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CAPITULOS DE SENTENCA eT CUM MEE e rR Eee ea Oe eee eS eee ee eee een een eee Cone nCeunectn Mee a Ree eet en aoe ee Visando a divulgar o conhecimento do tema entre os opera- Cee etree ee ee eo ORE eee eee eau cea mento de muita utlidade na pratica do processo civil -, 0 Autor Cs mee ie no das, tendo como ponto de partida a proposta de uma teoria pura dos capitulos de sentenca. Rechaca o pensamento dos que pre- Ree gee es eee ed eee ee ec Cee ee eee ee ee eos ee ee cee Yee eae a Pee eR see ete sobre outras areas. Sao examinadas as principais doutrinas que Ree re Rene cee eee er ue ee ea oe See eee eco ec as em capitulos projeta sobre a disciplina da prépria sentenga, da eee eee er ae Mees Pree etc co IM CANDIDO RANGEL DINAMARCO CAPITULOS SENTENCA EOrre cy) QUTRAS OBRAS DESTA EDITORA ‘Agdo Civil Publica (2003) Soraunt CioccHeTn oe So {gio Popular Constitucional (2 ed, 2007) ose Aronso a Siva Adjudicagéo Compulséria (9 ed. 2004) “Ricanoo Arcoverce Cazoe Compromisso de Compra e Venda (Gred., 2006) ~ Jose Osan. oe AZEVEDO J Direito e Proceso (4* ed. 2006) “Jose Roservo bos Sands Bencove Direito Processual Piblico (A Fazenda Poablica em Juizo)(1# ed, 2 tir, 2003) = Caai.as Ani Sunoreio & Cassio Seanoaietix Bueno (ORCS) Direito Sumular (134 ed, 2008) Roaento ROSAS Efetividade do Processo e Técnica Processual (2 ed., 2007) ~ dose RoseRT0 008 SaNTos Beonoue Fundamentos Constitucionais do Processo (2002) ~ Francisco Genson Manaus 0: Lak Juizo de Admissibilidade na Agao de Mandado de Seguranga (2008) ~ ARLETE ns AURELL Mandado de Seguranga (5 ed, 2004) ~ Lucia Value FIGUEIREDO Mandado de Seguranga (2006) = Senaio Feawu Mandado de Seguranca e Acao Popular (G0¥ed, 2007)~Hetv Loves Memeues Tutela Antecipada Sancionatéria (2006) = Bruno Vasconce.os Cannio Loves Tutela Cautelar, Tutela Antecipatéria: Tutelas Sumérias e de Urgéncia (@# ed, 2006) ~ José Roserro vos Swros BeoAoue Tutela Jurisdicional Diferenciada (2000) = Rocke Acun Mawoe Soames CAPITULOS DE SENTENCA Candido Rangel Dinamarco CAPITULOS DE SENTENCA 3* edigao CAPITULOS DE SENTENCA © CAnpivo RanarL Disamarco 1 edigdo, I tiragem, 09.2002; 2 tiragem, 08.2004; 2 edigdo, 03.2006. ISBN 978-85-7420-836-7 Direitos reservados desta edigdo por MALHEIROS EDITORES LTDA. Rua Paes de Araiijo, 29, conjunto 171 CEP 04531-940 — Sao Paulo — SP Tel.: (11) 3078-7205 Fax: (11) 3168-: URL: www.malheiroseditores.com-br e-mail: malheiroseditores@terra.com.br 95 Composigao PC Editorial Ltda. Capa Criagdo: Vania Licia Amato Arte: PC Editorial Ltda. Impresso no Brasil Printed in Brazil 01.2008 SUMARIO (Cainuzo 1 = PREMISSAS METODOLOGICAS E CONCEITUAIS 6 toma, as teorias, a utilidade sede sistemética adequada: a tearia da sentenca fteas de relevncia. a estrutura formal ¢ 0 conteide substarcial das sentences as diversas teorias unidades auténomas e independentes: Chiovenda unidades do decisério, nio necessarianente autBnomas em sentido absoluto: Liebman 8. decisdes de questées: Carnelutt 9. teorias relativistas 10. processualistas brasileiros (Cwinuvo Il - OS CAPITULOS DE SENTENCA NA TEORIA DESTA 11. conceito de capitulo de senten 12. por uma teoria pura dos eapitulos de sentenca 13. capitulos de mcrit'e capiiuloy Ue elicicia exclusiv processual 14, os dois signficados da autonomia dos capitulos de sentenga 15, capitulos independentes, dependentes ¢ condicionantes 16. capitulos cesultantes de uma ciséo quaatitativa 17. capitulos das decisées interlocutsrias ede outros pronunciamentos judiciais Cartruto I~ CAPITULOS DE MERITO 18. 0 objeto do processo e seu valor sistemticn no processo de conhecimento 0 diteto positive brasileieo 19. apretensio de mérito e a preteasio ao julgamento do mérito im Is Is 19 2 23 25 46 50 6 ‘CAPITULOS DE SENTENGA SUMARIO dos: sentenga oo 2 49, devolusdo além dos capitulos imps 7 20. sobre w mérito ¢ 0 objeto do processo 2 rere 21, objeto do processo,pretensdes, crises juridicas a 50, devolugdo além dos capitulos impugnados: capitulos 22. 9 aro problems const de peterson eo do objeto inserenecs 109 do processo 5 51. devolugdo akém das capitulos impugnados: eapitulos 23. a mérito eo objeto do processo 39 dependentes mt 24. 0s capitulos de mérito € o objeto do process 6 recurso parcial, recurso adesivo e reformat in pefus 12 25. objeto composto: imulos presentes aa demands inicial 64 a aa us 26. objeto composto:emulos vlteriores w frees eins guano sos ess de inrposgio dos 27. litisconsdrcio 6s recursos 6 28, objeto simples decomponivel 70 55. efeitos do julgamento dos recursos. u7 29. 3 desompoiio do provineno pedo ov cst jin do 56. recebimento parcial e agravo 7 u7 oe ‘ a 57. rao rns jad U8 a debeatur ¢ quantum debeatur 8. agdo rescsdria: alguns temas e solugdes comuns aos recursos 31. eficicias convergentes ou divergentes ~ sucumbéncias 75 Se es 13 32. correlagio entre 0 demandado e o decidido n 59. capitalos . W 7 ; Cstirito VIII ~ REPERCUSSOES NO CUMPRIMENTO Capito IV ~ CAPITULOS HETEROGENEOS (MERITO E DE SENTENCA, NA EXECUCAO FORCADA E ‘PRELIMINARES) NA LIQUIDACAO DE SENTENGA 33. anda eestruturabiftonte da demanda 9 entene es 34. capitulo ou captus de'efetosexclsivamente processuais 79, 6. capitulo ligt e capituo iiguido 35. capitules heterogéneos (processus e de mérito) 80 62. diversas espécies de ligdidagio de senenca Cariruwo V~ REPERCU 63. diversos modos de cumprimento da sentenga 36. na propria teoria da sentenea 81 64. execusiio definitiva e execugio provisria 37, eficdcia dos diversos capitulos 82 65. embargos parciais 38. nulidades parciis da sentenga 84 33 5 bibliografia 33 39, sentencas ultra vel extra petita 7 iliograf 40. sentengas citra petra 89 (Cusiruio VI — REPERCUSSOES NA ATRIBUICAO DO CUSTO DO PROCESS 441, ainda no mbito da sentenga 92 42. sueumbéncia parcial, ou reciproca (entre autor e éu) 93 43. em caso de pluraidade de partes 94 (Civiru10 VI ~ REPERCUSSOES NA TEORIA DOS RECURSOS 44. visdo geral e temas fundamentais 96 45. recurso integral e recurso parcial 98 46, recurso parcial por forea de lei (capitulos recorrveis © capitulosirecorsiveis). 