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Volume 10, Number 4 (August 2017) p.

906 – 923 • ISSN 1983-4195


http://dx.doi.org/10.1590/S1983-41952017000400008

A new study of Brazilian concrete strength conformance

Um novo estudo da conformidade da resistência do


concreto produzido no Brasil

W. C. SANTIAGO a b
wagner.santiago@univasf.edu.br
A. T. BECK b
atbeck@sc.usp.br

Abstract
This paper presents a new evaluation of the strength compliance of concretes produced in Brazil. It is based on experimental results of over twen-
ty-seven thousand concrete samples from different parts of the country. Results show that a significant part of Brazilian concrete do not reach the
characteristic strength (fck) specified in design, and the percentage of nonconforming samples tend to be higher than 5%. This study also reveals
the concrete produced in the South and Midwest regions have less variability than the ones produced in the other regions of the country. These
results emphasize the importance of a rigorous control in manufacturing and reception of concretes in order to reduce the nonconforming cases.

Keywords: concrete strength compliance, concrete structures, structural safety.

Resumo
Este artigo apresenta uma nova avaliação da conformidade dos concretos atualmente produzidos no Brasil. Ela está pautada em resultados de
ensaios de resistência à compressão axial de mais de vinte e sete mil corpos de prova de concretos moldados in loco, no ato de seu recebimento,
em diferentes obras do país. Os resultados mostram que parte do concreto produzido no Brasil não alcança a resistência característica (fck) pre-
vista em projeto, e que o percentual de amostras não conformes tende a ser superior a 5%. Este estudo também evidencia que os concretos pro-
duzidos nas regiões Sul e Centro-Oeste apresentam menor variabilidade que aqueles produzidos nas demais regiões do país. Estes resultados
reforçam a importância de um controle rigoroso na fabricação e no recebimento do concreto visando diminuir a ocorrência de não conformidades.

Palavras-chave: conformidade da resistência do concreto, estruturas de concreto, segurança das estruturas.

a
Colegiado de Engenharia Civil, Universidade Federal do Vale do São Francisco, Juazeiro, BA, Brasil;
b
Departamento de Engenharia de Estruturas, Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos, SP, Brasil.

