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Conceito
Pena é a consequência prevista na lei a ser imposta pelo Estado a quem praticar
uma infração penal. Toda a conduta típica, ilícita e culpável será punida através de uma
sanção penal. O sistema repressivo brasileiro se dá através de penas e medidas de segu-
rança.
Características da pena
As penas de um Estado Democrático e de Direito devem estar estritamente liga-
das às garantias fundamentais do cidadão, descritas na Constituição Federal (CF), que
prevê uma série de características:
■■ personalíssima (CF, art. 5.º, XLV);
■■ limitada pelo princípio da legalidade (CF, art. 5.º, XXXIX);
■■ proporcional (CF, art. 5.º, XLVI);
■■ individualizada (CF, art. 5.º, XLVI);
■■ digna (CF, art. 5.º, XLVII);
■■ proibição da dupla punição, ne bis in idem;
■■ jurisdicionalidade (CF, art. 5.º, XXXVII, LIII, LIV, LV);
■■ igualdade e ressocialização (LEP, arts. 1.º e 3.º).
Finalidade da pena
Muito se discute sobre quais as funções da sanção penal. Várias são as teses
definidoras.
Teoria absoluta
O fim da pena é totalmente separado do seu efeito social. A pena é mera retribui-
ção; punição por um mal causado pelo criminoso à sociedade.
DIREITO PENAL
Teorias relativas
Entendem que o mais importante da pena não é a retribuição, o pagamento pelo
mal causado pelo delinquente, mas tem como finalidade a prevenção. A prevenção se
divide em prevenção geral e prevenção especial, e ambas em positiva e negativa.
Teoria mista
O legislador brasileiro adotou posicionamento misto, conforme podemos perce-
ber do descrito no artigo 59 do Código Penal (CP), que mostra a necessidade da pena ter
caráter retributivo e preventivo.
Sistemas prisionais
Dentre os que mais se destacaram durante toda a evolução das sanções penais,
encontram-se os sistemas:
■■ pensilvânico – também conhecido por celular, em que o preso era isolado e
recolhido à sua cela, separado dos demais, levado à reflexão e à leitura de livros
religiosos.
■■ auburniano – menos rigoroso, permitia o trabalho dos presos, inicialmente na
sua cela, depois juntamente com os demais detentos, mas em total silêncio.
■■ progressivo – é o adotado pelo Brasil, na Lei de Execução Penal (LEP – Lei
7. 210/84) que, no seu artigo 112, ensina:
Art.112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a trans-
ferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver
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N. 717. Não impede a progressão de regime de execução da pena, fixada em sentença não
transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão especial.
Espécies de pena
Estão previstos três tipos de pena na legislação brasileira: penas privativas de
liberdade, restritivas de direitos e multa.
Reclusão e detenção
O CP prevê duas formas de pena privativa de liberdade, a reclusão e a detenção.
As distinções entre ambas estão listadas a seguir.
DIREITO PENAL
anos, de quatro até oito anos, ou superior a oito anos), bem como pela reincidência e,
subsidiariamente, pela análise das circunstâncias judiciais do artigo 59 do CP. O STF,
buscando coibir tal procedimento editou duas súmulas.
N. 718. A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui moti-
vação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena
aplicada.
N. 719. A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada per-
mitir exige motivação idônea.
Remição
Remição é o desconto de um dia de pena a cada três trabalhados, em jornada diária
de seis a oito horas ou de um dia de pena a cada doze horas de frequência escolar. O preso
que trabalhava ou estudava e ficou por causa superveniente (acidente, doença etc.) incapa-
citado de trabalhar ou estudar, continua gozando do direito da remição. A remição deverá
ser concedida pelo juízo da execução, mediante prévia manifestação do Ministério Público,
sob a análise dos prontuários mensais do condenado, que deverão atestar todo o tempo
DIREITO PENAL
Detração
Detração é o tempo em que o réu ficou preso provisoriamente (em face de preven-
tiva, por exemplo), que será computado como pena cumprida, conforme prevê o artigo 42
do CP. Assim, se foi condenado a seis anos, precisará cumprir mais de um sexto da pena
para progredir de regime, ou seja, um ano; se está cumprindo pena há seis meses e já
havia ficado preso durante o andamento do processo por mais seis meses, face ao aspecto
temporal, poderá passar a regime menos severo e terá somente mais cinco a cumprir. O
cálculo compete ao juízo das execuções penais (LEP, art. 66, III, “c”).
Regressão
O artigo 118 da LEP prevê duas hipóteses de regressão, que terão como conse-
quência a transferência do condenado a regime mais rigoroso do que aquele em que se
encontrava. A primeira é praticar ato definido como crime doloso ou falta grave. O con-
denado, durante a execução penal, pratica crime doloso e é condenado com trânsito em
julgado, para não ferir a garantia da presunção de inocência ou pratica falta grave (parte
final), que estão dispostas no artigo 50 da LEP. Na segunda hipótese, sofre condenação,
por crime anterior à execução da pena que está cumprindo, caso somada ao restante
da execução torne incabível o regime (art. 111). Por exemplo, o condenado progride ao
semiaberto, logo depois sobrevém condenação por crime praticado antes dessa execução
penal e a soma da nova pena com a que ele está cumprindo impossibilita que ele perma-
neça no regime semiaberto; como consequência, regredirá ao mais gravoso (fechado).
