Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
1
Mestre em Saúde Coletiva (UFES); professora da Faculdade Pitágoras, Sociedade Capixaba de Educação. Linhares-ES.
2
Doutor em Medicina (UFRJ); professor da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM). Vitória-ES.
3
Mestre em Saúde Coletiva (UFES); professora da Faculdade Salesiana de Vitória. Vitória-ES.
4
Doutora em Ciências Fisiológicas (UFES); professora do Programa de Pós-Graduação de Saúde Coletiva da UFES. Vitória, ES.
Tabela 1. Caracterização da amostra estudada, segundo verificar que houve significância estatística (p=0,001)
faixa etária, indicadores de saúde e trabalho, 2006 entre o relato de sintomas osteomusculares no último
Variáveis ano e o tempo de trabalho na empresa pesquisada. O
n %
Faixa etária tempo médio de trabalho foi de 3,2±2,5 anos (Tabela
3). O tempo de trabalho em turnos também apresen-
20 |---- 30 anos 82 27,3 tou significância estatística (p=0,001) (Tabela 3).
30 |---- 40 anos 135 45,0
40 |---- 50 anos 68 22,7
50 anos e mais 15 5,0
Tabela 2. Frequência das queixas de dor nas regiões pro-
Estado Nutricional postas no último ano no grupo estudado, 2006
por 33% dos indivíduos em São Paulo e 54,3% em cinco minutos na jornada reduziu em 5% a chance
Belo Horizonte. Esses autores apontam que as classes de o motorista apresentar sintomas de dores osteo-
socioeconômicas menos favorecidas percebem a gra- musculares; com quatro pausas havia uma redução de
vidade da doença apenas quando ela interfere no uso 17%.
pleno do corpo, normalmente para o trabalho, o que
acarreta maior prejuízo para a saúde.
Considerações finais|
Foi encontrada associação estatística significativa en-
tre dor osteomuscular e tempo de trabalho na empre- Este estudo mostrou uma prevalência elevada de quei-
sa pesquisada, apresentando-se como fator de risco xas de dores osteomusculares. A associação estatística
a ocorrência de dor osteomuscular após análise de significativa entre o relato de dor osteomuscular e o
regressão logística. tempo de trabalho na empresa pesquisada aponta o
A empresa pesquisada é considerada jovem, no que processo de trabalho na empresa como possível gera-
se refere ao ramo de transporte de madeira, portanto, dor de desgaste nos indivíduos. A carga de trabalho,
observou-se que a grande maioria dos motoristas ti- por suas características específicas, dificulta aos tra-
nha de um a três anos de contrato de trabalho. Assim, balhadores organizar suas vidas como a maioria das
a associação encontrada revela que somente três anos pessoas, interferindo na disponibilidade para o lazer,
de trabalho na empresa é suficiente para determinar na realização de projetos pessoais e em cuidados com
um desgaste expressivo na saúde desses trabalhado- a saúde.
res. De acordo com a análise estatística, a cada um ano Um aspecto importante a ser avaliado em estudos
de trabalho na empresa pesquisada, o risco de sentir posteriores são as condições de manutenção dos ban-
dor osteomuscular aumenta em 6%. cos de direção, uma vez que o indivíduo permanece
É importante citar que, entre os grupos que se ca- sentado nele por 12 horas consecutivas e o caminhão
racterizam por concentrar um grande número de fa- é utilizado 24 horas, dia após dia, tendendo a um rá-
tores associados às cargas de trabalho, salienta-se o pido desgaste.
dos motoristas profissionais de transporte de cargas, Constatou-se a existência de poucos estudos no Bra-
pelo fato de que se submetem a longas jornadas em sil sobre a ocorrência de dores osteomusculares rela-
posição sentada, o que induz à manutenção de grupos cionadas com o processo de trabalho em motoristas
musculares contraídos por tempo prolongado5,8,18.. de caminhões vinculados ao transporte de madeira,
Maciel, Fernandes e Medeiros11 apontam que a exten- razão pela qual é de grande importância a realização
são da jornada de trabalho, a não realização de pau- de outras pesquisas com profissionais dessa categoria,
sas para descanso e o fato de passar a maior parte do porém em outras condições de trabalho, a fim de in-
tempo na posição sentada favorecem o aparecimento vestigar a ocorrência dessas dores associadas e, assim,
de dores osteomusculares. Andrusaitis, Oliveira e Bar- chamar a atenção dos gestores no sentido de garantir
ros Filho1 encontraram significância estatística entre o o cumprimento das leis e o aperfeiçoamento das rela-
acréscimo de horas de trabalho por dia e a ocorrência ções trabalhistas, evitando que o trabalho seja respon-
de dor osteomuscular, afetando principalmente a re- sável por altos graus de incapacidades.
gião lombar em motoristas de caminhão.
