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12 a 15 de setembro de 2016
Cidade da Bahia, Cabeça da América Portuguesa
CADERNO DE RESUMOS
Salvador
EDUNEB
2016
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Reitor
José Bites de Carvalho
Vice-Reitora
Carla Liane N. dos Santos
Diretora
Sandra Regina Soares
Comitê Editorial
Arthur Gomes Dias Lima
Isaura Santana Fontes
Maria da Glória da Paz
Marcius de Almeida Gomes
Sandra Regina Soares
Suplentes
Paulo César Garcia
Emanuel do Rosário Santos Nonato
Ana Paula Silva da Conceição
Ivan Luiz Novaes
Ricardo Baroud
VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
MUNDOS COLONIAIS COMPARADOS: PODER, FRONTEIRAS E IDENTIDADES
COMISSÃO EXECUTIVA
Ana Paula Medicci (UFBA)
Eduardo José Santos Borges (UNEB)
Maria Helena Ochi Flexor (UCSal)
Suzana Maria de Sousa Santos Severs (UNEB)
COMISSÃO ORGANIZADORA
Denise de Carvalho Zotollo
Eduardo José Santos Borges (UNEB)
Maria Helena Ochi Flexor (UCSAL)
Moisés Amado Frutuoso
Suzana Maria de Sousa Santos Severs (UNEB)
COMISSÃO CIENTÍFICA
Adriana Dantas Reis (UEFS)
Ângela Domingues (IICT - Lisboa)
Avanete Pereira Souza (UESB)
Eduardo França Paiva (UFMG)
Eduardo José Santos Borges (UNEB)
Eliane Cristina Deckmann Fleck (UNISINOS)
Fabiano Vilaça dos Santos (UERJ)
George Felix Cabral de Souza (UFPE)
Gian Carlo de Melo e Silva (UFAL)
Marcia Eliane Alves de Souza e Mello (UFAM)
Marco Antonio Nunes da Silva (UFRB)
Maria Helena Ochi Flexor (UCSAL)
Maria Hilda Baqueiro Paraíso (UFBA)
Maria José Rapassi Mascarenhas (UFBA)
Patrícia A. Fogelman (CONICET-UBA – UNLu, Argentina)
Suely Creusa Cordeiro de Almeida (UFRPE)
Suzana Maria de Sousa Santos Severs (UNEB)
© 2016 VI Encontro Internacional de História Colonial
Proibida a reprodução total ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica,
resumida ou modificada, em Língua Portuguesa ou qualquer outro idioma.
Depósito Legal na Biblioteca Nacional
Impresso no Brasil em 2016.
Organização e Revisão
Eduardo José Santos Borges
Maria Helena Ochi Flexor
Suzana Maria de Sousa Santos Severs
Editora
ISBN da Universidade do Estado da Bahia - EDUNEB
978-85-85813-318-5
Rua Silveira Martins, 2555 - Cabula
1. História – Colônias. 2. Imperialismo. 3. Colonização. I. Título.
CDD: 906.3
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................... 7
PROGRAMAÇÃO ......................................................................................................................... 9
SIMPÓSIO TEMÁTICO 1
A dinâmica imperial e a comunicação política no Antigo Regime do mundo português, séculos
XVI-XIX................................................................................................................................... 11
SIMPÓSIO TEMÁTICO 2
"As pessoas, os tempos e os lugares": A Companhia de Jesus e suas relações com as sociedades
.................................................................................................................................................. 36
SIMPÓSIO TEMÁTICO 3
Cultura e educação na América Colonial: iluminismos, instituições e culturas escritas ......... 52
SIMPÓSIO TEMÁTICO 4
Cultura Escrita no mundo ibérico colonial: manuscritos e impressos ..................................... 67
SIMPÓSIO TEMÁTICO 5
Dimensões da desordem em colônias: ilicitudes, descaminhos e heterodoxias religiosas ......... 88
SIMPÓSIO TEMÁTICO 6
Dimensões do catolicismo no Império português: instituições, práticas e representações
(séculos XVI-XVIII) ............................................................................................................... 101
SIMPÓSIO TEMÁTICO 7
Dinâmicas processuais na justiça do Antigo Regime – ritos, práticas, querelas e jurisdições
coloniais (1530-1822) ............................................................................................................. 123
SIMPÓSIO TEMÁTICO 8
Do colonial ao pós-colonial: perspectivas para ler os domínios portugueses na África e no
Oriente .................................................................................................................................... 123
SIMPÓSIO TEMÁTICO 9
Fronteiras e relações transfronteiriças na América colonial................................................... 132
SIMPÓSIO TEMÁTICO 10
Elites, práticas e instituições nas monarquias ibéricas e seus domínios ultramarinos .......... 148
SIMPÓSIO TEMÁTICO 11
Relações de poder, redes sociais e circulação no tempo dos Felipes (1580-1640) ................... 171
SIMPÓSIO TEMÁTICO 12
Impérios Ibéricos no Antigo Regime: política, sociedade e cultura ........................................ 187
SIMPÓSIO TEMÁTICO 13
Inquisição, clero e conexões religiosas no mundo ibérico e colonial ....................................... 212
SIMPÓSIO TEMÁTICO 14
Nas malhas da família: estratégias familiares entre normas e práticas .................................. 237
SIMPÓSIO TEMÁTICO 15
O governo da justiça: poderes, instituições e magistrados (séculos XVII-XIX).................... 256
SIMPÓSIO TEMÁTICO 16
Os espaços coloniais como problema de pesquisa: cartografia, sistemas geográficos e novas
metodologias ........................................................................................................................... 276
SIMPÓSIO TEMÁTICO 17
Escravidão e mestiçagens: os mundos da escravidão e das mestiçagens em conexões (séculos
XVI a XIX) ............................................................................................................................ 297
SIMPÓSIO TEMÁTICO 18
Títulos, ofícios e riqueza: estratégias de ascensão social no Atlântico Moderno ................... 310
SIMPÓSIO TEMÁTICO 19
Império e Colonização: economia e sociedade na América portuguesa .................................. 330
APRESENTAÇÃO
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Com o tema “Mundos coloniais comparados: poderes, fronteiras e iden-
tidades”, promovido pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e Univer-
sidade Católica do Salvador (UCSal) – primeira instituição privada a dar acento
ao EIHC –, o VI EIHC celebra seu décimo ano de existência. O mesmo padrão
de qualidade das edições anteriores será mantido, ao reunir experts de vários
campos da história colonial em conferências, mesas redondas e simpósios temá-
ticos, além do lançamento de obras publicadas recentes. Desta vez conta com
mais um espaço, o “Bate-papo com o (a) historiador(a)”, cujo objetivo é aproxi-
mar o(a) autor(a)consagrado(a) a seus leitores.
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PROGRAMAÇÃO
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18:00 – 19:30 Bate Papo com o(a) historiador(a): Profa. Dra. Maria Beatriz Niz-
za da Silva
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CADERNO DE RESUMOS
SIMPÓSIO TEMÁTICO 1
A dinâmica imperial e a comunicação política no Antigo Regime do mundo
português, séculos XVI-XIX
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O texto pretende identificar e refletir mil, entre 1701-1725, para 1.236,50 ca-
sobre a dinâmica de mudanças numa tivos nos anos 1801 a 1825. a isso, se
sociedade de conquista do Antigo Re- junta a chegada , nos mesmos portos,
gime católico. Para tanto, se parte de de milhares de reinóis e ilhéus. Ou se-
fenômenos presenciados na América ja, estima-se que entre 1700 a 1808 a
lusa ao longo do século XVIII. Nesse população daquela América tenha pas-
período, de início, temos o incremento sado de 237 mil para mais de três mi-
do tráfico de escravos africanos nos lhões de pessoas. Tal movimento tivera
portos americanos que aumenta 476 como motor a descoberta de metais nas
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Minas Gerais, conhecida na época, pela forros e mais de forros com escravos,
economia mundo europeia de então, ou melhor, a mudança social por eles
como a morada do ouro. Assim, nesse representadas redesenharam na prática
ambiente, vemos a multiplicação de uma sociedade até então entendida
diversas áreas produtoras e mercados como imutável. Ao lado disso, temos a
regionais disseminados pelo Centro- metamorfose das elites sociais locais.
Sul e também no Norte do Estado do Essas últimas, cada vez mais, convi-
Brasil, no Maranhão e a intensificação vendo com práticas mercantis sem
de rotas comerciais que alcançariam o abrir mão de estratégias rentistas e de
sertão Angolano, as terras de Moçam- matrimônios com pequena nobreza
bique e de outras partes do Estado da (fidalgos da casa real ou genros com
Índia. As consequências de tais movi- hábitos militares). Da mesma forma,
mentos demográficos e econômicos estreitam-se os laços de segmentos de
logo seriam vividas na sociedade de tais elites no espaço da monarquia plu-
Antigo Regime nos trópicos instalada ricontinental lusa e mais percebe-se a
nos séculos anteriores na América. En- existência de redes de solidariedades
tre eles verificamos o crescimento das (parentesco e de amizades) conectando
alforrias, da miscigenação e conse- diferentes geografias da mesma mo-
quente a complexificação das estrutu- narquia. Enfim, a comunicação preten-
ras estamentais pré-existentes e dos de contribuir para a discussão dos te-
conceitos de sociedade vindos do An- mas acima.
tigo Regime europeu: os milhares de
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CADERNO DE RESUMOS
além dos padrões discursivos referen- política da Coroa para as suas posses-
tes a critérios de mérito e exclusão so- sões, ou seja: a emissão de alvarás de
cial – uma radiografia dos serviços de foro de fidalgo da Casa Real de primei-
vassalos que atuaram, amiúde, nas ro grau nos primeiros quarenta anos
campanhas de restauração de Portugal da Monarquia Bragantina se apresenta
e nas que se verificaram no Atlântico como uma chave de leitura possível
Sul (na Capitania de Pernambuco e em para o entendimento das prioridades
Angola). De modo que consideramos geopolíticas que estavam tomando
que os padrões de concessão de uma forma na segunda metade do século
mercê num âmbito imperial podem XVII.
fornecer subsídios para compreender a
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CADERNO DE RESUMOS
A presente comunicação tem por obje- ambos os lados buscaram ser identifi-
tivo apresentar os resultados do capí- cados de acordo com os recursos desi-
tulo 4 de minha tese de doutorado, guais disponíveis na delimitação e ne-
intitulada A “matéria dos quintos” e “os gociação dos espaços de todos esses
homens do ouro”: a dinâmica da arrecada- atores na sociedade mineradora sete-
ção dos quintos reais na Capitania de Mi- centista. Partimos da hipótese que as
nas Gerais e as atribuições, atuação, perfil e relações com outros grupos sociais e a
relações dos cobradores dos quintos (c. criação de alianças sólidas e diversifi-
1700 – c. 1780). Tal capítulo, “Para tra- cadas seriam fundamentais para que os
tar de sua vida tomando estado, e vivendo cobradores dos quintos garantissem
bem”: as relações dos cobradores dos quin- sua posição destacada de poder, pres-
tos com seus escravos, forros, pardos, mu- tígio, autoridade e distinção social.
latos e afilhados negros, buscou reconsti- Mas consideramos ainda, diante da
tuir, na medida em que foi possível premissa que os grupos se definem na
pelos documentos existentes, um coti- sua interação, que os demais indiví-
diano de relações que os poderosos duos a eles ligados também definiam
cobradores dos reais quintos em Mari- seus espaços e comportamentos tendo,
ana Setencentista mantiveram com os em grande medida, por base essas re-
variados grupos sociais de menor lações, das quais tiravam o devido
“qualidade” que a sua, a saber, seus proveito como modo de sobrevivência
escravos, forros, pardos, mulatos e afi- em um mundo tão hostil quanto o da
lhados negros. Critérios de hierarqui- escravidão. Buscamos evidenciar tais
zação social, estratégias, acordos, tro- pressupostos analisando a composição
cas, escolhas e comportamentos de
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remos das cartas remetidas pelos ca- curando observar os temas recorrentes
maristas da Cidade de Mariana entre em suas demandas materializadas nas
os anos de 1745 e 1808 (outrora Vila do cartas, bem como a construção dos tex-
Ribeirão do Carmo, instituída no ano tos ali contidos.
de 1711, tornada cidade em 1745), pro-
O presente trabalho tem como objetivo colônias. Os juízes de fora eram eleitos
refletir sobre a execução da justiça local para mandatos trienais e submetidos a
na região de Mariana, Minas Gerais Leituras de Bacharel, exigência irrevo-
durante a primeira metade do XVIII, gável para se ingressar na carreira da
através da comunicação política susci- magistratura oficial. Nesse sentido,
tada por sua execução. A justiça no buscaremos analisar a comunicação
Antigo Regime significava antes de política existente no Conselho Ultra-
tudo manter a harmonia entre todos os marino entre as autoridades centrais e
membros que compunham o corpo locais a respeito da execução da justiça
social. Segundo Álvaro Antunes ainda em primeira instância na região e sobre
que vinculada ao Estado ou à figura do a atuação desses juízes, assim como o
rei, a Justiça continuaria a ser descrita posicionamento a respeito da transição
como uma vontade ou uma virtude de dos cargos na Câmara. Assim, ao de-
atribuir a cada qual aquilo que lhe era bruçarmos sobre as correspondências
de direito. A justiça em primeira ins- referentes à temática buscamos nos
tância ocorria nos quadros da Câmara apropriar da noção de monarquia plu-
através do desempenho do juiz ordiná- ricontinental, cuja dinâmica governati-
rio ou de fora. Na região de Mariana va apoiava-se fundamentalmente na
esse cargo foi criado em 1711, passan- negociação entre o centro e suas con-
do a ocorrer eleição de dois juízes or- quistas, tentando apreender como se
dinários como previsto nas Ordena- equilibravam as determinações régias e
ções Filipinas. Os juízes ordinários os usos e costumes de uma justiça lo-
atuaram nessa região até 1731, quando cal. Os trabalhos de António Manuel
foi criado o cargo de juiz de fora. Os Hespanha surgem como fundamentais
juízes ordinários se diferenciavam dos para temática da administração e da
juízes de fora principalmente pelo fato justiça. O autor propõe a definição de
de serem designados para o cargo sociedade corporativa, onde o direito
através do processo de eleição. Os oficial dava margem à justiça ligada
primeiros eram eleitos pelos homens aos costumes e ao Direito local, pre-
bons, através dos processos de pelou- gando a indispensabilidade dos corpos
ros em mandatos de um ano, enquanto sociais. Segundo Hespanha o direito
os últimos eram nomeados pelo rei legislativo da Coroa era limitado e en-
dentre bacharéis letrados, com o intui- quadrado pela doutrina jurídica e pe-
to de ser o suporte ao poder real nas los usos e práticas locais, assim os de-
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
veres políticos cediam perante os deve- dessa justiça local e de seus agentes.
res morais ou afetivos, decorrentes de Desse modo, propõe se através da co-
laços de amizade, institucionalizados municação política engendrar aspectos
em redes de amigos e clientes. Além da da justiça em primeira instância reali-
documentação do Conselho Ultrama- zada na Câmara de Mariana nas pri-
rino, nos apoiaremos em documentos meiras décadas do setecentos, refletin-
da Câmara de Mariana e do Arquivo do sobre os equilíbrios de poder da
Público Mineiro referente à execução época moderna.
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CADERNO DE RESUMOS
A segunda metade do século XVIII foi mais além, denotando uma atuação
tradicionalmente definida pela histori- mais sistemática da coroa, voltada para
ografia como um período de grandes uma melhor administração dos povos
transformações na forma de governo e e, para isso, produzindo uma quanti-
administração no império português. dade significativa de dados, mapas e
Transformações que se iniciam no pe- análises sobre regiões, populações, etc.
ríodo pombalino, mas que se estendem Hoje, embora esse marco tenha sido
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PERNAMBUCO E A COROA:
COMUNICAÇÃO POLÍTICA EM FINAIS DE SETECENTOS
Érika Simone de Almeida Carlos Dias
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CADERNO DE RESUMOS
A segunda metade do século XVII foi lusa. Após 1640, necessitando construir
período conturbado para a monarquia legitimidade institucional para forne-
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clérigos tenham instituído as suas pró- que os levassem à praça para que o
prias almas como herdeiras, visto que produto de suas vendas pudesse saldar
a cultura jurídica de antigo regime ibé- os gastos fúnebres. Em suma, o destino
rico herdou do medievo a convicção de reservado aos escravos pertencentes ao
que as mesmas eram sujeito de direi- clero secular após a morte de seus do-
tos. Por conseguinte, o patrimônio que nos demonstra o papel desempenhado
possuíam, no qual figuravam os escra- pelos padres na reprodução da ordem
vos, foram convertidos em bens da escravista de acordo com a vivência do
alma daqueles testadores que os trans- catolicismo associada aos valores de
formavam em legados pios ou então antigo regime na cidade do Rio de Ja-
ordenavam aos seus testamenteiros neiro setecentista.
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CADERNO DE RESUMOS
Este trabalho tem como objetivo o es- próprios escravos muitos eram elos
tudo das possibilidades de liberdade entre seus senhores e o grupo de cati-
por meio das manumissões, incluindo vos e, por conta disso, gozavam de al-
o escravo ou forro como agente no gum privilégio. Portanto, as formas de
processo de mobilidade e obtenção da alforrias configuram-se em meio a um
alforria por serviços prestados, rela- jogo de poder entre as elites coloniais..
ções de compadrio ou de parentesco. Para, além disso, é importante levar
Para tanto, usaremos como viés teórico em consideração a expansão do comér-
a economia social do dom de Marcel cio escravocrata e a variação no preço
Mauss, que consiste na reciprocidade dos cativos, que causava impacto dire-
inserida no ato de dar (dom) (onde to nos padrões de alforrias e nas cons-
estaria subentendida a generosidade) tantes negociações para manutenção
e, por conta disso, a necessidade de da liberdade. Daí deriva a importância
retribuir (contradom). Temos como da análise da economia do dom como
recorte geográfico e temporal o Rio de elemento legitimador da hierarquia,
Janeiro na segunda metade do setecen- reiterando a ordem escravocrata atra-
tos. Esta análise procura dialogar com vés de formas variadas de trabalho
diferentes formas de pensar o cativeiro compulsório, como uma prática cos-
e, consequentemente, sua via conser- tumeira de poder no Setecentos. Mes-
vadora, a alforria, dentro da corrente mo dispondo da alforria, o liberto fica-
historiográfica do “Antigo Regime nos va exposto à dependência. Portanto, a
Trópicos”, levando em conta as dinâ- mobilidade ou a liberdade era um
micas internas e suas várias formas de dom, e a reciprocidade do escravo ou
manifestações econômicas e sociais. O liberto para com o seu senhor/patrono
Antigo Regime nos Trópicos não ad- um contradom. Na grande maioria dos
vêm somente da nobreza da terra e de casos, os serviços prestados ou relações
mercadores e negociantes, mas tam- de compadrio, eram dons; por conta
bém de grupos que se apoderavam de disso, a intenção do presente trabalho
quaisquer possibilidades de distinção também é discutir o conceito de liber-
ou ascensão social. Isto inclui mestiços dade para alforriados, já que os mes-
e forros, indígenas e suas variantes mos estavam presos a uma série de
tribais e relações parentais, além dos sanções que inviabilizava o pleno exer-
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cício da mesma. Todavia, isso não ex- de negociador também era responsável
clui alguns casos onde o escravo além pela manutenção do cativeiro.
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SIMPÓSIO TEMÁTICO 2
"As pessoas, os tempos e os lugares": A Companhia de Jesus e suas relações com as
sociedades
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O colonizador português Gabriel Soa- homens bons da terra e viu crescer seu
res de Sousa apresentou à corte de Fe- patrimônio e prestígio. No dia 10 de
lipe II da Espanha, por volta de 1587, agosto de 1584, “são”, “valente” em
um dos mais importantes registros so- seu perfeito juízo e a caminho da Es-
bre o Brasil quinhentista, o Tratado des- panha, temendo as contas a pagar com
critivo do Brasil em 1587, e o bem menos Deus, declarou suas derradeiras von-
conhecido Capítulos de Gabriel Soares de tades. Ainda na costa brasileira, foi
Sousa contra os padres da Companhia de salvo de um naufrágio pelo piloto e
Jesus no Brasil. Os escritos acompanha- humanista espanhol Pedro Sarmiento
ram o conjunto de petições solicitadas de Gamboa. Algum tempo depois, o
pelo senhor de engenhos-explorador Cardeal Alberto, vice-rei de Portugal,
para realizar uma expedição pioneira enviou uma carta ao seu tio, o rei Feli-
em busca de pedras preciosas, especi- pe II, datada de 12 de julho de 1587,
almente o ouro, na região das cabecei- informando sobre a presença de Gabri-
ras do rio São Francisco. O português el Soares em Lisboa e sua ida a Madri
Gabriel Soares chegou a Salvador no para falar pessoalmente sobre minas a
dia 5 de agosto de 1569. Casou-se com serem descobertas. Pedro Sarmiento,
a filha de um dos primeiros provedo- também em busca de uma atenção es-
res da fazenda, tornou-se um dos pecial do monarca de dois mundos,
grandes senhores de engenhos da Ba- afirmou ter visto Gabriel Soares no
hia, foi vereador da câmara, um dos
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go, o que lhe confere o selo de oficiali- tribuição deste manual é seguida pela
dade, garantindo sua convergência elevação da confissão geral a perpetua
com as orientações teológico-morais da praxi Societatis pelo geral Claudio Ac-
Companhia e, portanto, atribuindo-lhe quaviva em 1600, com sua Instructio ad
o status de instrumento apropriado reddendam rationem conscientiae iuxta
para os confessores da ordem. A dis- morem Societatis Iesu.
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os Homens perante uma grande apre- xilie nessa procura. A viagem pode
ensão, a Salvação. O século XVI euro- representar um momento de introspe-
peu reporta-nos para um período de ção, observância e de comparação face
violência e de intolerância religiosa e a ao que rodeia o Homem. Com base em
questão da Salvação dos Homens tor- relatos de jesuítas tentaremos abordar
nou-se um tema central. As escolhas o significado e representações que a
individuais por um determinado tipo viagem representava na missão inacia-
de vida podem ser o caminho que au- na.
Este artigo tem por objetivo discutir o tende demonstrar que, ao contrário do
processo de desenvolvimento científico que propôs parte dos estudos historio-
no período moderno analisando o pa- gráficos, a Igreja, diante das transfor-
pel dos padres jesuítas nesse processo. mações que marcaram as sociedades a
Durante muito tempo a historiografia partir do século XVI, atuou de forma
enfatizou os conflitos resultantes do relevante para a compreensão destas
debate entre religião e ciência, contra- transformações, fornecendo os elemen-
pondo essas duas vertentes de enten- tos pessoais e intelectuais para cons-
dimento das sociedades e, muitas ve- trução do saber científico no período
zes, delegando à primeira a alcunha de moderno.
inimiga da ciência. Nossa análise pre-
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A expulsão dos jesuítas do reino e do- que permaneceram nos domínios por-
mínios portugueses foi um dos episó- tugueses após a expulsão, com ênfase
dios mais marcantes e dramáticos da para os que nasceram ou viveram na
história luso-brasileira. Tomando os Bahia. Entre estes, sobressaem os que
jesuítas como réus do atentado sofrido optaram por dar continuidade à sua
pelo monarca em 3 de setembro de vocação passando do clero regular pa-
1758, a coroa relegou àqueles religiosos ra o secular. Estes e outros ex-jesuítas
tratamento condizente com o crime foram levados a renunciar seus votos e
que supostamente haviam cometido, forçados a assinar termos de fidelidade
estendendo sua perseguição aos que ao monarca. Acompanhar e analisar as
haviam deixado a ordem antes mesmo trajetórias destes e de outros ex-jesuítas
do fatídico acontecimento e sua poste- luso-brasileiros no contexto da perse-
rior condenação. Com o decreto de guição pombalina nos ajuda a melhor
1759, inúmeros jesuítas tiveram que perceber e contextualizar o antijesui-
deixar suas residências em direção às tismo vigente na corte de D. José e os
prisões e ao exílio, mas um número desdobramentos do decreto de expul-
considerável renunciou a seus votos, são de 1759 não apenas no âmbito da
jurando fidelidade ao monarca. Pre- Companhia de Jesus, enquanto insti-
tende-se, neste trabalho, enfocar as tra- tuição, mas dos próprios sujeitos que
jetórias de alguns daqueles ex-jesuítas dela faziam parte.
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SIMPÓSIO TEMÁTICO 3
Cultura e educação na América Colonial: iluminismos, instituições
e culturas escritas
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Entre o final de 1799 e o início de 1803, letrados, em sentido mais amplo, ocu-
Vicente Jorge Dias Cabral chefiou uma param cargos importantes e participa-
expedição científica que percorreu 16 ram ativamente de experiências como a
freguesias e 956 léguas, pela capitania da Casa Literária do Arco do Cego
do Maranhão e Piauí. Natural do Teju- (1799-1801), o cenário também favorecia
co, Comarca de Serro Frio, na capitania os “homens de ciência brasileiros”, que
de Minas Gerais, Cabral estudou na assumiam papéis mais específicos, co-
Universidade de Coimbra: em 1789, mo a chefia de expedições científicas. A
bacharelou-se em Filosofia; cinco anos expedição de Vicente Cabral produziu
depois, formou-se pela Faculdade de uma diversidade de registros, aquilo
Leis. Com a nomeação de D. Rodrigo de que Ronald Raminelli (Viagens Ultrama-
Sousa Coutinho para a secretaria da rinas, 2008) definiu como “testemunhos
Marinha e Ultramar (1795), transparece materiais da viagem – diários, corres-
o interesse pela permanência e apro- pondências, desenhos e remessas". Para
fundamento da prática de expedições os propósitos desse trabalho, destaco
científicas. Comuns desde os tempos do dois registros da expedição produzidos
ministro Martinho de Mello e Castro em 1801, ambos dedicados ao governa-
(1770-1795), as expedições eram agora dor D. Diogo de Sousa: Ensaio botânico
mais curtas, mais localizadas e com ob- de algumas plantas da parte inferior do Pi-
jetivos mais específicos e mais próximos auí e o Ensaio Econômico da Quina Quina
da economia política. Dentre os no- do Piauhi. Nos dois estudos, Vicente Ca-
vos/velhos interesses, podemos citar: a bral apresentou-se como “Bacharel em
extração do salitre; a introdução de no- Filosofia e Direito Civil e Oppositor aos
vos gêneros agrícolas, como a cochoni- Lugares de Letras”. O Dicionário do
lha, a quina e o anil; e um inventário padre Rafael Bluteau, de 1720, ensina
dos recursos hídricos e de possíveis ca- que oppositor era “aquele que pretende o
nais de ligação entre as capitanias. Aos mesmo oficio, dignidade, cadeira, que
“letrados nascidos no Brasil”, sem dú- outro”. Em meio aos primeiros resulta-
vida, a ascensão de D. Rodrigo propor- dos da expedição, incluindo a provável
cionou um cenário dos mais favoráveis, descoberta de um novo gênero da qui-
diretamente relacionado à sua concep- na, Cabral tentava se inserir na burocra-
ção de Império, e ao novo lugar que cia portuguesa. Assim, esse texto trata
caberia à América portuguesa. Se esses das possibilidades abertas a Vicente
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Cabral pelo contexto favorável de no- ca: o projeto de publicação dos resulta-
meações que viabilizou sua inserção na dos da expedição e a obtenção de car-
rede de letrados ocupantes de postos a gos públicos, benesses cujas solicitações
partir daquele momento. A direção de se faziam acompanhar pelas narrativas
uma expedição científica era uma ativi- dos esforços empreendidos naqueles
dade promissora, e apontava para dois pouco mais de três anos de aventura
caminhos convergentes, comuns à épo- pelo interior da capitania.
