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net/publication/299982122

Isolantes térmicos produzidos a partir de resíduos sólidos industriais

Article  in  Cerâmica · April 2016


DOI: 10.1590/0366-69132016623611911

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6 authors, including:

S. Arcaro Francielly Roussenq Cesconeto


Universidade Federal do Rio Grande do Sul Federal University of Santa Catarina
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Bianca Goulart de Oliveira Maia C. Siligardi


Federal University of Santa Catarina Università degli Studi di Modena e Reggio Emilia
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ISSN-0366-6913

ÓRGÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CERÂMICA - ANO LXII - VOL. 62, 361 - JAN/FERV/MAR 2016
Cerâmica 62 (2016) 32-37 http://dx.doi.org/10.1590/0366-69132016623611911 32

Isolantes térmicos produzidos a partir de resíduos sólidos industriais

(Thermal insulators produced from industrial solid wastes)


S. Arcaro1,3, A. Albertin3,4, F. R. Cesconeto1,3, B. G. de Oliveira Maia1,3*,
C. Siligardi4, A. P. Novaes de Oliveira1-3
1
Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PGMAT)
2
Departamento de Engenharia Mecânica (EMC)
3
Laboratório de Materiais Vitrocerâmicos (VITROCER)
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Campus Universitário - Trindade, Florianópolis, SC 88040-900
4
Università degli Studi di Modena e Reggio Emilia (UNIMORE), Modena, MO, Itália
*bianca.maia@outlook.com

Resumo

Composições contendo dois diferentes tipos de resíduos, vidro de garrafas transparentes, VGT (50-70%), e lodo de estação de
tratamento de efluentes, ETE (30-50%), e formador de poros, CaCO3 (2-10%), foram preparadas para a produção de isolantes
térmicos para fins estruturais. As matérias-primas das composições formuladas foram, em uma etapa posterior, misturadas,
compactadas uniaxialmente a 40 MPa e, após secagem (110 °C/2 h), queimadas entre 750 e 1000 °C com patamares de 15 a 60
min. As matérias-primas e os materiais obtidos foram caracterizados do ponto de vista de suas propriedades químicas, físicas e
microestruturais. Os resultados obtidos mostraram que é possível produzir isolantes térmicos, a partir de composições otimizadas
contendo 70% de VGT, 30% de lodo de ETE e 5% de CaCO3, queimados entre 750 e 1000 °C/60 min, os quais apresentaram
porosidades entre 3 e 62% com condutividades térmicas entre 1,25 e 0,5 W/m.K e com resistência à compressão entre 8,7 e 5,4 MPa.
Os materiais obtidos são fortes candidatos em aplicações estruturais tais como painéis para isolamento térmico, os quais requerem
uma combinação adequada de condutividade térmica, porosidade e resistência mecânica.
Palavras-chave: materiais porosos, resíduos sólidos, vidros, cerâmicas.

Abstract

In this work compositions containing two different wastes, transparent glass bottles, TGB (50-70%), and sludge from sewage
treatment plants, STP (30-50%), and pore forming, CaCO3 (2-10%), were prepared for the production of thermal insulators. The
mixed raw materials of the formulated compositions were uniaxially pressed (40 MPa) and the powder compacts were dried (110
°C/2 h) and fired in the temperature range between 750 and 1000 °C with holding times from 15 to 60 min. The raw materials and
obtained materials were characterized in terms of their chemical, physical and microstructural properties. The results showed
that it is possible to produce thermal insulators from optimized compositions containing 70% TGB, 30% STP and 5% CaCO3 and
fired between 750 and 1000 °C for 60 min. The fired materials showed porosities between 3 and 62% with thermal conductivities
between 1.25 and 0.5 W/m.K and compressive strength ranging from 8.7 to 5.4 MPa. On the basis of the obtained results it can be
said, in general terms, that obtained porous materials are strong candidates for structural applications such as panels for thermal
insulation which require an adequate combination of thermal conductivity, porosity and mechanical strength.
Keywords: porous materials, solid waste, glass, ceramics.

