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VIOLÃO PRO

TURÍBIO SANTOS

ACÚSTICO, ELÉTRICO E EQUIPAMENTOS

TURÍBIO
SANTOS Entrevista imperdível!
+curiosidades sobre sua carreira
+as histórias +violões

TRANSCRIÇÕES
• Refazenda – Gilberto Gil
• Se Ela Perguntar – Dilermando Reis
• Preludium – John Dowland

ANALISAMOS
Violão PRO•2007•Nº 10•R$ 8,90

• Cordas D’Addario Classic EJ-30


• Estúdio Portátil Boss BR-600
• Pedro de Miguel Flamenco
• Rozini RX207ATN-P
• Eagle CH800NT
• Martin DM-12

25

GIN
DE
TRA LIÇÕ
E
AS
NS
CR S E
IÇÕ
ES

Improvise!
TÉCNICA
WWW.VIOLAOPRO.COM.BR

Oito recursos comentados para você incrementar


seus solos + lição completa sobre escalas diminutas

EDUARDO AGNI Violonista fala de suas técnicas


e sonoridades incomuns
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Equipe de Assinaturas

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Editorial
Bons tempos

T
“ empo, tempo, tempo, tempo.” Assim cantava Caetano Veloso na sua Oração ao Tempo,
nos longínquos anos 70. Os mais velhos diriam: “Parece que foi ontem!”. Pois é, a música
sobrevive até hoje e os versos não saem da cabeça de quem os escuta. Para o violonista,
o tempo é precioso e passa mais rápido do que para os demais. Alguns o aproveitam melhor,
fazendo-o trabalhar a seu favor, por exemplo, usando a experiência adquirida para encurtar
distâncias e saber o que fazer e, principalmente, o que não fazer. Com o tempo, o violonista
amadurece, assim como seus gostos. O que era bom para ele no início do aprendizado pode
não significar mais nada, já que suas exigências e referências musicais agora são outras. As
experiências e virtudes realmente significativas são as que permanecem. O tempo também
pode ser cruel, sufocando aquela irresponsabilidade sadia dos primeiros dedilhados ou, então,
estimulante, forçando o violonista a sempre apresentar novidades no seu trabalho. E o tempo
também é o melhor parâmetro sobre os caminhos percorridos, pois só ele define o verdadeiro
valor de um artista.
ATENÇÃO
Na capa desta edição trazemos Turíbio Santos, que conhece como ninguém os vários efeitos
Estamos trabalhando ao máximo para colocar a
do tempo. Um dos maiores violonistas que este país já produziu, com uma carreira premiada e Violão PRO em dia nas bancas. Por favor, qualquer
mais de 50 discos lançados, ele continua atuando como nunca, seja gravando, apresentando dúvida em relação a atraso, entre em contato pelo
programas de rádio, dando aulas ou dirigindo o Museu Villa-Lobos, no Rio de Janeiro. Turíbio e-mail ajuda@violaopro.com.br
recebeu a Violão PRO e contou histórias que marcaram a sua vida de concertista, falou de seus
trabalhos atuais e deu conselhos importantes para os violonistas. Papo de mestre!
Para o violonista Eduardo Agni, o tempo tem lapidado – e muito bem – a sua linguagem
musical. Influenciado pela música minimalista e apaixonado por sonoridades e técnicas não
convencionais, Agni é daqueles que não se encaixam em nenhuma escola violonística e nem por Edição 9:
isso deixam de ser menos geniais. Não deixe de ler a entrevista surpreendente do músico. Toninho Horta,
Pablo Sáinz
Ainda nesta edição, apresentamos um bate-papo com o luthier capixaba Jó Nunes, que Villegas, Festival
falou de sua carreira e revelou detalhes interessantíssimos da construção de seus instrumentos. Nacional de
Destacamos também o especial de improvisação de Rick Udler e as lições de Paulo Martelli e Violão do
Valdir Verona, dois exímios violonistas que escrevem pela primeira vez na revista. Piauí, Especial
Boa leitura e até o mês que vem! Tremolos,
testes, lições e
Fábio Carrilho muito mais!

Edição de Partituras Fotos Publicidade


Cristiano Petagna André Furtado, Carolina Andrade, Anuncie na Violão PRO
Testes Fábio Carrilho, Fernando Souza, Ka- comercial@musicamercado.com.br
Editor / Diretor
Miguel de Laet zuo Watanabe, Natalia Sahlit, Silvana
Daniel A. Neves S. Lima Tel./Fax: (11) 3846-4446
Marques e divulgação
Editor Técnico e Coordenação Revisão www.violaopro.com.br
Fábio Carrilho Hebe Ester Lucas Impressão e Acabamento
e-mail: ajuda@musicamercado.com.br
Gráfica PROL
Redação Departamento Comercial Assinaturas: (11) 3848-0113
Regina Valente – MTB 36.640 Eduarda Lopes Distribuição exclusiva
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Deise Juliana de Oliveira Nancy Bento Grajaú • CEP 20563-900 • Rio de Janeiro / RJ • Tel.: (21) 2195-3200
(“Paraíso Instrumental”/Strings),
Administrativo/Financeiro Assessoria: Edicase Soluções para Editores
Gilson Antunes e Miguel de Laet
Carla Anne
Lições Violão PRO (ISSN 1809-5380) é uma publicação da Música &
Direção de Arte Mercado Editorial. Redação, Administração e Publicidade:
Alessandro Penezzi, Cristiano
Alexandre Braga Rua Alvorada, 700 • Vila Olímpia • CEP 04550-003 • São Paulo/SP.
Petagna, Nilo Sérgio Sanchez, Paulo
Martelli, Rick Udler e Foto de Capa E-mail: violaopro@musicamercado.com.br
Valdir Verona Natalia Sahlit Esta revista apóia

O que ouvimos na redação


Artista: Turíbio Santos | Título: Latinidad Artista: Ronaldo do Bandolim e Artista: Julie London | Título: Julie is her
| Gravadora: Warner | Comentário: Ótima Rogério Souza | Título: Época de Choro | Name / Julie is her Name vol.2 | Gravadora:
coletânea com peças de compositores Gravadora: Olho do Tempo | Comentário: EMI/Liberty | Comentário: A voz de Julie
latino-americanos gravadas por este Digníssima homenagem dos irmãos London e a guitarra de Barney Kessel faziam a
violonista essencial da música brasileira. Ronaldo e Rogério ao violonista Carlinhos cabeça de João Gilberto, Baden Powell e Luís
Audição obrigatória! Leite, figura fundamental do choro. Bonfá. Precisa dizer mais alguma coisa?

4
-
Indice
ACÚSTICO, ELÉTRICO E EQUIPAMENTOS

Procure este selo 20 Turíbio Santos


Ele é a garantia de que o produto Histórias e curiosidades do grande mestre do violão
foi testado pelos profissionais
mais competentes do mercado.

MATÉRIAS
14 Especial Improvisação
Lição imperdível de Rick Udler
28 Lançamentos
Guinga, Fabrício Mattos e
Jodacil Damaceno
30 Eduardo Agni
Técnicas e sonoridades atípicas
no violão
42 Luthier Jó Nunes
Sem medo de inovar

SEÇÕES
4 Editorial 28 Lançamentos 40 Produtos
TESTES
8 Cartas 34 Testes 65 Classificados
34 D’Addario Classic EJ-30
10 Strings 38 Na Estrada 66 Índice de Publicidade
Belo encordoamento de náilon
35 Martin DM-12
Doze-cordas para músicos LIÇÕES E
exigentes TRANSCRIÇÕES
36 Boss BR-600 46 Alessandro Penezzi
Explorando a escala diminuta
Estúdio de gravação portátil
com ótimos recursos 50 Paulo Martelli
John Dowland: Preludium
37 Rozini RX207ATN-P 52 Nilo Sérgio Sanchez
Sete-cordas robusto, barato Dilermando Reis:
Se Ela Perguntar
e confiável
56 Cristiano Petagna
38 Na Estrada Arranjando para violão
Pedro de Miguel Flamenco solo: Refazenda

Eagle CH 800 NT 42 Luthier 60 Valdir Verona


Chamamé no violão
Jó Nunes

6
Cartas
Parabéns! Luthiers
Aqui é o Sidney Molina, do quarteto de Caros amigos. Tenho um so-
violões Quaternaglia. Tudo bem? Em nho de infância de me tor- NOVO ENDER
EÇO!
primeiro lugar, quero parabenizar toda a nar luthier. Por isso, gostaria Rua Alvorada,
700
equipe da Violão PRO. Tenho acompanha- muito de contar com a ajuda 04550-003 -
Vila Olímpia
do a revista e indicado aos meus alunos, de vocês, me informando ou São Paulo / S
P
tanto da FAAM, em São Paulo, quanto colocando em contato com e-mail: ajuda@
da Universidade do Estado do Pará, onde alguém da área ou algum violaopro.com
ajuda@music .br
também sou professor. Acho legal ver al- curso, para conseguir deta- am ercado.com.b
r
guns ex-alunos e amigos participando ati- lhes técnicos de construção,
vamente da revista, como o Cristiano Pe- onde encontrar madeiras e material adequa-
tagna, o Douglas Lora e o Gilson Antunes. do. Espero contar com a ajuda de vocês. taria que vocês colocassem duas transcrições
Um abraço a todos! Melquior dos Reis Dias do Cristiano por edição, seria maravilhoso.
Sidney Molina Franca/SP A revista que já é dez, ficaria dez vezes me-
São Paulo/SP lhor. Abração!
Melquior, alguns dos luthiers entrevistados por Daniel Lins
Sou professor universitário (UFPA) e tenho nós dão aulas de lutheria. Você pode tentar fa- Natal/RN
a música como um passatempo que levo lar diretamente com eles através dos contatos
muito a sério, em particular o violão. Nes- deixados na revista. ERRAMOS
se sentido, vejo a Violão PRO como um dos Na edição passada, a tablatura da transcri-
mais poderosos instrumentos de difusão de Valeu, professor! ção do Minueto Op. 11 Nº.6, de Fernando
informações sobre o violão. Parabéns e longa Gostaria de registrar aqui o excelente tra- Sor, saiu com alguns erros de digitação. A
vida à revista! balho do Cristiano Petagna na Violão PRO. versão corrigida desta música pode ser bai-
Gláucio Carvalho As transcrições dele são nota dez. É um dos xada gratuitamente no site www.violaopro.
Belém/PA motivos pelos quais compro a revista. Gos- com.br. Tudo resolvido!

8
EQUIPAMENTOS, MÚSICOS,
ENQUETES, SHOWS E
NOVIDADES DO GRANDE
MUNDO DOS VIOLÕES!

Quaternaglia: turnê
elogiada pelos
Estados Unidos

Foto: Divulgação
BRILHANDO NA AMÉRICA
O Quaternaglia fez, nos meses de fevereiro e março, uma turnê
de quase 40 dias pelos Estados Unidos. Foram diversos con-
certos, em importantes séries de violão e de música de câmara. No
foram aplaudidos por mais de mil pessoas. Eles também gravaram
por lá seu quinto CD – o primeiro nos EUA – e realizaram diver-
sas masterclasses. Em Phoenix, Arizona, nada menos do que quatro
III Festival Internacional de Violão de Round Top, no Texas, eles es- quartetos de violões esperavam os brasileiros, com repertórios di-
trearam o Quinteto para um Outro Tempo, peça para quatro violões e ferentes e algumas peças dedicadas a eles nas estantes. Na Delta
piano de Sérgio Molina, com a participação do pianista americano State University, no Mississippi, eles deram uma palestra sobre a
James Dick, vencedor de vários concursos internacionais. O New relação entre o blues e ritmos afro-brasileiros. Foi a sexta turnê do
York Times noticiou a apresentação e o grupo paulistano recebeu Quaternaglia por terras americanas e, pelo visto, eles a aproveitaram
críticas e reportagens de vários periódicos sobre esse recital, em que bastante. Muito legal!

EM CARREIRA SOLO
O violonista Marcos Alves é mais um integrante do Maogani a investir na carreira solo. Ele está
finalizando seu primeiro CD, Pra Começo de Conversa (Independente), que deverá sair no se-
gundo semestre. “Será um disco autoral. Terá duas músicas para violão solo, mas a sonoridade
Marcos
Alves: CD
solo saindo
predominante será de flauta, clarinete, cavaquinho, violão, baixo e percussão. Tive algumas do forno
participações especiais, como a do pianista Leandro Braga, do violoncelista Marcio Malard
e do guitarrista Lula Galvão”, antecipou Alves para a Violão PRO.. “O repertório será de
choros, sambas e valsas instrumentais, exceto um choro-canção meu que tem uma
letra linda da Simone Guimarães, que gravei de forma instrumental devido ao
conceito do CD. Escrevi os arranjos também”, acrescentou. Pra Começo
de Conversa foi gravado ao longo de 2006 e a produção ficou por conta
de Filipi Freire – que produziu os dois últimos CDs do Maogani –,
Cyro Telles e do próprio Marcos Alves. Os fãs do quarteto de violões
Foto: André Furtado

carioca podem ficar tranqüilos, pois o violonista não o abandonou. Aliás,


o Maogani deve entrar em estúdio em setembro para gravar seu próximo
CD, dedicado ao choro. Resta-nos aguardar essas novidades!

10
VIOLÃO GEMEDEIRA
O que eles tocam
M úsicos tarimbados e de enorme sensibilidade, os irmãos Ronaldo do Bandolim e Rogério
Souza (violão de sete cordas) acabam de lançar o CD Época de Choro (Olho do Tempo),
em que prestam uma digna homenagem ao violonista Carlinhos Leite. Figura fundamental do
choro, Carlinhos acompanhou o lendário Jacob do Bandolim anos a fio ao lado de César Faria e
Dino 7 Cordas, definindo com eles a linguagem dos violões neste gênero musical. Em Época de
Choro, Carlinhos tocou na maioria das faixas e mostrou um suingue e vigor invejáveis para quem
está completando 70 anos de estrada. Ronaldo e Rogério brilharam como sempre, porém abrindo
espaço e buscando ressaltar as sutilezas, o toque limpo e as conduções de vozes do famoso violão
‘gemedeira’ de Carlinhos, nem sempre perceptíveis em meio à massa sonora dos regionais com que
gravou. A seleção de músicas traz composições de César Faria, Pixinguinha, Anacleto de Medeiros,
Ernesto Nazareth e do próprio homenageado. Entre os destaques estão Resmungando, de Ademar
Nunes, em que Carlinhos divide os violões com Yamandu Costa, e Arrufos, de Nazareth, em que

Foto: Divulgação
os irmãos mostram grande entrosamento e ousadia nos solos. Imperdível!

