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UNIDADE 2

O SISTEMA DE ENSINO, LEGISLAÇÃO,


POLÍTICAS E PROGRAMAS PARA A
EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

A partir do estudo desta Unidade você será capaz de:

 conhecer as leis que regem a educação especial no Brasil;

 identificar as políticas públicas através dos movimentos na educação


especial;

 reconhecer a importância do atendimento educacional especializado;

 identificar a acessibilidade como direito de todos.

E
PLANO DE ESTUDOS D
U.

Esta Unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada E


tópico, você encontrará atividades que possibilitarão o aprofundamento S
P.
e a aprendizagem de conhecimentos na área.
I
N
C
L
U
S
TÓPICO 1 – HISTÓRIA E LEGISLAÇÃO QUE I
V
R E G U L A M E N TA A E D U C A Ç Ã O A:
ESPECIAL
A
S
TÓPICO 2 – P OLÍTICAS P ÚBLICAS PARA A P.
EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA
H
I
TÓPICO 3 – AT E N D I M E N TO E D U C A C I O N A L S.,
ESPECIALIZADO
L
E
TÓPICO 4 – A C E S S I B I L I D A D E : P O N T O S E G.
CONTRAPONTOS
E

F
I
L.
E
D
U.

E
S
P.

I
N
C
L
U
S
I
V
A:

A
S
P.

H
I
S.,

L
E
G.

F
I
L.
UNIDADE 2

TÓPICO 1

HISTÓRIA E LEGISLAÇÃO QUE


REGULAMENTA A EDUCAÇÃO ESPECIAL

1 INTRODUÇÃO

Nesta unidade, abordaremos a história e a legislação que regulamenta a Educação


Especial no Brasil. Este estudo possibilitará compreender o contexto em que as leis foram
elaboradas, bem como a sua influência na vida social das pessoas com necessidades especiais.

A compreensão das leis e sua redação são de suma importância no processo


educacional, pois o uso de determinadas palavras interfere diretamente no cumprimento ou
desacato dessas leis. Veremos, por exemplo, a influência da palavra “preferencialmente” na
legislação que regulamenta este segmento da educação brasileira. Faz-se necessário refletir
sobre a construção das leis, pois a sua concepção assim como sua redação gerarão influências E
D
que vão incluir ou segregar a pessoa com necessidades especiais. U.

E
S
Assim se pode compreender a atual situação legislativa da Educação Especial Inclusiva P.
no Brasil. Nesta disciplina iremos abordar a trajetória, tanto de omissão quanto de inclusão, de I
leis que ressaltam os direitos das pessoas com necessidades especiais. N
C
L
U
Este texto se propõe a realizar um rastreamento histórico da Educação Especial Inclusiva, S
I
procurando compreender que leis permitiram discutir o direito da pessoa com necessidades V
A:
especiais no que tange ao seu acesso ao sistema regular de ensino.
A
S
P.

H
I
2 HISTÓRIA E LEGISLAÇÃO QUE S.,
REGULAMENTA A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL
L
E
G.
A legislação brasileira no âmbito da Educação Especial apresenta-se inicialmente na
Constituição Federal de 1988. Antes, porém, de compreendermos o que ela significou para este E

segmento educacional precisamos saber o que é definido numa Constituição Federal. Nesta F
I
L.
54 TÓPICO 1 UNIDADE 2

lei (que é a chamada lei maior da nação) são definidos: os direitos das pessoas – sendo estes
individuais, coletivos, sociais ou políticos; e os limites de poder para os governantes.

Como estamos discutindo especificamente a Educação Especial Inclusiva no Brasil,


remeteremos nossos olhares para a última Constituição, datada de 1988. Assim como todas as
leis, é importante compreender o contexto histórico vivenciado pelo Brasil na época em que a
mesma foi redigida. O Brasil estava vivenciando o fim do Regime Militar e todos os segmentos
da sociedade concebiam como necessária a elaboração de uma nova Constituição.


!
ROS
OS FUTU
ESTUD

Caro(a) acadêmico(a), para descobrir mais informações sobre a


Constituição Federal de 1988 e aprofundar seus conhecimentos em
relação ao contexto histórico em que foi promulgada, sugerimos
acessar os sites:
< h t t p : / / w w w . p l a n a l t o . g o v. b r / c c i v i l _ 0 3 / c o n s t i t u i c a o /
constitui%C3%A7ao.htm>. E <http://www.revistaautor.com/index.
php?option=com_content&task=view&id=310&Itemid=38>.

Vale ressaltar que nas Constituições Federais anteriores não havia nenhuma menção
às pessoas com necessidades especiais. Analisaremos a seguir, o Art. 208 da Constituição
de 1988 que define:
E
D
U. O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de:

E
S III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente
P.
na rede regular de ensino; [...]
I
N
C
L Este artigo define que a pessoa com necessidades especiais é compreendida como
U
S ser possuidor de direito à educação. Pode-se, então, concluir que um dos entraves para a
I
V
efetivação da inclusão de pessoas com necessidades especiais no segmento educacional
A: estava resolvido. Infelizmente, isto não é verídico, pois existe neste artigo uma palavra que
A possibilita várias interpretações desta lei: a palavra preferencialmente. Esta palavra é um dos
S
P. entraves ainda na atualidade para o processo de inclusão porque possibilita à sociedade fazer
H uma escolha: pode tanto inserir a pessoa com necessidades especiais nas salas especiais,
I
S.,
quanto no ensino regular de educação.

L
E Percebe-se assim o quanto uma palavra pode ser um empecilho na efetivação do direito
G.
do ser humano, tenha ele necessidades especiais ou não. Mais adiante analisaremos outras
E
leis que também possibilitam ambiguidades em seus artigos e/ou cláusulas. Deste modo, a Lei
F
I de Diretrizes e Bases (LDBEN), nº 9.394/96, possibilita muitas reflexões por conter um capítulo
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 1 55

específico sobre a Educação Especial: o Capítulo V.

Como também aconteceu na Constituição Federal de 1988, a LDBEN foi promulgada


várias vezes através das leis 4.024, de dezembro de 1961; lei 5.692, de 11 de agosto de 1971;
lei 7.044, de 18 de outubro de 1982 e lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Inicialmente,
tomaremos como ponto de partida o Artigo 58 da Lei 9.394/96 que define Educação Especial.

Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade


de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino,
para educandos portadores de necessidades especiais.

NOT
A!

Todas as leis citadas estão disponíveis na internet no seguinte
endereço: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis>. Acesso em: 24
jun. 2010.

Em conformidade com o que foi relatado anteriormente, na Constituição Federal de


1988, o uso da palavra preferencialmente dificulta a inclusão das pessoas com necessidades
especiais na escola. Por possibilitar mais interpretações, a lei acaba proporcionando ao indivíduo
o seu cumprimento ou descumprimento. Faz-se necessário atentar que a inclusão não é uma
brincadeira de faz de conta onde os gestores decidem se pessoas com necessidades especiais
podem ser matriculadas em suas escolas ou não. Se a inclusão é um direito constitucional
da pessoa com necessidades especiais, é dever de todos os segmentos da sociedade incluir E
D
este cidadão. U.

E
S
Seguidamente a menção dos incisos 1, 2 e 3, Art. 58, se faz necessária, pois eles definem P.
normas de inclusão das pessoas com necessidades especiais no segmento de educação I
N
especial quando a deficiência assim o requerer. Leia-os a seguir: C
L
U
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, S
I
para atender às peculiaridades da clientela de educação especial. V
A:

A
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, S
sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração P.

nas classes comuns de ensino regular. H


I
S.,

§ 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa L


E
etária de zero a seis anos, durante a educação infantil. G.
E
A partir destes incisos observa-se que a Educação Especial Inclusiva é um direito da
F
pessoa com necessidades especiais desde a Educação Infantil, ou seja, a faixa etária que I
L.
56 TÓPICO 1 UNIDADE 2

compreende de zero a seis anos. Sendo assim, desde o nascimento, conforme a LDBEN, a
pessoa com necessidades especiais tem o direito garantido de frequentar o ensino regular de
educação. Diante disto, surge o seguinte questionamento:

As especificidades e individualidades das pessoas são observadas e respeitadas no


momento da prática pedagógica?

De modo a trazer algumas hipóteses sobre estes questionamentos, analisaremos a
seguir o Artigo 59 da LDBEN:

Art. 59 - Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades


especiais:
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica, para
atender às suas necessidades;
II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a
conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir
em menor tempo o programa escolar para os superdotados;
III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para
atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a
integração desses educandos nas classes comuns;
IV - educação especial para o trabalho, visando à sua efetiva integração na vida em
sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção
no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para
E aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;
D
U. V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis
E para o respectivo nível do ensino regular.
S
P.

I
Partindo deste artigo acerca dos entraves para a inclusão das pessoas com
N necessidades especiais nos sistemas de ensino, podemos dizer que, se a lei fosse cumprida
C
L em sua integridade, a inclusão seria uma realidade. Se “todas” as pessoas fossem respeitadas
U
S com a garantia de igualdade de direitos, estaríamos cumprindo o que prevê a Declaração dos
I
V Direitos Humanos, de 1948, que antecede a Constituição de 1988. Já que a Declaração prevê
A:
a igualdade de direitos, não prevê a exclusão em nenhum segmento da sociedade.
A
S
P. Analisando a legislação, deveríamos ter de fato uma sociedade inclusiva, e que as
H pessoas com necessidades especiais estivessem inseridas no sistema regular de ensino. No
I
S., entanto percebemos que ainda há um longo caminho a ser percorrido, ou seja, ainda acontece
L um engatinhar perante a inclusão social e escolar. Muitas vezes vive-se a falsa concepção
E
G.
de inclusão quando a escola possui matrículas destas pessoas nas salas de aula. Esta
ação é desempenhada e, assim, acredita-se que o dever de cumprir a lei já está terminado.
E
Porém, esquece-se de que uma pessoa com necessidades especiais necessita de cuidados
F
I específicos, como todo ser humano. Para tal, necessita-se de profissionais habilitados que
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 1 57

saibam desenvolver uma metodologia condizente com a diversidade escolar.

Infelizmente ainda, em muitas escolas do Brasil, a pessoa com necessidades especiais


é concebida como um incômodo, tanto para as crianças quanto para o professor. Ou então é
vista com uma concepção de piedade, e qualquer coisa que se faça já é suficiente, pois afinal,
pensa-se, a pessoa com necessidades especiais nunca será independente; ou ainda, muita
coisa não irá aprender devido à sua limitação.

Vamos analisar então o Parágrafo único do Artigo 59 da LDBEN:

O Poder Público adotará, como alternativa preferencial, a ampliação do atendimento


aos educandos com necessidades especiais na própria rede pública regular de ensino,
independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo.

As considerações referentes ao parágrafo único anteriormente especificado concluem


com facilidade que o Poder Público coloca em prática a lei de inclusão das pessoas com
necessidades especiais. Entretanto, a palavra preferencial é o entrave nesta parceria, pois
ela pode ser substituída por outra prioridade no momento. Faz-se notório assinalar que a
escola muitas vezes pode objetivar a inclusão destas pessoas no sistema regular de ensino.
Mas, como muitas vezes inexistem verbas no cofre público para adaptar, tanto as estruturas
físicas quanto a contratação de profissional e de material pedagógico específico, acaba-se
desistindo da inclusão. Sabe-se que sustentar financeiramente escolas é algo de alto valor e
que os cofres públicos brasileiros demonstram dificuldade no repasse de verbas suficientes.
Então, é de suma importância refletir que a inclusão de pessoas com necessidades especiais E
D
necessita também do investimento do Poder Público por meio de formação dos profissionais U.

e de materiais adaptados. Como se trata de uma lei, é dever dos profissionais da educação E
S
cobrar do órgão público a efetivação de seus deveres para com a Educação Especial Inclusiva. P.
Se os profissionais inseridos no segmento educacional não lutarem pela efetivação da lei, o I
que esperar da família das pessoas com necessidades especiais que, muitas vezes, não tem N
C
acesso às leis e informações necessárias sobre o direito de seus filhos? L
U
S
I
Esta discussão faz-se necessária porque a Resolução Nº 2, do Conselho Nacional V
A:
de Educação e Câmara de Educação Básica (CNE/CEB), no Artigo 2o, de 11 de setembro de
A
2001, determina que: S
P.
Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas H
organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacio- I
nais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação S.,
de qualidade para todos. (BRASIL, 2001).
L
E
G.
Esta resolução é de cinco anos após a LDBEN e faz menção à matrícula das pessoas
E
com necessidades especiais nos sistemas de ensino, porém de modo distinto, ou seja, delega a
F
responsabilidade à escola para a organização dos atendimentos a estas pessoas. Vale atentar I
L.
58 TÓPICO 1 UNIDADE 2

que não há menção, nesta resolução, de recursos necessários para esta organização e nem
de onde os mesmos virão, ou seja, quem será responsável pelo financiamento.

