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Agência de Jornalismo Investigativo

REPORTAGEM

No Pará, famílias expulsas pela Vale agora


brigam contra a Hydro
Nailana Thiely/Agência Pública
Para
 MENUapostar na agricultura tradicional, comunidade do Tauá enfrentou
a vigilância de drones, destruição das casas e poluição tóxica

15 de agosto de 2018 Texto: Jessica Mota | Fotos: Nailana Thiely

O visitante desavisado que pega a PA-483 em Barcarena, ilha próxima a Belém


do Pará, nem imagina o que se esconde por trás da floresta que margeia a
estrada. A rodovia de duas mãos e duas pistas, sem acostamento, é rota de
caminhões que vão e voltam dos portos de escoamento de multinacionais que
exportam grãos, bois e alumina – substância-base do alumínio –, produções de
muito peso na balança comercial brasileira.
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A área verde do Tauá é alvo da exploração ilegal de madeireiros-denunciam os agri

Por trás das árvores e em cima de igapós e nascentes está uma enorme bacia que
guarda resíduos químicos da maior indústria do mundo na produção de
alumina: a Alunorte, que desde 2010 deixou de ser controlada pela Vale para ser
controlada pela Hydro, empresa do governo norueguês.

A fábrica é responsável por extrair bauxita e exportar alumina, retirada no


Projeto Grande Carajás (no sudeste do Pará). Já a bacia se chama DRS2 e
funcionava em regime de testes até maio, quando a Justiça Federal proibiu seu
funcionamento.

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Os supersalários das Forças


Armadas
ossa reportagem levantou todos os
os de militares e encontrou centenas
ma do teto, indenizações de mais de
00 mil e valores milionários pagos no
exterior
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Comunicação pública, lógica
privada
re os políticos que os contratam e a
ulação que paga seus salários, com
m está a lealdade dos assessores de
imprensa do Estado brasileiro?

Ela é como uma piscina gigante de estimados 264 campos de futebol, cavada
acima do solo, com 50 metros de profundidade. Essa piscina abriga a lama
vermelha, a matéria que contém metais pesados, retirada do solo em Carajás e
descartada depois que a bauxita é separada.

É ali perto do depósito de resíduos que passa o rio Tauá. E no entorno da piscina
de lama vermelha repousam castanheiras, pequizeiros, bacurizeiros e outras
árvores que contam histórias invisíveis aos recém-chegados. Só quem viveu ali
metade da sua vida consegue reconhecer os resquícios de sítios e roças antigas
das famílias que formavam a comunidade do Tauá até os idos dos anos 1980.
“Nos criamos, todos nós, trabalhando na roça. Fomos criados com carne de caça
e peixe. Nós caçava aqui no meio dessa mata, tinha muita carne. Nós matava
paca, tatu, cotia… Papai levava pra preparar pra nós comer”, lembra Manoel
Dias, de 65 anos, um jovem senhor de olhar vívido e cabelos prateados. Com voz
firme, lembra com detalhes sua ligação com este lugar: “Nasci duas horas da
madrugada e quinze minutos, no rio Tauá. Meu pai pegou meu umbigo e
colocou lá no toco”.

Manoel Dias é uma das principais lideranças de uma comunidade que resolveu
fazer o caminho de volta e retomar uma área da qual famílias foram expulsas
para dar lugar à alumina e ao rejeito tóxico em plena Amazônia. Junto com ele,
dezenas de outras famílias expulsas de outros projetos na região vivem em casas
de madeira simples, sem muros, com cozinhas e banheiros externos.
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Manoel Dias é um dos sobreviventes do Tauá que viveu as remoções quando a Vale do Rio Doce chegou para co

Como tudo começou


Quando
 MENU a então estatal Vale do Rio Doce, que era dona do complexo Albras- 
Alunorte, chegou, aliada ao grupo de empresas japonesas NAAC – Nippon
Amazon Aluminium – para instalar a maior fábrica de produção de alumina do
mundo, os moradores do Tauá foram pegos de surpresa. “Nessas reuniões, o que
eles falavam? ‘Olha, nós vamos precisar dessa terra todinha, que isso aqui vai
ser uma área de preservação ambiental e vocês não podem ficar aqui dentro’”,
conta Manoel. Ao todo, foram desapropriados 6.104 hectares.