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Esta proposta de comunicação tem por tes na boa creaçam dos filhos”, na
objetivo examinar algumas prescrições obra Arte de crear bem os Filhos na idade
realizadas pelo padre jesuíta Alexan- da Puericia. Escrita na América portu-
dre de Gusmão (1629-1724) sobre os guesa, mas publicada inicialmente em
possíveis modos de disciplinar meni- Lisboa no ano de 1685, as prédicas de
nos e de culpabilizar os pais “negligen- Gusmão podem ser percebidas como
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CADERNO DE RESUMOS
SIMPÓSIO TEMÁTICO 4
Cultura Escrita no mundo ibérico colonial: manuscritos e impressos
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figuração da Etiópia como aliada para a tas, tratados, crônicas e outros suportes a
reunificação da Igreja, em um segundo partir dos quais circularam ideias a respei-
momento, são as implicações subversivas to da formação de um império em escala
do cristianismo etíope que ganham notori- global, assinalam a importância das diver-
edade. Desse modo, as representações da sas modalidades de escrita na atribuição
Etiópia e do Preste João presentes na pro- de sentidos ao passado, bem como na fun-
dução cultural dos letrados portugueses damentação da vida política coeva e suas
da primeira modernidade, tais como car- ações.
Este trabalho tem como objetivo reali- também, qual o tipo de conselho. Por
zar uma pequena analise de três obras se tratar de um breve trabalho, limita-
impressas do século XVI português – rei a análise das fontes às dedicatórias
durante o reinado de Dom João III escritas pelos autores, sempre destina-
(1521-1557) – sobre algumas das con- das ao monarca. Por isso, para chegar
quistas ultramarinas portuguesas no ao conjunto das obras que serão aqui
oriente, para observar se havia e quais estudadas, procurei por aquelas que
eram os tipos de conselhos que poderi- eram diretamente dedicadas ao rei e
am ser dados ao monarca para melhor que tinham sido publicadas ainda no
governar o Império. Mesmo tendo os período de seu reinado. As obras esco-
“espelhos de príncipes” – manuais de lhidas para este trabalho foram: Histó-
origem medieval que eram dedicados ria do descobrimento e conquista da Índia
aos príncipes e governantes das cida- pelos Portugueses (1551/1554), de Fer-
des (tendo sido, posteriormente, tam- não Lopez Castanheda; Primeira Década
bém utilizados pela aristocracia) e que da Ásia (1552-1553), de João de Barros e
continham um quadro geral de ensi- o Livro primeiro do cerco de Diu (1556),
namentos através dos exemplos de de Lopo de Sousa Coutinho. Além des-
grandes heróis do passado para tornar sas obras que serão utilizadas, verifi-
ou resguardar um governante, sempre cou-se também a existência de um li-
ressaltando a importância das virtudes vro impresso de Diogo de Teive, em
– como a Justiça, Prudência, Sabedoria 1548, também dedicado a Dom João III
e Fortaleza – e também os vícios e pe- e que fala da ação dos portugueses na
rigos que deveriam ser evitados no Índia, sendo que está em latim e não
exercício de governo do reino ou da será utilizado neste trabalho. Além das
cidade – como objeto principal da mi- dedicatórias, serão levados em conta
nha pesquisa de mestrado, fiz um le- outros fatores para complementar a
vantamento dos livros impressos pro- análise das fontes escolhidas, como:
duzidos no reinado de Dom João III – proximidade temporal do lançamento
com base no levantamento feito por das obras, pois estas foram impressas
António Anselmo –, procurando ob- dentro de um curto período, já no final
servar outros tipos obras que possam do reinado de Dom João III; quem
conter conselhos ao rei, analisando eram os autores destas obras, obser-
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
quista e a ação jesuíta. Hoje são conhe- bre a importância da Paraíba É prová-
cidos três testemunhos manuscritos do vel que o texto esteja ligado a um em-
Sumário, os três depositados em ar- bate entre jesuítas e franciscanos quan-
quivos portugueses, a saber: Biblioteca to ao direito de catequização dos indí-
Nacional de Portugal, Biblioteca Públi- genas. Durante a narrativa da conquis-
ca de Évora e Academia das Ciências ta o texto faz uma profunda detração
de Lisboa. O texto nunca passou por de Frutuoso Barbosa, expedicionário e
um processo de crítica nem de estudo futuro capitão da Paraíba ligado aos
profundo sobre sua relação com o con- franciscanos (relação esta ressaltada
texto de sua escrita. Os testemunhos em vários pontos do documento); ao
dividem-se em dois ramos – sendo o mesmo tempo, é um panegírico a Mar-
da BNP o texto base utilizado pelos tim Leitão ouvidor-geral apoiador e
pesquisadores e o da BPE muito pró- incentivador dos jesuítas. Some-se este
ximo a ele. O testemunho da ACL é um dado às datas: em 1591 os jesuítas fo-
texto compósito, que cruza o Tratado ram expulsos da capitania por Frutuo-
de Gabriel Soares de Sousa e o Sumá- so, para deixar aos da ordem de São
rio e tem um discurso muito forte so- Francisco a função da catequização.
Esta comunicação visa apresentar al- exércitos castelhanos. Escrito por An-
gumas questões desenvolvidas em tónio de Souza de Macedo, então secre-
nosso atual projeto de pesquisa de tário de Estado de Dom Afonso VI,
doutorado. Nosso intuito será, assim, este periódico é publicado até o ano de
analisar as notícias apresentadas nos 1667, contando todas as publicações
periódicos portugueses da segunda com cerca de 800 páginas. É conhecida
metade do século XVII. A partir de a crescente busca por novidades pela
1641 começou a circular em Portugal a população europeia, tendo em vista
chamada Gazeta da Restauração, primei- não só os descobrimentos, como tam-
ra publicação voltada à circulação de bém o aumento da quantidade de pes-
notícias – impressa em Lisboa – a con- soas alfabetizadas no continente e o
tar com periodicidade. Sua publicação interesse provocado pelas guerras ao
perdurou até o ano de 1647, contando redor do continente. A guerra, segun-
neste período com uma pequena inter- do Mario Infelise, alimentava o desejo
rupção que certamente contribuiu para por informação, havendo uma estreita
que retornasse em novo formato. Ape- relação entre acontecimentos militares
nas em 1663 teremos novamente um e a origem do periodismo impresso.
novo material periódico de notícias, Segundo o autor, se em condições or-
chamado de Mercúrio Portuguez, que dinárias a produção a mão bastava pa-
trazia exclusivamente novas sobre a ra satisfazer os interesses, no caso de
guerra contra Castela, enaltecendo as grandes conflitos a curiosidade se mul-
tropas portuguesas e diminuindo, tiplicava de maneira exponencial. São
sempre que encontrava espaço, os circuitos tanto impressos como manus-
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CADERNO DE RESUMOS
critos que permaneciam juntos: “Avi- lhamos da ideia de João Luis Lisboa,
sos a mano, secretos y públicos, gace- que afirma não ter como objetivo escla-
tas impresas y relaciones formaban recer os primórdios do jornalismo.
una espiral de intercambio y alimenta- Dessa forma, não iremos procurar si-
ban distintas opiniones y discusiones” nais em periódicos de trezentos anos
(INFELISE, 2010, p. 160). As discussões atrás, dos jornais que conhecemos hoje.
acerca do periodismo europeu são re- Nosso intuito é, assim, entender como
centes na historiografia. A historiadora “se constrói, ao longo da segunda me-
Carmen Espejo entende que, mais do tade do século XVII, uma dupla ideia.
que iniciativas individuais de Estados A de que existe espaço e necessidade
Modernos, marcados por políticas ab- para a circulação de novidades de um
solutistas – como querem algumas in- certo tipo, e que essa circulação se po-
terpretações – o fenômeno periodístico de concretizar numa base regular, pe-
seria europeu, não nacional. Há o sur- riódica, em ritmos semanais ou men-
gimento concomitante através da Eu- sais” (LISBOA, 2002). Dessa forma,
ropa do interesse pelas notícias, relaci- pretendemos discorrer sobre a cons-
onado em grande parte à Guerra dos trução dessas notícias, analisando os
Trinta Anos que cobre todo o continen- periódicos enquanto fonte histórica,
te. As notícias, assim, perpassam as produtos do meio no qual foram cons-
fronteiras, no que Espejo denomina de truídos e inseridos em diferentes rela-
“explosão informativa” (ESPEJO, ções nobiliárquicas, familiares e de go-
2012). Para tratarmos da cultura perio- verno.
dística em Portugal, contudo, parti-
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CADERNO DE RESUMOS
O objetivo do presente trabalho é reali- tou convencer Poti e este tentou dissu-
zar um estudo da produção escrita dos adir aquele. O fato de Paraopaba, en-
indígenas no conhecido tempo do Bra- quanto importante liderança indígena,
sil Holandês. Para isso, serão analisa- dirigir-se às autoridades neerlandesas
dos, sob a perspectiva da História So- para realizar suas petições de acordo
cial da Cultura Escrita, o conjunto de com a retórica administrativa flamenga
“Cartas Tupi” trocadas entre Felipe demonstra que os índios protestantes
Camarão e Pedro Poti entre 1645 e 1646 se apropriaram do código holandês
e as duas representações enviadas por para defender seus interesses, agindo
Antônio Paraopaba entre 1654 e 1656 no mundo neerlandês na medida em
ao Conselho dos XIX Senhores, órgão que este também configurava o seu
dirigente da Companhia das Índias próprio mundo. Assim, tendo em vista
Ocidentais, solicitando auxílio aos ín- que os supracitados documentos foram
dios protestantes que permaneceram produzidos pelos brasilianos, a análise
no Brasil Colonial. Deve-se destacar a estará centrada na fidelidade dos poti-
importância da existência de tais rela- guares do partido pró-holandês aos
tos produzidos pelos indígenas como flamengos. A colaboração de tais ín-
forma de apropriação da linguagem dios parece ter sido mesmo fundamen-
escrita, como demonstrou Serge Gru- tal para a resistência holandesa duran-
zinski em conhecido trabalho. Assim, é te o período da insurreição pernambu-
lícito perceber a impressionante habi- cana. Tal adesão desenvolveu-se tanto
lidade potiguar em adotar diferentes no terreno militar, quanto no político,
discursos, sobretudo no caso da cor- como no religioso, de tal forma que os
respondência trocada entre Poti, líder próprios cronistas coloniais da época
potiguar do partido holandês, e Cama- registraram tal fato. Portanto, tratam-
rão, principal liderança dos indígenas se de um corpus documental produzi-
aliados dos portugueses. As “Cartas do pelos indígenas em meio ao período
tupi” talvez sejam os primeiros docu- da insurreição pernambucana, uma
mentos redigidos por lideranças indí- revolta de caráter prioritariamente co-
genas do Brasil Colônia. A primeira lonial. Neste momento, tais indígenas
carta, datada de 1628, foi escrita por desempenharam o papel de relevantes
Poti no tempo em que estava Holanda negociadores, o que nos leva a concor-
exortando a Camarão para não aderir dar com Mark Meuwese no que tange
aos portugueses. No entanto, o maior à análise de Poti e Paraopaba como
volume de cartas foi trocado no ano de lideranças pan-indígenas. Deste modo,
1645, com a finalidade de persuadir pode-se perceber que os indígenas co-
um ao outro para passarem para o lado nheciam as regras do jogo político e
em que lutavam, no caso Camarão ten- sabiam jogá-las, sobretudo a partir das
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CADERNO DE RESUMOS
Capitania de São Paulo, pudesse favo- lidade. A clara noção diplomática acer-
recê-lo com o cargo de Sargento-Mor. ca do gênero textual “diário” soma-se à
Para tanto, o solicitante afirmava que a estrutura codicológica do suporte e à
honra e o prêmio por esse posto eram destreza do uso dos instrumentos de
merecidos tanto pela disciplina militar escrita que possibilitaram sua preser-
com que Juzarte atuava em seu regi- vação. Ademais, do ponto de vista pa-
mento quanto pelos demais favores leográfico, a caligrafia regular nada
prestados ao governo. De fato, muitos deixa a desejar em relação à produção
foram os favores prestados à coloniza- de Secretários. As afirmações contrá-
ção do estado de São Paulo em seu rias seriam, portanto, baseadas nas di-
tempo de serviço. Como prova desse ferenças ortográficas típicas da escrita
serviço, Juzarte deixou à posteridade o do século XVIII. Esse diário livrou do
seu diário de navegação, recentemente esquecimento o alistamento militar
publicado em forma de edição atuali- forçado na capitania de São Paulo du-
zada e imagens fac-similares do texto e rante o governo do Morgado de Ma-
dos mapas pela Editora Edusp (SOU- teus. Dos 700 colonizadores enviados à
ZA; MAKINO, 2000). Redigido entre Praça do Iguatemi, dos quais cerca de
os anos de 1769 e 1771, o diário retrata 300 eram homens, não havia de fato
as tantas ocorrências durante a nave- “voluntários”. Todos foram alistados
gação realizada nos rios Tietê e Paraná de maneira forçada, tendo seus famili-
na monção de 36 embarcações com ares presos para evitar deserção. Entre-
cerca de 800 tripulantes chefiada por tanto, o diário relata fatos capazes de
ele. Árdua foi a tarefa, executada em contradizer tal violência: “soube que
mais de dois anos, de mapear e des- hu homem se achava esmorecido [...],
bravar o longo percurso, desde Arari- oqual fiz conduzir, e consolando-o, e
taguaba, a atual cidade de Porto Feliz, fortificando-o com vinho, esustento foi
até a Praça de Iguatemi no Mato Gros- tornando aSy [...]”. Os inúmeros peri-
so do Sul. O fato é que Juzarte foi pro- gos vividos são descritos com os tons
movido ao cargo de Sargento-Mor. subjetivos de quem os viveu: “se ma-
Contudo, o Governador e Capitão- tou huã grande cobra coral, eduas jara-
General sucessor, Martim Lopes Lobo racas [...] taõ venenózas que mordendo
de Saldanha, criticou a promoção, em qual quer pessoa estantaneamente
afirmando ter sido ação apoiada em fica sem vida, e entra a exalar sangue
mero favoritismo, já que Juzarte não pelos ólhos, boca, e nariz, e pelas
tinha inteligência alguma. No mesmo unhas [...]”. Pretende-se, por meio da
sentido, os editores afirmam ser o diá- análise desse discurso pelo viés funci-
rio composto por “notas de viagem, onalista, demonstrar de que forma a
toscas e rudes, de soldado semianalfa- materialidade do diário revela mais do
beto, mas cheias de interessantíssimos que aspectos interessantes do dado
informes” (SOUZA; MAKINO, 2000, p. momento histórico: revelavam-se pelo
18). De maneira oposta, este trabalho discurso as subjetividades e ideologias
comprovará que, sob todos os aspectos coevas.
filológicos, o diário tem excelente qua-
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As Memórias para a História da Capitania res da obra (1847, 1920, 1953, 1975 e
de São Vicente, hoje chamada de São Paulo 2010), de modo que todos os estados
do Estado do Brasil, do historiador Frei do texto constituem as Memórias tal
Gaspar da Madre de Deus, foram pu- como foram transmitidas a seus leito-
blicadas pela Academia de Ciências de res desde o fim do século XVIII. A
Lisboa, doravante ACL, em 1797. Essa questão subjacente à transmissão dessa
edição, denominada princeps por ser obra, contudo, está no fato de sua edi-
impressa pela primeira vez a partir do ção princeps não representar o texto
manuscrito original do autor, foi o que Frei Gaspar imaginou e desejou
modelo para as cinco edições posterio- que viesse a público, mas uma refor-
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
Com a vinda da Família Real portu- tos ilustrados da monarquia que deixa-
guesa à América em 1808 o núcleo do ram Portugal e passaram a viver na
poder monárquico deslocava-se para o outra margem do Atlântico, destaca-
Brasil. As muitas embarcações que mos o bibliotecário Luís Joaquim dos
deixaram Lisboa nesta ocasião trouxe- Santos Marrocos, personagem central
ram pessoas de grande destaque da da discussão que vamos apresentar.
nobreza, assim como diversos apetre- Luís Joaquim chegou em 1811 imbuído
chos e simbolismos, sobretudo, os vin- da responsabilidade de transportar a
culados às atividades da Casa Real, segunda remessa de livros da Bibliote-
que buscaria garantir uma apropriada ca Real d´Ajuda – o último empacota-
instalação e convívio da realeza em mento chegou em fins desde mesmo
terras antes coloniais. Dentre os súdi- ano, sendo que o primeiro tinha de-
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SIMPÓSIO TEMÁTICO 5
Dimensões da desordem em colônias: ilicitudes, descaminhos e
heterodoxias religiosas
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CADERNO DE RESUMOS
O presente estudo visa tratar da admi- teve a função de mostrar as suas obri-
nistração do vice-rei D. Vasco de Mas- gações e definir os limites de suas
carenhas, 1º conde de Óbidos, que go- áreas de abrangência. Mostraremos
vernou o Estado do Brasil entre os nesse trabalho que o regimento enca-
anos de 1663 a 1667. A análise pautará minhado aos capitães-mores foi essen-
especificamente nas capitanias do Rio cial para estabelecer a reorganização
de Janeiro e de Pernambuco no perío- do Estado do Brasil, principalmente
do posterior à Restauração. Pretende- com relação ao governo local. A admi-
se compreender suas práticas governa- nistração de Salvador Correia de Sá e
tivas e sua relação política com os go- Benevides nas capitanias do Sul e dos
vernadores dessas capitanias em um govenadores das capitanias do Norte
momento de ascensão e consolidação contribuíram para o comprometimento
da dinastia Bragantina. Através do re- da autoridade do Governo-Geral, situ-
gimento dos capitães-mores de 1663, a ação que o Vice-rei teve que solucionar
capitania do Rio de Janeiro e as demais com o objetivo de manter a ordem na
do sul voltaram a ser subordinadas ao Colônia. Outro aspecto relevante con-
Governo-Geral da Bahia. No que se tido no regimento que contribuiu para
refere aos problemas de jurisdição em efetivar a política de reorganização do
Pernambuco, sendo estes constantes no Estado do Brasil foi a proibição de to-
Brasil colonial, o regimento foi funda- dos os governadores das capitanias
mental para definir os espaços de ju- realizarem a concessão de sesmarias.
risdição das capitanias menores, uma Uma situação curiosa relacionada à
vez que os governadores de Pernam- capitania do Rio de Janeiro referiu-se
buco tiveram a intenção de ampliar os no envolvimento do conflito entre a
seus espaços de jurisdição fazendo câmara e as ordens religiosas pela me-
com que essas capitanias fossem su- dição das terras. Ao contrário de sua
bordinadas a Pernambuco. Coube, en- atuação no governo da Índia, o Vice-rei
tão, ao Vice-rei D. Vasco de Mascare- D. Vasco de Mascarenhas concluiu sua
nhas, a aplicabilidade daquele regi- administração no Estado do Brasil. A
mento, principalmente nas capitanias sua “arte de governar” consolidou as
do Norte. A atuação do Vice-rei D. questões pendentes na América portu-
Vasco de Mascarenhas foi fundamental guesa em um momento de instabilida-
no sentido de aprofundar o controle do de na metrópole, sendo necessário au-
Governo-Geral, que se afrouxara no mentar o controle no Brasil. As críticas
decurso da guerra holandesa. Os capi- que foram levantadas contra ele pelos
tães-mores que administravam as capi- vassalos, causando inclusive queixas
tanias menores passaram a ser direta- formais ao rei, como por exemplo, a do
mente sujeitos ao Governo-Geral na secretário de Estado Bernardo Vieira
Bahia sem a intermediação dos gover- Ravasco, não o impediram de governar
nadores de Pernambuco ou do Rio de e colocar em prática o papel ao qual foi
Janeiro, a quem o 10 conde de Óbidos designado.
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
Para a lógica histórica, é impossível do, extravio e desvio dos direitos reais
olhar o passado sem conhecer as inter- na Capitania de Minas Gerais, durante
pretações e teorias elaboradas para o século XVIII. O repertório dos dados
compreensão das fontes: “o discurso é composto por ordens régias, portari-
histórico disciplinado da prova consis- as, alvarás, provisões, bandos e por um
te num diálogo entre conceito e evi- conjunto de correspondências emitido
dência; um diálogo conduzido por hi- pelas autoridades coloniais, referente
póteses sucessivas de um lado, e pela ao sistema de contratos das rendas e direi-
pesquisa empírica, por outro”. Indiví- tos reais, uma das principais formas de
duos, grupos e instituições, tais quais arrecadação das receitas do império
historiadores, ao escreverem a história, português, o que resultara de acordos
coetaneamente, elaboraram ideias, temporários estabelecidos entre co-
conceitos e teorias acerca do seu uni- merciantes de grosso trato e o monar-
verso cultural que, ao longo do tempo, ca. Os diários dos registros fiscais, ins-
são resignificadas. O desafio é retornar talados ao longo dos caminhos que
às evidências pretéritas, sem correr o interligavam os sertões da Bahia e Mi-
risco de ressuscitar a premissa máxima nas Gerais, mostram distintas maneiras
do manual positivista de Langlois e de usos e aplicações acerca dos termos
Seignobos: a história se faz com docu- “Caminho” e “Descaminho”. Foram
mentos, não obstante se compreenda encontradas denominações variadas ao
que o processo histórico seja indireto, que se referem ao que simplificamos,
indiciário e conjetural. Pretende-se nes- muitas vezes, de forma dicotômica, os
ta comunicação mostrar como os con- conceitos de caminhos e descaminhos,
ceitos de “Caminho” e “Descaminho” caminhos e picadas, desvios e extravi-
são utilizados nas fontes coevas seleci- os, desencaminhadores e contrabandis-
onadas e como são aplicados em rela- tas.
ções com as atividades de contraban-
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CADERNO DE RESUMOS
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O presente trabalho tem por objetivo futuro marquês de Pombal, para o car-
investigar a atuação das redes de co- go de primeiro ministro do reino. Esse
mércio interno que se desenvolveram conjunto de medidas modernizadoras
durante os anos de 1759 a 1780 entre as tinham por objetivo uma maior centra-
capitanias de Bahia e Pernambuco. lização do poder real, bem como um
Nosso marco cronológico inicia-se em maior domínio econômico sobre as
1759, ano em que foi instalada a Com- conquistas e colônias na tentativa de
panhia Geral de Comércio de Pernam- revitalizar o comércio português e
buco e Paraíba, detentora do “comércio combater o atraso econômico da me-
exclusivo das duas capitanias de Per- trópole. O monopólio desenvolvido
nambuco e Paraíba, com todos os seus pela Companhia durante pouco mais
distritos, e nos quais ninguém mais de vinte anos, veio alterar toda uma
podia extrair, mercadorias, gêneros ou lógica comercial, baseada no livre co-
frutos” (CARREIRA,1989, P. 224). A mércio, que já estava bem estabelecida
empresa criada na segunda metade do em Pernambuco. Nosso ponto de aná-
XVIII vinha atender a uma nova ordem lise, parte da identificação de que a
administrativa ligada às questões mais partir da instalação da Companhia Ge-
pragmáticas de governança que se ral, os locais irão buscar estratégias de
buscou estabelecer em Portugal a par- evasão do controle régio, um desses
tir da nomeação de Sebastião José de meios de fuga será o contrabando de
Carvalho e Mello – Conde de Oeiras, o mercadorias realizado através dos ser-
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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CADERNO DE RESUMOS
nas Gerais. As Minas eram o principal ções com o contrabando para o sul da
foco dos traficantes baianos no perío- América. Agora, a partir da pesquisa
do, tendo em vista que nestas localida- que desenvolvo no programa de pós-
des o preço pago pelos escravos era graduação da Universidade Federal do
muito superior àquele pago pelos se- Rio Grande do Sul, procuro ampliar a
nhores de engenho e também por este ótica e explorar alguns aspectos sobre a
pagamento ser feito em ouro. No en- configuração e as relações do grupo
tanto, outras pontas da América tam- mercantil soteropolitano com os agen-
bém estavam conectadas pelas redes tes da Colônia do Sacramento. Por
de distribuição de cativos. Este é o caso conseguinte, utilizo os registros de óbi-
do sul da América, que mesmo distan- tos de escravos para identificar os
te do porto negreiro baiano e tendo o agentes que ligavam as redes comerci-
Rio de Janeiro como abastecedor pri- ais do sul da América. Opto por esta
mário de mão de obra cativa, tinha a fonte, pois em alguns assentos o padre
Bahia como abastecedor complementar identificava os responsáveis pelo envio
de escravos. Segundo Alex Borucki, a e recebimento dos cativos, anotando a
Bahia era responsável pelo envio de quem pertencia o escravo – da conta de
25% dos cativos que entravam no rio – e quem se responsabilizava por ele
da Prata, participando, assim, das co- em Colônia. Através desta fonte foi
nexões comerciais entre a África e o sul possível identificar alguns dos respon-
da América. Em trabalho recente, ana- sáveis pelo tráfico transimperial que
lisei um desses traficantes e suas rela- abordarei neste estudo.