Espécies
Embora o legislador tenha utilizado o nomen juris de penas restritivas de direitos,
na realidade, apenas uma delas realmente restringe direitos do condenado, as demais ou
têm conotação pecuniária ou de privação de liberdade. São elas:
■■ prestação pecuniária;
■■ perda de bens e valores;
■■ prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas;
■■ interdição temporária de direitos;
■■ limitação de final de semana.
■■ o crime não ter sido praticado com violência ou grave ameaça à pessoa;
Concurso de crimes
Havendo concurso material, formal ou crime continuado, seja pelo somatório ou
pela exasperação da pena, o juiz precisará computar o máximo da pena alcançada para
verificar se pode ou não conceder a substituição, ou seja, se não ultrapassou o limite legal
de quatro anos.
Concessão de substituição
Se ela servir tanto para evitar a desnecessária segregação, quanto por ser sufi-
ciente para a prevenção. Porém, só será possível se o condenado não for reincidente
específico, que tenha recaído no mesmo crime doloso.
§3.º Se o condenado for reincidente, o juíz poderá aplicar a substituição, desde que, em
face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não
se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.
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O critério subjetivo
O critério subjetivo incide em analisar se as circunstâncias judiciais do artigo
59 do CP (salvo as consequências do crime e comportamento da vítima) recomendam
a substituição, se são favoráveis ao condenado, se demonstram que a pena restritiva
de direitos é plenamente suficiente, tornando a privação da liberdade excessiva e des-
necessária. Com isso, após o cálculo da pena, no qual o juiz alcança a pena-base (CP,
art. 59), avalia as circunstâncias agravantes e atenuantes, passando depois às majorantes
e minorantes, chegando à pena definitiva, se não for superior a quatro anos, o crime
não ter sido praticado com violência ou grave ameaça e o condenado não for reincidente
em crime doloso, o juiz precisará retornar às circunstâncias judiciais do artigo 59 do
CP (salvo as consequências do crime e comportamento da vítima), para ver se é caso de
substituir a pena privativa de liberdade pelas restritivas e definirá, se for o caso de possi-
bilidade, qual(is) será(ão) aplicada(s) ao condenado.
Tempo de duração
O artigo 55 do CP ensina que as penas restritivas de direitos referidas nos inci-
sos III, IV, V e VI do artigo 43, terão o mesmo tempo de duração da pena privativa de
liberdade substituída. Não arrolou as penas dos incisos I e II porque não se referem
a tempo, são pecuniárias, e quanto ao inciso III equivocou-se, tendo em vista que foi
vetado. Observa-se ainda que o legislador ressalvou a hipótese do artigo 46, parágrafo
4.º, que prevê a possibilidade do condenado cumprir a pena restritiva superior a um ano,
em menor tempo, mas nunca inferior à metade da privativa de liberdade fixada.
mínimos. O valor pago, por ter natureza indenizatória, será deduzido do mon-
tante de eventual condenação em reparação civil, se coincidentes os benefici-
ários. Como a lei não exige, não há necessidade de a vítima ter sofrido dano
material, é possível também a prestação pecuniária em caso de dano moral. Se
o beneficiário consentir, a prestação pecuniária poderá ser de outra natureza
(art. 45, §2.º), como um bem móvel ou imóvel ou ainda uma escultura, um
quadro, se o condenado for artista, ou uma prestação de serviços, como pin-
tura, instalação elétrica, hidráulica ou marcenaria, se for o ofício ou profissão
do criminoso.
■■ Perda de bens e valores (CP, art. 45, §3.º): o legislador trata de bens lícitos
adquiridos pelo condenado, que serão perdidos em favor do fundo penitenciá-
rio nacional, em valor não superior ao prejuízo causado ou a vantagem obtida
pessoal ou de terceiro proveniente do fato criminoso. A lei ressalva que, se for
caso de crime previsto em lei especial e esta prevê destinação específica, deverá
ser seguida a norma especial, como por exemplo nos crimes relacionados às
drogas ilícitas entorpecentes ou capazes de causar dependência física ou psí-
quica, casos em que a previsão encontra-se no artigo 29, parágrafo único, da
Lei 11.343/2006.
Diferenças entre a perda de bens e valores e o confisco do artigo 91, II, do CP:
■■ a perda de bens e valores é pena substitutiva, enquanto o confisco de bens
é efeito da condenação; a perda de bens e valores precisa os requisitos do
artigo 44 do CP, não sendo admitida se a condenação foi superior a quatro
anos, já o confisco pode ser aplicado para crimes com pena superior a qua-
tro anos;
■■ a perda de bens e valores exige ocorrência de prejuízo, ainda que o agente
não tenha sido beneficiado com o crime; o confisco exige o benefício, a van-
tagem com o crime;
■■ na perda de bens e valores a origem de bens é lícita; no confisco, os instru-
mentos, produto, bem ou vantagem do crime são ilícitos;
■■ na perda de bens e valores o destino é o Fundo Nacional Penitenciário –
se não houver previsão especial; no confisco, o depósito será em favor da
União.