100 47. recorribilidade parcial (interessee 102 48. recurso parcial: devolugao limitada os CAPITULO I PREMISSAS METODOLOGICAS E CONCEITUAIS 1. tema, a eras. tlidade ~ 2. sede sistemitiesalequada: a tora dase tenga ~ 3. eas de felevicia ~ 4, wesrtua formal eo contd sibaneit das seatengas~ 5. diversas eoias = 6, uniidesnutnomas © indepeniemtes: CChioveda~ 7, wnidades do deeiiio, io neesstriaene atGnomss em sen "ido absolute: Liebman ~ 8, decsoes de quesices: Cane) ~ 9. corset ‘Vistas 10 processualisas brasileiro o tema, as teorias, a utilidade Muito dificilmente uma sentenca ccntém o julgamento de uma 86 pretensio, ou seja, uma s6 decisdéo. Basta pensar na condena- io do vencido pelo custo financeiro do processo (despesas, ho- norétios da sucumbéncia), a qual se resolve em um preceito, contido no dispositivo da sentenca, que niio se confunde com 0 Julgamento do confito que motivou odemandante a valer-se dos Servigos do Poder Judicisrio; no mesmo ato, o juiz julga a causa € também dispée sobre o modo como se regerd a responsabil dade por esse custo, ainda quando o faca para dispensar o ven- Cido de arcar com ele. Séo também corriqueiros os casos de ct ‘mulo de pedidos, em que a parte final da sentenga cinde-se em dus ou mais disposigdes, cada uma éistinta da outra e destina- dla 40 julgamento de uma das pretensdes cumuladas; 0 mesmo se diem caso de reconvencio, denunciagio da lide, chamamen- ‘© 20 processo, acio declaratdria incidental etc. Sucede também 0 CCAPITULOS DE SENTENGA que muitas vezes © pr6prio objeto do processo € caracterizado por uma pretensio decompontvel (infra, n. 28), de modo que na procedéncia parcial da demanda do autor reside 0 acolhimento de uma parte de sua pretensao e rejeicao de outta, Se pege reintegraci de posse ein eiimulo com indenizacio, 0 dlispositivo da sentenga que julgar 0 mérito deverd conter um pre- ccito referente a cada um desses pedidos, ov sea dais eapitulos de sentenga — um julyando a possess6ria e out, @ indenizatéria Se peco 100 e a sentenca me conecde 80, isso significa que o juiz acolheu minha pretensao a obter 80 ¢ julgou improcedemte a pre- tensto a obter os outros 20 (dccompss, portanto, um pedido que formalmente era uno). No primero caso ja demand vinha eo locada em capitulos ciimulo de pedides) e no segundo no. Mes ‘mo assim, uma singela eperacko mental de abstagie eonduz & clarissima percep cle que nos dois eases «ju eapiulos. Aléin disso, tenga de mérito 0 juiz repele preliminares deduzidas com 0 ob- jetivo de obstar ao julgamento do mérito ~ ¢ com isso esta deci- dindo de modo explicito sobre a pretensio do autor av proprio julgamento de meritis e nav apenas sobre 0 meritum cause, Em si raros os casos em que no corpo da sen- hipteses assim, € imperioso e muito itil reconhecer que ao m nos dois capitulos essa semtenca contém. a saber, (a) 0 que dis- pe sobre 0 destino do processo, reconhecendo a admissibilida- de do julgamento do mérito e (b) o que julga o mérito, Obviamente, se a preliminar for a sem julgamento do mérto, inexistira o capitulo de julgamento este, Mais ainda: nada incomum é a convivéneia, em uma sen: tenga 56, de dois ow mais furdamentas pelos quais se admite ou substancial do autor. Pense-se na procedéni © julgamento do mérito, ou se acolhe ou rejeita a pretensio ia da demanda de anulagio de contrata, pelo duplo fundamento da existéncia de dolo € de erro, alegados pelo autor; ou an sentenga que acolhe tum desses fundamentos ¢ rejeita 0 outro, ow que rejeita ambos juridica invocada nao tem 0 si leg nificado que ele alega, nio dando PREMISSAS METODOLOGICAS E CONCEITUAIS pportanto amparo a sua pretensio. Em iados esses casos, @ dual dade ou pluralidade de fundamentos pode gerar conseqdencias relevantes na ordem processual. Como se veri, porém, a teoria dos capitulos de sentenga constrdi-se sobre a dualidade ou plura lidade de preceitos concretos contidos no decisério da sentenga ¢ nfo sobre a dualidade ou pluralidade de seus fundamentos, por- que li reside sua grande utilidade sistemitiea pritica, enao aqui infra, n, 11, Surge, nas situacdes indicadas, o interesse em cindir ideolo- gicamente a sentenca, isolando as partes mais ou menos autd- nomas de que ela se compe e buscando-se por esse meio crité- rios vétidos para a solugdo de uma variadissima série de ques tes processuais. O tema dos capitulos de sentenga é inerente teoria desta e pertence exclusivamente a ela, nfo a de cada um dos institutos sobre os quais exerce influéncia; para bem com- preendé-lo, todavia, ¢ indispensdvel examinar as projegdes uteis da identificagao dos capitulos ¢, com isso, penetrar no estudo desses institutos (sabendo-se que a disciplina dos recursos & 0 campo mais fértil para a aplicagao dessa teoria). E, como nao s6 a sentenca comporta as decomposigies inerentes & teoria dos capitulos, o estudo do tema expande-se a outros pronunciamen- tos judiciais, como as decisées interlocutérias os acérdiios em geral, Por outro lado, o préprio tema dos capitulos de sentenga recebe muita influéncia da teoria do objeto do processo, uma vez que sua manifestagio mais limpida ¢ indiscutivel ¢ exatamen- tea que decorre da presenca de mais de um pedido a ser julgado, ou seja, de um objeto do processo compasto (ciimulo de pedidos, Feconvengao, denuncfagao da lide etc. ~ infra, nn. 25-20). Essa é a complexa rea sobre a qual se desenvolve o presente estudo. A primeira questio a resolver ¢ a da dimensao do pré rio conceito de capitulo de sentenca, sendo indispensivel to- ‘mar posigio em face das teorias mais ampliativas ou das mais restritivas do instituto, que tém surgids ao longo da histéria des- se elegantissimo tema. (© emprego ds locus capitulos auténomos, presente na obra elissica de Liebman, insinus a opg#o Dor uma dessas posigoes, CAPETULOS DE SENTENGA uma vez que s6 sto realmente aut6nomas as decisdes sobre cada ‘uma das pretensoes substanciais que bem poderiam ter sido pro- postas separadamente (mas, sobre o verdadeiro significado da posigdo do Mesie, v. infra, 0.7) Nos t6picos a seguir principia-se a anélise das diversas ten- déncias que se vém manifestando em doutrina, sabendo-se