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PUC-SP
2005
ERRATA
2 vivida vividas
7 sócio-espacial social
10 Hist[oria História
11 por si. Comumente por si, comumente
Mocovici Moscovici
15 diferente diferentes
17 marginalidade sócio-espacial marginalidade social
41 Fio Foi
80 Fui que quem fiz Fui eu quem fiz
96 e que momento algum e que em momento algum
101 braço braços
107 por pôr
108 sobre sob
estabelecidos estabelecido
um dos outros uns dos outros
112 onde à alimentação onde a alimentação
113 Ao 16 anos Aos 16 anos
115 eram esses era um desses
116 Loteamento Aeroporto. Que Loteamento Aeroporto, que
118 a vista à vista
120 ao boato, estabelecer ao boato, de estabelecer
havia haviam
muitas as muitas das
121 prostitutas de "donas de casa" prostitutas e "donas de casa"
128 quam quem
131 temos termos
132 Ia para domingo Ia parar domingo
as mulheres conversassem as mulheres que conversassem
_____________________________________________
_____________________________________________
_____________________________________________
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução
total ou parcial desta dissertação/ tese por processos de fotocopiadoras ou
eletrônicos.
Assinatura _________________________________________________
Local e data ________________________________________________
EDUARDO MOREIRA ASSIS
SÃO PAULO
2005
HUMAN BEHAVIOUR
Björk – Debut
AGRADECIMENTOS
leituras dos esboços desta dissertação que, além de abrir novos horizontes,
foram, não raro, responsáveis por colocar o trabalho de volta nos eixos; e
de qualificação.
Alegre.
minhas irmãs Ita e Cynthia, não podem ser esquecidas aqui. Sem o apoio
das duas tudo teria sido muito mais árduo, e muito menos compensador e
INTRODUÇÃO ................................... 01
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
The dissertation The city and the ‘necessary evil’: Prostitution Zoning
and social marginality in Pouso Alegre city, Minas Gerais state (1969-1988)
aims to reflect on the Prostitution Zone construction as an urban territory to
explore the tense relationships established between the city spaces and the
Zone along the years. It had resulted and rightfully became a process of
social exclusion and the prejudice resource was reinforced by a symbolic
borderline among their social relationship as a way of differing themselves.
The narrative of the research was built up with the contribution of Oral
History, which allowed the capture of experiences from those who lived the
process of social exclusion and marginality construction of the Zone.
Therefore establishing a continuous dialogue with different kinds of legal,
official-documented, cartography, written-memory sources and the local
press with the purpose of making up a multi-faced history, able to
deconstruct the several images that were attached to the Prostitution Zone
as well as presenting another view of that marginal territory, culturally
constructed with its own rules and values, for the first time presented by the
Pouso-Alegrense historiography.
Jacques Le-Goff
dos silêncios e das omissões oficiais que permeiam os trabalhos dos seus
Zona, sobre prostitutas, “donas de casa” e, mais ainda, sobre suas práticas
1
era recomendado como “doutor honoris causa em Zona”, conforme indicou
pesquisa.
“memória oficial” dos prazeres ilícitos, muito, sobre muitos, bem como muito
sobre ele próprio, foi abafado pelo tempo, restando para ser conhecido, e
1
Moacyr Honorato Reis chegou a publicar um livro onde conta a sua vida e as aventuras vivida nas
Zonas Boêmias de Pouso Alegre, de São Paulo e do Rio de Janeiro, intitulando-o de “Memórias de
um bom malandro”. Cf. REIS, Moacyr H. Memórias de um bom malandro. Pouso Alegre:
Grafcenter, 1993.
2
O francês Alain Corbin foi o primeiro em seu país a realizar uma pesquisa sobre prostituição, em
1974, intitulada Les filles de noce: Misère sexuelle et prostituition. A trajetória do tema na História
em seu país, onde todas as pesquisas são indexadas num livro de referências de temas abordados,
marcava a inexistência do termo ‘prostituição’ nessa Bibliographie annuelle de l’histoire de France,
embora constasse dela quase um quatro de milhão de temas explorados. Até que desenvolvesse sua
pesquisa, nada seria mudado. Alain Corbin, nesse sentido desenvolve um trabalho que recorre a
diversas fontes, inclusive literárias, no sentido de formar um tecido narrativo que desse conta das
prostitutas de uma outra forma, que não “esgotos seminais”, como o havia feito o médico Parent-
Duchâtelet, numa pesquisa quantitativa que viria dar origem ao confinamento regulamentarista das
prostitutas e “casas alegres”. Para tanto, ver CORBIN, Alain. Women for hire: prostitution and
sexuality in France after 1850. Translated by Alan Sheridan. Cambridge, London: Harvard
University Press, 1990. pp.vii-xv. e L’historien et la prostituée in CORBIN, Alain. Historien du
sensible. Entretiens avec Gilles Heuré. Paris: Éditions La Découverte, 2000. pp.39-55.
2
graduação3, cabendo aqui algumas observações relativas às dificuldades
dos primeiros passos trilhados para a construção desta pesquisa por falta
de espaço nos arquivos da Polícia Civil. Quando as fontes não haviam sido
destruídas, o acesso a elas era negado, como foi o caso dos processos
3
A trajetória desta reflexão começa em 2002 com a pesquisa empreendida na construção do trabalho
de conclusão de curso intitulado Outras Visões, Outras Versões: prostituição, cotidiano e memória
na cidade de Pouso Alegre-MG (1945-1990)3 cujo propósito era descortinar o cotidiano no interior
das Zonas de Prostituição pouso-alegrenses ao longo de quarenta e cinco anos, tomando como objeto
de pesquisa a Prostituição. Com o fim do TCC, uma série de outras indagações ganhou fôlego, das
quais emergiu a cidade enquanto questão e a necessidade de fazer da Zona objeto de estudo.
4
Durante o período estudado houve várias tentativas de fechamento da Zona. O Projeto de Lei 1.704,
de 1972, previa a interdição de todas as “casas” do meretrício em 48 horas quando foi apresentado à
Câmara dos Vereadores na primeira votação, sendo rechaçado e obrigatoriamente submetido a outras
votações, onde, em cada uma delas, solicitava um prazo diferente para o mesmo propósito: de 48
horas passou para 10 dias, depois para 30, depois para 45 e por fim, para 90, porém, a Zona nunca foi
fechada. Suas ocupantes, chegaram, inclusive a contratar um advogado, de nome Jorge Beltrão, o
qual chegou a ser procurado no sentido de conceder um depoimento. No fórum local, era necessário
a autorização por escrito do advogado, que designava o número do processo, para acesso a tal
documentação. Entretanto, motivos de saúde impossibilitaram o senhor Beltrão de colaborar com a
pesquisa, tendo sido descartada a sua participação e o trabalho com os processos.
5
A título de exemplo, para que o conjunto de documentos que falavam sobre a venda dos terrenos da
nova Zona da cidade, criada em 1973 pela própria Prefeitura Municipal na tentativa de colocar um
fim à cruzada dos moralistas contra o meretrício, fosse acessado, fez-se necessária requisição formal
3
Outros impedimentos, por sua vez, disseram respeito aos depoentes,
especialmente.
identidade atual da cidade, visto que entre os anos do recorte, 1969 e 1988,
leiteira, para cidade industrial e forte pólo regional, cuja população, entre
município.
à documentação duas vezes, tendo transcorrido um prazo de seis meses do registro protocolar à
xerocópia dos documentos pela Prefeitura.
4
servindo esta como pano de fundo com o qual se imbricam questões
espaços e sua higiene social. Higiene social que por sua vez era mantida
5
pelo chavão do “mal necessário”, sobre o qual foram estabelecidas as
posição clara sobre o que pensavam e o que deveria ser feito com relação
6
A necessidade de mudança no nome da rua decorreu do processo de significação espacial que se
deu com a presença das prostitutas e “casas” na rua da Zona Central de Pouso Alegre. David
Morethson Campista, que batizava a rua, nasceu no Rio de Janeiro em 22 de Janeiro de 1863.
Bacharelou-se em Direito pela Universidade de São Paulo (1883). Deputado Federal. Em 1898
assumiu o cargo de Secretário das Finanças de Minas Gerais. Nomeado Ministro da Fazenda foi um
de seus primeiros atos a criação da Caixa de Conversão para a qual foram transferidos os fundos de
resgate e de garantia do papel-moeda instituídos em 1899. Ao deixar o Ministério foi nomeado
representante diplomático do Brasil na Dinamarca onde faleceu em 12 de Outubro de 1911. Cf.
http://www.fazenda.gov.br/portugues/institucional/ministros/rep013.asp
7
Conforme foi descoberto através de depoimento informal, a mudança no nome da rua David
Campista gerou muita controvérsia nos bastidores do poder local. Como o batismo de uma via
pública estava revestido por toda uma manifestação de prestígio do homenageado, não houve em
Pouso Alegre ninguém além do ex-prefeito Rômulo Coelho, disposto a ceder nome de familiar para
renomear a famosa rua da Zona. Joaquim Coelho Júnior foi membro da família Coelho, ilustre na
cidade, tendo exercido a profissão de advogado, falecendo em 1987, um ano antes da aprovação da
lei que colocaria fim à Zona no centro da cidade.
8
Cf. GOUVÊA, Octávio Miranda. A História de Pouso Alegre. Pouso Alegre, Grafcenter, 1998.
p.230.
6
1920, sendo conhecida como “Quatro Cantos” 9 pela própria maneira como
1973, quando o próprio Poder Executivo sanciona lei que criava uma nova
Conjunto Habitacional, cuja missão era dar moradia para mais de duas mil
pessoas. Como a cidade mudava de cara, mas não de alma, novas tensões
bairro residencial.
9
Cf. REVISTA Pouso Alegre 150 anos. s.n. Pouso Alegre, Ipsis, 1998, p.9.
10
Ver em anexo mapa da região central onde constam grifos vermelhos assinalando as ruas citadas
no corpo do texto.
11
Os mapas anexados cumprem função meramente ilustrativa, visando localizar o leitor no espaço da
cidade, sendo aqueles relativos aos bairros da cidade extraídos do Guia Pouso Alegre 2003. Com
relação ao mapa rodoviário, trata-se de uma gentileza de uma casa de cópias local, haja visto que
durante a pesquisa, a própria Prefeitura Municipal não contava com mapa geral da cidade em seu
acervo cartográfico. Os mapas disponíveis diziam respeito a alguns bairros, mas não à cidade como
um todo. Foram consultados, inclusive, as unidades locais do DNER e do IBGE, onde não constava
nenhum material nesse sentido. Cf. GUIA Pouso Alegre 2002/2003. s.n. Pouso Alegre: FAMA
Publicidade e Pesquisa LTDA., 2002.
7
A fragmentação da cidade em lugares produzidos e ocupados por
demarcadas por uma linha invisível, por um aviso simbólico, uma linguagem
relações dos seus ocupantes uns com os outros, processo que ficou
particularmente visível com a lei que mudou o nome da rua David Campista
que fazem parte da história do grupo que as constituiu e que estão sendo
qual precisa impor-se sobre vincos culturais tão profundos, os quais não
8
mutante, pois em construção permanente12. “Categoria da prática social”13,
da qual elas não faziam parte de outra forma que apontadas como
12
ROLNIK, Raquel. Cada um no seu lugar! (São Paulo, início da industrialização: geografia do
poder). São Paulo, 1981. 217 f. Dissertação (Mestrado em História Urbana) – Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo – Universidade de São Paulo. pp.21-22.
13
RONCAYOLO, Marcel. Cidade in Enciclopédia Einaudi: Região. Vol.8. [S.l.]: Imprensa Nacional
– Casa da Moeda, 1986. p.400.
14
O conceito de território compreende uma categoria de análise que permite pensar os espaços em
termos de identidades, já que neles grupos e sujeitos, através de suas relações sociais e experiências
de vida imprimem as marcas, a memória e a história que lhes permitem viver um sentimento de
pertencimento e reconhecimento nesses lugares. Cf. ROLNIK, Raquel. História Urbana: História na
cidade? in FERNANDES, Ana e GOMES, Marco Aurélio a. de Filgueiras (Org). Cidade e História.