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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CADERNO DE RESUMOS
A presente estudo propõe fazer uma nhecido como a idade do ouro, devido
análise acerca das dívidas dos contra- às famosas descobertas das minas de
tos-régios administrados pelo negoci- ouro e diamante dos sertões brasilei-
ante André Marques junto a Fazenda ros. Ademais, as fontes manuscritas
Real. Partindo desse caso, procuramos para a realização do estudo foram ex-
analisar ao longo do texto alguns obje- traídas do conhecido Projeto Resgate
tivos específicos, dentre os quais a ave- do Conselho Ultramarino. Durante a
riguação realizada pela Fazenda Real pesquisa consultamos cartas, requeri-
das dívidas do dito negociante, um mentos e pareceres do Conselho Ul-
possível envolvimento de um tesourei- tramarino, permitindo entrar no obs-
ro da Fazenda Real com o negociante, curo mundo dos descaminhos dos con-
as dívidas das propinas de munições tratos-régios. Finalmente, pretendemos
de guerra e obra pia, os argumentos de com a elaboração desse estudo, colabo-
defesas utilizados por esse negociante rar em relação às pesquisas que tomam
e a atitude do Conselho Ultramarino como foco o atlântico, preenchendo, de
diante das dívidas de André Marques certa forma, alguma lacuna dentro
Gomes. O recorte temporal elaborado desse mais novo campo historiográfi-
ao longo da pesquisa girou em torno co. André Marques Gomes foi um im-
do duradouro reinado do Rei dom Jo- portante negociante português que
ão V (1706-50). Tal reinado ficaria co- atuou na primeira metade setecentista
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CADERNO DE RESUMOS
ver adaptações de sua estrutura gover- várias sentenças decretadas pela Rela-
nativa à realidade local. As novas insti- ção contra funcionários da Coroa como
tuições intensificaram as investigações almoxarifes, escrivães da Alfândega,
e a realização de devassas para possí- capitão-mor do mar, entre outros, que
vel identificação e punição dos envol- receberam ordenados de forma irregu-
vidos. Assim, buscamos apresentar as lar, lesando assim o tesouro real. Pro-
denúncias sobre os roubos e as ações curamos também observar se as sen-
por parte da Coroa para reduzir tais tenças estavam em consonância com
práticas, como o Alvará autorizando Ordenações Filipinas, pois as negocia-
André Farto da Costa, secretário da ções com as elites locais permitiam, por
Junta, a consultar os livros, cadernos e vezes, o abrandamento das penas. As
provisões da capitania de Pernambuco fontes utilizadas para análise formam
em busca de indícios sobre os desvios. o corpo documental do Arquivo Histó-
Verificamos também a existência de rico Ultramarino.
O presente trabalho tem como finali- caritativa: fere para curar” (HANSEN,
dade analisar os escritos de dois per- 1989, p. 28). Gregório de Matos, apesar
sonagens contemporâneos de nossa de ser brasileiro, apresentava uma vi-
História: Gregório de Matos, o Boca do são da aristocracia de Portugal, pois,
Inferno, e Sebastião da Rocha Pita, o além de ter vivido grande parte de sua
Acadêmico Vago, e seus diferentes vida em território Luso e prestado ser-
pontos de vista a cerca da complexa viços para a Coroa, o poeta fazia parte
situação enfrentada pela Bahia em fi- de uma nobreza que estava perdendo
nais do século XVII. Desse modo, além seu espaço de poder com a redefinição
de englobar a análise da História da da economia mercantilista, sendo en-
sociedade baiana na segunda metade tão uma visão conservadora, moralista
do século XVII, que passava por uma da sociedade colonial, apresentada pe-
grave crise econômica, buscar-se-á ve- la abordagem do poeta da vida na co-
rificar também sua influência nos escri- lônia que estava em transformação e
tos contemporâneos, como na obra do que sempre era comparada com seu
poeta Gregório de Matos, que encon- passado e com a metrópole. Diante
trou nos seus poemas uma forma de desse contexto, considerar seus poe-
denunciar o que acontecia na Bahia e mas e poesias de forma isolada nos
uma forma de solucionar os proble- permite apenas uma análise superficial
mas, talvez seguindo o que afirma o e de uma parte do que estava aconte-
antigo provérbio latino “ridendo castigat cendo. Logo, analisar os escritos de
mores”, ou seja, a rir se corrigem os cos- Sebastião da Rocha Pita em seu livro
tumes. Assim, o poeta não propunha História da América Portuguesa se torna
uma solução prática para os proble- pertinente, pois possuía um ponto de
mas, mas, através dos apontamentos vista e uma posição diferente de Gre-
das falhas, buscava a correção como gório de Matos, mesmo sendo contem-
nos mostra Hansen “a sátira é guerra porâneo do poeta e tendo uma situação
97
VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
O presente trabalho tem por objetivo referidas soluções práticas eram uni-
analisar algumas diretrizes que regiam formemente encontradas em decorrên-
a administração alfandegária na capi- cia do simples fato de serem regiões
tania do Rio de Janeiro e na capitania coloniais. Trata-se de abordá-las como
da Bahia entre os anos de 1697 e 1733. regiões que se diferenciavam em seu
Abordaremos de forma sucinta aspec- próprio fazer colonial. A instituição da
tos da estrutura organizacional e pro- cobrança da dízima na Alfândega do
cedimentos administrativos das alfân- Rio de Janeiro e na da Bahia surgiu da
degas da Bahia e do Rio de Janeiro. necessidade de proporcionar recursos
Entendemos que entre a norma propa- para as crescentes despesas militares
lada e as soluções práticas encontradas de ambas as capitanias. A do Rio foi
há grande distância. É preciso investi- estabelecida em 18 de outubro de 1699,
gar aquilo que realmente foi praticado, especificamente para o pagamento do
no caso, na Bahia e no Rio, praças co- soldo da Infantaria. Tendo em vista o
merciais importantes devido ao grande reforço da defesa da cidade, a Câmara
fluxo de mercadorias e ao substantivo ofereceu a dízima das fazendas (co-
aparato administrativo. As diferentes brança de 10% sobre as mercadorias
regiões coloniais na América portu- que davam entrada no porto da capi-
guesa não devem ser tomadas como tania do Rio de Janeiro) e, em concor-
unidade monolítica na qual todas as dância, o rei enviaria soldados necessá-
98
CADERNO DE RESUMOS
rios para a praça da cidade e suas for- da na Bahia em 1714 como um dos
talezas. Instituído o contrato da dízi- primeiros atos do então vice-rei do Es-
ma, o rei ordenou ao governador e ca- tado do Brasil, marquês de Angeja. O
pitão-general Artur de Sá e Menezes marquês consegue persuadir os ho-
que fizesse a arrecadação desta contri- mens de negócio que concordaram
buição pela Fazenda Real. O cresci- com o seu estabelecimento para as
mento acelerado da dízima fez com despesas que se fizessem necessárias
que rapidamente esse tributo fosse es- com as naus de guerra encarregadas da
tabelecido também nas demais capita- defesa do litoral (nau guarda-costas).
nias onde igualmente passou a figurar Inicialmente podemos entender a Al-
como o mais importante. A dízima da fândega como instituição fiscal respon-
Alfândega teria sido estabelecida na sável fiscalizar e registrar o movimento
Bahia junto com o Governo-Geral, exis- comercial e da cobrança dos direitos
tindo menção de sua arrecadação até alfandegários, possuidora de uma es-
1640, tendo desaparecido posterior- trutura de funcionamento e pautada
mente e reaparecido no início do sécu- por uma regulamentação. Sim, a Al-
lo XVIII. Em 1711, houve uma primeira fândega possui essas características.
tentativa de restabelecer a dízima da Mas entendo que é preciso ir mais lon-
Alfândega, mas a insatisfação popular ge, perceber a complexidade, analisar
contra os excessos da fiscalidade levou esta instituição para além do texto
à chamada Revolta do Maneta e a sub- normativo, jurídico, captar como esta
sequente suspensão da cobrança da instituição vigorava na sociedade para
dízima. A dízima seria de fato instituí- além do texto legal.
No século XVIII, as Minas Gerais fo- puniam desvios morais em relação aos
ram submetidas ao controle das devas- preceitos da Igreja Católica. As devas-
sas eclesiásticas, visitas diocesanas que sas integravam um processo de acultu-
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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CADERNO DE RESUMOS
SIMPÓSIO TEMÁTICO 6
Dimensões do catolicismo no Império português: instituições, práticas
e representações (séculos XVI-XVIII)
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
de um século sem que fosse resolvido pagamento desse tipo de dízimo pes-
para nenhuma das duas partes. Os soal não fosse mais necessário. Esses
problemas referentes ao debate em requerimentos, formulados pelo pro-
torno da legalidade ou não das conhe- curador dos povos de Minas, foram
cenças, e também em torno da exorbi- norteadores para que se iniciasse uma
tância na sua cobrança, podem nos le- discussão perante a rainha D. Maria I e
var a uma análise de cunho jurisdicio- o quarto bispo de Mariana, referente à
nal relacionado à política de padroado cobrança das conhecenças pelos páro-
e às relações entre a igreja mineira e a cos. A partir daí, foram produzidas
Coroa portuguesa. Os debates e emba- cartas advindas de todas as freguesias
tes traçados pelos agentes sociais, per- da capitania mineira para tratar ao bis-
tencentes tanto à capitania quanto ao po das reclamações sobre as conhecen-
Reino, podem fornecer aparato para se ças, estimuladas e reforçadas por Fran-
discutir a questão da aplicabilidade cisco Antonio de Sales e Morais. A lei-
das Constituições Primeiras do Arce- tura e análise dessas cartas e requeri-
bispado da Bahia (1707) nos outros mentos torna perceptível uma discus-
bispados existentes na América Portu- são inacabada referente às normativi-
guesa, de modo interino ou parcial. dades determinadas pela Coroa Portu-
Tendo como objetivo central tentar guesa ao longo do século XVIII, a apli-
compreender essa questão maior do cabilidade ou não das Constituições do
grau de aplicabilidade das Constitui- Arcebispado da Bahia como fator nor-
ções da Bahia, de D. Sebastião Montei- mativo da administração eclesiástica e
ro da Vide, o presente trabalho tomará o discurso do costume que pautara a
como respaldo algumas contendas maioria dos argumentos construídos
ocorridas no Bispado de Mariana sob o pelos párocos da capitania mineira.
governo do quarto bispo, Frei Domin- Desse modo, tentar-se-á, a partir da
gos da Encarnação Pontevel (1778- análise dessas cartas e requerimentos,
1793), que tiveram a questão das co- compreender os limites jurisdicionais
nhecenças como principal ponto de que tocavam a administração da igreja
desentendimento entre a população colonial, mais especificamente a da
civil e o corpo eclesiástico da capitania capitania mineira, e o poder régio,
mineira. Essas contendas, regidas pelo através da política de Padroado, pro-
procurador dos povos, Francisco An- curando compreender os interesses
tonio de Sales e Morais, visavam re- inerentes à resolução dessa problemá-
querer, frente à Coroa Portuguesa, tica por parte do procurador dos povos
uma reformulação da taxação das co- de Minas conjuntamente com a coope-
nhecenças recolhidas pelos párocos de ração da população mineira através
Minas, ou até mesmo fazer com que o das câmaras.
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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CADERNO DE RESUMOS
A partir da análise de séries de regis- ções incorpóreas são uma porta de en-
tros batismais, oriundos de três paró- trada para o cotidiano devocional das
quias rurais do Termo de Vila Rica en- populações coloniais. Além da recor-
tre 1725 e 1808, a presente comunica- rência ao culto mariano e à Santa Ana,
ção procura discutir aspectos relacio- extremamente difundidos no mundo
nados tanto ao cotidiano devocional português, também são perceptíveis
dos moradores dessas localidades, devoções mais locais. Nas mesmas fon-
quanto à condição feminina no referi- tes, fora a questão do compadrio, os
do contexto. Para tanto, no que se refe- prenomes recebidos diante das pias
re à indicação de padrinhos – ou pais batismais também nos fornecem uma
espirituais –, centra-se em três catego- amostragem do cotidiano devocional
rias de assentos batismais: 1- aqueles dos paroquianos. A popularidade de
em o neófito contou com a nomeação Santa Ana e de sua filha Maria, por
de uma madrinha incorpórea (santa exemplo, é evidente nas três freguesias
protetora) no lugar de uma terrena em enfocadas: das 3.383 crianças do sexo
sua cerimônia batismal; 2- os que não feminino e africanas adultas batizadas,
contaram com a presença de algum 1.148 (34%) delas receberam os preno-
padrinho e/ou madrinha; 3- e aqueles mes Ana, Maria e Mariana. Ademais,
cujas madrinhas emitiram procurações vale ressaltar que essa dimensão devo-
para que terceiros as representassem cional mais explícita do compadrio,
nas cerimônias. No período analisado, relacionada à prática de se indicar San-
conforme indicamos acima, era difun- tos no lugar de padrinhos terrenos,
dida a prática de se nomear santas pro- ocorreu exclusivamente em substitui-
tetoras no lugar de madrinhas terrenas. ção à figura feminina, nunca à mascu-
Apesar da baixa expressividade na lo- lina. De certa forma relacionado a esse
calidade por nós estudada, contando comportamento de “precedência” dos
com 51 casos em meio aos 7.462 batis- padrinhos na montagem de teias soci-
mos reunidos, fica claro que fatores ais, vale estabelecermos um compara-
religiosos também encontravam-se tivo entre as cerimônias que acontece-
imbricados a outros mais evidentes, ram sem a presença do padrinho e/ou
relacionados à montagem de redes de da madrinha. Tais taxas perfazem, res-
alianças pelo compadrio. Tais indica- pectivamente, 235 (3,2%) e 798 (10,8%).
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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CADERNO DE RESUMOS
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
pico recorrente nesta produção histori- ção de uma memória seráfica, a Histó-
ográfica, e estará presente desde os ria do Brazil de fr. Vicente do Salvador
primeiros esforços de recuperação des- foi encomendada por Manuel Severim
sa trajetória, com fr. Manuel da Ilha, de Faria, chantre da Sé de Évora e arti-
autor da Narrativa da Custódia de Santo culador de uma intensa rede de comu-
Antônio do Brasil (1621), e fr. Vicente do nicação epistolar e intercâmbio de ma-
Salvador, responsável pela redação de nuscritos sobre o Império Português. A
uma obra sobre a mesma custódia, de ativação de fr. Vicente por Severim de
paradeiro desconhecido mas que teria Faria, que se concretizava ao passo em
servido de suporte tanto a fr. Manuel que o irmão do chantre, o também
da Ilha como ao próprio fr. Vicente na franciscano Cristóvão de Lisboa, era
composição de sua célebre História do por ele instado a escrever uma História
Brazil (1627). "Fr. Manuel da Ilha e fr. dos animaes e aves… do Maranhão, ilustra
Vicente do Salvador: a historiografia a importância da produção historiográ-
franciscana e o Brasil Colonial do sécu- fica nas franjas do Império para o
lo XVII" lança um olhar renovado so- atendimento a necessidades de Estado:
bre estes dois textos, buscando com- compreensão dos territórios, controle
preendê-los diante de duas tradições dos homens e afirmação e defesa des-
historiográficas pujantes na primeira ses domínios. Esta comunicação inte-
metade daquele século e frequente- gra pesquisa de pós-doutorado mais
mente tratadas de forma independen- ampla, que trata das formas como reli-
te: uma primeira, ligada a uma pers- giosos e religiosas de diferentes ordens
pectiva confessional da história e co- e congregações enxergavam o processo
nectada com a produção de um discur- de expansão marítima, compreenden-
so histórico caro à Ordem de São Fran- do-o num plano de desdobramento da
cisco, e outra, alinhada com práticas vontade divina que os lançava ao en-
descritivo-narrativas preocupadas com contro de novas terras e novos povos –
a construção de conexões imperiais e, consequentemente, novos espaços
fundadas em interesses de conheci- para a divulgação evangélica. Por isso,
mento, domínio político e exploração também importa perceber, nos limites
comercial. Se fr. Manuel da Ilha escre- desse trabalho, como estes frades his-
ve a sua Narrativa da Custódia de Santo toriadores articularam, em seus escri-
Antonio do Brasil a partir de um impul- tos, argumentos que sustentassem as
so cronístico interno a sua própria or- prerrogativas de sua Ordem no traba-
dem religiosa, visível no esforço dos lho missionário desempenhado no
Ministros Gerais e Provinciais do início Brasil.
do século XVII em fomentar a fabrica-
116
CADERNO DE RESUMOS
Mundo era a peça geográfica que falta- volve um pensamento pioneiro. Este
va para completar o ideário da totali- anuncia em sua crônica que o Orbe Se-
dade do mundo. As instituições ecle- ráfico, Novo Brasílico (1761) modelou e
siásticas criaram seus discursos pró- continua a modelar o Brasil e o mundo.
prios: de crônicas a sermões, de cartas Domingos do Loreto Couto (1700-
a atividades evangelizadoras. No Im- 1757), em Desagravos do Brasil, Glórias
pério português, os letrados de proce- de Pernambuco (1757) destrincha a soci-
dências múltiplas, circulavam, viam, edade pernambucana à luz das criati-
escutavam, analisavam e escreviam vidades dos habitantes do Brasil. Frei
seus pontos de vista acerca das rela- Jaboatão vem despertando interesse
ções entre o Império português e as dos historiadores, e os resultados de
suas possessões de ultramar. Pesquisar pesquisas sobre este franciscano abri-
sobre os letrados nas sociedades colo- ram novas abordagens acerca do Brasil
niais implica reconhecer que estes in- colonial. O pensamento deste letrado
tegravam grupos de elite, pois a práti- está indissoluvelmente associado a
ca da escrita, edição e circulação de duas dimensões: a religião e a política.
textos eram resultados onerosos e de Já Domingos do Loreto Couto vem
muito trabalho, poucos conseguiram despertando interesse de alguns histo-
realizar tamanho empreendedorismo. riadores pelo fato de elencar os artífi-
Pernambuco tem uma história intelec- ces de um Brasil a partir das experiên-
tual que se caracteriza pela defesa de cias pernambucanas. Ambos, oriundos
um Brasil singular. Dois letrados se da “cultura franciscana”, eles nos reve-
destacam na construção de um ideal lam olhares distintos sobre o mesmo
local a ser investigado: Frei Antônio de objeto: o Império português e o Brasil.
Santa Maria Jaboatão (1695-1779), com Dois pensadores precursores da cons-
a sua crônica e seus sermões, desen- trução identitária do Brasil.
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
missionário em terras de colônia. Con- tugal. Nesse sentido, achamos por bem
forme Frei Antônio de Santa Maria fazer uma relação, mesmo que breve,
Jaboatão, em seu Novo Orbe Seráfico, das origens e conjuntura desse corpo
no ano de 1584 desembarcaram no lito- religioso franciscano que se forma em
ral de Pernambuco, na então cidade de Portugal na medida em que tais fatos
Olinda, o primeiro grupo de frades impactaram diretamente no trabalho
Franciscanos enviados pelo Convento missionário desenvolvido pelos frades
de Santo Antônio da Província de Por- nas possessões ultramarinas. Com base
tugal com o intuído de fundar a Cus- na historiografia que permeia o tema,
tódia de Santo Antônio do Brasil. Tal aliado a crônica do Frei Antônio de
fato demonstra o papel fundamental Santa Maria Jaboatão, emblemático
das ordens religiosas, sobretudo da intelectual e um dos principais porta-
Ordem Franciscana, no contexto colo- voz da Ordem no século XVIII, busca-
nial brasileiro, uma vez que estes eram remos destacar as atividades iniciais
responsáveis pela missionação e con- desenvolvidas pelos regulares no pro-
versão dos povos nativos. O segundo jeto missionário indígena na colônia
momento desta análise, visa desenvol- ultramarina, como também o ressal-
ver um esboço sobre a trajetória da tando da expansão e distribuição dos
Ordem Franciscana na região norte do conventos, além dos principais dilemas
Brasil Colonial, especificamente nas encarrados pelos frades na transição da
regiões referentes as Capitania de Per- Custódia para Província. Com base
nambuco e anexas, no período corres- nessa conjuntura, compreendemos que
pondente ao final do século XVI e de- o movimento missionário nas posses-
correr do século XVII, uma vez que sões ultramarinas teve um ritmo dire-
essa trajetória estava relacionada dire- tamente associado ao desenvolvimento
tamente a fundação Custódia de Santo econômico e social da colonização,
Antônio do Brasil subordinada a Pro- além de influenciar na formação cultu-
víncia Mãe de Santo Antônio de Por- ral da sociedade colonial.
Este trabalho analisa as atividades li- missionários nas ações junto às povoa-
gadas aos atos de catequizar, civilizar e ções que possuíssem igrejas ou capelas.
evangelizar os povos, de forma dife- Eles alcançavam, no máximo, a alma
rente daquela dos tempos dos primei- dos sertanejos. Os missionários tinham
ros jesuítas. Essa era a missão dos fra- uma expressão dramática, geradora de
des italianos, baseada na civilidade fortes emoções, de decisões intempes-
europeia. Os capuchinhos se encarre- tivas e generosidades imprevisíveis. As
garam de aprofundar o catecismo nas populações humildes rurais eram, por
comunidades, utilizando a religião pa- eles escolhidas, para serem alimenta-
ra evangelizar, visto que os leigos não das por uma cultura oral que represen-
tinham acesso a bíblia. As Missões dos tava a boa nova no sertão. Os capuchi-
capuchinhos substituíram esses antigos nhos permaneciam nas comunidades,
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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CADERNO DE RESUMOS
do para Lisboa onde trabalhou com os buscamos aqui realizar uma reflexão
assuntos referentes à Província Jesuíti- do motivo de Jorge Benci se considerar
ca do Brasil. Se hoje entender o que um estrangeiro, mesmo após estar
seria estrangeiro é um exercício relati- mais de 15 anos em terras Brasileiras, e
vamente simples, para à época moder- apresentando o que seria um diferen-
na, território, língua e sangue não eram cial de seu personagem perante seus
termos naturalmente agregados e o pares, diferença que molda todo o seu
que mais se adequava à ideia de nação projeto missionário de intervenção na
consistia em um pertencimento de ca- sociedade colonial.
ráter local/municipal. Sendo assim,
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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CADERNO DE RESUMOS
SIMPÓSIO TEMÁTICO 7
Dinâmicas processuais na justiça do Antigo Regime – ritos, práticas, querelas e
jurisdições coloniais (1530-1822)
SIMPÓSIO TEMÁTICO 8
Do colonial ao pós-colonial: perspectivas para ler os domínios portugueses na
África e no Oriente
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
uma topografia dessa presença prati- Subaltern Lives. Mas tal reconstituição
camente esquecida, ou seja, reconhecer pode lançar luz sobre práticas e pro-
os principais espaços em que tais po- cessos associados à expansão imperial
pulações indianas, malaias, cingalesas, portuguesa no Oriente, tais como a
chinesas viveram em Lisboa, os locais guerra, o cativeiro, o comércio, a es-
em que tais asiáticos conviveram com cravidão. Por fim, utilizamos a expres-
outros escravos (africanos, mouriscos) são “escravo asiático” apenas para
e livres. Enfim, espera-se desvelar suas aludir à origem de tais populações es-
redes de sociabilidade e seu cotidiano cravizadas, pois reconhecemos os de-
em terras lisboetas. Com base em do- safios de não adotarmos designações
cumentos da Inquisição e da Câmara genéricas, bem como de não projetar-
Eclesiástica de Lisboa, analiso frag- mos, retrospectivamente, formas de
mentos da trajetória de vida de asiáti- identificação forjadas no contexto da
cas e asiáticos escravizados que foram criação dos estados nacionais ou que
convertidos ao catolicismo e transpor- foram fabricadas pela literatura coloni-
tados para Lisboa. A reconstituição de al e orientalista, sendo mais profícuo
tais trajetórias de vida caracteriza-se reconhecer que tais populações escra-
pelo caráter fragmentário, em decor- vizadas –submetidas a diversos deslo-
rência da própria natureza dos arqui- camentos e à mudança de estatuto so-
vos, que, por sua vez, reverberam a cial – experimentaram diversas trans-
distribuição desigual de poder que vi- formações culturais e religio-
gorou nas sociedades coloniais, como sas/sectárias, tal como postulou In-
asseverou Clare Anderson, no livro drani Chaterjee.
