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W. C. SANTIAGO a b
wagner.santiago@univasf.edu.br
A. T. BECK b
atbeck@sc.usp.br
Abstract
This paper presents a new evaluation of the strength compliance of concretes produced in Brazil. It is based on experimental results of over twen-
ty-seven thousand concrete samples from different parts of the country. Results show that a significant part of Brazilian concrete do not reach the
characteristic strength (fck) specified in design, and the percentage of nonconforming samples tend to be higher than 5%. This study also reveals
the concrete produced in the South and Midwest regions have less variability than the ones produced in the other regions of the country. These
results emphasize the importance of a rigorous control in manufacturing and reception of concretes in order to reduce the nonconforming cases.
Resumo
Este artigo apresenta uma nova avaliação da conformidade dos concretos atualmente produzidos no Brasil. Ela está pautada em resultados de
ensaios de resistência à compressão axial de mais de vinte e sete mil corpos de prova de concretos moldados in loco, no ato de seu recebimento,
em diferentes obras do país. Os resultados mostram que parte do concreto produzido no Brasil não alcança a resistência característica (fck) pre-
vista em projeto, e que o percentual de amostras não conformes tende a ser superior a 5%. Este estudo também evidencia que os concretos pro-
duzidos nas regiões Sul e Centro-Oeste apresentam menor variabilidade que aqueles produzidos nas demais regiões do país. Estes resultados
reforçam a importância de um controle rigoroso na fabricação e no recebimento do concreto visando diminuir a ocorrência de não conformidades.
a
Colegiado de Engenharia Civil, Universidade Federal do Vale do São Francisco, Juazeiro, BA, Brasil;
b
Departamento de Engenharia de Estruturas, Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos, SP, Brasil.
Received: 23 Sep 2016 • Accepted: 13 Feb 2017 • Available Online: 27 Jul 2017
© 2017 IBRACON
A new study of Brazilian concrete strength conformance
A
B Concreto C20 B Concreto C30 C
B Concreto C40 D
B Concreto C50
Figura 1
Percentual dos dados de amostragem em relação às regiões do Brasil
resistência à compressão aos 28 dias de mais de 27 mil corpos Com a finalidade de avaliar o comportamento do concreto em rela-
de prova cilíndricos – 10 cm de diâmetro e 20 cm de altura – de ção a sua resistência característica, os dados foram classificados
concretos moldados in loco em obras das cinco regiões do Brasil em quatro classes – C20, C30, C40 e C50 – conforme as informa-
– centro-oeste (CO), sul (S), sudeste (SE), norte (N) e nordeste ções disponibilizadas nos relatórios de controle tecnológico e nas
(NE) – referentes a 15 unidades federativas. A Tabela 1 apresenta cartas de traço. A Tabela 2 apresenta uma breve quantificação dos
uma quantificação dos corpos de prova em função das diferentes corpos de prova em função das classes de resistência avaliadas.
regiões do país. A Figura 1 apresenta a distribuição percentual dos dados em relação
Em consonância com a norma de controle e recebimento [3], os às regiões geográficas do país para cada uma das quatro classes
concretos objetos deste estudo foram produzidos entre os anos de de resistência do concreto estudadas neste trabalho. Os resultados
2011 e 2016 em centrais dosadoras habilitadas levando em con- expressos nos gráficos tem uma forte relação com as classes de re-
sideração a condição A de preparo, tendo eles sido controlados sistência que costumam ser mais usadas nas diferentes regiões.
através de amostragem total por empresas certificadas de contro- No mais, os dados empregados foram obtidos juntos às seguintes
le tecnológico. empresas, instituições de ensino e laboratórios: AJL Engenharia,
Resistência
Resistência
A
B Concreto C20 B Concreto C30
Resistência
Resistência
C
B Concreto C40 D
B Concreto C50
Figura 2
Representação do tipo caixa-de-bigodes das amostras em relação às regiões do Brasil
Centro de Tecnologia da UFAL, CONSULTARE Laboratório, CSP O desvio-padrão (𝝈), que representa a regularidade e dispersão
Projetos e Consultoria, EGELTE Engenharia, ITAPIPU BINACIO- dos resultados em relação à média, foi encontrado a partir da raiz
NAL, Laboratório de Ensaios de Materiais da FACENS, MPA Con- quadrada da variância amostral, conforme indicado na Eq. 4. O
trole Tecnológico, SENAI-DF, SILCO Engenharia, TECNOL Tec- coeficiente de variação (Cve), por sua vez, foi encontrado através
nologia em Concreto, TECNOCON Engenharia e VENTUSCORE da razão entre o desvião-padrão e a média, vide a Eq. 5.