Received: 23 Sep 2016 • Accepted: 13 Feb 2017 • Available Online: 27 Jul 2017

© 2017 IBRACON
A new study of Brazilian concrete strength conformance

1. Introdução Uma vez produzido, o concreto passa por um controle de qualida-


de, realizado através da moldagem in loco de corpos de prova ci-
Este trabalho apresenta uma investigação da conformidade de líndricos ensaiados aos 28 dias, com o objetivo de verificar a sua
concretos usinados e produzidos em diferentes estados das cinco resistência à compressão. A norma de controle e recebimento do
regiões geográficas do Brasil, estando ele embasado em resulta- concreto [3] permite que o controle seja por amostragem total ou
dos de ensaios de resistência à compressão axial aos 28 dias de parcial. No controle por amostragem total são moldados dois corpos
idade realizados em mais de 27 mil corpos de prova cilíndricos de de prova a cada batonada de concreto, enquanto no controle por
concreto moldado in loco quando do seu recebimento. amostragem parcial são moldados ao menos seis corpos de prova
Neste estudo os dados são divididos em quatro classes – C20, a cada 50 ou 100 m3 de concreto usado na execução da estrutura.
C30, C40 e C50 – com vista a avaliar a conformidade do concreto Ao final do processo de controle, um lote é considerado conforme
em função da sua resistência característica, sendo as análises re- quando o valor estimado de sua resistência característica (fckest),
alizadas tanto a nível nacional quanto a regional. Ainda faz parte referente a uma amostragem (conhecida) de uma população (des-
deste trabalho a realização de uma comparação com resultados conhecida), satisfaz a relação apresentada na Eq. (1). Cabe men-
divulgados há cinco anos por Santiago e Beck [1]. cionar que a resistência característica do concreto (fck) é um valor
É importante ressaltar que todo o estudo está baseado em nor- de referência que deve ser alcançadado ao menos por 95% dos
malização nacional vigente, principalmente as normas de ensaios corpos de prova testados
de compressão de corpos de prova cilíndricos de concreto [2], de
preparo, controle e recebimento de concreto [3] e de projeto de
(1)
estruturas de concreto [4]. Embora o ensaio de resistência à compressão de corpos de prova
Este trabalho faz parte de um projeto maior que já se encontra constitua uma evidência da qualidade do concreto, o seu resultado
em andamento e que visa a calibração, baseada em confiabilida- se restringe a indicar uma resistência potencial da população com
de estrutural, dos coeficientes parciais de segurança das normas base em uma amostragem. Por conseguinte, um concreto é dito
brasileiras de projeto. A questão da calibração dos coeficientes de conforme quando no máximo 5% das suas amostras apresentam
segurança vem sendo desenvolvida pelos autores deste artigo e resistência à compressão inferior à resistência prevista.
já foi abordada de maneira preliminar por Beck e Doria [5], Beck et A questão da conformidade dos concretos estruturais produzidos
al. [6], Chaves et al. [7] e Beck e Souza Jr. [8]. no Brasil tem sido objeto de vários estudos, mas ainda hoje care-
ce de um maior aprofundamento. Entre os estudos já realizados
2. Resistência à compressão do concreto ganham destaque Magalhães et al [11] Santiago e Beck [1], Silva
Filho e Helene [12], Castro [13], Borges [14] e Vieira Filho [15].
A resistência à compressão do concreto é aleatória por natureza, Alguns trabalhos também mostram que há indícios que as cen-
sendo a sua variabilidade decorrente dos materiais constituintes, dos trais dosadoras estejam centrando a resistência de dosagem na
processos de ensaio, dos equipamentos de produção e da operação. resistência característica e não na resistência média [1, 16]; sendo
As medidas necessárias para a diminuição da variabilidade envolve esse, muito provavelmente, o principal motivo da ocorrência fre-
o controle de qualidade de cada uma das variáveis e quanto mais quente de concretos não conformes nas obras brasileiras.
eficiente é este controle, mais homogêneo é o concreto produzido [9]. Diante desse cenário, esse trabalho surge com o objetivo de apre-
A produção do concreto envolve a sua dosagem que é o processo sentar uma descrição estatística que represente o conjunto de
através do qual se obtém a melhor proporção entre cimento, agre- concretos produzidos no país, haja vista que as análises são rea-
gados, água, aditivos e adições com vista a atender certas espe- lizadas a partir de amostras colhidas e ensaiadas em uma mesma
cificações [10]. A norma de controle e recebimento do concreto condição estabelecida por uma norma que se aplica em todo o
[3] estabelece três condições de preparo: condição A (aplicável a território nacional.
todas as classes), condição B (aplicável às classes C10 a C20) e
condição C (aplicável às classes C10 e C15). 3. Origem e classificação dos dados
O presente trabalho é subsidiado com informações a respeito da
Tabela 1
Quantificação dos corpos de prova por região Tabela 2
do Brasil Quantificação dos corpos de prova por classe
Região Quantidade Percentual de resistência
CO 4857 17 Classe Quantidade Percentual
S 2222 8 C20 3866 14
SE 16612 60 C30 6685 24
N 300 14 C40 3982 14
NE 3814 1 C50 13272 48
Total 27805 100 Total 27805 100

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A
B Concreto C20 B Concreto C30 C
B Concreto C40 D
B Concreto C50

Figura 1
Percentual dos dados de amostragem em relação às regiões do Brasil

resistência à compressão aos 28 dias de mais de 27 mil corpos Com a finalidade de avaliar o comportamento do concreto em rela-
de prova cilíndricos – 10 cm de diâmetro e 20 cm de altura – de ção a sua resistência característica, os dados foram classificados
concretos moldados in loco em obras das cinco regiões do Brasil em quatro classes – C20, C30, C40 e C50 – conforme as informa-
– centro-oeste (CO), sul (S), sudeste (SE), norte (N) e nordeste ções disponibilizadas nos relatórios de controle tecnológico e nas
(NE) – referentes a 15 unidades federativas. A Tabela 1 apresenta cartas de traço. A Tabela 2 apresenta uma breve quantificação dos
uma quantificação dos corpos de prova em função das diferentes corpos de prova em função das classes de resistência avaliadas.
regiões do país. A Figura 1 apresenta a distribuição percentual dos dados em relação
Em consonância com a norma de controle e recebimento [3], os às regiões geográficas do país para cada uma das quatro classes
concretos objetos deste estudo foram produzidos entre os anos de de resistência do concreto estudadas neste trabalho. Os resultados
2011 e 2016 em centrais dosadoras habilitadas levando em con- expressos nos gráficos tem uma forte relação com as classes de re-
sideração a condição A de preparo, tendo eles sido controlados sistência que costumam ser mais usadas nas diferentes regiões.
através de amostragem total por empresas certificadas de contro- No mais, os dados empregados foram obtidos juntos às seguintes
le tecnológico. empresas, instituições de ensino e laboratórios: AJL Engenharia,
Resistência