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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CADERNO DE RESUMOS
Em Goa, região na costa sudoeste do grupo de mulheres. Elas, que eram es-
Sul da Ásia, canta-se e conta-se histó- tigmatizadas por seu ofício, casta, con-
rias de um tempo em que para partici- dição social, e, perante a sociedade co-
par de rituais, mulheres e homens hin- lonial, ainda mais por sua religião e
dus cruzavam para o outro lado do rio. aspectos de moral e sexualidade, dei-
Do outro lado do rio, saíam das terras xaram significativos registros nos pa-
dos portugueses, que detinham o po- péis e também nas memórias portu-
der colonial de Goa desde o início do guesas e goesas – como se verifica em
século XVI – domínio este que durou diversas fontes e na historiografia. Seja
até meados do século XX. A coloniza- por suas importâncias nos rituais de
ção portuguesa pressupôs não só a ob- passagens e casamentos, como expres-
tenção de lucros, mas também a conso- sos nos pedidos goeses a governantes
lidação de um poder político, e com portugueses no século XVIII, ou por
ele, um poder religioso sobre os nati- suas associações a certos homens, goe-
vos e nativas. Durante esse período, ses ou portugueses, hindus ou cristãos,
missionários europeus cristãos chega- que em alguns casos deram-nas poder
vam com o intuito de conversão da mesmo para financiar a construção
população local, em maioria hindu; leis templos hindus, as kalavant possuíram
e aparatos do Estado colonial visavam, uma trajetória particular e ainda assim
em conjunto com a Igreja, modificar entrelaçada em meio às disputas e con-
hábitos locais e propiciar favorecimen- tradições dentre o Império Português,
tos aos cristãos. Nesse processo, subal- a atravessar séculos e a atravessar os
ternizavam as goesas e goeses, princi- rios das fronteiras, nas noites goesas, a
palmente os hindus, e também, ainda desafiar leis e punições. Se a partir de
mais, algumas hindus: as bailadeiras, ou meados do século XVI a postura colo-
kalavant – que em concani, idioma na- nial portuguesa resolveu pela proibi-
tivo de Goa, significa artista. Por meio ção e alteração de diversos aspectos da
de documentação, em provisões, car- vida dos nativos e nativas, e nelas in-
tas, petições, relatos de governantes e clusas as atuações das kalavant, no sé-
clérigos destaca-se como se deu a per- culo XVIII, evidencia-se significantes
seguição a tais grupos, os conflitos ge- permanências. Essas continuidades
rados, e as ações e resistências desse denotam a diferença entre um projeto
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
SIMPÓSIO TEMÁTICO 9
Fronteiras e relações transfronteiriças na América colonial
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
A lo largo del siglo XVIII la ciudad de ciudades. En este sentido, una de las
Buenos Aires experimentó cambios y características más salientes de Buenos
transformaciones profundas que la Aires es su condición portuaria. El in-
conducen a un reposicionamiento en el tenso trabajo del puerto promovió el
territorios y a su jerarquización. Con- desarrollo de importantes vínculos. No
siderar su ubicación fronteriza es clave sólo se movieron mercancías, sino
para entender su desarrollo y los cam- también una cantidad importante de
bios que ocurren entre mediados del personas que transitaban y se instala-
siglo XVIII y comienzos del siglo XIX. ban en la ciudad, de forma más o me-
Su extraordinário desarrollo llevó a nos estable. En este contexto es donde
Buenos Aires a ser la capital del Vir- cobran sentido algunas categorías es-
reinato del Río de la Plata en el año pecíficas, que difícilmente pueden ser
1776. En este trabajo se abordará el es- comprendidas si nos restringimos ex-
tudio de las identidades y categorías clusivamente al ámbito de la ciudad de
sociales a través del análisis documen- Buenos Aires. Es necesario estudiar las
tal. ¿Cuáles son las categorías vigen- migraciones y las categorias identitari-
tes? ¿Qué fuentes se pueden utilizar as que se vuelven presentes a partir de
para su estudio? ¿Sobre qué criterios se ellas. La condición fronteriza de la ciu-
apoyó la construcción de las alterida- dad otorga a las categorias sociales
des en esta ciudad colonial? ¿De qué vigentes um carácter próprio que re-
manera se articularon las categorías de quiere el estúdio de los otros espacios
género, etnia, clase, y aún las modali- con los cuales se vionculaba la ciudad
dades de la esclavitud para la cons- para entender el funcionamento de las
trucción de alteridades y categorías mismas. Este es el caso de la categoría
especificas? Se trabajará identificando pardo, particularmente ambigua en el
las categorías vigentes y ubicándolas contexto rioplatense, pero con funcio-
en la trama de relaciones donde estas namiento que ha podido ser estudiado
cobran sentido. De esta manera, espa- más cabalmente en el espacio portu-
ñol, portugués, negro, esclavo, india, gués. De esta manera, en este trabajo se
china, entre otras, no pueden definirse propone una aproximación al estúdio
por sus características esenciales, sino de los vínculos de la ciudad de Buenos
en cuanto a sus relaciones. Estas relaci- Aires en el marco de una red portuaria
ones no quedan circunscriptas al ámbi- amplia, que incluía ciudades clave,
to de la ciudad, sino que es fundamen- como Montevideo y Río de Janeiro.
tal considerar los vínculos de la ciudad Esta presentación constituye uma pro-
con otros espacios. Estos actuaron de- puesta de análisis, que podrá ser am-
finiendo otros, nuevas alteridades. Es pliada en el futuro a través del desar-
necesario, por lo tanto, incluir las rela- rollo de la perspectiva comparativa
ciones de frontera de la ciudad (fronte- tomando los casos de las ciudades
ra sur y frontera norte), como así tam- mencionadas.
bién los vínculos estrechos con otras
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
Temos por objetivo investigar os as- tre os domínios das Coroas de Espanha
pectos referentes às experiências de e de Portugal. Ao Norte da América
defesa e militarização em duas áreas temos, o Macapá, uma região estrategi-
do Império Ultramarino Português: o camente importante para a Coroa de
Estado do Grão-Pará e o Centro-Sul da Portugal, espaço visto como área em
América, tentando detectar os aspectos constante perigo de ser anexada pela
convergentes que possam existir entre França. O comandante militar da Praça
as duas áreas em estudo, durante a do Macapá, Gama Lobo, em 1780, de-
segunda metade do século XVIII. A fine de maneira precisa a sua impor-
partir da análise comparativa preten- tância estratégica: “é a barreira mais
de-se observar a problemática situação considerável que se pode opor a inva-
militar do império ultramarino nas são do inimigo e em certo modo o ba-
fronteiras com as colônias espanhola e luarte desta Capitania. Uma Praça, que
francesa na América. Deteremos-nos provavelmente será a primeira a ter o
na Colônia do Sacramento e no Maca- inimigo sobre os braços sempre que o
pá. Assim, temos que a região meridi- Estado do Pará for atacado”. Ao de-
onal e mais especificamente a Colônia senvolver tal proposta, a intenção será
do Sacramento foi um dos principais a de construir uma perspectiva mais
focos de atenção da Coroa portuguesa ampla da política militar utilizada pela
na América, o nervo militar do Impé- Coroa Lusitana nas suas possessões
rio. Fundada, em 1680, nas margens do além-mar, procurando identificar o
Rio da Prata, desde então se tornou impacto desta nas duas diferentes
uma zona de intenso conflito devido à áreas de sua espacialidade.
indefinição dos limites territoriais en-
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CADERNO DE RESUMOS
ya eran evidentes las consecuencias del portuguesa habían causado serios tras-
“abandono” por parte de la corona, al tornos en términos de las cualidades
menos en términos de la protección jurisdiccionales de los dominios ama-
militar. No obstante, el viaje empren- zónicos. ¿Qué puede revelar este diario
dido por Girbal y Barcelo, es una de viaje acerca de los espacios misiona-
muestra muy interesante sobre aque- les abandonados? ¿De qué manera
llas consecuencias. Con esta comunica- pueden interpretarse los informes so-
ción pretendo analizar e interpretar los bre las fortificaciones portuguesas, las
diferentes rasgos que, desde la pers- expediciones de límites, las fundacio-
pectiva ambiental, misional, civil y mi- nes civiles y otros aspectos relevantes
litar, pueden inferirse de acuerdo a las sobre la vida en la frontera amazónica?
observaciones sobre el espacio amazó- ¿Constituía esta parte de la región
nico y las sociedades indígenas que lo amazónica un espacio valioso y defen-
habitaban, amén de establecer un ba- dible o, por el contrario, era una región
lance comparativo conforme al mo- marginal y fronteriza para la adminis-
mento finisecular en relación a las dé- tración española aun en 1791? Este tipo
cadas anteriores donde los problemas de interrogantes serán abordados en
por la ocupación territorial entre los esta comunicación del Simpósio Temá-
vasallos de las monarquías española y tico.
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
15 de setembro de 2016
O presente artigo analisa as expedições região platina frente às ações dos inva-
de conquista ibérica e tentativas de sores europeus. Para este propósito, foi
submeter os povos indígenas do Pan- realizado um levantamento bibliográ-
tanal ao domínio europeu no século fico sobre o tema, contido, sobretudo,
XVI. O objetivo do trabalho é contribu- em fontes primárias e secundárias,
ir para a compreensão da história dos como os relatos feitos por Ulrico Sch-
povos indígenas da região em um con- midl e Álvar Núñez Cabeza de Vaca, à
texto mais amplo, ligado à história da luz da etno-história.
143
VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
meiro princípio, sabe-se que, conforme mencionados, visto que o vínculo com
a literatura contemporânea (juristas, a nação e com o aldeamento missioná-
tratadistas, canonistas, entre outros), a rio de residência (na condição de ofici-
nobreza portuguesa era fracionada em al do mesmo) era sempre destacado
diversos graus, das quais a “nobreza pelas cartas patentes dos líderes indí-
da terra”, os “principais da terra” ou as genas, deve-se ao terceiro princípio
“mais importantes” famílias das diver- mencionado: o contexto constitutivo da
sas regiões do reino caracterizavam Amazônia portuguesa, isto é, as rela-
uma elite eminentemente local, isto é, ções transfronteiriças entre o estado
relacionada às instituições locais de português e as demais potências euro-
prestigio, comando e administração peias (especialmente os holandeses, os
(especialmente as câmaras municipais franceses e os espanhóis). Em síntese,
e as tropas de ordenanças) – diferente procuramos entender a institucionali-
de alguns graus de nobreza supra lo- zação da liderança indígena, ou seja, a
cais, isto é, que graduavam um indiví- legitimação da condição de chefe ga-
duo ou grupo em nível de todo o reino, rantida pelo estado monárquico portu-
ou seja, aquela nobreza definida por guês através da integração dessa lide-
títulos diversos concedidos pela mo- rança à estrutura burocrática do mes-
narquia (como, por exemplo, os cava- mo estado – estrutura definida por um
leiros de ordem militar). Quanto ao diploma legal (a patente) e por normas
segundo princípio mencionado, apesar de seleção específicas dos oficiais (as
das poucas informações existentes so- lideranças indígenas). Em outras pala-
bre as características sócio-políticas vras: a progressiva e gradual integra-
“tradicionais” das diversas nações ou ção do chefe e das sociedades indíge-
etnias que habitavam a região, sabe-se nas à burocracia do mundo português
que boa parte das comunidades indí- em diferentes conjunturas dos conflitos
genas da Amazônia, pelo menos aque- – entre portugueses, espanhóis, france-
las que vieram a ser aliadas dos lusos, ses e holandeses – que envolviam as
era caracterizada pela fluidez das iden- diversas comunidades indígenas da
tidades étnicas e da autoridade das região. Por ser progressivo e gradual,
lideranças (normalmente os chefes de como observaremos, essa integração
famílias). É a simbiose desses princí- das lideranças indígenas estava inti-
pios que pretendemos descrever. A mamente relacionada às conjunturas
presença marcante dos dois elementos citadas.
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
Este trabalho trata sobre o negro na livro “Relatos de Fronteiras: fontes pa-
Amazônia no século XVIII, mostrando ra a História da Amazônia séculos
como ele esteve inserido dentro da ló- XVIII e XIX” e no “Livro da visitação
gica colonial na região do Grão-Pará e do Santo Ofício da Inquisição ao Esta-
Maranhão, identificando as relações do do Grão-Pará”, além do sistema
existentes entre índios, escravos africa- database voyage. Foi um processo histó-
nos e colonizadores. Outro ponto im- rico de longa duração em que os ne-
portante abordado é com relação ao gros passaram por uma experiência de
processo de adaptação do negro ao exploração e pressão, mas que reagi-
sistema hierárquico colonial na Ama- ram, encontraram brechas dentro do
zônia e as formas de resistência que sistema colonial e se inseriram através
foram adotadas pelos negros para da resistência e adaptação à sociedade
afirmarem-se dentro do sistema, con- da Amazônia setecentista. Quanto ao
sidera-se aqui as fugas nas fronteiras recorte espacial, limito-me ao estudo
com a Guiana Francesa e as brechas da Capitania do Pará, região hoje cor-
forjadas dentro dos regramentos colo- respondente pelos atuais Estados do
niais. Para tanto, foram utilizados nes- Pará e Amapá e que integrava o Estado
sa pesquisa além das bibliografias exis- do Grão-Pará e Maranhão, que em
tentes, fontes primárias transcritas no 1751 passa a ter a cidade do Pará como
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
SIMPÓSIO TEMÁTICO 10
Elites, práticas e instituições nas monarquias ibéricas e seus domínios ultramarinos
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CADERNO DE RESUMOS
los virreyes, los primeros tenían facul- “servicios hechos a la Corona” pueden
tad de proponer una terna, el tiempo aportar a la discusión sobre el perfil de
de servicio sería de 5 años y los subde- la burocracia colonial. Entonces la vía
legados sólo podrían ser removidos tradicional era la terna hecha por el
por causa justificada. Justamente el intendente según las aptitudes (o las
análisis de los argumentos esgrimidos relaciones) de los candidatos. En el
por los subdelegados o aspirantes a caso de las suplicas que analizamos la
través de sus suplicas, el trazo de las demanda se realizaba directamente al
carreras vitales, de los méritos y otros Rey.
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
rência, se levantou elementos para ana- enquanto “pessoas mais nobres e prin-
lisar as práticas empregadas por esses cipais daquela cidade”.
indivíduos na afirmação do seu poder,
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
Esta comunicação busca fazer uma da Bahia colonial nem do uso do mor-
descrição da dinâmica de reprodução gadio como seu desdobramento imedi-
social colocada em prática pelos Pires ato. O que se pretende é a realização de
de Carvalho e Albuquerque, durante o uma análise embrionária de uma práti-
século XVIII. Decorrente de especifici- ca do modelo reprodutivo vincular
dades jurídicas, a reprodução social de enquanto comportamento de referên-
certas famílias em território do reino cia de uma família de comprovado pe-
enquadrou-se ao estatuto da nobreza, so político, econômico e social na Bahia
com todas as prerrogativas e privilé- colonial. Ações como o casamento e o
gios de um grupo social juridicamente destino celibatário refletiram um com-
definido. A impossibilidade de enqua- portamento estratégico na evolução do
dramento ao estatuto legal da nobreza processo de ascensão e consolidação
reinol, entretanto, não foi fator sufici- socioeconômica da família no interior
ente para impedir a vinculação dos da sociedade baiana colonial.
bens entre as famílias mais abastadas
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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CADERNO DE RESUMOS
cofre local de mais de 10% das receitas tes atingiam as propinas pagas aos ca-
anuais), vê-se que, na maioria dos ca- maristas e ao próprio ouvidor, embora
sos, os cortes incidiram sobre avulta- fossem esses os gastos que mais onera-
das doações feitas a instituições religi- vam as contas municipais, comprome-
osas, nem sempre locais, e ainda sobre tendo, em média, 30% da receita anual.
as obras públicas. Poucas vezes os cor-
Campanha da Princesa foi o nome da- Câmara da vila que passa a destinar
do a uma das últimas vilas mineiras um terço de seus rendimentos a um
criadas no século XVIII, em alusão di- donativo a herdeira do trono portu-
reta a monarquia portuguesa. A eleva- guês. Uma das estratégias pouco estu-
ção à vila do antigo arraial de Campa- dadas e que merece uma investigação
nha do Rio Verde deve ser entendida mais detida envolve a doação da terça
como parte de um movimento mais parte da arrecadação da vila de Cam-
amplo que se inseria no contexto das panha para “os alfinetes da princesa”.
transformações ocorridas em Minas A essa doação segue um curioso ato, o
Gerais na segunda metade do século da posse do senhorio da vila à princesa
XVIII, tanto em termos econômicos do Brasil. A posse do senhorio da vila
quanto políticos. O estabelecimento de de Campanha em 1806, fez com os ofi-
limites tanto internos quanto externos ciais da Câmara de São João del Rei se
e a expansão territorial em fins do sé- manifestassem preocupados com o
culo XVIII e inicio do século XIX na significado do senhorio e do alcance de
América portuguesa seguiu ritmos di- novas atribuições abertas para a vila de
ferentes, e Minas Gerais como região Campanha. Essa comunicação se pro-
estratégica do império português se põe a investigar essas ações da Câmara
inseria nesses movimentos territoriais. de Campanha, o auto de posse do se-
A ocupação do sul de Minas, assim nhorio da vila e doação da terça parte
como em outras regiões da capitania do rendimento de seus bens para a
onde o ouro não foi encontrado, ou Princesa do Brasil. Qual o significado
rapidamente se escasseou, se deu de político dessas ações no início do sécu-
forma mais lenta do que a percebida lo XIX? O que buscavam ou almejavam
nas áreas de mineração. A fronteira sul os oficiais da Câmara de Campanha?
da capitania era aberta ao trânsito dos Nesse período o papel fundamental na
paulistas e era área de litígio entre as resolução dos conflitos em relação a
capitanias de São Paulo e Minas Ge- posse do território e na consolidação
rais. Dessa forma o estabelecimento da do papel político da região é dos ofici-
vila de Campanha configurou-se como ais da Câmara de Campanha e de seu
recurso de organização administrativa, juiz de fora, Joaquim Carneiro de Mi-
mas também serviu como elemento randa e Costa, usando suas atribuições
poderoso de reafirmação da soberania para sobressair no cenário regional. A
portuguesa, endossado pelo Senado da posse do senhorio da vila da Campa-
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
nha à Princesa do Brasil serviu de al- vila mas que se configuram como inte-
guma forma aos interesses do Senado resses também mineiros numa pers-
da Câmara? Política, administração e pectiva mais ampla. Em face as trans-
justiça aparecem amalgamadas nas formações geopolíticas e rearranjos
diversas disputas entre a vila da Cam- econômicos que atingem o Brasil no
panha e a cabeça de comarca, São João inicio do século XIX, buscamos o sen-
del Rei, mas ao mesmo tempo frente a tido dessa reminiscência feudal e seu
capitania de São Paulo, representando contexto para a vila da Campanha da
dessa forma, os interesses próprios da Princesa.
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
extremo norte de Portugal, como apon- local. Alguns dos homens de negócio
tado para outras regiões brasileiras. As ocupavam cargos importantes na Fa-
origens sociais dos negociantes sacra- zenda Real, órgão autônomo, mas que
mentinos são na sua maioria bastante na Colônia do Sacramento estava su-
modestas, sendo que metade dos pais bordinado ao poder discricionário do
eram lavradores nas freguesias de ori- governador, diante da inexistência de
gem em Portugal, enquanto a outra uma Provedoria da Fazenda. Ficou
metade era quase toda formada por evidente também que muitos agentes
artífices ou por indivíduos dedicados a mercantis faziam parte de bandos ou
pequenos serviços. Os dados encon- parcialidades. Alguns dos comercian-
trados indicam a existência de pelo tes se destacariam no cenário local nas
menos 116 agentes mercantis atuantes décadas finais da praça mercantil,
na praça ao longo desses anos, dos aproveitando-se da proximidade do
quais praticamente dois terços (75) são governador da praça e dos cargos ocu-
denominados nas fontes como “ho- pados para supostamente praticar des-
mens de negócio”. Na segunda parte, caminhos ou atos ilícitos. Na quarta e
discuto o acesso de alguns membros última parte, procurei recuperar al-
do grupo aos mecanismos de acrescen- guns fragmentos das redes mercantis
tamento social existentes no mundo nas quais os comerciantes da Colônia
português de Antigo Regime, levando estiveram envolvidos. As informações
em conta as peculiaridades e limitações contidas nos registros de óbitos de es-
da Colônia do Sacramento. Pelo me- cravos nos trouxeram dados mais deta-
nos 22 comerciantes atuantes na Colô- lhados sobre seu envolvimento no co-
nia do Sacramento eram também fami- mércio negreiro, possibilitando conhe-
liares do Santo Ofício, habilitados tanto cer quem eram os traficantes locais e
na praça mercantil do rio da Prata, co- proprietários das remessas de escravos
mo também no Rio de Janeiro e Lisboa. vindas do Rio de Janeiro e Bahia. Essas
Um outro indicador importante de dis- redes mercantis eram particularmente
tinção social era o pertencimento às importantes no tráfico de escravos,
companhias de ordenança. As infor- sendo que o envolvimento direto dos
mações disponíveis para os comercian- homens de negócio e mercadores da
tes do Rio de Janeiro na primeira me- Colônia do Sacramento no tráfico ne-
tade do século XVIII, indicam uma for- greiro era expressivo. Foi possível
te correlação entre o „título‟ de homem identificar a presença de pelo menos 34
de negócio e o posto de capitão. Esta traficantes nos livros de óbitos de es-
correlação parece ser confirmada no cravos, ou seja, cerca de 30% da comu-
caso da Colônia do Sacramento, pois nidade mercantil atuante na praça. En-
28 dos 43 homens ligados à atividade tre 1735 e 1752, pelo menos 250 cativos
mercantil ostentavam patentes de ofi- que faleceram na Colônia foram objeto
ciais de ordenanças tinham patente de de negociação entre interessados do
capitão. Na terceira parte abordo o en- Rio e da Bahia e moradores e trafican-
volvimento dos comerciantes sacra- tes da praça platina.
mentinos na estrutura administrativa
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A presente proposta tem por tema ge- 1753), Felisberto Caldeira Brant. A atu-
ral o arrematante do terceiro contrato ação dos contratadores tem sido alvo
de diamantes do Serro Frio (1749- de atenção cada vez mais constante de
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SIMPÓSIO TEMÁTICO 11
Relações de poder, redes sociais e circulação no tempo dos Felipes (1580-1640)
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Angola, as disputas entre os agentes principal produto pago pelos sobas aos
coloniais giravam em torno das rela- portugueses era o escravo, que alimen-
ções de vassalagem sobre os chefes tava o tráfico no Atlântico. Os jesuítas
africanos, denominados sobas, que de Angola, articulados com os do Bra-
pagavam seus tributos em escravos sil, resistiram às determinações do go-
que alimentavam o tráfico atlântico. vernador D. Francisco de Almeida, que
Logo após a criação dos asientos de es- foi preso, enviado de volta à Lisboa, e
cravos naquela conquista e da morte substituído por seu irmão, D. Jerônimo
do capitão-donatário Paulo Dias de de Almeida, que acatou a posição dos
Novais, a Coroa determinou a institui- conquistadores e jesuítas, defendidas
ção do governo-geral. A principal, e em um memorial pelo padre Baltasar
mais polêmica, medida era o fim dos Barreira. Nesse fim de século, os deba-
senhorios, ou amos, dos conquistado- tes sobre o direito de domínio e a guer-
res e jesuítas sobre os sobas, que passa- ra justa dos europeus sobre os espaços
riam à vassalagem direta a Felipe II. e povos ultramarinos deslocavam-se
Na mesma época, Claudio Aquaviva, da América para África, o principal
geral da Companhia de Jesus, instruía autor a tratar esta problemática foi o
que os jesuítas não tivessem, compras- jesuíta Luis de Molina. Poucos anos
sem ou vendessem escravos em Ango- depois, na sequência da visitação do
la ou Brasil. No Brasil, a chegada dos Brasil, a Inquisição chegou à África
jesuítas esteve associada a instituição Centro-Ocidental, estabelecida em Lu-
do governo-geral, portanto, a consti- anda e conduzida pelo padre jesuíta
tuição de um aparato político- Jorge Pereira. Por meio da análise des-
administrativo, que procurava subor- se documento, e em diálogo com a his-
dinar os poderes coloniais à Coroa, era toriografia, procuraremos esclarecer as
fortalecida pela presença dos inacia- seguintes perguntas: de que forma a
nos, que denunciavam os abusos co- Inquisição interferiu nas relações de
metidos pelos moradores em relação vassalagem sobre os sobas e no comér-
aos indígenas. O domínio sobre os in- cio de escravos? E como se relacionou
dígenas estava na base da definição com a política régia, as orientações do
dos poderes políticos no ultramar. Em geral da Companhia e as forças sociais
Angola, no entanto, os jesuítas, lidera- constituídas no Atlântico? Dos proces-
dos por Baltasar Barreira, foram alia- sos decorrentes dessa visitação, desta-
dos dos conquistadores, sob o coman- caremos o do primeiro ouvidor geral
do de Paulo Dias. Apropriando-se das de Angola, Duarte Nunes Nogueira,
relações de vassalagem pré-existentes acusado de heresia, que também foi
no Ndongo, Congo etc., os conquista- processado pela visitação da Bahia. E o
dores e jesuítas se tornaram amos, ou do pombeiro Aires Fernandes, de al-
senhores, dos chefes africanos, os so- cunha o Dinga Dinga, amigo de régu-
bas. Essa relação de vassalagem se as- los e “feiticeiros” do Ndongo e do
sentava no apoio militar, no comércio Congo.
preferencial e na cristianização, e o
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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CADERNO DE RESUMOS
disto para sua Fazenda Real. O rei fiscalização de terras no Estado do Bra-
mencionou a denúncia que recebeu sil: o Auto de Repartição das Terras do
sobre o caso dos padres da Companhia Rio Grande de 1614. Nele consta a re-
de Jesus que se estabeleceram na capi- lação de todas as sesmarias doadas na
tania desde os primeiros anos da con- capitania desde 1600 com informações
quista e acumularam 10 léguas de terra como o nome dos sesmeiros, autorida-
para manter, supostamente, dois cur- des que doaram as sesmarias, localiza-
rais de gado. A segunda parte da de- ção das terras, existência de escravos e
núncia diz respeito ás terras dos filhos os principais produtos cultivados pelo
do capitão mor Jerônimo de Albuquer- sesmeiro. Este estudo permite apontar
que que também possuíam grandes as características do processo de colo-
extensões de terra, mas de acordo com nização como o modo de ocupação das
a denúncia, não cultivavam a terra. terras, o estabelecimento de uma soci-
Assim, ordenou a divisão de todas as edade colonial em formação em um
terras daqueles que não cumpriam espaço que precisava ser ocupado para
com a obrigação do cultivo entre aque- garantir o domínio da Coroa e contri-
les que tinham cabedal para cultivá- bui para uma análise da conjuntura do
las. Essa ordem resultou na elaboração Período Filipino inserindo a capitania
do documento com o maior número de do Rio Grande nas discussões sobre o
informações sobre os primeiros anos tema.
da capitania e um dos primeiros sobre
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
rei e o Reyno junto en Cortes, que esta- nhar os juros vendidos sobre o patri-
belecia extensas prerrogativas fiscais e mônio real, com intuito de gerar saldo
administrativas para as cidades. Além positivo na hacienda real. O restante,
disso, incluía a liberação de cédulas 425 contos, deveria ser utilizado para
reais que reforçavam o direito das ci- aumentar e fortalecer o sistema de de-
dades, caso a cobrança infringisse a fesa do reino, definindo os valores des-
liberdade e privilégios de outros gru- tinados à artilharia, infantaria e com-
pos, como a nobreza e o clero. Esta di- pra de cavalos. Desse modo, os procu-
nâmica contratual inaugurada pelos radores das Cortes, especialmente da
millones caracterizou as relações entre a cidade de Burgos, identificaram os ma-
monarquia e as Cortes castelhanas até les da monarquia no emprego do sis-
o século XVII. Um dos momentos mais tema de asientos e contratos para arre-
significativos deste processo é aprova- cadar dinheiro. À maneira dos arbitris-
ção, pelas Cortes, do projeto dos 500 tas, procuravam identificar os males da
contos. Em 1596, os ingleses atacaram e Monarquia Hispânica e apontar as so-
saquearam Cádiz e, no mesmo ano, luções para a crise financeira. Por outro
Felipe II decretou a bancarrota. Alar- lado, ao insistirem em investir no sis-
mados por esta situação, os procurado- tema de defesa do reino castelhano, os
res iniciaram a discussão de um proje- procuradores reforçavam a postura
to para ajudar a Coroa, denominado de assumida em 1592, quando se recusa-
500 contos. Diferentemente dos millo- ram a financiar a guerra no exterior. O
nes, aquele significaria uma interven- argumento que utilizaram foi que a
ção direta das Cortes nos negócios da guerra deveria ser defensiva e não
monarquia, ao estipular quais usos ofensiva. Desse modo, invocavam o
deveriam ser dados ao dinheiro. As argumento da razão de Estado, uma
cidades ficariam encarregadas de efe- vez que a conservação e segurança de
tuar um empréstimo geral, totalizando Castela deveriam vir em primeiro lu-
o valor de 500 contos, dos quais 75 se- gar. Afinal, uma razão de Estado caste-
riam concedidos ao rei para desempe- lhana deveria prevalecer.