INTRODUÇÃO apresenta uma baixa condutividade térmica (0,026 W/mK) a


27 °C [1]. Neste caso e considerando a convecção e a umidade
Isolantes térmicos são materiais que possuem baixa presentes em sistemas com ar confinado, os quais aumentam
condutividade térmica. Quando as temperaturas de serviço a condutividade térmica, uma solução técnica é a utilização
são maiores que a ambiente, os materiais tipicamente de materiais porosos ou celulares com poros fechados, tal que
empregados são os cerâmicos. Neste caso, dependendo da o ar ou outros gases da decomposição de agentes espumantes
composição química e da estrutura de poros do material, ou formadores de poros permaneçam enclausurados e
a condutividade térmica e a refratariedade podem variar estanques no interior dos poros formados. As cerâmicas
significativamente, possibilitando assim a seleção de porosas, incluindo-se os vidros, são materiais relativamente
materiais com propriedades adequadas para aplicações frágeis de elevada porosidade que apresentam estrutura
específicas. O melhor isolamento térmico é o vácuo. Todavia, celular com poros fechados, abertos ou interconectados
devido às dificuldades para obtê-lo e mantê-lo, sua aplicação [2]. O crescente interesse pelas cerâmicas porosas tem sido
é limitada. A solução prática é a utilização de ar que também associado principalmente às suas propriedades específicas
33 S. Arcaro et al. / Cerâmica 62 (2016) 32-37

como elevada área superficial, elevada permeabilidade este efluente líquido, após o processo de filtro-prensagem,
(caso das cerâmicas com poros abertos), baixas densidade gera enormes quantidades de resíduos, isto é, cerca de
e condutividade térmica, as quais estão ainda relacionadas 30 t/mês [9]. O lodo cerâmico é principalmente constituído
com características próprias dos materiais cerâmicos, como de sílica, alumina e alguns metais pesados e, por esta razão,
elevadas refratariedade e resistência a ataques químicos. sendo classificado como resíduo perigoso segundo a Norma
De fato, por causa destas propriedades, estas cerâmicas ABNT-NBR 10.004 [10].
encontram aplicações tecnológicas, tais como filtros, Desta forma, a reciclagem do resíduo pode desempenhar
isolantes térmicos, membranas, sensores de gás, suportes um importante papel na economia de matérias-primas
catalíticos, material estrutural leve, materiais para implantes naturais e na diminuição da poluição ambiental [11, 12].
ósseos, entre outras [3, 4]. Entre os materiais normalmente Isso pode ser conseguido por meio da substituição de uma
utilizados para a fabricação de materiais porosos, pode- ou mais matérias-primas da composição original por lodo
se citar alumina, mulita, carbeto de silício, zircônia cerâmico, respeitando-se as características tecnológicas do
parcialmente estabilizada, hidroxiapatita e alguns sistemas processo e as propriedades do produto [13]. Neste sentido,
compósitos, tais como carbeto de silício-alumina, alumina- tem-se buscado diversas alternativas de reaproveitamento do
zircônia, alumina-mulita, mulita-zircônia [5-7]. Além lodo cerâmico, como na fabricação de produtos de cerâmica
disso, existe a possibilidade de se obter materiais porosos vermelha (tijolos e telhas) [14], na produção de esmaltes
