INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Erosão e produtividade

Para quantificar a importância das per-

É
de há muito sabido que os solos temente os mananciais de água, ao mesmo
sofrem com a degradação, sen- das por erosão na produtividade dos solos, tempo em será responsável pela diminui-
do a erosão hídrica – causada a Conservação do Solo do Instituto ção da fertilidade do solo.
pela chuva –, seu fator mais importante. Agronômico organizou um experimento de
longa duração (1987/88 a 1995/96) em par- As perdas de terra na forma de sedi-
Segundo estimativas, 1.100 milhões de mento foram da ordem de 50,8 t ha-1 ano-1,
hectares no mundo inteiro estão desper- celas experimentais munidas de sistemas
coletores de perdas de terra e água pela ero- sendo 69 % superiores se comparadas ao
diçados em virtude da degradação. A ero- mesmo solo com 30 % de cobertura. Essa
são hídrica remove a camada superficial são e estabelecidas em latossolo vermelho
em Campinas (SP). A tela sombrite (usada perda de sedimento também traz sérios pro-
do solo e com isso blemas pois estará removendo a camada
acaba trazendo sérios em viveiros de plantas), com três porcen-
tagens de sombreamento, foi usada para si- fértil do solo e transportando fertilizantes
problemas para a agri- e defensivos agrícolas que irão contaminar
cultura e em situações mular porcentagens de cobertura no solo.
Durante 7 anos consecutivos essas parce- os rios, barragens, lagos e baixadas. Quan-
extremas pode tornar
las experimentais assim preparadas, foram do o sedimento depositar-se no fundo des-
a terra imprópria para
deixadas erodir sob a ação da chuva natu- ses corpos d’água, causar-lhes-á asso-
as práticas agrícolas.
ral. Após esses 7 anos de erosão o solo foi reamento e contribuirá para a poluição
O impacto da erosão cultivado com a cultura do milho nos dois ambiental.
no solo pode compro- anos subseqüentes. Pelo exposto demonstram-se de forma
meter a sustentabili-
cabal alguns dos efeitos nocivos das chu-
dade do sistema agríco- Efeito nas perdas de terra e água
Sonia vas quando caem diretamente sobre o solo
la ou, então, exigir a
As gotas da chuva quando caem sobre descoberto ou mal manejado. Sob esse as-
aplicação de altas tec-
o solo descoberto desagregam suas partí- pecto, cabe lembrar que o plantio direto é
nologias para manter a produtividade das
culas e causam selamento superficial oca- uma prática muito eficiente pois protege a
culturas. Entre as metas dos produtores está
sionando perdas elevadas de sedimento e superfície do solo contra o impacto direto
a de produzir com menores custos. Con-
de água na forma de enxurrada. Os dados da chuva diminuindo a desagregação, o
trolar a erosão do solo,
obtidos durante os sete anos de avaliação selamento e o escorrimento superficial e,
que é o principal entra-
(Figura 1) demonstraram que 20 % da pre- conseqüentemente, as perdas de água e se-
ve para a susten-
cipitação pluvial total foi perdida como en- dimentos e o impacto ambiental da erosão.
tabilidade e que varia
muito de acordo com a xurrada no solo manti-
resistência de cada do totalmente descober-
solo, é um meio efici- to. Essa água da chuva
ente de se manter a perdida como enxurra-
Perdas por erosão

sustentabilidade da da trará sérias conseqü-

produção agrícola. ências, principalmente
em anos de estiagem e/
Um dos problemas da ou em regiões de baixa
Daniel
erosão é que, muitas precipitação, pois fará
vezes, as riquezas dos solos estão indo em- falta para o desenvolvi-
bora sem que isso seja notado, seja por cau- mento das culturas im-
sa da aplicação de tecnologias ou por ocor- plantadas. Além de
rer de forma contínua, porém lenta. Dessa tudo, essa enxurrada
forma, os solos podem estar sendo degra- carreará fertilizantes,
dados, mas ainda mantendo a produtivida- matéria orgânica e de-
de, o que não significa de forma alguma fensivos agrícolas, con- Figura 1. Perdas de terra e água acumuladas em 7 anos
que o sistema seja sustentável. taminando conseqüen- de erosão induzida em Latossolo Vermelho

22 O Agronômico, Campinas, 55(1), 2003

Efeito sobre a produção e
qualidade de grãos
Após os sete anos de diferentes graus
de erosão induzida nas parcelas experimen-
tais, cultivou-se milho, avaliando-se a pro-

Produção, kg ha-1
dutividade da área e os nutrientes exporta-
dos pela produção (Figura 2). No primei-
ro ano de cultivo observou-se uma redu-
ção de 687 kg ha-1 nas parcelas em que o
solo esteve totalmente descoberto – uma
redução de 44 % – e, no segundo ano, hou-
ve uma redução de 1.089 kg ha-1 ou seja,
50 % de declínio. As produções obtidas
seguiram um modelo consistente de
declínio com o aumento da erosão e en-
xurrada, ou seja, aumentando a erosão di-
minui-se a produtividade. Esses dados de-
monstram o real impacto da erosão na pro-
dutividade se o solo for deixado descober-
to sofrendo a ação erosiva das chuvas. Isso
tem importância prática pois demonstra Figura 2. Produção de milho após sete anos de erosão induzida
claramente que não se deve deixar o solo em Latossolo Vermelho
descoberto em hipótese alguma, pois tere-
mos reflexos negativos acentuados na pro-
dução das culturas, com prejuízos bastante
claros. Com relação ao conteúdo de nutri-
Macronutrientes nas folhas, %