Para ampliar ainda mais nossos saberes acerca da inclusão das pessoas com
necessidades especiais, sob a ótica da legislação, faremos uma retrospectiva, imergindo na
década de 80 – mais especificamente no ano de 1989 – na qual foi criada a Lei nº 7.853, de
24 de outubro de 1989. A seguir estão alguns fragmentos desta lei que contribuirão para o
tema em estudo.

Lei n. 7.853, de 24 de outubro de 1989.

Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração


social, sobre a Coordenadoria para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência – CORDE, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou
difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define
crimes, e dá outras providências.
[...]
Art. 2º Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de
deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à
saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de
outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social
e econômico.

Parágrafo Único. Para o fim estabelecido no capítulo deste artigo, os órgãos e entidades
da administração direta e indireta devem dispensar, no âmbito de sua competência e finalidade,
E
D aos assuntos objetos desta Lei, tratamento prioritário e adequado, tendente a viabilizar, sem
U.
prejuízo de outras, as seguintes medidas:
E
S
P.
I - na área da educação:
I
N
C • a inclusão, no sistema educacional, da Educação Especial como modalidade educativa que
L
U abranja a educação precoce, a pré-escolar, as de 1º e 2º graus, a supletiva, a habilitação e
S
I reabilitação profissionais, com currículos, etapas e exigências de diplomação próprios;
V
A:
• o oferecimento obrigatório de programas de Educação Especial em estabelecimentos públicos
A
S de ensino;
P.

H
I • a oferta, obrigatória e gratuita, da Educação Especial em estabelecimentos públicos de
S.,
ensino;
L
E
G. • o oferecimento obrigatório de programas de Educação Especial em nível pré-escolar e escolar,
E em unidades hospitalares e congêneres nas quais estejam internados, por prazo igual ou
F superior a um ano, educandos portadores de deficiência;
I
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 1 59

• o acesso de alunos portadores de deficiência aos benefícios conferidos aos demais


educandos, inclusive material escolar, merenda escolar e bolsa de estudo;

f) a matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos públicos e particulares de


pessoas portadoras de deficiência capazes de se integrarem ao sistema regular de ensino.

Analisando estes fragmentos constatamos que havia uma preocupação por parte do
governo federal na consideração da pessoa com necessidades especiais como qualquer outro
ser humano pertencente à sociedade brasileira. Visualiza-se o anseio pela efetivação desta
pessoa enquanto alguém que também possui direitos, como uma pessoa dita “normal” através
da especificação de seis cláusulas sobre a acessibilidade à educação. Na quinta cláusula é
perceptível a preocupação desta lei no usufruto das pessoas com necessidades especiais aos
mesmos direitos (materiais, merenda e bolsa de estudos) que as demais pessoas.

Pelo fato de esta lei ser tão incisiva na garantia de igualdade, faz-se notório tecer
reflexões:

Conforme discutimos na Unidade 1, o processo de inclusão das pessoas com


necessidades especiais na sociedade foi um longo processo construído arduamente no decorrer
da história humana. E, assim, a criação das leis surge da necessidade de a sociedade incluir
as pessoas com necessidades especiais sendo originárias de movimentos reivindicatórios
destas pessoas ou por conscientização das demais. Há de se pensar:

E
“Para que criar uma lei se não há algo que precisa ser corrigido ou modificado?” D
U.

As leis surgem conforme a organização da sociedade e, deste modo, a lei em discussão, E


S
(n. 7.853, de 1989), enfatiza o direito da pessoa com necessidades especiais ao mesmo direito P.

da pessoa “normal” no que tange a aspectos relacionados à educação no sistema regular. I


N
Surgiu de um processo de idas e vindas desde a segregação até a inclusão. Esta preocupação C
L
de enfatizar a inclusão em diferentes leis e em diferentes datas propicia considerações sobre U
o não cumprimento da lei. Ora, se a inclusão de fato acontecesse não seria necessário criar S
I
novas leis com a mesma temática. Diante disto, complementaremos estes aspectos com a V
A:
citação a seguir:
A
S
A integração dessas pessoas no sistema de ensino regular é uma diretriz P.
constitucional (Art. 208, III), fazendo parte da política governamental há pelo
H
menos uma década. Mas, apesar desse relativamente longo período, tal dire- I
triz ainda não produziu a mudança necessária na realidade escolar, de sorte S.,
que todas as crianças, jovens e adultos com necessidades especiais sejam
atendidos em escolas regulares, sempre que for recomendado pela avaliação L
E
de suas condições pessoais. Uma política explícita e vigorosa de acesso à G.
educação, de responsabilidade da União, dos Estados, Distrito Federal e dos
Municípios, é uma condição para que às pessoas especiais sejam assegurados E
seus direitos à educação. (MEC, 2001, p. 86).
F
Quais são então os empecilhos de efetivação da lei? Se a sociedade está sendo I
L.
60 TÓPICO 1 UNIDADE 2

negligente perante a lei, que é obrigatória, o que então está acontecendo? Ou é algo que o
ser humano pode decidir se quer ou não cumprir? Em busca de direcionamentos para estes
questionamentos, consultaremos o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), aprovado
em 13 de julho de 1990.

Seguem os dois artigos que colaborarão com a nossa discussão.

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno


desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o
trabalho, assegurando-lhes:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;


II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem
como participar da definição das propostas educacionais.

Este artigo é mais um elemento para fundamentar a nossa discussão acerca da inclusão,
pois deixa explícito que é direito de toda criança e adolescente o acesso à educação. Em
nenhum momento há distinção deste direito entre a criança “normal” e a “com necessidades
especiais”. Porém, a realidade brasileira denuncia, há muitas pessoas com necessidades
E especiais ainda excluídas da educação.
D
U.
Há muitos obstáculos físicos e sociais que impedem o livre acesso das crianças
E
S
com deficiência à escola e à educação inclusiva. Os dados do Censo Escolar
P. 2007 confirmam essa dificuldade: enquanto 70,8% cursam o Ensino Funda-
mental, apenas 2,5% estão no Ensino Médio. O número de estudantes nesse
I nível de ensino é muito mais baixo do que na educação de jovens e adultos
N
C
(11,2%). Por exemplo, há poucas escolas de Ensino Médio que oferecem
L atendimento e salas de recursos aos estudantes com deficiência. De acordo
U com dados do Censo Escolar, houve um crescimento de 94% nas matrículas
S na Educação Especial. 1998: 337.326. 2007: 654.606. Em relação ao ingresso
I
V
em classes comuns do ensino regular, o aumento foi de cerca de 597%. 1998:
A: 43.923. 2007: 304.882. (UNICEF, 2010).

A
S
P.
A partir deste relatório da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) ainda
há um longo caminho a se percorrer quando se discorre sobre inclusão. Muitas coisas ainda
H
I precisam acontecer para que todas as pessoas tenham pleno acesso à educação, com todos
S.,
seus direitos. Uma das estratégias é cobrar constantemente o dever do governo para a
L
E efetivação da lei de inclusão porque, como afirma o ECA,
G.
Art. 54. É dever do Estado, assegurar à criança e ao adolescente:
E

F
I
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 1 61

I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso
na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente
na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo
a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material
didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.

§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.


§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular
importa responsabilidade da autoridade competente.


!
ROS
SF UTU
ESTUDO

Sugiro acessar o site <http://www.unicef.org/brazil/pt/


resources_14927.htm>, para obter mais informações sobre a atual
situação da Educação Especial Inclusiva no Brasil.
E
D
O Fundo das Nações Unidas para a Infância
U.
– UNICEF – está presente no Brasil desde
1950, liderando e apoiando algumas das E
mais importantes transformações na área S
P.
da infância e da adolescência no país, como
as grandes campanhas de imunização e I
aleitamento, a aprovação do Artigo 227 da N
Constituição Federal e o Estatuto da Criança C
L
e do Adolescente, o movimento pelo acesso
U
universal à educação, os programas de S
combate ao trabalho infantil, as ações por uma vida melhor para I
crianças e adolescentes no Semiárido brasileiro. O UNICEF está V
A:
presente em praticamente todo o território nacional. O trabalho
das equipes do UNICEF impacta diretamente e para melhor a vida A
das crianças, dos adolescentes e de suas famílias. S
P.

H
I
S.,
Deste modo se é dever do Estado efetivar o acesso de todas as pessoas à educação,
L
então de quem é o dever de fiscalizar o seu cumprimento? Pensando rapidamente chegamos E
G.
logo à conclusão de que as famílias não podem se ausentar desta responsabilidade. Sendo
assim, faz-se extremamente necessário discorrer sobre o não conhecimento de uma lei devido E

à não vivência de alguma situação que possibilite reflexão. Perceba a importância de todos os F
I
integrantes da família nesse processo: L.
62 TÓPICO 1 UNIDADE 2

“Uma família possui uma criança com necessidades especiais e acredita que seja
melhor deixá-la em casa porque é bem cuidada por um dos seus integrantes e matriculá-la na
escola poderá atrapalhar as demais crianças”. “Se esta família não tiver contato com alguma
pessoa ou meio de comunicação que a convença sobre a importância da inclusão, a lei não
fará nenhuma diferença em sua vida”. Nesta perspectiva, o cumprimento ou descumprimento
terá o mesmo peso. Mesmo que sejam moedas distintas, o valor será o mesmo.

A seguir, utilizaremos mais um exemplo: “Uma pessoa, que não possui contato com
nenhuma pessoa com necessidades especiais, vive sua vida cumprindo suas obrigações
tanto familiares quanto trabalhistas. Seus vínculos de amizade são formados com pessoas
‘normais’”. Deste modo, temos um exemplo distinto do anterior no que se refere à situação, mas
semelhante ao cumprimento e descumprimento da lei (conforme conversamos antes). Para
esta pessoa a inclusão, ou não, da pessoa com necessidades especiais em pouco – para não
dizer nada – interfere em sua vida. Sendo assim, não é necessário participar de movimentos
que se mobilizem para a efetivação da lei.

E mais um exemplo é cabível para aprofundarmos os conhecimentos sobre a legislação


brasileira acerca da Educação Especial Inclusiva.

“Um professor do Ensino Fundamental recebe em sua classe regular uma criança com
necessidades especiais”. A matrícula desta criança pode promover no professor duas atitudes:
a de inclusão faz de conta, ou seja, continua realizando sua prática pedagógica como outrora,
acreditando que a criança é que é a responsável pela sua inclusão. Portanto, a criança precisa
E adaptar-se ao sistema, visto que é minoria na classe – ela é ‘o diferente’. A outra atitude possível
D
U. seria a inquietação que o move para repensar sua prática pedagógica. E para fazê-lo busca
E subsídios teóricos que ampararão sua prática. Também se utiliza das leis como estratégias de
S
P. amparo e para a inclusão desta criança no ensino regular.

I
N Ao utilizar as leis como ferramenta pedagógica, este profissional está realizando o seu
C
L dever enquanto cidadão e, do mesmo modo, luta pelo seu cumprimento. Esta atitude mostra
U
S que o professor é um integrante da sociedade que possui o dever de tanto usar as leis como
I
V amparo de sua prática pedagógica quanto informar as famílias das crianças que existem leis
A:
sobre a inclusão das pessoas com necessidades especiais.
A
S
P. Então, prezado(a) acadêmico(a), o profissional da educação e a família são parte
H integrante da sociedade que precisam urgentemente desempenhar sua função enquanto
I
S., membros dessa sociedade. Esta é uma forma direta de efetivação da lei. Quanto mais o
L profissional da educação desempenhar esta função, mais a inclusão será uma realidade no
E
G.
sistema regular de ensino da educação brasileira.

E
A política de inclusão de alunos que apresentam necessidades educacionais
F especiais na rede regular de ensino não consiste apenas na permanência
I física desses alunos junto aos demais educandos, mas representa a ousadia
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 1 63

de rever concepções e paradigmas, bem como desenvolver o potencial des-


sas pessoas, respeitando suas diferenças e atendendo suas necessidades.
(MEC, 2001, p. 28).

Esta citação é integrante das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na


Educação Básica de 2001 e traz indicativos importantíssimos sobre a inclusão. Faz-se notório
compreender o porquê da elaboração destas diretrizes.

UNI
Caro(a) acadêmico(a), sugiro que conheça mais sobre as Diretrizes
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, acesse o
site: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/diretrizes.pdf>.