a partir de materiais vítreos ou parcialmente cristalinos, de baixa densidade para aplicação a disco em placas de
tais como vidros e vitrocerâmicas. Nestes casos, o uso de revestimentos e na produção de fritas para a composição
resíduos sólidos provenientes de indústrias cerâmicas é uma de engobes e esmaltes [15]. Desta maneira, pode-se alongar
possibilidade explorada e que pode ser intensificada em os ciclos de vida dos elementos, reduzindo as necessidades
aplicações envolvendo temperaturas menores que 500 °C, de sua extração do meio ambiente [16]. Isso é tanto
como no caso de isolamentos de lareiras e churrasqueiras mais necessário quando se considera que resíduos são,
e sobretudo como painéis para isolamento térmico, não frequentemente, fontes de grandes problemas ambientais,
inflamável, e acústico de sistemas construtivos. mas poderiam ser soluções [16]. Neste contexto, este artigo
Os resíduos de vidros provenientes da indústria de reporta resultados de trabalho de pesquisa cujo objetivo
embalagens utilizadas no cotidiano são descartados principal foi a produção de materiais porosos processados
juntamente com o lixo doméstico [8]. Estes resíduos a partir de vidros de garrafas descartadas e lodo da estação
constituem cerca de 2% do total do lixo doméstico da de tratamento de efluentes (ETE) de indústria de cerâmica
cidade de São Paulo, o que equivale a um descarte de de revestimento para isolamento térmico em sistemas
aproximadamente 7.000 t/mês [8]. Além disso, reciclar construtivos que requerem uma relação adequada de
e utilizar esses materiais poderá contribuir com a matriz condutividade térmica, porosidade e resistência mecânica.
energética nacional através da economia de grande
quantidade de energia, já que para produzir 1 kg de vidro MATERIAIS E MÉTODOS
novo são necessários 4500 kJ, enquanto que para produzir
1 kg de vidro reciclado necessita-se de 500 kJ [8]. As Neste trabalho foram utilizados, como matérias-
indústrias de revestimentos cerâmicos também geram primas, vidro de garrafa transparente (VGT), lodo de
quantidades significativas de resíduos nas várias etapas ETE e carbonato de cálcio (d50 = 2 µm), CaCO3 (Vetec
do processo que nem sempre têm um destino adequado. Química Fina) como agente formador de poros. A
Contudo, as maiores quantidades são geradas nos setores de composição química do VGT e do lodo de ETE, obtida
preparação de esmaltes e tintas, preparação de massa e na por espectroscopia de fluorescência de raios X, FRX
linha de esmaltação/decoração [9]. De fato, em uma unidade (Philips, PW 2400), é apresentada na Tabela I. O lodo de
fabril (a título de exemplo) que produz aproximadamente ETE (como recebido) empregado neste trabalho (d50 = 10
300.000 m2/mês de revestimentos cerâmicos, são gerados µm, determinado com granulômetro por difração a laser,
aproximadamente 192 m3 de efluentes líquidos, sendo Malvern Mastersizer 2000) foi cedido por uma empresa de
que deste volume 117 m3 são provenientes dos setores de cerâmica de revestimento da região.
preparação de massa e de esmaltes e tintas e 75 m3 são O lodo cerâmico é principalmente constituído de
oriundos da linha de esmaltação e de outros setores [9]. Todo sílica, alumina e alguns metais pesados e, por esta razão,

