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Nuulo original: L’homme et la matiére (Evolution et Techniques) © Editions Albin Michel, 1971 Tradugdo de Fernanda Pinto Basto Revisio de Pedro Castro Henriques Capa de Edigoes 70 Reservados todos os direitos para os paises da Lingua Portuguesa ! edicdes 70 Avenida Dugue de Avila, 69-r/c. Esq. — 1000 Lisboa Tels..55 68 98 / 57 20 01 Delegagao-no Porto: Rua da Fabrica, 38-2.° — Sala'25 — 4000 Porto Telef. 38 22 67 Distribuidor no Brasil; LIVRARIA MARTINS FONTES Rua Consetheiro Ramalho, 330-340 — $io Paulo EVOLUCAO E TECNICAS |-© HOMEM E A MATERIA ANDRE LEROIFGOURHAN U.F.M.G. - BIBLIOTECA UNIVERSITARIA Gn NAO DANIFIQUE ESTAETIQUETA Biblioteca Universitaria LEQ (2O(C 1139610-05 PROLOGO DA PRESENTE EDIGAO Este primeiro volume de Evolugio e Técnicas comporta, tal conn segundo (Meio e Técnicas), uma parte principal, constituida por wn quadro de classificacao dos documentos tecnolégicos ¢ uma pir! secundaria, tedrica, que explora os factos ordenados para Wels extrair as linhas gerais de uma evolucdo. Daqui resulta que, enibora no seu conjunto 0 quadro sistematico tenha permanecido inalierado, aparetho tedrico pode ¢ deve ter evoluido. As correccoes que foram introduzidas dizem especialmente respeito a pré-historia e @ organic edo sistemdtica dos «Meios elementares de accao sobre @ materia Quando escrevi a primeira versao deste livro, a pre-historid ocupava um lugar discreto no respeitante ao valor dos materiais iv podia fornecer a tecnologia. Depots disso, 0 seu rosto transformo s consideravelmente. Tornou-se possivel uma methor apreciacao sob: 4 participacao das formas humanas, mesmo das mais primitivas.. 10 nascimento e no progresso das técnicas, gracas as numerosas ies: bertas realizadas ao longo de uma geracao. Este capital cientifice Jol de resto explorado nos dois volumes de O Gesto € a Palavta publicados em 1965, ¢ procedeu-se a um reajustamento das movies primitivamente desenvolvidas. Paralelamente a esta «paleontologia do utensilio» decorrente do desenvolvimento dos dados pré-historicos, pareceu-me que poilic s«' tentada uma «paleontologia do gesto»; esta iiltima permitiu melhor» considerdveis na classificacao dos «meios elementares», especial mente na cadeia dindmica «impulso-transmissdo-acedo» ¢ na mii de «maquina». Procurei que estas methorias beneficiassem O Homen © a Matéria, estabelecendo ligacdes com O Gesto ¢ a Palavra sey i! entanto alterar completamente a redacedo original de wma obra qi apesar das suas imperfeicdes, assinalava para mim o inicio de una longa aventura cientifica André Leroi-Gourhan ° ° 5 * * ° * * * ° » * ° ° ° ° ° * * * ° * ° ° ° « e ° ° ° ° ° Ce INTRODUCAO ‘A etnologia é constituida por varias disciplinas cuja complementari- dade conduz, pelo menos em principio, & compreensao dos lagos que congregam os individuos em grupos éinicos particulares. Acima de tudo € a ciéneia da diversidade humana, ¢ 0 seu campo de investigagao nao esté limitado nem no espago nem no tempo. Se é certo que 0 seu terreno predilecto sao as populagdes no industrializadas do mundo actual, isso deriva de uma tradicao cientifica normal que a levou a procurar a diversidade fora das nossas proprias culturas, ao contrario Ga sociologia que, por razdes priticas, centrou primeiramente as suas preocupagdes no mundo moderno. Mas © homem do presente indus- trial fornece também matéria para uma andlise da sua diversificagao ‘em macro-unidades étnicas, tal como o homem do passado pré-hist6- rico