Por haver muitos questionamentos acerca da Educação Especial na Educação Básica,


enfocados na sua necessidade e no atendimento às pessoas com necessidades especiais,
tanto nas áreas educacionais quanto políticas e sociais, este documento está pautado nos
seguintes aspectos:

E
D
U.

E
S
P.

I
N
C
L
U
S
I
FIGURA 10 – DIRETRIZES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL V
A:
NA EDUCAÇÃO BÁSICA
FONTE: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ A
diretrizes.pdf>. Acesso em: 24 jun. 2010. S
P.

H
I
a) a organização dos sistemas de ensino para o atendimento aos alunos que apresentam S.,
necessidades educacionais especiais; L
E
G.
b) operacionalização pelos sistemas de ensino;
E

F
c) organização do atendimento na rede regular de ensino; I
L.
64 TÓPICO 1 UNIDADE 2

d) organização do atendimento em escola especial;

e) etapas de escolarização de alunos com necessidades especiais em qualquer espaço escolar;

f) currículo;

g) terminalidade específica;

h) a educação profissional do aluno com necessidades educacionais especiais.

Diante das várias análises que realizamos, precisamos considerar a adaptação da


escola em relação à pessoa com necessidades especiais e não o contrário.

Este aspecto é ressaltado no documento das Diretrizes Nacionais para a Educação


Especial na Educação Básica. Esta concepção de educação inclusiva é praticada pela escola de
maneira consciente, na qual ela se coloca à disposição da pessoa com necessidades especiais
por meio de estratégias que possibilitem a sua inclusão social e escolar.

Em 9 de janeiro de 2001 é aprovado o Plano Nacional de Educação sob a Lei n.


10.172/01. O plano discorre sobre todos os segmentos e modalidades da Educação: Educação
Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação Indígena, Ensino Superior, Magistério da
Educação Básica, Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos, Educação a Distância e
Educação Tecnológica. Veja de forma resumida os vinte e sete objetivos e metas que o Plano
E Nacional de Educação tem para com as pessoas com necessidades educacionais especiais.
D
U. Essas metas tratam:
E
S
P. do
l desenvolvimento de programas educacionais em todos os municípios – inclusive em

I
parceria com as áreas de saúde e assistência social – visando à ampliação da oferta de
N atendimento desde a Educação Infantil até a qualificação profissional dos alunos;
C
L das
l ações preventivas nas áreas visual e auditiva até a generalização do atendimento aos
U
S alunos na Educação Infantil e no Ensino Fundamental;
I
V do
l atendimento extraordinário em classes e escolas especiais ao atendimento preferencial
A:
na rede regular de ensino;
A
S
da educação continuada dos professores que estão em exercício à formação em instituições
l
P. de ensino superior.
H
I
S., O nosso enfoque estará na Educação Especial e no documento que promove reflexões
L sobre a inclusão das pessoas com necessidades especiais no ensino regular, ao considerar
E
G.
que o aumento de matrículas destas pessoas neste segmento não anulou os déficits em
relação à sensibilização da comunidade em geral, à acessibilidade, a adaptações curriculares,
E
a professores especializados, a adaptações de livros e materiais escolares. Segundo esta
F
I lei: “[...] o grande avanço que a década da educação deveria produzir é a construção de uma
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 1 65

escola inclusiva, que garanta o atendimento à diversidade humana”. (MEC, 2001, p. 86). Sendo
assim, esta lei relata os objetivos e metas que são necessários para que aconteça o avanço
da década da educação, pautados nos déficits apontados anteriormente.

Requer-se um esforço determinado das autoridades educacionais para valo-


rizar a permanência dos alunos nas classes regulares, eliminando a nociva
prática de encaminhamento para classes especiais daqueles que apresentam
dificuldades comuns de aprendizagem, problemas de dispersão de atenção
ou de disciplina. A esses deve ser dado maior apoio pedagógico nas suas
próprias classes, e não separá-los como se precisassem de atendimento
especial. (MEC, 2001, p. 88)

A partir disto, percebe-se com clareza que o Plano Nacional de Educação enfatiza a
responsabilidade das autoridades educacionais no que tange à inclusão: as pessoas com
necessidades especiais devam receber o apoio pedagógico necessário dentro das suas salas
no ensino regular e não segregá-las em classes especiais.

UNI
Prezado(a) acadêmico(a), pesquise no site: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm>. mais informações
acerca da Lei 10.172/01.

E por último, mas não menos importante, faz-se necessário considerar a Lei 10.406, de
E
2002, que deu origem ao novo Código Civil Brasileiro. Neste código estão definidos os direitos e D
U.
deveres das pessoas com necessidades especiais. Conforme o Artigo 1º, “Toda pessoa é capaz
de direitos e deveres na ordem civil”. Deste modo, a pessoa com necessidades especiais tem E
S
capacidade civil e direito como qualquer outro ser humano. De acordo com Roberto Bolonhini P.

Júnior: I
N
C
A capacidade civil é qualificada na lei sob questão como sendo capacidade L
civil de direito e capacidade civil de fato. A capacidade de direito coincide com U
S
a personalidade jurídica, pois a capacidade de gozo, em outras palavras, é a I
condição de ser sujeito de direitos e deveres na ordem legal, bastando para V
tanto, nascer com vida. [...] A capacidade civil de fato é a qualidade que tem A:
a pessoa natural de exercer, por si só, a sua condição de sujeito de direitos e
A
deveres. Tal qualidade nem todo indivíduo possui. (2004, p. 138-139). S
P.

Fundamentando-se nesta lei, todo ser humano então é um ser de direito. O que diverge H
I
entre os mesmos é o desempenhar dos deveres, ou seja, a capacidade para tal entre uma S.,

pessoa “normal” e uma com necessidades especiais. A seguir estão especificadas as pessoas L
E
que não são capazes de desempenhar seus deveres, de acordo com a Lei n. 10.406/02: G.

F
I
L.
66 TÓPICO 1 UNIDADE 2

Art. 3º - São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da


vida civil:
I - os menores de 16 (dezesseis) anos;
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário
discernimento para a prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
Art. 4º - São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de 16 (dezesseis) e menores de 18 (dezoito) anos;
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental,
tenham o discernimento completo;
IV - os pródigos.

Esclarecidas estas diferenças entre ser humano possuidor tanto de direitos quanto
de deveres, precisamos atentar para a negligência de efetivação dos direitos da pessoa com
necessidades especiais. Já discutimos diversas vezes este assunto, mas, como estamos
neste momento analisando o Código Civil Brasileiro, precisamos observar o que ocorre no
descumprimento da lei. Buscamos respaldo no Artigo 186, da mesma Lei, especificado a seguir:

“Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causa dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

NOT
A!

E
D ILÍCITO: ilegal; contra a lei, ou a moral; imoral; infracional.
U.

E
S
P.
Deste modo, o ser humano que não praticar a inclusão das pessoas com necessidades
I
N especiais na sociedade está praticando ato ilegal. Ou seja, está em desacordo com a lei.
C
L
Portanto, cada ser humano deve refletir se está cumprindo ou não as leis acerca da Educação
U Especial Inclusiva porque somente assim será possível efetivar de fato a inclusão das pessoas
S
I com deficiência na sociedade.
V
A:

A No próximo tópico analisaremos as políticas públicas para a Educação Especial.


S
P.

H LEITURA COMPLEMENTAR
I
S.,
DEFICIÊNCIAS E NECESSIDADES ESPECIAIS: DEFINIÇÃO LEGAL
L
E
G.
As lutas por conceituação e definição legal das diferentes categorias de cidadãos e de
E
seus respectivos direitos constituem um importante campo de luta ideológica e de constituição
F de identidades socioculturais.
I
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 1 67

Segundo a Política Nacional de Educação Especial (BRASIL, 1994), a integração


se justifica como princípio à medida que se refere aos valores democráticos de igualdade,
participação ativa, respeito, direitos e deveres socialmente estabelecidos. Entretanto Sousa
e Silva (2005, p. 10) argumentam que o “princípio de integração”, ao pressupor que todos
nós somos iguais e por isso podemos estar juntos, desconsidera que somos todos diferentes,
únicos, singulares. Mesmo defendendo a inserção da pessoa com deficiência no âmbito escolar
e social, ignora sua história cultural e pode ainda reforçar uma ideia de deficiência vinculada à
doença, à anormalidade. A realidade mostra que esses mesmos estudantes com deficiência,
por não conseguirem se adaptar à escola regular, são encaminhados de volta à escola especial,
que acaba por segregá-los novamente.

Já a proposição do conceito de necessidades educacionais especiais representa


uma das tentativas de reconfigurar as possibilidades de interação e reconhecimento civil das
pessoas com deficiência, transpondo o foco que está sobre os diagnósticos de deficiência para
as necessidades de aprendizagem.

No caso da inclusão desses sujeitos na vida escolar, ao invés de focalizar a deficiência


da pessoa, busca-se enfatizar o ensino e a escola, bem como as formas e condições de
aprendizagem. Ao invés de se atribuir ao estudante a origem de um problema, define-se seu
tipo de inserção no contexto escolar pelo tipo de resposta educativa e de recursos e apoios que
a escola deve proporcionar-lhe para que obtenha sucesso escolar. Ao invés de esperar que o
estudante se ajuste unilateralmente a padrões de “normalidade” para aprender, interpela-se a
própria organização escolar à reestruturação para atender à diversidade de seus educandos.
E
D
Nessa direção, o Parecer n. 17/2001, do Conselho Nacional de Educação (BRASIL, U.

2001b), afirma o conceito de necessidades educacionais especiais como “nova abordagem”. E


S
Propõe ampliar o atendimento escolar, com sistemas de apoio específicos a todos os estudantes P.
que apresentem necessidades educacionais especiais ao longo de seus processos de I
aprendizagem. Dessa forma, o Parecer enfatiza três grupos de pessoas com necessidades N
C
especiais, reunindo: L
U
S
I
1. aquelas que apresentam dificuldades acentuadas na aprendizagem, tanto as não vinculadas a V
A:
uma causa orgânica específica quanto as necessidades relacionadas a condições, disfunções,
A
limitações ou deficiências; S
2. aquelas pessoas que apresentam dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos P.

demais estudantes, particularmente os que apresentam surdez, cegueira, surdo-cegueira ou H


I
distúrbios acentuados de linguagem; S.,

3. aquelas pessoas que apresentam altas habilidades/superdotação e que, recebendo apoio L


E
específico, podem concluir em menor tempo a série ou etapa escolar (BRASIL, 2001b, p. 19). G.

E
A Declaração de Salamanca, além de considerar as crianças com deficiência e as
F
I
L.
68 TÓPICO 1 UNIDADE 2

superdotadas, já ampliavam a concepção de necessidades especiais para englobar as crianças


que vivem nas ruas e que trabalham, as crianças de populações distantes ou nômades, as
crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e as crianças de outros grupos ou zonas
desfavorecidos ou marginalizados (UNESCO, 1994). Verifica-se, portanto, nesta conceituação,
preocupação com outras categorias para além da deficiência, altas habilidades e condutas
típicas, tais como etnia e classe; enfim, um conjunto representativo do que vem sendo tratado
como “minorias” ou como “excluídos”.

A definição de deficiências e de necessidades especiais amplia a concepção de diferenças


e de trabalho educativo com a diversidade, referenciando-se a categorias e dimensões lógicas
de variados domínios de conhecimento: fisiológicas, psicológicas, sociológicas (classe) e
antropológicas (étnicas, culturais). Tal complexidade conceitual (certamente motivada pelas lutas
dos diferentes movimentos socioculturais que requerem o reconhecimento de suas respectivas
construções de identidade no contexto social e educacional) enseja compreensões e condutas
mais flexíveis e polissêmicas, facilitando o trabalho educativo com as singularidades e com as
diferentes histórias e trajetórias de construção de identidade dos sujeitos e dos movimentos
sociais pertinentes. Buscam-se instrumentos linguísticos e conceituais que permitam expressão,
comunicação, interação e reconhecimento das diferentes subjetividades e identidades que se
constroem e se transformam continuamente, em processo de interação recíproca.

FONTE: SESI. Fundamentos da Educação Inclusiva. Santa Catarina, 2008.

E
D
U.

E
S
P.

I
N
C
L
U
S
I
V
A:

A
S
P.

H
I
S.,

L
E
G.

F
I
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 1 69

RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico vimos que:

• A legislação brasileira no âmbito da Educação Especial apresenta-se inicialmente na


Constituição Federal de 1988.

• Assim como todas as leis, é importante compreender o contexto histórico vivenciado pelo
Brasil na época em que foi redigida. O Brasil estava vivenciando o fim do Regime Militar e
todos os segmentos da sociedade concebiam como necessária a elaboração de uma nova
Constituição.