que sto muitos 0s critérios propostos para a cisdo da sentenga em partes, ou capitulos, em vista da utitidade que o estudioso tenha em mente. E licito: a) fazer somente a repartigao dos preceitos contidos no decisério, referentes as diversas pretensdes que compiem 0 mérito; b) separar, sempre no ambito do decisério sentencial, capitulos referentes aos pressupostos de admissibili- dade do julgamento do mérito ¢ capitulos que contém esse pré- prio julgamento; c) isolar capitulos segundo os diversos fiunca- mentos da decisio. Cada um desses cortes ideolsgicos tert sua utilidade especifica para a solugio de questées como a das nuli- dades sentenciais, a da rhedida do interesse em recorrer, a da dimensdo horizontal da devolucdo operada pelo recurso inter- posto (CPC, art. 515, caput), a do efeito suspensivo (que pode incidir sobre um dos capitulos sem que incida sobre todos), a dos limites da coisa julgada, a das espécies de execugao perti- nentes etc Nese quadro assim plistico, uma tomada de posi¢ao quanto a dimenso do tema dos capitulos de sentenga e mesmo quanto a0 conceito destes dependeré sempre da utilidade que esteja a mover 0 interesse do observador. © Cédigo de Processo Civil no contém disposigdes capazes de oferecer uma disciplina sis- temética das sentencas, acérdaos ou decisdes suscetiveis de es- candir-se em capitulos. Fala apenas em parte da sentenca, a0 autorizar a instauragao simultinea da execugdio de sua parte li- quida e da liqhidago da parte iliqiida (art. 475-1, § 22); manda também que s6 em parte fique sem efeito a execu: 1 proviséria, em caso de anulagao parcial da sentenca (art. 475-O, § 12); em outro dispositivo disciplina a interposicao de recurso extraordi- nario ou especial na hipétese de acérdio contendo uma parte PREMISSAS METODOLOGICAS E CONCEITUAIS b suscetivel outra insuscetivel de embargos inftingentes (art. 498, caput e par.) Capitulo de semtena, loeusio jé em alguma medida integrada 0 vocabulirio do processualistabrasilsiro,€ tradug0 da formu: Ia italiana capo di sentenza, Trata-se dis partes em que a senten- 62 comporta uma decomposigdo iil, endo indiferente para os italianos o emprego des vocibulos parie o capo — com a ressalva de que este tltimo figura ali no significado de chefe,' tanto quan- to na locusio francesa equivalente, chef de jugement (ou chef de décision). Os italianos empenhamse na busea do conceito dos capi di semtenza, na interptetagio de dispositivos de seu Co- digo, onde se fala em partes desta (Cp, ats. 329 © 336). O Cdi- go de Processo Civil brasileito s6 en passant fala em partes da sentenga, quando, na disciplina da exccusso provisoria, alude & sentenga “modificada ou anulada apenas em parte” (art 475-0, 515, 2. sede sistemdtica adequada: a teoria da sentenca A primeira vista bastante simples e até intuitiva, é no entanto de grande complexidade a doutrina dos capitulos da sentenga ~ seja em razao das vacilagdes conceitvais inerentes & determina- 0 do que se entende por capitulo mesmo, seja pelas dificulda- des que surgem no momento de utilizar o conceito de modo itil © cocrente. O tema ainda é muito pouco versado ¢ teorizado e & pritica dos tribunais brasileiros ainda nao chegou a plena cons ciéncia de sua relevancia. A propria existéncia dessa problema- tica no se revela conhecida de todos. Até ha poucos anos, pou cos estudiosos se dispuseram 2 examini-lo em sua inteireza, ‘ocupando-se alguns deles apenas das projecdes da divisio das sentengas em capitulos ao discorrerem sobre outros institutos, especialmente sobre aspectos do direito recursal. Nao-obstante sua visivel e preponderante utilidade na disci- plina dos recursos, contudo, o tema das capitulos de sentenga € |. Literalmente, 0 voedbulo italiano capo cuer dizer eabera ou, por exten Sho, chef im CCAPITULOS DE SENTENCA a fixagdo do conceito destes pertencem sistematicamente & feo- ria da semtenga, resolvendo-se em um estudo analitico do ato judicial. Trata-se em primeiro lugar de isolar os diversos com- ponentes estruturais necessariamente presentes em uma senten- ga valida (relat6rio, motivagao, decisio: v. art, 458 CPC) e, de- pois, de situar os capitulos desta em uma ou mais dessas partes, conceituando-os segundo a posi¢ao assumida. $6 em um segun- do momento légico tém lugar as investigag6es acerca da rele vancia que a divisdo da sentenca em capitulos tera na disciplina dos recursos e de outros insttutos processuais.? Nein por isso seria licito desconsiderar as projegdes que 0 tema langa sobre outras dreas da ciéncia processual. De poueo ou nada serviria observar os capitulos de sentenga em um plano es titico e em sua sede conceitual adequada, se iss0 nao fosse feito em vista da utiidade que a identificagto dessas unidades senten- ciais pudesse ter no sistema processual como um todo. Assim & que, embora afirmando-se vigorosamente a teoria da sentenga ‘como leuitima sede conceitual do tema, mostra-se indispensével a consciéncia de suas dreas de relevéieta, ou seja, dos insitutos processuais que de algum modo recebem influéncia da divisio da sentenga em capitulos 3. dreas de relevincia O papel importantissimo que a teoria dos capitulos de senten- ga desempenha para a soluco de muitos e importantes pontos referentes a teoria dos recursos abre caminho para um desvio de perspectiva que, além de subtrair v tema a sua sede natural, tem, levado a doutrina a desconsiderar a influéneia que eles podem exercer também sobre outras dreas do direito processual. Mui- tos dos estudos conhecidos sobre o tema limitam-se a examinar as conseqiiéncias da divisdo da sentenga sobre a teoria dos re 2. Gf: Liebman, “Parte o capo" di sentenza’, n. , esp. p. 48. Impressions do pela repetigto com que a referencia aos capitulos de sentenga surge nos es- ludos sobre os recursos, cuidow o Mestre de escarecer que nfo € a teoria destes ‘He tema pertence, mas ndo se psa examina as demas projepdes PREMISSAS METODOLOGICAS E CONCEITUAIS is cursos ~ especialmente quando examinam os limites destes, 0 tema da reformatio in pejus € 0 do recurso adesivo ~ sem se em- penbarem na determinacdo de outras areas de