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da instituição
escolar: análise
e reflexões.*
Cecília Maria B. Coimbra **
A
credito ser de fundamental
importância para nós, traba-
lhadores em educação, no
sentido de tornar nossa atua-
ção um pouco mais crítica, que re-
pensemos sobre as funções que a ins-
tituição escolar exerce em nossa so-
ciedade.
Tal enfoque da Escola nos deve
auxiliar não somente a entender me-
lhor o cotidiano do nosso trabalho,
como também nos alertar para as
múltiplas armadilhas que a todo mo-
mento sào montadas e nas quais mui-
tas vezes caímos sem mesmo perce-
ber.
Tentaremos mostrar como são
ingênuas e mesmo idealistas as visões
que nos apresentam da instituição
escolar. Visões essas que estão clara-
mente marcadas pelos mitos da igual-
dade social e oportunidades para to-
dos, da neutralidade e cientificidade,
que principalmente a Escola se in-
cumbe de fortalecer e desenvolver.
Mitos que colocam a Escola acima da
luta de classes, isolando-a de uma
formação social específica.
Ao longo de vários anos como
professora e psicóloga pude notar que
nós, trabalhadores em educação, te-
mos nossa formação acadêmica mar-
cada por vícios e lacunas que têm cla-
ramente um objetivo político-ideoló¬
gico. Somos os profissionais, muitas
vezes, do superficial: enfatizamos a
relação professor/aluno, a melhoria
dos currículos, a modernização das
técnicas e métodos de ensino, desvin¬
culando-os de todo um contexto his-
liação é considerada patrimônio ex- Apesar da angústia que este pa- Ciclo de Debates sobre a Deficiência. Universi-
clusivo do professor e um fim em si norama da Escola pode nos trazer, é dade Federal Fluminense, 1985. (Para apro-
fundamento maior sobre a utilização dos testes
mesmo. Estão também presentes nos importante que possamos perceber psicológicos na Escola).
testes psicológicos aplicados por que as instituições produzidas para 4. BAUDELOT, C. & Establet, R. — L'Ecole
muitos de nós, para verificar se os alu- preservar as estruturas capitalistas, Capitaliste en France — Paris, Maspero,
nos estão maduros ou não para serem podem também ser utilizadas para 1971.
5. BOUDIEU, P. & PASSERON, J . C — A Repro¬
alfabetizados, para homogeneizar as minar estas mesmas estruturas. É o ducão: Elementos para uma teoria do siste-
turmas, através do quociente intelec- que Gramsci (9) denomina de con¬ ma de ensino Rio de Janeiro, Francisco Alves,
tual e mesmo para diagnosticar se são tra-ideologias, que a todo momento 1975.
normais ou anormais os portadores circulam nos mais diferentes espaços 6. COIMBRA, C.M. B. — Desvios e Lacunas
na formação do Psicólogo: a quem servem?
das chamadas dificuldades de apren- da Escola. Há que fortalecê-las e ex- Revista Pro-Psi, Conselho Regional
dizagem. Não pretendo entrar em de- pandi-las para que uma pedagogia de de Psicologia, 5 (6): 10.11, ano 2, setembro,
talhes sobre a origem positiva, as emancipação possa assumir força po- 1985.
funções ideológicas e de controle dos lítica. 7. ESTABLET, R. — A Escola In. As Institui-
ções e os Discursos.. — Revista Tempo Brasi-
testes psicológicos (3), mas acredito Sem negarmos as dificuldades leiro, Rio de Janeiro, (35): 93-125, out/dez.
ser importante enfatizar que tais tes- de uma atuação mais crítica na insti- 1973.
tes são construídos tendo por base tuição escolar, ousamos afirmar que 8. FOUCAULT, M. — Microfisica do Poder, Rio
conteúdos desvinculados da realidade de Janeiro, Graal, 1979.
é trabalhando e aprofundando tais 9. GRAMSCI, A. — Os intelectuais e a Organi-
brasileira e uma amostragem perten- contradições (sem camuflá-las e/ou zação da Cultura — Rio de Janeiro, Civiliza-
centes às classes média e alta. Princi- neutralizá-las) que podemos criar e ção Brasileira, 1982.
palmente os testes de inteligência são aumentar gradativamente novos es- 10. HARPER, B. et alii— Cuidado, Esco¬
instrumentos utilizados para discri- la! São Paulo, Brasiliense, 1980, p. 2 5 / 2 6 .
paços de luta dentro da Escola. 11. PATTO; M. H. de S. — Psicologia e Ideolo-
minar as crianças oriundas de classes Tentamos no nosso cotidiano gia: uma introdução crítica à psicologia es-
populares que são vistas como menos articular as lutas que ocorrem dentro colar São Paulo, T.A. Queiroz. Editor, 1984.
inteligentes que as demais. Assim, da Escola com as lutas na sociedade (Tese de Doutorado).
mais uma vez utilizando instrumen- 12. POULANTZAS, N. — A Escola em Questão
em geral, pois percebemos que se lo- In. As instituições e os Discursos - Revista
tos considerados científicos, os técni- calizarmos e especificarmos demais Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, (35): 126-
cos dão seu aval e ajudam a naturali- um problema, recortando-o e isolan¬ 137, out/dez. 1973.