Segundo um levantamento da Secretaria Municipal de Ordenamento Territorial


de Barcarena, foram removidas 513 famílias de 16 comunidades; não há registro
da localidade de 19 famílias. O Tauá foi de onde saiu mais gente: 73 famílias. De
acordo com levantamento da Associação de Desapropriados de Barcarena, 90
famílias – 17,5% do total –não foram indenizadas.

As famílias que estavam no Tauá foram morar em ocupações e bairros novos e


sem infraestrutura em Barcarena e na grande Belém. “As pessoas foram se
espalhando, mas viram que o dinheiro era muito pouco, foram questionando.
Muitas pessoas, como as do Tauá, não receberam a indenização”, contextualiza
o professor e pesquisador do serviço social da Universidade Federal do Pará
(UFPA) Marcel Hazeu, que há oito anos pesquisa a situação das comunidades
atingidas pelos projetos industriais.
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A comunidade do Tauá foi reerguida a sete km da DRS2, a segunda bacia que abriga resíduos

Mesmo as famílias deslocadas ainda utilizavam a floresta como principal fonte


de sobrevivência. “As comunidades do rio Tauá e as comunidades do rio
Murucupi e do rio Dendê viviam da pesca, coleta de frutas, plantação de roça e
de caça. Esse modo de vida não se restringe a um lote. As áreas de roça eram
bem distantes do rio. Isso sofreu muitas mudanças quando a indústria chegou”,
explica o pesquisador Hazeu. “Fizeram assentamentos que criaram situação de
extrema pobreza e fome. Muitas pessoas que estão hoje no Tauá saíram [dos
assentamentos] porque não tinham condições de sobreviver.”

A Alunorte começou a operar em 1995, quando a população que habitava os


bairros planejados pelo projeto já era maior que o previsto. Antes dela, a Albras
operava desde 1985.
Em 1989, 450 pessoas entraram com um processo na Justiça contra a
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Companhia de Desenvolvimento Industrial do Pará e a Companhia de
Desenvolvimento de Barcarena, empresas públicas de âmbito estadual e federal,
respectivamente, que então foram responsáveis pela remoção e indenização das
famílias.

Entre os que moviam o processo, como indica a sentença, havia aqueles que não
conseguiram comprovar suas posses conforme o requerido (163 pessoas); os que
comprovaram e foram indenizados, mas questionavam os valores e pediam
complementação (60 pessoas); e aqueles que não receberam indenizações de
nenhum tipo (227 pessoas).

A primeira decisão, no tribunal federal em Belém, foi a favor dos últimos dois
grupos, totalizando 287 pessoas que comprovaram a posse. O juiz Henrique
Dantas da Cruz decidiu ainda que, além dos valores relativos às casas e
plantações que haviam recebido parte das pessoas, cabiam indenizações pela
“desagregação social causada pela perda da terra” e pela impossibilidade de
explorar os recursos da floresta.

Entre 1997 e 2006, as companhias questionaram a decisão do juiz de Belém


junto ao tribunal de segunda instância em Brasília. O juiz Gláucio Maciel
Gonçalves, então, respondeu que aquelas famílias que haviam recebido
indenizações não poderiam mais questioná-las.

Mas decidiu a favor daquelas que não haviam recebido nenhuma indenização –
e negou indenização pela perda da floresta e desagregação social pelas
diferentes situações de vida dos autores do processo. Em 2007, as empresas
moveram ações para tentar anular o processo, mas em 2012, outro juiz federal,
Olindo Menezes, analisou e negou os pedidos das empresas. Em 2014, o
processo foi suspenso e ainda hoje as indenizações não foram pagas.

De volta ao Tauá
A
 cerca
MENU de 7 km da DRS2, a bacia de resíduos minerais da Hydro, se erguem 
casas de madeira onde também crescem as plantações de mandioca, milho,
arroz, feijão, banana, açaí, muruci e goiaba; e as vidas dos agricultores do Tauá.