C hamamés, milongas e outros gêne-


ros do Sul do País fazem parte da
música de Lucio Yanel, referência do
violão gaúcho. No seu mais recente CD,
Aquarela del Sur 2, ele usou um instru-
mento do luthier Ernesto Castañera, um
dos mais tradicionais da Argentina. “Seu
ateliê fica na província de San Martin,
em Buenos Aires. É um instrumento que
atende às expectativas dos músicos mais
exigentes, pela sua qualidade da madeira,
seu fino acabamento e equilíbrio entre
Foto: Silvana Marques

Carlinhos Leite (à esquerda): graves e agudos”, disse ele.


homenageado por Ronaldo
do Bandolim e Rogério Souza

De leitor para leitor


Quais violonistas mais te influenciaram na sua formação musical?
Foto: Carolina Andrade

O primeiro foi o Marco Pe- Quatro violonistas foram


reira, com quem aprendi a fundamentais para mim.
colocar a música em primei- São eles: Zé Bóia, que me
ro lugar, ou seja, ser músico introduziu na música com
antes de violonista, valorizar
cada nota tocada e observar
seus choros e serestas; Fer-
nando Pereira, que me en- O apelido do mestre do choro Zé Bar-
beiro não é por acaso: ele exerceu
mesmo a arte da barbearia por mais de 30
todos os aspectos harmôni- sinou como a paciência está
cos, rítmicos e melódicos da composição. O intimamente ligada ao resultado que almeja- anos. Como não brinca em serviço quan-
segundo foi o Turíbio Santos, um ícone do vio- mos; Fernando Pacheco, meu professor atual; do acompanha grandes nomes do samba
lão mundial e que me ensinou, além da parte e Alessandro Penezzi, uma referência pelo seu ou toca com o Grupo Choro Rasgado,
técnica, a ter personalidade na interpretação. grande conhecimento de música brasileira. ele não dispensa ótimos instrumentos.
Gustavo França Caio Guilherme “Para shows, tenho usado um sete-cor-
Volta Redonda/RJ Pouso Alegre/SP das Manoel Andrade de cordas de náilon
com captação Fishman. Para gravações,
Participe desta seção. Escreva para contato@violaopro.com.br e responda: prefiro o som das cordas de aço do meu
“Quem você considera o maior violonista brasileiro da atualidade e por quê?” Do Souto.” Nada mal, não é mesmo?

11
Strings
PARAÍSO INSTRUMENTAL
R ealizado entre 23 de fevereiro e 4 de março, o 7º Festival Brasil Instrumental trouxe grandes músicos ao Conservatório Dramáti-
co e Musical de Tatuí, interior de São Paulo. Apresentações, palestras e oficinas de alto nível fizeram o evento ser definido pelos
participantes como um ‘paraíso musical’. O violão, como não podia deixar de ser, marcou presença. Marco Pereira apresentou-se com
o gaitista Gabriel Grossi e juntos mostraram o trabalho que resultou no CD Afinidade, de 2005. Outro que esteve por lá foi o gaúcho
Daniel Sá, que tocou ao
7º Festival Brasil Instrumental: lado do acordeonista Re-
Marco Pereira e Gabriel Grossi nato Borghetti e impressio-
foram algumas das atrações nou o público com sua ve-
em Tatuí
locidade e limpeza sonora.
Chico Pinheiro mostrou
sua apurada técnica jazzís-
tica ao violão e revelou:
acabou de gravar nos Esta-
dos Unidos seu novo CD,
San Francisco, com músi-
cas suas, de Francis Hime
e Chico Buarque. Segundo
a organização, o ambiente
musical de Tatuí é o segre-
do do sucesso do evento.
“Criamos um curso que
gostaríamos de ter feito. E
isso só é possível em Tatuí,
com as vantagens que uma
cidade pequena pode ofere-
Foto: Kazuo Watanabe

cer”, disse o pianista Paulo


Braga, um dos organizado-
res do Brasil Instrumental.

É PRA COMEMORAR! Fábio Zanon:


25 anos de

M aior nome do violão erudito brasileiro atual, Fábio Zanon completa 25 carreira pelos
palcos do
anos de carreira repleto de novidades. Só neste ano, ele terá dois CDs
mundo
novos na praça. O primeiro é o belíssimo – e difícil de conseguir – Domeni-
co Scarlatti: Sonatas Arranged for Guitar (Musical Heritage Society), com 13
sonatas do compositor e cravista barroco. O outro será Mountain Songs, em
duo com o flautista Marcelo Barboza e que sairá pelo selo inglês Meridian. “O
repertório ficará ao redor das Mountain Songs, coleção de canções folclóricas
dos Apalaches arranjadas por Robert Beaser”, disse Zanon. Nos palcos, o vio-
lonista terá duas estréias escritas para ele. “Em abril, estrearei o concerto para
violão do compositor irlandês Benjamin Dwyer, sob encomenda da Orquestra
Sinfônica Nacional da Irlanda. Também quero estrear neste ano o concerto
para violão e três percussionistas do compositor brasileiro Harry Crowl”, reve-
lou. Com tanto trabalho assim, sobrará tempo para comemorar? “A comemo-
ração será voltar a tocar nos palcos que mais me marcaram. Tenho concertos
Foto: Divulgação

agendados em Londres, Berlim, Nova York, Estocolmo, etc. Vou tentar fazer o
mesmo no Brasil e, se tudo der certo, quero voltar ao primeiro palco em que
toquei sozinho, em Jundiaí”, falou o mestre à Violão PRO.

12
MESTRES DA GUITARRA JAZZ!
S e você se amarra em guitar-
ra jazz, não pode deixar de
visitar o site americano Classic
Guitar.com. Idealizado
Jazz Guitar.com
pelo músico Mike Kramer há
seis anos, o endereço tornou-
se referência para quem dese-
ja pesquisar sobre guitarristas
de jazz das décadas de 1930,
1940 e 1950. Bem estru-
turado e fácil de navegar,
lá você encontra artigos,
biografias, discografias,
fotos históricas e diversos
links bacanas de músicos
e assuntos relacionados. Com o
Real Player instalado, você pode baixar, por exemplo, trechos de solos de George
Van Eps, Oscar Moore ou Johnny Smith e ainda conferir as capas dos discos origi-
nais. Visita obrigatória! Link: www.classicjazzguitar.com.

PARABÉNS, RAPAZIADA!
• Entre os dias 10 e 15 de abril, o Centro Musical Villa-Lobos, em Vitória, Espírito
Santo, organizou o VIII Concurso Nacional Villa-Lobos. Candidatos de todo o
País participaram das três categorias do concurso: piano, violão e canto. Entre os
violonistas, o nível esteve bem alto e o baiano João Carlos Victor saiu mais uma vez
como o grande vencedor – ele tinha levado o primeiro lugar recentemente no Festival
Nacional de Violão do Piauí. A classificação final dos violonistas foi a seguinte: 1º
lugar: João Carlos Victor (BA); 2º lugar: Felipe Rodrigues (RJ); 3º lugar: Marco An-
tônio Lima (RJ) e Fabrício Mattos (PR); 4º lugar: Vinícios Perez (RJ).

• O violonista Alessandro Penezzi foi homenageado com um breve documentário no


YouTube, site de compartilhamento de vídeos na Internet. Nele, o virtuose fala de
sua carreira, de suas influências e aparece em imagens raras tocando com o regional
de Sérgio Belluco e o Trio Quintessência. Não deixe de assistir! Link: www.youtube.
com/watch?v=q3hhkvXReKQ

FIQUE LIGADO!
• O Movimento Violão, organiza- • O violonista João Rabello já tem datas marcadas
do pelo violonista Paulo Martelli para os shows de lançamento do seu CD de estréia,
na cidade paulista de Araraquara, Roendo as Unhas. No dia 10 de maio, ele tocará
abrirá sua temporada 2007 de re- acompanhado do baixista Matias Correa no Tea-
citais com o Duo Siqueira-Lima. tro Maison de France, no Rio de Janeiro, e terá a
A apresentação será no dia 28 de participação especial de seu pai, Paulinho da Viola.
abril, às 21 horas, no Teatro Mu- No dia 13 de junho, ele se apresentará no Sesc Pi-
nicipal de Araraquara. nheiros, em São Paulo.

13
Tecnica

Improvisando!
Lição especial com oito recursos de improvisação para
você incrementar seus solos no violão
Por Rick Udler

I
mprovisação não é uma ciência exata, mas existem Towner já disse, existem outras formas de improvisar
técnicas que são fundamentais para desenvolver a além da linguagem jazzística.
capacidade de responder espontaneamente numa Todavia, precisamos começar em algum lugar
situação musical. Da mesma forma que algumas pes- e os excelentes improvisadores de jazz são um óti-
soas se expressam melhor do que outras na lingua- mo ponto de partida. Estudamos os mestres para
gem falada, algumas pessoas têm mais facilidade do eventualmente desenvolvermos nossa própria ‘voz’.
que outras em desenvolver idéias musicais no calor Alguns elementos que o improvisador precisa levar
do momento. Mas, com dedicação, muitos músicos em conta são a escolha das notas, sua duração, dinâ-
que não se consideram aptos para o improviso podem mica, intensidade, ritmo, emoção, intenção e tim-
chegar a bons resultados nesta área. bre, dentre outros. É importante ouvir o jeito como
Indiscutivelmente, o jazz possui uma das tradi- outros instrumentistas – saxofonistas, trompetistas,
ções mais fortes de improvisação na música ocidental pianistas, etc. – fraseiam. Muitos guitarristas de jazz
e existem ótimos métodos que ensinam a improvisar dizem que suas maiores influências são os mestres
nessa linguagem. É importante lembrar que ninguém dos sopros.
nasce dizendo frases geniais e, da mesma forma, nin-
guém nasce improvisando frases musicais geniais. A Estudar os grandes mestres
capacidade criativa de improvisação normalmente do jazz é um excelente ponto
envolve incontáveis horas de preparação. Inclusive,
é comum os músicos terem algumas frases prontas, de partida para desenvolver
de ‘estoque’, para emergências, já que nem sempre a a improvisação
inspiração aparece na hora certa. Conhecer bem es-
calas e arpejos é importante, mas não é o suficiente. No caso do violão, podemos aprender muito com
Se assim fosse, qualquer um poderia ser um grande nossos primos da guitarra. Apesar de ser bem mais
improvisador, mas isso não é o caso. Portanto, a cria- nova do que o violão, a tradição de improvisadores
tividade e a busca de uma expressão pessoal são tão nesse instrumento é muito maior. Ótimos improvisa-
importantes quanto o conhecimento técnico. dores do violão brasileiro, como Hélio Delmiro, Ro-
Existem casos de músicos que conseguiram óti- mero Lubambo, Lula Galvão, Nelson Faria, Conrado
mos resultados utilizando menos recursos técnicos, Paulino, Marcus Teixeira e Chico Pinheiro trazem na
mas com muita alma. Dizzy Gillespie, por exemplo, bagagem uma enorme influência da guitarra quando
tinha um domínio absoluto do seu trompete, mas tocam seus violões.
isso não impediu que Chet Baker, com menos no- Nesta lição vamos examinar alguns recursos usa-
tas, também deixasse sua marca na história do jazz. E, dos por monstros sagrados que abriram caminho para
como o genial violonista/multiinstrumentista Ralph a linguagem moderna da improvisação no violão.

14
Rick Udler é violonista, guitarrista, arranjador e
compositor. Em 2006, lançou o CD Papaya, que vem
recebendo elogios da imprensa brasileira e
norte-americana. Seu CD Rhythm & Romance, em
duo com a cantora Maria Alvim, tem composições
suas com os letristas Paulo César Pinheiro e Costa

!
Netto. Em 1999, produziu o CD Reflexões, de
Paulinho Nogueira. É formado pelo Musicians
Institute da Califórnia, EUA. Site: www.rickudler.com.

ALGUNS DISCOS INTERESSANTES


PARA OUVIR VIOLONISTAS/
GUITARRISTAS IMPROVISANDO
• Django Reinhardt: The Best of Django Reinhardt, Blue Note
• Charlie Christian: The Genius of the Electric Guitar, Sony
• Wes Montgomery: Impressions: The Verve Jazz Sides, Verve
• Joe Pass: Virtuoso & Songs for Ellen, Pablo
• Jim Hall: Undercurrent (c/Bill Evans), Blue Note
• Lenny Breau: Live at Bourbon St. & Cabin Fever, Guitarchives
• Hélio Delmiro: Emotiva & Samambaia (c/Cesar Mariano), EMI
• Romero Lubambo: Partido Out, Malandro e Somewhere,
Megaforce (ambos c/Trio da Paz)
• Pat Metheny: Bright Size Life, ECM e Trio99>00, WEA

15
Tecnica

1
PONTO
REPETIÇÃO
U ma repetição bem colocada e suingada pode gerar um efeito hipnótico num solo. No Ex. 1, Charlie Christian (1916-1942) cria um
efeito de três tempos contra quatro usando um motivo de três semicolcheias. A frase seguinte, com seu toque ‘bluesístico’, fica ainda
mais valorizada devido ao contraste com o anterior. Pioneiro da guitarra no jazz, Charlie Christian exerceu uma enorme influência na
história do instrumento, apesar de sua morte precoce aos 25 anos.
Ex. 1 Trecho do improviso de Charlie Christian em Shivers

2
PONTO
CROMATISMOS

O saxofonista Charlie ‘Bird’ Parker (1920-1955) foi um dos fundadores do bebop e um verdadeiro inovador da linguagem do jazz.
Seus improvisos demonstram que qualquer nota pode ser utilizada, desde que seja com musicalidade e bom gosto. Uma nota te-
oricamente ‘errada’ pode funcionar muito bem como nota de passagem, principalmente quando bem concluída. Além do cromatismo,
o Ex. 2 mostra bem a linguagem de fraseado do bebop e o uso de blue notes.
Ex. 2 Trecho do improviso de Charlie Parker em Billie´s Bounce

3
PONTO
HARMÔNICOS

O s harmônicos artificiais normalmente são tocados com o dedo indicador da mão direita (para os destros) encostando levemente na
oitava desta nota (12 casas acima) e com o polegar atacando a corda. O cigano Django Reinhardt (1910-1953), provavelmente
o mais famoso violonista da história de jazz, utilizou esse recurso no improviso sobre sua música mais famosa, Nuages (Ex. 3). Existem
muitas formas de utilizar os harmônicos e vale a pena ouvir o trabalho de Lenny Breau e Chet Atkins.
Ex. 3 Trecho do improviso de Django Reinhardt em Nuages

16
4
PONTO
ARPEJOS

O s arpejos são essenciais no vocabulário do improvisador e, muitas vezes, soam mais bonitos e musicais do que as escalas. Se não
tiver outro instrumento harmônico tocando junto, os arpejos tornam-se ainda mais importantes por deixarem a harmonia mais
evidente. No Ex. 4, Hank Garland (1930-2004) praticamente soletra os acordes deste standard. Garland foi um dos primeiros virtuoses
a trabalhar nos estúdios de Nashville, no Tennessee, e estava despontando no mundo de jazz quando um trágico acidente de automóvel interrompeu sua
carreira musical, em 1962.
Ex. 4 Trecho do improviso de Hank Garland em All the Things You Are

5
PONTO
OITAVAS

W es Montgomery (1928-1968) é um dos mais influentes guitarristas de jazz de todos os tempos. Ele tinha uma fórmula extrema-
mente eficaz de desenvolver seus solos, começando com linhas single-note (nota a nota), passando por oitavas – sua marca regis-
trada – e concluindo com acordes. Ele geralmente montava as oitavas com os dedos 1 e 4, quando tocadas nas primas, e com os dedos 1
e 3, quando tocadas nos bordões, abafando a corda entre as oitavas com o dedo 1, conforme aparece no Ex. 5. Na mão direita, ele utilizava exclusivamente
o polegar, o que resultava num timbre bonito e, muitas vezes, percussivo na sua guitarra.
Ex. 5 Trecho do tema de Road Song, tocado por Wes Montgomery