Modernização das cidades brasileiras nos séculos XIX e XX. Salvador: UFBA, 1992. pp.27-29.
9
referencial de “má conduta” como a alteridade15 expressa pela maioria das
foram reservados.
15
BEAUVOIR. Simone. Op.cit.O Segundo Sexo. vol.1 – Fatos e Mito. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1980. p.11.
16
Para Jacques Le Goff as fontes trabalhadas pelo historiador constituem monumentos pois foram
deixadas à posteridade com o propósito de refletir as representações dos grupos sociais que estiveram
por trás de sua produção, sendo que nessa representação estão contidas as dinâmicas das relações
desses grupos com outros em uma sociedade e período, cabendo ao historiador percebê-las e analisa-
las criticamente. Cf. LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento in Hist[oria e Memória. Coleção
Lugar da História. Vol.2. Lisboa: Edições 70, 2000. pp.103-115.
17
KHOURY, Yara Aun. Narrativas Orais na investigação da História Social in Revista Projeto
História n.22. São Paulo: Programa de Estudos Pós-Graduados em História da PUC-SP – EDUC,
2001. p.81.
10
desvendar as imagens18 que os diferentes sujeitos formularam de si
parte dos documentos que trataram delas, documentos que as vêem sob
apresentando espaço para ‘um outro lado’, onde possam ser revelados
18
De acordo com a teoria de Serge Mocovici, as representações sociais constituem um instrumento
de interpretação da realidade, formulado por um grupo social, visando informá-lo acerca de um dado
desconhecido através da construção de referências particulares capazes de transformar o não-familiar
em algo familiar e, assim, passível de compreensão. Em acordo com o conceito de Moscovici, no
trabalho as representações sociais serão evocadas pelo termo imagens, suscitando os mesmos
esquemas de interpretação. Cf. MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: investigações em
psicologia social. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2004. pp.167-214.
19
Cf. CORBIN, Alain. L’historien et la prostituée in: Historien du sensible. Entretiens avec Gilles
Heuré. Paris: Éditions La Découverte, 2000. p.44-45. No original, lê-se:
“Le mal-être, la souffrance, la doleur, l’échec laissent des traces parce qu’ils suscitent la deploration,
la doléance. En revanche, lê bien-être, lê bonheur, lê paisir sont très peu producteurs de textes… Ce
11
Da mesma maneira era necessário descobrir-se os significados da
pesquisa.
déséquilibre créé celui dês traces. L’historien se trouve confronte à des ensaembles massifs de
documents qui ressassent lê mal-être et la doleur.”
12
cidade ao longo do recorte, o próprio vereador redator do Projeto de Lei que
20
De modo a aliviar o texto da introdução, foi preferido o posicionamento da relação dos depoentes
trabalhados ao final da dissertação junto ao elenco das demais fontes trabalhadas. No decorrer do
texto, entretanto, e na medida em que forem aparecendo, para cada depoente, nas notas de rodapé,
constará um resumo de sua história contextualizando o leitor.
21
PORTELLI, Alessandro. Tentando aprender um pouquinho: algumas reflexões sobre a ética na
História Oral in Revista Projeto História n.15. São Paulo: Programa de Estudos Pós-Graduados em
História da PUC-SP – EDUC, 1997. p.16.
22
PORTELLI, Alessandro. A Filosofia e os fatos: narração, interpretação e significado nas memórias
e nas fontes orais in: Revista Tempo. v.1, n.2. Rio de Janeiro: Relume-Dunara, 1996. p.60.
13
mudado muito, bem como eles próprios, em função dos novos valores e das
si25, tendo sido trabalhadas em diálogo constante com outros tipos de fonte,
23
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: lembranças de velhos. 9.ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2001. p.55.
24
Ver POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio in Revista Estudos Históricos.
volume2, numero3. Rio de Janeiro: Cpdoc/FGV, 1989. p.13.
25
PORTELLI, Alessandro. O que faz a história oral diferente in Projeto História 14. São Paulo:
Programa de Estudos Pós-Graduados em História da PUC-SP – Educ, 1997. p.31-32.
26
Com relação ao acervo do Museu Tuany Toledo, cabe mencionar que este foi todo constituído
através de doações de habitantes da cidade, bem como pela coleção do próprio diretor da instituição,
14
Em face às dificuldades de manuseio e análise no recinto do arquivo,
decorrendo daí a ausência de vários exemplares, um dos maiores problemas enfrentados com relação
a esse tipo de fonte.
15
timbrado da PUC-SP, liberados para reprodução em papel alcalino A4 os
tomos 121, 123 e 124, com as atas referentes aos anos de 1972 a 1974, de
1990, tendo sido coletadas tabelas junto à página do IBGE na Internet cujos
com início em 1973, crescimento até 1976 e declínio, a partir dessa data até
16
nulidade após 1987. No Departamento em questão também foi levantado e
cidade.
17
nas relações entre cidade e Zona de Prostituição”, é estudada a tensa
imobiliária disfarçada pelo discurso progressista, o qual, por seu turno, era
que muda de cara, mas não muda de alma: referenciais do passado sobre
18
e a nova Zona, territórios antagônicos, mas que, com o tempo, foram
19
CAPÍTULO I
Margareth Rago
longe das intenções dos moralistas nos anos anteriores. Mas para que isso
20
sua subseqüente e “ameaçadora” proximidade com as “casas” do
costumes.
27
A ZONA do meretrício é um cancro no coração da cidade: onde estão as autoridades competentes?
A Folha de Pouso Alegre. Pouso Alegre, 14/09/1969.
21
No momento em que o meretrício estendeu-se rumo à região central,
para fora, mas, sobretudo, que o poder urbano exibe para a totalidade da
Pouso Alegre.
pivô de uma polêmica cujo destino era tornar-se cada vez maior, o artigo
bem como para a sua “higiene social”, instaurando, com isso, um paradoxo.
22
Ora, àquele mesmo espaço, o qual deveria ser combatido e eliminado do
ainda, uma atuação das instituições repressoras mais direta, mais eficiente,
e ao mesmo tempo mais espetacular, pois foi preciso fazer com que as “...
espaços da cidade que lhes eram vedados foi marcante para Pouso Alegre.
28
ROLNIK, Raquel. São Paulo na virada do século: territórios e poder in A cidade e a rua. Cadernos
de História de São Paulo 2. São Paulo: Museu Paulista da Universidade de São Paulo, dez/jan.1993.
p.44.
29
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. 26.ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
pp.143.
23
“Naquele tempo, o lugar onde se reunia a rapaziada, a
qualquer mexeu com ela. E ela veio com a bolsa, batendo. Foi
30
OCTÁVIO MIRANDA GOUVÊA nasceu em Pouso Alegre na década de 1920, tendo falecido em
2003. Dentista aposentado, foi um dos mais importantes escritores sobre a história de Pouso Alegre,
tendo publicado alguns livros na cidade sobre o assunto, dos quais destaca-se A História de Pouso
Alegre.
24
de 1940, quando, conta Alexandre Araújo, a situação das ocupantes da
Coelho Júnior.”31
31
ALEXANDRE ARAÚJO é Pouso-alegrense. Nasceu em 17 de Abril de 1922. Serviu o Exército de
1939 a 1941. Em 1950 foi admitido pelo DNER, trabalhando na instituição até 1978. Foi secretário
executivo da Câmara Municipal de 1964 a 1989, intercalando o ofício com suas funções no DNER
até 1978, quando passa a dedicar-se exclusivamente ao seu ofício na Câmara dos Vereadores de
Pouso Alegre. Em 1984 funda a Galeria da Câmara, para exposição de documentos históricos da
cidade, mas é a partir de 1989 que assume a coordenação do Museu Municipal Tuany Toledo, tendo
sido todo o seu o acervo reunido e organizado por ele, sendo o responsável pela instituição.
32
A história de Pouso Alegre tem começo em meados do século XVIII com as bandeiras que deram
origem às minas de Santana do Sapucaí, atual Silvianópolis, em 1746, e de Ouro Fino, em 1749, as
quais passaram a integrar o caminho que ligava Vila Rica a São Paulo, percorrendo também cidades
como São João del-Rei e Campanha. Parte desse trajeto, o povoado que se tornaria a cidade de Pouso
Alegre acabou sendo parada obrigatória para viajantes e exploradores, pois que no período das
chuvas as cheias do Mandu, denominação tupi para peixe amarelo, rio que cortava o lugar,
impediam-nos de seguir suas jornadas forçando a permanência em um rancho existente em suas
25
implementação e direção das instituições educacionais mais importantes de
Pouso Alegre33, a década de 1940 assinala para a cidade o fim dos tempos
proximidades até que as águas baixassem, resultando daí o primeiro nome do lugar: Pouso do
Mandu. Esse primeiro núcleo ocupacional composto por uma fazenda de criar, algumas casas, um
rancho de paragem e uma venda, recebeu por volta do ano de 1755, conforme designação do
governador da Capitania de Minas Gerais, um posto de fiscalização, chamado de Registro, cujo
objetivo maior era evitar o contrabando e controlar o fluxo de metais preciosos extraídos das minas
de Santana do Sapucaí e Ouro Fino. Foi quando o “Pouso do Mandu” viu surgir novas necessidades,
e a criação de uma igreja dentro de seus limites representando a principal delas, visto que o exercício
da vida religiosa dos moradores do povoado dependia do deslocamento desses até a Freguesia de
Santana do Sapucaí. Em decorrência disso, a partir de 1797, com recursos doados pelos moradores
do povoado, nas terras cedidas pelo fundador da cidade, Antônio José Machado, a capela foi erguida
e depois reconhecida pelo Príncipe Regente de Portugal Dom João no ano de 1799, tendo sido
consagrada ao Senhor Bom Jesus dos Mártires ou do Matozinho, contribuindo para que o Pouso do
Mandu passasse a ser conhecido por arraial do Matozinho do Mandu. O arraial seria elevado à
freguesia, em 1810, e alçado à categoria de paróquia, em 1811, tendo sido presidida pelo padre José
Bento Ferreira de Mello, tido pela tradição local como figura central de toda a história da cidade.
Anos mais tarde, em 19 de Outubro de 1848, em decorrência do seu crescimento, a vila foi
emancipada politicamente, tornando-se cidade, o que rendeu fôlego à construção da Santa Casa de
Misericórdia e também às obras da Igreja Matriz, concluídas em 1857. Cf. GOUVÊA, Octávio
Miranda. A História de Pouso Alegre. Pouso Alegre: Graficenter, 1998 e MODESTO, Janaína Célia.
Pouso Alegre ou um Triste Pouso? Como a industrialização mudou nossa cidade. Pouso Alegre,
1997. p.13.
33
Figurando nas páginas dos livros de história local também como um dos seus marcos de progresso,
a criação do o bispado foi responsável pelo estabelecimento no município de instituições de ensino e
de assistência social, bem como a fundação de um jornal oficial da Igreja Católica que fizeram de
Pouso Alegre um importante centro letrado no sul de Minas Gerais. Em 1899, eram instalados em
Pouso Alegre o Ginásio e o Seminário Diocesanos. Com a virada do século e a elevação da cidade à
categoria de Diocese, o bispado empreendeu a reforma e ampliação das instalações destas duas
instituições voltadas para a ordenança e à educação de meninos da elite sul-mineira e a instalação de
outras instituições como a casa de congregação dos Missionários do Sagrado Coração de Maria entre
1901 e 1905, a fundação do jornal oficial da igreja local, chamado Semana Religiosa, em 1902, bem
como um colégio para meninas dirigido pelas Irmãs da Visitação, a Escola Agrícola Francisco Sales.