Tabela I - Composição química do VGT e do lodo de ETE.


[Table I - Chemical composition of TGB and STP sludge].
Materiais Óxidos constituintes (% em massa)
SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO K2O MgO Na2O ZnO P2O5 BaO ZrO2 TiO2
VGT (TGB) 71,2 2,18 0,10 9,64 0,02 - 16,8 - 0,02 - - 0,04
Lodo ETE (STP) 58,4 16,2 0,54 8,06 2,92 2,32 1,42 5,11 - 0,82 4,08 0,13
S. Arcaro et al. / Cerâmica 62 (2016) 32-37 34

sendo classificado como resíduo perigoso segundo a ρa = m/v (A)


Norma ABNT-NBR 10.004. Informações detalhadas sobre
a preparação e caracterização do lodo de ETE podem ser A densidade real, ρt (g/cm3) dos pós dos materiais
obtidas em estudo anterior [9]. O vidro de garrafa transparente estudados foi determinada por picnometria a gás hélio
(VGT) de coloração clara (tipo sódico-cálcico) foi triturado (AccuPyc 1340, Micromeritics). A fração de vazios,
em um britador de martelos (Servitech, CT-058) e o produto porosidade (ε), foi determinada considerando a relação entre
resultante moído por 30 min em moinho rápido (Servitech, as densidades (Equação B).
CT-242) com jarro de porcelana contendo bolas de alumina
e água, tal que pós com tamanhos de partículas menores que ε = [1- (ρa/ρt)].100 (B)
44 µm (passantes em peneira de 325 mesh), após moagem,
foram obtidos (d50 = 6 µm). Subsequentemente, os pós A microestrutura de poros pôde ser visualizada a partir
obtidos foram secos (110 °C/2 h) em estufa (SP Labor) e de imagens das superfícies de fraturas das amostras tratadas
misturas (mistura a seco em moinho de bolas por 30 min) termicamente, obtidas em microscópio eletrônico de varredura,
contendo diferentes proporções de VGT (50-70% em MEV (Philips, XL-30). Para determinar a resistência mecânica
massa), de lodo de ETE (30-50% em massa) e de carbonato das amostras, ensaios de compressão (EMIC, DL 2000) foram
de cálcio (2-10% em massa) foram preparadas com adição realizados em 5 amostras (30 mm x 10 mm) com velocidade
de 5% de água. de carregamento de 1 mm/min. A condutividade térmica dos
As misturas dos pós foram, em uma etapa posterior, materiais obtidos foi determinada em um equipamento TCi
compactadas uniaxialmente em matriz de aço por meio Thermal Conductivity Analayzer, C-THERM Technologies
de uma prensa hidráulica (Bovenau, P10 ST) a 40 MPa. (princípio da medida: modified transiente plane source), em
Os corpos de prova obtidos, com 30 mm de diâmetro e 10 amostras em forma de disco com 30 mm de diâmetro e 10 mm de
mm de espessura, foram secos em estufa a 110 °C por 2 h. espessura. As medidas foram realizadas a aproximadamente
O comportamento térmico durante queima dos pós das 25 °C. Portanto, os valores de condutividade térmica
matérias-primas e das misturas preparadas foi estudado das amostras das composições queimadas em diferentes
por meio de análises em dilatômetro ótico (Expert System temperaturas são indicativos do que poderiam ser os valores
Solution, Misura ODHT) a 10 °C/min (atmosfera oxidante). de condutividade térmica em temperaturas elevadas, já que
Com base nas análises dilatométricas, corpos de prova neste caso os fenômenos de irradiação começam a se tornar
(30 mm x 10 mm) de compactos de pós foram queimados em relevantes afetando esta propriedade térmica.
diferentes temperaturas (750-1000 °C) e tempos (15-60 min) e
submetidos a diferentes medidas e análises. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A densidade aparente/geométrica, ρa (g/cm3) foi calculada
(Equação A) a partir de medidas de massa (m) em balança As Figs. 1a e 1b mostram curvas de retração linear,
(Shimadzu, AX200, precisão de ± 0,001 g) e de volume (v), referentes a misturas de VGT (50-70% em massa) e de
por meio de um paquímetro digital (Mitotoyo, precisão de ± lodo de ETE (30-50% em massa) e misturas com 70% de
0,01 mm), dos corpos de prova.

20 60
10
a) b)
40
0
Retração linear (%)

Retração linear (%)

-10 20

-20 0
-30
-20
-40
-50 -40

-60
-60
-70
200 400 600 800 1000 1200 200 400 600 800 1000 1200
Temperatura (ºC) Temperatura (ºC)
Figura 1: Curvas de retração linear referentes a misturas de (a) VGT (50-70% em massa) e de lodo de ETE (30-50% em massa) e (b) misturas
com 70% de VGT e 30% de lodo de ETE com diferentes quantidades de CaCO3 (2-10% em massa).
[Figure 1: Linear shrinkage curves related to mixtures of (a) TGB (VGT) (50-70 wt%) and sludge from sewage treatment plant, STP (30-50
wt%) and (b) mixtures with 70% TGB and 30% STP sludge with different amounts of CaCO3 (2-10 wt%).]
35 S. Arcaro et al. / Cerâmica 62 (2016) 32-37