Soluções em Concreto.
A
B Concreto C20 B Concreto C30
C
B Concreto C40 D
B Concreto C50
Figura 3
Comparação entre as funções de distribuição dos concretos produzidos no Brasil e dos previstos
na NBR 12655
Tabela 3
Resultados sobre os concretos produzidos no Brasil
% amostras
Classe fckest (MPa) fcm (MPa) s (MPa) Cve
não conformes
C20 19,2 26,2 4,3 0,164 8,3
C30 29,2 37,3 4,9 0,131 5,7
C40 38,5 44,7 3,8 0,084 6,9
C50 48,0 56,1 4,9 0,088 4,5
(6)
Vale observar que o trabalho ainda envolveu a realização de uma Proporção
análise estatística prévia das amostras com vista a eliminar dados
não pertencentes aos grupos (outliers). A Figura 2 apresenta repre-
sentações do tipo caixa-de-bigodes para as amostras das classes de
resistência estudadas de maneira a evidenciar as barreiras inferiores
e superiores empregadas na exclusão dos resultados espúrios.
A
B C20 concrete B C30 concrete
C
B C40 concrete D
B C50 concrete
Figura 5
Comparação entre as funções de distribuição dos concretos produzidos nas diferentes regiões do Brasil
-de-prova cilíndricos de concretos moldados no recebimento e vel observar que a razão entre a resistência média e a resistência
ensaiados aos 28 dias, bem como as curvas de distribuição de característica especificada (fcm/fck) e o coeficiente de variação (Cve)
probabilidade dos mesmos concretos se estes atendessem a Con- tendem a diminuir com o aumento da resistência, enquanto a razão
dição A de preparo prevista na norma de controle e recebimento entre a resistência característica estimada e a resistência caracte-
[3]. Cabe mencionar que os resultados de cada uma das classes rística especificada (fckest/fck) tende a se manter constante.
estudadas provêm de uma mesma população, a qual eles se pro-
põem a representar. 6. Resultados regionais
Os concretos das classes C20 e C30 apresentam resistência mé-
dia (fcm) e desvio-padrão (𝝈) maiores que aqueles previstos na nor- A Figura 5 apresenta as curvas de distribuições de probabilidades
ma de controle e recebimento [3]. Os concretos das classes C40 e obtidas para os concretos produzidos nas diferentes regiões geo-
C50, por outro lado, apresentam resistência média (fcm) menor que gráficas do país. Nela fica evidente que nem sempre os concretos
aquela preconizada nesta mesma norma. produzidos em localidades distintas apresentam comportamento
Na Tabela 3 são apresentados os resultados obtidos em termos de similar. Os concretos produzidos nas regiões Sul e Centro-Oeste,
resistência característica estimada (fckest), resistência média (fcm), por exemplo, tendem a apresentar menor variabilidade que aque-
desvio-padrão (𝝈), coeficiente de variação (Cve) e percentual de les produzidos nas regiões Sudeste e Nordeste.
amostras não conformes dos concretos produzidos no país. Os re- A Tabela 4 ilustra os resultados obtidos em termos de resistência
sultados evidenciam que a resistência característica estimada em característica estimada (fckest), resistência média (fcm), desvio-pa-
todas as classes analisadas é menor que a resistência caracterís- drão (𝝈), coeficiente de variação (Cve) e percentual de amostras
tica especificada (fckest < fck) e que o percentual de amostras não não conformes para os concretos produzidos nas diferentes regi-
conformes tende a ser superior ao valor de 5% convencionado. ões do país. Apesar da dispersão dos resultados, está evidente
Para cada classe de resistência do concreto, a Figura 4 ilustra a que na maioria dos casos a resistência característica estimada
variação da razão entre a resistência média e a resistência ca- tende a ser menor que a resistência característica especificada
racterística especificada (fcm/fck), da razão entre a resistência ca- (fckest < fck) e que o percentual de amostras não conformes tende a
racterística estimada e a resistência característica especificada ser superior a 5%.
