U
39 9 6
1
= i f (w) dγ(w) − i f (w) dγ(w)
2 γ γ
39 9 6
1
= f (w) dγ(w) + i i f (w) dγ(w)
2i γ γ
9
1
= f (w) dw .
2i γ

Considerando conjuntamente as seguintes igualdades


99 99 9 9
1 1
∂w f (w) dA(w) = ∂w f (w) dA(w) = − f (w) dw = − f (w) dw ,
2i γ 2i γ
U U

termina-se a demonstração da validade do seguinte enunciado do teorema de Green:

Teorema 1 (Green) Seja γ = γ0 + · · · + γn , n ∈ N um sistema de caminhos de Jordan seccional-


mente regulares nas condições (1) e considere-se o conjunto aberto n-multi conexo

U = ins γ0 ∩ out γ1 ∩ · · · ∩ out γn (se n ∈ N1 ) ou U = ins γ0 (se n = 0) .

Se f : U ⊂ C → R2 é um campo vectorial que admite derivadas parciais de primeira ordem contı́nuas


em U ∪ ∂U , então são válidas as seguintes fórmulas de Green
99 9
1
∂w f (w) dA(w) = f (w) dw ;
2i γ
U
99 9 (4)
1
∂w f (w) dA(w) = − f (w) dw ;
2i γ
U

aonde o sistema de caminhos de Jordan γ = γ0 + · · · + γn é orientado positivamente.

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 99

Exemplos
1. [Área de ins γ.] Se γ é curva de Jordan seccionalmente regular percorrida na sentido positivo,
então do teorema de Green é evidente que
99 99 9
1
|ins γ| = 1 dA(w) = ∂w w dA(w) = w dw ,
2i γ
U U

aonde |ins γ| designa a área bi-dimensional do interior da curva de Jordan C γ .

Se U ⊂ C é um conjunto aberto não vazio e z ∈ U , então existe ( > 0 tal que D(z, () ⊂ U. Defronte
e para números ( > 0 suficientemente pequenos, o sı́mbolo Uz,$ denota o conjunto U \D(z, (). Para
enunciar o seguinte resultado é necessário considerar integrais de funções não necessariamente limi-
tadas. Uma das restrições mais incómodas do integral de Riemann consiste estar definido para uma
subclasse das funções limitadas e definidas em conjuntos limitados. É no entanto possı́vel considerar
integrais de funções não Riemann integráveis, e.g. considerando os usualmente conhecidos por inte-
grais impróprios de Riemann. Considere-se um conjunto U ⊂ C aberto, limitado e não vazio. Se
para qualquer ( > 0, a função g : U → C é Riemann integrável no conjunto U \D(z, (), então g diz-se
impropriamente Riemann integrável em U, se existe o seguinte limite
99
lim+ g(z) dA(z) . (5)
$→0
Uz,"

Caso g seja impropriamente Riemann integrável em U, então o valor do limite em (5) diz-se o valor do
integral impróprio de Riemann, e é denotado por
99
g(z) dA(z) .
U

Teorema 2 (Fórmula de Pompieu) Seja γ = γ0 + · · · + γn , n ∈ N um sistema de caminhos de


Jordan seccionalmente regulares nas condições (1) e considere-se o conjunto aberto n-multi conexo

U = ins γ0 ∩ out γ1 ∩ · · · ∩ out γn (se n ∈ N1 ) ou U = ins γ0 (se n = 0) .

Se f : U ⊂ C → R2 admite derivadas parciais de primeira ordem contı́nuas em U ∪ ∂U , então


9 99
1 f (w) 1 ∂w f (w)
f (z) = dw − dA(w) , z ∈ U , (6)
2πi γ w − z π w−z
U

aonde o sistema de caminhos de Jordan γ = γ0 + · · · + γn é orientado positivamente e o integral


bi-dimensional em (6) entende-se no sentido do integral impróprio de Riemann.

Demonstração: A função w → f (w)/(z − w) tem derivadas parciais de primeira ordem contı́nuas


no fecho do conjunto Uz,$ := U \D(z, (). Para ( > 0 suficientemente pequeno tem-se que Uz,$ está nas
condições do teorema de Green. Logo, de (4) obtemos
99 3 6 9 9
f (w) 1 f (w) 1 f (w)
∂w dA(w) = dw − dw , (7)
w−z 2i γ w − z 2i |z−w|=$ w − z
Uz,"

Luı́s V. Pessoa
100 3.4. Fórmula de Pompieu

aonde o cı́rculo |z − w| = ( é percorrido no sentido positivo. Deduz-se da definição de integral de linha


[3 sec. 3.3] e da continuidade de f no ponto z, que
"9 " " 9 "
" f (w) " " π , - "
" "
0 ≤ " dw − 2πif (z)" = ""i f (z + (eiθ ) − f (z) dθ""
" |z−w|=$ w − z " −π
(8)
≤ 2π max |f (z + (eiθ ) − f (z)| −→ 0.
θ∈ ]−π,π ] $→0+

Por outro lado, anotamos que a função U # w → ∂w f (w)/(w − z) é impropriamente Riemann in-
tegrável em U. De facto, considerem-se números positivos 0 < δ < ( e a coroa circular

D(z, δ, () := D(z, ()\cl D(z, δ) .

Usando coordenadas polares w − z = reiθ na integração, sabemos que o determinante Jacobiano da


mudança de coordenadas é |Jr,θ | = r. Logo
∂w f (w)
|Jr,θ | = e−iθ ∂w f (reiθ ) ,
w−z
e tendo em linha de conta a continuidade no ponto z da função w → ∂w f (w), obtemos
" " " "
" 99 99 " " 99 " 9 9
" ∂ f (w) " " ∂ f (w) " $ π
" w " " w "
" − dA(w)" = " dA(w)" ≤ | ∂w f (r, θ)| dr dθ
" w−z " " w−z " δ −π
" Uz," Uz,δ " " D(z,δ,$) " (9)

≤ max | ∂w f (w)|(( − δ)π −→ 0 .


w∈D(z,$,δ) $→0+

Da desigualdade anterior infere-se a existência do limite


99 99
∂w f (w) ∂w f (w)
lim+ dA(w) := dA(w) ,
$→0 w−z w−z
Uz," U

o que conjuntamente com (8) e (7), termina a demonstração. No entanto, o leitor mais céptico poderá
considerar os seguintes argumentos para deduzir que das desigualdades (9) conclui-se a existência do
integral impróprio em (6). Para qualquer sucessão (n , n ∈ N tal que limn (n = 0+ deduz-se de (9) que
99
∂w f (w)
I$n := dA(w)
w−z
Uz,"n

é uma sucessão de Cauchy, e em consequência é convergente. Se δn , n ∈ N é outra sucessão tal que


limn δn = 0+ , então os argumentos acima aplicam-se à sucessão (1 , δ1 , (2 , δ2 , · · · para concluir que o
limite de I$n , n ∈ N é independente da sucessão infinitésima (n , n ∈ N.

Exemplos
2. [Índice de curvas de Jordan] Se γ é uma curva de Jordan seccionalmente regular, da fórmula
de Pompieu infere-se de imediato que
9
1 1
I(γ, z) = dz = 1 , z ∈ int γ.
2πi γ w − z
Como sabemos I(γ, z) = 0, se z pertence à componente conexa ilimitada de C\C γ , i.e. se z ∈ out γ.

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 101

3. Nas condições do teorema 2 observamos que é evidente que


9 99
1 f (w) 1 ∂w f (w)
dw = / (U ∪ ∂U ).
dA(w) , z ∈
2πi γ w − z π w−z
U

Senão vejamos. A função C\{z} # w → 1/(w − z) é C-diferenciável, e se z ∈/ (U ∪ ∂U ) então


(U ∪ ∂U ) ⊂ C\{z}. Logo, do teorema de Green obtemos que
9 99 3 6 99
1 f (w) 1 f (w) 1 ∂w f (w)
dw = ∂w dA(w) = / (U ∪ ∂U ) .
dA(w) , z ∈
2πi γ w − z π w−z π w−z
U U

3.4 Problemas
1. Considere conjuntos U ⊂ C e C γ = ∂U, nas condições do teorema de Green. Demonstre que se f ∈
H(U ) ∩ C 1 (cl U ) e g ∈ C 1 (cl U ), aonde cl U designa a aderência do conjunto U, então
ZZ Z
1
f (z) ∂z g (z) dA(z) = f (z)g(z) dz.
2i γ
U

2. Seja γ um caminho de Jordan seccionalmente regular, U = ins γ e f ∈ C 2 (cl U ). O Laplaciano da função f é


definido através de ∆f = 4 ∂z ∂z f. Demonstre sucessivamente que:
i) se para qualquer que seja z ∈ U verifica-se ∆f (z) ∈ R, então
Z
Re ∂z f (z) dz = 0 ;
γ

ii) se para qualquer que seja z ∈ U verifica-se ∆f (z) ≥ 0, então


Z
Im ∂z f (z) dz ≥ 0 ;
γ

2 2
iii) considere g ∈ H(U ) ∩ C (cl U ) e f (z) = |g(z)| . Supondo a função g é injectiva então
Z
g ! (z)g(z) dz = 2i|g −1 (ins γ)| ,
γ
−1
aonde |g (ins γ)| denota a área do conjunto g −1 (ins γ).
iv) considere g(z) = z, z ∈ U e verifique que a asserção na alı́nea anterior corresponde ao exemplo 1.

3. Considere um conjunto U ⊂ C e C γ = ∂U nas condições do teorema de Green. Suponha fornecida uma função
` ´
f ∈ C(cl U ) ∩ H(U ) e que para determinado z ∈ U verifica-se f (w) = o (z − w)n−1 , w → z. Demonstre que a
função U 5 w → f (w)/(w − z)n é integrável em U e verifica-se
Z Z
f (w) 1 w−z
n
dA(w) = f (w) dw.
U (w − z) 2i γ (w − z)n
4.[Generalização da fórmula de Pompieu] Seja U ⊂ C um conjunto aberto n-multi conexo com fronteira regular.
Suponha que u ∈ C n (cl U ), n ∈ N1 e demostre a seguinte generalização da fórmula de Pompieu
n−1 Z ` ´k Z ` ´n−1 n
1 X (−1)k ξ − z ∂ku (−1)n ξ−z ∂ u
u(z) = (ξ) dξ + (ξ) dA(ξ) , z ∈ U.
2πi k! ∂U ξ − z ∂z k π(n − 1)! U ξ−z ∂z n
k=0

5. Suponha fornecida uma função u ∈ C n (cl D(0, 1)), n ∈ N1 e verifique a seguinte igualdade
n−1 Z Z
1 X (−1)k 1 ∂ku (−1)n 1 ∂nu
u(0) = k+1 k
(ξ) dξ + n ∂z n
(ξ) dA(ξ).
2πi k! |z|=1 ξ ∂z π(n − 1)! |z|≤1 ξ
k=0

Luı́s V. Pessoa
102 3.5. Fórmulas integrais de Cauchy e fórmula de Taylor

3.5 Fórmulas integrais de Cauchy e fórmula de Taylor


Fixos números complexos distintos z e w, considera-se a linha poligonal lw
z
:= [w, w + Re(z − w), z] .
Suponha-se que f : U → C é uma função contı́nua, admitindo integrais de linha nulos ao longo de
rectângulos contidos em U, i.e
9
f (z) dz = 0 para qualquer rectângulo R ⊂ U . (1)
R

Se os rectângulos com diagonais [w, z] e [w, ξ] são inclusos no domı́nio de f, então de (1) deduz-se
9 9 9
− f (ξ) dξ = f (ξ) dξ . (2)
ξ
lw z
lw lzξ

" z
. . . . .,
.......
-
"
w ! , ,

Figura 3.7: As linhas poligonais lw


z ξ
e lw

Proposição 1 Seja w ∈ C e r > 0. Suponha-se fornecida uma função contı́nua f : D(w, r) → C, tal
que para qualquer rectângulo R contido em D(w, r) verifica-se
9
f (z) dz = 0 .
R

Então existe uma função holomorfa F : D(w, r) → C tal que F ' (z) = f (z), z ∈ D(w, r).

Demonstração: Seja z ∈ D(w, r) e lw z


a linha poligonal definida acima. O disco D(w, r) contêm
o fecho do rectângulo com diagonal [w, z] . Logo, encontra-se bem definida a seguinte função
9
F : D(w, () → C , F (z) = f (ξ) dξ .
z
lw

Se h ∈ C é tal que z + h ∈ D(w, r), de acordo com (2), obtemos que


O9 9 P 9
F (z + h) − F (z) 1 1
= − f (ξ) dξ = f (ξ) dξ .
h h lw z+h z
lw h lzz+h

Consequentemente
" " "9 "
" F (z + h) − F (z) " √
"= 1 "
" "
" − f (z) [f (ξ) − f (z)] dξ " ≤ 2 sup |f (ξ) − f (z)| −→ 0 .
" h " |h| " z+h " |h|→0+
lz ξ∈D(z,|h|)

Logo, a função F é diferenciável e F ' (z) = f (z), z ∈ D(w, r).

A fórmula de Pompieu [3.4 sec. 6] contém em essência a fórmula integral de Cauchy. No entanto, a
fórmula integral de Cauchy será enunciada para elementos na classe da funções holomorfas e a fórmula

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 103

de Pompieu, exposta na secção anterior, foi enunciada para funções continuamente diferenciáveis. O
objectivo primordial da decorrente secção consiste em verificar que a existência de derivadas parciais
de ordem arbitrária é consequência da condição de holomorfia. Em vista do referido empreendimento,
o teorema de Goursat têm desempenho fundamental.

Teorema 2 (Goursat) Seja U ⊂ C um subconjunto aberto, conexo e não vazio. Se f ∈ H(U ) então
9
f (w) dw = 0 ,
R

para qualquer que seja o rectângulo R que verifique a condição (ins R ∪R ) ⊂ U .

Demonstração: Pretende-se definir uma sucessão de rectângulos Rn , n ∈ N1 . Para primeiro termo


considere-se R1 := R e defina-se o número real não negativo
"9 "
" "
I := "" f (w) dw"" ,
R1

e os rectângulos R1,1 , R1,2 , R1,3 e R1,4 , com vértices nos pontos intermédios dos lados de R1 tal como
no centro geométrico de R1 . Tendo em conta que
9 9 9 9 9
f (w) dw = + + + f (w) dw ,
R1 R1,1 R1,2 R1,3 R1,4

infere-se a existência de j = 1, · · · , 4 tal que o integral de linha ao longo do rectângulo R1,j verifica
"9 "
" " I diam(R1 )
" "
" f (w) dw" ≥ e diam(R1,j ) = , (3)
" R1,j " 4 2

aonde diam(A) designa o diâmetro do conjunto A ⊂ C , i.e.

diam(A) := sup {|z − w| : z, w ∈ A} .

Define-se R2 := R1,j , aonde R1,j verifica a condição (3). Aplica-se sucessivamente o processo acima,
i.e. no passo k supomos fornecido um rectângulo Rk tal que
"9 "
" " I
" f (w) dw"" ≥ k−1 .
" 4
Rk

Se Rk,1 , Rk,2 , Rk,3 e Rk,4 são os rectângulos com vértices nos pontos intermédios dos lados de Rk tal
como no centro geométrico de Rk , então é necessário que um dos Rk,j , j = 1, · · · , 4 verifique
"9 "
" " I
" "
" f (w) dw "≥ k ,
" Rk,j " 4

e denota-se por Rk+1 . Obtém-se desta forma uma sucessão de rectângulos Rk , k ∈ N1 , tais que
"9 "
"
"
"
"≥ I diam(R)
" f (w) dw " 4k−1 , ins Rk+1 ⊂ ins Rk e diam(Rk ) = , para k ∈ N1 . (4)
Rk 2k−1

Luı́s V. Pessoa
104 3.5. Fórmulas integrais de Cauchy e fórmula de Taylor

, , ,
- -
Rk,4 Rk,3
! , " ! , "
- Rk
-
" - Rk,1 Rk,2
! ! " ! "

Figura 3.8: Os rectângulos Rk

Anota-se que existe z ∈ C tal que z ∈ ∩k∈N1 Fk , aonde Fk := (ins Rk ∪ Rk ). De facto, escolhendo um
número complexo zk ∈ Fk , da igualdade limk diam(Fk ) = 0 obtém-se sem dificuldades que a sucessão
zk , k ∈ N1 é de Cauchy. Logo zk , k ∈ N1 é convergente. Se k ≥ n então zk ∈ Fn , e porque Fn é
fechado, então z := lim zk ∈ Fn . Da arbitrariedade de n obtém-se que z ∈ ∩n∈N1 Fn (sugere-se ao leitor
a verificação da igualdade {z} = ∩n∈N1 Fn ). Considerando a diferenciabilidade da função f no ponto
z, então fixado arbitrariamente ( > 0, deduz-se a existência de δ > 0 verificando o seguinte
" "
" f (w) − f (z) "
|z − w| < δ ⇒ "" − f (z)"" ≤ ( .
'
w−z
Em consequência infere-se

|z − w| < δ ⇒ |f (w) − f (z) − f ' (z)(w − z)| ≤ ( |w − z| . (5)

Se |Rk | designa o comprimento do rectângulo Rk então |Rk | = |Rk−1 |/2 e logo |Rk | = |R|/2k−1 . Em
conta de (5) e (4) obtém-se
"9 " "9 " 9
" " " "
" f (w) dw " = " [f (w) − f (z) − f '
(z)(z − w)] dw "≤( |z − w| |dw|
" " " "
Rk Rk Rk
9
M
≤ ( diam(Rk ) 1 |dw| ≤ ( k ,
Rk 4

aonde M > 0 é uma constante positiva. De (4) deduz-se que


I M
≤( k e logo 0 ≤ I ≤ (M −→ 0 .
4k−1 4 $→0+

O disco D(w, r), r > 0 contêm o fecho do interior de qualquer rectângulo R verificando a condição
R ⊂ D(w, r). Em particular, se f é holomorfa no disco D(w, r), r > 0 então da proposição 1 e do
teorema de Goursat, infere-se de imediato o seguinte resultado:

Corolário 3 Seja w ∈ C e r > 0. Se f ∈ H(D(w, r)) então f admite primitiva em D(w, r).

O teorema de Goursat permitiu demonstrar que funções holomorfas em discos admitem primitivas, i.e.
estabeleceu o corolário 3. De tal asserção inferir-se-á na demonstração do teorema 6, a analiticidade
em cada ponto. Antecede-se o referido resultado com dois lemas, os quais serão usados em diversas
situações. No primeiro dos quais compilamos as noções de convergência uniforme necessárias a uma
abordagem elementar da análise complexa. Procedemos sem referências à definição de convergência
uniforme, resultados sobre a qual resguardamos a desenvolvimentos de escopo não tão elementar.

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 105

Proposição 4 (Teste de Weierstrass) Seja X ⊂ C e fn , n ∈ N uma sucessão de funções fn : X ⊂


C → C contı́nuas. Suponha-se que existe uma sucessão de números reais não negativos cn , n ∈ N, tais
2
que |fn (z)| ≤ cn , z ∈ X e n cn é uma série convergente. Então
2 2
i) A série n fn (z) converge para cada ponto z ∈ X . Se f (z) = n fn (z), z ∈ X então f ∈ C(X) ;

ii) Suponha-se adicionalmente que X = [a, b] , a < b. Então verifica-se a seguinte igualdade
9 b)
∞ )∞ 9 b
fn (t) dt = fn (t) dt .
a n=0 n=0 a

Demonstração: Considerando o critério geral de comparação, nas condições das hipóteses verifica-
2
se a convergência absoluta da série k fk (z). Denota-se a sua soma por f (z), z ∈ X. Ter-se-á que
demonstrar a continuidade da função X # z → f (z). Fixo ( > 0 existem p ∈ N e δ > 0 tais que

) (
cn ≤ (/4 e |z − w| < δ ⇒ |fn (z) − fn (w)| ≤ , n = 0, · · · , p − 1 .
n=p
2p

Em consequência, para |z − w| < δ obtém-se


" " p−1
") " ) ∞
)
" "
|f (z) − f (w)| = " [fn (z) − fn (w)]" ≤ |fn (z) − fn (w)| + |fn (z) − fn (w)|
" "
n n=0 n=p
p−1
) ∞
) ( (
≤ |fn (z) − fn (w)| + 2 cn ≤ + = (.
n=0 n=p
2 2

Tendo em linha de conta a arbitrariedade de ( > 0, é finda a demonstração da alı́nea i). Segue a
verificação da alı́nea ii). Como f ∈ C([a, b]) então f é Riemann integrável e verifica-se
"9 " 9 " " 9 b "" ) "
" b
" )9 b
m−1 "
"
b"
"
m−1
) "
" "
∞ "
" )∞
" f (t) dt − fn (t) dt" ≤ " f (t) − fn (t)" dt = " fn (t)" dt ≤ (b − a) cn −→ 0 .
" a a " a " " a "n=m " n=m
m→∞
n=0 n=0

Seja γ : [a, b] → C um caminho seccionalmente regular e fn : C γ → C uma sucessão de funções nas


condições do teste de Weierstrass, i.e. a sucessão de funções fn , n ∈ N é tal que fn ∈ C(C γ ), n ∈ N
)
|fn (z)| ≤ cn , z ∈ C γ e cn < +∞ .
n

A função γ ' : [a, b] → C é seccionalmente contı́nua, i.e. existe uma partição P = {tj : j = 0, · · · , k} ,
aonde a = t0 < t1 < · · · < tk = b , tal que γ ' é contı́nua no intervalo ]tj , tj+1 [ e existem os limites laterais
nos pontos tj , j = 0, · · · , k − 1. Sem dificuldades, conclui-se que no intervalo [tj , tj+1 ], j = 0, · · · , k − 1
a sucessão de funções (fn ◦ γ) γ ' , n ∈ N encontra-se nas condições da alı́nea ii) do teste de Weierstrass.
De onde infere-se o seguinte
9 ) ∞ ) 9 tj+1 )
k−1 ∞ k−1
)) ∞ 9 tj+1 ∞ 9
)
fn (z) dz = [fn ◦ γ] (t)γ ' (t) dt = [fn ◦ γ] (t)γ ' (t) dt = fn (z) dz ,
γ n=0 j=0 tj n=0 j=0 n=0 tj n=0 γ

i.e. é possı́vel alterar a ordem das operações de integração e soma da série, para obter
9 ) ∞ )∞ 9
fn (z) dz = fn (z) dz . (6)
γ n=0 n=0 γ

Luı́s V. Pessoa
106 3.5. Fórmulas integrais de Cauchy e fórmula de Taylor

Lema 5 Suponha-se fornecida f : ∂D(w, r) → C, r > 0 uma função na classe C(C γr ) e considere-se
9
f (ξ)
h : D(w, r) → C , h(z) = dξ , z ∈ D(w, r)
γr ξ −z

aonde γr denota uma parametrização da circunferência ∂D(w, r) positivamente orientada. Então h é


analı́tica em D(w, r) e coincide com a soma da série de potências

) 9
1 f (ξ) h(n) (w)
an (z − w)n aonde an = dξ = . (7)
n=0
2πi (ξ − w) n+1 n!
γr

Demonstração: Seja ρ um real verificando 0 < ρ < r . Da soma da série geométrica obtém-se
 

f (ξ) f (ξ)  1  ) f (ξ)
=   = (z − w)n . (8)
ξ−z ξ−w 1− z−w n=0
(ξ − w)n+1
ξ−w

Tendo em conta a limitação da função f, conclui-se sem dificuldades que se z ∈ D(w, ρ) então
" " 4 ρ 5n ) 4 ρ 5n
"
" f (ξ) "
n"
" (ξ − w)n+1 (z − w) " ≤ M r , ξ ∈ ∂D(w, r) e r
converge .
n

Do teste de Weierstrass, deduz-se que a integração na variável complexa dξ, no membro direito da
igualdade (8) e em ∂D(0, r), comuta com o sı́mbolo de série, i.e. para z ∈ D(w, ρ) infere-se
9 )∞ 9
1 f (ξ) 1 f (ξ)
h(z) = dξ = an (z − w)n aonde an = dξ .
2πi ξ−z n=0
2πi (ξ − w)n+1
γr γr

Logo h é analı́tica tanto em qualquer disco D(w, ρ), 0 < ρ < r é representada por a série de potências
em (7). Segue a sua convergência no disco aberto D(w, r) para a função h. De [2 sec. 3.1] obtém-se

) n!
h(k) (z) = an (z − w)n−k para z ∈ D(w, r) .
(n − k)!
n=k

Consequentemente h(k) (w) = k! ak e assim é finda a demonstração.