17
Tecnica

6
PONTO
DOUBLE-STOPS E ACORDES

J oe Pass (1929-1994) conquistou renome no mundo de jazz quando gravou uma série de discos sem acompanhamento. Nas mãos
dele, o violão e a guitarra conquistaram o mesmo espaço antes reservado ao piano na tradição de jazz. Quando tocava sozinho, Joe op-
tava pelo uso dos dedos da mão direita em vez da palheta. No Ex. 6, Joe utiliza bastante double-stops (duas notas tocadas simultaneamen-
te) e alguns acordes para deixar a harmonia mais evidente no seu improviso. Lenny Breau, Martin Taylor e Tuck Andress, cada um com sua linguagem,
também realizaram excelentes trabalhos solo.
Ex. 6 Trecho do improviso de Joe Pass em Blues for Basie

18
7
PONTO
INTERVALOS

O guitarrista Joe Diorio desenvolveu uma concepção muito própria de improviso explorando idéias melódicas baseadas em desenhos
interválicos. Neste bebop blues de Charlie Parker (Ex. 7), ele utiliza intervalos de quartas descendo pelo braço casa a casa, criando
uma atonalidade e concluindo sua idéia com terças.
Ex. 7 Trecho do improviso de Joe Diorio em Bloomdido

8
PONTO
BRASILIDADE

H élio Delmiro é respeitado internacionalmente como um dos maiores expoentes da guitarra brasileira. A influência do bebop mistu-
rado com idéias melódicas e células rítmicas vindas do choro e do samba são fortes características nos seus improvisos, como fica
evidente no Ex. 8. O fato de ele utilizar os dedos da mão direita em vez da palheta mostra a influência do violão no seu trabalho. Heraldo
do Monte, Olmir Stocker (Alemão) e Toninho Horta também são referências importantes de improvisação repleta de brasilidade nas seis cordas.
Ex. 8 Trecho do improviso de Hélio Delmiro em Esperando

Esses oito exemplos são uma pequena amostra de recursos usados nesse
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
assunto inesgotável que é a improvisação. Não podemos esquecer de um fator
Wolf Marshall: Best of Jazz Guitar
Guitar, Hal Leonard
muito importante: a coragem de criar. Os grandes improvisadores sempre se
Ted Greene: Jazz Guitar Single Note Soloing Vol. 1 & 2, Alfred
meteram em situações ‘perigosas’ e, muitas vezes, nesses momentos é que sur-
Joe Diorio: Fusion Guitar, Warner Bros.
gem seus melhores solos. Por isso, não tenha medo de errar. Se você está come-
Joe Diorio: Intervallic Designs for Jazz Guitar, Hal Leonard
çando agora na improvisação, tenha paciência, pois com persistência e bastante Scott D. Reeves: Creative Jazz Improvisation, Prentice-Hall
estudo a tendência é melhorá-la. Nunca esqueça que o fundamental é utilizar Nelson Faria: A Arte da Improvisação, Lumiar
esses recursos para improvisar com mais liberdade e não virar uma prisão. Conrado Paulino: Fundamentos da Improvisação, Vol. 1, 2 e 3, CPEdições-HMP
Aprenda com os mestres, mas sem esquecer de buscar o mestre dentro de Jamey Aebersold: Jamey Aebersold Play-A-Long Series, Jamey Aebersold Jazz
você. E, sem dúvida, divirta-se nesse processo. Bons improvisos!

19
Capa

Papo d
Com uma carreira
premiada de mais
de quatro décadas,
Turíbio Santos é uma
verdadeira instituição
do violão brasileiro
Por Gilson Antunes
Fotos: Natalia Sahlit

Um dos maiores concertistas do


País de todos os tempos, Turíbio
Santos coleciona prêmios e títulos
internacionais. Fez gravações hoje
históricas, excursionou pelo mundo
diversas vezes e tocou ao lado das
principais orquestras, como a
Royal Philharmonic Orchestra, a
Orchestre National de France e a
Orchestre National de L’Opéra de
Monte-Carlo. Especialista na obra
de Villa-Lobos e de compositores
latino-americanos como Leo
Brouwer e Augustín Barrios, este
discípulo de Antônio Rebello e
Oscar Cáceres sempre esteve ligado
à música popular. Foi amigo de
Jacob do Bandolim, Raphael
Rabello e Radamés Gnattali e um
dos pioneiros em redescobrir e
gravar a obra de João Pernambuco,
Dilermando Reis e Garoto.

20
o de mestre!

Turíbio Santos no
Museu Villa-Lobos,
no Rio de Janeiro

21
Capa

N
ascido em São Luís, Maranhão, e cria-
do no tradicional bairro de Copaca-
bana, no Rio de Janeiro, Turíbio pos-
sui uma trajetória impressionante no violão.
Com apenas 19 anos ele fez a primeira grava-
ção da série integral dos 12 Estudos de Villa-
Lobos, um marco na história do instrumento.
Em 1964, venceu o Concurso Internacional
de Violão da ORTF (Office de Radiodiffusion
et Television Française), realizado em Paris e o
principal do mundo naquela época, e viu sua
carreira internacional decolar de vez. Convites
para gravações e excursões surgiam um atrás
do outro, o que o levou a tocar nos principais
centros da música clássica e a residir na capi-
tal francesa por mais de dez anos. O ritmo
frenético de viagens fez o músico suspender
as grandes excursões em 1980. Mais próximo
da família e do Brasil, Turíbio passou a de-
sempenhar um papel importante na educação
musical, por exemplo, dando aulas na UFRJ,
participando do projeto social Villa-Lobinhos
e à frente do Museu Villa-Lobos, do qual é
diretor. “Ainda viajo, mas de forma prazerosa,
em menor quantidade, quando eu quero, sem
aquele estresse todo”, afirma Turíbio. Con-
versar com o violonista é sempre inspirador,
pela sua sabedoria e experiência de uma vida
dedicada ao instrumento. A Violão PRO falou
com o mestre, nesta entrevista exclusiva que
você acompanha a seguir.

> Violão PRO: Você morou em São Luís até


quase os 3 anos de idade e então mudou-se
para o Rio de Janeiro. Você tem lembran-
ças de sua infância no Maranhão?
Turíbio Santos: Tenho, aliás, uma lembran-
ça bem engraçada. Eu me lembro de ter que-
brado um violão! Meu pai me jogou para o
alto, de brincadeira, e eu esbarrei num violão
que estava em cima do armário. Ele caiu e
quebrou (risos).

> E seu pai, tocava violão?


Meu pai era um seresteiro, adorava cantar as
músicas do Dorival Caymmi, essas coisas... E
adorava violão. Ele tinha um disco de vinil do
Segovia, de capa preta, em que tocava Bach.
Tinha também um do Dilermando Reis... Ali- teatro. Ele ajudou o Barrios nesse sentido, por Minhas irmãs começaram a tocar primeiro
ás, tem uma história curiosa. Quando o Bar- ficar indignado ao ver um grande artista com que eu, com um professor chamado Moli-
rios tocou em São Luís, meu pai foi assisti-lo. um público pequeno para assisti-lo. na. Então eu fiquei curioso e fui aprendendo
Quando viu o teatro vazio, ele foi até a praça sozinho. Até que um dia fui à aula, com a
em frente ao teatro e chamou todas as pessoas > E no Rio de Janeiro, como foi sua infân- maior cara-de-pau, e acabei tocando bem.
que pôde para assistir ao concerto, encheu o cia em Copacabana? Ele ficou louco da vida e não deu mais aulas

22
(risos). Depois disso estudei seis meses com
um discípulo do Dilermando Reis, o Fran-
cisco Amaral.
Discografia Selecionada
12 Estudos para Violão de Heitor
> O Antonio Rebello (avô dos irmãos Sér- Villa-Lobos – Museu Villa-Lobos, 1963
gio e Eduardo Abreu) foi uma pessoa im- Três Séculos de Música (com Oscar Cáceres)
portante na sua vida. Como foi seu encon- – Caravelle (fora de catálogo), 1964
tro com ele? Classiques d´Amerique Latine – Erato/Kuarup, 1973
Foi uma coisa curiosa. Conheci o Rebello Concierto de Aranjuez – Erato, 1976
aos 12 anos de idade, num dia bem espe-
cial da minha vida. Meu pai me levou para Musique Française pour la Guitare – Erato, 1978
assistir a um filme na Associação Brasileira Valsas e Choros (com participação de Rafael
de Imprensa, em que iria aparecer o Sego- Rabello no violão de sete cordas) – Kuarup, 1979
via. Lá, nesse mesmo dia, conheci três das Musique Brasiliene – Erato, 1980
pessoas mais importantes da minha vida: o Brasileiríssimo – JSL, 1989
Antonio Rebello, que era discípulo do Quin-
Fantasia Brasileira – Visom, 1994
cas Laranjeiras e do Isaías Sávio; o Hermínio
Bello de Carvalho, que era voltado para a Turíbio Santos e Orquestra de Violões – Kuarup, 1998
música popular; e o Jodacil Damaceno, que Latinidad – Warner, 1998
já tocava bem e me levou a conhecer melhor Guitar Music of Spain – Sanctus Recordings, 1999
o violão erudito.
O Guarani – Delira, 2006
> Outro fato importante na sua vida foi Violão Amigo – Delira, 2006
seu encontro com Villa-Lobos. Graças a 5 Concertos para Violão e Orquestra – Visom, 2007
isso, hoje em dia os violonistas possuem in-
formações preciosas sobre sua obra para o Livros
violão. Como foi esse encontro?
Violão Amigo 1 – Cantigas de Roda
Foi assim: o Hermínio tinha um programa
do Brasil – Jorge Zahar
na rádio – hoje histórico – chamado Violão
de Ontem e de Hoje, que, aliás, eu até cheguei Violão Amigo 2 – Obras brasileiras
a gravar para ele. O Villa-Lobos ia dar uma para violão – Jorge Zahar
palestra sobre sua obra para violão na Escola Violão Amigo 3 – Obras brasileiras
de Canto Orfeônico, na Urca, e o Hermínio para violão – Jorge Zahar
não pôde ir e me pediu para ir no lugar dele Mentiras... ou não – Uma quase
e anotar tudo o que o Villa-Lobos dissesse. A autobiografia – Jorge Zahar
idéia inicial era conseguir informações para
Segredos do Violão – Lumiar
o programa da rádio, mas acabou servindo
para muito mais do que isso, inclusive para
o meu futuro livro, Heitor Villa-Lobos e sua Partituras
Obra para Violão. Fernando Sor: Variations sur Malbrough S´em Va-t´em
Guerre, Max Eschig
> Seu disco 12 Estudos para Violão de Hei- Gaspar Sanz: Chansons Populaires Du XVII Siecle,
tor Villa-Lobos foi um marco na história Max Eschig
do instrumento, inclusive por ser também Marlos Nobre: Momentos 1, Max Eschig
a primeira gravação integral desses estu-
Edino Krieger: Ritmata, Max Eschig
dos. Como isso aconteceu?
A Arminda Villa-Lobos me assistiu tocando Ricardo Tacuchian: Lúdica 1, Max Eschig
em algum lugar e pediu para eu gravá-los. Radamés Gnattali: Brasilianas 13, Max Eschig
Tinha 17 anos na época e topei. A gravação Cláudio Santoro: 2 Prelúdios, Max Eschig
acabou acontecendo dois anos depois. Foi
Francisco Mignone: Lenda Sertaneja, Max Eschig
o primeiro disco do Museu Villa-Lobos, o
primeiro disco da minha carreira e a primei- João Pernambuco: Sons de Carrilhões, Graúna, Sonho de Magia, Ricordi
ra gravação dos 12 Estudos. Foi algo muito Turíbio Santos: Caderno Pedagógico n.1, Ricordi
importante para mim.

23
Capa
> Foi um empurrão enorme em sua carrei- Foi no Maranhão, não no Rio de Janeiro. A programa e me arrumou pra tocar no Rio de
ra, não? dona Lilá Lisboa, que era presidente da So- Janeiro, na Associação Brasileira de Impren-
Empurrão? Foi mais que isso, foi um fura- ciedade de Cultura Artística do Maranhão, sa. Tudo isso foi em 1962.
cão! Abriu portas para um monte de coisas. foi quem me arrumou. Ela me viu tocando e
Em seguida, fiz um disco em duo com o perguntou: “Você não quer dar um recital no > Você venceu o maior concurso de violão
Oscar Cáceres, que também foi uma pessoa Maranhão? Quanto é o seu cachê?”. Eu res- do mundo, o Concurso Internacional da
importantíssima na minha vida. Esse disco pondi: “Olha, eu não sou profissional, não ORTF em Paris. Isso alavancou sua carrei-
saiu pela Caravelle e, infelizmente, nunca foi tenho cachê. Mas se a senhora pagar a passa- ra internacional. Foi idéia sua participar
relançado em CD. gem do meu pai, eu toco”. Ela então pagou a desse concurso?
passagem e dei esse recital, que foi importan- Foi. Eu comecei a pensar: caramba, fiz a
> Qual foi seu primeiro recital importante tíssimo. Assim que voltei, vi que o Hermínio primeira audição do Sexteto Místico do Villa-
de violão? Bello de Carvalho tinha pegado esse mesmo Lobos em 1962, fiz a primeira gravação dos
12 Estudos em 1963 e ainda era estudante do
terceiro ano de arquitetura na UFRJ. Mas no
dia 30 de março de 1964 pus meus pés pela
última vez na universidade...

> Nossa, você se lembra até da data exata!


Sim, não tem como esquecer. Foi o dia do
golpe militar.

> Ah... Mas seus pais lhe apoiaram nessa deci-


são de largar a universidade no terceiro ano?
Sim, apoiaram. Parei para refletir e busquei
alguns alvos. O Concurso de Paris era o
maior do mundo, então fui para lá e acabei
vencendo. Para você ver a sorte que tive, vá-
rias coincidências aconteceram ao mesmo
tempo. Eu ganhei o concurso em junho. Em
julho, participei do primeiro curso do Julian
Bream na Inglaterra e, em agosto, fiz o últi-
mo curso do Segovia em Santiago de Com-
postela. Um em seguida do outro. Tudo isso
foi muito importante para a minha carreira.

> E como foi esse encontro com o Julian


Bream e com o Segovia?
Esse curso com o Bream foi em Dilton,
Wiltshire. Ele é uma pessoa extraordinária,
com uma presença bastante forte. Foi uma
bênção estar na presença dele. O Segovia
também era uma pessoa iluminada. Toquei o
Fandanguillo, do Turina, nessa aula e foi uma
experiência inesquecível. Tudo isso acon-
teceu em pouco tempo, em 1965, e posso
dizer que tive sorte. Eu ainda encontraria o
Segovia algumas outras vezes no futuro.

> Você ficou mais de dez anos na França.