As manhãs começam com banhos no igarapé e café forte. Faz dois anos que
Manoel Dias decidiu retornar e viver no Tauá, em 2016. Com ele, vieram 182
famílias. Criaram o Assentamento dos Agricultores das Famílias Tradicionais da
Amazônia do Rio Tauá. Entre as famílias estão remanescentes da comunidade,
descendentes dos antigos moradores da área e pessoas de outras comunidades
que foram perdendo espaço com a crescente atividade industrial na ilha de
Barcarena. “As comunidades tinham relação muito próxima uma da outra.
Muitas pessoas eram de outras áreas de onde foram retiradas e formavam um
sistema. Elas voltaram para um terreno que fazia parte do sistema”, pontua o
professor Hazeu.
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No assentamento do Tauá os agricultores exibem a produção de arroz

O retorno se deu depois de anos de espera. “Várias pessoas saíram pra


Barcarena-sede, CDI, que é uma colônia, aqui pro [bairro de] Conde,
Itupanema, se espalhamos dentro do município. Até então, queriam levar os
nossos parentes pra fora do município, que não era pra haver esse processo de
volta pra terra. Nossos parentes morreram com depressão, com saudade da
terra, morreram assim desesperados porque sabiam que nunca mais iam voltar
pras terras”, conta Carlos Espíndula, de 48 anos, outra liderança do
assentamento. “Aí, esperando sair essa indenização, como não saiu, mediante
esse processo todo, nós se reunimos como família tradicional: ‘Vamos voltar pra
terra que ainda resta nossa’.”

Dona Maria Marcolina, agricultora de 67 anos, está há um ano e seis meses no


Tauá. Antes morava no bairro Laranjal, formado a partir das remoções forçadas
nos anos 1980. Vivia num terreno de 10 x 30 metros, onde não podia plantar o
suficiente para sua subsistência. Com ela, moram os três filhos. “A terra aqui é
muito maravilhosa, o que você plantar aqui dá”, fala em meio a sorrisos durante
a colheita do milho, atividade em que se ocupava quando a reportagem se
aproximou.
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Maria Marcolina morava no bairro Laranjal em um terreno 10×30 antes de ir para


Segundo
 MENU o projeto original da Albras-Alunorte, 536 hectares seriam destinados
à criação de uma colônia agrícola. O restante da área próxima ao rio Tauá se
tornaria uma área de reserva ambiental da empresa. De fato se tornou, mas só
no papel. A realidade é outra: há décadas a mata ali é explorada por madeireiros
ilegais e caçadores. “Existe vários ramal de madeireiros. Até hoje a gente tem
uma luta com os madeireiros. Somos ameaçados por eles. A gente já tiramos
vários madeireiros [da terra]. Temos foto, já fizemos várias denúncia tanto na
delegacia do município como na delegacia de meio ambiente”, ressalta Carlos
Espíndula.

Em dois anos, os moradores do assentamento já fizeram três registros na Polícia


Civil para denunciar a extração ilegal. A Pública entrou em contato com a
Polícia Civil do Pará para verificar o andamento das ocorrências, mas não obteve
resposta até a publicação deste texto.

Ainda assim, a vida em meio às nascentes e aos igarapés contrasta fortemente


com a vida em outras comunidades de Barcarena, como as cinco comunidades
quilombolas reconhecidas pela Fundação Palmares – São Sebastião de
Burajuba, Sítio Conceição, Sítio Cupuaçu/Boa Vista, Sítio São João e Sítio
Debriê/São Lourenço. As comunidades quilombolas são formadas por pequenos
sítios e casas, separadas por cercas e ruas. No Burajuba, por exemplo, existem
criações de animais, pequenos comércios e alguns pomares, já prejudicados pela
contaminação das águas do rio Murucupi, que atravessa a comunidade em toda
a sua extensão. As frutas ficam podres ainda no pé. Os animais adoecem e
morrem.

No Tauá, onde a mata é mais farta, as plantações ainda crescem saudáveis na


aparência e em abundância.