De seguida afixa-se que a condição de analiticidade é necessária à condição de holomorfia.

Teorema 6 Suponha-se U ⊂ C aberto não vazio e f ∈ H(U ). Então f é analı́tica em U.

Demonstração: Fixe-se w ∈ U e ( > 0 tal que D(w, () ⊂ U. O corolário 3 assegura a existência


duma função holomorfa F : D(w, () → C tal que F ' (z) = f (z), z ∈ D(w, (). Tendo em linha de
conta que f ∈ H(U ) ⊂ C(D(w, ()) conclui-se F ∈ H(D(w, ()) ∩ C 1 (D(w, ()). Considere-se um real δ
verificando 0 < δ < ( e aplique-se a fórmula de Pompieu [2 sec. 3.4] no disco D(w, δ) para obter
9
1 F (ξ)
F (z) = dξ .
2πi ξ−z
|w−ξ|=δ

Do lema 5 deduz-se a analiticidade de F em w. Segue em consequência a analiticidade de f em w.

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 107

A proposição anterior assegura que funções holomorfas num conjunto aberto não vazio U ⊂ C, são
funções analı́ticas em U. Na proposição [3 sec. 2.2] demonstrou-se que funções analı́ticas em U são
holomorfas. Portanto, a classe das funções analı́ticas coincide com a classe das funções holomorfas.
Em particular, do exemplo [1 sec. 3.1] retira-se que qualquer função holomorfa num conjunto aberto não
vazio U, admite derivadas complexas de todas as ordens e do corolário [4 sec. 2.2] que H(U ) ⊂ C ∞ (U ).

Parte considerável dos resultados inclusos na decorrente secção enunciam-se para conjuntos abertos
n-multi conexos com fronteira seccionalmente regular tal como acima os enunciados do teorema de
Green [1 sec. 3.4] e da fórmula de Pompieu [2 sec. 3.4]. Intentando clareza no discorrer textual, de novo
introduz-se a definição. Um conjunto aberto não vazio U ⊂ C diz-se n-multi conexo seccionalmente
regular se a fronteira ∂U é parametrizada por um sistema de curvas de Jordan seccionalmente regulares
γ = γ0 + · · · + γn nas seguintes condições

C γj ∩ C γk = ∅ ; k )= j ; k, j = 0, · · · , n se n∈N
. (9)
C γk ⊂ ins γ0 ; k = 1, · · · , n se n ∈ N1

tanto o conjunto U é em seguida definido

U = ins γ0 ∩ out γ1 ∩ · · · ∩ out γn , n ∈ N1 ou U = ins γ0 , n = 0 . (10)

Proposição 7 Considere-se U um conjunto n-multi conexo com fronteira parametrizada por um sis-
tema de caminhos de Jordan γ = γ0 + · · · + γn , n ∈ N positivamente orientado e respectivamente nas
condições (9) e (10). Se W é um aberto tal que U ⊂ W e f ∈ H(W ) então
9
f (z) dz = 0.
γ

Demonstração: Das observações precedendo o decorrente resultado, deduz-se a seguinte asserção


f ∈ H(W ) ∩ C ∞ (W ) . Logo, do teorema de Green [1 sec. 3.4] obtém-se
99 9
1
0= ∂z f dA(z) = f (z) dz = 0 .
U 2i γ

Nas condições da proposição 7 e tendo em linha de conta a definição de orientação positiva para o
sistema de caminhos γ = γ0 + · · · + γn , as conclusões do resultado anterior são equivalentes a
9 n 9
) 9
f (z) dz = f (z) dz (se n ∈ N1 ) ou f (z) dz = 0 (se n = 0) ,
γ0 j=1 γj γ0

aonde os caminhos de Jordan γj , j = 0, · · · , n são percorridos no sentido positivo. Em particular,


considere-se γ0 uma curva de Jordan seccionalmente regular e suponha-se f holomorfa num conjunto
aberto W contendo γ0 ∪ ins γ0 , com excepção dum conjunto finito de pontos. Então o integral na
variável complexa ao longo da curva γ0 pode ser obtido somando os integrais ao longo de curvas
γj , j = 1, · · · , n incluı́das no interior de γ0 e contornando os pontos no interior de γ0 aonde f não
é holomorfa, i.e. γj , j = 1, · · · , n são curvas de Jordan seccionalmente regulares inclusas em ins γ0 e
incluindo no seu interior um único ponto aonde f não é holomorfa.

Luı́s V. Pessoa
108 3.5. Fórmulas integrais de Cauchy e fórmula de Taylor

Teorema 8 (Morera) Seja U ⊂ C um aberto não vazio e f ∈ C(U ). As asserções são equivalentes:

i) f ∈ H(U );

ii) para qualquer que seja γ um caminho de Jordan seccionalmente regular verifica-se
9
f (z) dz = 0; (11)
γ

iii) a igualdade (11) verifica-se para qualquer que seja o rectângulo R = C γ tal que (ins R) ∪ R ⊂ U .

Demonstração: i) ⇒ ii). Suponha-se γ uma curva de Jordan seccionalmente regular tal que
(C γ ∪ ins γ) ⊂ U. Porque ins γ é um conjunto aberto então dado z ∈ ins γ existe R um rectângulo
centrado em z tal que R ⊂ ins γ. Definindo V = ins γ ∩ out R obtém-se da proposição 7 que
9 9
f (z) dz − f (z) dz = 0 .
γ R

Porque ins γ ⊂ U então (R ∪ ins R) ⊂ U. Como f ∈ H(U ) então deduz-se do teorema de Goursat que
9 9
f (z) dz = 0 e em consequência f (z) dz = 0 .
R γ

A implicação ii) ⇒ iii) é óbvia. Para terminar é suficiente demonstrar iii) ⇒ i). Considera-se um
complexo w ∈ U e demonstra-se que f é diferenciável em w. Da proposição 1 deduz-se que existe
uma função F, diferenciável em D(w, () e tal que F ' (z) = f (z), z ∈ D(w, () , aonde ( > 0 é tal que
D(w, () ⊂ U . Como a derivada duma função analı́tica é analı́tica, então f é analı́tica em D(w, (). Da
arbitrariedade de w ∈ U conclui-se f ∈ H(U ).

O seguinte resultado é consequência imediata da fórmula de Pompieu [sec. 3.4] e do teorema 6.

Proposição 9 (Fórmulas integrais de Cauchy) Considere-se U um conjunto n-multi conexo com


fronteira parametrizada por um sistema de caminhos de Jordan γ = γ0 + · · · + γn , n ∈ N positivamente
orientado e respectivamente nas condições (9) e (10). Se W é um conjunto aberto tal que U ⊂ W e
f ∈ H(W ), então é válida a fórmula integral de Cauchy
9
1 f (w)
f (z) = dw , z ∈ U.
2πi γ w − z

O leitor deve anotar que nas condições da proposição 9, deduz-se da proposição 7 o seguinte
9
1 f (w)
dw = 0 , se z ∈ / (U ∪ ∂U ).
2πi γ w − z

Proposição 10 (Princı́pio do máximo) Considere-se U aberto conexo não vazio e f ∈ H(U ). Se


a função |f | assume valor máximo num ponto de U então f é constante.

Demonstração: Suponha-se a existência dum complexo z ∈ U verificando |f (w)| ≤| f (z)|, w ∈ U.


Para ( > 0 tal que cl D(z, () ⊂ U , considere-se g(θ) = |f (z + (eiθ )| −| f (z)|, −π ≤ θ ≤ π. Então
9 π 9 π
1 1
|f (z)| ≤ |f (z + (e )| dθ =

g(θ) dθ + |f (z)| ≤ |f (z)|. (12)
2π −π 2π −π

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 109

De (12) deduz-se que o integral da função g é nulo. Porque g é contı́nua então g(θ) = 0, −π ≤ θ ≤ π.
Logo a função U # z → |f (z)| é constante num disco centrado em z. Assim, o seguinte conjunto

Ω := {w : |f (w)| = |f (z)|}

é um conjunto aberto. Da continuidade de f deduz-se que Ω é fechado. Como U é conexo e por


hipótese Ω )= ∅ então Ω = U .

Se f é holomorfa então é suficiente considerar a função 1/f para concluir que se |f | assume mı́nimo
não nulo em ponto interior ao seu domı́nio (conexo) então f é necessariamente constante.

Estuda-se de seguida a existência de primitiva de determinada função f : U → C, aonde U ⊂ C é


aberto, conexo e não vazio. Se existe uma caminho de Jordan γ tal que C γ ⊂ U e
9
f (z) dz )= 0 ,
γ

então, do teorema fundamental [6 sec. 3.3] conclui-se que f não admite primitiva em nenhum conjunto
aberto que contém a curva C γ . Do teorema de Morera deduz-se que ins γ não está contido no domı́nio
de holomorfia da função f. Por seu turno a holomorfia em U não é condição suficiente para garantir
a existência de primitiva, e.g. a função f (z) = 1/z é holomorfa em C\{0} e do exemplo [4 sec. 3.3]
infere-se a não existência de primitiva em C\{0}.

Exemplos
1. Considere-se uma função de variável complexa f, analı́tica no ponto w. Suponha-se que f é
2
representada por a série de potências an (z − w)n com raio de convergência 0 < r ≤ +∞, i.e.

)
f (z) = an (z − w)n , para z ∈ D(w, r).
n=0

Do exemplo [3 sec. 3.3] sabemos que f admite primitiva em D(w, r). Uma primitiva obtém-se calculando
primitivas termo a termo (que se anulam em w) da série de potências representando a função f, i.e.
)∞
an
F (z) = (z − w)n+1 , é uma primitiva de f em D(w, r).
n=0
n +1

Se lw
z
é caminho regular por secções em D(w, r), com pontos inicial e final respectivamente w e z, então
9 9 ∞
) ∞
) 9 )∞
an
f (ξ) dξ = an (ξ − w)n dξ = an (ξ − w)n dξ = (z − w)n+1 = F (z)
z
lw z
lw n=0 n=0
z
lw n=0
n + 1

i.e. a expressão geral das primitivas da função f obtém-se por intermédio do integral de linha
9
F (z) = f (ξ) dξ + C ,
z
lw

aonde lw
z
é um qualquer caminho seccionalmente regular em D(w, r) e unindo w a z.

Luı́s V. Pessoa
110 3.5. Fórmulas integrais de Cauchy e fórmula de Taylor

Definição 11 Um conjunto U ⊂ C conexo e não vazio diz-se simplesmente conexo se qualquer


curva de Jordan C γ contida U verifica-se ins γ ⊂ U.

Mostra-se de seguida que funções holomorfas em conjuntos simplesmente conexos admitem primitiva.
Ao empreendimento é necessário o conceito de concatenação de caminhos. Se γj : [aj , bj ] → C , j = 1, 2
são caminhos tais que o ponto final de γ1 coincide com o ponto inicial de γ2 então definimos o caminho
concatenação de γ2 com γ1 por intermédio

 γ1 (b1 t + a1 (1 − t)) , t ∈ [0, 1]
γ2 γ1 : [0, 2] → C , γ2 γ1 (t) = .
 γ (b (t − 1) + a (2 − t)) , t ∈ [1, 2]
2 2 2

O caminho γ2 γ1 é fechado sse o ponto inicial de γ1 coincide com o ponto final de γ2 .

Corolário 12 Seja U ⊂ C um conjunto aberto, simplesmente conexo e não vazio. Então qualquer
função holomorfa f ∈ H(U ) admite primitiva em U , i.e. existe F ∈ H(U ) tal que F ' (z) = f (z) , z ∈ U.

Demonstração: Sabe-se que conjuntos abertos, conexos e não vazios são conexos por caminhos
poligonais. Em particular dados quaisquer pontos w, z ∈ U existe um caminho seccionalmente regular
γ1 : [a, b] → C , tal que γ1 (a) = w e γ1 (b) = z. De seguida verifica-se que o integral de linha
9
f (ξ) dξ (13)
γ1

não depende do caminho seccionalmente regular com ponto inicial w e ponto final z. Se γ2 é um
outro caminho nas condições mencionadas, então a concatenação γ = γ2− γ1 é um caminho fechado
seccionalmente regular tal que C γ ⊂ U. A curva C γ está contida no interior duma curva de Jordan C ϕ
contida em U. Tendo em conta que C γ ⊂ ins ϕ (e logo C ϕ ⊂ out γ), da proposição [8 sec. 3.3] obtém-se
9 9 9 9 9
f (z) 1
f (ξ) dξ = dz dξ = f (z) dξ dz = 0 .
γ γ ϕ z − ξ ϕ γ z − ξ

A troca da ordem de integração na equação anterior é justificada porque a função integrada é contı́nua
nas variáveis z e ξ.Conclui-se
9 9 9 9
f (ξ) dξ + f (ξ) dξ = 0 i.e. f (ξ) dξ = f (ξ) dξ .
γ1 γ2− γ1 γ2

Consequentemente, fixo w ∈ U, encontra-se bem definida a função


9
F (z) = f (ξ) dξ ,
z
γw

aonde γw z
é qualquer caminho seccionalmente regular de w a z. Em particular, se D(z, () ⊂ U e h ∈ C
é tal que |h| < ( então 9
F (z + h) − F (z) = f (ξ) dξ ,
z
lw

aonde é a linha poligonal [w, w + Re(z − w), z] . Imitando a demonstração do teorema 6 conclui-se
z
lw
que F é uma primitiva de f.

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 111

Proposição 13 (Série de Taylor) Considere-se um conjunto aberto não vazio U ⊂ C e f ∈ H(U ).


Então f é uma função analı́tica em qualquer ponto w ∈ U. Se dw := dist(w, ∂U ) então a função f é
representada por a série de Taylor centrada em w ∈ U
)∞
f (n) (w) n
(z − w) , para qualquer que seja z ∈ D(w, dw ).
n=0
n!

A série de Taylor centrada em w é absolutamente convergente em discos fechados contidos em D(w, dw )


e são válidas as seguintes fórmulas
9
n! f (ξ)
f (n) (w) = dξ qualquer que seja 0 < ρ < dw .
2πi |ξ−w|=ρ (ξ − w)n+1
Demonstração: Considere-se w ∈ U . Se 0 < ρ < dw , da fórmula integral de Cauchy obtém-se
9
f (ξ)
f (z) = dξ , z ∈ D(w, ρ)
γρ ξ − z

aonde γρ denota uma parametrização de ∂D(w, ρ). Logo, do lema 5 infere-se


)∞ 9
1 f (ξ)
f (z) = an (z − w)n , z ∈ D(w, ρ) aonde an = dξ , (14)
n=0
2πi (ξ − w)n+1
|ξ−w|=ρ

e f (w) = k!ak , para qualquer 0 < ρ < dw . Terminamos a demonstração observando que qualquer
(k)

série de potências converge absolutamente no interior da região de convergência.

Do teorema anterior conclui-se que se f ∈ H(D(w, r)) , r > 0 então existe uma série de potências
2
n=0 an (z − w) que representa a função f no disco D(w, r), precisamente a série de Taylor. No
n

exemplo [1 sec. 3.1] demonstrou-se a unicidade da representação de funções por intermédio de séries de
potências. As asserções anteriores são usualmente parafraseadas no dizer que a série de Taylor é única.

Corolário 14 (Fórmulas integrais de Cauchy generalizadas) Seja U um n-multi conexo com


fronteira parametrizada por um sistema de caminhos de Jordan γ = γ0 + · · · + γn , n ∈ N positivamente
orientado e respectivamente nas condições (9) e (10). Se W aberto tal que U ⊂ W e f ∈ H(W ), então
9
n! f (w)
f (n) (z) = dw , z ∈ U, n ∈ N. (15)
2πi γ (w − z)n+1
Demonstração: Demonstra-se o resultado por intermédio do método de indução matemática.
Supõe-se como hipótese de indução que para n ∈ N fixo e qualquer função f ∈ H(W ) verifica-se
9
n! f (w)
f (n) (z) = dw , qualquer que seja z ∈ U .
2πi γ (w − z)n+1
Se f ∈ H(W ) então f ' ∈ H(W ) e logo da hipótese de indução obtém-se
9 9 3 # $ 6
n! f ' (w) n! f (w) f (w)
f (n+1) (z) = dw = ∂w + (n + 1) dw . (16)
2πi γ (w − z)n+1 2πi γ (w − z)n+1 (w − z)n+2
Tendo em conta que para z ∈ U, a função w → f (w)/(w − z)n+1 é diferenciável num aberto contendo
as curvas C γ0 , · · · , C γn , então da proposição [6 sec. 3.3] deduz-se que
9 3 6 ) n 9 3 6
f (w) d f (w)
∂w dw = dw = 0 .
γ (w − z)n+1 j=0 γj
dw (w − z)n+1

Luı́s V. Pessoa
112 3.5. Fórmulas integrais de Cauchy e fórmula de Taylor

Logo, de (16) é evidente que


9
(n + 1)! f (w)
f (n+1) (z) = dw , qualquer que seja z ∈ U .
2πi γ (w − z)n+2

A demonstração é finda observando que o caso n = 0 coincide com as asserções na proposição 9.

Exemplos
2. Considere-se um caminho de Jordan γ0 seccionalmente regular e uma função f ∈ H(W ) , aonde
W é um conjunto aberto tal que (ins γ0 ∪ C γ0 ) ⊂ W. Pretende-se calcular o integral
9
f (w)
dw
γ0 (w − z 1 )n1 · · · (w − z )nk
k

aonde k, n1 , · · · , nk ∈ N1 e z1 , · · · , zk ∈ ins γ0 . Como ins γ0 é um conjunto aberto, então para cada zj


existe um número real positivo (j > 0 , j = 1, · · · , k tal que

D(zj , (j ) ⊂ ins γ0 (j = 1, · · · , k) e D(zj , 2(j ) ∩ D(zl , 2(l ) = ∅ (j )= l ; j, l = 1, · · · , k).


Γ0

Γ1 Γk
z1 zk

Figura 3.9: O conjunto ins γ0 ∩ out γ1 · · · ∩ out γk

O conjunto U = ins γ0 ∩ out γ1 · · · ∩ out γk encontra-se nas condições da proposição 7, aonde γj é


parametrização seccionalmente regular da curva de Jordan ∂D(zj , (j ) , j = 1, · · · , k. Em consequência
9 )k 9
1 f (w) 1 f (w)
0= dw − dw .
2i γ0 (w − z1 )n1 · · · (w − zk )nk j=1
2i γj
(w − z 1 )n1 · · · (w − z )nk
k

Tendo em linha de conta que


9 9
f (w) gj (w) f (w)(w − zj )nj
dw = dw aonde gj (w) =
γj (w − z 1 )n1 · · · (w − z )nk
k γj (w − zj )nj (w − z1 )n1 · · · (w − zk )nk

tanto que a função gj , j = 1, · · · , k é holomorfa num aberto que contém (ins γj ∪ C γj ), obtém-se
9 )k 3 6
1 f (w) 1 d(nj −1) f (w)(w − zj )nj
dw = .
2πi γ0 (w − z1 )n1 · · · (w − zk )nk j=1
(nj )! dwnj −1 (w − z1 )n1 · · · (w − zk )nk |w=zj

A fórmula anterior ir-se-á reencontrar no próximo capı́tulo e a propósito do teorema dos resı́duos.

Luı́s V. Pessoa
Holomorfia 113

Finalmente, iremos estabelecer as fórmulas integrais de Cauchy para conjuntos n-multi conexos com
fronteira constituı́da por um número finito de curvas de Jordan, parametrizadas não necessariamente
por caminhos de Jordan. Antecedemos a asserção com um lema e as seguintes definições. Dado um
conjunto aberto U ⊂ C define-se o conjunto U pontuado em w ∈ U através de Uw := U \{w}. Se
w ∈ C, a coroa circular D(w, δ, () é dada por

D(w, δ, () = {z ∈ C : δ < |w − z| < (} , para 0 < δ < (. (17)

Proposição 15 Considere-se uma função holomorfa f ∈ H(Uw ), e suponha-se que f é uma função
limitada em algum disco D(w, 2() , ( > 0. Então limz→w f (z) existe. Denotando por f< o prolongamento
por continuidade de f ao conjunto U então f< ∈ H(U ).

Demonstração: Seja γr uma parametrização seccionalmente regular da curva ∂D(w, r) , r > 0.


Considerem-se (, δ tais que 0 < δ < ( e aplique-se a fórmula integral de Cauchy à função f e à coroa
circular (ins γ$ ) ∩ (out γδ ) . Obtém-se
9 9
1 f (ξ) 1 f (ξ)
f (z) = dξ − dξ , z ∈ D(w, δ, () .
2πi γ" ξ − z 2πi γδ ξ − z

Tendo em conta a limitação de f em D(w, (), para δ > 0 suficientemente pequeno segue que
" 9 " 9 " "
" 1 f (ξ) "" 1 " f (ξ) " 2M
" " "
dξ ≤ " ξ − z " |dξ| ≤ δ |z − w| δ→0+ 0 .
−→
" 2πi ξ − z " 2π
γδ γδ

Logo 9
1 f (ξ)
f (z) = dξ , para z ∈ D(w, ()\{w} .
2πi γ" ξ−z
Do lema 5 conclui-se que considerando o prolongamento de f ao ponto w definido por
9
1 f (ξ)
f<(z) = f (z) , z )= w e f<(w) = dξ ,
2πi γ" ξ − w

conclui-se que f< é analı́tica em D(w, (). Em particular limz→w f (z) existe e iguala f<(w).

Nas condições da proposição 15 diz-se que a função f tem em w uma singularidade removı́vel.