Também proporcionou a vinda das Irmãs Dorotéias, de Portugal, e a instalação de sua Escola Normal
Santa Dorotéia, em 1911 e a construção de seu novo prédio entre 1918 e 1919, no qual estudavam as
meninas da elite pouso-alegrense33. Além disso, foram realizadas obras de assistência social através
da construção de uma escola de ensino primário voltada somente a garotos carentes, juntamente com
a Escola Profissional Delfim Moreira, em 1917, o Orfanato Nossa Senhora de Lourdes, em 1920, e o
Asilo São Vicente de Paulo, em 1939. Cf. GOUVÊA, Octávio Miranda. Op.cit., pp.125-128, 181-
187.
26
dos corpos nos espaços da cidade – mistura percebida enquanto ameaça à
que lhes era proibido estar – mais um motivo para zelarem por suas honras;
conforme esclarece Moacyr dos Reis, “antigamente, a moça que saia fora
da... que se perdia antes do casamento, como a cidade era pequena, então,
praça pública como biscate, quer dizer, uma mulher qualquer. Todo mundo
apontava!” 35.
34
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. 26.ed. Petrópolis: Vozes,
2002. pp.122-123.
35
MOACYR HONORATO REIS: Pouso alegrense, nascido em 07/12/1930, casado e “pai de
família”. Na atualidade, escreve para alguns jornais da cidade, mas houve um tempo em que seu
passado boêmio e briguento apenas lhe fechava portas na cidade. Aprendeu o ofício de barbeiro aos
16 anos e em 1949 foi embora de Pouso Alegre, tendo vivido experiências boêmias nas zonas de
Meretrício de São Paulo e do Rio de Janeiro. Em 1962 retorna à Pouso Alegre, quando é preso e
condenado por agressão. Uma das formas de sua punição foi trabalhar junto à polícia durante um
27
suficiente para nortear igualmente as “mulheres decentes”, afinal, segundo
que
ano. Tinha fama de briguento, por isso seu apelido, Moacyr Bocudo, e nunca negou seu passado
boêmio, referindo-se a si próprio como gigolô e malandro.
36
LEME, Edson José Holtz. Faces ilícitas de uma cidade: representações da prostituição em
Londrina (1940-1966). Assis: 2001. 275f. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de
Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista – campus de Assis. p.17.
37
SOUZA, Francisca Ilnar de. O Cliente: o outro lado da prostituição. São Paulo/ Fortaleza:
Annablume/ Governo do Estado do Ceará – Secretaria da Cultura e do Desporto, 1998. p.77.
28
“... em 1970, 30 anos, 32, 33 anos atrás, a freqüência dos
jovens era mais, mais via zona, essas coisas... pra evitar de
ter uma tragédia fora [grifo meu]. Não seria o caso de hoje,
outras vias [grifo meu]. Então, por isso que dizia que era um
seriíssimo!”38
38
SEBASTIÃO ALVES DA CUNHA: Nascido em Pouso Alegre no dia 27 de Maio de 1943,
casado, é comerciante atualmente, possuindo uma casa de materiais para pesca à rua Silviano
Brandão. Conhecido por Tião Elias, foi eleito vereador em 1970 e apenas deixou o posto em 1989,
tendo sido reeleito várias vezes, sucessivamente. Na sua carreira como vereador, lutou pela
industrialização do município e pela solução de seus problemas. No que concerne à Zona de
Meretrício, foi particularmente o vereador mais combativo, não medindo esforços para a sua
remoção da rua David Campista através da redação do Projeto de Lei 1.704 e da sua mudança para a
rua da Zona no sentido de acelerar a desocupação das “casas” e a moralização da vizinhança.
29
antes do casamento. Some-se a isso, ainda, o recorrente recurso à imagem
dos homens. Entretanto, não dá para ser esquecido o fato de que elas
do sexo antes/ fora do casamento, mas que, apesar de mal vistas pela
“honradas” que não podiam misturar-se a elas. A prostituta era vista como
39
RAGO, Margareth. Os prazeres da noite: prostituição e códigos da sexualidade feminina em São
Paulo (1890-1930). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. pp.168-169.
30
suficientes para destinar a elas a posição de “párias” na sociedade. Dessa
prostituta por um homem que estivesse por ali. Então, não era
40
RUBENS DE BARROS LARAIA é natural de Pouso Alegre, nascido em 06 de Abril de 1948. É
atualmente professor universitário e funcionário público municipal. Graduou-se em História e
Direito, trabalhou para o IBGE como agente do CENSO, na década de 1970. antes disso, em 1967,
havia cumprido o serviço militar obrigatório tendo sido um dos recrutas designados para
patrulhamento da Zona de Prostituição. É casado e pai de dois filhos.
31
Era o receio da abordagem de homens que freqüentavam o
meretrício que dava o tom à circulação dos vizinhos da Zona com filhas
ela,
que vai se passar. Vai que alguma briga lá, alguma coisa... A
41
NEUZA MARIA DA SILVA é natural de Cruzeiro, interior de São Paulo, divorciada, nascida em
15 de Abril de 1933. Veio para Pouso Alegre à procura de novas oportunidades, pois havia
conhecido a cidade a passeio e decidiu-se por morar aqui, em 1973, por conta do crescimento da
cidade, tendo aberto uma loja de roupas chamada A Barateira, na rua Silviano Brandão, que
funcionou por 25 anos. É uma das moradoras mais antigas da rua. É mãe de seis filhos.
32
Mas não era somente a possibilidade dos freqüentadores da Zona
ação que fosse revertida em prejuízo moral para essa “moça de família”, a
qual corria o risco, como diz Laraia, de ser confundida com uma moça do
meretrício.
a Zona colocava para a vizinhança, imersa em uma outra cultura que não
dos pais com relação à circulação de seus filhos pelas tênues divisões com
brigas e desses perigos que rondavam a Zona, mas que surgem nos
“possibilidades”.
33
ocupantes das “casas” pelos clientes – sem hora para ocorrer, fosse dia,
com facilidade43, devendo pesar sobre ele, por esse mesmo motivo,
aparece ainda hoje, mais de vinte anos passados desde seu fechamento na
42
JASMINA FERREIRA é natural de Muzambinho, trabalhava em Guaxupé quando foi convidada
por sua patroa a mudar-se para Pouso Alegre e servir-lhe como dama-de-companhia. Aos 19 anos
muda-se para a rua David Campista, vizinhança a qual nunca abandonou. No decorrer de sua vida,
assume uma pensão de mulheres na rua da Zona, o que lhe rendeu fama na cidade. Foi casada, à
peoca em que foi “dona de casa” na David Campista. Conhecida por Dona Geni, seu marido faleceu
à década de 1990. atualmente, mora sozinha em uma casa na rua do Rosário.
43
ROLNIK, Raquel. Op.cit. p.42.
34
repressão e segurança, a que mais chama a atenção associa a
zona. Sabe por quê? Porque tinha muito poucos policiais aqui,
acho que era uns quatro, cinco só. Então, o exército ajudava a
patrulhamento.”45
44
Em 1918 é instalado em Pouso Alegre o 8º Regimento de Artilharia Montada, tomando parte nas
Revoluções de 1930 e 1932. Durante o período da II Guerra Mundial, houve contingente destinado a
compor as forças brasileiras em confronto na Europa. Em 1959, o Regimento passa por uma reforma
e tem seus equipamentos renovados, sendo re-batizado como 4º Regimento de Obuses. No ano de
1972 passa a ser denominado 14º Grupo de Artilharia de Campanha, sendo dotado de armamento
pesado. Em 1987, recebe sua denominação atual: Grupo Fernão Dias. Cf. GOUVÊA, Octávio. Op.cit.
pp.83-84.
45
MARIA RUTH VILELA: nascida em Pouso Alegre no dia 25 de Mio de 1928, de família humilde,
trabalhou como secretária até casar-se com o advogado José Villela, ilustre na cidade, um dos
35
“... o quartel tinha muitos soldados... e esses homens soltos na
Rubens Laraia revela, a intenção era essa mesma, porém, o Exército como
fundadores do Campo de Aviação de Pouso Alegre. É uma das moradoras mais antigas da cidade e
uma das mais antigas também da vizinhança residencial da Zona. Viúva.
36
Esse cuidado todo especial com o território das prostitutas, “donas de
diferenciação entre uma mulher “da Zona” e uma mulher “honesta”, algo
“dona de casa”, já que, através de sua fala foi possível observar que na
Entretanto, para que isso ocorresse, era preciso que alguns cuidados
vestida, né?! Tem que andar bem vestida. Pra sair pra rua, na
37
cidade, já era uma calça comprida, uma saia mais longa.
roupas mais curtas, valorizando o corpo, com o qual faz seu dinheiro, e
46
MARGARIDA MIRANDA: natural de São José dos Campos, nascida em 15 de Outubro de 1943,
mãe solteira de quatro filhos, trabalhou como doméstica até onde viu ser possível a manutenção da
vida dos filhos. Em 1972 vem para Pouso Alegre, tendo como referência a irmã, para trabalhar na
Zona. Deixa os filhos com babá e na rua David Campista começa como prostituta, passando a dona
de bar pouco tempo depois. Em 1974 deixa o bar aos cuidados de uma inquilina sua e muda-se para
Jundiaí, onde trabalhou como prostituta. Com o dinheiro proveniente do trabalho em Jundiaí
construiu uma boate na nova Zona Boêmia, retomando as atividades como ‘dona de casa’ em 1978,
no Capim Gorduro. Investiu o dinheiro da Zona na compra de diversos lotes e casas pela cidade,
inclusive a sua residência, no bairro São Cristóvão.
47
CASTRO, Ricardo Vieiralves de. Representações Sociais da prostituição na cidade do Rio de
Janeiro in SPINK, Mary Jane Paris. O conhecimento no cotidiano: as representações sociais na
perspectiva da psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 1995. p.158.
38
explica Foucault, visavam introduzir no indivíduo uma sensação de
quando relembra que “... a rua inteira lá era [residencial], então as pessoas
48
FOUCAULT, Michel. Op.cit.,pp.166-167.
49
Margarida Miranda, Op.cit
39
população, cercando as relações com as ocupantes do meretrício de todo
alegrense com as suas práticas, a qual, por sua vez, sempre foi generosa
sabendo conviver com eles de outra forma que não estivesse pautada na
que
50
GUATTARI, Félix. Cartografias do Desejo. Petrópolis: Vozes, 1986. p.122 apud CASTRO,
Ricardo Vieiralves de. Representações Sociais da prostituição na cidade do Rio de Janeiro in SPINK,
Mary Jane Paris. O conhecimento no cotidiano: as representações sociais na perspectiva da
psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 1995.
40
deixa impressionar sequer pelas qualidades éticas do
indivíduo.” 51
um grupo de três moradoras da Zona Boêmia havia procurado por ela, certa
Eu fui chamada em tudo que era canto. Deu pra perceber que
dolorosa pra mim... uma coisa muito triste, muito triste. Muito
51
HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. Série Interpretações da História do Homem vol.2.
6.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. p.57.
41
freqüentam. E eles não vão gostar da mistura, gente de certo
nível. [grifo meu] Não vão gostar!’. Tive que respeitar: não era
décadas de 1960 e 1970, existiam quatro salões de beleza, tendo sido mais
52
HORMA DE SOUZA VALADARES MEIRELES. Nascida em São Paulo-SP, na década de 1930,
filha de viajantes, suas memórias da infância evocam sempre Pouso Alegre, cidade onde tinha
parentes próximos e onde passava as férias. Graduou-se em Direito pela PUC-SP e em Canto. Foi
com a instrução em canto que conseguiu lecionar e estar à frente do Conservatório Estadual de
42
Enquanto elas estiverem respeitando o ambiente eu vou
papéis e uma ameaça à moral das mulheres “decentes”, que poderiam ter
Música da cidade de 1961 a 1984. Também lecionou na Faculdade de Direito do Sul de Minas. Foi
eleita vereadora na década de 1990, atuando na comissão que redigiu a Lei Orgânica do município.