fornece um contributo precioso para o conhecimento das formas autenticamente primitivas da organizacio étnica. A tecnologia consti- tui um ramo particularmente importante entre as disciplinas emol6gi- cas, pois é a Unica que evidencia uma continuidade total no tempo, é a Gnica que permite apreender os primeiros actos propriamente humanos © acompanhé-los de milénio em milénio até ao limiar dos tempos lactuais. Quando se recua no passado, os diferentes ramos da informa- do etnolégica morrem mais ou menos rapidamente: as tradigdes orais desaparecem com a iltima geracho que as transmitiu, as tradicOes escritas depressa escasseiam e 0 século XVI é j4 mudo para a grande maioria dos povos ¢ sd apenas os produtos das técnicas e da arte que permitem recuar mais no tempo, sempre que as circunstancias permi- tiram a sua sobrevivéncia. A propria arte desaparece bem depressa © para além dos — 50000 anos, sé as técnicas permitem subir a Corrente humana até as suas origens, a um ou dois milhOes de anos de distancia do tempo presente. M1 © testemunho das técnicas & portanto precioso, pois € nele que assenta a possibilidade de ndo confundir aquilo que supomos terem sido 08 primeiros passos da humanidade com aquilo que dela conhe- ‘cemos objectivamente. A filosofia distinguiu duas humanidades suces- sivas, ado homem sapiens, que € a nossa, ¢ a do homem faber. criatura tedrica cuja Gnica caracteristica humana teria sido a posse de utens(- lis. © homo faber, termo comodo mas sem fundamento paleontol6- ico, engloba’na realidade toda a longa série dos Antropideos de que proveio 0 homo sapiens (*): os mais antigos de entre cles, 0s Australantropos, que tém mais de um milhéo de anos, possuiam jé a nossa postura vertical ¢ fabricavam utensilios muito primitivos. A partir deste momento que, guardadas as devidas proporg6es, nfo deve estar muito afastado do ponto de partida, os progressos do cérebro, em volume organizagao, tém como corolario uma dupla série de cranios ede utensilios, cada vez mais variados e aperfeigoados. Desde esses comecos até cerca de 50 000 anos antes da nossa era, 0 fio desenro- Ja-se sem interrupedo; mas é um fio ténue pois limita-se ao inventario de alguns tipos de utensflios de pedra talhada e embora seja suficiente ara provar progresso, apenas nos permite dominar uma parte infima dos tragos culturais descnvolvidos pelos homens que nos antecederam. Entre 30 000 a 30 000 0s testemunhos diversificam.se, entrando-se, a partir de 30.000, com as primeiras etapas do homo sapiens, na humanidade actual, que forma um todo até aos nossos dias. Embora ainda muito incompleto, nosso conhecimento sobre a pré-hist6ria do Antigo e do Novo Mundo abrange um campo tecnolégico considers vel. Os seus elementos inserevem-se nos fundamentos da evolugio de técnieas e de objectos que prosseguiram a sua carreira até ao momento presente. A pré-hist6ria do homo sapiens, agora conhecida um pouco por todo 6 mundo mostra que as culturas jé eram muito diferenciadas ‘no plano técnico, e que a Europa ou as diferentes partes da Asia, da Africa, da América e da Australia inham uma diversidade éinica que se toma mais nitida & medida que os nossos conhecimentos se ampliam. O facto de se terem podido desenvolver culturas regionais implica longos séculos de permanéncia nas mesmas regides, const tuindo a diversidade do equipamento prova de uma lenta maturagdo que contradiz com as velhas ideias feitas relativas ao. perpétuo nomadismo das populagées primitivas. Os grupos de cagadores