influéncia. Mas, como a seu tempo se expord em pormenor, a consciéncia dos capitulos de sentenga exerce influéncia também sobre os temas (a) da nulidade parcial da sentenga (art. 248), (b) do custo fi- nanceiro do processo (despesas, honordrios de perito ¢ de adva- gado etc. ~ CPC, esp. art. 21), (c), da ago rescisoria, (d) do cumprimento da sentenga ¢ da execucao por titulo judicial, (e) da ligiidacao de sentenga ¢ outros. Quem optasse por escandir também a motivacdo da sentenca, isolando os diversos funda- mentos de que ela se compie, dese operagio poderia tirar al- gum proveito para o fim de, ainda que indiretamente, delimitar 4 fea de admissibilidade do recurso especial ou do extraordiné- rio (mas v. infra, n. 11). Feitos esses descontos, a insisténcia com que o tema dos capitulos de sertenya costuma ser versado em estudos sobre temas recursais ¢ explicada pels intensissima influéncia que ela exerce nessa érea, constituindo-se em critério para a solucdo de iniimeros problemas. Mesmo um estudo puro da teoria dos capitulos de sentenga rio fica porém dispensado de examinar as principais projegses langadas sobre as diversas dreas do direito processual; esse exa- Ine € feito no presente ensaio, ainda que 4 vol d’oiseau, com 0 objetivo de buscar a comprovagao de acerto das posigdes assu- midas e de dimensionar a utilidade pritica e sistemética da pré- pria teoria 4. aestrutura formal e 0 contenido substancial das sentengas O primeiro e mais difundido corte a que a sentenga se sub mete € aquele consistente em sua necesséria decomposigio es- ‘rutural em relat6rio, motivagao e decisério (CPC, art. 458). Em si mesma, porém, essa decomposigiio niio ofercce interesse para 8 teoria dos capitulos de sentenga, na medida em que niio serve 405 objetivos desta; em nada ou em muito pouco ela pode con- te CCAPITULOS DE SENTENGA correr para dilucidar as questOes sobre as quais tal teoria proje- ta efeitos. No interior de cada um desses elementos estruturais € que se podem identificar partes, ou capitulos, suscetiveis de uma separacdo étil. Além disso, a conhecida oposi¢ao que se faz en: tre os motivos € a decisio exige uma reflexdo sobre 0 conteddo ea finalidade de cada para o fim de definir se e em que medida a solugdo de questoes uma dlessas partes da sentenca, ao menos pode ser dissecada em capitulos. E do conhecimento comum, que Liebman ressalta e enfatiza para o bom entendimento do tema, que s6 no decisum se formu- vida dos liti- gantes ou sobre o processo mesmo, 0 que se di (a) quando 0 mérito € julgado e, assim, o interesse de uma das partes é aten- dido e 0 da outta, suctificado e (b) quando o juiz, rejeitando: lam preceitos destinados a produzit efeitos sobre preliminares, declars que © mérito esti em condigées de ser jul- lo. Sé no decisério se contém ntes na me- gado e passa efetivamente a julgd alos imperativos do juiz, a serem impostos aos litig dida do contetido de cada um deles; como se costuma dizer, 6 no decisério que reside a parte preceptiva da sentenca. Na mo- tivacdo, em que o juiz resolve questdes de fato ou de diteito, residem somente os pressupostos ldgicos em que se apdia 0 decisério, mas sem autonomia, eles prOprios, para projetar efei los sobre a vida do proceso ou das pessoas;” por isso € que de modo expresso a lei brasileira exclui a incidéncia da autoridade da coisa julgada sobre os motivos da decisio (art. 469, ines. I- 1H). Quando o juiz se declara convencido de que certo fato ocor- Feu ou deixou de ocorrer, ou quando opta por uma interpretagdo de dado texto legal, repudiando outra, ou ainda quando afirma ‘ow nega que os fatos relevantes para 0 julgamento sejam regi- 3. A mé redagio do art. 458 do Céign <0 Civil paticularmente em seu ine. Il, confunde questies e meérito, dando a falsaimpressio de que também no decssrio a sentenca se pona 8 solucionar questdes Isso nia é ver dade e uma simples rellexio sobre os conceitos condi com facilidade a ve {sats partes de sentenca pelo moda como no texto cima esté exposto (eft. Di ramateo Inst to processual civil, Il n. 1.225, pare fina, esp. 653). rT PREMISSAS METODOLOGICASF CONCEITUAIS 11 dos pela norma juridica invocada efc.. ele nada mais faz do que plantar os pilares l6gicos sobre os quais assentara em seguida ‘0s preceitos concretos a serem formulados no decisério. Toda imperatividade da sentenca esté no decis6rio e nto na motiva- ho (pague tal importdncia, ou desocupe o imével etc.) Depois, fa dividida a sentenga em seus componentes estrutu- rais, no Ambito de cada um destes € também possivel fazer cor- tes com vista a identificar capitulos ~ e1 cortes na motivagio dependant da tomada de posicao que aceite a cisio da sentenea em capitulos a partir da existéncia de duas ov ais questdes solucionadas em sua furdumentacio (infra, n. 8), Os cortes que se fazem no decisério incidem verticalmente atuando sobre o plano horizontal em que se distribuem os diver. sos preceitos contidos na sentenca. Inaginem-se, lado a lado, € portanto dispostos em linha horizontal. a proniincia do juiz so- bre cada um dos pedidos cumulados pulo autor na peticdo inicial, mais a procedéncia ou improcedéncia do pedido reconvencional do réu, mais a imposigio do custo do proceso a uma das partes ua ambas ere. Esses verdudeiros preceitos concretos convivem no mesmo decisério, todos eles dotados de imperatividade por que slo preceitos estatais destinados a se impor aos sujeitos do processo. Daf falar-se em uma incidéncia vertical sobre o plano horizontal: € como uma faca incidindo verticalmente sobre © plano horizontal de uma torta estendida em uma bandeja, cor lando-a em pedagos sem mostrar o que est no fundo. Inversamente, alinham-se verticalmente as diversa ‘goes residentes na motivagao da sentenca: elas descem & pro- fundidade que o juiz entender necessitia, suficiente e adequada para preparar as conclusoes imperativas a serem lancadas de- proposi- pois, no decisério. Imagine-se agora a solugio dada pelo juiz quanto a ocorréncia ou ndo-ocorréncia de um fato ou sobre a ete, (questdes de fato ou de di- interpretacio de um texto leg reito): cada uma das proposigdes