VGT e 30% de lodo de ETE com diferentes quantidades 750 para 850 °C (temperatura de máxima porosidade),
de CaCO3 (2-10% em massa), respectivamente. Como mantendo-se praticamente constante entre 850 e 1000 °C,
pode ser observado na Fig. 1a, a expansão relacionada ao independentemente do tempo de permanência na temperatura.
amolecimento do vidro ocorre quando a quantidade de VGT Todavia, na temperatura de 750 °C ocorre uma diminuição da
é de pelo menos 70%. Observa-se também que a expansão porosidade à medida que o tempo na temperatura de queima
ocorre no intervalo de temperatura compreendido entre 750 aumentou de 15 para 60 min. Nesta temperatura, o corpo
e 1050 °C (máxima expansão), o que inclui temperaturas cerâmico atinge sua máxima densificação, como mostrado
onde se verifica a decomposição do carbonato cálcio, isto na Fig. 1 (em termos de retração), a qual se intensifica à
é, de 700 a 800 °C. Por esta razão, os compostos com 70% medida que o tempo na temperatura de queima aumenta.
VGT e 30% de lodo de ETE foi escolhido já que é aquele Além disso, nesta temperatura, os gases resultantes da
que apresenta quantidades otimizadas das matérias-primas decomposição do carbonato de cálcio começam a agir dando
utilizadas e associadas ao comportamento desejado. De fato, início à expansão. Por esta razão é que os corpos cerâmicos
conforme Fig. 1b, a expansão máxima ocorre a 850 °C e queimados a 750 °C por 15 min, por exemplo, apresentaram
é crescente para adições de carbonato de cálcio entre 2 e maiores porosidades que aqueles queimados na mesma
6%. Para quantidades maiores de carbonato de cálcio (10%) temperatura para tempos maiores que 15 min e menores
não ocorre expansão. Este comportamento está relacionado, que 60 min. De fato, as micrografias da Fig. 3 evidenciam
provavelmente, a um aumento do volume de gases da estes aspectos mencionados. Percebe-se, inclusive, que à
decomposição do CaCO3, que resulta em aumento da medida que a temperatura aumenta ocorre um aumento do
pressão interna e assim o rompimento das paredes dos poros tamanho (coalescimento) dos poros (Figs. 3a-3d), referentes
permitindo o escape dos gases não promovendo a expansão às amostras queimadas entre 750 e 1000 °C por 60 min,
do corpo cerâmico. Desta maneira, a composição com 70% associado, ainda, a uma distribuição de tamanhos de poros
de VGT e 30% de lodo de ETE e com 5% de carbonato de mais ampla (com poros pequenos e grandes), em particular
cálcio foi escolhida, pois apresenta as condições favoráveis para as amostras queimadas a temperaturas maiores que
em termos das quantidades relativas das matérias-primas 900 °C (Figs. 3c e 3d).
utilizadas e possibilidade de obtenção de um material poroso.
A Fig. 2 mostra gráfico relacionando a porosidade (a) (b)
em função da temperatura e do tempo de permanência
na temperatura de queima de composição contendo 70%
de VGT, 30% de lodo de ETE e 5% de carbonato de
cálcio. Como pode ser visto, a porosidade aumenta (~3
- 62%) à medida que a temperatura de queima se eleva de
500 µm 500 µm

100 (c) (d)


90
80
70
Porosidade (%)

60 500 µm 500 µm
b)
50
40 Figura 3: Micrografias (MEV) mostrando a microestrutura de
poros de amostras (composição contendo 70% de VGT, 30%
30 de lodo de ETE e 5% de carbonato de cálcio) queimadas em
20 diferentes temperaturas (a) 750 °C, (b) 850 °C, (c) 900 °C e (d)
1000 °C por 60 min.
10 [Figure 3: SEM micrographs showing the microstructure of
0 pores from samples (composition containing TGB 70%, 30% STP
sludge and 5% calcium carbonate) fired at different temperatures
750 800 850 900 950 1000 (a) 750 °C, (b) 850 °C, (c) 900 °C and (d) 1000 °C for 60 min.]
Temperatura (ºC)
A Fig. 4 mostra o gráfico de condutividade térmica
Figura 2: Gráfico relacionando a porosidade em função da em função da temperatura de queima (750 a 1000 °C
temperatura e do tempo de permanência (15-60 min) na temperatura por 60 min) de amostras de composição contendo 70%
de queima de composição contendo 70% de VGT, 30% de lodo de de VGT, 30% de lodo de ETE e 5% de carbonato de
ETE e 5% de carbonato de cálcio.
cálcio. A condutividade térmica (Fig. 4), como esperado,
[Figure 2: Graph relating the porosity as a function of temperature
and holding time (15-60 min) in the firing temperature for a diminui à medida que a porosidade aumenta. No entanto,
composition containing 70% TGB, 30% of sludge from sewage ela diminuiu pouco (~1,25 - 1,15 W/m.K) para amostras
treatment plant, STP and 5% of calcium carbonate.] queimadas entre 750 e 900 °C e mais acentuadamente
S. Arcaro et al. / Cerâmica 62 (2016) 32-37 36