de mamutes ou de focas eram de facto némadas, mas no interior do seu proprio territério e, as migracdes longinquas desempenharam sem Gavida um papel menos importante do que aquele que serfamos levados a pensar. Em contrapartida, os objectos (ou pelo menos a informacao sobre a sua existéncia) circularam de grupo em grupo, por vezes até aos confins dos continentes.. (>) A. Leroi-Gourhan: Le geste et le parole. Vol. I: techrique et language, Paris, Albin Michel, 1964.0 Gesto ea Palavra I. Técnica Linguagem, n° 16 da col Perspectivas do Homem, Edigoes 70, Lisboa. 12 sq Se pudéssemos fazer desfilar cronologicamente num écran, os movimentos dos homens ¢ os das suas criagoes téenicas, imaginarin Ios provavelmente povos em marcha, ragas deslocando-se com «se tnaterial, perseguindo-se e devorando-se mutwamente, Ora na vera talver nada disso acontecesse: verfamos provavelmente algo te Tuas como um efeito de luz sobre uma fina camada de petréleo supertic i a agua. Certamente que a corrente do tempo havia de desloca m homens tal como a agua arrasta e deforma a mancha do petileo. miss 0 mais sensivel seria uma cintlacao fugidia perpassando sobre melee fas praticamente iméveis. Consideremos a buropa ocidental no decor rer dos tltimos dez séculos" as grandes. potencias ‘desenedesr a gucrras que, por vezes, Obrigaram a desiocagbes temporaria sh grandes massas masculinas —e, no entanto, a repartigac antroyoll gica praticamente nao variou. Bo ponto de vista fisice a Fang io século X € sensivelmeme a mesma que a Franca do seculo X%. ¢ 4 Europa, através dos esqueletos dos seus mihoes. de ocupantes permaneceu imével. E todavia, quantos vendavais nao a abalaram ef todos os sentidos” A cobertura de telha, 0 cOdigo napolednice. el Inglesa, a abdbada ogival, 0 pilao mecainico ea bicicleta sera0 ind de migragées? Metade da vids material do Japao € de inspir chinesa, € a metade mais aparente: a escrite, & lingua ofc tenudita, 0 budismo, as industrias textes e intmeros outros ele (Ora os chineses nunca conquistaram o apo e mumca se encortn inimo vestigio dos seus esqueletos nas grandes ithas do arquipelao dois tipos de movimentos que, devido a falta de sinenaisi perturbam © quadro da etnologia. Primeiro as deslocagdes de hatens Gue, salvo excepgio, so extremamente lentas emia! conhecilas Sepois, as destocagées culturais, cuja rapidez e aparente eatravapncia nao podemos exagerar. A estes dois movimentos € necessitates Centar um terceiro nao menos importante: © movimento di evolucie especifico de cada povo, movimento muito varavel quanto 4 intial dade © 8 direegao, que faz girar um grupo em espital, enquant vs ‘outros progridem em linha reeta, langando-o a seguir bruscarnee para a frente. Ao movimento dos homens liga-se o problema dis reat, ho movimento geral dos produos liga-se o problema das civiliaacten, ha movimento interno, o problema das culturas. Podemos ser tnt Procurar nestes movimentos unidade do desenvolvimento ht Confundindo por vezes raga, civilizagao.e cultura. Nao vou! atic luma milionésima definigao pessoal dos tes termos, que nae volar utilizar ao longo destas paginas, a nao ser para algumas consider gerais acerca do conjunto. Da articulagao dos tres clemienton tena um momento determinado, uma entidade etnica mais eu, mel duradoura; de acordo com a sua importancia Ihe aplicare! ent tn termos pouco comprometedores de gripo humano. cinta ou fraps etnias, meras divisbes eomodas susceptiveis das mais amplas sulepa sigdes. Nao ha qualquer urgencia cm