Proposição 16 Considere-se U um conjunto n-multi conexo com fronteira parametrizada por um


sistema de caminhos de Jordan γ = γ0 + · · · + γn , n ∈ N e respectivamente nas condições (9) e (10).
Se W é um conjunto aberto tal que U ⊂ W e f ∈ H(W ), então é válida a seguinte igualdade
9
1 f (ξ)
I(γ, z)f (z) = dξ , para z ∈ / Cγ , n ∈ N .
2πi γ ξ − z

Demonstração: Considere-se z ∈
/ C γ fixo e a função
f (w) − f (z)
h:W →C , h(w) = .
w−z
Se z ∈
/ U então é evidente que h é holomorfa num aberto que contém U. Se z ∈ U então h é holomorfa
em Wz e tendo em conta que
f (w) − f (z)
lim = f ' (z) ,
w→z w−z

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114 3.5. Fórmulas integrais de Cauchy e fórmula de Taylor

conclui-se que h é limitada numa vizinhança do ponto z. Logo, da proposição 15 infere-se que h é
prolongável por analiticidade ao ponto z. Em qualquer do casos obtém-se
9 9
1 f (w) − f (z) 1 f (w)
0= dw = dw − f (z)I(γ, z)
2πi γ w−z 2πi γ w−z

3.5 Problemas
1. Considere as curvas

C1 = {z : |z| = 1, Re z > 0} , C2 = {iy : −1 < y < 1} e C3 = γ1 ∪ γ2 .

Suponha que C3 é percorrida no sentido positivo, e que C1 e C2 são percorridas no sentido induzido de C3 .
Calcule os integrais Z Z
z n z n+1 dz e z n z n+1 dγj (z) , aonde n ∈ N ,
Cj Cj

e γj são parametrizações regulares das curvas Cj , j = 1, 2, 3.

2. Considere uma função f com valores complexos e na classe C 1 (U ), aonde U designa um conjunto aberto
verificando a condição U ⊃ cl D(0, 1).

i) Verifique as seguintes igualdades:


Z Z Z
f (z) dz = − f (z)z 2 dz = i f (z)z |dz| .
|z|=1 |z|=1 |z|=1

ii) Suponha que f ∈ H(U ) , f (0) = 0 e demonstre que


Z Z Z
1 f (z) f (z)
Re f (z) |dz| = dz e dz é imaginário puro.
|z|=1 2i |z|=1 z |z|=1 z

3. Seja f uma função na classe H(D(0, 2)). Encontre os erros nas seguintes igualdades
Z Z Z
1 f (w) 1 1
f (0) = dw = wf (w) + wwf ! (w) dw = ∂w [wwf (w)] dw
2πi |w|=1 w 2πi |w|=1 2πi |w|=1

Z Z
1 1
= ∂w f (w) dw = f ! (w) dw = 0 .
2πi |w|=1 2πi |w|=1

4. Considere um conjunto finito F ⊂ C e uma função f ∈ H(U ), aonde U := C\F. Defina a seguinte função
Z
ϕ(r) := f (z) dz aonde γr (t) = reit , −π < t ≤ π , r > 0.
γr

Suponha M (r) = o(1/r) , r → +∞, aonde Mr := sup|z|=r |f (z)|. Justifique sucessivamente as asserções:

i) a função ϕ(r) está bem definida tanto ϕ(r) é constante, para r superior a determinado real;

ii) ϕ(r) = 0 para r superior a determinado real.

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Holomorfia 115

5. Calcule os integrais indicados em cada uma das seguintes alı́neas


Z Z
z γ z3
i) 3
dz , C = ∂D(0, 1) ; ii) dz , C γ = ∂D(0, 2) ;
γ (2z + 1) γ z +1
Z Z
sin z γ sin z
iii) 4
dz , C = ∂D(0, 1) ; iv) 2 + π)(z 2 − π)
dz , C γ = ∂D(iπ, π) ;
γ z γ (z
Z Z
cos z sin z
v) 2
dz , C γ = ∂D(0, 2) ; vi) 2 πz
dz , C γ = ∂D(0, 2) ;
γ (z + 1) γ (z + 1)e
Z Z
eπz ez
vii) 2
dz , C γ = ∂D(0, 2) ; viii) 2 2 2 2
dz , C γ = ∂D(iπ, 1) ;
γ (z + 1) cos z γ (z + π )(z − π )
Z Z
cos(iπz) γ z
ix) 2
dz , C = ∂D(0, 2) ; x) n
dz (n ∈ N) , C γ = ∂D(0, 2) ;
γ (z + 1) γ 1−z
Z Z
z zj
xi) n 2
dz (n ∈ N) , C γ = ∂D(0, 2) ; xii) n j
dz (n, j ∈ N) , C γ = ∂D(0, 2) .
γ (1 − z ) γ (1 − z )

aonde γ designa uma parametrização no sentido positivo das curvas de Jordan C γ acima indicadas.

6. Desenvolva em série de potências de z − a, as funções indicadas nas seguintes alı́neas, e indique a região de
convergência absoluta dos desenvolvimentos obtidos:
1 1 1
i) , a=1; ii) , a=1; iii) , a=1;
z z(z + 2) z 2 (2z + 2)

iv) sin z , a=π; v) sin2 z , a=0; vi) z ln z , a=1;

` ´−1
vii) ez , a=π; viii) cos z ez , a=π; ix) z3 − z2 + z − 1 , a=0.

7. Fixo um numero complexo α na condição |α| =


' 1, considere a função racional
α−z
f (z) = .
1 − αz
i) Desenvolva a função f em série de Mac-Laurin e indique o raio de convergência da série obtida;
ii) Verifique a seguinte igualdade

(|α|2 − 1)αn−1
f (n) (z) = n! , n ∈ N1 ;
(1 − αz)n+1

iii) Sem utilizar a soma da série geométrica, desenvolva a função f em série de potências de z − α e indique
o raio de convergência da série obtida.

8. Considere n ∈ N1 e funções fj ∈ H(D(0, 2)), j = 0, · · · , n − 1 .


i) Calcule
Z n−1
X
z j fj (z) dz .
|z|=1 j=0

ii) Utilize a alı́nea i) para calcular Z


enz
dz .
|z|=1 z n−1 (z− ez )

n−1
X z n − enz
Sugestão: Considere fj (z) = ejz , z ∈ C e verifique que z j fj (z) = , se |z| = 1 .
j=0
z n−1 (z − ez )

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116 3.6. Funções Harmónicas e o núcleo de Poisson

9. Considere uma função f ∈ H(D(0, 2)) e demonstre as igualdades nas seguinte alı́neas:
Z
1 f (w)
i) dw = 0 , para quaisquer que sejam n ∈ N, |z| < 1 ;
2πi |z|=1 (w − z)n
Z
1 f (ξ)
ii) |dξ| = f (0) , para qualquer que seja |z| < 1 .
2π |ξ|=1 1 − ξz

Sugestão: Tenha em consideração que ao que respeita à integração no circulo unitário é válido |dξ| = −iξ dξ .

10. Justifique as seguintes asserções:


Z
(−1)n (1 − wz)n+1
i) dw = (n + 1)z n (1 − z 2 ) , n ∈ N , |z| < 1;
2πi |w|=1 (w − z)n+1
Z
(−1)n (1 − wz)n+1 z2 − 1
ii) dw = (n + 1) n+2 , n ∈ N , |z| > 1.
2πi |w|=1 (w − z)n+1 z

11. (Desigualdades de Cauchy) Considere U ⊂ C aberto não vazio e uma função f ∈ H(U ). Se r > 0 é tal que
D(z, r) ⊂ U então defina M (z, r) := sup|w−z|=r |f (w)|. Baseado em (15) demonstre sucessivamente o seguinte:
i) Para qualquer natural n verifica-se a seguinte desigualdade de Cauchy

M (z, r)
|f (n) (z)| ≤ n! aonde r > 0 é tal que D(z, r) ⊂ U ;
rn

ii) Se U = C e a função z → f (n) (z) é limitada, então f é um polinómio de ordem inferior ou igual a n.

3.6 Funções Harmónicas e o núcleo de Poisson


Considere-se Ω ⊂ C aberto e o operador Laplaciano ∆ := 4 ∂z ∂z . Determinada função f : Ω → C
diz-se harmónica em Ω se admite derivadas parciais R-diferenciáveis em Ω e

∆f (z) = 0 , z ∈ Ω.

O conjunto das funções harmónicas em Ω é denotado por h(Ω). Considerando que o operador diferencial
Laplaciano ∆ é um operador linear então h(Ω) é um espaço vectorial.

Proposição 1 Seja Ω ⊂ C aberto simplesmente conexo e u : Ω → R uma função harmónica. Então


existe f ∈ H(Ω) tal que u = Re f . Funções harmónicas não necessariamente reais verificam

h(Ω) = {f + g : f, g ∈ H(Ω)} = H(Ω) + H(Ω).

Demonstração: Considere uma função harmónica u com valores reais. A função g := ∂z u é


analı́tica e ∂z u = ∂z u = g. Porque Ω é simplesmente conexo, então o corolário [12 sec. 3.5] garante a
existência duma função analı́tica f verificando f ' = g. Considerando as evidentes igualdades
* +
∂z f + f = g = ∂z u
* +
∂z f + f = g = ∂z u,

obtém-se que são nulas as derivadas parciais de primeira ordem da função f + f − u. Da conexidade
de Ω deduz-se a existência duma constante complexa C verificando u = f + f + C = 2 Re f + C.

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Holomorfia 117

Inicia-se a demonstração do restante observando que se f, g ∈ H(Ω) então f + g ∈ h(Ω). De facto

∂z ∂z (f + g) = ∂z ∂z f + ∂z ∂z g = 0.

Se U = u + iv é função harmónica não necessariamente com valores reais então u e v são funções
harmónicas reais. Sabe-se da existência de funções analı́ticas f e g tais que u = f + f e v = g + g.
Assim é evidente U = (f + ig) + (f − ig) tanto as funções f + ig e f − ig são analı́ticas.

Suponha fornecido um conjunto aberto Ω e uma função u : Ω → C harmónica. Cada ponto de Ω


admite uma vizinhança simplesmente conexa. Assim, deduz-se da proposição anterior que se z ∈ Ω e
D(z, r) ⊂ Ω, r > 0 então existem funções analı́ticas f e g tais que u(z) = f (z) + g(z), z ∈ D(z, r).
Sabe-se que funções analı́ticas admitem derivadas parciais de todas as ordens. Assim, da proposição 1
deduz-se h(Ω) ⊂ C ∞ (Ω). Em particular, os diferentes operadores de derivação parcial comutam e
# $# $ # 2 $
∂ ∂ ∂ ∂ ∂ ∂2
∆ =4 ∂z ∂z = +i −i = + .
∂x ∂y ∂x ∂y ∂x2 ∂y 2
Sem dificuldades conclui-se que determinada função u é harmónica sse Re u e Im u são harmónicas.
Em particular h(Ω) é espaço vectorial fechado para a conjugação, i.e. u ∈ h(Ω) sse u ∈ h(Ω).

Exemplos
1. Na proposição 1, a hipótese em considerar funções harmónicas definidas em conjuntos simplesmente
conexos é relevante. De facto, a função u(x, y) := ln (x2 + y 2 ), x + iy ∈ C\{0} (x, y ∈ R) é claramente
harmónica. Não obstante u não coincide com a parte real duma função holomorfa em C\{0}.

Corolário 2 (Valor médio) Seja Ω ⊂ C aberto não vazio. Se u ∈ h(Ω) e z ∈ Ω então verifica-se
9 π
1
u(z) = u(z + reiθ ) dθ , 0 < r < dz .
2π −π

Demonstração: Se f ∈ H(Ω) então da fórmula integral de Cauchy obtém-se o seguinte


9 9 π
1 f (ξ) 1
f (z) = dξ = f (z + reiθ ) dθ , 0 < r < dz .
2πi |z−ξ|=r (ξ − z) 2π −π

A proposição 1 assegura a existência de funções analı́ticas f e g tais que u(z) = f (z)+g(z), z ∈ D(z, dz ).
Em consequência obtém-se o seguinte
9 9 9 π
1 π 1 π 1
u(z) = f (z + reiθ ) dθ + g(z + reiθ ) dθ = u(z + reiθ ) dθ , 0 < r < dz .
2π −π 2π −π 2π −π

A demonstração do seguinte princı́pio de máximo decorre de forma semelhante à demonstração da


proposição [10 sec. 3.5]

Corolário 3 (Princı́pio do máximo) Considere-se Ω aberto conexo não vazio e u ∈ h(Ω). Se a


função |u| assume valor máximo num ponto de Ω então u é constante. Se u é harmónica real e assume
valor máximo ou mı́nimo num ponto de Ω então u é constante.

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118 3.6. Funções Harmónicas e o núcleo de Poisson

Em analogia com o desenvolvimento em serie de Taylor das funções analı́ticas, também as funções
harmónicas coincidem com a soma de séries de potências. As funções z n or z n , n ∈ N são harmónicas
e representam localmente em somas possivelmente infinitas, os de elementos de h(Ω). Precisamente:

Corolário 4 Considere-se Ω aberto não vazio e u ∈ h(Ω). O seguinte desenvolvimento é válido


+∞
) +∞
)
1 ∂j u 1 ∂j u
u(z) = (w)(z − w)j
+ (w)(z − w)j , z ∈ D(w, dw ). (1)
j=0
j! ∂z j j=1
j! ∂z j

Quaisquer das séries em (1) é absolutamente convergente em conjuntos com fecho incluso em D(w, dw ).

Demonstração: Considerando a proposição 1 deduz-se a existência de funções analı́ticas f and g


tais que u = f + g. Inserindo as séries Taylor das funções f e g na igualdade u = f + g obtém-se
+∞ (j)
) +∞ (j)
)
f (0) g (0)
u(z) = (z − w)j + (z − w)j , z ∈ D(w, dw ).
j=0
j! j=1
j!

A demonstração finda no seguimento das seguintes observações

∂j f ∂ j (f + g) ∂j u
f (j) (w) = j
(w) = j
(w) = (w)
∂z ∂z ∂z j
∂j g ∂ j (f + g) ∂j u
g (j) (w) = j
(w) = j
(w) = (w).
∂z ∂z ∂z j

Corolário 5 Considere-se Ω aberto simplesmente conexo não vazio e u : Ω → R uma função harmónica
real. Então existe uma função harmónica real v : Ω → R tal que u+iv ∈ H(Ω). Se vj : Ω → R, j = 1, 2
são funções harmónicas tais que u + ivj ∈ H(Ω), j = 1, 2 então v1 − v2 é constante.

Demonstração: Considerando a proposição 1 sabe-se da existência duma função f ∈ H(Ω) tal


que u = Re f. Definindo a função v = Im f é evidente que u + iv ∈ H(Ω). Ademais v = (f − f )/(2i) e
de novo segue da proposição 1 que v é harmónica. Suponha-se que vj , j = 1, 2 são funções harmónicas
reais tais que fj = u + ivj ∈ H(Ω), j = 1, 2. Então v1 − v2 = −i(f1 − f2 ) é função analı́tica com valores
reais e em consequência é uma função constante.

Se u ∈ h(Ω) é harmónica não necessariamente real, então considerando separadamente a parte real e
imaginária de u garante-se do resultado anterior a existência duma função harmónica v não necessa-
riamente real tal que u + iv ∈ H(Ω). A função v diz-se uma harmónica conjugada de u.

Adiante na secção o disco unitário D(0, 1) desigan-se por D. Se u ∈ h(D) então u


< denota a harmónica
conjugada de u verificando a condição u<(0) = 0. Se u assume valores reais então é evidente o seguinte

f +f f −f f (0) − f (0)
h(D) # u = <=
4−→ u − ∈ h(D) , f ∈ H(D),
2 2i 2i
tanto se u := u1 + iu2 não é necessariamente real então uj ∈ h(D), j = 1, 2 e u
<=u <1 + i<
u2 . Assim é por
tão pouco claro que a aplicação h(D) # u → u< é linear, a qual adiante designar-se-á por operador de

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Holomorfia 119

conjugação. Da linearidade do operador de conjugação conjuntamente com as evidentes propriedades

<=u
u < , u ∈ h(D) e < = −iu + iu(0) , u ∈ H(D)
u
conclui-se que a sua acção no desenvolvimento em série de potências caracteriza-se da seguinte forma
+∞
) +∞
) +∞
) +∞
)
<(z) = −i
u γj z j + i γ−j z j aonde u(z) = γ0 + γj z j + γ−j z j , (2)
j=1 j=1 j=1 j=1

Em seguida e assumindo hipóteses necessárias ao decorrer elementar do texto, ver-se-á que os valores na
fronteira de funções harmónicas reproduzem os seus valores em pontos interiores tantos os valores das
suas harmónicas conjugadas. Desde já introduz-se a definição de convolução e a notação associada.
Fornecidas f, g : R → R funções periódicas com perı́odo 2π e Riemann integráveis em intervalos
limitados, define-se a função produto convolução
9 π
f ∗ g(t) = f (θ)g(t − θ) dθ , t ∈ R.
−π

Suponha-se F ∈ H(rD), r > 1. Da fórmula integral de Cauchy obtém-se


9 9 9
1 F (ξ) 1 F (ξ) ξ 1 F (ξ)
F (z) = dξ = |dξ| = |dξ|
2πi |ξ|=1 ξ − z 2π |ξ|=1 ξ − z 2π |ξ|=1 1 − ξz
9 π (3)
1 f (θ)
= dθ = (f ∗ Cr )(t) , z = reit ∈ D,
2π −π 1 − rei(t−θ)

aonde f : R → R denota a função f (t) = F (eit ) e Cr , 0 < r < 1 denota o núcleo de Cauchy dado por
1
Cr (t) = , 0 < r < 1.
1 − reit
Se U = F + F , F ∈ H(rD), r > 1 então considerando a seguinte igualdade
# $ # $
F (ξ) 1 1 1 1
2 Re = U (ξ) + − F (ξ) + F (ξ)
1 − ξz 1 − ξz 1 − ξz 1 − ξz 1 − ξz
e a primeira parte de (3), obtém-se que
9 9 9
1 2F (ξ) 1 2 1 1
U (z) = Re |dξ| = U (ξ)Re |dξ| − 2 Re F (ξ) |dξ|. (4)
2π |ξ|=1 1 − ξz 2π |ξ|=1 1 − ξz 2π |ξ|=1 1 − ξz

Com o auxı́lio das fórmulas integrais de Cauchy estabelece-se


9 9 9 3 6
1 1 1 1 1 z 1
F (ξ) |dξ| = F (ξ) dξ = F (ξ) + dξ = F (0),
2π |ξ|=1 1 − ξz 2πi |ξ|=1 (1 − ξz)ξ 2πi |ξ|=1 (1 − ξz) ξ

o que conjuntamente com o corolário 2 e (4) permite concluir o seguinte


9 π 3 6
1 2
U (z) = u(θ) Re − 1 dθ = (u ∗ Pr )(t), z = reit (5)
2π −π 1 − rei(t−θ)

aonde u : R → R denota a função u(t) = U (eit ) e Pr , 0 < r < 1 denota o núcleo de Poisson dado por
3 6
2 1+z 1 − r2
Pr (t) = Re − 1 = Re = , z = reit ∈ D (t ∈ R).
1 − reit 1−z 1 − 2r cos t + r2

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120 3.6. Funções Harmónicas e o núcleo de Poisson

O núcleo de Poisson Pr , 0 < r < 1 verifica as seguintes propriedades


8π 8
i) Pr (t) ≥ 0 , t ∈ R; ii) −π Pr (t) dt = 1; iii) $≤|t|≤π Pr (t) d −→ 0 , (( > 0).
r→1−
* +
Se U ∈ h(D) ∩ C D então a famı́lia de funções

Uλ (z) = U (λz) , z ∈ D (0 < λ< 1)

é tal que Uλ coincide com a parte real duma função em H(rD), r > 1. Sabe-se que funções contı́nuas
em conjuntos compactos são uniformemente contı́nuas. Se uλ (θ) := Uλ (eiθ ), −π < θ < π segue que
"9 π 9 π "
" "
" u (θ)P (t − θ) dθ − u(θ)P (t − θ) dθ " ≤ max |uλ (θ) − u(θ)| −→ 0,
" λ r r " θ −
λ→1
−π −π

o que conjuntamente com (5) permite estabelecer o seguinte


9 π
1
U (z) = lim− Uλ (z) = lim− uλ (θ)Pr (t − θ) dθ
λ→1 λ→1 2π −π
(6)
9 π
1
= u(θ)Pr (t − θ) dθ = (u ∗ Pr )(t) , z = reit ∈ D.
2π −π
Acima demonstrámos o seguinte resultado:
* +
Proposição 6 Seja U ∈ h(D) ∩ C D uma função harmónica com valores reais. O seguinte é válido
9
1 1 + ξz
U (z) = (u ∗ Pr )(t) = Re u(ξ) |dξ| aonde z = reit , −π < t ≤ π.
2π |ξ|=1 1 − ξz
Caso U seja função harmónica não necessariamente com valores reais então U = U1 + iU2 , aonde
* +
Uj ∈ h(D) ∩ C D , j = 1, 2 são funções harmónicas com valores reais. Considerando a linearidade do
produto convolução deduz-se a validade de (6) para funções harmónicas não necessariamente reais.

* +
Considere U ∈ h(D) ∩ C D uma função harmónica com valores reais e defina-se u(θ) = U (eiθ ), θ ∈ R.
Sem dificuldades deduz-se do teste de Weierstrass [4 sec. 3.5], a analiticidade em D da seguinte função
9
1 1 + ξz
F (z) = u(ξ) |dξ| , z ∈ D.
2π |ξ|=1 1 − ξz
Da proposição 6 sabe-se que U = Re F tanto é óbvio que Im F (0) = 0. Consequentemente verifica-se
9 9 π
< (z) = 1
U u(ξ) Im
1 + ξz
|dξ| =
1
u(θ) Im
1 + rei(t−θ)
dθ = (u ∗ Qr )(t) , z = reit ∈ D
2π |ξ|=1 1 − ξz 2π −π 1 − rei(t−θ)
(7)
aonde Qr , 0 < r < 1 designa o núcleo Poisson conjugado dado por
1 + reit 2r sin t
Qr (t) := Im = , z = reit ∈ D (t ∈ R).
1 − reit 1 − 2r cos t + r2
* +
Proposição 7 Seja U ∈ h(D) ∩ C D uma função harmónica com valores reais. Então a função
harmónica conjugada U < verifica as seguintes igualdades
9
< (z) = (u ∗ Qr )(t) = Im 1
U u(ξ)
1 + ξz
|dξ| aonde z = reit , −π < t ≤ π.
2π |ξ|=1 1 − ξz

Considerndo a linearidade do operador de conjugação linear obtém-se que (7) mantêm-se válido para
* +
funções U ∈ h(D) ∩ C D não necessariamente assumindo valores reais.

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Holomorfia 121

3.6 Problemas
1. Seja Ω aberto conexo não vazio. Demonstre que se u = f + g, aonde f, g ∈ H(Ω) e u assume valores reais
então a função f − g é constante.

2. Considere Ω simplesmente conexo e u ∈ h(Ω). Demonstre que se o contradomı́nio de u inclui-se numa variedade
uni-dimensional então a função u é constante.

3. Verifique as seguintes propriedades do operador de conjugação definido em h(D):


e = Fe;
i) F
ii) Fe = −iF + iF (0), F ∈ H(D);
` ´ “ ”
iii) Fe = −i G1 − G2 + i G1 (0) − G2 (0) , se F = G1 + G2 , Gj ∈ H(D), j = 1, 2.

Demonstre que existe um único operador linear definido em h(D) e verificando i) e ii).