“Hoje em dia ainda viajo Como foi o convite para se estabelecer
(para tocar), mas é uma coisa
por lá?
mais prazerosa, em menor
O diretor de um conservatório musical fran-
quantidade, quando eu quero,
sem aquele estresse todo”
cês me viu tocando e pediu que eu desse al-
gumas aulas. Minha idéia era ficar apenas três

24
meses, mas fui adiando, adiando, e quando eles fossem educados no Brasil, numa escola
fui ver já estava há anos por lá. Na França, pública. Assim, minha família voltou, mas
gravei um disco com o Concierto de Aranjuez, não pude voltar definitivamente por causa
de Rodrigo, que vendeu 300 mil cópias. Isso da minha vida de concertista. Cheguei a dar
me abriu as portas para a gravadora Erato, 120 concertos por ano... Então, de 1975 a

“O Concurso de Paris era o maior do mundo.


Várias coincidências aconteceram ao mesmo
tempo. Ganhei o concurso em junho. Em julho,
participei do primeiro curso do Julian Bream na
Inglaterra e, em agosto, fiz o último curso do
Segovia em Santiago de Compostela”

que era muito grande e importante. Lá, pude 1980 foi uma tensão absoluta por conta dis-
regravar as obras do Villa-Lobos, o próprio so, estava bastante estressante. Eu pensava:
Concierto de Aranjuez e vários outros discos quero ser brasileiro, quero voltar. Estava me
que foram relançados em CD pela Warner. dedicando a gravações de música brasileira e
de um repertório diferente. Gravei os discos
> E sua volta para o Brasil, depois desse Valsas e Choros e Choros do Brasil pela Erato.
tempo? Até que, em 1980, o Guilherme Figueiredo
Houve duas voltas. A primeira foi em 1974, me chamou para dirigir a Sala Cecília Mei-
por causa dos meus filhos. Eu queria que reles, no Rio de Janeiro. O pessoal da UFRJ

25
Capa
anos do nascimento do Villa-Lobos – 5 de
O que Turíbio usa março – fizemos uma série de atividades
por lá. Sobre os concursos internacionais,
Violões: “Uso um violão Jó Nunes de 2005 e um eles estão suspensos por tempo indeter-
Suguiyama de 2004”. minado pelo seguinte motivo: você acaba
Cordas: “Gosto da Savarez Corum e da Média ficando muito preocupado em soltar nas
Tensão. Às vezes, uso também as da D’Addario”. ruas do Rio de Janeiro os candidatos de
todo o mundo que vêm para cá participar.
Guitarras: “Utilizo uma captação interna
desenvolvida pelo violonista Paulo Rogério, que
funciona bem para o violão”.
Unhas: “Triangulares e pequenas. No
polegar, utilizo unhas bem mais longas,
mas também triangulares”.
Postura: “Atualmente uso o violão na perna Jó Nunes 2005

direita, principalmente pelas conversas que tive com o


Paco de Lucia, e estou achando confortável. No início
usava na perna esquerda, como o Bream e o Segovia,
depois passei a usar na posição do Narciso Yepes, que
Suguiyama 2004
era deixar o violão nas duas pernas. Hoje em dia estou
nesta nova posição”.

e da Unirio aproveitou e me chamou para teoria musical, fazer edições de partituras


dar aulas nessas universidades, com o título e outras coisas. É um projeto social bem
de Notório Saber. Fui voltando aos poucos interessante e alguns deles chegaram até a
para o Brasil. A Arminda Villa-Lobos veio entrar em universidades.
a falecer em 1985 e, no ano seguinte, aca-
bei assumindo a direção do Museu Villa- > Você continua dando aulas em univer-
Lobos. Em 1987 ainda viajei bastante por sidades?
ocasião do centenário do Villa-Lobos, mas Continuo na UFRJ, mas com uma carga
no ano seguinte finalmente consegui parar horária reduzida para 20 horas. Trabalho na
com aquele ritmo de viagens e ficar mais no graduação e no mestrado também.
Brasil. Hoje em dia ainda viajo, mas é uma
coisa mais prazerosa, em menor quantidade, > E o Turíbio Santos compositor?
quando eu quero, sem aquele estresse todo. Ele é um compositor imprevisível, não tenho
controle sobre ele (risos). Fiz algumas coisas.
> Nessas duas universidades você acabou A valsa Pagu foi escrita a pedido da atriz Nor-
formando uma importante orquestra de ma Bengell, por ocasião do seu filme sobre a
violões, chegando a gravar alguns discos. vida da Patrícia Galvão. Aliás, o filme ganhou
Você pretende retomar esse trabalho? o Kikito de melhor roteiro no Festival de Gra-
Na verdade esse projeto não está acabado, mado. Outra que compus foi a Suíte Teatro do
está congelado. Já reativei duas vezes a or- Maranhão, que foi publicada pela Max Eschig
questra de violões, principalmente porque é e escrita por ocasião da reinauguração desse “Deus ajuda quem
muito divertido e eu gosto bastante. Quem teatro. Mais recentemente, compus a Suite estuda! Acho importante
sabe, no futuro, eu retome novamente. Senhores, em homenagem a alguns amigos, e o estudante ter
seus movimentos têm títulos como Seu Guin- horizontes bem abertos.
> O Projeto Villa-Lobinhos tem um forte ga, ou Seu Raphael (em homenagem ao Ra- Com a velocidade do
caráter social. Fale um pouco sobre ele. phael Rabello), por exemplo. mundo hoje em dia, o
Ele foi inaugurado em 1986, na Comu- diálogo entre as artes
nidade Dona Martha. O cineasta Moreira > Como estão as atividades no Museu tornou-se uma coisa
incrível. As pessoas
Salles me chamou para dirigir um projeto Villa-Lobos? E os concursos internacionais
têm de ter a mente
social com crianças adolescentes entre 12 que vocês promoviam?
aberta para as novas
e 17 anos sem recursos financeiros. Lá eles As atividades no Museu são sempre inten- experiências musicais”
aprendem a tocar instrumentos musicais, sas. Este ano, por exemplo, no dia dos 120

26
Com a situação da violência na cidade, nuir e quando conseguirmos melhores
prefiro esperar. Outro motivo foi que o prêmios, com certeza retomaremos. Por
valor dos prêmios que estávamos conse- enquanto, não.
guindo não eram equivalentes aos dos
outros concursos internacionais e foi > Quais são seus projetos para o futuro?
ficando cada vez mais difícil viabilizar Tenho uma grande novidade: gravei no
os concursos. Mas quando essa onda ano passado cinco concertos para violão
de violência no Rio de Janeiro dimi- e orquestra, incluindo um concerto apai-
xonante do Edino Krieger e dois con-
certos bem bonitos do Sérgio Barboza.
Esses CDs devem ser lançados em abril
ou maio deste ano. Sobre o futuro, não
tenho planos concretos. O futuro já che-
gou para mim. Quero me dedicar cada
vez mais ao ensino, por exemplo. Estou
num projeto com o luthier Joaquim Pi-
nheiro, em que ele apresenta a história do
violão por meio de cópias de instrumen-
tos de época. Esse projeto está rodando o
Brasil, vou às cidades por onde ele passa
e dou masterclasses para os alunos. Outro
projeto interessante é o do programa da
rádio Cultura FM de São Paulo sobre
Villa-Lobos, que, na verdade, mostra o
conhecimento que adquiri sobre o com-
positor durante toda a minha vida.

> Você tem alguma rotina de estudos?


Mantenho uma rotina de estudo, mas
não acho nem recomendo que se devam
estudar muitas horas por dia. Acho in-
teressante a mentalização, saber as notas
que está tocando e saber cantá-las. Isso eu
acho importantíssimo.

> Para finalizar, que conselho você da-


ria para os estudantes de violão?
Deus ajuda quem estuda! Acho impor-
tante o estudante ter os horizontes bem
abertos, inclusive pela questão da sobrevi-
vência. Com a velocidade do mundo hoje
em dia, dos meios de comunicação, da In-
ternet, esse tipo de coisa, o diálogo entre
as artes tornou-se uma coisa incrível. Isso
provoca o aparecimento de estilos de mú-
sica bem interessantes, uma ‘democratiza-
ção da capacidade de criar’. Hoje todos
podem ser compositores e as pessoas têm
de ter a mente aberta para as novas expe-
riências musicais.

Sites
www.turibio.com.br
www.museuvillalobos.org.br
www.villalobinhos.org.br

27
Lancamentos
FABRÍCIO MATTOS
España foi bem-sucedido em para escrever Elementos Básicos para a Técnica
Trilhas Urbanas sua estréia discográfi- Violonística. Na introdução, o autor diz que
Umas das marcas re- ca. Muito bem tocado, tem por objetivo “apresentar um caminho me-
gistradas da nova geração com uma produção todológico para o estudo do violão através da
de violonistas paranaenses caprichada, arte gráfi- reflexão de assuntos técnico-musicais a serem
têm sido tocar repertórios ca de primeira e textos resolvidos”. O livro inicia com definições gerais
pouco divulgados, inclusi- bilíngües, España é um sobre o significado da técnica e a importância
ve de compositores locais. excelente cartão de vi- da postura corporal. Depois, são apresentados
O violonista curitibano sitas desse violonista exercícios para mão esquerda (abertura e inde-
Fabrício Mattos não foge à promissor. Altamente pendência dos dedos, ligados e exercícios com
regra e nos brinda com seu recomendado aos fãs pestana) e mão direita (postura, coordenação,
belo CD de estréia España, de música espanhola e polegar, tremolos e arpejos), finalizando com
voltado à música de compositores espanhóis. do violão em geral. Informações: www.trilha- exercícios de escalas. Não são muitos exercícios.
España abre com a bela e difícil Sonata Gio- surbanas.com.br ou fabricio_mattos@yahoo. Jodacil preferiu a funcionalidade à quantidade,
cosa, de Joaquin Rodrigo, uma das peças com.br. Por Gílson Antunes indo direto ao ponto neste livro prático e ob-
para violão menos tocadas do compositor, jetivo. O destaque vai para a seção de arpejos,
talvez pelo seu caráter extremamente vir- ponto forte da sua
tuosístico. Em seguida, Mattos toca a Suíte JODACIL didática. Elementos
Compostelana, do compositor catalão Fede- DAMACENO Básicos para a Téc-
rico Mompou e que foi gravada pelos prin- Elementos Básicos para a Técnica Violonística nica Violonística é
cipais violonistas do século XX, com desta- Universidade Federal de Uberlândia um método desse
que para a sua interpretação sonora e vivaz O violonista carioca Jodacil Dama- grande violonista
do último movimento, Muñeira. O ponto ceno é uma figura fundamental do violão recomendado sem
alto do CD é a Sonata II II, de Eduardo Lo- erudito brasileiro. Admirado pela sua veia restrições a alunos
pez-Chavarri. Dividida em três movimentos didática, Jodacil marcou época na Uni- e professores. Infor-
e dedicada à violonista Josefina Robledo, a versidade Federal de Uberlândia, onde mações: (34) 3239-
peça teve pouquíssimas gravações ao longo foi professor e formou várias gerações 4514 ou livraria@
da história e recebeu aqui uma interpreta- de violonistas. Foi desse relacionamento ufu.br. Por Gílson
ção digna de sua grandeza. Fabrício Mattos professor-aluno que o mestre inspirou-se Antunes

GUINGA no máximo, um quinteto de sopros; baiões e Villa-Lobos, ao lado de grandes


Casa de Villa e estreou como letrista em Maviosa. parceiros, como Aldir Blanc, Paulo Cé-
Biscoito Fino O Guinga compositor está ali, mistu- sar Pinheiro, Edu Kneip e Simone Gui-
Exímio violonista rando serestas, choros, sambas, valsas, marães. Casa de Villa tem suas pérolas,
e grande compositor, como Mar de Maracanã, com arranjo in-
Guinga parece ter se li- sinuante e solo de guitarra de Lula Gal-
bertado de vez da timidez de cantar e vão; Porto de Araújo, que funde melodia
do rótulo de artista instrumental que o nordestista com cânticos de terreiro, e a
perseguiam em sua carreira. Em Casa quase erudita Villalobiana, densa e com
de Villa, seu oitavo CD e o primeiro citações harmônicas ao maestro. A pro-
pela Biscoito Fino, ele tomou uma dução foi do violonista Marcus Tardelli,
direção contrária dos seus últimos que também tocou em várias faixas e cer-
trabalhos: assumiu-se como cantor – tamente tem um grande mérito neste tra-
dividiu os vocais apenas na faixa Via balho, pois soube apresentar de maneira
Crúcis com Paula Santoro; optou por orgânica, coesa e visceral a música desse
formações instrumentais enxutas, va- grande compositor que é Guinga. Não
lorizando os violões e contando com, deixe de ouvir! Por Fábio Carrilho

28
Entrevista

Violão dos s Explorando ritmos


e sonoridades,
Eduardo Agni
lança o CD
Presságios,
Presságios
síntese madura de
seu trabalho como
instrumentista
e compositor
Por Miguel De Laet
Fotos e Colaboração:
Fábio Carrilho

Eduardo Agni tem sido apontado


como um dos nomes mais
inovadores da música instrumental
brasileira atual. Sua linguagem
de composição bem pessoal e
suas experimentações de timbres
e combinações instrumentais
conduzem o ouvinte por climas e
paisagens sonoras surpreendentes.
Não é à toa que suas criações
têm sido usadas por companhias
de dança, em trilhas de cinema,
documentários e programas de
televisão. A forte espiritualidade do
violonista está presente em cada nota
de sua música, aliás, inconfundível.
Autodidata, é fascinado pela obra
dos minimalistas Phillip Glass e
Eduardo Agni: Steve Reich, que figuram entre suas
explorando técnicas
e sonoridades
inúmeras influências.
atípicas no violão