Resistência

A
B Concreto C20 B Concreto C30
Resistência

Resistência

C
B Concreto C40 D
B Concreto C50

Figura 2
Representação do tipo caixa-de-bigodes das amostras em relação às regiões do Brasil

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A new study of Brazilian concrete strength conformance

Centro de Tecnologia da UFAL, CONSULTARE Laboratório, CSP O desvio-padrão (𝝈), que representa a regularidade e dispersão
Projetos e Consultoria, EGELTE Engenharia, ITAPIPU BINACIO- dos resultados em relação à média, foi encontrado a partir da raiz
NAL, Laboratório de Ensaios de Materiais da FACENS, MPA Con- quadrada da variância amostral, conforme indicado na Eq. 4. O
trole Tecnológico, SENAI-DF, SILCO Engenharia, TECNOL Tec- coeficiente de variação (Cve), por sua vez, foi encontrado através
nologia em Concreto, TECNOCON Engenharia e VENTUSCORE da razão entre o desvião-padrão e a média, vide a Eq. 5.
Soluções em Concreto.

4. Tratamento dos dados (4)


A natureza aleatória da resistência do concreto demanda uma
abordagem estatística para o problema. Dessa forma, com base
(5)
nas amostras foram feitas as determinações da resistência média Resultados de trabalhos internacionais amplamente conhecidos
(fcm), da resistência característica estimada (fckest), do desvio-pa- [17, 18] indicam que a distribuição normal é a que mais se adequa
drão (𝝈), do coeficiente de variação (Cve) e da curva de distribui- na descrição do comportamento do concreto, o que foi compro-
ção de probabilidades. vado após a realização de sussesivos ajustes junto ao software
Sendo n o número total de amostras e fi cada um dos valores (i = EasyFit. Cabe mecionar que na existência de um controle eficien-
1, 2 , 3, ... , n), a resistência média (fcm) foi encontrada através da te, os valores da resistência se agrupam próximos da média e a
soma de todas as amostras devidamente dividida pelo seu núme- curva de distribuição fica alta e estreita; em uma situação contrá-
ro total, conforme apresentado na Eq. 2. A parir do ordenamento ria, os valores da resistência se espalham e a curva se torna baixa
crescente das amostras (f1 < f2 < f3 < ... < fn) foi possível também e larga.
estimar a resistência característica (fckest) com base no resultado Como o objetivo deste trabalho foi obter descrições estatísticas
correspondente ao percentil de 5%, vide a Eq. 3. que representassem o conjunto de concretos produzidos no país,
então os dados provenientes de diferentes obras e lotes foram
(2) agrupados e analisados em blocos. Portanto, as estatísticas na-
cionais foram obtidas a partir de ponderações das estatísticas

(3) regionais, sendo o peso empregado na ponderação função do nú-


mero de amostras disponível para cada classe em cada uma das

A
B Concreto C20 B Concreto C30

C
B Concreto C40 D
B Concreto C50

Figura 3
Comparação entre as funções de distribuição dos concretos produzidos no Brasil e dos previstos
na NBR 12655

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Tabela 3
Resultados sobre os concretos produzidos no Brasil
% amostras
Classe fckest (MPa) fcm (MPa) s (MPa) Cve
não conformes
C20 19,2 26,2 4,3 0,164 8,3
C30 29,2 37,3 4,9 0,131 5,7
C40 38,5 44,7 3,8 0,084 6,9
C50 48,0 56,1 4,9 0,088 4,5

regiões do país. A Eq. 6 apresenta a expressão empregada na


realização dessa ponderação.

