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No compreender, Dasein projeta seu Ser para possibilidades. Esse Ser para
possibilidades em compreendendo é um poder-Ser que repercute sobre o Dasein as
possibilidades enquanto aberturas. O projetar inerente ao compreender possui a
possibilidade própria de se elaborar em formas, Chamamos de interpretação essa
elaboração. 1
A primeira das estruturas é a posição prévia (Vorhabe), que em seu significado é tudo
aquilo que temos de antemão. Segundo Heidegger “ao apropriar-se da compreensão, a
interpretação se move em sendo compreensivamente para uma totalidade conjuntural já
compreendida” (Heidegger, 2012, p. 209). Ou seja, a interpretação tem a função no Ser na
direção de atingir a totalidade de relevância que já foi compreendida de antemão. Como na
citação acima o poder-Ser tem a finalidade de Ser para possibilidades. Heidegger nos diz que
sou capaz de diferenciar martelos de chaves para fendas e possuo alguma experiência de uso
com estes instrumentos, mas não muita, visto que, se tivéssemos não necessitaríamos de uma
compreensão explícita do objeto em mãos. Heidegger se utiliza do termo Vorhabe para
identificar como a intenção de alguém. Eu construo uma cerca para cercar o meu gado, na
verdade cerco-a para sobrevivência do Dasein.
1
Heidegger, Martim. Ser e Tempo, § 32, p. 209. 5ª edi. Petrópolis, RJ: Vozes, Bragança Paulista, SP:
Editora Universitária São Francisco, 2011.
Outra estrutura apresentada por Heidegger é a visão prévia (Vorsicht), definida como
um olhar para o anterior. Esta estrutura está liga ao Dasein. “A hermenêutica ou interpretação
sempre se funda sempre numa visão prévia, que recorta o que foi assumido na posição prévia,
segundo uma possibilidade determinada de interpretação” (Heidegger, 2011, p. 211). O
movimento realizado pela estrutura da compreensão do objeto que ainda se encontra
desconhecido para explicação, sempre ocorrerá na direção sob a perspectiva que fixa aquilo
que em cuja visão foi apreendida e compreendido deve ser interpretado. Eu me encontro na
necessidade de encontrar um martelo para pregar um prego em uma cerca, e não procurarei
um martelo que não seja para tal finalidade. Como dissemos acima a visão prévia se utiliza
das informações que foram dadas da posição prévia para abordar aquilo que foi apreendido
antemão pela primeira estrutura. (Heidegger, 2011, p.11). Assim Heidegger usará de modo
implícito o significado comum de Vorsicht, que se previne ou que se policia, para mostrar que
a perspectiva que Dasein escolhe, a escolhe para desenvolver sua interpretação, que implicará
numa necessidade em ser cuidadoso.
A terceira e última estrutura da compreensão a posição prévia (Vorgriff), tem em seu
significado aquilo que é compreendido antes no sentido de seus conceitos. “a interpretação
sempre já se decidiu, definitivamente ou provisoriamente, por uma determinada conceituação,
pois está fundada numa concepção prévia” (Heidegger, 2011, p. 211). Os conceitos podem
tomar para si os seres que estão sendo interpretados, ou podemos intentar forçar estes
conceitos a tornarem-se inapropriados. No caso dos martelos eu posso pensar neles em termos
de quão difíceis são de manuseá-los, ou quanto a estruturas de suas cabeças, ou o que seria
mais adequado, entretanto cogitar neles sobre qual seria suas cores seria inapropriado. “A
interpretação de algo como algo, funda-se, essencialmente, numa posição prévia, visão prévia
e concepção prévia” (Heidegger, 2011, p. 211). Para Heidegger a compreensão sempre será
uma interpretação de algo ou coisa que envolva a coisa nas estruturas prévias da
compreensão, esta interpretação nunca é uma compreensão livre de pressuposições de algo ou
uma coisa dada anteriormente. Aqui podemos perceber o pensamento heideggeriano atingindo
o seu objetivo hermenêutico, nota-se que Heidegger afirma que uma interpretação textual
exata qualquer ou nenhuma reivindicação ocorra de um “está aí” (sem pressuposições) é em
sua concepção simplesmente o preconceito que se evidencia e inquestionável do intérprete. “A
intepretação nunca é apreensão de um dado preliminar, isenta de pressuposições.”
(Heidegger, 2011, p. 211).