estabelecer defi Cristalizem uma massa to pouce analisada como é a dos he ices (uc 13 PRLELELELESSSSSSEELL ESE IISSSSITISES Abandonando neste trabalho os movimentos humanos, dedicar- feel ao duplo movimento, inemo' extemo, das técticas’ tals miteriais, aquelas com as. quais. se fabricam, se produzem cae Consomem os elementos indispenséveis & vida fisica! Bonus teonices preacuparam os etnélogos desde as origens da etnologia, ¢ forsim aloo {ie classificardes que, no dominio. francés, foram primotdialments Sntabelecidas por Marcel Mauss e pelo Instituto de Emolopia. cone Iuindo uma pare muko importante desse admiravel Insterascone de tsludo que €'o nosso Museu do Homer 1s qutdros de clasificngio das tecnicas nlo foram estabelecidos por cnologos, mas sim por etnélogos que mais de qus uma andlice ae fabrice tinham em vista uma repasigio em chtria, 0. vestudrio do que 0. trabalho das bras, th f bras. Um. quaro elcid om ase neste principio. satifezcorrostamecnt ay exsidades da andlise cultural mas ighora os problemas propriments Weenologicas. Lisa razao pela qual, apesar da minha formagie teenies mus valendo-me de um gosto muito acentuado pela actividade manual. Inaijes'@ machado, talher o silex, ate! com arco e. sopre na Zarabatana, "sem recorrer a qualquer metodo preconcebion” Estes xperiénclis, que ainda hoje. prosseguem, foram: felts: de use Inaneiras: no terreno —~ elhands imitando e'escutando@ opemndon © No Inboratorio a partir das descrigdes por vezes muito prec! Viajuntes. A qui nape ees muito precisas dos nad de documentos aan reco obinas aoe ae fiction pera, a boaiideae Ges eaes aday neste livro. Apesar desta relativa pobreza, a imponarcie tp flcheito reside no facto as ser'a primes erernas mmporancta ininimamenteconsisente¢ realizado nde ventas eee ee ltoclagho, ficha por Reta dem gnear samme POTGES 8 ienicoay permit due on documentor agapesee vot ise eom um minimo de interpretac&o pessoal. Daqui resultou, a partir de 1983'(*), uma iecnomorfologia ascada mag mnaterne pair oS unin rotors a esta primes tentativar melforaden €ereaeS ita primeis volume da present ee ojo cm dia ningutmn pada presendacosteses camo superficial. Mento, a toalidads numeha, Neon iene ee ere BBtivadc dos bomecs em dca oe eanpey es eee eave us grandes classificagdes so concebidas muito antes que uma ciéncia Stunjn compictamsnts crploceda, Ot ete ne team cibacla sntematizadoe spew on Sceulos RViT © XIX epoca tga ns thas espécies ainda eotva por dessobri, segsehe meme eae Ines se revelaram defnitivas. A sess eer aes pesmo caso. Quer cm Zoologia come ea choo ae BO do carsctr permanente daa tnséncia; ke ee ae fete deriva (©) Eneselopédie Francaise permanente. v. Vit 14 um protétipo ideai de peixe ou de silex talhado se desenvolvesse Segue ln pconcbree ssa, en pn mar ce ica fon cot mired orn Mes ao oe Nan Segara slplermente im apes, tite ce pe gecierenie sikeas oes Sar aS sie ome ee re eee ae ean ee one ee eee aes, al come Carer on anebrure mae Se aig ent Se ots pe Sameer oe po ewes es 3 Sh eigen eer sear don one mera, do mene modo.2tmow: Fede Se ee eee ns oe ee ener i ee es gee a rl gee dia et Se ee eS dios do Brasil e os Negros de Africa; ha sem qualquer davida rte eens aon meen Sage re Se ee ee ee ieee er ee ee eee eae ee ae eee on ales Perec sao Harel nonin ee ga een ee ean as spon ae oe ate te ee eg eel rp merle ie sce foe vos conde: tain Sas 8 Pee tee ee Py lamer arene moore ga Ge ot pol ere ania Meas So Pras sealer ek nee ie ee as see ee ees ela aye oe eater