• Vale ressaltar que nas Constituições Federais anteriores não havia nenhuma menção às
pessoas com necessidades especiais.

• A palavra preferencialmente usada na legislação ainda é um dos entraves atualmente quanto


ao processo de inclusão porque possibilita à sociedade fazer uma escolha: pode tanto inserir
a pessoa com necessidades especiais nas salas especiais, quanto no sistema regular de
educação.

E
• Analisando a legislação, deveríamos ter de fato uma sociedade inclusiva, e que as pessoas D
U.
com necessidades especiais estivessem inseridas no sistema regular de ensino. Percebemos
E
que ainda há um longo caminho a ser percorrido, ou seja, ainda acontece um engatinhar S
P.
perante a inclusão social e escolar.
I
N
C
L
U
S
I
V
A:

A
S
P.

H
I
S.,

L
E
G.

F
I
L.
70 TÓPICO 1 UNIDADE 2


IDADE
ATIV
AUTO

1 Considerando o que estabelece a Constituição Federal de 1988, no Artigo 208,


escreva sobre qual o dever do Estado com a educação.

2 Por que a palavra preferencialmente inclusa no Artigo 208 (Constituição Federal de


1988) acaba sendo um entrave quanto ao processo de inclusão das pessoas com
necessidades especiais na sociedade?

E
D
U.

E
S
P.

I
N
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A:

A
S
P.

H
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S.,

L
E
G.

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L.
UNIDADE 2

TÓPICO 2

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA


A EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, serão abordadas as políticas públicas focadas na Educação Especial.


Deste modo serão apresentados alguns resultados de pesquisa em forma de gráficos e tabelas
que permitirão compreender a atual realidade brasileira no que tange à inclusão de pessoas
com necessidades especiais no sistema regular de ensino.

Com este tópico objetiva-se mostrar que, para a inclusão de pessoas com necessidades
especiais no sistema regular de ensino, é necessário que a escola rompa com as práticas
pedagógicas discriminatórias que ainda continuam muito presentes. Compreendendo esta
situação da escola regular, em 2007 o MEC lança o documento Política Nacional de Educação E
D
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, pautada numa escola para todos. Sendo assim, U.

a bandeira da escola inclusiva é uma escola para todos, independentemente de os integrantes E


S
possuírem ou não necessidades especiais. P.

I
Nesta perspectiva, a educação inclusiva é muito mais do que somente incluir as pessoas N
C
com necessidades especiais no ensino regular, mas, também, promover estratégias para que L
U
elas permaneçam como também progridam no processo de aprendizagem e desenvolvimento. S
I
Esta situação, que impossibilita uma efetivação plena da inclusão, é algo que preocupa em V
A:
muito a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.
A
S
Este texto se propõe a realizar um rastreamento sobre os movimentos políticos que P.

aconteceram tanto em âmbito nacional quanto internacional. O documento citado anteriormente H


I
e a Declaração de Salamanca (documento internacional) merecem destaque nos estudos que S.,

serão realizados posteriormente porque eles estabelecem que o sistema regular de ensino L
E
“deve” educar todos os alunos. G.

F
I
L.
72 TÓPICO 2 UNIDADE 2

UNI
Caro(a) acadêmico(a)! No tópico seguinte iniciaremos nossos
estudos sobre as políticas públicas embasadas na Educação Especial
brasileira. Trilharemos juntos esta estrada de descobertas.

2 POLÍTICAS PÚBLICAS

A inclusão é um movimento mundial que envolve os aspectos políticos, culturais, sociais
e pedagógicos. Estes fatores e a repercussão da inclusão acontece de maneiras diferentes
nos diferentes países. Vale atentar que a educação inclusiva está pautada na concepção de
direitos humanos a todas as pessoas e valores como igualdade e diferença são indissociáveis.
Possui como meta a equidade formal, a partir da contextualização das circunstâncias históricas
da repercussão da exclusão das pessoas diferentes na sociedade.

Sendo assim, neste tópico será abordado o processo que desencadeou a inclusão e
a trajetória dos movimentos de inclusão das pessoas com necessidades especiais no Brasil.
Inicialmente faz-se importante identificar que o sistema regular de ensino vem demonstrando
dificuldade em realizar a inclusão das pessoas com necessidades especiais. Fato comprovado
tanto pelas pessoas que não frequentam a escola quanto pelas práticas discriminatórias,
por parte da escola, em relação a estas pessoas. Diante disto, a educação inclusiva vem
E
D conquistando espaço no cenário da educação no sistema regular quando confronta as práticas
U.
exclusivas e elabora estratégias para romper com elas.
E
S
P. Ao refletir acerca das possibilidades de construção de sistemas educacionais inclusivos,
I surgem questões em relação à organização das escolas e classes especiais. Nesta ótica
N
C é urgente repensar mudanças em aspectos estruturais e culturais da escola para que seja
L
U possível a inclusão de todas as pessoas, e todas tenham suas especificidades compreendidas
S
I e atendidas.
V
A:
Nesta perspectiva, o MEC (Ministério da Educação e Cultural), em conformidade com a
A
S SEESP (Secretaria de Educação Especial), elabora em 2007 o documento: “Política Nacional
P.
de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva”. O documento tem como meta
H
I acompanhar os avanços do conhecimento e das lutas sociais, sendo objetivo principal a
S.,
constituição de políticas públicas que promovam uma educação para todos.
L
E
G. Na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (MEC,
E 2007, p. 9-12), há um capítulo que menciona, a partir de pesquisas realizadas, o diagnóstico
F
I
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 2 73

da Educação Especial. Serão utilizadas algumas informações deste capítulo para continuar
nosso estudo.

De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), aproximadamente 10% da


população possui alguma necessidade especial. Já o Censo Demográfico, realizado em 2000
pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) – no qual se utilizou o termo as
necessidades especiais enquanto conceito amplo –, identificou na população brasileira 14,4%
de pessoas com alguma dificuldade de ouvir, enxergar, locomover-se ou deficiência mental.
(MEC, 2007, p. 9-12).

Anualmente em todas as escolas de educação básica é realizado o Censo Escolar


em parceria com o MEC e o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira) que acompanha os indicadores e políticas educacionais. Os indicadores na
Educação Especial são:

E
D
U.

E
S
P.

I
N
C
L
U
S
I
V
FIGURA 11 – CENSO ESCOLAR (ITENS PESQUISADOS) A:
FONTE: MEC, 2007, p. 9-12
A
S
P.

Como os conceitos e a terminologia são atualizados, a partir de 2004 o Censo Escolar H


I
efetua mudanças em suas pesquisas. Sendo assim, a coleta de dados sobre a série ou ciclo S.,

escolar dos alunos atendidos pela Educação Especial permitem a avaliação do fluxo escolar L
E
e a organização do sistema educacional. G.

E
Na Educação Especial, os dados do Censo Escolar registraram em 1998, 337.326 F
matrículas; em 2006 esse número chegou a 700.624, expressando um crescimento de 107% I
L.
74 TÓPICO 2 UNIDADE 2

nas matrículas. O número de alunos inclusos em classes comuns do ensino regular cresceu
640%, passando de 43.923 alunos, em 1998, para 325.316 em 2006, conforme quadro adiante.

No que se refere à distribuição das matrículas nas esferas pública e privada, observa-se
que, em 1998, 157.962 (46,8%) dos alunos com necessidades educacionais especiais estavam
em escolas privadas, principalmente instituições filantrópicas. Esse índice reduziu para 37%
com o fortalecimento de políticas voltadas para a inclusão, evidenciando um crescimento de
146% das matrículas nas escolas públicas, que passaram de 179.364 (53,2%), em 1998, para
441.155 (63%) em 2006. Veja quadro a seguir.

Neste mesmo censo (2006) foram identificadas as matrículas da educação básica da


seguinte forma:

TOTAL ESCOLAS/ % CLASSES


CLASSES COMUNS
ESPECIAIS
Cegueira 9.206 5.207 56,5% 3.999
Baixa Visão 60.632 7.101 11,7% 53.531
Surdez Leve/Moderada 21.439 6.825 31,8% 14.614
Surdez Severa/Profunda 47.981 26.750 55,7% 21.231
Surdo-cegueira 2.718 536 19,7% 2.182
Deficiência Mental 291.130 197.087 67,7% 94.043
Deficiência Múltipla 74.605 59.208 79,3% 15.397
Deficiência Física 43.405 13.839 31,8% 29.566
Condutas Típicas 95.860 22.080 23% 73.780
Autismo 11.215 7.513 67% 3.702
Síndrome de Down 39.664 29.342 74% 10.322
E
Altas Habilidades/Superdotação 2.769 ___ ___ 2.769
D
U. QUADRO 3 – MATRÍCULAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
FONTE: Censo Escolar MEC/INEP/2006
E
S
P.

I
Outro aspecto importante a se analisar quando o assunto é ações da Educação
N Especial, é o crescimento do número de municípios com matrículas. Em 1998 foram registrados
C
L 2.738 municípios (49,7%) e, em 2006, este índice quase duplicou, ou seja, alcançou 4.953,
U
S representando (89%) dos 5.564 municípios brasileiros, um crescimento de 81%.
I
V
A:
Este aumento no índice de municípios é reflexo do aumento do número de escolas com
A matrículas, que em 1998 era de apenas 6.557 e, em 2006, chegou a 54.412, o que aponta um
S
P. crescimento de 730%. Registram-se em 2006, 2.724 escolas especializadas; 4.325 classes
H especiais e 50.259 escolas com inclusão de pessoas com necessidades especiais nas classes
I
S., comuns.
L
E
G.
Quanto ao indicador de acessibilidade arquitetônica em prédios escolares, a pesquisa
realizada em 1998 demonstra que 14% dos 6.557 estabelecimentos de ensino possuíam
E
banheiros sanitários com acessibilidade. E na pesquisa de 2006, das 54.412 escolas com
F
I matrículas de alunos atendidos pela Educação Especial, 23,3% possuíam banheiros sanitários
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 2 75

com acessibilidade e 16,3% registraram ter dependências e vias adequadas. Vale ressaltar
que este último indicador não fazia parte da pesquisa de 1998.

Em relação à formação dos profissionais que atuam na Educação Especial, em 1998


registraram-se os seguintes dados: 3,2% possuíam Ensino Fundamental; 51% possuíam Ensino
Médio e 45,7% Ensino Superior.

Em 2006, dos 54.625 professores que atuam na Educação Especial, apenas 0,62%
registraram ter cursado somente Ensino Fundamental, 24% registraram Ensino Médio e 75,2%
Ensino Superior. Nesse mesmo ano, 77,8% desses professores declararam ter curso específico
nessa área de conhecimento.

A matrícula por etapa e nível de ensino, em 2006, apresentou o seguinte quadro:


112.988 (16%) na Educação Infantil; 466.155 (66,5%) no Ensino Fundamental; 14.150 (2%) no
Ensino Médio; 58.420 (8,3%) na Educação de Jovens e Adultos; 46.949 (6,7%) na Educação
Profissional (básico) e 1.962 (0,28%) na Educação Profissional (técnico).

No âmbito da Educação Infantil constatou-se que as matrículas concentram-se nas


escolas/classes especiais que registram 89.083 alunos e apenas 24.005 matriculados em
turmas comuns. Isto promove considerações importantes sobre a inclusão porque estes
dados contrariam o objetivo da inclusão que é a convivência e a aprendizagem entre crianças
diferentes, ou seja, com ou sem necessidades especiais desde o nascimento.

Em relação ao Ensino Fundamental, a partir de 2004 é possível acompanhar o fluxo dos E


D
alunos matriculados nas escolas e classes especiais e nas classes comuns. As informações U.

do quadro a seguir mostram uma retenção nos anos iniciais, no ensino comum e especial, E
S
evidenciando que grande parte dos alunos não tem avanço no percurso escolar, principalmente P.
nas classes/escolas especiais. I
N
C
2004 2005 2006 L
Série Total Especial Comum Total Especial Comum Total Especial Comum U
S
1º 179.274 140.082 39.192 148.019 99.463 48.556 162.088 106.904 55.184 I
2º 68.775 30.745 38.030 72.816 27.417 45.399 81.049 28.226 53.823 V
3º 41.699 14.075 27.624 47.700 13.085 34.615 53.427 13.144 40.283 A:
4º 32.869 9.554 23.315 38.075 8.631 29.444 44.136 8.278 35.849 A
5º 16.920 2.638 14.282 23.817 2.792 21.025 31.168 2.600 28.568 S
6º 11.134 1.618 9.516 15.631 1.821 13.810 21.621 2.121 19.500 P.