“Hoje a gente tá tentando resgatar o pouquinho que sobrou. A gente tá tentando


levantar, reerguer a vida, voltar à nossa tradição, que é a agricultura. É o
plantio”, explica Midian Ribeiro, de 40 anos, que vive no Tauá com o marido e
dois filhos. “Esse ano a gente tem uma produção boa de arroz, estamos
plantando a mandioca.” A agricultura divide espaço com a criação de pequenos
animais, como galinhas e patos. A fartura que ali brota parece anunciar
esperança de uma vida mais digna.
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“A gente tá tentando reerguer a vida e voltar à nossa tradição, que é a agricultura”, fala Midian Rib
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Ameaças e drones

No começo foi mais duro. Carlos Espíndula, que mora com a esposa – cuja
família também foi removida para a implantação da Alunorte –, conta que a
Hydro mandava drones para vigiar as famílias logo quando ocuparam a área, em
2016. “Era todo dia, era terrível. Até minha mãe foi pega saindo do banheiro
com a toalha. Ela saiu do banheiro e o drone bem em cima da casa dela lá”,
lembra.

Procurada pela reportagem, em resposta, via assessoria de imprensa, a Hydro


informa que a área “é de propriedade da Alunorte e integra o Distrito Industrial
de Barcarena” e que “a empresa busca sua reintegração dentro dos devidos
trâmites legais”. A mineradora afirma que a reintegração de posse foi efetuada
em 2017. “Importante ressaltar que, na ocasião, não havia casas nessa área,
apenas uma serraria e estrutura de apoio”, declaram. “A reintegração foi
acompanhada por observadores externos independentes, com foco na garantia
dos direitos humanos. Cerca de um mês depois da reintegração determinada
pela Justiça, a área foi novamente invadida”.

Em outro momento, quando policiais estavam na área para tentar impedir a


consolidação da comunidade, ele conta ter sido ameaçado por um PM. “A gente
tava fazendo aquela guarita lá [na entrada da comunidade]. Eu peguei a draga
que foi pra cavar um buraco do esteio, aí ele tomou da minha mão e eu pedi pra
ele, que aquele era o meu material de trabalho”, lembra. “Ele pegou a arma e
disse: ‘Esse aqui é o meu trabalho também’. E engatilhou a arma. Eu disse:
‘Bom, já que é o seu material de trabalho, então use’. Aí foi que o comandante, o
capitão, major, não me recordo, falou com ele. Ele pegou e desengatilhou a
arma.”
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Em 2016, antigos moradores do Tauá se juntaram a outros agricultores para reocupar definitivamente as terr

Em outubro de 2016, a Hydro entrou com um processo de reintegração de posse


na área e venceu em primeira instância. O processo correu na 2ª Vara Cível e
Empresarial de Barcarena e foi decidido pela juíza Gisele Camaro Leite. As
famílias entraram com recurso para questionar a competência da juíza que
julgou o processo. Para as famílias, o tema deveria ser julgado por uma vara
agrária,
 MENU que trata de questões de terra coletiva em área rural. A juíza não 
concordou. Na decisão de abril de 2017, ela relata que não encontrou “qualquer
preparo da terra destinado ao plantio e/ou criação de animais” quando visitou a
área. Argumenta também que, ainda que sejam várias pessoas processadas, o
tema não envolve questão coletiva, mas individual.
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A família de Carlos Espíndola foi removida nos anos 80 para a criação do complexo Albras Alunort

O argumento da juíza se baseia no Plano Diretor de Barcarena, lei que


estabelece os diferentes usos do solo na cidade. Uma parte da mata do Tauá,
antes reservada apenas para proteção ambiental, foi transformada numa revisão
do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Barcarena em área de
expansão urbana, destinada a atividade industrial. Essa revisão foi publicada
como lei complementar no dia 17 de outubro de 2016. No dia seguinte, a Hydro
entrou com esse pedido de reintegração de posse contra os moradores do Tauá.

Nesse meio-tempo, munida da decisão dada em caráter de urgência e antes que


fossem julgados os pedidos de revisão da decisão, funcionários da empresa
foram à área e destruíram as casas e pontes que os assentados do Tauá haviam
construído. As famílias haviam saído da área quando isso ocorreu e retornaram
em maio de 2017. Começaram a refazer as roças, reconstruir as casas e pontes.

