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VOLUME 99 NÚMERO 2 MAIO—AGOSTO 2018

REVISTA BRASILEIRA DE FARMÁCIA

Brazilian Journal of Pharmacy

PUBLICAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FARMACÊUTICOS


WWW.RBFARMA.COM.BR ISSN (online) 2176-0667
Volume 99 NÚMERO 2 MAIO / AGOSTO 2018

SUMÁRIO
TÍTULO PÁGINA

Determinação da concentração sérica lipídica e dos biomarcadores


cardíacos (CK, CK-MB, LDH e AST) em indivíduos dislipidêmicos
José Humberto de Lima Melo, Érica Carla Barbosa Andrade, Vinicius Soares de 2445
Vasconcelos, João Eudes do Nascimento & Ana Catarina Simonetti
Interações Medicamentosas Potenciais em Idosos atendidos em uma
unidade Básica do Rio de Janeiro.
Sabrina Alves de Souza Pereira, Rodrigo dos Santos Almeida & Márcia Maria Barros 2464
dos Passos
Uso medicinal da cannabis no tratamento de doenças crônicas:
possibilidades ou realidade? 2484
Débora Lopes de Oliveira, Lívia Andreata Costa & Pablo Alves Marinho
Desenvolvimento e validação de metodologias para quantificação de
esomeprazol por cromatografia líquida de alta eficiência e
espectrofotometria no ultravioleta 2505
Jessica Vertuan Rufino, Felipe Braga Trombeta, Fernando Cesar Queiroz da Silva,
Mariana Bortholazzi Almeida, Marlene Maria Fregonezi-Nery, Tiago Bervelieri
Madeira & Suzana Lucy Nixdorf
Avaliação in vitro da atividade antifúngica do creme aniônico e solução
incorporados com extrato de folhas secas de Psidium guajava L.
Jessica Chaves Fadul; Cássio Tomé Santos Leite; Luciene Silva Sousa; Anildes Iran 2520
Pereira Sousa; Margareth Santos Costa Penha, Denise Fernandes Coutinho; Patrícia de
Maria Silva Figueirêdo
Fibromialgia: Cenário atual do tratamento medicamentoso e não
medicamentoso
Estela Schiavini Wazenkeski, Áurea Pandolfo Correa , Andrea Moraes de Oliveira, Lidiane
2540
Santos & Alessandra Hubner de Souza
Interações planta-medicamento: plantas medicinais indutoras e
inibidoras da isoforma CYP 3A4 do citocromo P450 2563
Maiara Salvador & Karen Luise Lang
Drying processes employed in extracts of medicinal plants
Rosali Maria Ferreira da Silva, Thays Cristiane Barbosa de Lucena Gomes, Magali
Andreza Marques de Lyra, Caio Cesar Andrade Rodrigues da Silva, Talita Atanazio 2595
Rosa, Matheus Alves Ângelos, Camila Luiz Gomes & Pedro José Rolim Neto.
Prevalência de interações medicamentosas potenciais em hipertensos
atendidos em uma farmácia de Curitiba/PR 2612
Guilherme da Silva Faot, Suelen Boschen de Souza & Adriana de Oliveira Christoff
Avaliação da viabilidade de formulações semissólidas contendo extrato
seco de Lecythis pisonis Camb.
Letícia Paula Benvindo Trajano, Igor Frederico da Silveira Ramos, Rayran Walter 2627
Ramos de Sousa, Teresa Mariana Abreu dos Santos, Rafael Ribeiro Silva & Eilika
Andréia Feitosa Vasconcelos
Purificação de óleo de fritura e reuso na produção de sabonetes
esfoliantes com bagaço de cana-de-açúcar
Marcelle Silva Abreu, Mayara Cristina Bezerra Galindo & Cynthia Gisele de Oliveira 2645
Coimbra

Expediente
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Determinação da concentração sérica lipídica e dos biomarcadores cardíacos


(CK, CK-MB, LDH e AST) em indivíduos dislipidêmicos

Determination of serum concentration of lipids and cardiac biomarkers (CK,


CK-MB, LDH and AST) in dyslipidemic individuals

José Humberto de Lima Melo1, Érica Carla Barbosa Andrade2, Vinicius Soares de Vasconcelos3,
João Eudes do Nascimento4 & Ana Catarina Simonetti3*

1
Rede D’Or São Luiz/Hospital São Marcos – Recife-PE;
2
Laboratório de Análises Clínicas Gilson Cidrim – Recife-PE;
3
Centro Universitário Tabosa de Almeida (Asces-Unita) – Caruaru-PE;
4
Centro Regional de Ciências Nucleares do Agreste (CRCN/PE) – Recife-PE.

*Autor correspondente: Ana Catarina Simonetti – Centro Universitário Tabosa de Almeida (Asces-
Unita). Av. Portugal, 584, Universitário, Caruaru, Pernambuco, CEP: 55016-901. E-mail:
catarinasimonetti@asces.edu.br e ac_simonetti@yahoo.com.br.
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

RESUMO

Este estudo baseou-se na quantificação dos valores de lipídios séricos e dos biomarcadores cardíacos
(CK, CK-MB, LDH e AST) em indivíduos dislipidêmicos, visando uma possível correlação de injúria
cardíaca. Amostras sanguíneas dislipidêmicas (n=60), de ambos os sexos, oriundas do Hospital Santa
Terezinha, Cumaru-PE, foram obtidas e analisadas por metodologia bioquímica padronizada da
Labtest Diagnóstica®. A idade do grupo estudado oscilou de 23 a 80 anos, com média de 50,5 ±14
anos e os dados, avaliados pelo SPSS, versão 13, revelaram que a hipercolesterolemia variou em
média de 268,80 ±101,47 mg/dL; enquanto que a hipertrigliceridemia, em 322,22 ±291,11 mg/dL.
Em relação aos marcadores cardíacos, CK apresentou média de 111,94 ±61,39 U/L; CK-MB, 5,15
±2,95 U/L; LDH, 121,05 ±156,32 U/L e AST, 40,15 ±29,55 U/L. Os resultados revelaram que os
indivíduos selecionados eram potencialmente alvos para desordens coronarianas por possuírem
valores lipídicos alterados. Os casos de elevação dos marcadores cardíacos associados à presença
e/ou ausência de sinais físicos de cardiomiopatia não exclui a existência da enfermidade. Logo, de
acordo com os dados obtidos, pôde-se inferir que as médias de CK e CK-MB foram
correspondentemente mais elevadas no sexo masculino, apesar destes biomarcadores não
apresentarem correlação significativa com a injúria cardíaca.

PALAVRAS-CHAVE: Doenças Cardiovasculares, Biomarcadores, Infarto do Miocárdio.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

ABSTRACT

This study was based on the quantification of serum lipid values and cardiac biomarkers (CK, CK-
MB, LDH and AST) in dyslipidemic individuals, aiming at a possible correlation of cardiac injury.
Dyslipidemic blood samples (n=60), of both sexes, from Santa Terezinha Hospital, Cumaru-PE, were
obtained and analyzed by standard biochemical methodology from Labtest Diagnostica®. The age of
the studied group ranged from 23 to 80 years old, with mean of 50.5 ± 14 years and the data, evaluated
by SPSS, version 13, revealed that hypercholesterolemia varied on average of 268.80 ±101.47 mg/dL;
while hypertriglyceridemia ranged on average of 322.22 ±291.11 mg/dL. Regarding cardiac
biomarkers, CK presented an average of 111.94 ±61.39 U/L; CK-MB, 5.15 ± 2.95 U/L; LDH, 121.05
±156.32 U/L and AST, 40.15 ±29.55 U/L. Results revealed that the selected individuals were
potentially targets for coronary disorders due to possessing altered lipid values. Cases of elevation of
the cardiac biomarkers associated to the presence and/or absence of physical signs of cardiomyopathy
does not exclude the existence of the disease. Therefore, according to the data obtained, it was
possible to infer that the means of CK and CK-MB were correspondingly higher in males, although
these biomarkers did not present a significant correlation with the cardiac injury.

KEYWORDS: Cardiovascular diseases, Biomarkers, Myocardial infarction.

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INTRODUÇÃO

Dislipidemias são alterações metabólicas decorrentes de distúrbios em qualquer fase do


metabolismo lipídico que ocasionem repercussão nas concentrações séricas das lipoproteínas
plasmáticas. Esta condição frequentemente está associada à obesidade, hipertensão arterial sistêmica
(HAS) e Diabetes mellitus (DM), sendo considerada como co-morbidade destas afecções, bem como
preditiva de um futuro evento coronariano (Cercato et al., 2004; Stubbs & Wickremesekera, 2002).
As alterações dos valores séricos dos lipídios, tanto do colesterol total (CT), quanto de suas frações
(HDL-C, LDL-C e VLDL-C) e de triglicérides (TG), são consideradas um fator importante para o
surgimento de doença cardiovascular (DCV) de origem aterosclerótica (Varbo & Nordestgaard,
2016).

As doenças cardiovasculares (DCVs) representaram as principais causas de óbito em adultos


no mundo inteiro, tendo a dislipidemia como um de seus principais fatores de risco (Duro et al., 2008;
National Institutes of Health, 2001). Estudos comprovaram os benefícios da detecção precoce das
elevações dos valores séricos do colesterol e suas frações, pois o tratamento destas disfunções reduz
as taxas de mortalidade por DCV (Capilheira & Santos, 2006; American College of Physicians, 1996).
A relação direta entre DCV e elevação da concentração sérica do CT e do colesterol associado à
lipoproteína de baixa densidade (LDL-C) foi demonstrada em estudos com acompanhamento em
longo prazo (Anderson, Castelli & Levy, 1987; Castelli et al., 1986). Da mesma forma, a relação
inversa entre o colesterol associado à lipoproteína de alta densidade (HDL-C) e DCV também já foi
demonstrada. Além disso, a discussão sobre a participação dos TG na aterogênese permanece ainda
em pauta e a dosagem sérica de rotina é justificada pela frequente vinculação à DCV aterosclerótica
e pela associação com outros distúrbios metabólicos. A normalização dos valores séricos lipídicos,
seja reduzindo o CT, o LDL-C e o TG, ou elevando o HDL-C, reduziu significativamente o
aparecimento de DCV (Manninen et al., 1998).

A população em geral apresenta baixa frequência para a hipertrigliceridemia e, embora não


esteja suficientemente claro seu papel na gênese da placa aterosclerótica, a associação desta alteração
lipídica com àquelas ligadas à doença arterial coronariana é frequente, sobretudo na presença de
obesidade e de baixos valores de HDL-C (Armaganijan & Batlouni, 2000). Estudos prospectivos
apontam a relação positiva entre valores reduzidos de HDL-C associados àqueles elevados de LDL-
C para risco coronariano, independentemente do sexo (Moura et al., 2015; Eizerik, Costa & Manfroi,
2008). Resultados do estudo de Framingham, em cidades americanas e em diversos países,
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demonstraram que os valores elevados do CT e de LDL-C são indicativos de risco para a ocorrência
de eventos clínicos da doença arterial coronariana (Keys, 1986; Simons, 1986; Kannel, Castelli &
Gordon, 1979).

O aumento da prevalência de DCVs tem preocupado os especialistas no Brasil, assim como


em vários países do mundo, uma vez que as doenças do aparelho circulatório foram indicadas como
a primeira causa de morte em relação às demais, gerando enormes gastos em saúde pública (Klein &
Oliveira, 2012). A DCV responde por 30% das mortes em todas as faixas etárias (Duan et al., 2014).
Estima-se, para as faixas etárias acima de 65 anos, que as taxas mundiais de incidência de Angina
pectoris seja de 28,3 a 36,3/1000 habitantes para homens brancos e de 22,4 a 39,5/1000 habitantes
para homens negros. Para mulheres brancas, mediante a faixa etária supracitada, estes valores são de
14,1 a 22,9/1000 habitantes; enquanto que para mulheres negras, 15,3 a 35,9/1000 habitantes
(Mozaffarian et al., 2016). Estatisticamente, o infarto agudo do miocárdio (IAM) é a DCV mais
prevalente mundialmente e continua sendo um dos diagnósticos mais frequentes nos pacientes
hospitalizados em países ocidentais (Silva et al., 2015).

Em nível mundial, as DCVs como Angina pectoris, IAM, doença cerebrovascular, ataque
isquêmico transitório e doença arterial periférica são responsáveis por 17 milhões de mortes/ano;
cujas projeções tendem a duplicar para as próximas décadas, nos países em desenvolvimento, e
persistirem como causa principal de mortalidade e incapacitação (Camargo & Stein, 2015).

A avaliação laboratorial da DCV baseia-se na quantificação de macromoléculas intracelulares


que são liberadas das membranas das células miocárdicas lesadas, tais como: mioglobina, troponinas
T e I, creatina quinase (CK) e sua fração MB (CK-MB), lactato desidrogenase (LDH) e aspartato
aminotransferase (AST). Portanto, sob uma perspectiva bioquímica, o diagnóstico de lesão
miocárdica pode ser estabelecido quando a concentração sanguínea de biomarcadores específicos e
sensíveis estão elevados comparando-se com os valores referenciais (Centemero et al., 2004; Soltoski
et al., 2000).

Neste contexto, os biomarcadores cardíacos (CK-MB, CK, LDH, AST, dentre outros) são
fundamentais para a abordagem diagnóstica das síndromes coronarianas agudas, além da anamnese
clínica e do eletrocardiograma. A avaliação clínica é frequentemente limitada por sintomas atípicos
e, não raras vezes, o eletrocardiograma inicial não permite o diagnóstico. Dessa forma, o doseamento
desses biomarcadores assume importância peculiar no fornecimento de informação prognóstica
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(estratificação de risco elevado), na orientação terapêutica (Rique, Soares & Meirelles, 2002) e,
principalmente, em aspectos clínicos indeterminados de IAM (Henriques et al., 2006). Esta pesquisa
objetivou quantificar os valores de lipídios séricos e dos marcadores bioquímicos (CK, CK-MB, LDH
e AST), visando uma possível correlação de injúria cardíaca.

METODOLOGIA

Amostras sanguíneas (n=60), de ambos os sexos, oriundas da rotina padronizada de


atendimento do Hospital Santa Terezinha, Cumaru, Estado de Pernambuco, no período de agosto de
2007 a agosto de 2008, foram obtidas e analisadas por metodologia bioquímica convencional. O
estudo foi do tipo transversal e pacientes que apresentavam quadro laboratorial de dislipidemia, de
acordo com a V Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose, com idades
superior a 23 e inferior a 80 anos, foram considerados. Aqueles com antecedentes de doença
nefrológica e/ou gestantes foram excluídos da pesquisa. Apenas as amostras sanguíneas dos
indivíduos foram avaliadas, ou seja, os sinais e sintomas patognomônicos das DCVs não foram
averiguados.

Para as análises bioquímicas, 5 mL de sangue dos voluntários foram colhidos, por punção
venosa, após jejum de 12 a 14 horas. Todos autorizaram a aquisição de espécime biológico pelo
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As amostras sanguíneas foram processadas e
o soro imediatamente analisado em equipamento semi-automático (Biosystems® 310). Os valores
séricos de CT, HDL-C e TG foram determinados por método colorimétrico enzimático (Labtest®),
sendo os de LDL-C determinados pela fórmula proposta por Friedwald.

O perfil lipídico foi definido pelas determinações do CT, HDL-C, TG e LDL-C de acordo
com as normas da V Diretriz Brasileiras sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose, em que
se têm valores desejáveis para CT <160 mg/dL, LDL-C <110 mg/dL, HDL-C >60 mg/dL e TG <130
mg/dL, de acordo com a faixa etária preconizada, ou seja, adultos com mais de 20 anos (Xavier et al.,
2013).

Os biomarcadores cardíacos (CK-MB, CK, LDH e AST) também foram determinados pelo
método colorimétrico enzimático (Labtest®), sendo posteriormente quantificados e interpretados
conforme os seguintes valores de referência: CK, 25-155 U/L (mulheres) e 26-189 U/L (homens);
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CK-MB, 0-24 U/L (mulheres e homens); LDH, 80-240 U/L (mulheres e homens) e AST, 4-36 U/L
(mulheres e homens).

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro Universitário
Tabosa de Almeida/Asces-Unita, por meio do SISNEP com CAAE-1075,0,000,217-07.

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Análise estatística

Para a análise dos dados, foram obtidas as medidas de média, mediana, desvio padrão,
coeficiente de variação, valor mínimo e valor máximo, assim como as distribuições absolutas e
percentuais; e utilizados os testes F(ANOVA), t-student e Qui-quadrado de Pearson, a partir do
programa estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), na versão 13. A margem de
erro adotada para a decisão dos testes estatísticos foi de 5,0% (p < 0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização dos pesquisados

A idade dos 60 indivíduos analisados variou de 23 a 79 anos, com média de 50,50 ± 14 anos;
mediana de 50 anos e coeficiente de variação de 27,80%. Do total, 31,7% (n=19) eram do sexo
masculino e 68,3% (n=41) do sexo feminino (Figura 1).

Figura 1: Distribuição dos indivíduos analisados segundo o sexo.

De todos os pesquisados, 20% (n=12) tinham idades até 39 anos, enquanto que 50% (n=30)
de 40 a 59 anos e 30% (n=18) com idade igual ou superior a 60 anos (Figura 2).

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Figura 2: Distribuição dos indivíduos analisados segundo a faixa etária.

Avaliação dos marcadores cardíacos (CK, CK-MB, LDH e AST), colesterol total (CT) e
triglicérides (TG).

A Tabela 1 apresenta as estatísticas dos marcadores cardíacos (CK, CK-MB, LDH e AST), CT
e TG, segundo a faixa etária dos indivíduos. Não comprovou-se diferença significativa entre as faixas
etárias para nenhuma das variáveis analisadas, entretanto destaca-se que: a média de CK aumentou
com a faixa etária; a média de CK-MB foi mais elevada na faixa etária de 60 anos ou mais; a LDH foi
mais elevada na faixa de 40 a 59 anos e menos elevada na faixa de 60 anos ou mais; a média de AST
foi menos elevada entre os indivíduos na faixa de 40 a 59 anos e variou de 42,42 a 44,39 mg/dL nas
outras duas faixas etárias; as médias de CT e TG foram correspondentemente mais elevadas na faixa
etária de 40 a 59 anos. A variabilidade expressa através do coeficiente de variação oscilou de baixa
7,15% (faixa até 39 anos para o CT) até muito elevada (superior a 10,0%).

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Tabela 1: Estatística dos marcadores cardíacos (CK, CK-MB, LDH e AST), CT e TG, por faixa
etária.
Faixa etária
Variável Estatística Até 39 40 a 59 60 ou mais Grupo Total Valor de p
(n = 12) (n = 30) (n = 18) (n = 60)

Média 81,06 116,10 126,39 111,94


Mediana 74,20 94,20 106,60 98,30
Desvio padrão 35,05 65,87 63,13 61,39
CK p(1) = 0,127
Coeficiente de variação 43,24 56,74 49,95 54,84
Mínimo 49 49 49 49
Máximo 146 257 231 257

Média 4,70 4,57 6,41 5,15


Mediana 5,40 4,00 6,70 5,40
Desvio padrão 2,10 3,18 2,79 2,95
CK-MB
Coeficiente de variação 44,68 69,58 43,53 57,28
p(1) = 0,095
Mínimo 0 0 1,3 0
Máximo 6,7 10,8 13,5 13,5

Média 109,08 153,08 75,63 121,05


Mediana 88,00 79,50 68,00 80,00
Desvio padrão 48,04 214,02 32,84 156,32
LDH p(1) = 0,244
Coeficiente de variação 44,04 139,81 43,42 129,14
Mínimo 48 16 20 16
Máximo 200 869 168 869

Média 42,42 36,70 44,39 40,15


Mediana 22,50 28,50 43,00 29,00
Desvio padrão 41,72 26,27 26,14 29,55
AST p(1) = 0,661
Coeficiente de variação 98,35 71,58 58,75 73,60
Mínimo 6 8 13 6
Máximo 139 112 102 139

Média 236,42 282,93 266,83 268,80


Mediana 238,50 259,50 258,50 250,00
Desvio padrão 16,91 132,93 65,61 101,47
CT
Coeficiente de variação 7,15 46,98 24,59 37,75
p(1) = 0,411
Mínimo 211 210 211 210
Máximo 270 970 500 970

Média 233,25 371,93 298,67 322,22


Mediana 220,00 253,00 238,50 248,00
Desvio padrão 47,37 379,65 190,39 291,11
TG p(1) = 0,354
Coeficiente de variação 20,31 102,08 63,75 90,35
Mínimo 150 162 154 150
Máximo 300 2019 990 2019
(1) Através do teste F(ANOVA)

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A Tabela 2 apresenta as estatísticas dos marcadores cardíacos (CK, CK-MB, LDH e AST), CT e TG,
segundo o sexo dos indivíduos. Não constatou-se diferença significativa entre os sexos para nenhuma das
variáveis analisadas, entretanto destaca-se que as médias foram correspondentemente mais elevadas no sexo
masculino do que no sexo feminino para: CK e CK-MB, e o contrário ocorreu com as demais variáveis.

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Tabela 2: Estatística dos marcadores cardíacos (CK, CK-MB, LDH e AST), CT e TG, por sexo.

Sexo
Variável Estatística Masculino Feminino Valor de p
(n = 19) (n = 41)

Média 124,05 106,62


Mediana 102,45 98,30
Desvio padrão 74,76 54,73
CK p(1) = 0,382
Coeficiente de variação 60,26 51,33
Mínimo 49 49
Máximo 246 257

Média 5,94 4,78


Mediana 6,70 5,40
Desvio padrão 2,96 2,91
CK-MB p(2) = 0,158
Coeficiente de variação 49,83 60,88
Mínimo 0 0
Máximo 13,5 10,8

Média 85,57 137,49


Mediana 89,00 79,00
Desvio padrão 35,27 186,03
LDH p(1) = 0,092
Coeficiente de variação 41,22 135,30
Mínimo 16 20
Máximo 187 869

Média 31,95 43,95


Mediana 21,00 39,00
Desvio padrão 24,47 31,17
AST p(2) = 0,145
Coeficiente de variação 76,59 70,92
Mínimo 8 6
Máximo 102 139

Média 247,21 278,80


Mediana 240,00 251,00
Desvio padrão 30,79 120,15
CT p(2) = 0,265
Coeficiente de variação 12,45 43,10
Mínimo 211 210
Máximo 335 970

Média 259,26 351,39


Mediana 232,00 250,00
Desvio padrão 83,47 345,12
TG p(2) = 0,258
Coeficiente de variação 32,20 98,22
Mínimo 154 150
Máximo 505 2019

(1) Através do teste t-Student com variâncias desiguais


(2) Através do teste t-Student com variâncias iguais.

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A Tabela 3 apresenta a correlação entre cada uma das variáveis: CT, TG e os marcadores cardíacos
(CK, CK-MB, LDH e AST). As correlações foram positivas e não elevadas entre CK, CT e TG e entre
LDH com TG, entretanto as únicas correlações estatisticamente diferentes de zero foram registradas
entre CK com CT e com TG.

Tabela 3: Correlação de Pearson dos valores dos biomarcadores cardíacos (CK, CK-MB, LDH e
AST) com os de CT e TG.
Biomarcadores Cardíacos Colesterol Total (CT) Triglicérides (TG)
r(p) r(p)
CK 0,396 (0,002*) 0,263 (0,044*)
CK-MB -0,237 (0,069) -0,100 (0,448)
LDH -0,061 (0,644) 0,010 (0,940)
AST -0,091 (0,492) -0,090 (0,492)

(*): Associação estatisticamente diferente de zero.

Os sinais clínicos de uma DCV, diante de distintas alterações musculares, são semelhantes e
bastante inespecíficos e ao serem analisados, sob forma isolada, detêm valor diagnóstico limitado,
requerendo o uso rotineiro de exames laboratoriais complementares (Beech, 2000a,b). O exame
complementar mais utilizado em medicina laboratorial diagnóstica é a bioquímica sérica para
determinação das enzimas de função muscular (Souza et al., 2016; Montazerifar et al., 2016). As
principais enzimas avaliadas são CK e sua fração MB (CK-MB), LDH e AST e suas atividades séricas
aumentam quando ocorre lesão muscular cardíaca. A cinética da elevação sérica e da eliminação de
cada uma dessas enzimas é diferente e devem ser consideradas na interpretação dos resultados (Silva,
Dias & Soto-Blanco, 2007; Thomassian et al., 2007).

Em nossa pesquisa, a maioria dos casos de dislipidemias foi observada em pacientes do sexo
feminino em decorrência da maior concentração de mulheres utilizando os serviços de atenção
primária à saúde no Hospital Santa Terezinha, Cumaru, Estado de Pernambuco. Este fato é favorável
ao sexo feminino uma vez que existem evidências de que o maior contato com os serviços médicos
resulta em maior proteção à saúde. Em um estudo realizado em São Paulo, no período de 1986 a 1995,
evidenciou-se aumento significativo de doença cardiovascular em pacientes do sexo feminino e
também a relação direta entre a idade avançada dessas pacientes e o aparecimento do evento súbito
coronariano (Caramelli et al., 2003).
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Melo, J. H. L. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2445 – 2463, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

As mulheres, além da tendência natural ao ganho de peso, também estão susceptíveis às


alterações no metabolismo lipídico, devido à privação estrogênica que eleva a concentração sérica de
CT, lipoproteínas e TG, acarretando em um perfil altamente favorável à aterogênese, principalmente,
quando associada ao DM e à HAS, capazes de culminar em eventos de injúria ao miocárdio, tais como
um ataque fulminante e morte súbita (Gorodeski, 2002).

Em relação aos marcadores cardíacos, a diferença significativa não foi verificada para
nenhuma das variáveis analisadas entre as faixas etárias, entretanto, destaca-se que os valores de CK
na faixa etária 60 anos e os de LDH foram mais elevados tanto em voluntários de 40 a 59 anos,
quanto naqueles com mais de 60 anos. Os valores de AST foram menores em indivíduos entre 40 a
59 anos, variando de 42,42 a 44,39 U/L, nos demais sujeitos da pesquisa. As respostas de CT e TG
se apresentaram correspondentemente mais elevadas na faixa etária de 40 a 59 anos. A variabilidade
expressa através do coeficiente de variação oscilou de baixa, 7,15% (faixa até 39 anos para o CT) até
superior a 10%, constatando-se não haver diferença significativa entre os sexos, em relação aos
marcadores bioquímicos CT e TG. Entretanto, destaca-se que as médias de CK e CK-MB foram
correspondentemente mais elevadas no sexo masculino.

Os valores médios observados para os lipídios em diferentes estudos são bastante variáveis.
Em uma pesquisa realizada no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, com 1.213
indivíduos portadores de obesidade severa, encontram-se médias de CT e TG de 205,2 ±50,5 mg/dL
e 158,8 ±96,9 mg/dL, respectivamente (Cercato et al., 2004). Estes valores são inferiores aos
encontrados na nossa pesquisa, os quais demonstram maior risco da nossa população estudada em
desenvolver evento coronariano e acometimento de placa aterosclerótica. Segundo Van der Meulen,
Kuipers & Drukker (1991), a elevação da atividade sérica de enzimas musculares cardíacas demonstra
possíveis lesões musculares. Todavia, a elevação da atividade sérica das enzimas musculares pós-
injúria miocárdica foi associada com dor e com diminuição da função muscular, assim podendo
influenciar o desempenho do órgão afetado.

Os valores de CK e sua fração CK-MB podem indicar, quando alterados, uma função celular
temporariamente comprometida, ou seja, considerável grau de lesão miocárdica. O pico de
concentração sérica da CK encontra-se entre 4 a 6 horas, após a lesão, e os valores podem voltar ao
normal entre 24 a 96 horas. Fisiologicamente, a membrana celular é muito sensível à isquemia e, após
períodos prolongados de anóxia, macromoléculas (Ex.: enzimas) podem atravessar a membrana
celular (Sobrosa et al., 2005). Diante dos resultados obtidos, os valores de CK e CK-MB
2458
Melo, J. H. L. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2445 – 2463, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

apresentaram-se de acordo com os valores de referência, assim excluindo a probabilidade de algum


evento atípico em relação à DCV. Entretanto, em relação ao sexo, os valores de CK e CK-MB foram
mais elevados em pacientes masculinos, reconhecidamente dislipidêmicos, o que pode sugerir certo
risco relativo para eventos cardíacos.

A LDH é encontrada principalmente no miocárdio, rim, fígado e músculo esquelético. Os


valores normais em seres humanos variam amplamente, dependendo da técnica utilizada, não
havendo fórmula confiável para conversão dos dados de um método para outro (Camargo et al.,
2014). Em nosso estudo, os valores encontrados estavam dentro do intervalo de referência, contudo,
em relação ao sexo, os valores de LDH foram maiores nos indivíduos de sexo feminino, o que sugere,
do ponto de vista bioquímico, que durante a isquemia muscular cardíaca, várias alterações
metabólicas ocorrem, as quais podem ser passageiras ou prolongadas. São observadas também
alterações hidroeletrolíticas e enzimáticas, decorrentes da liberação do conteúdo de células
danificadas na circulação sistêmica. Estas alterações enzimáticas têm importância clínica e
experimental, visto que a sua análise pode ser um parâmetro para se estimar a viabilidade muscular,
assim sendo um importante parâmetro nas avaliações prognósticas (Brunelli & Brunelli, 1995).

A AST é encontrada em elevada concentração no miocárdio, fígado, músculo esquelético, rim


e cérebro. Em virtude de sua ampla distribuição, essa enzima tem sido rotineiramente utilizada como
parâmetro laboratorial em seres humanos e pode também ser útil nas investigações dos eventos
coronarianos (Ely et al., 2000). Seus valores normais não diferem significativamente com a idade ou
sexo e elevam-se em qualquer forma de oclusão arterial aguda, estando aumentados em proporção ao
grau de isquemia (Pedrini et al., 1994). Em casos de dano muscular severo, a persistência de altos
valores de AST indica dano tecidual irreversível (Shen et al., 2015; Yuan, Jing & Lavee, 2011).
Valores elevados de AST, correlacionados a valores elevados de lipídios (CT e TG), são indicativos
de função hepática prejudicada pela dislipidemia, de hepatoesteatose coexistente à dislipidemia e/ou
de acúmulo de lipídios devido à inibição da digestão e absorção lipídica (Thapa & Walia, 2007; Yu
& Keeffe, 2002). De todos os marcadores para injúria ao miocárdio dosados, o nível de AST
apresentou-se elevado em relação ao intervalo de referência, principalmente no sexo feminino.

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Melo, J. H. L. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2445 – 2463, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

CONCLUSÕES

Os processos dislipidêmicos são importantes determinadores de futuros eventos coronarianos


e uma considerável anamnese clínica, bem como um doseamento de marcadores cardíacos (CK, CK-
MB, LDH e AST), podem favorecer uma melhor avaliação prognóstica e contribuir nas investigações
de risco (estudos de estratificação). Os resultados permitiram constatar que os indivíduos
selecionados eram potencialmente alvos para desordens coronarianas por possuírem valores lipídicos
alterados e não condizentes com os padrões referenciais. Os casos de elevação dos marcadores
cardíacos associados à presença e/ou ausência de sinais físicos de cardiomiopatia não exclui a
existência da enfermidade. Logo, de acordo com os dados obtidos, pôde-se inferir que as médias de
CK e CK-MB foram correspondentemente mais elevadas no sexo masculino, apesar destes
biomarcadores não apresentarem correlação significativa com a injúria cardíaca.

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2463
Melo, J. H. L. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2445 – 2463, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Interações Medicamentosas Potenciais em Idosos atendidos em uma unidade


Básica do Rio de Janeiro.

Sabrina Alves de Souza Pereira1, Rodrigo dos Santos Almeida2 & Márcia Maria Barros dos
Passos3*.

1- Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro CCS; bloco. K, 2º andar, sala. 50;
Ilha do Fundão; Rio de Janeiro. Tel: (021) 3933-6619. E-mail: sa.alsope@gmail.
2- Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ)-Campus io de Janeiro. Rua Senador Furtado, 121,
Maracanã. CEP: 20.270-021, Telefone: (21) 2566-7730. E-mail: rodrigo.almeida@ifrj.edu.br
3- Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro CCS; bloco. K, 2º andar, sala. 50;
Ilha do Fundão; Rio de Janeiro. Tel: (021) 3938-6619. E-mail: mmbpassos@gmail.com
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

RESUMO

A população idosa no Brasil tem aumentado a demanda para tratamento de doenças crônicas e
outras enfermidades prevalentes nesta faixa etária, gerando um grande impacto financeiro na saúde
pública. Este trabalho analisou prescrições médicas de pacientes acima de 60 anos de uma unidade
de atenção primária, buscando a ocorrência de polifarmácia, e interações medicamentosas
potenciais (IMP). A polifarmácia foi analisada pela quantidade de medicamentos por prescrição, e
pela plataforma Micromedex®, foram verificadas interações medicamentosas. Observou-se uma
população predominantemente feminina, nível de escolaridade baixo. As interações
medicamentosas potenciais ocorreram em 57,6% das prescrições, e Polifarmácia em 35,6%. Foi
verificado que pacientes que consumiram cinco ou mais medicamentos simultaneamente
apresentaram risco 10 vezes maior de estarem submetidos à IMP, quando comparados com aqueles
que utilizaram até quatro medicamentos. A maioria das IMP foi classificada como graves e
moderadas. Na análise de interação medicamentosa segundo polifarmácia, gênero e grupo etário,
foi verificada uma chance 12,42 vezes maior para os homens idosos maiores de 80 anos. Desta
maneira, são necessárias mudanças nos hábitos de prescrição, visando sempre o menor número
possível de medicamentos, formas farmacêuticas e doses adequadas, sobretudo nos pacientes mais
idosos, na perspectiva da promoção do uso racional de medicamentos.

Palavras-chave: Interações medicamentosas, Farmacoepidemiologia, Idoso, Atenção Primária à


saúde.

2465
Pereira, S. A. S., Almeida, R. S., Passos, M. M. B. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2464 – 2483, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

ABSTRACT.

The elderly population in Brazil has increased the demand for treatment of chronic diseases and
other diseases prevalent in this age group, generating a great financial impact on public health. This
study analyzed the medical prescriptions of patients over 60 years of age in a primary care unit,
seeking the occurrence of polypharmacy, and potential drug interactions (PDI). Polypharmacy was
analyzed by the amount of prescription drugs, and by the Micromedex® platform, drug interactions
were verified. A predominantly female population was observed, with a low level of schooling.
Potential drug interactions occurred in 57.6% of prescriptions, and Polypharmacy in 35.6%. It was
found that patients who consumed five or more drugs simultaneously had a 10-fold greater risk of
being submitted to IMP when compared to those who used up to four medications. The majority of
PDI was classified as severe and moderate. In the analysis of MI according to polypharmacy,
gender and age group, there was a 12.42 times greater chance for elderly men older than 80 years. It
is necessary to always seek the practice of a more rational prescription by the health team, always
aiming to prescribe as few drugs as possible and with their adjusted doses, especially in the elderly
patients.

Keywords: Drug Interactions, Pharmacoepidemiology, Elderly, Primary Health Care.

2466
Pereira, S. A. S., Almeida, R. S., Passos, M. M. B. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2464 – 2483, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
INTRODUÇÃO

Os medicamentos são tecnologias em saúde essenciais a terapêutica atual, entretanto


dependendo da racionalidade de sua utilização podem causar iatrogenias, acarretando danos
clínicos, econômicos e sociais aos indivíduos e aos sistemas de saúde. O uso de multiplos
medicamentos tem sido uma conduta corriqueira e crescente na prática clínica, o que tem elevado a
ocorrência de interações medicamentosas, por vezes benéficas, mas na sua maioria prejudiciais a
farmacoterapêutica. As interações medicamentosas ocorrem quando o efeito de um fármaco é
modificado pela presença de outro ou de um alimento, resultando em aumento da toxicidade e/ou
redução da eficácia terapêutica (Gujjarlamudi, 2016). As Interações farmacodinâmicas constituem
as interações ao nível dos mecanismos de ação dos agentes concorrentes. As interações
farmacocinéticas ocorrem quando um dos agentes é capaz de modificar a absorção, a distribuição, a
biotransformação ou a excreção de outro agente administrado concomitante. O aumento da
absorção e distribuição de um fármaco poderá resultar em acentuação do seu efeito, enquanto o
aumento da biotransformação e da excreção a redução da sua permanência no organismo tendendo a
redução dos seus efeitos. Neste contexto um grupo de grande interesse para se estudar IM
(interação medicamentosa) são os idosos, visto que as alterações anatômicas e fisiológicas que
ocorrem pelo envelhecimento interferem na farmacocinética e farmacodinâmica dos fármacos
(Bogetti-Salazar et al., 2016). Além do que o envelhecimento da população produz um elevado
impacto sobre os cuidados de saúde, uma vez que a prevalência das doenças, especialmente doenças
crônicas aumentam com a idade requerendo tratamento farmacológico (Bor et al., 2012).
Outrossim, as restrições e dificuldades que os idosos apresentam para a efetividade da
farmacoterapia, como a diminuição do metabolismo hepático a deficiência cognitiva ou sintomas
neuropsiquiátricos podem provocar uma grande variedade de medicamentos prescritos, cujo a
maioria destes fármacos são metabolizados extensamente no fígado pelos isoenzimas do citocromo
p450 (Kroger et al., 2015), o que pode elever a o risco para interações medicamentosas.
Além disso, os pacientes idosos por apresentarem comorbidade são freqüentemente excluídos dos
ensaios clínicos, dificultando a construção da evidência científica necessária para sua
medicalização, afetando principalmente as diretrizes de prática clínica baseadas em provas
provenientes de ensaios randomizados e metanálises. Dessa forma, as diretrizes são geralmente
centradas na doença, onde sua aplicação em pacientes mais idosos fica mais vulnerável a ocorrência
de eventos adversos, como reações adversas e interações medicamentosas, principalmente em
condição de polifarmácia (Corsonello et al., 2015).
Reação adversa a medicamento (RAM) é definida como “qualquer resposta prejudicial ou
indesejável e não intencional que ocorre com medicamentos em doses normalmente utilizadas no
2467
Pereira, S. A. S., Almeida, R. S., Passos, M. M. B. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2464 – 2483, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
homem para profilaxia, diagnóstico, tratamento de doença ou para modificação de funções
fisiológicas” (WHO, 2002).
As IM ocorrem nos idosos, tanto na internação hospitalar (Passos et al., 2012; Corsonello et
al., 2014; Kartik; Kaliansundaram e Bahurupi, 2016; Marino et al., 2016) quanto em ambulatório
(Teixeira et al., 2012; Rodrigues et al, 2013; Pinto et al., 2014). Estudos realizados na atenção
básica relatam valores de prevalência para Interações medicamentosas no Idoso que variaram de
26,5% a 100%. Os estudos brasileiros realizados em atenção primária em diferentes regiões do país
estimaram uma prevalência de 26,5% a 90.1%. (Simões & Marques, 2008; Bueno et al., 2009;
Secoli et al., 2010; Teixeira et al. 2012).
Mais recentemente, estudo realizado em Ribeirão Preto, município de São Paulo, verificou
que 100% dos idosos incluídos no estudo estavam submetidos pelo menos à uma interação
medicamentosa, sendo 17,2% destas classificadas como graves (Pinto et al., 2014). Em Manaus,
interações medicamentosas potenciais foram observadas em 42,5% dos pacientes atendidos nos
Centros de Atenção a Melhor Idade (Rodrigues, 2013). No Rio de Janeiro, Mibielli et al. (2014)
observam que 31% dos idosos que utilizam fármacos anti-hipertensivos pertencentes à Relação
Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) estavam sujeitos a estas interações.
Fulton & Allen (2005) em estudo de revisão relataram que inúmeros são os fatores preditores das
IM, dentre estes se incluem, gravidade das doenças a serem tratadas, idade do paciente; disfunção
Renal e hepática, automedicação, e a quantidade de medicamentos em uso concomitante. As
interações medicamentosas potenciais aumentam proporcionalmente com o número de
medicamentos; o risco de IM para dois medicamentos foi de 13%, para cinco medicamentos 58% e
para sete ou mais medicamentos 82%.
A Polifarmácia é comum entre pacientes idosos, devido apresentarem morbidades associadas que
requerem o uso de vários fármacos (Bor et al., 2012). A polifarmácia aumenta a probabilidade de
interações e reações adversas a medicamentos, reduz à aderência do paciente e afeta a qualidade de
vida, elevando o encargo financeiro significativo sobre o paciente e a sociedade (Morgan et al.,
2016).
Pesquisas realizadas em diversas cidades brasileiras encontraram distintas prevalências de
polifarmácia entre os idosos: em Porto Alegre de 27% (Flores & Mengue, 2005): São Paulo 36%
(Carvalho et al., 2012). Rio de Janeiro de 32,7% (Rozenfeld, Fonseca & Acúrcio, 2008), e em Belo
Horizonte de 27,7% (Araújo, Magalhães & Chaimowicz, 2010).
No Brasil, apesar da importância econômica dos problemas causados pelo uso de medicamentos,
existem poucos estudos que avaliam a sua repercussão na atenção ambulatorial. Além disso, estudos
realizados em unidades básicas de saúde ainda são escassos, o que mostra a importância da
realização de uma investigação neste nível de atenção à saúde. O presente trabalho objetiva
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investigar a ocorrência de Polifarmácia e Interações medicamentosas potenciais em prescrições
médicas destinadas a idosos atendidos em uma Unidade de Atenção Básica à Saúde no Rio de
Janeiro, identificar os mais comumente envolvidos e verificar se a idade, o sexo e o número de
medicamentos estão relacionados a tal ocorrência.

MÉTODO:

Desenho: descritivo exploratório, realizado durante os meses de setembro e outubro de 2015.


População: pacientes idosos atendidos na farmácia de uma unidade de atenção primária à saúde.
Local: Centro Municipal de Saúde Rodolpho Rocco pertencente à Área Programática 3.2 do
município do Rio de Janeiro. O Centro Municipal de Saúde Rodolpho Rocco foi inaugurado em
2012 e localiza-se no bairro de Del Castilho, zona norte da cidade do Rio de Janeiro. É composto
por seis equipes de saúde da família, duas equipes de saúde bucal e o Núcleo de Apoio à Saúde da
Família (NASF). A unidade está programada para o atendimento de até 24 mil pessoas, residentes
dos bairros de Del Castilho e parte de Inhaúma (RIO DE JANEIRO, 2013).
Instrumento de Coleta: prescrições médicas atendidas na referida unidade contendo mais de um
medicamento na mesma prescrição.

Critérios de Inclusão: O critério de inclusão foi idade igual ou superior a 60 anos, dado que pôde
ser facilmente acessado pela data de nascimento contida na prescrição. Outro critério de inclusão foi
a presença de medicamentos prescritos para uso contínuo, ou seja, aqueles cujo tempo de tratamento
indicado tratava-se de um mês ou mais.

Critérios de Exclusão:
Prescrições que continham um único medicamento foram excluídas, por não apresentarem risco de
interação medicamentosa.

Variáveis do paciente: a partir do nome do paciente, foram obtidos seus dados socioeconômicos
(gênero, situação familiar e escolaridade), em prontuários eletrônicos (Vitacare RJ-2.3.9.1.1). Os
medicamentos contidos na prescrição e aqueles que constavam no sistema Vitacare registrados
como “medicação crônica” foram então registrados em planilha no programa Microsoft Excel 2010,
considerando as seguintes variáveis: Fármaco com sua Denominação Comum Brasileira (DCB),
forma farmacêutica, concentração e posologia. Os fármacos presentes em associações foram

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considerados individualmente. Os medicamentos para uso tópico, fitoterápicos, vitaminas,
suplementos e componentes da dieta foram excluídos desta análise.

Variáveis para avaliar a qualidade da prescrição:


Considerou-se Polifarmácia o uso concomitante de cinco medicamentos ou mais (Hanlon et al.,
2004; Flores & Mengue, 2005; Carvalho et al., 2012). Nesta contagem, foram desconsiderados os
medicamentos tópicos e fitoterápicos, assim como vitaminas e minerais (Medeiros-Souza et al.,
2007).
Considerou-se Interação Medicamentosa, “quando dois medicamentos administrados juntos possam
alterar o efeito de um ou ambos” (Carvalho et al., 2012; Mibielli et al., 2014).
As interações medicamentosas potenciais, considerou-se aquelas que expressam a possibilidade de
ocorrência de uma interação, cuja manifestação clínica pode ocorrer ou não. (Carvalho et al., 2012;
Mibielli et al., 2014; Bogetti-Salazar et al., 2016).
As interações medicamentosas foram identificadas por meio da comparação de pares de
medicamentos para todos os medicamentos prescritos na mesma prescrição. As interações entre
fármacos foram identificadas usando o Drug-Rex System database from Micromedex® (on line).
Esta plataforma classifica as interações de acordo com sua gravidade, podendo esta ser menor,
moderada, maior e grave. Menor (quando a interação pode ter efeitos clínicos limitados, sem
demandar alterações na terapia medicamentosa); Moderada (quando a interação pode resultar em
exacerbação da condição clínica do paciente ou demandar alteração da terapia); Maior (quando os
medicamentos são contra indicados para uso concomitante); Grave (quando a interação pode trazer
riscos à vida do paciente e requer intervenção médica imediata).
Nos casos de combinações fixas de dois ou mais fármacos, os mesmos foram tratados
individualmente (Moura, Acúrcio & Belo, 2009). Segundo os critérios publicados pela American
Geriatrics Society (AGS, 2015), foram identificadas as interações medicamentosas potenciais
consideradas nocivas para idosos. Os medicamentos foram classificados de acordo com o
Anatomical-Therapeutical-Chemical Classification System (ATC) (WHO, 2015).
Registro e Análise dos Dados:
As informações foram registradas em banco de dados em uma planilha eletrônica (Microsoft Excel
2010). Os dados obtidos foram analisados estatisticamente a partir dos programas Microsoft Excel
2010 e IBM SPSS Statistics (Versão 23).
A análise compreendeu estatística descritiva (frequências relativa e absoluta para as variáveis
categóricas, e média, mediana e desvio padrão para variáveis contínuas. Foram realizadas análises
estratificadas para cálculo de Razão de Chances (OR, do inglês Odds Ratio), considerando como
fatores de exposição o gênero masculino, faixa etária (pacientes com 80 anos ou mais de idade),
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escolaridade (pacientes que não frequentaram escola) e situação familiar (pacientes residindo
sozinhos), e como desfecho, as ocorrências Interação Medicamentosa e Polifarmácia. Também foi
realizada análise estratificada para o desfecho Interação Medicamentosa, considerando como
possíveis fatores associados Polifarmácia, Faixa etária e Gênero. Foi adotado o intervalo de
confiança de 95%.
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética do Instituto Estadual de
Cardiologia Aloysio de Castro, vinculado à Secretaria Municipal de Saúde do Município do Rio de
Janeiro, sob parecer nº 1.256.565, de 02 de outubro de 2015.