30
s sonhos!
D ono de uma técnica peculiar de tapping,
que consiste em percutir as cordas com
O que mais me influenciou foi o André Gerais-
sati. Também ouvia outros violonistas, como o
Na verdade, a busca de novas sonoridades
marca o repertório de todos os meus CDs,
ambas as mãos na região do braço do instru- Michael Hedges e o Alex de Grassi. nos quais uso técnicas alternativas como o
mento, Eduardo Agni pode ser considerado um tapping, o zig-zum (vareta de bambu untada
virtuoso, apesar de não se encaixar em nenhuma > E como foram seus primeiros trabalhos com breu de violino usada para friccionar as
escola violonística. Amante de afinações alterna- com música? cordas) e arco de violino. Em projetos parale-
tivas e sonoridades incomuns – por exemplo, a Na adolescência tocava em uma banda de he- los, essa busca vai mais longe, pois sou apaixo-
extraída do seu violão folk com arco de violino –, avy metal, que não durou muito tempo. Na nado pelo concretismo musical, corrente que
o músico criou o seu próprio universo musical. mesma época, tocava MPB em um restaurante propõe a produção de sons com o uso de ob-
Após apresentar-se no Festival Internacional de que ficava ao lado do meu colégio, para levan- jetos que fazem parte da nossa vida cotidiana
Violão de São Paulo, em 1996, evento do qual
participaram Baden Powell, Egberto Gismonti e
Ralph Towner, Eduardo Agni ganhou projeção “Esta é uma tarefa que sempre me instigou: associar som e
nacional. No seu currículo, possui quatro CDs imagem. Por outro lado, nunca constituiu um desafio, pois a
lançados, entre eles Presságios (Saga Music), seu minha música é naturalmente cênica e sugere imagens. Tanto é
mais recente trabalho. Entre um compromisso e que todos os meus CDs se tornaram balés de companhias de
outro, o violonista conversou com a Violão PRO
dança, mesmo sem terem sido gravados com tais fins”
e falou da sua carreira, dos trabalhos atuais e de
seu estilo único de fazer música.
tar uns trocados. Também passei um tempo e que, originalmente, não são instrumentos
> Violão PRO: Eduardo, como é a sua rela- tocando em um bar de Paris. Mas considero musicais. Já fiz muita música com tubos de
ção com a música? que o marco de início da minha carreira tenha PVC, aquários, vasos de cerâmica, utensílios
Eduardo Agni: É uma relação bastante espiri- se dado bem mais tarde, com o lançamento de cozinha, etc.
tualizada. Não consigo esconder a minha prefe- do meu primeiro CD, Kronos, em 1997, pois
rência por músicas que me propiciam um ‘olhar a partir daí comecei a me apresentar tocando > Que afinações alternativas você gosta
para dentro de mim mesmo’, possibilitando apenas minhas composições. de usar?
uma conexão com camadas mais profundas da Gosto muito da B A D G A D, que é uma varia-
consciência. Acho que música é uma coisa mui- > Você é um pesquisador de sonoridades atípi- ção da famosa D A D G A D, e da C G D G B
to séria e não consigo tê-la apenas como uma cas no violão. Como lida com isso? D. Também costumo criar novas afinações.
forma de entretenimento. A boa música possui
um potencial terapêutico e é uma ferramenta
para o autoconhecimento.
O que Agni usa
Violão: “Uso um folk Saraiva. A captação é RMC,
> Como foi a sua iniciação musical? com saída normal ou MIDI, e um microfone de vara
Bem, já nasci ouvindo falar em violão, pois interno Miniflex”.
meu avô materno era violonista e meu tio- Violão folk
Guitarra: “Samick semi-acústica”. Saraiva
avô também. Eles tocavam choro e todo o
repertório de Dilermando Reis. Aos 13 anos Cordas: “Martin Bronze 0,13 mm”.
apaixonei-me pelo violão e decidi começar a Estúdio/Ensaios: “Para fazer minhas
estudá-lo. Como já tinha um espírito rebelde e pré-produções, uso o software Cubase, a placa externa
não conseguia me ajustar aos métodos usados MobilePre e o controlador Oxigen, ambos da M-Audio, e
pelos conservatórios naquela época, acabei me monitores da Behringer, modelo MS20. Para ensaiar, uso
tornando um autodidata. uma mesa amplificada de seis canais da Phonic, modelo
Power Pod, e um par de caixas sem marca, feitas por um
> Houve algum violonista que te influenciou técnico amigo meu”.
no início?

31
Entrevista

> Como você desenvolveu sua técnica inco- percussivo, todo alicerçado na diversidade composições trazem influências do minimalis-
mum de tapping? rítmica da música brasileira. mo. Aliás, sou aficionado pela música de Steve
Pois é, desenvolvi uma técnica muito peculiar Reich, Phillip Glass, Win Mertenz, Michael
de tapping e isso acabou se tornando a minha Nyman, etc.
marca pessoal como violonista. O fato de tê-la “O que mais caracteriza o
desenvolvido de forma solitária fez com que > Como foi a concepção do seu novo CD
meu tapping é o seu forte
eu criasse algo sem antecedentes, diferente Presságios?
de tudo que existe por aí. É uma técnica que caráter percussivo, todo Presságios é uma ‘suíte’ de sete partes inspirada
transforma a sonoridade do violão e me per- alicerçado na diversidade em uma série de sonhos premonitórios. Você
mite desenvolver um novo discurso musical. rítmica da música brasileira” pode achar que sou louco, mas tenho uma ca-
Muita gente associa a minha performance pacidade inata de prever o meu próprio futuro
violonística às de Stanley Jordan ou Michael através dos sonhos. Cada uma das peças dessa
Hedges. Mas basta ouvir os trabalhos de cada > Você tem um estilo bem próprio de compor, ‘suíte onírica’ simboliza um episódio importante
um de nós para notar que trata-se de coisas partindo de pequenos motivos e desenvolven- da minha vida, que já ocorreu ou ainda deve es-
distintas. Cada um desenvolveu um meca- do-os. É isso mesmo? tar por acontecer.
nismo próprio de tapping. E o que mais ca- Às vezes, pois a minha musicalidade tem uma
racteriza o meu tapping é o seu forte caráter veia minimalista. Sinto que muitas de minhas > No encarte de Presságios diz que você inspi-
rou-se em Villa-Lobos para produzir este CD.
O que admira no compositor e de que manei-
ra ele influencia o seu trabalho?
A influência que a minha música tem de Villa-
Lobos nunca foi direta ou declarada. Segundo o
crítico Luiz Antonio Giron, essa influência exis-
te, mas é toda transfigurada pela minha maneira
particular de tocar.

> Você teve a participação de diversos cantores


neste CD. Como esses músicos se encaixaram
no projeto?
Houve a participação de alguns cantores que ad-
miro muito, como a Mônica Salmaso, o Flávio
Venturini e a Adriana Mezzadri, dentre outros.
Embora o meu trabalho seja totalmente instru-
mental, gosto muito de usar a voz como mais
um instrumento, não interpretando textos, mas
fazendo vocalizes. Outra novidade é que Pressá-
gios é o primeiro CD em que toco guitarra semi-
acústica, além do violão. O que chama muito
a atenção nesse CD é a intersecção entre violão
(ou guitarra) e piano, tocado pelo exímio pianis-
ta Guga Bernardo, que também é o produtor
do CD.

> Em seus trabalhos você toca vários instru-


mentos diferentes.
Bem, inicialmente preciso esclarecer que o meu
instrumento é o violão. Todos os meus CDs tra-
Estilo zem a minha performance de violonista e, no
inconfundível caso de Presságios, de guitarrista também. Porém,
de fazer música como criador de trilhas sonoras, que precisam
repleto de ter uma massa sonora maior, acabo tocando um
espiritualidade pouquinho de cada coisa. E sinto que, depois

32
do violão, os instrumentos com os quais me
dou melhor são os de percussão. Acho que
Discografia
• Presságios – Saga Music, 2007
talvez por isso a minha técnica violonística
seja tão percussiva. • Oriki – Saga Music / Trama, 2003
• Um Outro Silêncio – Eldorado, 2000
> Como tem sido sua experiência fazendo a • Kronos – Paradoxx Music, 1997
direção musical de espetáculos teatrais?
Trabalho bastante como diretor musical de espe-
táculos de teatro, dança contemporânea e como
compositor de trilhas sonoras para cinema e
TV. Além disso, atuo como produtor fonográ-
fico. Isso torna a minha vida mais dinâmica e
expande consideravelmente a minha capacidade
criativa, pois vivo passeando por todas as áreas
da vida artística. Penso que seria chato ser so-
mente um instrumentista e viver apenas fazendo
shows e gravando CDs. Minha alma pede mais
do que isso.

> E como é compor para dança, teatro e


cinema?
É uma tarefa que sempre me instigou: associar
som e imagem. Por outro lado, nunca constituiu > Essa vivência religiosa
um desafio, pois a minha música é naturalmen- mudou sua maneira de ver
te cênica e sugere imagens. Tanto é que todos a música?
os meus CDs se tornaram balés de companhias Consideravelmente. O cará-
de dança, mesmo sem terem sido gravados com ter altamente introspectivo A predisposição de ampliar, de
tais fins. Além disso, minhas músicas são muito e compenetrado de minhas forma ousada, o potencial sonoro
utilizadas para sonorizar programas de TV, so- composições tem como fundo do violão, bem como a capacida-
bretudo da Globo, Cultura, SBT e Direct TV. a minha busca espiritual. de de se libertar dos clichês e sair
em busca de novos caminhos. E esse espírito está
> Você possui uma relação bastante forte com > Hoje em dia você escuta o quê? presente na performance violonística de músicos
o hinduísmo. Como essa história começou? O que mais me instiga atualmente é a música como o Egberto Gismonti, o André Geraissati,
Meu interesse pelas filosofias orientais come- erudita do período moderno. Tenho também o Luís Bueno e o Fernando Melo (do Duofel),
çou na adolescência. Depois de terminar meus um fascínio pela música minimalista. E conti- o Stênio Mendes e muita gente nova que está
estudos, cheguei a viver em alguns mosteiros nuo, como sempre, acompanhando as produ- despontando no cenário da música.

> Quais são os fatores essenciais para um ins-


“Em projetos paralelos, essa busca (de sonoridades) trumentista transcender e se tornar um músi-
vai mais longe, pois sou apaixonado pelo concretismo co completo?
Talvez o reconhecimento de que a música não é
musical, corrente que propõe a produção de sons com o uso
um fim, mas um meio de acesso a uma dimen-
de objetos que fazem parte da nossa vida cotidiana e que, são mais ampla da vida.
originalmente, não são instrumentos musicais”
> Quais são os seus projetos para o futuro?
budistas e hinduístas e acabei me iniciando no ções dos grandes gênios da música instrumental, Quando o cenário musical brasileiro estiver mais
hinduísmo. Ao longo dessas vivências, desenvol- como Egberto Gismonti, Keith Jarret, Jan Gar- propício, penso em criar um selo com o fim de
vi uma pesquisa sobre os mantras e mais tarde barek, Pat Metheny, Uakti, Hermeto Pascoal, produzir somente CDs de violonistas. Espero
publiquei um livro chamado Mantras e Cânticos André Geraissati – que inclusive produziu al- que este ‘futuro’ esteja próximo.
Tradicionais da Índia. Atualmente não tenho guns de meus CDs – e por aí vai.
vínculo declarado com religião alguma, embora Site
não tenha cessado a minha busca espiritual. > O que você admira em um violonista? www.eduardoagni.com.br

33
Testes
Por Miguel de Laet

D’Addario Classic EJ-30


Encordoamento de náilon confortável, equilibrado e com
sonoridade suave
É difícil encontrar um violonista que nunca te-
nha experimentado uma corda D´Addario.
A empresa teve origem no fim do século XVII
na cidade italiana de Salle, quando a família
D´Addario começou a aventurar-se na confec-
ção de cordas de tripa animal. A tradição, aliada
ao uso de novas tecnologias na produção e no
desenvolvimento de seus modelos, fez a empresa
virar sinônimo de cordas de qualidade por um

-
Ficha Tecnica
Legenda Excepcional
dos Muito Bom
Testes Bom
Médio
Fraco Procure este selo
Ele é a garantia
de que o produto
Modelo: EJ-30 Série Classic foi testado pelos
Fabricante: D’Addario profissionais mais
competentes do
Indicação: De iniciantes a mercado.
profissionais que querem um
encordoamento confortável e com
preço atraente. Suas linhas destinadas ao violão equilibrada, orgânica e aveludada, com uma boa
definição sonora.
são excelentes e a série de encordoamentos de sustentação e sem muito brilho, o que faz dele
Prós: Transparência, definição sonora náilon Classic não foge à regra. uma excelente opção para gravações acústicas e
e tocabilidade. Disponível em três modelos de tensão – EJ- para tocar peças renascentistas e barrocas. Seus
Contra: Nenhum. 29 (tensão leve), EJ-30 (tensão média) e EJ-31 graves não possuem muito peso, seu ataque é
Preço sugerido: R$ 34,00 (tensão pesada) –, a série Classic agrada a todas as bem definido – apesar de seco em alguns mo-
pegadas. Testamos o modelo EJ-30 em um vio- mentos, em especial nas passagens rápidas – e a
Timbre .............................
lão Giannini C4. Segundo o fabricante, a série é sua resposta em dinâmicas variadas é muito boa.
Brilho ..............................
produzida a partir de um trabalho de retificação Harmônicos encorpados e um som suave tam-
Sustentação .....................
do náilon que controla devidamente a espessura bém fazem parte de suas características.
Volume ............................
e o dimensionamento das cordas, assegurando O EJ-30 é indicado para músicos que bus-
Definição .........................
uma entonação perfeita. De fato, a entonação cam um excelente encordoamento para gra-
Desempenho Geral...........
do EJ-30, se não é perfeita, está bem próxima vações e audições de peças que pedem maior
Quer falar com o autor da matéria? disso. Sua estabilidade tonal é surpreendente e transparência e definição sonora, e que não ne-
migueldelaet@gmail.com ele chega a ser mais estável do que outros mode- cessitem de muito peso sonoro. Por essa razão, o
los mais caros, afinando bem em toda a extensão EJ-30 é mais direcionado aos violonistas erudi-
Tire sua dúvida com o fornecedor:
da escala. Suas dimensões são as seguintes: .028 tos (tanto estudantes quanto profissionais), em
Musical-Express (11) 3159-3105
(1.E), .032 (2.B), .040 (3.G), .029 (4.D), .035 especial intérpretes de músicas renascentistas e
www.musical-express.com.br
(5.A), .043 (6.E). barrocas, que querem um produto de qualidade
As notas dos testes são compatíveis com
produtos da mesma categoria e faixa de preço
Para aqueles que acreditam que conforto e sem gastar muito. Os músicos populares podem
sonoridade não podem viver lado a lado, o EJ- se decepcionar caso queiram ultrapassar os limi-
* Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao
varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas 30 responde com estilo. É um encordoamento tes da bossa nova e do jazz com o EJ-30, pela
extremamente macio com uma sonoridade suavidade sonora deste belo encordoamento.