Foi também em 2017 que as famílias foram procurar o Ministério Público


Federal. Em junho daquele ano, relataram ao procurador Patrick Menezes que
seus pais, mães, tios e tias foram expulsos da área para a construção do
complexo Albras-Alunorte sem indenização. Contaram também que fazia cinco
meses que haviam retornado à área e foram impedidos de permanecer pelo
processo movido pela Hydro.
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De acordo com o Plano Diretor de Barcarena, a área em litígio com os moradores do Tauá é destinada a e
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A atividade da Hydro em Barcarena foi embargada em 50% após o despejo irregular de resíduos

O relato originou uma investigação na procuradoria que trata de temas ligados


aos direitos indígenas e de comunidades tradicionais, de responsabilidade do
procurador Felipe Palha, que acompanha o caso desde fevereiro deste ano. O
relato das famílias de outra comunidade atingida pela expansão industrial, a
Acuí, também originou investigação no órgão.
Os dois inquéritos buscam averiguar o dano causado pela omissão das
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instituições responsáveis pelas remoções das comunidades São Sebastião,
Japiim, Santa Rosa e Tauá na década de 1980. As investigações começaram em
2017 e ainda aguardam a conclusão de estudos antropológicos e a resposta de
diversos órgãos do governo brasileiro.

“Eles falavam em reunião pra nós que nós ia ser privilegiado com colégio, com
saúde, com não sei o que mais… Na época, tudinho eles prometeram pra nós,
nas reuniões lá dentro pra nós poder sair de lá”, lembra Manoel Dias. “Não
cumpriram com nada. Infelizmente, não. Só foi publicado pra nós flores. Mas
infelizmente essas flores… Está aí o fruto hoje acontecendo com nós.”

A contaminação cada vez mais perto

Manoel se refere à maior ameaça que paira hoje sobre o Tauá e outras
comunidades tradicionais de Barcarena: a contaminação e poluição do solo e da
água. Em um lugar onde se busca reconstruir a vida a partir da terra, é
fundamental que ela tenha saúde. O alarme que soou ao mundo em fevereiro
deste ano, quando Barcarena se fez presente nas manchetes de jornais – na
madrugada do dia 16 para 17 de fevereiro, as famílias que vivem próximas à área
onde estão as bacias de rejeitos da Hydro viram a lama vermelha tomar conta de
seus quintais e poços artesianos – não é o primeiro.

No Tauá, ao caminhar pelo igapó que tem seu curso em direção à DRS2 – ainda
úmido no verão paraense –, Carlos Espíndula e Manoel Dias indicam os
resquícios da invasão da lama vermelha que ocorreu em fevereiro. No chão, é
possível ver sacos de areia revirados em meio à terra colorida de vermelho. Um
relatório interno da força-tarefa convocada pela Hydro relata o uso de sacos de
areia ao redor da DRS1 como medida de segurança para um possível
transbordamento.

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Rio de Janeiro em primeiro lugar, mas
informação enviada pela Secretaria de
Segurança Pública do Amapá estava
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também estão equivocados
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No igapó que está ao lado da DRS2 é possível ver sacos de areia e terra de coloração

Após as denúncias das comunidades, a Hydro foi alvo de nove ações da


Secretaria de Meio Ambiente do Pará, entre notificações e registros de infrações.
Uma das primeiras, feita logo no dia 16 de fevereiro, identificou um duto
irregular que saía da DRS2 e despejava direto na floresta água da chuva
acumulada na bacia de rejeitos, sem tratamento.