43
estarem sob um mesmo teto durante um curto espaço de tempo. O mal-
Além disso, ali, naquele espaço onde todas deveriam esperar a sua vez
“mulher decente” por parte das moradoras da Zona, posto que o respeito
toleradas.
lado da fronteira, do lado “decente”, não era hábito dos mais comuns,
44
estudos ou se elas sentir-se-iam incomodadas com o estabelecimento de
53
A instalação das indústrias na cidade dependia da doação de terrenos com toda a infra-estrutura
disponível, ou seja, água e esgoto, energia elétrica e telefonia. Os terrenos eram escolhidos entre
propriedades particulares e submetidos à avaliação da empresa. Depois, a Prefeitura Municipal
captava recursos junto ao Governo Estadual, através de empréstimos da Caixa Econômica Estadual,
comprando a área e doando-a à industria interessada em instalar-se em Pouso Alegre. Todos esses
procedimentos eram discutidos na Câmara dos Vereadores, analisados por uma comissão de finanças
interna e submetido a votações que aprovavam as doações por unanimidade. Cf. ATAS da Câmara
Municipal. Pouso Alegre, 05 de Junho de 1972. Museu Municipal Tuany Toledo – Câmara
Municipal de Pouso Alegre, tomo 121, p.06-10 verso.
45
contra membros de um grupo, tão-somente pelo fato de serem membros
nutridas desde muito cedo pelo caráter proibitivo que envolvia a Zona nas
lá, que não era um bom lugar, né?! Então, a gente já cresceu
54
HELLER, Agnes. Op.cit. p.56.
55
Octávio Miranda Gouvêa, Op.cit.
46
Com relação às “moças de família” as imagens da moradora da Zona
Ana, tudo assim moça de família e a gente dizia que nunca vai
pronto, acabou!”56
56
VALQUÍRIA DE CASTRO CORRÊA: natural de Pouso Alegre, nascida no final da década de
1940 foi aluna do colégio Normal Santa Dorotéia, regido por Freiras da Congregação das Dorotéias.
Casada, mãe de um casal de filhos, é professora desempregada e graduada em História.
47
conservadorismo da sociedade envolvia a visita às trabalhadoras do sexo
Lisboa57.
então, uma confusão de valores que fazia com que nutrissem por elas ao
sua educação.
atravessa todo o corpo social muito mais que uma instância negativa que
57
De acordo com o senhor Moacyr Honorato Reis, era bastante comum os homens se reunirem
diante desses pontos da cidade, muitas vezes antes mesmo de o freqüentador, tema do assunto,
acordar, fazendo com que a notícia repercutisse rapidamente e em vários círculos.
58
FOULCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 16.ed. Rio de Janeiro: Graal, 2001. pp.7-8.
48
da cidade, cujos reflexos eram vividos no cotidiano de sua população,
noção do caráter proibitivo que lhe é associado: a Zona faz parte do folclore
entrevistados, a memória fez por onde preservá-los. Não obstante, por mais
formando uma teia tão apertada que o recrudescimento das críticas sobre a
total ignorância de sua força pelos moralistas ansiosos por uma rápida
ruptura.
produzido por esse poder que “... não pesa só como uma força que diz
49
60
“apresentação” das novas “inquilinas” que chegavam em sua casa, de
modo que:
ocê sabe... a carne nova pro velho é uma beleza! [risos] então
Leite iniciou sua atuação como “dona de casa” em Pouso Alegre, nem
mesmo suas origens62, o certo é que sua presença mexeu com os ânimos
59
Ibid, idem.
60
“Inquilinas” é um termo comumente empregado para designar as mulheres que trabalhavam como
prostitutas nas “casas”. Como elas se submetiam a um regime de pensionato, recebiam essa
denominação da dona ou chefe da casa, a quem deveria pagar aluguel do quarto e gerar lucro através
da venda de bebidas, induzindo seu cliente a consumir o máximo de bebidas alcoólicas (o lucro da
“dona de casa’) quanto fosse possível. Em geral, não eram bem vistas as inquilinas que bebiam junto
com a clientela ou que eram briguentas, do mesmo modo que mulheres acima de 30 anos de idade,
ou a longa permanência em uma única casa, sendo importante a rotatividade como fator importante
no aumento da lucratividade da prostituta.
61
Ver Moacyr Honorato Reis.
62
Não foi possível identificar ao certo a procedência de Margarida Leite ou a data de sua chegada na
cidade. A maioria dos depoentes que manteve contato com ela não soube precisar, mas dizia ser ela
carioca. Segundo eles, Margarida Leite era uma mulher de personalidade forte e de muitos inimigos,
dentro e fora da Zona. Depoimentos informais contaram sobre a sua expulsão da cidade, na década
de 1950, por conta do aliciamento de três menores, as quais fugiram de sua casa, mas foram
capturadas por seu parceiro em uma das saídas da cidade, tendo ela sido denunciada por um médico
50
“[Margarida Leite] há quinze anos explora o lenocínio em
(...)
meu]...”63
pouso-alegrense e indiciada, fugindo para o Rio de Janeiro. Na década seguinte, ela retorna à cidade
e retoma as suas atividades de empresária do sexo com a aquisição do cabaré Novo Mundo.
63
SOCYETE às avessas. A Folha de Pouso Alegre. Pouso Alegre, 23/11/1969.
64
ESCRITURA de compra e venda de imóvel urbano. 25/01/1966. 1º Tabelionato da Comarca de
Pouso Alegre, livro 98, fls.45-46.
65
Argentino de Paula era “filho ilustre e de tradicional família” pouso-alegrense, os Paula,
proprietários de grandes extensões de terras que cercavam a cidade. Partiu dele a doação dos terrenos
para a construção tanto da Faculdade de Direito do Sul de Minas, no fim da década de 1950, como
para a da Faculdade de Medicina, no final da década de 1960. Também possuiu forte atuação política
51
Contudo, toda essa articulação complexa, no sentido de prover uma
bem costurada rede de relações que lhe valia contatos com membros de
Segundo a depoente,
“... era por causa de trazer menor de fora pra por aí dentro. O
que tá aqui, o que elas iam fazer? Muitas caia fora, muitas
no município, tendo cumprido mais de seis mandatos como vereador, resultando em mais de vinte
anos na vereança sem ser derrotado. Na década de 1950, foi responsável pela inauguração do cabaré
Novo Mundo, na Zona Boêmia, tendo mantido-o até 1966, quando o vende. De acordo com
depoimentos informais, era conhecido como “vereador das prostitutas”. Cf. COMO vai o Legislativo
e o que tem realizado. O Jornal de Pouso Alegre. Pouso Alegre, 12/10/1968; COROADA de êxito a
VI Festa dos Cartões de Prata. O Jornal de Pouso Alegre. Pouso Alegre, 10/03/1973.
66
Jasmina Gubiotti Ferreira, Op.cit.
52
estendendo os limites da tolerância além do permitido, bem como o da
impunidade67.
67
Apesar de patente, essa ligação estreita entre representantes dos poderes locais e a Zona de
Prostituição, é preciso, contudo, ressaltar não ter sido via de regra para a maioria das outras “donas
de casa” à rua David Campista, de modo que Margarida Leite é encarada aqui como um caso à parte
por duas razões. A primeira e mais importante delas diz respeito à característica maior de seu
negócio, que era um cabaré, numa época em que não existiram outros estabelecimentos com a
mesma estrutura que o seu à rua David Campista, ou mesmo durante todo o período em que lhe foi
destinado confinar a prostituição na cidade. Em seguida, há que se considerar o crescimento de bares
e pensões na Zona Central no decorrer de toda a década de 1970 e a articulação de várias “donas de
casa”, claramente desinteressadas em abandonar o Centro, em torno de Margarida Leite, ao longo de
toda a campanha moralizante pelo fim da prostituição na região central.
68
Margarida Leite foi assassinada em 1982 por um descendente de árabe chamado Mohamed, que
era companheiro de uma de suas “inquilinas”. Conforme contaram Moacyr H. Reis e Jasmina
Ferreira, o rapaz devia grande soma de dinheiro à empresária do sexo, por conta de empréstimos
tomados e não pagos, mas freqüentemente cobrados. Não se sabe o motivo exato do crime, mas
conta-se que a vítima foi espancada até a morte com uma cadeira. Segundo João Evaristo Pinto, foi
preciso que Margarida Leite morresse para que a rua David Campista tornasse-se totalmente
residencial, pois a recusa dela em abandonar o seu ofício tornou-se legendária. Seu corpo foi achado
por sua filha adotiva, no horário do almoço.
53
núcleo urbano e as modificações infra-estruturais implementadas no
que, por um lado, deveria informar acerca de sua nova importância regional,
bem como dessa pretensa modernidade que começava a ser traçada como
69
De acordo com o depoimento do ex-prefeito Breno Coutinho, Pouso Alegre não possuía condições
de manter as fábricas em funcionamento por conta da baixa capacidade das instalações elétricas do
município. Com base nessa dificuldade, e por intercessão do generalato instalado na cidade, foi
providenciada a melhoria da rede de transmissão de energia através de cabos que vinham direto da
represa de Furnas. Outro problema que o ex-prefeito menciona diz respeito às ligações telefônicas a
longa distância, que não poderiam ser completadas antes que o cabo fosse desocupado por cidades
como Varginha e Itajubá. Assim, foi instalado, novamente com a ajuda dos militares, o DDD
automático através de um cabo de telecomunicações que atendia somente as necessidades de Pouso
Alegre.
70
Os modelos de desenvolvimento colocados em prática pelo Governo Militar pautaram-se na
industrialização do país através das facilidades concedidas às multinacionais, dentre as quais se
destacam as do setor automobilístico, e na alta dependência de capital externo, como garantia para o
crescimento econômico através de grandes empréstimos internacionais, e das importações de
petróleo. Cf. FAUSTO, Boris. História do Brasil. 10ed. São Paulo: Edusp, 2002. pp.485-488 e 495-
498.
71
ATUAL administração de Pouso Alegre: Novas avenidas nascem na cidade. O Jornal de Pouso
Alegre. Edição Especial de Aniversário da Cidade. Pouso Alegre, 12 de Outubro de 1968.
54
seu destino inevitável. E que, por outro lado, resultasse de maneira eficiente
industrialização do município74.
72
BELTRÃO, Jorge. POUSO Alegre e o seu progresso. O Jornal de Pouso Alegre. Pouso Alegre,
12/10/1968.
73
Pouso Alegre está localizada no cruzamento das seguintes rodovias: pela BR-381, que liga Belo
Horizonte a São Paulo e pelas MG-459, que faz a ligação entre Lorena e Poços de Caldas; MG-179,
Pouso Alegre a Alfenas; MG-290, Pouso Alegre – Monte Sião; MG-010, Pouso Alegre –
Silvianópolis; MG-025, Pouso Alegre – Paraisópolis; MG-090, Pouso Alegre – Espírito Santo do
Dourado; MG-410, Pouso Alegre – Estiva. Cf. REVISTA Pouso Alegre 150 anos. Op.cit., p.16. Para
tanto, conferir mapa Pouso Alegre rodoviário em anexo, gentileza de uma casa de xerocópias da
cidade.
74
A industrialização de Pouso Alegre é iniciada com as negociações empreendidas pelo então
prefeito Breno Coutinho com empresários paulistas durante sua gestão. Através das informações da
Secretaria de Industria e Comércio de São Paulo, em 1970, soube-se que algumas fábricas tinham
intenção em transferir-se para o interior do Brasil. Organizando jantares com empresários, a
Prefeitura Municipal conseguiu fechar o acordo para que em 1972 começasse a funcionar
definitivamente no município uma unidade da Refinações de Milho Brasil .
55
encampassem, na verdade, estratégias de atração de investimentos não
vitrine”, um lugar, cuja prosperidade deveria ser expressa nas ruas, através
toda vitrine, prevaleceu uma estética que expôs e referenciou apenas o lado
Alegre, recaía sobre ela a função de refletir todo o todo o progresso que o
75
ARANTES, Antônio. Augusto. Paisagens Paulistanas: transformações do espaço público.
Coleção Espaço e Poder. Campinas: Editora da UNICAMP / Imprensa Oficial SP, 2000. p.155.
76
MATOS, Maria Izilda Santos. Cotidiano e Cultura: história, cidade e trabalho. Bauru: EDUSC,
2002. p.34
56
geográfica foi apontada pelos jornais como a responsável por fazer da
alegrense.
