Investigação.

2012;12:24-29

Investigação
ISSN 2177-4080 (on-line)

http://publicacoes.unifran.br Artigo Original

Vigilância em Saúde Ambiental: interferência do ambiente na saúde humana em um

município de Minas Gerais
Environmental Health Surveillance: interference of the environment on human he-
alth in a city of Minas Gerais
Juliana Ribeiro Gouveia Reis*, Sara Regina Ferreira, José Henrique Nunes Borges de Andrade, Ana Caroline
Fernandes Marafon, Mônica Andrade Morraye.
Universidade de Franca, Franca, São Paulo, Brasil.

■ Recebido em: 14/12/11 | Revisado em: 26/3/12 | Aceito em: 15/11/12 | Disponível online em: 19/06/13 ■

resumo
A urbanização traz problemas ambientais através das modificações feitas pelo homem, como a alteração da qualidade do ar e da
água, além de doenças oriundas do meio rural que se adaptam em cidades. Este trabalho objetivou identificar e relacionar os prin-
cipais agravos epidemiológicos com as ações desenvolvidas pela Vigilância em Saúde Ambiental de Patos de Minas para prevenção e
promoção da saúde da população. Os dados foram coletados junto à Secretaria Municipal de Saúde de Patos de Minas nos setores de
Vigilância Ambiental e Epidemiológica. Verificou-se que este município possui programas específicos: Plano de Gerenciamento de
Resíduos de Serviços de Saúde, Vigiágua, Vigisolo, Vigiar, Vigienchentes, Centro de controle de zoonoses e mobilizações socioeduca-
tivas, além de outros projetos em andamento: Controle Biológico do Peixe Guppy, Citronela, Arte em pneus, Ecoponto, Diagnóstico
hidroambiental das microbacias do Rio Paranaíba e o Projeto de recolhimento de pilhas, baterias, sacolas plásticas nas escolas e
medicamentos nas Unidades Básicas de Saúde em parceria com a Copasa. Foram notificados e/ou confirmados os seguintes casos
em 2009: 197 acidentes por animais peçonhentos, 237 casos de dengue, 5 de hantavirose e 4 de leptospirose. Para as doenças febre
maculosa, doença de Chagas aguda e leishmaniose tegumentar, foi registrado um caso para cada agravo. Um dos maiores desafios da
Vigilância em Saúde Ambiental é trabalhar as questões pertinentes da relação entre saúde e ambiente, exigindo ações de promoção de
saúde, possibilitando a criação de ambientes favoráveis em detrimento das condições desfavoráveis ocasionadas pelo desenvolvimento.

Palavras-chave: vigilância sanitária; vigilância em saúde ambiental; vigilância epidemiológica.

abst r ac t

Urbanization brings environmental problems caused by the changes man performs like changes in the air and water quality as well
as diseases from rural areas adapting themselves to the urban ones. This study aims to identify and list the many problems on hu-
man health by reporting the main epidemiological diseases and describing the main actions developed by the Environmental Health
Surveillance for the prevention and promotion of the population health. Data was collected from the Patos de Minas Local Health
Department in the Environmental and Epidemiological Surveillance Program. It was found that this city has specific programs:
Management of Hospital Waste, Vigiágua, Vigisolo, Vigiar, Vigienchentes, Animal Disease Control Center and socio-educational
mobilization. There are other projects in progress include Biological Control of Guppy Fish, Citronella, Tires Art, Ecoponto, Environ-
mental Diagnosis of the Paranaiba River Watershed Project and the collection of batteries, plastic bags in schools and medicines in
Basic Health Units in partnership with Copasa. The following cases were reported and/or confirmed in 2009: 197 accidents caused
by venomous animals, 237 cases of dengue, 5 cases of hantavirus infection and 4 of leptospirosis. Regarding the following disea-
ses were recorded one case for each disease: fever spotted, acute Chagas' disease and cutaneous leishmaniasis. One of the biggest
challenges in Environmental Health Surveillance is certainly to conciliate relevant issues of the relationship between health and
environment, requiring actions to promote health, allowing the creation of favorable environments opposite to the unfavorable
conditions resulting from development.

Keywords: health surveillance; environmental health surveillance; epidemiologic surveillance.