■■ Prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas (CP, art. 46):
aplica-se somente às condenações superiores a seis meses de privação de
liberdade, e o condenado prestará, gratuitamente, serviços em entidades
assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos simila-
res, conforme suas aptidões. As atividades serão cumpridas em razão de uma
hora de tarefa por dia de condenação, a ser fixada de modo a não prejudicar
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O artigo 44, parágrafo 4.º, prevê como causa de conversão somente o descumpri
mento injustificado da restrição imposta, contudo, o artigo 181, da LEP, enumera uma
série de outras situações que levarão, igualmente, à conversão. Convém expor que o
artigo 181, parágrafo 1.º, “e”, da LEP foi revogado tacitamente pelo artigo 44, parágrafo
5.º, do CP, que dispõe: “sobrevindo condenação à pena privativa de liberdade, por outro
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crime, o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la
se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior”.
Pena de multa
A pena de multa é aplicada conforme o sistema dias-multa e o conceito e o limite
estão previstos no caput do artigo 49 do CP.
Art. 49. A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada
na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360
(trezentos e sessenta) dias-multa.
Valor do dia-multa
O valor do dia-multa e a forma de sua atualização estão descritos nos parágrafos
do artigo 49 do CP.
Art. 60. Na fixação da pena de multa o juiz deve atender, principalmente, à situação eco-
nômica do réu.
§1.º A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar que, em virtude da situ-
ação econômica do réu, é ineficaz, embora aplicada no máximo.
Art. 50. A multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias depois de transitada em julgado a
sentença. A requerimento do condenado e conforme as circunstâncias, o juiz pode permi-
tir que o pagamento se realize em parcelas mensais.
DIREITO PENAL
a) aplicada isoladamente;
b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de direitos;
c) concedida a suspensão condicional da pena.
§2.º O desconto não deve incidir sobre os recursos indispensáveis ao sustento do conde-
nado e de sua família.
Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de
valor, aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública,
inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.
Da aplicação da pena
O artigo 68, caput, do CP ensina que a autoridade judiciária condenando o réu, ao
calcular a pena, deverá seguir três fases, inicialmente fixando a pena-base com base no
artigo 59, depois a pena intermediária com a incidência das circunstâncias agravantes e
atenuantes e, por fim, alcançará a pena definitiva com as majorantes e minorantes.
Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à perso-
nalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como
ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime:
Art. 67. No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indi-
cado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos
motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência.
Concurso de crimes
Buscando a proporcionalidade das penas em relação ao comportamento do
agente, para evitar penas absurdamente elevadas e desproporcionais, por política cri-
minal, com base na funcionalidade das penas, o legislador tratou do chamado concurso
de crimes.
Art. 69. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em
que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção,
executa-se primeiro aquela.
DIREITO PENAL
§1.º Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liber-
dade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de
que trata o art. 44 deste Código.
§2.º Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simulta-
neamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais.
Art. 70. Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma
delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se,
entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes
resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
Parágrafo único. Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste
Código.
Crime continuado
Por ficção jurídica do artigo 71 do CP, se o agente cometer vários crimes de furto,
nas mesmas circunstâncias de tempo, de lugar, modo de execução e outras semelhantes,
os demais deverão ser vistos pelo julgador como desdobramento, ou continuidade do
primeiro. Os furtos não terão as penas somadas, até mesmo porque, por ficção, trata-se
de crime único, cuja consequência será a exasperação de um sexto a dois terços.
Art. 71. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-
-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada,
em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
Se for caso de continuidade delitiva de crimes dolosos com violência contra a pes-
soa, como por exemplo, roubos, extorsões, homicídios, a exasperação será de um sexto
até o triplo, conforme prevê o parágrafo único do artigo 71 do CP.
Aqui é importante fazer a distinção entre o limite da pena aplicada pelo juiz no
momento da sentença, que poderá, sem dúvida ser superior a esse limite, enquanto a
execução da pena privativa de liberdade é que não poderá ser superior a 30 anos, compe-
tindo ao juízo da execução penal fazer a unificação (LEP, art. 111).
DIREITO PENAL
Por exemplo, o autor é condenado a 120 anos de reclusão, o juiz unifica as penas,
resultando em 30 anos. Se, cumprido um ano, sobrevier nova condenação, de cinco anos,
o juiz da execução poderá fazer unificação, chegando a 34 anos, dos quais serão cum-
pridos 30. Mas, se forem somadas as duas unificações ele cumpriria 31 anos, o que é
totalmente legítimo.
Com isso, o STF ensina que, para fins de progressão de regime de cumprimento
da pena, livramento condicional ou qualquer outro benefício referente à execução penal,
este será concedido conforme a pena aplicada pelo juiz na sentença (por exemplo, 120
anos) e não sobre a pena unificada de 30 anos.
Das Penas e seus Critérios de Aplicação, de José Antônio Pagamella Boschi, editora
Livraria do Advogado.