77
ESTAÇÃO Rodoviária. O Linguarudo. Pouso Alegre, 03/12/1969.
78
POUSO ALEGRE. Projeto de Lei 1.491, de 11 de Novembro de 1969. Dispõe sobre o regimento
interno da Estação Rodoviária de Pouso Alegre. Pouso Alegre: Câmara Municipal de Pouso Alegre/
Prefeitura Municipal de Pouso Alegre, 1969. 12 p.
79
RODOVIÁRIA começa a funcionar dia 25. A Folha de Pouso Alegre. Pouso Alegre, 23/11/1969.
57
quais, por estarem relacionados à “degradação moral”, por serem lugar de
constituídas em Pouso Alegre, igualmente por força das pressões, que não
58
do Vale do Sapucaí, pontos explorados com mais profundidade a seguir, na
59
CAPÍTULO II
Simone de Beauvoir
Behind the corpse in the reservoir, behind the gost on the links,
Behind the lady who dances and the man who madly drinks;
Under the look of fatigue, the attack migraine and sigh
There is always another story, there is more than meets the eye.
For the clear voice suddenly singing, high up in the convent wall,
The scent of elder bushes, the sporting prints in the hall
The croquet matches in summer, the handshake, the cough, the kiss,
There is always a wicked secret, a private reason for this.
60
mensagens que veiculava através de suas colunas e notas deram margem
providências cabíveis”80.
80
OCORRÊNCIAS Policiais. A Folha de Pouso Alegre. Pouso Alegre, 18/04/1970.
61
para criarem seus filhos” e assinalando que as ocupantes e os
informando o seguinte:
agradecimentos.” 82
81
ABAIXO-ASSINADO encaminhado ao Sr. Dr. Jésus R. Pires: Autoridade Sanitária de Pouso
Alegre. Pouso Alegre, 1/11/1969.
82
ABAIXO-ASSINADO encaminhado ao Exmo. Sr. General Francisco Mattos Junior: D.D. Cmt.
(sic) da AD/4 e Guarnição Militar de Pouso Alegre, MG. Pouso Alegre, 16 de novembro de 1971 e
62
qual é mencionado que “nenhuma providência foi tomada no sentido ao
insatisfação por parte dos moralistas com relação à maneira que a questão
esperados83.
ABAIXO-ASSINADO encaminhado ao Exmo. Sr. General Francisco Mattos Junior: D.D. Cmt. (sic)
da AD/4 e Guarnição Militar de Pouso Alegre, MG. Pouso Alegre, 16 de novembro de 1971.
83
Os documentos mencionados são cabeçalhos de abaixo-assinados redigidos por Moacyr Honorato
Reis e foram localizados já na fase final da pesquisa. Trata-se de papéis que serviram de modelo a
outras solicitações, bem como reforçaram as realizadas anteriormente. Por uma questão de tempo,
tais fontes não foram devidamente exploradas, mas mostrou-se importante a menção delas no texto e
um trabalho preliminar de modo a trazer a tona algo que era mencionado pelos depoentes, mas nunca
comprovado.
63
Como o prazo de 48 horas não foi bem recebido dentro da Câmara, o
resultado conferido nas atas que registraram a reunião foi uma forte
cidade, no que deve ser destacado o trecho a seguir onde lê-se parte da
sessão:
84
Foram consultados os livros de atas da Câmara Municipal de Pouso Alegre relativos aos anos de
1969 a 1978, tendo sido efetivamente reproduzidas e analizadas, após sondagem de conteúdo de
acordo com a problemática da pesquisa, as sessões registradas nos tomos de número 121, 123 e 124,
as quais cobrem o período que se estende entre 1972 e 1978. Dentre todos os registros verificados, a
polêmica relativa à Zona Boêmia aparece apenas quatro vezes: nas sessões de 22 de Maio, 19 e 26 de
Junho e 03 de Julho de 1972, respectivamente.
64
faz referências ao problema do meretrício, inclusive quanto às
palavra, dizendo:
85
ATAS da Câmara Municipal. Pouso Alegre, 22 de Maio de 1972. Museu Municipal Tuany Toledo
– Câmara Municipal de Pouso Alegre, tomo 121, p.01-03 verso.
65
É significativo notar que a Zona aparece referenciada pelos
86
SONTAG, Susan. A doença como metáfora. 3.ed. Rio de Janeiro: Graal, 2002. p.91.
87
Ibid. p.106.
66
Porém, percebe-se que a cruzada, para alguns, não era pelo fim do
Sebastião Alves da Cunha fosse pelo seu fechamento definitivo, para o que
vereadores.
“saúde moral” tanto das “moças de família”, que poderiam ser associadas à
67
Além disso, a inexistência do confinamento enquanto aparelho
era o fim da Zona, como queria Sebastião Alves da Cunha, mas sim sua
88
FOUCAULT, Michel. e Punir: história da violência nas prisões. 26 ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
pp.179-180.
89
ATAS da Câmara Municipal. Pouso Alegre, 19 de Junho de 1972. Museu Municipal Tuany Toledo
– Câmara Municipal de Pouso Alegre, tomo 121, p.11-11 verso.
68
que o meretrício se instalasse, de acordo com o então presidente da
Câmara Municipal, Simão Pedro de Toledo, em uma região “... longe das
toldos91.
da cidade.
90
SIMÃO PEDRO DE TOLEDO: nasceu em Pouso Alegre em 11 de Junho de 1939. Bacharelou-se
em Direito na cidade de São José dos Campos e lecionou na Faculdade de Direito do Sul de Minas
durante mais de vinte e cinco anos a partir de 1964. Ingressou na vida pública na década de 1970,
partidário do MDB: foi vereador, presidente da Câmara Municipal e prefeito de Pouso Alegre entre
1973 e 1976 e depois, pelo PTB, entre 1983 a 1987. Pelo mesmo partido foi eleito deputado estadual
duas vezes. Hoje ocupa cargo de presidente do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais pela
segunda vez consecutiva.
91
POUSO ALEGRE. Secretaria de Obras e Planejamento Urbano. Loteamento Aeroporto. s.n.t. [sem
escala].
69
torno da satisfação do prazer masculino92, reafirmando o caráter de
92
POUSO ALEGRE. Lei nº 1.228, 18 de junho de 1973. Loteamento.
93
O Loteamento Aeroporto foi criado no sentido de acalmar os ânimos dos vereadores que pediam
solução imediata para o problema na Zona. A Prefeitura Municipal havia desapropriado de Anardino
Delfino da Silva uma extensão territorial que deveria sediar pequenas industrias, mas a polemica em
torno da Zona Central fez com que se procurasse uma área distante do centro para alojar as ‘casas’ da
David Campista. De acordo com depoimentos informais, os terrenos do Loteamento Aeroporto eram
vendidos pela Prefeitura a um preço simbólico, com o objetivo de acelerar a desocupação e facilitar a
aquisição por parte das ocupantes da Zona. Dizia-se que os terrenos deveriam ser vendidos apenas a
mulheres. As terras que circulavam o Loteamento Aeroporto seriam desenvolvidas a partir da
segunda metade da década de 1970, com a construção do Conjunto Habitacional S. Cristóvão, o qual
foi inaugurado em 1980, sete anos após a criação da Nova Zona.
70
(sic) família pouso-alegrense, e disrespeitando-a (sic) com palavrões de
freqüência de tipos que não eram bem vindos e bem vistos circulando em
à família pouso-alegrense”.
colocar-se um fim à Zona e aos perigos que passava a trazer para a cidade,
em seu depoimento, Sebastião Alves da Cunha relata ter chegado até eles
94
As palavras entre aspas são citações extraídas do Projeto de Lei de Alves da Cunha, não tendo sido
possível checar a veracidade das informações, que são citadas com o propósito de embasar os
argumentos do vereador, radicalmente contra a localização da Zona no centro de Pouso Alegre, e
acelerar a desocupação da região. CUNHA, Sebastião Alves da. Projeto de Lei Municipal 1.704:
dispõe sobre o fechamento da zona do meretrício. Pouso Alegre, 19/06/1972. Câmara Municipal de
Pouso Alegre. p.1.
95
Ver Sebastião Alves da Cunha.
71
maior circulação de clientes, homens geralmente mal vistos, rotulados como
sexo masculino.
sob estudo, “a maior zona da região aqui era Pouso Alegre... falava na zona
na região, era Pouso Alegre”, um lugar freqüentado por todo tipo de cliente,
indo contra uma visão pejorativa que homogeneíza a clientela das casas de
época, então, eles iam aonde? Não tinha nada, lazer nenhum!
Era aqui. Eles vinha pra cá, vinha pra cá e ficava aí,
96
SOUZA, Francisca Ilnar de. Op.cit, p.78.
72
respeitadora, sabe? Vinha pra cá porque não tinha aonde ir,
cá...” 97
semana98. Com isso, a cidade recebia uma população flutuante que nos
conta de sua “alta envergadura, como também pela fina sociedade que o
97
Ver Moacyr H. Reis
98
Ver Simão Pedro Toledo.
99
POUSO Alegre – reduto de sociedade alegre e sadia. O Jornal de Pouso Alegre. Pouso Alegre,
12/10/1968.
73
responsável pela promoção de bailes e folguedos de carnaval100, e os
100
GOUVÊA, Octávio Miranda. Op.cit.. p.199-200.
101
Ibid, Idem. p.153.
102
RAGO, Margareth Luzia. Op.cit.. p.186.
74
“... os cidadãos que se aventurassem cruzar os limites de determinados
honestos”103.
vistos.
proximidade com a região central coloca cada vez mais perto a condenada
mistura dos corpos e a confusão dos papéis, tanto para as mulheres quanto
103
LEME, Edson José Holtz. Op.cit.. pp.101-102.
75
“... foi a única solução que eu tive, porque todos eram contra.
AI-5 era uma lei que quando ocê chegava numa certa, num
porque ele era uma lei soberana [grifo meu]. Então, a gente
104
CUNHA, Sebastião Alves da. Projeto de Lei Municipal 1.704: dispõe sobre o fechamento da zona
do meretrício. Pouso Alegre, 19/06/1972. Câmara Municipal de Pouso Alegre. p.2.
105
Sebastião Alves da Cunha, Op.cit.
106
Não foi possível localizar o nome da matéria, nem a data em que a mesma foi publicada no jornal
O Estado de São Paulo, pois o jornal foi recortado e grampeado como anexo do projeto de Lei 1.704.
Para tanto, o artigo consta em anexo ao final do trabalho tal qual foi encontrado anexado ao
documento.
76
Contudo, não observou que o Ato Institucional nº.5 havia sido usado
para fora da PM. No caso do projeto de Lei, o AI-5 foi reivindicado para
pouso-alegrense.
sentido, que, ainda em 1972, a Prefeitura havia dado carta branca para o
deu cumprimento aquela (sic) missão que lhe foi confiada”107. Segundo
Tais atitudes de descaso que muitas vezes eram notadas por parte
Boêmia, dando margem para que fosse difícil para esses homens discutir a
107
CUNHA, Sebastião Alves da. Projeto de Lei Municipal 1.704: dispõe sobre o fechamento da zona
do meretrício. Pouso Alegre, 19/06/1972. Câmara Municipal de Pouso Alegre. p.2.
77
prostituição de forma publica, argumento que em parte explica as
de 1968109.
108
Cf. CORBIN, Alain. Women for hire: prostitution and sexuality in France after 1850. Translated
by Alan Sheridan. Cambridge, London: Harvard University Press, 1990. p.315. No original:
“In the first place, a large number of parliamentarians were themselves clients of venal women and
therefore found it difficult, if not disagreeable, to discuss prostitution in public. This argument,
which was often put forward by contemporaries, partly explains the legislators’ reticence.”