* Autor correspondente
Endereço: Rua João Batista Olivieri, 162, Jardim Califórnia, 38.703-632, Patos de Minas, MG, Brasil. Telefone: (34) 8845-4626. Email:
julianargr@hotmail.com
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Introdução
Patos de Minas está situada na região intermediária às regiões
do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba e possui população de
138.836 habitantes, com IDH 0,83. Considerada polo econômico
regional, lidera a microrregião do Alto Paranaíba, que é composta
por dez municípios (1).
Em Patos de Minas, desenvolvimento e qualidade de vida
andam juntos. A cidade é moderna, limpa, bem organizada, de
topografia plana e clima agradável. A infraestrutura é adequada
para receber pessoas e investimentos. Cerca de 99% das ruas da
cidade são asfaltadas e possuem iluminação pública. Quase a
totalidade dos habitantes (97%) é beneficiada com água tratada
de excelente qualidade. O sistema de abastecimento de água da
Copasa em Patos de Minas foi premiado por duas vezes pela As-
sociação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes)
e o sistema de esgotamento sanitário atinge cerca de 98% da
população (2).
No setor industrial e comercial, conta com 442 indústrias e
2.108 estabelecimentos comerciais, participando, o município,
com 0,38% da arrecadação do ICMS de Minas Gerais (2). de Consentimento Livre e Esclarecido por cada um deles. Foram
Já na área da saúde, é destaque no Estado de Minas Gerais e no
Brasil, devido, entre outros fatores, aos programas desenvolvidos,
aos postos de assistência localizados em áreas estratégicas e aos
baixos níveis de mortalidade infantil registrados. Os hospitais
particulares e públicos têm capacidade de 300 leitos (2).
Entretanto, o desenvolvimento, a industrialização e a ur-
banização trazem consigo problemas ambientais em razão das
modificações pela ação humana, como é comum nos grandes
centros. Há a alteração da qualidade do ar e da água, além da
predisposição às doenças características do meio rural que se
adaptam a certas condições de transmissão em focos urbanos,
gerando problemas ambientais que são simultaneamente consi-
derados problemas de saúde (3).
A preocupação com os efeitos na saúde provocados pelas con-
dições ambientais é evidente desde a antiguidade, principalmente
quando associados aos efeitos do rápido e intenso processo de
industrialização e urbanização que passaram a incidir nas con-
dições de vida e trabalho, podendo acarretar a disseminação das
doenças (3).
Tabela 1 - Número de casos confirmados e incidência por agravo em Patos de Minas em 2009.
Agravos
Acidentes por animais peçonhentos
Dengue
Doença de Chagas aguda
Febre maculosa
Hanta virose
Leishmaniose tegumentar
Leptospirose
25
Os problemas ambientais não estão restritos somente ao
processo de industrialização e urbanização, mas também aos
aspectos de saneamento e controle de vetores e outros fatores,
como poluição química, radioativa, indo além dos ambientes
locais ocasionando alterações no futuro sobre a saúde e a vida
no planeta (3).
Este trabalho teve como objetivo identificar e relacionar os
principais agravos epidemiológicos com as ações desenvolvidas
pela Vigilância em Saúde Ambiental de Patos de Minas para
prevenção e promoção da saúde da população.
Material e métodos
Tratou-se de um estudo descritivo-transversal-retrospectivo, com
abordagem quantitativa. Após aprovação do Comitê de Ética e
Pesquisa da UNIFRAN (protocolo nº 88/10), foi iniciado o pro-
cedimento de coleta de dados. Os dados foram coletados junto à
Secretaria Municipal de Saúde de Patos de Minas nos setores de
Vigilância Ambiental e Epidemiológica por meio de entrevistas
com os responsáveis por cada setor, após assinatura do Termo
incluídos somente os dados referentes ao período de janeiro a de-
zembro de 2009, excluindo qualquer dado fora dessa delimitação.
Os resultados foram analisados de forma descritiva, expressos em
tabela com valores absolutos.
Resultados
Foram registrados, no período de janeiro a dezembro de 2009,
segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação
(SINAN) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Patos de Mi-