que 0 juiz entdo lancar tera 4. Cf “Parte a capo’ di sentenza”, a, 2, pp. 48-51 18 CCAFFTULOS DE SENTENCA somente 0 objetivo de preparar logicamente a conclusio ¢ a soma delas indicaré o grau de profundidade da cognigio efetua- da, Se parasse por ai, sem passar ao decisorio, o juiz nada esta- ria dispondo sobre o destino a ser dado aos bens ou as relagdes entre os ltigantes e nenhuma utilidade teria @ sentenca, porque 0 juiz teria ficado somente no te6rico, sem passat a0 pritico. Nao haveria procedéncia ou improcedéncia, nao haveria a formagio do titulo executivo judicial (sentenga condenatSria ow senten declaratéria com eficcia de condenacio — CPC, art. 162, § 1 red. lei n. 11.232, de 22.12.05) nem a imposigio de uma situacdo juridica nova (sentenga constitutiva) etc Segundo parte da doutrina, contudo, € possivel fazer cortes também nesse filo vertical representado pela soma dos resulta dos da cognicao, identificando-se capitulos de sentenca na solw gio de cada uma das questdes.> Esses cortes, justamente por separarem patamares superpostos verticalmente, teriam, eles proprios, uma dimensio horizontal, 5. as diversas teorias Levando-se em conta os resultados dessa anélise, € pertinen- te repartir os doutrinadores entre (a) os que desenvolvem a teo ria dos capitulos de sentenca somente em relugio avs compo- nentes do decisério, chegando Chiovenda a0 ponto de timitar esses cortes verticais ao Ambito das decisdes sobre as diversas artes do objeto do processo (pedidos cumulados, reconvencio etc) ~ excluidas, portanto, as conclusées referentes as prelimi- nares:* b) os que alargam o discurso, mas sempre limitando-se 40 decisério, para incluir também os preceitos emitidos sobre os Pressupostos de admissibilidade do julgamento do mérito (Lieb- man); c) os que ficam somente no exame das questoes (Carne: Inti); d) os que consideram elementos do decis6rio e também a motivacao (Sergio Costa, Andrioli, Allorio). Como dito an ‘es, a pedo por uma linha, com rejeicao das demais, decorre 5. Cf Carmela, 6h: P ‘Capo di sentenza”, a. 2 ep. p. 12 pt di dirto pracessuole civile. § 9, V,p. 1136. rT PREMISSAS METODOLOGICAS E CONCEITUAI pelo estudioso; mas, como se vera também, a0 menos em face do direito brasileiro € inaceitavel a posigio de Carnelutti, que rejeita a divisdo da sentenca em capf- {los referentes ao decisério, com a af'magio de que eles seriam exclusivamente 0 resultado da convivéncia da solucio de duas ou mais questdes, na motivacao sentencial sempre da utilidade visa 6. unidades autonomas e independentes: Chiovenda Remonta a Giuseppe Chiovenda a mais restritiva das teorias sobre os capitulos de sentenga, os quais para ele seriam apenas as unidades do decisério, portadoras do julgamento de mérito Ao expor Sua posicio, o fundador da Escola italiana do proces- so civil associa intimamente os eapitulos de sentenca aos da de- manda, falando nox predicados da autonomia ¢ independéncia como elementos essenciais ao conceito daqueles.” Essa concepeio € de fundo confessidamente dogmitico, por que construida sobre as bases do direito positive italiano entao vigente (c.p.c. 1865, art. 486, de redacdo equivalente & do art 329, 28 parte, do atual), 0 qual, disciatinando a parcial aquies céncia a sentenca destavoravel, estatuia: “o recurso parcial im- porta aquiescéncia as partes no recorridas da semtenga”, Disse Chiovenda, textualmente: “é também necessério, para aplicar a regra do art, 486, que os capitulos de sentenga sejam autGnomos € independentes, pois niio se pode entender que aceite a sentenca em relagio ao capitulo dependente, ainda que no mencionado no ato de apelar, aquele que recorre da sentenca no tocante a0 capitulo principal”. Invocou ainda o art. 543 do Cédigo de seu tempo (substancialmente equivalente ? do art. 336 do atual), por- tador da regra de que a reforma de um dos capitulos de sentenca em grau de recurso deixa intactos os demais, a menos que sejam dependentes do capitulo reformado (art. 543: “se la sentenza sia a in alcuno dei capi, restano fermi gli altri, salvo che sia ‘no dipendenti dal capo in cui ta sentenza fu cassata”).S 2. Op. toe. lt. 8p. eit, § 91, , pp. 1.136113) 20 CAPITULOS DESENTENGA Sio independentes, nesse contexto, somente os tépicos do de- cisério capazes de ter vida propria, sem ficarem condicionados pelo teor de outros tpicos; dependentes, aqueles que nao po- dem subsistir “se 0 outro liver sido negado”, Portanto, s6 aqueles seriam auténticos, ‘mia de cada um dos pitulos de sentenca e estes, no. A autono 10 chiovendiana signi- ipitulos da concep fica que as diversas parcelas do petitum bem poderiam ter sido objeto de demandas separadas, propostas em tempos diferentes € dando origem a dois ou mais processes distintos ~ sendo por- tanto meramente circunstancial « jungio de todas em um pro- ccesso s6, para serem decididas mediante sentenca formalmente a. Esse predicado s6 esta presente nos tOpicos decissrios re: ferentes situagao da vida das pessoas, ou As suas pretensdes contrapostas, nao 4 relagio processual em si mesma; ao dizer que nao ha capitulos de sentenca quando o juiz decide diversas questées, com razoavel clare7:| estava © Mestre a aludir a essas decisdes de cunho processual Oconceito de questies come pontos controvertigos de fato ow de direito, em oposiciv ao de fide (coaflito de interesses trazido a0 processo pelo autor). € posterine & formuligio da teoria de Chiovenda sobre os capitulos de sentenga; seguramente, ele nio cempregou aquele vocabulo no sentide carnelutiana que depois veio a yanhar fama e prestigio Mais adiante, no trato da reconvencdo, observa o Mestre que © pronunciamento do juiz sobre esta alinha-se ao que € emitido em rela 10 ao pedido inicial do autor, causando também a divi- sio da sentenca em capftulos;” e dai se infere que os capitulos de sentenga, na concepgao chiovendiana, nao so ligados exclu- sivamente aos capitulos da demanda inicial do autor ~ sem ti- car comprometida a assertiva de sua autonomia, porque, como é not6rio, © que se pede em reconvencav poderia ser pedido em outro proceso separado, 9. Op. cit, § 92, I. esp.p. 