109
O Ato Institucional número 5 foi baixado pelo presidente Costa e Silva em 13 de dezembro de
1968 com o objetivo de sufocar a oposição ao Regime Militar, aumentando a “linha dura” e
institucionalizando práticas de violência como a tortura e as mortes dos presos,políticos, disfarçadas
pelos desaparecimentos dos inimigos da Ditadura. O AI-5 durou até o ano de 1979, mostrando-se, ao
contrário dos outros Atos Institucionais baixados pelo Regime nos anos anteriores, uma medida de
longa duração.Cf. FAUSTO, Boris. História do Brasil. 10.ed. Coleção Didática vol.1. São Paulo:
EDUSP, 2002. PP.4479-480.
78
110
quatro contra, na sessão de 26 de Junho de 1972 , para retornar,
110
ATAS da Câmara Municipal. Pouso Alegre, 26 de Junho de 1972. Museu Municipal Tuany
Toledo – Câmara Municipal de Pouso Alegre, tomo 121, p.17 verso-18.
79
Entre 1970 e 1971, visando à desocupação do meretrício por parte
leva o nome do meu pai... aquele terreno fui eu quem doei pra
Fui que quem fiz, porque, se ali tivesse uma escola bloqueava
o crescimento da Zona.”112
crédito as suas ações contra a Zona, tanto que em seu projeto de lei as
111
ATAS da Câmara Municipal. Pouso Alegre, 26 de Junho de 1972. Museu Municipal Tuany
Toledo – Câmara Municipal de Pouso Alegre, tomo 121, p.19 verso-24 verso.
80
Escolar recém construído”113, dando crédito a uma imagem que faz delas
Porém, essa transposição dos limites não foi aceita de forma passiva
“Até pra bem da verdade, se fosse pra mim mexer hoje eu não
112
Sebastião Alves da Cunha, Op.cit.
81
casa, entendeu? Me trouxe um problema sério, que a minha
menina ficou... hoje não, graças a Deus, hoje ela ta bem, né?!
prostituição.
113
CUNHA, Sebastião Alves da. Projeto de Lei Municipal 1.704: dispõe sobre o fechamento da zona
do meretrício. Pouso Alegre, 19/06/1972. Câmara Municipal de Pouso Alegre. p.2.
114
Sebastião A. Cunha, Op.Cit
82
em estado de embriagues”115 colocando as crianças em constante risco de
onde lê-se:
cristã.”117
115
DECLARAÇÃO. Pe. Eusébio [ilegível]. Pouso Alegre, 13/06/1972.
116
DECLARAÇÃO. Irmã Maria Carmélia Cavalcanti – Colégio Normal Santa Dorotéia. Pouso
Alegre, 1/06/1972.
117
Os textos são os mesmos nos seguintes documentos: DECLARAÇÃO. Horma de Souza
Valadares Meireles – Conservatório Estadual de Música de Pouso Alegre. Pouso Alegre, 13/06/1972;
DECLARAÇÃO. Áurea Souza – Grupo Escolar Professor Joaquim Queiroz. Pouso Alegre,
13/06/1972; DECLARAÇÃO. Professor João Batista Rezende – Colégio Comercial São José. Pouso
Alegre, 19/06/1972;
83
Uma das signatárias dos documentos, a ex-diretora do Conservatório
declaração havia chegado até ela. De acordo com a depoente, o texto lhe
foi entregue redigido, obedecendo a uma minuta que deveria ser adaptada
“... não que os outros que assinaram não tivessem, mas eram
118
Horma de Souza Valadares Meireles, Op.cit.
119
Sebastião Alves da Cunha, Op.cit.
84
vereador de que a Zona precisava ser desativada, assinalando um contexto
praças”120.
120
SOUZA, Francisca Ilnar de. Op.cit.. p.59.
85
deputado estadual, que chamou o delegado para uma reunião em uma das
casas que exploravam a prostituição, após a qual “... ficou decidido que a
zona iria continuar do jeito que estava. A decisão foi feita na base da
visavam agir sobre elas. Nesse sentido, conforme argumenta Foucault, “...
121
CUNHA, Sebastião Alves da. Projeto de Lei Municipal 1.704: dispõe sobre o fechamento da zona
do meretrício. Pouso Alegre, 19/06/1972. Câmara Municipal de Pouso Alegre.
122
REIS, Moacyr Honorato. Op.cit. p.171.
123
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade. vol.1 – A vontade de saber. 14.ed. Rio de Janeiro:
Graal, 2001. p.91.
86
“1 – Que todas as mulheres devem ser fichadas na Delegacia,
124
DELEGACIA de Costumes Determinam às proprietárias de casas de tolerância o seguinte: A
Folha de Pouso Alegre, Pouso Alegre, 26/06/1972.
125
RAGO, Margareth. Op.cit.. p.93.
87
itens de número 1 e 4, pois seus objetivos desnudam a produção de um
relembrar que
família. Então, teve uma época que todas tinha que fazer a
ficha. Mas era uma ficha direitinho, não era assim... era até
126
FOUCAULT, Michel. Op.cit. p.157.
127
Margarida Miranda, Op.cit.
88
A diferença estabelecida entre o documento da Delegacia de
128
FOUCAULT, Michel. Op.cit,p.158.
89
diretamente, através do exame ginecológico129, que peneirava as
das restrições.
comenta:
129
Havia, no período estudado um órgão de saúde responsável pela execução desses exames, de
acordo com depoimentos informais. Embora não tenha sido possível levantar quaisquer registros
desses atendimentos, as depoentes entrevistadas e que trabalharam na Zona central recordavam
pouco desses exames. Segundo elas, as exigências eram feitas pelas autoridades de saúde, mas o
cumprimento era esporádico, caindo a freqüência ao posto de saúde gradativamente até a não
realização dos exames.
130
POLIANA DE ANDRADE: natural do interior de São Paulo, pediu para não ser identificada pelo
nome real na pesquisa. Trabalhou como prostituta na David Campista e como “dona de casa” no
Capim Gordura”.
90
Loteamento Aeroporto, as trabalhadoras e empresárias do sexo recusaram-
se a sair de seus pontos centrais, deixando uma grande demanda para trás.
agradavam.
amigo, que tá... advogado, nem vou citar nomes que não seria
131
O advogado, chamado Jorge Beltrão, foi procurado para conceder depoimento. Num primeiro
momento, concordou em ceder sua fala, entretanto mudou de idéia e começou a evitar a entrevista
adiando a data de sua realização sucessivamente. Em decorrência de graves problemas de saúde sua
contribuição foi descartada pela impossibilidade de realização de entrevista.
91
Me ofereceram, me ofereceram tudo né?! Só que... eu nunca,
aqui: eu posso ser o que for, mas eu nunca, eu não abro mão
novas vendas, com um comprador para cada mês, para que, a partir de
em 1988.
92
conta da atuação de Moacyr Honorato Reis nesses processos de compras
132
Foram identificadas e xerocopiadas 72 certidões de venda de terrenos do Loteamento Aeroporto,
registradas entre 1973 e 1988, arquivadas e indisponíveis para consulta no Departamento de
Patrimônio da Prefeitura Municipal de Pouso Alegre.
133
Moacir H. Reis, Op.cit.
93
Embora tenha sido difícil fazer o levantamento, a partir dos registros
Gusmão Vilas Boas, esposa de Moacyr Reis, bem como de duas cunhadas
no total.
sua atual residência, à rua Francisco Sales. Antes disso, Moacyr Reis
livro de memórias:
94
fechando suas portas pela presença do mascarado e temido
Zorro no pedaço.”134
episódio, dizendo:
tudo comentava que era ele que fazia aquilo. Vestia de Zorro
saindo. Agora eu não sei, acho que ele queria que acabasse
134
REIS, Moacyr Honorato. Op.cit., p.173.
135
Margarida Miranda, Op.cit.
95
David Campista, tanto como na própria, com o fim da prostituição na região
justificado por ele próprio como fruto de uma atitude de defesa da moral
isso...” 136.
em que reside na rua Francisco Sales havia adotado uma menina, tendo se
136
Moacyr Honorato Reis, Op.cit.
137
O assunto Zona de Prostituição para muitos depoentes do sexo masculino pareceu, no decorrer do
levantamento das fontes, ser algo intocável. Na medida em que as conversas se aproximavam do
tema nas entrevistas, a indicação do senhor Moacyr Honorato Reis como “doutor honoris causa em
Zona”, como se referiu a ele Alexandre de Araújo, era freqüente.
96
Zona, serve de exemplo de muitas outras, todas interessadas
Zona.
Nesse contexto particular, a nova Zona foi cercada outra vez por uma
97
sociabilidade e dependência comercial entre os dois bairros cujas
ultimo capítulo.
138
Margarida Miranda, Op.cit.
98
CAPÍTULO III
Oscar Wilde
99
“[Passava] a denominar-se ‘Rua Dr. Joaquim Coelho Júnior” –
ameaçada pela “má fama” que pesava sobre a via pública desde a década
139
POUSO ALEGRE. Lei Municipal n.2.287/88, de 26 de Outubro de 1988. Denominação de via
pública: “Rua Dr. Joaquim Coelho Junior” – (Advogado: 1902/1987).
140
Não foi possível constatar-se quando a Zona Boêmia é criada em Pouso Alegre. Na historiografia
local, a região aparece pela primeira vez em 1920 e mesmo assim, sem referências documentais
mencionadas. Cf. GOUVÊA, Octávio Miranda. Op.cit. p.230.
141
JOÃO EVARISTO PINTO: pouso-alegrense, casado, três filhos. Nascido em 31 de Maio de 1946,
foi motorista de táxi e atualmente trabalha como barbeiro num salão à rua Dr. Joaquim Coelho
Junior, antiga David Campista, tendo sido um dos primeiros moradores a estabelecer residência na
antiga rua da Zona no sentido de “moralizá-la”.
100
mora aonde?’. Falava: ‘Rua David Campista’. Aí Ficava meio
como antiga David Campista. Mas todo mundo sabe que aqui
não tem mais nada. Faz vinte anos que acabou, então não
Então, hoje não tem nada, tem comércio aí. Então, hoje, não
igreja evangélica, que agora lhe são referências culturais, como ressalta o
identidade e o papel da lei nesse processo, cujo propósito não foi outro
101
“casa”, a única que insistia em funcionar no centro, o crescente número de
moradores sobre o silêncio reinante naquela rua que outrora era envolvida
prostituição.
142
João Evaristo Pinto, Op.cit.
143
Margarida Miranda, Op.cit.
102
um número sempre maior de mulheres, as quais precisavam capitalizar o
Capim Gordura, porém, as casas não eram mais pensões, mas sim boates,
com prostituição. Para elas, o que fazia de uma boate um bom lugar era a
oferecendo a ele motivos para que retornasse, para que se tornasse cliente
144
Margarida Miranda, Op.Cit.
145
Jukebox era uma máquina de música que apresentava vários títulos, de vários intérpretes,
funcionando somente mediante a compra de fichas junto ao “balcão” da boate, ou seja, junto à dona
da “casa”. As fichas tinham valor alto e assim como o consumo de bebidas, cabia à inquilina fazer
com que o cliente escutasse músicas e bebesse o máximo possível, dinheiro que ia para o lucro do
estabelecimento, à parte do programa e do aluguel do quarto, que não era fixo.
146
MARIA ANTONIA DE SOUZA: vinda de São Paulo-SP, a depoente vem trabalhar no Capim
Gordura no balcão em 1980, para, em 1982 estabelecer sua própria boate. A depoente pediu para não
ser identificada na pesquisa, tendo sido, a exemplo de Poliana de Andrade, utilizado pseudônimo.
103
regular, no que influía decisivamente a ausência de brigas. Por essa razão,
104
vê, chegava lá, não tava tudo no lugar, guarda roupa...
também...”147
“guerra” é feita tanto pela “dona de casa”, que precisa manter tudo em bom
do próprio cliente, bem como pela prostituta, que costuma batizar o seu
muito hoje. Não sei explicar pro’cê direito, mas eu vou lutar,
147
Idem.