entes (Figura 3), onde se teve a maior co-

bertura houve 20 % a mais de Ca, 21% de
S e 26% de Cu na produção. E, no solo
descoberto, observou-se que a produção foi
deficiente em Cu, Zn, ficando o B no limi-
te para a deficiência (Figura 4). O aspecto
prático é que isso, com certeza, afetará a
qualidade dos subprodutos obtidos dessa
produção e, em conseqüência, afetará quem
se alimentar desses subprodutos.
Dessa forma observa-se que os impac-
tos negativos da erosão do solo na produ-
ção agrícola, são dobrados, pois reduzem
tanto a produtividade da área quanto a qua-
lidade da produção.
Nutrientes na enxurrada
e no sedimento Figura 3. Macronutrientes nas folhas de milho em 1995,
O maior impacto da perda de nutrien- após sete anos de erosão em Latossolo Vermelho
tes está ligado aos sedimentos, sendo que
a enxurrada apresenta menores concentra-
Micronutrientes nas folhas, ppm

ções de nutrientes (Figura 5).

No solo descoberto ocorreram perdas,
no sedimento + enxurrada, de 2, 4, 25 e 6
kg ha-1 de P, K, Ca e Mg respectivamente.
Segundo alguns autores isso representa em
torno de 5% das necessidades nutricionais
da cultura do milho em pequenas produ-
ções. Isso, com certeza, leva a uma neces-
sidade de aplicação de maior quantidade
de fertilizantes para compensar essas per-
das e, em conseqüência, trará maiores cus-
tos de produção, reduzindo os lucros,
exatamente o contrário do que se busca em
qualquer atividade. Fica o questionamento
do porquê de não se evitar a erosão ao in- Figura 4. Micronutrientes nas folhas de milho em 1995, após sete anos
vés de se ter que aumentar os custos. Den- de erosão em Latossolo Vermelho

O Agronômico, Campinas, 55(1), 2003 23

tre os nutrientes que apresentaram taxas de
enriquecimento nos sedimentos erodidos
em relação à concentração no solo temos
2,6 para P, 1,3 para C orgânico e para Ca,
1,2 para Mg e 0,7 para K. Isso comprova
que a erosão é seletiva, sendo o P mais
afetado.
Como há perdas de nutrientes também
na enxurrada (Figura 6), devem-se adotar
práticas de manejo que diminuam não só
as perdas de sedimentos, mas que sejam efi-
cientes no controle da perda de água tam-
bém. Tais práticas incluem manutenção da
cobertura do solo, descompactação, uso de
plantas com sistema radicular agressivo e
outras. É preciso reduzir as perdas com ero-
são, antes que a atividade agrícola se torne
inviável economicamente.
Outros impactos
Os diferentes níveis de perdas, para
muitos nutrientes, não trouxeram um im-
pacto claro nas características in situ do
solo. Porém, a diminuição do C orgânico
e a elevação da acidez do solo, parecem
estar mais relacionados com a erosão do
solo. Com isso haverá a necessidade mais
intensa de calagem e também perda de fer-
tilidade, devido ao declínio do C do solo.
Além de a acidez afetar o desenvolvimen-
to normal da maioria das culturas agríco-
las, isso também trará problemas para as
características físicas do solo.
A agricultura por si só, ocasiona redu-
ção na qualidade do solo, tomando-se um
solo de mata como exemplo. Porém, com
erosão e mau uso essa redução na qualida-
de é indubitavelmente acentuada.
24
Nutrientes no sedimento, kg ha-1
Nutrientes na enxurrada, kg ha-1
Figura 5. Perdas anuais de nutrientes pela
enxurrada (média de cinco anos), em
experimento de sete anos de erosão em
Latossolo Vermelho
Os resultados finais indicam que o solo
estudado, um Latossolo Vermelho, é alta-
mente sensível ao impacto da erosão em
termos da redução de produção. Nesse as-
pecto é necessário ressaltar a importância
da manutenção e/ou utilização de práticas
que mantenham a cobertura do solo prote-
gendo-o da erosão. Ou será assim, ou a
agricultura sucumbirá devido à degradação
e/ou custos extremos para continuar pro-
duzindo e, junto com ela, a humanidade.
Fica aqui valendo o ditado popular que diz
que “é melhor prevenir que remediar”.
Quanto à resistência à erosão esse mes-
mo solo é considerado de moderada resis-
tência para as condições tropicais. Tam-
bém é considerado de grau moderado quan-
to às mudanças in situ do solo. Porém como
Figura 6. Perdas de nutrientes no
sedimento, em 1989/90
em Latossolo Vermelho sob
4 níveis de erosão
ressalva geral é melhor não deixar o solo
exposto aos efeitos da chuva para conhe-
cer as conseqüências de sua ação que, com
certeza aparecerão e não terão nenhum as-
pecto positivo, tanto na produção das cul-
turas como nas qualidades do solo e do
ambiente em geral. Assim a natureza agra-
decerá e o solo continuará sustentando altas
produtividades e a qualidade da produção.
Sonia Carmela Falci Dechen1 e Daniel
Prochnow2
1
IAC – Centro de Solos. 2Mestre em Agri-
cultura Tropical e Subtropical pelo IAC,
2003
fone: (19) 3241-5188 ramal 409
endereço eletrônico: dechen@iac.sp.gov.br
O Agronômico, Campinas, 55(1), 2003