4. Seja g : C → C uma função R-diferenciável em C.

i) A função g é C-diferenciável em z ∈ C sse ∂z g(z) = 0. Se g é C-diferenciável em z então ∂z g(z) = g ! (z).


ii) Seja g uma função C-diferenciável em z ∈ C. Suponha que numa vizinhança do ponto z a função g tem
derivadas parciais de segunda ordem contı́nuas. Demonstre que ∂z ∂z |g|2 (z) = |g ! |2 (z).
iii) Nas condições da alı́nea ii) verifica-se 4 ∂z ∂z |g| = ∆|g| = 4|g ! |2 (z)

5. Seja U ⊂ C um conjunto aberto não vazio e f : U → C uma função holomorfa. Verifique as asserções seguintes:

i) Se u := Re f e ∆ designa o operador Laplaciano 4 ∂z ∂z , então


8
>
> 0 , n=1
>
<
∆un = 2|f ! |2 , n=2 ;
>
>
>
:
n(n − 1)|f ! |2 un−2 , n = 3, 4, · · ·

ii) Nas condições da alı́nea anterior verifica-se


8
< 4|f ! |2 , n=2
n
∆|f | = ;
: 2 ! 2 n−2
n |f | |f | , n ∈ N1 , n '= 2

iii) Se V ⊂ C é conjunto aberto, f (U ) ⊂ V e g : V → C admite derivadas de primeira ordem então

∆(g ◦ f )(z) = ∆g(w)|f ! (z)|2 , aonde w = f (z).

iv) Se V ⊂ C é conjunto aberto não vazio e a função g : V → U admite derivadas de primeira ordem então

∆(f ◦ g)(z) = ∆g(z)f ! (w) + 4f !! (w) ∂z g(z) ∂z g(z) , aonde w = g(z).

6. Seja U ⊂ C um subconjunto aberto, conexo e não vazio. Diz-se que uma função f : U → C é harmónica em
U se f admite derivadas de segunda ordem em U e ∂z ∂z f = 0. Suponha que f admite derivadas parciais de
segunda ordem contı́nuas em U. Demonstre que:

i) Se f é harmónica em U e não se anula então f 2 é harmónica sse 1/f é harmónica.


ii) Se f ∈ H(U ) e |f |2 é harmónica então f é constante em U.

Luı́s V. Pessoa
122 3.6. Funções Harmónicas e o núcleo de Poisson

7. Considere [17 sec. 3.2] para verificar que o operador Laplaciano ∆ = ∂ 2 /∂x2 + ∂ 2 /∂y 2 , actuando em funções
admitindo derivadas de segunda ordem contı́nuas, escreve-se em coordenadas polares da seguinte forma

∂2 1 ∂ 1 ∂2
∆= + + 2 2.
∂r2 r ∂r r ∂θ
8. Considere o exercı́cio 7 para demonstrar que se u(x, y) é harmónica em C então a seguinte função v(x, y) =
u(ξ(x, y), η(x, y)) é harmónica em C\{0}, aonde ξ = x/(x2 + y 2 ) e η = y/(x2 + y 2 ).

9. Seja U ⊂ C aberto, conexo não vazio e u : U → R uma função harmónica. Demostre as seguintes asserções:
i) a função eu é harmónica em U sse u é constante;
ii) se v é harmónica conjugada de u então as funções eu cos v e eu sin v são harmónicas em U .

Luı́s V. Pessoa
Capı́tulo 4

O teorema dos resı́duos

4.1 Séries de Laurent e teorema dos resı́duos


Em [3.5 sec. 17] definiram-se as coroas circulares D(w, r1 , r2 ) centradas em w ∈ C e de raios finitos
0 < r1 < r2 < +∞. Se r2 = +∞ ou w = ∞ definimos

D(w, r, ∞) := {z ∈ C : |z − w| > r} e D(∞, r) := C\cl D(0, 1/r) .

Os conjuntos D(w, r, ∞) , w ∈ C , r > 0 dizem-se vizinhanças do ponto ∞ e D(∞, r) , r > 0 dizem-se


os discos centrados no ponto ∞ . Considere-se uma função de variável complexa f verificando

f ∈ H(D(w, ρ, r)) , aonde 0<ρ<r<∞ e w ∈ C.

Denota-se por γR uma parametrização seccionalmente regular da curva de Jordan ∂D(w, R) , R > 0
percorrida no sentido positivo. Fornecido ( > 0 considerem-se os seguintes reais positivos

$ =ρ+(
ρ+ e r$− = r − ( .

Se z ∈ D(w, ρ, r) então para ( > 0 suficientemente pequeno verifica-se ρ+


$ < |z − w| < r$ . Aplique-se

ΓrΕ#
z
Γ ΡΕ%

Figura 4.1: As curvas γr"− e γρ+


"

123
124 4.1. Séries de Laurent e teorema dos resı́duos

a fórmula integral de Cauchy à função f e à coroa circular D(z, ρ+


$ , r$ ) , para obter

9 9
1 f (ξ) 1 f (ξ)
f (z) = dξ − dξ , se ρ+ −
$ < |z − w| < r$ . (1)
2πi γ − ξ − z 2πi γ + ξ − z
r" ρ"

Considerando a holomorfia da função f e a proposição [7 sec. 3.5], deduz-se que os integrais em (1) não
dependem da escolha de ( > 0 tal que ρ+$ < |z − w| < r$ . Logo, encontram-se bem definidas as funções

9 9
1 f (ξ) 1 f (ξ)
f1 (z) = dξ , z ∈ D(w, r) e f2 (z) = − dξ , z ∈ D(w, ρ, ∞) (2)
2πi γ − ξ − z 2πi γ + ξ − z
r" ρ"

aonde as circunferências γr"− e γρ+


" $ verificam
são percorridas no sentido positivo e os raios r$− e ρ+
as desigualdades em (1). É evidente que se γ é uma curva de Jordan, então as funções definidas por
intermédio de integrais paramétricos do género integrais de Cauchy
9
1 f (ξ)
z→ dξ
2πi γ ξ − z

estão bem definidas para z ∈ (ins γ ∪ out γ), na única hipótese f ∈ R(γ) . No entanto, acima considera-
se a função f1 definida em D(w, r) e f2 em D(w, ρ, ∞). Se z ∈ ins γr"− , sabemos do lema [5 sec. 3.5] que
f1 ∈ H(D(w, r)) . Do seguinte resultado deduz-se a holomorfia da função f2 em out γρ .

Lema 1 Seja f : ∂D(w, ρ) → C uma função Riemann integrável em ∂D(w, ρ) e considere-se a função
9
f (ξ)
h : D(w, ρ, ∞) → C , h(z) = dξ ,
γρ ξ −z

aonde γρ denota uma parametrização de ∂D(w, ρ), percorrida no sentido positivo. Então h é analı́tica
em D(w, ρ, ∞) , h(∞) = 0 e h é representada em D(w, ρ, ∞) por a soma da série de potências negativas

) 9
1 1
a−n aonde a−n = − f (ξ)(ξ − w)n−1 dξ . (3)
n=1
(z − w)n 2πi
γρ

A série em (3) converge absolutamente em qualquer coroa D(w, ρ+


$ , ∞) , ( > 0 .

Demonstração: Suponha-se que para ξ ∈ ∂D(w, ρ) verifica-se |f (ξ)| ≤ M , aonde M é uma


constante positiva. Então
9
|f (ξ)| 1
0 ≤ |h(z)| ≤ |dξ| ≤ 2ρπM −→ 0 ,
γρ |ξ − z| |z − w| − ρ |z|→+∞

e consequentemente h(∞) = 0. Seja z ∈ D(w, ρ, ∞). Da soma da série geométrica infere-se o seguinte
 
)∞
f (ξ) f (ξ)  1  1
=   =− f (ξ)(ξ − w)n , se |z − w| > |ξ − w| . (4)
ξ−z w−z ξ−w (z − w)n+1
1− n=0
z−w
Se |z − w| = r > ρ e |ξ − w| = ρ então
" "
" f (ξ)(ξ − w)n " M 4 ρ 5n
" "
" (z − w)n+1 " ≤ r r , n ∈ N .

Luı́s V. Pessoa
O teorema dos resı́duos 125

Considerando a convergência da série geométrica e o teste de Weierstrass, i.e. proposições [4 sec. 3.5] e
[6 sec. 3.5], deduz-se a possibilidade em comutar a integração em ∂D(w, ρ) na variável complexa dξ e
do membro direito das igualdade (4), com o sı́mbolo de série. Logo, para z ∈ D(w, ρ, ∞) obtém-se

) 9
1 1
h(z) = a−n aonde a−n = − f (ξ)(ξ − w)n−1 dξ .
n=1
(z − w)n 2πi ρ

2∞
Assim sendo, a série de potências φ(η) = n=1 a−n η n converge para |η| < 1/ρ e define uma função
holomorfa no disco D(0, 1/ρ). Como z → 1/(z−w) é diferenciável em C\{w}, então h(z) = φ(1/(z−w))
é diferenciável em D(w, ρ, ∞).

Do resultado anterior infere-se a holomorfia na vizinhança D(w, ρ, ∞), da função f2 definida em (2)
tanto que f2 (∞) = 0. Introduzindo uma noção de diferenciabilidade adequada, é possı́vel estabelecer
um resultado semelhante à proposição [15 sec. 3.5], i.e. estabelecer que funções limitadas em vizinhanças
de infinito têm singularidade removı́vel em ∞. Considerando funções holomorfas no exterior de curvas
de Jordan, é por igual possı́vel demonstrar fórmulas análogas às fórmulas integrais de Cauchy.

Definição 2 (diferenciabilidade em ∞) Uma função g diz-se diferenciável no ponto ∞ se está


definida num disco D(∞, r) , r > 0 e a função
1
ϕ : D(0, r) → C , ϕ(z) = g( ) , z )= 0
z
é prolongável por diferenciabilidade à origem. Se g é diferenciável no ponto infinito define-se a derivada

g ' (∞) := ϕ' (0) .

Na seguinte proposição estabelecem-se os resultados acima anunciados.

Proposição 3 Seja g ∈ H(D(w, ρ, ∞)) uma função limitada. Então g é diferenciável no ponto ∞
9 9
1 g(ξ) 1
g(∞) = dξ , z ∈ ins γ e g ' (∞) = g(ξ) dξ , (5)
2πi γ ξ − z 2πi γ

aonde γ é caminho de Jordan seccionalmente regular, orientado positivamente e tal que out γ ⊂
D(w, ρ, ∞). Adicionalmente, verificam-se as seguintes fórmulas integrais
9
1 g(ξ)
g(z) − g(∞) = − dξ , z ∈ out γ .
2πi γ ξ − z

Demonstração: Como g é holomorfa e limitada numa vizinhança do ponto ∞ então a função


ϕ(z) = g(1/z) , z )= 0 é holomorfa e limitada num disco pontuado de centro na origem. Da proposição
[15 sec. 3.5] deduz-se que ϕ tem uma singularidade removı́vel na origem. Em particular g(∞) está
bem definido. Denote-se por γR uma parametrização da curva ∂D(w, R) , R > 0 percorrida no sentido
positivo. Suponha-se z ∈ ins γ e considere-se R > 0 superior a determinado real positivo tal que
C γ ⊂ ins γR . Tendo em linha de conta que a função w → g(w)/(w − z) é holomorfa num aberto que
contém o conjunto 1-multi conexo definido da seguinte forma

U := ins γR ∩ out γ ,

Luı́s V. Pessoa
126 4.1. Séries de Laurent e teorema dos resı́duos

e notando que se z ∈ D(w, R) então I(γR , z) = 1, obtém-se de imediato da proposição [7 sec. 3.5] que
9 9 9
1 g(ξ) 1 g(ξ) 1 g(ξ) − g(∞)
dξ = dξ = g(∞) + dξ , z ∈ ins γ . (6)
2πi γ ξ − z 2πi γR ξ − z 2πi γR ξ−z

Considerando
" 9 "
" 1 g(ξ) − g(∞) "" 2πR
" dξ " ≤ sup |g(ξ) − g(∞)| −→ 0 , (7)
" 2πi ξ−z R − |z − w| R→+∞
γR |ξ−w|=R

infere-se de (6) o seguinte 9


1 g(ξ)
g(∞) = dξ .
2πi γ ξ−z
Suponha-se z ∈ out γ ∩ D(w, ρ, ∞) e R > 0 suficientemente grande tal que {z}∪C γ ⊂ ins γR . Aplicando
a fórmula integral de Cauchy ao conjunto 1-multi conexo U, deduz-se
9 9
1 g(ξ) − g(∞) 1 g(ξ)
g(z) − g(∞) = dξ − dξ . (8)
2πi γR ξ−z 2πi γ ξ − z

Considerando (7) termina-se a demonstração de (3) i.e. obtém-se


9
1 g(ξ)
g(z) − g(∞) = − dξ , z ∈ out γ . (9)
2πi γ ξ − z

Finalmente, a função g é diferenciável em ∞ sse o limite


g(1/z) − g(∞)
lim = lim z [g(z) − g(∞)] existe .
z→0 z z→∞

Se |z| é superior a determinado real positivo então z ∈ out γ. Logo, de (9) obtém-se
" 9 " "9 " 9 " "
"z [g(z) − g(∞)] − 1 " = 1 " z g(ξ) + g(ξ) dξ " ≤ 1
" " " " " ξ g(ξ) " M |γ|
" " −→ 0 ,
" 2πi γ
g(ξ) dξ " 2π " ξ − z " 2π " ξ − z " |dξ| ≤ dist(z, C γ ) |z|→0
γ γ

e assim é finda a demonstração.

Corolário 4 (Liouville) Se f ∈ H(C) e f é limitada então f é constante.

Demonstração: Da proposição anterior deduz-se a existência de f (∞). Considerando conjunta-


mente a fórmula integral de Cauchy conclui-se o seguinte
9
1 f (ξ)
f (∞) = dξ = f (z) , z ∈ ins γ
2πi γ ξ − z

aonde γ é qualquer caminho de Jordan seccionalmente regular e positivamente orientado.

Corolário 5 (Teorema fundamental da álgebra) Seja p(z) um polinómio na variável complexa


de grau superior ou igual à unidade. Então p(z) admite um zero.

Demonstração: Considere-se a função f (z) = 1/p(z), z ∈ C. Se por absurdo admitir-se que


p(z) )= 0, para qualquer z ∈ C, então a função f é inteira e limitada. Do teorema de Liouville
conclui-se que f (z) é constante e logo p(z) é polinómio de grau zero, contrariamente às hipóteses.

Luı́s V. Pessoa
O teorema dos resı́duos 127

Teorema 6 (Laurent) Considerem-se r e ρ reais positivos tais que 0 < ρ < r < ∞. Se f é uma
função holomorfa em D(w, ρ, r) , então f (z) = f1 (z) + f2 (z), aonde as funções fj , j = 1, 2 verificam:
i) f1 e f2 são funções respectivamente holomorfas em D(w, r) e D(w, ρ, ∞) dadas por

)
f1 (z) = an (z − w)n , z ∈ D(w, r) 9
n=0 1 f (ξ)
e an = dξ , n ∈ Z

) 2πi γτ (ξ − w)n+1
f2 (z) = a−n (z − w)−n , z ∈ D(w, ρ, ∞)
n=1

aonde τ verifica ρ < τ < r e γτ é uma parametrização seccionalmente regular da circunferência


positivamente orientada ∂D(w, τ ) . As séries de potências representando as funções f1 e f2 são
respectivamente absolutamente convergentes em D(w, r$− ) e D(w, ρ+ $ , ∞) , ( > 0.

ii) se f = g1 +g2 , aonde g1 ∈ H(D(w, r)), g2 ∈ H(D(w, ρ, ∞)) e g2 (∞) = 0 então f1 = g1 e f2 = g2 .

Demonstração: Em (2) verificou-se f = f1 + f2 aonde as funções fj , j = 1, 2 são definidas por


9 9
1 f (ξ) 1 f (ξ)
f1 (z) = dξ , z ∈ D(w, r) e f2 (z) = − dξ , z ∈ D(w, ρ, ∞) .
2πi γ − ξ − z 2πi γ + ξ − z
r" ρ"

Do lema [5 sec. 3.5] sabe-se que f1 ∈ H(D(w, r$− )) ,


qualquer que seja ( > 0 . Logo f1 ∈ H(D(w, r)) .
2∞
Também do lema [5 sec. 3.5] infere-se que f1 (z) = n=0 an (z − w)n , z ∈ D(w, r$− ) aonde
9
1 f (ξ)
an = dξ , n ∈ N . (10)
2πi γ − (ξ − w)n+1
r"

Da proposição [7 sec. 3.5] deduz-se que (10) não depende de ( > 0 tal que 0 < ρ < r$− < r . Logo,
da arbitrariedade de ( > 0 infere-se a validade do desenvolvimento em série de potências da função
f1 no disco aberto D(w, r) . Do lema 1 sabe-se f2 ∈ H(D(w, ρ+ $ , ∞)) , qualquer que seja ( > 0 . Logo
f2 ∈ H(D(w, ρ, ∞)) . De novo do lema 1 retira-se a asserção
)∞ 9
1 1
f2 (z) = a−n , z ∈ D(w, ρ+
, ∞) aonde a−n = f (ξ)(ξ − w)n−1 dξ . (11)
n=1
(z − w) n $
2πi
γρ+
"

De novo da proposição [7 sec. 3.5] deduz-se que a definição do coeficiente a−n , n ∈ N1 não depende de
( > 0 tal que 0 < ρ<ρ + $ < r . Da arbitrariedade de ( > 0 deduz-se a validade do desenvolvimento em
série de potências da função f2 na coroa aberta D(w, ρ, ∞) . As funções integradas em dξ nas igualdades
(10), (11) e definindo respectivamente os coeficientes an , n ∈ N e a−n , n ∈ N1 são holomorfas na
coroa D(w, ρ, r) . Logo os integrais podem ser substituı́dos por integrais em qualquer curva de Jordan
positivamente orientada γτ , com 0 < ρ < τ < r .

Para demonstrar ii) considere-se z ∈ D(w, ρ, r) e ( > 0 tal que |z − w| < r$− . Tendo em linha de conta
que f1 , g1 ∈ H(D(w, r)), f2 (∞) = g2 (∞) = 0, a fórmula integral de Cauchy e o lema 3, obtém-se que
9 9 9
1 f (ξ) 1 g2 (ξ) 1 f (ξ)
g1 (z) = dξ − dξ = dξ
2πi γ − ξ − z 2πi γ − ξ − z 2πi γ − ξ − z
r" r" r"

9 9
1 f1 (ξ) 1 f2 (ξ)
= dξ + dξ = f1 (z) , z ∈ D((, ρ, r) .
2πi γr − ξ−z 2πi γr − ξ−z
" "

Luı́s V. Pessoa
128 4.1. Séries de Laurent e teorema dos resı́duos

Consequentemente g2 (z) = f2 (z), para z ∈ D(w, ρ, r) . Se ( > 0 é inferior a determinado real positivo,
então considerando as igualdades f2 (∞) = g2 (∞) = 0, infere-se da proposição 3 o seguinte
9 9
1 g2 (ξ) 1 f2 (ξ)
g2 (z) = − dξ = − dξ = f2 (z) , z ∈ out ∂D(w, ρ) .
2πi ρ" ξ − z
+ 2πi ρ" ξ − z
+

Se f é uma função holomorfa em D(w, ρ, r) , 0 < ρ < r então do teorema anterior deduz-se que f
coincide com a soma duma série de potências inteiras absolutamente convergente, i.e.
) 9
1 f (ξ)
f (z) = an (z − w)n aonde an = dξ , ρ < τ < r , n ∈ Z . (12)
2πi γτ (ξ − w)n+1
n∈Z

O desenvolvimento (12) é dito o desenvolvimento em série de Laurent da função f.

Na sequência consideram-se funções holomorfas em discos pontuados. Se f ∈ H(Dw (w, r)), r > 0
então a série de Laurent de f é convergente em Dw (w, r). O resı́duo da função f, holomorfa num
disco pontuado de centro em w, é o coeficiente a−1 do seu desenvolvimento em série de Laurent , i.e.
9
1
Res(f ; w) := a−1 = f (ξ) dξ , (13)
2πi γτ

aonde γτ percorre a circunferência |ξ − w| = τ, 0 < τ < r no sentido positivo. O teorema 6 assegura a


decomposição f = f1 + f2 , aonde f1 é uma função holomorfa numa vizinhança de w e f2 é holomorfa
em C\{w}, tal que f2 (∞) e f2' (∞) existem. Segue da holomorfia de f1 e da proposição 3 que
9 9
1 1
f2' (∞) = f2 (ξ) dξ = [f1 (ξ) + f2 (ξ)] dξ = Res(f ; w) ,
2πi γ 2πi γ

aonde γ é qualquer caminho de Jordan seccionalmente regular positivamente orientado e tal que
w ∈ ins γ. Em particular conclui-se a possibilidade em considerar na definição de resı́duos a integração
em qualquer caminho nas condições acima.

Definição 7 Um número complexo w diz-se uma singularidade isolada da função complexa f de


variável complexa, se f é holomorfa em algum disco pontuado Dw (w, () , ( > 0 .

Considere-se uma curva de Jordan C γ0 e f uma função holomorfa num conjunto aberto contendo
ins γ0 ∪ C γ0 , excepto num número finito de singularidades isoladas. Suponha-se adicionalmente que
C γ0 não intercepta o conjunto das singularidades de f e enumerem-se as singularidade no interior de
γ0 por zj , j = 1, · · · , n . Para cada zj existe (j > 0 tal que

D(zj , (j ) ⊂ ins γ0 (j = 1, · · · , n) e D(zj , 2(j ) ∩ D(zl , 2(l ) = ∅ (j )= l ; j, l = 1, · · · , n).

Se γj é uma parametrização seccionalmente regular da curva de Jordan ∂D(zj , (j ) , j = 1, · · · , n,


então considerando o conjunto n-multi conexo

U = ins γ0 ∩ out γ1 · · · ∩ out γn

Luı́s V. Pessoa
O teorema dos resı́duos 129

obtém-se a holomorfia de f num conjunto aberto contendo U. Logo, da proposição [7 sec. 3.5] deduz-se
9 n 9
)
f (w) dw = f (w) dw ,
γ0 j=1 γj

aonde γj , j = 0, · · · , n é percorrido no sentido positivo. Considerando o desenvolvimento em série de


Laurent da função f em torno de zj e a definição 13 de resı́duo nos pontos zj , j = 1, · · · , n obtém-se
9 n 9
) n
)
f (w) dw = f (w) dw = 2πi Res(f ; zj ) .
γ0 j=1 γj j=1

As asserções demonstrados são usualmente designadas por teorema dos resı́duos, de seguida enunciado.

Teorema 8 (Resı́duos) Seja γ um caminho de Jordan seccionalmente regular e positivamente ori-


entado. Se f é uma função holomorfa num conjunto aberto que contém ins γ ∪ C γ , excepto num número
finito de singularidades isoladas contidas em ins γ, então
9 )
f (w) dw = 2πi Res(f ; zj ),
γ j∈I

aonde {zj : j ∈ I} denota o conjunto das singularidades de f no interior do caminho γ.

O teorema das resı́duos aplica-se a uma importante classe de funções, as funções meromorfas.

Definição 9 Uma função complexa f de variável complexa, diz-se meromorfa se é holomorfa excepto
possivelmente num conjunto de singularidades isoladas.

Suponha-se fornecido γ um caminho de Jordan seccionalmente regular positivamente orientado e


uma função meromorfa f , cujas singularidades não interceptam C γ . Porque o conjunto ins γ ∪ C γ é
compacto, então somente um número finito de singularidades de f inclui-se no interior de γ. Doutra
forma, o teorema de Bolzano-Weierstrass garantia a existência no interior de γ dum ponto de
acumulação do conjunto das singularidades de f , contradizendo a hipótese de as singularidades de
f serem isoladas. Por tão pouco o teorema dos resı́duos aplica-se ao cálculo de integrais de funções
meromorfas em caminhos de Jordan seccionalmente regulares não interceptando as suas singularidades.