105
lavar uma roupa... sei lá, ou até mesmo, se pintar um cara aí,
pelo freguês, fosse o zelo pela prostituta, fosse, ainda o respeito a regras
traz à tona uma experiência que traduziu bem essa questão. De acordo
com ela, certa vez, já década de 1980, no Capim Gordura, havia sido
chamada junto com outras “donas de casa” a dar satisfações à polícia com
ela:
148
MARIA JOSÉ JUAREZ: nascida em Nepomuceno em 5 de Mio de 1961, mãe solteira, chegou à
Zona do Capim Gordura seqüestrada por um cafetão mais três capangas, aos 16 anos. Encontrou na
Zona maior adaptabilidade que ao seu lar, não tendo voltado mais. Sempre trabalhou no Capim
Gordura, como prostituta e como “dona de casa”.
106
’Pode tirar! A gente acabou de vir da Delegacia!’ E sabe o que
tenho que falar! Ela tava indo tudo com a roupa muito curta,
roupa! Não vai lá pra cima assim, não!’ Lá pra cima, ali nas
casa popular bem, nas casas popular ali ó, onde tem família.
mulheres dentro dos seus limites, como aparece bem destacado na fala de
107
da cidade. A cultura da Zona dava margem para práticas que eram
interiorização das regras da Zona não podia valer para o mundo que lhe era
dizendo que “o problema deles era pra lá e o problema da gente era pra
até bife, pra fazer pra eles... Era difícil, porque era o único
barzinho que tinha era aqui, então era bem movimentado. Mas
149
Poliana de Andrade
150
JOÃO RAIMUNDO DO NASCIMENTO e MARIA DE LOURDES DO NASCIMENTO:
casados desde 1958, naturais de Santa Rita do Sapucaí e Brasópolis, de 23 de Agosto de 1934 e 20 de
Janeiro de 1940, respectivamente, foram os primeiros vizinhos da Zona e são apontados como os
primeiros moradores do São Cristóvão, sendo proprietários de um bar/mercearia local existente desde
o fim da década de 1970, quando, pela impossibilidade de freguesia e pelo caráter remoto do lugar,
108
tinha respeito por nós, graças a Deus. De vez em quando que
tinha umas que eu falava, ‘Não vem com essa roupa aqui,
assim: ‘Ah! Tia, nós não vamo vim mais...” No outro dia vinha
com uma roupa melhor, porque era meio aberta assim, sabe?,
vendo...”151
vendo” precisavam ser trocadas, era a exigência que se fazia aos únicos
desenvolver-se completamente.
maneira como eles fixaram as suas regras ao seu espaço, mas a maneira
seus antigos vizinhos trataram de dizer a eles que estavam loucos, porque
de Lourdes] falei que quem vive aqui, quem sabe da vida da gente é a
era freqüentado pelas moradoras da Zona. Moravam no centro, na região do bairro de Fátima e por
isso sofrera críticas dos vizinho sobre a decisão de morar no São Cristóvão.
109
gente! Que a mulher que vinha aqui a gente tratava bem!”152. Para o que
fora, de que não era pra vir pra cá, porque era perto da Zona, por isso,
aquilo, aquilo outro. Que muitos vieram pra cá e mudaram logo, venderam,
Alegre havia crescido para a casa dos 50 mil habitantes154 por conta da
151
Idem.
152
Idem.
153
Idem.
154
De acordo com dados do IBGE, na década de 1970 a população urbana de Pouso Alegre era de
29.224 habitantes, praticamente dobrando este número na década de 1980, quando atingiu a marca de
50.826 habitantes. No campo, decréscimo: em 1970, a população rural era compreendida por 8.846
habitantes para, na década de 1980, chegar ao patamar de 6.536 habitantes. Apesar de serem
observados a nível nacional os fenômenos do êxodo rural e do grande crescimento das cidades no
período estudado, os dados estatísticos relativos a Pouso Alegre revelam descompasso, já que o
crescimento urbano foi extremamente desproporcional à diminuição de moradores da zona rural. Cf.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA-IBGE. Tabela 202 – população
residente por sexo e situação (1970, 1980, 1991). Disponível in http://www.sidra.ibge.gov.br em 18
de Março de 2005.
155
O crescimento do número de moradores urbanos e sua expansão podem ser relacionados ao afluxo
de novos moradores, provenientes em sua maioria do estado de São Paulo, conforme Freitas, em
decorrência do rápido processo de industrialização e a abertura de novos postos de trabalho, para os
quais não havia mão de obra qualificada. Cf. FREITAS, José Maurício de. Migrantes Paulistas no
110
necessidades antes desconhecidas, como a criação de novas áreas de
Bairro da Árvore Grande. Pouso Alegre; 2003. 47fls. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso
em História Social). Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Eugênio Pacelli-Universidade do Vale
do Sapucaí.
156
A Avenida Perimetral foi concebida na administração João Batista Rosa 1976-1982 com o intuito
de retirar a circulação de veículos pesados do núcleo urbano, preservando as construções particulares
e públicas e a fragilizada rede de esgoto, que viria a ser reformada na mesma administração, como
também pelas posteriores. Cf. POUSO Alegre, terra de trabalho, fé e otimismo. A Gazeta de Pouso
Alegre. Pouso Alegre, 19/10/1980.
157
Foram criados novos bairros em áreas afastadas da cidade, com destaque para a região que cruza o
rio (ver mapa da articulação urbana em anexo), onde foram explorados os espaços entre as fábricas
no sentido de situar a mão-de-obra necessária ao funcionamento delas o mais próximo quanto fosse
possível. São exemplos dessa nova articulação da cidade a criação do bairro Cidade Industrial,
rebatizado Jardim Olímpico em virtude da praça poli-esportiva e do Conjunto Habitacional São
Cristóvão. Cf. JOÃO BATISTA ROSA: João Batista Rosa nasceu em Estiva, em 29 de Janeiro de
1933. Formado em Direito pela PUC-SP, construiu toda uma carreira advogando em causas criminais
e internacionais antes de entrar para a vida política. Em 1976 disputa a eleição para a Prefeitura de
Pouso Alegre, sendo eleito com grande apoio popular. Foi presidente da Câmara dos vereadores,
prefeito de Pouso Alegre, por dois mandatos, deputado federal, e atualmente cogita lançar-se
candidato, mais uma vez, pela Prefeitura Municipal de Pouso Alegre, pelo PTB. Foi em sua gestão
1976-1982 que se deu a transferência da Zona Boêmia para a periferia da cidade e o aumento das
obras infra-estruturais que modificariam o espaço urbano de Pouso Alegre.
158
O Conjunto Habitacional São Cristóvão, também conhecido como Chapadão por ser uma região
naturalmente plana, foi inaugurado em 19 de Outubro de 1980 pelo Governador do Estado de Minas
Gerais Francelino Pereira e pelo prefeito João Batista Rosa, tendo como objetivo prover abrigo a
cerca de 2.185 habitantes, num total de 437 residências construídas em parceria entre o município e a
COHAB-MG. Idem.
159
A criação de um Distrito Industrial foi anunciada pela primeira vez na imprensa em 1979. Sua
construção ocorreu no início da década de 1980, tendo sido inaugurado, conforme depoimento do ex-
prefeito Simão Pedro de Toledo, em 1985. Não foi localizado na Prefeitura qualquer documento
sobre o Distrito Industrial. Nos arquivos da Câmara Municipal, as leis referentes ao DI não constam
111
A construção do Distrito Industrial, contudo, representou para o
estrutural daquele que deveria ser o setor das novas fábricas da cidade
Para Maria Antônia, essa clientela foi importante pela seguinte razão:
família e... eles iam lá pra casa, eu fazia janta pra eles e fazia
A Zona precisava ser flexível com relação aos seus clientes, não
112
tratasse, melhor o era para suas proprietárias: a relação de troca era
brigas por clientes ou mesmo brigas por meninas, que trocavam de “casa”
Juarez.
sua vida mudou por causa da Zona, quando foi seqüestrada, ela mais três
jantar e a gente foi junto. Dali a pouco ele levou a gente num
perto senão morria naquele cantão ali, né? Então, quer dizer,
160
Maria Antônia de Souza, Op.cit.
113
nenhuma das três vai escapar, porque é o seguinte: ‘vou levar
mesmo tempo. Aí a gente foi, foi, foi, devido os dias que tava
Apesar de todo o terror que lhe afligiu naquela noite e que emerge
161
Maria Jose Juarez, Op. cit.
162
Idem.
163
Idem.
114
Embora sobre o meretrício pesassem as imagens de um lugar
articulação, elementos que lhe davam força e que lhe atribuíam um caráter
muitas delas, que não conseguiram sair do Capim Gordura, ou que não
demais.
164
MARTIN, Denise. Riscos na prostituição: um olhar antropológico. São Paulo: HUMANITAS –
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP - FAPESP, 2003.
165
Jasmina Ferreira é um exemplo dessa questão. Moradora da antiga região da Zona desde 1935,
recusa-se até hoje a mudar-se da rua do Rosário, onde estabeleceu-se após de casada e manteve-se
mesmo após a morte do marido, pagando alto aluguel. Seus vizinhos aconselham-na a deixar o local
e procurar por uma casa mais barata, para o que se recusa, pois seus referenciais estão ali, nas pedras
das ruas e nas paredes das casas onde já morou.
115
Essa alteração nas práticas não rompe radicalmente, não obstante,
Leite, na David Campista. O que muda, nesse sistema novo entre aspas –
imposição direta, mas por escolha que visa a própria salvaguarda, que visa
entanto, a maneira como participavam era bem outra: embora muitos deles
fossem “donas de casa’, durante algum tempo suas casas lidaram apenas
Mendes de Souza, conhecido como Gina, a sua razão de ser, o qual explica
que
“Quando eu vim pra cá, eu vim pra batalhar... Aí, passado uma
semana, ela me chamou pra trabalhar com ela lá, porque tava
116
precisando de pessoa pra ajudar, pra cozinhar pras mulheres,
lá. Aí, eu achei que era mais vantagem trabalhar do que ficar
166
Foi notada uma unanimidade na atribuição ao travesti das “dores da Zona” nos depoimentos das
mulheres que trabalharam com prostituição na cidade até a década de 1990, especificamente em
1999, quando Poliana de Andrade decidiu fechar a sua casa. Embora o bar de Gina ainda abra suas
portas hoje, não há clientela, mais.
117
outra cara com o aumento no numero das casas de travestis167. De acordo
com Maria Antônia de Souza, uma boa casa não trabalha com travestis.
desempenho das funções domésticas, por ter muita disposição para lavar e
mas não sem antes muita confusão, como relembra Vera Lúcia. Até que as
167
De acordo com os depoentes, havia, como “donas de casa” os travestis Juarez, Cris, Estrela e Luz
Del Fuego, famosos no Capim Gordura no decorrer da década de 1980.
168
TEREZA DA SILVA LANDRO: nascida em Belo Horizonte em 8 de Fevereiro de 1937, criada
no Mato Groso, casou-se com um encarregado da empreiteira Camargo Correia, mudou-se para Ilha
Solteira, depois Campinas e depois Ipatinga. Foi abandonada pelo marido com três filhos. Começou
a trabalhar na Zona para sustentar a casa. Foi prostituta em Cambuí, Ouro Fino, todas essas cidades
118
perguntando-lhe se ela era bem vinda em sua casa, se ela poderia tornar-
relembra:
“No começo, quer ver, acho que durou uns 3 anos. Uns 3 anos
durou essa rixa, que elas não podiam passar aqui. Só que na
pessoas não podia ser amigado, tinha que ser casado. Mas,
em Minas Gerais, vizinhas a Pouso Alegre, para cuja Zona veio em 1983, estabelecendo-se em
definitivo. Ainda mora no Capim Gordura.
169
Chapadão era outra denominação extra-oficial do Conjunto Habitacional São Cristóvão,
construído em uma região da cidade naturalmente plana, onde, na década de 1960 foi estabelecido
um clube de aviação e o seu campo de pouso.