Na empresa pesquisada, além da longa jornada de Referências|
trabalho, os motoristas trabalham sob o peso da res-
ponsabilidade da carga pesada e de alto risco, o que 1. Andruisaitis SF, Oliveira RP., Barros Filho TEP.
aumenta as condições de tensão e estresse, agravadas Study of the prevalence and risk factors for low
pelas más condições das estradas e pela necessidade back pain in truck drivers in the state of São Pau-
do cumprimento de horários. Costa et al.7 verificaram lo, Brazil. Clinics 2006; 61(6): 503-10.
que a extensão da jornada de trabalho para além de 2. Augusto VG, Sampaio, RF, Tirado, MGA, Parrei-
8h40min ou mais aumenta em 41% a chance de os ra, VF. Um olhar sobre as LER/DORT no con-
motoristas apresentarem dores e, quanto ao número texto clínico do fisioterapeuta. Rev Bras Fisiote-
de pausas para descanso durante a jornada de traba- rapia 2008; 12(1): 49-56.
lho, constataram que a introdução de uma pausa de
3. Battiston M, Cruz RM, Hoffmann, MH. Condi- Nacional por Amostra de Domicílios. Cad. Saúde
ções de trabalho e saúde de motoristas de trans- Pública, 2005; 21(4):1107-23.
porte coletivo urbano. Estudos de Psicologia
14. Neves IR. LER: trabalho, exclusão, dor, sofri-
2006; 11(3): 333-43.
mento e relação de gênero: um estudo com traba-
4. Brandão AG, Horta BL, Tomasi E. Sintomas de lhadoras atendidas num serviço público de saúde.
distúrbios osteomusculares em bancários de Pelo- Cad Saúde Pública 2006; .22,(6): 1257-65.
tas e região: prevalência e fatores associados. Rev
15. Pampel FC. Logistic regression: a Primer. Lon-
Bras Epidemiologia 2005; 8(3):295-305.
don: Sage Publications; 2000.
5. Burdorf A, Naaktgeboren B, Groot HCWM.
16. Picoloto D, Silveira E. Prevalência de sintomas
Occupational risk factors for low back pain
osteomusculares e fatores associados em traba-
among sedentary workers. JOM 1993; 35(12):
lhadores de uma indústria metalúrgica de Canoas
1213-20.
– RS. Ciência & Saúde Coletiva 2008; 13(2):507-
6. Carvalho MB, Felli, VEA. O trabalho de enfer- 16.
magem psiquiátrica e os problemas de saúde
17. Pinheiro FA, Tróccoli BT, Carvalho CV. Valida-
dos trabalhadores. Rev Latino-Am Enfermagem
ção do questionário nórdico de sintomas osteo-
2006; 14(1): 61-9.
musculares como medida de morbidade. Rev Saú-
7. Costa LB, Koyama MAH, Minuci EG, Fis- de Pública 2002; 36(3); 307-12.
cher FM. Morbidade declarada e condições de
18. Queiróga MR, Michels G. A influência de caracte-
trabalho: o caso dos motoristas de São Paulo e
rísticas individuais na incidência de dor músculo-
Belo Horizonte. São Paulo em Perspectiva. 2003;
esquelética em motoristas de ônibus da cidade de
17(2): 54-67.
Londrina – PR. Rev. Bras. Atividade Física a Saú-
8. Ehrlich GE. Low back pain. Bulletin of the de 1999; 4(2):49-61.
world health organization. 2003; 81 (1): 671- 6.
19. Silva MC, Fassa AG, Valle NCJ. Dor lombar
9. Kuorinka I, Jonsson B, Kilbom A, Vinterberg crônica em uma população do sul do Brasil: pre-
H, Biering-Sorensen F, Andersson G, Jorgensen valência e fatores associados. Cad Saúde Pública
K, Standardised Nordic Questionnaires for the 2004; 20 (2): 377-85.
analysis of musculoskeletal symptoms. Applied
20. Sociedade Brasileira de Hipertensão. V Diretri-
Ergonomics 1987; 18: 233-7.
zes brasileiras de hipertensão. Hipertensão 2006;
10. Macedo E, Blank VLG. Processo de trabalho e 5(4).
prevalência de dor lombar em motoristas de ca-
21. World Health Organization. Obesity: preventing
minhões transportadores de madeira, no sul do
and managing the global epidemic. Report of a
Brasil. Cadernos de Saúde Coletiva 2006; 14(3):
WHO Consulation. WHO Technical Report Se-
435-50.
ries 894. Geneva: World Health Organization;
11. Maciel ACC, Fernandes MB, Medeiros LS. Preva- 2000.
lência e fatores associados à sintomatologia do-
Data de recebimento: 20-12-09 | Data de Aceite: 17-3-10
lorosa entre profissionais da indústria têxtil. Rev
Bras Epidemiol 2006; 9(1); 94-102. Correspondência para/Reprint request to:
Andréa Figueiredo Saporiti
12. Ministério da Saúde do Brasil. Representação no Rua José Teixeira, 160 / 1106
Brasil da OPAS/OMS. Doenças relacionadas ao Praia do Canto/Vitória, ES 29055-310
trabalho: manual de procedimentos para os ser- Tel.: (27) 3315-6893 / 9976-8725
andrea.saporiti@terrra.com.br
viços de saúde; organizado por Elizabeth Costa
Dias; colaboradores Idelberto Muniz Almeida et
al. Brasília, Ministério da saúde do Brasil; 2001.
13. Neri, M, Soares, WL, Soares, C. Condições de
saúde no setor de transporte rodoviário de cargas
e de passageiros: um estudo baseado na Pesquisa