1.150. PREMISSAS METODOLOGICAS E CONCEITUAIS. jovenda so- No trato da sentenca, todavia, nfo se manifesta Ct bre os capitulos desta, © que, como dite mais acima, é usual entre a maforia dos que se dedicaram ao tema, Faz também breves al ses a0s capitulos sentenciais, no trato geral da apelacio e. de modo especifico, no da apelagio adesiva e da reformatio ix pejus ~ mas sempre pensando em capitulos verdadeiramente autino- mos, ou sea, capitulas decisérios do mérito.!” A esse conceito extremamente restritivo objetou-se, com ra- zo, que ele € insuficiente para resolver problemas importantes relacionados com os proprios recurses, quando a sentenga con- tém capitulos decis6rios heterogéneos (de mérito e sobre admissibilidade do julgamento deste)" Nav podem ser consi- derados auténomos os pronunciamentos do juiz sobre a admis- sibilidade do julgamento do mérito, como aquele mediante 0 qual, rejeitando uma preliminar destinada a por fim ao proceso (coisa julgada, a de agio etc.) ele afirma que o autor tem direito a esse julgamento e passa a decidir a causa; pronuncia mentos como esses exaurem-se na relacio processual ¢ dizen respeito exclusivamente a ela, sem interferir na vida exterior dos litigantes ~ nio se concebendo portanto que pudessem ter sido provocados por uma iniciativa autOnoma nem dar origem a um processo autonomo. Apesar disso, a divisdo da sentenca em ca- pitulos assim heterogéneos tem também grande utilidade para praticamente todos os efeitos aos quais € ligada sua cisio em capitulos realmente auténomos. Pensar, por exemplo, no acér- io que afasta a pretiminar de caréncia de agio, julgando em seguida a causa: o recurso especial pode versar somente sobre 0 primeito desses capitulos, ou 6 sobre o segundo, ou ambos, © que terd relevancia quanto a0 julgamento possivel pelo Superior Tribunal de Justica (infra, n. 48). (© pensamento de Chiovenda repercute em Piero Calamandrei para 6 qual “capitulo 6 a declaragio de uma especifica vontade 10, Op. cit, § 84, IV, e5p.p. 988 e V, pp. 992-994 11. Chi, por todes, Laura Salvaneschi, © ad impugnare, cap. 18. 2c esp. p60, nota 50, reportando-se a0 que a Augusto Cerino Canova. » CCAPHTULOS DE SENTENCA de ei. isto €, um ato jurisdicional completo ¢ capaz de constiuit radamente dos outros capitulos, 0 conted= por si 86, mesmo sop dda de uma sentence’ 7. unidades do decisorio, nao necessariamente autonomas em sentido absoluto: Liebman O alargamento do conceito de capitulos de sentenga, para in- cluir também as decisées sobre o processo, esti no conhecido ensaio especifico de Liebman, muitas vezes citado. Ele afirma a existéncia de diversos corpes simples, ou unidadles elementares justapostas no invéluero de uma sé sentenga, quando o juiz de- cide imperativamente mediante a rejeicio de uma preliminar impeditiva do julgamento do mérito ¢ decide, também imperati- nente, sobre a procedéncia ou improcedéncia da demanda em julgamento, Uma sentenga com esse conteio, diz, “€ composta de dois capitulos, um que declara admissibilidade do julea- ‘mento de mérito € outro que contém esse julgamento”.'> eee tl predicad descr pr Ciovenda oo ee as de ue cada uns dese tidal elmenaee edece ea sem ojulgamet da mero, ov sj, de uns sence an \et de sear as prelimnares, as howesse solemn O ensaio de Liebman direciona-se com’ muita énfase a sus Lfalagio de que a solugio de quesides ni di origem a eapitulos Sentenga, no sentido em que estes sio regidos pelo direito Positivo italiano. O fracionamento da sentenga segundo a ees la sentenca segundo a massa las na motivacao tem também relevantes 18 td, ib ee PREMISSAS METODOLOOICASE CONCEITUAIS n utilidades mas seria, no pensamento lisbmaniano, estranho & no- co tradicional de capitulos de sentenga (mas v. infra, nn. 9- 0.5 ‘So definitivas as ligbes de Liebman, realgando com extrema ucidea a distingio entre © contetido di motivacio ¢ © do deci sum, com énfase na fungio meramente preparatoria daquela em relagio a este. Ao solucionar questdes ~ ou seja, dividas quanto 20 diteito ov aos Fatos ~ 0 juz esti sorrente a construir 0 suporte Togico do ato imperative que sera a decisio. Nada hi de impers tividade na solucio de questoes, o que ¢ inerente a decisao e nao a sua preparacio." 8 decisdes de questées: Carnelutti Francesco Carnelutti, que discorrera sobre os capitulos de mi di diritto processuale civile, voltou a0 10 sobre a reformatio in pejus, depois ido ao tema"? € também no monu- sentenga no livro L tema primeito em um arti sm outro diretamente dedi mental Sistema del diritto processuale civile — sempre identifi- cando capitulos na solugio de questdes € nio no julgamento da lide. Como diz. no primeiro dos ensaios referidos, “o capitulo no € uma parte ou fracdo do interesse ou do bem em lide, mas uma das questdes mediante as quais a tutela do interesse é con- testada ou 0 bem, controvertido”. Linhas atrés dissera que, como “o conteiido da sentenca deve sbrigatoriamente ser mo delado na nogio de lide”, conseqiiertemente ‘se ha capitulos da sentenca, deve haver capitulos na lide”. Disse também que, se 0 proceso cumulativo (com pluralidade de pedidos) € uum cimulo de processos, o resultado seria que a sentenga com pitulos seria um ciimulo de sentencas. E concluiu 1S. Cf "Parte 0 ‘capo' di sentenza”,n.2. esp pp. $0 16. Cf. “Parte 0 ‘capo’ di sentenza”, a. 2. pp. 88s. 17. Gf, pola ordem, “Sulla reformario in peas” (1927) ¢ “Capo di sen 1” (1933). Esses dois atigos Fazem parte de uina polémicatravada com C como Delitaa, que tomara posiga sobre o tema dos capitulos de semtenga 10 livro 1 divieto della “veformaio in pejus” nel orocesso penate (U 18. Cf: “Sulla reformation pes, esp. pe 1S. CCAPITULOS DESENTENGA “capitulo de sentenca é a resolucio de uma questa referente a uma lide”." Mas prossegue imediatamente: “por isso, capitulo de sentenga corresponde a capitulo da lide. E, como hi lides que tém una s6 uestdo e outras que tm um enxame delas, assim também hi sen tengas com um 56 capitulo sentengas com muitos capitulos O pensamento de Carnelutti conduz a negar que houvesse ca pitulos de sentenca naquele clissico exemplo, bastante