RESULTADOS

O estudo incluiu 820 prescrições médicas. Destes 66,0% das prescrições eram de pacientes do sexo
feminino e 34,0% do sexo masculino. A amplitude de idade variou entre 60 e 98 anos, com mediana
nos 69 anos e média de 70,85 anos (DP = 7,99), sendo 71,18 anos para as mulheres e 70,20 anos
para os homens. A faixa etária predominante foi entre 60 e 69 anos, correspondendo a 51,0% do
total de idosos.
Com relação à escolaridade, 11,9% dos idosos não haviam frequentado escola, sendo 5,0%
analfabetos e 6,9% alfabetizados; 61,4% interromperam seus estudos no ensino fundamental (22,6%
completo e 38,8% incompleto); 22,7% estudaram até o ensino médio (17,2% completo e 5,5%
incompleto) e apenas 3,9% alcançaram o ensino superior (2,8% completo e 1,1% incompleto)
(Tabela 3). O grau de analfabetismo apresentou-se maior entre as mulheres (p < 0,05; OR: 2,20;
1,00 – 4,83). Quanto à situação familiar, 89,6% dos idosos residiam acompanhados, com o(a)
cônjuge e/ou familiares ou outras pessoas (Tabela 1). Apenas 10,4% moravam só. Foi observada
uma grande discrepância entre o arranjo familiar dos homens e das mulheres; enquanto 73,5% dos
homens residiam com companheira(o), apenas 38,0% das mulheres moravam com cônjuges (p <
0,05; OR: 4,53; 3,02 – 6,81).

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Tabela 1. Distribuição de frequência da idade por faixa etária, escolaridade e arranjo familiar
estratificada por gênero.
Feminino Masculino Total
FAIXA ETÁRIA
N % N % N %
60 - 69 anos 270 49,9% 148 53,0% 418 51,0%
70 - 79 anos 171 31,6% 96 34,4% 267 32,6%
80 - 89 anos 90 16,6% 32 11,5% 122 14,9%
90 - 99 anos 10 1,8% 3 1,1% 13 1,6%
Total 541 66,0% 279 34,0% 820 100,0%
ESCOLARIDADE
Analfabeto 33 6,1% 8 2,9% 41 5,0%
Alfabetizado 43 8,0% 13 4,7% 56 6,9%
Fundamental Incompleto 224 41,7% 92 33,2% 316 38,8%
Fundamental Completo 114 21,2% 70 25,3% 184 22,6%
Médio Incompleto 24 4,5% 21 7,6% 45 5,5%
Médio Completo 83 15,5% 57 20,6% 140 17,2%
Superior Incompleto 5 0,9% 4 1,4% 9 1,1%
Superior Completo 11 2,0% 12 4,3% 23 2,8%
Total 537 100,0% 277 100,0% 814 100,0%
Não informado 4 - 2 - 6 -
ARRANJO FAMILIAR
Companheiro(a) 45 13,7% 42 24,7% 87 17,4%
Companheiro(a) e filhos 53 16,1% 61 35,9% 114 22,8%
Companheiro(a) e familiares 27 8,2% 22 12,9% 49 9,8%
Familiares 159 48,3% 31 18,2% 190 38,1%
Outras pessoas 6 1,8% 1 0,6% 7 1,4%
Só 39 11,9% 13 7,6% 52 10,4%
Total 329 100,0% 170 100,0% 499 100,0%
Não informado 212 - 109 - 321 -

Foram prescritos um total de 3.312 medicamentos, com média de 4,04 medicamentos por paciente
(DP = 2,10), sendo 3,98 para as mulheres e 4,16 para os homens. A quantidade de medicamentos
variou entre 1 e 12 por pessoa, com mediana em quatro medicamentos. As interações
medicamentosas potenciais ocorreram em 57,6% das prescrições, e Polifarmácia em 35,6%
Dos 820 pacientes, 292 (35,6%) estavam sujeitos à polifarmácia. Destes, 281 (96,2%) faziam uso
de cinco a nove medicamentos e 11 (3,8%) utilizavam dez ou mais. Foi verificado que pacientes
que consomem cinco ou mais medicamentos simultaneamente apresentam risco 9,73 vezes maior de
estarem submetidos às interações medicamentosas potenciais, quando comparados com aqueles que
utilizaram até quatro medicamentos. Na análise de Interação Medicamentosa (IM) segundo
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Polifarmácia estratificada por gênero e grupo etário, foi verificada uma modificação de efeito.
Indicando que entre polimedicados, indivíduos do gênero masculino tiveram uma chance ainda
maior para ocorrência de IM (OR: 13,95 – IC 95%: 5,36 – 36,26), e entre o polimedicados a
chance dos idosos maiores de 80 anos para ocorrência de IM foi aumentada para OR: 12,42 (IC
95% : 4,71 – 32,72).(Tabela 2).
Tabela 2. Análise de Interações Medicamentosas segundo Polifarmácia, estratificada grupo etário,
e sexo com seus respectivos OR (IC-95%) e p-valor.
Interações Não Interações
Fatores N: 472 N:275 OR (IC-95%) p-valor
Polifarmácia
Sim 261 31
Não 211 244 9,73 (6,42 – 14,75) <0,05

Sexo Masculino
Polifarmácia
Sim 99 05
Não 88 62 13,95 (5,36 – 36,26) <0,05

Sexo Feminino
Polifarmácia
Sim 162 26
Não 123 182 9,22 (5,74 – 14,79) <0,05

Grupo etário >80


Polifarmácia
Sim 46 06
Não 29 47 12,42 (4,71 – 32,72) <0,05

Grupo etário <80


Polifarmácia
Sim 215 25
Não 182 197 9,3 ( 5,87 – 14,75) <0,05

Dos 109 fármacos distintos encontrados nas prescrições, 40 deles (36,7%) não faziam parte dos
medicamentos padronizados na unidade de saúde, enquanto 32 (29%) não pertencem à Lista de
Medicamentos Essenciais da Organização Mundial de Saúde, 36 (33,0%) não pertencem à Relação
Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), 27 (25%) não pertencem à Relação Estadual de
Medicamentos Essenciais do Rio de Janeiro (RESME), e 33 (30,2%) não pertencem à Relação
Municipal de Medicamentos Essenciais do Rio de Janeiro (REMUME). Os medicamentos não
padronizados na unidade foram prescritos 134 vezes, o que correspondeu a 4,0% de todos os
medicamentos encontrados nas prescrições. Associações entre dois ou mais fármacos, manipulados
ou não, foram prescritas 30 vezes.

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A classe de medicamentos mais prescrita foi a dos que atuam no Sistema Cardiovascular,
correspondendo a 58,8% de todos os fármacos prescritos, seguido dos que atuam no Trato
Alimentar e Metabolismo (20,3%), no Sangue e Órgãos Formadores de Sangue (8,5%) e no Sistema
Nervoso (7,5%). As subclasses encontram-se detalhadas na tabela 3.
Tabela 3. Classes e subclasses de medicamentos prescritas segundo a ATC.
PRINCIPAIS CLASSES E SUBGRUPOS DE
Código ATC N %
MEDICAMENTOS

Sistema Cardiovascular C 1947 58,8%


Cardioterápicos C01 42 1,3%
Anti-hipertensivos C02 60 1,8%
Diuréticos C03 444 13,4%
Vasodilatadores C04 5 0,2%
Vasoprotetores C05 11 0,3%
β-bloqueadores C07 265 8,0%
Bloqueadores dos canais de cálcio C08 214 6,5%
Atuantes no Sistema Renina-Angiotensina C09 606 18,3%
Hipolipemiantes C10 300 9,1%
Trato Alimentar e Metabolismo A 673 20,3%
Antiácidos A02 200 6,0%
Desordens gastrintestinais funcionais A03 9 0,3%
Constipação A06 5 0,2%
Antidiabéticos A10 394 11,9%
Suplementos minerais A12 65 2,0%
Sangue e Órgãos Formadores de Sangue B 282 8,5%
Antitrombóticos B01 246 7,4%
Antianêmicos B03 36 1,1%
Sistema Nervoso N 250 7,5%
Analgésicos N02 44 1,3%
Anti-epiléticos N03 90 2,7%
Anti-parkinsonianos N04 8 0,2%
Psicolépticos N05 43 1,3%
Psicoanalépticos N06 54 1,6%
Outros N07 11 0,3%
Outras Classes - 160 4,8%
TOTAL - 3312 100,0%

Foram encontradas 1.258 possíveis interações, atingindo 472 idosos do estudo, o que
corresponde a 63,2% de todos aqueles que apresentavam dois ou mais medicamentos em sua
terapia. Verificou-se ainda que em 92 (7,3%) destas IM se deveram aos medicamentos não
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padronizados na unidade de saúde. A média de interações por paciente foi de 1,68 (DP = 2,12),
sendo 1,46 para as mulheres e 2,13 para os homens. Destas, 219 (17,4%) são classificadas como
maiores, 989 (78,6%) como moderadas e 50 (4,0%) como menores. Ressalta-se que das 219 IM
maiores, 30 (14%) estavam relacionadas a medicamentos não padronizados na unidade de saúde,
assim como de 989 moderadas, 47 (4,8%) se deveram a medicamentos não padronizados na unidade
de saúde.
Dentre as interações classificadas como maiores, 75 (34,2%) correspondiam a associação
entre o bloqueador de canal de cálcio anlodipina e o hipolipemiante sinvastatina. Já entre as
interações potenciais consideradas moderadas, 125 (12,6%) resultavam da associação entre o IECA
Enalapril e o diurético hidroclorotiazida. O ácido acetilsalicílico foi o principal fármaco envolvido
em interações medicamentosas, sendo encontrado em 36,6% destas. Em segundo lugar, encontra-se
a hidroclorotiazida, encontrada em 22,3% de todas as interações potenciais (Tabela 4).
Tabela 4. Distribuição de frequência das principais interações medicamentosas potenciais de
Gravidade Maior.

Interações Medicamentosas
Efeito N %
Potenciais Maiores
Aumento da exposição à sinvastatina e aumento
Anlodipina + Sinvastatina 75 34,2%
do risco de miopatias, incluindo rabdomiólise.
Reações de hiperssensibilidade (Síndrome de
Alopurinol + Enalapril Stevens-Johnson, erupções cutâneas, espasmo 21 9,6%
coronário anafilático).
Aumento do risco de efeitos adversos como
Enalapril + Losartana hipotensão, síncope, hipercalemia, mudanças na 13 5,9%
função renal e falência renal aguda.
AAS + Fluoxetina Aumento do risco de sangramento. 6 2,7%
Captopril + Losartana Idem ao Enalapril + Losartana 6 2,7%
AAS + Clopidogrel Aumento do risco de sangramento. 5 2,3%
Digoxina + Espironolactona Aumento da exposição à digoxina. 5 2,3%
Aumento nos níveis séricos de sinvastatina e
Diltiazem + Sinvastatina aumento no risco de miopatias, incluindo 4 1,8%
rabdomiólise.
Aumento da exposição à sinvastatina e aumento
Amiodarona + Sinvastatina 3 1,4%
do risco de miopatias, incluindo rabdomiólise.
Outras interações - 81 37,0%
TOTAL - 219 100,0%

DISCUSSÃO

Trata-se de um grupo de pacientes de idade mais avançada predominantemente feminina. Este


resultado é consistente com inúmeros outros trabalhos encontrados na literatura (Goulart et al.,
2014; Mibielli et al., 2014; Smanioto &Haddad, 2013; Silva et al., 2012; Araújo, Magalhães &

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Chaimowicz, 2010; Bueno et al., 2009). No Brasil a população feminina é maior que a masculina,
então era de se esperar maior número de mulheres no serviço de saúde. Dados da última Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílio, divulgada pelo IBGE em 2013, indicam que viviam no Brasil
103,5 milhões de mulheres, o equivalente a 51,4% da população, ou seja, as mulheres são maioria
da população e passaram a viver mais. A expectativa de vida também aumentou, enquanto em 1980
a mulher vivia, em média, até 65 anos, em 2010 a estimativa subiu para 77 anos de idade.
O arranjo familiar encontrado, onde a proporção de homens casados é significativamente
maior que de mulheres, pode ser explicado pelo perfil cultural da nossa sociedade, onde é mais
comum encontrar casais em que a mulher é mais jovem, e o índice de casamento do homem após
viuvez é bem mais alto que o da mulher (Garcia, 2012; Lebrão, 2007). O fato de um número
considerável (39,5%) dos idosos não informar seu arranjo familiar em seus prontuários faz com que
o resultado encontrado possa não retratar fielmente a real situação em que residem.
O número médio de medicamentos utilizado pela população de estudo se mostrou semelhante ao
encontrado por Araújo, Magalhães e Chaimowicz (2010) em um Programa de Saúde da Família
situado em Belo Horizonte (4,0 por idoso), superior aos encontrados por Goulart et al. (2014) em
Rondonópolis/MT (2,36 por idoso) e por Cruz et al. (2014) em Diamantina/MG (2,6 por idoso) e
inferior ao encontrado por Ribas & Oliveira (2014) em Ijuí/RS (4,67 por idoso). Estes valores
mostram a heterogeneidade do padrão de consumo de medicamentos pela população idosa
brasileira, o que ressalta a importância da realização de estudos epidemiológicos para verificar as
especificidades de cada localidade do país, e assim possa aprimorar os cuidados oferecidos para a
população com que se trabalha, de acordo com suas peculiaridades. Porém, um dos vieses do
presente estudo foi o fato de não terem sido analisados e contabilizados os medicamentos utilizados
pelos pacientes que foram prescritos por profissionais de outras unidades de saúde, como
especialistas de níveis mais elevados de atenção à saúde ou médicos da rede privada, como também
aqueles utilizados por conta própria, adquiridos em farmácias, drogarias ou através de doações de
familiares ou conhecidos. Portanto, a média encontrada pode estar subestimada se comparada ao
número total de medicamentos adquiridos e administrados pelos idosos.
Apesar de a prescrição de medicamentos não padronizados na unidade de saúde ter se
apresentado pouco frequente, torna-se de importante ressaltar que o acesso a esses produtos
implicará em gastos adicionais para que o idoso possa adquirir estes medicamentos comercialmente.
Este fato pode interferir diretamente na adesão terapêutica do paciente, já que nem sempre o mesmo
terá condições financeiras de arcar com estes custos. É compreensível a necessidade da equipe
médica em prescrever especialidades farmacêuticas que não constam em listas padronizadas pelo
serviço público de saúde, visto que se trata de um universo limitado, que conta apenas com aqueles
fármacos considerados essenciais para manter a saúde da população. Porém, no momento da
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prescrição, é aconselhável que se tenha conhecimento da acessibilidade do paciente a estes
fármacos, para garantir minimamente que o mesmo tenha uma cobertura farmacoterapêutica
eficiente. Segundo Karnikowski et al. (2004), manter os pacientes sob tratamento apropriado
garante melhores resultados e evita hospitalizações desnecessárias e os gastos envolvidos com as
mesmas.
No presente estudo, prescrições com cinco ou mais medicamentos prescritos apresentaram
chances maiores de estarem expostos às interações medicamentosas potenciais, do que aquelas que
apresentavam quantidades menores de fármacos. De forma semelhante, outros estudos também
demonstraram uma associação positiva entre a prática de polifarmácia e a ocorrência de interações
medicamentosas potenciais (Pinto et al., 2014; Mibielli et al., 2014; Rodrigues, 2013).
A frequência de polifarmácia apresentou-se semelhante à encontrada por Carvalho et al.
(2012) no Estudo SABE (36,0%) e por Rozenfeld, Fonseca e Acurcio (2008) dentre aposentados
residentes no Rio de Janeiro (32,7%), inferior à observada por Ribas e Oliveira (2014) em Ijuí/RS
(47,2%) e por Paula Júnior et al. (2013) em uma unidade de atenção primária no interior de Minas
Gerais (40,0%), e superior a diversos estudos realizados na atenção básica à saúde (Marin et al.,
2008, Araújo, Magalhães & Chaimowicz, 2010; Galato, Silva & Tiburcio, 2011; Cruz et al., 2013;
Goulart et al., 2014). A polifarmácia está associada a um aumento no risco e gravidade de RAMs,
além de antecipar interações medicamentosas, causar toxicidade cumulativa, reduzir a adesão
terapêutica do paciente, elevar o risco de morbimortalidade (Gujjarlamudi et al., 2016; Secoli,
2010).
As interações medicamentosas potenciais ocorreram na maioria das prescrições, atingindo
63,2% dos idosos. Este valor é semelhante ao encontrado por Cuentro et al. (2014) em um hospital
universitário de Belém do Pará (67,3%) e superior aos encontrados por Gotardelo et al. (2014) entre
idosos atendidos pela Estratégia de Saúde da Família do munícipio de Timóteo/MG (55,6%) e por
Ribas e Oliveira (2014) em Ijuí/MS (56,34%).
Verificou-se que os homens estavam mais expostos à ocorrência de interações
medicamentosas potenciais, provavelmente porque também estavam expostos a um maior número
de medicamentos que as mulheres. Uma possível explicação para este resultado seria a diferença
entre os diagnósticos de homens e mulheres atendidos pela unidade de saúde estudada, bem como
os distintos padrões de comorbidade. Entretanto, não se pode afirmar, visto que, não foi possível
obter tais informações, sendo esta uma limitação do presente estudo.
Os pacientes com idade mais avançada (acima de 80 anos) mostraram-se mais expostos à IM
do que os idosos mais jovens, resultado semelhante ao encontrado por Cassoni et al. (2014) em
pacientes com 75 anos ou mais.

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Outra possível explicação para este fato é o começo de uma mudança na maneira como o
homem lida com sua saúde, sua idade e seu corpo. Segundo Arruda, Lima e Renovato (2013),
muitas vezes o homem idoso faz uma associação direta entre o envelhecimento e o surgimento de
doenças e necessidade de utilizar medicamentos, muitas vezes ancorando este uso na dualidade
juventude e velhice. A melhor aceitação da necessidade do cuidado com sua própria saúde pode
estar levando os homens idosos a procurarem assistência médica mais cedo e com mais frequência
do que em outrora. Uma terceira hipótese é que, como os homens comumente demoram mais a
procurar por serviços de saúde, quando este acesso acontece o idoso pode estar apresentando
morbidades em estágios mais avançados que as mulheres, possivelmente com as complicações
relacionadas as mesmas, o que obriga a equipe de saúde a prescrever um número maior de
medicamentos, e consequentemente, expor o homem idoso a uma maior chance de apresentar
problemas relacionados a medicamentos.
A maioria do universo de fármacos utilizados pelos idosos apresenta potencial interativo
(Secoli, 2010). Como já citado, as interações medicamentosas estão entre os eventos adversos que
mais comprometem a qualidade da assistência à saúde (Mibielli et al., 2014). Pacientes que
apresentam interações potenciais em suas prescrições apresentam uma taxa maior de hospitalização
do que aqueles que não estão submetidos às mesmas (Mibielli et al., 2014). Além disso, 15% de
todas as RAMs observadas em idosos de um estudo realizado em hospital público brasileiro
estavam relacionadas à ocorrência de interações medicamentosas potenciais (Passareli; Jacob Filho;
Figueiras, 2005). Os efeitos das interações medicamentosas podem causar uma piora do estado
clínico do paciente, o que pode levar à necessidade de tratamento adicional, hospitalização,
despesas ao sistema de saúde ou prolongamento do tempo de internação, caso o paciente já se
encontre hospitalizado (Cuentro et al., 2014).
A maioria das interações medicamentosas classificadas como moderadas encontram como
resultado a redução do efeito farmacológico, no caso dos anti-hipertensivos, ou uma exacerbação do
mesmo, no caso das interações envolvendo antidiabéticos. É importante ressaltar a importância da
ciência destes efeitos por parte da equipe de saúde, bem como do acompanhamento da eficácia da
farmacoterapia administrada pelo paciente, visto que em ambos os casos a segurança e a qualidade
de vida do paciente pode estar comprometida.
As interações envolvendo o fármaco sinvastatina, comuns entre a terceira idade, apresentam
um sério risco para a saúde do paciente. Alguns fármacos, como a anlodipina, a amiodarona e o
diltiazem, são capazes de aumentar significativamente a exposição à sinvastatina e aos seus
metabólitos, elevando assim o risco de o paciente desenvolver miopatias, dentre elas a
rabdomiólise, que consiste em uma necrose muscular que resulta em mialgia e/ou liberação de
enzimas musculares na circulação (Prendergast, 1993). Por ser uma doença considerada de alta
2478
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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
severidade, deve-se evitar essas associações, optando por estatinas mais seguras e que apresentem
menos chances de efeitos colaterais, ou, em casos em que não existam alternativas, deve-se manter
a sinvastatina com uma dose máxima de 20 mg ao dia.
O alto envolvimento do medicamento AAS com interações medicamentosas potenciais se
repete em outros estudos, dentre eles uma revisão bibliográfica realizada por Silva & Santos (2011).
O principal mecanismo de interação do AAS com fármacos anti-hipertensivos é a redução na
produção de prostaglandinas, que possui ação vasodilatadora. Porém, há controvérsias em relação a
este resultado. Como a maioria das plataformas, inclusive a utilizada no presente estudo, não leva
em consideração a dose utilizada pelos pacientes, muitas vezes estes eventos podem ser
superestimados, pois a maioria das interações envolvendo este fármaco se refere à sua dose como
anti-inflamatório ou analgésico (maior que 325 mg/dia), diferente daquela utilizada pelos idosos
para se obter seu efeito de anti-agregação plaquetária, normalmente de 100 mg ao dia (Pinto et al.,
2014).
O mesmo que acontece com o AAS pode ocorrer em outras interações medicamentosas que
sejam dose-dependentes. Além disso, o estudo realizado permitiu apenas verificar as interações
potenciais entre os medicamentos, sem investigar se as mesmas obtiveram um impacto clínico
relevante no paciente. Esta investigação somente é possível se for realizado um acompanhamento
mais estreito do indivíduo, como por exemplo utilizando rastreadores de reações adversas e
realizando estudos de coorte. Por outro lado, pelo fato de terem sido ignorados os medicamentos
utilizados através da prática de automedicação, algumas interações potenciais possíveis também
foram negligenciadas, sobretudo aquelas que envolvem a utilização de AINEs, medicamentos
comumente utilizados entre os idosos que apresentam algum tipo de dor crônica. Portanto, o
número total de idosos submetidos a interações medicamentosas pode estar super ou subestimado.
Neste contexto, é imprescindível que toda a equipe de saúde, incluindo médicos,
enfermeiros e farmacêuticos, tenha conhecimento sobre os tipos de interações possíveis entre os
medicamentos disponibilizados nas unidades de atenção primária à saúde, bem como em outros
níveis de assistência, além dos processos de monitorização existentes para que se possa garantir a
eficácia e a segurança da terapia medicamentosa, evitando assim consequências graves para a saúde
do paciente (Pinto et al., 2014). É essencial que a conduta no momento da prescrição seja baseada
em evidências de efeitos colaterais e/ou adversos possíveis, afim de tornar as ações terapêuticas
mais claras (Santos; Faria Junior; Restini, 2012).

2479
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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
CONCLUSÃO

O presente estudo detectou que grande parte dos idosos da amostra estava submetida a IM, a
polifarmácia se apresentou como principal fator associado, assim como o gênero masculino e idosos
com mais de 80 anos. É importante que a escolha dos medicamentos a serem prescritos pela equipe
médica seja feita de forma sensata, de forma a minimizar os possíveis problemas inerentes ao uso
de medicamentos. Também é necessário que sejam realizadas investigações
farmacoepidemiológicas a fim de detectar quais são os principais agravos por medicamentos que os
idosos estão expostos, para promover o uso e prescrição racional de medicamentos, garantindo
assim a segurança e melhor qualidade da assistência ofertada.
Em indivíduos com múltiplas comorbidades, muitas vezes se torna inevitável a utilização de
um número elevado de medicamentos. O medicamento é capaz de trazer melhorias na qualidade de
vida do idoso, mas por outro lado, também pode causar eventos adversos importantes. É necessário
que se busque sempre a prática de uma prescrição mais racional por parte da equipe de saúde,
visando sempre prescrever o menor número possível de medicamentos e com suas doses ajustadas,
sobretudo no paciente idoso. Também é importante lançar mão de alternativas não farmacológicas,
como mudanças nos hábitos alimentares e prática de atividade física, afim de retardar o início de
terapias medicamentosas e proporcionar uma melhor qualidade de vida à população idosa.

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Pereira, S. A. S., Almeida, R. S., Passos, M. M. B. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2464 – 2483, 2018
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW

Uso medicinal da cannabis no tratamento de doenças crônicas: possibilidades ou


realidade?

Débora Lopes de Oliveira1, Lívia Andreata Costa1 & Pablo Alves Marinho1*
1-Centro Universitário Una, Belo Horizonte (MG), Brasil

*Centro universitário Una. Curso de Farmácia. Rua dos Guajajaras, nº175, Centro, Belo
Horizonte-MG, CEP 30180-100. E-mail: pabloalvesmarinho@yahoo.com.br
ARTIDO DE REVISÃO / REVIEW

RESUMO

A grande divulgação sobre os efeitos medicinais da cannabis resulta em uma percepção de que o
seu uso é seguro e que suas propriedades benéficas superam os seus riscos. Entretanto, o elevado
interesse no tratamento com Cannabis sativa não deve obscurecer as análises sobre os potenciais
efeitos adversos em curto e longo prazo. Estudos indicam que o canabinoide mais abundante nesta
planta, o Δ9-tetraidrocanabinol (THC), pode desencadear problemas psicóticos, comprometimento
do desempenho psicomotor e cognitivo e uma grande variedade de efeitos físicos, porém, outro
canabinoide também encontrado, o canabidiol (CBD), é um composto não psicomimético e
apresenta grande potencial terapêutico. O presente estudo é uma ampla revisão de estudos clínicos
mais recentes conduzidos em indivíduos sadios ou diagnosticados com epilepsia, esclerose múltipla
ou esquizofrenia, a fim de verificar a efetividade terapêutica do uso de canabinoides para essas
patologias e apresentar os riscos do uso farmacológico. Embora tenha sido sugerido diversos
mecanismos de ação para ambos canabinoides, o esclarecimento destes mecanismos de ação, o
estabelecimento da eficácia terapêutica, o perfil de efeitos colaterais, continuam a ser objeto de
vários ensaios clínicos previamente iniciados, porém sem nenhuma conclusão categórica até o
momento.

PALAVRAS-CHAVE: Cannabis sativa, Canabinoides, Epilepsia, Esclerose Múltipla,


Esquizofrenia.

2485
Oliveira, D. L.; Costa, L. A.; Marinho, P. A. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2484 – 2504, 2018
ARTIDO DE REVISÃO / REVIEW

ABSTRACT

The widespread divulgation about the medicinal use of cannabis results in a perception that its use
is safe and its beneficial properties are higher than its risks. Furthermore, the high interest in
Cannabis sativa treatment should not obfuscate the analyses of potential short and long-term
adverse effects. Studies are indicating that the most abundant cannabinoid in this plant, Δ9-
tetrahydrocannabinol (THC), can trigger psychotic problems, impaired psychomotor and cognitive
performance and a wide variety of physical effects, but another cannabinoid also found, cannabidiol
(CBD), is a non-psychomimetic compound and presents great therapeutic potential. The present
study is a wide review of the most recent clinical studies conducted in individuals that are either
healthy or diagnosed with epilepsy, multiple sclerosis or schizophrenia in order to verify the
therapeutic effectiveness of the use of cannabinoids for these pathologies and to present some risk
of pharmacological use. Although several action mechanisms have been suggested for both
cannabinoids, the clarification of these action mechanisms, the establishment of therapeutic
efficacy, the profile of collateral effects, remain the object of several clinical trials previously
initiated, but without any categorical conclusions until nowadays.

KEYWORDS: Cannabis sativa, Cannabinoids, Epilepsy, Multiple Sclerosis, Schizophrenia.

2486
Oliveira, D. L.; Costa, L. A.; Marinho, P. A. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2484 – 2504, 2018
ARTIDO DE REVISÃO / REVIEW

1 INTRODUÇÃO

A cannabis sp. é um arbusto da família Cannabaceae e possui três espécies diferentes:


Cannabis indica, Cannabis ruderalis e Cannabis sativa, estas podem se diferenciam pelos seus
aspectos morfológicos, hábitos de crescimento e pela quantidade de princípios ativos
(GONÇALVES; SCHLICHTING, 2014). Porém, não há um consenso sobre a sua classificação em
espécies ou subespécies. Devido a grande variação morfológica e química da cannabis, muitas vezes de
difícil distinção, é aceitável denominar de Cannabis sativa todas as plantas do gênero cannabis (United
Nations, 2009). As concentrações destes compostos na Cannabis podem ser influenciadas por fatores
genéticos e ambientais, bem como também, o tempo do cultivo e tratamento da amostra. (Honório;
Arroio & Silva, 2006).

A Cannabis, conhecida popularmente no Brasil como “maconha”, é uma planta que vem
sendo utilizada há séculos em práticas medicinais, rituais religiosos e na alimentação. Apesar de ser
uma droga ilícita na maior parte do mundo, têm chamado atenção pelas suas propriedades
terapêuticas como antidepressivo, estimuladora de apetite, antiemético, anestésico e
anticonvulsivante. Entretanto, alguns efeitos colaterais podem ocorrer após o uso (sedação,
alterações na cognição e memória, euforia, depressão, entre outros), tornando o uso medicinal ainda
controverso devido aos poucos estudos sobre sua segurança (Gonçalves & Schlichting, 2014;
Honório, Arroio & Silva, 2006).

O uso terapêutico da Cannabis e seus derivados ocorrem há muitos anos, mas os estudos
relacionados às suas propriedades são relativamente recentes (Ribeiro, 2014). Seu potencial
terapêutico está relacionado ao grande número de compostos encontrados na planta, sendo os
canabinoides a principal classe encontrada. Já foram relatadas cerca de 100 moléculas de
fitocanabinoides, os quais se encontram armazenados em glândulas das extremidades de pelos
secretores encontrados nas flores e folhas da planta. Os principais canabinoides estudados na
literatura devido ao seu potencial terapêutico são o THC e o CBD (Honório, Arroio & Silva, 2006).

Nos anos de 1960, em Israel, o THC foi isolado pelo grupo de pesquisadores do professor
Raphael Mechoulam, o que fez com que esse canabinoide recebesse maior atenção por parte da
comunidade científica nas décadas seguintes (Gaoni & Mechoulam, 1964). O THC possui uma
influência complexa no cérebro e é dose dependente. Esta substância possui grande afinidade pelos
receptores canabinoides CB1 e CB2, apresentando potencial terapêutico no tratamento da dor,
náuseas e vômitos causados por quimioterapia, perda de apetite em pacientes com AIDS, doenças
cardiovasculares, distúrbios do movimento e glaucoma (Crippa et al., 2010).

2487
Oliveira, D. L.; Costa, L. A.; Marinho, P. A. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2484 – 2504, 2018
ARTIDO DE REVISÃO / REVIEW

O CBD tem alto potencial para a utilização clínica e por apresentar boa tolerabilidade em
testes humanos. Este composto não apresenta efeitos psicoativos, e estudos em animais
experimentais revelam a capacidade de antagonizar os efeitos psicoativos do THC, apresentando
grande potencial terapêutico no tratamento da depressão, ansiedade e de psicoses. O CBD possui
baixa afinidade pelos receptores canabinoides CB1 e CB2, e seu mecanismo de ação ainda não foi
completamente elucidado (Pedrazzi et al., 2014).

O sistema endocanabinoide (SEC) foi descrito subsequente à descoberta do Δ9-


tetraidrocanabinol (THC), principal composto psicoativo da Cannabis, e apresenta receptores
canabinoides (CB1 e CB2), canabinoides endógenos e enzimas que estão envolvidos na síntese e na
degradação dos canabinoides endógenos (Peres et al., 2016).

Foram identificados dois subtipos de receptores canabinoides: CB1 e CB2, ambos acoplados
à proteína G, acredita-se que estes receptores são responsáveis por desencadear a resposta biológica
no organismo. Percebe-se que há uma ampla distribuição dos receptores canabinoides no corpo, o
CB1 é o receptor mais abundante, encontrado principalmente na região cerebral. Os receptores CB1
e CB2 apresentam especificamente efeito do tipo inibitório, sendo que sua ativação está diretamente
relacionada a atividade elétrica neuronal e a liberação de neurotransmissores no caso dos CB1, e na
modulação do sistema imune, da neuroinflamação e da nocicepção no caso dos CB2 (Lannotti, Di
Marzo & Petrosino, 2016; Wessler, 2014).

As descobertas desses receptores canabinoides levaram a busca por seus agonistas


endógenos. Os endocanabinoides são mensageiros neurais sintetizados sob demanda e liberados de
neurônios pós-sinápticos para restringir a liberação de neurotransmissores clássicos de terminais
pré-sinápticos (Saito, Wotjak & Moreira, 2010).

Os principais endocanabinoides são derivados do ácido araquidônico. O primeiro


endocanabinoides descoberto foi o etanolamina araquidonoil, nomeado como anandamida (AEA),
que significa felicidade em sânscrito. Em seguida foi identificado o glicerol 2-araquidonoil (2-AG),
seguido pela dopamina N-araquidonoil (NADA), o éter glicerol 2-araquidonoil (noladina) e a
etanolamina O-araquidonoil, também denominada virodamina. Além dos receptores CB1 e CB2, os
endocanabinoides podem se acoplar a outros receptores como, o receptor potencial transitório de
vaniloide tipo-1 (TRPV1), expresso nos terminais pós-sinápticos (Saito, Wotjak & Moreira, 2010).

Os principais endocanabinoides presentes no sistema nervoso central são o 2-AG e o AEA


que medeiam à transferência de informações dos terminais pós para os pré-sinápticos de uma forma
retrógrada e não são armazenados em vesículas como ocorre nos neurotransmissores clássicos. Sua
2488
Oliveira, D. L.; Costa, L. A.; Marinho, P. A. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2484 – 2504, 2018
ARTIDO DE REVISÃO / REVIEW

síntese ocorre nos neurônios pós-sinápticos após o influxo de cálcio e ativação das enzimas. Através
de processos de sinalização intracelular, a ativação dos CB1 resulta na diminuição do influxo de
cálcio nos terminais axônicos e diminuem a liberação de neurotransmissores. As áreas que possuem
mais receptores CB1 são: córtex frontal, os núcleos da base, cerebelo e na região límbica cerebral, o
que ajudaria a explicar seu potencial de ação em várias doenças neurológicas (Brucki et al., 2015;
Saito, Wotjak & Moreira, 2010).

A internalização dos endocanabinoides ainda não foi esclarecida. Supõe-se que ocorre
passivamente por meio de difusão ou por transportadores específicos. Após a internalização sofrem
hidrólise enzimática. A AEA é degrada por uma hidrólise das amidas dos ácidos graxos (FAAH), e
o 2-AG é degradado pela FAAH ou por uma lipase de gliceróis (MAGL) (Fonseca et al., 2013).

O mecanismo de ação do THC é idêntico ao endocanabinoide anandamida, já o mecanismo


de ação do CBD não é totalmente esclarecido. Acredita-se que o CBD age inibindo a recaptação do
endocanabinoide ou diminua a hidrólise enzimática da anandamida, aumentando sua
disponibilidade neuronal. Além disso, o CBD parece agir como agonista nos receptores
serotonérgicos do tipo 5-HT1A, que está relacionado na modulação da ansiedade e da depressão,
justificando suas propriedades ansiolíticas (Pedrazzi et al., 2014). O CBD também age ativando o
receptor TRPV1 que está envolvido na transmissão e modulação da dor e de reflexos protetores,
fundamentando suas propriedades analgésicas e anti-inflamatórias. As propriedades anti-
inflamatórias do CBD também podem ser explicadas pela inibição da interleucina 1β (IL-1β) e da
isoforma induzível do óxido nítrico-sintase (iNOS). Além disso, parece também regular a expressão
da proteína Id-1, a qual contribui para propagação e invasão de células carcinogênicas, justificando
as propriedades antiproliferativas e pró-apoptóticas do canabinoide descritas em alguns estudos
recentes (Matos et al., 2017).

No Brasil, a Cannabis sativa é uma droga ilícita bem como sua posse, aquisição e transporte
são proibidas pelas leis brasileiras. Porém, em 2015 a Anvisa por meio da RDC nº 3, decidiu retirar
da lista de substâncias proscritas o CBD, enquadrando-o na lista de substâncias controladas (Brasil,
2015). A RDC nº 17 de 2015 da Anvisa dispõe sobre os critérios e os procedimentos para a
importação, em caráter de excepcionalidade, de produto à base de CBD com outros canabinoides,
exigindo-se a prescrição de profissional legalmente habilitado. Recentemente, em maio de 2017, a
agência por meio da RDC n° 116 de 2017 incluiu a Cannabis sativa entre as plantas medicinais na
lista das Denominações Comuns Brasileiras (DCB), porém essa inclusão não altera as regras para
importação de medicamentos à base de canabinoides (Brasil, 2017a; Brasil, 2017b).

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ARTIDO DE REVISÃO / REVIEW

Com inúmeras divulgações midiáticas sobre os possíveis efeitos benéficos da Cannabis


sativa, nota-se a relevância de avaliar se os recentes estudos apresentam resultados que assegurem a
sua eficácia e esclareça os prováveis efeitos adversos advindos do uso a curto e a longo prazo
(Mandelbaum & Monte, 2017).

Destarte, o presente trabalho tem como objetivo mostrar a ambiguidade do uso da Cannabis,
que apesar de ser ilícita no Brasil e em diversos países no mundo, tem apresentado evidências
relevantes dos benefícios terapêuticos para o tratamento de doenças como a epilepsia, esclerose
múltipla e esquizofrenia, além disso, também será abordado os riscos do uso medicinal dessa planta.

2 METODOLOGIA

Na elaboração deste trabalho foi efetuada uma revisão bibliográfica dos artigos mais
recentemente publicados no período de janeiro de 2005 a julho de 2017, tendo como fatores de
inclusão os trabalhos com delineamento experimental (ensaios clínicos, randomizados ou não) ou
observacional (estudos de caso-controle, estudos de coorte e estudos antes e depois), realizados em
humanos, sobre o uso medicinal da cannabis nas patologias crônicas (epilepsia, esclerose múltipla e
esquizofrenia). Os artigos foram submetidos à leitura e avaliação sobre o tema referido, utilizando
publicações de periódicos indexados nas seguintes bases de dados: Scientific Eletronic Library On
Line (Scielo), Google acadêmico, Pubmed e Biblioteca Virtual da Saúde (BVS). Pesquisas de
campo, artigos que não apresentavam metodologia adequada ou não abordavam a área de interesse
foram excluídos. Foram empregados os descritores: Cannabis sativa; cannabinoids; epilepsy;
multiple sclerosis, schizophrenia, therapeutic properties.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos últimos anos percebe-se um crescente número de publicações de estudos relacionados


ao uso farmacológico da cannabis com as doenças abordadas nesta revisão. Delimitando a base de
dados Pubmed, nos últimos 20 anos, pode-se notar que o uso medicinal da cannabis vem
despertando o interesse da comunidade científica, pois tem apresentados resultados promissores
para utilização terapêutica dos canabinoides, principalmente em doenças crônicas (Figura 1).

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ARTIDO DE REVISÃO / REVIEW

Figura 1 - Números de publicações sobre o uso de canabinoides em doenças crônicas nos últimos
20 anos extraído da base de dados Pubmed.

3.1 Uso de canabinoides no tratamento da Epilepsia

A epilepsia é um distúrbio crônico caracterizado por convulsões recorrentes. As convulsões


são episódios de duração limitada de disfunção cerebral que resultam da descarga anormal dos
neurônios cerebrais. As causas das convulsões são diversas sendo desde uma variedade completa de
doenças neurológicas até hereditariedade, sendo esta última um fator predominante (Katzung et al.,
2014). Variações genéticas podem estar associadas à epilepsia, pois algumas mutações resultam em
um desvio hiperpolarizante na ativação sensível à voltagem, enquanto que outras podem causar um
desvio despolarizante na ativação sensível à voltagem. Em neurônios, tal comportamento pode
ocasionar um maior influxo de Ca2+ pela abertura do canal em potenciais de membrana mais
hiperpolarizados aumentando assim a propensão para crises. Os fármacos antiepilépticos agem em
canais iônicos para diminuir a excitabilidade neuronal enquanto que as mutações resultam em um
ganho na função desses alvos (Silva et al., 2014).

Percebe-se que o CBD tem efeito antiepiléptico, no entanto, o mecanismo de ação,


segurança em longo prazo, propriedades farmacocinéticas e interações com outros fármacos, ainda

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ARTIDO DE REVISÃO / REVIEW

não foram esclarecidos. Apesar do CBD não ter propriedades psicoativas as pesquisas clínicas ainda
são limitadas. Alguns estudos mais recentes sobre a utilização terapêutica dos canabinoides estão
listados na Tabela 1.

Tabela 1: Estudos clínicos com uso de canabinoides na epilepsia


Objetivo N Dose Resultados Referências
Eficácia do extrato de 2 A- Extrato não Com extrato não purificado
CBD purificado e não purificado com houve intoxicação por THC.
purificado para THC e CBD Já com extrato purificado com
tratamento de secundário (208mg/dia) CBD (99,6%) houve remissão
Crippa et al. (2016)
de epilepsia refratária B- Extrato das convulsões em 4 semanas
purificado com no caso A e em 3 semanas no
apenas CBD (300 caso B.
mg/dia)
Segurança e eficácia do 214 2 a 50mg/kg/dia 64% tiveram redução da O’Connell et al.
uso de CBD média mensal de convulsões (2016)
Segurança e eficácia do 51 5 a 25 mg/kg/dia 49% tiveram redução das
Szaflarski et al.
medicamento convulsões durante os 6 meses
(2016)
Epidiolex® de estudo
Segurança e eficácia do 23 Dose máxima de 39% tiveram redução em 50% Friedman &
medicamento 25 mg/kg/dia de das crises convulsivas. Devinsky (2015)
Epidiolex® CBD
Eficácia e efeitos 117 4,3mg/kg/dia 85% relataram diminuição das
adversos do uso de CBD crises convulsivas. 14%
tiveram as crises cessadas. Hussain et al.,
Efeitos adversos: aumento de (2015)
apetite, o ganho de peso e
sonolência.

Estudos em animais e ensaios clínicos demonstram que extratos enriquecidos com CBD
podem trazer benefícios a crianças com epilepsia refratária. Tal fato foi corroborado após
tratamento com canabinoides de duas crianças sendo que uma com displasia frontal esquerda e
outra com Síndrome de Dravet. Observou-se uma melhora inicial dos sintomas seguida de
agravamento das crises posteriormente. Sinais de intoxicação por THC foram observados, tais
como, ataxia, atenção reduzida, vermelhidão e risos descontrolados. Após substituição do extrato
purificado de CBD sem THC houve melhora dos sintomas de intoxicação e remissão das crises.
Ficou demonstrado, portanto, que a alta qualidade das substâncias em teste garante maior segurança
e eficácia do CBD como fármaco (Crippa et al., 2016).

Em um estudo com objetivo de avaliar a segurança e eficácia do uso de CBD para


tratamento de epilepsia, 214 pacientes com idade de 1 a 30 anos com epilepsia grave, intratável e de
início na infância foram selecionados. Todos utilizavam doses estáveis de fármacos antiepilépticos
durante quatro semanas antes de iniciar o tratamento com CBD como terapia complementar. A dose
inicial de CBD oral administrada foi de 2 a 5mg/kg/dia, sendo duas doses diárias. Essa dose foi
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aumentada até 25 ou 50 mg/kg/dia. Os resultados mostraram que 162 pacientes tiveram


tolerabilidade ao tratamento, sendo que 10% apresentaram sonolência, diminuição do apetite,
diarreia, fadiga e convulsão; e 137 pacientes apresentaram redução na média mensal de convulsões.
A segurança e eficácia do CBD têm sido demonstradas em alguns estudos, mas em conjunto com
THC ou este isoladamente, tais critérios ainda permanecem indefinidos (O’Connell et al., 2017).

O estudo de Friedman et al. (2015) teve como objetivo verificar a eficácia do produto
comercial Epidiolex®. Este medicamento contém 98% de CBD, sendo utilizado uma dose diária que
foi aumentada gradualmente até o máximo de 25mg/kg/dia associada aos medicamentos que os
pacientes utilizavam previamente. Avaliou-se inicialmente 23 pacientes com idade média de 10
anos, que apresentavam síndromes epilépticas heterogênicas e não respondiam aos fármacos
comercializados, ou apresentavam sérios efeitos colaterais. No estudo, 39% tiveram redução em
50% das crises epilépticas. Apenas 3 dos 9 pacientes com síndrome de Dravet, obtiveram controle
total das crises. Avaliando o mesmo medicamento, Szaflarski et al. (2016) acompanharam 51
pacientes, dos quais 23 eram crianças. Os resultados mostraram que 49% tiveram redução das
convulsões durante os 6 meses de estudo. A dose inicial utilizada foi de 5mg/kg/dia até o máximo
de 25mg/kg/dia.

Pesquisas sobre a segurança dos medicamentos à base de canabinoides demonstraram que


com administração a longo ou a curto prazo com doses de até 1500mg/dia podem gerar efeitos
secundários graves. Após o uso de solução oral de CBD para epilepsia severa e refratária no início
da infância foram observados os seguintes efeitos colaterais: sonolência (21% dos participantes),
diarreia (17% dos participantes), fadiga (17% dos participantes) e diminuição do apetite (16%).
Houve ainda o aumento da frequência e gravidade das convulsões, além de perda de peso. Já em
relação às interações farmacocinéticas a longo prazo os canabinoides podem inibir o citocromo P-
450 e as isoenzimas CYP2C e CYP3A4, que biotransformam fármacos anticonvulsivantes,
potencializando a toxicidade do medicamento (Friedman & Devinsky, 2015).