da Fig. 5, pode-se perceber que a resistência à compressão


Condutividade térmica (W/m.K)

1,3 diminui (8,7 a 5,4 MPa) à medida que a temperatura de


1,2 queima aumenta. Este resultado está em bom acordo
com os resutados de porosidade observados. No entanto,
1,1
verifica-se uma maior dispersão (desvio das medidas) em
1,0 torno dos valores médios à medida que a temperatura de
0,9 queima aumenta em particular para as amostras queimadas
0,8 a 900 e 1000 °C, o que pode ser relacionado ao aumento
das dimensões dos poros associado a uma distribuição
0,7
de tamanhos mais ampla. De fato, é sabido que poros
0,6 maiores (maior dimensão do defeito) aumentam o fator de
0,5 concetração de tensões resultando em valores de resistência
0,4
mecânica menores (5,4 MPa) para uma mesma porosidade.
750 800 850 900 950 1000
CONCLUSÕES
Temperatura de queima (ºC)
A expansão relacionada ao amolecimento do vidro ocorre
Figura 4: Gráfico de condutividade térmica em função da quando a quantidade de vidro (VGT) é de pelo menos 70%.
temperatura de queima (750, 850, 900 e 1000 °C por 60 min) de Observa-se também que a expansão ocorre no intervalo de
amostras de composição contendo 70% de VGT, 30% de lodo de temperatura compreendido entre 750 e 1050 °C (máxima
ETE e 5% de carbonato de cálcio. expansão), o que inclui temperaturas onde se verifica a
[Figure 4: Graph of thermal conductivity as a function of the firing decomposição do carbonato de cálcio (700 a 800 °C) e, assim,
temperature (750, 850, 900 and 1000 °C for 60 min) of samples
a geração de porosidade. Portanto, é possível produzir
containing 70% TGB 30% STP sludge and 5% calcium carbonate.]
isolantes térmicos, a partir de composições otimizadas
contendo 70% de VGT, 30% de lodo de ETE e 5% de
Resistência à compressão (MPa)