ea ion eer a rl 405 See eR 15 108, mesmo os da Europa, a soma enorme ria dos factos povos actuais mais préxi dos materiais recolhidos nao é senao uma parcela inti Jiveis; e se quisermos fazer uma tentativa des) com aguilo que as tendencing suscren No"aue irre a mond aceite fendéncias sugeem Verosimithanga sem dayida muito proximotde ea eat a0 longo dos sees, as hpotesesceupatn wie une a lor, Hi temas privilegiados: inovagbes recentes como ech eee hinoria poderia ser escrita com bastante clarocas ou ae gaan fe cs temas conhecidos exigem prudéncia: quando vomses meee ee para a Europa, atingir toda a Asia e a Africa, confundir-se Polo evo suas modalidades de consumo com o cinhamo e cor “pio © voltar a0 continente americano a0 mesmo ter a este {influencia sino-japonesa), por intermédio dos povon da Seen eae és dat novas iparagbes, podemostaensen 9 brio dan adopgces, das deacchcras locas ee wenger isdo existente na restituig&éo de uma técr ok iga a por o problema da origem cnicas, que ‘sera retomada na conclusao deste livro. a © ‘pobiema da onigem imp imtvor que 4inda multas vezesapicado sor panes cee 10 aperfeicoada como a ni ogee eh mah omega dotar de un passade as Coleen on om Aue, 40 longo dos séctlos e dos milenios. ay mesatay perce bemo-nos Tespeltante ao dominio no tecnico, una volun te eer BS ows © que. no plano. das tGonioass se werner Son sonsiveis, poi + mesmo quando isolada, ajusta conse. capital téenico as necessidades ¢'4 cvinne ee, hatural. Se podemos empregar a palavra eprinitine: aioe, semtido estrtamente ceonomico, rferindo Se na voape tens num ivamente dos ‘Tecursos. da natutees cele ee ET Povendores-recolectorespraticam com acing ae ag Stores explorasio gue ox longinguos antepassados de Kress O80. de cos primitivos auténticon. Quanto's false dee pee seta queologia pode fazé-lo referindo-se as soviedaios sone acne hogtlo de povo baseia-se, um io iongo, hot se; pars um perfodo mals ou mere ene: Pens uma parte diminuta das manifestagdes cultea wes newso das causas de destruicto fisico-quithicas tend eased aus, 16 var-se. Ao longo deste livro falar-se-d varias vezes dos ainos d Hoaido para que se tome possivel ajuizar a importéncia material da su Cultura: ha um século tal (como os viajantes japoneses 0 comprovam Sbundantemente) eles possuiam habitagdes de madeira bastante am: vestuirio tao yolumoso ¢ complicado como 0 nosso. uma sages Ftensilagem e loucas de madeira muito considerdveis, emba Umm varios remadores. Actualmente quasc nada subsiste dos. seus fextemunhos materiais do séeulo XVIII; alguns machados de pedra ¢ Sigumas laminas de silex talhado, encontrados em pequenas depres sees do solo que mal indicam Ioalizagio das suas antigas cassis. Sc fivermos em conta que, desde ha 30 000 anos pelo menos, uma eran parte do globo foi povoada por homens que tinham uma existencia Frater tao complexa como a dos ainos e que, no entanto, apenas Nos Iegaram algumas toneladas de pedras talhadas e alguns raros escucle tos, veremos em que medida a tecnologia historica surge como ui tarefa delicada, artiscada e semeada de armadilhas Se insisto na fragilidade dos testemunhos € para suscitar delibera damente a desconfianga do leitor, © se nestas paginas nao vamos ler a historia das técnicas, isso deve-se a razBes bem claras. Sempre que for possivel, tentarei esbogar alguns trogos do percurso: sempre que surf Um caso ‘comprovado quanto A origem \¢ cardeter inovado acolhide com 6 entusiasmo que a sua raridade justifica, mas tudo 0 mais ser