7º 8.272 1.551 6.721 10.825 1.321 9.504 14.652 1.422 13.230 H


8º 6.416 1.112 5.304 8.346 1.297 7.049 10.454 1.266 9.188 I
S.,
QUADRO 4 – FLUXO DOS ALUNOS MATRICULADOS
FONTE: Censo Escolar MEC/INEP/2006 L
E
G.

F
I
L.
76 TÓPICO 2 UNIDADE 2

Sobre a inclusão de pessoas com necessidades especiais no Ensino Superior, o Censo


mostra que houve um avanço de 136% das matrículas neste segmento educacional entre 2003
e 2005, passando de 5.078 alunos para 11.999. Esta situação, embora expresse crescimento
no ingresso destes alunos, ainda reflete a exclusão educacional e social das pessoas com
necessidades especiais, consequência de políticas educacionais que não contemplam
estratégias para garantir acesso, permanência e progresso no sistema de ensino. Isto nos
desafia a fazer uma mudança estrutural e cultural para além dos aspectos organizacionais.

Neste sentido, percebe-se o quanto ainda é necessário fazer para que todas as pessoas
tenham acesso à educação. E cabe atentar que inclusão não é somente incluir pessoas com
necessidades especiais no sistema regular de ensino, mas também promover estratégias para
que elas permaneçam e progridam no processo de aprendizagem e desenvolvimento. Esta
situação que impossibilita uma efetivação plena da inclusão preocupa a Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, pois se almeja alcançar a inclusão
escolar de alunos com deficiência, síndromes, transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades, superdotação. Para que seja possível alcançar este objetivo, sugere que os
sistemas de ensino garantam a estas pessoas:

• acesso com participação e aprendizagem no ensino comum;

• oferta do atendimento educacional especializado;

• continuidade de estudos e acesso aos níveis mais elevados de ensino;


E
D
U. • promoção da acessibilidade universal;
E
S
P. • formação continuada de professores para o atendimento educacional especializado;

I
N • formação dos profissionais da educação e comunidade escolar;
C
L
U
S • transversalidade da modalidade de ensino especial desde a Educação Infantil até a Educação
I
V Superior;
A:

A
S
• articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. (MEC, 2007, p. 13).
P.

H Observa-se que o primeiro aspecto que este documento sugere aos sistemas de ensino
I
S., é o acesso (das pessoas com necessidades especiais) com participação e aprendizagem no
L ensino comum. Nota-se que a inclusão sugerida é a de participação e aprendizagem destas
E
G.
pessoas e não uma inclusão que as integra sem se importar se irá ou não participar e/ou
aprender.
E

F
I
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 2 77

Quando se discorre sobre políticas públicas na perspectiva de Educação Especial


Inclusiva é necessário compreender a Educação Especial oferecida em escolas especializadas.
Durante muito tempo entendia-se que a organização e oferta deste segmento educacional
paralelo à educação oferecida no sistema regular era o espaço ideal para o processo de
aprendizagem das pessoas com necessidades especiais, problemas de saúde ou aquelas que
não se encaixavam no ensino oferecido no sistema regular. De acordo com o MEC (2007, p.
13): “Essa concepção exerceu impacto duradouro na história da Educação Especial, resultando
em práticas que enfatizavam os aspectos relacionados à deficiência, em contraposição à
dimensão pedagógica”.

No decorrer dos anos, muitas pesquisas foram realizadas no campo educacional. Estas
pesquisas trouxeram contribuições através de reformulação de conceitos; concepções de
práticas pedagógicas; formulação de leis interferindo direta ou indiretamente na estruturação
do ensino regular e do especial.

A Declaração de Salamanca é um dos documentos que interferiu diretamente na


Educação Especial porque estabelece que o sistema regular de ensino deve educar todos os
alunos.

NOT
A!

A Declaração de Salamanca foi redigida em Salamanca, na Espanha,
nos dias 7 a 10 de junho de 1994, pelos delegados presentes que
representavam 88 governos e 25 organizações internacionais. Com
E
a elaboração deste documento, os mesmos reafirmaram o seu D
compromisso com a Educação para Todos. U.

E
S
P.
Nesta declaração (MEC, 1994, p. 1) os delegados acreditam e proclamam que: I
N
C
• aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, que L
U
deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a S
I
tais necessidades; V
A:

A
• escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes S
de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma P.

sociedade inclusiva e alcançando educação para todos; além disso, tais escolas proveem H
I
uma educação efetiva à maioria das crianças e aprimoram a eficiência e, em última instância, S.,

o custo da eficácia de todo o sistema educacional. L


E
G.
A partir disto pode-se perceber com clareza como deve acontecer a inclusão, através
E
de práticas pedagógicas centradas na criança. Ou seja, o profissional da educação precisa
F
observar, conhecer as crianças que são seus alunos na sala de aula. Efetivar a política de I
L.
78 TÓPICO 2 UNIDADE 2

Educação Especial Inclusiva é mudar o paradigma de que é o professor quem ensina e o aluno
quem aprende. Numa escola inclusiva todos aprendem nas suas facilidades e limitações e
ser diferente é o essencial. Conforme declarado anteriormente, é esta prática pedagógica que
caminha em contrário à discriminação e, deste modo, efetiva a política pública de que todos
possuem o direito de acessibilidade à educação no sistema regular de ensino.

Nesta declaração há um aspecto interessante a ser ressaltado: a participação das


instâncias governamentais na efetivação da inclusão. Conforme vimos no Tópico 1, sociedade
são todas as pessoas. Ao se objetivar políticas públicas, é preciso incluir todas as pessoas
nelas. A Declaração de Salamanca demanda que todos os governos:

Atribuam a mais alta prioridade política e financeira ao aprimoramento de seus


sistemas educacionais no sentido de se tornarem aptos a incluírem todas as
crianças, independentemente de suas diferenças ou dificuldades individuais.
(MEC, 1994, p. 1).

Com isto, cabe a todos os políticos, ou seja, todos os seres humanos requisitar
constantemente tanto apoio quanto verbas dos cofres públicos para a efetivação da inclusão.
E, assim, faz-se urgente reconstruir os modelos de escola vigentes em sua maioria: aqueles
pautados no tradicionalismo, no qual existe somente um ensino que é eficaz para todos os
alunos, visto que são todos iguais. Propor uma sociedade inclusiva é também voltar os olhos para
o sistema educacional (neste caso o brasileiro) e refletir o que pode ser feito, reconstruído para
que todas as pessoas tenham acesso a ele. Políticas públicas é isto! Muitas vezes, as pessoas
ficam aguardando anos e anos por uma lei que possa trazer esperança para a realização de
E um sonho: uma sociedade inclusiva tornar-se realidade. É necessário acordar para a realidade.
D
U.
As leis são elaboradas pelo povo, pelo que ele diz e faz. Então, o que o povo brasileiro está
dizendo e fazendo? Que tipo de representante nós estamos elegendo?
E
S
P.
Há ainda um aspecto da Declaração de Salamanca que possui mérito. É o Tópico 16
I
N que afirma:
C
L
U Políticas educacionais em todos os níveis, do nacional ao local, deveriam
S estipular que a criança portadora de deficiência deveria frequentar a escola
I
de sua vizinhança: ou seja, a escola que seria frequentada caso a criança
V
A: não portasse nenhuma deficiência. Exceções a esta regra deveriam ser con-
sideradas individualmente, caso por caso, em casos em que a educação em
A instituição especial seja requerida. (MEC, 1994, p. 6).
S
P.

H A partir disto, as escolas especializadas deveriam ser uma exceção. E propõe que deve
I
S., haver dentro das escolas suporte extracurricular para as pessoas com necessidades especiais

L
quando assim se fizerem necessários.
E
G.

F
I
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 2 79

S!
DICA

Sugerimos que você acesse o site:


http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf e ler a
Declaração de Salamanca na íntegra porque lhe trará contribuições
muito importantes sobre a inclusão.

NOT
A!

PERIODICIDADE: estado do que é periódico. Relativo ou
pertencente a período. Que se repete com intervalos regulares.

Retornando ao documento, Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da


Educação Inclusiva, ele ressalta a importância das interações das pessoas com necessidades
especiais com o ambiente e, ao fazê-lo, conceitua essas necessidades como algo não somente
exclusivo da pessoa como também pertencente aos segmentos da sociedade, sendo a escola
um deles. Assim a escola, enquanto um segmento social, anuncia-se com potencial para
elaborar estratégias para atender as especificidades dos envolvidos e promover situações de
ampliação. Este conceito pode ser considerado facilmente como o impulsionador da Educação
Especial Inclusiva. Entretanto, não foi a definição de pessoas com necessidades especiais que
impulsionou a Educação Especial no contexto do ensino regular para a realização de mudanças E
D
que possibilitassem a inclusão no sistema regular de ensino e no acesso ao atendimento U.

educacional especializado. E
S
P.
Durante esta unidade como na anterior muito se falou sobre pessoas com necessidades I
especiais. Mas qual é a definição que estamos utilizando para necessidades especiais? Ou N
C
ainda, o que penso quando falo acerca de necessidades especiais? Este caderno fundamenta- L
U
se na concepção de pessoa com necessidades especiais: “[...] é usada para designar pessoas S
I
com deficiência (mental, auditiva, visual, física e múltipla), superdotação e altas habilidades ou V
A:
condutas típicas, tal como especificado no documento Política Nacional de Educação Especial”.
(SEESP/MEC, 1994). A
S
P.

A ressignificação dos conceitos de deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e H


I
das altas habilidades/superdotação, a partir da compreensão de que as pessoas se modificam S.,

transformando o contexto no qual se inserem, permite uma atuação pedagógica voltada para L
E
alterar a situação de exclusão e ausência de atenção às especificidades desses alunos. Este G.
entendimento enfatiza a importância de ambientes heterogêneos para a aprendizagem de
E
todos os alunos e aponta para a superação de práticas pedagógicas incompatíveis com a
F
complexidade dos processos de ensinar e de aprender. I
L.
80 TÓPICO 2 UNIDADE 2

Nesta discussão é de suma importância conhecer as propostas das Diretrizes enquanto


documento norteador para a inclusão na área da educação em ensino regular. Porque se o
mesmo amplia a concepção de Educação Especial enquanto complemento e/ou suplemento
à escolarização no ensino regular também reduz esta concepção quando a define como
modalidade substitutiva à educação em sistema regular de ensino. Sendo assim, é um empecilho
para a efetivação de uma política de educação inclusiva que necessita de enfrentamentos.
A Resolução do Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno (CNE/CP) nº 1/2002,
que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da
Educação Básica é um documento também necessário na discussão sobre Políticas Públicas.
No Artigo 1o define que os cursos superiores devem preparar os graduandos na sua formação
para a atividade docente, preparando-os, entre outros aspectos, para o acolhimento e o trato
à diversidade. E a docência deverá contemplar conhecimentos sobre crianças, adolescentes,
jovens e adultos, aí incluídas as especificidades dos alunos com necessidades educacionais
especiais e as das comunidades indígenas.

Tanto já se discorreu neste caderno acerca dos direitos igualitários entre pessoas com e
sem necessidades especiais. Mas, infelizmente, ainda é necessário romper muitos paradigmas
para que possam ser uma realidade e não um conto de fadas. Um exemplo disto é a Lei nº
10.436/02, que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e
expressão, determinando que sejam garantidas formas institucionalizadas de apoiar seu uso e
difusão, bem como a inclusão da disciplina de LIBRAS nos cursos de formação de professores
e parte integrante do currículo. Ao atentar para a data da lei – 2002 – já temos fundamentos
suficientes para respaldar o que foi dito anteriormente.
E
D
U. E, seguindo esta lógica chegamos ao ano de 2003, no qual o Ministério da Educação/
E Secretaria de Educação Especial implanta o Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade,
S
P. com o objetivo de transformar os sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos,

I
promovendo um amplo processo de sensibilização e formação de gestores e educadores nos
N municípios brasileiros para a garantia do direito de acesso de todos à escolarização, a promoção
C
L das condições de acessibilidade e a organização do atendimento educacional especializado.
U
S Já se passaram sete anos desde a implantação deste programa que promoveu um amplo
I
V processo de sensibilização dos profissionais para com a inclusão. Mas, o que então aconteceu
A:
de errado, ou ainda, impossibilitou a inclusão enquanto direito pleno de todas as pessoas com
A
S
necessidades especiais? Se este programa tivesse de fato realizado o que objetivou, a inclusão
P. em momento algum seria um direito parcial na atualidade brasileira.
H
I
S., Já em 2004 o Ministério Público Federal, com base no Decreto nº 3.956/2001, publica
L o documento: “O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede
E
G.
Regular”, cujo objetivo situa-se na divulgação dos conceitos e diretrizes mundiais da inclusão
das pessoas com necessidades especiais na educação em contexto escolar, reafirmando o
E
direito e os benefícios da escolarização de todos os alunos no ensino regular.
F
I Nesta mesma perspectiva surge o Decreto nº 5.296/04 que é regulamentador das leis
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 2 81

nº 10.048/00 e nº 10.098/00. O mesmo estabelece condições para a implementação de uma


política nacional de acessibilidade, o que resulta em consequências práticas que induzem
a uma mudança de postura na sociedade para a garantia da acessibilidade às pessoas com
necessidades especiais.