34
Martin DM-12
Doze cordas é uma máquina sonora
A Martin dispensa apresentações. O
que dizer dessa tradicional empresa
americana que desde 1833 vem produ-
em harmônicos. O violão tem bastante
volume e presença, respondendo bem às
dinâmicas de execução, sem comprimir ou
Como qualidade tem o seu preço, você
terá de desembolsar uma boa quantidade de
verdinhas para levar o DM-12 para casa. De
zindo violões que são objetos de abafar demais o som. qualquer forma, esse instrumento é indica-
desejo para músicos do mun- Sua tocabilidade é muito macia. do para músicos exigentes que necessitam
do inteiro? Figurões da música Com um braço magrinho e ação das de um instrumento de doze cordas versátil e
pop como Eric Clapton, Mark cordas bem baixa, ele proporciona com uma bela sonoridade, tanto para traba-
Knopfler e Buddy Guy usam firmeza e rapidez para o violonista lhos em estúdio como para apresentações em
freqüentemente modelos Martin explorar suas sonoridades abertas geral. É importante adquirir um estojo para
em shows e gravações, prova da – esta é a graça do doze-cordas – e transportar esse violão com a segurança que
excelência desses instrumentos. convenções com cordas soltas. No ele merece.
O Martin DM-12 testado quesito afinação, o instrumento
aqui não foge à regra. Trata-se de também dá um show, mostrando esta-
um violão folk de doze cordas de aço bilidade em toda a extensão da escala. -
Ficha Tecnica
pertencente à linha Road, bastante O DM-12 vem equipado com
popular. Seu acabamento charmoso é um circuito ativo Fishman Prefix Legenda Excepcional
de satin,, um verniz sem brilho, e sua Pro. Fácil de equalizar e com um dos Muito Bom
configuração é bem interessante: tam- bom equilíbrio de volume entre as Testes Bom
po maciço em pinho, lateral e fundo cordas, o violão plugado possui uma Médio
em mogno, e escala em jacarandá. sonoridade tão boa quanto a acús- Fraco
A entonação do instrumento é in- tica. O circuito possui ainda uma
Modelo: DM-12
crível. A falta de equilíbrio que geral- chave de inversão de fase (ou phase)
mente assombra os modelos doze-cor- e um controle notch para reduzir a Fabricante: Martin
das não está presente no DM-12. Sua presença de microfonias. Seu leque Indicação: Músicos exigentes que
sonoridade é aberta, cheia e equilibra- de possibilidades de uso é amplo e querem um doze-cordas versátil e com
da, com graves profundos, ele é um ótimo instrumento ótima sonoridade.
médios consistentes tanto para estúdio (mi- Prós: Braço confortável, sonoridade
e agudos limpos, crofonado ou em linha) equilibrada e captação fiel ao som acústico.
com brilho e ricos como para palco.
Contra: Nenhum.
Preço sugerido: R$ 5.600,00
Definição do som .............
Volume ............................
Captação .........................
Acabamento .....................
Procure este selo Tocabilidade ....................
Ele é a garantia
Desempenho Geral...........
de que o produto
foi testado pelos Quer falar com o autor da matéria?
profissionais
mais competentes migueldelaet@gmail.com
do mercado.
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Roxy Music (11) 3061-5262 / 3064-2858
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As notas dos testes são compatíveis com
produtos da mesma categoria e faixa de preço

* Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao


varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

35
Testes

Rozini RX207ATN-P
Sete-cordas robusto, barato e confiável
O momento atual do choro vem popu-
larizando bastante o violão de sete
cordas e as empresas estão apostando cada
O Rozini RX207ATN-P é um deles.
Confiável, ele vem equipado com um tensor
para ajuste do braço, o que mostra a preocu-
lação à sonoridade metálica de outros vio-
lões dessa categoria faixa de preço. Uma
particularidade interessante desenvolvida
vez mais na sua fabricação em série. Este pação do fabricante em relação à pressão originalmente pelo luthier Manoel An-
queridinho dos chorões, imortalizado nas gerada pela sétima corda entre a pon- drade fica evidente: a angulação mais
mãos de Horondino Silva — o Dino 7 te e o capotraste. Sua configuração pronunciada do braço, que ajuda a
Cordas —, representa como ninguém a é a seguinte: tampo maciço em pi- evitar trastejamentos, resultando
brasilidade no mundo das cordas. Se você nho; escala, lateral e fundo em ja- em uma tocabilidade muito macia.
pensa em aventurar-se nas baixarias com carandá; e braço em cedro. A afinação é precisa em toda a ex-
um bordão a mais, fique atento: existem Sua aparência é rústica se tensão da escala e, por todos esses
bons instrumentos na praça por preços comparada a modelos concor- motivos, o RX207ATN-P é uma
bem convidativos. rentes. Isso não quer dizer que das melhores opções em termos de
o modelo seja feio, muito pelo custo-benefício do mercado.
- contrário, seu visual é bom, mas Na parte elétrica, ele possui um
Ficha Tecnica não é fantasiado. Não apresentou circuito ativo com equalizador de três
Legenda Excepcional defeitos graves de acabamen- bandas e controle de volume desen-
dos Muito Bom to. Os mais criteriosos poderão volvido pela própria Rozini inspirado
Testes Bom notar algumas falhas sutis, por nos modelos da B-Band. A sonoridade
Médio exemplo, no corte da lateral e do instrumento plugado é muito boa,
Fraco na junção dos filetes com ela, e com equilíbrio de volume da primeira
também pequenas rebarbas. Suas à sétima corda e fácil equalização.
Modelo: RX207ATN-P partes foram bem coladas e a Se você precisa de um sete-cordas
Fabricante: Rozini pintura é homogênea. Resumin- confiável para tocar em bares, pequenas
do, é um instrumento robusto e casas de shows ou até mesmo em sim-
Indicação: Violonistas que querem um bom
sem muitas frescuras. ples gravações, este instrumento
sete-cordas sem gastar muito.
A sonoridade des- pode ser a solução. Ainda
Prós: Sonoridade acústica equilibrada e macio se sete-cordas é bem que acompanhe capa,
de tocar. Plugado também não decepciona. equilibrada, rica em aconselho a adquirir
Contra: Falhas sutis de acabamento. harmônicos, com um bag ou um estojo
Preço sugerido: R$ 750,00 uma ótima projeção simples para proteger
e volume. Possui melhor o instrumento.
Definição do som ............. um ataque macio e Mesmo sendo robusto,
Volume ............................ seu som é aveludado, o RX207ATN-P não é
Captação ........................ uma vantagem em re- feito de aço!
Acabamento .....................
Tocabilidade ....................
Desempenho Geral...........
Quer falar com o autor da matéria?
migueldelaet@gmail.com
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Rozini (11) 3931-3648 de que o produto
e-mail: andre.marketing@rozini.com.br foi testado pelos
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produtos da mesma categoria e faixa de preço do mercado.
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varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas

36
Boss BR-600
Estúdio de gravação portátil com ótimos recursos
para o violonista
Q uando se fala no antológico álbum Sgt.
Pepper’s dos Beatles, um comentário
nunca escapa: como o grupo conseguiu um
dos tradicionais pedais de efeitos da Boss
podem ficar desapontados com os presets do
BR-600. Apesar de seus efeitos serem bons,
sam de um excelente equipamento de gra-
vação portátil como para aqueles que que-
rem se arriscar como produtores musicais
resultado sonoro tão surpreendente usando é necessário fazer muitos ajustes para con- registrando suas mais loucas idéias. A boa
apenas quatro canais nas gravações? Dos es- seguir resultados timbrísticos satisfatórios. notícia para os seus vizinhos é que ele tem
túdios portáteis de Percy Philips e Les Paul, Outro recurso interessante do BR-600 é o saída para fone de ouvido!
passando pelos clássicos miniestúdios da Pitch Correction (correção de afinação de
Tascam, vivemos agora a era das gravações voz), indicado para violonistas que fazem
digitais. A empresa japonesa Boss tem desen- voz e violão, mas não são muito afinados. -
Ficha Tecnica
volvido ótimos gravadores portáteis digitais, A grande vantagem é que ele pode ser
entre eles o BR-600, analisado a seguir. levado para qualquer lugar, já que funciona Legenda Excepcional
Para quem vê o BR-600, ele parece um com pilhas. Seu microfone interno estéreo dos Muito Bom
brinquedo. Compacto, sua área é menor do é excelente para gravar ensaios, de maneira Testes Bom
Médio
Fraco

Modelo: BR-600
Fabricante: Boss
Indicação: Músicos que necessitam
de um estúdio portátil confiável,
mesmo não possuindo familiaridade
com gravações.
Pró: Um verdadeiro estúdio de gravação
que pode ser levado para qualquer lugar.
Procure este selo Contra: Não acompanha fonte de
Ele é a garantia de que
alimentação.
o produto foi testado
pelos profissionais Preço sugerido: R$ 1.700,00
mais competentes
do mercado. Definição do som .............
Qualidade dos efeitos .......
que a de uma folha de papel. É possível, por simples e sem a necessidade de ligar cabos, Bateria eletrônica .............
exemplo, levá-lo no bag ou estojo do violão e até mesmo performances ao vivo. Os pro- Versatilidade ....................
de tão fino e pequeno que é. Suas pequenas cedimentos de edição são fáceis de manuse- Custo-benefício ...............
dimensões não significam recursos limitados, ar – e você pode copiar e mover os trechos, Desempenho Geral...........
muito pelo contrário: é um gigante em termos controlando o volume das vias separadamen-
de ferramentas para você registrar o seu som. te. A masterização também é prática, pois o Quer falar com o autor da matéria?
O BR-600 possui seis canais (sendo dois aparelho conta com um kit de ferramentas já migueldelaet@gmail.com
estéreos) e mais um para a reprodução do programado, possibilitando criar novos parâ- Tire sua dúvida com o fornecedor:
ritmo. Seus controles são ‘quase’ intuitivos metros derivados dos que já existem. Depois Roland (11) 3087-7700
e fáceis de operar. Entre seus recursos desta- de tudo pronto, você pode enviar a gravação e-mail: sac@roland.com.br
cam-se a bateria eletrônica, com a opção de para o seu computador através da entrada As notas dos testes são compatíveis com
se programar ritmos além dos que vêm de USB em formato WAV/AIFF e queimar um produtos da mesma categoria e faixa de preço
fábrica, os simuladores de violão (legais para CD ou transformá-la em MP3. * Preço sugerido é o valor indicado pelo fornecedor ao
se gravar em linha) e os multiefeitos para Por todas essas facilidades, o BR-600 é varejo, podendo ou não ser seguido pelos lojistas
guitarra elétrica e contrabaixo. Os adeptos indicado tanto para profissionais que preci-

37
Testes

Na Estrada
Para fazer a seção Na Estrada, Violão PRO optou por publicar análises de músicos que vivem e trabalham diariamente com
o instrumento aqui mostrado. Envie para nós a análise de seu violão. Se ela for publicada, você ganha uma assinatura
trimestral da Violão PRO. Os critérios para a publicação serão: qualidade das informações, clareza da análise e senso crítico.
Envie sua análise para ajuda@musicaemercado.com.br, aos cuidados de Editorial Violão PRO, mencionando Teste Na Estrada.

PEDRO DE MIGUEL FLAMENCA

A marca Pedro de Miguel vem da junção dos nomes Pe-


dro Pérez e Miguel Ángel Rodriguez Casas. Esses dois
luthiers, discípulos de José Ramirez, fundaram seu ateliê em
1991 e a marca é uma das mais respeitadas de Madri atual-
mente. Meu instrumento é um modelo top de linha flamenco
e sua construção é a seguinte: laterais e fundo em jacarandá
indiano, tampo em abeto alemão, escala em ébano e braço
em cedro. É uma guitarra robusta, feita para durar, com aca-
bamento simples e impecável. Tem ótima projeção sonora e
é perfeita para tocar ao vivo. Seus baixos são brilhantes, po-
tentes e definidos (mesmo com cordas velhas), um atribu-
to interessante para o violonista brasileiro, devido às nossas
constantes mudanças de temperatura e umidade. Por todas
essas qualidades, ela se encaixa bem tanto para apresentações
solo como para acompanhamento. Seus agudos são precisos,
com resposta imediata, e sua sustentação sonora e equilíbrio de volume são Marca: Pedro de Miguel (Madri/Espanha)
excelentes. É uma guitarra flamenca híbrida, com algumas características de
Modelo: Guitarra Flamenca Profesional 2006
construção do violão clássico, como a caixa mais profunda e o cavalete um
pouco mais alto do que o modelo tradicional de cipreste. Mas isso não a Músico: Breno Lopes de Andrade • Campinas/SP
impede de soar flamenca, sobretudo nos rasgueos. É um instrumento para brenolopez@hotmail.com
músicos exigentes, com um bom custo-benefício – apesar de não ser barato, Informações: www.lafalseta.com • (34 91) 429-4793
cerca de 4 mil euros – e que corresponde bem às minhas necessidades.

EAGLE CH 800 NT

E u tinha um violão Di Giorgio 18 Estudante que usava para estu-


dar em casa e tocar em apresentações teatrais em espaços pequenos.
Como meu trabalho com teatro cresceu, precisei de um instrumento
bandas e controle de volume. Sua cor é natural, com escala em jacaran-
dá, braço em nato, tampo em pinho e tarraxas douradas. É um modelo
clássico com cutaway, o que facilita o acesso até a décima nona casa, com
com mais recursos e adquiri esse Eagle CH 800 NT. Trata-se de um excelente acabamento e bem confortável de tocar. Embora ele perca um
violão eletroacústico com captação ativa e um equalizador com quatro pouco da originalidade dos timbres quando plugado, sua sonoridade é
encorpada, suave, aveludada, tendendo um pouco para os agudos e com
bastante sustentação. É um modelo indicado para quem deseja quali-
dade, mas não quer gastar muito. Comparando-o com outros violões
elétricos da sua faixa de preço, foi um dos que mais gostei. Es-
colhi este violão para minhas apresentações com a Companhia
Teatral BuBiÔ FicÔ LÔ porque ele satisfaz duas necessidades
básicas: produzir um som de qualidade e com uma sonoridade
lúdica, essencial para espetáculos infantis. Além da música para
os pequeninos, recomendo este instrumento para quem gosta
de tocar clássico, choro, samba, MPB ou jazz.

Marca: Eagle
Modelo: CH 800 NT
Músico: Leonardo Maciel • São Paulo/SP
leonardoartvida@hotmail.com • www.bubioficolo.com
Informações: www.eagleinstrumentos.com.br

38
Produtos
Alhambra
Hannabach Série Crossover
Cordas Os modelos de violões cutaway
Goldin 725 de cordas de náilon da nova série
As primas do encordoamento Crossover possuem um braço mais
Hannabach Goldin 725 são fino, semelhante ao de uma guitarra
feitas de supercarbono dourado elétrica. São totalmente construídos
e os bordões possuem um novo de madeira maciça, disponíveis
interior de plástico, mais denso e com tampo em abeto ou
resistente. O enrolamento é feito cedro, e laterais e fundo
de Goldin, uma nova liga metálica em sapelli, ovengkol ou
dourada totalmente livre de pau-santo da Índia.
cádmio e níquel. As primas podem ser combinadas com Tire suas dúvidas:
qualquer jogo de bordões da empresa. (34 96) 553-0011
Tire suas dúvidas: (11) 3159-3105 jorge@alhambrasl.com
www.musical-express.com.br www.alhambrasl.com

Power Click
Monitor GT
O Power Click GT é
um monitor para fone de ouvidos Fishman
especialmente desenvolvido Captador Prefix Premium Blend
para instrumentos de captação O novo Prefix Premium Blend é um pré-amplificador com captador
por contato, como violões e piezo Acoustic Matrix e microfone interno. Possui afinador
cavaquinhos. Possui dois canais embutido, equalizador de quatro bandas e controles de volume,
de mixagem que permitem repassar o notch e blend, este último para dosar o som do piezo com o do
som para outros aparelhos e um pré-amplificador microfone. Disponível para instrumentos de cordas de náilon e aço.
interno, que dispensa o uso de amplificadores e Tire suas dúvidas: (61) 3269-9400
monitores de retorno. www.condormusic.com.br
Tire suas dúvidas: (21) 2722-7908
www.powerclick.com.br

Michael
Série Infantil
Com tamanho e ergonomia adaptados
ao corpo da criança, os modelos VM14
e VM16 de cordas de náilon possuem
tampo, laterais e fundo em linden, escala
em maple escurecido e tarraxas douradas.
Diferentes entre si apenas no tamanho,
estão disponíveis nas cores preta e natural
e acompanham uma capa de bônus.
Tire suas dúvidas: (31) 2102-9270
contato@michael.com.br /
www.michael.com.br

40
Luthier
Jó Nunes no seu ateliê,
no Rio de Janeiro

Criador Por Miguel De Laet e Fábio Carrilho


Fotos: Fernando Souza

inquieto!
Grande
mestre da
lutheria
nacional,
Jó Nunes
O capixaba Jó Nunes não tem medo de explorar novos caminhos na construção de seus instrumentos. não mede
A inovação e o resultado surpreendente de suas criações são algumas características que fazem deste esforços na
autodidata uma referência na lutheria nacional. Sua história com o violão vem da adolescência no Rio
de Janeiro. Estudante de violão clássico, Jó buscava um instrumento que estivesse à altura de suas busca pelo
exigentes expectativas. Como não encontrou nenhum que o satisfizesse, tomou uma das decisões mais violão perfeito
acertadas da sua vida: resolveu colocar a mão na massa e construir ele mesmo seu próprio violão.