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
Europa. Por fim, no plano das identi- em 1624, que culminaria no fim da
dades, vemos a complicada questão da União com a Guerra de Restauração
União das Coroas, já bastante esgotada portuguesa em 1640.
O tema clássico da presença neerlande- mas que, em seu conjunto, erigem uma
sa no Brasil (1624-1654) tem sido abor- representação do conflito em alguns
dado pela historiografia predominan- pontos peculiar: as relações de sucesso.
temente a partir de “memórias” e “his- Presentes na cultura escrita ibérica
tórias” escritas no século XVII, como as desde meados do século XVI e consi-
Memorias diarias de la guerra del Brasil, derados precursoras do periodismo a
de Duarte de Albuquerque Coelho se consolidar no século XVIII, tais pan-
(Madri, 1654), O Valeroso Lucideno, de fletos circulavam largamente nas cida-
frei Manuel Calado (Lisboa, 1648) e a des ibéricas e mesmo no ultramar, ma-
Nova Lusitânia, de Francisco de Brito nuscritos ou impressos, abordando
Freyre (Lisboa, 1675). A partir dessas e uma gama enorme de temas ou “su-
outras obras, legou-se para a historio- cessos”: festas, bodas, catástrofes, nau-
grafia dos séculos seguintes, até a atua- frágios, batalhas, visitas de autorida-
lidade, um panteão de heróis e uma des, etc. Estampadas com simplicidade
sequência de episódios marcantes da- e vendidas a baixo custo, as relações de
quela guerra, que tradicionalmente a sucesso atingiam largo público na Eu-
caracterizam e dão forma à narrativa ropa de Seiscentos, inclusive entre os
que hoje conhecemos: as figuras sim- não alfabetizados, por meio da “leitura
bólicas de Fernandes Vieira, Negreiros, em voz alta”. No caso do conflito em
Camarão e Henrique Dias, depois fei- análise, desde a recuperação de Salva-
tos símbolos da união nacional; as vitó- dor, em 1625, até a rendição do Recife,
rias nas Tabocas, em Casa Forte, nos em 1654, as lutas contra os flamengos
Guararapes, recontadas como glórias, no norte do Brasil são assunto intermi-
ou portuguesas, ou de uma “consciên- tente de relações de sucesso escritas na
cia brasileira” nascente. Conquanto, América ou na Península Ibérica, mui-
desde o século XIX, tenha se valido de tas das quais, com a ajuda de patroci-
relatórios militares, cartas, listas e ou- nadores poderosos, alcançam as casas
tras tipologias documentais, a historio- tipográficas. Sua produção responde às
grafia segue se valendo daquelas obras ambições políticas dos partidos envol-
seiscentistas como fontes para o “tem- vidos na guerra e interessados na vei-
po dos flamengos”, muitas vezes, aliás, culação de versões favoráveis dos
sem a devida problematização quanto eventos e na visibilização ampla e
aos interesses que atravessam nessas imediata propiciada pelo gênero das
Histórias e orientam suas redações. No relações. Tais folhetos, criando solu-
entanto, no próprio curso do conflito ções originais para o problema de
lusoneerlandês, a guerra foi tema de transposição da guerra em narrativa,
um conjunto de papéis não apenas informariam mais tarde as Histórias da
pouco explorados pela historiografia, “Guerra de Pernambuco”, integrados a
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CADERNO DE RESUMOS
Nesta apresentação pretende-se discu- nistrador das minas de São Paulo, Be-
tir a atuação da família Sá na articula- nevides espelha em sua biografia mui-
ção de espaços coloniais luso- tos dos caminhos, intercâmbios e cone-
castelhanos durante a Monarquia His- xões possíveis no amplo território
pânica. Ressalta-se, sobretudo, a traje- compreendido pelas capitanias do sul
tória de Salvador Correia de Sá e Be- do Brasil e das Províncias do Rio da
nevides (1602-1688), herdeiro, ele pró- Prata, Tucumã e Paraguai. Ele deve ser
prio, de redes e conexões construídas visto como um personagem do império
por seu pai e avô. Filho de castelhana, dos Felipes que soube explorar, em
casado com criolla, capitão de entrada terras americanas, as possibilidades
no Paraguai, encomendero em Tucumã, abertas pelas confusas jurisdições re-
nomeado almirante em Buenos Aires, sultantes da união das coroas ibéricas
governador do Rio de Janeiro, e admi- (1580-1640).
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refletiram sobre a vida das mulheres gênero para a abordagem da fonte jus-
no Brasil Colonial, dando forma a uma tifica-se por tratar-se de um documen-
série de relações sociais, sobretudo as to que se refere ao comportamento so-
familiares, conforme sua aceitação, ne- cial ideal buscado em homens e mu-
gação e (re) apropriação, a pesquisa lheres, que, por sua vez, vincula a con-
utilizará como metodologia uma leitu- cessão de direitos e proteção jurídica às
ra da fonte feita a contrapelo em uma mulheres mediante submissão a estas
análise interdisciplinar entre história, regras, visto que as chamadas prostitu-
gênero e direitos, compreendendo as tas, concubinas e amásias não são con-
leis não como um corpo coerente de templadas por ele, somente nos artigos
regras, mas como um campo onde se que tratam das penas a elas impostas.
instauram batalhas entre diversos ato- Dessa forma, será utilizada uma análi-
res sociais por suas concepções de legi- se que evidencie aspectos relacionais
timidades e justiças, e as contribuições entre homens e mulheres, compreen-
de Thompson para pensar os relatos de dendo que nenhum deles pode ser en-
experiência histórica dos ditos excluí- tendido em separado.
dos da história “oficial”. O recorte de
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CADERNO DE RESUMOS
SIMPÓSIO TEMÁTICO 12
Impérios Ibéricos no Antigo Regime: política, sociedade e cultura
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Este artigo analisa a governança local dos de forma mínima. Para isto, foram
da capitania do Rio Grande, por meio percebidos os homens bons desta capi-
da câmara da cidade do Natal, entre os tania periférica, traçando um perfil
anos 1720-1759, ao se traçar perfis ca- desta nobreza camarária, assim como as
marários dos homens bons que compu- redes clientelares estabelecidas por
seram essa instituição no período ex- estes. Foram percebidas as patentes de
plicitado. O recorte temporal explica-se ordenanças e as mercês sesmariais re-
pelo contexto da capitania do Rio cebidas, as estratégias de ascensão na
Grande. O ano de 1720 caracteriza-se própria estrutura administrativa cama-
por ser um marco, pois a partir desta rária e na hierarquia das ordenanças, e
data a chamada Guerra dos Bárbaros já também a naturalidade desses homens
era entendida como finalizada, e o pro- bons. Por meio disto, foi possível com-
cesso de territorialização nos sertões a por redes clientelares traçadas por es-
oeste da capitania teriam sido efetiva- ses oficiais camarários, nas quais a fa-
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espacial, distintos. Desta forma, as pes- signação dos postos de governo, en-
soas que seriam escolhidas para go- quanto naquelas os governadores eram
vernar deviam seguir um critério que capitães-generais e eram denominados
correspondesse às demandas dos luga- de fato governadores, nestas eles são
res os quais estavam sendo designa- designados simplesmente como capi-
das. Uma espacialidade de maior im- tães-mores. Mas, e com relação às capi-
portância, exigiria, naturalmente, pes- tanias consideradas subordinadas,
soas de maior qualidade social, assim existia alguma diferença significativa
como uma conquista que estivesse en- entre elas? Nesse sentido, o estudo das
volvida por muitos conflitos, deman- nomeações de governadores para as
daria uma experiência militar significa- conquistas ultramarinas, principalmen-
tiva e vasta. No entanto, não se pode te por meio das consultas do Conselho
afirmar que existiam critérios univer- Ultramarino sobre isso, é uma maneira
sais que sempre eram utilizados e acei- de procurar entender não apenas o
tos no processo de escolha de um go- sistema de escolha e de distribuição de
vernador. As nomeações precisam ser pessoas pelo Império, mas também
contextualizadas espacialmente e tem- uma forma de entender como a Coroa
poralmente, assim como também é ne- e suas instituições concelhias, enxerga-
cessário problematizar os sujeitos en- vam suas conquistas em termos de im-
volvidos nesse processo, desde os que portância e suas demandas em termos
pretendiam assumir um posto de go- de necessidade governativa. Dessa
verno, até os que decidiam ou aconse- forma, esse trabalho pretende analisar
lhavam a nomeação. Pensando o caso as consultas sobre a nomeação de pes-
da América portuguesa, pela discussão soas para o posto de capitão-mor do
historiográfica é sabido que o seu terri- Rio Grande e do Ceará entre os anos
tório era dividido entre capitanias de 1666 até 1759, objetivando identifi-
principais e capitanias subordinadas. car o perfil desses opositores e analisar
Essa distinção espacial implica em hie- os critérios de escolha adotados pelo
rarquias que terminavam refletindo no conselho. Além disso, pretende-se pro-
perfil daqueles que governavam essas blematizar se a condição de anexa à
capitanias. Governadores de Pernam- Pernambuco, reflete em alguma mu-
buco ou do Rio de Janeiro seriam pes- dança nessa estrutura, tendo em vista
soas de qualidade social e com experi- que o Ceará foi anexado em 1656 en-
ências de comando militar superiores quanto o Rio Grande apenas em 1701.
aos governadores do Rio Grande ou do Desta forma será possível comparar
Ceará, por exemplo. Essa hierarquia se essas duas capitanias enquanto uma
evidenciava também pela própria de- era anexa à Pernambuco e outra não.
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CADERNO DE RESUMOS
portante para a melhoria das condições sições sociais na Baía de Todos os San-
econômicas da Coroa nos tempos de tos) e as querelas movidas pelos mes-
Dom João III. Uma de suas medidas mos; até que medida as terras de Ataí-
para promover o saneamento do erário de beneficiariam indivíduos estabele-
régio era o incentivo a colonização das cidos no Brasil, pertencentes a sua rede
possessões lusas na América, daí o de clientela; e como o proveito desses
mesmo ser o principal idealizador das espaços respondiam as demandas da
capitanias hereditárias brasileiras e do colonização no período. As fontes con-
regimento que estabelecia o governo sultadas provêm de diversos tipos do-
geral em 1549. Todavia, o primeiro cumentais distintos: desde documentos
Conde vislumbrou para si recursos da Casa de Castanheira, passando por
provindos da colônia, solicitando ter- provisões reais, cartas de sesmaria, de
ras na Baía de Todos os Santos, princi- doação e foral da capitania de Itaparica
pal núcleo da colonização do Brasil. As até o relato de cronistas da época e dos
posses em questão eram as terras em jesuítas. A análise dessas fontes será
que se estabeleceram Garcia D‟Ávila aliada à leitura de textos da historio-
(criado de seu primo Tomé de Souza) grafia recente que cuida da discussão
em Tatuapara (região ao norte de Sal- sobre a política e sociedade em Portu-
vador), as ilhas de Itaparica e Tama- gal e em suas colônias no além-mar. O
randiva (que foram convertidas de recorte temporal da pesquisa será de
sesmaria à capitania em 1556) e uma 1552, ano da primeira doação recebida,
sesmaria aonde hoje se localiza o bair- qual seja as ilhas de Itaparica e Tama-
ro do Rio Vermelho na capital baiana. randiva e as terras do Rio Vermelho,
Porém, nem o primeiro Conde, nem até o ano de 1627, ano em que se con-
seus sucessores foram à Bahia para feccionou uma lista com o nome dos
aproveitar pessoalmente as terras rece- foreiros das terras dos Ataídes no Bra-
bidas. Todas estas seriam usadas por sil. Esse período abarcará o período do
outros mediante o aforamento, ou seja, primeiro Conde e dos seus três primei-
um contrato enfitêutico em que o pro- ros sucessores que administraram o
prietário do domínio formal da terra morgado instituído pela mãe de Antó-
concede o domínio útil a outro por nio de Ataíde, Dona Violante de Távo-
meio do pagamento de um foro anual. ra. Dessa forma, esta comunicação pre-
Esta comunicação, portanto, pretende tende chamar a atenção para a necessi-
discutir o uso das terras da Casa de dade de um aprofundamento maior de
Castanheira no Brasil, privilegiando, estudos sobre o interesse da alta no-
nesse debate, entender como se deu o breza portuguesa em posses no Brasil
aproveitamento das terras em tela; durante os séculos XVI e XVII e sobre
quais eram os interesses de alguns se- os mecanismos que esta utilizava para
tores sociais por estas (jesuítas, Câmara a manutenção, à distância, de suas ter-
de Salvador e colonos de diversas po- ras na colônia.
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
Este trabalho tem como enfoque a go- de recursos materiais (barcas, manti-
vernação de Afonso Furtado às Entra- mentos, ferramentas, munições, etc.) e
das de conquista dos “bárbaros” no humanos (mão-de-obra, soldados),
Recôncavo baiano no período de 1671- bem como pessoas de diferentes condi-
1675. Procuramos identificar suas ções socioeconômicas que estivessem
ações e estratégias bem como os recur- aptas a cooperar seja com suas experi-
sos materiais e pessoas que auxiliaram ências e conhecimento nas Entradas,
na condução do empreendimento. As todas elas formando/fortalecendo re-
conexões estabelecidas com os mora- lações clientelares ao governador me-
dores, os poderes locais e os oficiais diante a política de mercês. Desse mo-
nos permitem pensar que a economia do, a comunicação arrolada no período
de mercês tinha um papel preponde- da conquista dos “bárbaros”, não se
rante nessas relações. As recompensas tratava de meros relacionamentos de
distribuídas pelo governador aos par- amizade, mas da organização sistemá-
ticipantes das Entradas figuravam co- tica de recursos diferenciados por meio
mo uma espécie de legitimação social, da ação e de estratégias político-
reconhecimento real e ascensão simbó- econômicas acionadas em diferentes
lica de homens locais. Tal observação, escalas sociais e espaciais. Trata-se,
entretanto, é um mediato do que pro- portanto, da estruturação de uma rede
pusemos discutir neste capítulo. A in- clientelar fundada na possibilidade de
terlocução estabelecida no decorrer das recebimento de mercês, ao cooperar
Entradas entre o Governador geral e os com a organização e realização das
participantes delas, nos permitiu ado- Entradas. Contudo, mais importante é
tar uma metodologia analítica capaz de a constatação da importância da rede
ultrapassar a produção de um conhe- em termos do fato de que se constituiu
cimento mais estático do modo de ser enquanto rede de comunicação, isso
dos diversos grupos sociais que auxili- porque comunicação gerava informa-
aram o governador. Ao reconstituir, ção, mecanismo poderoso como fonte
mesmo que parcialmente, as trajetórias de poder em qualquer espaço social de
administrativas dos envolvidos nas qualquer época. Utilizamos os Docu-
expedições, identificamos uma intensa mentos Históricos da Biblioteca Nacio-
circulação entre distintos espaços e nal que contêm uma sequência de car-
funções na colônia. Tal constatação tas emitidas no governo de Afonso
permite-nos pensar numa rede respon- Furtado relacionadas às expedições
sável por aproximar indivíduos oriun- organizadas por ele contra os gentios
dos de diferentes regiões até mesmo do “bárbaros”. Tais correspondências nos
Império português e de distinta origem permitiram perceber as decisões e es-
social. Uma rede caracterizada por um tratégias adotadas bem como os indi-
conjunto de relações interpessoais en- víduos acionados para o episódio da
tre governador e as autoridades locais conquista. Também utilizamos algu-
como também a gente comum, que mas correspondências publicadas no
podiam ajudá-lo com o fornecimento Projeto Resgate – Barão do Rio Branco,
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CADERNO DE RESUMOS
Nos últimos anos os estudos sobre a rio manter uma comunicação relativa-
monarquia pluricontinental portuguesa mente frequente, a fim de viabilizar o
apresentaram uma importante inova- intercâmbio de informações, a consulta
ção: a análise da comunicação política de posições políticas e a nomeação ofi-
entre a coroa e as conquistas dispersas ciais para as mais diversas localidades.
pela América, África e Ásia. O estabe- Neste sentido, analisaremos os circui-
lecimento e o reforço de vínculos polí- tos e os fluxos de comunicação no inte-
ticos, bem como a circulação de infor- rior do Estado do Brasil, bem como os
mações, pessoas e idéias foram pontos interlocutores do governo-geral e os
de partida para análises que apontam temas abordados nas correspondên-
para um horizonte de relações políticas cias. Isso nos permite identificar e en-
complexas. Esse esforço de pesquisa tender o funcionamento de uma parte
buscou problematizar e questionar in- fundamental do sistema político em
terpretações clássicas, que minimiza- vigor na América portuguesa. Desta
vam a participação e a importância dos maneira, nossa análise busca compre-
súditos na definição das políticas da ender e problematizar como a gover-
coroa portuguesa. Estes problemas de nação do Estado do Brasil englobava a
pesquisa também motivam a presente participação política dos súditos das
analise. Porém, direcionamos esses mais diversas localidades, assim como
questionamentos para uma escala es- indicar como a mediação e o processo
pacial menor: o Estado do Brasil. Deste consultivo possibilitavam a construção
modo poderemos compreender o fun- e efetivação de meios de governar.
cionamento das dinâmicas internas da Buscamos ressaltar as dificuldades que
governação, observando sobretudo, as a conjuntura política impôs a organiza-
relações existentes entre o governo- ção dessa atividade, sobretudo pelas
geral e as capitanias na América-lusa. alterações introduzidas a partir da rup-
É preciso lembrar que o governo-geral tura de relações com a monarquia es-
do Estado do Brasil era responsável panhola e pela guerra contra os holan-
pela gestão de um imenso território, deses nas capitanias do Norte. Nossa
que em meados do século XVII com- análise também abordará de modo
preendia as regiões que estavam entre quantitativo a questão dos provimen-
as capitanias no Norte (Pernambuco, tos de ofícios realizados pelos gover-
Paraíba, Rio Grande e Siará Grande) e nadores-gerais, uma vez que este era
as capitanias do Sul (Espírito Santo, outro importante pilar da governação.
São Vicente e Rio de Janeiro). Para go- Deste modo poderemos identificar e
vernar essa vasta extensão era necessá- compreender a complexidade dos limi-
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
O governo do Estado da Índia se carac- tanto por europeus, quanto por locais,
terizava por uma grande complexida- eram algumas das questões. A tudo
de: guerra, paz, reinos vizinhos, alian- isso se somava o momento de carestia
ças, rivalidades, invasões europeias, econômica proporcionado pela queda
longas distâncias, falta de instruções, das receitas e aumento das despesas
excesso de autonomia, conselho de que eram o resultado das invasões,
estado, etc. Naquele lugar tão longín- saques e diminuição das transações
quo do reino, fazia-se necessária uma comerciais. Governar se transformara
governação mais independente por em uma verdadeira odisseia. A ação
não se poder esperar a chegada de or- por meio da construção de uma rede
dens. Desse modo, a governança preci- de aliados era uma estratégia utilizada
sava dar-se ali mesmo no Índico. Para em todo o império e bem conhecida
homens inexperientes naquelas para- por esse personagem que já possuía
gens, como era o caso de D. Vasco de uma boa carreira a serviço da coroa
Mascarenhas - Conde de Óbidos (1605- portuguesa. Contudo, nem sempre era
1678), nomeado vice-rei do Estado da possível fazer uso desse recurso local-
Índia em 19 de janeiro de 1652, sem mente, e nesse caso, o inimigo interno
nunca ter pisado em qualquer parte era mais um elemento que o vice-rei
daquele território, governar aquelas precisaria enfrentar. Essa comunicação
terras era um desafio. Dentre as especi- tem como objetivo tratar dos desafios
ficidades daquele espaço constavam o encontrados pelos governadores do
relacionamento com os reinos vizi- Estado da Índia para conservar as suas
nhos, com quem a diplomacia se fazia fronteiras em meados do século XVII, a
necessária. Enviar embaixadas, presen- partir de uma análise do caso do Con-
tes, escolher com quem se aliar em ca- de de Óbidos. As ações de governo,
sos de crise de sucessão dinástica e re- adaptação ao jogo local, utilização das
sistir aos inúmeros ataques realizados prerrogativas concedidas pelo posto,
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CADERNO DE RESUMOS
serão alguns dos temas a serem anali- terminar um modo de governar típico?
sados a partir da documentação dos É fundamental não se perder de vista
Livros das Monções, entre outras fon- também as redes que esses persona-
tes, que tratavam não apenas da cor- gens possuíam no reino e avaliar a sua
respondência trocada entre o monarca capacidade de acioná-las naquelas par-
e o vice-rei, mas também entre esse e tes, atentando-se também para a sua
outros oficiais no Estado da Índia. Para efetividade. Essas são algumas das
além desses assuntos mais específicos questões a serem discutidas nesse es-
daquele espaço, surgem perguntas que tudo, que ao partir de um caso inicial-
relacionam a própria noção da gover- mente visto como fracassado, já que o
nação no império, como, por exemplo, Conde de Óbidos seria deposto depois
se o contexto condiciona a atuação go- de treze meses governo, pode trazer
vernativa? Ou seja, seriam necessários bons esclarecimentos não apenas sobre
especialistas para cada um dos territó- as práticas governativas no Estado da
rios do império, ou apenas a autorida- Índia, mas em todo o império portu-
de individual seria suficiente para de- guês.
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
15 de setembro de 2016
co, e que possuía, por sua vez, relação rada”, mas de sua reutilização sob uma
com a situação demográfica da vila de perspectiva da problematização do
Olinda. Com recursos escassos, os an- espaço. Mais especificamente, preten-
tigos habitantes desta localidade tive- de-se analisar os esforços da chamada
ram que se mudar para suas proprie- “nobreza da terra” de Olinda em re-
dades na zona de produção de açúcar, construir essa localidade, tendo em
afastadas do seu centro urbano e polí- vista a manutenção desta como o cen-
tico (MELLO, 2007, p. 373). Apesar tro da capitania. O período o analisado
destas circunstâncias, a vila de Olinda compreenderá os anos entre 1654 e
não deixou de ter importância para 1664, localizados entre a restauração
estes senhores, como será visto na aná- do domínio português sobre a capita-
lise que se segue. A expressão "Olinda nia de Pernambuco e o fim da do go-
restaurada" possui um significado polí- verno de Francisco de Brito Freire so-
tico preciso, o do retorno do domínio bre esta localidade. A sua administra-
português sobre a capitania de Per- ção marca um momento de alterações
nambuco. Não obstante o poder rees- decisivas para centralização política da
tabelecido, pode-se afirmar em uma vila de Olinda, no qual se percebe a
localidade "restaurada" de fato? Du- discussão sobre as qualidades necessá-
rante a segunda metade do século rias para a manutenção da capitalidade
XVII, a vila e, posteriormente, cidade da vila, ou a sua mudança. As fontes
de Olinda enfrentou momentos em que utilizadas são de natureza administra-
a sua posição como sede da capitania tiva, em sua maioria consultas do Con-
foi contestada por diferentes razões. selho Ultramarino e correspondências
Entre as questões discutidas, o espaço entre diferentes autoridades. Por meio
físico da localidade possuía valor no desta documentação é possível perce-
momento em que o tema da centrali- ber o sentido das ações dos agentes
dade emergia. O que se pretende cons- envolvidos e os mecanismos de dife-
truir nesse artigo não é uma contesta- renciação utilizados para a determina-
ção da validade desse termo “restau- ção da centralidade de uma capitania.