Sendo assim, o Estado assume o compromisso de assegurar um sistema de educação


inclusiva em todos os seus níveis, cujo ambiente está concebido enquanto ampliador do
desenvolvimento tanto acadêmico quanto social. E, assim, faz-se necessária a adoção das
seguintes medidas:

a) que as pessoas com necessidades especiais não sejam excluídas do sistema educacional
sob alegação de necessidades especiais e que as crianças com necessidades especiais
não sejam excluídas do ensino fundamental gratuito e compulsório, sob alegação de
necessidades especiais;

b) as pessoas com necessidades especiais possam ter acesso ao ensino fundamental inclusivo,
de qualidade e gratuito, em igualdade de condições com as demais pessoas na comunidade
em que vivem. (CONVENÇÃO DA ONU, 2006, Art. 24).

Que estas medidas possam ser o norte na busca da Educação Especial Inclusiva.
Que as mesmas possam estar escritas nos corações dos profissionais que almejam fazer a
diferença. Diferença esta que concebe a educação em contexto escolar como um conjunto de
diversidades. Somente quando se entender o que é ser diferente é que será possível realizar
inclusão. E
D
U.

E
S
P.

I
N
C
L
U
S
I
V
A:

A
S
P.

H
I
S.,

L
E
G.

F
I
L.
82 TÓPICO 2 UNIDADE 2

RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico você teve a oportunidade de conhecer que:

• A inclusão é um movimento mundial que envolve os aspectos políticos, culturais, sociais e


pedagógicos. A educação inclusiva está pautada na concepção de direitos humanos a todas
as pessoas e igualdade e diferença são valores indissociáveis. Possui como meta a equidade
formal, a partir da contextualização das circunstâncias históricas da repercussão da exclusão
das pessoas diferentes na sociedade.

• Em 2007 o MEC (Ministério da Educação e Cultural), em conformidade com a SEESP


(Secretaria de Educação Especial), elabora o documento: “Política Nacional de Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva”. O documento tem como meta acompanhar
os avanços do conhecimento e das lutas sociais, e seu objetivo principal é a constituição de
políticas públicas que promovam uma educação para todos.

• Inclusão não é somente incluir estas pessoas no sistema regular de ensino, mas, também,
promover estratégias para que elas permaneçam como também progridam no processo de
aprendizagem e desenvolvimento.

E
D • A Declaração de Salamanca, de 1994, é um dos documentos que interferiu diretamente na
U.
Educação Especial porque estabelece que o sistema regular de ensino deve educar todos
E
S os alunos.
P.

I
N
• Pessoa com necessidades especiais é “aquela que tem impedimentos de longo prazo, de
C natureza física, mental ou sensorial que, em interação com diversas barreiras, pode ter
L
U restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade”.
S
I
V
A: • Em 2003, o Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial implanta o Programa
A Educação Inclusiva. E em 2004 é publicado o documento O Acesso de Alunos com
S
P.
Necessidades Especiais às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular.

H
I
S.,

L
E
G.

F
I
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 2 83


IDADE
ATIV
AUTO

1 Prezado(a) acadêmico(a), neste tópico você  teve a oportunidade de conhecer


as principais políticas públicas para a Educação Especial objetivando a inclusão.
Embasando-se nisto, desafio você a escrever os oito aspectos necessários para
que se alcance o objetivo da inclusão. Depois escreva o que você entendeu sobre
“Inclusão”. 

2 Em 1994 foi redigida, na Espanha, a Declaração de Salamanca pelos delegados


presentes que representavam 88 governos e 25 organizações internacionais. Escreva
o que os delegados proclamaram em relação à Educação Especial.

E
D
U.

E
S
P.

I
N
C
L
U
S
I
V
A:

A
S
P.

H
I
S.,

L
E
G.

F
I
L.
84 TÓPICO 2 UNIDADE 2

E
D
U.

E
S
P.

I
N
C
L
U
S
I
V
A:

A
S
P.

H
I
S.,

L
E
G.

F
I
L.
UNIDADE 2

TÓPICO 3

ATENDIMENTO EDUCACIONAL
ESPECIALIZADO

1 INTRODUÇÃO

Olá, acadêmico(a), neste tópico você conhecerá Atendimentos Educacionais


Especializados oferecidos para as pessoas com necessidades educacionais especiais. Esse
atendimento por muito tempo foi entendido como uma substituição do ensino regular, mas, no
decorrer dos seus estudos, perceberá que essa ideia é um engano.

Você terá conhecimento de como esses Atendimentos Educacionais Especializados


tiveram início e como eles vêm sendo desenvolvidos nos dias atuais.

E
D
U.
2 ATENDIMENTO EDUCACIONAL
E
ESPECIALIZADO: TRAJETÓRIA S
P.

O atendimento às pessoas com necessidades especiais no Brasil teve início na época I


N
do Império, com a criação de duas instituições, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, no ano C
L
de 1854 (hoje Instituto Benjamin Constant – IBC) e também o Instituto dos Surdos Mudos, no U
S
ano de 1857, hoje conhecido como Instituto Nacional da Educação dos Surdos (INES), ambos I
V
no Rio de Janeiro. A:

A
No século XX, surge o atendimento às pessoas com deficiência mental; é fundado o S
P.
Instituto Pestalozzi, em 1926, e juntamente com este Instituto foi criado o primeiro atendimento
H
educacional especializado às pessoas com superdotação, por Helena Antipoff, no ano de 1945. I
S.,
A primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE – foi fundada em 1954. E
L
somente em 1961 o atendimento educacional das pessoas com necessidades educacionais E
especiais passa a ser fundamentado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, G.

LDBEN, Lei n. 4.024\61, que aponta o direito dos “excepcionais” à educação, preferencialmente E

dentro do sistema geral de ensino. F


I
L.
86 TÓPICO 3 UNIDADE 2

Como você pode perceber foram muitos os movimentos e tentativas para que as
pessoas com necessidades educacionais especiais tivessem um atendimento de qualidade
e que realmente se efetivasse, como você já estudou na Unidade 1 deste caderno e também
na Unidade 2, nos tópicos referentes às leis e políticas públicas. Muitas vezes essas pessoas
foram negligenciadas de seus direitos.

O atendimento de pessoas com necessidades educacionais especiais, ou que não se


adequassem à estrutura rígida dos sistemas de ensino, por muito tempo foi organizado de forma
paralela à educação comum. Essa forma de atendimento perdurou por muito tempo na história
da Educação Especial, exercendo forte impacto e resultando em práticas que valorizavam
aspectos relacionados à deficiência, esquecendo da parte pedagógica.

Porém, graças às diferenças, novos estudos voltados à educação e aos direitos humanos
são necessários, como mudanças na legislação, nos conceitos, nas práticas educacionais,
enfatizando a importância de reestruturação das escolas do ensino regular e da Educação
Especial. Foi a partir da Declaração de Salamanca, em 1994, que diz que as escolas devem
dar acesso aos alunos com necessidades especiais nas classes regulares de ensino,
tendo como princípio orientador que “[...] as escolas deveriam acomodar todas as crianças
independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas
ou outras”. (BRASIL apud BRASIL, 2008, p. 15).

A partir dessa declaração, aos poucos o conceito de necessidades educacionais


especiais passa a ser amplamente divulgado, dando relevância à interação das características
E individuais dos alunos, tanto no ambiente escolar, como no social. Mas apesar de começarem
D
U. a conceituar de uma forma mais organizada a educação especial que, de certa forma, garante
E o acesso dos alunos e os “atendimentos” necessários para sua aprendizagem e participação,
S
P. as políticas implementadas não alcançaram total objetivo.

I
N Visando a uma educação, na perspectiva da educação inclusiva, que possa integrar-
C
L se à proposta pedagógica da escola regular, é que se iniciou um atendimento voltado às
U
S necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos globais de
I
V desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Dessa forma a educação especial atuava
A:
de maneira articulada com a escola regular, orientando os profissionais para o atendimento
A
S
das necessidades educacionais especiais desses alunos.
P.

H Assim, direcionava a educação especial seus atendimentos aos alunos e suas


I
S., especificidades no processo educacional e na escola sua atuação era mais ampla, orientando
L a identificação de recursos, a formação continuada, serviços, enfim, ainda não contemplava
E
G.
todas as reais necessidades dos alunos.

E
Portanto, nos dias atuais, estudos mais recentes em relação à educação especial
F
I reforçam que as classificações e definições a respeito de determinada deficiência, transtorno,
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 3 87

distúrbio, síndrome ou aptidão sejam contextualizadas, não se esgotando em mera categoria


ou especificação. Mostram que determinados diagnósticos podem interferir no processo de
aprendizagem, pois o ambiente escolar acaba esquecendo que as pessoas se modificam
conforme o que lhes é oferecido diariamente e assim transformando o contexto em que estão
inseridas.

Assim, cada vez mais a escola e os profissionais que nela atuam devem estar aptos
ao dinamismo, voltados a alterar a situação de exclusão, buscando ambientes cada vez mais
heterogêneos para que todos aprendam com a diversidade. Dessa forma podemos conceituar
a pessoa com deficiência “[...] aquela que tem impedimentos de longo prazo, de natureza
física, mental ou sensorial que, em interação com diversas barreiras, pode ter restringida sua
participação plena e efetiva na escola e na sociedade”. (BRASIL, 2008, p. 15).

Dessa forma, as pessoas com necessidades educacionais especiais conseguem avançar


quando são estimuladas para este fim, quando as barreiras arquitetônicas e pedagógicas são
apenas mais um obstáculo para ser vencido. Com um atendimento educacional especializado
se possibilitam novas formas de fazer e trazer cada vez mais perto a inclusão para todos.

2.1 ATENDIMENTO EDUCACIONAL


ESPECIALIZADO: COMO FAZER?

As Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação


E
Inclusiva contemplam a educação especial como uma modalidade de ensino que perpassa D
U.
todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional, disponibiliza os
E
recursos e serviços e orienta quanto à sua utilização no processo de ensino e aprendizagem S
P.
nas turmas comuns do ensino regular.
I
N
Sendo assim, a função do Atendimento Educacional Especializado (AEE) é de elaborar, C
L
identificar e preparar recursos pedagógicos e também de acessibilidade que possibilite a U
S
participação plena destes alunos, eliminando barreiras e relevando suas especificidades. I
V
Esse atendimento deve ser diferenciado das atividades realizadas em sala, portanto não A:
pode ser substituído pela escolarização. O Atendimento Educacional Especializado vem para A
complementar ou suplementar a formação desses alunos, de forma a torná-los mais autônomos S
P.
e com maior independência, na escola e na sociedade.
H
I
S.,
O atendimento, além de disponibilizar recursos importantes, também é enriquecido com
L
programas, que valorizam o currículo e o ensino de linguagens específicas de sinalização e E
G.
comunicação, mas, para haver resultados positivos, o Atendimento Educacional Especializado
deve acompanhar, ou seja, estar articulado com o ensino regular. É importante salientar que o E

atendimento deve iniciar desde o nascimento, pois assim o processo de inserção na Educação F
I
L.
88 TÓPICO 3 UNIDADE 2

Infantil, que é a base necessária para a construção do conhecimento e desenvolvimento da


criança, não é tão difícil tanto para o aluno quanto para o professor. De zero a três anos,
chamamos esse atendimento de estimulação precoce, que objetiva estimular o processo de
aprendizagem, juntamente com os outros atendimentos que esse aluno pode vir a ter, como
na área da saúde e assistência social.

Durante a estimulação precoce o aluno será provocado a vivenciar diferentes formas


de estimular a suas necessidades específicas, através do lúdico, de formas diferenciadas
de comunicação, proporcionando um repertório de estímulos, tanto nos aspectos físicos,
emocionais quanto psicomotores e sociais. Sendo assim, estará bem desenvolvido para
acompanhar a Educação Infantil e experimentar outras vivências.

O Atendimento Educacional Especializado deve apoiar todo estabelecimento de ensino,


sendo obrigatório. Para tanto, deve acontecer no período oposto do ensino regular, pode ser na
própria escola ou em um centro especializado. O mesmo atende desde o primeiro ano de vida
até o ensino superior. Esse atendimento é realizado a partir da comprovação de profissionais
especializados nas devidas especificidades, como, por exemplo, conhecimentos específicos
no ensino da Língua Brasileira de Sinais, do sistema Braille, das Atividades da Vida Diária, da
Comunicação Alternativa, da Tecnologia Assistiva, entre outras.