explora do por Liebman, do objeto do processo integrado por unidades somadas, pesadas ou contadas (dinheiro etc.). Disse ele, expres- samente que, optando 0 juiz por dar menos que o pedido pelo ‘autor e mais do que o réu se dispunha a pagar, “a questio deci- dida sobre 0 quantum debeatur & ou a0 menos pode ser uma sO , portanto, a sentenca pode ter um s6 capitulo”. Foram essas as idgias que Liebman combatew enfaticamente em seu ensaio. Sustenta que no tém autonomia alguma os tpi. 0s da motivacio em que o juiz simplesmente afasta divides de fato ou de diteito, Ao dar solugio as quesides pertinentes a jul Bamento,fimita-se o jviz a colocar os pilares, ou suportes lice sobre os quais apoiara os preecitos a serem explicitados na parte \eciséria ~ esses, sim. imperativos e vineulantes. Nao se comccbe luma sentenga que ficasse $0 na solugio de questées, sem dcter- io do proceso nem concluir pela procedéncia ou improcedéneia da demanda: essa falta de autonomia é consagea- da pelos incisos do art. 469 do Cédigo brasileiro, que exclui a autoridade da coisa julgada sobre os motivos da sentenes. por ‘is importantes que eles scjam para « Jevisdo da causa" O pr 19. Gf: Capo di senenca 2, esp. 119.7, p. 126. Ness tipicu do exci, gm gue eds fro cnt Cael dba a, estar conven de ques intndadas as objegoes opts ua teal desnais autores, que a refutaram. quando fentrom por ou es ug nada mais fizeram que usar dh toda mais que a ma hi “Capo di senteza" 8, p. 127 Nio € que a cous jul efcito substantia sabre a 81 Leora da coisa jul “uma férmula que. examinada com sinceridade, 1d Seja um efeito, ov produza ela propria slgum fa das pastes; pressupor uma coisa sssim seria ne ado como fator de estabilidade da sentenca. proposta PREMISSAS METODOLOGICASE CONCEITUAIS 3s prio Cametuti econhece que sua teoria nio contow com aceita ‘cio na douirina em gera, aludindo apenas a um autor menos eo nhecido, Fietta, como sew seguidor. 9. teorias relativistas 0 proprio Liebman, como ja assinalado, reconhece a relevan- cia da cisdo dos fundamentos da sentenca em t6picos corr pondentes solucdo dada a cada questio pertinente ao julga- mento. Ele 0 faz sem aceitar que cada um desses t6picos seja tum capo di sentenza ¢ explicitando veementes ressalvas decor- rentes da distincdo entre os preceitos imperativos, contidos no decisério, e 0 mero suporte Kigico desses preceitos, construido 1a motivacao, Admite porém “a pleng legitimidade e ulilidade, para certos efeitos, da distingao € separagio das solugbes dadas 3s varias questdes que houverem concortido para determinar a clo ldgica da sentenca”.* Antes dele, ja havia Enrico Allorio desenvolvido a idéia de que o fracionamento da senten- 4 segundo a proposta de Chiovenda (em t6picos do decisério) € correta em relagio ao recurso de apelagio, onde pode a parte repropor toda a pretensio ou resisténcia sustentada no processo, ‘ou apenas alguma parcela dessa pretensio ou resisténcia, a seu talante; ao passo que a concepgio carneluttiana (capitulos rela- cionados com as questdes) é a que melhor se adapta a outros recursos, cujo objetivo é exclusivamente a restauragio da ordem juridica mediante a correta solucio de questdes.” CObserva adcquadhimente Sergio Chiatloni que a diferenga tre Liebman e os rlativistas & que aguele nio distingve a utilida- de dos cortes no plano horizontal dos preceitos imperativos © a por Liebman e de geal aceitagio na outrina brasileira. A releréncia acim fei {a 20 att 469 do Cédigo de Processo Civil brasileira significa somente que @ exelusio de incidéncia da coisa julgada material sobre os motivos € seguro in- Aicativo de que © legisiadorreconhece nao terem cles qualquer projogio exter na sobue a vide, relagbes ou bens dos litigants. 22. Cf “Parte o “capo” di sentenza”, n. 2, exp. pp. 50-51 23. Chr “Gravame incideniale della parte txalmente vittoriosa?", n. 1, p. CCAPITULOS DE SENTENCA dds cortes no plano vertical da solucdo de questées ~ afirmando n algume medida, si0 adequados ‘que, para todos os recursos, (08 dois ertérios.* Realmente, no direito italiano existe ao menos um recurso, 0 recurso no interesse da lei (c.p.c., art. 363), cujo objeto é inte- grado exclusivamente por tépicos da motivacio ou, mais preci- samente, pelos enunciados portadores de solucio a questies de direito. Ao interpor esse recurso, 0 Ministério Piblico nfo pos- tula alteragio alguma no decisum, mas apenas na motivacio, sendo legitimado pela lei a fazé-lo com o objetivo de conjurat precedentes contritios a0 direito objetivo e ao interesse piibli co, Para esse efeito, a sentenca comporta tantas cisées quantos forem os fundamentos de direito contido em sua motivacio, sem qualquer consideragio do contetido preceptivo residente na pat te deciséria. Ja no recurso de cassucdo, que se apéia na im- Pugnacdo a0 modo como foram solucionadas certas questdes de direito, 0 recorrente nao é,movido pelo escopo de preservar 0 direito objetivo, mas de, mediante a correta interpretagio da lei, obter afinal a reversio do julgamento da causa. Em um primeiro tempo, porém, ele pede a Corte de Cassagio apenas a corregio do erro de direito, para que depois, no giudizio di rinvio, outro Srgio de apelacio aplique a tese firmada por aquela e eventual- mente atenda ao objetivo do recorrente (c.p.c., art. 384)" Na medida do que se pede & Corte de Cassagio, portanto, o recurso em por objeto os segmentos impugnados da fundamentacio, Mesmo assim, diz Liebman, também para a cassa doiro “aquilo que geralmente se admite para a apé 24. Gh Linpgnazioneincidenele nel proces civil eap l,m 2, 5p p, “ le ne proceso cv cap m2, 5p. 34 ‘Po tods, Licbman, Manuale i divi processuate eve. Wn 3-334, De oerio modo Meste minimiza a elevaneia do recurso fo ineresse da lel par o exame dos coptlossementas ao dizer gue exe no € um verddeito recurso Parte “apo” seteex,n, 8 e3p p60) iO eNOS ae toda 2 mata de fat etejasufcientementeescareci hiotese em que a propria Cate die «caus sattuins indo pois além da pura cassacao. ‘ ae snde importineia par PREMISSAS METODOLOGICAS E CONCEITUAIS ” as unidades elementares em que pode ser fracionada a sentenga recorrida consistem nos preceitos concretos contidos nela” (pat- te dispositiva, portanto).?” No direito brasileiro, os cortes relacionados com as solugSes dadas s quesides s6 t8m uma utilidade indireta para a determi- nnagdo da parcial admissibilidade do rectrso extraordinétio ou do especial (infra, n. 11), 10. processualistas brasileiros No Brasil jamais se escreveu um iinico livro, tese, monografia ‘ou mesmo um simples ensaio dedicado ao tema dos capitulos de sentenga: até agora, 0s autores que se manifestaram a respeito fizeram-no exclusivamente em setores de seus estudos sobre os recursos em geral ou sobre 0 adesivo, em particular."