42
eliê,

A intimidade com a madeira vem do ber-


ço: seu pai, dono de serraria e um exímio
construtor de móveis, foi quem lhe passou os
“O bambu é um excelente
material e seu uso para
Eu comecei a construir tomando como base
um violão de fábrica. Depois trabalhei repa-
rando violões do mundo todo, como Fleta,
primeiros ensinamentos. Aos 22 anos, Jó pro- construir violões é algo Romanillos, Humfrey, Kohno, Hernandes,
fissionalizou-se como luthier e agora, depois revolucionário. Entretanto, Hauser, Ramirez e outros mais. A maior di-
de mais de duas décadas, este senhor tem o ficuldade era a falta de material e de equipa-
é um material que requer
prazer de ver seus violões serem tocados por mento, que até hoje são importados, e o maior
gente do calibre de Turíbio Santos, Guinga, bastante técnica para o desafio é o que continua: fazer um violão com
Paulinho da Viola, Lula Galvão e Paulão seu aproveitamento. O som os sons mais completos e arrumados.
7 Cordas, entre outros figurões da música desses violões pode ser
brasileira. As experiências e dificuldades en- comparado a qualquer violão > Você acredita que saber tocar violão é es-
contradas por Jó para ter seu trabalho conhe- de pinho, mas com a sua sencial para um luthier?
cido fizeram dele um grande incentivador e Saber tocar é importante, mas até o ponto em
própria característica”
divulgador do trabalho de luthiers. Inspirado que o número de horas estudadas custe esse
em um estabelecimento nova-iorquino, ele
fundou em 2002 a Luthier & Cia, primeira
loja brasileira voltada exclusivamente para
instrumentos de cordas artesanais. Situado no
centro do Rio e administrado pela sua famí-
lia, o espaço é uma ótima oportunidade para
os luthiers exporem seus trabalhos e também
para o público, que pode comparar e testar di-
versos modelos antes de fechar negócio. Con-
fira a seguir a entrevista bem-humorada que o
mestre Jó Nunes cedeu à Violão PRO, em que
fala de seus violões, do seu método de traba-
lho e dá dicas interessantes para quem pensa
em aventurar-se no mundo da lutheria.

> Violão PRO – Como surgiu o seu interesse


pela lutheria?
Jó Nunes: Quando comecei a estudar vio-
lão clássico, me deparei com a necessidade
de adquirir um instrumento com uma boa
sonoridade e que não impusesse para mim
dificuldades técnicas além daquelas próprias
das peças musicais. Esse foi o conselho do
meu professor, Norberto Macedo. O que foi
inicialmente uma busca para satisfazer uma
necessidade pessoal acabou me levando a
construir meu primeiro violão. Isso faz mais
de 20 anos. Eu já tinha uma boa experiência
em trabalhos com madeira, uma tradição fa-
miliar herdada de meu pai, que foi um grande
artesão. E, desde aquela época, venho pesqui-
sando e tentando desenvolver um violão que
satisfaça plenamente o instrumentista.

> Você iniciou a carreira como autodidata. Detalhes da construção:


trabalhando o tampo,
Quais foram as maiores dificuldades e de-
as laterais e o cavalete
safios que você enfrentou?

43
Luthier
empenho e não acabe atrapalhando a sua
trajetória profissional como luthier. Por ou-
tro lado, saber tocar, independentemente
do seu nível técnico, não garantirá a quali-
dade do violão construído. Mas é essencial
para o luthier ser capaz de regular o violão
para o profissional e avaliar a qualidade de
seus instrumentos.

> Que avaliação você faz da sua loja Lu-


thier & Cia?
Foi um fato muito positivo para a lutheria
no Brasil. É um canal aberto para os artesãos
divulgarem e comercializarem o seu trabalho.
Também rompemos barreiras quanto à difi-
culdade de informação enfrentada pelo músico
na hora de procurar um instrumento de pri-
meira qualidade. Para mim, foi uma revolução
no mercado do violão. Hoje é a única loja do “Para mim, o violão, ou melhor, a guitarra, é como
Brasil especializada em instrumentos de au- se fosse uma mulher. Cheguei aos desenhos finais
tores, tanto dos mais renomados quanto dos observando as mulheres e toda a semelhança que existe
que estão despontando por aí. O espaço é uma entre elas e a guitarra. A feminilidade está em todo lugar”
excelente oportunidade para os luthiers expo-
rem e comercializarem seu trabalho. O músico fora. Dessa forma, posso fazer qualquer modi- essa dificuldade de transformar a árvore do
tem a oportunidade de comparar entre vários ficação quantas vezes eu quiser. bambu em um tampo de violão. Consegui su-
instrumentos de ponta no mesmo local, bem perar esse desafio e construí o primeiro violão
situado no centro comercial do Rio. >Você criou um violão com tampo confec- de bambu. Já vendi mais de dez violões desse
cionado em bambu. Como surgiu essa idéia material, exceto o primeiro, principalmente
> Você também é um grande pesquisador. e quais as características timbrísticas desse para estrangeiros. O som desses violões pode
Meu lado pesquisador é o mais envolvido instrumento? ser comparado a qualquer violão de pinho,
com o violão. Tenho violões que chamo de O bambu é um excelente material e seu uso mas com a sua própria característica. Eles pos-
‘cobaias’. Uns têm fundos removíveis, posso para construir violões é algo revolucionário. suem um excelente volume e projeção sonora
abri-los para mudar a estrutura. Outros são Entretanto, é um material que requer bas- e um som peculiar. A idéia surgiu quando, ao
construídos, digamos, pelo ‘avesso’, o cavale- tante técnica para seu aproveitamento. Seria cortar o bambu, percebi certa
te fica para dentro e toda a estrutura fica por necessário que algum pesquisador encarasse semelhança entre suas fibras e
as do pinho. Na época, estava
com dificuldades para con-
A menina dos olhos de Jó seguir o pinho alemão e, como
Jó Nunes Modelo Valéria o bambu é abundante no País e já o
• Fundo e laterais em jacarandá-da-bahia utilizava em diversos trabalhos artesanais,
• Tampo em pinho europeu como flautas e paletas de oboé, acabei ten-
• Escala em ébano africano do a idéia de usá-lo nos violões.
• Tarraxas Gotoh (japonesas)
• Encordoamento > Você está desenvolvendo alguma expe-
Augustine Imperials riência nova?
• Braço em mogno Venho pesquisando há quase 20 anos a
• Acompanha estojo alma para o violão, que não tem nada a
superluxo. ver com a alma do violino. A alma que es-
• Preço Top Line (seis cordas): tou desenvolvendo é para diminuir o soco,
US$ 3.800,00 fornecer som para algumas notas quase
Contato: Luthier & Cia mortas do violão em si, dar mais propaga-
Rua Sete de Setembro, 92 – Sala 406 – Centro – Rio de Janeiro/RJ ção, peso e volume. Também servirá para
Tel: (21) 2242-4449/ (21) 9816-5727/ (21) 9563-0984 sustentar e diminuir a oscilação do tampo
E-mail: luthierecia@yahoo.com.br/ luthierecia@luthierecia.com e permitir ao violonista usar cordas mais
baixas, entre outras coisas.

44
> Você se espelha em algum luthier para de- velhecido. Porém, o mais importante é saber Reconheço o benefício de usar tampos enve-
senvolver o seu trabalho? como e de que maneira foi feito esse envelheci- lhecidos, mas o luthier que escolhe comprar
Eu tenho admiração e respeito pelos grandes mento. Prefiro adquirir madeiras novas e fazer uma madeira apenas pela idade pode estar le-
mestres, mas procuro não copiá-los. Busco pessoalmente esse processo. A madeira é meio vando para a oficina um material encalhado,
sempre melhorar o violão, por isso estou con- parecida com a gente. É mais fácil começar a por isso é bom ter cuidado.
tinuamente construindo e pesquisando modi- adquirir experiência enquanto se é jovem e,
ficações. Nesses mais de 20 anos de profissão, muitas vezes, mais vale a experiência do que a > Que modelos você confecciona?
além de construir centenas de instrumentos, idade. O bom mesmo é que as duas estejam Venho pesquisando bastante e desenvolvi
já consertei e tive em minhas mãos alguns dos juntas. Existem outros quesitos importantes vários tipos de sons de violões. Cada um dos
melhores violões do mundo. Sei que, até agora, para definir a qualidade do material. Se uma meus modelos tem uma sonoridade diferente
nenhum deles conseguiu reunir todos os que- madeira for envelhecida empilhada, por exem- e todos levam nomes de mulher: Rosana, Va-
sitos de qualidade em um único exemplar. Te- plo, entre duas madeiras, ela ficará preparada léria, Solange, Luiza e Joelma.
nho certeza de que há muito a ser pesquisado com o dobro do tempo do que uma madeira
para desenvolver ainda mais o violão. Alguns envelhecida exposta à ventilação, porque não > Qual o seu conselho para quem está pen-
violões possuem recursos que outros não têm viveu todas as mudanças climáticas que a ex- sando em se tornar um luthier?
e vice-versa. Quero ver alguém me mostrar um posta à ventilação viveu. Existe algo ainda mais Sempre digo para os meus alunos usarem a
que tenha tudo o que acredito que um violão decisivo para classificar o valor de um tampo criatividade e a intuição. Na construção de
precisa ter. Com os violões dos grandes mestres de violão. A madeira de uma árvore nova ou violões, por mais que existam conceitos pre-
da lutheria também é assim. Para o violão che- insuficientemente adulta nunca é boa para fa- estabelecidos, considero que encontrei os
gar à perfeição, vamos precisar do trabalho de zer um violão, por mais que as partes colhidas melhores resultados justamente pelas minhas
muitos mestres. Até lá, procuro desempenhar sejam adequadamente envelhecidas depois. próprias pesquisas.
meu papel neste processo histórico de aperfei-
çoamento do violão moderno.

> Como você chegou aos desenhos finais de


seus instrumentos?
Para mim, o violão, ou melhor, a guitarra (o
nome original), é como se fosse uma mulher.
Cheguei aos desenhos finais observando as mu-
lheres e toda a semelhança que existe entre elas
e a guitarra. A feminilidade está em todo lugar.
Para tocar a guitarra você tem de abraçá-la como
se abraça uma mulher. A estética das minhas
guitarras é inspirada na beleza feminina.

> Você cuida de todas as etapas de cons-


trução?
Sempre. Sinto-me gratificado pelo fato de as
pessoas examinarem o violão e perceberem
isso. Quando você constrói o violão do come- Na Luthier
ço ao fim, pode cuidar dos mínimos detalhes, & Cia, com
como a facilidade para tocar, som, timbre e sua esposa
acabamento, que podem ser percebidos pelos Michelle Souza
(à direita), que
conhecedores mais exigentes. Já tentei ter par-
administra o
ceria duas vezes com bons profissionais, mas na
negócio, e a
prática não consegui manter o nível que procu-
funcionária
ro para o meu trabalho. Cuido pessoalmente, Sílvia
desde o primeiro passo, da escolha e do corte
das madeiras, da construção de todo o violão,
do seu envernizamento e demais acabamentos Quem usa violões Jó Nunes
e da sua regulagem, até o último detalhe. Turíbio Santos, Marcus Llerena, Norberto Macedo, Leandro de Carvalho,
Guinga, Lula Galvão, Maria Haro, Nélio Rodrigues, Marco Pereira, Paulinho
> Como você escolhe as madeiras? da Viola, Duda Anísio, Paulão 7 Cordas, Rogério Caetano, Francisco Frias,
Todo luthier sabe que não se deve fazer um Caio Márcio, Jorge Simas e Henrique Annes, entre outros.
violão com um material que não seja bem en-

45
Licao

Explorando a
escala diminuta

Foto: José Rubens Moldero


Alessandro Penezzi
Saber usá-la com desenvoltura e musicalidade é um recurso
fundamental para a improvisação

O
Alessandro Penezzi é
lá, pessoal! Nesta edição abordaremos um tância entre as notas. Na formação dessa escala estão
violonista e toca no grupo
assunto amplamente utilizado na improvisa- contidos dois acordes diminutos distanciados em um
Choro Rasgado. Graduado em
ção: a escala diminuta. Trata-se de uma es- tom. Se você ‘somar’ as notas dos acordes de Co e Do,
violão popular pela Unicamp
cala simétrica construída em uma seqüência regular por exemplo, terá as notas da escala Dó diminuta.
(Universidade de Campinas),
de tom-semitom ou semitom-tom. Essa escala segue A escala diminuta tom-semitom é normalmente
já tocou com Yamandu
um ciclo de terças menores e, por isso, podemos aplicada na improvisação sobre acordes diminutos,
Costa, Guinga, Hamilton
dizer que só existem três notas possíveis de partida, com ou sem tensões. Você pode usá-la para improvi-
de Hollanda, Beth Carvalho
por exemplo, Dó, Dó# e Ré. As demais notas ge- sar, por exemplo, sobre os acordes do tipo: o, o(7M),
e Dona Inah, entre outros
ram escalas idênticas às que partem dessas três notas o(9), o(11) e o(b13).
nomes da música brasileira.
iniciais. Por exemplo, a escala diminuta iniciada em
Recentemente, lançou seu
Mib possui as mesmas notas da escala iniciada em Escala diminuta semitom-tom
segundo CD solo, Alessandro
Dó; a iniciada em Mi natural possui as mesmas no- Também chamada de escala dom-dim (dominan-
Penezzi (Independente).
tas da iniciada em Dó #, e assim sucessivamente. te-diminuto) por sua larga utilização sobre os acordes
Site: www.alessandropenezzi.
dominantes, a escala diminuta semitom-tom possui as
com.br. E-mail:
Escala diminuta tom-semitom mesmas características da escala diminuta anterior. Ela
alessandropenezzi@gmail.com
No Ex. 1, observe a construção das escalas di- é simétrica, segue o ciclo das terças menores e, portan-
minutas tom-semitom de Dó, Dó# e Ré. As notas to, possui três notas de partida, conforme pode ser ob-
brancas pertencem ao acorde diminuto e equivalem à servado no Ex. 2. As notas brancas indicam o acorde
fundamental (F), terça menor (3m), quinta diminuta dominante, que corresponde à fundamental (F), terça
(5dim) e sétima diminuta (7dim). As notas pretas são maior (3M), quinta justa (5J) e sétima menor (7m) da
as tensões do acorde: nona maior (9M), décima pri- escala. As notas pretas indicam as tensões: nona menor
meira justa (11J), décima terceira menor (13m) e séti- (9m), nona aumentada (9aum), décima primeira au-
ma maior (7M). Lembre-se de que o som do intervalo mentada (11aum) e décima terceira maior (13M).
de sétima diminuta (7dim) equivale ao som do inter- A escala dom-dim é normalmente utilizada so-
valo de sexta maior (6M), por possuírem a mesma dis- bre acordes dominantes que possuam as tensões 9m,

Ex. 1 Escala Diminuta Tom-Semitom

em Dó
F 9M 3m 11J 5dim 13m 7dim 7M 8J

em Dó#

em Ré

46
9aum, 11aum e 13M (e suas combinações), Uma dica interessante para improvisar sobre Frases
por exemplo, acordes do tipo V7(b9), V7(#9), a cadência IIm7-V7-I é fazer a escala diminuta Também sugeri duas frases para serem
V7(#11) e V7(13). tom-semitom sobre a nota fundamental do aplicadas à cadência IIm7-V7(b9/13)-I
acorde IIm7. Dessa maneira, você automatica- (Ex. 12 e Ex. 13). Tente criar você mesmo
Digitações mais utilizadas mente estará tocando a escala dom-dim sobre o as suas. É de extrema importância tentar
No Ex. 3, apresento o modelo mais utili- acorde V7(b9/13)! perceber a utilização da escala diminuta
zado de digitação da escala diminuta tom-se- quando ouvir algum solo – os improvisa-
mitom. Assinalei os três acordes diminutos que Padrões melódicos dores a utilizam com freqüência. Como re-
podem ser encontrados nessa escala. Procure Transcrevi sete padrões melódicos para as ferência, não deixe de ouvir músicos como
estudá-la tomando-os sempre como referência. escalas serem praticadas (Ex. 5 ao Ex. 11). Eles Hélio Delmiro, Lula Galvão, Marco Pe-
No Ex. 4, temos alguns modelos de digitação lhe darão mais desenvoltura e mobilidade para reira, Rogério Caetano, Daniel Santiago e
da escala diminuta semitom-tom (dom-dim). tocá-la. Procure estudar lentamente até o domí- Nélson Faria, entre outros.
Neste caso, assinalei os acordes dominantes que nio completo de cada fórmula. Só então prossi- Qualquer dúvida, é só me escrever. Abraço
podem ser encontrados nela. ga para a fórmula seguinte. forte e bons estudos!