E
D
U.

E
S
P.

I
N
FIGURA 12 – ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO
C FONTE: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/aee_da.pdf>.
L Acesso em: 24 jun. 2010.
U
S
I Para desenvolver um bom trabalho na educação especial, o professor deve ter como
V
A: base conhecimentos gerais para exercer essa função e conhecer certas especificidades da área.
A Porém, os sistemas de ensino também devem estar mais preparados para dar condições de
S
P.
acesso aos espaços e aos recursos pedagógicos que favorecem no processo de ensino, que
atenda a todos os alunos, não importando se têm ou não necessidades educacionais especiais.
H
I Devemos dar ênfase e assegurar a acessibilidade, eliminando barreiras arquitetônicas,
S.,
urbanísticas e de edificação, incluindo equipamentos, instalações e mobiliários.
L
E
G. UNI
E
Olá, acadêmico(a), no próximo tópico vamos conhecer mais sobre
F a acessibilidade.
I
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 3 89

RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico você estudou:

• O atendimento às pessoas com necessidades especiais no Brasil teve início na época do


Império.

• Os primeiros institutos criados foram o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, no ano de
1854 (Instituto Benjamin Constant) e também o Instituto dos Surdos Mudos, no ano de 1857,
hoje conhecido como Instituto Nacional da Educação dos Surdos (INES), ambos no Rio de
Janeiro.

• A educação especial direcionava seus atendimentos aos alunos e suas especificidades no


processo educacional e na escola sua atuação era mais ampla; ainda não contemplava todas
as reais necessidades dos alunos.

• A função do Atendimento Educacional Especializado é de elaborar, identificar e preparar


recursos pedagógicos e também de acessibilidade que possibilite a participação plena destes
alunos, eliminando barreiras e relevando suas especificidades.

E
• O Atendimento Educacional Especializado deve ser diferenciado das atividades realizadas D
U.
em sala, portanto, não pode ser substituído pela escolarização.
E
S
P.
• O Atendimento Especializado vem para complementar ou suplementar a formação dos
I
alunos com necessidades educacionais especiais, de forma a torná-los mais autônomos e N
com maior independência, na escola e na sociedade. C
L
U
S
• É importante salientar que o atendimento deve iniciar desde o nascimento, pois assim o I
V
processo de inserção na Educação Infantil, que é a base necessária para a construção do A:

conhecimento e desenvolvimento da criança, não é tão difícil tanto para o aluno como para A
S
o professor. P.

H
I
S.,

L
E
G.

F
I
L.
90 TÓPICO 3 UNIDADE 2


IDADE
ATIV
AUTO

Prezado(a) acadêmico(a), neste tópico você teve a oportunidade de conhecer


o atendimento especializado. Agora responda:

1 Qual é a função do Atendimento Educacional Especializado?

2 Como deve ser realizado este atendimento?

E
D
U.

E
S
P.

I
N
C
L
U
S
I
V
A:

A
S
P.

H
I
S.,

L
E
G.

F
I
L.
UNIDADE 2

TÓPICO 4

ACESSIBILIDADE: PONTOS
E CONTRAPONTOS

1 INTRODUÇÃO

Olá, acadêmico(a), você irá saber mais sobre a acessibilidade e os tipos de barreiras
que as pessoas com necessidades educacionais especiais enfrentam. Perceberá como a falta
de acessibilidade impossibilita as pessoas de ir e vir, de ter uma vida “normal”.

Com este tópico objetiva-se mostrar a amplitude da palavra acessibilidade e como o


impedimento de acesso interfere na vida social e no processo ensino-aprendizagem do aluno
com necessidades educacionais especiais e no convívio com os colegas, professores e todos
os profissionais do ambiente escolar.
E
D
U.

E
S
2 ACESSIBILIDADE PARA TODOS P.

I
A palavra acessibilidade na atualidade tem diferentes entendimentos, sendo muitas N
C
vezes compreendida ou associada apenas para pessoas com necessidades especiais e para L
U
a qualidade de vida dos idosos, uma vez que estas pessoas, de um modo geral, sofrem com a S
I
existência de barreiras nos diversos ambientes, produtos e serviços que utilizam. Porém, o que V
A:
a maior parte da sociedade desconhece é que a acessibilidade ou possibilidade de chegar aos
espaços físicos, aos instrumentos de estudo e trabalho, à informação, aos serviços e produtos A
S
está relacionada à vida de todas as pessoas. Dessa forma, podemos conceituar barreiras como P.

qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento, a H


I
circulação com segurança e a possibilidade de as pessoas se comunicarem ou terem acesso S.,
à informação. (BRASIL, 2004, p. 61). L
E
G.
Para termos uma sociedade cada vez mais inclusiva que entenda e valorize as diferenças,
E
é necessário criar propostas para a acessibilidade de pessoas de diferentes características,
F
que estejam articuladas à qualidade de vida para todos. Assim, todas as pessoas poderão ser I
L.
92 TÓPICO 4 UNIDADE 2

beneficiadas por estas propostas, tanto de ambientes quanto de produtos e serviços acessíveis,
não importando suas habilidades, interesses e necessidades.

É importante apresentarmos seis quesitos básicos, para que uma sociedade seja
considerada acessível, segundo a publicação Mídia e Deficiência, da série Diversidade da
Fundação Banco do Brasil apud Sofia Pérez Ferrés, Amanda Meincke Melo e Deise Tallarico
Pupo (2008, p. 30-31):

• Acessibilidade Arquitetônica, ou seja, não deve haver barreiras ambientais físicas nas casas,
edifícios, espaços ou equipamentos urbanos e nos meios de transporte individual ou coletivo.

• Acessibilidade Comunicacional: não deve haver barreiras na comunicação interpessoal,


escrita e virtual.

• Acessibilidade Metodológica: não deve haver barreiras nos métodos e técnicas de estudo,
de trabalho, de ação comunitária e de educação dos filhos.

• Acessibilidade Instrumental: não deve haver barreiras nos instrumentos, utensílios e


ferramentas de estudo, de trabalho e de lazer ou recreação.

• Acessibilidade Programática: não deve haver barreiras invisíveis embutidas em políticas


públicas e normas ou regulamentos.

E • Acessibilidade Atitudinal: não deve haver preconceitos, estigmas, estereótipos e


D
U. discriminações.
E
S
P. Após o entendimento amplo da palavra acessibilidade, relacionados aos pontos e

I
contrapontos que interferem no convívio e na participação, tanto na escola como na sociedade,
N podemos contribuir para direcionar uma sociedade para todos. Portanto, a ideia de acessibilidade
C
L diz respeito à flexibilidade dos ambientes e produtos a serem construídos ou fabricados para
U
S diferentes usuários, e não criar produtos especiais para determinados grupos da sociedade.
I
V
A:

A
S
P. 3 ACESSIBILIDADE E A SOCIEDADE
H
I
S.,
Uma sociedade inclusiva tem que assumir para si a adequação geral, não deixando
mais “nas costas” da pessoa com necessidade especial as modificações necessárias para ser
L
E um cidadão igual a todos.
G.

E
Nesse aspecto percebe-se a importância de se estruturar e planejar as cidades de forma
F
I
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 4 93

que fiquem acessíveis em todos os setores, na educação, no trabalho, no transporte, na cultura,


na saúde, no lazer, no esporte e na habitação. Mas, segundo Mara Gabrielli (2007, p. 94), “[...]
mudar a cidade significa muito mais do que isso. Começa com a mudança em seus cidadãos”.

3.1 ACESSIBILIDADE FÍSICA



Caro(a) acadêmico(a), você conhece o Símbolo Internacional de Acesso? Segundo
Ferrés, Melo e Pupo, o símbolo:

Deve ser utilizado para identificar edifícios e instalações que não possuem
barreiras arquitetônicas. Nesses locais, deficientes físicos, mentais, sensoriais,
idosos, obesos e todos os que se locomovem com alguma dificuldade, tempo-
rária ou permanente, podem realizar sua movimentação com independência
pessoal, fazendo valer o seu direito de ir e vir. (2008, p. 81).

E
D
U.

E
FIGURA 13 – SÍMBOLO INTERNACIONAL DE ACESSO
S
FONTE: Disponível em: <http://www.cedipod.org.br/w6simbol. P.
htm>. Acesso em: 24 jun. 2010.
I
N
C
L
Precisamos estar atentos para que as medidas tomadas em relação ao acesso de U
diferentes lugares e instrumentos sejam flexíveis; é mais importante que medidas estáveis. Por S
I
exemplo, é preferível optar por um banheiro capaz de receber qualquer pessoa, indiferente de V
A:
sua capacidade física, motora ou sensorial a um banheiro exclusivo. O mesmo pode-se dizer
A
sobre uma entrada ampla e acessível a todos, em contraste com uma entrada diferenciada S
P.
para as pessoas com necessidades especiais. É relevante constatar “[...] que é o ambiente
H
que gera exclusão e de fato é o que gera deficiência”, pois um ambiente, que está preparado I
para atender as diferenças e permite o acesso e participação plena, não exclui. (FERRÉS; S.,

MELO; PUPO, 2008, p. 36). L


E
G.

Para que você entenda melhor como tornar um ambiente acessível ou não, podemos E
classificá-lo da seguinte forma: F
I
L.
94 TÓPICO 4 UNIDADE 2

• Ambiente Acessível: o ambiente se ajusta aos requerimentos funcionais e dimensionais,


possibilitando a utilização autônoma, com a comodidade e segurança de todos.

• Ambiente Praticável: sem ajustar-se a todos os requerimentos de acessibilidade propostos


pela lei, ainda assim permite uma utilização autônoma por qualquer pessoa.

• Ambiente Adaptável: mediante algumas modificações que não afetam as configurações


essenciais, a edificação pode ser transformada em, ao menos, praticável.

• Ambiente Não Acessível: não reúne os requisitos necessários para a acessibilidade.

Infelizmente, ainda não temos uma fiscalização eficiente em relação aos espaços
acessíveis. Desta forma, os profissionais da construção de modo geral, mas principalmente
os desenhistas industriais, arquitetos, urbanistas têm um papel importante na sociedade, pois
devem respeitar as leis e realizar seu trabalho dentro das adequações de acessibilidade. Além
de manter sua ética profissional, estão contribuindo para uma sociedade inclusiva para todos.

3.2 ACESSIBILIDADE NA WEB

Como vimos no início deste tópico, falamos da acessibilidade comunicacional, que diz
respeito ao acesso virtual: viabiliza que toda pessoa, usando qualquer tecnologia de navegação
E na web, possa visitar qualquer site, tanto para obter informações, como também interagir. Desta
D
U.
forma é preciso que os profissionais que criaram as páginas ou seus mantenedores estejam
atentos e sempre se adéquem às recomendações de acessibilidade.
E
S
P.
No Brasil, em particular o acesso à informação, é um direito constitucional. Segundo
I
N MELO (2008, p. 52), “[...] é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo
C
L da fonte, quando necessário ao exercício profissional”. Além disso, o Brasil segue as normativas
U
S
da Declaração da Guatemala para a eliminação de todas as formas de discriminação contra
I as pessoas portadoras de deficiência, comprometendo-se, entre outras coisas, a estabelecer
V
A: medidas para facilitar a comunicação das pessoas com deficiência.
A
S
P. É preciso reconhecer as diferenças e tornar a web cada vez mais adequada para o uso
H das pessoas com necessidades especiais. Veja alguns exemplos possíveis de uso:
I
S.,
• uma usuária de cadeira de rodas pode fazer a renovação de livros, quando consegue
L
E aproximar-se adequadamente do computador;
G.

E
• professor universitário com visão reduzida realiza pesquisa bibliográfica, no acervo virtual
F
I
da biblioteca de sua universidade, utilizando a ampliação do tamanho de letra;
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 4 95

• estudante cego realiza pesquisa na internet, obtendo informações com o auxílio de um leitor
de telas;

• bibliotecária com tendinite crônica emite comandos ao computador via voz para cadastrar
uma nova obra no sistema.

Tendo em vista um amplo entendimento ao direito de todos à informação e seguindo


as devidas orientações de acessibilidade do conteúdo na web, sem dúvida é o primeiro passo
na busca pela acessibilidade digital.

3.3 ACESSIBILIDADE NA ESCOLA



A escola tem o dever de atender a todos os alunos e estar apta a receber alunos com
necessidades educacionais especiais, tentando minimizar as barreiras de acesso para sua
participação no ensino regular. Neste processo, surge a necessidade de adequar as escolas de
acordo com as normas e legislação vigentes, para garantir que estes alunos tenham autonomia
e maior independência no espaço escolar.