Hussain et al. (2015) utilizaram questionários direcionados em fóruns on-line tais como
Comunidade de Espasmos Infantis e a Fundação Lennox-Gastaut. Os participantes (n=117), pais de
crianças com epilepsia, responderam algumas preguntas relacionadas a eficácia do uso de CBD
(duração e dose) e os efeitos adversos. A dose média utilizada de CBD foi de 4,3mg/kg/dia por 6 a
8 meses. Como resultado 85% relataram diminuição das crises convulsivas em apenas 14 dias de
uso, sendo que 14% tiveram as crises cessadas. Em relação aos efeitos adversos, dois foram
relatados com maior frequência (aumento de apetite e ganho de peso).

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Atualmente dois produtos derivados de cannabis indicados para epilepsias refratárias têm
sido estudados em ensaios clínicos, o Epidiolex® e o Realm Oil®. O Epidiolex é uma base óleo com
98% de CBD e 3% de THC. Já o Realm Oil tem uma relação CBD/THC de 16:1. Nenhum deles
ainda foi aprovado pela FDA (Reddy & Golub, 2016). Mandelbaum & Monte (2017) afirmam que
ainda não se pode tirar conclusões irrefutáveis sobre a eficácia dos canabinoides, além de outras
evidências sugerirem que o seu uso pode precipitar os sintomas da doença.

Em outro estudo conduzido em crianças com epilepsia refratária (n=162), 79% dos pacientes
avaliados apresentaram eventos adversos. Os eventos mais comuns foram sonolência, diminuição
do apetite, diarreia, fadiga e convulsões. Também foi relatado evento adverso grave como status
epilepticus, concluindo que é necessário mais estudos sobre a farmacocinética e a toxicidade do
CBD (Devinsky et al., 2016).

3.2 Uso de canabinoides no tratamento da Esclerose Múltipla

A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória autoimune crônica e


neurodegenerativa que afeta principalmente a substância branca do sistema nervoso central. Devido
ao distúrbio no sistema imune ocorre a infiltração focal de glóbulos brancos que leva ao processo de
inflamação, destruição da bainha de mielina, remielinização e degeneração neuronal e axonal.
Forma-se um tecido cicatricial em diversas áreas do sistema nervoso central que promovem atrasos
ou bloqueios nos processos que conduzem as neurotransmissões (Campos, 2015).

É uma doença que atinge em torno de 2,0 milhões de pessoas no mundo sendo prevalente
em adultos jovens de 20 a 40 anos. A maior incidência da doença ocorre na Europa e nos Estados
Unidos sendo em torno de 60 a 200 casos a cada 100.000 habitantes. No Brasil, a estimativa é de 5
a 30 casos por 100.000 habitantes. Alguns estudos indicam que a doença afeta mais mulheres do
que homens, e mais caucasianos do que negros. Outro fator determinante é a falta de exposição
solar associada à produção de vitamina D. A etiologia da EM ainda é desconhecida, mas duas
hipóteses podem ser consideradas: viral e autoimune, sendo as duas complementares (Larrussa et
al., 2015).

Em abril de 2011, o laboratório farmacêutico Novartis divulgou o início da comercialização


do Sativex®, medicamento que contém 2,5mg de CBD e 2,7mg de THC por pulverização, na
América do Norte e na Europa e posteriormente na Ásia, África e Oriente Médio. No Brasil foi
autorizado seu registro recentemente, com o nome de Mevatyl® com a mesma composição do
Sativex® , para pacientes com EM que apresentam espasticidade refratária. Pesquisas demonstraram

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que 50% das pessoas que apresentavam tal sintoma causado pela EM tiveram melhora no quadro
clínico com o uso do medicamento (Alves et al., 2014).

Acredita-se que os canabinoides atuam inibindo os linfócitos T no sangue periférico,


provavelmente através de receptores CB2 na superfície do linfócito T, resultando na redução dos
antígenos e diminuição da produção de citocinas pró-inflamatórias. Já os endocanabinoides, como
2-AG, teria a capacidade de suspender a ativação da microglia e inibir a indução de apoptose
acionada pelos linfócitos T (Larussa et al., 2015). De forma sucinta, a Tabela 2 apresenta os estudos
mais recentes sobre o uso da cannabis para o tratamento de EM.

Tabela 2: Estudos clínicos com uso de canabinoides na esclerose múltipla.


Objetivo N Dose Resultados Referências
Comparação da 13 Bedrocan®: sachês de Bedrocan®
eficácia de Sativex® e 50mg proporcionou
Bedrocan® em Sativex®: 5 jatos melhores resultados Saccà et al. (2016)
pacientes com do que o Sativex®
espasticidade
Efeitos cognitivos nos 39 Uso diário ou 2 a 5 Pacientes que
pacientes com EM que vezes na semana fumaram maconha
fumavam Cannabis foram mais
prejudicados Pavisian et al.
cognitivamente do (2015)
que os que não
utilizavam.
Eficiência da 30 Um cigarro por dia Redução da
Cannabis para durante 3 dias. espasticidade.
Corey-Bloom et al.
tratamento de
(2012).
espasticidade em
paciente com EM
Eficiência do 572 na Fase A 2,7 mg de THC e Fase A: Melhora de
Sativex® na 241 na Fase B 2,5 mg de CBD por pelo menos 20% nos
espasticidade de pulverização. Limite sintomas. Novotna et al.
pacientes com EM de 12 pulverizações Fase B: Melhora de (2011)
por dia. pelo menos 30% nos
sintomas.
Eficácia do Sativex® 135 2,7 mg de THC e Redução da
em pacientes com EM 2,5 mg de CBD por incontinência
e incontinência pulverização. Até 18 urinária desde o
Kavia et al. (2010)
urinária pulverizações por início do tratamento.
dia.

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Centonze et al. (2007) estudaram a quantidade de endocanabinoides presentes no sangue de


pacientes internados com EM. Avaliaram-se 26 pacientes, sendo 17 mulheres e 9 homens que
apresentavam sintomas há, pelo menos, dois dias. Constatou-se que pacientes com EM
apresentavam 6 vezes mais anandamida devido ao aumento da síntese e diminuição da degradação
do endocanabinoide, sendo os teores maiores em pacientes com lesões ativas. O resultado
observado foi o mesmo nos testes realizados com ratos.

Em 2011, o Sativex® foi objeto de estudo para terapêutica da espasticidade e para dor em
pacientes com EM. Foram 19 semanas de tratamento e 2 semanas de acompanhamento, após o
tratamento. Foi realizado um teste duplamente cego buscando verificar se os pacientes tivessem
pelo menos 20% de melhora para fins de não exclusão. Nesta etapa, 47 % dos pacientes atingiram
melhora na espasticidade. Na segunda fase, foi realizado um estudo aleatório duplo-cego, com
grupos controlados por placebo durante 12 semanas. Nesta fase, os pacientes tiveram melhora de
pelo menos 30% na espasticidade e na dor (Novotna et al., 2011).

Saccà et al. (2016) realizaram um estudo comparativo, com duração de 56 dias, de dois
medicamentos: Sativex® e Bedrocan®, sendo este vendido na forma de sachês de 50mg contendo
Cannabis sativa. Após o uso de Bedrocan® os pacientes relataram que tiveram uma redução maior
nos espasmos do que quando usaram Sativex®. Além disso, apenas três pacientes relataram três
tipos de reações adversas, enquanto que com o uso de Sativex®, onze relataram quinze reações
adversas.

Outro estudo utilizando o medicamento Sativex® foi realizado com objetivo de avaliar a
eficácia, tolerabilidade e segurança na terapia complementar no alívio de sintomas da bexiga de
pacientes com EM. Utilizou-se 135 indivíduos com EM e bexiga hiperativa durante 10 semanas. Os
pacientes obtiveram uma redução de incontinência urinária desde o início até o final do tratamento.
Em relação à segurança do medicamento notou-se que as reações adversas apresentadas foram de
leve à moderada. (Kavia et al., 2010).

Corey-Bloom et al. (2012) realizaram uma pesquisa com pacientes com EM e espasticidade
resistente ao tratamento farmacológico. Os pacientes fumaram cigarro com cannabis uma vez ao dia
por três dias. A partir dos resultados com os 30 participantes que completaram o estudo, concluíram
que a cannabis fumada teve efeito redutor dos sintomas de espasticidade.

No estudo realizado por Pavisian et al. (2014) foi avaliado a disfunção cognitiva de
pacientes com EM que fumavam e não fumavam cannabis. Eles foram submetidos a vários testes e
exames tais como ressonância magnética e testes de memória e de atenção. Os resultados
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mostraram que os pacientes que fumavam cannabis apresentaram maior disfunção cognitiva do que
os não-usuários. Dessa forma, entendeu-se que a cannabis comprometeu ainda mais os mecanismos
compensatórios cerebrais que já estão prejudicados pela EM.

3.3 Uso de canabinoides no tratamento da Esquizofrenia

A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico e sua etiologia é multifatorial envolvendo


variáveis genéticas, modificações neuroquímicas e alterações no desenvolvimento do sistema
nervoso central. Pode ser caracterizada por três grandes grupos de sintomas, denominados positivos,
negativos e cognitivos. Os sintomas positivos seriam fenômenos mentais caracterizados
principalmente por alucinações e ideias delirantes, os sintomas negativos estão relacionados à perda
da motivação, comprometimento social e embotamento afetivo, por fim, os sintomas cognitivos que
acometem funções como a memória, atenção e funcionamento intelectual geral (Peres et al., 2016).

As causas da esquizofrenia ainda são desconhecidas e a principal hipótese seria o


desequilíbrio da neurotransmissão dopaminérgica. Os sintomas negativos da doença seriam
causados pela redução da neurotransmissão dopaminérgica na via mesocortical e os sintomas
positivos seriam provocados pelo aumento dos níveis de dopamina na via mesolímbica. Sendo
assim, presume que o antagonismo de receptores dopaminérgicos do subtipo D2 é um pré-requisito
essencial para a eficácia terapêutica da maioria dos antipsicóticos. Apesar de a dopamina apresentar
um papel central na esquizofrenia, outra hipótese apresentada seria a hipofunção da
neurotransmissão glutamatérgica (Gomes et al., 2015).

Estudos com endocanabinoides e sua relação com a neurobiologia da esquizofrenia


revelaram altos níveis dos endocanabinoides no líquido cefalorraquidiano e sangue de pacientes
esquizofrênicos. Foram descritos também que estes pacientes possuem maiores concentrações de
anandamida no líquido cefalorraquidiano em comparação com os pacientes saudáveis, e que esta
concentração está relacionada a uma resposta de feedback negativo a fim de contrabalancear os
sintomas psicóticos e a hiperatividade dos receptores D2 (Pedrazzi et al., 2014).

Estudos sugerem que o CBD possui um efeito antipsicótico e o mecanismo de ação para esta
propriedade ainda precisa ser estudado, mas têm se mostrado promissores em modelos animais
preditivos e em ensaios clínicos. Sugere-se que as propriedades antipsicóticas do CBD estejam
relacionadas com a sua habilidade de aumentar a disponibilidade cerebral da anandamida (Leweke
et al., 2012). A tabela 3 apresenta alguns estudos com o uso de canabinoides na esquizofrenia.

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Tabela 3: Estudos clínicos com uso de canabinoides na esquizofrenia.

Objetivo N Dose Resultados Referências

Verificar taxas de 220 Não mencionado O uso de cannabis após


recidivas para crises primeira crise de psicose
Schoeler et at.
psicóticas em usuários provocou alto risco em
(2016)
de Cannabis com recidivas.
esquizofrenia.
Comparação da 38 Cigarros com Diminuição da síntese de
capacidade de síntese 3,5mg de dopamina nos usuários
de dopamina em Cannabis. de cannabis.
Bloomfield et al.
pacientes com
(2015)
sintomas psicóticos
usuários e não
usuários de Cannabis.
Comparação de CBD 42 200 a 800 mg/dia O CBD apresentou
x amissulprida em de CBD e propriedades
pacientes com amissulprida. antipsicóticas, além de
Leweke et al. (2012)
esquizofrenia. diminuir os efeitos
extrapiramidais e
aumentar os níveis de
anandamida.
Examinar o consumo 80 Não informado Maior consumo da
e os efeitos da cannabis pelos pacientes
cannabis sobre com esquizofrenia. Estes
sintomas psicóticos e pacientes foram mais
Henquet et al.
humor em pacientes sensíveis aos efeitos
(2014)
com esquizofrenia e indutores de psicose e do
em indivíduos humor do que os
saudáveis que fazem indivíduos saudáveis.
uso regular da planta.

Schoeler et al. (2016) realizaram um estudo com pacientes com esquizofrenia que
apresentaram a primeira crise de psicose e mantiveram o uso de cannabis. O estudo foi realizado
por dois anos com 220 pacientes, sendo 90 mulheres e 130 homens com idade média de 28 anos.
Foi observado que os pacientes que continuaram utilizando cannabis apresentaram um aumento de
recidivas para as crises psicóticas em relação aos que não continuaram o uso. Ressalta-se que
fatores genéticos bem como o uso de outras drogas também podem contribuir para este resultado.

Bloomfield et al. (2014) realizaram um estudo com usuários e não usuários de cannabis para
avaliar os níveis de síntese de dopamina. Foram selecionados indivíduos maiores de 18 anos, com
quadros de psicose ou com histórico familiar da doença. Foi demonstrado que o uso regular de
cannabis a longo prazo está associada a redução da síntese de dopamina, sendo o efeito dose
dependente.

No estudo de Leweke et al. (2012), os pacientes com esquizofrenia apresentaram melhora


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clínica significativa tanto com o tratamento com amissulprida, quanto com CBD. Entretanto, os
antipsicóticos utilizados no tratamento da esquizofrenia podem causar efeitos colaterais como
distúrbios motores (sintomas extrapiramidais), ganho de peso e disfunção sexual. Utilizando o CBD
foi observado uma diminuição dos sintomas extrapiramidais, um menor ganho de peso, um menor
aumento da prolactina precursora da galactorréia e menor efeito na disfunção sexual. Nesse estudo,
o CBD foi bem tolerado pelos pacientes e não afetou significativamente as funções hepáticas ou
cardíacas. A hipótese de que o CBD inibe a degradação da anandamida foi confirmada pelos
resultados da inibição da enzima FAAH, enzima responsável por hidrolisar a anandamida. Nos
estudos entre os pacientes esquizofrênicos foram encontradas maiores concentrações de anandamida
no soro dos pacientes expostos ao CBD do que os que receberam amissulprida. Uma maior
diminuição dos sintomas psicóticos nos pacientes que possuíam maior concentração de anandamida
também foi observada (Leweke et al., 2012).

No estudo de Henquet et al. (2014) foi utilizada o Experience Samping Method (EMS) como
técnica de autoavaliação em tempo real. Em geral os pacientes com esquizofrenia apresentaram uma
diminuição significativa de afetos positivos e um aumento de afetos negativos do que os dos
indivíduos saudáveis. A frequência do uso de cannabis foi maior nos pacientes com esquizofrenia.
Estes pacientes também foram mais sensíveis aos efeitos da cannabis em relação ao humor. Estes
dados mostram que indivíduos com transtornos psicóticos são mais sensíveis aos efeitos indutores
de psicose e de humor da cannabis do que os indivíduos saudáveis. A associação desta maior
sensibilidade com os efeitos gratificantes agudos pode explicar a relação de causalidade nos
pacientes com esquizofrenia que usam a droga.

Mandelbaum & Monte (2017) constataram que a cannabis aumenta o risco de


desenvolvimento de esquizofreniam sendo a relação dose-dependente. Além disso, alguns estudos
sugerem que o consumo também pode desencadear quadros psicóticos em indivíduos susceptíveis.
Os efeitos estão associados a déficit neuropsicológico, alucinações, motivação, atividades reduzidas
e sintomas psicóticos semelhantes à esquizofrenia. Os indivíduos que utilizam cannabis com maior
frequência também podem apresentar déficit cognitivos, na aprendizagem, memória de trabalho e
atenção. Há uma preocupação maior voltada ao consumo na adolescência, pois trata-se de uma fase
de neurodesenvolvimento, em que a modulação sináptica e mielinização são altamente ativas e
podem ser interrompidas por exposições exógenas a drogas.

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4 CONCLUSÃO

Percebe-se que vários resultados são animadores quanto à eficácia do uso terapêutico da
cannabis. Todas as doenças consideradas nesse trabalho trazem grande prejuízo na qualidade de
vida do indivíduo e da família, sendo necessário o uso de fármacos que possam amenizar os
sintomas ou, pelo menos, reduzir a frequência de crises, no caso de epilepsia, para que os pacientes
possam ter uma melhor qualidade de vida.

Em alguns estudos, apesar de apresentarem resultados satisfatórios, conclui-se que ainda é


necessário maior aprofundamento nas pesquisas que envolvem o assunto. Pode ser que a
variabilidade de resultados esteja relacionada com a complexidade da planta que contém mais de
400 constituintes conhecidos, cerca de 100 canabinoides que interagem de alguma forma entre eles
no sistema nervoso central. Além disso, os estudos sugerem que o uso crônico de canabinoides,
mais especificamente o THC, pode provocar déficit cognitivo, devendo-se avaliar sempre o risco-
benefício para implementar a terapia contendo este canabinoide.

Ressalta-se que é necessário um isolamento dos canabinoides, bem como doseamento do


teor dos fármacos, para que se tenha um melhor controle dos medicamentos por eles constituídos.
Isso porque o THC, por exemplo, no caso da epilepsia não gera benefícios ao paciente, piorando
suas crises, além de poder desencadear quadros psicóticos em indivíduos sadios predispostos ou, até
mesmo, piorar os sintomas em indivíduos esquizofrênicos. O mesmo não ocorre nos casos de
esclerose múltipla em que se utiliza CBD e THC em proporção equivalente.

No entanto, torna-se necessário que a legislação nacional autorize de maneira menos


burocrática as pesquisas envolvendo canabinoides, pois incentivaria um maior número de estudos
científicos e, consequentemente, esclareceria sobre os benefícios que em grande parte já foram
levantados, além de possibilitar a confirmação de sua utilização com maior segurança,
principalmente a longo prazo. É salutar também que se avalie as diferenças na eficácia e segurança
entre a droga fumada e o medicamento contendo os canabinoides isolados, bem como as possíveis
interações com os medicamentos comumente utilizados nessas patologias.

Por fim, percebe-se que ainda são necessários mais estudos de efetividade e segurança com
maior número de indivíduos e por um período mais longo para definir categoricamente sobre a
eficácia e segurança dos medicamentos constituídos pelos canabinoides.

2500
Oliveira, D. L.; Costa, L. A.; Marinho, P. A. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2484 – 2504, 2018
ARTIDO DE REVISÃO / REVIEW

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Desenvolvimento e validação de metodologias para quantificação de


esomeprazol por cromatografia líquida de alta eficiência e espectrofotometria no
ultravioleta

Jessica Vertuan RufinoI*, Felipe Braga TrombetaI, Fernando Cesar Queiroz da SilvaI, Mariana
Bortholazzi AlmeidaI, Marlene Maria Fregonezi-NeryI, Tiago Bervelieri MadeiraI & Suzana Lucy
NixdorfI

I – Universidade Estadual de Londrina

*jessica_rufino@hotmail.com
Rua João Huss, nº 405, ap 701. CEP: 86050-490 – Londrina (PR)
Tel.: (43) 99606-4010
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

RESUMO

O esomeprazol é amplamente utilizado no tratamento do refluxo gastroesofágico. Embora


disponível comercialmente não apresenta, atualmente, monografia farmacopeica autorizada pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para o controle de qualidade de seus
comprimidos. A maioria dos métodos descritos na literatura utilizam solventes tóxicos ou tampão
na fase móvel, prejudicial ao sistema cromatográfico e incompatível com a espectrometria de
massas. Desta forma, este trabalho objetiva desenvolver e validar dois métodos confiáveis, rápidos,
isentos de tampão, empregando solventes menos tóxicos. Os métodos empregando cromatografia
líquida de alta eficiência (CLAE) e espectrofotometria no ultravioleta (UV) foram validados de
acordo com a RDC 166/2017. O método CLAE utilizou fase móvel acetonitrila:água acidificada
(40:60, v/v), coluna X-Terra® C18 (4,6 x 250 mm, 5 µm) a 25°C, com retenção em 4,3 minutos a
305 nm. Sua linearidade foi verificada de 5,00-100,00 μg mL-1 com 99,86% de precisão, com teores
de 103,07% e 109,92% para os comprimidos analisados. O método espectrofotométrico UV utilizou
o etanol como solvente a 305 nm, foi linear de 6,00-20,00 μg mL-1, com precisão de 99,15% e
conteúdo de 104,13% e 108,40%. Ambos os métodos apresentaram todos os parâmetros de
validação conforme estabelecidos pela legislação, possibilitando seu uso no controle de qualidade.

Palavras-chave: Esomeprazol, Controle de qualidade, Estudos de validação, CLAE,


Espectrofotometria ultravioleta.

2506
Rufino, J. V. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2505 – 2519, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

ABSTRACT

Esomeprazole has been widely used for the treatment of gastroesophageal reflux. Although
commercially available, currently does not present a pharmacopoeial monograph authorized by the
National Health Surveillance Agency (ANVISA) for quality control of their tablets. Most of the
methods described in literature use toxic solvents or buffer as mobile phase, which is harmful to
chromatographic system and incompatible with mass spectrometry detection. Thus, this study aims
to develop and validate two methods that are reliable, fast, buffer-free and employ less toxic
solvents. The methods using high performance liquid chromatography (HPLC) and ultraviolet (UV)
spectrophotometry were validated according to RDC 166/2017. The HPLC method used
acetonitrile: acidified water (40:60, v/v) a X-Terra® C18 column (4.6 x 250 mm, 5 μm) at 25°C,
with retention time of 4.3 minutes at 305 nm. Its linearity was verified from 5.00-100.00 μg mL-1
with 99.86% of accuracy and contents of 103.07% and 109.92% for the analyzed samples. UV
spectrophotometric method used ethanol as solvent with detection at 305 nm. It was linear from
6.00 -20.00 μg mL-1, with accuracy of 99.15% and contents of 104.13% and 108.40%. Both
methods presented all validation parameters as established by the legislation, allowing their use in
quality control.

Keywords: Esomeprazole, Quality control, Validation studies, HPLC, Ultraviolet


Spectrophotometry.

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Rufino, J. V. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2505 – 2519, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Introdução

A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) tem prevalência estimada de 10 a 20% em


adultos no mundo ocidental (Guimarães, Marguet & Camargos, 2006). Atualmente, representa um
significativo problema de saúde pública, dado o elevado custo em exames complementares e
medicamentos. Apesar da elevada prevalência, a maioria dos pacientes não procura atendimento
médico, devido à sua característica intermitente e ao fácil acesso a medicações não prescritas
(Abrahão, 2014).
O tratamento farmacológico da DRGE baseia-se na inibição da secreção ácida, em particular
pelos inibidores da bomba de prótons (IBP) (Domingues & Moraes–Filho, 2013). Um dos
representantes da classe dos IBP é o esomeprazol, isômero S da mistura racêmica do omeprazol,
descoberto em 2001 (Kendall, 2003).
O esomeprazol está disponível comercialmente como medicamento referência e genérico no
mercado nacional. Apesar de já ser um fármaco bastante utilizado na terapêutica, até o presente
momento, não se constata, atualmente, na monografia das principais farmacopeias autorizadas pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), incluindo a Farmacopeia Brasileira (Brasil,
2010), Farmacopeia Europeia (European Pharmacopoeia, 2017) e Farmacopeia Americana (The
United States Pharmacopeia, 2017), para o controle de qualidade de comprimidos, e poucos autores
se referem à validação de método para este medicamento. A Cromatografia Líquida de Alta
Eficiência (CLAE) é uma das técnicas analíticas mais empregadas na determinação do esomeprazol,
entretanto, as metodologias apresentam uma grande variação nas condições cromatográficas
empregadas, principalmente no que se refere à detecção, composição e pH da fase móvel e tipo de
coluna utilizada. Önal & Öztunç (2006) utilizaram coluna C18, fase móvel, tampão
fosfato:acetonitrila (ACN) (60:40, v/v, pH 7,0) e vazão de 1,0 mL min-1 com detecção no
ultravioleta (UV) a 205 nm. Patel et al. (2007) utilizaram para a determinação de pantoprazol,
rabeprazol, esomeprazol, domperidona e itoprida fase reversa Hypersil BDS C18 com fase móvel
de tampão de di-hidrogenofosfato de potássio (0,05 mol L-1, pH 4,70): acetonitrila (72: 28 v/v) na
vazão de 1,0 mL min-1. Reddy et al. (2011) propuseram para separação de esomeprazol e naproxeno
de formulações farmacêuticas coluna Xterra RP-18 (150 × 4.6 mm, 5 µm) e fase móvel consistindo
de gradiente de tampão 0,005 molar de perclorato de sódio, 5 mL de N-butil amina em água
ultrapura com pH 8,7: acetonitrila: metanol (70:20:10, v/v/v, Fase A) e tampão: acetonitrila (20:80,
v/v, Fase B) na vazão de 1,5 mL min-1 a 40ºC e detecção a 305 nm. Outro método por CLAE foi
desenvolvido e validado para determinar esomeprazol em associações por Jain et al. (2011) que
propuseram para determinação do esomeprazol e naproxeno em comprimidos, uma coluna
Phenomenex Luna C18, vazão de 0,5 mL min-1, fase móvel ACN: tampão fosfato (50: 50, v/v, pH
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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
7,0) e detecção no UV a 300 nm. Maeshwari & Trivedi (2011) propuseram para determinação
simultânea de esomeprazol e domperidona em forma farmacêutica, uma coluna Phenomenex C18,
utilizando tampão acetato: acetonitrila: metanol (55:35:10, v/v/v) e detecção a 290 nm. Bellah et al.
(2012) propuseram coluna Prevail C8, fase móvel ACN: tampão fosfato (35: 65, v/v, pH 7,6) e
vazão de 1,0 mL min-1 com detecção no UV a 280 nm. Khalih et al. (2012) utilizaram coluna C18,
fase móvel, ACN: tampão fosfato (50:50, v/v, pH 7,4) na mesma vazão com detecção no UV a 302
nm. Kayesh & Sultan (2014) desenvolveram um método para separar naproxeno e esomeprazol em
preparações farmacêuticas, usando uma condição isocrática de fase móvel de tampão hidróxido de
tetrabutilâmonio (7,7 mmol L-1) e ácido n-heptano sulfônico sal de sódio anidro (2,0 mmol L-1), pH
7,6], acetonitrila e metanol (60:20:20 v/v/v) na vazão de 1,5 mL min-1 em C-18 (4,6 x 250 mm, 5
µm) à temperatura ambiente.
Além da CLAE, outras técnicas de separação, tais como cromatografia gasosa (CG) e,
eletroforese capilar (EC), vêm se destacando na química analítica pela capacidade de realizarem
análises qualitativas e quantitativas em amostras farmacêuticas (Ribani et al., 2004). Além destas, a
espectrofotometria também é uma técnica analítica bastante comum, e apresenta algumas vantagens
em relação às outras, uma vez que é de aplicação simples, de baixo custo e sensibilidade compatível
com as necessidades da indústria farmacêutica (Maluf et al., 2008).
Destaca-se a necessidade da busca por métodos analíticos para análise de fármacos que
produzam baixa geração de resíduos, com a diminuição da utilização de solventes tóxicos e redução
de custos e despesas com consumíveis e equipamentos (Lima et al., 2012). A substituição de
solventes tradicionalmente utilizados em análises cromatográficas, como por exemplo, o metanol,
por solventes menos tóxicos, como o etanol, contribui com o ambiente e à saúde humana (Macedo,
2012; Lenardão et al., 2003).
Portanto, além de promover a segurança dos operadores, os métodos verdes contribuirão
com a indústria farmacêutica no controle de qualidade do esomeprazol e com a literatura científica,
de forma a diminuir a contaminação ambiental e a toxicidade para o operador; proporcionar a
segurança e eficácia exigidas para um tratamento; e conferir maior confiança na aplicação do
medicamento na prática clínica.
Considerando o exposto, a presente proposta visa contribuir com o desenvolvimento e
validação de dois métodos analíticos simples, aplicados para determinação do teor de esomeprazol
em matéria-prima e comprimidos. O primeiro método emprega CLAE isento de tampão na fase
móvel, reduzindo o desgaste dos consumíveis da bomba. Este permite ainda, o acoplamento ao
espectrômetro de massas, requisito importante considerando-se que a RDC nº 53/2015 da ANVISA
(Brasil, 2015), define este tipo de análise para os produtos de degradação, se tratando, portanto, de
um método atual. O segundo emprega a espectrofotometria no ultravioleta (UV), visando um
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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
método simples, rápido e economicamente viável, aumentando o interesse em sua execução na
rotina de um laboratório de controle de qualidade.

Metodologia

Materiais
O esomeprazol, padrão secundário (Lote: KOM075) e a matéria-prima foram cedidos pela
indústria farmacêutica EMS S/A. As amostras 1 e 2 foram adquiridas no comércio local. As
matérias-primas utilizadas para composição do placebo foram de grau farmacêutico: monoestearato
de glicerila, hidroxipropilmetilcelulose, talco, óxido férrico marrom avermelhado,
polimetacrílicocopoliacrilato de etila, celulose microcristalina, estearato de magnésio, parafina
sintética, polietileno glicol, polissorbato 80, crospovidona, esferas de açúcar, dióxido de titânio e
citrato de trietila.
Os reagentes empregados foram: NaOH (Nuclear, Brasil), metanol (MeOH) (Merck,
Darmstadt, Alemanha) e acetonitrila (ACN) (J.T. Baker, Austin, EUA) de grau HPLC, álcool etílico
p.a. (Anidrol, Brasil), água ultrapura obtida do sistema Milli–Q® (Millipore, MA, EUA) e ácido
acético (Biotec, Brasil).

Equipamentos
Os equipamentos utilizados foram: balança analítica modelo AX200 (Shimadzu, Quioto,
Japão), ultrassom Elmasonic P (Elma, Singen, Alemanha), espectrofotômetro UV-Vis (Rayleigh
UV 9200) e sistema cromatográfico a líquido Alliance, modelo e2695 da marca Waters® composto
por: bomba com gerenciador quaternário de solventes e módulo de desgaseificação; amostrador
automático com controle de temperatura; forno de coluna; e detector de arranjo de fotodiodos (DAD
ou do inglês PDA – Photodiode Array Detector modelo 2998); controlado pelo software Empower
2 (Waters, Milford, MA, EUA).

Testes iniciais
A solubilidade do fármaco foi testada em soluções alcalinas; água purificada; etanol;
metanol; acetonitrila e mistura destes solventes.
Para o desenvolvimento do método CLAE foram testadas as seguintes composições de fase
móvel: acetonitrila e água; metanol e água; e acetonitrila e água acidificada; sendo a variação da
fase orgânica realizada entre 30 e 65%.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Procedimento para o Método CLAE

Preparo do Padrão: Pesou-se 20,00 mg de padrão secundário de esomeprazol e transferiu-se para


um balão volumétrico de 100 mL, acrescentando-se 70 mL de etanol p.a., dissolvendo-se em
ultrassom na frequência de 80 Hz por 10 minutos. Após, completou-se até a marca do balão com
etanol, sendo a solução homogeneizada e filtrada em membrana de nylon 0,22 µm. Transferiu-se 10
mL do filtrado para um balão volumétrico de 50 mL e diluiu-se com fase móvel (acetonitrila: água
acidificada (40: 60, v/v, pH 3,5), obtendo-se uma solução final de 40,00 µg mL-1.

Preparo das amostras: Determinou-se o peso médio de 20 comprimidos. O equivalente ao peso


médio do pó triturado das amostras 1 e 2 foi pesado em triplicata e transferido para balão
volumétrico de 100 mL, procedendo-se da mesma forma que a preparação do padrão.

Condições cromatográficas: As condições finais da análise pelo sistema de CLAE-DAD


desenvolvidas no modo isocrático utilizaram como fase móvel acetonitrila: água acidificada (40: 60,
v/v, pH 3,5) na vazão de 1,0 mL min-1. O volume de injeção foi de 20,0 µL. A coluna empregada
foi uma X-Terra® C18 (4,6 x 250 mm, 5 µm, Waters) na temperatura de 25ºC. A detecção no DAD
foi realizada no comprimento de onda de 305 nm.

Procedimento para o Método Espectrofotométrico UV

Preparo do Padrão: Pesou-se 30,00 mg do padrão secundário e transferiu-se para um balão


volumétrico de 100 mL, acrescentando-se 70 mL de etanol p.a., dissolvendo-se em ultrassom na
frequência de 80 Hz por 10 minutos. Em seguida o balão foi completado com o mesmo solvente, a
solução homogeneizada e filtrada em membrana de nylon 0,22 µm. Cinco mililitros do filtrado
foram transferidos para um balão volumétrico de 100 mL e diluído com água ultrapura, obtendo-se
uma concentração de 15,00 µg mL-1.

Preparo da Amostra: Pesou-se do pó de 20 comprimidos triturados das amostras 1 e 2 e pesados em


triplicata o equivalente a 30,00 mg e transferiu-se para balão volumétrico de 100 mL, procedendo-
se conforme preparação do padrão.

Condições do UV: A absorvância máxima de 305 nm para análise empregando a espectrofotometria


no UV foi definida com a varredura na faixa de 200 a 400 nm, utilizando-se água ultrapura como o
branco.
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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Validação analítica

Para validação foram analisados os parâmetros: especificidade, linearidade, precisão, exatidão,


robustez, limite de quantificação e detecção foram realizados de acordo com recomendações da
RDC 166/2017 da ANVISA (Brasil, 2017), do International Conference on Harmonisation (ICH,
2005) e FDA – Guidance on Analytical Procedures and Methods Validation for Drugs and
Biologics Guidance for Industry (2015).
Especificidade
Para o estudo da interferência dos excipientes da formulação do esomeprazol, utilizaram-se
solução padrão de 40,00 µg mL-1 para o método CLAE e 15,00 µg mL-1 para o método
espectrofotométrico UV e, a solução placebo de acordo com a sua proporção no peso médio de um
comprimido, considerando-se que a solução placebo não apresente absorbância na região de
máximo em relação ao observado para o esomeprazol.

Linearidade
O estudo da linearidade dos métodos analíticos foi realizado através das curvas analíticas
feitas em triplicata, com injeção de cinco concentrações de padrão para CLAE, preparadas na faixa
dinâmica de trabalho de 5,00 a 100,00 µg mL-1, a partir da solução estoque de 100,00 µg mL-1 em
etanol p.a. Para espectrofotometria, foram contempladas 6 concentrações de padrão de esomeprazol
de 6,00 a 20,00 µg mL-1, partindo de uma solução estoque de 250,00 µg mL-1. As curvas analíticas
e os coeficientes de determinação linear foram feitos utilizado o software Microcal Origin 8.0.

Precisão e precisão intermediária


A precisão dos dois métodos foram determinadas pela repetibilidade por meio da análise de
seis soluções de mesma concentração de 40,00 µg mL-1 para a CLAE e 15,00 µg mL-1 para
espectrofotometria sob as mesmas condições de medição, mesmo procedimento, mesmo analista,
mesmo instrumento e mesmo dia. Já a precisão intermediária foi avaliada no mesmo laboratório,
utilizando o mesmo equipamento, porém em dias diferentes e com analistas diferentes.

Exatidão
A exatidão dos dois métodos foi avaliada a partir da adição de solução padrão (em três
níveis de concentração) à solução amostra em uma concentração de 30,00 µg mL-1 para CLAE e
8,00 µg mL-1 para UV. Para o método CLAE as concentrações de padrão adicionadas - baixa, média
e alta foram de 10,00; 30,00 e 50,00 µg mL-1, enquanto para o método espectrofotométrico no UV

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
foram de 4,00; 8,00 e 10,00 µg mL-1. As quantidades de esomeprazol recuperadas foram calculadas
utilizando-se as curvas analíticas.

Limite de Detecção (LD) e Limite de Quantificação (LQ)


O LD foi calculado por meio da equação DPa x 3/IC, e o LQ pela equação LQ = DPa x
10/IC, em que DPa é o desvio padrão do intercepto com o eixo Y de no mínimo 3 curvas analíticas
e IC é a inclinação da curva de calibração.

Robustez
A robustez do método de CLAE foi determinada por análises das amostras sob diferentes
condições. Mudanças de pH (3,0 - 4,0); vazão (0,9 - 1,1 mL min-1); proporção da fase móvel
ACN:H20 (50:50 v/v) e ACN:H20 (30:70 v/v), membranas (Nylon/PTFE/PVDF/PET) e variação da
temperatura. Os efeitos nos parâmetros tempo de retenção e área dos picos foram observados, para
garantir que pequenas alterações não afetem os resultados.
A robustez do método UV por sua vez, foi determinada para o preparo da solução de 15,00
µg mL-1 no qual avaliou-se o tempo de agitação por ultrassom (5, 10 e 15 minutos) e diferentes
fabricantes do solvente etanol (Anidrol e Nuclear), e pela alteração do comprimento de onda (304,
305 e 306 nm). As avaliações foram feitas em triplicata.

Análise Estatística
Foi realizado o teste de Tukey, utilizando o software STATISTICA 8.0.

Resultados e Discussão

O comprimento de onda a 305 nm foi definido para os dois métodos, considerando-se a


absorbância máxima do esomeprazol na varredura da solução padrão.
A melhor condição cromatográfica foi definida para a fase móvel composta por acetonitrila:
água acidificada com ácido acético (pH 3,5) na proporção 40:60 (v/v) para a CLAE.
Todas as soluções foram preparadas utilizando etanol p.a. como solvente, considerando-se a
melhor solubilidade do esomeprazol, sem interferência no cromatograma, e garantindo a
estabilidade da solução estoque por um período de 72 h. As diluições sequenciais para obter a
concentração de leitura foram realizadas com a fase móvel para o método CLAE, e água ultrapura
para o espectrofotométrico no UV, atendendo assim, o uso de um solvente com menor custo, baixa
toxicidade, fácil tratamento e descarte, seguindo os preceitos da química verde, que tem como
principal foco a redução ou eliminação dos impactos ambientais causados pelos processos,
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metodologias e procedimentos químicos, que utilizam reagentes que podem causar danos aos
analistas e ao ambiente ou cujo tratamento de resíduos é muito oneroso (Lima et al., 2012).
A avaliação da especificidade dos dois métodos demonstrou que os excipientes da
formulação não afetam a determinação do princípio ativo, uma vez que não interferiram na análise
espectrofotométrica e, a solução contendo apenas os componentes da matriz, não apresentou sinal
analítico no tempo de retenção característico do padrão de esomeprazol no cromatograma,
conforme aparece na Figura I.

Figura I. Análise da especificidade para o método desenvolvido por CLAE: (a) cromatograma
resultante da injeção dos excipientes. (b) padrão de esomeprazol.

Ambos os métodos foram lineares com coeficientes de correlação (r) de 0,9999 para CLAE
e 0,9996 para o UV. As equações das retas foram de y = 4,14 104x – 1,39 104 para CLAE e y =
0,0482x – 0,076 para o UV. A análise dos resíduos mostrou pequenas variações em torno da média,
não apresentando heteroscedasticidade e, nem tendência dos resultados, confirmando sua adequação
às respostas, para ambos os métodos, conforme apresenta a Figura II (a) e (b).

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Figura II. Curva de calibração analítica e análise de resíduos para o método CLAE (a) na faixa de
5,00 a 100,00 µg mL-1 e para o método espectrofotométrico UV (b) de 6,00 a 20,00 µg mL-1.

Os LD e LQ calculados a partir das curvas analíticas em triplicata foram respectivamente de


0,94 e 2,85 µg mL-1 para o método de CLAE e 1,78 e 5,93 µg mL-1 para o método
espectrofotométrico UV.
O método CLAE mostrou-se preciso com DPR de 2,51% e 4,43% para repetibilidade e
precisão intermediária, respectivamente. Para o método espectrofotométrico no UV o DPR foi de
1,76% para o ensaio de repetibilidade e de 0,90% para a precisão intermediária. Os métodos foram
considerados precisos.
Os métodos foram exatos com recuperação média de 99,86% para CLAE e 99,24% para a
espectrofotometria no UV, conforme apresentado na Tabela I.

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Tabela I. Resultados do ensaio de exatidão considerando a recuperação para o método CLAE e
para o método espectrofotométrico UV com adição de padrão em três níveis de concentração (n=3).
CLAE UV
[esomeprazol] Recuperação DPR [esomeprazol] Recuperação DPR
(µg mL-1) (%) (%) (µg mL-1) (%) (%)
Adicionada Recuperada Adicionada Recuperada
10,00 10,09 100,90 1,60 4,00 3,97 99,25 0,01
30,00 30,02 100,07 0,95 8,00 7,95 99,37 0,02
50,00 49,31 98,62 0,81 10,00 9,91 99,10 0,06
DPR: Desvio Padrão Relativo. CLAE: Cromatografia líquida de alta eficiência. UV: Ultravioleta.

As variações dos parâmetros, pH, vazão, temperatura, proporção de fase móvel e membrana
de filtração (Figura III) no método de CLAE não alteraram de forma significativa os valores de área
e o tempo de retenção de uma solução de esomeprazol 80,0 µg mL-1, demonstrando através dos
resultados que o método é robusto, para a quantificação do analito. A robustez para o método
espectrofotométrico UV foi testada com duas diferentes marcas de etanol p.a., Anidrol e Nuclear,
com absorvâncias médias iguais a 0,451 e 0,453 respectivamente; para os diferentes tempos de
agitação as absorvâncias médias foram de: 0,415 para 5 minutos; 0,456 para 10 minutos e 0,454
para 15 minutos. Já, para os comprimentos de onda máximos testados a média de absorvância foi de
0,439 a 304 nm, de 0,451 a 305 nm e de 0,447 a 306 nm. Os resultados não apresentaram diferença
significativa, podendo então ser considerado robusto.

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Figura III. Análise da robustez do método CLAE para a quantificação de esomeprazol com base
nas variações de temperatura (a), membrana (b), vazão (c), proporção de fase móvel (d) e pH (e).

O teor médio da triplicata de esomeprazol encontrado nas amostras submetidas à


determinação 1 e 2 estão na Tabela II encontrando-se dentro da faixa permitida de 90,00 –
110,00%.

Tabela II. Teor de esomeprazol nas amostras de comprimidos 1 e 2, analisadas pelo métodos
propostos por CLAE e UV.
[esomeprazol] (µg mL-1) Média DPR Teor (%)
CLAE Amostra 1 41,04 41,23 41,23 41,16 0,10 103,07
Amostra 2 43,95 44,02 43,96 43,97 0,03 109,92
UV Amostra 1 15,18 16,03 15,65 15,62 0,42 104,13
Amostra 2 16,75 15,94 16,26 16,10 0,40 108,40
DPR: Desvio padrão relativo. CLAE: Cromatografia líquida de alta eficiência. UV: Ultravioleta.

Os métodos não apresentaram diferença significativa em nível de 5% (p<0,05) pelo método


de Tukey, sendo assim, podem ser intercambiáveis.
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Conclusão
Os métodos desenvolvidos para determinação do esomeprazol em comprimidos e matéria-
prima poderão auxiliar no controle de qualidade rotineiro do fármaco, uma vez que apresentaram os
parâmetros de validação dentro dos limites estabelecidos pela legislação para métodos
cromatográficos, garantindo a confiabilidade dos resultados e, assegurando o teor, a qualidade e a
eficácia do medicamento. Além disso, a CLAE trata-se de um método robusto que pode ser
acoplado ao espectrômetro de massas, caso o interesse seja efetuar a quantificação de produtos de
degradação, uma vez que não utiliza tampão na fase móvel. Enquanto, a espectrofotometria no UV
demonstrou ser um método simples e viável economicamente, comparando-se aos resultados
obtidos da CLAE, aumentando o interesse em sua execução.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Avaliação in vitro da atividade antifúngica do creme aniônico e solução incorporados


com extrato de folhas secas de Psidium guajava L.

Jessica Chaves Fadul1-; Cássio Tomé Santos Leite1-; Luciene Silva Sousa1-; Anildes Iran Pereira
Sousa1-; Margareth Santos Costa Penha1-, Denise Fernandes Coutinho2-; Patrícia de Maria Silva
Figueirêdo2

1
Faculdade de Farmácia / Departamento de Farmácia/CCBS/Universidade Federal do Maranhão – UFMA;
2
Professora Doutora/ Departamento de Farmácia/CCBS/Universidade Federal do Maranhão – UFMA.

* email: jessicafadul@hotmail.com
Endereço: Condomínio Novo Tempo II, Qd. Aves, Ed. Ema, Apt. 204, Cohafuma, São Luís- MA/
CEP: 65074-845; Tel. (98) 983282877
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

RESUMO

Objetivo: Avaliar a atividade antifúngica in vitro do creme aniônico e soluçāo incorporados com o
extrato de folhas secas de Psidium guajava L (goiabeira) frente Candida sp. Metodologia: Candida
albicans ATCC: 90028 e três isolados clínicos (Candida glabrata, Candida parapsilosis e Candida
tropicalis) foram submetidos a teste de atividade antifúngica utilizando o método de diluição,
avaliando-se também o potencial hemolítico dos bioprodutos e o controle de qualidade do mesmos
(estabilidade físico-química e controle microbiológico). Resultados: O creme aniônico na
concentração de 1% apresentou concentração inibitória mínima (CIM) de 5 mg/mL em todos os
microrganismos testados. Na concentração de 5%, apresentou CIM variando entre 6,25 e 25
mg/mL. E na concentração de 10%, apresentou CIM de 12,5 mg/mL em todos os microrganismos
testados. A soluçāo de 10% apresentou CIM variando entre 25 e 50mg/mL. Os bioprodutos
mostraram-se apenas fungistáticos, nāo apresentando Concentração Fungicida Mínima (CFM). Os
bioprodutos apresentaram estabilidade físico-química e microbiológica, e demonstraram ausência
de atividade hemolítica, sugerindo baixo risco de toxicidade. Conclusão: Observou-se o potencial
antifúngico dos bioprodutos incorporados com extrato de Psidium guajava L, considerando a real
possibilidade de aplicação destes na prevenção e tratamento de doenças infecciosas de origem
fúngica.