(fckest/fck) e do coeficiente de variação (Cve). Nessa figura é possí- A Figura 6 indica a variação da razão entre a resistência média e
Tabela 4
Resumo sobre os concretos produzidos nas diferentes regiões do Brasil
Classe Região fckest (MPa) fcm (MPa) s (MPa) Cve % amostras não conformes
CO 21,7 27,2 3,3 0,122 0,5
S 20,9 26,9 3,6 0,134 1,1
C20 SE 16,1 24,9 5,7 0,215 18,1
N 24,7 31,5 4,1 0,131 0,0
– – – – – –
CO 27,9 35,8 4,8 0,133 9,2
S 27,7 35,0 4,4 0,127 14,5
C30 SE 30,6 38,4 4,7 0,123 3,3
N 28,4 37,4 5,5 0,146 12,5
NE 28,6 38,5 5,3 0,143 4,2
CO 39,9 45,3 3,3 0,073 2,1
S 39,2 42,8 2,2 0,051 7,4
C40 SE 34,2 44,5 6,3 0,140 12,3
N – – – – –
NE 38,2 44,6 3,9 0,086 10,5
CO – – – – –
S 48,2 55,9 4,7 0,083 6,7
C50 SE 48,0 56,1 4,9 0,088 4,2
N – – – – –
NE 46,4 56,8 6,3 0,111 9,1
Proporção
Proporção
A
B fcm/fck B fckest/fck
Proporção
C
B Cve
Figura 6
Resumo dos resultados dos concretos produzidos nas diferentes regiões do Brasil
A
B Concreto C20 B Concreto C30
C
B Concreto C40 D
B Concreto C50
Figura 7
Comparação entre as funções de distribuição dos concretos produzidos no Brasil até 2011e 2016
Tabela 5
Resultados sobre os concretos produzidos no Brasil até 2011 e 2016
Classe Ano fckest (MPa) fcm (MPa) s (MPa) Cve % amostras não conformes
2016 19,2 26,2 4,3 0,164 8,3
C20
2011 23,0 23,7 1,8 0,071 1,0
2016 29,2 37,3 4,9 0,131 5,7
C30
2011 27,9 28,0 3,6 0,105 9,0
2016 38,5 44,7 3,8 0,084 6,9
C40
2011 35,9 33,6 3,6 0,090 30,0
2016 48,0 56,1 4,9 0,088 4,5
C50
2011 42,4 41,1 2,9 0,062 84,0
a resistência característica especificada (fcm/fck), da razão entre a desvio-padrão (𝝈), coeficiente de variação (Cve) e percentual de
resistência característica estimada e a resistência característica es- amostras não conformes dos concretos produzidos no Brasil até
pecificada (fckest/fck) e do coeficiente de variação (Cve) para cada os anos de 2011 e 2016. Os resultados evidenciam que, no ge-
classe de resistência do concreto e região geográfica do país. Essa ral, houve elevação da resistência e diminuição do percentual de
figura mostra que, apesar da dispersão relativa dos resultados, é amostras não conformes.
possível observar uma tendência de diminuição da razão entre a Para cada classe de resistência, a Figura 8 ilustra a variação da
resistência média e a resistência característica especificada (fcm/fck) razão entre a resistência média e a resistência característica es-
e do coeficiente de variação (Cve) com o aumento da resistência. pecificada (fcm/fck), da razão entre a resistência característica es-
timada e a resistência característica especificada (fckest/fck) e do
7. Comparação com resultados anteriores coeficiente de variação (Cve) em relação aos concretos produ-
zidos até 2011 e 2016. Nela é possível notar que a razão entre a
A Figura 7 apresenta as curvas de distribuições de probabilida- resistência característica estimada e a resistência característica
des construídas com a base de dados deste trabalho (2016), bem especificada (fckest/fck) tende a se manter constante apenas para o
como as curvas de distribuições de probabilidade montadas com a concreto da base atual de dados (2016).
base de dados de Santiago e Beck [1] (2011). Nesta figura fica cla-
ro que no intervalo de cinco anos os concretos produzidos no país 8. Conclusões
apresentaram elevação no valor médio da resistência, embora a
variabilidade também tenha aumentado. A princípio, tal resultado Este trabalho apresentou um estudo da conformidade de concre-
serve como indício de que as centrais dosadoras tenham voltado tos de quatro classes distintas – C20, C30, C40 e C50 – usinados
a centrar a resistência de dosagem do concreto na resistência mé- e produzidos no Brasil. Esse estudo foi realizado a partir de uma
dia e não mais na resistência característica, conforme apontado base de dados com mais de vinte e sete mil corpos de prova cilín-
em trabalhos anteriores [1, 16]. dricos moldados in loco no recebimento do material e ensaiados
Na Tabela 5 são apresentados os resultados obtidos em termos de aos 28 dias com carregamento único, instantâneo e monotônico.