Ex. 2 Escala Diminuta Semitom-Tom (Dom-Dim)

em Dó
F 9m 9aum 3M 11aum 5J 13M 7m 8J

em Dó#

em Ré

Ex. 3 Digitações para Escala Diminuta Tom-Semitom Ex. 4 Digitações para Escala Diminuta Semitom-Tom (Dom-Dim)
G° C#° E° F#7 C7 E7

Ex. 5 Padrão Melódico

etc.

47
Licao

Ex. 6 Padrão Melódico

etc.

Ex. 7 Padrão Melódico

etc.

Ex. 8 Padrão Melódico

etc.

Ex. 9 Padrão Melódico

etc.

48
Ex. 10 Padrão Melódico

etc.

Ex. 11 Padrão Melódico

Ex. 12 Frase Diminuta

arpejo de Dm 9 G dom-dim

Ex. 13 Frase Diminuta

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49
Transcricao

John Dowland:
Preludium
Paulo Martelli é um
dos mais importantes
violonistas brasileiros
de sua geração. Mestre

Paulo Martelli pela Juilliard School de


Nova York, ele recebeu
o prêmio Segovia da
Peça do alaudista é um exemplo de economia Manhattan School of
de linguagem e perfeição de forma Music pelo destaque do
seu trabalho acadêmico e

O
alto nível performático.
inglês John Dowland (1563-1626) é con- Alterei apenas o primeiro baixo do compasso 8
Seus CDs Paulo Martelli
siderado o maior alaudista de seu tempo. (toco este Si uma oitava abaixo) e o restante está
plays Diabelli, Paganini,
Seu trabalho recebeu atenção no século na tessitura original.
Harris and Tedesco,
XX graças, em grande parte, ao trabalho de Diana Esse Preludium deve ser executado em legato,
Roots, O Homem que
Poulton (biógrafa e editora da sua obra completa especialmente os baixos. É um bom estudo para
Odiava a Segunda-
para alaúde), de Julian Bream (seu maior intérpre- se tocar escalas em contraponto com a linha do
Feira e Miosótis vêm
te) e, recentemente, de Paul O’Dette (que gravou baixo e o andamento deve ser por volta de 40-45
recebendo elogios da
na íntegra sua produção para alaúde). bpm por semínima. Você deve executá-lo com as
crítica especializada.
O Preludium apresentado a seguir foi extraí- devidas respirações nos finais das frases e pontos
E-mail: paulomartelli@
do da Collected Lute Music of John Dowland, de cadenciais, fundamentais para a interpretação. A
yahoo.com.br.
Diana Poulton e Basil Lam, e faz parte do Ma- terceira corda deve ser afinada em Fá#, mantendo a
garet Board Lute Book. É um excelente exemplo afinação tradicional do alaúde. Isso facilita a execu-
de economia de linguagem e perfeição de forma. ção e gera uma sonoridade próxima à original. Para
Dowland mostra toda a sua genialidade em pou- maior efeito e para se aproximar ainda mais da so-
cos compassos, criando uma peça intensa, lírica noridade do alaúde, recomendo usar um capotraste
e expressiva, no melhor estilo do compositor. A na terceira casa.
adaptação para o violão de seis cordas é perfeita. Um abraço a todos!

John Dowland
3ª. corda em Fá#
45 Preludium Adaptação para violão: Paulo Martelli

50
Ouça essa lição em: www.violaopro.com.br

51
Transcricao

Relembrando Dilermando
Reis: Se ela perguntar
Nilo Sérgio Sanchez
Valsa é a composição mais conhecida internacionalmente do violonista Nilo Sérgio Sanchez é

O
violonista, arranjador,
lá, amigos leitores. Nesta edição to possível. A valsa recebeu a seguinte letra compositor e regente. É
falarei de Dilermando Reis (1916- de Jair Amorim: coordenador de Música do
1977), violonista fundamental da Liceu Pasteur de São Paulo.
música brasileira. A história desse paulista Se ela um dia, por acaso, perguntar por mim Seu livro, Curso de Violão
de Guaratinguetá é fascinante. Ele iniciou Diga, por favor, que eu sou feliz... – Obras de Grandes
seus estudos de violão com seu pai, Fran- É preciso a própria mágoa disfarçar assim, Mestres, editado pela
cisco Reis, e em 1933 passou a acompanhar Dissimulando a dor à sombra de um sorriso... Irmãos Vitale, apresenta
o célebre violonista Levino da Conceição Coração talvez não tenha aquela por quem dei obras de importantes
em apresentações pelo interior do Brasil. Tudo o que sofri e que sonhei. compositores brasileiros
Mais tarde, morando no Rio de Janeiro, Estrela solitária que no céu do meu amor contemporâneos. E-mail:
teve alunos famosos, como o presidente Eternamente, desde que brilhou, nilonss@ig.com.br.
Juscelino Kubitschek e o violonista Bola Nunca se apagou!
Sete, e trabalhou na Rádio Nacional por
mais de 30 anos. Foi amigo de Catulo da Esperança de revê-la ainda,
Paixão Cearense, Ernesto Nazareth e Fran- Amargura de poder somente
cisco Alves, entre outras personalidades do Suplicar por ela, assim, alucinadamente,
meio artístico. Na paixão que é perdição,
Dilermando gravou seu primeiro disco No amor que é sempre dor
em 1941, com a valsa Noite de Lua e o cho- Feliz porque não diz as lágrimas que
ro Magoado. A sonoridade de Dilermando Sempre, sempre esconderei, sorrindo,
impressionava. Seu violão com cordas de Desfolhando apenas malmequeres
aço era tocado sem palheta, com um can- Pois ferir o coração é próprio das mulheres
tábile bem pronunciado, sem estridência. E sofrer, mesmo assim, é viver!
Como é característico do violão de seresta,
seus baixos eram freqüentemente antecipa- Para ouvir o violonista tocando Se Ela
dos. A valsa Se Ela Perguntar, apresentada Perguntar e também conhecer mais sobre
a seguir, é sua composição mais conhecida sua obra, sugiro ouvir o MP3 da música no
internacionalmente. Para interpretá-la den- blog do programa Violão com Fábio Zanon
tro do estilo seresteiro, empregue vibratos, (http://vcfz.blogspot.com/) da Rádio Cultu-
observe as fermatas e procure fazer a melo- ra FM – é o programa 17.
dia cantar sustentando as notas tanto quan- Bom trabalho e um abraço!

70 Se Ela Perguntar Dilermando Reis


Valsa lenta

52
53
Transcricao

54
Ouça essa lição em: www.violaopro.com.br

55
Licao

Arranjando
para violão solo:
Refazenda
Cristiano Petagna é
violonista de formação
erudita e popular.
É professor de violão

Cristiano Petagna
da Escola de Música e
Tecnologia (EM&T),
Tocar a melodia a duas vozes é uma solução para deixá-la mais em São Paulo, onde
foi responsável pela
‘cheia’ e fazer soar a harmonia elaboração do material

G
ilberto Gil está, sem dúvida, entre os site www.gilbertogil.com.br, onde está disponí- didático-pedagógico
grandes nomes da música brasileira de vel toda a sua discografia para audição. junto ao violonista
todos os tempos. Uma de suas marcas Para esta edição, elaborei um arranjo de Re- Ulisses Rocha. E-mail:
registradas, além da linguagem de compor e fazenda, gravada em 1975 no disco de mesmo cpetagna@gmail.com.
do estilo de cantar muito pessoais, é o violão nome e, posteriormente, regravada no CD Un-
rítmico e sempre bem arranjado. Seu violão de plugged, de 1994. Neste arranjo, usei uma téc-
acompanhamento em Oriente e Expresso 2222 nica simples e bastante funcional, que é tocar a
merece atenção e ilustra bem o que quero dizer. melodia inteira a duas vozes, na maioria das ve-
Uma sugestão para ouvi-lo tocando é acessar o zes em intervalos de terças. Esse tipo de solução

Ex.1 Acompanhamento de violão original de Refazenda


120

56
deixa a melodia mais ‘cheia’ e, ao mesmo nhando a mudança do padrão melódico trecho lentamente, prestando o máximo
tempo, faz soar a harmonia. Mantive a neste trecho. de atenção a este princípio.
idéia do baixo em ostinato do arranjo Este arranjo também pode ser enca- Transcrevi também o arranjo origi-
original em D (notas Ré e Lá), transpos- rado como um estudo de equilíbrio de nal do violão de acompanhamento de
ta nesse arranjo para a tonalidade de A execução da mão direita, pois é muito Gil em Refazenda. Observe como uma
(notas Lá e Mi). Do compasso 31 ao 35, importante que as duas vozes da melodia idéia simples no violão pode soar tão so-
usei um baixo pedal em colcheias para sejam ouvidas por igual. Para chegar a fisticada – coisa de gênio!
mudar um pouco a sonoridade, acompa- este resultado, é importante estudar cada Um abraço a todos!

Gilberto Gil
120 Refazenda Arranjo: Cristiano Petagna

57
Licao

58
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59
Violao Gaucho

É chamamé, tchê!
Valdir Verona e Sílvio de Oliveira
Parte da cultura rio-grandense, esse gênero campeiro está diretamente ligado ao violão

A
música campeira do Rio Grande do Sul O chamamé rio-grandense possui algumas
identifica-se pela sua pluralidade de influ- particularidades em relação ao praticado pelos her-
ências, recebidas principalmente dos países manos. Todavia, no processo de aclimatação foram
fronteiriços (Argentina e Uruguai, além da proxi- mantidas muitas características que fazem parte da
midade com o Paraguai). Basicamente, essa é a ló- essência do chamamé correntino, como a birritmia Valdir Verona é violonista
gica da difusão regional de vários gêneros musicais, (superposição de compassos 6/8 e 3/4, presente e violeiro rio-grandense. Seus
dentre eles o chamamé. também em outros gêneros, como a polca e a ran- livros 14 estudos – Violão
A partir de meados do século passado, esse gênero cheira), a predominância do modo maior, os frase- Campeiro (Independente) e
penetrou em solo brasileiro pela extensa faixa de fron- ados (clichês) melódicos típicos do chamamé (com Gêneros Musicais Campeiros
teira com a Argentina, especialmente com a província preponderância dos intervalos de terça e sexta), além no Rio Grande do Sul
de Corrientes, considerada o epicentro do fenômeno da estrutura poética de estrofe-refrão e do contexto (Nativismo) são referências
chamamecero. Aos poucos, conquistou a simpatia de rural. No Ex. 1 e no Ex. 2 estão ilustradas as células sobre violão gaúcho. Possui
músicos, ouvintes e dançadores – um sinal de que veio referentes à birritmia. dois CDs lançados, Acordes
para ficar. O que seguramente facilitou essa integra- Quanto aos elementos rio-grandenses agregados ao Vento e Tons da Terra. Em
ção musical foi o fato de o violão e o acordeom serem ao gênero, podemos citar, além da alteração do idio- breve lançará o CD Encontro
instrumentos populares tanto no Rio Grande do Sul ma nas versões cantadas, as diferentes combinações das Águas, em duo com o
quanto em Corrientes. O violão – não só no cha- vocais, pequenas modificações na acentuação rítmica acordeonista Rafael De Boni.
mamé, mas também nos demais gêneros campeiros do compasso e a influência dos demais gêneros musi- E-mail: v.verona@terra.com.
– exerce as funções de acompanhamento, de contra- cais já praticados no Estado, anteriores ao chamamé. br. Informações sobre os livros:
ponto e de instrumento solista. O trabalho de Lucio Fechando a lição, apresentamos um exemplo de livro.generos@gmail.com
Yanel, correntino radicado na Grande Porto Alegre, é chamamé composto para violão solo, o Estudo 14,
referência em composição de chamamés para violão publicado no livro 14 Estudos Progressivos – Violão
solo e seu estilo tem influenciado consideravelmente Campeiro (Independente), de Valdir Verona.
a nova geração de violonistas regionais. Abraço a todos e bons estudos!

Ex. 1 Células rítmicas básicas


melodia

acompanhamento

Ex. 2 Ritmo básico no violão


Sílvio de Oliveira é
pesquisador independente
do folclore musical gaúcho.
É co-autor da obra Gêneros
Musicais Campeiros no Rio
Grande do Sul (Nativismo).
E-mail: missioneiro@gmail.com

60
6ª corda em Ré
. 72 Estudo n° 14 Valdir Verona
100

61
Violao Gaucho

62
63
Violao Gaucho

Ouça essa lição em: www.violaopro.com.br

64
Classificados

A primeira parte do método aborda, de maneira


equilibrada, elementos teóricos para o aprendizado
e os exercícios práticos necessários. Na segunda
parte, são apresentadas tablaturas numéricas e
obras de grandes mestres eruditos e populares,
como Antonio Rago, Badi Assad, Edson Lopes,
Theodoro Nogueira, Geraldo Ribeiro, Duofel,
Caetano Veloso, Paulinho Nogueira e Toquinho.
Editora Irmãos Vitale

/ set.2006

Cursos: Violão solo (MPB, choro,


samba), Violão Clássico, Teoria,
Percepção Melódica, Rítmica e
Harmônica, Harmonia Funcional,
Prática de Conjunto (choro e samba),
Violão de 7 cordas, Cavaco, Bandolim

CD

Tel.: (11) 3021-5922 / 8659-5469

65
Classificados

P U B L I C I D A D E
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Elixir 11 5502-7800 www.elixirstrings.com

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Rouxinol 11 4441-8366 www.rouxinol.com.br

Rozini 11 3931-3648 www.rozini.com.br

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