Palavras-chave: Psidium guajava L, Candida sp., Atividade antifúngica, Bioprodutos.

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Fadul, J. C. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2520 – 2539, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

ABSTRACT

Objective: To Evaluate in vitro antifungal activity of anionic cream and solution incorporated with
dry plant extract of Psidium guajava L (guava tree) against Candida sp. Methodology: Candida
albicans ATCC 90028 and three clinical isolates (C. glabrata, C. parapsilosis and C. tropicalis)
had been submitted to antifungal activity test using microdilution method, and hemolytic potential
of the anionic cream and solution, and their quality controls (physico-chemical stabilities and
microbiological controls). Results: As for microdilution, the 1% anionic cream have presented
minimal inhibitory concentration (MIC) of 5 mg/mL in all microorganism tested. The 5% anionic
cream have ranged MICs from 6,25 to 25 mg/mL. The 10% anionic cream have presented MICs of
12,5 mg/mL in all microorganism tested. The 10% solution have ranged MICs from 25 to
50mg/mL. Neither anionic cream nor solution have not presented fungicide activities on the tested
microorganisms, only fungistatic activity. Both of bioproducts have shown microbiological and
physico-chemical stability, and absence of hemolytic activity, suggesting low risk of toxicity.
Conclusion: It has been observed the antifungal activity of Psidium guajava L bioproducts,
considering the real possibility of their applications in the prevention and treatment of infectious
diseases of fungal origin.

Key words: Psidium guajava L, Candida sp., Antifungal Activity, Bioproducts.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

1. INTRODUÇĀO

As infecções fúngicas de origem hospitalar passaram a ser de grande importância nos


últimos anos pelo seu aumento progressivo e pelas elevadas taxas de morbidade e mortalidade.
Muitas dessas infecções são de origem endógena, e outras podem também ser adquiridas por via
exógena, pelas mãos de profissionais da área da saúde, infusos contaminados, biomateriais e fontes
inanimadas ambientais (Diniz et al., 2005).
A resistência dos microrganismos representa uma ameaça na prevenção e cura efetiva de
patologias. Há um esforço mundial para combater este problema, que se tornou um dos maiores
desafios da medicina moderna (WHO, 2014). Entretanto, há pouco interesse das indústrias na
produção de antibióticos e antifúngicos devido à rápida resistência que estes microrganismos tem
apresentado ao longo dos anos. (Guimarāes et al., 2010; Silveira et al., 2006).
Candida é o gênero de leveduras de maior importância clínica em todo o mundo por causar
infecções que podem ser fatais, dependendo do estado imunológico do paciente. Esse gênero, que
faz parte da microbiota natural dos seres humanos, representa quase 90% de todos os processos
fúngicos no ambiente hospitalar (Bille et al., 2005; Rosa et al., 2008, Ruhnke & Mascheyer, 2002).
Dentre as espécies de Candida conhecidas, destacam-se C. albicans, C. dubliniensis, C.
glabrata, C. guilliermondii, C. krusei, C. lusitaniae, C. parapsilosis e C. tropicalis, geralmente
isoladas em casos humanos. Todas essas espécies podem apresentar manifestações clínicas
semelhantes, contudo, a gravidade e as opções terapêuticas podem diferir. (Colombo & Guimarāes,
2003; Pfaller, 1994).
O Brasil com 8,5 milhões km² de extensão, ocupa quase a metade da América do Sul e
concentra de 11% a 14% da diversidade de plantas do mundo, tendo mais de 41 mil espécies
catalogadas e milhares ainda desconhecidas pela ciência (Ministério do Meio Ambiente, 2017). O
país apresenta grande variedade de biomas devido sua proporção continental, refletindo assim, em
suas ricas fauna e flora.
Considerando a grande questão da resistência microbiana e o potencial farmacológico do
Brasil, têm-se a Psidium guajava L (Goiabeira), como uma possível solução para esta problemática.
A Psidium guajava L é um arbusto ou árvore de pequeno porte pertencente à família Myrtaceae,
nativa em grande parte da América (Koller,1979). Ela possui potencial microbiano já comprovado a
partir do extrato de folhas secas (Jaiarj et al., 1999) e suas folhas são empregadas popularmente
para tratar desordens gastrointestinais (Lozoya et al., 2002).

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Fadul, J. C. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2520 – 2539, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Frente à problemática da resistência microbiana, torna-se evidente a necessidade do
desenvolvimento de bioprodutos que combatam patógenos envolvidos em infecções em geral, como
os que foram desenvolvidos neste estudo, a partir do extrato da folha seca de Psidium guajava L,
que visam o combate em especial do gênero Candida.

2. METODOLOGIA

2.1 - Coleta e Identificação Botânica


O vegetal foi coletado no campus do Bacanga da Universidade Federal do Maranhão, Brasil.
Exsicatas desse vegetal foram enviadas aos Herbários Ático Seabra – UFMA (número de registro
sendo 01182), para confirmação de sua identificação botânica.
2.2 - Material microbiológico
Para a avaliação da atividade antifúngica foram utilizadas amostras de Candida sp., sendo
uma amostra de referência internacional: Candida albicans ATCC 90028 (American Type Culture
Collection) e 3 isolados clínicos: Candida glabrata, Candida parapsilosis e Candida tropicalis
pertencentes a coleção do laboratório de microbiologia clínica da Universidade Federal do
Maranhāo.
2.3 - Obtenção do Extrato Hidroalcoólico de Psidium guajava L.
O extrato hidroalcoólico das folhas secas de Psidium guajava L foi obtido através do
processo de seleção e coleta, pulverização e extração por maceração, utilizando como solvente
etanol a 70% e hidromódulo de 1:10, sob agitação constante durante 7 dias. Em seguida, o material
foi filtrado à vácuo, obtendo o extrato hidroalcoólico (EHP). Este foi armazenado em frasco âmbar
e mantido sob refrigeração 5-10%, aproximadamente a 4°C. (Farmacopeia Brasileira, 2010).

2.4 - Estudo Químico do extrato de Psidium guajava L.


O extrato hidroalcoólico foi submetido a testes de prospecção fitoquímica para determinação
de classes de metabólitos secundários (Matos, 1997). Dependendo do perfil fitoquímico do extrato,
foram desenvolvidos testes específicos. A reação de LieabermannBuchard foi feita para a busca de
esteroides e triterpenos. Fez-se a solução alcoólica de cloreto férrico para a identificação de fenóis e
taninos. Para saponinas, fez-se o teste quantitativo de espuma. De acordo com a variação de pH
buscou-se identificar antocianinas, antocianidinas, flavonoides, catequinas, flavonóis, xantonas e
flavononas (Matos, 2009).

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
2.5 - Testes in vitro do extrato de Psidium guajava L.
O teste de perfuração em meio sólido foi realizado como uma triagem do extrato para avaliar
sua capacidade antifúngica contra as espécies do gênero Candida. O teste de macrodiluiçāo foi
realizado no extrato objetivando determinar sua concentração mínima inibitória (CIM) e sua
concentração fungicida mínima (CFM). Estes testes seguem o documento sugerido pelo National
Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS), incorporado pela Anvisa em 2002.

2.5.1 Teste de difusão em ágar do extrato de Psidium guajava L.


O meio líquido BHI (Brain Heart Infusion) foi utilizado para reativar as culturas dos
microrganismos em estudo, em 37°C por 48 horas. Em seguida, estes foram cultivados em placas de
ágar nutriente nas mesmas condições de temperatura e pelo mesmo período de tempo de incubação
citados anteriormente. As colônias dos microrganismos foram suspensas em solução salina 0,9% e
fez-se a comparação das mesmas segundo o padrão de turbidez da escala 0,5 de Mc. Farland 0,5
(1,5 x 108 Unidades formadoras de colônias/mL). Posteriormente, fez-se a semeadura em placas de
ágar Mueller Hinton e feito o teste de difusão em ágar. Neste método, fez-se uma perfuração no
ágar (meio sólido), utilizando-se cilindros estéreis entre 6-8 mm, em que foram aplicados 20 µL do
extrato hidroalcoólico de Psidium guajava L., 20µL de suspensão oral do controle positivo
(nistatina 100.000 UI/mL) e 20µL do controle negativo (etanol 70%). O método foi feito em
triplicata, sendo as placas incubadas entre 48 à 72 horas em estufa à 37ºC. Após o procedimento,
foram mensurados os halos de inibição formados pelos controle positivo, controle negativo e pelo
extrato em estudo.

2.5.2 Determinação da CIM e CFM do extrato de Psidium guajava L.


Em tubos estéreis de vidro foram adicionados 1mL de caldo BHI. Em seguida, foram
adicionados 1mL o extrato em estudo no primeiro tubo até a proporçāo de 1/256 nos outros tubos
(diluiçāo seriada). Foram adicionados 20µL das suspensões fúngicas preparadas conforme o item
2.5.1 em todos os tubos. Após o período de 48-72 horas em estufa à 37ºC, foram adicionados 20µL
do agente revelador (7-hidroxi-3H-fenoxazina-3-ona 10-óxido - resazurina 0,01%) em todos os
tubos. O controle positivo consistiu em 1mL do caldo BHI, 20µL de suspensão fúngica, 20µL de
suspensão oral de nistatina (100.000 UI/mL). O controle negativo consistiu em 1ml de caldo BHI,
1mL do etanol 70% e 20µL de suspensão fúngica. O controle de crescimento consiste apenas em 10
mL do caldo BHI e 20µL de suspensão fúngica. Após a determinação da concentração inibitória
mínima (CIM), retirou-se uma alíquota dos tubos que nāo relevaram crescimento microbiano pelo
agente revelador (Determinação da CFM) e fez-se um espalhamento para uma placa de Ágar

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Sabouraud (com o auxílio de uma alça de platina). Foi observado após incubação de 48-72 horas
quais concentrações houveram ausência de crescimento fúngico. O procedimento foi realizado em
triplicata (Valgas et al., 2007).

2.6 - Formulação dos bioprodutos obtidos a partir do extrato de Psidium guajava L.


Liofilizou-se o extrato e formulou-se os bioprodutos (creme aniônico 1%, 5% e 10%, e
solução 10%) a partir destes.
A composição do creme aniônico foi idealizada conforme descreve a RDC/222/2005: na
fase oleosa, utilizou-se álcool cetoestearílico 8%, cetil estearil sulfato de sódio 5%, vaselina líquida
3% e cetiol (oleato de decila) 2,5%. Na fase aquosa, utilizou-se glicerina 5% e água destilada qsp.
A composição da solução foi idealizada conforme descreve a RDC/222/2005, utilizando-se:
propilenoglicol 15%, álcool etílico 10%, extrato 10% e água destilada qsp.

2.7 - Testes in vitro dos bioprodutos obtidos a partir do extrato de Psidium guajava L
Em tubos estéreis de vidro foram adicionados 1mL de caldo BHI. Em seguida, foram
adicionados 1mL do bioproduto em estudo no primeiro tubo até a proporçāo de 1/256 nos outros
tubos (diluiçāo seriada). Foram adicionados 20µL das suspensões fúngicas preparadas conforme o
item 2.5.1em todos os tubos. Após o período de 48-72 horas em estufa à 37ºC, foram adicionados
20µL do agente revelador (7-hidroxi-3H-fenoxazina-3-ona 10-óxido - resazurina 0,01%) em todos
os tubos. O controle positivo consiste em 1mL do caldo BHI, 20µL de suspensão fúngica, 20µL de
suspensão oral de Nistatina (100.000 UI/ml). O controle negativo consiste em 1mL de caldo BHI,
1mL da base do bioproduto (base do creme nāo iônico ou base da soluçāo) e 20µL de suspensão
fúngica. O controle de crescimento consiste apenas em 10 mL do caldo BHI e 20µL de suspensão
fúngica. Após a determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM) foi retirada em uma placa
de Ágar Sabouraud, uma alíquota (com o auxílio de uma alça de platina) dos tubos que nāo
relevaram crescimento microbiano pelo agente revelador (Determinação da CFM). Foi observado
após incubação de 48-72 horas quais concentrações houveram ausência de crescimento fúngico. O
procedimento foi feito em triplicata (Valgas et al., 2007).

2.8 – Estudo de estabilidade dos bioprodutos obtidos a partir do extrato de Psidium guajava L
Nas formulações foram avaliados parâmetros de estabilidade preliminar dessas formulações,
visando avaliar a compatibilidade das formulações com os componentes dos produtos vegetais e a
qualidade em longo prazo (ANVISA, 2008). Testes de avaliação de pH, viscosidade, centrifugação,
aspecto sensoriais, com alíquotas a temperatura ambiente, refrigeração e em estufa 37ºC.

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Uma amostra de 10 mL dos bioprodutos formulados foi centrifugada durante 30 minutos na
velocidade de 3600 rpm para a primeira avaliação (Tempo zero – T0). Dependendo da
estabilidade do bioproduto, este foi reformulado ou nāo. As formulações foram destinadas à
diferentes condições de temperatura e umidade para uma segunda avaliação:
• Geladeira à temperatura de 5± 2 °C
• Temperatura ambiente ao abrigo da luz
• Estufa (37 ± 2 °C)
Nos tempos de 24, 48, 72 horas, 7, 14, 21 e 28 dias, as amostras foram avaliadas em
parâmetros físico-químicos (valor de pH e viscosidade). Parâmetros organolépticos também foram
levado em consideração: aspecto, cor e odor, e comparadas com a amostra da avaliação inicial
(ANVISA, 2008).

2.9 Controle de qualidade microbiológico dos bioprodutos obtidos a partir do extrato de


Psidium guajava L
O produto foi diluído nas proporções 1:10, 1:100 e 1:1000 em solução salina 0,9 % e
posteriormente 1,0 mL desse diluído foi retirado para análise de contagem de microrganismos
heterotróficos pela técnica de pour plate em meio PCA (plate count agar), técnica dos tubos
múltiplos pela aplicação de 1,0 mL do diluído em meios líquidos lauryl, EC caldo (coliformes
termotolerantes), verde brilhante (coliformes totais), respectivamente, além disso, realizou-se a
pesquisa para verificação de crescimento fúngico pela técnica de spread plate em meio sabouraud
pela retirada de 100μL do diluído e espalhamento com alça de dringalski na superfície do meio. As
placas de PCA e sabouraud foram encubadas em estufa bacteriológica 37°C por 24 horas e até 48
horas para o meio Sabouraud, e os tubos múltiplos foram levados ao BanhoMaria Sl 150
(SOLAB®) temperatura controlada de 37°C por 24 horas para os meios lauryl e verde brilhante e ,
EC caldo 44, 5°C por 24 horas. Transcorrido o tempo de incubação observou-se o aparecimento ou
nāo de bolhas nos tubos de Durham e o crescimento ou nāo de microrganismos nos meios PCA e
Sabouraud e contagem de colônias do crescimento. No caso de crescimento microbiano nos meios
EC e VB, estes seriam semeados em meio cetrimida e posteriormente ao meio Macconkey, além de
realizar provas bioquímicas para a identificação, como EPM, Mili e Citrato. Todos os testes foram
realizados em triplicata. (Farmacopeia brasileira, 2010).

2.10 Atividade hemolítica dos bioprodutos obtidos a partir do extrato de Psidium guajava L
Realizou-se o teste hemolítico conforme o proposto por Nunes (2014), com modificações.
Submeteu-se um concentrado de hemácias a lavagens com tampão PBS (Tampão Fosfato-Salino)
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com pH 7.4. Centrifugou-se as amostras a 200 rpm por 10 minutos e obteve-se uma suspensão de
hemácias a 1%.
Fez-se diluições sucessivas em tubos contendo 500 µL tampão PBS até a proporção de 1:32
(obtendo-se concentrações finais variantes de 0.3 a 4.8 mg /mL.). Adicionou-se às diluições 500 µL
da suspensão de hemácias a 1% em todos os tubos contendo o as amostras dos bioprodutos.
Aqueceu-se a mistura em banho-maria a 370C por uma hora.
Utilizou-se água destilada e suspensão de hemácias a 1% como controle positivo, já como
controle negativo utilizou-se a suspensão de hemácias a 1% com tampão PBS. A hemólise foi
analisada visualmente pela tonalidade avermelhada presente nos tubos.

2.11 Análise Estatística

Para a análise estatística foi usada Análise de Variância (ANOVA), quando apropriado,
seguida de Tukey, sendo que o nível de significância (α) deverá ser igual ou menor que 0,05.

3. RESULTADOS E DISCUSSĀO

3.1 Coleta e Identificação Botânica

Após a coleta das folhas de Psidium guajava L., obteve-se como resultado seu número de
registro sendo 01182.

3.2 Obtenção do Extrato Hidroalcoólico de folhas secas de Psidium guajava L.

Após a obtenção do extrato hidroalcoólico das folhas secas de Psidium guajava L., obteve-
se como resultado sua concentração que foi de 10,84 mg/mL. A partir desta concentração, formam
feitos os cálculos da concentração inibitória mínima (CIM) e concentração fungicida mínima (CIM)
após do teste de Macrodiluiçāo.

3.3 Estudo Químico do Extrato do extrato de Psidium guajava L.

No extrato de Psidium guajava L. submetido aos testes de prospecção fitoquímica para


determinação de classes de metabólitos secundários (Matos, 1997), foram identificados em maiores

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quantidades fenóis e taninos hidrolisáveis, bem como esteróides e saponinas. Encontrou-se também
alcaloides, flavonóis e flavanonas, porém estes em menores quantidades. (Quadro 1).
Quadro 1. Estudo fitoquímico do extrato de folhas secas de Psidium guajava L.
Metabólitos Extrato hidroalcoólico de Psidium guajava L*
Cumarina -
Fenóis +++
Taninos Hidrolisáveis +++
Taninos condensados -
Antocianinas e Antocianidinas -
Flavonas, Nantonas e Flavanóis -
Chalconas e Auronas -
Flavonóis +
Leucoantocianidinas -
Catequinas -
Flavanonas +
Alcalóides +
Triterpenoides -
Esteroides ++
Saponinas ++
*Legenda: A quantidade de cruzes expressa quantitativamente a presença dos metabólitos secundários. Fonte
elaborada pelo autor (2017).

Segundo a literatura, os grupos hidroxílicos presentes nos compostos fenólicos podem


formar pontes de hidrogênio com enzimas do metabolismo microbiano desativando-as e inibindo o
desenvolvimento da biomassa fúngica (Juglal, Govinden & Odhav, 2002), (Porte & Godoy, 2001).
As aplicações de drogas com taninos estão relacionadas, principalmente, com suas
propriedades adstringentes. Por via interna exercem efeito antidiarréico e anti-séptico; por via
externa impermeabilizam as camadas mais expostas da pele e mucosas, protegendo assim as
camadas subjacentes (Bruneto, 1991). Ao precipitar proteínas, os taninos propiciam um efeito
antimicrobiano e antifúngico. (Monteiro, 2005).
O estudo de Ríos et al., realizado em 1987 a partir de 88 plantas, mostrou que terpenos,
esteróides e flavonoides eram os responsáveis pela atividade antifúngica contra espécies do gênero
Candida.
As saponinas em solução aquosa formam espuma persistente e abundante. Essas atividades
provem do fato de apresentarem em sua estrutura uma parte lipofílica denominada aglicona ou
sapogenina e uma parte hidrofílica constituída por um ou mais açúcares (Schenkel et al., 2001). A
espuma formada é estável à ação de ácidos minerais diluídos, diferenciando-se dos sabões comuns.

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Alguns dos compostos saponósidos desorganizam a membrana dos glóbulos vermelhos do sangue,
o que pode levar à hemólise.
O estudo de Souza et al., realizado em 2006, mostrou que a presença dos alcalóides na
Aspidosperma ramiflorum eram os responsáveis por sua propriedade antifúngica.
Vários estudos demonstram o papel dos flavonóides na defesa vegetal contra patógenos, seja
como componentes pré-formados ou ainda como fitoalexinas (Lobo, 2013). As classes de
flavonoides mais frequentemente associadas com atividade antifúngica são: flavanonas; flavanas;
flavonas e flavonóis (Harborne & Grayer, 1994; Harborne & Williams, 2000).
A acidez da maioria dos vegetais, geralmente confere proteção suplementar contra a
contaminação por microrganismos provenientes do solo, pó ou insetos. (Souza et al., 2010). O
extrato de Psidium guajava L. em estudo, apresentou um baixo pH, podendo este também ser um
fator para sua significativa atividade antifúngica.

3.4 Testes in vitro do extrato de Psidium guajava L.

3.4.1 Teste de difusão em ágar do extrato de Psidium guajava L.

Comparou-se a atividade antifúngica do extrato de Psidium guajava L. com o controle


positivo (Nistatina - 100.000 UI/mL), contra todas as leveduras do gênero Candida em estudo
quando comparados ao álcool etílico 70% (controle negativo). Obteve-se as maiores médias dos
halos de inibição (24,6mm) frente a Candida albicans ATCC 90028. Entretanto, o isolado clínico
Candida glabrata foi a que demonstrou diferença estatística mais significativa entre o controle
positivo e o extrato de Psidium guajava L. Em todos os microrganismos testados, o extrato
apresentou um halo de inibição superior ao próprio controle positivo, mostrando assim, sua
significativa capacidade antifúngica. (Tabela 1).

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Tabela 1. Atividade antimicrobiana in vitro do extrato de folhas secas de Psidium guajava L.
(Goiabeira) pela técnica de difusão em ágar frente Candida sp. Diâmetro dos halos formados (mm).
Microrganismos EH1 CP2 CN3

24.666± 22,33± 1,4529 0


Candida albicans (ATCC 90028)
0.8819

23.6667± 18,66± 0,8819 0


Candida glabrata(IC)
0.8819

Candida parapsiliosis(IC) 22.3333± 2.4037 20± 2,5166 0

Candida tropicalis(IC) 21.6667± 1.2019 19± 3,7859 0

F ratio = 1,59 p value :0,2177 α: 0,05

Legenda: EH1 Halo de inibição formado com a utilização do extrato hidroalcoólico de Psidium guajava L.;
CP2 – controle positivo – Nistatina 100.000 UI/MI (mm); CN3 – controle negativo – álcool etílico 70%.
Valores expressos como média ± erro padrão (Teste one-way ANOVA). Fonte: Autor (2017).

3.4.2 Determinação da CIM e CFM do extrato de Psidium guajava L.

Os resultados referentes à técnica de macrodiluiçāo para a determinação da CIM e da CMF


demonstraram que o extrato em estudo apresentou atividade antifúngica frente à todas das espécies
de Candida testadas, em que as Concentrações Inibitórias Mínimas (CIM’S) variaram de 0,0846
mg/mL e 0,6775 mg/mL e as Concentrações fungicida mínimas variaram de 0,6775 mg/mL e 5,42
mg/mL. Estes resultados foram conduzidos através de cálculos a partir da concentração obtida do
extrato (Tabela 2).
Tabela 2. Análise da Concentração Inibitória Mínima (CIM) e Concentração Fungicida Mínima
(CFM) do extrato de Psidium guajava L. frente Candida sp.
CIM e CFM (mg/mL)

Microrganismos CIM1 CFM2 CN3

Candida albicans (ATCC 90028) 0,0846 0,6775 -

Candida glabrata(IC) 0,6775 5,42 -

Candida parapsilosis (IC) 0,33875 1,355 -

Candida tropicalis(IC) 0,33875 1,355 -

Legenda: CIM1: Concentração Inibitória Mínima; CFM2: Concentração Fungicida Mínima do extrato de
Psidium guajava L.; CN3 – Controle Negativo: Álcool etílico .70% Fonte: elaborada pelo autor (2017).

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Os testes de sensibilidade in vitro, para fungos, não têm sido empregados rotineiramente,
contudo, eles são de grande importância para a verificação de resistência destes microrganismos,
para o controle da terapêutica antimicótica e para pesquisa de novas substâncias alternativas para o
tratamento, como por exemplo, a utilização de extratos vegetais. (Cury et al., 1989; Souza et al.,
1990; Oliveira et al., 2006).
Um estudo de Pessini et al. (2003) analisou 13 extratos de diversas plantas de uso popular no
Brasil, verificando que a espécie Psidium guajava foi uma das mais ativas frente às leveduras C.
albicans, C. krusei, C. parapsilosis e C. tropicalis.
Cárceres et al.,1991 relatam que a goiabeira apresenta atividade antimicótica, através do
macerado hidroalcoólico de suas folhas contra Candida albicans, Candida krusei, Candida
parapsilosis e Candida stellatoidea, fato este também comprovado neste experimento in vitro.

3.5 Estudo de estabilidade dos bioprodutos obtidos a partir do extrato de Psidium guajava L

Após a formulação do creme aniônico e a solução incorporados com o extrato liofilizado de


folhas secas de Psidium guajava L., seguindo-se a RDC 222/2005, fez-se o teste preliminar de
estabilidade preconizado pela ANVISA (2004).
Como resultado, obteve-se que tanto a base do creme quanto o creme aniônico incorporado
com o extrato em estudo, mantiveram-se estáveis após a centrifugação (3600 rpm durante 30
minutos). A solução formulada também se apresentou estável após centrifugação nas mesmas
condições.
Os emulsionantes aniônicos se dissociam em solução aquosa formando íons carregados
negativamente, mantendo o extrato mais estável que o creme não-iônico (Farmacopeia Brasileira
2.ed., 2012). Por este fato, optou-se pelo creme aniônico (Lanette®) ao realizar o estudo.
As amostras do creme aniônico nas três concentrações testadas (1%, 5% e 10%) foram
levadas à diferentes temperaturas (estufa à 37°C, temperatura ambiente aproximadamente à 24°C e
geladeira aproximadamente à 4°C), por 28 dias.
Outros parâmetros foram levados em consideração ao avaliar a estabilidade do creme
incorporado: organolépticos (aspecto, cor e odor) e físico-químicos (pH e viscosidade).
Os resultados obtidos no presente trabalho demonstram que de acordo com os parâmetros
organolépticos, as amostras mantiveram o mesmo aspecto (semi-sólido), cor (verde) e odor
característico nas três diferentes temperaturas por aproximadamente 15 dias.

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Após esse período, as amostras que estavam na estufa e em temperatura ambiente tornaram-
se ressecadas e as amostras que estavam na geladeira tornaram-se mais viscosas.
De acordo com o parâmetro físico-químico, as amostras das três concentrações em estudo,
apresentaram o mesmo pH (5,5) durante todo o tempo de análise e uma baixa viscosidade no início
da avaliação, que ao passar dos dias, tornou-se de média/alta viscosidade (Quadro 2).
Quadro 2. Análise dos parâmetros organolépticos e físico-químicos do creme aniônico (1%,5% e
10%) e soluçāo (10%) incorporados com o extrato da folha de Psidium guajava L.

Conccentração
Estufa Geladeira Temp. ambiente
1%, 5% e 10%
Aspecto: Semi- Aspecto: Semi- Aspecto: Semi-
Parâmetros sólido/fluido sólido/fluido sólido/fluido
organolépticos Cor: Verde Cor: Verde Cor: Verde
Odor: Característico Odor: Característico Odor: Característico
Ph: 5,5 Ph: 5,5 Ph: 5,5
Parâmetros físico-
Viscosidade: pouca Viscosidade: Viscosidade:
químicos
variação pouca variação pouca variação

Tempo T0 – T28 T0 – T28 T0 – T28

Legenda: T0- Tempo zero/ Avaliação inicial; T28 - 28 dias; Fonte elaborada pelo autor (2017).

As amostras da solução testada na concentração de 10% foram levadas à diferentes


temperaturas (estufa à 37°C, temperatura ambiente aproximadamente à 24°C e geladeira
aproximadamente à 4°C), mantendo-se estáveis por 28 dias.
Os parâmetros organolépticos (aspecto, cor e odor) e físico-químicos (pH e viscosidade)
também foram levados em consideração ao avaliar sua estabilidade.
Os resultados obtidos demonstram que de acordo com os parâmetros organolépticos, as
amostras mantiveram o mesmo aspecto (líquida/fluida), cor (verde) e odor característico nas três
diferentes temperaturas por aproximadamente 28 dias.
Nāo foi feita uma análise em tempo superior a este devido ao risco de contaminação
microbiológico que esta solução poderia apresentar.
De acordo com o parâmetro físico-químico, as amostras das três concentrações em estudo,
apresentaram o mesmo pH (5,5) durante todo o tempo de análise. Quanto à sua viscosidade, nāo
observou-se nenhuma alteração durante todo o tempo de análise. (Quadro 2).

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3.6 Testes in vitro dos bioprodutos obtidos a partir do extrato de Psidium guajava L

3.6.1 Determinação da CIM e CFM dos bioprodutos obtidos a partir do extrato de Psidium
guajava L

Os resultados obtidos demonstram atividade antifúngica tanto do creme aniônico como da


solução obtida a partir do extrato de Psidium guajava L. contra leveduras do gênero Candida,
indicando a possibilidade de novos produtos a serem utilizados no tratamento de infecções fúngicas.
Os resultados referentes à técnica de macrodiluiçāo para a determinação da CIM e da CMF
do creme aniônico nas concentrações de 1%, 5% e 10% demonstraram que o extrato em estudo
apresentou atividade antifúngica frente à todas das espécies de Candida analisadas.
As concentrações inibitórias mínimas (CIM’S) do creme aniônico na concentração de 1%
foi de 5 mg/mL em todas as espécies de Candida testadas. Nesta concentração de 1%, nāo obteve-se
concentração fungicida mínima (CFM), indicando que o bioproduto é somente fungistático. (Tabela
3).
Tabela 3. Análise da Concentração Inibitória Mínima (CIM) e Concentração Fungicida Mínima
(CFM) do creme aniônico nas concentrações de 1%,5% e 10% e soluçāo 10% incorporados com
extrato de Psidium guajava L. frente Candida sp.

Concentração inibitória mínima (mg/ml)

Microrganismo CR11 CR22 CR33 SOL4

Candida albicans (ATCC 90028) 5 6,25 12,5 50

Candida glabrata(IC) 5 25 12,5 25

Candida parapsilosis(IC) 5 25 12,5 25

Candida tropicalis(IC) 5 25 12,5 50

Legenda: CIM do creme aniônico nas concentrações de 1%,5% e 10% e soluçāo 10% incorporados com
extrato de Psidium guajava L.; CN – Controle Negativo: Base do creme aniônico ou base da soluçāo. Fonte:
elaborada pelo autor (2017).

As concentrações inibitórias mínimas (CIM) do creme aniônico na concentração de 5% foi


de 6,25 mg/mL na Candida albicans ATCC. Já na Candida glabrata, Candida parapsilosis e
Candida tropicalis (isolados clínicos), obteve-se uma CIM de 25mg/mL. Nesta concentração de
5%, nāo obteve-se concentração fungicida mínima (CFM), indicando que o bioproduto é somente
fungistático. (Tabela 3).

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As concentrações inibitórias mínimas (CIM’S) do creme aniônico na concentração de 10%
foi de 12,5 mg/mL em todas as espécies de Candida testadas. Nesta concentração de 10%, nāo
obteve-se concentração fungicida mínima (CFM), indicando que o bioproduto é somente
fungistático. (Tabela 3).
Os resultados referentes à técnica de macrodiluiçāo para a determinação da CIM e da CMF
da solução formulada na concentração de 10% demonstraram que o extrato em estudo apresentou
atividade antifúngica frente à todas das espécies de Candida testadas.
As concentrações inibitórias mínimas (CIM’S) da solução formulada na concentração de
10% foi de 50 mg/mL nas Candida albicans ATCC e Candida tropicalis (isolado clínico). Já na
Candida glabrata e Candida parapsilosis (isolados clínicos), obteve-se uma CIM de 25 mg/mL em
ambas. Nesta concentração de 10%, nāo obteve-se concentração fungicida mínima (CFM),
indicando que o bioproduto é somente fungistático (Tabela 3).

3.7 Controle de qualidade microbiológico dos bioprodutos obtidos a partir do extrato de


Psidium guajava L

Analisou-se ausência de contaminantes, através da ausência de turbidez e apresentação de


gás no tubo de Durham na técnica dos tubos múltiplos (Lauryl, EC Caldo e Verde Brilhante), e
ausência de colônias de crescimento pelas técnicas de plaqueamento em profundidade (Pour Plate) e
de espalhamento em superfície (Spread Plate) na avaliação dos padrões de qualidade
microbiológicos dos bioprodutos.
Obteve-se ausência de contaminantes tanto no creme aniônico (1%, 5% e 10%) quanto na
soluçāo (10%) com o extrato de folhas de Psidium guajava L.
A contaminação microbiana de um produto pode acarretar alterações em suas propriedades
físicas e químicas e ainda caracteriza risco de infecção para o usuário. Assim, produtos
farmacêuticos de uso oral e tópico (cápsulas, comprimidos, suspensões, cremes, adesivos, etc.) que
não têm como requerimento serem estéreis devem estar sujeitos ao controle de contaminação
microbiana. A garantia da qualidade e o controle de fabricação previstos nas boas práticas devem
garantir que o produto cumpra as especificações determinadas, isto é, que atendam além de outros
parâmetros, aos limites aceitáveis para microrganismos (Farmacopeia brasileira, 2010).
O estudo do controle microbiológico do creme manipulado com extrato de goiaba mostra-se
adequado, pois além de determinar o número de microrganismos viáveis, permite a identificação de
contaminantes originários da matéria-prima e outros materiais utilizados, do próprio
desenvolvimento da formulação, bem como do material de acondicionamento (Ilha, et al., 2008).

2535
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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

3.8. Atividade hemolítica dos bioprodutos obtidos a partir do extrato de Psidium guajava L
Observou-se precipitação de hemácias nos tubos contendo as amostras dos bioprodutos
obtidos a partir do extrato hidroalcoólico de Psidium guajava L em todas as concentrações testadas,
o que indica a ausência da atividade hemolítica em todas as concentrações testadas no presente
estudo, e consequentemente, um baixo risco de toxicidade.
Metabólitos secundários tais como Taninos, Alcalóides e Saponinas sāo compostos de
defesa química cujo efeito é dependente da dosagem, sendo caracterizados principalmente por sua
função anti-herbívoria, precipitando proteínas no trato intestinal dos herbívoros, ou mesmo
apresentando função hemolítica, atividade exclusiva das Saponinas (Kutchan, 2001).
A atividade mais comum da Saponina é a capacidade de produzir hemólise. Essa
propriedade é resultado da interação das suas moléculas com colesteróis presentes na membrana das
células resultando na mudança conformacional da membrana promovendo o rompimento celular e
liberação de hemoglobina, o que confere ao vegetal se proteger contra ataques de predadores como
insetos, e até mesmo vírus, fungos e bactérias (Bruneton, 1999).
A habilidade dos Taninos de interagirem com proteínas e outras macromoléculas lhe
conferem atividades tóxicas, aglutinantes, protegendo contra a herbivoria (Monteiro et al., 2006).
De acordo com os metabólitos secundários encontrados no extrato de folhas secas de
Psidium guajava L (Quadro 1), observa-se a forte presença de Taninos hidrolisáveis (3+) e a
presença moderada de saponinas (2+). Todavia, os bioprodutos nāo apresentaram atividade
hemolítica. Acredita-se que este fato deve-se à baixa concentração deste metabólitos nos
bioprodutos, o que nāo exclui a ausência de citotoxicidade, já que concentrações maiores ainda nāo
foram testadas e ainda há poucos estudos com a espécie encontrados na literatura.

3.9 Análise estatística


Após a realização do teste de Difusão em Ágar, observou-se atividade de inibição em todas
as espécies testadas, com halos formados estatisticamente significantes em relação ao controle
positivo (Tabela 1).

4. CONCLUSĀO
Os resultados do estudo revelaram que os bioprodutos obtidos a partir do extrato das folhas
de Psidium guajava L. possuem potencial antifúngico sendo possível a aplicação destes na
prevenção e tratamento de doenças infecciosas de origem fúngica.

2536
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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Os principais achados metabólicos como fenóis, taninos hidrolisáveis, esteróides e saponinas
explicam a atividade encontrada no bioproduto estudado.
Entretanto, são necessários estudos posteriores acerca da toxicidade, mecanismos de ação,
testes pré-clínicos, e clínicos, como suporte de segurança na perspectiva de uma possível aplicação
terapêutica destes produtos.

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Fadul, J. C. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2520 – 2539, 2018
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW

Fibromialgia: Cenário atual do tratamento medicamentoso e não


medicamentoso

Estela Schiavini Wazenkeski1, Áurea Pandolfo Correa1 , Andrea Moraes de Oliveira1, Lidiane
Santos1 & Alessandra Hubner de Souza1,2*

1 – Curso de Farmácia da Universidade Luterana do Brasil;


2 – Programa de Pós-Graduação em Genética e Toxicologia Aplicada da Universidade Luterana do Brasil.

Autor Correspondente: Alessandra Hubner de Souza. Universidade Luterana do Brasil, Av.


Farroupilha, nº 8001, Bairro São José, CEP: 92425-900, Canoas, Rio Grande do Sul.
Fone geral: 55 51 3477-4000 Fax: 55 51 3477-1313
E-mail: alessandrahubnersouza@gmail.com
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW

RESUMO

A fibromialgia é considerada uma síndrome dolorosa músculo-esquelética crônica, não-


inflamatória, caracterizada com sintomas de dor, distúrbio do sono, rigidez matinal, fadiga e
depressão por pelo menos três meses. O presente estudo objetiva apresentar o cenário atual da
eficácia dos tratamentos farmacológicos e não farmacológicos disponíveis a saúde. Foi realizada
uma revisão bibliográfica nas bases de dados da Scielo, Medline, Elsevier e Pubmed. A prevalência
desta doença é de aproximadamente 2% da população geral e a sua fisiopatologia não está bem
esclarecida. O tratamento medicamentoso deve ser individualizado para cada paciente, baseado na
intensidade da dor e dos sintomas. Os agentes mais utilizados são antidepressivos tricíclicos,
inibidores de recaptação de serotonina e inibidores de recaptação de serotonina e noradrenalina,
moduladores de canais de cálcio e hipnóticos. Dentre esses fármacos aprovados pela ANVISA com
indicação para a fibromialgia estão somente a pregabalina e a duloxetina. Quanto ao tratamento não
farmacológico são indicados atividade física, principalmente aeróbica, fisioterapia e terapia
psicológica. A associação de terapias tem se mostrado eficaz no controle da patologia. Diante de
tantos sintomas através de uma avaliação individual de cada paciente e de tantas opções de
tratamento farmacológicos e não-farmacológicos, torna-se necessário realizar um tratamento
individualizado para a verificação do melhor tratamento.

Palavras chave: Fibromialgia, Tratamento Medicamentoso, Terapia Combinada.

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Wazenkeski, E. S. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2540 – 2562, 2018
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW

ABSTRACT

Fibromyalgia is considered a chronic, painful musculoskeletal syndrome, non-inflammatory,


characterized by symptoms of pain, sleep disorders, morning stiffness, fatigue and depression for at
least three months. The objective of this research is to present the current scenario of the
effectiveness of non-pharmacological and pharmacological treatments available to health. A
literature review was conducted in the databases Scielo, Medline, Pubmed and Elsevier. The
prevalence of this disease is approximately 2% of the general population and its pathophysiology is
not well understood. Drug treatment must be individualized for each patient, based on the intensity
of pain and symptoms. The agents most commonly used are tricyclic antidepressants, serotonin
reuptake inhibitors, serotonin and noradrenaline reuptake inhibitors, calcium channel modulators
and hypnotics. Among these drugs approved by ANVISA with indication for a fibromyalgia is only
a pregabalin and a duloxetine. As for the non-pharmacological treatment are indicated physical
activity, especially aerobic, physical therapy and psychological therapy. The combination therapy
has proven effective in controlling the pathology. Faced with so many symptoms through an
individual assessment of each patient and many pharmacological and non-pharmacological
treatment options, it is necessary to perform an individualized treatment to verify the best treatment.

Keywords: Fibromyalgia , Drug Therapy, Combined Modality Therapy

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Wazenkeski, E. S. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2540 – 2562, 2018
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW
INTRODUÇÃO

A fibromialgia (FM) é considerada uma síndrome dolorosa musculoesquelética crônica, não


inflamatória, caracterizada pela sensibilidade exacerbada à palpação de determinados sítios,
denominados como pontos dolorosos (tender points) e pela presença de dor difusa pelo corpo
(Scotton et al., 2010). É geralmente acompanhada por fadiga, pouca qualidade de sono, perda de
memória e dificuldade na condução das atividades diárias (Jay & Barkin, 2015).
Estudos sobre a FM são relativamente novos, pesquisas importantes foram iniciadas a partir
dos anos 1980, e hoje temos vários aspectos a ser investigados para poder delinear todo o curso da
doença, como por exemplo: etiologia, fisiopatologia, tratamento e as terapias analgésicas para o
tratamento de dor crônica musculoesquelética (Heymann et al., 2010).
A fibromialgia é uma doença reumática progressiva, cuja fisiopatologia não é bem definida,
porém, existem três mecanismos fisiopatológicos básicos que são atualmente propostos para a FM,
tais como: alterações no processo da dor, disfunções neuroendócrinas e disautonomia (Clauw, 2009;
Ablin, Neumann & Buskila, 2008; Coaccioli et al., 2008).
Embora tenha sido visto um esforço para determinar a etiopatogenia da FM, o seu
tratamento continua sendo um desafio para os profissionais da saúde. O principal aspecto está na
melhora do controle da dor e na visualização do aumento ou da manutenção das habilidades
funcionais em casa ou no trabalho, seguida da redução de outras manifestações que causam
sofrimento a esses pacientes (Alarcón & Bradley, 1998).
Por ter caráter crônico e múltiplos sintomas, o tratamento recomendado aos portadores dessa
doença é baseado na abordagem interdisciplinar, com intervenções não só âmbito físico, mas
também no farmacológico, no cognitivo-comportamental e no educacional (Ricci, Dias & Driusso,
2010).
Os sintomas prevalentes da patologia envolvem a sensação de rigidez, distúrbio do sono,
fadiga, parestesias, dificuldade de memória, palpitação, tontura, sensação de inchaço, dor torácica,
zumbido, enjoos e fenômeno de Raynaud. A sintomatologia pode se alterar de acordo com fatores
moduladores, como grau de atividade física, alterações climáticas e estresse emocional (Castro,
Kitanishi & Skare, 2012).
Além disso, os estudos demonstram forte evidência na efetividade dos tratamentos não-
farmacológicos, podendo utilizar meios físicos, como calor, massagem e eletroterapia; também
estão incluídos condicionamento físico, acupuntura e infiltrações dos pontos dolorosos (Kaziyama
et al., 2009).

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Wazenkeski, E. S. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2540 – 2562, 2018
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW
Nesse contexto, objetivou-se com esta pesquisa apresentar o cenário atual da eficácia dos
tratamentos farmacológicos e não farmacológicos para a síndrome de fibromialgia, por ser uma
patologia com prevalência no mundo e seu tratamento continuar sendo um desafio para os
profissionais da saúde.

METODOLOGIA

Este trabalho foi elaborado através de uma investigação bibliográfica realizada nas
bibliotecas eletrônicas Scielo, Medline, Elsevier, Pubmed, utilizando as seguintes palavras-chaves,
em português e em inglês: fibromialgia, tratamento farmacológico e tratamento não farmacológico,
diagnóstico, etiologia e fisiopatologia. Como campo de pesquisa foram utilizados “abstracts” e
“resumos”. Foram incluídos na pesquisa os estudos clínicos, os relatos de casos, a meta-análise e a
revisão de literatura dos últimos anos.
Também foram utilizadas notícias e documentos como o Protocolo Clínico e Diretrizes
Terapêuticas da Dor Crônica (PCDTDC), estabelecido em 2012 pelo Ministério da Saúde.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Epidemiologia e Diagnóstico

A prevalência dessa doença é de aproximadamente 2% na população geral; é responsável


por aproximadamente 15% das consultas em ambulatórios de reumatologia, e 5% a 10% nos
ambulatórios de clínica geral. A maior prevalência encontra-se entre 30-50 anos, podendo ocorrer
também na infância e na terceira idade. Pode-se encontrar associada a 25% das artrites reumatoides,
30% dos lúpus eritematosos sistêmicos e 50% das síndromes de Sjögren. (Provenza et al., 2014).
A FM foi reconhecida como doença pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1992,
descrita na Classificação Estatística Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde
(CID-10) com o código M79.0 (Belenguer et al, 2009).
Os critérios para a classificação da FM foram publicados originalmente em 1990, pelo
Colégio Americano de Reumatologia (ACR, do inglês American College of Reumathology),
enfatizando dor crônica generalizada e sensibilidade em 11 ou mais pontos sensíveis, “tender
points”, de 18 possíveis. É caracterizada por desconforto doloroso no local após um dígito pressão
com intensidade de força equivalente a 4kg (Wolfe et al., 1990). Estes critérios destinaram-se para
investigações epidemiológicas e clínicas. Em 2010, os critérios foram revisados e desenvolveu-se

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ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW
um sistema para o diagnóstico clínico de FM baseado nos sintomas, não requerendo “tender points”
(Wolfe et al., 2010). Uma escala para a avaliação da gravidade de sintomas característicos de
fibromialgia também foi incluída nesta revisão. Em 2011, foi proposto um critério alternativo
destinado a estudos epidemiológicos, o qual inclui uma pesquisa de autorrelato (Wolfe et al., 2011).
O método diagnóstico mais completo e utilizado para confirmar triagens de identificação de
indivíduos com FM na população é determinado pelos critérios de classificação do American
College of Radiology (ACR) de 1990, 2010 e 2011, uma vez que o mesmo contempla uma ampla
gama de sintomas associados e com nível grande de confiabilidade (Wolfe et al., 2010). Essas
avaliações estabelecidas por último reconhecem a importância de uma medida quantitativa de dor, o
Widespread Pain Index (WPI), a incorporação dos sintomas no foco central dos critérios de
diagnóstico e a disponibilização de escalas para avaliar a seriedade dos sintomas (SS) e da dor
generalizada. Um paciente preenche esses critérios de diagnóstico da FM se as três condições forem
satisfeitas: 1) WPI com pontuação ≥ 7 e SS com uma classificação ≥ 5, ou então, WPI com uma
pontuação de 3-6 e SS com ≥ 9; 2) os sintomas estão presentes há pelo menos três meses; 3) o
paciente não possui uma outra doença que possa explicar essa dor (Wolfe et al., 2011).
Para pacientes que têm forte sugestão de diagnóstico de FM e não apresentem, pelos
critérios da ACR, o mínimo de 11 tender points, a Sociedade Americana de Dor recomenda que se
obtenham exames complementares, tais como: hemograma completo, velocidade de
hemossedimentação, função hepática, função tireoidiana (Medeiros et al., 2012).

Fisiopatologia

Apesar de a fisiopatologia da doença ser ainda desconhecida, várias hipóteses têm sido
apresentadas na literatura. Essas teorias envolvem inúmeros fatores, incluindo genéticos,
psicossociais e ambientais, além de anormalidades no sistema nervoso autonômico e
neuroendócrino (Hassett & Gevirtz, 2009).
Primeiramente, foi sugerido que a FM seria apenas resultado da somatização de distúrbios
psicológicos como baixa autoestima, ansiedade, transtorno bipolar, depressão maior, abuso de
substâncias e transtornos obsessivo-compulsivos e fatores psicossociais (Alambert et al., 2009).
Atualmente, tem sido aceito um modelo de fisiopatologia sugerindo que o distúrbio primário
na FM seria uma alteração em algum mecanismo central de controle da dor, o qual poderia resultar
de uma disfunção de neurotransmissores. Consoante o parecer de estudiosos, tal disfunção neuro-
hormonal incluiria uma deficiência de neurotransmissores inibitórios em níveis espinhais ou
supraespinhais (serotonina, encefalina, norepinefrina e outros), ou uma hiperatividade de

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neurotransmissores excitatórios (substância P, glutamato, bradicinina e outros peptídeos).
Possivelmente, ainda, ambas as condições poderiam estar presentes. Tais disfunções poderiam ser
geneticamente predeterminadas e desencadeadas por algum estresse não específico como, por
exemplo, uma infecção viral, estresse psicológico ou trauma físico (Junior, Goldenfum & Siena,
2012; Goldenberg, Burckhardt & Crofford, 2004; Bradley & McKendree-Smith, 2002).
Apesar de a FM não ser um processo inflamatório, é sabido que a origem de toda a dor
deriva de uma resposta inflamatória, com a qual as citocinas estão envolvidas. Nesse sentido, uma
disfunção imunológica do organismo, nomeada de um distúrbio no perfil de citocinas pró e anti-
inflamatórias, tem sido apontada, como uma possível causa da doença, mediante os sinais clínicos
de dor exorbitante apresentados pelos doentes (Fernandes, Mareco & Jaleco, 2012).
Segundo Zeigelboim e colaboradores (2011), existem estudos sobre o fluxo sanguíneo
cerebral por meio da tomografia computadorizada com emissão de fóton único, referindo uma
diminuição significativa do fluxo sanguíneo nas regiões bilaterais do tálamo e do núcleo caudado.
Além disso, existem evidências da participação genética, pois estudos demonstraram que
parentes de primeiro grau de indivíduos com essa condição apresentaram um risco oito vezes maior
de desenvolver a doença do que a população em geral (Arnold et al., 2004). O modo pelo qual a
doença é herdada é desconhecido, mas há descrição de associação com polimorfismos de diferentes
genes, em especial dos genes da proteína transportadora de serotonina ou 5-hidroxitriptamina, do
receptor dopaminérgico DR2 e da enzima de catecolamina o-metiltransferase (Buskila & Sarzi-
Puttini, 2006). Ainda, pacientes com fibromialgia apresentaram diferenças nos caminhos para
processamento da dor na sinalização de glutamina/glutamato e desenvolvimento axonal. Houve
também uma regulação positiva de várias vias inflamatórias e redução da regulação das vias
relacionadas à hipersensibilidade e alergia (Jones et al., 2016).

Tratamento medicamentoso

O tratamento medicamentoso deve ser individualizado para cada paciente baseando-se na


intensidade da dor, na presença ou ausência de outros sintomas ou comorbidades e no grau de
comprometimento funcional (Arnold et al., 2009).
Essa doença tem sido tratada por uma grande variedade de medicamentos, incluindo
antidepressivos, opioides, anti-inflamatórios não-esteroidais, sedativos, relaxantes musculares e
agentes anticonvulsivantes (Sarzi-Puttini et al., 2008).
Entre esses fármacos, os únicos aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA) com indicação para FM, são a pregabalina (anticonvulsionante modulador de canais de

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ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW
cálcio) e a duloxetina (antidepressivo inibidor de recaptação da serotonina e noradrenalina). É
importante registrar que os demais têm seu efeito comprovado (Martinez & Martinez, 2010).

Antidepressivos tricíclicos (ADT)

Foram os primeiros fármacos a serem utilizados na FM e ainda hoje são amplamente


empregados. É importante ressaltar que os custos de tratamento são muito menores com a
utilização dos ADT, como a amitriptilina e nortriptilina, em comparação com os outros
antidepressivos (Medawar & Matheus, 2012). Eles agem aumentando a concentração sináptica de
serotonia e/ou norepinefrina no sistema nervoso central, promovendo uma maior disponibilidade
desses neurotransmissores na fenda sináptica e, consequentemente, reduzindo a sinalização dolorosa
(Abeles et al., 2008). Nesse grupo, o principal representante no tratamento da FM é a amitriptilina,
sendo usada por curtos períodos e em baixas doses, agindo no controle da dor (Eich et al., 2012;
Scotton et al., 2010). Estudos realizados com pacientes mostraram que esses antidepressivos
apresentaram resultados com 25% a 30% de melhora em fibromiálgicos após algumas semanas.
Apesar disso, esses fármacos apresentam vários efeitos adversos, como boca seca, distúrbios
urinários e visuais, sonolência, cefaléia, tremor, distúrbios neurológicos, gastrintestinais e sexuais,
hipotensão postural, com risco grave de arritmia ventricular. É pertinente o registro de que as
interações medicamentosas são numerosas e superdoses podem ser fatais (Hoefler & Dias, 2010).
Embora os ADT sejam moderadamente eficazes, o uso desses compostos são limitados por
um relativo índice terapêutico estreito e por fraca tolerabilidade devido à afinidade por vários
receptores (Mease, 2009).

Antidepressivos inibidores de recaptação de serotonina

São mais bem tolerados, mas são inferiores aos ADTs no controle da dor persistente
fibromiálgica (Dharmshaktu, Tayal & Kalra, 2012). O medicamento de escolha é a fluoxetina em
altas doses, reduzindo a dor e melhorando a capacidade funcional e o bem estar do paciente
(Heymann et al., 2010). Seus efeitos colaterais mais frequentes são náusea, sedação, cefaleia,
diminuição da líbido e disfunção sexual. Quando associada com a amitriptilina, pode potencializar
sua ação, provocando alívio na dor, do sono e bem-estar geral (Gomes & Campos, 2010).

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Antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina e noradrenalina

Dessa classe os principais representantes são duloxetina e milnaciprano. Embora duloxetina


tenha afinidade para ambos os receptores, ela é um pouco mais seletiva para o transportador da
serotonina. Em contraste disso, milnaciprano é um pouco mais seletivo na inibição da recaptação de
norepinefrina e serotonina. Fármacos que atuam especificamente na recaptação de serotonina e
noradrenalina são ferramentas no tratamento dessa patologia (Mease, 2009).
A duloxetina demonstrou melhorar significativamente a intensidade da dor, o número de
pontos dolorosos e diversas medidas de qualidade de vida no paciente. O seu efeito na dor pareceu
ser independente do seu efeito no humor (Almeida et al., 2010). Estudo recente propõe que a
introdução desse medicamento para o tratamento de FM é útil não só por proporcionar benefícios
adicionais em relação ao tempo gasto no controle da dor, mas também é rentável em relação ao
custo-eficácia, quando comparado com os tratamentos geralmente adotados. Como a maioria dos
antidepressivos, esse medicamento possui efeitos colaterais como sonolência, náuseas, boca seca,
vômitos e sudorese noturna (Beard et al., 2011; Russel et al., 2008).
Já o cloridrato de milnaciprano atua sobre as aminas biogênicas e exerce leve inibição sobre
dos receptores N-metil-D-aspartato (NMDA) (Mease et al., 2009). Esse medicamento foi aprovado
pela Food and Drug Administration (FDA) para o tratamento de FM. Essa indicação foi baseada em
dois ensaios aleatórios controlados, duplamente cegos, de fase III, que de mostraram a eficácia do
milnaciprano tanto na redução da dor, como na melhoria do bem-estar geral e da capacidade
funcional dos pacientes. Os efeitos adversos mais comuns observados nos doentes tratados com esse
medicamento foram náuseas e dores de cabeça (Han et al., 2011; Almeida et al., 2010).

Medicamentos miorrelaxantes

A ciclobenzaprina é um relaxante muscular que apresenta estrutura semelhante à dos


antidepressivos tricíclicos, mas sem ação antidepressiva. Ele atua reduzindo a função
noradrenérgica central e atividade do neurônio motor eferente. Apresenta alta ocorrência de efeitos
colaterais em doses maiores, como cansaço, náusea e sonolência. (Abeles et al., 2008). Em estudos
realizados por Tofferi e colaboradores (2004), eles relatam que pacientes tratados com este
medicamento apresentaram melhorias com relação ao sono e à dor, respectivamente, mas sem
melhorias na fadiga ou pontos dolorosos.

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Outro miorelaxante é a tizanidina que atua centralmente no receptor α2-adrenérgico na
medula espinal e em centros suprassegmentares. Estudos indicam que esse medicamento
proporciona decréscimo de dor, melhora da mobilidade e bem-estar (Kaziyama et al., 2009).

Opioides

Há controvérsias sobre a sua utilização no tratamento da FM devido a risco de uso abusivo


desses medicamentos (King et al., 2005). O principal medicamento dessa classe no tratamento da
FM é o tramadol, associado ou não ao paracetamol. Geralmente, a associação de ambos tem se
mostrado eficaz no controle da dor, mostrando uma redução de 50% na escala da dor. Essa
combinação de medicamentos é uma boa opção no início do tratamento, enquanto o fármaco de
base ainda não apresenta o efeito desejado, nas exacerbações dolorosas ou nos casos de difícil
controle da sintomatologia dolorosa. O mecanismo de ação do tramadol se assemelha ao de um
antidepressivo inibidor da recaptação da serotonina e noradrenalina, pois sua ação opioide é
extremamente fraca (Ornelas et al., 2012; Heymann et al., 2010). Os seus efeitos colaterais mais
comuns são tontura, sonolência e problemas gastrointestinais, como náuseas e prisão de ventre
(Thomas & Gunten, 2009).

Moduladores de canais de cálcio (alfa-2-ligantes)

São os tipos de anticonvulsivantes mais estudados na FM. Seus representantes são


pregabalina e gabapentina (Chakr & Xavier, 2013).
A pregabalina diminui a liberação de neurotransmissores excitatórios da dor nas terminações
nervosas, particularmente a substância P e o glutamato. Os estudos demonstram alívio significativo
da dor, da fadiga, da ansiedade e dos distúrbios do sono com este fármaco (Espinoza, Herrera &
Treviño, 2009). A pregabalina pode ser uma excelente escolha para pacientes com FM com queixas
gastrointestinais, como dispepsia funcional e síndrome do intestino irritável (Han et al., 2011). O
PCDTDC aponta este medicamento, como alternativa medicamentosa para esses pacientes, e cita
estudo um que avaliou esse medicamento em apenas 6 meses de tratamento, obtendo 17% de
abandono por causa dos efeitos colaterais, tais como sonolência e problemas cognitivos (Brasil,
2012).
Em comparação com a gabapentina, a pregabalina possui inicio de ação mais rápido, tem
efeito ansiolítico e apresenta baixo risco de interações medicamentosas, por ser praticamente

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excretada inalterada na urina. A principal desvantagem é o custo da farmacoterapia
significativamente alto (Medawar & Matheus, 2012; Arnold et al, 2007).
Sendo a FM uma dor neuropática justifica-se a utilização de gabapentina no tratamento
dessa doença, pois ela aumenta o limiar da dor e estimula a neurotransmissão da serotonina
melhorando o humor e qualidade de vida desses pacientes (Acín & Escartín, 2005). Seus efeitos
colaterais mais comuns são náuseas, vertigens e sedação (Franco et al., 2010).

Hipnóticos

É muito frequente o portador de FM ter dificuldades de sono e insônia durante a noite,


então, utilizam-se sedativos para amenizar estes sintomas (Villanueva et al., 2004). Segundo Arnold
(2006), sedativos não-benzodiazepínicos como zolpidem e zopiclona melhoraram o sono em
pacientes com FM, mas não a dor, o que limita sua utilidade nesta patologia como monoterapia.
Seus efeitos colaterais mais comuns são palpitação, cefaleia, sonolência, tontura, letargia, amnésia,
náusea, boca seca e constipação (Guimarães & Almeida, 2010).

Benzodiazepinicos

São utilizados para diminuir a ansiedade, promover o relaxamento muscular e ajudar na


regularização do ciclo do sono. Não são recomendados como agentes de primeira linha de FM, pois
seu uso prolongado pode provocar dependência com crises de retirada, elevado risco de abuso e
efeitos colaterais. Dessa classe, o medicamento mais indicado é o clonazepam que promove
relaxamento muscular do paciente (Kaziyama et al., 2009; Oliveira, 2004).

Bloqueios Anestésicos

São infiltrações locais simples ou contínuas com bupivacaína ou lidocaína. São utilizados
para diagnóstico e tratamento da FM (Oliveira, 2004). A ação do bloqueio da dor não ocorre
somente no local que o anestésico foi infiltrado, mas também há atuação no sistema nervoso central
e em locais distantes. A infiltração é realizada para eliminar os tender points, reduzindo-os ou
eliminando-os por meses. O alívio da dor dependerá da cronicidade e gravidade do problema, bem
como do tratamento dos fatores perpetuantes. A diminuição da dor pode estar relacionada a vários
fatores, tais como: liberação de opioides endógenos, depleção da substância P ou da histamina nas

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fibras, dor nos nervos aferentes primários, alterações elétricas nos tecidos miofasciais (Sabatke,
2011).

Antiparkinsoniano

É recomendado para o tratamento da FM o medicamento pramipexol, o qual é um agonista


dopaminérgico que pode ser indicado para reduzir a dor, a fadiga e a capacidade funcional, sendo
especialmente indicado na presença de distúrbios do sono (Heymann et al., 2010; Holman & Myers,
2005).

Anti-inflamatórios

Não há evidência de que os fármacos anti-inflamatórios não esteroidais são eficazes quando
usado sozinho em FM, embora eles possam auxiliar no tratamento para analgesia quando
combinado com antidepressivo tricíclico (Goldenberg, Burckhardt & Crofford, 2004).

Outros medicamentos utilizados no tratamento de FM

Estudos realizados relatam que os pacientes com FM têm uma menor secreção de
melatonina durante as horas de sono em comparação com indivíduos saudáveis; isto pode prejuicar
o sono durante a noite, provocar fadiga durante o dia e mudar a percepção da dor. A melatonina é
um hormônio produzido pelo sistema nervoso central, mais precisamente pela pineal, que é
secretada predominantemente no período da noite, agindo na modulação do sono. Pesquisas feitas
sobre o assunto revelaram que o tratamento de pacientes portadores de FM que utilizaram
melatonina durante 30 dias melhorou significativamente a contagem dos pontos dolorosos, a
gravidade da dor, a capacidade física e o sono (Silva, Pereira & Kashiwabara, 2013; Hussain et al.,
2010).
Novos medicamentos têm sido estudados para o tratamento de FM: como a quetiapina, um
antipsicotico de segunda geração que se mostrou benéfico no sono e humor dos pacientes; o
antidepressivo trazadona indicando benefícios no sono, na depressão, na ansiedade e na dor. Merece
menção também a naltrexona, um antagonista central de receptores de opioides que, em doses
baixas, mostrou melhora significativa da dor da FM (Chakr & Xavier, 2013).

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Tratamento não medicamentoso

Existe uma grande quantidade de modalidades terapêuticas não farmacológicas para o


tratamento da FM que apresentam boa relação custo benefício se comparados aos tratamentos
farmacológicos, são considerados seguros e capazes de proporcionar benefícios aos pacientes, tanto
no que se refere à prevenção, como na promoção e até mesmo na recuperação da saúde (Ablin &
Buskila, 2013). Dentre estas intervenções não medicamentosas de caráter alternativo pode-se citar:
massagem terapêutica, acupuntura, eletroacupuntura (EA), nutrição e dietas, hidroterapia, eletro
estimulação transcutânea (TENS), yoga, exercício físico, programas de educação em saúde,
hidrocinesioterapia, entre outros (Braz et al., 2011).
Os portadores de FM têm condição aeróbica ou cardiovascular inferior a uma pessoa
normal e seus músculos não são muito bem oxigenados (Pavesi et al., 2008). Consequentemente, a
inatividade física leva os pacientes a um declínio na função neuromuscular, na resistência muscular,
na velocidade de contração dos músculos e na função cardiorrespiratória. Isto interfere no
desempenho funcional, que inclui caminhar, subir escadas e outras atividades cotidianas (Santos &
Kruel, 2009).
Vale ressaltar que antes de iniciar as atividades físicas é necessário considerar risco
cardiovascular; investigar e tratar doenças musculoesqueléticas; realizar avaliação funcional; checar
medicações que o paciente utiliza; detectar a história pregressa com atividade física. Quando
indicado medicação para FM, ela deve ser iniciada quatro semanas antes do começo da atividade
física para haver uma melhor tolerância. Deve-se explicar a importância do exercício físico e que
não poderá mais deixar de fazê-lo, prepará-lo para uma possível piora da dor nas primeiras oito
semanas e informar que a melhora ocorre a partir daí e aumenta até a vigésima semana (Franchini et
al., 2013).
Portanto, um programa de exercícios físicos adequados e executados com frequência
semanal auxiliam na coordenação motora e em diversas outras capacidades físicas do paciente
fibromiálgico que são importantes para a realização de atividades diárias. Além de proporcionar
uma postura adequada, um controle da massa corporal, equilíbrio na condição cardiovascular e
melhora da ansiedade (Carvalho & Pereira, 2014).

Atividade física aeróbica

Provoca mudanças neuroendócrinas como o aumento na liberação de serotonina e


noradrenalina, que resulta na melhora do humor, benefício não alcançado no alongamento (Cunha,

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2013). Há estudos que relatam que as intervenções do exercício aeróbico reduzem a dor, fadiga,
depressão, melhom a qualidade de vida e aptidão física (Hauser, et al., 2010). Ao avaliar os
benefícios do exercício para pessoas com FM, é importante considerar os possíveis efeitos adversos
do exercício, como aumentar os sintomas como a dor, rigidez, fadiga e problemas
músculoesqueléticos (Busch et al., 2011).

Hidroterapia

Tem como função promover reações diferentes daquelas experimentadas em solo,


melhorando a circulação periférica, beneficiando o retorno venoso, além de proporcionar um efeito
massageador e relaxante. Por isso, os exercícios na água são muito bem tolerados, pois o ambiente
morno desta ajuda a reduzir a dor e espasmos musculares, ganho de amplitude dos movimentos,
diminuição dos impactos nas articulações e recuperação de equilíbrio (Soares, Silva & Carvalho,
2012; Tomas-Carus et al., 2009).

Método de Pilates

Consiste em exercícios para melhorar a flexibilidade, a consciência corporal, o equilíbrio e a


força do tronco por meio de seis princípios básicos como concentração, respiração, alinhamento
corporal, controle do centro de força, eficiência e fluidez do movimento, executados de forma que
minimizem a atividade muscular desnecessária (Busch et al., 2011; Amorim et al., 2010).

Fisioterapia

Se destaca pela riqueza de modalidades terapêuticas como: eletrotermofototerapia,


relaxamento, massoterapia e acupuntura que podem ser utilizadas no controle da FM (Ricci, Dias &
Driusso, 2010). Tem papel importante na melhora do controle da dor e no aumento ou na
manutenção das habilidades funcionais do paciente (Hecker et al., 2011). Cada técnica possui uma
explicação neurofisiológica com seus próprios mecanismos de ação. Sendo assim, é importante
determinar qual o mecanismo de dor predominante do tipo terapêutico escolhido para que a fisio-
terapia seja mais efetiva (Gosling, 2013).

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Acupuntura

É realizada com a inserção de agulhas em pontos específicos do corpo, os acupontos, que


também podem ser estimulados com calor, pressão, ultrassom, eletricidade e laser (Barbosa et al.,
2013). Os pacientes submetidos a essa modalidade apresentam redução do número de pontos
dolorosos e melhora do escore de dor, quando comparado às terapias convencionais (Dias et al.,
2012).

Massoterapia

É reconhecida como uma modalidade terapêutica segura e com poucos riscos e efeitos
adversos. Seus principais efeitos são: aumento da circulação linfática (mecânico), acréscimo do
fluxo sanguíneo (mecânico), alívio da dor (fisiológico), remoção dos produtos do catabolismo e
metabolismo (fisiológico), facilitação da atividade muscular (fisiológico), relaxamento
(psicológico), alívio da ansiedade e tensão (psicológico) e sensação de bem-estar. Promove o
aumento da liberação de analgésicos naturais, como a serotonina, endorfina, encefalina, e de
linfócitos, melhorando a função imune. Além disso, produz um relaxamento do corpo, redução do
estresse e fadiga e melhora do sono (Silva, Silva & Macedo, 2010; Yuan et at., 2010).

Eletrotermofototerapia

Pode trazer benefícios para os portadores da FM, sendo utilizadas para alívio da dor.
Consequentemente, há um aumento na amplitude de movimento, força muscular, mobilidade,
resistência física, habilidade de andar e estado funcional. Além disso, esses recursos oferecem
muitas vantagens, pois são intervenções não-invasivas e rápidas de administrar, resultando em
poucos efeitos adversos e contraindicações, quando comparadas com as intervenções
farmacológicas para a redução dos sintomas da FM. Contudo, deve-se ressaltar que, para utilizar
esses recursos, é necessário profissional especializado e visitas periódicas do paciente ao local da
intervenção (Ricci, Dias & Driusso, 2010).

Intervenções psicológicas

São utilizadas em pacientes com limitação física que têm muita dor ou dificuldade para
realizar exercícios, ou ainda com alterações no humor (Braz et al., 2011). Várias abordagens

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psicoterapêuticas podem ser utilizadas como programas educativos, que visem uma abrangência
mais ampla do controle dos sintomas e comorbidades decorrentes da FM e em programas de
orientação multidisciplinar. Os principais são terapia cognitivo-comportamental e biofeedback.
(Maeda, Martinez & Neder, 2006).

Terapia cognitivo-comportamental (TCC)

Objetiva produzir mudanças cognitivas (pensamentos e crenças), emocional e


comportamental duradouras. Além disso, enfoca o caráter educativo baseando-se na resolução dos
problemas atuais do paciente. O tratamento tem duração rápida e sessões estruturadas (Borges et al.,
2009). Compreende três etapas: a primeira é a conscientização do paciente quanto à modificação de
seus sintomas; a segunda refere-se à possibilidade de controle de sintomas por meio de modificação
de atitudes e a última seria o aprendizado de estratégias cognitivas e comportamentais para o
controle de como agir com relação aos problemas (Roizenblatt & Almeida, 2008). De acordo com
Gomes & Campos (2010), este tratamento indicou em pacientes de FM melhora na gravidade da
dor, fadiga e humor. Em um ensaio clínico controlado, a TCC foi indicada por ser um tratamento
seguro e eficaz para redução da incapacidade funcional e sintomas de depressão em adolescentes
com FM juvenis (Kashikar-Zuck, et al., 2012).

Biofeedback

É uma técnica utilizada em TCC na qual o paciente aprende, mediante feedback apropriado e
constante, a modificar uma ou mais atividades fisiológicas e ter controle voluntário sobre a área
amostrada, aprendendo a auto-regular a dor (Neto, 2010). Baseia-se na capacidade de diminuir a
excitação geral e a tensão muscular, aumentando a irrigação sanguínea dos tecidos e promovendo
um estado de relaxamento geral. Essa técnica é aplicável para o autocontrole diário da dor crônica
(Stanos & Tybuski, 2009).

Terapia combinada

A FM não responde às intervenções terapêuticas únicas, como a administração isolada de


medicamentos ou aplicação exclusiva de técnicas não farmacológicas. (Carville et al., 2008).
De acordo com Heymann (2014), aproximadamente 30% a 40% dos pacientes melhoram
com o tratamento farmacológico isolado, sendo pouco eficaz. Além disso, os efeitos colaterais

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desses medicamentos são muito significativos para os pacientes, mesmo quando se utilizam doses
baixas. Assim, o tratamento multidisciplinar deve ser obrigatório com a participação de tais
profissionais: reumatologista, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e psicólogos.
Em um estudo, um programa interdisciplinar de terapia para FM foi desenvolvido através de
vários protocolos. Este experimento combinou tratamento farmacologico e não farmacológico e
seus resultados demonstraram eficácia, tanto a curto como longo prazo. Houve melhora na
qualidade de vida durante o período de seis a doze meses após iniciada a terapia (Oh, et al., 2010).

CONCLUSÃO

Através desta revisão foi possível verificar que a FM é uma patologia extremamente
complexa. Existem várias opções de tratamentos medicamentosos e não medicamentosos que
aliviam alguns sintomas dessa patologia. Sendo assim, com o tratamento atual é possível diminuir a
dor do paciente consideravelmente e reduzir sintomas como fadiga, alteração do sono e depressão.
Quanto à farmacoterapia, podemos concluir que os antidepressivos tricíclicos são eficazes
para o alivio dos sintomas em torno de 30% dos casos e não é recomendado o uso habitual de
opiodes ou anti-inflamatórios. Os inibidores de recaptação da serotonina são menos eficazes na
redução da dor e são utilizados em altas dosagens associando-os ou não com os tricíclicos. Se o
quadro clínico apresentar distúrbio do sono deve-se dar prioridade para a utilização dos ansiolíticos
e hipnóticos.
Os agentes farmacológicos que apresentram melhores resultados para fibromialgia são os
antidepressivos duloxetina e milnaciprano, os quais agem reduzindo a dor e melhorando capacidade
funcional do organismo. Já o anticonvulsivante pregabalina tem ação analgésica e ansiolítica. Mas
ainda faltam estudos mais aprofundados, incluindo ensaios comparativos, para ajudar a determinar
estratégias de tratamento para FM baseada em evidências.
Em relação à intervenção não farmacológica, a atividade física pode auxiliar no tratamento
reduzindo a dor, prevenindo distúrbios do sono e melhorando o humor do paciente. A fisioterapia
mostrou-se importante não só no alívio de dor, mas também na promoção do bem-estar e na
qualidade de vida. A intervenção psicológica pode ser utilizada em pacientes com limitação física,
com depressão e com alteração de humor.
Sugere-se, portanto, uma abordagem multidisciplinar ao tratamento da FM, envolvendo uma
farmacoterapia individualizada. Os objetivos do tratamento devem incluir a melhora dos sintomas,
bem como a promoção de comportamentos de saúde positivos, que visem melhorar a função física e
o bem estar emocional do paciente.

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2562
Wazenkeski, E. S. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2540 – 2562, 2018
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW

Interações planta-medicamento: plantas medicinais indutoras e inibidoras da


isoforma CYP 3A4 do citocromo P450

Maiara Salvador1 & Karen Luise Lang1,2*

1
Departamento de Farmácia da Universidade Federal de Juiz de Fora – Campus Governador Valadares,
Governador Valadares - MG.
2
Programa Multicêntrico de Pós-graduação em Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal de
Juiz de Fora – Campus Governador Valadares, Governador Valadares - MG.

*karen.lang@ufjf.edu.br. Universidade Federal de Juiz de Fora – Campus Governador Valadares.


Rua José de Tassis, 350 - Vila Bretas, Governador Valadares - MG, 35030-250. Telefone: (33) 3301-
1000.
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW

RESUMO

A utilização de plantas para fins medicinais é uma das mais antigas formas de prática medicinal da
humanidade, sendo utilizada atualmente como complemento aos tratamentos convencionais, por ser
uma alternativa terapêutica barata e de fácil acesso. No entanto, quando associadas a outros
medicamentos, plantas podem causar interações medicamentosas, comprometendo a segurança e a
eficácia dos tratamentos. As principais interações medicamentosas estão relacionadas ao
metabolismo de fármacos, sendo que o mecanismo mais importante são as alterações na expressão
do citocromo P450, uma vez que este é o principal responsável pelo metabolismo de xenobióticos. A
presente revisão teve como objetivo realizar uma atualização sobre plantas medicinais que alteram a
expressão da CYP3A4, principal isoenzima envolvida no metabolismo. São descritas 117 plantas
indutora e/ou inibidoras da CYP3A4, onde 48,71% nativas da Ásia e apenas 4,27% espécies nativas
do Brasil. Em algumas situações, observa-se informações conflitantes para as plantas listadas,
resultado já esperado uma vez que extratos vegetais possuem uma mistura complexa, de difícil
padronização. Os resultados aqui compilados servem como base para predizer possíveis interações,
restando aos profissionais de saúde a importante tarefa de conciliar e observar o uso de produtos
naturais com medicamentos convencionais, a fim de se evitar possíveis efeitos adversos.

Palavras-chave: interações planta-medicamento, enzimas CYP450, CYP3A4

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Salvador, M.; Lang, K. L. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2563 – 2594, 2018
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW

ABSTRACT

The use of plants for medicinal purposes is one of the oldest forms of medicinal practice of humanity,
currently being used as a complement to conventional therapies for being cheap and of easily
accessible. However, when combined with other medicinal products, plants may cause drug
interactions, compromising the safety and efficacy of treatment. The main drug interactions are
related to drugs metabolism, being that the most important mechanism are changes in the cytochrome
expression P450, since this is the main responsible for the metabolism of xenobiotics. The present
review aimed to perform an update on medicinal plants that alter the expression of CYP3A4, the main
isoenzyme involved in metabolism. There were found 117 plants inducing and / or inhibitors of
CYP3A4, of which 48.71% are plants native to Asia and only 4.27% are native species of Brazil. In
some situations, conflicting information is observed for listed plants, a result already expected since
plant extracts are a complex mixture, of difficult to standardize. The results here compiled serve as a
basis for predicting possible interactions, leaving the health professionals with the important task to
conciliate and observe the use of natural products with conventional medicines in order to avoid
adverse effects.

KEYWORDS: drug-herb interaction, CYP450 Enzymes, CYP3A4

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ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW

Introdução

Plantas medicinais têm sido utilizadas pelas civilizações há milhares de anos, tanto na
prevenção quanto no tratamento de doenças (Zhou et al., 2015). Nas últimas décadas o interesse por
esses produtos tem sido resgatado, sendo estimado atualmente um mercado mundial próximo a 100
bilhões de dólares, com a Europa responsável por mais da metade da movimentação financeira
(Pelkonen; Xu & Fan, 2014). Nos países europeus observa-se ampla utilização de produtos naturais
tanto entre a população em geral quanto entre subgrupos específicos como crianças, gestantes e
pacientes com câncer (Garcia-Alvarez et al., 2014).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 80% da população de países em
desenvolvimento depende da medicina tradicional para os cuidados primários de saúde e 85% usam
plantas medicinais ou preparações destas. Plantas medicinais constituem uma terapia barata e de fácil
acesso, frequentemente atrelada a tradições populares e ao conhecimento milenar de seu uso (Hayta;
Polat & Selvi, 2014). No entanto, a crença de que produtos naturais não causam danos à saúde ou
interferem nos tratamentos medicamentosos alopáticos põem em risco a saúde dos usuários, uma vez
que aumenta os riscos de intoxicações, seja por toxicidade, interações medicamentosas ou
adulterações (Djuv & Nilsen, 2012).
As interações medicamentosas (IM) ocorrem quando a atividade de dois medicamentos se
sobrepõe, levando a alterações nos perfis desses (Zhou et al., 2015). As IM podem ser divididas em
farmacodinâmicas - que ocorrem entre fármacos que apresentam atividade semelhantes ou opostas;
incompatibilidades farmacêuticas - quando há incompatibilidade química ou física entre as
formulações administradas; e as interações farmacocinéticas - que ocorrem quando um fármaco altera
a absorção, distribuição, metabolismo ou excreção de outro fármaco (Corrie & Hardman, 2014).
O metabolismo compreende o parâmetro farmacocinético diretamente ligado à depuração
(clearance) dos fármacos, contribuindo para evitar seu acúmulo indesejado na biofase (Lima, 2015).
O metabolismo pode ser dividido em duas fases: as reações de fase I ou biotransformação incluem
reações de oxidação, redução e hidrólise, tendo como objetivo funcionalizar a estrutura do fármaco,
de forma a torná-lo substrato para reações de fase II; As reações de fase II ou conjugação incluem
reações de glucuronidação, sulfatação, acetilação, metilação e conjugação com moléculas endógenas
originando compostos mais hidrossolúveis que serão excretados na urina ou na bile (Figura 1) (Lima,
2015; Corrie & Hardman, 2014).

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ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW

Figura 1 – Fluxograma esquemático metabolismo fase I e fase II.

Os fármacos de um modo geral, bem como fitoterápicos são majoritariamente metabolizados


no fígado pelo complexo enzimático citocromo P450 (CYP450) (Hu et al., 2012). Em casos de
politerapia, IM - geradas pela inibição ou indução do metabolismo, podem vir a ocorrer gerando
danos à saúde do paciente e/ou prejuízo ao tratamento (Zhou et al., 2015). Muitas plantas medicinais,
como cardo-mariano (Silybum marianum L. Gaerth), ginkgo (Ginkgo biloba L.), erva-de-são-joão
(Hypericum perforatum L.) e suco de toranja (Citrus × paradisi) possuem a capacidade de
inibir/induzir o CYP450, podendo desencadear interações com fármacos que sejam substratos desse
sistema enzimático. As informações relativas a interações planta-medicamentos ainda são escassas,
tornando o assunto relevante, principalmente pela crença existente de que produtos naturais não
causam danos ao organismo (Ahmmed et al., 2015; Djuv & Nilsen, 2012).
O CYP450 é responsável pelas reações de fase I do metabolismo em cerca de 75% dos
fármacos disponíveis no mercado farmacêutico mundial (Varnoli et al., 2014). No homem são
conhecidas 57 isoformas do CYP450, sendo 5 as principais, responsáveis por aproximadamente 80%
do metabolismo de xenobióticos: CYP1A2, CYP2C9, CYP2D6, CYP2E1 e CYP3A4 (Figura 2)
(Pandit et al., 2016; Arora et al., 2015; Zhou et al., 2015).

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ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW

Figura 2 – Contribuição das enzimas no metabolismo de fármacos

A isoforma 3A4 é considerada a mais importante do CYP450, uma vez que é responsável pela
metabolização de mais de 50% dos fármacos utilizados clinicamente (Zhou et al., 2015). Neste
contexto a presente revisão tem por objetivo atualizar o conhecimento acerca de plantas medicinais
que induzem ou inibem a isoforma CYP3A4 do citocromo P450, podendo, assim, desencadear
interações entre plantas e medicamentos.

Metodologia
Na presente revisão foram analisados artigos científicos publicados no período entre janeiro
de 2010 e setembro de 2017, obtidos por meio do Portal de Periódicos CAPES, nos domínios
eletrônicos Pubmed, Scopus e Sciencedirect. Na pesquisa, foram considerados todos os artigos
científicos disponibilizados como texto completo nas bases de dados, escritos em língua portuguesa,
inglesa ou espanhola. Os descritores utilizados na consulta nessas bases de dados foram: drug-herb
interaction, CYP450 Enzymes, CYP3A4, assim como variações destes.
Além dos resultados obtidos pelos mecanismos de busca em bases de dados, outros artigos
científicos foram incluídos a partir da lista de referências dos trabalhos selecionados. Também foram
utilizados como referencial os livros científicos de autores consagrados na área de estudo, além de
normas e legislações vigentes no Brasil.
A análise foi dividida em três etapas. A primeira etapa constituiu-se na leitura do título dos
artigos, onde foram selecionados apenas aqueles com termos relacionados com interações planta-
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ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW
medicamento (IPM). Em seguida, partiu-se para a segunda etapa, na qual leu-se o resumo dos artigos
incluídos na primeira fase, dentre os quais foram escolhidos os que mencionaram algum tipo de
análise de indução ou inibição da isoforma CYP3A4. Por fim, na terceira e última etapa foi avaliado
o texto na íntegra dos artigos selecionados na etapa anterior, a fim de eleger os que comprovem algum
tipo de interação.

Resultados e Discussão

Quando ocorre a coadministração de xenobióticos, estes podem interagir entre si ou atuarem


alterando fatores farmacocinéticos e/ou farmacodinâmicos, que podem diminuir ou aumentar seus
efeitos no organismo. As IPMs podem ocorrer através dos mais variados mecanismos, sendo o mais
importante a indução ou inibição do CYP450 (Hu et al., 2012).
As isoformas do CYP450 podem ser inibidas ou induzidas por xenobióticos, por apresentarem
padrão de expressão de fenotipagem modulável. Polimorfismos genéticos e fatores não genéticos,
como estado hormonal, idade, dieta, tabagismo, álcool e exposição a produtos químicos afetam e
alteram a expressão do CYP450, uma vez que esta é constantemente regulada por receptores nucleares
(Rodeiro et al, 2008b). O uso concomitantemente de plantas medicinais com terapia farmacológica
pode ter significativo papel na modulação da farmacocinética e do metabolismo dos fármacos (Djuv
& Nilsen, 2012).
A indução enzimática do CYP450 é desencadeada por meio da administração repetida de
xenobióticos que acaba por desencadear um aumento da transcrição e tradução deste, levando a
efeitos indesejáveis que podem levar várias semanas para se manifestar e para desaparecer, uma vez
que este envolve o processo de síntese de novas enzimas (Lima, 2015). A indução enzimática faz com
que doses de medicamentos se tornam ineficazes levando à falha ou redução da eficácia clínica do
fármaco, já que esta tem como consequência a redução da disponibilidade do próprio xenobiótico
indutor ou de outros administrados concomitantemente (Corrie & Hardman, 2014). A indução poderá
levar a uma redução da meia-vida do fármaco administrado, diminuição dos níveis séricos destes,
além de um aumento de metabólitos reativos em níveis tóxicos, resultando em lesão tecidual ou outros
eventos adversos (Corrie & Hardman, 2014; Mukherjee et al., 2011).
A inibição do CYP450 reduz o metabolismo de xenobióticos, levando a um aumento das
concentrações plasmáticas, prolongando os efeitos do fármaco no organismo, com possibilidade de
desencadear efeitos tóxicos (Lima, 2015). Existem dois tipos de inibição: reversível e a irreversível,
sendo a última mais perigosa, pois pode inativar completamente o metabolismo de fármacos levando
a graves eventos adversos (Corrie & Hardman, 2014).

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A inibição irreversível ocorre quando um substrato se liga de forma covalente à enzima,
impedindo assim que esta se ligue a outros substratos (Djuv & Nilsen, 2012). A atividade enzimática
pode demorar horas a dias para ser regenerada, mesmo após encerrada a administração do inibidor,
pois novas enzimas devem ser codificadas para que o metabolismo seja restabelecido (Lima, 2015).
A inibição reversível ocorre quando o substrato se liga à enzima através de ligações não
covalentes que, por serem mais instáveis, são rompidas com facilidade. Esta inibição pode ser
dividida em dois tipos: competitiva e não-competitiva. Na inibição competitiva, duas substâncias
metabolizadas por uma mesma enzima competem pelo sítio ativo dela, enquanto que na inibição não-
competitiva as substâncias são metabolizadas pela mesma enzima, porém em sítios ativos diferentes,
levando a uma alteração do metabolismo e inibindo a rota metabólica (Nelson & Cox, 2017).
A CYP3A4 é regulada por receptores nucleares, sendo os principais o de pregnano X e de
androstano constitutivo, responsáveis por detectar a presença de xenobióticos no organismo. Quando
ativados por indutores quimicos (fármacos, pesticidas, ácidos biliares, esteroides e metabólitos de
plantas medicinais) estes receptores nucleares promovem a ativação transcricional da CYP3A4,
promovendo assim sua indução (Kumagai et al., 2016; Huang et al., 2013a).
A CYP3A4 é responsável pelo metabolismo de um grande número de substâncias,
apresentando assim um grande número de substratos. Dentre os principais encontram-se fármacos
antiarrítmicos (amiodarona, disopiramida, lidocaína oral, propafenona, quinidina), antihistamínicos
(terfenadina), antineoplásicos (bussulfano, ciclofosfamida, ifosfamida, imatinibe, cloridrato de
irinotecano, tamoxifeno, teniposídeo, toremifeno, vimblastina, vincristina), antifúngicos azólicos
(itraconazol, voriconazol), opióides (alfentanila, buprenorfina, fentanila, metadona), estatinas
(atorvastatina, lovastatina, sinvastatina), entre outros (Williamson, Driver & Baxter, 2012).
A inibição/indução do sistema enzimático CYP450 por alguns produtos naturais já é bem
documentada na literatura. O suco de toranja (Citrus × paradisi), também conhecido como grapefruit,
é amplamente utilizado devido ao seu elevado conteúdo de substâncias antioxidantes. No entanto, o
suco possui furanocumarinas que causam inibição irreversível da CYP3A4, podendo afetar o
metabolismo de mais de 85 fármacos, com risco inclusive de desfechos fatais (Bailey, Dresser &
Arnold, 2013). A erva-de-são-joão (H. perforatum L.) é indutora das isoformas CYP3A4, CYP2E1 e
CYP2C19, sendo provável, portanto, um aumento da velocidade de metabolização de fármacos que
sejam substratos dessas isoformas (Russo et al., 2013).
A busca nas bases de dados para os descritores utilizados resultou em 2249 artigos relacionados com
o tema. Excluindo-se os artigos repetidos e os que foram eliminados durante as etapas de análise, 310
artigos foram lidos na íntegra. Dentre estes, 144 apresentaram estudos sobre indução e/ou inibição da
CYP3A4. Importante ressaltar que das 117 plantas apontadas como indutora e/ou inibidoras da

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ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW
CYP3A4, cerca de 48,71% são plantas nativas da Ásia e apenas 4,27% são espécies nativas do Brasil:
Bidens pilosa L., Manihot esculenta Crantz, Passiflora foetida L., Phyllanthus amarus Schum. &
Thonn e Psidium guajava L. (Larson et al., 2014; Taesotikul et al., 2012; Taesotikul et al., 2011;
Agbonon et al., 2010). Oliveira e colaboradores (2015) testaram a atividade inibitória de 4 plantas do
cerrado brasileiro, sendo elas: Copaifera langsdorffii Desf., Lafoensia pacari A.St-Hill, Pterodon
emarginatus Vogel e Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville, contudo estas não demonstraram
atividade frente à CYP3A4.

Nos Quadros 1, 2 e 3 encontram-se listadas as plantas medicinais e fitoterápicos complexos


com ação inibidora ou indutora frente à isoforma CYP3A4.

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ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW
Quadro 1 - Plantas medicinais que inibem a isoforma 3A4 do CYP450

Planta/Fruta Referência
Valor de IC50 /
in vivo/ in Metodologia
Fármaco controle porcentagem de
Parte vitRo utilizada
Nome científico Preparação inibição
utilizada

Acorus calamus Rizomas Extrato etanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 5,74μg/ml Pandit et al., 2011b

Extrato isopropanol e
Actaea racemosa Rizomas in vitro Fluorimetria - 35,3 - 48,1 μg/ml Huang et al., 2010
etanólico

Extrato aquoso e
Aesculus hippocastanum - in vitro CLAE-MS/MS midazolam 4,4μg/ml; 66,1μg/ml Servior et al., 20010
metanólico
Extrato aquoso e 99,88%,
Aframomum cuspidatum Sementes in vitro Fluorimetria cetoconazol Agbonon et al., 2010
etanólico 88,85%

Frutas e Extrato aquoso e in vivo/ in CLAE-UV/Vis sinvastatina 100,3%, Nduka et al., 2017b;
Aframomum melegueta
sementes etanólico vitro Fluorimetria cetoconazol 98,85% Agbonon et al., 2010

8,35 - 22,4
Aloe barbadensis - Suco in vitro CLAE-UV/Vis cetoconazol Djuv & Nilsen, 2012
mg/mL

Andrographis paniculata Partes aéreas Extrato etanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 27,6 μg/ml Hanapi et al., 2010

Angiopteris evecta Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 50% Larson et al., 2014

Extrato fermentado e
Aspalathus linearis - in vitro Fluorimetria cetoconazol 31,33-51,44 μg/ml Patel et al., 2016
não fermentado

Astragalus propinquus Raízes Extrato etanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 61 μg/ml Lau et al., 2013

Acalypha sp. Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 71% Larson et al., 2014

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Alisma orientale Rizomas Extrato aquoso in vitro CLAE-MS/MS midazolam - Huang et al., 2014a

Alpinia conchigera - Extrato hexano in vitro Fluorimetria cetoconazol 6,76 μg/ml Haque et al., 2017

Ramasamy, Kiew &


Bacopa monnieri - Extrato metanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 83,95 μg/ml
Chung, 2014

Berberis aristata Cascas Extrato etanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 138,88 μg/ml Bahadur et al., 2017

Bowiea volubilis Bulbos Extrato aquoso in vitro CLAE-MS/MS testosterona 8,1 μg/ml Fasinu et al., 2014

Extrato não in vivo/ in Yamasaki et al.,


Brassica oleracea Planta toda CLAE-MS/MS midazolam -
especificado vitro 2012
Calophyllum inophyllum Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 79% Larson et al., 2014

Capsicum annuum Frutas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 99,69 μg/ml Pandit et al., 2012

Carica papaya Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 78% Larson et al., 2014

Casuarina equisetifolia Cascas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 61% Larson et al., 2014

Extrato aquoso, Savai et al., 2015;


CLAE-UV/Vis
Planta toda e etanólico, metanólico, testosterona, 58,4-465,8 μg/ml, Larson et al., 2014;
Centella asiatica in vitro CLAE-MS/MS
folhas diclorometano e rifampicina 56% Pan et al., 2010;
Fluorimetria
hexano Sevior et al. 2010

Chamaelirium luteum - Extrato etanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 0,3 μg/ml Ho et al., 2011

Codiaeum variegatum Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 67% Larson et al., 2014

Codonopsis tangshen Raízes Extrato etanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 83 μg/ml Lau et al., 2013

Cordyline terminalis Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 76% Larson et al., 2014

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Crinum asiaticum Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 65% Larson et al., 2014

Chrysanthemum morifolium - Extrato aquoso in vitro CLAE-PDA cetoconazol 95,7 μg/ml Dufay et al., 2014

in vivo/ in
Curculigo orchioides - Extrato aquoso DS-PAG - 58% Wang et al., 2012
vitro
in vivo/ in
Curcuma longa Rizomas Extrato etanólico Fluorimetria - - Ahmed et al.,2014
vitro

Curcuma xanthorrhiza Rizomas Extrato etanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 285,3 μg/ml Hanapi et al., 2010

Extrato aquoso e in vivo/ in


Dennettia tripetala Frutas CLAE-UV/Vis sinvastatina - Nduka et al., 2017b
etilico vitro

Descurainia sophia Sementes Extrato etanólico in vitro Radiometria cetoconazol 134,2 μg/mL Yi et al., 2015

Awortwe et al., 2014;


Fluorimetria
Extrato não in vivo/ in Modarai et al., 2010;
Echinacea purpúrea - CLAE-MS/MS cetoconazol 6 - 83,71 μg/mL
especificado e outros* vitro Mrozikiewicz et al.,
2010b

Epilobium hirsutum Partes aéreas Extrato aquoso in vivo Fluorimetria eritromicina 53% Celik et al., 2014

Erigeron breviscapus Planta toda Extrato aquoso in vivo CLAE-UV/Vis diazepam - Han et al., 2012

Erythrina variegata Cascas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 85% Larson et al.,2014

Extrato etanólico, 3,2 μg/ml


Eschscholzia californica Partes aéreas in vitro Fluorimetria cetoconazol Manda et al., 2016
fração clorofórmio 5,3μg/ml

Folhas e
Evodia hortensis Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 100% Larson et al., 2014
frutos

Gastrodia elata - Extrato in vivo CLAE midazolam - Huang et al., 2014c

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Gelsemium elegans Raízes Extrato etanólico in vitro CLAE testosterona 82,46 μg/ml Wang et al., 2015

Extrato não Bogacz, 2014a;


Glycine max - in vivo RT-PCR - 21-35%
especificado Mrozikiewicz, 2010a

Glycyrrhiza glabra - Extrato hidroalcoólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 140,95 μg/ml Pandit et al., 2011a

midazolam 0,075μM
CLAE-MS/MS Dufay et al., 2014;
Glycyrrhiza uralensis Raízes Extrato aquoso in vitro testosterona 0,024μM
CLAE-PDA Qiao et al., 2014
cetoconazol 148,4 μg/ml
Extrato aquoso e 97,59%,
Harrisonia abyssinica Folhas in vitro Fluorimetria cetoconazol Agbonon et al., 2010
etanólico 99,72%
testosterona 588,9 μg/ml
Hibiscus sabdariffa Cálices Extrato etanólico in vitro CLAE-MS/MS midazolam 1307 μg/ml Johnson et al., 2013
omeprazol 633,2 μg/ml

Houttuynia cordata - Extrato aquoso in vitro CLAE-PDA cetoconazol 185,5 μg/ml Dufay et al., 2014

Hydrastis canadensis - Extrato metanólico in vitro CLAE-MS/MS midazolam 10,1 μg/ml Servior et al.,2010
Awortwe et al.,
Extrato aquoso, in vivo/ in CLAE-MS/MS testosterona
Hypoxis hemerocallidea Bulbos 29-185,4 μg/mL 2014; Fasinu et al,
outros* vitro Fluorimetria cetoconazol
2013a

Ipomoea pes-caprae Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 60% Larson et al., 2014

Jatropha curcas Folhas Extrato etanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 75,16% Agbonon et al., 2010

Kalanchoe pinnata Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 55% Larson et al., 2014

Extrato metanólico e
Fluorimetria 38,21 μg/mL, Awortwe et al.,
Kalanchoe crenata Toda a planta fração clorofórmio- in vitro testosterona
CLAE-UV/Vis 15,76 μg/mL 2015a
metanol

Labisia pumila - Extrato metanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 1,1 μg Manda et al., 2014

Extrato não in vivo/ in


Lessertia frutescens - Fluorimetria cetoconazol 370 μg/mL Awortwe et al., 2014
especificado, outros* vitro

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Lippia mutiflora Folhas Extrato etanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 72,66% Agbonon et al., 2010

Lonicera japonica Botões florais Extrato in vitro CLAE-MS/MS midazolam 76,6 μg/mL Jeong et al., 2015

CLAE-detector
Extrato aquoso e
Lycium barbarum Frutos in vitro de diodo testosterona 1,44 - 43,1 μg/mL Liu et al., 2016
etanólico, outro*
Fluorimetria
Folhas e
Macaranga aleuritoides Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 50% Larson et al., 2014
brotos
Manihot esculenta Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 65% Larson et al., 2014
CLAE-MS/MS
Marsdenia tenacissima Caules Extrato aquoso in vitro cetoconazol 11,25 mg/ml Han et al., 2014
Western blot
in vivo/ in
Millettia aboensis Folhas Extrato etanólico CLAE-UV/Vis cetoconazol - Nduka et al., 2017a
vitro

Extrato metanólico,
Kong et al., 2011;
Mitragyna speciosa Folhas extrato alcalóides in vitro Fluorimetria cetoconazol 0,78-142,8 μg/mL
Hanapi et al., 2010
totais

Ahmmed et al.,
Extrato não in vivo/ in
Moringa oleifera - Fluorimetria cetoconazol 150 μg/mL 2015; Awortwe et
especificado, outros* vitro
al., 2014

Murraya koenigii Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 160,47 μg/ml Pandit et al., 2012

Sieniawska et al.,
Mutellina purpurea - Extrato metanólico in vitro Fluorimetria - 97 μg/mL
2013
Oldenlandia diffusa Toda a planta Extrato etanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 17 μg/mL Lau et al., 2013

Extrato aquoso,
cetoconazol, Pan et al., 2011;
Orthosiphon stamineus Folhas etanólico, metanólico in vitro CLAE-UV/Vis 46,3-838,9 μg/mL
testosterona Hanapi et al., 2010
e diclorometano

Extrato não
Panax ginseng - in vivo CLAE-UV/Vis midazolam - Kim et al., 2016
especificado

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ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW

Paspalum cunjugatum - Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 88% Larson et al., 2014

Passiflora foetida Galhos Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 51% Larson et al., 2014

Persea americana Folhas Extrato etanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 73,64% Agbonon et al., 2010

Taesotikul et al.
Extrato aquoso e in vivo/ in Fluorimetria cetoconazol 96,75 -100,14%, 2012; Taesotikul et
Phyllanthus amarus Partes areas
etanólico vitro Western blot midazolam 0,8-25,3 μg/ml al. 2011; Agbonon et
al., 2010

Piper guineense Frutos Extrato etanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 98,27% Agbonon et al., 2010

in vivo/ in
Paeonia emodi Raízes Extrato etanólico CLAE-UV/Vis carbamazepina 50% Raish et al., 2017
vitro

Pometia pinnata Cascas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 99% Larson et al., 2014

Premna serratifolia Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 63% Larson et al., 2014

Psidium guajava Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 62-66% Larson et al., 2014
Voruganti et al.,
Punica granatum Frutas Outros* in vivo CLAE-UV/Vis nifedipino -
2012
Rehmannia glutinosa Raízes Extrato etanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 46 μg/ml Lau et al., 2013
Extrato não in vivo/ in
Rheum palmatum Raízes CLAE midazolam 25 μg/ml Yokooji et al., 2010
especificado vitro

Wang & Yeung,


Extrato midazolam
in vivo/ in 2012; Wang &
Salvia miltorrhiza - hidroalcoólico, CLAE-UV/Vis testosterona 17,5 - 136 μg/ml
vitro Yeung, 2011a; Wang
outros* cetoconazol
et al., 2010a

Schisandra chinensis Frutos Extrato etanólico in vitro CLAE-MS/MS testosterona 47,24 μg/ml Ye et al.,2017

Schisandra sphenanthera - Outros* in vitro CLAE-MS/MS cetoconazol - Qin et al., 2010

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Salvador, M.; Lang, K.L. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2563 – 2594, 2018
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Extrato aquoso e
Scutellaria baicalensis - in vitro CLAE-MS/MS cetoconazol 106,6-243 μg/ml Zhou et al., 2016
etanólico

Serenoa repens - Extrato metanólico in vitro CLAE-MS/MS midazolam 157 μg/ml Servior et al., 2010

Brantley, 2013;
Silybum marianum - Extrato metanólico in vitro CLAE-MS/MS midazolam 15,5 μg/ml
Servior et al., 2010

Spirostachys africana Bulbos Extrato aquoso in vitro CLAE-MS/MS testosterona 47,4 μg/ml Fasinu et al., 2014

Extrato etanólico, 51,2μg/ml


Sophora flavescens Raízes fração butanólica e in vitro CLAE-MS/MS cetoconazol 47,2μg/ml Lin et al., 2015
acetato de etila 5,2μg/ml

Sphaersostephanos unitus Brotos Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 53% Larson et al., 2014
Extrato não
Sutherlandia frutescens Folhas in vitro CLAE-MS/MS midazolam 17,5-28,3μg/ml Fasinu et al., 2013b
especificado
Extrato não
Syzygium malaccense Cascas in vitro Fluorimetria rifampicina 60% Larson et al., 2014
especificado

Swertia chirata Folhas Extrato etanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 197,49 μg/ml Ahmmed et al., 2016

Taraxacum mongolicum - Extrato aquoso in vitro CLAE-PDA cetoconazol 140,6 μg/ml Dufay et al., 2014

Ponnusankar et al.,
Terminalia bellerica Frutas Extrato etanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 77,94 μg/ml
2011a
Terminalia catappa Cascas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina 80% Larson et al., 2014
Ponnusankar et al.,
Extrato hidroalcoólico
Terminalia chebula Frutas in vitro Fluorimetria cetoconazol 6,14-95,52 μg/ml 2011a; Ponnusankar
e etanólico
et al., 2011b;

Extrato hidroalcoólico 126,96μg/ml


CLAE-UV/Vis testosterona Bahadur et al., 2016;
Tinospora cordifolia Caules e aquoso, fração de in vitro 594,1μg/ml
Fluorimetria cetoconazol Patil et al., 2014
alcalóides 13,06μg/ml

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Salvador, M.; Lang, K.L. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2563 – 2594, 2018
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW

Thalassia testudinum - Extrato hidroalcoólico in vitro CLAE-MS/MS midazolam - Rodeiro et al., 2012
in vivo/ in
Trifolium pratense - Extrato metanólico CLAE-MS/MS testosterona 89,52 μg/ml Raju et al., 2015
vitro
in vivo/ in midazolam Bogacz, 2014b;
Valeriana officinalis - Extrato metanólico CLAE-MS/MS 24,7 μg/ml
vitro cetoconazol Sevior et al., 2010

Vitex agnus-castus - Extrato etanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 0,5 μg/ml Ho et al., 2011

Zingiber officinale Rizomas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol 286,69 μg/ml Pandit et al., 2012;

*sucos, cápsulas, formulações comerciais e tablets.

Quadro 2 - Plantas medicinais que induzem a isoforma 3A4 do CYP450


Planta/Fruta Referência
in vivo / in
Metodologia utilizada Fármaco controle
Nome científico Parte utilizada Preparação vitro

Alstonia scholaris Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina Larson et al., 2014
Bidens pilosa Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina Larson et al., 2014
Coleus blumei Planta toda Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina Larson et al., 2014
Extração com fluido Yokotani et al., 2014;
Coleus forskohlii Raízes in vivo Fluorimetria testosterona
supercrítico Virgona et al., 2012
Calophyllum inophyllum Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina Larson et al., 2014
Codiaeum variegatum Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina Larson et al., 2014
Extrato alcalóides
Corydalis yanhusuo Tubérculos in vivo CLAE-MS/MS midazolam Yan et al., 2014
totais
Cordyline terminalis Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina Larson et al., 2014
Curcuma longa Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina Larson et al., 2014
Bupleurum chinense Raízes Extrato etanólico in vitro CLAE-MS/MS midazolam Cheng et al., 2013
in vivo / in CLAE-MS/MS Awortre et al., 2015b;
Echinacea purpurea Raízes Extrato metanólico midazolam
vitro Fluorimetria Penzak et al., 2010

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Erythrina variegata Cascas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina Larson et al., 2014
Evodia hortensis Folhas e frutos Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina Larson et al., 2014
Yang et al., 2017; Goey et
Extrato não CLAE-MS/MS
Hypericum perforatum - in vivo midazolam al., 2014; Markert et al.,
especificado CLAE-UV/Vis
2014
Manihot esculenta Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina Larson et al., 2014
in vivo / in
Morus alba - Extrato aquoso CLAE-MS/MS cetoconazol Hsu et al., 2013a
vivo
Oldenlandia diffusa Planta toda Extrato etanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol Lau et al., 2013
Extrato e cápsulas
in vivo/ in Kim et al., 2017; Malati et
Panax ginseng Raízes Vitamer Panax CLAE-MS/MRM midazolam
vitro al., 2012
ginseng
Extrato não
Polygonum capitatum Planta toda in vivo CLAE–MS midazolam Zheng et al., 2014
especificado
Pometia pinnata Cascas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina Larson et al., 2014
Psidium guajava Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina Larson et al., 2014
CLAE-MS/MS Yu et al., 2015; Gao et al.,
Rheum palmatum Raízes Extrato aquoso in vitro dapsona
Fluorimetria 2013
Rehmannia glutinosa Raízes Extrato etanólico in vitro Fluorimetria cetoconazol Lau et al., 2013
Salvia miltorrhiza - Tabletes in vivo CLAE-MS/MS midazolam Qiu et al., 2010
Extrato aquoso e in vivo / in Wang et al., 2014a; Su et
Schisandra chinensis - CLAE-MS/MS midazolam
etanólico vitro al., 2013
Lin et al., 2015; Shi et al.,
midazolam
Extrato aquoso e in vivo / in CLAE-TOFMS 2014; Yang et al., 2012;
Sophora flavescens Raízes testosterona
etanólico vitro CLAE-MS/MS Ueng et al., 2010; Wang et
cetoconazol
al., 2010b
Sphaersostephanos unitus Brotos Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina Larson et al., 2014
Sutherlandia frutescens - Extrato etanólico in vivo CLAE-MS/MS - Minocha et al., 2011
Wedelia biflora Folhas Extrato metanólico in vitro Fluorimetria rifampicina Larson et al., 2014

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Quadro 3 - Fitoterápicos que inibem ou induzem a isoforma 3A4 do CYP450
Fitoterápico complexo Referência

in
Valor de IC50/
vivo/ Metodologia Farmaco
Inibe Induz porcentagem de
Nome comercial Composição in utilizada controle
inibição
vitro

Glycyrrhiza uralensis, Scutellaria baicalensis,


Platycodon grandiflorum, Ledebouriella seseloides,
Poeonia laciflora, Cnidium offcinale, Angelica
Bangpungtongseong- in
gigas, Rheum undalatum, Ephedra sinica, Mentha x Fluorimetria cetoconazol 363,39 μg/mL Jin et al., 2016
san® vitro
pulegium, Forsythia koreana, Natrii sulfas,
Schizonepeta tenuifolia, Atractylodes japonica,
Gardenia jasminoides, Zimgiber officinale
Polygonum tinctorium, Isatis indigotica, Isatis in Kumagai et al.,
Ban-Lan-Gen® x Fluorimetria - -
tinctoria e Strobilanthes cusia vitro 2016
Dengzhan Erigeron breviscapus, Panax ginseng, Ophiopogon in CLAE- Chen et al,
x clopidogrel -
Shengmai® japonicas e Schisandra chinensis vivo MS/MS 2016
Schrøder-
Echinacea purpurea, Sambucus nigra, Olea in CLAE- testosterona
Elderberry Defense® x 1192μg/mL Aasen, Molden
europaea e Jeleia Real vitro UV/Vis cetoconazol
&Nilsen, 2012
Schrøder-
in CLAE- testosterona
Echinaforce® Echinacea purpurea x 121,5μg/mL Aasen, Molden
vitro UV/Vis cetoconazol
&Nilsen, 2012
Hwang-Ryun-Hae- Coptidis Rhizoma, Scutellariae Radix, in CLAE-
x testosterona 31,0 μg/ml Lee et al., 2015
Dok-Tang® Phellodendri Cortex e Gardeniae Fructu vitro MS/MS
Piper guineens, Pterocarpus osun, Eugenia in CLAE-
Niprisan® x cetoconazol 0,06 mg/ml Adzu, 2014
caryophyllum e Sorghum bicolar vivo UV/Vis
Glycyrrhiza uralensis, Platycodon grandiflorum,
Poeonia laciflora, Cnidium offcinale, Angelica
gigas, Ephedra sinica, Zingiber officinale,
in
Ojeok-san® Atractylodes lancea, Citrus unshiu, Magnolia x Fluorimetria cetoconazol 583,60 μg/mL Jin et al., 2016
vitro
officinalis, Angelicaa dahurica, Poria cocos,
Pinellia ternata, Cinnamomum cassia e Allium
fistulosum

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Glycyrrhiza uralensis, Platycodon grandiflorum,
Cnidium offcinale, Ephedra sinica, Zingiber
in
Oyaksungi-san® officinale, Citrus unshiu, Angelicaa dahurica, x Fluorimetria cetoconazol 347,00 μg/mL Jin et al., 2016
vitro
Lindera strychnifolia, Bombyx mori e Zizyphus
jujuba
Angelica dahurica, Atractylodes lancea, Artemisia
Fluorimetria
vulgaris, Angelica sinensis, Ligusticum chuanxiong, in Chiangsom et
Phikud Navakot® x Western blot cetoconazol 88μg/mL
Nardostachys jatamansi, Picrorhiza kurroa, vitro al., 2016
CLAE
Saussurea costus e Terminalia chebula
Re Du Ning Lonicerae japonicae flos, Artemisiae annuae e in CLAE- Geng et al.,
x dapsona -
Injection® Gardeniae fructus vivo MS/MS 2015
in CLAE- Zhang et al.,
Sailuotong® Panax ginseng, Ginkgo biloba, Crocus sativus x midazolam 39%
vivo MS/MS 2017
in
Moschus, Radix Ginseng, Borneolum Syntheticum,
Shexiang Baoxin vivo/ CLAE- Jiang et al.,
Venenum Bufonis, Cortex Cinnamomi, Calculus x midazolam -
Pill® ex MS/MS 2012
Bovis, and Styrax
vivo
Glycyrrhiza glabra, Artemisia capillaris, Morus
in Cheng et al.,
Si-Ai-Te-San® alba, Astragalus membranaceus, Carthamus x CLAE midazolam 119,8 μg/ml
vitro 2015
tinctorius
Emblica officinalis, Terminalia belerica e in Ponnusankar et
Triphala® x Fluorimetria - 119,65μg/ml
Terminalia chebula vitro al., 2011a

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Pesquisas sobre IPMs são realizadas majoritariamente por meio de estudos in vitro. No
entanto, estas investigações possuem limitações, uma vez que não são levadas em consideração as
contribuições fisiológicas sobre a interação. Sendo assim, a observação de um efeito in vitro não
garante que o efeito será realmente observado na prática clínica, devendo ser confirmado in vivo (Al-
Jenoobi et al., 2014).
Dentre as 113 plantas apontadas como indutoras ou inibidoras da CYP3A4 (Quadro 1), apenas
para 35 espécies existem estudos de interação in vivo. Para as espécies Andrographis paniculata
(Burm.f.) Wall. e Silybum marianum L. Gaerth, apesar de estudos in vitro apontarem risco de IPM
(Brantley, 2013; Hanapi et al., 2010), não foram observadas evidências de risco em estudos in vivo
(Kawaguchi-Suzuki et al., 2014; Wongnawa et al., 2012). As demais plantas listadas apresentaram
potencial risco de interação com medicamentos, uma vez que alteram a expressão enzimática da
CYP3A4, in vitro, sendo recomendado, portanto, o uso com cautela até que estudos conclusivos sobre
sua segurança sejam realizados.

Algumas plantas aqui descritas apresentaram resultados controversos, tanto de indução quanto
de inibição da isoforma CYP3A4 do CYP450. Segundo Larson e colaboradores (2014) alguns fatores
podem explicar os dados inconsistentes, entre eles região geográfica do plantio, estação de coleta,
secagem e técnicas de extração e ainda as partes da planta utilizadas no estudo.
Extratos etanólicos de Echinacea purpurea L. Moench e preparações comerciais líquidas
(tinturas e sucos) apresentaram atividade inibitória sobre a CYP3A4, in vivo (Awortwe et al., 2014;
Modarai et al., 2010; Mrozikiewicz et al., 2010b), enquanto em estudos utilizando extrato metanólico
das raízes e extrato líquido fresco foi observada ação indutora (Awortre et al., 2015b; Penzak et al.,
2010). Penzak e colaboradores (2010) destacam que são muitas os fatores que podem influenciar os
resultados observados para E. pupurea L. Moench. Entre eles destaca-se o teor de alquilamidas - já
associadas à ação inibitória in vitro da espécie e a possibilidade de adulteração da matéria prima
utilizada - uma vez que alguns produtos a base de Echinacea sp. podem conter raízes de E.
angustifolia, com ação inibitória sobre a CYP3A4, in vitro. Os autores apontam que E. pupurea inibe
a CYP3A intestinal e induz a CYP3A hepática, o que poderia contribuir para os dados conflitantes
encontrados na literatura.
Lin e colaboradores (2015) realizaram estudos farmacocinéticos tanto in vitro quanto in vivo
utilizando extrato etanólico e frações de raízes de Sophora flavescens Ait.. Os resultados indicam
atividade inibitória do extrato etanólico sobre a CYP3A4, in vitro e atividade indutória, in vivo. Nos
estudos in vitro, a fração acetato de etila apresentou atividade inibitória sobre a CYP3A4, enquanto
não apresentou qualquer efeito sobre a isoforma nos ensaios in vivo, sugerindo que as substâncias

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responsáveis pela ação inibitória podem não estar sendo devidamente absorvidas. Shi e colaboradores
(2014) em estudo in vivo de interação de S. flavences Ait. com carbamazepina, demonstraram que
esta apresenta atividade indutora da CYP3A4, reforçando os resultados encontrados por Lin e
colaboradores (2015).

Importante destacar que as duas plantas citadas acima são conhecidas e utilizadas como
Terapia Complementar Alternativa (TCA) no tratamento de diferentes tipos de câncer,
frequentemente sem conhecimento do oncologista. Estudos já mostraram que as interações
medicamentosas podem responder por parcela importante das reações adversas e falhas terapêuticas
durante o tratamento oncológico (Ramos-Esquivel; Víquez-Jaikel & Fernandéz, 2017; Alsanad;
Williamson; & Howard, 2014), ressaltando a importância do diálogo médico-paciente, da atenção
farmacêutica e do conhecimento da segurança de plantas medicinais e fitoterápicos.

Conclusão

As interações planta-medicamento podem representar um grande problema na segurança e


eficácia de terapias medicamentosas, principalmente com o crescente aumento da utilização das
TCAs. O uso concomitante de plantas medicinais e fitoterápicos com medicamentos convencionais
pode levar a uma diminuição da biodisponibilidade de fármacos ou a um aumento da concentração
sérica destes, gerando falha terapêutica ou potenciais efeitos adversos.
Nota-se que apesar da grande biodiversidade brasileira e do grande número de plantas com
potencial terapêutico no Brasil, poucos estudos são realizados com as plantas nativas do país. A
grande porção dos estudos de IPM é realizado em países asiáticos que possuem uma maior tradição
e incorporação do uso de plantas medicinais em suas sociedades. Além disso, dados conflitantes são
comumente encontrados devido ao grande número de variáveis presentes nos estudos de plantas e ao
grande número de ensaios possíveis. Os dados encontrados na literatura e aqui descritos servem como
base para novos estudos e como alerta de possíveis IPM.

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ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW

Drying processes employed in extracts of medicinal plants

Rosali Maria Ferreira da Silva1*, Thays Cristiane Barbosa de Lucena Gomes1, Magali Andreza
Marques de Lyra1, Caio Cesar Andrade Rodrigues da Silva1, Talita Atanazio Rosa1, Matheus Alves
Ângelos1, Camila Luiz Gomes1& Pedro José Rolim Neto1.

1
Laboratory of Medication Technology, Department of Pharmaceutical Sciences, Federal
University of Pernambuco, Recife, PE, Brazil.

*rosaliltm@gmail.com
Rua João Dias Martins, 73. CEP: 51021540. Telefone: 21268000
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW

ABSTRACT

The drying of medicinal extracts is considered a technologically viable process for the large-scale
production due to the improvement of physical, chemical and microbiological stability and the ease
of standardization of active ingredients. Among the drying techniques used in the preparation of dry
extracts, there are the nebulization, spouted bed, lyophilization and rotary evaporation. The choice
of the drying process is made by analyzing the potential of different equipments in drying the
materials present in liquid form, in this case, solutions of herbal extracts, to provide a high quality
product with a relatively modest investment. This review aims at providing insights about the
advantages and drawbacks of each technique, as well as demonstrate their different suitabilities.

Keywords: Drying, Medicinal plants, Herbal medicine.

2596
Silva, R. M. F. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2595 – 2611, 2018
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW

RESUMO

A secagem de extratos medicinais é considerada um processo tecnologicamente viável para fins de


produção em larga escala, devido à melhoria da estabilidade física, química e microbiológica, além
da facilidade de padronização dos princípios ativos. Entre as técnicas de secagem empregadas na
preparação de extratos secos, encontra-se a nebulização, o leito de jorro, a liofilização e a
evaporação rotativa. A escolha do processo de secagem é realizada pelo potencial dos diferentes
equipamentos secadores, na secagem de materiais presentes na forma líquida, no caso, soluções
extrativas de plantas medicinais, fornecem um produto de alta qualidade e com investimento
relativamente baixo. Essa revisão visa providenciar perspectivas acerca das vantagens e
desvantagens de cada técnica, bem como suas diferentes aplicações.

Palavras-chave: Secagem, Plantas medicinais, Fitoterápicos.

2597
Silva, R. M. F. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2595 – 2611, 2018
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW
1.INTRODUCTION

In the last decades, the production of herbal medicines has explored new technological
possibilities to obtain dried extracts. This is based on the advantages shown by the dried extracts in
comparison to fluid extracts (Oliveira, Bott & Souza, 2006; Benelli, Souza & Oliveira, 2013). The
dried extracts suit better the needs of modern therapy, due the ease of standardization and handling,
which contributes to the guarantee of homogeneity of pharmaceutical preparations (Teixeira, 1997;
Paula & Petrovick, 1997; Runha et al., 2001). In addition, the dried extracts present a greater
physicochemical and microbiological stability, allowing the production of high quality products
(Rocha, Fávaro-Trindade & Grosso, 2011).
By definition, dried extracts are solid preparations obtained by evaporating the solvent of the
liquid extract. They are composed of at least 95% of dry matter, calculated as mass percentage.
Adequate inert materials may also be added (Brasil, 2010).
In the herbal pharmaceutical industry, the dried extract is applied in the preparation of
tablets, capsules, granules, ointments and other dosage forms (Leuenberger & Lanz, 2005) as an
intermediary product. Among other advantages, the dried extracts exhibit particle size distribution
of the constituents of the preparation (Cordeiro, 2000).
In the preparation of the dried extracts, the addition of adjuvants to the extractive solution
improves the yield and the pharmacotechnical characteristics of the powder obtained from the
drying technique (De Souza, Bassani & Schapoval, 2007) and it is essential to most of the
developed products. Adjuvants should be characterized by their chemical inertness, thermal stability
and harmlessness (Teixeira, 1997).
Among the drying techniques successfully used in the preparation of dried extracts, there are
nebulization or spray-dryer (Bassani, 1990; Teixeira, 1997), spouted bed (Peixoto, Monteiro &
Freitas, 2004), lyophilization or freeze-drying, and rotary evaporation (Sousa et al.,2007; Dutra et
al.,2009). The techniques cited above are particularly described, aiming the applications in
production and standardization of dried extracts with the purpose of using the extracts as
pharmaceutical ingredients for the production of herbal medicines.

2.METHODOLOGY

It was carried out a research on the databases Scielo®, ScienceDirect®, SciFinder® from 2002 to
2017, using as keywords Drying Techniques, Medicinal Plants, Phytotherapic medicines, Dried
Extracts, Pharmaceutical Industry.

2598
Silva, R. M. F. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2595 – 2611, 2018
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW
3. DRYING TECHNIQUES

3.1 Spray-dryer or Nebulization

The spray-dryer is a drying technique by atomization, aiming the removal of the moisture
present in a fluid material (solution, dispersion or paste), which occurs by passing the liquid extract
through a heated gas stream that separates the moisture into small droplets, resulting in a dry
powder (Al-asheh et al.,2003; Oliveira & Petrovick, 2010). Although spray-dryer is an expensive
technology that requires large investments in facilities and operations, there are many reasons why
it is widely used (Guajardo-Flores et al., 2015; Ozdikicierler et al., 2014, Cruz et al., 2013). These
reasons include the production of materials with desired physical properties, the ability to process
many types of raw materials and flexibility of operation (Oliveira & Petrovick, 2010). The spray-
dryer operates at relatively low gas inlet temperatures with similar efficiency when compared to
other types of direct drying and the final dried product presents homogeneous characteristics
(Guajardo-Flores et al., 2015; Ozdikicierler et al., 2014, Cruz et al., 2013).
The spray-dryer is often used in industrial processes that involve the generation and drying
of liquid droplets (Rocha, Fávaro-Trindade & Grosso, 2011). Thin dry powders, granules and
pellets can be continuously produced by drying solutions, emulsions, and suspensions. The powders
produced by the spray-dryer technique meet high quality standards regarding the particle size of the
product, final moisture, uniformity, density and shape, and these characteristics can be modified by
changing the parameters of the process. The powder obtained by this technology is particularly
appreciated due its high fluidity, a property attributed to the spherical shape of the particles obtained
(Oliveira & Petrovick, 2010).
Due the wide variety of advantages, the spray-dryer technique is often used in herbal
manufacturing industries to dry preparations derived from plants (Gallo et al., 2011; Fernandes,
Candido & Oliveira, 2012), thus avoiding the degradation of its bioactive compounds.
Likewise, Sansone et al., (2011) promoted the drying and encapsulating of Fadogia
ancylantha, Melissa officinalis and Tussilago farfara extracts using a matrix of maltodextrin/apple-
pectin, in order to obtain an intermediate material with better technological properties without
losing its bioactive potential. Stable microencapsulated powders with an increased dissolution rate
were obtained through this study, which demonstrate the effectiveness of the technique (Sansone et
al., 2011).
Moreover, Gallo et al., (2011) optimized the drying conditions and the feeding liquid as
well, in a study aiming the obtainment of the Rhamnus purshiana dried extract. The researchers
observed that applications of lower drying temperatures and a higher feed rate were necessary in
2599
Silva, R. M. F. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2595 – 2611, 2018
ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW
order to obtain powders with greater bioactive potential and greater antioxidant activity. They also
observed that the low output drying temperature resulted in a product presenting an increased
moisture content, hence a product that has better flow properties (Gallo et al., 2011).
Regarding the process, one of the most important parameters is the inlet air temperature,
which is determinant to the quality of the product. The increase of the inlet material temperature
facilitates the drying process since it usually reduces the surface tension and viscosity, making the
formation of droplets more susceptible (Soares, 2002). However, it is also important to monitor the
temperature, regarding the material of interest, since this technique is also suitable for drying heat-
sensitive substances, such as polyphenols (Cal & Sollohub, 2010).
Furthermore, in order to obtain high quality dry extracts, the physicochemical properties of
the extractive solution must also be observed, since the solids content and the viscosity of the
material may affect the operational parameters of the dryer (Couto et al., 2012).
The spray-dryer presents the advantage of drying under aseptic conditions, avoiding any
possible contaminations during the process. From this premise, it can be assumed that a final
bacterial contamination would come primarily from the original plant or human manipulation.
Remili et al., (1994) studied microbial contamination in dried herbal extracts obtained from
a spray-dryer and the influence of the process on the product quality. These authors found out that,
qualitatively, the extracts produced by spray-dryer have low contamination, but the total content of
viable bacteria remained relatively high, exceeding 103 CFU.mL-1 in 35 of 82 samples (Remili,
Boussard & Devleeschouwer, 1994).
Moisture is an interesting variable in the dehydration process and it is an important
parameter to be measured while operating. The temperature is a secondary measurement that cannot
be the cause of hygroscopic differences in products, followed by the changes in composition and the
changes in inlet air humidity. Moisture measurements of the product after the process are
indicatives of process efficiency.
Most of the drying equipment measures temperature, feed rate, flow rate, and inlet gas
humidity. Measurements of the exhaust air moisture can be used in various kinds of analysis to
predict and improve efficiency including mass balance, energy balance, hygroscopic analysis,
statistical analysis and/or process simulation.
Couto et al., (2012) evaluated the influence of drying conditions on the chemical markers
content and in vitro antioxidant activity of Rosmarinus officinalis L. extracts (Lamiaceae), after
undergoing drying by a spray-dryer. The extract feed rate was evaluated, the drying air inlet
temperature and the air flow rate of the nozzle. It was verified that some interactions significantly
affected the quality parameters and the best combination found was extract feed rate at 6 mL.min -1,

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drying air inlet temperature of 140°C and the air flow rate of the spray nozzle at 50 L.min-1 (Couto
et al., 2012).
Peperomia pellucida L. extracts were dried by spray drying by Silva (2010) and
characterized using thermal analysis, surface area, particle size and high efficiency liquid
chromatography - HPLC. It was observed that the use of colloidal silicon dioxide increased the
yield of the dried product, but this was not observed when an atomization temperature of 140°C was
applied, which presented a lower yield in comparison to the drying at 160°C. It was also found that
the drying at 160°C resulted in samples with higher surface area than the samples obtained from
dryings at 140°C and 180°C.
Similarly, Fernandes et al., (2012) analyzed the effect of the inlet temperature while drying a
Lippia sidoides extract by spray-drying using maltodextrin and Arabic gum as adjuvants. In this
study it was observed that at temperatures of 140, 150 and 160°C, the main weight loss occurred
due to the adhesion of semi-moist particles to the walls of the drying chamber, the viscosity of the
dry powder on the walls of the cyclone and the low efficiency recovery of the cyclone (Fernandes,
Candido & Oliveira, 2011).
In order to obtain better powders, it is very common to use adjuvants such as starch,
cyclodextrins, colloidal silicon dioxide, tricalcium phosphate, gelatin, Arabic gum, lactose,
maltodextrin, among others. The selection and proper use of these adjuvants is a critical stage, since
it is fundamental to the stability and quality of dried extracts. The adjuvants may also affect the
bioavailability characteristics of the extract (Oliveira & Petrovick, 2010).
Teixeira (1997) evaluated the use of technological adjuvants such as starch, microcrystalline
cellulose, β-cyclodextrin, colloidal silicon dioxide, ethyl cellulose and gelatin (Teixeira, 1997). The
obtained products presented very low yields mainly due to the adherence of the extract to the walls
of the drying chamber. An exception was observed in the products with colloidal silicon dioxide as
reported in other studies (Bassani, 1990; Senna, 1997, Cordeiro, 2000; Runha et al., 2001).
Likewise, the use of colloidal silicon dioxide resulted in a less hygroscopic powder, in a
study carried out to evaluate the influence of the drying process on the physicochemical properties
of the powder coming from the fluid extract of Bauhinia forficata Link (Lyra, 2013). Fact that can
be attributed to the efficiency of colloidal silicon dioxide, which has high specific surface and high
sorbent power (Oliveira & Petrovick, 2010; Gallo et al., 2011).
Three combinations of drying adjuvants [colloidal silicon dioxide, microcrystalline cellulose
+ colloidal silicon dioxide (1:1) and β-cyclodextrin + colloidal silicon dioxide (1:1)] were analyzed
by De Paula et al., (1998) while producing nebulized dry extracts of Achyrocline satureioides. The
dried extracts were incorporated into an ointment base (De Paula et al.,1998). The influence of the
drying adjuvants on the characteristics of formulations was evaluated, such as spreadability, oil
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index, viscosity and pH. The results indicated that there is some influence of the drying adjuvants
on the physical parameters of the formulations at different levels, even though all the formulations
showed a plastic behavior. The presence of just colloidal silicon dioxide in the dry extract made an
ointment with a low value in oil index and intermediate spreadability area. The reduction of
colloidal silicon dioxide content with the addition of microcrystalline cellulose or β-cyclodextrin
increased the oil index and led to a more spreadable ointment.
The chromatograms indicated that nebulization does not modify the active substances within
the extracts. With the presented results, it can be affirmed that technological adjuvants are very
important to the production of dry extracts.

3.2 Spouted bed

This type of dryer was developed in 1954 by Glishler and Mathu, initially designed for
drying of wheat grains (Marreto, 2006).
Spouted bed dryers have been extensively studied for the drying of biological materials,
food and herbal extracts (Peixoto, Monteiro & Freitas, 2004; Oliveira, Bott & Souza, 2006; Souza
& Oliveira, 2009).
Benelli et al., (2013) evaluated the performance of a spouted bed while drying Lippia
sidoides extract and monitored various processing variables, such as: inlet air temperature, feed rate
of the extract in relation to the maximum evaporation capacity of the dryer, among others. They
concluded that the product properties were affected in all the studied variables, mainly the feed rate
of the extract in relation to the maximum evaporation capacity of the dryer, percentage of colloidal
silicon dioxide added to the composition and percentage of the drying carrier (Benelli et al., 2013) .
About the drying, the use of spouted bed has been widespread by the reason of its
characteristics of high flow rate of inert particles and the uniform bed temperature (Souza &
Oliveira, 2009). Another positive factor of this technique is the low cost of construction,
maintenance, equipment handling and produces satisfactory results compared to a spray-dryer
(Pinto et al., 2015).
The spouted bed drying mechanism consists of a pulverization of a liquid material located
on the surface of a bed containing inert bodies, resulting in a thin layer originated from the contact
between the air and the heated particles. The dried material becomes brittle and breaks up due to the
impact with other particles, being removed with the exhaust air afterwards, which results in a
powder product (Benelli et al., 2013).
The spouted system is established in the bed of solid particles by fluid injection (normally
air) on the bottom, vertically through a single point, whose diameter is reduced in comparison to the
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diameter of the bed, consequently it occurs the formation of a preferential channel as a result of
distinct regions:
- Central Region (preferential channel): The pneumatic transport of particles occurs by
virtue of the high speed of the fluid.
- Spouted Region (source): Region above the bed where the particles coming from the
central region move in a decelerated pattern, falling into the annular region.
- Annular region (sliding): At this point, the stream of particles falls into the spouted region
and slides down the region, operating as a sliding bed.
Many authors, however, define the spouted region as the combination central and spouted
region (Oliveira, Bott & Souza, 2006).
The main fluid dynamic parameters in the study of spouted systems are the minimum
spouting velocity, the maximum stable spout height and the pressure drop as a function of airspeed.
The minimum fluid velocity required to maintain the spouted system is a function of the properties
of solids, of the bed geometry and the fluid itself. The values of the minimum spouting velocity can
decrease as the diameter of the drying camera increases and as the height of the fix bed of solids
decreases. The maximum stable spout height is the maximum height of inert particles, above of
which it is not observed the occurrence of the spouted system, but rather poor fluidization quality.
The pressure drop as a function of airspeed is generated by the high-energy demand required to
establish the spouted system (Marreto, 2006).
The dynamic fluid regime, observed in this type of equipment, provides numerous
advantages. The excellent mix of solids and the intense fluid-solid contact make the drying of heat-
sensitive materials be safe and efficient (Dotto, Souza & Pinto, 2011). However, the
physicochemical characteristics of the sample should be treated carefully, as well as the drying
conditions, since they influence the product quality and performance (Benelli et al., 2013).
Spouted beds have three different geometries: conical, cone-cylindrical and rectangular
(Dotto, Souza & Pinto, 2011). Nevertheless, not all of the spouted beds have the three described
regions well defined. Besides, the different geometries have particular characteristics that influence
the process and the powder characteristics (Cui & Grace, 2008).
The spouted bed dryers are divided into two main groups - the JSB (Jet Spouted Bed) and
the CSB (Conventional Spouted Bed). The difference between these two groups is the diameter of
the entry, which is superior in JSB, and the bed porosity, which is less than 85% in CSB and is
greater in JSB.
Pinto et al. (2017) evaluated de the drying effect of spouted bed in different temperatures on
the biomass of Spirulina (Arthrospira), coming to the conclusion that the most thermal stable

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product was obtained at 100°C, due to stable highest values of antioxidant activity and proteins
solubility and the lowest losses on total phenolic compounds found in this product.
Cordeiro & Oliveira (2005) investigated the feasibility of spouted bed dryers in the
production of dry extracts coming from medicinal plants as an alternative process. They dried the
fluid extract of Maytenus ilicifolia leaves and evaluated the characteristics and quality of the dried
extract through several analytical techniques. As a result obtained powder with low content of
degradation of the active substances, and good physicochemical properties (Cordeiro & Oliveira,
2005).
Drying tests carried out using various adjuvants pointed to colloidal silicon dioxide as the
responsible for the best results (Cordeiro & Oliveira, 2005) which made it the material of choice for
the following tests. The drying tests carried out in two spouted bed configurations (conventional
and draft tube installation) were designed by central composite design. The obtained results back up
the technical and economic viability of the process of producing dry herbal extracts in a spouted bed
dryer, which emerges as an alternative process to the spray-dryer commonly used in herbal
medicine industries.

3.3 Lyophilization

Among the drying techniques used for water removal, lyophilization is one of the most
effective, providing high quality products when compared to other methods. This technique is based
on dehydration by sublimating a given frozen product (Fante, 2011).
Lyophilization is a three-step process. The first step is the product freezing in order to
convert the water content of the material into ice. In the second step, the ice is removed from the
material by sublimation. In the third and last step, the water that remains strongly bound to solutes,
called adsorbed water, is converted into vapor and removed from the product in a process called
desorption (Azwanida, 2015). For this it is necessary that the sublimation temperature zone be
below the triple point (in a pressure versus temperature graphic, it is the point where the three
phases coexist - solid, liquid and vapor).
Freezing is the main step of this process, because it determines the overall performance of
the lyophilization due to the pore shape; the distribution of pore size; the connection between the
pore networks of the dry layer formed by sublimating the frozen water or the aqueous substance
frozen during the primary drying; the dependence of the lyophilization on the ice crystals formed
during the first step and finally it also influences the consistency, color and aroma retention of the
final product (Boss, 2004).

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When the crystal structures are small and discontinuous, the mass transfer rate of water
vapor to the dry layer is limited. On the other hand, if the size of the dendritic ice crystals is
appropriate and the homogenous dispersion of the frozen solution can be carried out, the mass
transfer rate of water vapor to the dry layer can be high and the product can be dried faster. The
method and the lyophilization rate, as well as shape of the contained solution and the nature of the
product are critical in the lyophilization process, because they affect the drying rate and product
quality (Boss, 2004).
According to Adamiec et al., (1995), the slow freezing (10-1000C.min-1) is detrimental to
the cells, because it promotes the formation of large ice crystals that after the water sublimation or
aqueous substance sublimation may impair mechanical damage to the cell structure, like the plasma
membrane. Whereas the ultraswift freezing (e.g. 10000°C.min-1) is the result of a sudden drop in
pressure or temperature and as a result of this stress, small ice crystals are formed and uniformly
distributed without affecting the cell structure. This type of freezing not only facilitates the
technological process, but it also intensifies the dehydration. The ultraswift freezing or self-freezing
is indicated in cases where the materials have low moisture. To materials with high moisture
content a prior freezing is done) (Adamiec et al., 1995).
Lyophilization aims to preserve the product quality. In this process, the rapid transition of
phases minimizes various degradation reactions that occur while drying such as the Maillard
reaction, the denaturation of proteins and enzymatic reactions (Boss, 2004).
The procedure conditions such as low temperature, low pressure and lack of intermediate
liquid phase mostly eliminate the denaturation and changing factors. It is a preservation method, in
which all the biochemical activities are completely interrupted.
Such drying does not kill bacteria, but the bacteria proliferation is not possible in the dry
material. After drying, the enzymes are inactivated, because there is no water around and the
oxidative or non-oxidative chemical reactions occur in small quantities, bringing satisfactory results
to the product (Boss, 2004).
The produced dry material has a porous aspect and friable aspect and it has a particularly
eagerness for water that enables its quick and full reconstitution to a solution or the initial pseudo-
solution. Lyophilization, although an expensive process, is used to stabilize and maintain brittle
bodies or brittle mixtures, aseptic preparations and biological products (Jales, 1999).
Ishikawa et al., (2008) evaluated the lyophilized extract of Plinia edulis leaves regarding the
phytochemical profile and antimicrobial activity. The phytochemical screening showed the presence
of pharmacological substances of interest such as flavonoids, tannins, saponins and terpenoids.
However, the extract did not inhibit the growth of Aspergillus niger, Candida albicans, Escherichia
coli and Staphylococcus aureus with concentrations up to 1000 mg.mL-1 (Ishikawa et al., 2008).
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Silva et al., (2001) proved that lyophilization was effective to conserve Tabebuia
heterophylla seeds in an uncontrolled environment and in a dry chamber, but it was unnecessary
when the seeds were stored in a cold room. Non-lyophilized seeds, stored in a cold room, preserved
better the physiological quality than the lyophilized, stored in an uncontrolled environment and in a
dry chamber ) (Silva et al., 2001).
There are many types of lyophilizers.
- Tray-type lyophilizer: it is the most used. There are two types that differ in the condenser
used. The condensers can either be placed within the chamber or in a separate chamber connected
by tubes. This kind of equipment provides difficulties to work with pharmaceuticals, such as
ampicillin, due to the difficulty to keep the product sterile. However, it has the advantage of
consuming less energy.
- Multi Batch: The mass flow and the product handling operations are discontinuous due to
the process characteristics.
- Tunnel: The drying occurs on a large vacuum chamber in the form of tunnel where the
frozen product intended to be dried enters on trays organized in cars or tracks that cross the
chamber. This type of equipment does not work simultaneously with different products. The
refrigeration system usually operates with ammonia. The heating of the vacuum stream provides
several advantages such as the high latent heat of condensation and temperature control by pressure
(Oliveira, 2006). As the production volume increases, the tunnel length should be increased and a
new vacuum pump is introduced. This equipment uses pressure cycles that bring enough advantages
to offset its high cost. The drying time is reduced thirty percent when compared to equipment that
work at a constant pressure (Lichtfield, Liapis & Farhadpour, 1981).
- Continuous lyophilizer: The operating conditions are constant and hence easy to control. It
requires less hand labor and supervision. It is very interesting when working with a single product
or when the feeding part comes from a continuous process. These continuous dryers are more
economical than the multi batch dryers.
- Microwave Lyophilization: The disadvantages are in relation to the cost; the difficulty to
control, because water has a higher dielectric constant when compared to ice, then at any point
where the melting of ice has occurred there is a heat loss; besides, there is no such a dryer available
to an industrial scale.
The high cost of lyophilization can be compensated by not needing any handling or product
storage in a refrigerated room and also when the product presents a high added value.