Heidegger prossegue em desmistificar a concepção de que é possível se alcançar uma
interpretação, sem as influências da especificidade que seu círculo hermenêutico propõe, ou
seja, a afirmação dita por Heidegger torna-se importante porque enfatiza sua tese de que não
pode existir qualquer entendimento direto que possa evitar às pressuposições do intérprete e
com isso evita as estruturas prévias da compreensão. Vejamos o que o próprio Heidegger nos
diz:
Se a concreção da interpretação, no sentido da interpretação textual exata, se
compraz em se basear nisso que “está” no texto, aquilo que, de imediato, apresenta
como estando no texto nada mais é do que a opinião prévia, indiscutida e
supostamente evidente, do intérprete. Em todo princípio de interpretação, ela se
apresenta como sendo aquilo que a interpretação necessariamente já “põe”, ou
seja, que é preliminarmente dado na posição prévia, visão prévia e concepção
prévia. 2
Heidegger com isso ataca de forma veemente as teorias da percepção direta dos
sentidos ou de intuição direta, ao afirmar em sua tese que estas simplesmente ao tentarem
encobrir o que realmente acontece na hora da apreensão e captação de algo tornando um
preconceito por parte daqueles que afirma serem capazes de compreender fora das estruturas
prévias da compreensão.
Heidegger agora tratará da objeção que provavelmente surgirá contra a sua teoria. Se
como vimos à compreensão é sempre por necessidade a base das estruturas prévias da
compreensão e também da interpretação, então como esta poderia produzir resultados
científicos sem adentrar no círculo hermenêutico? “Segundo as regras mais elementares da
lógica, no entanto, o círculo é um circulus vitiosus” (Heidegger, 2011, p. 214). I isto quer
dizer, que há um círculo vicioso em que antecipadamente imaginamos nas premissas, ou seja,
as estruturas prévias um algo que surgi na conclusão, que poderia ter sido provada no
desenvolvimento da argumentação. E segue-se sua argumentação quanto ao círculo vicioso,
ao afirmar que a falta de rigor lógico dito pelos seus antagonistas, seria compensada pela
importância de seus objetos espirituais e intelectuais, não havendo isto não se poderia extrair
conhecimentos válidos universalmente. Outros achariam melhor evitar o círculo e se apoiarem
em uma historiografia que estivesse fundamentada nos métodos das ciências naturais ou
generalizantes. Na verdade Heidegger nos diz que: “Mas ver neste círculo um vício, buscar
caminhos para evita-lo e também” “senti-lo” “apenas como imperfeição inevitável, significa
um mal-entendido de princípio acerca do que é compreender” (Heidegger, 2011, p. 214). O
que Heidegger quer nos dizer que pensar fora deste círculo é pensar de forma errônea a
compreensão desde começo. Heidegger não define o círculo como círculo hermenêutico da
2
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Op. Cit., P. 211 e 212.
compreensão, o problema colocado é o mesmo. Segundo o próprio Heidegger: “o decisivo não
é sair do círculo, mas entrar no círculo de modo adequado” (Heidegger, 2011, p. 214). Então
se a compreensão das partes é pré-requisito para se compreender o todo, e a compreensão do
todo dependa das partes, então pressupomos a compreensão das pares e do todo para se
alcançar a interpretação. Realizar esta pressuposição seria um círculo vicioso para seus
adversários, mas, isto é entender de forma errônea a interpretação. Então, “para a
compreensão é preciso saber entrar nas discussões da objetividade”. O círculo na
compreensão da interpretação não poderá ser evitado como alguns propuseram, já que este
propõe o papel das estruturas prévias da compreensão em todos os casos da interpretação,
quer a percebemos ou não. As estruturas prévias da compreensão são de propriedades
existenciais de Dasein. A pergunta é como adentramos corretamente no círculo? Deixemos a
resposta com o próprio Heidegger:
Quando este intérprete tiver compreendido que sua primeira, única e ultima tarefa
é de não se deixar guiar, na posição prévia, visão prévia e concepção prévia, por
conceitos populares e inspirações. Na elaboração da posição prévia, da visão
prévia e concepção prévia, ela deve assegurar o tema científico a partir das coisas
elas mesmas. 3
Com científico Heidegger nos quer dizer de um resultado que ganhe sua justificação
filosoficamente, e não oriundo da metodologia das ciências da natureza. Heidegger já nos
indicou o que ele quer dizer na discussão nas estruturas prévias da compreensão. Aqui os
conceitos que foram extraídos das estruturas prévias serão utilizados para atingir a
interpretação, podendo ser estes conceitos apropriados ou não para interpretar as coisas ou
algo, podendo ser forçados às coisas e direção de conceitos inapropriados. Heidegger nos diz
que estes conceitos podem ser assumidos de forma provisória ou definitiva. Abarca-los de
forma provisória seria o mais correto, todavia serão no processo de compreensão, que estes
talvez não sejam os conceitos adequados para interpretação. Por isso a fenomenologia entra
para indicar o melhor caminho em deixar o que se mostra ser visto a partir de si mesmo. É
tarefa constante dos intérpretes confrontarem as concepções que são aceitas de forma
passageiras nas estruturas prévias, pois o que nós temos são concepções que se mostram a
partir das coisas em si que se mostram para a compreensão.
3
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Op. Cit., P. 214 e 215.
RFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS