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Derecho y Cambio Social

A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NA PRAXIS JURÍDICA


À LUZ DA INTERDISCIPLINARIDADE1

Gedson Alves da Silva2


Tauã Lima Verdan Rangel3

Fecha de publicación: 02/10/2017

Sumário: Introdução. 1. Visão de conflito: inevitável, reversível


e natural. 2. Análise epistemológica sintética acerca da
interdisciplinaridade. 3. A mediação/conciliação na prática
jurídica. 4. Mediação e conciliação em números tratados. -
Conclusão. - Referências bibliográficas.

1
Para referencia: Artigo originalmente publicado pela Revista Eletrônica Derecho y Cambio
Social (ISSN 2224-4131/ D.L. 2005-5822), n.º 50, ano XIV, Lima, Peru, 2017. Disponível
em:
http://www.derechoycambiosocial.com/revista050/A_MEDIACAO_DE_CONFLITOS_NA_
PRAXIS_JUR%C3%8DDICA.pdf.
2
Discente do Curso de Direito da Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim.
Licenciado em Ciências Biológicas, com habilitação em Ciências Naturais pela Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Alegre-ES. Consultor Ambiental. Professor de Ciências e
Biologia. Servidor de carreira do Poder Legislativo do Município de Marataízes/ES no cargo
de Técnico Legislativo.
gedson.as@gmail.com
3
Professor Orientador. Doutorando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia
e Direito da Universidade Federal Fluminense. Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pelo
Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense.
Especialista em Práticas Processuais – Processo Civil, Processo Penal e Processo do
Trabalho pelo Centro Universitário São Camilo-ES. Professor do Curso de Direito da
Faculdade Metropolitana São Carlos – Unidade Bom Jesus do Itabapoana e líder do Grupo
de Pesquisa “Faces e Interfaces do Direito: Sociedade, Cultura e Interdisciplinaridade no
Direito”.
taua_verdan2@hotmail.com

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Resumo: Este artigo abordará as facetas da capacidade humana
de gerar e equacionar os seus conflitos pela mediação. O texto
trata, ainda, acordo e desacordo como fenômenos ou fatos
sociais interdependentes entre si, e o faz no sentido de
fundamentar o debate acerca de que, como não pode haver
direito sem sociedade, não pode haver conflito sem solução
(coercitiva que seja), e daí, não pode haver solução sem diálogo
ou mediação. Os dados esposados demonstrarão como a
estrutura de conciliação está distribuída no território nacional e
como ocorrem as relações numéricas entre as variáveis, segundo
último levantamento publicado pelo CNJ. Outrossim, o presente
artigo, traz a perspectiva de como o Direito, avesso ao
manualismo jurídico, advindo da ressignificação do
conhecimento na prática diária, adota a interdisciplinaridade
como facilitadora para consecução do objetivo central dessa área
jurídica, isto é, alcançar soluções compatíveis com os desejos de
cada parte, valendo-se, em certa medida, de outras áreas do
conhecimento conforme a necessidade do caso concreto.
Palavras-chave: mediação; conciliação; interdisciplinaridade;
conflito; soluções.

Abstract: This article will analize side by side the human


capacity to generate and equate their conflicts through
mediation. It’s text also discusses agreement and disagreement
as phenomena, or social facts, interdependent with each other.
This construction serve to substantiate the debate about which
can’t be right without society, there can’t be conflict without
solution (coercive, what be), and, there can’t be solution without
dialogue or without mediation. The handcuffed data will show
how the conciliation structure is distributed in the Brazil and
how the statistics relations between the variables according to
the last survey published by the CNJ (National Council of
Justice). This is some subject of this article, as the how averse to
legal manualism arising from the re-signification of knowledge
in daily practice, adopts interdisciplinarity as a facilitator to
achieve the central objective of this legal area, that is, to achieve
solutions compatible with the desires, relying to some extent on
other areas of knowledge as required in the real case.
Key-words: mediation; conciliation; Interdisciplinarity;
conflict; solutions.

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INTRODUÇÃO
Um dos objetivos de destaque dessa obra: trazer à baila uma discussão
acadêmico-científica acerca do papel da interdisciplinaridade na mediação
de conflitos, não se descartando a possibilidade de aplicação do contexto
discutido nos termos do Novo Código de Processo Civil, conforme artigo
334, caput, §§1º e 2º. Não olvida mencionar que a dicotomia antagônica da
locução epistemologia prática alicerça-se na inexorável e inescusável
conexão entre a práxis e a teoria; ambas só se efetivam mutuamente
articuladas.
A interdisciplinaridade do ordenamento jurídico serve-se à função de
elemento capaz de articular as ciências que permeiam o ambiente jurídico,
no sentido de que o Direito não pode ser tratado de modo hermético nem na
teoria, menos ainda na prática. Aduz-se dessa praxis, como delimitatória
temática, a que está inserida no contexto da mediação e/ou da conciliação,
lato sensu, na busca das partes em conflito por, nada mais, do que a Justiça,
a justa decisão.
O conceito de Justiça é tão complexo quanto à sociedade em si, não
sendo possível analisar qualquer fenômeno social a partir do ideal
hermético, autossuficiente, isto é, insulado dos fenômenos sociais
complexos que a abarcam, nem tampouco das inspirações que viabilizam
sua crítica. Os dados empírico-estatísticos tratados e dispostos nesse artigo
sugerem a confirmação de que o Sistema Judiciário brasileiro não é, como
está, capaz de oferecer, num prazo razoável, justiça às partes conflitantes.
Caracteriza-se pelas teorias colacionadas, de modo bastante
elucidativo, a imperiosa necessidade do estabelecimento eficaz de métodos
autocompositivos de resolução de conflitos, dentre os quais se destaca a
mediação e a conciliação. Porém, não se pode conceber que tais
alternativas estejam adstritas à completude ontológica da Justiça. Por isso,
a discussão incorpora premissas interdisciplinares das quais se depreende a
impossibilidade de haver supremacia epistemológica ou axiológica no
processo de autorresolução de conflitos. Todas as áreas do conhecimento,
cada qual igualmente necessária, é o elo da corrente que move o todo
complexo.

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Entrementes, perpassando às questões semânticas e estruturais do
conflito, cinge-se a estabelecer as relações conexas entre o Direito, a
mediação, a conciliação e interdisciplinaridade, sob o prisma analítico do
volume de processos que tramitam no judiciário brasileiro, fato que
representa o desafio a ser enfrentado, não somente pelas Ciências Jurídicas,
mas pelo pensamento humano, pela reflexão acerca das demandas
jurisdicionalizadas, bem como pelo uso efetivo de métodos alternativos não
judiciais de resolução das lides ou transformação de suas causas.
1. VISÃO DE CONFLITO: INEVITÁVEL, REVERSÍVEL E
NATURAL
A questão do conflito requer daqueles que com ele atuam (ou pretendam
atuar) prévio conhecimento de sua gênese. O conflito ocorre pela diferença
de objetivos e interesses pessoais e é parte inevitável da natureza humana,
logo, tem-se a constituição do lado oposto da cooperação e da colaboração
(CHIAVENATO, 2004). "O conflito é normal nos relacionamentos
humanos; ele é o motor de mudanças." (LEDERACH, 2012, p. 16).
Questões semânticas podem surgir. Essa corrente baseia-se na
transformação do conflito4 e irá encontrar signos divergentes em literaturas
que consideram a sua resolução5. Tem-se que, para o momento, essa
discussão que não se coaduna com o objetivo perseguido.
Conflito, do Latim conflictun, significa choque, embate das pessoas
que lutam, discussão, desordem. Está ligado a desacordo, celeuma e
discórdia. Sendo, pois, fruto do convívio social, o conflito que é gerado
pela interferência deliberada de uma das partes envolvidas para alcançar
seus próprios objetivos, terá sua resolução também nascida do seio social,
campo abordado pela mediação de conflitos. Dito de outra forma, “lide é o
conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida ou
insatisfeita” (CARNELUTTI 1936, p. 10), nota-se que, in casu, lide e
conflito orbitam conceitos siameses.

4
O objetivo do modelo de mediação proposto, de melhor efetividade, é o de transformar o
conflito e as relações humanas, bem como trabalhar as diferenças e transformar coletivamente a
realidade. (LEDERACH, 2012).
5
“A mediação é uma forma ecológica de resolução dos conflitos sociais e jurídicos; uma forma
na qual o intuito de satisfação do desejo substitui a aplicação coercitiva e terceirizada de uma
sanção legal. A mediação como uma forma ecológica de negociação ou acordo transformador
das diferenças.” (WARAT, 1998. p.5). “O resultado da resolução do conflito pela via
jurisdicional consuma-se através da sentença, que é o ato pelo qual o Juiz decide a lide entre as
partes processuais, através da aplicação do Direito ao caso concreto posto em exame.” (SENA.
s.d. p. 4).

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Uma das principais funções sociais das ciências, nesse campo, com
destaque às sociais, é de buscar meios pelos quais os conflitos sejam o mais
breve, adequada e satisfatoriamente mitigados e/ou solucionados, não
cabendo essa tarefa, por tanto, ao Direito, somente. “O conflito quando
bem conduzido, pode resultar em mudanças positivas e novas
oportunidades de ganho mútuo.” (VASCONCELOS, 2008, p. 20). A
interdisciplinaridade surge nessa relação tempo/espaço antagônica de
valores6, promovendo um momento de homeostase7. O mecanismo
homeostático do sistema jurídico surge quando da ocorrência de um fator
de inquietude num processo irreversível: o processo entrópico89. Por esse
motivo é que homens e mulheres solucionam seus conflitos tendendo a
resolvê-los com pacifismo. Dando sequência ao raciocínio anterior, esses
momentus de entropia e homeostase, são observados não de agora.
Discorrendo sobre o tema, resta demonstrar a decadência que assolou os
sistemas fechados, caracterizados precipuamente pela predominância entrópica,
os quais, necessariamente, foram substituídos por sistemas jurídicos de bases
mais sólidas. (BONATTO; MORAES, 1999, p. 28).

6
A democracia e a liberdade não podem mais estar plena e verdadeiramente seguras num único
país, ou mesmo num grupo de países; sua defesa num mundo saturado de injustiça e habitado
por bilhões de pessoas a quem se negou a dignidade humana vai corromper inevitavelmente os
próprios valores que os indivíduos deveriam defender. (BAUMAN, 2007, p. 32). Nesse
processo, os valores intrínsecos dos outros como seres humanos singulares (e assim também a
preocupação com eles por si mesmos, e por essa singularidade) estão quase desaparecendo de
vista. (BAUMAN, 2004, p. 69).
7
Propriedade autorreguladora de um sistema ou organismo que lhe permite manter o seu estado
de equilíbrio (BRASIL, s.d; s.p).
8
Deriva da 2ª lei da termodinâmica. Entende-se como processo irreversível um processo no
qual um sistema não pode retornar ao seu estado inicial depois de ser modificado. Após
qualquer fato social, operado por um Direito vigente em qualquer época que, no futuro, pelo
processo natural de evolução social, ao identificar-se sua ineficácia, nada daquilo que foi
alterado voltará ao seu estado original, mesmo que ali seja aplicado efeito ex tunc, que, nesse
caso, tem o condão de retroagir um determinado efeito, continuará, portanto, irreversível,
entrópico (BRASIL, sp. sd.).
9
“O que pode ser pensado como sistema, ao contrário do se tem como ambiente, é debatido na
pesquisa em teoria dos sistemas. Se se quiser evitar algo semelhante à lei da entropia, todos os
enunciados da teoria dos sistemas terão de ser formulados como enunciados sobre a distinção
entre sistema e ambiente, ou deverão partir da forma dessa distinção. Para responder a isso, a
antiga teoria dos sistemas propusera primeiramente a forma “sistema aberto. O aspecto mais
relevante dessa tese estava na lei da entropia, que trazia em seu bojo a concepção de que
sistemas apartados do seu ambiente paulatinamente são assimilados por esse mesmo ambiente, e
portanto, se dissolvem, pois perdem energia e a morte por exaustão é irreversível. Para a
constituição da complexidade, para a produção e conservação de “entropia negativa” [o termo
adequado é sintropia], faz-se necessário um intercâmbio contínuo com o ambiente – seja de
energia seja de informação.” (LUHMANN, 2016, p. 604).

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Essa substituição, caracterizada pela alternância dos fundamentos
científicos do Direito ao longo da história da humanidade, reconhece-se por
homeostase, que é o fenômeno resultante do processo inverso à entropia
qual seja, a sintropia.
Caso não claro, dito de outra forma, a entropia do sistema jurídico,
nesse ínterim histórico, foi deliberadamente provocada pelo movimento
anti-jusnaturalista do Partido Nazista alemão (associado aos demais
movimentos políticos de mesmo fundo ideológico), evidentemente, num
processo irreversível alheio à simbiose das ciências, e por essa razão com
as fronteiras do conhecimento fechadas à osmolaridade científica. Tais
condutas não permitiam que os avanços etnocêntricos da Alemanha nazista
prosperassem. Na sequência, na fase do pós-guerra, o elemento
homeostático de maior expressão, que fecha o raciocínio sem desídia, (o
elemento de evolução e seleção natural que colocou por terra o sistema
legal positivado desenvolvido pelo nazismo), é a Declaração Universal dos
Direito Humanos, o elemento, in casu, sintrópico (NUNES, 2004).
2. ANÁLISE EPISTEMOLÓGICA SINTÉTICA ACERCA DA
INTERDISCIPLINARIDADE
A interdisciplinaridade necessita ser frequente nos processos de mediação
de conflitos, refletindo assim, progresso e maturidade, porque o
conhecimento dos fatores limitantes pode determinar progresso de
conhecimento, isto é, a expansão de suas fronteiras. Essa reflexão é a
antítese das "especialidades que disputam entre si por âmbitos de
intervenção profissional, porque, consideram que esta ou aquela parcela de
conhecimento ou ação lhes pertence, exclusivamente" (SANTOMÉ, 1998,
p. 46). Logo, a epistemologia, para a interdisciplinaridade, encontra sentido
de que, “the Epistemology, also called theory of knowledge, is the branch
of philosophy interested in investigation of nature, sources and validity of
knowledge." (GRAYLING, 1996, p. 37).
A práxis interdisciplinar, por sua dinâmica integradora, que valida e
legitima o conhecimento, exige isonomia intelectiva de todos os envolvidos
por questões sociais e antropológicas, principalmente no que diz respeito ao
poder e/ou sua obtenção e manutenção; aos olhos dos mais individualistas,
é observada com reserva e distanciamento. A superação desse paradigma
(manutenção do poder tutelado a uma única ciência) encontra-se,
justamente, na formação do indivíduo que é quem o introjeta na cultura
social, ao passo que somente esse mesmo indivíduo será capaz de, com
fundamentos sólidos, associar a relação profícua entre a teoria e a prática, e
obter a segurança e estima necessárias ao bom desempenho interdisciplinar

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das mediações de conflitos vindouras. Essa compreensão narrativa, à
margem da pretensão axiomática, encontra eco na doutrina, no sentido de:
[...] entre os propósitos da atitude anti-interdisciplinar adotada pela maioria dos
juristas não está a busca da verdade senão a mera persuasão ou prática retórica
(‘l´art du bavardage’, como diria J. Lacan): ‘simular chegadas, sem saídas e sem
viagens’. O problema é que uma ciência que não adverte os signos de sua
própria estagnação e potencial embrutecimento, porque seu “fundamento” e
ideologia é um mito continuo de justiça, interpretações e/ou normas, se separa da
realidade e se corrompe em uma ilusão. Tal como sentencia Robert Trivers,
quando eliminamos a biologia da vida social, só nos resta “palavras” e qualquer
ciência ou filosofia fica reduzida a um de tantos sistemas arbitrários de
pensamento. (FERNANDEZ, 2015. p. 06).
Dessa feita, a complementaridade doutrinária é conforme a demanda
esposada:
[...] não há como compreender a atividade de mediação e a atividade de
mediador sem conhecimento interdisciplinar. Trata-se de retirar o foco do olhar
dos mediandos que está voltado ao passado e ao presente para ensiná-los a
enxergar o futuro. (BARBOSA, 2012, p. 16).
De posse das perspectivas alinhavadas é possível afirmar que a
mediação de conflitos interdisciplinar pode fazer exsurgir, por questões
práticas, uma acepção paradoxal por seu do núcleo semântico-axiológico:
estimular conflitos entre as áreas do saber quando da articulação de
conhecimentos autônomos, se mal interpretada ou implementada. É
preciso, antes de qualquer coisa, conhecer e compreender a etimologia da
palavra poder, que vem do latim vulgar potere, substituído pelo latim
clássico posse, que vem a ser a contração de potis esse, ser capaz;
autoridade. A etimologia do vocábulo “poder” torna sempre a uma palavra
ou ação que exprime força, persuasão, controle, regulação. Francis Bacon,
filósofo e jurista inglês (1561 a 1626), importante pensador renascentista,
em sua controversa literatura Novum Organum, publicada em 1620, que
pretendia substituir o Organon de Aristóteles, encontra em Eva (2006) uma
compreensão bastante pertinente às questões aqui elencadas, cuja máxima
latina baconiana para o contexto seria: Nam et ipsa scientia potestas est, em
tradução livre, a própria ciência (saber) é o poder.
Agir de modo interconexo e integrado demanda contínua formação e
habilidades muito específicas. A prática funda-se em teorias criteriosas.
Com a ampliação dos horizontes do Direito, haverá plena eficácia de suas
ações, transformando o pensar e o sentir em criação de vontade. Não é
possível conceber um profissional do Direito cuja formação, ou interesse,
esteja adstrito a essa danosa concepção fragmentária do saber.

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[...] Impende aproximar o estudo do Direito de um saber holístico, posicionando
o estudante frente à realidade que enfrentará desde os bancos da faculdade, mas
estabelecendo, primeiramente, a obrigatoriedade de difundir o saber mais amplo
para se chegar aos conhecimentos específicos, os quais, por afinidade de cada
um, poderão ser escolhidos para dedicar-se e atuar, considerando, ainda, que
cada indivíduo tem suas características próprias, diferenças e anseios, não
havendo como se pretender que o conhecimento seja por todos apreendido
igualmente. (SOUZA, 2014, p. 98).
Donskis (2014) trata essa questão de modo singular e seu
pensamento é a pertinência que suplanta a lacuna escavada por Didier
Júnior (2016) em tela no tópico seguinte:
Em vez de harmonizar e conciliar as faculdades da alma, nós nos tornamos
indivíduos à revelia. Supõe-se que atuemos em favor do mundo. Temos de
enfrentar os problemas criados pelas gerações precedentes. Espera-se que
encontremos uma forma de escapar aos embaraços dolorosos da modernidade –
como indivíduos corajosos, audazes, autossuficientes, conscientes e capazes de
correr todo tipo de risco. [...] não há soluções locais para problemas criados
globalmente, os indivíduos não podem agir como uma resposta viável e
suficiente a desafios que se tornaram parte de nossas vidas [...]. (DONSKIS,
2014. p. 160).
A interdisciplinaridade surge como uma necessidade prática de
articulação dos conhecimentos (reconstituir essa fragmentação do saber);
constitui um dos efeitos ideológicos mais importantes sobre o atual
desenvolvimento das ciências, e o Direito está aqui inserido justamente por
apresentar-se como o fundamento de uma articulação teórica mediativa,
apaziguadora, engajada para a prática (LEFF, 2002).
La mediación interdisciplinaria o compleja es aquella intervención de un equipo
multiprofesional representado en la persona del o de los mediadoras/es, no
vinculado a las partes de un conflicto [...] que lo hace en un principio a solicitud
de cualquiera de ellas o de ambas, con el objetivo de promover una forma
alternativa, no jurisdiccionalmente contradictoria, de resolución del conflicto.
(ELIÇABE-URRIOL, 1995, p. 10).
A interdisciplinaridade inserida no Direito, como aqui se apresenta,
pode ser um instrumento frágil pela sua prematuridade, mas, ao
demonstrar-se viável e executável tende a se fortalecer num processo de
autoafirmação contínuo, porque a sua função principiológica está para além
do simples cruzamento dos diversos conhecimentos. A certeza de simbiose
do Direito com outras ciências inicia a permeação osmótica dos saberes
complexos de cada sistema para formar uma nova matriz de pensar, não só
o próprio Direito, mas todas as demais áreas envolvidas nesse mutualismo,

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num visível processo evolutivo. Porque, se há evolução das relações
sociais10, ali haverá a evolução do Direito.
3. A MEDIAÇÃO/CONCILIAÇÃO NA PRÁTICA JURÍDICA
Adotar-se-á a doutrina de Didier Júnior (2016) para limitar o campo
semântico-conceitual inerente à dicotomia mediação/conciliação. Indene de
dúvidas de que são institutos ou técnicas diferentes, não se está a discutir a
fundo essa diferenciação conceitual. Mediação e Conciliação são espécies
de heterocomposição do conflito e informadas pelos mesmos princípios e
regidas pela livre autonomia dos interessados, inclusive no que diz respeito
à definição das regras procedimentais. “Esses são aspectos que aproximam
as duas técnicas. A diferença entre conciliação e mediação é sutil – para um
pensamento mais rigoroso, inexistente. Seria vã a tentativa, embarcar nessa
seara”. (DIDIER JÚNIOR, 2016, p. 274).
Não por outros motivos, “a interdisciplinaridade, que colhe
elementos em outras áreas do saber - inclusive os menos óbvios, como a
psicanálise ou a linguística - tem uma fecunda colaboração a prestar ao
universo jurídico.” (BARROSO, 2006, p. 19). Mormente, as audiências
públicas interdisciplinares das quais o Supremo Tribunal Federal servem
para alicerçar suas decisões, a mais dos temas de Educação, Meio
Ambiente e Penal, as matérias intrínsecas à dignidade da pessoa humana e
à proteção à vida, de veras, são igualmente abordadas pelo prisma da
Interdisciplinaridade, como bem observou o STF nos autos da afamada
ADPF 5411.
Como visto, a estreita articulação do Direito com outras ciências não
é qualquer novidade no mundo jurídico, como também é explícita a
problemática dessas relações teóricas de fundo epistemológico. A guisa das
estatísticas de mediação interdisciplinar, na tentativa de se comprovar
empiricamente as contribuições dos elementos e dos institutos aduzidos,
extrai-se de pesquisa realizada no Poder Judiciário do Estado de
Pernambuco, a seguinte assertiva:

10
DESCARTES (1983).
11
(...) “A última sessão, no dia 16 de setembro, iniciou com a fala da Dra. Elizabeth Kipman
Cerqueira, especialista em ginecologia e obstetrícia, ex-Secretaria de Saúde do Município de
Jacareí e Diretora do Centro Interdisciplinar de Estudos Bioéticos do Hospital São
Francisco/SP. Segundo assentou, não há a possibilidade de determinar a morte encefálica do
feto anencéfalo nascido vivo. Apontou que os problemas decorrentes da manutenção de uma
gravidez dessa espécie resolvem-se espontaneamente após o parto, mas as sequelas da
antecipação do parto são permanentes. Sustentou que o caso é de aborto eugênico e que se
pretende, com a descriminalização, estabelecer um controle de natalidade.” STF. ADPF 54/DF.
Rel.: Min. Marco Aurélio. Tribunal Pleno. DJe-092 30/08/2007.

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Dentro do padrão verificado uma vez que os conflitantes se dispunham a
comparecer às sessões de mediação, o conflito12, considerando que foram
analisados 1.481 procedimentos e seus respectivos termos de acordo, avaliados
entre junho de 2008 e maio de 2009, têm, no mínimo, 56% (cinquenta e seis por
cento) de chances de ser solucionado mediante decisão construída pelas partes.
(CAVALCANTI, 2009, p. 63).
A pesquisa de Cavalcanti (2009) denota que, após a mediação
interdisciplinar, os mediandos foram avaliados por uma equipe
(resguardadas as devidas necessidades de atuação) composta por
psicólogos, filósofos, contadores, psicanalistas, assistentes sociais,
economistas, agrônomos, arquitetos, farmacêuticos, engenheiros e juristas.
Contatou-se, além da solução pacífica do conflito em si, que a mediação
interdisciplinar promoveu uma positiva mudança na autoestima das partes e
o restabelecimento da comunicação não violenta.
Contudo, pela circunscrição estatística quando comparada ao número
total de processos judicializados a nível nacional, vislumbra-se longínqua a
possibilidade de afirmar a contribuição da mediação no desafogamento do
Poder Judiciário13, porque em números relativos, no Judiciário tramitam
cerca de 73,9 milhões de processos.
Ademais disso, o modelo adotado no Estado de Pernambuco não
pode ser utilizado como parâmetro para extrapolação dos números por
questões, obviamente, histórico-culturais. Para números relacionados à
mediação de conflitos, preliminarmente, demonstrou-se bastante dificultosa
a localização de estatísticas confiáveis para uma interpretação mais precisa
daquilo que se considera por processos solucionados a partir de um Sistema
Interdisciplinar de Mediação de Conflitos, fato esse igualmente importante,
pois do ponto de vista empírico, todo resultado é válido.

12
As matérias de Direito tratadas nos referidos acordos [...] quais sejam: a) pensão alimentícia;
b) divórcio; c) separação; d) cobrança de dívidas; e) regulamentação de visitas; f) despejo e
danos materiais;
13
"Nesse sentido, a escolha do tema mediação interdisciplinar justifica-se nesta fase de crise do
Poder Judiciário quanto a sua capacidade real de atender efetivamente as demandas que lhe são
apresentadas, seja pela proposta que lhe é inerente de construir novo espaço não-adversarial e
voluntário de resolução de disputas; seja pela forma consensual e interdisciplinar em que tal
proposta se consubstancia, promovendo o empoderamento do cidadão e o resgate da
comunicação não violenta entre os conflitantes; ou ainda, seja pela ideia de desafogar o
judiciário e ampliar a possibilidade de aceitação da decisão última [...]". (CAVALCANTI, 2009,
p. 13).

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4. MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO EM NÚMEROS TRATADOS
O desafio do Poder Judiciário está na análise de um acervo de 73,9
milhões de processos pendentes de baixa 14, com base na última publicação
do CNJ (gráfico 01). Desse total 51,9% referem-se à fase de execução.
Passar-se-á ao estudo dos casos de conhecimento não criminais em 1º grau,
tendo em vista que na esfera penal é vedada a mediação. Exclui-se do
estudo, por hora, as execuções de 1º grau em virtude do baixo índice de
mediação (4,1%). Estará à margem desse estudo, então, de igual modo, as
ações que tramitam no 2º grau, instância na qual a conciliação é
praticamente inexistente, 0,3% dos processos julgados no ano base
(BRASIL, 2016).
O brasileiro reclama, com razão, da duração de um processo, intuindo ser a
celeridade indispensável para se alcançar o objetivo precípuo da jurisdição: o
restabelecimento da paz social momentaneamente abalada pelo conflito de
interesses. Entretanto, mesmo tendo um direito espezinhado, confia ainda o
jurisdicionado na atuação do Estado-juiz e, por isso, deixa de acionar outros
meios de solução de pendências, distanciando-se, assim, à mercê de paixões
condenáveis, da composição amigável. [...] É certo que alguns fatores persistem,
dificultando a entrega da prestação jurisdicional em tempo hábil, a prolação da
sentença final em período norteado pela razoabilidade. (MELLO, 2002, s.p).
Observa-se no gráfico 01 a tramitação, na fase de conhecimento não
criminal de primeiro grau, de 38.375.908 de processos (somatório dos
processos pendentes e novos). Transpondo-se dados parametrizados da
pesquisa de CAVALCANTI (2009), quais sejam, resultados de composição
regular de 1.481 sessões realizadas entre junho de 2008 e maio de 2009
pela Câmara de Mediação e Arbitragem na Cidade do Recife-PE, cujas
mediações resolutivas tiveram variação entre mínimo de 56,03% e pico de
72,47%, (média igual a 63,55%), seria possível dizer que a composição
mediada das lides atingiria, ao menos, 21.502.021 de processos.

14
Exclusive casos novos.

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Gráfico 01 - Movimentação Processual do Poder Judiciário. Fonte: BRASIL (2016).

Para Cavalcanti, tal verificação é suficiente para afirmar:


[...] uma vez que os conflitantes se disponham a comparecer às sessões (de
mediação interdisciplinar), o conflito tem, no mínimo, cerca de cinquenta e seis
por cento de chances de ser solucionado.
[...], a mediação interdisciplinar fomenta o restabelecimento da comunicação
não-violenta e evita o afogamento do judiciário, entendimento reforçado pelo
dado de que não foi registrado pela Central de Mediação e Arbitragem nenhum
pedido de execução dos acordos firmados. (CAVALCANTI, 2009, p. 63).
Outrossim, os dados do CNJ disponibilizados em 2016, quando
confrontados nesse cenário, revelam o quão distante da celeridade
processual o poder judiciário está. Com o advento da Resolução CNJ
125/2010, houve avanços importantes no que tange à mediação de
conflitos, principalmente como marco histórico no Direito positivado,

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repercutido, inclusive, no NCPC. Na esteira dessas informações, as tabelas
01 e 02 expõem os índices de conciliação (IC), de modo segmentado e
bastante claro, e demonstram como o percentual do índice é precário
quando comparado com o aproveitamento de Cavalcanti, por exemplo.
O IC do CNJ leva em conta o percentual de acordos homologados
entre os processos julgados. No Judiciário Brasileiro o IC é de 11%,
enquanto que no Judiciário Estadual e no Judiciário do Estado do Espírito
Santo, esse índice orbita os valores percentuais de 9,4% e 10,9%,
respectivamente.
O IC da Justiça do Trabalho de 25,3% destaca-se das outras áreas por
ser maior que o dobro da média nacional. Porém, no polo oposto, está a
Justiça Federal com IC de 3,4%. Importante registrar que as Justiças do
Trabalho e Federal não possuem Conciliadores cadastrados no CNJ. Não
obstante, o TJES possui 69 Conciliadores, 0,83% da sua força de trabalho
total e 1 (um) Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania –
CEJUSC. Com relação ao distanciamento relativo do IC da Justiça do
Trabalho, em relação aos IC’s de outras áreas da justiça, o CNJ atribui tal
fato,
(...) ao rito processual trabalhista, no qual a tentativa de conciliação entre as
partes ocorre em audiência antes de perfectibilizado o litígio judicial, isto é,
antes de aduzida a defesa pela parte reclamada (...), ao nível de especificidade da
matéria versada nas ações trabalhistas e a recorrência de pleitos. Com o alto
nível de especialização de magistrados e servidores no tratamento das demandas
levadas a juízo na Justiça do Trabalho, tem-se o encaminhamento mais adequado
das postulações formuladas no sentido de facilitar a construção do consenso
entre as partes em litígio. (BRASIL, 2016. p.167).
Para melhor compreensão do modelo em vigor, o CNJ agrupou os
Estados conforme o porte do Poder Judiciário em três categorias: Pequeno,
médio e grande. Tal classificação dos tribunais por porte é calcada em
metodologia robusta e permite a comparação entre unidades que se
assemelham por um somatório de fatores e variáveis (BRASIL, 2016).

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Grupo Casos Índice de
Unidade da Número de Nº de
%15 novos + conciliação
Federação conciliadores CEJUSC
pendentes (%)
TJ-São Paulo 427 6,64 154 25.366.780 1,3
TJ-Rio de
1881 29,27 1 13.628.030 14,0
Janeiro
Grande TJ-Minas
335 5,21 55 5.858.735 13,7
Porte Gerais
TJ-Rio Grande
417 6,49 19 4.617.385 7,0
do Sul
TJ-Paraná 825 12,84 19 3.938.734 8,8
Médio TJ-Bahia 291 4,53 107 2.745.529 18,1
Porte
TJ-Santa
639 9,94 18 3.341.649 10,6
Catarina
TJ-Distrito
517 8,04 8 1.033.752 17,8
Federal
TJ-Goiás 97 1,51 32 2.166.916 12,04
TJ-Pernambuco 222 3,45 0 2.394.804 16,4
TJ-Espírito
69 1,07 1 1.784.952 10,9
Santo
TJ-Ceará 45 0,70 90 1.623.529 16,0
TJ-Mato
139 2,16 32 1.453.670 7,6
Grosso
TJ-Pará 59 0,92 6 1.297.057 12,8
TJ-Maranhão 40 0,62 15 1.389.712 16,4
Pequeno TJ-Paraíba 00 00 15 798.143 14,5
Porte
TJ-Mato
127 1,98 9 1.075.669 13,8
Grosso do Sul
TJ-Rio Grande
00 00 2 838.773 18,3
do Norte
TJ-Rondônia 00 00 25 531.172 10,3
TJ-Sergipe 00 00 1 545.836 21,7
TJ-Amazonas 00 0,00 7 216.344 11,3
TJ-Piauí 60 0,93 1 614.690 0,1
TJ-Alagoas 57 0,89 2 702.974 11,1
TJ-Tocantins 38 0,59 5 413.681 14,2
TJ-Acre 36 0,56 21 186.552 13,7
TJ-Amapá 00 0,00 0 225.759 12,0

15
Exclui Magistrados, cedidos/requisitados, licenciados, afastados, terceirizados etc.

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TJ-Roraima 106 1,65 4 155.326 13,7
TOTAL 27 6427 100,00 649 78.946.153 ------------------
Média
----------------- 238,03 3,70 24,03 9,4
Aritmética
Justiça do
---------------- 00 00 00 25,3
Trabalho
Justiça
--------------- 00 00 00 3,4
Federal
Tabela 01: Tabulação de dados relativos à distribuição numérica da conciliação no
território nacional. Fonte: BRASIL – CNJ (2016).

Nº de Nº de Nº de Nº de
% % % IC (%)
Servidores magistrados Conciliadores CEJUSC
Judiciário
434.159 96,16 17.338 3,84 6.427 1,48 649 11,0
Brasileiro
Judiciário
271.759 95,90 11.631 4,10 6.427 2,36 649 9,4
Estadual
Judiciário
7.872 95,6 361 4,4 69 0,88 1 10,9
Capixaba
Justiça do
56.693 94,0 3.600 6,0 00 00 00 25,3
Trabalho
Justiça
46.534 96,3 1.775 3,7 00 00 00 3,4
Federal
Tabela 02: Comparativo da distribuição da força de trabalho dedicada a conciliação
conforme levantamento do CNJ (2015; 2016).

Outra análise que se faz é a relação entre o número de CEJUSC e o


IC (gráfico 01) e esse com o número de conciliadores (gráfico 02) em cada
Estado. Sendo a fórmula dada por:

Onde ‘c’ é o número de conciliadores de cada Estado, ‘uj’ a unidade


que representa cada TJ, ‘cj’ o número de CEJUSC em cada Estado. Com

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base nos dados tabulados da tabela 01, a média nacional de conciliadores
por CEJUSC (MNC) será de 11,77 centros por estado.

Gráfico 01: relação entre a distribuição do número de CEJUSC’S e o índice de


conciliação por Estado da federação.

Gráfico 02: Relação entre a distribuição do número de conciliadores e o índice de


conciliação por Estado da federação.
A MNC auxilia no entendimento da distribuição da mediação no
território, bem como indica quais são as interferências diretas /
proporcionais e indiretas / inversamente proporcionais na mediação.
Portanto, observa-se a não relação matemática correspondente entre o
número de CEJUSC’s e o índice de conciliação, bastando os dados de
Amapá (nenhum Centro) e Rio Grande do Norte (2 Centros), que possuem

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IC de 12% e 18,3, respectivamente. Doutra banda, entre os tribunais de
grande porte a não correlação entre as variáveis se faz ainda mais evidente.
Enquanto que o Rio de Janeiro possui apenas um CEJUSC e registrou IC
de 14%, São Paulo com 154 Centros (24% dos Centros do território) obteve
apenas 1,3% de acordos homologados.
De igual modo, porém em sentido inverso, dentre os Tribunais,
(agrava o fato de estar agrupado junto aos TJ’s de pequeno porte) Sergipe
aferiu 21,7% em seu IC, com somente 1 (um) CEJUSC. No tocante ao
Espírito Santo, o IC de 10,9% aparelha-se com a média nacional. Destoa,
numericamente, por possuir 1 (um) único Centro registrado, quando em
comparação com a média de 30,9 CEJUSC’s por Estado de médio porte ou
da média nacional de 24,03. Esses números informam que entre os dez (10)
Tribunais de médio porte agrupados pelo CNJ, o Espírito Santo tem o 3º
pior índice de conciliação e o 4º menor número de CEJUSC’s. Destaque à
Pernambuco com o segundo melhor IC e nenhum CEJUSC cadastrado.
Pari passu, deve-se tomar como exemplo a performance do Estado
de Pernambuco, uma vez que pode estar associada às práticas de
mediação/conciliação interdisciplinares desenvolvidas desde, pelo menos,
2008, cujas as informações coadunam-se com as matérias ao lume e
indicam que a ideia estanque de pureza, autonomia e autossuficiência,
tende a afastar o discurso jurídico das boas práticas de solução pacífica de
conflitos no âmbito pré-jurisdicional. A Ciência Jurídica não pode isolar-se
dos fenômenos sociais complexos que a abarcam, nem tampouco ilhar-se
das inspirações metalinguísticas que legitimam e viabilizam sua crítica
(BARROSO, 2006).
O embasamento teórico da mediação e das demais formas alternativas de
resolução de conflitos sociais insere uma cota de complexidade no primado do
justo sobre o bom, procurando alimentar de paixões quentes o clima rígido das
relações. (GHISLENI; SPENGLER, 2011, p. 24).
As luzes do Ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal
Federal aduzem que:
[...] a teoria crítica resiste, também, à ideia de completude, de autossuficiência e
de pureza, condenando a cisão do discurso jurídico, que dele afasta os outros
conhecimentos teóricos. O estudo do sistema normativo (dogmática jurídica) não
pode insular-se da realidade (sociologia do direito) e das bases de legitimidade
que devem inspirá-lo e possibilitar a sua própria crítica (filosofia do direito).
(BARROSO, 2006, p. 15).
Concessa maxima venia pelos argumentos empírico-estatísticos em
comento, é importante contemplá-los sob o prisma dialético, na direção,
transcrita in verbis:

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A autocomposição (mediação e conciliação) não pode ser encarada como
panaceia. Posto indiscutivelmente importante, a autocomposição não deve ser
vista como forma de diminuição do número de causas que tramitam no judiciário
ou como técnica de aceleração dos processos. São outros valores subjacentes à
política pública de tratamento adequado dos conflitos jurídicos: o incentivo à
participação do indivíduo na elaboração da norma jurídica que regulará o seu
caso e o respeito a sua liberdade, concretiza no direito ao autorregramento.
(DIDIER JR. 2016, p. 280).
Refere-se, o celebrado jurista, ao efeito que não se espera da
mediação, pois para Didier Júnior (2016) a redução do número de
processos em tramitação no judiciário é consequência natural da
autocomposição dos conflitos. Matematizada em variáveis quantificáveis
poderia levá-la ao esvaziamento de sua essência já que passaria a ser
tratada como instrumento do aparelho administrativo judicial. A
produtividade estaria sobreposta ao princípio do autorregramento da
vontade. A recusa das partes a participar do processo de mediação passaria
a ser vista como descumprimento de um dever.
Tais repreensões guardam em si alertas que merecem a devida
atenção. Os dados transpostos e os argumentos sobre eles debruçados
visam a mapear a distribuição da mediação/conciliação e como essas
podem interferir, direta ou indiretamente, sobre o volume total de processos
em tramitação no sistema. Mais uma vez rogam-se todas as venias aos que
pensam de modo diverso, não se podendo subsumir por completo ao
descarte dos números, esses, desde que analisados ao lume dos princípios
norteadores dos métodos de soluções alternativas de controvérsias
(alternative dispute resolution – A.D.R.), são igualmente capitais à boa
gestão administrativa do poder judiciário e às enésimas questões vinculadas
à mediação e conciliação.
Em 1995, a UNESCO16 promoveu um simpósio sob o título A
ciência e as fronteiras do conhecimento, do qual nasceu a Declaração de
Veneza17 como resultado das discussões sobre a ciência na atualidade. Lá
se encontram assentados os novos paradigmas que se insinuam em direção
a uma tendência de reordenação que, talvez, possibilite um entrelaçamento,
uma interligação ou uma religação do conhecimento insular. Ora, seria
ilógico e irracional pretender que o Direito, enquanto Ciência, estivesse
fora dessas acepções internacionais.

16
United Nations Educational, Scientific and Cultural. Tendo como seu acrônimo: Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO.
17
UNESCO (1986).

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Na esteira das informações em tela, as tendências expostas são
fomento para a real possibilidade de se romper os paradigmas presentes na
mediação de conflitos, elevando-a ao patamar de um Sistema
Interdisciplinar de Mediação de Conflitos, com a abertura e expansão dos
limites entre as disciplinas. Para isso, impera, notadamente, ao operador do
Direito, atuar na transformação do que gera essas fronteiras e esse é o
grande desafio imposto à interdisciplinaridade na mediação de conflitos:
vislumbrar, efetivamente, a demanda global por um novo espírito científico
e por princípios geradores do conhecimento interdisciplinar. Pois, se as
disciplinas se fecham dentro de si, não se inteiram da circularidade que as
envolve. (CELIDÔNIO, 2005).
CONCLUSÃO
A crítica que se faz, a título de exemplo, sustenta-se na discrepância entre o
número de conciliadores 1.881 frente ao único CEJUSC do Estado do Rio
de Janeiro. Mesmo apresentando IC de 14% acima da média nacional, se
comparados esses dados com o Estado de Minas Gerais (mesmo porte), vê-
se que com 335 conciliadores e 55 CEJUSC o IC desse Estado (13,7%) é
praticamente igual ao do RJ. Nos parâmetros dispostos nos gráficos 01 e
02, o Espírito Santo é o 4º menor em número de conciliadores, dentre os
Tribunais de médio porte. Destacam-se os Estados da Paraíba (14,5%), Rio
Grande do Norte (18,3%), Roraima (10,3%), Amazonas (11,3%), Amapá
(12%) e Sergipe 21,3%, que não registram CEJUSC e possuem IC acima
da média nacional.
Pernambuco, demonstrou-se sui generes por, mesmo não contanto
com registro de estrutura dedicada à mediação e conciliação no CNJ, o IC
computado de 16,4% corrobora com a tese apresentada no sentido de que a
mediação interdisciplinar tende à qualificar e à estimular o entendimento
das partes e a resolução pacífica dos conflitos. Apresenta-se como um
elemento híbrido sintrópico capaz de reverter o estado de entropia causado
pelo acúmulo de processos judicializados tidos como meio único de
solução de conflitos.
É oportuno dizer que a interligação dos elementos que compõem esse
sistema complexo e a interdependência do sistema jurídico com os demais
sistemas é o que autojustifica tais singelas pretensões ora em construção e
permanente evolução, e, por consequência, auxiliar na consecução do
melhor resultado esperado: as mediações de paz e de entendimento mútuo
(simbiótico), numa perspectiva mais atenta e valorativa dos conflitos,
dentro da qual suas causas e efeitos não recebam o tratamento banal e
narcísico disseminado como meio de ocultação dos problemas sociais.

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A Mediação de Conflitos Interdisciplinar não é, e nem é o que se
pretende, a solução de todos as celeumas ou desafetação dos problemas
humanos. Ela apenas reveste-se da instrumentalização indispensável para
compreensão e solução de problemas significativos.
Malgrado as lides judicializadas aos milhões (vide números
apresentados pelo CNJ), ao que parece, a responsabilidade de tudo isso
recai principalmente sobre o Direito enquanto Ciência do ordenamento
jurídico em todas as suas fases e instâncias. Mas não sobre todo e qualquer
Direito. A responsabilidade tende a inquinar-se mais sobre aquele Direito
hermético que se imbui de um poder absoluto incompatível com a
complexidade social hodierna.
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