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3.4 Rotary evaporation

The rotary evaporator is an apparatus that concentrates the extract by evaporating its
solvent(s), where the solution to be concentrated is continuously agitated by a rotation movement
imposed by the engine of the machine. The solvent vapors are condensed and then passed to a flask
where the solvent can be recovered (Pombeiro, 2003). Usually, small volumes of extracts are used,
at temperatures between 30 and 40°C.
Sousa et al., (2007) investigated and confirmed the analgesic and anti-inflammatory effects
of Posoqueria acutifolia. After drying branches of this plant at 50°C, under forced ventilation, the
botanical material was triturated and pulverized and the methanol extract was obtained from static
maceration after three weeks with ten solvent exchanges. After removing the methanol by using a
rotary evaporator, the dried crude extract was dissolved in 1% (v/v) dimethylsulphoxide in saline
solution in order to evaluate the pharmacological activities (Sousa et al., 2007).
The skin burn healing in rabbits, achieved by topically applying creams containing hexane
fractions, obtained from Pterodon emarginatus seeds, was evaluated and confirmed by Dutra et al.
(2009). The seeds were triturated and undergone extraction with the use of Soxhlet apparatus. After
conditioning the seed to a cartridge and adapting the round bottom flask, the sample underwent
successive extractions with hexane for 24h, until solvent exhaustion. The hexane fraction underwent
rotary evaporation at temperature of 50 ± 5°C, until complete solvent removal (Dutra, 2009).
Table 1. Advantages and disadvantages of drying methods

ADVANTAGES DISADVANTAGES
Materials with desired physical
properties, process many types
SPRAY-DRYING Expensive technology and
of raw materials, flexibility of
need of trained personnel.
operation and drying under
aseptic conditions.
High flow rate of inert
particles, uniform bed Minimum and maximum spout
SPOUTED BED temperature and low cost of bed heights and concerns about
construction, maintenance and the difficulty in scaling up.
equipment handling.
High energy consumption, high
Useful for high added value cost and long drying time, does
LYOPHILIZATION products because it does not not eliminate microorganisms
degrade the constituents of the from the product and produces
material. materials that are highly
hygroscopic.
Low cost, concentration of Not very efficient and able to
ROTARY EVAPORATION extracts prior to other drying produce standardized
techniques. materials.

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4. CONCLUSION

Currently, dry extract is the preferred form of pharmaceutical industries, especially due to
the higher concentration, stability and ease to standardize the active ingredients present in plants.
These factors increase the added-value of the product and also contribute to meet the requirements
of the industry and regulatory agencies.
The choice of the drying process is driven by the potential of the different dryers and the
material at hand. It is also important to consider the analysis of the particle type to be dried, the
production capacity, any eventual need of solvent recovery, energy demand and cost/benefit ratio.
Extracts that cannot be degraded, even by the slightest, should be lyophilized. If particles
with particularly desired characteristics are needed, then the best choice would be the spray-dyer,
despite its high cost, it is the most controllable process. Spouted bed also produces high-quality
products and it is a low-cost option to a spray-drier, just as the rotary evaporation is but not with the
same quality of particle obtained. This last one is most useful to concentrate a fluid extract prior to
another drying technique.

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2611
Silva, R. M. F. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2595 – 2611, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Prevalência de interações medicamentosas potenciais em hipertensos atendidos


em uma farmácia de Curitiba/PR

Guilherme da Silva Faot 1, Suelen Boschen de Souza 1,2 & Adriana de Oliveira Christoff 1*

1– Departamento de Farmácia, Centro Universitário Autônomo do Brasil – UniBrasil, Curitiba-PR, Brasil.


2 – Neural Engineering Laboratory, Mayo Clinic, Rochester-MN, E.U.A.

*
Correspondências devem ser enviadas para: adrichristoff@gmail.com, Centro Universitário Autônomo do
Brasil, Rua Konrad Adenauer, 442 – Tarumã, Curitiba – PR, 82820-540, Brasil, 554133614240
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Resumo

A hipertensão arterial sistêmica é uma doença multifatorial caracterizada pelo aumento permanente
dos níveis pressóricos sanguíneos. Complicações como o infarto agudo do miocárdio e acidente
vascular cerebral ocorrem se a hipertensão não for tratada eficientemente. A politerapia
farmacológica é frequentemente aplicada como forma de otimizar o controle dos sintomas
hipertensivos e suas complicações. Interações medicamentosas podem surgir e prejudicar a
evolução clínica dos pacientes, especialmente de idosos. Desta forma, o objetivo desse estudo foi
avaliar a prevalência de interações medicamentosas potenciais na farmacoterapia de indivíduos
hipertensos em uma farmácia de Curitiba-PR. Uma entrevista estruturada foi realizada com 40
indivíduos para obtenção do histórico farmacoterapêutico. As interações medicamentosas foram
detectadas e categorizadas segundo informações de bancos de dados e ferramentas clínicas. Foram
detectadas 240 interações medicamentosas sendo 134 relacionadas especificamente aos
medicamentos anti-hipertensivos. Apenas 10% dos indivíduos não apresentaram interações. Do
total, 9,7% foram classificadas em nível grave, 69,4% de nível moderado e 20,9% de nível leve. A
alta prevalência de interações medicamentosas entre anti-hipertensivos e outros medicamentos
revela um número relevante de pacientes em tratamento farmacológico complexo sujeito ao
desenvolvimento de eventos adversos. O monitoramento farmacêutico com objetivo de identificar
interações medicamentosas potenciais e posteriores intervenções são importante para evitar
agravantes e garantir o sucesso da farmacoterapia.

Palavras-chave: Interações medicamentosas, Hipertensão Arterial, Anti-Hipertensivos.

2613
Faot, G. S.; Souza, S. B.: Christoff, A. O. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2612 – 2626, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

ABSTRACT

Hypertension is a multifactorial disease characterized by the constant increase of the blood pressure.
If not treated, complications could be occurring. Pharmacological multi-therapy is often used to
optimize the control of hypertensive symptoms and its complications. Drug interactions may arise
and impair patient’s clinical progression, mainly elderly patients. The objective of the present study
was to evaluate the prevalence of potential drug interactions in the pharmacotherapy of
hypertensive patients in a pharmacy of Curitiba-PR. A structured interview was conducted with 40
subjects to obtain their pharmacotherapeutic history. Drug interactions were detected and
categorized in accordance with information of clinical tools and databases. Of the 240 drug
interactions detected, 134 were specifically related to antihypertensive drugs. Only 10% of the
subjects had no drug interactions. Of the total, 9.7% were severe, 69.4% were moderate and 20.9%
were minor level. The high prevalence of drug interactions of antihypertensive and other drugs
reveals a relevant number of patients under complex pharmacological treatment subjected to the
development of adverse events. The pharmaceutical monitoring aiming to identify potential drug
interactions and subsequent interventions is important to avoid aggravating factors and to ensure the
success of pharmacotherapy.

Keywords: Drug interactions, Hypertension, Anti-hypertensives

2614
Faot, G. S.; Souza, S. B.: Christoff, A. O. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2612 – 2626, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
INTRODUÇÃO
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma doença multifatorial que se caracteriza pelo
aumento permanente dos níveis pressóricos sanguíneos mesmo após repouso. É a doença
cardiovascular mais frequente na população considerada fator determinante no desencadeamento de
outras condições graves, como o acidente vascular cerebral (AVC), o infarto agudo do miocárdio
(IAM) e a doença renal crônica. A maioria dos casos não apresenta sintomas, dificultando o
diagnóstico e a aceitabilidade da condição pelo indivíduo, o que provoca baixa adesão ao
tratamento, sendo esses considerados fatores que acarretam resultados negativos na clínica da HAS
(SBC, 2010; MS, 2006).
Os esquemas terapêuticos para o tratamento da HAS dependem do estágio da doença, o risco
cardiovascular adicional e lesões de órgãos-alvo além da avaliação individual de cada caso. A
monoterapia é utilizada nos casos de hipertensão com risco cardiovascular adicional baixo e médio.
Frequentemente a utilização de apenas um medicamento para a HAS é insuficiente para diminuir os
níveis pressóricos e com isso a politerapia é comumente utilizada para o controle da doença e de
efeitos colaterais. Tratando-se de público majoritariamente senil é comum o uso de medicamentos
para outras morbidades, além da prática da automedicação, condições que tornam comum o evento
de interações medicamentosas. Assim o controle dos sintomas da HAS fica prejudicado pelo
surgimento de reações desagradáveis, potencialmente severas, gerando ineficácia do tratamento
farmacológico e o agravamento da doença (Malachias et al., 2016; SBC, 2010).
O farmacêutico é parte importante para o sucesso da terapia medicamentosa do paciente.
Através da análise do histórico do indivíduo e do acompanhamento interprofissional é possível
detectar interações medicamentosas e/ou problemas que podem diminuir a efetividade do
tratamento, contribuindo para obtenção de resultados desejáveis. Observada a grande importância
da identificação de potenciais interações medicamentosas na farmacoterapia, o objetivo desse
estudo foi avaliar a prevalência das interações medicamentosas potenciais na terapia farmacológica
de indivíduos portadores da HAS atendidos em uma farmácia de Curitiba/PR.

MÉTODOS
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do Centro
Universitário Autônomo do Brasil, obedecendo aos critérios para pesquisa em seres humanos
segundo a resolução 466/12, sob o protocolo n° 53835216.7.0000.0095.
Entre maio e agosto de 2016 foi realizado um estudo transversal com pacientes hipertensos
cadastrados no sistema interno de uma farmácia da cidade de Curitiba-PR, os quais foram
convidados a participar da pesquisa. A partir do consentimento de cada paciente (n = 40), foram

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Faot, G. S.; Souza, S. B.: Christoff, A. O. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2612 – 2626, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
convidados a responder a um questionário sócio demográfico e econômico para a caracterização da
amostra. Após, foi aplicado um questionário estruturado composto de 10 perguntas abertas sobre o
histórico clínico em relação à HAS, a presença de outras doenças além da hipertensão arterial, os
medicamentos utilizados para tratamento da HAS e outras patologias, bem como o horário de
administração dos medicamentos relatado pelo paciente e o relato de possíveis reações adversas ou
efeitos colaterais com o uso dos medicamentos. Para confirmar as informações obtidas nas
entrevistas, foram obtidas cópias digitalizadas das prescrições médicas dos pacientes. Das
prescrições médicas, foram coletados dados referentes aos tipos de medicamentos, posologia, dose,
duração do tratamento, forma farmacêutica e via de administração. Os critérios de inclusão para a
participação do estudo abrangeram: (i) o diagnóstico médico da HAS verificado pela prescrição da
medicação anti-hipertensiva, pelo cadastro do paciente no sistema interno da farmácia e pelo auto
relato do paciente; (ii) o uso de ao menos dois medicamentos, sendo que um deles tinha indicação
para tratamento da HAS; e (iii) idade superior a 18 anos.
A possível ocorrência de interação medicamentosa e seu nível de gravidade foram obtidos
através da consulta na literatura utilizando o Medscape e o Micromedex® versão 2.0. Foram
consideradas somente as possíveis interações medicamentosas classificadas em farmacocinética e
ou farmacodinâmica e descritas na literatura. Foi considerada a gravidade potencial da interação
(grave, moderada ou mínima) e seu nível de evidência relativo verificado pela comprovação
científica de estudos e notificações a partir de busca pela ferramenta Micromedex® Versão 2.0. Não
foi avaliado entre os pacientes participantes se tais interações previstas em literatura ocorreram, pois
o presente estudo tratou apenas de investigar a possibilidade da ocorrência de interações entre
pacientes hipertensos.
Os dados obtidos nas entrevistas foram organizados no Software Microsoft Excel ®. As
interações foram quantificadas e a prevalência de cada uma foi calculada a partir da razão entre o
número de ocorrências de cada interação e número total de participantes da pesquisa.

RESULTADOS
Dos 40 pacientes participantes, 26 eram do gênero feminino (65%). A distribuição da faixa
etária foi de 7 pacientes entre 38 – 48 anos (17,5%), 11 entre 49 – 59 anos (27,5%), 14 entre 60 – 70
anos (35%) e 8 entre 71 – 81 anos (20%). Quatorze pacientes relataram ser analfabetos ou não ter
completado o 3° ano do ensino fundamental (35%). Para esses, as perguntas do questionário e as
respostas fornecidas foram lidas e redigidas pelo pesquisador. Os dados demográficos estão
ilustrados na Tabela 1.

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Faot, G. S.; Souza, S. B.: Christoff, A. O. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2612 – 2626, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Tabela 1. Descrição do perfil sócio demográfico dos pacientes hipertensos em uma farmácia de
dispensação de Curitiba-PR.
Variável n (40) %
Gênero
Masculino 14 35
Feminino 26 65
Idade
38 – 48 7 17,5
49 – 59 11 27,5
60 – 70 14 35
71 – 81 8 20
Escolaridade
Analfabeto/3° série fundamental 14 35
4° série fundamental 8 20
Ensino fundamental completo 8 20
Ensino médio completo/Superior incompleto 8 20
Superior completo 2 5
Raça
Branco 31 77,5
Negro 6 15
Pardo 2 5
Amarelo 1 2,5
n – Número de sujeitos investigados; % - número percentual em relação aos 40 sujeitos investigados. Período
da coleta de dados: entre maio e agosto de 2016

Os dados apresentados na Figura 1 mostram o tempo de diagnóstico da doença relatado pelo


paciente. As comorbidades associadas à HAS mais presentes nos participantes do estudo foram a
hipercolesterolemia em 16 casos avaliados, diabetes mellitus em 9 casos, transtornos de ansiedade
em 6 casos, problemas de circulação periférica em três casos e insuficiência cardíaca em 2 casos.

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Faot, G. S.; Souza, S. B.: Christoff, A. O. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2612 – 2626, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Figura 1. Tempo de diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica em pacientes hipertensos em uma
farmácia de dispensação de Curitiba-PR.

O diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica dos pacientes de uma farmácia de dispensação de Curitiba-PR
foi confirmado através da verificação da indicação de ao menos um medicamento anti-hipertensivo nas
prescrições médicas, pelo cadastro interno dos pacientes na farmácia e pelo auto relato dos pacientes. O
tempo de diagnóstico foi relatado pelo próprio paciente. Os dados são expressos como número total de
indivíduos (n = 40) em relação ao tempo de diagnóstico de hipertensão. Período da coleta de dados: entre
maio e agosto de 2016.

Foram detectadas 240 possíveis interações identificadas nas prescrições médicas dos 40
pacientes, das quais 134 ocorrências envolveram interações com anti-hipertensivos, e em apenas 4
casos não foram detectadas interações medicamentosas potenciais. Ao todo foram detectadas 6
interações potenciais de nível grave, em que a interação entre o anlodipino e a sinvastatina obteve
maior prevalência, aparecendo em 12,5% das prescrições. As demais interações deste nível tiveram
prevalência de 2,5% cada (Tabela 2).

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Faot, G. S.; Souza, S. B.: Christoff, A. O. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2612 – 2626, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Tabela 2. Interações medicamentosas de nível grave identificadas na farmacoterapia de pacientes
hipertensos de uma farmácia de dispensação de Curitiba-PR.
Significância
Interação Efeito Prevalência (%)
clínica
Aumento dos níveis séricos de
sinvastatina provocado pela inibição de
Anlodipino e enzimas hepática causado pelo
sinvastatina
Estabelecida 12,5
anlodipino. Risco potencial de
miopatia/rabdomiólise.
Aumento de toxicidade de ambos por
sinergismo farmacodinâmico. Maior risco
de bradicardia. Ações simpatolíticas
Atenolol e clonidina
podem agravar disfunção do nodo sinusal
Provável 2,5
e provocar bloqueio atrioventricular.
Hipertensão de rebote na retirada brusca.

Fluoxetina aumenta os níveis séricos do


Carvedilol e fluoxetina carvedilol por inibição de metabolismo Possível 2,5
hepático

Ocorrência de efeitos tóxicos de ambos


por sinergismo farmacodinâmico.
Losartana e enalapril Bloqueio duplo do sistema renina- Estabelecida 2,5
angiotensina aumenta o risco de
hipotensão.
Risco de hipercalemia relacionado a
baixos níveis de aldosterona causado pelo
Enalapril e
espironolactona
efeito do enalapril somado ao efeito da Provável 2,5
espironolactona na reabsorção do
potássio.

Aumento do efeito farmacológico de


Hidroclorotiazida e
ambos por sinergismo farmacodinâmico. Provável 2,5
carbamazepina
Aumento do risco de hiponatremia.

Prevalência – razão entre o número total de determinada interação medicamentosa e o número total de
sujeitos investigados. Período da coleta de dados: entre maio e agosto de 2016.

As interações de gravidade moderada foram as mais frequentes, totalizando 43 tipos de


interações medicamentosas potenciais detectadas em todas as prescrições e relatos dos participantes.
A interação entre a hidroclorotiazida e o ácido acetilsalicílico (AAS) foi a mais prevalente, sendo
encontrada em 27,5% dos casos. A interação entre o atenolol e a losartana teve o segundo maior
número de ocorrências, com prevalência de 22,5%, e a interação entre losartana e o omeprazol
obteve a terceira maior prevalência com 17,5% dos casos (Tabela 3).

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Faot, G. S.; Souza, S. B.: Christoff, A. O. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2612 – 2626, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Tabela 3. Interações medicamentosas de nível moderado identificadas na farmacoterapia de
pacientes hipertensos de uma farmácia de dispensação de Curitiba-PR.
Significância Prevalência
Interação Efeito
clínica (%)
Potencialização do efeito do AAS por
Hidroclorotiazida e AAS Provável 27,5
competição na depuração dos fármacos.
Aumento do potássio sérico por sinergismo
Atenolol e losartana Possível 22,5
farmacodinâmico.
Aumento do efeito da losartana por inibição da
Losartana e omeprazol CYP 2C9 e possível redução da conversão da Possível 17,5
forma ativa.
Losartana e Sinergismo. Podem ocorrer episódios de
Possível 17,5
hidroclorotiazida hipotensão
Sinergismo. Podem ocorrer episódios de
Atenolol e hidroclorotiazida Possível 15
hipotensão.
Pode ocorrer bradicardia, distúrbios da condução
Atenolol e anlodipino e insuficiência cardíaca por conta do bloqueio Provável 12,5
elevado de receptor β e do canal de cálcio.
Sinergismo. Podem ocorrer episódios de
Enalapril e hidroclorotiazida Possível 12,5
hipotensão.
Fluoxetina pode inibir o metabolismo hepático
Losartana e fluoxetina Possível 7,5
da losartana.
Aumento do potássio sérico por sinergismo
Losartana e carvedilol Possível 7,5
farmacodinâmico. Contra indicado na gestação.
Carvedilol e espironolactona Aumento do potássio sérico. Possível 5
Carvedilol aumenta os níveis de digoxina
influenciando na velocidade de absorção por via
Carvedilol e digoxina Provável 5
oral. Carvedilol diminui a depuração renal da
digoxina. Aumento do potássio sérico.
Losartana e espironolactona Aumento do potássio sérico. Possível 5
Primeira dose pode causar efeito hipotensivo
Enalapril e doxazosina Possível 5
exagerado.
Enalapril aumenta o efeito da insulina por
sinergismo (raro). Os IECA podem aumentar os
Enalapril e insulina NPH Possível 5
níveis de bradicinina, o que diminui a produção
de glicose pelo fígado.
Enalapril aumenta o efeito da glibenclamida por
Enalapril e glibenclamida Possível 5
sinergismo.
Hidroclorotiazida e ins. Hidroclorotiazida diminui o efeito da insulina
Possível 5
Regular regular por antagonismo farmacodinâmico.
Hidroclorotiazida e Beclometasona aumenta os níveis da
Possível 5
beclometasona(inalatório) hidroclorotiazida, podendo causar toxicidade.
A diminuição do potássio sérico pela ação
Furosemida e digoxina Provável 5
dafurosemida aumenta os efeitos da digoxina.
Espironolactona pode aumentar os níveis séricos
de digoxina pelo aumento de sua meia-vida
Espironolactona e digoxina Provável 5
(diminuição de depuração renal), causando
efeitos tóxicos. Pode aumentar o potássio sérico.
Anlodipino e doxazosina Sinergismo. Aumentam o efeito hipotensor Possível 5
Anti-hipertensivo (todos) e
Efeito anti-hipertensivo potencializado. Possível 5
propatilnitrato
Espironolactona e
Podem aumentar o potássio sérico. Provável 5
meloxicam
AAS: Ácido acetilsalicílico. IECA: Inibidores da enzima conversora da angiotensina. Ins: Insulina.
Prevalência – número total de determinada interação medicamentosa dividido pelo número total de sujeitos
investigados (n = 40). Período da coleta de dados: entre maio e agosto de 2016.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Foram encontradas 13 interações medicamentosas potenciais de nível leve. Destas,
obtiveram destaque as interações envolvendo a hidroclorotiazida e os antidiabéticos – metformina,
insulina NPH, glibenclamida, onde a prevalência total foi de 22,5%, e as interações entre a
hidroclorotiazida e os corticoides – prednisona e budesonida, com prevalência de 5% cada.
As possíveis interações medicamentosas encontradas no estudo através de pesquisa teórica
foram relatadas ao profissional farmacêutico responsável pelo estabelecimento para averiguação da
real manifestação destas nos pacientes e, se necessário, para a realização de possíveis intervenções
junto ao profissional prescritor.

DISCUSSÃO
O objetivo do estudo foi verificar a prevalência das interações medicamentosas potenciais de
pacientes com HAS atendidos em uma farmácia de dispensação da cidade de Curitiba. Foi
observado na população estudada um total de 9,7% de interações medicamentosas de nível grave,
69,4% de interações medicamentosas de nível moderado e 20,9% de interações de nível leve.
Houve um elevado número de indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos (55%), similar ao
verificado por Souza e colaboradores (2014) em um estudo que envolveu 353 pacientes hipertensos
(62,1%). Em outro estudo direcionado a intervenção farmacêutica em pacientes idosos, foi visto que
a maior incidência de problemas relacionados a medicamentos envolveu algum medicamento anti-
hipertensivo (diurético, beta-bloqueador, bloqueador de canal de cálcio e inibidor da enzima
conversora da angiotensina). Apesar do presente estudo não investigar se as interações de fato
ocorreram, o estudo de Junior et al (2007) confirma que muitos problemas encontrados durante o
tratamento podem estar relacionados as interações com anti-hipertensivos. Esses achados
corroboram o fato da maior incidência de HAS se dar em indivíduos idosos (Brasil, 2016; Souza et
al., 2014; Júnior et al., 2007).
A idade avançada constitui um fator de risco importante para a HAS. Somado a isso, é muito
comum a ocorrência de morbidades associadas à HAS que tornam o manejo da terapia
farmacológica ainda mais complexo. O estudo de Perrotti et al. (2007) relata que o paciente idoso
possui de 3 a 5 doenças de caráter crônico (Perroti et al., 2007). Consequentemente é comum a
politerapia em que um grande número de medicamentos é utilizado para o tratamento da HAS e das
comorbidades. Nesse sentido, a obtenção de um desfecho clínico positivo é dificultada visto que
quanto mais medicamentos um paciente utiliza, maior a probabilidade de ocorrências de interações
medicamentosas como encontrado no presente estudo. As consequências incluem a diminuição ou
aumento do efeito de um fármaco, redução ou aumento da sua concentração sérica e de seus

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Faot, G. S.; Souza, S. B.: Christoff, A. O. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2612 – 2626, 2018
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metabólitos o que pode ocasionar toxicidade local ou sistêmica. A negligência a esses eventos
levam à ineficácia do tratamento, possível agravamento da doença e até expor a vida do paciente.
O presente estudo mostrou que apenas 10% do número total de prescrições não continha
nenhuma interação medicamentosa. A alta prevalência de interações encontrada revela um número
relevante de pacientes com tratamento farmacológico complexo relacionado ao controle da HAS.
Um estudo realizado em uma farmácia comunitária de São Paulo revelou que 83,7% dos pacientes
fazem uso da politerapia e foram identificadas 1440 interações medicamentosas no total de
prescrições de 600 participantes (Santos, Junior & Restini, 2012). Amaral e Perassolo (2012)
avaliaram as prescrições de 45 pacientes participantes do programa HIPERDIA (grupo de
acompanhamento de pacientes com hipertensão e diabetes pelo SUS) e mostraram que 95,5% dos
pacientes utilizavam anti-hipertensivos e 87% das prescrições analisadas continham alguma
interação medicamentosa. Em outro estudo realizado em uma unidade de terapia intensiva de um
hospital universitário de Manaus, 67,6% das prescrições apresentaram alguma interação
medicamentosa. Estes achados reforçam a importância do papel do farmacêutico em monitorar a
farmacoterapia para a identificação e resolução de tais interações, as quais podem ser classificadas
como potenciais ou reais e detectadas nas prescrições médicas ou obtidas a partir de relatos dos
pacientes (Rocha, Mota & Oliveira, 2014; Amaral & Perassolo, 2012).
A identificação e resolução das interações medicamentosas é crucial para o sucesso do
tratamento farmacoterapêutico e a consequente melhora clínica do paciente. O farmacêutico é o
profissional habilitado para realizar tal acompanhamento dos pacientes, detectando o nível de
gravidade de interações medicamentosas, identificando complicações clínicas e outros problemas
relacionados ao uso do medicamento. Um estudo realizado em uma comunidade rural em Portugal
resultou em intervenções bem-sucedidas em 77,4% dos casos no grupo de intervenção, que
apresentavam a pressão arterial descompensada. É nesse sentido que se espera que a intervenção
farmacêutica possa minimizar os riscos relacionados ao uso incorreto do medicamento, seja através
do monitoramento clínico e laboratorial, ajuste dos horários de uso ou pela recomendação de ajuste
de dose ou retirada ou substituição de algum medicamento. É importante ressaltar que as decisões
clínicas devem ser sempre compartilhadas com o profissional prescritor e em muitos casos devem
ser tomadas em consenso com o mesmo, promovendo a interprofissionalização do cuidado ao
paciente (Garske et al., 2016; José & Garçao, 1996).
É importante destacar que as interações medicamentosas de nível grave devem receber
intervenção farmacêutica o mais rápido possível, pois colocam a vida do paciente em risco ou
geram lesões agudas ou irreversíveis em órgãos ou tecidos. Como exemplo, no presente trabalho a
interação medicamentosa entre o anlodipino e a sinvastatina teve maior prevalência dentre as

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Faot, G. S.; Souza, S. B.: Christoff, A. O. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2612 – 2626, 2018
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interações de nível grave (12,5%), assim como mostrado em um estudo realizado no município de
Timoteo-MG (4,02% de interações graves) (Gotardelo et al.; 2014). No estudo de Son e
colaboradores (2013) também foi detectada e discutida a relevância desta interação. Quando ambos
os medicamentos são administrados juntos, ocorre aumento dos níveis séricos da sinvastatina
podendo gerar rabdomiólise devido à necrose do tecido muscular estriado. Como resultado ocorre
liberação de creatinoquinase e mioglobina na corrente sanguínea, os quais aumentam o risco de
toxicidade e consequentemente de insuficiência renal e até morte se não tratada precocemente.
Apesar de menos prevalente no presente estudo, a interação entre losartana e enalapril também foi
detectada em outros estudos. Essa interação pode desencadear quadros de hipotensão grave,
hipercalemia e alterações na função renal por conta do bloqueio do sistema renina-angiotensina
causado pela associação desses medicamentos. Deve-se evitar o uso concomitante ou monitorar
constantemente a P.A, função renal e eletrólitos (Gotardelo et al., 2014; Marquito et al., 2014; Son
et al., 2013; Botton et al., 2011; Oliveira, 2009).
Nas interações de nível moderado o contexto a ser observado é o acompanhamento dos
sintomas decorrentes das interações. As interações deste nível foram as mais encontradas no
presente estudo o que corrobora com o estudo de Sehn e colaboradores (2003) que encontraram
48,4% de interações de nível moderado. A associação da hidroclorotiazida com o ácido
acetilsalicílico (AAS) foi a interação medicamentosa moderada mais prevalente (27,5%). O
mecanismo para essa interação consiste na potencialização do efeito do AAS por conta da
competição da depuração renal dos dois fármacos. O AAS bloqueia em maior concentração a
enzima Ciclooxigenase-1 (COX-1) responsável pela produção constitutiva de prostaglandinas,
especialmente as fisiológicas que auxiliam a homeostasia renal. Desta forma sua inibição induz a
retenção de sódio e água, agravando os efeitos hipertensivos. Quando o AAS é utilizado como
analgésico na dose de 500 mg, assim como ocorre com outros anti-inflamatórios não esteroidais,
pode haver a diminuição da eficácia de todos os anti-hipertensivos por conta de maior bloqueio da
COX-1, promovendo à elevação da pressão arterial (Marquito et al., 2014; Brunton, Chabner &
Knollmann, 2012; Oliveira, 2009; Junior et al., 2008; Sehn et al., 2003).
Houve relatos de interações envolvendo a digoxina com o carvedilol, furosemida e
espironolactona (prevalência de 5% cada), e losartana e enalapril (prevalência de 2,5% cada). A
digoxina é um fármaco de baixo índice terapêutico e certas interações podem aumentar seus níveis
séricos no organismo ocasionando intoxicação digitálica. Esse tipo de intoxicação resulta em várias
complicações como distúrbios gastrointestinais (náuseas, diarreia), sintomas neurológicos (confusão
mental) ou efeitos cardiovasculares (bloqueio atrioventricular) (Figueiredo & Machado, 2010). Essa
interação, mesmo que considerada moderada, requer atenção especial com necessidade de

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reconhecimento das complicações que podem ocorrer no paciente idoso visto que este paciente
possui limitações fisiológicas.
As interações de nível leve são aquelas que geralmente não comprometem a situação clínica
do paciente, não sendo necessária a imediata realização de intervenções no tratamento. Dentre as 13
interações de nível leve encontradas, 12 envolveram medicamentos diuréticos. As interações entre
os diuréticos e os antidiabéticos – hidroclorotiazida e metformina, insulina NPH e glibenclamida –
embora leves, merecem atenção em pacientes diabéticos uma vez que a interação sugere a
diminuição do seu efeito. Pacientes que utilizam a associação destes medicamentos apresentam
níveis glicêmicos alterados e podem ser prejudicados por tal associação. Além disso, as interações
podem ser responsáveis pelo agravamento de outras comorbidades apresentadas pelo paciente.
(Amaral & Perassolo, 2012).
A importância de estudos que buscam identificar e minimizar os eventos de interações
medicamentosas envolvendo os anti-hipertensivos é evidente, visto que a maioria dos pacientes
hipertensos possui outras morbidades, são idosos e muitas vezes são considerados polifarmácia.
Todos esses fatores dificultam a obtenção do objetivo farmacoterapêutico em atingir desfechos
clínicos positivos, além de existir a possibilidade de agravamento da condição clínica por conta das
interações. A prática de acompanhamento farmacoterapêutico continuado realizado pelo
farmacêutico é essencial para o aprimoramento e sucesso do tratamento de doenças de caráter
crônico como a hipertensão.

CONCLUSÃO
O presente estudo revelou uma alta prevalência de interações medicamentosas potenciais
envolvendo os anti-hipertensivos. O público idoso, assim como a presença de outras doenças, são
fatores que tornam comum a politerapia, assim, a probabilidade do surgimento de interações
medicamentosas torna-se quase sempre evidente. A identificação prévia de interações
medicamentosas potenciais pode auxiliar na redução dos riscos de reações indesejadas no paciente,
além de obter os resultados esperados na terapia medicamentosa. Desta forma, o monitoramento
farmacoterapêutico dos pacientes com avaliação cuidadosa de suas prescrições pode contribuir para
evitar que essas tais interações se manifestem e afetem negativamente o sucesso do tratamento
farmacológico.

Agradecimentos: Os autores agradecem a assistência técnica de Cristiane Vizintin Rocha.

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Avaliação da viabilidade de formulações semissólidas contendo extrato seco de


Lecythis pisonis Camb.

Letícia Paula Benvindo Trajano1*, Igor Frederico da Silveira Ramos2, Rayran Walter Ramos de
Sousa3, Teresa Mariana Abreu dos Santos4, Rafael Ribeiro Silva5 & Eilika Andréia Feitosa
Vasconcelos6

1, 2, 3, 4, 5, 6
Universidade Federal do Piauí - UFPI, Teresina (PI), Brasil

*Autor correspondente: Letícia Paula Benvindo Trajano - Universidade Federal do Piauí.


Departamento de Farmácia - Ininga - CEP 64049-550 - Teresina (PI), Brasil - Tel.: (86) 99555-
2404 - e-mail: leticiabenvindo2@gmail.com
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

RESUMO

O estudo objetivou a viabilidade do preparo de formulações semissólidas contendo o extrato seco de


Lecythis pisonis Camb. com posterior estudo da estabilidade. O extrato vegetal foi obtido por
maceração, seguido de rotaevaporação e secagem por aspersão em Spray dryer. Foram preparadas
nove formulações, utilizando três tipos de bases diferentes (Crodabase®, Carbopol® e Pluronic®
Lecithin Organogel) com concentrações a 1% e 2% de L. pisonis, com intuito de determinar a
formulação mais promissora por meio de testes de triagem (centrifugação e estresse térmico) e
testes de estabilidade preliminar (ciclo gelo-degelo) por 12 dias ou 6 ciclos. Os resultados obtidos
após os testes realizados demostraram que os géis manipulados com Carbopol® a 1 e 2% de L.
pisonis mantiveram aceitáveis as características de aspecto, odor, cor, homogeneidade, pH,
condutividade e espalhabilidade. Dessa forma, conclui-se que, dentre as formulações testadas, os
géis de Carbopol® demonstraram capacidade de incorporação do extrato seco de L. pisonis nas
concentrações de 1 e 2%.

Palavras-chave: Controle de qualidade, Medicamentos fitoterápicos, Estabilidade de


medicamentos, Lecythidaceae.

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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

ABSTRACT

The study aimed at the feasibility of the preparation of semi-solid formulations containing the dry
extract of Lecythis pisonis Camb. with further study of stability. The vegetal extract was obtained
by maceration, followed by rotaevaporation and spray drying in Spray dryer. Nine formulations
were prepared using three different base types (Crodabase®, Carbopol® and Pluronic® Lecithin
Organogel) at 1% and 2% concentrations of L. pisonis, in order to determine the most promising
formulation by means of screening tests (centrifugation and thermal stress) and preliminary stability
tests (ice-defrost cycle) for 12 days or 6 cycles. The results obtained after the tests carried out
showed that gels handled with Carbopol® and 1 and 2% in L. pisonis maintained the characteristics
of appearance, odor, color, homogeneity, pH, conductivity and scatterability acceptable. Thus, it
was concluded that Carbopol® gels showed the ability to incorporate L. pisonis dry extract at
concentrations of 1 and 2% of the tested formulations.

Keywords: Quality control, Phytotherapeutic drugs, Drug stability, Lecythidaceae.

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INTRODUÇÃO

O emprego de plantas para fins terapêuticos pela medicina tradicional é uma prática milenar.
A partir da utilização na prevenção e tratamento de doenças, foi possível a descoberta de compostos
naturais dotados de propriedades biológicas. Atualmente, o conhecimento empírico aliado à
pesquisa científica tem proporcionado a obtenção de medicamentos fitoterápicos (Carneiro et al.,
2014; Nunes, 2008).

O Brasil é o país detentor da maior heterogeneidade vegetal do mundo, além de uma vasta
história de uso de plantas medicinais como recurso terapêutico (Figueredo, Gurgel & Gurgel Júnior,
2014). Nesse contexto, o país conta com a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares do SUS (PNPIC) e a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos
(PNPMF) que dentre as diretrizes se destaca o incentivo à pesquisa e desenvolvimento de plantas
medicinais e fitoterápicos que priorizem a biodiversidade do país (Brasil, 2016; Brasil, 2015).

A Lecythis pisonis Camb., espécie vegetal pertencente à família Lecythidaceae, é


popularmente conhecida no Brasil como “sapucaia” ou “cumbuca de macaco”. Apesar de possuir
uma distribuição pantropical, ela é originária da região amazônica e prevalente no meio-norte
brasileiro, principalmente nos estados do Piauí e Maranhão (Borges, 2015). Apresenta como
principais classes de metabólitos secundários os triterpenoides e os flavonoides com 57% e 14%,
respectivamente (Pereira et al., 2012), fato confirmado em estudo de Trajano & Vasconcelos
(2016).

Na medicina popular, as folhas de L. pisonis são utilizadas para tratar micoses superficiais e
prurido corporal, os frutos são utilizados no tratamento de sífilis e diarreia, o óleo extraído das
sementes e das cascas para a redução de dor muscular e tratamento de gota, respectivamente
(Borges, 2015; Denadai, 2006). Desse modo, de acordo com a finalidade, o extrato das folhas,
frutos ou cascas da planta tem sido utilizado de maneira local pela via tópica ou de maneira
sistêmica pela via oral apesar do sabor amargo e desagradável (Oliveira et al., 2016). Além disso,
atividades farmacológicas foram atribuídas ao vegetal, tais como antibacteriana (Bezerra, 2014),
antifúngica (Vieira et al., 2015), antinociceptiva (Brandão et al., 2013), anti-inflamatória e
antioxidante (Martins et al., 2016).

Nesse sentido, a busca pela criação de novos produtos fitoterápicos a partir de extratos
vegetais vinculados a formulações ou especialidades farmacêuticas tem por finalidade garantir
tanto a segurança do produto final, uma vez que para isto o mesmo passará por análies prévias de
características físico-quimicas e biólógicas das matérias-primas utilizadas bem como da via de

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administração que será utilizada, podendo assim propiciar uma melhor resposta terapêutico e
maior possibilidade de aceitação como produto final (Bugnotto et al., 2006).

A respeito disto, as formulações semissólidas apresentam-se como uma boa opção para a
incorporação de extratos vegetais como demontra o estudo de Fucina (2012) que desenvolveu um
medicamento anti-inflamatório fitoterápico semissólido (gel, gel-creme e creme) contendo extrato
seco das partes aéreas de Sphagneticola trilobata. Por sua vez, Barth (2014) também produziu uma
formulação semissólida contendo as partes aéreas de Ipomea pes-caprae, e Barreira et al. (2013),
Hoepers (2015) e Simpson (2015) que realizaram o preparo de semissólidos contendo extratos de
Crataegus monogyna, Aleurites moluccana e Dodonaea polyandra, respectivamente.

Mediante tal contexto, buscou-se vincular o extrato de L. pisonis, em formulações


semissólidas de uso tópico e transdérmico que visassem o efeito local e o efeito sistêmico,
respectivamente (Lourenço, 2013). E, paralelamente a isto, realizar os estudos de estabilidade de
tais formulações para medir a capacidade da manutenção das características originais a longo prazo
por meio da realização de testes e ensaios prévios nas formas farmacêuticas obtidas (Oriqui, Mori &
Wongtschowski, 2013; Bugnotto et al., 2006).

MATERIAIS E MÉTODOS

Obtenção e identificação botânica

A coleta da amostra vegetal (folhas) foi realizada no Parque Zoobotânico de Teresina


situado na Avenida Kennedy, s/n - Morros, Teresina - PI, 64065-990, no dia 29 de novembro de
2013. A exsicata encontra-se depositada no Herbário Graziela Barroso – UFPI, sob o número
26488.

Secagem e moagem do material vegetal

As folhas foram submetidas ao processo de secagem em temperatura ambiente, ao abrigo de


luz solar e protegido de sujidades durante sete dias. Em seguida foram trituradas em moinho de
facas e acondicionadas em recipientes plásticos hermeticamente fechados (Bezerra, 2014).

Obtenção e secagem do extrato vegetal

Os extratos foram obtidos pelo método de extração maceração em temperatura ambiente


utilizando solvente hidroalcoólico 70%, obtido numa proporção (70:30 v/v) de álcool etílico e água

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destilada, durante cinco dias com agitações esporádicas. A proporção droga vegetal/solvente foi de
1:10 (m/v). Posteriormente, o material foi filtrado e rotaevaporado (Fisatom®) a 50 ºC para
eliminação total do solvente orgânico (Bezerra, 2014). O extrato concentrado foi, então, submetido
à secagem por aspersão em Spray dryer (Büchi®, B-290), utilizando como adjuvante de secagem o
dióxido de silício coloidal Aerosil®200 a 30% do resíduo seco do extrato (3,26 g / 100 g de extrato),
com temperatura de entrada: 140 ºC, temperatura de saída: 95 ºC, fluxo de alimentação: 7 mL.min-1
e pressão: 600 mmHg para retirada da água, obtendo-se, desta forma, o extrato seco que foi
incorporado nas formulações preparadas (Vasconcelos et al., 2005).

Preparação das formulações

Conforme Rechia (2010), as formulações fitoterápicas semissólidas utilizam, em geral, 1%


de extrato vegetal na formulação, sendo principalmente veiculadas em formas farmacêuticas como
cremes e géis visando o tratamento de patologias locais ou sistêmicas (Adriano, 2009). Diante
disso, as formulações obtidas abrangeram a elaboração de três produtos semissólidos, sendo dois de
aplicação tópica e um destinado a aplicação transdérmica.
No preparo das formulações foram empregadas as formas farmacêuticas do tipo creme
Crodabase®, gel hidrofílico Carbopol® ambos para uso tópico e gel Pluronic® Lecithin Organogel
(PLO) para fins de utilização transdérmica, obtidas conforme a técnica usual de preparação de
emulsões, géis e organogéis (Ferreira, 2011; Neves et al., 2007).
A partir da manipulação das bases, foram preparadas seis formulações contendo extrato seco
de L. pisonis. Além disso, três bases semissólidas foram preparadas sem incorporação do extrato
para fins de controle. Dessa forma foram totalizadas nove formulações, identificadas com a letra L e
enumeradas de 1 a 9 conforme apresentado na Tabela 1.

As formulações L1, L2 e L3 correspondem ao creme base, creme 1% e creme 2% de extrato


seco de L. pisonis, respectivamente. As formulações L4, L5 e L6 correspondem ao gel base, gel 1%
e gel 2% de extrato seco de L. pisonis, respectivamente. E por fim, L7 um gel transdérmico base,
sendo L8 e L9 géis transdérmicos contendo 1% e 2% de extrato seco de L. pisonis, nesta ordem.

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Tabela 1 – Composição das bases e formulações semissólidas desenvolvidas a partir do extrato
seco de Lecythis pisonis.
Componentes L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 L8 L9
Crodabase® 20% 20% 20% - - - - - -
Metilparabeno 0,15% 0,15% 0,15% 0,1% 0,1% 0,1% - - -
Propilparabeno 0,05% 0,05% 0,05% 0,01% 0,01% 0,01% - - -
Propilenoglicol 5% 5% 5% 5% 5% 5% - - -
Carbopol 940® - - - 2% 2% 2% - - -
Trietanolamina - - - q.s. q.s. q.s. - - -
Lecitina de soja - - - - - - 50% 50% 50%
Palmitato de isopropila - - - - - - 50% 50% 50%
Ácido ascórbico - - - - - - 1% 1% 1%
Polaxamer 407® - - - - - - 20% 20% 20%
Sorbato de potássio - - - - - - 0,2% 0,2% 0,2%
Água destilada q.s.p q.s.p. q.s.p. q.s.p q.s.p. q.s.p. q.s.p. q.s.p. q.s.p.
ES LP* - 1% 2% - 1% 2% - 1% 2%

Legenda: ES LP* - extrato seco de L. pisonis, q.s. – quantidade suficiente, q.s.p. – quantidade suficiente para.
Fonte: Ferreira, 2011; Neves et al., 2007.

Após 24 horas (inicial) da manipulação das bases descritas, foram produzidas as


formulações nas concentrações de 1% e 2% de extrato seco das folhas de L. pisonis, sendo,
posteriormente, submetidas aos testes de estabilidade.

Análise de características organolépticas

As formulações foram analisadas quanto as suas características organolépticas no tempo


inicial da manipulação, assim como após os testes de centrifugação, estresse térmico e ciclo gelo-
degelo, identificando qualquer instabilidade no aspecto, cor, odor e homogeneidade. As amostras
foram classificadas quanto as possíveis alterações macroscópicas em N= normal, LM= levemente
modificada, M= modificada e IM= intensamente modificada (Coelho et al., 2016; Cordeiro et al.,
2013; Brasil, 2004).