nas, considerando a população de 138.836 habitantes, 197 casos
de acidente por animais peçonhentos, 237 casos de dengue, 5 de
hantavirose e 4 de leptospirose. Para as doenças febre maculosa,
doença de Chagas aguda e leishmaniose tegumentar foi registra-
do um caso para cada agravo, conforme demonstra a Tabela 1.
A administração pública local vem desenvolvendo estratégias
para controle ambiental por meio dos programas: Plano de Ge-
renciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), Vigiágua,
Vigisolo, Vigiar e Vigienchentes. Há também a adoção de medidas
de controle ambiental pela parceria com o Centro de Controle
Número de casos Incidência 1:10.000
197 14,80
237 17,07
01 0,07
01 0,07
05 0,36
01 0,07
04 0,28
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de Zoonoses. Foram realizadas mobilizações socioeducativas no
combate à dengue, além da implantação de projetos, como Con-
trole Biológico do Peixe Guppy, Citronela e Arte em Pneus, além
de outros a serem desenvolvidos, como o Ecoponto, o Projeto para
diagnóstico hidroambiental das microbacias do Rio Paranaíba e
o Projeto de recolhimento de pilhas, baterias, sacolas plásticas
nas escolas e medicamentos nas Unidades Básicas de Saúde em
parceria com a Copasa.
Discussão
Problemas ambientais são simultaneamente problemas de saúde,
pois afetam os seres humanos e as sociedades. A preocupação
com os efeitos na saúde provocados pelas condições ambientais
é evidente desde a antiguidade, mas acentuou-se em meados dos
séculos XVIII e XIX quando os problemas ambientais sobre a saú-
de estiveram associados aos efeitos do rápido e intenso processo
de industrialização e urbanização (3).
Nessa época, as estratégias sanitárias tinham como funda-
mento eliminar sujeiras externas e odores detectáveis com a
finalidade de impedir a disseminação de doenças. Atualmente,
os problemas ambientais não estão restritos apenas a aspectos
de saneamento básico e controle de vetores; existem perigos
ambientais que ameaçam a saúde pública (3).
O município de Patos de Minas, assim como os grandes cen-
tros, vem enfrentando problemas ambientais decorrentes do cres-
cimento econômico e industrial, como alterações na qualidade
da água, do solo e alimentos e as ocorrências de determinadas
doenças associadas às modificações ambientais (4). Várias ações
têm sido propostas a fim de contornar as consequências desse
processo, como a implantação de programas previstos pela Vigi-
lância em Saúde Ambiental.
A Vigilância em Saúde Ambiental constitui-se no conjunto de
ações e serviços que proporcionam o conhecimento e a detecção
de fatores de risco do meio ambiente que interferem na saúde
humana. O sistema integra informações e ações de diferentes
setores com o objetivo de prevenir e controlar os fatores de risco
de doenças e de outros agravos à saúde, decorrentes do ambiente
e das atividades produtivas. Tais ações e serviços são prestados por
órgãos e entidades públicas e privadas. A Vigilância em Saúde Am-
biental tem como universo de atuação todos os fatores ambientais
de riscos que interferem na saúde humana; as inter-relações entre
o homem e o ambiente e vice-versa (5).
Em Patos de Minas, o setor de Vigilância em Saúde Ambiental
vem propondo diversos programas com o intuito de reduzir o
número de agravos relacionados com causas ambientais, como
os descritos abaixo:
• Programa Vigiágua – Vigilância em Saúde Ambiental Re-
lacionada à Qualidade da Água para Consumo Humano:
tem por objetivo garantir à população o acesso à água
com qualidade compatível com o padrão de potabilidade
estabelecido na legislação vigente (Portaria nº 518, de
25/3/2004) para a promoção da saúde (4). Em Patos de
Minas, esse programa faz o mapeamento de áreas de risco
utilizando a vigilância da qualidade da água consumida
pela população, tanto aquela distribuída por sistemas
de abastecimento de água quanto aquela proveniente de
soluções alternativas, para avaliação das características
de potabilidade, a fim de evitar que as pessoas adoeçam
pela presença de patógenos na água;
• Programa Vigisolo – Vigilância em Saúde Ambiental Re-
lacionada às Populações Expostas a Solos Contaminados:
tem por objetivo identificar os fatores ambientais de risco
à saúde da população no que se relaciona à exposição às si-
tuações de risco decorrentes da contaminação química do
solo baseada na Portaria GM/MS nº 1172 de 15/6/2004,
que estabelece como prioridade a identificação de áreas
com populações expostas a solos contaminados (4). Em
Patos de Minas esse programa prevê o mapeamento e o
cadastramento das áreas de contaminação ambiental da
superfície e do subsolo terrestre que tenham potencial
risco à saúde humana, especialmente as áreas de resíduos
(passivos) perigosos e tóxicos. Além disto, pretende-se
identificar sistemas de monitoramento destas áreas, vi-
sando à identificar, caracterizar, quantificar, cadastrar
e monitorar substâncias, especialmente àquelas de in-
teresse à saúde humana. Esse mapeamento é realizado
em todos os postos de combustível, lava-jatos, e outras
indústrias que contaminam o solo, garantindo à popu-
lação uma redução dos possíveis riscos provenientes da
exposição a produtos químicos. Outras ações específicas
foram relatadas, como a Regulamentação dos Resídu-
os Biológicos de Abatedouros de Aves, por meio da qual
as empresas abatedoras de frango do município foram
orientadas a usarem o método de compostagem em suas
próprias propriedades; e a capacitação de vinte servidores
do Aterro Sanitário sobre segurança ocupacional e desti-
nação final dos resíduos sólidos urbanos e de saúde. Não
foi encontrado nenhum registro de agravo notificado
decorrente de contaminação química;
• Programa Vigiar – Vigilância em Saúde Ambiental Rela-
cionada à Qualidade do Ar: baseado na Portaria Normati-
va nº 348 de 14/3/90 (Resolução CONAMA nº 03/90) em
que o IBAMA estabelece os padrões nacionais de qualida-
de do ar. Este projeto tem por objetivo promover a saúde
da população exposta aos fatores ambientais relacionados
aos poluentes atmosféricos, que é um meio propício para
a disseminação de agentes capazes de causar impactos
sobre a saúde humana. O processo de desenvolvimento
humano, com a concentração populacional em centros
urbanos, a industrialização crescente e a expansão agrí-
cola representam um fator importante para o aumento
das emissões de poluentes atmosféricos e, como conse-
quência, a contaminação do ar que respiramos (4). Em
Patos de Minas esse programa encontra-se em processo
de implantação;
• Programa Vigidesastres – Vigilância em Saúde Ambiental
dos Riscos Decorrentes dos Desastres Naturais: baseado
na Portaria nº 372 de 10/3/2005 que institui atendimen-
to emergencial aos Estados e municípios acometidos por
desastres naturais, este programa tem por objetivo desen-
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volver ações para reduzir a exposição da população aos ris-
cos de desastres, além da redução de doenças decorrentes
destes (4). Neste município, o campo de atuação deste
programa encontra-se dentro dos desastres naturais re-
lacionados ao aumento das precipitações hídricas e inun-
dações, contando com a ação do programa Vigienchentes,
o qual distribui material informativo e hipoclorito às
vítimas de enchentes, além do acompanhamento dessas
vítimas em conjunto com a Defesa Civil. Essa mobilização
foi devido à notificação dos quatro casos de leptospirose
no município;
• O Plano de Gerenciamento de Resíduos dos Serviços de
Saúde – PGRSS – promove ações relativas ao manejo de re-
síduos sólidos, implementado a partir de bases científicas
e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de mini-
mizar a produção de resíduos e proporcionar, aos resíduos
gerados, um encaminhamento seguro, de forma eficiente,
visando à proteção dos trabalhadores, à preservação da
saúde, dos recursos naturais e do meio ambiente (6). Im-
plantado em Patos de Minas em 2009, o PGRSS realizou
o treinamento em 14 Unidades de Atenção Primária à
Saúde (UAPS) e capacitou 213 profissionais da saúde.
Dentro do campo de ação da Vigilância em Saúde Ambiental
está o controle dos fatores de riscos biológicos que se concentram
em vetores, animais peçonhentos e hospedeiros e reservatórios.
A vigilância de fatores de riscos biológicos relacionada a ani-
mais peçonhentos (serpentes, escorpiões, aranhas, himenópteras
e lepidópteros), que podem resultar em acidentes de interesse para
a saúde pública, tem como finalidade o mapeamento de áreas de
risco em determinados territórios, suas relações com a vigilância
epidemiológica para avaliação dos acidentes e das medidas de
controle utilizadas, além da interação com a rede de laborató-
rios de saúde pública (5). Em Patos de Minas, foram notificados
e confirmados 197 acidentes por animais peçonhentos, o que
motiva o Centro de Controle de Zoonoses a promover ações de
controle da população de escorpiões, morcegos e caramujos, além
de capturar animais de grande porte.
A vigilância de fatores de riscos biológicos relacionados aos
vetores (Anopheles, Aedes aegypti, Culex, Flebótomos e Triatomíne-
os) transmissores de doenças (malária, febre amarela, dengue,
leishmanioses, entre outras) tem como finalidade o mapea-
mento de áreas de risco em determinados territórios, utilizando
a vigilância entomológica (características, presença, índices de
infestação, avaliação da eficácia dos métodos de controle), suas
relações com a vigilância epidemiológica quanto a incidência e
prevalência destas doenças e do impacto das ações de controle,
além da interação com a rede de laboratórios de saúde pública e
a inter-relação com as ações de saneamento, visando ao controle
ou à eliminação dos riscos (5).
Em relação à leishmaniose tegumentar, foi registrado apenas
um caso (0,07:10.000) refletindo uma incidência menor que a
média nacional (1,16:10.000). Propõe-se o monitoramento das
unidades territoriais definidas como áreas de maior risco de
produção da doença, busca conhecer a região e definir suas ca-
racterísticas ambientais, sociais e econômicas além de estabelecer
27
um diagnóstico precoce desenvolvendo ações específicas para
os casos detectados (7). Em Patos de Minas, visando prevenir
o aparecimento de novos casos de leishmaniose tegumentar, a
Vigilância em Saúde Ambiental executou nos bairros do entorno
do Rio Paranaíba, região onde foi diagnosticado o caso da doença,
visitas por agentes sanitários para borrifar inseticida dentro e
fora das casas para evitar a proliferação do mosquito transmissor
da doença.
Em Patos de Minas também foi notificado somente um caso
de febre maculosa, porém, não foram adotadas medidas preventi-
vas, como eliminação dos vetores e reservatórios e dos elementos
suscetíveis da população passível ao risco.
A Portaria do MS/ 1007 de 4/5/2010 considera que as ações
de Vigilância em Saúde, entre elas, a promoção da saúde, devem
estar inseridas no cotidiano das equipes de Atenção Primária/
Saúde da Família, com atribuições e responsabilidades definidas
em território único de atuação, integrando os processos de traba-
lho, nos quais as atividades dos Agentes Comunitários de Saúde
(ACS) e dos Agentes de Combate as Endemias (ACE) devem ser
desempenhadas de forma integrada e complementar.
De acordo com essa portaria, mobilizações socioeducativas
foram desenvolvidas pela vigilância ambiental, no combate à
dengue, com a participação de um público estimado de 20.000
pessoas. Foram realizadas 34 blitz educativas, setenta apresenta-
ções em escolas e empresas e nove mutirões de limpeza. Foi criado
o projeto “Tá Limpo, Ganha” que tinha por objetivo incentivar as
pessoas a manterem seu quintal limpo, oferecendo brindes aos
que assim fizessem. Cerca de oito mil pessoas participaram desse
projeto. Toda essa mobilização fundamentou-se na notificação
de 237 (17,07:10.000) casos de dengue em Patos de Minas em
2009. Em contrapartida, o Brasil registrou valores superiores
no mesmo período, cerca de 400.000 (21,40:10.000) casos (8).
Tais resultados destacam os efeitos positivos das ações propostas
pelo município.
Patos de Minas ainda conta com outros projetos no combate à
dengue, como o Controle Biológico do Peixe Guppy, peixe larvó-
fago usado na redução natural da população de Aedes aegypti em
depósitos com impossibilidade de controle mecânico (remoção ou
destruição); Projeto Citronela, que distribui mudas dessa planta
repelente para regiões endêmicas e o Projeto Arte em Pneus,