ordenado logicamente ¢ nio historicamente E com efeito, ainda que o documento fuja ¢ historia, no pode fugir & classificagdo. Nao é dificil destringar na massa dos produtos da actividade humana: entre o Vestuério © 4 cag ¢ possivel encontrar numerosas ligagdes — tais como 0. vestuario Impermeével para a caga a foca ou a caga aos animais cuja pelayiem ¢ ulizada na confeceao do vestuério —; mas nenhuuma confusiao poxler’s Subsistir durante muito tempo, Desde hé cerca de cinquenta anos, tanto na Europa como na América tem-se tentado agrupar as actividades humanas segundo rubricas: habitagao, vestuario, agricultura, ctc.. 0 nlimero dessus rubricas ¢ praticamente invariavel: so cerca de vintc no que se refere & vida puramente material. Estas divisoes lopicas sa haturais e existe consenso universal quanto ao seu valor, mas st fondem de sucessio ¢ totalmente arbitraria: cada pais ¢ cada escola te ‘sua, eada trabalho de conjunto suscita uma classificagao apropr para realgar o seu proprio cardcter. Sendo o meu objectivo a desericio Gas téenicas sob o Seu aspecto mais material, adoptei uma ordcm muito diferente daquelas que so habitualmente propostas. ‘Antes de mais, of meios mais clementares de que os homens dispéem: @ preensio, as percussdes milliplas gragas us quais se pod partir, cortar e modelar; 0 fogo que pode aquecer, cozer, fundir. secar Seformar; a dgua que pode destazer, derreter, ammolecer, lavar e que, em diferentes solugbes e através dos seus efeitos fisicos ou « Serve para curtir e conservat, para cozet; finalmente 0 ar, que uma combustio, que seca ou que Limpa. Jas veres 7 ‘ie SSSISSSESSISIISSSEESSIIIIIIIIIINS Uma vez na posse destes meios cle Ieio de forgas: forgas dos museon is foreas: foreas dos masculos humunoe, dane dighio S80, "E86 do slo dspendidns ng acer nmas a ga, lo. ampliado por alavanca: pclae ek; ampliag OU por transmissécs, coonon ne ro pale fulbro« Os ranspores, Snes, oneal Paitin eet atlas primase disesbuir ov Progen qualquer téenic: Ban Ue, Condicions declar 1 oe 8 que. Meza por sécagem ou por cozedura, Colas; finalmente, aqueles que om silo flexiveis mas nao malsavere poles, fios, tecidos, vimes. Os ful New tipo 6 a ag de trav . Pesca, criagdo), 4), produtos minerais —¢ ao a sor do vestuario © da habitagao. "OSU? através da ali Os ter 10 ficar_admirado: ona eee a iti es pat Sachn Moa ase ee oa 9 um minimo de neologismos e de ferinos a cin ados, Uma outra preocupagao, a de nfo sobecee mos multe Mo havin ceetanbos, levou-me a evitar — salvo nee cree texto correspondéncia em francés —~ os nomes ieanes co TUE descobri-los consaltando ay "mentares, vamos anima-los por Os limites da etnologia séo imprecisos ¢ arbitrérios: cla € vagamente ensarada como sendo 0 estudo de todos os povos que nao. slo Sbeorvidos pela civilizagao industrial; assim, estudar a farmacopeia ou 2*Srurgia chinesas seria cmologia médica, estudar os mesmos ramos aBuropa medieval seria histSria da medicina, e, estuda-los entre nos, fo seculo XX, seria muito simplesmente medicina. Embora sem Miirmar que, para um médico chines, os termos ficariam invertidos € tue nds seriamos objecto de etnologia pura, vé-se bem que como € fiotuante a linha de demarcagao. Ao estudar certas tecnicas no Extemo Oriente, como a fundiclo, por exemplo, aconteceu-me frequentemente partir do estado industrial actual (fundigio). passar a0 esudo artesanal actual (etnologia), atingir atraves dos textos formas Sesapareeidas desde ha alguns séculos (historia) © terminar em eseavacdes