Testes de estabilidade preliminar (centrifugação e estresse térmico)

Todas as formulações preparadas foram colocadas em tubos Falcon® de plástico com


volume de 15 mL e, simultaneamente, centrifugadas à 3.000 rpm durante 30 minutos em centrífuga
(Maxim Lab CT-6000). O teste foi realizado em triplicata. Por fim, as amostras foram
macroscopicamente analisadas quanto ao seu aspecto, cor, odor e homogeneidade possibilitando
visualizar a ocorrência de instabilidades nas formulações (Coelho et al., 2016; Brasil, 2004).
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Posteriormente, as formulações foram submetidas ao teste de estresse térmico, por meio de
aquecimento em banho-maria (Thermomix®) nas temperaturas 40, 50, 60, 70 e 80 ºC, em ciclos de
30 minutos em cada temperatura, em triplicata (Cordeiro et al., 2013; Brasil, 2004). As amostras
aprovadas, ou seja que não tiveram qualquer sinal de instabilidade nesses testes, foram submetidas
ao ciclo gelo-degelo e a testes como pH, condutividade e espalhabilidade. As amostras reprovadas
por sinais de instabilidade indicaram uma necessidade de reformulação sendo, portanto,
descontinuadas.

Testes de estabilidade preliminar (ciclo gelo-degelo)

As amostras aprovadas foram submetidas ao ciclo gelo-degelo por 12 dias seguidos o que
corresponde a 6 ciclos, em triplicata. O teste consiste da avaliação na fase inicial de obtenção do
produto, empregando condições extremas de temperatura para verificar possíveis reações entre seus
componentes e o surgimento de instabilidades (Brasil, 2004). As temperaturas submetidas foram:
Geladeira (Brastemp®): T= 4 ± 2 °C e Estufa (Quimis®): T= 40 ± 2 °C (Cordeiro et al., 2013;
Brasil, 2004). Posteriormente, as amostras foram analisadas quanto as características organolépticas
e aos valores de pH, condutividade e espalhabilidade.

Determinação do pH

Para a determinação dos valores de pH foi utilizado o pHmetro de bancada digital (Even®
PHS-3S) devidamente calibrado. A verificação do pH foi realizada com imersão dos eletrodos
diretamente na amostra, sendo os valores analisados em triplicata (Coelho et al., 2016; Brasil,
2004). A avaliação do pH foi realizada no tempo 24 h (inicial) e no tempo 12 dias (final) do estudo
após o ciclo gelo-degelo.

Determinação de condutividade

Para a determinação dos valores de condutividade foi utilizado o condutivímetro de bancada


digital (Marte® MB-11) devidamente calibrado. A verificação da condutividade foi realizada com
imersão dos eletrodos diretamente na amostra, sendo os valores analisados em triplicata (Brasil,
2004). A avaliação da condutividade foi realizada no tempo 24 h (inicial) e no tempo 12 dias (final)
do estudo após o ciclo gelo-degelo.

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Determinação da espalhabilidade

Para a determinação da espalhabilidade foi utilizada uma placa molde retangular de vidro
(diâmetro= 20 cm e espessura= 0,2 cm) com escala em papel milimetrado. Adicionou-se 0,4g de
amostra previamente pesada no centro da placa e sucessivas placas de pesos conhecidos foram
adicionadas cada um minuto, com leitura dos diâmetros em milímetros, abrangidos em duas
posições opostas e depois calculado o diâmetro médio (Carvalho, 2007; Brasil, 2004). A
espalhabilidade (E) foi obtida pela seguinte Equação 1 (Knorst, 1991):

𝜋
𝐸 = 𝑑2. (Equação 1)
4

Onde: E: Espalhabilidade da amostra para um determinado peso em milímetros quadrado


(mm2); d: diâmetro médio em milímetro (mm), = 3,14.

Foram acrescentadas ao estudo, 12 placas de peso variável entre 76,94g e 309,70g. Os


resultados correspondem a área da espalhabilidade (mm²) da amostra em função da força aplicada
de cada peso adicionado, em gramas. Dessa forma, usou-se a média dos três diâmetros médios
(mm) das determinações obtidas nos testes em triplicata (Cordeiro et al., 2013; Carvalho, 2007). A
avaliação da espalhabilidade foi realizada no tempo 24 h (inicial) e no tempo final do estudo após o
ciclo gelo-degelo.

Análise estatística

Os resultados obtidos foram tabulados em planilhas eletrônicas no Microsoft Excel® e


expressos por média ± DP (desvio padrão). Posteriormente, foram apresentados na forma de
gráficos e tabelas. Os dados estatísticos foram submetidos à análise de variância (ANOVA),
seguido pelo teste de múltipla comparação considerando p<0,05, utilizando o programa GraphPad®
(Prism 6).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As preparações obtidas foram analisadas conforme exposição a determinadas condições


propostas no estudo (Cordeiro et al., 2013). Antes de iniciar os testes de estabilidade preliminar as
formulações foram analisadas de acordo com suas características organolépticas no tempo inicial
após 24 h de formulação. Logo após, os produtos foram submetidos ao teste de centrifugação, ao
estresse térmico e à nova análise das características organolépticas.

2635
Trajano, L. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2627 – 2644; 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
O teste de centrifugação foi realizado como análise preliminar, a fim de determinar possíveis
sinais de instabilidade como separação de fases, coalescência, formação de grumos, precipitados,
floculação, sedimentação ou cremação nas formulações. Assim como o teste de estresse térmico no
qual foi possível avaliar a estabilidade frente as variações crescentes de temperatura, dado que
alterações na formulação ocorrem duas vezes mais rapidamente a cada elevação de 10 °C na
temperatura. Dessa forma, as amostras estáveis após esses testes seguiram para a etapa na qual foi
realizada um estudo do ciclo gelo-degelo (Siqueira, 2016; Magnani, 2011; Isaac et al., 2008).

Das amostras submetidas a centrifugação seguida de estresse térmico, apenas as formulações


a base de creme Crodabase® com concentração de 1% e 2% de extrato seco de L. pisonis (L2 e L3,
respectivamente) não demonstraram estabilidade macroscópica, ou seja, apresentaram intensa
modificação (IM) quando comparadas ao tempo inicial, indicando que houve um processo de
quebra da emulsão com separação de fases, demonstrando necessidade de reformulação para a
continuação dos testes.

Conforme Siqueira (2016), isso pode ter ocorrido por uma escolha inadequada de algum
componente da formulação ou por incompatibilidades entre o extrato seco e a base na qual foi
incorporado, viabilizando a ocorrência de reações químicas, seja de óxidorredução ou de hidrólise,
culminando na instabilidade. Além disso, Almeida (2014) destaca que o aumento da força da
gravidade colabora no processo de separação de fases de diferentes densidades, assim como
mudanças extremas na temperatura do sistema podem causar variação na solubilidade dos
componentes da formulação desestabilizando a emulsão e favorecendo o desenvolvimento de
fenômenos como a coalescência. Diante disso, as formulações a base de creme Crodabase® foram
excluídas do estudo por apresentarem instabilidade no aspecto, cor, odor e homogeneidade.

De acordo com Queiroz (2008), os géis são formulações semissólidas bastante utilizadas por
apresentarem facilidade de aplicação e carrearem uma grande variedade de medicamentos por meio
da pele, das mucosas e do extrato córneo. Além disso, quando comparados a cremes e pomadas, os
géis propiciam uma liberação mais rápida do fármaco, independente das suas características de
solubilidade em água.

As formulações a base de gel Carbopol® e gel Pluronic® Lecithin Organogel (PLO), ambas
nas concentrações de 1% e 2% de extrato seco de L. pisonis permaneceram estáveis, apresentando
aspecto, odor e homogeneidade normais (N). Quanto à cor, as formulações L5 e L6 apresentaram
uma modificação (M) provavelmente causada pelas altas temperaturas, o que pode indicar a
ocorrência de degradação de componentes da formulação. De acordo com Chaaban et al. (2017),
alguns tipos de flavonoides são sensíveis ao calor, logo a degradação aumenta com a magnitude e
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ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
duração do aquecimento o que pode ter provocado a mudança de coloração encontrada. Em
contrapartida, L4, L7, L8 e L9 mantiveram coloração normal (N). Apesar disso, pode-se constatar
uma homogeneidade inalterada durante o estudo, não existiram alterações no odor, permanecendo o
aroma característico do extrato de L. pisonis, nem separação de fases ou formação de precipitados.
Diante disso, essas formulações foram consideradas aptas para o teste de ciclo gelo-degelo.

Após 12 dias ou 6 ciclos gelo-degelo, as formulações L7, L8 e L9 apresentaram


modificações (M), demonstrando sinais macroscópicos de instabilidade com alterações na cor,
aspecto, odor e homogeneidade, o que contraria resultados reportados na literatura. Em suas
pesquisas Pandey et al. (2010) constatou a estabilidade das formulações de PLO obtidas, pois não
houve formação de grumos, coalescência ou tendência à separação de fases após ciclo de
congelamento-descongelamento por 12 dias. Já em estudos desenvolvidos por Jhawat, Gupta &
Saini (2016), os organogéis de lecitina não apresentaram separação de fases frente a diversas
temperaturas testadas por até 60 dias. Entretanto, após estudo de estabilidade acelerada com
temperaturas de 60 ºC, os géis PLO apresentaram separação de fases.

Conforme Mady et al. 2016, a estabilidade de formulação de organogel está diretamente


relacionada com a porcentagem de Polaxamer® utilizado. Dessa forma, para melhorar a estabilidade
do organogel se faz necessário aumentar a concentração de Polaxamer® na formulação de 10% a
30%. Diante do exposto, as formulações L7, L8 e L9 foram consideradas inadequadas e, portanto,
removidas desse estudo.

As formulações L4, L5 e L6 não demonstraram qualquer tipo inconformidade ou alteração


quanto à separação, odor e homogeneidade, após o termino do ciclo, sendo consideradas normais
(N), exceto pela coloração levemente modificada (LM). Esses resultados corroboram com estudos
de Aiyalu, Govindarjan & Ramasamy (2016), que descrevem géis de Carbopol® com boa aparência,
homogeneidade e sem nenhuma alteração significativa de cor ou odor, após testes de estabilidade.

Conforme Queiroz (2008), o uso de gel Carbopol® é vantajoso, uma vez que apresentam
bom comportamento reológico e permanecem maior tempo no local de administração. Possuem
faixa de compatibilidade de pH entre 6 e 9. Além disso, o gel de Carbopol® apresenta uma maior
estabilidade físico-química frente a outros polímeros como Hidroxoetilcelulose (Natrosol®) ou
Hidroxipropilmetilcelulose (HPMC), logo pode ser utilizado para incorporação de extrato bruto
vegetal.

Esses resultados são importantes, pois aspecto, cor, odor e homogeneidade de uma
formulação além de influenciarem na eficácia e qualidade do produto final ainda contribuem para
aceitação pelo consumidor. Por conta disso, as formulações devem se manter sem alterações
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Trajano, L. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2627 – 2644; 2018
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significativas durante os estudos de estabilidade (Coelho et al., 2016). Dessa forma, as formulações
L4, L5 e L6 foram consideradas aptas à continuidade dos testes.

O pH fisiológico da pele varia entre 4,5 e 7,0 apresentando um caráter ácido e sendo uma
importante barreira de proteção natural contra bactérias e fungos. As formulações foram
desenvolvidas para aplicação direta na pele e, conforme pode ser observado na Tabela 2, L5 e L6
encontram-se com pH dentro da faixa de compatibilidade cutânea. Dessa forma, a análise do pH se
torna extremamente importante, visto que valores menores de 3,0 ou maiores de 8,0 removem
excessivamente o sebo por desestruturação da queratina causando ressecamento e irritação na pele.
A avaliação do pH na formulação finalizada reflete a sua estabilidade, pois grandes alterações
indicam ocorrência de reações químicas (Siqueira, 2016; Isaac, 2008).

Entretanto, os resultados correspondentes ao pH apresentaram diferenças significativas.


Dessa forma, variações excessivas dos valores de pH das formulações podem indicar modificações
nas características físico-químicas do princípio ativo incorporado, comprometendo a estabilidade,
biodisponibilidade, segurança e eficácia (Libório, 2016; Bugnotto et al., 2006). Uma vez
determinada a faixa de pH de estabilidade podem ser preparados tampões mantendo este valor de
pH durante todo o prazo de validade (Leite, 2005).

Tabela 2 – Determinação do pH e condutividade das formulações, no tempo de 24 h e após o ciclo


gelo-degelo.
Tempo 24h Após ciclo gelo-degelo
Formulações pH Condutividade pH Condutividade
(mS/cma 25ºC) (mS/cma 25ºC)
L4 7,27 ± 0,01 2,03 ± 0,17 6,95 ± 0,02 2,06 ± 0,03
Gel Carbopol® L5 6,73 ± 0,02 1,57 ± 0,28 6,41 ± 0,02 2,56 ± 0,01
L6 6,48 ± 0,03 2,26 ± 0,08 6,03 ± 0,02 4,15 ± 0,01

A avaliação da condutividade é útil para elucidar mudanças microestruturais nas


formulações obtidas. Dessa forma, observa-se na Tabela 2 que houve aumento da condutividade
nas formulações em análise após o ciclo gelo-degelo, apresentando alterações estatisticamente
diferentes. Isso pode ser justificado pelo possível aumento de íons na formulação, o que pode
indicar algum tipo de degradação dos componentes (Diniz, 2015; Fangmeier & Hoehne, 2012).

A determinação da espalhabilidade é um importante parâmetro para detectar e avaliar


possíveis sinais de instabilidade ou modificações de caráter reológico das formulações semissólidas
obtidas, visto que podem facilitar ou dificultar a aplicação no local desejado, assim como na
aceitação pelo consumidor. Quando associadas a outros testes físico-químicos, garantem a
estabilidade e a qualidade das formulações (Coelho et al., 2016; Bugnotto et al., 2006; Correa et al.,
2638
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2005). Conforme observado nos Gráficos 1, 2 e 3, todas as formulações com Carbopol®
apresentaram uma leve redução da espalhabilidade após o ciclo gelo-degelo, porém continuaram
com as características sensoriais das amostras do tempo de 24h. Os resultados correspondentes a
espalhabilidade não apresentaram alterações estatisticamente significativas.

Gráfico 1 – Espalhabilidade média das formulações bases de gel Carbopol ® no tempo 24h (inicial)
e após o ciclo gelo-degelo (final).
4500

4000

3500
Espalhabilidade (mm²)

3000

2500

2000

1500

1000

500

0
peso (g) 76,94 79,74 79,84 79,90 149,52149,65149,67149,88149,90150,01308,33309,70
Peso (g)
L4 - 24h L4 - após ciclo

Gráfico 2 – Espalhabilidade média das formulações de gel Carbopol® com 1% de extrato seco de L.
pisonis no tempo 24h (inicial) e após o ciclo gelo-degelo (final).
3000

2500
Espalhabilidade (mm²)

2000

1500

1000

500

0
peso (g) 76,94 79,74 79,84 79,90 149,52149,65149,67149,88149,90150,01308,33309,70
Peso (g)

L5 - 24h L5 - após ciclo

2639
Trajano, L. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2627 – 2644; 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
Gráfico 3 – Espalhabilidade média das formulações de gel Carbopol® com 2% de extrato seco de L.
pisonis no tempo 24h (inicial) e após o ciclo gelo-degelo (final).
3500
Espalhabilidade (mm²)
3000

2500

2000

1500

1000

500

0
peso (g) 76,94 79,74 79,84 79,90 149,52149,65149,67149,88149,90150,01308,33309,70
Peso (g)

L6 - 24h L6 - após ciclo

De acordo com Lages (2014), amostras de Carbopol®, quando submetidas a extremos de


temperatura, podem ter quebra na estrutura do polímero que é formado por ligações cruzadas e
pontes de hidrogênio, culminando em redução de espalhabilidade ou perda de viscosidade
modificando as características do gel, o que justifica a redução da espalhabilidade das amostras
após o ciclo gelo-degelo.

CONCLUSÃO

Diante do exposto, os géis formulados com Carbopol® demonstraram capacidade de


incorporação do extrato seco de L. pisonis nas concentrações de 1 e 2%, mantendo aceitáveis as
características de aspecto, odor, cor, homogeneidade, pH, condutividade e espalhabilidade após os
testes aos quais foram submetidos. Dessa forma, este trabalho pode ser considerado como inicial,
pois revelou dados que poderão contribuir para estudos futuros sobre o desenvolvimento de uma
formulação semissólida contendo extrato seco de L. pisonis Camb.

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Trajano, L. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2627 – 2644; 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH
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Trajano, L. P. B. et al Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2627 – 2644; 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

Purificação de óleo de fritura e reuso na produção de sabonetes esfoliantes com


bagaço de cana-de-açúcar

Marcelle Silva Abreu1, Mayara Cristina Bezerra Galindo1 & Cynthia Gisele de Oliveira Coimbra1*

1Cursode Farmácia. Centro Universitário Tabosa de Almeida ASCES-UNITA.


* Contato: cynthiacoimbra@gmail.com. Avenida Portugal n.897 Bairro Universitário-Caruaru-PE
CEP 55016-400. Fone: +5508137210228
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

RESUMO

Este trabalho objetivou elaborar um sabonete utilizando óleo de fritura (degradado) e bagaço de cana-
de-açúcar após tratamento prévio. O bagaço foi lavado com água, seco e tamisado e o óleo de fritura
foi purificado por filtração e partição com água destilada em pH 5,0, 7,0 ou 9,0 e denominado,
respectivamente de p5, p7 ou p9. Os óleos foram caracterizados quanto a: concentração de partículas
em suspensão, acidez (IA), saponificação (IS), temperatura de ebulição (ou de fumaça) (TE) e
umidade (U). Para a produção dos sabões, o óleo p7, o degradado e o padrão foram saponificados
utilizando-se KOH e os sabões utilizados na obtenção dos sabonetes, que foram avaliados quanto ao
pH final, à produção e à estabilidade da espuma. Os rendimentos de purificação dos óleos superaram
80% e os óleos purificados apresentaram menor IA, IS e maior TE do que o óleo de fritura,
demonstrando a eficiência da purificação avaliada. O sabonete obtido com óleo p7 produziu espuma
mais estável que a do degradado demonstrando melhor qualidade. Este trabalho evidenciou a
efetividade da purificação realizada e a viabilidade da produção de sabonete esfoliante a partir de óleo
purificado e bagaço pré-tratado.

PALAVRAS-CHAVE: purificação, óleo, Cymbopogon, reuso, espuma

2646
Abreu, M. S.; Galindo, M. C. B.; Coimbra, C. G. O. Rev. Bras. Farm. 99 (2): 2645 – 2660, 2018
ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH

ABSTRACT

This work aimed to elaborate a soap using frying oil (degraded) and sugarcane bagasse after previous
treatment. The bagasse was washed with water, dried and sieved and the frying oil was purified by
filtration, partitioned with distilled water at pH 5.0, 7.0 or 9.0 and named respectively p5, p7 or p9.
The oils were characterized as: suspended particle concentration, acidity (AI), saponification (IS),
boiling (or smoke) temperature (TE) and humidity (U). For the production of the soaps, the p7,
gradient and standard oils were saponified using KOH and the soaps used to obtain the soaps, which
were evaluated for final pH, production and foam stability. The purification yields of the oils
exceeded 80% and the purified oils presented lower IA, IS and higher TE than the frying oil,
demonstrating the efficiency of the purification evaluated. The soap obtained with oil p7 produced a
more stable foam than the degraded one, demonstrating better quality. This work evidenced the
effectiveness of the purification performed and the viability of the exfoliating soap production from
purified oil and pre-treated bagasse.

KEYWORDS: purification, oil, reuse, Cymbopogon,soap, foam

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INTRODUÇÃO

Os ácidos graxos de óleos utilizados repetidamente em fritura sofrem degradação resultante


de reações hidrolíticas e oxidativas, que provocam mudanças em suas características físico-químicas
e organolépticas, como cor, viscosidade, acidez, formação de espuma, aumento do ponto de fumaça
e odor (Freire, Mancini-Filho & Ferreira, 2013; Sanibal & Mancini-filho, 2002).
A susceptibilidade do óleo às reações de degradação é determinada pelo grau de insaturação
dos ácidos graxos que o compõem, a temperatura e o tempo de exposição ao calor, ao oxigênio e à
luz, pelas condições de processamento e armazenamento e sua composição química, pela quantidade
de água liberada pelo alimento que está sendo frito, o número de vezes de aquecimento e resfriamento
do óleo e a quantidade de partículas queimadas provenientes do alimento e acumuladas no recipiente
(Borjes, Perin & Lazzaroto, 2015; Vergara et al., 2006; Lawson, 1995).
Análises de óleos de soja revelaram que a concentração de ácidos graxos saturados pode variar
de 13,13 % (m/m) a 17,64 % (m/m) de sua composição, enquanto a concentração de ácidos graxos
insaturados varia de 71,20 % (m/m) e 84,48 % (m/m) (Aued-Pimentel et al., 2009; Fonseca &
Gutierrez, 1974). Lago, Castro & Magalhães (1978) revelaram a variação da concentração de ácidos
graxos insaturados C18:1 entre 21,72 % e 41,36 %, a de AGs C18:2 entre 38,79 % e 55,8 %, e de
AGs C18:3 entre 4,54 % e 6,86 %, além de identificar a presença dos ácidos saturados palmítico
(C16:0) e esteárico (C18:0), oleico (C10:1), linoleico (C18:2) e linolênico (C18:3) após a análise de
20 variedades de óleo de soja.
Durante a fritura de alimentos, muitos compostos resultantes da decomposição dos óleos por
hidrólise, oxidação, polimerização, ciclização e reação de Maillard são formados, como aldeídos,
cetonas, dímeros e componentes poliméricos, mono e diglicerídeos, ácidos graxos livres entre outros
(Gertz, 2000). A concentração de ácidos graxos poli-insaturados diminui e a concentração dos
saturados, dos monoinsaturados e dos compostos polares totais (CPTs), que são hidrossolúveis e não
deve superar a concentração de 25%, aumenta (Cella, Regitano-D’Arce & Spotto, 2002; Ans, Mattos
& Jorge, 1999).
Compostos polares totais (CPTs) são produtos de degradação oxidativa, térmica e hidrolítica
de óleos, não são voláteis, têm polaridade maior do que os triacilgliceróis, e correspondem a: (1)
mono e diglicerídeos e ácidos graxos livres; (2) triglicerídeos diméricos e poliméricos e ácidos graxos
diméricos; (3) monômeros de triglicerídeos oxidados, além de ácidos monoméricos e diméricos
oxidados, ácidos graxos cíclicos oxidados e outros compostos polares (Billek, 2000).
Os ciclos de aquecimento e resfriamento sucessivos dos óleos usados em frituras resultam em
uma mistura de produtos que pode ser composta de mais de 50% de CPTs resultantes da degradação

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dos triglicerídeos e responsáveis por irritações do trato-gastrointestinal e morte de animais em
laboratórios, principalmente a ureia (Reis, Ellwanger & Fleck, 2007; Billek, 2000).
Dentre os CPTs formados durante a fritura de alimentos, pode-se destacar acrilamida, por sua
elevada toxicidade. Esta amida pode ser formada pela degradação oxidativa de lipídeos via acroleína,
mas tem a reação de Maillard como via principal, quando compostos carbonilados (principalmente
açúcares redutores) são aquecidos em meios contendo asparagina ou aminoácidos que podem
produzir ácido acrílico (β-alanina, ácido aspártico, carnosina, cisteína, serina) (Yaylayan et al, 2005),
que fazem parte da composição da maior parte dos alimentos fritos e forneados. A reação se inicia
com uma N-condensação e desidratação formando a base de Schiff., que se rearranja formando os
produtos de Amadori. Uma vez formados (a base de Shiff e / ou o produto de Amadori), a acroleína
pode ser formada por três vias diferentes no meio e sua formação é influenciada por: (1) temperatura
e tempo de aquecimento; (2) pH (≥ 7,0); (3) concentração dos precursores e sua composição, sendo
a frutose mais reativa do que a glicose e a asparagina mais reativa do que os demais aminoácidos;(4)
além do método de processamento entre outros fatores (Nguyen et al, 2016; Nguyen, Van der Fels-
Klerx & Boekel, 2017; Zhang & Zhang, 2007). Belkova et al (2018) reduziu 98 % da acroleína
produzida durante a fritura de batatas usando vácuo, mas o produto não foi sensorialmente bem aceito,
o que reduz a probabilidade de substituição do método de processamento empregado e mantém a
formação e acúmulo de produtos tóxicos no óleo usado.
O descarte inadequado de óleos acarreta graves problemas ao meio ambiente, pois pode chegar
à rede de esgoto ocasionando transtornos ambientais e se tornando um grave problema para a saúde
pública (Sanibal & Mancini Filho, 2002). Em lugar de seu descarte, o óleo pode ser aproveitado para
a produção de biodiesel (Menezes, Fidalgo & Silva, 2010) de massa de vidraceiro, de ração animal,
de sabões, de pontos de carbono (C-dots) (Hu et al, 2014; Aji et al, 2017) e como solventes (Yara-
Varón et al, 2017).
Sousa-Aguiar et al (2014) verificaram que o Brasil era o 11° país no ranking de publicações
na área de química verde ou sustentável. Trabalhos nesta área visam conciliar o avanço da ciência
com a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade pela redução ou eliminação dos impactos
negativos da obtenção de produtos e processos sobre o ambiente. Consequentemente, toda ação que
resulta no aumento da segurança dos processos e na resolução ou minimização de problemas como
mudanças climáticas, produção de energia, disponibilidade de recursos hídricos, produção de
alimentos e geração de poluentes está em consonância com os princípios da química verde. O reuso
de óleo de fritura para produção de sabonetes após a purificação proposta neste trabalho está de acordo
com quatro dos princípios da química verde reforçados por Kadzínski et al (2018): o uso de solventes

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seguros, o uso de matérias-primas renováveis, a obtenção de produtos sem ou com menor risco e a
aplicação de química segura.
O reaproveitamento de óleo de fritura permite a obtenção de produtos de maior valor agregado
influenciando a economia de quem o produz (Alberici & Pontes, 2004), por gerar uma fonte
alternativa de renda.
Os sabonetes são sabões especiais feitos para serem utilizados na higienização do corpo
humano, preparados com matéria prima purificada e de boa qualidade, não apresentando excesso de
bases fortes ou substâncias tóxicas, pois tal excedente provoca o desprendimento das células epiteliais
resultando em descamação, que é um efeito indesejável (Mercadante et al., 2009).
Para a produção de sabões para sabonetes, o óleo a ser usado na reação de saponificação deve
ser tão puro quanto possível. A remoção prévia dos produtos de degradação do óleo, como os
compostos polares pode conduzir a um óleo de melhor qualidade. A remoção dos CPTs por partição
com solvente polar pode ser uma alternativa de baixo custo e capaz de reduzir a toxicidade dos óleos
e concentrar os triacilgliceróis, servindo à produção de sabonetes. A qualidade dos sabonetes pode
ser ainda incrementada por aditivos, conferindo a ele propriedades específicas, como esfoliante,
antisséptico, hidratante, desodorante, entre outros (Motta, 2007).
Este trabalho objetivo recuperar e aproveitar óleo de soja degradado, bagaço de cana-de-açúcar
e capim limão (Cymbopogon citratus) para a elaboração de um sabonete de boa qualidade, cuja
produção representa uma forma de aproveitamento de matérias-primas geralmente descartadas e,
portanto, de baixo custo, além de retirar substâncias poluentes do ambiente.

MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa exploratória experimental laboratorial com abordagem quantitativa.


Todos os experimentos foram realizados nos laboratórios de Farmácia do Centro Universitário
Tabosa de Almeida ASCES-UNITA, em Caruaru, Pernambuco, Brasil. Foi realizada em quatro
etapas: (1) aquisição e pré-tratamento da matéria-prima; (2) caracterização do óleo impuro; (3)
purificação do óleo e eleição das melhores condições; e (4) formulação dos sabonetes com avaliação
da sua qualidade.
Aquisição e pré-tratamento da matéria-prima
O óleo de soja usado foi obtido nas lanchonetes da cidade de Caruaru- PE. Todo o óleo obtido
foi reunido em um único recipiente fosco, e agitado a fim de se obter uma mistura homogênea, a ser
utilizado durante toda a pesquisa e denominado de “óleo impuro”. O bagaço utilizado foi obtido em
pontos de venda do caldo de cana-de- açúcar, triturado e posteriormente lavado com água,

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autoclavado à 121°C por 15 minutos para a eliminação da carga microbiana que possa ter crescido
durante a estocagem, seco em estufa à 110°C e tamisado (tamis n° 38) para a padronização da
granulometria do pó. O material vegetal (capim-limão seco pulverizado) foi adquirido em
estabelecimentos de produtos naturais (ervanaria), seco, pulverizado e tamisado (tamis n° 38).
Caracterização do óleo impuro
Para efeito de comparação, foi utilizado como padrão o óleo de soja novo, da mesma marca
utilizada pelo estabelecimento comercial que fornecera as amostras de óleo usado. Os óleos foram
secos em estufa a 60°C por 36 horas e filtrados utilizando-se papel de filtro Qualy (J.Prolab) com
poros de 14µm e gramatura de 80g/m2. As partículas em suspensão presentes no óleo impuro foram
quantificadas pela pesagem do papel de filtro antes e depois da filtração e expressa em percentual
(m/m) de óleo impuro. Todos os papéis de filtro utilizados foram previamente umedecidos em óleo
filtrado antes da pesagem inicial e uso na filtração do óleo impuro para anular a influência da massa
de óleo retido no papel durante a pesagem. Todas as amostras (padrão, impuro e os óleos purificados
nas diferentes condições) previamente filtradas e secas foram caracterizadas quanto ao índice de
acidez (IA), Índice de saponificação (IS), à temperatura de ebulição (TE) e à umidade (U) de acordo
com o manual de métodos físico-químicos para Análise de Alimentos do Instituto Adolfo Lutz
(Zenebon & Pascuet, 2008).
Testes de purificação do óleo impuro e eleição das melhores condições
A purificação do óleo foi realizada pelo método de partição para extração das substâncias
tóxicas hidrossolúveis, sendo utilizado funil de separação com capacidade de 500 mL, ao qual foi
adicionado volume correspondente a 50% da sua capacidade do óleo impuro e 20% do mesmo volume
de água com o pH previamente ajustado para 5,0; 7,0 e 9,0. Em seguida a mistura foi agitada
vigorosamente por 30 segundos e deixada em repouso por 24h para separação das fases. A porção
intermediária, com fases ainda não separadas após 24h foi centrifugada a 3600rpm por 20 minutos e
suas fases aos respectivos volumes separados por gravidade e os volumes totais de ambas as fases
foram medidos em provetas para o cálculo de rendimento % (v/v) em óleo purificado em cada valor
de pH testado Os óleos purificados usando-se pH 5,0, 7,0 e 9,0 foram denominados de p5, p7 e p9,
respectivamente.
As melhores condições de purificação foram selecionadas de acordo com as características
físico-químicas (índice de acidez, o índice de saponificação, temperatura de ebulição, umidade) dos
óleos purificados em comparação com as do óleo padrão e do óleo impuro.
Obtenção do sabão base
A síntese dos sabões a partir de cada amostra de óleo seguiu o indicado por Mercadante et al.
(2009) com modificações. Adicionou-se uma solução a 15% (m/v) de KOH a 200ml de óleo. A

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mistura foi submetida ao aquecimento com o auxílio de uma manta aquecedora em balão acoplado a
um condensador por uma hora e o pH final da mistura foi ajustado para 8,0 com ácido acético.
Produção dos sabonetes
Os sabonetes foram produzidos incorporando-se gel de natrosol a 4%, aos sabões na proporção
1:1 para o ajuste da viscosidade e, para cada 60 g do sabonete, foram adicionados 2 g do pó de capim-
limão e 1 g do de bagaço da cana-de-açúcar preparados conforme descrito anteriormente. Os
sabonetes foram avaliados quanto à capacidade de formação de espuma e ao teste de envelhecimento
acelerado.
Para a avaliação da Capacidade de formação de espuma e estabilidade da espuma formada
dos sabonetes utilizou-se o método de Bittencourt Filha, Costa & Bizzo (1999) modificado: em
provetas de 100mL contendo 10mL de água destilada e 10mL de vinagre, foram adicionados 10mL
de solução a 1% (m/v) da amostra de sabonete. Esta mistura foi agitada suavemente para a
homogeneização e deixada em repouso até o desaparecimento das bolhas. Em seguida adicionou-se
10mL de solução a 5% de bicarbonato de sódio de uma só vez. O volume da espuma formada foi
medido usando-se e escala da proveta e o tempo necessário para o desaparecimento da mesma com o
auxílio de um cronômetro. Este teste foi realizado para o sabão e também para o sabonete e utilizando-
se a mistura sem amostra (sabão ou sabonete) como padrão negativo.
O teste de envelhecimento acelerado foi realizado submetendo-se o sabonete à temperatura
de 60°C, em estufa, por 9 dias para estimar mudanças organolépticas e também a perda de massa do
sabonete, em temperatura ambiente, durante um ano. A perda de massa foi expressa em percentual
(%) (Zanin et al., 2001).
Os resultados obtidos em todas as análises foram submetidos à análise de variância ANOVA
(p=0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O óleo impuro utilizado na pesquisa apresentou-se com odor desagradável, mais escuro e
menos fluido que o óleo padrão, além de conter 5,4% (m/m) de partículas em suspensão, o que indica
que a prática de filtragem do óleo em uso para a remoção de partículas de alimentos indicada no
Informe técnico n° 11 da ANVISA (2004) por acelerarem as reações de degradação no mesmo, não
foi realizada. Apresentou também maior índice de saponificação e índice de acidez seis vezes maior
do que o óleo padrão, indicando sua elevada decomposição, com liberação de grandes quantidades
de ácidos graxos livres. Após os processos de purificação foi possível verificar que em todos os casos
o óleo apresentou-se mais claro, mais fluido e com um odor mais agradável que o impuro.

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Quando um óleo ou gordura é utilizado na fritura de alimentos, muitos compostos resultantes
de sua decomposição por hidrólise, oxidação, polimerização e ciclização e reação de Maillard são
formados. São eles: produtos polares como aldeídos, cetonas, dímeros e componentes poliméricos,
mono e diglicerídeos, ácidos graxos livres entre outros (Gertz, 2000).
A comparação dos índices de acidez e saponificação e do ponto de ebulição do óleo impuro
com as mesmas medidas no óleo padrão permitiram estimar a extensão da degradação do óleo por
utilizações sucessivas em fritura. A acidez está relacionada com a natureza e a qualidade da matéria
prima, com a qualidade e o grau de pureza da gordura, com o processamento e com as condições de
conservação o lipídio (Mendonça et al., 2008) e aumenta no início da degradação do óleo como
resultado da hidrólise dos triglicerídeos e liberação de ácidos graxos livres (Bobbio & Bobbio, 2001).
Portanto era de se esperar que a acidez do óleo padrão fosse inferior à do óleo impuro e até mesmo
dos purificados. A menor acidez dos óleos p5 e p7 do que o p9 pode ser resultante da neutralização
dos ácidos durante a partição com a solução alcalinizada, resultando em compostos que
permaneceram na forma molecular, além da possibilidade de algum grau de saponificação de
glicerídeos no meio e permanência dos mesmos na fase oleosa.
O maior IA identificado nos óleos usados, analisados por Silva e Ferreira (2015) e Thode
Filho et al. (2013), foram, respectivamente, 3,87 % e 4,29 %, inferiores ao observado para o óleo
impuro utilizado neste trabalho. De acordo com a RDC n° 216, de 2004, da ANVISA, os óleos e
gorduras utilizados na produção de alimentos não devem ser aquecidos a temperaturas superiores a
180 ºC e devem ser substituídos imediatamente ao aparecimento de alterações no aroma, no sabor,
ou formação intensa de espuma e fumaça. Osawa et al. (2010) verificaram que parte dos
estabelecimentos avaliados em seu trabalho utilizaram temperaturas abusivas ou não monitoraram a
mesma e não padronizaram o tempo de fritura dos alimentos além de dependerem exclusivamente de
critérios sensoriais para o descarte dos óleos além de não realizarem a filtração do óleo em uso. Isso
torna o ponto de degradação do óleo em uso dependente da sensibilidade sensorial do manipulador
de alimentos fritos.
O ponto de ebulição do óleo impuro mostrou-se inferior à metade do dosado no óleo padrão,
o que indica o seu elevado grau de deterioração (Tabela 1), predominantemente resultante da hidrólise
dos glicerídeos que o compõem e contaminação do óleo com compostos provenientes dos alimentos
fritos, que atuam como reagentes adicionais das reações de degradação (Freire et al, 2013).

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TABELA I. Características físico-químicas dos óleos em diferentes condições

ÓLEOS IA IS TE (°C) U (%) RP (%)

Padrão 1,96 ± 0,21 111,8 ± 2,13 219,6 ± 1,2 0,008 ± 0,003 -

Impuro 6,02 ± 0,32 132,6 ± 2,57 99,7 ± 0,4 0,002 ± 0,001 -

p5 5,23 ± 0,12 127,9 ± 0,20 180,7 ± 1,15 0,008 ± 0,001 83,6

p7 5,33 ± 0,22 128,3 ± 1,16 189,7 ± 2,51 0,000 ± 0,000 89,0

p9 7,59 ± 0,21 124,8 ± 1,43 139,0 ± 1,77 0,040 ± 0,002 84,5

Legenda: IA – Índice de acidez; IS – Índice de saponificação (KOH. g-1); TE – Temperatura de ebulição ou


ponto de fumaça (°C); U – Umidade, em % (m/m); RP – Rendimento da purificação em % (v/v); p5 – óleo
purificado em pH 5,0; p7 – óleo purificado em pH 7,0; p9 – óleo purificado em pH 9,0.

O aparecimento de fumaça (diferente de vapores como o da água do alimento) durante o


processo de fritura corresponde à volatilização de compostos resultantes das reações de hidrólise e
oxidação do óleo. A temperatura em que se inicia a formação desta fumaça é dependente da presença
e concentrações destes compostos e, portanto, quanto mais degradado estiver o óleo, menor o ponto
de fumaça. Os óleos usados na produção de alimentos devem apresentar ponto de fumaça superior a
170 °C (Sanibal & Filho, 2002). A elevação do ponto de ebulição do óleo impuro após a purificação
nas três condições testadas neste trabalho, portanto, demonstrou a capacidade de remoção dos
produtos de degradação do óleo pelo processo de purificação por partição. O óleo p5 e o p7
apresentaram temperaturas de ebulição próximas e com elevação do ponto de ebulição ao valor
correspondente ao dobro do valor do óleo impuro. Estes valores demonstraram uma semelhança na
eficiência de remoção dos produtos de degradação, que foi superior à com pH 9,0 e corrobora a maior
efetividade das soluções com pH ácido e neutro sobre o com pH alcalino indicada pela medida de
acidez.
A formação e o aumento da concentração dos produtos de degradação resultam em mudanças
nas características físico-químicas do óleo, como redução do ponto de ebulição, aumento da
solubilidade e da viscosidade, formação de espuma e escurecimento (Gertz, 2000). Este conjunto de
substâncias formadas apresenta maior polaridade do que os triglicerídeos e os ácidos graxos
degradados. Portanto, apresentam maior solubilidade em água, principalmente se estiverem em sua
forma ionizada, cuja formação é influenciada pelo pH do meio, o que justifica a eficiência diferencial
de remoção dos produtos de degradação do óleo impuro utilizando-se diferentes pH's.

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Óleos purificados
O índice de saponificação é inversamente proporcional ao peso molecular médio dos ácidos
graxos dos glicerídeos presentes (Dantas, 2008). O maior valor de IS do óleo impuro indicou o menor
peso molecular médio dos ácidos graxos, resultante da degradação dos mesmos. A purificação do
óleo impuro, por sua vez promoveu a redução do IS, indicando a remoção de ácidos graxos de menor
peso molecular e permanência dos ácidos graxos com maior peso molecular na fase lipídica durante
a etapa de partição, apesar de não ter atingido o valor obtido para o óleo padrão.
Os sabões e os sabonetes
Considerando-se a semelhança dos indicadores de qualidade dos óleos purificados usando
soluções aquosas em pH 5,0 e 7,0, com os quais se obtiveram os melhores resultados e também a
necessidade de menor ajuste de pH da água pura para pH 7,0, o óleo purificado neste pH (p7) foi o
selecionado para produção do sabão a ser comparado com o do óleo padrão e o do óleo impuro (Tabela
2).
TABELA 2. Capacidade de formação de espuma, pH e teste de envelhecimento acelerado dos sabões
produzidos e dos sabonetes formulados a partir destes últimos.
SABÃO SABONETE
CFE CFE
ÓLEOS
pH TEA (%)
VE (mL) EE (s) VE (mL) EE (s)

Padrão 5,0 ± 0,2 120 ± 6 2,0 ± 0,1 120 ± 2,1 9,62 ± 0,04 51,85

Impuro 2,2 ±0,4 60 ± 2 14,0 ± 0,7 900 ± 4,5 9,08 ± 0,08 63,65

p7 1,0 ± 0,2 75 ± 3 5,0 ± 0,2 80 ± 3 8,85 ± 0,06 72,44

Legenda: CFE - capacidade de formação de espuma; TEA - massa do sabonete após o teste de envelhecimento
acelerado em relação à inicial; VE - volume de espuma; EE - estabilidade da espuma; p7 – óleo purificado em
pH 7,0.

A capacidade de formação de espuma (CFE) foi analisada tanto no sabão como no sabonete,
porém o teste de envelhecimento acelerado e a medida do pH foram realizados apenas no sabonete.
Sabão e sabonete
Quando se trata de sabões, a espuma está associada ao poder de limpeza, além de ser desejada
por influenciar a aceitabilidade. Sua formação e a estabilidade é uma característica que depende das
propriedades dos grupos polares e apolares dos tensoativos (Martins, 2009). A espuma formada pelo
sabão do óleo padrão apresentou-se mais volumosa do que a do óleo impuro e a do óleo p7, assim
como observado com o sabão ecológico de óleo vegetal residual produzido por Tescarollo et al.

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(2015). A estabilidade do sabão de óleo padrão também se mostrou superior à dos produzidos com
óleo impuro e com óleo p7.
Comparando-se a capacidade de formação de espuma no sabão do óleo padrão com seu
respectivo sabonete, verificou-se que esta característica foi desfavorecida, enquanto a mesma
comparação realizada com os sabões e sabonetes produzidos com os óleos impuro e p7 revelou o
efeito contrário. Possivelmente a formação e a estabilidade da espuma foram favorecidas pela
interação das impurezas ainda contidas nos óleos que os originaram com o natrosol, cuja molécula
possui grupos polares éter e hidroxila. Como os produtos de degradação estão ausentes no óleo
padrão, o aumento do volume e da estabilidade da espuma na formulação do sabonete em relação ao
sabão não foram observadas no mesmo.
De acordo com Sanibal & Mancini Filho (2002), durante a degradação térmica do óleo os
triglicerídeos hidrolizam formando monoacilglicerol e diacilglicerol, e/ou podem oxidar para formar
peróxidos, hidroperóxidos, dienos conjugados, epóxidos hidróxidos e cetonas e/ou podem se
decompor em pequenos fragmentos ou permanecer na molécula do triacilglicerol e se associarem,
conduzindo a triacilgliceróis diméricos e poliméricos. Esta variedade de compostos formados
possibilita uma variedade de possíveis reações, que podem ter formado substâncias anfifílicas,
favorecendo a espuma, cuja ocorrência e a intensidade das reações depende das características do
alimento frito (composição, quantidade), do processo (contínuo ou intermitente, temperatura, com ou
sem reposição de óleo novo), do recipiente de fritura (relação volume / superfície de contato com a
atmosfera, modo de aquecimento e metais em contato com a gordura), da natureza e estabilidade
térmica do óleo e do uso de aditivos (Gertz, 2000).
A reduzida umidade do óleo impuro pode indicar que o mesmo foi submetido a um
aquecimento excessivo (tempo e / ou temperatura). O teor de umidade determinado nos óleos
purificados nas três condições diferiu significativamente, mas os menores valores foram obtidos no
óleo p7. O processo de purificação também favoreceu a remoção da água presente no óleo impuro, o
que pode ter ocorrido pela remoção dos compostos que a retinham por serem parcialmente polares.
O método utilizado de purificação por partição é facilmente realizado em larga escala por ser
tratar de um método simples, de baixo custo e capaz de aumentar o valor agregado do produto. Para
esta operação, de remoção de impurezas do óleo de fritura utilizado, pode ser considerado, portanto,
um método eficiente. Como pode ser verificado na Tabela 2, o óleo p7 foi o que apresentou o maior
rendimento em relação aos outros, além de ter suas características de qualidade mais próximas das
do óleo padrão.
O sabonete produzido com sabão de óleo p7 foi o que apresentou pH mais próximo do
desejado (8,0), menor dos que os do impuro e do padrão, sendo, portanto menos agressivo à pele.

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Segundo Martins (2009), sabões alcalinos são mais eficientes que os próximos da neutralidade, o
poder de limpeza é maior devido ao aumento de interações que realizam com as sujidades, por outro
lado a alcalinidade excessiva torna-o impróprio para a utilização, devido a sua ação cáustica. O
sabonete obtido a partir do p7 foi o que apresentou pH mais aproximado do desejado (8,0) e menor
perda de massa no TEA.
Ao contrário da grande maioria dos resíduos, os óleos exauridos, tanto de origem animal
quanto vegetal, trazem rentabilidade ao investimento empregado, e podem ser aproveitados em seu
potencial (Martins, 2009). A prova disto foi a obtenção dos sabonetes relatada neste trabalho, para a
qual utilizaram-se subprodutos de atividades comerciais como o óleo e o bagaço de cana-de-açúcar,
por meio de um processo simples e economicamente viável como partição com água em pH neutro.

CONCLUSÕES

O reuso do óleo degradado pelo calor para a obtenção de sabões é um tema previamente
discutido por muitos autores, porém este trabalho trouxe uma nova perspectiva para o aproveitamento
destes subprodutos de atividades comerciais ao considerar a aplicação de purificação prévia ao seu
reuso por um processo simples, escalável e de baixo custo.A recuperação da qualidade do óleo amplia
seu potencial como matéria-prima e mostrou-se ainda mais interessante pelos melhores resultados em
pH neutro, dispensando a etapa de ajuste de pH. Como o processo dispensa a adição de reagentes é
possível que recupere também seu potencial na produção de alimentos, o que poderá ser verificado
em novos estudos.

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