(6)
Vale observar que o trabalho ainda envolveu a realização de uma Proporção
análise estatística prévia das amostras com vista a eliminar dados
não pertencentes aos grupos (outliers). A Figura 2 apresenta repre-
sentações do tipo caixa-de-bigodes para as amostras das classes de
resistência estudadas de maneira a evidenciar as barreiras inferiores
e superiores empregadas na exclusão dos resultados espúrios.

5. Resultados nacionais Figura 4


Resumo dos resultados dos concretos produzidos
A Figura 3 apresenta as curvas de distribuições de probabilida- no Brasil
des obtidas a partir de ensaios de compressão axial em corpos-

A
B C20 concrete B C30 concrete

C
B C40 concrete D
B C50 concrete

Figura 5
Comparação entre as funções de distribuição dos concretos produzidos nas diferentes regiões do Brasil

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A new study of Brazilian concrete strength conformance

-de-prova cilíndricos de concretos moldados no recebimento e vel observar que a razão entre a resistência média e a resistência
ensaiados aos 28 dias, bem como as curvas de distribuição de característica especificada (fcm/fck) e o coeficiente de variação (Cve)
probabilidade dos mesmos concretos se estes atendessem a Con- tendem a diminuir com o aumento da resistência, enquanto a razão
dição A de preparo prevista na norma de controle e recebimento entre a resistência característica estimada e a resistência caracte-
[3]. Cabe mencionar que os resultados de cada uma das classes rística especificada (fckest/fck) tende a se manter constante.
estudadas provêm de uma mesma população, a qual eles se pro-
põem a representar. 6. Resultados regionais
Os concretos das classes C20 e C30 apresentam resistência mé-
dia (fcm) e desvio-padrão (𝝈) maiores que aqueles previstos na nor- A Figura 5 apresenta as curvas de distribuições de probabilidades
ma de controle e recebimento [3]. Os concretos das classes C40 e obtidas para os concretos produzidos nas diferentes regiões geo-
C50, por outro lado, apresentam resistência média (fcm) menor que gráficas do país. Nela fica evidente que nem sempre os concretos
aquela preconizada nesta mesma norma. produzidos em localidades distintas apresentam comportamento
Na Tabela 3 são apresentados os resultados obtidos em termos de similar. Os concretos produzidos nas regiões Sul e Centro-Oeste,
resistência característica estimada (fckest), resistência média (fcm), por exemplo, tendem a apresentar menor variabilidade que aque-
desvio-padrão (𝝈), coeficiente de variação (Cve) e percentual de les produzidos nas regiões Sudeste e Nordeste.
amostras não conformes dos concretos produzidos no país. Os re- A Tabela 4 ilustra os resultados obtidos em termos de resistência
sultados evidenciam que a resistência característica estimada em característica estimada (fckest), resistência média (fcm), desvio-pa-
todas as classes analisadas é menor que a resistência caracterís- drão (𝝈), coeficiente de variação (Cve) e percentual de amostras
tica especificada (fckest < fck) e que o percentual de amostras não não conformes para os concretos produzidos nas diferentes regi-
conformes tende a ser superior ao valor de 5% convencionado. ões do país. Apesar da dispersão dos resultados, está evidente
Para cada classe de resistência do concreto, a Figura 4 ilustra a que na maioria dos casos a resistência característica estimada
variação da razão entre a resistência média e a resistência ca- tende a ser menor que a resistência característica especificada
racterística especificada (fcm/fck), da razão entre a resistência ca- (fckest < fck) e que o percentual de amostras não conformes tende a
racterística estimada e a resistência característica especificada ser superior a 5%.
(fckest/fck) e do coeficiente de variação (Cve). Nessa figura é possí- A Figura 6 indica a variação da razão entre a resistência média e