pré-histGricas (arqueologia). A distingao entre a hist6ria (aio-politica), a arqueologia ea etnografia parece ser uma divisio que hem sequer tem sempre o mérito da comodidade. Outra divisio corrente € a de emologia © etnografia. O etnslozo estudaria 0s povos no sentido geral, enquanto que 0 etnégrafo apenas Se interessaria pela sua deserigao. Na pratica, hd tantas sobreposigoes reciprocas que cada etndlogo € largamente ctnografo, © vice-versa Nos diversos paises confundiram.se frequentemente os terms. & mesmo em Franga os melhores autores designaram por etmosrafia aquilo que € hoje corentemente tido como ctnologia. Pessoalmente, satisfago-me com 0 termo nico de etnologia. Mas o emprego. de Stnografia continua a ser muito frequente ¢ corresponde, em muitos casos, a dados precisos, e € por essa razao que me limito a sublinhar Que 0 contetide arqueoiégico, historico ou etnogrifico deste livro se presenta como conduzindo, sem divisorias, para tim estudo amplo das formas da actividade manual do homem, estudo que mio parece susceptivel de outra qualificago que nao seja a de emol6gico. Os factos que vao ser examinades provem de um grande nimero de povos e das mais diversas épocas. Em cada uma das divisoes técnicas ha um grupo humano que se destaca: a Europa medieval ¢ o Oriente distinguiram-se pela utilizagao engenhosa das forgas mecénicas e dos Oreos de transmissio; a metalurgia € bem ilustrada pela Asia Menor, pela Africa negra e pela Indonésia: a olaria da China e do Japao tem Aspectos particularmente demonstrativos. Cada técnica vai fixar-se mum centro geogrifico © numa época que permite tirar 0 maximo partido da riqueza dos processos ¢, simultaneamente, realizar uma Gifusko progressiva dos produtos. Nao € todavia possivel pretender atingir a universalidade e, assim, explorei mais amplamente 0s povos com os quais estou familiarizado — os da periferia. do Oceano Pacifico: indonésios, chineses, japoneses, ainos e siberianos, esqui 6s ¢ indios da costa do noroeste americano, Eles proporcionam uma gama suficientemente rica e situam-se cm estadios de civilizacto Suficientemente variados garantindo assim um nimero notdvel de factos, em praticamente todas as rubricas 19 restantes apenas nomeou, descreves oy eee a muscu — fazer uma referéncia a cada Viajante totf eure oo sn seria sensato num livro de carseter geral A ‘ate ene ace, ae due as fontes francesas sio raras e que, para a maione dee nese oe tiulos de obras alemas, inglesas, chinesas, dinarer soos ores OF las, holandesas, japonesas ou tussas apenas tern ese curiosidade tipografica. me Manifesto aqui minha gratidfo Aqueles que suscitaram e orienta. ram ou apoiaram o meu trabalho, a Marcel Mauss a Sean beoeee gules conselhos afectuosos tantas vezes me ajadasn ee sh National de la Recherche Scientifique, que gatuatin whee pene faterial dos meus trabalhos e, aos arteaios, copalones ee ee eels Pacifico e da Franga que permitiram que os emprcndener eee seguranga no dominio da pritica 2 20 Capitulo 1 ESTRUTURA TECNICA DAS SOCIEDADES HUMANAS © conhecimento do homem fisico est estreitamente ligado ciéncias naturais. Visto pelo paleontélogo, 0 homem é um mamifero proveniente da lenta evolugio de uma série de outros mamiferos que 0 ligam, ao longo de mais de um milhao de anos, néio aos macacos (qu estavam jé diferenciados como tais), mas sim a uma série de primatas J bipedes, de cérebro todavia ainda'primitivo (*). Como mamifero, o homem nao levanta mais problemas do que 0 cavalo ou o rinoceronie. desde