Quando nos deparamos com novas situações, junto vem o desafio de buscar formas
de solucionar as barreiras e resolver os problemas. Sendo assim, a acessibilidade nas escolas
veio para propor ambientes inclusivos, que valorizam as diferenças, para que todos os alunos
tenham condições de acesso, em todo o espaço escolar. E
D
U.
Sendo assim, como eliminar as barreiras de acesso? O que fazer para que as escolas
E
se tornem mais acessíveis? Veja através das fotos os problemas mais comuns e, em seguida, S
P.
propostas de como podemos solucioná-los:
I
N
C
L
U
S
I
V
A:

A
S
P.

H
I
S.,

L
E
G.
FIGURA 14 – A RUA EM FRENTE À ESCOLA
FONTE: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_conte E
nt&view=article&id=12699&Itemid=862>. Acesso em: 24 jun. 2010.
F
I
L.
96 TÓPICO 4 UNIDADE 2

Como podemos solucionar esses problemas:

• Na rua em frente à escola, deve haver faixa de segurança e semáforo para pedestre.
• A calçada deve estar rebaixada junto à faixa de pedestre.
• A entrada da escola deverá ser facilmente identificada, desde a calçada, possuindo cor
contrastante com a do muro e o nome da escola em letras grandes.
• A calçada que contorna os muros da escola deve ser plana e sua pavimentação regular.
• Os obstáculos sinalizados com piso tátil de alerta e localizados fora da faixa, livre para
circulação.
• Parada de ônibus próxima à entrada da escola.
• O piso tátil direcional indicando o percurso desde a parada de ônibus até o portão da escola.
• Área de embarque e desembarque próxima ao portão da escola. É relevante que nesta área
também caiba um ônibus.

E
D
U.

E
S FIGURA 15 – DO PORTÃO À PORTA DE ENTRADA DA ESCOLA
P.
FONTE: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_con
I tent&view=article&id=12699&Itemid=862>. Acesso em: 24 jun. 2010.
N
C
L
U
S • A entrada de pedestres deve ser separada da entrada de carros.
I
V
• O caminho de pedestre bem pavimentado, com piso regular, antiderrapante e não ofuscante.
A: • Não haver obstáculos ao longo da circulação.
A • Piso tátil direcional, para guiar as pessoas com deficiência visual até a porta da escola,
S
P. quando o caminho for muito amplo.
H • A porta de entrada deve ser visível desde o portão, sendo facilmente identificada pela marquise
I
S., em cor forte.

L
• Rampa, para vencer desníveis, ao longo do caminho ou na porta de entrada.
E • O estacionamento deve ser separado do local onde as crianças brincam.
G.
• A vaga deve possuir pavimentação regular e sinalizada com pintura no piso e placa de
E
identificação.
F
I
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 4 97

FIGURA 16 – CORREDORES
FONTE: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_con
tent&view=article&id=12699&Itemid=862>. Acesso em: 24 jun. 2010.

• Os corredores devem possuir largura suficiente para a quantidade de pessoas que os utilizam.
• Aproveitar as paredes para abrigar bebedouros ou outros equipamentos/mobiliários, a fim
de não atrapalhar a circulação.
• O bebedouro permite a aproximação de uma cadeira de rodas e o uso por pessoas com
baixa estatura.
• As portas coloridas, destacando-se da cor das paredes.
• As portas largas, possuindo visor e maçanetas em forma de alavanca, em altura confortável.
• A sinalização das portas em letras grandes e contrastantes.
• Ao lado das portas e na altura das mãos, sinalização em Braille. E
D
• O rodapé é largo e em cor contrastante com o piso. U.
• O piso deve ser antiderrapante, regular e estar em boas condições.
E
• Placa indicativa na saída e outras direções importantes. S
P.

I
N
C
L
U
S
I
V
A:

A
S
P.

H
I
S.,

L
E
G.
FIGURA 17 – ESCADAS E RAMPAS E
FONTE: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_conte
nt&view=article&id=12699&Itemid=862>. Acesso em: 24 jun. 2010. F
I
L.
98 TÓPICO 4 UNIDADE 2

• As escadas devem ser largas, com degraus em tamanhos confortáveis e com pisos
antiderrapantes, firmes e nivelados.
• As rampas e escadas possuem patamares sem obstáculos a cada mudança de direção.
• Degraus com bordas em cor contrastante.
• Escadas e rampas com piso tátil de alerta em seu início e fim.
• Rampas largas e com pisos antiderrapantes, firmes e nivelados, com inclinação adequada
para subir e descer em cadeira de rodas.
• Os corrimãos devem ser contínuos, confortáveis dos dois lados das escadas e rampas, e
instalados em duas alturas.
• As paredes e as grades de proteção ao longo das escadas e rampas devem estar em altura
segura.
• Guias de balizamento, ao longo das rampas, onde não possuem parede lateral.

E
D
U. FIGURA 18 – SALAS DE AULA
FONTE: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_conte
E
S
nt&view=article&id=12699&Itemid=862>. Acesso em: 24 jun. 2010.
P.

I
N • O piso, as paredes e os móveis com cores contrastantes.
C
L • Mesa adequada para a aproximação e uso de crianças em cadeira de rodas.
U
S • O quadro-negro e os murais devem estar na altura acessível ao alcance das crianças menores
I
V ou em cadeira de rodas.
A:
• As janelas devem ser amplas que possibilitam a boa iluminação.
A • Aberturas em paredes opostas permitem ventilação cruzada.
S
P.

H
I
S.,

L
E
G.

F
I
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 4 99

FIGURA 19 – LABORATÓRIOS E SALAS DE ARTES


FONTE: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content
&view=article&id=12699&Itemid=862>. Acesso em: 24 jun. 2010.

• O piso, as paredes e os móveis com cores contrastantes.


• Espaço livre para circulação entre os móveis.
• As mesas e as pias livres de obstáculos que possam impedir a aproximação de pessoas em
cadeira de rodas e altura adequada ao uso de pessoas com baixa estatura.
• As prateleiras devem estar ao alcance de todos os usuários.
• Substâncias ou instrumentos perigosos em armários fechados.
• As torneiras em forma de alavanca que facilitam o manuseio.
E
D
U.

E
S
P.

I
N
C
L
U
S
I
V
A:

A
S
P.

H
I
S.,
FIGURA 20 – SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAL
FONTE: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_conte L
E
nt&view=article&id=12699&Itemid=862>. Acesso em: 24 jun. 2010. G.

F
I
L.
100 TÓPICO 4 UNIDADE 2

• A sala deve ter diferentes ambientes para a variedade de atividades: locais de atendimento
individual ou em grupo.
• A separação dos ambientes pode ser feita por meio de cortinas, biombos ou divisórias.
• O piso, as paredes e os móveis em cores contrastantes.
• Espaço com tapete, almofadas e espelho.
• Mesas que permitem o uso por pessoas em cadeira de rodas e outras para pessoas com
baixa estatura.
• A mesa do computador permite que o professor e o aluno a utilizem simultaneamente.
• Prateleiras e gaveteiros para guardar livros e objetos ao alcance de todos os usuários.
• Tanto o quadro-negro como outros recursos devem estar ao alcance de crianças menores
ou em cadeira de rodas e diante deles espaço frontal para sua manobra.

E
D
U.

E
S
P. FIGURA 21 – BIBLIOTECA
FONTE: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_conte
I nt&view=article&id=12699&Itemid=862>. Acesso em: 24 jun. 2010.
N
C
L
U
S • As mesas não podem ser obstáculos para aproximação de uma cadeira de rodas e possuir
I
V altura adequada ao uso de pessoas com baixa estatura.
A:
• Os corredores entre as estantes largos.
A
S • A altura das prateleiras permita que todos alcancem os livros.
P.
• O balcão de empréstimo acessível a todos, inclusive crianças menores e pessoas em cadeira
H
de rodas.
I
S., • O piso, as paredes e os móveis possuir cores contrastantes.
L • Espaço com tapete não escorregadio e almofadas para grupos de crianças menores.
E
G. • Ambiente bem ventilado e iluminado.
E

F
I
L.
UNIDADE 2 TÓPICO 4 101

FIGURA 22 – AUDITÓRIO
FONTE: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content
&view=article&id=12699&Itemid=862>. Acesso em: 24 jun. 2010.

• O piso, as paredes e os móveis possuem cores contrastantes.


• Existe, pelo menos, um espaço reservado e integrado aos demais assentos, destinado à
pessoa em cadeira de rodas.
• Pelo menos, um assento mais largo para que um obeso possa usá-lo.
• Um ou mais assentos com mesa ou braço articulado que possa ser usado por uma pessoa
com mobilidade reduzida.
• Os assentos preferenciais devem estar próximos aos corredores de acesso, em local de piso
horizontal, e identificado por placas.
• Carteiras para destros e canhotos.
• O piso do auditório em desnível facilita a visibilidade para o palco.
• A rampa central de acesso aos assentos e os desníveis contornados com faixas em cor e
E
textura contrastantes. D
U.
• Rampa de acesso ao palco.
E
• No desnível entre o palco e a plateia, guia de balizamento. S
• Um local destinado à/ao intérprete de LIBRAS bem visível e iluminado. P.

• A porta de entrada larga. I


N
• O piso, as paredes e os equipamentos com cores contrastantes. C
L
• O piso antiderrapante, regular e estar em boas condições. U
S
• O sanitário espaçoso para a circulação e manobra de cadeiras de rodas. I
• Todos os acessórios, como toalheiro, descarga, cesto de lixo, espelho, saboneteira etc. ao V
A:
alcance de todas as pessoas.
A
• O lavatório em altura confortável e com espaço inferior livre para a aproximação de uma S
P.
cadeira de rodas.
H
• A torneira de fácil manuseio, de alavanca ou de pressionar. I
S.,
• O espelho do lavatório inclinado permitindo que uma pessoa, em cadeira de rodas, possa
enxergar-se. L
E
• A porta do boxe larga e que abra totalmente para fora. G.

• Barra na porta auxilia o fechamento. E

• O boxe espaçoso para manobrar e transferir a pessoa da cadeira de rodas para o vaso F
I
L.
102 TÓPICO 4 UNIDADE 2

sanitário.
• As barras de apoio, junto aos vasos sanitários, dimensionadas e posicionadas corretamente.
• A descarga do tipo alavanca.
• Um vaso sanitário infantil para crianças menores e pessoas com baixa estatura.

Caro(a) acadêmico(a), você pode perceber que acessibilidade não significa somente
chegar a um determinado lugar, é importante e necessário que as pessoas consigam se
situar, fazer parte do espaço e que, ao chegar, consigam movimentar-se sem impedimentos.
Sendo assim, todos poderão utilizar os recursos e desenvolver as atividades com igualdade
e independência.

E
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P.

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A:

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S.,

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G.

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L.
UNIDADE 2 TÓPICO 4 103

RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico você estudou que:

• A palavra acessibilidade na atualidade tem diferentes entendimentos, sendo muitas vezes


compreendida ou associada apenas para pessoas com necessidades especiais e para a
qualidade de vida dos idosos, uma vez que estas pessoas, de um modo geral, sofrem com
a existência de barreiras nos diversos ambientes, produtos e serviços que utilizam.

• Para termos uma sociedade cada vez mais inclusiva que entenda e valorize as diferenças,
é necessário criar propostas para a acessibilidade de pessoas de diferentes características,
que estejam articuladas à qualidade de vida para todos.

• A escola tem o dever de atender a todos os alunos e estar apta a receber alunos com
necessidades educacionais especiais, tentando minimizar as barreiras de acesso para sua
participação no ensino regular.

• A acessibilidade nas escolas veio para propor ambientes inclusivos, que valorizam as
diferenças, para que todos os alunos tenham condições de acesso, em todo o espaço escolar.
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U.

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L.
104 TÓPICO 4 UNIDADE 2


IDADE
ATIV
AUTO

Caro(a) acadêmico(a), neste tópico estudamos sobre acessibilidade, uma palavra


que possibilita muita autonomia e independência para as pessoas com necessidades
especiais, quando cumprida. Responda:

1 Qual a definição da palavra acessibilidade? Justifique.

2 O que precisamos fazer para ter uma sociedade mais acessível?

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U.

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L.
UNIDADE 2 TÓPICO 4 105

IAÇÃO
AVAL

Prezado(a) acadêmico(a), agora que chegamos ao final da


Unidade 2, você deverá fazer a Avaliação referente a esta unidade.

E
D
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A:

A
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106 TÓPICO 4 UNIDADE 2

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