® Dos mais antigos, interessaram-se pelo tema Luiz Machado Guimardes e José Frederico Marques. 0 primeiro deles, em tese sobre os limites objetivos da apela- sto, afirma ser capitulo de sentenca cada “decisio de questio de interesse pritico apta a adquirir eficécia de coisa julgada ou de preclusdo”. Esse posicionamento, vazado em palavras and- logas és empregadas por Emilio Betti,” em substincia remonta @ Chiovenda, na associagio dos capitulos de sentenga aos pro- nunciamentos destinados a atribuir a um dos litigantes um bem 27. Gfe "Parte o “capo” di sentenza”,n. 8, esp. pp. 62-63, 28, No curso de pés-graduagio da Faculdade Direito do Largo de Sto Fran- cisco foi apresentada uma dissertagdo sobre este tema, elaborada sob minha ‘otientagdo pelo hoje mestre Marcus Tendrio da Costa Femandes (Capiulas de sentenca). Sob orientagio do prof. Flivio Luiz Yarshell foi produzida uma outa tese sobre o tema por Marcelo José Magalhes Bonicio editado comercialmente como Capitulos de sentenca e efeitos dos recurss, S40 Paulo, RCS, 2006), 29. Ge “Limites objetivos do recurso de apelaga0",n. 5, pp. 85-86 30. Gjr Dirino processualecivile italiano, n. 199, pp. 668 ss. “capo di sen- tenza é, invece, la decisione di una questione ¢interesse pratico proponibile eventualmente con domanda autonoma ¢ concemente un precetto conereto della, legge sostanziale, o anche processuale, controverso tra le part”. 28 ‘CAPITULOS DE SENTENCA a vida.” Betti posiciona-se explicitamente contra a solugio de questdes como caracterizadoras de capitulos de sentenca e ex- clui também capitulos portadores de decisdes com efeitos ex- clusivamente sobre © processo*® ~ e tal é, precisamente, a linha chiovendiana (supra, n. 6). Os efeitos priticos aos quais alude Betti e adere Machado Guimaraes representam a eficécia subs- fancial da sentenga, ou seja, os efeitos que ela projeta sobre a vida comum das pessoas, exterior ao processo. José Frederico Marques apéia a teoria desenvolvida por Car- nelutti, dos capitulos de sentenga como solugio de questdes, mas ele o faz sem justificar a posigdo assim assumida O professor paulista rejeita a idéia da divisio ideolégica da sentenca em ca- pitulos em caso de procedéncia parcial de demanda tendo por objeto coisas quantificiveis, aderindo a injusta critica langada or Francesco Carnelutti (supra, n. 8)" Dentre os mais recentes, manifestaram-se Antonio Carlos de Araijo Cintra, Barbosa Moreira, Paulo Cezar Aragio e José Afonso da Silva ~ todos no trato dos recursos. Fé-10 0 primeiro deles em tese vitoriosa em concurso a titula- ridade de direito processual civil na Faculdade do Largo de Sio Francisco. Repudiow o pensamento bastante limitativo de Chio- venda, que associa intimamente os capitulos de sentenca aos da demanda, mediante o argumento de que também a condenagao Por honorérios advocaticios constitu um capitulo a ser incluido em sentenca ainda quando nao haja pedido relativo a eles (0 cha- mado pedido implicito). Insurgiv-se também contra Cannelut Porque a solucio de questées, em si mesma, nio porta gravame algum para as partes, nio gerando, conseqiientemente, o inte- fesse recursal; , nessa manifestagio, vé-se que Araijo Cintra 31. Para o exame desse pensamento, v, Arajo Cntr, Sobre as linites objet vas da apelagdo civil, cap. Mn 2, esp. p. 44; José Afonso daSilva, Do recurso aadesivo no processo civil brasileiro, tt. MI cap. Il, § 35 esp. pp. 127-123 32. Chic Dinito processuale civile italiano, 199, esp. p. 669, 33. Gh: Instiuigdes de dreito processual civil, V, n- 946, pp. 13 34. Op. loc. cit, esp. p. 134. 134. PREMISSAS METODOLOGICASE CONCEITUAIS 2» inte pela Optica da los na teoria da sen- 10 definir observa os capitulos sentenciais exclusivan disciplina dos recursos, sem tentar inser tenca. Ele conclui por apoiar Enrico Tullio Liebman, i capitulo de sentenca como “toda decisio sobre um objeto auté- tomo do processo, atinente a sua admissibilidade ou a0 méri- to”; aplaude também Elio Fazzalari, na assertiva de que os capt tulos de sentenga so representados pelos preceitos contidos nesta (statuizioni):* Araijo Cita apa ainda Liban, loan iso dels a sertenga em caso de aolhimene parca aun pedo que Ae eee men rn se toma cle figura» hips de una domanda de conden & pasar 100, seguia de uma conestgieautinda a dvi so- fete plo valor ce 50 de ceneng inpondo 0 paganento de 50. Nese euro, diz sentenga teria do somente Je ma ds 50 controversos mas devids e um fers, non 20 no devon Diseome ambéo sobre 6 tna dos cuptulos dependents alu indo s Chovendae examinando-o ur o die basen (a pron Gelipan 13)" José Afonso da Silva faz um relato da doutrina precedente € mostra-se extremamente eclético em relagio a elas, ao dizer que “a solugdo pritica do problema nao afistaria 0 recurso a nenhu- ‘ma das [teorias] indicadas acima”. Indica o objeto da demanc como “elemento fundamental para chegar-se& identificagio dos, capitulos de sentenca”, mas logo a seguir afirma que cada titulo «em que se fundamenta o pedido dé margem ao aparecimento de um desses capitulos (fazendo, a propésito, expressa concessio a Cammelutti)” 35. Ch; Aralo Cinta, Sobre os linites bjeivos de apeagao cv cap 1.2, esp. pp. 45-46: Fazzalri, Instiuzion di dvtto processuae, parte 2, cap. VIL § 1%, e5p.p. 362 36. Cf: Sobre 0 Himives 0 6-87 9 4 99.498 : * 31. Gf Do recurso adesivo no process chi rai ap I vas da apelagto civil, cap. TM, n. 2, ep. PP esp. p. 128.

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