9 CaCO3, queimados a temperaturas compreendidas entre


750 e 1000 ºC por 60 min, com porosidades entre 3 e
62%, condutividades térmicas entre 1,25 e 0,5 W/m.K e
8
resistência à compressão entre 8,7 e 5,4 MPa. Os materiais
obtidos são fortes candidatos em aplicações estruturais, tais
7
como painéis para isolamento térmico, os quais requerem
6 uma combinação adequada de condutividade térmica,
porosidade e resistência mecânica.
5
AGRADECIMENTOS
4
Os autores agradecem a FAPESC e o CNPq (PRONEX
3 T.O. Nº 17431/2011-9).
750 800 850 900 950 1000
REFERÊNCIAS
Temperatura de queima (ºC)
Figura 5: Gráfico de resistência à compressão em função da [1] J.P. Holman, Transferência de Calor, McGraw-Hill do
temperatura de queima (750, 850, 900 e 1000 °C por 60 min) de Brasil (1983) 639.
amostras de composição contendo 70% de VGT, 30% de lodo de [2] J. Zeschky, F. Goetz-Neunhoeffer, J. Neubauer, S.H.
ETE e 5% de carbonato de cálcio.
Jason Lo, B. Kummer, M. Scheffler, P. Greil, Compos. Sci.
[Figure 5: Graph of compressive strength as a function of the firing
temperature (750, 850, 900 and 1000 °C for 60 min) of samples Technol. 63 (2003) 2361.
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(~0,5 W/m.K) para amostras queimadas a 1000 °C por 60 [4] F.S. Ortega, A.E.M. Paiva, J.A. Rodrigues, V.C.
min. Tal comportamento está relacionado, provavelmente, Pandolfelli, Cerâmica 49, 309 (2003) 1.
à maior diferença de tamanhos de poros e isolamento dos [5] V.R. Salvini, M.D.M. Innocentini, V.C. Pandolfelli,
mesmos nas amostras queimadas a 1000 °C por 60 min, Cerâmica 46, 298 (2000) 97.
como evidenciado na Fig. 3d. [6] X. Zhu, D. Jiang, S. Tan, Mater. Sci. Eng. A 323 (2002)
A Fig. 5 mostra o gráfico de resistência à compressão em 232.
função da temperatura de queima (750 a 1000 °C por 60 min) [7] D. M. Liu, Ceram. Int. 23 (1997) 135.
de amostras de composição contendo 70% de VGT, 30% de [8] O.L. Alves, I.F. Gimenes, I.O. Mazalli, Cadernos
lodo de ETE e 5% de carbonato de cálcio. A partir da análise Temáticos Química Nova na Escola - Novos Materiais,
37 S. Arcaro et al. / Cerâmica 62 (2016) 32-37

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de Janeiro (2004). [15] V.S. Nandi, T.S. Mondo, B.G. Oliveira, O.R.K.
[11] F.R. Pereira, A.P. Nunes, A.M. Sedagães, J.A. Labrincha, Montedo, A.P.N. Oliveira, Cerâmica Industrial 15, 1 (2010)
Key Eng. Mater. 264 (2004) 1743. 34.
[12] F.R. Pereira, D. Hotza, A.M. Sedagães, J.A. Labrincha, [16] F. Galembeck, Química Nova 36, 10 (2013)1600.
Ceram. Int. 32 (2006) 173. (Rec. 12/03/2015, Rev. 22/05/2015, Ac. 10/10/2015)
Cerâmica
Ano LXII - Vol 62, 361, JAN/FEV/MAR 2016 - ISSN-0366-6913

Study of selection and purification of Brazilian bentonite clay by elutriation: a XRF, SEM and Rietveld analysis
(Estudo da seleção e purificação de argila bentonita brasileira por elutriação: análise por FRX, MEV e Rietveld)
J. L. Alves, A. E. Zanini, M. E. de Souza, M. L. F. Nascimento ................................................................................................................................................. 01

Biocerâmicas aditivadas com nióbio (V): avaliação da rota hidrotérmica modificada com ácido cítrico e ureia para obtenção de hidroxiapatitas modificadas
(Niobium (V) doped bioceramics: evaluation of the hydrothermal route modified with citric acid and urea to obtain modified hydroxiapatites)
E. Simomukay, E. C. F. de Souza, S. R. M. Antunes, C. P. F. Borges, M. D. Michel, A. C. Antunes ............................................................................................ 09

Uso de resíduo do beneficiamento de um pegmatito com albita e espodumênio no desenvolvimento de fritas e esmaltes cerâmicos
(Use of waste from mineral processing of a pegmatite with albite and spodumene in the development of frits and ceramic glazes)
J. L. Coelho, H. C. M. Lengler, S. R. Bragança ......................................................................................................................................................................... 15

Caracterização de argilas e composição de massas cerâmicas preparadas com base na análise de curvas de consistência de misturas argila-água
(Characterization of clays and ceramic mass compositions prepared on the basis of consistency curve analysis of clay-water mixtures)
M. M. T. Moreno, C. Del Roveri, L. H. Godoy, A. Zanardo ........................................................................................................................................................ 21