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
Com a chegada da frota de Diogo Flo- 1498 pela então regente D. Leonor, ir-
rez Baldéz, a qual carecia de cuidados, mã do Rei D. Manuel I. A Misericódia
se dá a fundação da Santa Casa da Mi- não era a única irmandade que presta-
sericódia do Rio de Janeiro em 1582. va ações caritativas no reino, mas rece-
Nesta cidade já se encontravam algum beu inúmeras concessões régias dentro
indivíduos que se intitulavam como e fora dele. Como a historiografia tem
irmãos da Misericódia, contudo o ato demonstrado, principalmente, os estu-
fundador foi a construção de um hos- dos portugueses a Misericórdia foi be-
pital de pau-a-pique à beira da praia neficiada através das mercês e decretos
para atender os tripulantes que careci- concedidos pelas Coroa portuguesa.
am de cuidados. Entretanto, a irman- Além disso, a irmandade surgiu no
dade da Misericódia não era um fenô- mesmo período da expansão ultrama-
meno local, estava presente nos pro- rina, sendo assim as políticas da mo-
longamentos ultramarinos portugue- narquia corroborou para expansão da
ses. Desta forma, a História desta ir- Misericórdia nos domínios ultramari-
mandade não começa no Rio de Janei- nos. Desta maneira, os privilégios ré-
ro, mas em Lisboa. A Irmandade de gios não se limitaram ao reino, mas
Nossa Senhora da Misericórdia de Lis- foram proporcionados as Misericórdias
boa foi fundada em 15 de janeiro de em outras áreas do Império, como na
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como “Rei dos negros” dos Palmares, Zumbi, em 1695, os combatentes pau-
aceitou a capitulação de sua gente em listas começaram a pedir o cumpri-
troca do fim das hostilidades e um lo- mento do acordo de 1687, especialmen-
cal pré-definido para assentarem suas te no que tocava à doação de sesmarias
aldeias, sendo, a partir de então, consi- aos combatentes nas terras conquista-
derado vassalo do rei português e prin- das aos negros fugitivos. O líder pau-
cipal de sua gente – solução muito pró- lista, Domingos Jorge Velho, e seus
xima a dos aldeamentos indígenas co- soldados tentaram por anos garantir
loniais. A partir desse tratado de paz seus direitos sobre as terras palmari-
foram doados os primeiros lotes de nas, frente à forte oposição local, per-
terra aos combatentes locais partici- sonificada por autoridades coloniais e
pantes nas incursões, expressamente sesmeiros que haviam recebido terras
justificados pela derrota infligida aos na região após 1678. Daí as disputas
palmarinos em 1678. No entanto, as fundiárias que pretendo discutir no
hostilidades recomeçam ainda na dé- capítulo. Do quadro apresentado neste
cada de 1680, e a guerra continuou nos trabalho, pretendo extrair algumas ob-
matos e serras de Pernambuco, tendo servações sobre a construção do orde-
agora Zumbi como principal liderança namento jurídico-territorial do século
quilombola. Em 1687, bandeirantes de XVIII, na América portuguesa, a partir
origem paulista foram chamados pelo do caso das sesmarias nos Palmares de
governo de Pernambuco para comba- Pernambuco. As fontes para tal serão,
ter os mocambos de Palmares. Em tro- neste texto, limitadas às doações de
ca de terras, títulos e tenças em dinhei- sesmarias nas terras dominadas pelos
ro, entraram em acordo para fazer a quilombolas e a documentação do
guerra, chegando aos Palmares por Conselho Ultramarino, maior instância
volta de 1693. A partir da morte de responsável pelo governo da colônia.
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SIMPÓSIO TEMÁTICO 13
Inquisição, clero e conexões religiosas no mundo ibérico e colonial
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
da de escravos constituíram-se excelen- ru, onde morava com seu senhor padre
tes mecanismos para se estudar o cená- concubina e buscou abrigo a 20 léguas
rio mais amplo da escravidão. Os pro- de distância, em São Luís. Depondo
cessos criminais e cíveis tornam-se vias longe de seu local de moradia e na
de acesso importantes ao interior das sede eclesiástica, Catarina detalhou a
fazendas e ao cotidiano das relações vida a dois do “casal”, informou que o
entre senhores e escravos. Tal impor- padre praticamente abandonara suas
tância fica mais evidente, sobretudo, funções sacerdotais para estar com ela;
nos estudos dedicados aos anos finais disse saber que a relação concubinária
da escravidão, principalmente após a era ilegítima, mas cedia aos apelos do
Lei do Ventre Livre (1871). Essa bre- padre “por ser uma miserável escra-
cha legal levou muitos cativos às ma- va”. Para se distanciar desse pecado,
lhas da justiça civil e mesmo à da cri- desejava ser vendida para outro se-
minal nos anos finais do Império. Con- nhor, mas não queria que o padre fosse
tudo, poucos são os estudos que anali- castigado, apenas que o tribunal in-
sam a ação desses escravos na esfera termediasse a sua venda. Queria um
da justiça eclesiástica e menor ainda é cativeiro “mais justo”. Esse estudo de
número de pesquisas dedicadas a esse caso, relacionado ao contexto mais
tema fora do eixo centro sul em perío- amplo da escravidão e das normatiza-
dos mais remotos e coloniais. O pre- ções morais eclesiásticas da época, abre
sente estudo analisa um caso ocorrido a oportunidade de análise dos campos
no ano de 1798. Nele a escrava Catari- de ação dos escravos, bem como de
na dos Santos, de nação cachéu, de- suas táticas de sobrevivência e trânsito
nunciou ao Tribunal Eclesiástico do na seara moral eclesiástica. Assim, as
Maranhão o padre Manoel Álvares, fontes eclesiásticas têm grandes méri-
seu senhor. As motivações de Catarina tos quanto ao alcance de parte da cha-
eram variadas. No processo falava-se mada “intimidade” de senhores e de
em violência e ciúmes numa relação de escravos imersos na vida colonial, em-
união conjugal conhecida então como bora de caráter institucional, permitem
concubinato. O processo eclesiástico recuperar aspectos interessantes das
nascia em razão do crime de concubi- vivências dos sujeitos implicados nas
nato de um padre. Importante notar, ações, visto que descortinam aspectos
contudo, que para abrir esse processo, de suas vidas portas a dentro.
Catarina fugiu da fazenda, em Itapecu-
O clero católico, tem duas grandes ra- da disciplina eclesiástica, este último
mificações. O clero regular, vinculado não profere votos, assumindo no ato
às ordens religiosas e o clero secular, da ordenação o compromisso de vive-
submetido diretamente a autoridade rem seu estado na castidade e em obe-
do bispo diocesano. Do ponto de vista diência ao seu bispo. Na prática, estes
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
Convento da Esperança de Beja que foi ta Pimenta, o qual afirmou que ”se
processada pelo Tribunal do Santo Ofí- achão muitas deficuldades para se te-
cio por suspeita de fingimento de san- rem por procedidos de Deos, e de bom
tidade, declarações “malsoantes” e mi- spiritu, e fundamentos para serẽ tidos
lagres considerados demasiado gran- por illusão do demonio”. Em suma,
des para uma simples freira. Esta car- objetiva-se com este estudo compreen-
melita calçada passou à posteridade der de que maneira se procurou cons-
como “a santa de Beja”, tendo, inclusi- truir a “imagem” de santidade de Ma-
ve, sua vida relatada em uma biografia riana da Purificação naquela obra im-
intitulada Fragmentos da Prodigiosa Vi- pressa através da comparação dos
da da […] Madre Mariana da Purificação eventos narrados nesta com os relatos
publicada alguns anos após a sua mor- processuais, bem como de seus “ca-
te, de autoria de Fr. Caetano do Ven- dernos”, escritos de próprio punho,
cimento. O fato de não ter sido punida nos quais narra os favores recebidos do
permitiu o sucesso do discurso cons- Divino Esposo. Esta comparação mos-
truído pelo autor, de que a religiosa foi tra que eventos potencialmente emba-
examinada e aprovada pelo Santo Ofí- raçosos, como o fato de ter tido algu-
cio, o qual não se sustenta quando se lê mas de suas visões condenadas pelo
as fontes processuais. Nestas, a própria Santo Ofício, foram re-escritos ou re-
religiosa admite que tais visões pode- movidos na obra impressa. As evidên-
riam ser fruto de ilusão demoníaca. cias apontam que tais modificações
Além disso, no parecer dos qualifica- atenderam aos interesses do mecenas,
dores do Tribunal, as “maravilhas” da o inquisidor João Duarte Ribeiro, so-
carmelita foram condenadas por una- brinho e afilhado da religiosa, o qual
nimidade. Fr. Caetano, no entanto, procurou divulgar a fama de santidade
narra uma outra versão nos seus Frag- da religiosa ao mesmo tempo em que
mentos: “ficou tão conhecida a virtude reafirmava o seu parentesco com a san-
e estabelicido o bom nome da nossa ta de Beja. Numa sociedade em que o
Veneravel, que publicamente disse o sangue maculado de judeus e hereges
Senhor Inquisidor, quando se despedio era hostilizado, não é de se espantar
das Religiosas do Convento: que o espi- que o sangue bento fosse exibido com
rito da M. Marianna fora purificado, como orgulho, adicionando ainda mais um
o ouro na fragoa, e que só Deos era o Autor grau de distinção numa sociedade es-
de tantas maravilhas”. Isto, todavia, pa- tribada no prestígio social.
rece pouco plausível quando lemos a
sentença deste inquisidor, João da Cos-
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nencia parda do rei, tratou de conven- o crédito, tão difícil para Portugal, se
ce-lo da importância dos cristãos- encerrara com as notícias da prisão. O
novos para o reino. Por sua vez, a In- jesuíta, da notícias da situação em duas
quisição, que havia elaborado um novo cartas enviadas ao Marques de Niza,
estatuto em medos de 1640, antes da embaixador em Paris. Acusado de ju-
Restauração, e ao longo da União Di- daizar,Duarte da Silva, seus genros, e
nástica manteve sua independência, dois filhos foram preso no momento
como analisa Ana Isabel Lópes-Salazar em que Portugal mais precisava de
Codes, faz jogo uma espécie de jogo crédito as vésperas do grande Con-
duplo com D. João, hora apoiando ho- gresso de Vestfália , onde as nações
ra agindo contra, mas sempre tendo europeias se reuniriam para selar a paz
em vista a manutenção de sua inde- e reorganizar as forças no continente.
pendência e autonomia. Desse modo Duarte da Silva ficou preso entre 1647
nosso olhar se volta para a instituição e 1652, quando saiu em auto-de-fé, de-
religiosa e sua política, focando na pois de ter sua pena original, deveria
prisão de Duarte da Silva. Principal ser relaxado ao braço secular, modifi-
financiador da coroa portuguesa, o cada. Logo, nessa comunicação pre-
cristão-novo Duarte da Silva, manti- tendemos analisar a relação de D. João
nha uma ampla rede comercial, que IV com a Inquisição, através da prisão
estendia-se pelo reino, pelas diferentes de seu mais importante financiador em
partes do Império e da Europa. Sua um dos momentos mais delicados da
prisão e de outros familiares em 1647 nova dinastia.
foi um golpe contra o rei e Vieira, pois
Este trabalho tem como objetivo apre- da prática da “Lei Judaica” na penínsu-
sentar uma experiência religiosa dentre la Ibérica, esteve presente na cosmovi-
as tantas possibilidades de crenças vi- são dos cristãos-novos, especificamen-
venciadas após a Diáspora e conversão te daqueles que não assimilaram de
dos judeus sefarditas na península Ibé- fato os preceitos da fé cristã. Para tal,
rica, no século XV. A pesquisa foi ela- recorreu-se às categorias de análise da
borada a partir dos fios deixados por História Cultural, fazendo uso da vari-
Antônio José da Silva, em quatro de ação de escalas de observação, do mé-
suas óperas, Vida de D. Quixote de La todo indiciário e da comparação dos
Mancha, Esopaida, ou Vida de Esopo, Os elementos presentes nos textos com os
Encantos de Medéia e Anfitrião, ou Júpi- aspectos mais gerais da mística judai-
ter, e Alcmena, apresentadas entre os ca. Desvenda-se com a pesquisa que,
anos de 1733 e 1736 no Teatro do Bair- para além da intenção primordial das
ro Alto em Lisboa. Enquanto produtos comédias do “Judeu”, de fazer rir à
culturais, os impressos que chegaram sociedade lisboeta através da sátira dos
até nós nos permite conjeturar que a costumes e das instituições, existe uma
Cabala, dimensão do judaísmo am- mensagem de resistência direcionada
plamente difundida após a proibição aos cristãos-novos judaizantes.
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um bom católico, poderia ser uma ten- cesso do cristão-novo Antonio da Fon-
tativa de não se expor, de tentar se ca- seca, morador de Sergipe Del Rey, que
muflar entre os outros. Observando foi preso em 1726 e saiu no auto de fé
tais questões é que analisaremos o pro- em 1732, acusado de judaísmo.
Propõe-se um estudo que tem como guir o caminho correto - da fé, da mo-
ponto de partida a história do Tribunal ral -, e para isso, nos embasamos nas
do Santo Ofício: sua fundação, organi- reflexões de pesquisadores que se de-
zação, funcionamento, aparatos re- bruçaram nas documentações inquisi-
pressivos, vítimas, atuação, semelhan- toriais, posto que pretendemos enten-
ça e disparidade entre as Inquisições, der através dos discursos de discipli-
em especial a espanhola, tal como do namento católicos, como a Inquisição
poder eclesiástico, para assim, tentar se fez tão presente e decisiva na histó-
entender a relação da Inquisição com a ria política, social e econômica da Co-
Colônia portuguesa – Brasil - que ain- lônia e consequentemente no cotidiano
da que sem uma sede local, viveu sob a dos luso-brasileiros. Procuramos en-
lente da Igreja Católica e os “tentácu- tender também, porquê mesmo passa-
los” do Tribunal da Santa Sé. Assim, dos tantos séculos após o fim da Inqui-
trata-se de um trabalho que objetiva sição, ainda hoje discutimos sobre as
refletir sobre a força, a influência da suas práticas de repressão e quais são
religião – Igreja Católica – e as ferra- os resquícios/legado deixado por esse
mentas de controle utilizadas para tribunal, que atravessam os séculos.
“convencer” a sociedade colonial a se-
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daquelas crenças em que haviam nas- ção sobre essas atitudes. Em geral,
cido, mas misturado à ritualística cató- chamavam estas práticas de “gentilis-
lica. Diante desta realidade, inquisido- mo”, expressão derivada da palavra
res e jesuítas produziram inúmeros “gentio”. A presente conferência pre-
textos onde registraram muitas vezes tende explorar alguns aspectos da con-
perplexidade e, outras vezes, tentaram solidação do termo tanto para jesuítas
interpretações para estabelecer uma quanto para inquisidores.
aproximação e obter alguma explica-
Este trabalho tem como objetivo anali- dos processos inquisitoriais movidos
sar a ação inquisitorial no Brasil colo- contra moradores do Nordeste açuca-
nial quinhentista, priorizando os sen- reiro durante o século XVI, propomos
tenciados a cumprirem o degredo nas observar quais foram os crimes que
Galés del Rei. Esta pena era considera- tiveram como punição este tipo de de-
da uma das mais severas entre as pu- gredo e demais informações proveni-
nições aplicadas pelo Tribunal do San- entes desta documentação.
to Ofício Português. Mediante a análise
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péis sociais voltados a homens e mu- lica vigente. Partindo de uma perspec-
lheres. No campo da teoria das rela- tiva conectada juntamente ao uso do
ções de gênero, trata-se de entender “gênero” como categoria analítica, ob-
como ambas as categorias, em especial, jetivamos analisar os discursos religio-
“mulheres”, é produzida e reprimida sos e jurídicos voltados a homens e
pelas estruturas de poder, o que justifi- mulheres, decodificar os sistemas de
ca nosso intuito de percorrer as litera- crenças e práticas emergentes na do-
turas jurídicas e religiosas do período. cumentação, perceber como o sobrena-
Ao mesmo tempo, a teoria em questão tural foi apropriado pelas mulheres
assume a assertiva de que as persona- para, então, testarmos a hipótese de
gens relacionadas à categoria, buscam que o acesso a esse universo por parte
espaços de emancipação. Em especial, da figura feminina se deu diante do
partindo do âmbito do Tribunal do interesse em se construir espaços de
Santo Ofício lusitano, investigaremos autonomia que, por vezes, se amplia-
trajetórias de mulheres que, por todo ram em uma fama pública, compondo,
século XVI, foram processadas por essa por sua vez, novas versões a respeito
instituição no âmbito das práticas cita- do discurso misógino vigente.
das, distanciando-se da ortodoxia cató-
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siva, dando conta não apenas de inú- Conselho Geral do Santo Ofício;
meros assuntos relativos aos hereges 4.Perceber a Inquisição portuguesa
coloniais, mas ainda referentes a pro- como um tribunal atlântico no mundo
cessos de habilitação aos cargos inqui- moderno, uma vez que através de seu
sitoriais; 3. Elaborar um quadro temá- sistema de comunicação, criou redes
tico a partir dos assuntos relativos ao de poder no conjunto do Império por-
Brasil tratados nas correspondências tuguês.
trocadas entre o Tribunal de Lisboa e o
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SIMPÓSIO TEMÁTICO 14
Nas malhas da família: estratégias familiares entre normas e práticas
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Entre 1750 e 1850 o Grão – Pará foi o e a nomeação de seu primeiro gover-
grande laboratório de experiências po- nador Joaquim de Mello e Póvoas, os
líticas instituídas pelo império portu- dois respectivamente meio irmão e
guês e posteriormente brasileiro. Essas sobrinho do Marquês de Pombal. Para
políticas tinham como principal objeti- além destes cargos principais da repú-
vo tornar sua população nativa, os in- blica foram nomeados e enviados à
dígenas, primeiramente súditos da co- colônia: procuradores da fazenda real,
roa portuguesa e num momento poste- ouvidores de justiça, capitães de tropas
rior cidadãos do império do Brasil. Pa- regulares, geógrafos, matemáticos, en-
ra compreender esse processo preci- genheiros, naturalistas entre outros
samos fazer referências às modifica- funcionários do poder régio. Coube a
ções estruturais ocorridas no período, este grupo por meio de ações políticas,
seja no âmbito das definições de fron- implementar uma série de mudanças
teiras geográficas, políticas ou sociais. institucionais no cotidiano da colônia,
No campo das mudanças estruturais todas elas mediadas pelas experiências
geográficas é necessário informar que de um século de colonização baseada
com a ascensão de D. José I e de seu na exploração do trabalho indígena
ministro dos negócios ultramarinos, auxiliado pela prática da missionação.
Sebastião José de Carvalho - o Marquês Essas mudanças iniciadas no período
de Pombal- a coroa portuguesa se- pombalino avançam pelo século XVIII
guindo uma leitura muito peculiar dos e consolidam-se no século XIX, entre-
ideais iluministas, levará a cabo a exe- tanto até o presente pouco sabemos
cução do recém-assinado Tratado de sobre os sujeitos históricos diretamente
Madri. A execução do tratado impôs a afetados por estas transformações. Este
constituição de uma comissão de limi- artigo pretende refletir, a partir do li-
tes demarcatórios por parte das duas vro de registro de batismo da Vila de
coroas e consequentemente um au- Nogueira, sobre os processos de for-
mento significativo da presença impe- mação das famílias na Capitania de
rial nas terras do Grão-Pará, por meio São José do Rio Negro, especialmente
de seu aparato religioso e jurídico insti- sobre a formação das famílias com ori-
tucional. Temos como exemplo a no- gens indígenas. Essa fonte paroquial
meação para função de Capitão Gene- nos possibilitará pensar as ações políti-
ral do Estado do Grão-Pará de Francis- cas do império português no Grão-
co Xavier de Mendonça Furtado, a cri- Pará e em última instância na consti-
ação de uma nova capitania no estado tuição de súditos e cidadãos indígenas.
Em que pese o fato de que as Consti- Bahia (1707) asseverassem no seu Livro
tuições Primeiras do Arcebispado da I, Título LXXI que “conforme o direito
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CADERNO DE RESUMOS
nos estudos para a época? Ou estamos tornado –, mas também pela questão
lidando com a corrente falta de regras estratégica da manutenção das redes
para transmissão de sobrenomes e ape- mercantis em que estão comumente
lidos no Império Português? O cruza- conectados, já que, membros de uma
mento dos resultados obtidos a partir mesma família poderiam se imbricar
da reconstituição das famílias em al- em diferentes espaços comerciais.
gumas gerações, indicou que não havi- Além disso, é usual conjeturar que as
am vínculos de consanguinidade que redes comercias conversas só poderi-
ligassem os três indivíduos e as suas am se sustentar dentro do âmbito fami-
famílias. Logo, estes cristãos-novos, e liar. Dito isso, o propósito desta comu-
suas redes comerciais, se conectavam nicação, além da apresentação dos ca-
por meio de alianças que iam além dos minhos metodológicos, problemáticas
laços familiares, também conhecidos e dos resultados obtidos desta análise,
como laços de solidariedade. Comu- é discutir com mais profundidade e
mente vinculados às práticas endogâ- empirismo os laços de parentesco neste
micas, os cristãos-novos geralmente grupo e, principalmente, as questões
são descritos na historiografia como acerca do estudo das famílias cristãs-
mantenedores desta lógica familiar, novas do período, suas estratégias so-
não só por serem privados por lei à ciais e familiares, a constituição das
contraírem matrimônio com cristãos- redes de parentesco e solidariedade e
velhos – algo que conseguiu ser con- suas diversificações.
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tos por elas e seus filhos. Em suma, oficializadas ou não nas localidades
grande número de homens e mulheres estudadas.
africanos possuíam relações familiares
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
Nossa pesquisa concentra-se na análise determinar quem seria o tutor dos fi-
de inventários e testamentos guarda- lhos. Era quando muitos entregavam à
dos pelo Arquivo Nacional do Rio de esposa que lhes sucedia, não apenas o
Janeiro no fundo Juízo de Órfãos e Au- patrimônio, mas também a educação
sentes, entre os anos de 1763 e 1808. O dos filhos menores pela muita capacidade
que se observa durante a leitura da que ela tem. A viúva inventariante
documentação é que a mulher lançava quando passava à tutora dos herdeiros,
mão dos dispositivos normativos que instituída legalmente pelo consorte
estavam ao seu alcance para sobreviver falecido, assumia a autoridade do ma-
na sociedade do Antigo Regime. Entre- rido e pai sobre a riqueza e os filhos.
tanto, muitas vezes na prática, desafia- Tal fato se dava não apenas durante a
va estas normas. As Ordenações Filipi- execução do inventário, mas prolonga-
nas determinavam que a mulher era va-se até a maioridade dos legatários,
meeira do marido no matrimônio. momento em que tornavam-se habili-
Herdeira de metade de tudo o que ele tados para receber a legítima paterna.
possuía, ou seja, do que ambos os côn- Desta forma, a estas mulheres eram
juges haviam trazido para o casamen- emprestadas características que a soci-
to, mais o que haviam conquistado na edade da época considerava adequa-
constância da união. Com a morte do das para conduzir tanto seus destinos
esposo, ela se tornava a titular legal de quanto o futuro da descendência de
todo o patrimônio até que se terminas- seus maridos. Entretanto, a norma exi-
se o inventário do casal. Quando o ma- gia que elas não se casassem novamen-
rido deixava um testamento benefici- te e tivessem uma conduta adequada à
ando-a, ela vinha a tornar-se também sua condição de viúva. Ao contrair
sua testamenteira. Assim, além de in- segundas núpcias, a esposa perdia o
ventariante, ela passava à condição de direito à administração da legítima dos
testamenteira, responsável pela execu- herdeiros e à posse dos bens herdados
ção das disposições testamentárias, do primeiro marido. Assim, a capaci-
herdeira não apenas de metade do pa- dade que a mulher adquirira durante a
trimônio do casal, mas também de viuvez cessava no momento do novo
uma parte ou de toda a terça. Nesse matrimônio.
momento, o marido também podia
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
Esse texto pretende explorar através esses laços que une as famílias cearen-
dos registros paroquiais de batismo da ses setecentistas através das relações
freguesia de Quixeramobim, perten- de compadrio, haja vista, que esses
cente à ribeira do Jaguaribe-Ceará, no enlaces batismais geram teias de rela-
período de (1755 – 1810) a formação ções entre as famílias livres, libertas e
familiar com ênfase nas relações sociais cativas. Assim, poderemos ter maior
de compadrio estabelecidas pelo ba- compreensão da formação familiar ser-
tismo. A escolha dessa documentação taneja nos séculos XVIII e XIX e suas
paroquial como principal fonte de aná- redes de solidariedades e sociabilida-
lise se sedimenta nas possibilidades des.
que ela oferece para se compreender
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
souberam se posicionar num universo meio dos laços que estabeleciam havia
permeado por elementos do Antigo a possibilidade de se distinguirem da
Regime, quais sejam: valores de honra, massa de libertos e consequentemente
prestígio, distinção e desigualdade. E, do passado escravista.
além disso, verificar se de fato, por
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esses buscavam imprimir à relação es- caminho que cada um dos sujeitos his-
cravista. As alforrias foram escolhidas tóricos teve em meio ao processo de
como fonte principal porque são reve- liberdade, o qual demonstra a qualida-
ladoras tanto da política senhorial co- de das relações senhor/escravo no
mo do momento em que os escravos termo de Mariana. Foi a partir destas
conseguiam modificar, de alguma relações que os grupos familiares con-
forma, a sua realidade. Os testamentos seguiram apoiar e auxiliar seus mem-
e inventários representam o segundo bros lançando mão de estratégias vari-
grupo de documentos trabalhados por adas que passavam pela troca de cati-
nos. Compõem um corpo documental vos, realização de trabalhos específico,
que permite dar continuidade e escla- empréstimos de dinheiro chegando até
recer a forma de contato que determi- na busca pelo auxílio de homens livres
nou cada relação, que fora anterior- que eram advogados demonstrando
mente apontado nas alforrias, deter- um grande repertório de ações imple-
minando tanto a participação como o mentadas pelos grupos familiares.
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O costume do dote foi uma prática de nhora do Bom Sucesso do Piancó (e, a
Antigo Regime habitual em grupos partir de 1772, Vila de Pombal). Os
familiares opulentos com o intuito da registros cartoriais nos propiciam o
conservação de seu patrimônio. e fun- estudo do costume dos arranjos ma-
cionou como estratégia de manutenção trimoniais – com o nome de seus côn-
de uma poupança social para grupos juges, parentes e caudais a serem dis-
de poder locais. Por meio de vestígios postos – capazes de tecer pequenas
deixados nos Livros de Notas pela pe- redes sociais construtoras de um ethos
na dos tabeliões que ocuparam cargos baseado na posse da terra. Partimos do
na governança dos sertões da Capita- pressuposto da existência, numa rígida
nia da Paraíba do Norte setecentista, sociedade estamental patriarcal, de
buscamos neste ensaio analisar o cos- uma centralidade política e social das
tume do dote numa sociedade margi- mulheres para a instituição e legitimi-
nal ao Império lusitano e em formação, dade de uma elite local nos recantos
localizada na Povoação de Nossa Se- dos sertões das Piranhas e Piancó.