no qual artesãos utilizam os pneus inservíveis na confecção de
móveis e brinquedos.
A vigilância de fatores de riscos biológicos relacionados aos
hospedeiros e reservatórios (caramujos, cães, gatos, morcegos,
roedores, saguis, raposas, suínos, bovinos e aves) de doenças (rai-
va, leishmanioses, equinococose, leptospirose, peste, doença de
Chagas, sarna, toxicoplasmose, hantavírus) tem como finalidade
o mapeamento de áreas de risco em determinados territórios uti-
lizando a vigilância ambiental e as suas relações com a vigilância
epidemiológica quanto à incidência e prevalência destas doenças
e do impacto das ações de controle, além da interação com a rede
de laboratórios de saúde pública e a inter-relação com as ações de
saneamento, visando ao controle ou à eliminação dos riscos (5).
Preocupada com os cinco casos registrados de hantavirose,
a Vigilância Ambiental em Saúde desenvolveu ações no sentido
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de reduzir a ocorrência de tal agravo, ao adotar medidas que
impeçam o contato do ser humano com os roedores silvestres e
suas excretas. Os profissionais que desenvolvem atividades que
favorecem a exposição nesses ambientes foram orientados a fazer
uso de equipamentos de proteção (luvas e botas).  aspirações, satisfazer necessidades e transformar, ou adaptar-se,
Em relação à doença de Chagas, em 2009, somente um caso
foi notificado, porém, o município faz o controle desse agravo
com o monitoramento de 860 residências rurais, orientando os
moradores quanto à melhoria dos tipos de habitações e hábitos
de higiene.
Apesar de todos os esforços da Vigilância em Saúde Ambien-
tal em prol de controlar ou minimizar o número de agravos, a
incidência em Patos de Minas das doenças hantavirose, leptos-
pirose, doença de Chagas aguda, febre maculosa e acidentes por
animais peçonhentos, manteve-se superior à incidência média
nacional. Diante desse fato, recomenda-se a adoção de medidas
de prevenção e promoção de saúde a fim de controlar os fatores
de risco relacionados a tais doenças.
A Vigilância em Saúde Ambiental, ainda preocupada com a
resolução dos problemas ambientais, prevê o desenvolvimento
de outros projetos, entre eles:
- construção de um Ecoponto baseado na Resolução nº 416, de
30/9/2009, que dispõe sobre a prevenção à degradação ambiental
causada por pneus inservíveis e sua destinação ambientalmente
adequada. O Ecoponto será um local para onde serão levados os
pneus inservíveis recolhidos pelo próprio serviço, ou aqueles leva-
dos diretamente por borracheiros e recapadores. A prefeitura fica
responsável pela retirada dos pneus do Ecoponto e pela destinação
ambientalmente adequada destes para empresas destinadoras li-
cenciadas pelos órgãos ambientais competentes. Uma das formas
mais comuns de reaproveitamento dos pneus inservíveis é como
combustível alternativo para as indústrias de cimento, além do
uso na fabricação de solados de sapatos, borrachas de vedação, du-
tos pluviais, pisos para quadras poliesportivas, pisos industriais,
além de tapetes para automóveis. Há projetos para utilização dos
pneus inservíveis como componentes para a fabricação de manta
asfáltica e asfalto-borracha;
- diagnóstico hidroambiental das microbacias do Rio Paranaí-
ba nos municípios de Rio Paranaíba, Carmo do Paranaíba, Lagoa
Formosa, Patos de Minas e Presidente Olegário, na expectativa
de reversão dos processos de degradação dos recursos hídricos,
bem como a promoção e práticas de uso racional dos mesmos por
meio de atividades de Educação Ambiental;
- projeto para o recolhimento de pilhas e baterias para serem
destinadas a uma empresa de reciclagem; os restos de medica-
mentos da população serão recolhidos e descartados nas Unida-
des Básicas de Saúde, recebendo o mesmo destino dos resíduos
dos serviços de saúde; com o intuito de evitar a contaminação
química do solo.
A abordagem socioambiental define promoção à saúde como o
processo de capacitação de indivíduos para que tenham controle
sobre os determinantes de saúde com o objetivo de terem uma
melhor qualidade de vida, havendo necessidade de mudanças
no modo e nas condições de vida. Representa uma estratégia