4.1 Problemas
1. Para as funções meromorfas indicadas nas seguintes alı́neas, determine os desenvolvimentos em série de
Laurent centrada no ponto indicado e os respectivos resı́duos:

1 (1 − z)2 z2
i) , z=1 ; ii) , z = −1 ; iii) , z = −1 ;
1 − z2 (1 + z)2 (1 − z 2 )2

e1/z eπz (z + i) ln (z + 1)
iv) , z=0 ; v) ,z = i ; vi) , z=0 .
z2 z−i z

Luı́s V. Pessoa
130 4.2. Zeros e singularidades

2. Para as funções indicadas nas seguintes alı́neas, determine os desenvolvimento em série de Laurent convergente
nas coroas circulares respectivamente indicadas:
1 1
i) , 1 < |z| < 2 ; ii) , |z| > 2 ;
(z − 1)(z − 2) (z − 1)(z − 2)
1 1 √
iii) , 1 < |z| < 2 ; iv) , 0 < |z − 1| < 5 .
(z 2 + 4)(z − 1) (z 2 + 4)(z − 1)

3. Calcule os integrais indicados em cada uma das alı́neas abaixo:


Z Z
z z
i) z
dz , r = 3π ; ii) 1/z
dz , r=1;
γr e − 1 γr e
Z Z
1 + z2 1
iii) dz , r = e ; iv) sin dz , r=1;
γr sin (iπz) γr z
Z 1 Z
cos 1
v) z
dz , r=1; vi) (z 3 + z 4 ) sin , r=1.
γr z γr z

aonde γr denota uma parametrização seccionalmente regular positivamente orientada de ∂D(0, r), r > 0.

4. Considere o circulo unitário percorrido no sentido positivo e calcule os integrais indicados nas alı́neas abaixo
Z Z
e1/w e1/w
i) dw , |z| = ' 1; ii) 2 2
dw , |z| = ' 1;
|w|=1 1 + zw |w|=1 1 + z w
Z Z
e1/w e1/w
iii) dw , |z| '= 1 ; iv) dw .
|w|=1 w(1 + z 2 w2 ) |w|=2 (1 − w)2

4.2 Zeros e singularidades


Proposição 1 Considere-se um conjunto U ⊂ C aberto, conexo não vazio, w ∈ U e f ∈ H(U ).

i) Se todas as derivadas de f anulam-se em w então f é a função identicamente nula.

ii) Se w é ponto de acumulação do conjunto dos zeros de f então f é identicamente nula.

Demonstração: Considere ξ ∈ U tal que f (ξ) = 0 . Se para qualquer que seja k ∈ N verifica-
se f (k) (ξ) = 0, então o desenvolvimento em série de Taylor da função f em torno de ξ coincide
com a série de potências identicamente nula. Conclui-se que se z ∈ D(ξ, dξ ) então f (z) = 0, aonde
dξ = dist(ξ, ∂U ) > 0 . Em particular, qualquer elemento do conjunto de seguida definido
> ?
Z := ξ ∈ U : ∀k∈N f (k) (ξ) = 0

é um ponto interior e em consequência Z é um conjunto aberto. Segue a demonstração de que U \Z


é também um conjunto aberto. Se ξ ∈ U \Z então existe k ∈ N tal que f (k) (ξ) )= 0. Da continuidade
da função f (k) infere-se que em algum disco D(ξ, () , ( > 0 verifica-se f (k) (z) )= 0 , z ∈ D(ξ, (). Logo
D(ξ, () ⊂ U \Z . Por hipótese o conjunto U é conexo e em consequência Z = ∅ ou Z = U. É suposto
w ∈ U . Logo Z = U e assim é finda a demonstração da alı́nea i).

Para ii) procedemos por indução matemática, com intuitos em demonstrar que qualquer função f

Luı́s V. Pessoa
O teorema dos resı́duos 131

analı́tica em w, cujo conjunto dos zeros têm um ponto de acumulação em w verifica f (k) (w) = 0 , k ∈ N.
Suponha a existência duma sucessão zn , n ∈ N de termos complexos distintos dois a dois, tais que
f (zn ) = 0 , n ∈ N e lim zn = w ∈ U. Da continuidade da função f infere-se f (w) = lim f (zn ) = 0 . Se
f (0) = f ' (w) = · · · = f (k) (w) = 0 então

) ∞
)
f (z) = an (z − w)n = (z − w)k+1 an (z − w)n−k−1 = (z − w)k+1 g(z) .
n=k+1 n=k+1

A função g é representada por uma série de potência com raio de convergência dw . Logo g é analı́tica
em w. Porque f (zn ) = 0 e zn )= w então g(zn ) = 0. Deduz-se g(w) = 0 e em consequência f (k+1) (w) =
(k + 1)! ak+1 = 0. Assim termina a demonstração indutiva. Da alı́nea i) concluı́-se a demonstração.

Considere-se U ⊂ C aberto não vazio, w ∈ U e f ∈ H(U ). Suponha-se f (w) = 0 tanto f não é


identicamente nula na componente conexa de U contendo w. Da proposição 1 deduz-se a boa definição
do seguinte número natural > ?
k := min j ∈ N1 : f (j) (w) )= 0 .

Diz-se que w é um zero de ordem k da função f, tanto que f tem um zero de multiplicidade k no
2
complexo w. Se an (z − w)n é o desenvolvimento da função f em série de Taylor centrada em w,
então w é um zero de ordem k de f sse 0 = a0 = · · · = ak−1 e ak )= 0 , i.e a série de Taylor de f verifica
+∞
)
f (z) = (z − w)k an+k (z − w)n e ak )= 0 , para z ∈ D(w, dw ) .
n=0

Proposição 2 Seja f ∈ H(U ), aonde U é aberto não vazio. Então w ∈ U é zero de ordem k ∈ N1 da
função f sse existe uma função g ∈ H(U ) tal que g(w) =
) 0e

f (z) = (z − w)k g(z) , para qualquer z∈U.

Demonstração: Considere-se a função g(z) = f (z)/(z − w)k , z ∈ Uw definida no conjunto U


pontuado em w. A asserção g ∈ H(Uw ), é evidente. Logo a demonstração é finda mostrando que f
tem um zero de ordem k no ponto w sse w é uma singularidade removı́vel da função g e g(w) )= 0.
Supondo w um zero de ordem k de f então o seguinte é válido

) ∞
)
f (z) = (z − w)k an+k (z − w)n , ak )= 0 e logo g(z) = an+k (z − w)n , z ∈ Dw (w, dw ).
n=0 n=0

Consequentemente a função g é analı́tica em w e g(w) = ak )= 0. Se g é analı́tica em w e g(w) )= 0


então para qualquer z em algum disco D(w, δ) , δ > 0 verifica-se

) ∞
)
g(z) = bn (z − w)n , b0 )= 0 e logo f (z) = bn (z − w)n+k ,
n=0 n=0

donde infere-se f (j) (w) = 0 , j = 0, · · · , k − 1 e f (k) (w) = k! bk )= 0.

Considere f ∈ H(Dw (w, r)), r > 0. A série de Laurent de f no disco pontuado Dw (w, r) tem a forma
) 9
1 f (ξ)
f (z) = an (z − w)n , z ∈ Dw (w, r) aonde an = dξ , n ∈ Z.
2πi |ξ−w|=τ (ξ − w)n+1
n∈Z

Luı́s V. Pessoa
132 4.2. Zeros e singularidades

O circulo |z − w| = τ , 0 < τ < dw é percorrido no sentido positivo. Classificam-se as singularidades


isoladas com base na série de Laurent. A singularidade isolada w diz-se um pólo de ordem k ∈ N1
se a−j = 0 , para j > k e a−k )= 0 , i.e. se a série de Laurent no disco pontuado Dw (w, dw ) verifica
) ∞
a−k a−1
f (z) = + ··· + + an (z − w)n , z ∈ Dw (w, dw ) aonde a−k )= 0 . (1)
(z − w)k z − w n=0

Proposição 3 Seja U aberto e w ∈ U. Se f ∈ H(Uw ) e k ∈ N1 , então as asserções são equivalentes:

i) O número complexo w é um pólo de ordem k da função f ;

ii) O seguinte limite limz→w (z − w)k f (z) existe, é finito e não nulo;

iii) h(z) := 1/f (z) está definida em algum Dw (w, δ), δ > 0 e tem um zero de ordem k em w;

iv) Existe g ∈ H(U ) tal que g(w) )= 0 e f (z) = g(z)/(z − w)k , para z ∈ Uw .

Se w é um pólo de ordem k ∈ N1 da função f, então é válida a seguinte fórmula

1 dk−1 , -
Res(f ; w) = lim (z − w)k f (z) .
(k − 1)! z→w dz k−1
Demonstração: [i) ⇒ ii)] Seja w um pólo de ordem k ∈ N1 da função f . Considerando (1) tanto
a continuidade de funções representadas por séries de potências deduz-se o seguinte

)
lim (z − w)k f (z) = lim an−k (z − w)n = a−k )= 0 .
z→w z→w
n=0

[ii) ⇒ iii)] A função g(z) = (z − w)k f (z) é analı́tica em U e g(w) = limz→w (z − w)k f (z) )= 0. Logo
f não se anula numa vizinhança do ponto w e assim a função 1/g é holomorfa numa vizinhança do
ponto w. Em particular h está definida numa vizinhança de w. Considerando as evidentes igualdades
1 1
h(z) = = (z − w)k ,
f (z) g(z)
deduz-se da proposição 2 que w é um zero de ordem k da função h.

[iii) ⇒ iv)] Nas condições das hipóteses verifica-se o seguinte


1
= (z − w)k c(z) aonde c ∈ H(D(w, δ)) , δ > 0 e c(w) )= 0 .
f (z)
Logo, a função g(z) = 1/c(z) é holomorfa num disco D(w, () , δ > ( > 0 e para z ∈ D(w, () tem-se
1
f (z) = g(z) e g(w) )= 0 .
(z − w)k

É evidente que a função g(z) = f (z)(z − w)k é holomorfa em U.

2∞
[iv) ⇒ i)] Seja n=0 an (z − w)n a série de Taylor centrada em w da função g. Porque g(w) )= 0 então

)∞
1 1 a0 a1
f (z) = g(z) = an (z − w)n = + + ··· aonde a0 )= 0
(z − w)k (z − w)k n=0 (z − w)k (z − w)k−1

Luı́s V. Pessoa
O teorema dos resı́duos 133

i.e. a função f tem um pólo de ordem k em w, o que termina a demonstração da equivalência entre as
asserções de i) a iv).

Finalmente, se f tem pólo de ordem k ∈ N1 em w, então a série de Laurent de f é da forma


)∞
a−k a−1
f (z) = + ··· + + an (z − w)n , z ∈ Dw (w, dw ) aonde a−k )= 0 .
(z − w)k z − w n=0

Assim, a função (z − w)k f (z) coincide com a soma duma série de potências, série essa que no interior
da sua região de convergência pode ser diferenciada termo a termo. Logo
O∞ P ∞
dk−1 , - dk−1 ) ) (n + k − 1)!
(z − w) k
f (z) = a−k+n (z − w)n
= an−1 (z − w)n −→ (k − 1)! a−1 .
dz k−1 dz k−1 n=0 n=0
n! z→w

A singularidade isolada w ∈ C de determinada função f diz-se singularidade essencial, caso w não


seja singularidade removı́vel ou pólo de ordem k, k ∈ N1 . Se a série de Laurent de f é dado por
)
an (z − w)n , z ∈ Dw (w, dw )
n∈Z

então w é singularidade essencial de f sse para qualquer que seja k ∈ N existe j > k tal que a−j )= 0 .

Proposição 4 (Singularidades essenciais) Suponha-se U ⊂ C aberto, w ∈ U e f ∈ H(Uw ). Então


a singularidade w é um pólo sse
lim |f (z)| = +∞ .
z→w

Demonstração: Suponha-se que w é um pólo de ordem k ∈ N1 da função f. A proposição (3)


assegura a existência de g ∈ H(U ) tal que g(w) )= 0 e f (z) = g(z)/(z − w)k , z )= w. Assim é evidente
que limz→w |f (z)| = +∞ . Reciprocamente, suponha-se limz→w |f (z)| = +∞ . A função h := 1/f está
bem definida e é limitada em algum disco D(w, δ), δ > 0. Da proposição [15 sec. 3.5] deduz-se que w é
singularidade removı́vel de h. Como h(w) = 0 então existe k ∈ N1 e g analı́tica em w verificando

h(z) = (z − w)k g(z) e g(w) )= 0 .

Em algum disco D(w, () , 0 < ( < δ a função g não se anula e 1/g é analı́tica em w. Finalmente
1 1
f (z) =
(z − w)k g(z)
e logo f tem um pólo de ordem k em w.

Exemplos
1. A função f (z) = e1/ sin z tem singularidades isoladas nos pontos wk = kπ , k ∈ Z. Cada uma das
singularidades isoladas de f é essencial. De facto,
1
zn = f (kπ + (−1)n ) , n ∈ N1 tem sublimites 0 e +∞ e logo lim |f (z)| =
) ∞.
n z→kπ

Luı́s V. Pessoa
134 4.2. Zeros e singularidades

4.2 Problemas
1.
a) Classifique as singularidades da função meromorfa f indicada nas seguintes alı́neas:
1 1
i) f (z) = ; ii) f (z) = ;
1 + z2 (1 + z 2 )2
sin(iπz) 1
iii) f (z) = ; iv) f (z) = z 3 sin ;
(1 + z 2 )2 z2
1 1
v) f (z) = sin z 2 ; vi) f (z) = (n ∈ N1 ) ;
z3 1 − zn

1 z n−1
vii) f (z) = (n ∈ N1 ) ; viii) f (z) = (n ∈ N1 ) .
(1 − z n )2 1 − zn

b) Considere γ um qualquer caminho de Jordan seccionalmente regular, positivamente orientado e tal que
cl D(0, 1) ⊂ ins γ. Calcule o integral Z
f (z) dz .
γ

2. Seja U ⊂ C um conjunto aberto não vazio, w ∈ U e f ∈ H(U ) . Mostre sucessivamente que:


i) a função f tem zero de ordem k ∈ N1 sse f (w) = f ! (w) = · · · = f (k−1) (w) = 0 e f (k) (w) '= 0 ;
ii) se p(z) é um polinómio então p(z) = (z − w)k q(z) , aonde q(z) é polinómio tal que q(w) '= 0 sse
p(w) = p! (w) = · · · = p(k−1) (w) = 0 e p(k) (w) '= 0 .

3. Seja U ⊂ C um conjunto aberto não vazio e w ∈ U . Suponha que f ∈ H(Uw ) e justifique que:
i) se existe k ∈ N1 tal que
lim (z − w)k f (z) = 0 ,
z→w
então w é um pólo da função f de ordem estritamente inferior a k ou w é uma singularidade removı́vel;
ii) se existe k ∈ N1 tal que
1
lim f (z) = 0
(z − w)k
z→w

então w é um zero da função f com multiplicidade estritamente superior a k;

4. Considere funções f e g analı́ticas em w ∈ C. Mostre sucessivamente que:


i) se f (w) '= 0 e w é um zero simples da função g então f /g tem um pólo simples em w e verifica-se
„ «
f f (w)
Res ;w = ! .
g g (w)

ii) se f e g têm respectivamente zeros em w com multiplicidade k e k + 1 então f /g tem um pólo simples
em w e verifica-se „ «
f f (k) (w)
Res ; w = (k + 1) (k+1) .
g g (w)
5. Considere funções f e g analı́ticas em w ∈ C. Mostre sucessivamente que:
i) se f e g têm respectivamente um zero de ordem k + j e de ordem k em w então f /g tem um zero de
ordem j em w, aonde k, j ∈ N1 ;
ii) se g e f têm respectivamente um zero de ordem k + j e de ordem k em w então f /g tem um pólo de
ordem j em w, aonde k, j ∈ N1 ;
iii) se f e g têm zeros de ordem k em w então f /g têm uma singularidade removı́vel em w, aonde k ∈ N1 .

Luı́s V. Pessoa
O teorema dos resı́duos 135

4.3 Integrais de variável real. Integrais impróprios


Na decorrente secção ir-se-á fornecer algumas aplicações do teorema dos resı́duos ao cálculo de integrais
impróprios de Riemann. Se I é um intervalo ilimitado de números reais da forma [ a, +∞ [ ou ]−∞, a ]
e f : I → C é Riemann integrável em intervalos limitados contidos em I, então o integral impróprio
de Riemann define-se respectivamente por intermédio do seguinte
9 +∞ 9 r 9 a 9 a
f (x) dx := lim f (x) dx e f (x) dx := lim f (x) dx .
a r→+∞ a −∞ r→−∞ r

Ademais, se f : R → C é Riemann integrável em intervalos limitados então f diz-se Riemann impro-


priamente integrável em R sse f é Riemann impropriamente integrável em [ 0, +∞ [ e em ] − ∞, 0 ] .
No caso anterior define-se o integral impróprio
9 +∞ 9 0 9 +∞
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx .
−∞ −∞ 0

A linearidade do integral impróprio é evidente, i.e. sem dificuldades demonstra-se o seguinte resultado:

Proposição 1 Seja I ⊂ R um intervalo ilimitado fechado e f, g : I → C funções integráveis em


intervalos limitados de I. Então

i) f é impropriamente integrável em I sse λf é impropriamente integrável em I , λ ∈ C\{0}.

ii) Se f e g são impropriamente integráveis em I então λ1 f + λ2 g é impropriamente integrável e


9 9 9
λ1 f (x) + λ2 g(x) dx = λ1 f (x) dx + λ2 g(x) dx , λj ∈ C , j = 1, 2 .
I I I

É usual dizer que os integrais impróprios anteriores são integrais impróprios de 1.a espécie. Se f é
impropriamente integrável em R então é evidente que
9 +∞ 9 −r
f (x) dx = lim f (x) dx . (1)
−∞ r→+∞ r

No entanto, a existência do limite em (1) não garante a existência do integral impróprio de f em R,


e.g. seja f (x) = x , x ∈ R. Se o limite em (1) existe diz-se que é o valor principal de f em R.

Fixo I um intervalo ilimitado fechado e f : I → C Riemann integrável em intervalos limitados contidos


em I então f diz-se absolutamente integrável em I se |f | é impropriamente integrável em I.
Evitando demoras, menciona-se a possibilidade em enunciar resultados acerca integrais impróprios
(absolutamente) convergentes análogos aos acerca de séries (absolutamente) convergentes. Exemplifica-
se a asserção anterior por intermédio do seguinte resultado:

Proposição 2 Seja I ⊂ R um intervalo ilimitado fechado e f, g : I → C funções integráveis em


intervalos limitados inclusos em I. Então

i) Se f é absolutamente integrável em I então f é impropriamente integrável em I;

ii) Suponha-se que existe R > 0 tal que |x| > R , x ∈ I ⇒ |f (x)| ≤ |g(x)|. Se g é absolutamente
integrável em I então necessariamente f é absolutamente integrável em I.

Luı́s V. Pessoa
136 4.3. Integrais de variável real. Integrais impróprios

Demonstração: Sem perder generalidade supomos I = [ 0, +∞ [ . Sabemos que


9 r "9 r "
" "
lim f (x) dx existe sse ∀δ>0 ∃M >0 r, s > M ⇒ "" f (x) dx"" < δ . (2)
r→+∞ 0 s

Logo, tendo em linha de conta a desigualdade


"9 r " 9 r
" "
" f (x) dx"≤ |f (x)| dx ,
" "
s s

sem dificuldades terminamos a demonstração de i). Para ii) é suficiente considerar (2) e que
9 r 9 r
r>s>R⇒ |f (x)| dx ≤ |g(x)| dx .
s s

Proposição 3 Sejam p(z) e q(z) polinómios e suponham-se verificadas as seguintes condições:

i) o polinómio q(z) não tem zeros reais ;

ii) grau q ≥ grau p + 2 .

Então 9 # $
+∞ )m
p(x) p(z)
dx = 2πi Res ; zj ,
−∞ q(x) j=1
q(z)

aonde zj , j = 1, · · · , m denota os zeros de q(z) no semi-plano superior.

Demonstração: Da condição ii) deduz-se sem dificuldades que


" " " "
" p(z)z 2 " " p(z) " 1
lim "" " ∈ R+ e logo " "
" q(z) " ≤ M 1 + |z|2 , z ∈ C
|z|→∞ q(z) " 0

aonde M é uma constante positiva. Como R # x → 1/(1 + x2 ) é impropriamente integrável em R


então também a função R # x → p(x)/q(x) é impropriamente integrável em R.

Considere-se o caminho de Jordan Γr , r > 0 percorrido no sentido positivo e resulto da concatenação


do segmento de recta [−r, r] com o arco de circunferência γr dado por

γr : [0, π] → C , γr (t) = reit .

Trivialmente "9 " 9 " "


"
" p(z) "" " p(z) "
" " 1
dz " ≤ −→ 0
" q(z) " q(z) " |dz| ≤ πM r r→+∞
.
γr γr

Para r > 0 suficientemente grande verifica-se


) # $ 9 9 r 9 9 +∞
p(z) p(z) p(x) p(z) p(x)
2πi Res ; zj = dz = dx + dz −→ dx .
j
q(z) Γr q(z) −r q(x) γr q(z) r→+∞ −∞ q(x)

Luı́s V. Pessoa
O teorema dos resı́duos 137

Γr

!r r

Figura 4.2: A curva Γr , r > 0 na demonstração da proposição 3

Exemplos
1. A função racional fn (z) = 1/(1 + z 2n ) , n ∈ N1 encontra-se nas condições da proposição 3. As
singularidades de fn são as soluções da equação z 2n = −1, i.e. são os seguintes números complexos

zk = eiπ(1+2k)/(2n) , k = 0, · · · , 2n − 1 .

Cada zk é zero simples do polinómio z 2n + 1. Logo as singularidades de fn são pólos simples e


1 1 zk
Res(fn ; zk ) = = =− , k = 0, · · · , 2n − 1 (n ∈ N1 ) .
fn' (zk ) 2nzk2n−1 2n

É evidente que as singularidades de fn no semi-plano superior são zk , k = 0, · · · n − 1. Deduz-se que


9 ) n−1
+∞
1 πi πi 1 − eiπ π
dx = − eiπ/(2n) eikπ/n = − * −iπ/(2n) += π .
−∞ 1+x 2n n n e − eiπ/(2n) n sin 2n
k=0

Lema 4 (Jordan) Seja γr , r > 0 uma parametrização seccionalmente regular e simples do semi-arco
de circulo {z : |z| = r, Im z ≥ 0} . Então a seguinte desigualdade é válida
9
" iaz "
"e " |dz| ≤ π , (a > 0).
γr a

Demonstração: De acordo com a definição de integral e tendo em linha de conta a paridade da


função seno relativamente ao eixo vertical θ = π/2 , i.e. sin(π − θ) = sin θ obtém-se que
9 9 π 9 π 9 π
" iaz " 2 2 π* + π
"e " |dz| = e−ra sin θ r dθ = 2 e−ra sin θ r dθ ≤ 2 e−2raθ/π r dθ = 1 − e−ra ≤ .
γr 0 0 0 a a

1 y!sin x

Π Π
2

Figura 4.3: A desigualdade sin θ ≥ 2θ/π , 0 ≤ θ ≤ π/2

Luı́s V. Pessoa
138 4.3. Integrais de variável real. Integrais impróprios

Proposição 5 Sejam p(z) e q(z) polinómios e suponham-se verificadas as seguintes condições:

i) o polinómios q(z) não tem zeros reais;

ii) grau q = grau p + 1;

Então 9 # $
+∞
p(x) ix ) p(z) iz
e dx = 2πi Res e ; zj ,
−∞ q(x) j
q(z)

aonde zj , j = 1, · · · , m denota os zeros de q(z) no semi-plano superior.