Em março, o Instituto Evandro Chagas, do Ministério da Saúde, divulgou


relatório de sua avaliação química das 36 amostras coletadas entre 25 de
fevereiro e 19 de março nos igarapés próximos às bacias de rejeitos e nos
arredores e dutos da fábrica. Os índices de alumínio e ferro dissolvidos num
igarapé tributário do Tauá, nos rios Pará, Guajará do Beja, Arapiranga e nos
igarapés Curuperê e Dendê estavam bem acima dos limites estipulados pelo
Conselho Nacional do Meio Ambiente em 2005. Os níveis de arsênio, chumbo e
cromo, metais tóxicos, também estavam acima do estipulado em alguns pontos
desses cursos d’água. “Os resultados nestas áreas foram indicativos que as águas
superficiais destes rios não poderiam naquele momento ser usadas para
recreação, pesca ou consumo humano”, conclui o relatório.
Esse é só mais um capítulo na história dos “filhos de Barcarena”, como se
 MENU 
referem os moradores nascidos na cidade. A diferença é que agora a notícia se
espalhou. O documento “Barcarena Livre Informa” – um informativo do
Movimento Barcarena Livre, que reúne pesquisadores do Ibase e da UFPA –
imputa às empresas do complexo Albras-Alunorte e à mineradora de origem
francesa Imerys (que exporta caulim, minério usado em tintas, papéis e
cosméticos) a maior parte de 17 ocorrências de contaminações e crimes
ambientais registradas em 18 anos.

Como consequência, as famílias das comunidades no entorno passaram a ter


dificuldades para pescar, criar animais e plantar. Além disso, muitos moradores
associam o surgimento de doenças de pele, câncer e problemas digestivos à
poluição.

“Eles precisam fazer novas bacias e pra onde vão fazer? Avançando sobre a área
do Tauá”, argumenta o professor Hazeu. “Como chove muito e eles usam muita
água nos processos industriais, então constroem suas bacias sempre em cima
dos rios e de suas cabeceiras. A Imerys está em cima do rio Curuperê e a Hydro
em cima do Murucupi, e a segunda bacia [DRS2] tá na beira do rio Tauá. Se vão
ampliar, vão por cima do rio Tauá. Vão avançando sobre os rios dos quais as
pessoas dependem pra sobreviver.”
Décadas
 MENU de expulsões 

A cidade de Barcarena se tornou na última década um importante polo


logístico para a indústria da mineração e de grãos. Além das fábricas de
mineradoras multinacionais como a Hydro e a Imerys, a ilha passou a
abrigar portos de escoamento de grãos da multinacional Bunge e da
Hidrovias do Brasil.

Os dados mais atualizados do IBGE mostram que toda a produção de


Barcarena em 2015 somou mais de R$ 5,5 bilhões, um recorde. Esse valor
era de cerca de R$ 2 bilhões em 2012. A atividade industrial é a que mais
contribui para a cifra. A cidade representa o quinto maior polo de produção
do estado do Pará. Em 2015, isso equivaleu à produção de R$ 4,7 milhões
por habitante.

Marcel Hazeu, pesquisador da UFPA que estudou as migrações na cidade de


Barcarena, mostra em sua pesquisa que a expansão das indústrias promove
até hoje os deslocamentos forçados. As famílias vão ocupar áreas ainda
desocupadas no município, se somam aos bairros e ocupações já existentes
ou migram para cidades próximas, como Belém e Abaetetuba.

De acordo com o levantamento na pesquisa de Hazeu, desde os anos 1970


até 2013 foram 1.132 famílias expulsas. Além da criação do complexo Albras-
Alunorte, a Usipar, a Zona de Processamento para Exportação, a Companhia
de Alumínio do Pará, a Tecop (Terminais de Combustíveis da Paraíba), a
Imerys e a Hidrovias do Brasil tiveram responsabilidade nas expulsões.
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Os deslocamentos são acompanhados do alto crescimento populacional na


cidade. Ao longo do tempo, outros moradores também foram chegando,
entre operários, investidores e negociantes. A população quase triplicou em
20 anos, passando de 17.498 moradores na década de 1970 para 45.946 na
década de 1990. Em 2010, já eram 99.859 habitantes em Barcarena. Na
estimativa lançada em 2017, o IBGE estipula a população municipal em
121.190 pessoas. Isso representa sete vezes a quantidade de gente que havia
na ilha de Barcarena há 48 anos.

Esta reportagem foi nanciada e escolhida pelos 1134 apoiadores do


projeto Reportagem Pública 2017
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