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Outros perfis
Afonso Pinhão Ferreira,
pintor e médico dentista
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Auto-retrato. pessoas, ou melhor, as associações e instituições com que man-
tenho contacto pedem-me para fazer exposições. Sempre que
posso, fujo disso. Dá muito trabalho trazer e levar os quadros,
depois, estragam-se as molduras. Enfim, como não tenho aque-
Quando
Quando dou
dou uma
uma aula,
aula, oo primeiro
primeiro la mania de ser, digamos, muito conhecido ou de ser um gran-
diapositivo
diapositivo que
que apresento
apresento aos aos de pintor, não sinto a necessidade de expor os meus trabalhos.
Pinto apenas por gosto, por prazer, embora valha a pena res-
alunos
alunos de
de Medicina
Medicina Dentária
Dentária
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salvar que a pintura, quando atinge um certo nível, já não é só
prazer; tem um tecnicismo tal que obriga a horas de trabalho,
corresponde
corresponde aa um
um quadro
quadro de de um
um obriga a métodos, etc. Quando falava na minha faceta de auto-
pintor
pintor português,
português, que
que tento
tento didacta, devo dizer que essa faceta foi muito, muito trabalhada,
exigiu muita leitura, muitas cópias. Tudo para chegar ao tal esti-
adequar
adequar aoao tema
tema que
que se
se vai
vai tratar
tratar lo próprio que hoje sinto que tenho.
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M À parte da sua faceta de pintor, também tem vindo a dedi- apreciação minha sobre a pintura moderna e contemporânea,
car-se à escrita sobre a arte. Que projecto(s) está a preparar nes- o meu ponto de vista sobre o aspecto evolutivo e biográfico do
te domínio? pintor que mais admiro. Daí tiro ilações para a análise que faço
Pinhão Ferreira. Estou prestes a publicar um livro sobre pintu- da pintura em geral.
ra, intitulado “Olhadelas pelas Oleadelas”. Dentro da minha veia O Modigliani não alinhou na politica do vanguardismo do
criativa, trata-se da primeira produção literária. O livro já se fim do século XIX e princípio do século XX. Apesar de ter vivido
encontra na fase de impressão e, em princípio, será lançado em com os surrealistas, com os pós-impressionistas, não foi propria-
Março ou Abril. mente um indivíduo que alinhasse com qualquer destas corren-
tes. Teve um estilo próprio. Neste contexto, eu aproveito para
M Qual é a temática do livro? mostrar o que penso da evolução da pintura.
Pinhão Ferreira. É um livro-catálogo das minhas pinturas, mas É um livro cuja leitura e compreensão exige algum conheci-
é também, sobretudo, um livro sobre o pintor que mais admiro mento cultural.
– Amadeo Modigliani (1884-1920) – onde imagino que ele sai
de um livro que tenho no meu atelier e vem falar comigo. É uma M Este livro representa uma incursão pontual no mundo da
história engraçada em que ambos trocamos impressões. A dado escrita? Ou pensa continuar a desenvolver a sua “veia literária”?
passo, o Modigliani considera que ser-se autodidacta, nos dias Pinhão Ferreira. Se tiver tempo, penso fazê-lo.
de hoje, é perfeitamente possível, reforçando a sua teoria com Aliás, estou também a trabalhar num livro profissional sobre
uma simples constatação: quem é que no tempo dele biológico Ortodontia. Talvez dentro de um ano esteja cá fora.
podia, de repente, visitar o Museu D’Orsay ou o do Louvre sem
sair de casa, através da internet? M Passemos ao seu lado de coleccionador de arte. Quando é
Com efeito, hoje, a acessibilidade à arte é impressionante. que começou a investir neste campo?
Mais: as pessoas dispõem de vídeos exemplificativos de como Pinhão Ferreira. Comecei em meados dos anos oitenta. Como
se pinta, com diferentes técnicas. Tudo isso está ao nosso alcan- atrás referi, comprei a minha primeira peça ao escultor José
ce, mas é preciso estudar. Não acredito na pintura, nem na tal Nobre, intitulada “O Sonho”. É uma peça fantástica em bronze,
vertente auto-didacta, sem estudo, sem técnica. As coisas têm um braço sobre uma cabeça a repousar. Na altura em que a
de ter uma evolução. comprei – para se perceber até que ponto sou fanático pela arte
– ainda não tinha sequer mobília na sala de jantar. Estava a
M Trata-se, portanto, de um conjunto de reflexões pessoais começar na profissão, tínhamos um apartamento simples, ain-
sobre a pintura... da por rechear, e fui logo comprar uma peça de arte que andei
Pinhão Ferreira. O livro, no fundo, além de retratar o meu con- a pagar, às prestações, durante um ano. Portanto, mesmo
tributo à arte e de mostrar as pessoas que retratei, vai trazer uma com necessidades incríveis, fui comprar uma peça de arte.
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sua colecção?
No meu caso, a arte funciona Pinhão Ferreira. Para começar, temos um quadro grande da
como um escape Paula Rego, que aparece no catálogo da Tate Gallery. Por sorte,
adquiri-o por um bom preço e já me ofereceram dez vezes mais
que o valor que dei por ele. Como é sabido, o trabalho da Paula
Rego está hoje muito valorizado. Também temos três obras da
Vieira da Silva e uma do marido, Arpad Szenes. Além disso, a
colecção inclui quadros de artistas como José Malhoa, Nadir
Afonso, Manuel Cargaleiro, Graça Morais, Artur Boal, Armanda
Passos, António Macedo, entre outros.
A nível de esculturas, a colecção abrange peças de João Cuti-
leiro, Francisco Simões, José Nobre, Helena Fortunato, José
Rodrigues, etc.
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de tal modo, que decidi perguntar-lhe como é que ele sabia dis-
so. Respondeu-me que tinha vivido e estudado na Alemanha e
que ali ensinavam os pintores. Ora, isto em Portugal é quase
impensável.
Temos de desenvolver essa vertente, porque criamos pesso-
as mais felizes, com maior capacidade de apreciação, com maior nos têm sempre uma frase de um escritor célebre na capa e um
espírito criativo e também com maior tolerância na sociedade. quadro de um pintor. Assim, quer se queira quer não, os alunos
Isso é fundamental. fixam a ilustração do caderno, lêem o nome do pintor e vão
associando os quadros aos respectivos autores. Em suma, vão
M Em que medida esses valores são transmitidos aos alunos acumulando alguma cultura.
da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto?
Pinhão Ferreira. O ano passado, por exemplo, desenvolvemos M Ao nível profissional, sente que já atingiu todas as metas?
a Semana das Artes. Estiveram aqui elementos da Escola de Pinhão Ferreira. Sou um homem que vive por objectivos. Toda
Belas Artes que fizeram demonstrações de arte. Foi uma sema- a minha vida foi assim: quando o objectivo foi o doutoramento,
na diferente na Faculdade. concluí o doutoramento; quis chegar a catedrático, lá cheguei;
Por outro lado, quando dou uma aula, o primeiro diapositi- quis ficar à frente do Serviço de Ortodontia, fiquei. Mais recen-
vo que apresento aos alunos corresponde a um quadro de um temente, empenhei-me na direcção da Faculdade, lutei por isso,
pintor português, que tento adequar ao tema que se vai tratar fiz um projecto, fiz todas as démarches nesse sentido, e cá estou.
na aula. Mesmo os cadernos pedagógicos que entrego aos alu- No futuro, não sei. Neste momento, o meu objectivo é cum-
prir o plano de actividades a que me propus na Faculdade.