119
que não eram casadas, era amigada. Aí depois foi onde que a
120
das identidades de cada bairro, posto que era a moradora do Conjunto
“donas de casa” ao irem atrás de manicuras e babás. Assim, mais uma vez,
Lúcia, abordando uma de suas filhas para dizer-lhe que sua mãe não
já tava aqui em casa, já, pra poder cuidar deles aqui, das
sabe? Aquilo pra mim foi mesmo que ter dado um tapa na
121
as coisa lá, preparando a janta, não queria conversa com
Vera Lúcia] falou ‘Apaga o fogo das panela aí. Vamo subir!’ e
de enfrentamento, fosse como fosse, jamais teria sido seria aceita nos
170
VERA LÚCIA DA SILVA: natural de Itabirú-MG, nascida em 17 de Dezembro de 1946, ajudava
seu pai na construção do Clube de Campo Pouso Alegre exercendo a atividade de pintora. Casou-se e
122
sua vez, diminuía a atuação de cafetões e gigolôs, de acordo com Poliana
de Andrade, para quem as batidas eram “de estalo”, já que na Zona “tinha
detetive, delegado, era cheio aqui, Dava cada batida feia. Vinham dar
batida, mas tinha uns que gostava do lugar! [gargalhadas] Arrumava mulher
coisas? Eu não!”171
foi embora ela, marido e seus pais, retornando para Pouso Alegre quatro meses depois da mudança.
Estabeleceu-se no Chapadão, onde exerceu atividades informais como manicura, lavadeira, babá e
cozinheira numa boate do Capim Gordura. É casada e mãe de cinco filhos.
171
Poliana de Andrade, Op.cit.
123
punições exemplares era praticado, guardadas as suas proporções com
havia mulheres que mantinham seus filhos menores no Capim Gordura, sob
dezenove anos que era amiga dele. Eu, na hora que ele
quem tem, óia lá, alá a menina de menor! O meu chegou pra
almoçar, cinco horas da tarde e foi chutado. Por que ela ta aí?
124
‘Não! O que é pra um é pra todos. Só que agora os meus filho
filho, menor de idade, ficaria, sim com ela em sua casa e com isso mostra
sentido, que
batia, levava presa sem motivo. Depois que mudou pra cá,
ele. Porque eles não podem fazer isso sem uma ordem
mulheres...”173
172
Todas os depoentes que trabalharam no Capim Gordura relatam ser proibida a presença de
menores de idade dentro da Zona, relatando casos em que, por determinação legal, os chamados
comissários de menores retiravam as crianças de prostitutas de suas guardas, colocando-as sob tutela
judicial.
173
Margarida Miranda, Op.cit.
125
Como não houvesse lei para as mulheres do meretrício central, no
126
maridos, né?!, aí batiam nelas. Depois apanhavam do marido
injustificadas: seja o suborno, seja a invasão das casas. Tudo então era
fica difícil perceber, olhando deste ponto privilegiado, por que os opositores
das Zonas se sentiam tão ultrajados com aquelas mulheres que, até onde
174
BENEDITO PEREIRA DE ANDRADE: nascido em 18 de Outubro de 1945 na cidade de Estiva-
MG, aposentou-se como montador de tela de cinescópio. Serviu o quartel local, abandonando-o por
conta da perseguição militar aos contrários à Ditadura. Casou-se, tem 8 filhos vivos de um total de
11. trabalhou em São Paulo na Fiat e na Pirelli. Residem em Pouso Alegre, na Zona especificamente,
há mais de 20 anos, em 1984. foi um dos primeiros a mudar-se para o interior da Zona de
Prostituição do Capim Gordura. Atualmente reside no São Cristóvão.
127
Zonas, buscava-se uma maneira de fazer-se justiça com as próprias mãos,
foram sendo derrubados, para não dizer que a hipocrisia reinava nos
não mais no mesmo sentido praticado por Vera Lúcia, mas prostituir-se. De
“Eles iam ser donos, quem que ia, quam que não ia morar, a
exigir quem morava. Eles falava, as escutar deles lá, não. Mas
porque na hora que viu que tinha que ganhar dinheiro também
128
seu interior, visto que os terrenos no Capim Gordura possuíam uma das
pequena fábrica de plástico ao lado das boates, em 1986. Como conta, era
freqüente escutar:
foi até o primeiro terreno que eu vi na época foi esse aqui, fui e
comprei...”175
moradores com perfis tão distintos entre si era o meretrício como vizinho, a
175
RAIMUNDO BORGES CARVALHO: Nascido m Silvianópolis-MG em 18 de Outubro de 1948,
separado, pai de cinco filhos, engenheiro químico, pequeno empresário dono de uma fábrica de
plásticos, implementada nos terrenos da Zona do Capim Gordura em 1986. em 1987, estabeleceu-se
no centro da cidade com a família. Seu sogro foi responsável pela vigia do galpão de sua fábrica.
129
pego de surpresa, já que a ele caberia a coordenação e vigia do barracão
Loteamento Aeroporto.
130
desfrutava ante a Avenida Prefeito Olavo Gomes de Oliveira. A construção
de um quartel da polícia foi apontada como o fim da Zona, tendo sido isso
adentra a década de 1990, tinha-se, por certo uma outra cidade cujas
antes pulsava uma Zona de prostituição causa impacto. As ruas, até hoje
todo o som fica retido do lado de fora da Zona: o espaço está isolado e
176
Maria Antonia de Souza, Op.cit.
177
Tereza Silva Landro, Op.cit.
131
pelas máquinas da fábrica de plásticos, ao fundo da rua, com seus ruídos
abafados. Sem contar que reforça essa sensação o fato de que, em volta
sexta feira, sábado e domingo. Essa rua era carro daqui até lá
numa casa, começava na outra e assim ia... Uns dois anos foi
132
conveniência, pois utilizavam o telefone da fábrica sempre que precisavam,
ambiente em que moraria, mas o choque foi superado com o tempo, tendo
isolamento segundo o qual “eles vive o mundo deles, né? E a gente vive o
separados por uma parede ou muro baixo, colocava umas sobre as outras a
vida de cada um deles. Tanto que o próprio Benedito chegou a comentar ter
acolhido em sua casa uma prostituta agredida, que, sem recursos, não
tinha para onde ir. Sem mencionar-se, claro, ter ele próprio vivido na Zona
178
DÍDERO PESSIN: natural de Laranjal Paulista, nascido em 1 de Maio de 1934, veio para Pouso
Alegre para trabalhar como vigia e coordenar a construção da fábrica de plástico do sogro. Pedreiro
133
financeiras179, de relações familiares tensas180, de grandes desilusões
134
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Virginia Woolf
este foi um trabalho, mais que qualquer outra coisa, sobre exclusão.
135
desestabilizador das fronteiras rígidas, mas simbólicas, que costuravam
como tabu para a cidade, viva na memória de seus habitantes até hoje. É
136
que o próprio desenvolvimento que a imprensa local fazia questão de
divulgar.
sobre ela, para a pesquisa, que suas ocupantes, resultando nas muitas
somente como lugar de brigas, pois elas haviam, mas como território de
comum.
137
Uma das maiores contribuições desta pesquisa, assim, fica em seu
necessário”, conceito que soava tão anacrônico para uma cidade “moderna”
138
exploradas pela necessidade óbvia de se delimitar a pesquisa e suas
elucubrações constituintes.
até a escrita deste parágrafo, pelo próprio descortinar de uma cidade que
139
FONTES
FONTES ORAIS
Alegre. 10/04/2002.
140
Firmo da Mota Paes, falecido (1937-2004). Foi farmacêutico, jornalista,
advogado e vereador por quase trinta anos pelo MDB e pelo PMDB. Esteve
05/07/2003.
prefeito de Pouso Alegre pela ARENA 2 entre 1976 e 1982 e entre 1993 e
1997. 25/04/2003.
02/07/2003.
141
Maria Antônia de Souza, 55 anos, solteira. Empresária da noite, tendo
Aeroporto. 10/01/2003.
conhecido por Gina. Trabalhou como doméstica no Capim Gordura até abrir
Maria Ruth Vilela dos Santos, 76 anos, viúva, dona de casa, natural de
Pouso Alegre. Uma das moradoras mais antigas da região da Zona Boêmia.
11/12/2003.
21/01/2004.
21/12/2003.
142
Neuza Maria da Silva, 71 anos, divorciada, natural de Cruzeiro-SP. Mudou-
de Pouso Alegre. Em seu período de serviço militar, entre 1966 e 1967, foi
IBGE. 10/12/2003.
pesca. Foi vereador de 1971 a 1989, tendo sido o mais ferrenho adversário
143
Simão Pedro de Toledo, 65 anos, casado. Atual presidente do Tribunal de
casada, mãe de dois filhos. Foi aluna da Escola Normal Santa Dorotéia.
09/09/2002
Vera Lúcia da Silva, 58 anos, dona de casa, casada. Uma das primeiras
FONTES IMPRESSAS
REVISTA POUSO ALEGRE 150 ANOS. s.n. Pouso Alegre; Ipsis, 1998.
144
FONTES ESTATÍSTICAS
MEMÓRIAS ESCRITAS
Graficenter, 1993.
ABAIXO-ASSINADOS
Junior: D.D. Cmt. (sic) da AD/4 e Guarnição Militar de Pouso Alegre, MG.
Junior: D.D. Cmt. (sic) da AD/4 e Guarnição Militar de Pouso Alegre, MG.
145
FONTES OFICIAIS
Documentos de arquivo:
146
ORDEM de serviço 224. Pouso Alegre, 20/06/1974. Prefeitura Municipal de
147
ORDEM de serviço 364. Pouso Alegre, 14/11/1975. Prefeitura Municipal de
148
ORDEM de serviço 419. Pouso Alegre, 01/02/1976. Prefeitura Municipal de
149
ORDEM de serviço 574. Pouso Alegre, 04/11/1976. Prefeitura Municipal de
150
ORDEM de serviço 623. Pouso Alegre, 18/01/1977. Prefeitura Municipal de
151
ORDEM de serviço 1414. Pouso Alegre, 03/05/1988. Prefeitura Municipal
Documentos cartoriais:
que, revendo em suas notas o livro 99, as folhas n° 10, encontrou lavrada
98, folhas 045 e 046, 25/01/1966. Maise Moreira Miranda Swerts, tabeliã do
1292, livro SO-D, folhas 107 vº, 18/10/1976. escritura pública de doação
152
REGISTRO DE IMÓVEIS. Escritura pública de desapropriação. 39770, livro
(Advogado: 1902/1987).
Alegre. 12 p.
153
Mapas:
1:1000.
1:2000.
s.n.t.
154
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
155
AZEVEDO, Antonio Carlos do Amaral. Dicionário de Nomes Termos e
Conceitos Históricos. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.
156
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157
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1975). Trad. Eduardo Brandão. 1.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
___________. Microfísica do Poder. 16.ed. Rio de Janeiro: Graal, 2001.
___________. História da Sexualidade. A vontade de saber. vol.1. 14.ed.
Rio de Janeiro: Graal, 2001.
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Petrópilis: Vozes, 2002.
JOUTARD, Philippe. Esas voces que nos llegam del passado. Buenos
Aires: Fondo de Cultura Económica, 1999.
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in BRESCIANI, Maria Stella (Org). Palavras da Cidade. Porto Alegre:
Editora da Universidade UFRGS, 2001. pp.97-119.
160
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de 1944: mito, política, luto e senso comum in FERREIRA, Marieta de
Moraes e AMADO, Janaína (Org). Usos e abusos da História Oral. 4.ed. Rio
de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2001. pp.103-130.
161
SÁ, Celso Pereira de. Representações Sociais: o conceito e o estado atual
da teoria in SPINK, Mary Jane Paris. (Org) O conhecimento no cotidiano: as
representações sociais na perspectiva da psicologia social. São Paulo:
Brasiliense, 1995. pp.19-45.
162
___________. Tempo e disciplina de trabalho in THOMPSON, E.P.
Costumes em Comum. São Paulo: Cia das Letras, 2002. p.304.
163
ANEXOS
rua David Campista e as demais vias que lhe cortavam ou lhe eram
mapa anterior. Extraído de Guia Pouso Alegre 2003, ver sessão Fontes.
por um retângulo que delimita sua articulação, visto que não constava
sessão Fontes.
164