resistência característica estimada (fckest), resistência média (fcm), Os concretos das classes C20 e C30 apresentaram resistências
médias (fcm) maiores que os valores previstos na norma de con-
trole e recebimento [3], enquanto os concretos das classes C40
e C50 apresentaram resistências médias menores que aquelas
indicadas nesta mesma norma. Para todas as classes avaliadas,
Proporção
razão entre a resistência característica estimada e a resistência ity-based calibration of Brazilian structural design codes. J,
característica especificada (fckest/fck) tendeu a se manter constante. of the Braz. Soc of Mech. Sci & Eng. v.32, p.119-127, 2010.
Apesar dos resultados indicarem que o concreto atualmente pro- [9] PORRERO, K. Evaluación de los ensayos de resistencia del
duzido no país apresenta qualidade ligeiramente inferior a aquela concreto. Boletín INME - Instituto de Materiales y Modelos
prevista na norma de controle e recebimento [3], é notável que ao Estructurales da Facultar de Ingenieria da Universidade
longo dos últimos cinco anos o material apresentou uma subs- Central de Venezuela, vol. 21, No. 72/73, p. 165-207, 1983.
tancial melhora em seu comportamento, haja vista os resultados [10] MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P.J.M. Concreto: estrutura, pro-
publicados por Santiago e Beck [1]. priedades e materiais. Editora Pini. São Paulo, 2008.
Como os autores deste trabalhando estão envolvido em um projeto [11] MAGALHÃES, Fábio Costa; DE VASCONCELLOS REAL,
que visa à calibração, baseada em confiabilidade, dos coeficientes Mauro; DA SILVA FILHO, Luiz Carlos Pinto. The problem of
parciais de segurança utilizados nas normas brasileiras de proje- non-compliant concrete and its influence on the reliability of
to estrutural, então este estudo da conformidade dos concretos reinforced concrete columns. Materials and Structures, v. 49,
produzidos no país é fundamental para se alcançar este objetivo. n. 4, p. 1485-1497, 2016.
[12] SILVA FILHO, L. C. P.; HELENE, P. Análise de estruturas
9. Agradecimentos de concreto com problemas de resistência e dissuração.
In: ISAIA, G. C. (Editor), Concreto: Ciência e Tecnologia.
Os autores agradecem ao CNPq pelo financiamento, bem como IBRACON, São Paulo, 2011.
aos profissionais que forneceram os dados necessários para a [13] CASTRO, E de. Estudo da resistência à compressão por
elaboração deste trabalho: Aline Heloá de Souza, André Moraes, meio de pequeno diâmetro e esclerometria. Dissertação de
Antônio Nereu Cavalcanti Filho, Cesar Pinto, Dagoberto Faça- Mestrado. PPGEC/UFU. Uberlânida-MG, 2009.
nha, Deolinda de Oliveira Alves, Egydio Herve Neto, Fábio Luiz [14] BORGES, M. L. Avaliação da qualidade de concreto produ-
Willirich, Gezeli Bandeira de Mello, Girley da Silva Vespaziano, zidos em centrais dosadoras, misturados em caminhão be-
João Marcelo Linhares Feijão, Jônatas Moraes, Karoline A. Melo toneira e de concreto produzidos em centrais misturadoras.
Moraes, Luis Guilhermo Vellacich, Luiz Felipe Ferrira Mello, Luiz Dissertação de Mestrado. UFG. Goiânica-GO, 2009.
Paulo Prigol, Marcos Aurélio Vianna de Escobar, Renato Trindade, [15] VIEIRA FILHO, J. O. Avaliação da resistência à compressão
Valdinei Jacques Alves, Vinícios Wagner Oliveira. do concreto através de testemunhos exterídos: contribuição
à estimativa do coeficiente de correlão devido aos efeitos
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na Confiabilidade de Pilares Curtos. Revista IBRACON de revistatechne.com.br/engenharia-civil/152/artigo156894-1.
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