Tabela 4
Resumo sobre os concretos produzidos nas diferentes regiões do Brasil
Classe Região fckest (MPa) fcm (MPa) s (MPa) Cve % amostras não conformes
CO 21,7 27,2 3,3 0,122 0,5
S 20,9 26,9 3,6 0,134 1,1
C20 SE 16,1 24,9 5,7 0,215 18,1
N 24,7 31,5 4,1 0,131 0,0
– – – – – –
CO 27,9 35,8 4,8 0,133 9,2
S 27,7 35,0 4,4 0,127 14,5
C30 SE 30,6 38,4 4,7 0,123 3,3
N 28,4 37,4 5,5 0,146 12,5
NE 28,6 38,5 5,3 0,143 4,2
CO 39,9 45,3 3,3 0,073 2,1
S 39,2 42,8 2,2 0,051 7,4
C40 SE 34,2 44,5 6,3 0,140 12,3
N – – – – –
NE 38,2 44,6 3,9 0,086 10,5
CO – – – – –
S 48,2 55,9 4,7 0,083 6,7
C50 SE 48,0 56,1 4,9 0,088 4,2
N – – – – –
NE 46,4 56,8 6,3 0,111 9,1

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Proporção

Proporção
A
B fcm/fck B fckest/fck
Proporção

C
B Cve

Figura 6
Resumo dos resultados dos concretos produzidos nas diferentes regiões do Brasil

A
B Concreto C20 B Concreto C30

C
B Concreto C40 D
B Concreto C50

Figura 7
Comparação entre as funções de distribuição dos concretos produzidos no Brasil até 2011e 2016

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A new study of Brazilian concrete strength conformance

Tabela 5
Resultados sobre os concretos produzidos no Brasil até 2011 e 2016
Classe Ano fckest (MPa) fcm (MPa) s (MPa) Cve % amostras não conformes
2016 19,2 26,2 4,3 0,164 8,3
C20
2011 23,0 23,7 1,8 0,071 1,0
2016 29,2 37,3 4,9 0,131 5,7
C30
2011 27,9 28,0 3,6 0,105 9,0
2016 38,5 44,7 3,8 0,084 6,9
C40
2011 35,9 33,6 3,6 0,090 30,0
2016 48,0 56,1 4,9 0,088 4,5
C50
2011 42,4 41,1 2,9 0,062 84,0

a resistência característica especificada (fcm/fck), da razão entre a desvio-padrão (𝝈), coeficiente de variação (Cve) e percentual de
resistência característica estimada e a resistência característica es- amostras não conformes dos concretos produzidos no Brasil até
pecificada (fckest/fck) e do coeficiente de variação (Cve) para cada os anos de 2011 e 2016. Os resultados evidenciam que, no ge-
classe de resistência do concreto e região geográfica do país. Essa ral, houve elevação da resistência e diminuição do percentual de
figura mostra que, apesar da dispersão relativa dos resultados, é amostras não conformes.
possível observar uma tendência de diminuição da razão entre a Para cada classe de resistência, a Figura 8 ilustra a variação da
resistência média e a resistência característica especificada (fcm/fck) razão entre a resistência média e a resistência característica es-
e do coeficiente de variação (Cve) com o aumento da resistência. pecificada (fcm/fck), da razão entre a resistência característica es-
timada e a resistência característica especificada (fckest/fck) e do
7. Comparação com resultados anteriores coeficiente de variação (Cve) em relação aos concretos produ-
zidos até 2011 e 2016. Nela é possível notar que a razão entre a
A Figura 7 apresenta as curvas de distribuições de probabilida- resistência característica estimada e a resistência característica
des construídas com a base de dados deste trabalho (2016), bem especificada (fckest/fck) tende a se manter constante apenas para o
como as curvas de distribuições de probabilidade montadas com a concreto da base atual de dados (2016).
base de dados de Santiago e Beck [1] (2011). Nesta figura fica cla-
ro que no intervalo de cinco anos os concretos produzidos no país 8. Conclusões
apresentaram elevação no valor médio da resistência, embora a
variabilidade também tenha aumentado. A princípio, tal resultado Este trabalho apresentou um estudo da conformidade de concre-
serve como indício de que as centrais dosadoras tenham voltado tos de quatro classes distintas – C20, C30, C40 e C50 – usinados
a centrar a resistência de dosagem do concreto na resistência mé- e produzidos no Brasil. Esse estudo foi realizado a partir de uma
dia e não mais na resistência característica, conforme apontado base de dados com mais de vinte e sete mil corpos de prova cilín-
em trabalhos anteriores [1, 16]. dricos moldados in loco no recebimento do material e ensaiados
Na Tabela 5 são apresentados os resultados obtidos em termos de aos 28 dias com carregamento único, instantâneo e monotônico.
resistência característica estimada (fckest), resistência média (fcm), Os concretos das classes C20 e C30 apresentaram resistências
médias (fcm) maiores que os valores previstos na norma de con-
trole e recebimento [3], enquanto os concretos das classes C40
e C50 apresentaram resistências médias menores que aquelas
indicadas nesta mesma norma. Para todas as classes avaliadas,
Proporção