de mediação entre as pessoas e o meio ambiente, combinando
escolhas pessoais e responsabilidade social, com o objetivo de
criar um futuro mais saudável. Para que os indivíduos tenham
saúde, é necessário que sejam capazes de identificar e realizar
de acordo com o meio (9).
Um dos maiores desafios da Vigilância em Saúde Ambien-
tal é certamente trabalhar as questões pertinentes da relação
entre saúde e ambiente, exigindo ações de promoção de saúde,
possibilitando a criação de ambientes favoráveis em detrimento
das condições desfavoráveis ocasionadas pelo desenvolvimento.
Apesar dos inúmeros programas atuantes e projetos em anda-
mento, recomenda-se uma maior utilização das ferramentas de
avaliação e controle, como o mapeamento e avaliação de risco,
além de trabalhar a interdisciplinaridade e intersetorialidade,
ampliando as ações ambientais.
Considerações finais
Por meio deste estudo foi possível identificar e relacionar os prin-
cipais agravos epidemiológicos com as ações desenvolvidas pela
Vigilância em Saúde Ambiental de Patos de Minas para prevenção
e promoção da saúde da população.
O crescimento urbano desordenado, o uso indiscriminado
de recursos naturais, a ocupação inadequada de locais para mo-
radia, a falta de saneamento básico, a expansão desordenada da
industrialização, a manipulação de produtos nocivos à população
e muitas outras situações que colocam em risco a saúde humana,
pressupõem o aparecimento de doenças, sobretudo as transmiti-
das por água, ar, solo, alimentos, vetores, reservatórios e animais
peçonhentos. Este fato gera a necessidade de intensificação das
ações de Vigilância em Saúde Ambiental de forma oportuna,
coordenada e articulada com outros setores e com base em dados
para a tomada de decisões. As ações intersetoriais vêm ganhando
importância crescente à medida que novas estratégias são desen-
volvidas, quando são destinadas à prevenção e promoção da saúde
das populações que estão de alguma forma sob interferência
dessas adversidades.
Os programas de promoção da saúde relacionados com os
problemas ambientais devem ser movimentos politicamente
agressivos e emancipadores, socialmente justos, economicamente
viáveis e ecologicamente prudentes, abordando a perspectiva de
uma equidade social, política e econômica.
Recomenda-se a superação dos agravos relatados pela partici-
pação efetiva da população, propondo ações que tenham como
objetivo garantir oportunidades e recursos para possibilitar que
as pessoas alcancem o máximo de saúde e que tenham compe-
tência para fazer as escolhas saudáveis, além da efetivação de uma
consciência cidadã que garanta uma melhor qualidade de vida.
Referências
(1) Brasil. Ministério do planejamento, orçamento e gestão. In-
stituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico
2000-2010. Rio de Janeiro: IBGE; 2010.
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(2) Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [homep-

age na internet]. Cidades [acesso em 9 out 2010]. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat.

(3) Freitas CM. Problemas ambientais, saúde coletiva e ciências

sociais. Cien saúde coletiva. 2003;8:137-50.

(4) Radicchi ALA, Lemos AF. Saúde ambiental. Belo Horizonte:

Nescon/UFMG, Coopmed; 2009.

(5) Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Vigilância Ambiental em

Saúde. Brasília: Funasa; 2002.

(6) Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC AN-

VISA Nº 306/4. ANVISA; 2006.

(7) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.

Manual de vigilância da leishmaniose tegumentar americana. 2.
ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2007.

(8) Brasil. Ministério da Saúde. Informações de Saúde. Casos

confirmados notificados no Sistema de Informação de Agravos
de Notificação. Brasília: DATASUS/Sinan Net; 2010.

(9) Jacobi P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade.

Cad. pesqui. 2003;118:189-205.

Conflitos de interesse

Não houve conflitos de interesse de qualquer natureza (econô-

micos, pessoais, científicos, assistenciais, educacionais, religiosos
e sociais) que possam ter interferido nos resultados da pesquisa.