Demonstração: Suponham-se fornecidos números positivos r e s verificando r > s > 0. Considere


a concatenação Γr,s = [−s, r] αr [ir, is] βs , r > 0 aonde

αr : [0, π/2] → C , αr (t) = reit


.
βs : [π/2, π] → C , βs (t) = seit

A condição ii) tanto considerações semelhantes às integrantes da demonstração da proposição 3, per-
mitem inferir a existência de constantes M, R > 0 verificando a seguinte asserção
" "
" p(z) " M
" " (3)
" q(z) " ≤ |z| , |z| > R .

O lema de Jordan e (3) permitem estabelecer que


"9 " 9 " " "9 "
" p(z) iz "" " p(z) "" iz " M " p(z) iz "" M
" " "" " tanto ""
" q(z) " e |dz| ≤ π r r→+∞ 0
e dz ≤ −→ e dz " ≤ π −→ 0 .
" q(z) " q(z) s s→+∞
αr αr βs

Acerca do integral em [ir, is] , para r e s superiores a determinado real positivo obtém-se o seguinte
"9 " "9 " 9 r
" p(z) iz "" "" r p(ix) −x ""
"
" e dz " = " e dx" ≤ M e−x dx −→ 0 .
" [ir,is] q(z) " s q(ix) s s,r→+∞

Consideram-se r e s superiores a determinado real positivo para das asserções anteriores deduzir que
) # $ 9 9 r 9
p(z) iz p(z) iz p(x) ix p(z) iz
2πi Res e ; zj = e dz = e dx + e dz
j
q(z) Γr,s q(z) −s q(x) αr q(z)

9 is 9 9 +∞
p(z) iz p(z) iz p(x) ix
+ e dz + e dz −→ e dx .
ir q(z) βs q(z) s,r→+∞ −∞ q(x)

Αr
Βs

!s r

Figura 4.4: A curva Γr,s , r, s > 0 na demonstração da proposição 5

Demonstrar a existência do valor principal dos integrais na proposição anterior é consideravelmente


mais simples do que assegurar a existência dos respectivos integrais impróprios.

Luı́s V. Pessoa
O teorema dos resı́duos 139

Exemplos
2. Tendo em linha de conta a paridade da função x → sin x/x justifica-se o seguinte
9 r 9 r 9 −$
sin(x) sin(x)
lim + dx existe sse existe lim + + dx .
r→+∞, $→0 $ x r→+∞, $→0 $ −r x
Porque 9 9
r
sin(x) r
eix
dx = Im dx , (, r > 0
$ x $ x
então é suficiente analisar os integrais da função com valores complexos R # x → eix /x . Considere-se
a curva de Jordan Γr,$ = [−r, −(] γ$− [(, r] γr , r, ( > 0 percorrida no sentido positivo, aonde

γr : [0, π] → C ; γr (t) = reit , 0 ≤ t ≤ π (r > 0) .

Da holomorfia da função z → eiz /z no semi-plano superior deduz-se que


9
eiz
dz = 0 , r, ( > 0 . (4)
Γr," z

Em relação ao integral de linha na curva γ$ obtemos


"9 " "9 π 4 5 ""
" eiz " " " "
" dz − iπ "=" eiγ" (θ)
− 1 dθ"" ≤ π sup "eiξ − 1" −→ 0 . (5)
" " "
γ" z 0 |ξ|=$ $→0+

Do lema de Jordan deduz-se que


"9 " 9
"
" eiz "" 1 " iz "
"e " |dz| ≤ π
dz ≤ −→ 0 . (6)
" "
γr z r γr r r→+∞

De (4), (5) e (6) obtém-se


9 +∞ 9 r 9 −$ ix 9
sin(x) e +∞
sin(x) π
dx = Im lim + dx = π e logo dx = .
−∞ x r→+∞, $→0 +
$ −r x 0 x 2

Γr

ΓΕ !

!r !Ε Ε r

Figura 4.5: A curva Γr,' , ., r > 0

3. [Fresnel] A seguinte igualdade é evidente


9 +∞ 9 +∞
n
sin(xn ) dx = Im eix dx , n ∈ N2 . (7)
0 0
, -
Considere-se a curva de Jordan Γr = [0, r] γr rei$ , 0 percorrida no sentido positivo, aonde
π
γr : [0, (] → C ; γr (t) = reit , 0 ≤ t ≤ ( (r > 0) e (= (n ∈ N2 ).
2n

Luı́s V. Pessoa
140 4.3. Integrais de variável real. Integrais impróprios

, -
O caminho α(t) = trei$ , 0 ≤ t ≤ 1 parametriza o segmento 0, rei$ e verifica αn (t) = i(tr)n . Logo
9 rei" 9 1 9 r 9 +∞
n n n n
eiz dz = rei$ e−(tr) dt = ei$ e−x dx −→ ei$ e−x dx , n ∈ N2 .
0 0 0 r→+∞ 0

O caminho γrn (t)


= r e , 0 ≤ t ≤ ( parametriza a intercepção do circulo de raio rn com o primeiro
n int

quadrante. Assim, considerando o lema de Jordan deduz-se o seguinte


"9 " "9 $ " 9
"≤ 1
" iz n
" " iγrn (t) it
" " iz "
" "=" " "
e dz e re dt" nrn−1 n e |dz| r→+∞ 0 , n ∈ N2 .
−→
" " "
γr 0 γr

Consequentemente, para n ∈ N2 obtemos


9 9 r 9 9 rei" 9 +∞ 9 +∞
n n n n n
0= eiz dz = eix dx + eiz dz − eiz dz −→ eix dx − eiπ/(2n) e−x dx .
Γr 0 γr 0 r→+∞ 0 0

Em particular
9 +∞ 9 +∞ 9 +∞ √
π n π
sin xn dx = sin e−x dx e sin x2 dx = √ .
0 2n 0 0 2 2

Γr

0 r

Figura 4.6: A curva Γr , r > 0

O teorema dos resı́duos também pode ser utilizado para calcular integrais de variável real. Por exemplo,
se f é uma função meromorfa então
9 π 9 π # iθ $ 9 # $
e + e−iθ eiθ − e−iθ z + z −1 z − z −1 1
f (cos θ, sin θ) dθ = f , dθ = −i f , dz .
−π −π 2 2i |z|=1 2 2i z

Exemplos
4. Pretendemos calcular os integrais
9 π 9
1 π
cosn (θ) dθ = cosn (θ) dθ , n ∈ N .
0 2 −π

Da paridade das funções trigonométricas deduz-se que


9 π 9 9
1 π 1 π
cos (θ) dθ =
n
cos (θ) dθ =
n
sinn (θ) dθ = 0 , se n é impar.
0 2 −π 2 −π

Luı́s V. Pessoa
O teorema dos resı́duos 141

Para determinar os integrais das potências pares de cos θ considerem-se as seguintes igualdades
9 π 9 π 9 π * i2θ +2n 9 * 2 +2n
1 * iθ +
−iθ 2n 1 e +1 1 z +1
cos (θ) dθ = n
2n
e +e dθ = n ie dθ = n

dz .
−π 4 −π i4 −π ei(2n+1)θ i4 |z|=1 z 2n+1
Em consequência, do teorema dos resı́duos deduz-se que
9 π W* +2n X
2π z2 + 1 2π d2n , 2 -2n
cos (θ) dθ = n Res
2n
; 0 = z + 1 |z=0 .
−π 4 z 2n+1 4n (2n)! dz 2n

O binómio de Newton permite estabelecer sem dificuldades que


2n # $ # $
* 2 +2n ) 2n 2j d2n , 2 -2n 2n
z +1 = z e logo z + 1 = (2n)! ,
j=0
j dz 2n |z=0 n

de onde terminamos da seguinte forma


9 π
1 (2n)!
cos2n (θ) dθ = n , n ∈ N.
2π −π 4 (n!)2

4.3 Problemas
1.
a) Calcule os seguintes integrais impróprios de Riemann:
Z +∞ Z +∞ Z +∞
1 x2 1
i) 2 − 4i
dx ; ii) 4 + 16
dx ; iii) dx ;
−∞ x −∞ x −∞ x4 + 16
Z +∞ Z +∞ Z +∞
cos x sin x cos x
iv) 2 2
dx ; v) 2 2
dx ; vi) dx ;
−∞ (x + 1) −∞ (x + 1) −∞ (x2 + 4)(1 + x2 )
Z +∞ Z +∞ 3
x sin x x sin x
vii) dx ; viii) dx .
0 x2 + 1 0 (x2 + 1)2
b) Mostre que
Z +∞
1 π
dx = `π´ , n ∈ N1 .
−∞ 1 + x2n n sin 2n
2. Aplique uma mudança de variável adequada para verificar que
Z +∞ Z +∞ r
sin x π
√ dx = 2 sin x2 dx = .
0 x 0 2
3.
a) Aplique o teorema dos resı́duos para calcular os seguintes integrais:
Z π Z π Z π
cos x 1 sin(2x)
i) dx ; ii) dx ; iii) dx ;
0 2 + cos x 0 2 + cos x 0 2 + cos x
Z π Z π Z
1 + e−ix z 1 + e−ix z π
iv) dx, |z| < 1 ; v) dx, |z| < 1 ; vi) sinn x dx, n ∈ N .
1 − e −ix z −ix z)2
−π −π (1 − e −π

b) Mostre que
Z π Z
1 π π
1 + e−ix z
i) dx = √ , α>1 ; ii) dx = 2π , |z| < 1 , n ∈ N1 .
0 α + cos x α2 − 1 −π (1 − e−ix z)n+1

Luı́s V. Pessoa
142 4.4. Transformada de Laplace

4.4 Transformada de Laplace


Para cada real α define-se a classe E(α; R+ ) de funções f : R+
0 → C verificando a seguinte condição
" "
" "
f ∈ E(α; R+ ) sse ∀$>0 ∃M >0 "e−(α+$)t f (t)" ≤ M (t ≥ 0).

Considera-se evidente a seguinte asserção

f ∈ E(α; R+ ) ⇒ ∀$>0 f (t)e−(α+$)t é absolutamente integrável em [0, +∞] . (1)

O leitor poderá sem dificuldades demonstrar a proposição abaixo:

Proposição 1 Para quaisquer α, β ∈ R a classe de funções E(α; R+ ) é um espaço vectorial verificando


as seguintes propriedades:

i) α < β ⇒ E(α; R+ ) ⊂ E(β; R+ );

ii) E(α; R+ )E(β; R+ ) = E(α + β; R+ ) ;

iii) Se p(t) é polinómio então p ∈ E(0; R+ ).

Fixada uma função f ∈ E(α; R+ ), α ∈ R define-se a transformada de Laplace


9 +∞
L [f ] (z) := f (t) e−zt dt , (2)
0

para z ∈ C tal que o integral impróprio em (2) é convergente. Se f ∈ E(α; R+ ), α ∈ R então


" " " "
"f (t) e−zt " = |f (t)| e−t Re z ≤ ""f (t) e−(α+$)t "" , Re z > α + ( .

Logo, da arbitrariedade de ( > 0 em (1) deduz-se a boa definição de L [f ] (z) no semi-plano direito

Xα := {z : Re z > α} , α ∈ R .

Exemplos
1. A função f (t) = eξt , t ∈ R+
0 é elemento da classe E(Re ξ; R ). A sua transformada de Laplace é
+

9 +∞
1
L [f ] (z) = e(ξ−z)t dt = , Re z > Re ξ .
0 z−ξ

Logo
# $
1 , it - 1 , - 1 1 1 z
L [cos] (z) = L e (z) + L e−it (z) = + = 2 , Re z > 0 ,
2 2 2 z−i z+i z +1
tanto
# $
1 , it - 1 , - 1 1 1 1
L [sin] (z) = L e (z) − L e−it (z) = − = 2 , Re z > 0 .
2i 2i 2i z − i z + i z +1

Luı́s V. Pessoa
O teorema dos resı́duos 143

Na seguinte proposição demonstra-se a possibilidade em comutar as operações de derivação e inte-


gração na definição de transformada de Laplace. Poder-se-ia assumir uma perspectiva de demonstração
genérica e baseada na derivação de integrais impróprios paramétricos. Não obstante opta-se por fazer
uso de técnicas ‘mais próximas” dos resultados de análise complexa acima introduzidos.

Proposição 2 Se f ∈ E(α; R+ ), α ∈ R então L [f ] ∈ H(Xα ) e verifica-se a seguinte regra de derivação


d
L [f ] (z) = −L [tf ] (z) , Re z > α .
dz
Demonstração: Seja ( > 0 e considere-se z ∈ C tal que Re z > α + 2(. Como f ∈ E(α; R+ ) então
|f (t)e−zt | ≤ M e−$t , t ≥ 0 e em consequência
"9 +∞ " 9 +∞
" " e−$r
" f (t)e−zt
dt"≤M e−$t
dt = M se Re z > α + 2( .
" " (
r r

Assim fixado arbitrariamente δ > 0 deduz-se a existência de r > 0 verificando


" 9 r "
" "
"L [f ] (z) − f (t)e−zt
dt" < δ para qualquer que seja Re z > α + 2( .
" "
0

Sejam z, ξ ∈ C tais que Re z, Re ξ > α + 2(. Tendo em linha de contas as seguintes desigualdades
"9 r " 9 r
" , - " " −ξt "
|L [f ] (ξ) − L [f ] (z)| ≤ "" f (t) e−ξt − e−zt dt"" + 2δ ≤ M "e − e−zt " dt + 2δ −→ 2δ ,
0 0 ξ→z

e a arbitrariedade de δ > 0 e de ( > 0 , obtém-se a continuidade da transformada de Laplace em Xα .


Segue a verificação de L [f ] ∈ H(Xα+2$ ). Seja γ uma curva de Jordan seccionalmente regular tal que
C γ ⊂ Xα+2$ . Considerando o teorema de Fubini para integrais de Riemann infere-se
"9 " "9 9 r " "9 r 9 "
" " " " " "
" L [f ] (ξ) dξ " ≤ " f (t)e−ξt
dt dξ " + δ|γ| = " f (t) e−ξt
dξ dt" + δ|γ| = δ|γ| −→ 0 .
" " " " " " + δ→0
γ γ 0 0 γ

Logo são nulos os integrais de L [f ] em caminhos de Jordan seccionalmente regulares. Do teorema de


Morera conclui-se que L [f ] ∈ H(Xα+2$ ) e da arbitrariedade de ( > 0 conclui-se L [f ] ∈ H(Xα ). Se
f (t) ∈ E(α; R+ ) então tf (t) ∈ E(α; R+ ) . Logo existe r > 0 tal que
" 9 r "
" "
"L [tf ] (z) − tf (t)e−zt
dt" ≤ δ
" "
0
" 9 r " para qualquer Re z ≥ α + 2( .
" "
"L [f ] (z) − f (t)e
−zt
dt"" ≤ δ
"
0

Fixe-se z tal que Re z > α + 2( e γ um caminho de Jordan tal que z ∈ ins γ ⊂ Xα+2$ . Então
" " " 9 "
" L [f ] (ξ) ""
"L [tf ] (z) + d L [f ] (z)" = ""L [tf ] (z) + 1
" "
" " dξ "
dz " 2πi γ (ξ − z)2 "
" 9 r 9 "
" 1 e−ξt "
" "
≤ "L [tf ] (z) + f (t) dξ dt" + δC
" 0 2πi γ (ξ − z)2 "
" 9 r "
" "
= ""L [tf ] (z) − tf (t)e−zt dt"" + δC
0

≤ δ(C + 1) −→ 0 ,
$→0+
* +
aonde C = |γ|/ 2π dist2 (z, γ) .

Luı́s V. Pessoa
144 4.4. Transformada de Laplace

Exemplos
2. Define-se a função de Heaviside H : R → R por intermédio do seguinte

 1 , x≥0
H(x) = .
 0 , x<0

Então
9 +∞
1
L [H] (z) = e−zt dt = , Re z > 0.
0 z
Considere-se um conjunto não vazio Ω ⊂ C e uma função f : Ω → C. Identificamos a função f com a
sua extensão por zero ao plano complexo, i.e

 f (x) , x ∈ Ω
f (x) ≡ .
 0 , c.c.

Desta forma é possı́vel definir a translação de f por intermédio do seguinte



 f (x − τ ) , x − τ ∈ Ω
fτ (x) = f (x − τ ) = aonde τ ∈ C .
 0 , c.c.

Então  9 +∞

 e−zτ

 e−zt dt = , τ ≥0
τ z
L [Hτ ] (z) = (Re z > 0).

 1

 L [H] (z) = , τ <0
z

3. De acordo com a proposição 2 obtemos

d , n−1 - dn n!
L [tn ] (z) = − L t (z) = · · · = (−1)n n L [H] (z) = n+1 , Re z > 0.
dz dz z
Da mesma forma
, - dn , - dn 1 n!
L tn eξt (z) = (−1)n n L eξt (z) = (−1)n n = , Re z > Re ξ.
dz dz z − ξ (z − ξ)n+1

Proposição 3 A transformada de Laplace verifica as seguintes propriedades:

i) L [fτ ] (z) = e−τ z L [H−τ f ] (z) , aonde f ∈ E(α; R+ ) e τ ∈ R ;

ii) L [eτ t f ] (z) = L [f ] (z − τ ) , aonde f ∈ E(α; R+ ) e τ ∈ R ;

iii) L [f ' ] (z) = zL [f ] (z) − f (0) , aonde f ' ∈ E(α; R+ ) ;

iv) L [g] (z) = λ−1 L [f ] (z/λ) , aonde f ∈ E(α; R+ ) e g(t) = f (λt) , t ≥ 0 .

Luı́s V. Pessoa
O teorema dos resı́duos 145

Demonstração: iii) Supomos α ≥ 0 e abandonamos o caso α < 0 ao cuidado do leitor. Se


f ' ∈ E(α; R+ ) então
" " "9 t " "9 t "
" " " " " "
"f (t)e−(α+2$)t " = "" f ' (s) ds + f (0)""e−(α+2$)t ≤ M "" f ' (s)e−(α+$)s ds""e−(α+$)t
0 0

≤ M te−(α+$)t ≤ M , t ≥ 0 .

Logo, da arbitrariedade de ( > 0 deduz-se que f ∈ E(α; R+ ) . Ademais


9 r 9 r
, -
L [f ] (z)
'
= lim f (t)e
' −zt
dt = lim f (r)e−rt − f (0) + z lim f (t)e−zt dt
r→+∞ 0 r→+∞ r→+∞ 0

= zL [f ] (z) − f (0) .

As demonstrações de i), ii) e iv) envolvem manipulações elementares do conceito de integral e são
abandonamos ao cuidado do leitor.

Proposição 4 (Inversão) Suponha-se fixa uma função F analı́tica em Xα , α ∈ R e com um número


finito de singularidades em C. Suponha-se adicionalmente que para alguma constante c > 0 verifica-se

∃r>0 |z| > r ⇒ |F (z)| ≤ |z|−c , (c > 0) .

Então, em algum semi-plano direito verifica-se


) * +
L [f ] (z) = F (z) aonde f (t) = Res F (z)ezt ; zj .
j

Γr $ Γr #

Figura 4.7: As curvas γr± , r > 0

Demonstração: Fixo um número real β tal que β > α , considerem-se parametrizações das curvas
+
4 5 4 5
C γr = ∂D(0, r) ∩ Xβ ∪ cl D(0, r) ∩ [β + ir, β − ir] ,


4 5 4 5
C γr = ∂D(0, r)\Xβ ∪ cl D(0, r) ∩ [β + ir, β − ir] .

Luı́s V. Pessoa
146 4.4. Transformada de Laplace

Caso r seja superior a determinado número real positivo ν, então as singularidades de F são elementos
do conjunto ins γr− . Desta forma, a função f (t) definida no enunciado é dada por
9
1
f (t) = F (z)ezt dz, r ≥ ν .
2πi γr−

Verifica-se de seguida que f ∈ E(ν; R+ ). Porque a função z → F (z)ezt é holomorfa em Xα então


"9 " "9 9 " "9 "
1 "" " 1 " " 1 " " etν
" "
|f (t)| = " F (z)e dz "" =
zt "
" + F (z)e dz "" =
zt
" F (z)e dz " ≤ c−1 .
zt
2π γν − 2π γν − +
γν 2π " |z|=ν " ν

De novo, a holomorfia da função z → F (z)ezt em Xα permite estabelecer que


9 9 9 9
F (ξ) F (ξ) F (ξ)
dξ = − dξ = dξ − 2πiF (z) . (3)
γr− ξ − z |z|=r γr+ ξ − z |z|=r ξ − z

O decaimento da função F e propriedades da função exponencial estabelecem as desigualdades


"9 " 9 " "
" F (ξ) "" " F (ξ) " 2πr
" " " |dξ| ≤ −→ 0
" dξ " ≤ " "
" |ξ|=r ξ − z " |ξ|=r ξ − z rc (r − |z|) r→+∞
, z ∈ Xα . (4)
"9 " 9 " "
"
" F (ξ)e(ξ−z)ρ " " F (ξ) "
" − dξ "" ≤ e(α−Re z)ρ " " |dξ| −→ 0
ξ−z − "ξ − z " ρ→+∞
γr γr

Finalmente, de (3) e (4) deduz-se


9 ρ 9 9 9 ρ
1 1
L [f ] (z) = lim e−zt F (ξ)eξt dξ dt = lim F (ξ) e(ξ−z)t dt dξ
2πi ρ→+∞ 0 γr− 2πi ρ→+∞ γr− 0
39 6 9
1 F (ξ)e(ξ−z)ρ 1 F (ξ)
= lim dξ − dt dξ
2πi ρ→+∞ γr− ξ−z 2πi γr− ξ − z
9
1 F (ξ)
= F (z) − dt dξ −→ F (z) , z ∈ Xν .
2πi |z|=r ξ − z r→+∞

4.4 Problemas
1. Demonstre a proposição 1 .
Rt
2. Seja g ∈ E(α; R+ ) , α > 0 e considere a função f (t) = 0
g(s) ds . Mostre que:

L [g] [z]
f ∈ E(α; R+ ) e L [f ] [z] = , Re z > α .
z

3. Considere f ∈ E(α; R+ ) , α > 0 e demonstre que:


ˆ ˜
i) L f (z) = L [f ](z) , Re z > α ;
ii) L [Re f ] = Re L [f ] ou L [Im f ] = Im L [f ] sse L [f ] = 0 .

4. Verifique que se p(t) é um polinómio então L [p] é uma função racional.

Luı́s V. Pessoa
O teorema dos resı́duos 147

5. Calcule as transformadas de Laplace das seguintes funções:

i) cosh t ; ii) sinh t ; iii) t sin t ; iv) t cosh t ;

v) et cos t ; vi) cos2 t ; vii) t2 cos2 t ; viii) t2 + 1 .

6. Encontre funções de variável real f tais que L [f ] = F , aonde F (z) são as funções meromorfas indicadas em
cada uma das seguintes alı́neas:

1 e−z 1 e2z
i) ; ii) ; iii) ; iv) .
z2 + 4 z2 + 4 1 + z + z2 + z3 z 2 − 5z + 6

7. Encontre funções regulares de variável real f que verificam as seguintes condições:

i) f ! (t) − f (t) = sin t ; f (0) = 0 ;

ii) f !! (t) − f (t) = 0 ; f (0) = e2 + 1 , f ! (0) = 1 − e2 ;

iii) f !! (t) − f (t) = et ; f (0) = 0 ; f ! (0) = 1 ;

iv) f !! (t) − f ! (t) − 2f (t) = 0 ; f (0) = 0 ; f ! (0) = 1 .

Luı́s V. Pessoa
Capı́tulo 5

Exemplos de Resoluções e Sugestões

[sec. 1.1]

1.vii), viii) Sem dificuldades obtém-se

1+z (1 + z)(1 − z) 1 − |z|2 + z − z 1 − |z|2 z−z 1


= 2
= 2
= + 2i .
1−z |1 − z| |1 − z| |1 − z|2 2i |1 − z|2

Porque 1 − |z|2 , |1 − z|2 e (z − z)/(2i) são números reais, então infere-se

1+z 1 − |z|2 1+z Im z


Re = e Im =2 , z '= 1.
1−z |1 − z|2 1−z |1 − z|2

3.iv) Do problema 1. viii) obtém-se


˛ ˛ ˛ ˛
˛ 1 + z ˛˛ ˛ ˛
2˛ 1 + z ˛
2| Im z| = |1 − z|2 ˛˛Im ≤ |1 − z| 2
˛ 1 − z ˛ = |1 − z | .
1−z˛

3.v) Da alı́nea anterior, deduz-se de imediato que

2| Re z| = 2| Im iz| ≤ |1 − (iz)2 | = |1 + z 2 | .

3.vi) Das duas alı́neas imediatamente anteriores infere-se

2|z| ≤ 2| Re z| + 2| Im z| ≤| 1 − z 2 | + |1 + z 2 | .

[sec. 1.2]

1.v) Tendo em conta as fórmulas de Euler e E(ix) E(iy) = E(i(x + y)) , x, y ∈ R obtém-se
» –
ϕ−θ θ+ϕ ϕ−θ θ−ϕ θ+ϕ
2 cos( ) E(i ) = E(i ) + E(i ) E(i ) = E(iϕ) + E(iθ) .
2 2 2 2 2

149
150

1.vi) Sem dificuldades obtém-se

|z − E(iθ) | = | E(iθ) ( E(−iθ) z − 1)| = | E(−iθ) z − 1| = |1 − z E(iθ) | .

3.i) É obvio que


Xn Xn Xn
E(−ijθ) E(ijθ) E(−ijθ)
+ = 2 Re .
j=0
1 − E(iθ) j=0
1 − E(−iθ) j=0
1 − E(iθ)
Computações elementares estabelecem
Xn Xn Xn
E(−ijθ) 1 1 1 1 − E(−i(n + 1)θ)
= E(−ijθ) = Ej (−iθ) =
j=0
1 − E(iθ) 1 − E(iθ) j=0 1 − E(iθ) j=0 1 − E(iθ) 1 − E(−iθ)

` n+1 ´
n+1 E(−i n+1
2
θ) − E(i n+1
2
θ) n + 1 sin 2 θ
= E(i θ) = −i E(i θ) ` ´.
2 |1 − E(−iθ) |2 2 2 sin2 θ2
Logo
n „ « ` ´ " #2
X E(−ijθ) n+1 sin n+1 θ sin (n + 1) θ2
2
2 Re = sin θ ` ´ = .
j=0
1 − E(iθ) 2 sin2 θ2 sin θ2

5.iv) É suficiente considerar as seguintes computações

(1 + i)n+2j (1 + i)2(n+2j) 2n+2j in+2j


= (1 − i)2j = (1 − i)2j = 2(n+2j)/2 in+2j (1 − i)2j
(1 − i)n |1 + i| n+2j |1 + i|n+2j

= (−1)j 2n/2+2j in+3j , n, j ∈ Z .

[sec. 1.3]

3. Defina-se pn (z) = 1 + z · · · + z n . Da igualdade

(1 − z)(1 + z · · · + z n ) = 1 − z n+1 , z '= 1 ,

deduz-se que os zeros do polinómios pn (z), são raı́zes de ordem n + 1 da unidade. Sabemos que as raı́zes da
unidade de ordem n + 1 constituem um subconjunto de T := ∂D(0, 1). Como T ∩ R = {1, −1} e pn (1) = n '= 0,
então z = −1 é a única possı́vel raiz real de pn , e os zeros de pn são as raı́zes da unidade de ordem n + 1,
exceptuando z = 1. Em particular todos os zeros são simples. Poder-se-á verificar directamente que z = −1
é raiz de pn sse n é impar. Alternativamente, como pn têm coeficientes reais então existe um número par de
raı́zes não reais. Se n é par e existem raı́zes reais, então necessariamente são em número par. Logo, se n é par
não existem raı́zes reais. Se n é impar, então as raı́zes reais são em numero impar e logo z = −1 é a única raiz
real. Finalmente, os zeros de pn são dados por

pn (z) = 0 sse z = E(ik2π/(n + 1)) , k = 1, · · · , n.

Defina-se zk = E(i2πk/(n + 1)) , k = 1, · · · , n . Como o polinómio pn (z) tem coeficientes reais, então z k é raiz
de pn . Terminamos a resolução considerando sucessivamente que
„ « „ «
2π 2π
zk = cos k + i sin k
n+1 n+1

Luı́s V. Pessoa
Exemplos de Resoluções e Sugestões 151

e que
» „ «–2 „ « „ «
2π 2π 2π
(z − zk )(z − z k ) = z − cos k + sin2 k = z 2 − 2 cos k + 1 , k = 1, · · · , n.
n+1 n+1 n+1

6. Reduza ao mesmo denominador e aplique o bem conhecido binómio de Newton.

[sec. 1.4]

1.vii) Poder-lhe-á ser útil considerar a alı́nea xii) do problema [1 sec.1.1] .

4.i), ii), iii) O vector ξ − η inclui-se na recta Rξ,η transladada para a origem. Se 0 '= t ∈ R então ξ − η e i(ξ − η)t
são vectores perpendiculares. Assim, se i(ξ − η)t ∈ Rξ,η então dist (Rξ,η , 0) = |i(ξ − η)t|. Considerando que
» –
i(ξ − η)t − η η η Im(ηξ)
Im = t − Im e i(ξ − η) Im =i ,
ξ−η ξ−η ξ−η ξ−η
o leitor não encontrará dificuldades em terminar a resolução.

5.i), ii) Considere a evidente proposição Re(az) = 1 ⇔ Im [ia(z − 1/a)] = 0. Resolva η = 1/a e ξ − η = i/a. Para
a alı́nea ii) considere a alı́nea ii) do problema [3 sec.1.4] e sem dificuldades obtenha que z ∈ Rξ,η sse
» –
ˆ ˜ ξ−η
Im (ξ − η)z = Im(ηξ) ⇔ Re z = 1.
i Im(ηξ)

Observe que a desigualdade Im(ηξ) '= 0 é consequência de 0 ∈


/ Rξ,η .

8. É evidente a seguinte igualdade αξ,η (z) = αξ−η (z − η) + η. Termine considerando o problema [7 sec.1.4].

11.iii) Suponha que limn z n = a + ib (a, b ∈ R) e z = cos θ + i sin θ '= 1, θ ∈ R. Das hipóteses deduz-se que
θ '= kπ, k ∈ Z. Das formulas trigonométricas do dobro deduz-se b = 2ba e 2a2 − a − 1 = 0. Então b = 0.
No entanto, se lim sin(nθ) = 0 então aplique a igualdade sin(nθ) = sin(n − 1)θ cos θ − cos(n − 1)θ sin θ para
concluir que lim cos(nθ) = 0. Da fórmula fundamental da trigonometria deduza um absurdo. Também é
possivel mostrar que se z = E(iθ) , θ/π = p/q aonde p, q são naturais positivos irredutı́veis entre si, então
a sucessão z n , n ∈ N têm 2q sublimites distintos. Mais exigente é verificar que se θ/π ∈
/ Q então qualquer
complexo unitário é sublimite da sucessão z n , n ∈ N.

[sec. 1.5]

2. a)i). Sabemos T (0) = ∞. Como T (C ) é circulo no plano compactificado e inclui o ponto infinito então T (C )
é uma recta no plano compactificado. Os complexos z + iz e z − iz incluem-se em C. Logo T (C ) é a recta que
inclui os pontos T ((1 + i)z) = (1 − i)/(2z) e T ((1 − i)z) = (1 + i)/(2z).
a)ii) Como 0 ∈/ C então ∞ ∈ / T (C ). Logo T (C ) é um circulo em C. O segmento de recta entre os complexos
ξ1 := z(1 + ir/|z|) e ξ2 := z(1 − ir/|z|) é um diâmetro de C. Logo [T (ξ1 ), T (ξ2 )] é um diâmetro de T (C ).
Assim T (C ) = ∂D(w, δ) aonde
˛ ˛
T (ξ1 ) + T (ξ2 ) ˛ T (ξ1 ) − T (ξ2 ) ˛
w= e δ = ˛˛ ˛.
˛
2 2

b)i) De 0 ∈ C deduz-se ∞ ∈ T (C ). Em consequência T (C ) é uma recta em C, aonde são inclusos os pontos

Luı́s V. Pessoa
152

1/ξ = ξ/|ξ|2 , 1/η = η/|η|2 e a origem. O resultado deduz-se de imediato.


b)ii) Como 0 ∈ / C então ∞ ∈/ T (C ) e T (C ) é um circulo em C. Do problema4 sabemos que o ponto de Rξ,η a
distância mı́nima da origem é ξ := iIm(ηξ)/(ξ − η) . Logo T (C ) é um circulo em C, cujo ponto com distância
máxima à origem é 1/ξ. Conclui-se T (C ) = ∂D(w, δ) aonde w = 1/(2ξ) e δ = |w|.

4.
Considere-se a região A = {x + iy : y < x + 1; x, y ∈ R}. O conjunto Ω
consiste na intercepção de A com as regiões obtidas da rotação de A por
π/2, π, 3π/2, i.e. Ω = A ∩ (iA) ∩ (−A) ∩ (−iA). Em conta de T (i) = −i
deduz-se T (Ω) = T (A) ∩ [iT (A)] ∩ [−T (A)] ∩ [−iT (A)]. Desta forma é
suficiente considerar considerar T (A). O complexo ξ := (1 + i)/2 é o ponto
da recta de equação Euclidiana y = x + 1 “mais próximo” da origem.
Logo, a imagem da recta y = x + 1 por T (z) é a circunferência de centro

em T (ξ)/2 = (1−i)/2 e raio |T (ξ)/2| = 2/2. Como T (0) = ∞ então T (A)

corresponde ao “exterior” de ∂D((1 − i)/2, 2/2). Logo T (Ω) coincide com
a região T (A) interceptada com as suas rotações sucessivas de angulo π/2.

! !
5. Se T (z) = (az + b)/(cz + d) aonde a, b, c, d ∈ R então é evidente que T (R) = R. Da seguinte igualdade
az + b ad − bc
Im = Im z (1)
cz + d |cz + d|2
deduz-se que T (Π) = Π sse ad − bc > 0. Inversamente, suponha-se fornecida uma transformação linear frac-
! !
cionária T (z) = (αz + β)/(γz + δ) tal que T (R) = R. Então necessariamente T (R) = R. O caso γ = 0 é
elementar. Supõe-se γ '= 0. Então T (−δ/γ) = ∞, T (∞) = α/γ e T (0) = β/γ. Logo δ/γ, α/γ, β/γ ∈ R e
az + b
T (z) = , aonde a := α/γ, b := β/γ, c := 1 e d := δ/γ .
cz + d
Considerando (1) a resolução termina sem dificuldades.

7.i), ii), iii) A linear fraccionária ST −1 transforma o eixo real compactificado a um ponto em si próprio. Consi-
derando o problema 5 deduz-se ST −1 (w) = ST −1 (w). Substituindo na igualdade anterior w = T (z) e multi-
plicando ambos os membros por S −1 obtém-se T −1 (T (z) = S −1 (S(z)). Para a alı́nea ii) é suficiente considerar
T (z) = (z − η)/(ξ − η) e aplicar a definição em i). Para a alı́nea iii) considere o exemplo [2 sec. 1.5].

[sec. 2.1]

1.ii) Poder-lhe-á ser útil considerar o critério da razão.


p √ “p √ ”
1.iii) A seguinte igualdade nj + 1 − nj = 1/ nj + 1 + nj poder-lhe-á facilitar a resolução.

1.iv) Poder-lhe-á ser útil considerar a regra de Cauchy para verificar indutivamente que lim n/( ln n)j = +∞.

1.vi) Atente às evidentes igualdades


„ « » – „ «
(−1)n n (−1)n 1 sin x
sin nπ + = (−1) sin = sin e ao limite lim = 1.
nj nj nj x→0 x

1.ix) Considerando separadamente a sucessão dos termos pares e dos termos impares, não encontrará dificuldades
em verificar que se an , n ∈ N1 designa o termo geral da série, então 0 ≤ an ≤ (2/e)n , para ordens superiores a
determinado natural.

Luı́s V. Pessoa
Exemplos de Resoluções e Sugestões 153

1.xi) Definindo a função de variável real positiva f (x) = x/(x2 − 1), x ∈ R+ , obtém-se

(x − 1) + 1 1 1
f (x) = = + 2 .
x2 − 1 x+1 x −1

Segue que a sucessão an := n/(n − 1), n ∈ N é decrescente. Do critério de Dirichlet, conjuntamente com a
P √
divergência da série 1/ n conclui-se
X √n n
ξ converge sse |ξ| = 1, ξ '= 1 .
n−1
P
Como a série 1/(n − 1) é divergente então a série parametrizada em ξ
X 1 + √nξ n
diverge se |ξ| = 1, ξ '= 1 . (2)
n−1
P √
Caso ξ = 1, então a série em (2) tem a natureza da série 1/ n e logo é também divergente.

1.xiv) Verifique que o termo geral da série não é infinitésimo.

1.xv), xvi), xvii) Tenha em consideração o critério integral para sem dificuldades concluir que a série na alı́nea
xv) converge sse j = 2, · · · . Para as alı́nea xvi) e xvii), estabeleça a evidente desigualdade ln n! ≤ n ln n.

1.xix) Proceda como no exemplo [13 sec. 2.1].

1.xx), xxi) Verifique que ambas as alı́neas encontram-se resolvidas no exemplo [13 sec. 2.1]. Deverá tão simples-
mente resolver o problema [9 sec.2.1].

2.v) Alega-se que



X 1 1
= , j ∈ N2 .
n=0
(n + 1) · · · (n + j) (j − 1)(j − 1)!
De facto, considerando a evidente igualdade
„ «
1 1 1 1
= − ,
(n + 1) · · · (n + j) j−1 (n + 1) · · · (n + j − 1) (n + 2) · · · (n + j)

deduz-se tratar-se duma série telescópica. O resultado segue sem dificuldades.

2.viii) Considere a seguinte definição e igualdades


„ « „ «
2n + 1 1 1 1 1
an := n 2 = n − = n − , n ∈ N1 .
(n − 1)(n2 + 2n) n2 − 1 n2 + 2n n2 − 1 (n + 1)2 − 1

Se bn = 1/(n2 − 1) então ser-lhe-á suficiente atentar a que


X X X X „ «
1X 1 1
an = [nbn − (n + 1)bn+1 ] + bn+1 = [nbn − (n + 1)bn+1 ] + − .
n=1 n=1 n=1 n=1
2 n=2 n − 1 n+1

6. Verifique que o termo geral da série não é infinitésimo.

7.i), ii) Defina a sucessão das somas parciais Sn := a0 +· · ·+an−1 . Tão simplesmente verifique que αn = S2n −Sn .
Em relação à alı́nea ii), deverá considerar que quaisquer dos exemplos pedidos encontram-se de entre as diversas
alı́neas do problema [1 sec.2.1]. No caso particular, e.g. considere a alı́nea xv).

8.i), ii) Evitamos na decorrente resolução, conceitos semelhantes ao parafraseado por “o menor natural maior do
que”. Defina-se a sucessão das somas parciais Sn = a0 + · · · + an−1 , n ∈ N1 . Considerando a monotonia do
termo geral da série, verifica-se

0 ≤ na2n ≤ na2n−1 ≤ an + · · · + a2n−1 = S2n − Sn → 0.




n→+∞

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154

Logo, tanto a sucessão 2na2n , n ∈ N quanto (2n − 1)a2n−1 , n ∈ N são infinitésimas. Em relação a ii) poder-
lhe-á ser útil ter em linha de conta sugestões semelhantes às lavradas para a alı́nea ii) do problema [7 sec.2.1].

10. O problema [9 sec.2.1] revela-se útil. De facto, se Sn , n ∈ N1 designa a sucessão das somas parciais, então

Xh
n−1 i n−1
X
S2n = (−1)j (aj + aj+1 ) + (−1)j+1 (aj+1 + aj+2 ) = (−1)j aj − (−1)j+2 aj+2 .
j=0 j=0

Assim, se a sucessão an , n ∈ N é infinitésima então S2n , n ∈ N1 é convergente. Para a alı́nea iii), conjuntamente
com a alı́nea i), considere a seguinte igualdade
„ «
1 an an+1 an+1
(an + an+1 ) = + + .
n n n+1 n(n + 1)

11. A alı́nea i) envolve simples manipulações algébricas das sucessões das somas parciais das diferentes séries
envolvidas. Em relação ao item ii) poderá considerar a série de termo geral (−1)n /n, n ∈ N.

13. Se Sn := a20 + · · · + a2n−1 e Tn = a0 a1 + · · · + a2n−2 a2n−1 , então da evidente desigualdade

1` 2 ´ S2n
0 ≤ Tn = a0 a1 + · · · + a2n−2 a2n−1 ≤ a0 + a21 + · · · + a22n−2 + a22n−1 =
2 2
infere-se a resolução da alı́nea i). Para ii) poder-se-á considerar an = 1 + (−1)n , n ∈ N1 . Para iii) considere

0 ≤ Sn = a20 + a21 · · · + a2n−1 ≤ a20 + (a0 a1 + · · · + an−2 an−1 ) ≤ a20 + Tn .

14. Na seguinte desigualdade o leitor poderá sem dificuldades encontrar a solução da alı́nea i)
„ «
a2 an 1 2 1 1
a1 + α + · · · + α ≤ a1 + a2 + · · · + a2n + 2α + · · · + 2α , n ∈ N1 .
2 n 2 2 n

Para ii), considere e.g. an = 1/( n ln n) e o problema [1 sec.2.1], alı́nea xv).

15. Suponha fixa uma ordem n ∈ N tal que an < 0. Então, porque a sucessão an , n ∈ N é decrescente, obtém-se
m−1
X
αn − αm = aj ≤ (m − n)an −−
→ − ∞.
m→+∞
j=n

Se αj , j ∈ N é convexa limitada, então infere-se de i) que a sucessão an , n ∈ N é decrescente de termos não


P
negativos. Logo αn , n ∈ N é decrescente. Deduz-se a convergência da série telescópica an . Como an , n ∈ N
é decrescente, do problema [8 sec.2.1], segue que lim nan = 0. Para iii), é suficiente considerar as igualdades

X ∞
X ∞
X
n(an − an+1 ) = [nan − (n + 1)an+1 ] + an+1 = α1 − lim αn .
n
n=0 n=0 n=0

16. Considere as seguintes igualdades


!
h i h i h i k−1
X k j
nk (an − an+1 ) = nk an − (n + 1)k an+1 + (n + 1)k − nk an+1 = nk an − (n + 1)k an+1 + n an+1 .
j=0
j

18. Poderá obter uma simples resolução por intermédio de aplicação imediata da proposição [13 sec. 2.1].

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Exemplos de Resoluções e Sugestões 155

19. O caso j = 1 está incluso no exemplo [13 sec. 2.1] e poder-lhe-á ser útil. Considere por igual o seguinte
j X X X n−j
(ξ j − ξ ) γn ξ n = (γn ξ n+j − γn−2j ξ n−j ) + ξ (γn−2j − γn ) . (3)
n n n

20. A resolução é em todo semelhante à sugerida para o problema [19 sec.2.1]. Considere (3).

[sec. 2.2]

3.xiv) Defina-se an := nn /.n! , n ∈ N1 . Então bn := n an := n/.(n−1)! , n ∈ N1 . Se 0 < . ≤ 1, é evidente que
lim bn = +∞. Se . > 1 então encontramos uma indeterminarão no cálculo do limite da sucessão bn , n ∈ N1 .
No entanto, são óbvias as seguintes computações
bn+1 n + 1 −(n−1)(n−1)!
= . −−
→ 0.
bn n m→+∞

Logo lim bn = 0. A região de convergência absoluta é C e {0}, respectivamente se 0 < . ≤ 1 e . > 1.

3.xv) Considerando o lema [2 sec. 2.2], o raio de convergência pode ser calculado da seguinte forma
√ “ ”1/(n−2)!
lim sup n!
nn = lim sup n1/(n−1) = 10 = 1 .

Se |z| = 1 então o termo geral da série não é infinitésimo. Logo, a região de convergência absoluta é D(0, 1).

3.xvi) Sem dificuldades, deduz-se da alı́nea anterior que o raio de convergência da série é r = 1. Como

nn nn−1
=n ≥n −

→ + ∞,
n! n! n→+∞

segue sem dificuldades que a região de convergência absoluta é D(0, 1).

3.xvii) Da desigualdade
cos(nθ) = cos[(n − 1)θ] cos(θ) − sin[(n − 1)θ] sin θ
segue que se cos(nθ), n ∈ N é sucessão infinitésima então também sin(nθ), n ∈ N é infinitésima. Da relação
fundamental da trigonometria deduz-se um absurdo. Logo, a região de convergência absoluta é D(0, 1).

4.iv) Defina-se a sucessão bn = n!/nn , n ∈ N1 . Então


„ «−n
bn+1 nn 1 −1
= = 1+ → e

− .
bn (n + 1)n n n→+∞

Se r designa o raio de convergência então r = e. Considere-se a sucessão cn := en bn , n ∈ N1 e compute-se


„ «−n
cn+1 bn+1 1
=e =e 1+ .
cn bn n

Porque a sucessão (1 + 1/n)n , n ∈ N1 é crescente então a sucessão de termo geral cn+1 /cn é decrescente ao
valor 1. Logo cn+1 ≥ cn . Em consequência a sucessão cn , ∈ N1 não é infinitésima e a série
X n! n X
z = cn ξ n é divergente, (|z| = e, |ξ| = 1) .
n
nn n

4.v) Sem dificuldades conclui que o raio de convergência é r = 1. Para determinar a região de convergência
simples considere a alı́nea xix) do problema [1 sec.2.1].

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156

p
n
6.a.i) Se r designa o raio de convergência, então r = lim sup |an |. Deduz-se o seguinte

n
p √
1 = lim λ1 ≤ lim sup n
|an | ≤ lim n λ2 = 1 .

√ √
6.a.iv) De 0 < an < np infere-se r := lim supn n an ≤ lim supn n np = 1. Ademais a2n ≥ na2 . Logo considerando
que na2 > 1 para ordens superiores a determinado natural obtém-se o seguinte

2n

2n
r ≥ lim sup a2n ≥ lim sup na2 ≥ 1 .

7. Do lema [2 sec. 2.2], sem dificuldades o leitor deduz-se a solução de i). Para a alı́nea ii) aplique o binómio de
Newton á parcela (n + 1)k e comute a soma finita com o sı́mbolo de série.

[sec. 2.3]

1.i), iv) Para a alı́nea i) considere as seguintes computações


Z Z “ ” » –
1 1 1 1 − i (1+i)t et
cos(t)et dt = e(1+i)t + e(1−i)t dt = e(1+i)t + e(1−i)t = Re e = (cos t + sin t) .
2 2 + 2i 2 − 2i 2 2

Com respeito à alı́nea iv) é suficiente o seguinte


Z Z
1 eit −i −i 1 1 i
dt = − dt = it = e−it/2 it/2 =− e−it/2 = − + .
1 − cos t (eit − 1)2 e −1 e − e−it/2 2 sin(t/2) 2 tan(t/2) 2

6. Eventualmente a resolução ser-lhe-á evidente, se considerar as alı́neas x) e xi) do problema [3 sec.2.3].

[sec. 2.4]

6. Seja x um número real tal que |x| ≤ 1. De acordo com [4 sec. 2.4], as soluções de cos z = x são dadas por
p
Arccos x = {∓ i ln |x + x1 | ± arg (x + x1 ) + 2kπ : k ∈ Z} , aonde x1 = i 1 − x2 .

Considere que ln |x + x1 | = 0 para concluir


n p o
Arccos x = ± arg (x + i 1 − x2 ) + 2kπ : k ∈ Z ⊂ R .

[sec. 3.1]

2. O leitor não encontrará dificuldades caso considera as igualdades abaixo


fi fl
∂f ∂f
|Jf (z)| = (z) , −i (z) = # ∂z f + ∂z f , ∂z f − ∂z f $ .
∂x ∂y

Luı́s V. Pessoa
Exemplos de Resoluções e Sugestões 157

7. Ser-lhe-á suficiente justificar as seguintes computações

∂ϕ
(z) = Jf ◦g (z)v = Jf (w)Jg (z)v = Jf (w)η = ∂z f (w)η + ∂z f (w)η
∂v ∂g
aonde η= (z) .
∂g ∂g ∂v
= ∂z f (w) (z) + ∂z f (w) (z) ,
∂v ∂v

8. Para a equivalência i) ⇔ ii) considere a seguinte igualdade


˛ ˛
˛ ∂f ˛
˛ (z)˛ = |Jf (z)eiθ | = | ∂z f (z) + ∂z f (z)e−i2θ | aonde v = eiθ , θ ∈ R.
˛ ∂v ˛

Para a equivalência i) ⇔ iv) considere que nas condições das hipóteses, a alı́nea iv) pode ser substituı́da por
a condição de ortogonalidade entre as derivadas direccionais em ordem a vectores ortogonais. Assim ser-lhe-á
útil considerar as seguintes computações
fi fl D E
∂f ∂f
(z) , (z) = eiθ ∂z f (z) + e−iθ ∂z f (z) , ±ieiθ ∂z f (z) ∓ ie−iθ ∂z f (z)
∂v ∂w
D E D E
= ± e−iθ ∂z f (z) , ieiθ ∂z f (z) ∓ eiθ ∂z f (z) , ie−iθ ∂z f (z) aonde v = eiθ , w = ±ieiθ .
“ ”
= ±2 Re iei2θ ∂z f (z) ∂z f (z)

Na última igualdade acima considerou-se que #ξ , η$ = Re(ξη). Sem dificuldades conclui-se que iv) verifica-se
sse ∂z f (z) ∂z f (z) = 0.

[sec. 3.2]

2.ii) Demonstra-se a primeira parte do problema. Para determinado . > 0 e para cada θ ∈ R os caminhos
[−., .] 3→ ϕ(t) = u(z + teiθ ) estão bem definidos. Suponha-se o contradomı́nio de u incluso na variedade
uni-dimensional C. Para qualquer θ ∈ R os vectores

∂u
ϕ! (0) = (z) = eiθ ∂z u(z) + e−iθ ∂z u(z) = eiθ u! (z) aonde η = eiθ
∂η

são vectores tangente a C, eventualmente nulos. Se u! (z) '= 0 então o espaço tangente a C no ponto u(z) é
bi-dimensional, o que é absurdo. Logo u! (z) = 0 e necessariamente u é constante. ii) Considera-se o caso
arg u ∈ H(U ). Porque o contradomı́nio de arg u inclui-se numa variedade uni-dimensional então deduz-se da
alı́nea i) que U 5 z 3→ arg u(z) é constante. Logo a função u(z) = |u(z)|ei arg u(z) tem contradomı́nio incluı́do
em determinada recta passando por a origem. De i) conclui-se que u é constante.

[sec. 3.3]

10. Considere a parametrização γ(t) = z2 t + z1 (1 − t) , 0 ≤ t ≤ 1. Eventualmente a resolução ser-lhe-á evidente


se considerar que γ ! (t) = z2 − z1 e as seguintes igualdades
Z Z 1 Z 1 Z
z2 − z1 z2 − z1
f (w) dw = f (γ(t))γ ! (t) dt = f (γ(t))γ ! (t) dt = f (w) dw .
[z1 ,z2 ] 0 z2 − z1 0 z2 − z1 [z1 ,z2 ]

Luı́s V. Pessoa
158

11. Considerando a sugestão, sabemos que f (w+ξ) = f (w)+ξ ∂w f (w)+ξ ∂w f (w)+r(ξ) aonde limξ→0 r(ξ)/ξ = 0 .
Considerando o exemplo [4 sec. 3.3] tanto a igualdade ξ = .2 /ξ, |ξ| = ., obtemos que
2 3
Z Z Z Z
1 1 1 6 .2 7
f (ξ) dξ = f (w + ξ) dξ = 4 ∂w f (w) dξ + r(ξ) dξ 5
2πi.2 2πi.2 2πi.2 ξ
|w−ξ|= . |ξ|=' |ξ|=' |ξ|='
Z
1
= ∂w f (w) + r(ξ) dξ .
2πi.2
|ξ|='

Sem dificuldades o leitor cuidará de mostrar que o resultado deduz-se das computações anteriores.

[sec. 3.4]

2.i), ii), iii) Do teorema de Green infere-se


ZZ Z
1
R5 ∂z ∂z f (z) dA(z) = ∂z f (z) dz .
2i γ
U

Assim termina-se a demonstração de i). A alı́nea ii) segue os mesmos argumentos. Em relação à alı́nea iii), é
evidente que a função f encontrasse nas condições da alı́nea ii). Em consequência, a mudança de variável de
integração e o problema [1 sec.3.4] estabelecem
Z Z Z
g ! (z)g(z) dz = 2i g ! (z) ∂z g(z) dA(z) = 2i |g ! (z)|2 dA(z) = 2i|g −1 (U )| , aonde U = ins γ .
γ U U

4. Considere aplicações sucessivas da formula de Pompieu e do teorema de Green para esquematicamente obter
Z Z
1 u(ξ) 1 1 ∂u
u(z) = dξ − (ξ) dA(ξ)
2πi ∂U ξ − z π U ξ − z ∂ξ
Z Z » – Z
1 u(ξ) 1 ∂ ξ − z ∂u 1 ξ − z ∂2u
= dξ − (ξ) dA(ξ) + (ξ) dA(ξ)
2πi ∂U ξ − z π U ∂ξ ξ − z ∂ξ π U ξ − z ∂ξ 2
»Z Z – "Z " # Z #
1 u(ξ) ξ − z ∂u 1 ∂ (ξ − z)2 ∂ 2 u (ξ − z)2 ∂ 3 u
= dξ − (ξ) dξ + (ξ) dA(ξ) − (ξ) dA(ξ)
2πi ∂U ξ − z ∂U ξ − z ∂ξ 2π U ∂ξ ξ − z ∂ξ 2 U ξ − z ∂ξ 3
n−1 Z ` ´ k Z ` ´ n−1 n
1 X (−1)k ξ − z ∂ku (−1)n ξ−z ∂ u
= ··· = k
(ξ) dξ + n (ξ) dA(ξ) , z ∈ U.
2πi k! ∂U ξ − z ∂ξ π(n − 1)! U ξ−z ∂ξ
k=0

5. Verifique que a resolução é uma aplicação imediata da Generalização da fórmula de Pompieu.

[sec. 3.5]

1. Calcule o integral do lado esquerdo, considerando as evidentes proposições z = 1/z, z ∈ C1 e z = −z, z ∈ C2 ,


conjuntamente com o Teorema fundamental [6 sec. 3.3]. Para determinar o restante integral, poder-lhe-á ser
útil considerar a igualdade Z Z
Re f (w) dw = f (w) dγ(w) ,
γ γ

estabelecida no inı́cio da secção [sec. 3.4].

Luı́s V. Pessoa
Exemplos de Resoluções e Sugestões 159

2.i), ii) A alı́nea i) é consequência imediata das diferentes definições de integral de linha, envolvidas. Para a
alı́nea ii), considere i) e o seguinte
Z Z Z Z
f (z) + f (z) f (z) + f (z) f (z) + f (z)
Re f (z) |dz| = |dz| = z |dz| = −i dz
|z|=1 |z|=1 2 |z|=1 2z |z|=1 2z
Z Z
1 f (z) 1 f (z)
= πf (0) + dz = dz .
2i |z|=1 z 2i |z|=1 z

5.x), xi), xii) Considere o problema [4 sec.3.5].

8.i), ii) Para a alı́nea i) considere o seguinte


Z n−1
X XZ
n−1 n−2 (j)
X fj+1
fj (z) (0)
z j fj (z) dz = j
dz = 2πi .
|z|=1 j=0 j=0 |z|=1 z j=0
j!

A sugestão permite estabelecer a alı́nea ii), precisamente


Z Z Z n−1
X Z n−2
X (j + 1)j
enz z z
dz = dz − z j ejz dz = dz − 2πi
|z|=1 z n−1 (z − ez ) |z|=1 z − ez |z|=1 j=0 |z|=1 z − ez j=0
j!
n−2
X (j + 1)j
= −2πi .
j=0
j!

A última igualdade considerada pode ser justificada observando que ez '= z, |z| ≤ 1. De facto, se existe uma
solução complexa da equação z = ez então |z| = ex , z = x + iy (x, y ∈ R). Logo −1 ≤ x ≤ 0. Tendo em
linha de conta que cos y > 0, |y| ≤ 1 então, se x '= 0 obtemos uma contradição com a igualdade x = ex cos y.
Finalmente, é óbvio que não existem soluções verificando x = 0, |y| ≤ 1.

9. Do problema [2 sec.3.5], resulta sem dificuldades de maior o seguinte


Z Z Z » –
1 f (ξ) 1 f (ξ) 1 z 1
|dξ| = dξ = f (ξ) + dξ
2π |ξ|=1 1 − ξz 2πi |ξ|=1 (1 − ξz)ξ 2πi |ξ|=1 (1 − ξz) ξ
Z Z
z f (ξ) 1 f (ξ)
= dξ + dξ , |z| < 1 .
2πi |ξ|=1 (1 − ξz) 2πi |ξ|=1 ξ

O integral do lado esquerdo é nulo, porque a função integranda é holomorfa em C, com excepção dum ponto
singular situado no exterior do circulo unitário. O segundo integral calcula-se por intermédio da fórmula
integral de Cauchy.

[sec. 3.6]

1. Considere as seguintes computações

0 = ∂z f = ∂z u − g ! = ∂z u − g ! = f ! − g ! .

2. Sabe-se da existência de funções f, g ∈ H(Ω) tais que u = f + g. Para determinado . > 0 e para cada θ ∈ R
os caminhos [−., .] 3→ ϕ(t) = u(z + teiθ ) estão bem definidos. Suponha-se o contradomı́nio de u incluso na
variedade uni-dimensional C. Então, para qualquer θ ∈ R os vectores
∂u
ϕ! (0) = (z) = eiθ ∂z u(z) + e−iθ ∂z u(z) = f ! (z)eiθ + g ! (z)e−iθ aonde η = eiθ
∂η

Luı́s V. Pessoa
160

são vectores tangente a C, eventualmente nulos. Não obstante, a equação


˛ ˛ ˛ ˛
˛ ! iθ −iθ ˛ ˛ ! −i2θ ˛
˛f (z)e + g ! (z)e ˛ = ˛f (z) + g ! (z)e ˛, θ ∈ R

é a equação da circunferência centrada em f ! (z) e com raio |g ! (z)|. Logo f ! (z) = g ! (z) = 0.

5.i), ii) Para a alı́nea i) considere u = (f + f )/2. Para ii) tenha em consideração |f |n = f n/2 (f )n/2 , para os
ramos da potência bem desejados.

6. Supondo que f é função harmónica sem zeros, então a alı́nea i) resulta das seguintes computações elementares
1 ∂z f ∂z f ∂z f 2 − f 2 ∂z ∂z f 2f ∂z f ∂z f − f 2 ∂z ∂z f ∂z ∂z f 2
∂z ∂z = − ∂z 2 = 4
= 4
= .
f f f f f3
A alı́nea ii) resulta da seguinte observação ∂z ∂z |f |2 = ∂z ∂z f f = f ! f ! = |f ! |2 .

[sec. 4.1]

4.iv) Os desenvolvimentos em série de Laurent podem ser obtidas considerando o seguinte


X∞ ∞ ∞
e1/w d 1 1 −n d X k X (k + 1) k−n
2
= e1/w = w w = w .
(1 − w) dw 1 − w n=0
n! dw n!
k=0 n,k=0

Na série dupla anterior as potências 1/w obtêm-se caso n = k + 1. Logo


„ « X ∞ ∞
X
e1/w (k + 1) 1
Res 2
; 0 = = = e.
(1 − w) (k + 1)! k!
k=0 k=0

O valor do integral obtém-se dos seguintes cálculos


Z » –
e1/w d 1/w
2
dw = 2πei + 2πi e = 0.
|w|=2 (1 − w) dw |w=1

[sec. 4.2]

4.i), ii) Suponha que os seguintes desenvolvimentos f (z) = a0 + a1 (z − w) + · · · , a0 '= 0 e g(z) = b1 (z − w) +


b2 (z − w)2 + · · · , b1 '= 0 são válidos numa vizinhança do ponto w. Então, a alı́nea i) resulta de
f (z) a0 + a1 (z − w) + · · · a0
lim (z − w) = lim = .
z→w g(z) z→w b1 + b2 (z − w) + · · · b1
A solução de ii) obtém-se de forma semelhante.

[sec. 4.3]

1.a)vii) Da proposição 5 deduz-se que


Z +∞ „ «
x z iπ
2
eix dx = 2πi Res 2
eiz ; i = .
−∞ 1+x 1+z e
Logo, da igualdade
» – Z +∞ » –
x x x iπ π
2
sin x = Im 2
eix , x ∈ R obtém-se 2
sin x dx = Im = .
1+x 1+x −∞ 1+x e e

Luı́s V. Pessoa
Exemplos de Resoluções e Sugestões 161

Porque a função R 5 x → x sin x/(1 + x2 ) é par então


Z +∞ Z
x 1 +∞ x π
sin x dx = sin x dx = .
0 1 + x2 2 −∞ 1 + x2 2e

[sec. 4.4]

3. Para a alı́nea i) justifique as computações


Z ∞ Z ∞ ˆ ˜
L [f ] (z) = f (t)e−zt dt = f (t)e−zt dt = L f (z).
0 0

Para a alı́nea ii) suponha que L [Re f ] = Re L [f ]. Então da alı́nea anterior deduz-se L [f ] (z) = L [f ] (z). Assim
∂z L [f ] = ∂z L [f ] = 0 e logo ∂z L [f ] é constante. Necessariamente L [f ] = 0.

Luı́s V. Pessoa
Bibliografia

[1] L. Ahlfors, Complex Analysis, 3rd ed. McGraw Hill, 1979.

[2] Carlos A. Berenstein and Roger Gay, Complex Variables - An Introduction, 1991 Springer-Verlag
New York, Inc..

[3] B. Chabat, Introduction à l’analyse complexe. Tome I - Fonctions d’une variable, traduction
française, Editions Mir, 1990.

[4] J. Campos Ferreira, Introdução à análise matemática, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 3a
Edição.

[5] J. Campos Ferreira, Introdução à análise em Rn , DMIST, 2004.

[6] Theodore W. Gamelin, Complex Analysis, 2001 Springer-Verlag New York, Inc..

[7] Elon Lages de Lima, Curso de análise, Vol. 1, Instituto de Matemática Pura e Aplicada, Rio de
Janeiro, 1985.

[8] Elon Lages de Lima, Curso de análise, Vol. 2, Instituto de Matemática Pura e Aplicada, Rio de
Janeiro, 1985.

[9] Zeev Nehari, Conformal Mapping, Dover Publications, Inc., New York.

163
Índice

C-anti-diferenciáveis, 74 Critério de Abel, 47


C-diferenciável, 67 Critério de Dirichlet, 46, 47
C-linear, 71 Critério geral de comparação, 41
R-diferenciável, 71 Critério integral, 45
R-linear, 71 Curva de Jordan, 86
n-multi conexo, 105 Curva seccionalmente regular, 85
Cauchy-Riemann, 69, 83
Derivação da composta, 78
Riemann integrável, 86
Derivação do cociente, 76, 78
núcleo Poisson conjugado, 144 Diferenciabilidade em ∞, 117
Diferenciabilidade à Frechet, 71
Abel, 38 Dilatação, 26
Aberto, 21 Divisão de polinómios, 16
Absolutamente convergente, 40
Arco coseno polivalente, 65 Esquerda do circulo orientado, 29
Exterior, 21
Binómio de Newton, 68
Binómio de Newton, 34 Faixa horizontal, 60
Fechado, 21
Caminho, 85 Fronteira, 21
Caminho concatenação, 108 Função analı́tica, 51
Caminho fechado, 86 Função argumento, 11
Caminho seccionalmente regular, 85 Função de Heaviside, 136
Caminho simples, 86 Função derivada, 67
Cauchy-Riemann, 56 Função implı́cita, 73
Cesàro, 39 Função inteira, 51
!
Circulo em C, 27 Função meromorfa, 121
Cociente, 17 Função racional, 54
Compacto, 21 Função sinal, 13
Comprimento do caminho, 90 Fórmula de Euler, 59, 60
Conexo, 21 Fórmula de Pompieu, 97
Conforme, 72 fórmula integral de Cauchy, 106
Coordenadas polares, 82 fórmula integral de Cauchy generalizadas, 109
Coroa circular, 111 Fórmulas de Green, 96
Critério da raiz, 43 Fórmulas de Moivre, 11
Critério da razão, 44 Fórmulas integrais de Cauchy, 106

164
ÍNDICE 165

Grau, 15 Região de convergência, 51


Regras de derivação, 76, 81
Harmónica conjugada, 142 Resto, 17
Holomorfia, 83 Resı́duo, 120
Rotação, 26
Identidade entre polinómios, 15
Imagem simétrica, 25, 32
Seccionalmente contı́nua, 88
Integral impróprio, 97, 127
Segmento de recta, 85
Interior, 21
Semi-plano, 20
Inversão, 26
Semi-plano direito, 134
Irredutı́vel, 18
Sentido positivo, 93
Irredutı́vel sobre R, 18
Simplesmente conexo, 108
Laplaciano, 140 Simplesmente convergente, 40
Lineares-fracionárias, 26 Singularidade essencial, 125
Linha de ramificação, 64 Singularidade isolada, 120
Linha poligonal, 86 Singularidade removı́vel, 111
Logaritmo polivalente, 63 Sistema de caminhos, 95
Logaritmo principal, 64 Soma da série, 35
Soma de Cesàro, 39
Möbius, 26 Soma por partes, 46
Matriz Jacobiana, 71 Somas de Riemann, 87
Medida nula, 87 Somas superior, 87
Multiplicidade, 17 Sucessão das somas parciais, 33
Sucessão de Cauchy, 39
n-multi conexo, 96 Série, 35
Núcleo de Cauchy , 142 Série de Laurent, 120
Núcleo de Poisson, 143 Série de potências, 51
Série de Taylor, 109
Operador de conjugação, 142
Série geométrica, 33
Operadores de derivação, 69
Série harmónica, 39
Orientação, 29
Série telescópica, 33
Orientação positiva, 30
Séries de Dirichlet, 46
Parametrização, 85
Plano complexo, 8 Teorema da curva de Jordan, 86
Plano complexo compactificado, 22 Teorema de Green, 95
Polinómio, 15 Teorema de Laurent, 119
Potenciação, 64 Teorema de Liouville, 118
Produto convolução, 142 Teorema de Goursat, 101
Pólo de ordem k, 124 Teorema de Morera, 106
Teorema dos resı́duos, 121
Raio de convergência, 52 Teorema fundamental, 90
Razão incremental, 54 Teste de Weierstrass, 103
Recta no plano complexo compactificado, 27 Trabalho, 95
Redutı́vel, 18 Transformada de Laplace, 134

Luı́s V. Pessoa
166 Índice

Translação, 26
Trigonométricas hiperbólicas complexas, 62

Zero de multiplicidade k, 123


Zero de ordem k, 123
Zero do polinómio, 17

Índice, 92

Luı́s V. Pessoa
Índice de Simbolos

C ∞ (U ), 56 cos z, 61
C n (U ), 55 cosh z, 62
Cr (t), 142 ∂z , ∂z , 69
D(∞, r), 22, 115 dw, 88
D(w, δ, (), 111 dz, 88
D(w, ρ, r), 115 E(α; R+ ), 134
D(w, r), 21 ext U , 21
D(w, r, ∞), 115 γ = γ0 + · · · + γn ,, 95
Dw (w, (), 120 γ − , 89
88
I(γ, z), 92 dA(w), 96
Jf (x, y), 71 ∞, 22
P C, 88 9. , .:, 95
Pr (t), 143 int U , 21
Qr , 0 < r < 1, 144 ins γ, 86
8b
Rξ , 20 f (t) dt, 88
8a
Rξ,η , 20 γ
f (w) dγ(w), 95
Sn , 33 Ln z, 63
Uw , 111 ln ]a,b ] , 63
Uz,$ , 97 ln z, 64
Xα , 134 C, 7
!
Y ]a,b ] , 60 C, 22
[z1 , z2 , · · · , zn ], 86 D, 142
!
exp (x), 57 R, 27
∆, 140 |dw|, 89
Im z, 7 out γ, 86
Π, 20 ∂D(w, r), 21
Πξ,η , 20 ∂U , 21
Re z, 7 Res(f ; w), 120
cl D(w, r), 21 sin z, 61
cl U , 21 sinh z, 62
C γ , 86 L [f ] (z), 134
H(U ), 83 <, 142
u
R(γ), 88 e, 53
R([a, b]), 88 ez , 53

167
168 Índice de Simbolos

eix , 59
f ' (z), 67
f ∗ g, 142
f (n) (z), 67
g ' (∞), 117
i, 7
iR, 7
z
lw , 100
p(z), 15

(z ; z1 , z2 , z3 ), 28
z α , 64

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