a resistência característica estimada tendeu a ser menor que a


resistência característica da respectiva classe (fckest < fck), assim
como o percentual de amostras não conformes e o desvio-padrão
(𝝈) tenderam a ser superiores aos valores convencionados.
Em relação aos resultados regionalizados, os concretos produzi-
dos nas regiões Sul e Centro-Oeste apresentaram menor variabi-
lidade que aqueles produzidos nas regiões Sudeste e Nordeste.
Todavia, o percentual de amostras não conformes tendeu a ser
superior a 5% em todas as regiões.
Figura 8 Tanto nos resultados nacionais quanto nos regionais foi possível
Comparação entre os resultados dos concretos observar que a razão entre a resistência média e a resistência ca-
produzidos até 2011 com os dos concretos racterística especificada (fcm/fck) e o coeficiente de variação (Cve)
produzidos até 2016 tenderam a diminuir com o aumento da resistência, enquanto a

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razão entre a resistência característica estimada e a resistência ity-based calibration of Brazilian structural design codes. J,
característica especificada (fckest/fck) tendeu a se manter constante. of the Braz. Soc of Mech. Sci & Eng. v.32, p.119-127, 2010.
Apesar dos resultados indicarem que o concreto atualmente pro- [9] PORRERO, K. Evaluación de los ensayos de resistencia del
duzido no país apresenta qualidade ligeiramente inferior a aquela concreto. Boletín INME - Instituto de Materiales y Modelos
prevista na norma de controle e recebimento [3], é notável que ao Estructurales da Facultar de Ingenieria da Universidade
longo dos últimos cinco anos o material apresentou uma subs- Central de Venezuela, vol. 21, No. 72/73, p. 165-207, 1983.
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publicados por Santiago e Beck [1]. priedades e materiais. Editora Pini. São Paulo, 2008.
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que visa à calibração, baseada em confiabilidade, dos coeficientes Mauro; DA SILVA FILHO, Luiz Carlos Pinto. The problem of
parciais de segurança utilizados nas normas brasileiras de proje- non-compliant concrete and its influence on the reliability of
to estrutural, então este estudo da conformidade dos concretos reinforced concrete columns. Materials and Structures, v. 49,
produzidos no país é fundamental para se alcançar este objetivo. n. 4, p. 1485-1497, 2016.
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In: ISAIA, G. C. (Editor), Concreto: Ciência e Tecnologia.
Os autores agradecem ao CNPq pelo financiamento, bem como IBRACON, São Paulo, 2011.
aos profissionais que forneceram os dados necessários para a [13] CASTRO, E de. Estudo da resistência à compressão por
elaboração deste trabalho: Aline Heloá de Souza, André Moraes, meio de pequeno diâmetro e esclerometria. Dissertação de
Antônio Nereu Cavalcanti Filho, Cesar Pinto, Dagoberto Faça- Mestrado. PPGEC/UFU. Uberlânida-MG, 2009.
nha, Deolinda de Oliveira Alves, Egydio Herve Neto, Fábio Luiz [14] BORGES, M. L. Avaliação da qualidade de concreto produ-
Willirich, Gezeli Bandeira de Mello, Girley da Silva Vespaziano, zidos em centrais dosadoras, misturados em caminhão be-
João Marcelo Linhares Feijão, Jônatas Moraes, Karoline A. Melo toneira e de concreto produzidos em centrais misturadoras.
Moraes, Luis Guilhermo Vellacich, Luiz Felipe Ferrira Mello, Luiz Dissertação de Mestrado. UFG. Goiânica-GO, 2009.
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Valdinei Jacques Alves, Vinícios Wagner Oliveira. do concreto através de testemunhos exterídos: contribuição
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