A comunicação proposta tem como ções. O ramo familiar tem início no Rio
objetivo analisar a inserção e cresci- de Janeiro com a captura do corsário
mento da família Amaral Gurgel no francês Toussaint Gurgel nas redonde-
Rio de Janeiro seiscentista, privilegian- zas da feitoria de Cabo Frio em 1595
do os casamentos e a formação de re- numa tentativa de contrabando de
des familiares, os cargos ocupados na pau-brasil. Porém ao invés de receber a
estrutura burocrática e eclesiástica, pena capital que era comum aos con-
patentes militares e propriedades de trabandistas estrangeiros em fins do
terra na tentativa de elaborar um perfil século XVI Toussaint Gurgel conse-
familiar criado ao longo de quase um guiu com sucesso imiscuir-se na socie-
século por suas duas primeiras gera- dade fluminense em formação con-
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gia elaborada por Antônio Borges da dos acerca dos bens das famílias se-
Fonseca em meados do século XVIII, nhoriais: a reprodução de poder por
Nobiliarquia Pernambucana; da lista dos meio da posse de bens; e as estratégias
engenhos das capitanias do Norte exis- familiares esquadrinhadas para a sua
tentes até o fim do domínio da Com- manutenção. Apresentar-se-á também
panhia das Índias Ocidentais na obra o estudo de caso da família Guedes
Bagaço da Cana, elaborada por Evaldo Alcoforado sobre conflito engendrado
Cabral de Melo; e da base de dados das pela posse de terra e engenho na capi-
sesmarias concedidas na América por- tania de Pernambuco, o qual exempli-
tuguesa, Plataforma SILB (Sesmarias fica simultaneamente a dificuldade e o
do Império Luso-brasileiro). Trata-se empenho de algumas famílias em man-
de um exercício inicial que objetiva terem determinadas posses.
discutir por meio da exposição de da-
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SIMPÓSIO TEMÁTICO 15
O governo da justiça: poderes, instituições e magistrados (séculos XVII-XIX)
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novos atores sociais nas dinâmicas co- cargo. Por outro lado, há que se levar
loniais como, por exemplo, os ouvido- em conta que os agentes régios ao se
res gerais. A criação destes novos “es- depararem com estas oportunidades
paços de poder”, bem como a ação dos nas colônias e não possuindo garantias
agentes régios naquelas localidades político-sociais na estrutura adminis-
provocou novas demandas com as trativa da Coroa que garantissem suas
quais a administração central portu- ascensões na carreira, percebem que a
guesa tinha que responder. Por outro saída desta estrutura seria a “melhor
lado, também se constituiu, a partir opção”. Ademais, entende-se uma
das atuações dos agentes régios, novas múltipla rede de relações que se for-
perspectivas para esses sujeitos que maram entre os magistrados e os de-
ocuparam os cargos na América por- mais membros do corpo social, a saber:
tuguesa. Ao identificar ser inquestio- a própria Coroa, protagonista na no-
nável a perspectiva na qual a colônia meação e escolha de seus agentes; os
americana é entendida como um “local demais oficiais régios que agiram na
de oportunidades” para os colonos, ao colônia americana e os colonos. Desta
mesmo tempo, tal aspecto pode ser forma, busca-se promover uma refle-
estendido para os agentes régios, uma xão a respeito das escolhas feitas pelos
vez que a sua atuação em postos na sujeitos que ocuparam o cargo de ou-
América poderiam significar uma as- vidor nas comarcas de São Paulo e de
censão em suas carreiras. Entretanto, Paranaguá na primeira metade do sé-
como pondera José Subtil, “a Coroa culo XVIII, identificando dois momen-
não conseguia ou não queria ter um tos: I) suas escolhas no Reino, período
contingente estável de oficiais régios em que se tornaram agentes régios e
que pudessem garantir uma linha con- devotaram suas ações para entrar e
tinua de governação”. Dado este ponto ascender na carreira jurídico-
de vista, esta comunicação se volta à administrativa; II) a partir do momento
percepção de que a Coroa não conse- que se deslocaram para a América por-
guia manter esse “contingente estável” tuguesa e um novo leque de oportuni-
para os agentes régios que atuaram no dades surge, com isso, as carreiras pas-
ultramar frente às possibilidades que saram a ser mais uma opção e não a
surgiam para o sujeito que ocupava o única.
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CADERNO DE RESUMOS
Em 11 de maio de 1789, para ser solta ouviu a leitura das ordens vindas do
da prisão, Francisca Josefa de Albu- Ouvidor das Alagoas Segundo o que
querque “assinou” um termo público lhe fora exposto, precisava deixar a
em que se comprometia, por si e por Vila das Alagoas dentro de oito dias ou
suas quatro filhas, a deixar a Comarca estaria sujeita a penas crimes e cíveis
das Alagoas. Chamada à presença e que lhe fossem impostas. Quando se
moradas de Inocêncio da Costa Mou- pretende observar casos jurídicos par-
rinho, juiz ordinário em exercício, ela ticulares, fontes advindas do Conselho
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
Ultramarino podem acabar não sendo Direito para os anseios que viveram. A
de todo satisfatórias em dar detalhes concepção da existência de um corpus
dos problemas que registrou. O órgão de leis que a salvaguardava torna-se
intermediador da comunicação entre óbvia diante do fato de recorrerem à
Coroa e súditos, pode ser tido como justiça, independente das instâncias
uma representação de que havia uma que fossem, ou dos intermediários
crença geral no remédio jurídico régio. masculinos que deveriam utilizar. É
Como parte de uma sociedade coorpo- essa consciência feminina que pode ser
rativa, lidou com textos variados, mas identificada no ato dos requerimentos
de ordem judicial (devassas, despa- e petições, mesmo levando-se em conta
chos, relatórios), com problemas de o lugar que ocupava nas doutrinas teo-
ordem política, administrativa e eco- lógicas e judiciais da América portu-
nômica. Explicitando, entre tantos, guesa. O trabalho se fundamenta nos
pleitos sobre conflitos, onde protago- princípios da análise de conteúdo, onde
nizaram agentes de Justiça e que a ju- dissecação do texto e contexto vão con-
risdição local não pôde solucionar. As tribuir para uma apreensão mais preci-
falas enviadas ao rei chegam até nós sa o possível a respeito da execução da
como indícios de uma “burocratiza- Justiça em casos onde mulheres foram
ção” em expansão demonstrando que vistas ou tidas como vítimas ou crimi-
havia uma concepção geral ultramari- nosas. Fosse perante juízes locais ou do
na na execução de uma Justiça impar- rei, as moradoras da Comarca das Ala-
cial e regida pelo Direito do reino, pela goas levantaram-se quando sentiram a
via dos oficiais do rei. A partir da necessidade, em campo jurídico, para
identificação dessa consciência de Di- citar com a intenção de querelar aque-
reito e Justiça na população de Além- les homens que, diferente delas, possu-
mar, buscar-se analisar casos em que íam por “natureza” uma vocação aos
mulheres, moradoras na Comarca das princípios da Justiça. Se àquelas mu-
Alagoas, tiveram que lidar com meios lheres apenas linhas sobre proteção de
jurídicos para, senão solucionar, pelo dotes ou herança foram evidenciadas
menos ativar ou chamar à atenção aos em escritos como o de Rui Gonçalves,
conflitos em que se encontravam. Adi- vestígios deixados na documentação
ante-se que pertenciam e estavam su- que alcançou o Conselho Ultramarino
jeitas a uma sociedade e visão de também podem responder – além da
mundo onde seu sexo podia ser a re- concepção acerca daqueles indivíduos
presentação vívida do inferno ou das às margens para agentes capazes de
piores características que se poderia ter determinar o que era justo – sobre o
no Antigo Regime. Assim, perante os entendimento delas sobre elas mesmas
homens da Justiça, locais ou vindos do e sobre o que a Justiça do rei, natural e
reino, tais personagens protagoniza- divina as reservava.
ram pleitos e buscaram a resguarda do
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
A presente pesquisa possui como obje- recortes: no âmbito espacial foi seleci-
tivo principal apresentar apontamen- onada a Vila de Curitiba em razão da
tos que permitam desenhar a cultura sua característica fronteiriça no interior
jurídica no âmbito do direito e do pro- do Império Ultramarino Português e,
cesso criminais na América Portugue- no âmbito temporal, a seleção foi reali-
sa. Com o auxílio metodológico da zada entre os anos de 1777 e 1800 por
perspectiva de Carlo Ginzburg, a pes- ser este o período da introdução do
quisa procurou investigar traços e pis- pensamento iluminista no ramo jurídi-
tas da cultura jurídica a respeito do co criminal. Em razão da intensa re-
âmbito criminal encontrados na Vila produção destes instrumentos entre os
de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais 1097 processos judiciais (entre cíveis e
de Curitiba em fins do século XVIII crime) consultados – correspondendo
com enfoque específico em uma confi- 91 do total de 155 processos crime –,
guração de processo criminal encon- acredita-se que fornecem elementos
trada entre os documentos históricos: importantes a serem considerados ao
os autos de livramento crime. Neste se tentar compreender o funcionamen-
sentido, foram realizados os seguintes to das práticas, ritos e costumes jurídi-
270
CADERNO DE RESUMOS
cos próprios das localidades coloniais pois o réu requeria e tinha concedido
no período. Dentre estes, foram seleci- seu livramento por meio de determi-
onados vinte e três autos de livramento nados instrumentos jurídicos, dentre
crime sob a jurisdição da Vila de Curi- eles os autos de livramento crime. Isto
tiba para que, focando principalmente traz à tona a ausência de um desejo de
nos quesitos processuais e, consequen- punir como característica intrínseca
temente, nos conteúdos e nas circuns- dos aparatos administrativos régios
tâncias específicas dos crimes dos locais, revelando que a administração
quais tratam, fosse possível desenhar da justiça e a cultura jurídica criminais
uma cultura jurídica criminal local. locais na colônia detinham muito mais
A análise destes autos de livramento – um caráter liberatório do que punitivo.
no interior da compreensão do funcio- E essa característica pode ser explicada
namento do processo e do direito cri- quando inserida no panorama simbóli-
minais – no contexto colonial no interi- co próprio de Antigo Regime e na prá-
or do Antigo Regime português permi- tica da ameaça sem punição que cerca-
te concluir pela existência efetiva de vam o âmbito criminal. Isto é, as redes
uma grande plasticidade que perpas- simbólicas e a pedagogia do medo pre-
sava a ordem jurídica criminal ao lon- sentes na administração da justiça cri-
go dos espaços do Império Ultramari- minal do Império Português possibili-
no Português. Este caráter foi observa- tavam o relaxamento de penas postas
do nos momentos de processamento como ameaça nas Ordenações Filipi-
dos crimes expostos nas Ordenações nas, situação que trazia ao rei o empo-
Filipinas, bem como de aplicação e deramento da imagem simbólica de
execução das penas previstas tendo em misericordioso e dispensador da justi-
vista que ao longo dos procedimentos ça formal em prol da equidade e o bem
foram encontradas diversas estratégias dos súditos.
em que a penalização findava não apli-
cada (ou até mesmo não cominada)
271
VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
272
CADERNO DE RESUMOS
cada um vivia de acordo com a sua lei. ticas de Câmara Coutinho nos apoia-
Segundo Vera Ferlini, a Restauração remos , sobretudo, nos fundamentos
Pernambucana não garantiu apenas da teoria corporativa de poder que tem
prestígios, mas também contribuiu pa- em A.M. Hespanha seu maior expoen-
ra que a sociedade que participou des- te, em que para o autor, garantir a jus-
ta guerra permanecesse armada a fim tiça era a função primacial do Rei. No
de defender os interesses pessoais e entanto, não era fácil restabelecer a
locais. De acordo com o cronista Gre- ordem na capitania, pois muitos dos
gório Varela a maior crise que sobre- criminosos tinham assento na Câmara
veio a Pernambuco foi à violência, em de Olinda. Segundo Gregório, muitos
especial a violência entre os poderosos deles mantiveram relações com autori-
que organizavam séquitos munidos de dades de justiça, o que dificultou a
espingardas espalhando temor na soci- ação dos governadores permitindo o
edade. Segundo Evaldo Cabral a cri- crescimento da violência e da crimina-
minalidade havia chegado ao paroxis- lidade. Podemos perceber quão basilar
mo, e ao ser comparado ao período da fora as ações dos governadores na ten-
ocupação holandesa, o cenário era tativa de impor a justiça régia, por isso,
descrito como “a paz que parece guer- um de nossos objetivos é construir
ra e aquela que foi guerra parece paz”. uma história social fazendo uma análi-
Segundo Gregório Varela a violência se das ações dos governadores no
havia imperado em Pernambuco por combate ao crime, buscando compre-
“falta de governo”, de acordo com ender quais eram os meios usados por
Fernanda Bicalho era preciso nomear eles para aplicação da justiça e garantir
para governar, e na tentativa de mudar a paz. Acreditamos também que já é
a situação, a Coroa Portuguesa nome- hora da historiografia dedicar uma
ou alguns governadores mais rígidos maior atenção ao estudo sobre crimes e
para Pernambuco, como Câmara Cou- violências no período colonial. A mo-
tinho que foi designado para o cargo tivação para essa temática escolhida
de governador na capitania de Per- está diretamente ligada à existência de
nambuco “sem consulta nem decreto”, uma lacuna na historiografia pernam-
de modo que Câmara Coutinho se bucana sobre crimes, por isso acredi-
apressou em aplicar com severidade a tamos ser imprescindível o estudo da
justiça régia, até contra os membros da temática proposta.
Câmara de Olinda. Na análise das prá-
As primeiras décadas, desde a desco- maior era o fluxo de pessoas que che-
berta do ouro nas Minas, foram mar- gavam à região do ouro mineiro em
cadas por muitas transformações e busca de melhores oportunidades e
conflitos. Quanto mais a prosperidade riquezas. Portugal, atento aos movi-
parecia brotar dos solos e dos rios, mentos crescentes de revoltas, motins e
273
VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
Houve neste período uma profusão de re dos Reis, reconhecido como o pai da
grandes autores ilustrados, entre os história do direito português. Este au-
quais se destaca Pascoal de Mello Frei- tor mui próximo à corrente filosófica
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
SIMPÓSIO TEMÁTICO 16
Os espaços coloniais como problema de pesquisa: cartografia, sistemas geográficos e
novas metodologias
Coordenadores: Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno (Universidade de São Paulo) e Tiago Luís
Gil (Universidade de Brasília)
13 de setembro de 2016
276
CADERNO DE RESUMOS
as que han sido estudiadas por separa- ha privilegiado las fronteras nacionales
do debido a un enfoque analítico que actuales.
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
Esta comunicação tem como objetivo breza e estagnação. Uma das pioneiras
apresentar resultados iniciais obtidos no questionamento dessa ideia foi Ma-
no doutorado que realizamos na FAU- ria L. Marcilio que reavaliou a queda
USP. Busca-se compreender a dinâmi- populacional da cidade de São Paulo
ca urbana através das propriedades entre 1750-1850 explicada pelo des-
(citadinas e escravos) de parte da elite membramento desta em razão da cria-
paulistana. Essa pesquisa foi concebida ção de novas vilas. Utilizando-se de
tendo como pano-de-fundo um quadro inventários Maria A. Borrego (para o
sobre São Paulo colonial bastante co- XVIII) e Maria L. Viveiros de Araújo
nhecido e amplamente difundido: po- (para o XIX) indicaram que, pelo me-
278
CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
280
CADERNO DE RESUMOS
Este artigo consiste em uma síntese da urbana, desde expressões físicas e na-
dinâmica de trabalho e da produção de turais, até aspectos relativos a hábitos e
conhecimento do Grupo de Pesquisa costumes acumulados na longa dura-
Estudos da Paisagem (Fau-Ufal), o ção. A paisagem é, nesse sentido, en-
qual visa contribuir para os estudos tendida aqui como conceito que dá
urbanos comparados, tendo como fer- relevo particularmente aos processos
ramentas programas de manipulação de identificação humana e social com o
gráfica. Aborda as trajetórias urbanas espaço. O Grupo tem recebido apoio e
de um conjunto de vilas e cidades nor- benefícios de vários órgãos de fomen-
destinas dos séculos XVI e XVII, visan- to, solicitados através de editais públi-
do fortalecer suas propriedades patri- cos, tais como CNPQ, Fapeal, Iphan,
moniais e identitárias. Com isso, as Petrobrás, dentre outros. Como resul-
pesquisas desenvolvidas pelo Grupo se tados desses trabalhos de investigação,
colocam na condição de fornecer sub- o mesmo tem se dedicado, através de
sídios a ações de instituições públicas seu laboratório de Criação Tabaête, ao
vinculadas à cultura urbana, ao turis- desenvolvimento de projetos na lin-
mo, ao reconhecimento do patrimônio guagem de Design Gráfico e de Produ-
citadino, bem como para a realização to que apontem para futuras ações de
de produtos e de atividades de sociali- inovação e aproximem a pesquisa e o
zação do conhecimento através da lin- design de produtos culturais, um cam-
guagem digital. Privilegiando a análise po ainda novo, mas que pode trazer
de fontes iconográficas primárias, par- repercussões positivas em termos da
te do confronto entre representações economia da cultura e dinamização da
históricas e situações paisagísticas atu- educação.
ais e cataloga referências da paisagem
281
VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
14 de setembro de 2016
En general la historiografia sobre las privados. Las fuentes usadas para sus-
Américas de la época colonial afirma, tentar esa hipótesis son, primero, los
casi que por lugar común, que existió informes de gobernantes y funcionari-
una gran fragmentación espacial de las os sobre el estado de esas unidades
unidades políticas, sean estas virreina- territoriales, segundo, las constantes
tos, reales audiencias, capitanías, colo- quejas y reclamos de los gremios o de
nias o intendencias. Esta división seria individuos sobre la situación de cami-
consecuencia de las inmensas distanci- nos, cables, puentes y puertos, y, terce-
as del continente, su morfología desa- ro, las crónicas, cartas y relatos de via-
fiante y, más importante aun para de- jantes que se internaban y recorrían
fender esa afirmación: las relativamen- esos espacios. Sin embargo, la critica
te bajas inversiones en infraestructura documental puede relativizar esas opi-
realizadas por la Corona y los agentes niones, pues ellas representan intereses
282
CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
Neste trabalho, busca-se uma revisão os anos de 1720-1759. Essa fase é carac-
sobre como historiografia do Mara- terizada pela implantação do aparato
nhão e o Piauí, discutiu o tema da co- político e administrativo da Coroa por-
lonização do Vale do Parnaíba. Consta- tuguesa, com uma atuação mais pre-
tou-se, como alguns temas frequente- sente dos governadores, ouvidores e
mente discutidos: a questão da contra- provedores do Estado do Maranhão,
posição entre o litoral e sertão, a pre- através de diversas tentativas de regu-
cedência da conquista entre Domingos larização e disciplina da ocupação e do
Afonso Mafrense e Domingos Jorge povoamento, expressas na intensifica-
Velho, os grupos indígenas, os confli- ção e aplicação das medidas políticas e
tos entre sesmeiros e posseiros e entre administrativas, como por exemplo, a
as jurisdições do Maranhão e Bahia, e a distribuição de cartas de sesmarias aos
expansão da pecuária e o mercado povoadores. Essas medidas são evi-
agroexportador. Esses temas serão denciadas através de cartas, decretos,
apresentados à luz dessa historiografia consultas e outros documentos passa-
regional, procurando entendê-los vin- dos pelas autoridades régias e gover-
culados as relações de poder que foram nadores que visavam à verificação dos
constituídas no próprio campo histori- terrenos devolutos, a aplicação dos
ográfico no decorrer do século XX, en- foros, a cobrança de dízimos e a de-
volvendo o litoral e o sul do Maranhão, marcação de terras, dentre outras. En-
e o Piauí, tornando-se necessário rela- tretanto, fatores como à distância em
tivizarmos algumas abordagens e des- relação aos centros políticos e adminis-
construirmos alguns mitos nessa histo- trativos, os frequentes ataques indíge-
riografia. Além de apresentamos e re- nas, os custos e as despesas em relação
lativizamos alguns temas dessa histo- à demarcação e confirmações das ter-
riografia, discorremos sobre o processo ras adquiridas em sesmarias, a instabi-
de consolidação da ocupação e do po- lidade da presença dos indivíduos em
voamento luso-brasileiro no sul da ca- suas ocupações, dentre outros fatores,
pitania do Maranhão e no Piauí, entre dificultaram o processo de regulariza-
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CADERNO DE RESUMOS
ção desse espaço. Isso porque, a ocu- à posse e uso da terra, e por esta razão,
pação e o povoamento luso-brasileiro intensificaram-se os conflitos fundiá-
dessa região, foram marcados pela he- rios entre sesmeiros e posseiros no pe-
terogeneidade de interesses em relação ríodo destacado.
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
O presente trabalho tem por objetivo das, pessoa principal, local de moradia
analisar e compreender as relações so- do interrogado, pessoa secundária,
ciais a partir dos espaços geográficos local de moradia da pessoa secundária,
que demarcam a circulação de informa- intensidade e etc., de forma que nos
ções dentro de um contexto atípico na possibilite a feitura desta análise. Feita
Capitania da Bahia. O contexto ao qual a tabulação dos dados e a organização
nos referimos é o da Visitação do Santo metodológica, partiu-se para o geopro-
Ofício, em 1590, na cidade de Salvador. cessamento dos locais de fala dos inter-
Neste sentido, nos atentaremos para a rogados visando a localização dos es-
circulação de informações, dentro do es- paços geográficos destes indivíduos a
paço habitado da cidade da Bahia, por fim de cruzar dados para saber quais
diversos moradores que estão a todo eram os agentes históricos que conver-
momento se confessando, denuncian- savam entre si, sobre o que conversa-
do ou mencionando outros moradores vam e sobre quem conversavam, de
na mesa do Santo Ofício em relação a modo que, a partir desta análise, pu-
práticas heréticas. O nosso maior es- desse ser montado uma rede social em
forço será em repensar o espaço e en- conjunto com a circulação de informações
xergar uma Bahia que estaria interli- para enxergar todos os espaços geográ-
gada socialmente aquém do Recôncavo ficos da cidade da Bahia que eram in-
Baiano, revisando historiografias clás- terligados por meio da comunicação de
sicas que limitam a socialização do es- seus agentes. Vide o exposto acima,
paço a muito menor do que ele real- proporemos uma nova visualização do
mente era. Para isso, utilizaremos co- espaço geográfico da cidade da Bahia,
mo fonte o livro do Santo Oficio, que no século XVI, e sua interlocução geo-
contém confissões e denunciações refe- gráfica. Deste modo, este trabalho se
rentes à visitação feita em 1590. São organizará com um contexto histórico
inúmeros os casos que se somam a es- acerca da primeira visitação do Santo
tas duas categorias, todavia, analisa- Ofício à cidade da Bahia em conjunto
remos somente a parte referente a de- com a historiografia clássica sobre o
nunciações, que contém um numero assunto; a forma como se deu a orga-
total de 217 casos. A partir disto, nos nização e análises dos dados a partir
valeremos de um banco de dados já da documentação do Santo Ofício; a
existente que está organizado em di- metodologia usada para análise e geo-
versos campos, tais como: interroga- processamento dos dados, e, por fim,
dos, locais citados, pessoas menciona- os resultados obtidos.