Isolantes térmicos produzidos a partir de resíduos sólidos industriais


(Thermal insulators produced from industrial solid wastes)
S. Arcaro, A. Albertin, F. R. Cesconeto, B. G. de Oliveira Maia, C. Siligardi, A. P. Novaes de Oliveira .................................................................................. 32

The influence of titanium and iron oxides on the coloring and friability of the blue fired aluminum oxide as an abrasive material
(Influência da titânia e óxido de ferro na coloração e friabilidade do óxido de alumínio blue fired como material abrasivo)
E. R. Passos, J. A. Rodrigues ..................................................................................................................................................................................................... 38

Avaliação de argilas bentoníticas policatiônicas do estado da Paraíba com aditivos para aplicação em perfuração de poços de petróleo e tintas à base de água
(Evaluation of polycationic bentonite clays from Paraiba State with additives for application in oil drilling and water-based paints)
B. M. A. Brito, J. M. Cartaxo, N. F. C. Nascimento, H. C. Ferreira, G. A. Neves, R. R. Menezes ............................................................................................ 45

Influência de agentes clareadores nas propriedades superficiais (rugosidade e microdureza) de uma cerâmica odontológica
(Influence of bleaching agents on the surface properties (roughness and microhardness) of a dental ceramic)
H. de A. Ferreira, H. L. Carlo, F. D. C. M. e Silva, S. S. Meireles, R. M. Duarte, A. K. M. de Andrade ...................................................................................... 55

Desempenho físico-químico de filmes hidrofóbicos de AlN e de Ti nanoestruturado crescidos por plasma frio sobre superfícies de isoladores
cerâmicos de porcelana tipo pino
(Physicochemical performance of nanostructured Ti and AlN hydrophobic films grown by cold plasma on surfaces of pin type porcelain insulators)
M. M. Mazur, M. D´O. G. P. Bragança, K. F. Portella, S. Ribeiro Jr., J. S. S. de Melo, D. P. Cerqueira, S. A. Pianaro .............................................................. 60

Sobrevida de prótese parcial fixa posterior em zircônia: revisão sistemática de estudos clínicos com até 7 anos de acompanhamento
(Survival of zirconia-based posterior fixed partial prostheses: a systematic review of up to 7-year clinical follow-up studies)
P. L. P. da Silva, G. A. Lemos, R. F. Bonan, J. R. C. Queiroz, A. U. D. Batista .......................................................................................................................... 71

Carreadores de oxigênio a base de Ni obtidos por diferentes métodos de síntese para aplicação no processo de reforma de metano com recirculação química
(Ni-based oxygen carriers obtained by different synthesis methods for use in the chemical looping reforming of methane process)
J. A. B. L. R. Alves, G. P. Figueredo, R. L. B. A. Medeiros, T. R. Costa, D. M. A. Melo, M. A. F. Melo ...................................................................................... 77

Efeito de diferentes fontes de sílica nos parâmetros texturais da peneira molecular MCM-41
(Effect of different silica sources on textural parameters of molecular sieve MCM-41)
M. S. B. Fontes, D. M. A. Melo, C. C. Costa, R. M. Braga, M. A. F. Melo, J. A. B. L. R. Alves, M. L. P. Silva ......................................................................... 85

Aperfeiçoamento da produção de partículas de óxido de zinco para aplicação em células solares


(Improvement of production of zinc oxide particles for application in solar cells)
G. A. R. Maia, L. F. G. Larsson, A. Viomar, E. C. R. Maia, H. de Santana, P. R. P. Rodrigues .................................................................................................... 91

Investigação das propriedades magnéticas e microestrutura da ferrita de chumbo e cobre


(Investigation of the magnetic properties and microstructure of lead and copper ferrite)
V. A. S. Ribeiro, G. Rodrigues, A. C. Pereira, A. F. Oliveira, C. S. P. Mendonça, V. D. de Oliveira, R. C. Correa, M. R. da Silva ......................................... 98

A gênese de uma cultura ceramista


(The genesis of a potter culture)
K. J. da Silva ........................................................................................................................................................................................................................... 105

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