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
15 de setembro de 2016
CARTOGRAFÍA HISTÓRICA DE LADIÓCESIS DE BUENOS AIRES
CORRESPONDIENTE A LOS ÚLTIMOS AÑOS DEL PERIODO
María Elena Barral
Esta comunicación busca presentar los cio regional. Como han demostrado
resultados de un primer ejercicio de algunos estudios específicos (Levinton,
producción de una cartografía histórica 2010; Damasceno Fonseca, 2003) así
de la diócesis de Buenos Aires corres- como los realizados para otras regiones
pondiente a los últimos años del perí- hispanoamericanas (Escobar Ohmstede
odo colonial. La misma ha sido reali- y Gutiérrez Rivas, 2013; García Martí-
zada mediante el uso de SIG y a partir nez y Martínez Mendoza, 2012) esta
de una visita diocesana y otras fuentes forma de organización de la informa-
complementarias. Esta tarea se enmar- ción favorece la adquisición de un co-
ca en un estudio más amplio destinado nocimiento más preciso y detallado de
a analizar las formas de gobierno local la ubicación de los pueblos rurales, de
al interior de la diócesis así como a sus territorialidades y de las disputas y
examinar la articulación de esta con los conflictos por su posesión y usufructo
espacios misionales. El objetivo fue y se presenta como una vía particu-
producir un tipo de material que con- larmente fértil para reconstruir las
tuviera la información completa y pre- formas de ejercicio de la autoridad lo-
cisa de la localización y ámbitos juris- cal y aun las concepciones sociales so-
diccionales de las autoridades eclesiás- bre el territorio y la jurisdicción.
ticas de las áreas rurales de este espa-
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
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CADERNO DE RESUMOS
SIMPÓSIO TEMÁTICO 17
Escravidão e mestiçagens: os mundos da escravidão e das mestiçagens em conexões
(séculos XVI a XIX)
13 de setembro de 2016
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
cais que se chocavam com a ordem como suporte teórico a história compa-
hierárquica do poder imperial portu- rada, compreender como duas impor-
guesa. O segundo momento é analisar tantes regiões que integravam o Estado
a partir da figura do jesuíta Roberto de da Índia portuguesa, vivenciaram cada
Nobili, que utilizou de aparatos cultu- qual ao seu modo, os processos de
rais da elite indiana, os brâmanes, tal mestiçagens biológicas e culturais, re-
como o uso da vestimenta, por exem- velando como as comparações podem
plo, para dar seguimento no seu pro- contribuir para alargam o olhar do his-
cesso de conversão da população de toriador sobre os trânsitos, similitudes
Maduré, a dinâmica de um mediador e particularismos existentes nas histó-
de uma mestiçagem cultural em uma rias das miscigenações operadas no
região distante do centro do poder por- mundo colonial para além da realidade
tuguês na Índia. Este trabalho tem as- ibero-americana.
sim por objetivo central, e utilizando
Desde los primeros avances de la con- inserción en uno de los lugares prefe-
quista y, sobre todo, luego de encon- rentes de destino (la ciudad de Santia-
trar la resistencia armada de los habi- go de Chile y su comarca rural), y es-
tantes del sur de Chile, los hispanos tudiar como en dicho proceso de con-
comenzaron una intensa y sistemática figuraban prácticas de mestizaje bioló-
captura de indios de origen mapuche y gico o cultural, así como estrategias de
huilliche, los que eran trasladados co- mestizaje discursivo que constituían
mo mano de obra forzada hacia Chile un soporte para eventuales demandas
central, las minas de la región de Co- de libertad o esquivar el tributo que
quimbo e, incluso, a la capital del vir- correspondía a aquellos clasificados
reinato del Perú. Desde 1608 y hasta como “indios (libres)”. En sentido
fines del XVII este fenómeno se acre- opuesto, comprobamos también una
centaría a raíz de la legalización de su tendencia al no-mestizaje al momento
esclavitud, como indios capturados en de formalizar vínculos matrimoniales
“guerra justa”. Esta situación implicó entre indios desnaturalizados de la
la generalización de experiencias de frontera de guerra, con uniones gene-
desarraigo comunitario, fragmentación ralmente definidas entre indios; y ge-
de las redes sociales, los vínculos terri- neralmente entre indios provenientes
toriales y, sobre todo, la destrucción de del mismo espacio y viviendo un simi-
los lazos familiares de los individuos lar proceso de migración forzada y es-
que serían sometidos a las traumáticas clavitud. Nuestra reflexión se sustenta-
experiencias del rapto violento y de- rá a partir de la exploración que hemos
portación perpetua desde sus lugares venido realizando de diferentes fuen-
de origen. El objetivo de esta exposi- tes administrativas y eclesiásticas vin-
ción es acercarse a la experiencia de su culadas con el espacio urbano y pe-
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
uma vez que o batismo é um dos raros modo, mostravam que mesmo o siste-
registros onde se é possível analisar a ma opressor vigente, ao qual eram
agência dos(as) cativos(as), sobretudo submetidos política e culturalmente,
enquanto agentes culturais que de- não os aniquilava (FARIA, 2006, p. 131-
sempenhavam sua própria história, 132).
construíam sua identidade e, desse
300
CADERNO DE RESUMOS
Los estudios sobre la presencia afro en objetivo era rescatar la voz de los au-
América Colonial han estado vincula- sentes en el discurso histórico, ha sido
dos a una explicación economicista, desbordada por el estudio privilegiado
valorando la importancia que tuvo la del elemento indígena en su relación
presencia del esclavo africano y sus con la cultura dominante. En otras pa-
descendientes en el desarrollo econó- labras, la historia peruana se ha andi-
mico de los espacios coloniales, sobre nizado, imponiéndose una lógica don-
todo las economías de plantación. Si de lo étnico es igual a indígena. Por
bien en las últimas décadas ha existido este motivo nuestra investigación bus-
un impulso por abordar la interacción ca quebrar este molde historiográfico
de los esclavos con los demás grupos excluyente, así como también alejarse
étnicos, los estudios de vida cotidiana, del reduccionismo esclavizador-
usos de la vía jurídica, etc., aun son esclavo debido a que asumimos que en
modestos en el Perú. Este hecho se ex- esta relación de subordinación el afri-
plica por el blanqueamiento social e cano y el afrodescendiente tienen una
invisibilización a los que ha sido so- capacidad creadora y reproductora de
metido el aporte africano y afrodes- formas culturales, tanto propias como
cendiente. Motivado en parte por la ajenas a su universo cultural. Un claro
importancia brindada a la población ejemplo, es su relación con la escritura,
indígena en el Perú colonial, siendo el lo cual no implica una lectura directa
sujeto histórico privilegiado en los es- sino un aprendizaje oral de lo escrito,
tudios de historia. Este hecho ha mol- debido a una permanente sociabiliza-
deado una dualidad en la historiogra- ción de la escritura que se realizaba a
fía peruana, la cual ha girado en torno diario en las misas. El hecho de que la
a una tradicional y una historiografía Iglesia Católica defendiera la humani-
critica. Una es mas contestaría que la zación del esclavo desde el siglo XVI a
otra, pero con el mismo matiz de ex- partir del reconocimiento de sus dere-
clusión del elemento afro, incluso una chos naturales, implicaba la asistencia
disciplina como la etnohistoria, cuyo a misa, guardar los días de fiesta, ca-
301
VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
sarse según su elección, etc. Todos es- expresiones orales de lo escrito en los
tos elementos eran parte de un ritual catecismos o en los documentos que
de predicación oral, en el que si bien el utilizaban sus predicadores.
esclavo no sabía leer interiorizaba las
Esta comunicação versa sobre o campo rica ibérica indivíduos que vivencia-
retórico construído e empregado por ram o peso das máculas da escravidão
pardos livres da América ibérica ao desempenharam papéis ativos na cons-
longo do século XVIII em contraposi- trução e transformação do campo retó-
ção aos estigmas e restrições legais aos rico sobre os significados da cor e sua
quais estavam submetidos. Em decor- associação com a ideia de defeito. Pro-
rência do passado escravo, os denomi- curarei demonstrar que o conceito con-
nados pardos eram considerados juri- temporâneo da cor como um acidente
dicamente inabilitados ao exercício de foi apropriado pelos pardos para fazer
cargos públicos, à entrada em determi- frente à noção de defeito. De acordo
nadas corporações religiosas e leigas, com os dicionários da época, o conceito
nas universidades, ao porte de deter- reportava-se às qualidades que não
minados adereços e armas. Em todos eram da essência ou natureza das coi-
os espaços da América ibérica onde a sas. Com seu emprego, pardos de dis-
escravidão africana fez-se presente, os tintas regiões ibero-americanas cons-
referenciais estigmatizadores relativos truíram auto-representações que afir-
aos negros e seus descendentes mesti- mavam, por um lado, o autocontrole
ços foram nutridos e reproduzidos por de suas condutas, e, por outro, seus
grupos sociais ciosos por resguarda- atributos como vassalos fiéis, capacita-
rem seus lugares de distinção. Ao lon- dos e merecedores das graças régias. A
go do século XVIII, sedimenta-se a existência desse campo retórico co-
ideia conforme a qual todos aqueles mum aos espaços ibéricos sugere a
que mantinham alguma ligação com a existência de um mundo conectado por
escravidão constituíam indivíduos de- processos compartilhados, no interior
feituosos. Conceito amplo, empregado dos quais o status sócio-jurídico dos
também para designar outros grupos pardos livres constituiu matéria de
sociais como os cristãos-novos, invari- suma importância. O material empírico
avelmente ligava-se a ideias sobre a que sustenta a pesquisa e as teses de-
conduta moral do grupo, sempre asso- fendidas é composto de dicionários,
ciada a todo tipo de desvios e vícios. crônicas, sermões e requerimentos de
Nesse contexto, a cor da pele passou a pardos de distintas regiões ibero-
figurar como um indicativo visível da americanas, nos quais buscavam a ob-
ascendência escrava dos sujeitos, sen- tenção de privilégios tais como a no-
do associada diretamente à ideia de meação para ofícios públicos e milita-
defeito. Não obstante, por toda a Amé- res. O quadro teórico que embasa a
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CADERNO DE RESUMOS
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VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
304
CADERNO DE RESUMOS
14 de setembro de 2016
Luego de derrotados los grupos étni- trajo una revitalización de las expre-
cos de Chile central por Pedro de Val- siones rituales nativas al menos para
divia y su hueste en 1544 e impuesto el los doctrineros y otros españoles, que
dominio español fundamentalmente a vieron en las borracheras ya no solo
través de la encomienda de servicio descontrol y excesos, sino la oportuni-
personal, comenzó un importante pro- dad para que los indígenas "apostata-
ceso aculturativo que tenía por fin ran", adoraran a sus antiguos dioses e,
erradicar las costumbres y la religión incluso, planearan unirse clandestina-
originaria reemplazándola por el cato- mente a la guerra que los mapuches
licismo. En ese contexto, las expresio- libraban en el distrito de Concepción y
nes rituales indígenas, conocidas por en la Araucanía. De modo tal, esta po-
los españoles como "borracheras", fue- nencia estudia el proceso de migración
ron fuertemente reprimidas pero tam- forzosa mapuche en su dimensión cul-
bién comenzaron a perder sentido para tural así como las representaciones que
los propios indígenas, transformándo- los españoles hicieron del mismo, en
se en juergas y celebraciones que fue- las cuales pusieron el acento en las
ron representadas como espacios de consecuencias que aquello tenía para la
desorden, consumo desmedido de al- revitalización de las religiones origina-
cohol y descontrol sexual. Sin embar- rias, el avance de la evangelización y el
go, la llegada a Chile central de los mismo dominio colonial, constituyén-
primeros migrantes forzosos mapu- dose un miedo al "otro" oculto, a me-
ches de Penco y Araucanía durante el dio camino entre sus antiguas religio-
último cuarto del siglo XVI, en general nes y el cristianismo y entre la acepta-
llevados a dicha tierra como prisione- ción de su condición de dominado o su
ros de guerra o esclavos, aunque la rebeldía.
esclavitud legal no estaba permitida,
Este trabalho toma como fio condutor ranças indígenas: Antônio Paulo Gon-
as trajetórias históricas de duas lide- calves e Antônio Goncalves do Rosá-
305
VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
rio. Estes personagens, embora não aldeia indígena em vila, sede de co-
contemporâneos, além de homônimos, marca e freguesia, um acentuado pro-
possuem em comum o fato de terem cesso de mestiçagem e inserção no
sido protagonistas de ações politicas mundo colonial vivido pelos índios
nos aldeamentos da missão franciscana aldeados e intensas experiências de
do Bom Jesus da Gloria, localizados na reconstrução identitárias. De acordo
freguesia e vila de Santo Antônio da aos seus respectivos tempos, experiên-
Jacobina, sertão da Capitania da Bahia. cias e relações de contato com a socie-
Entre o final do século XVII e o inicio dade colonial vigente, os dois lideres
do século XIX, ocorreram mudanças indígenas em Jacobina desenvolveram
significativas na politica indigenista da uma cultura politica que lhes permiti-
Coroa portuguesa, um projeto de ram negociar e lutar por seus direitos e
transformação e territorialização da interesses.
O presente trabalho tem como objetivo ais como testamentos, inventários post
central investigar as relações sociais e mortem e ações cíveis diversas; e fontes
econômicas das mulheres forras da vila eclesiásticas como processos matrimo-
de Pitangui, comarca do Rio das Ve- niais, com o intuito de compreender o
lhas, Capitania de Minas Gerais, no perfil e o cotidiano das mulheres de
período que compreende 1750 a 1820. ascendência africana da vila.
Para tanto, utilizamos de fontes notari-
306
CADERNO DE RESUMOS
307
VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA COLONIAL
vel por abastecer de alimentos Salva- tados foram para Salvador. Parte das
dor, Recôncavo e negociantes que dali autoridades locais e alguns proprietá-
partiam para outras regiões do Brasil rios de terras que permaneceram no
ou mesmo para a África. A região, po- lugar, necessitando manter algum con-
rém, entrou em decadência nos fins do trole sobre a produção de mandioca,
século XVIII por vários motivos, entre viram seus espaços de poder, gradati-
eles: o surgimento de novas regiões vamente, diminuídos por uma gente
produtoras de alimentos mais próxi- de “qualidade” e “condição” variada
mas a Salvador, a diminuição de aces- que passava a ocupar esses espaços de
so à mão de obra escrava, agravado produção e negociação de alimentos.
pelo considerável aumento de escravos Este trabalho analisa os variados con-
que se refugiavam nas densas matas da flitos e articulações que envolveram a
região, organizando quilombos, ata- população de diferentes condições so-
cando propriedades e impondo medo ciojurídicas (livre, liberto, forro) e
sobre fazendeiros e lavradores, muitos “qualidades”, em torno da conquista e
dos quais preferiram abandonar as ampliação de poderes na região, nos
áreas rurais e fugir em direção ao cen- anos finais do século XVIII e as primei-
tro das vilas, sendo que os mais abas- ras décadas do século XIX.
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contato dos povos e, com isso, a expan- dades, ao mesmo tempo, averiguando
são de doenças, que sucederam novas o modo de vida dessa população, con-
enfermidades, originadas de outros frontando essas condições com a saúde
continentes, e essas se misturaram. Os e a doença dos escravos, a fim de com-
escravos, que vieram para o Brasil, preender que as doenças são fruto do
além de entrarem em contato com no- processo de conquista, expansão e da
vas doenças de outros povos, também dilatação planetária. Dessa forma, é
trouxeram da África enfermidade ori- importante esclarecer o conceito de
ginadas de lá. Em razão a essas alega- doença no século XIX, que era definido
ções, surgiram os seguintes questio- por meio da teoria dos humores – na
namentos: Como entender as circulari- qual se baseava que o desequilíbrio do
dades de doenças no contexto da ex- corpo ocasionava uma patologia – por
pansão Ibérica? De que modo compre- onde diagnósticos eram efetuados e os
ender essas enfermidades como fruto tratamentos eram prescritos. Para ver-
da mundialização? Com a finalidade sar sobre a cura será necessário discor-
de questionar o número de adoecimen- rer sobre os procedimentos, técnicas e
tos da escravatura foi feita uma relação cuidados que buscavam o restabeleci-
entre a enfermidade estudada, a circu- mento do corpo enfermo. Constatou-se
lação, a proliferação das doenças na que o adoecimento da escravatura na
América Portuguesa e as condições de América Portuguesa nos oitocentos é
vida dos cativos – refere-se à qualidade efeito da mundialização e se expandiu
de alimentação, moradia, vestimenta e pelos continentes, contaminando a po-
trabalho da escravatura. A investiga- pulação, independentemente da “qua-
ção será feita, tomando como base, o lidade” ou “condição” de cada indiví-
trânsito e o alastramento das enfermi- duo.
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SIMPÓSIO TEMÁTICO 18
Títulos, ofícios e riqueza: estratégias de ascensão social no Atlântico Moderno
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Sabe-se que o contexto do pós- fesa dos territórios contra os ditos in-
restauração na América portuguesa do vasores holandeses, gerando o aumen-
século XVII permitiu a remuneração de to nas concessões de benesses em fun-
vários personagens envolvidos na de- ção dos serviços prestados pelos súdi-
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Essa pesquisa tem como objetivo anali- como o de Governador Geral dos Ín-
sar a trajetória política e ascensão soci- dios, ocupado por Antônio Pessoa Ar-
al de membros da família Arcoverde, coverde entre 1683 e 1694. O respaldo
pertencente ao povo indígena Tabajara da guerra contra os holandeses, mas
(Tupi), que estavam aldeados na então também a participação das lideranças
Capitania Real de Pernambuco, e suas Tabajara na “Guerra dos Bárbaros”
anexas, ao longo dos séculos XVI – possibilitou não somente a ascensão
XVIII. Ao longo deste estudo, consta- social dos referidos chefes, mas garan-
tou-se que líderes da família Arcover- tiu a promoção dos seus parentes e
de valorizaram acordos ou negociações soldados indígenas nos espaços de po-
com as autoridades portuguesas, na der do Império. Para a efetivação desta
tentativa da obtenção de mercês (favo- pesquisa, dialoguei com manuscritos
res políticos, títulos nobiliárquicos, coloniais localizados no Arquivo His-
insígnias de cavaleiro, sesmarias, etc.) e tórico Ultramarino de Lisboa – Portu-
da ocupação de cargos de prestígio, gal.
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Proponho aqui não o exame de uma corpos separados. Estas medidas foram
trajetória, mas da figuração social parti- revertidas em 1735 graças a atuação
cular que um indivíduo específico formava diligente de Brito Souto e de outros
com outros indivíduos. Inseparável de oficiais do Terço dos Henriques. Deve-
sua posição social específica e de sua se ressaltar que tal reversão tendeu a
função social de prestígio, Brás de Bri- diferenciar as milícias negras do impé-
to Souto era um afrodescendente liber- rio português daquelas criadas antes
to nascido na vila de Igarassu, capita- ou depois de 1730 nos impérios espa-
nia de Pernambuco, em 1684. Filho de nhol, francês e britânico. Em segundo
Severino de Brito, “crioulo forro”, e de lugar, nas décadas de 1740 e 1750, Brito
“Maria de Souza, também crioula”, Souto participou diretamente da elabo-
Brás de Brito Souto era pai de Mariana ração dos critérios de exclusão de afri-
Tereza, para quem solicitou tença con- canos, mormente daqueles egressos da
cedida por Dom João V em 1727. Sua Costa da Mina, da oficialidade das
trajetória no Terço dos Henriques teve milícias negras do Estado do Brasil.
início em 1707 quando, aos vinte e qua- Missivas trocadas entre oficiais baia-
tro anos, ingressou voluntariamente nos, o Mestre de Campo pernambuca-
num de seus regimentos existentes em no e indivíduos do nível mais alto que
Pernambuco. Em 1725, quando exercia exerciam funções governativas em
o cargo de Sargento-Mor daquela cor- Pernambuco, na Bahia e em Lisboa,
poração, Brito Souto solicitou o hábito apontam, por um lado, para o campo
de Santiago como remuneração aos de tensões formado em torno do prin-
seus serviços, mas não teve sua de- cípio de reservar cargos de oficiais
manda contemplada. Finalmente, em apenas a crioulos e, por outro lado,
1730, ele se tornou o quarto Mestre de para o estreitamento da figuração soci-
Campo do Terço dos Henriques, ocu- al particular formada por Brito Souto e
pando a prestigiosa função social ou- outros indivíduos da sociedade de tipo
trora exercida pelo próprio Henrique antigo. A trajetória de Brito Souto
Dias. Para além destes dados de por- apresenta-se, pois, como um fio condu-
menor, Brás de Brito Souto formou tor para a análise de um quadro social
figuração com outros indivíduos dos bem mais vasto. Através dela é possí-
níveis mais alto e mais baixo da socie- vel perceber como, ao longo da primei-
dade de tipo antigo a qual ajuda a en- ra metade do século XVIII, as milícias
tender o processo de enraizamento formadas por afrodescendentes livres e
social das milícias formadas por afro- libertos passavam por um processo de
descendentes livres e libertos na Amé- institucionalização e crioulização, ao
rica portuguesa. Em primeiro lugar, mesmo tempo em que perdiam suas
Brito Souto enfrentou, em 1731, a opo- funções guerreiras e adensavam suas
sição da monarquia portuguesa tanto à funções sociais de prestígio. Estas úl-
constituição de Estado Maior afrodes- timas tornavam-se, assim, um valor em
cendente, como à manutenção de seus si mesmo, à medida em que, ao ingres-
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O presente trabalho analisa episódios de 1765 e enviado a São Luís para ser
da trajetória de um homem que viveu vendido como escravo. Anos mais tar-
no Maranhão no final do século do sé- de, já como advogado provisionado,
culo XVIII e primeiros anos do século Vicente contava com a admiração do
seguinte, seu nome era Vicente Ferreira então governador, Joaquim de Melo e
Guedes. De sua vida pregressa pouco Póvoas, entretanto esteve envolvido
se sabe: Vicente era filho de um mem- em inúmeras disputas com homens
bro de uma das famílias mais antigas que ocupavam postos bastante privile-
de Pernambuco, os Guedes Alcoforado; giados à época: ouvidores, juízes e ou-
sua mãe é descrita por seus opositores tros funcionários régios. Após o fim do
como tendo sido escrava – o que não governo de Melo e Póvoas, Vicente foi
está explícito na documentação. Era preso e desterrado em diversas ocasi-
natural da cidade de Olinda e estima- ões, o que não o impediu de ser nome-
mos que lá tivesse nascido na década ado para o posto de mestre-de-campo
de 1730. Vindo de Pernambuco, foi do Terço de Homens Brancos da Infan-
preso em Aldeias Altas (MA) por volta taria Auxiliar de Alcântara, o mais dis-
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tem recebido a nossa atenção é este de dados que apresenta cerca de 770
último, que também é reconhecido testamentos, referentes ao recorte lo-
como tabelião. A ele cabia a responsa- cal-temporal já mencionado. Ao anali-
bilidade de redigir e validar acordos, sá-lo, percebemos o destaque de uma
contratos e diversos outros tipos de família de tabeliães na validação destes
documentos. Sendo assim, tornou-se o documentos, que junta acumula cerca
foco de nossa pesquisa em decorrência de 50% de todas as aprovações das úl-
da lacuna historiográfica referente ao timas vontades. Nosso objeto de estu-
exercício de suas funções na cidade do do é a constituição e a trajetória dos
Rio de Janeiro setecentista, principal- Teixeira de Carvalho a fim de compre-
mente a respeito da sua atuação no endermos como se tornaram um grupo
“fazer testamentário”. Temos buscado de notários tão procurado pelos nossos
compreender como se deu a formação testadores. O presente trabalho se pro-
de tal ofício ao longo da sua história, põe a apresentar as principais questões
assim como a sua efetiva participação em torno da participação destes tabe-
na aprovação do testamento à luz da liães no “fazer testamentário”, assim
legislação vigente. Em nossa pesquisa como os primeiros resultados acerca da
contamos com o auxílio de um banco família Teixeira de Carvalho.
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Império e Colonização: economia e sociedade na América portuguesa
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Este estudo tem como objeto o comér- Janeiro, como Tribunal da Junta do
cio em Portugal, dentro de uma visão Comércio, Agricultura, Fábricas e Na-
voltada para o pensamento e organiza- vegação, em 1808. Durante esse recorte
ção dessa essa atividade, através da de temporal pensamos que o grande foco
uma análise dupla: os manuais e livros do comércio é a manutenção e a explo-
escritos por particulares e aquilo que ração do Império Português, de modo
foi produzido e articulado pelos mem- que, organizar o comércio seria conse-
bros do governo, como leis e institui- quentemente organizar o Império. A
ções específicas. A ideia é pensarmos o escolha do primeiro corte cronológico
comércio através dos olhares dos mer- desta pesquisa corresponde a um fato
cadores, dos ministros e demais funci- ocorrido no reinado de D. José I e no
onários da coroa, percebendo suas mo- início do governo de Marques de
tivações e buscando o sentido das Pombal: a criação da Junta de Comér-
ações teóricas ao serem colocadas em cio, em 1755. A segunda metade do
prática. Em face deste objeto, buscare- século XVIII foi importante para as
mos ler os textos teóricos a partir de classes mercantis portuguesas, pois a
um enfoque que visa reforçar e ampliar criação da Junta de Comércio em 1755,
tais formulações teóricas e ações den- a subordinação da Mesa do Bem Co-
tro de uma perspectiva mercantil. A mum dos Mercadores a esta institui-
importância do comércio na Idade ção, a criação dos Estatutos dos Mer-
Moderna e seu papel central na mon- cadores de Retalho em 1757 e a intro-
tagem dos Impérios coloniais nos mo- dução das Aulas de Comércio, em
tiva a buscar uma maior compreensão 1759, representaram mudanças positi-
tanto das ideias teóricas como das es- vas para esses grupos. Essas medidas
tratégias que determinaram as ações foram fundamentais para integrar
relativas à organização da atividade mercadores e negociantes à sociedade
comercial no período compreendido setecentista, livrando-os da fama ante-
entre a criação da Junta de Comércio, rior de praticantes de ofícios mecâni-
em 1755, e a sua reinstituição logo após cos, com menor prestígio, ao mesmo
a chegada da família real ao Rio de que possibilitaram uma maior organi-
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Este trabalho visa analisar a atuação de Mendonça Corte Real contribuiu para
Diogo de Mendonça Corte Real en- a modificação da forma de tributação
quanto Secretário de Estado do Ultra- do quinto do ouro, além de procurar
mar (1750-1756). Filho homônimo de estimular a fiscalização dos descami-
um destacado secretário de D. João V, nhos e contrabandos no Brasil colônia.
Diogo de Mendonça servira a Coroa É importante destacar que a historio-
portuguesa na primeira metade do sé- grafia luso-brasileira, no que toca à
culo XVIII em diferentes funções: fora história econômica e administrativa do
Diplomata em Haia, Provedor da Casa reinado de D. José, procurou debater
da Índia e Conselheiro da Fazenda. Em as características e os resultados das
1750, com a coroação de D. José, um políticas pombalinas enquanto outros
novo campo de oportunidades se abriu ministros e instituições coevos ao Mar-
para este promissor agente régio. Na quês de Pombal permaneceram à som-
esteira dos serviços que havia presta- bra. O Secretário Diogo de Mendonça
do, Diogo de Mendonça obteve uma Corte Real, no entanto, desempenhava
nomeação para a Secretaria de Estado funções específicas e que deveriam ser
da Marinha e Domínios Ultramarinos. examinadas em suas particularidades.
À frente desta Secretaria, Diogo de Diogo de Mendonça, afinal, na posição
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A questão da existência ou não de ri- reu? Estas indagações ainda não foram
queza na colônia, sobretudo na área do devidamente respondidas. Um dos
açúcar, por certo tempo gerou discus- ralos poderia ter sido o consumo sun-
sões controvertidas, uns respondiam tuário. Este trabalho segue na trilha
afirmativamente, outros nem tanto. Se destas questões e se restringe a analisar
realmente havia riqueza na colônia, alguns aspectos dos gastos improduti-
especialmente nas terras do açúcar, vos, especificamente de um grupo so-
que destino levou? Em que ralo escor- cial, o dos senhores de engenho. Em
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uma sociedade cruzada por uma estru- adequar as suas despesas às exigências
tura mercantil onde imperava o lucro e de sua posição e ainda reforçar o seu
uma estamental, assentada em hierar- posto na hierarquia social. Para manter
quia e privilégios, que valorizava a a aparência e responder à necessidade
distinção social, o prestígio e a honra, de gastos suntuários recorriam com
para atender estes requisitos sociais, o frequência ao crédito. Este tornou-se
consumo suntuário era uma necessi- um recurso tão essencial na época co-
dade. Os bens da vida cotidiana, a ca- lonial , que Antonil preocupou-se em
sa, objetos domésticos, pessoais e ou- recomendar aos senhores de engenho
tros deveriam manifestar publicamente como se comportarem frente ao crédito
a riqueza e o viver com mor qualidade. para mantê-lo. Os inventários post-
Esses bens tinham que ser próprios de mortem constituem a base documental
um senhor de engenho, deveriam vi- para desenvolver e responder a nossa
sualisá-lo como pertencente ao topo da proposta de trabalho.
hierarquia social. Portanto, tinham que
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