que consideremos que os fésseis que se encadeiam pari constituir a linha genealégica nio sio obrigatoriamente antepassados directos uns dos outros, antes constituem uma reunidio logica de formas cada vez mais antigas. Nio se chega assim ao estabelecimento de um quadro histérico, mas sim a uma reconstituicao cujo elevade grau de verosimilhanga equivale praticamente a verdadcira genealo; inacessivel devido & escassez dos documentos. No respeitante 10 homem intelectual, documentos que nao sejam os da actividade técnica escasseiam quase totalmente, a nao ser para as formas mais recentes, fisicamente tao proximas de nés que o problema se mantem na integra. A presungao de que os Antropideos primitivos. j caracterizavam por uma certa coesio social nio € fundamentada qualquer facto indiscutivel; trata-se de um argumento puramente logico baseado na constatagdo de que um grande niimero de animais, Principalmente entre os primatas, apresenta uma clevada coesio Social. Tudo © que se possa dizer quanto as outras instituigdes € da mesma ordem. Aquilo que resta das actividades técnicas 6, portanto, para além dos vestigios do esqueleto, 0 tinico testemunho que nos fica do aspecto C9 A. Leroi-Gourhan: © Gesto e a Palavra, I - Técnica € Linguagem, Eiligdes 70, Lisboa, 1981 21 propriamente humano da evolucao. Seri que este testemunho apont no mesmo sentido que o dos restos dsseos e € passivel das mes; restrigdes? Por outras palavras: poderemos admitir um desenvolvic mento paralelo € sincrénico dos homens ¢ dos seus produtos, podere: mos falar de uma evolucao continua das técnicas, construit 0 se quadro cronol6gico, fazer a partir delas historia propriamente dita, tragando vias de difustio, determinando centros de inovacao, talves| mesmo designando grupos humanos, anénimos mas definidos? Se nao. exigirmos mais dos objectos do que exigimos dos esqueletos, al expectativa sera desde logo amplamente recompensada. Com cfeito, através dos utensflios de pedra talhada que, praticamente sio 03 nossos, Linicos testemunhos, sabe-se que em todas as eulturas que precederam. © homo sapiens os wtensilios seguiram, no seu conjunto, uina linha de evolucao progressiva comparavel a que seguiram as formas humanas, dos remotos Australantropos aos Pitecantropos ¢ ao Homem de Neandertal, De um periodo para outro, cada forma de utensilio apresenta-se como se tivesse tido por ascendente a forma que a precede, Assim como nao se encontra um tipo muito aperfeigoadio de juideo que tenha precedido as formas ancestrais dos cavalos, também ilo se encontram incoeréncias na sucessio das obras humanas: os uutensilios encadeiam-se na escala do tempo segundo uma ordem que, de modo geral, surge como simultaneamente Iogica ¢ cronologica. E preciso todavia nao ignorar que se esta ainda longe de satistazer 0 rigor hist6rico; o pormenor ¢ ainda fugidio e, na verdade, atendendo a que 08 utensilios so milhdes de vezes mais numerosos que os crinios, poder-se-ia esperar obter uma visio mais pormenorizada dos factos, Embora em menor grau, a tecnologia pré-historica ou historica encontra-se na mesma situacao que a paleontologia. Se, para uma dada caracteristica técnica, supusermos séries de variagbes dispostas cro- nologicamente, poderemos imaginar és modos de exploragao: FORMAS 4a série mais antiga ae A série mais recente © primeiro € irrepreensivel: ABCD origem de A’B’C'D", etc. pressupée o conhecimento completo das formas entre dois limites de tempo € sobre um ponto preciso; s6 muito raramente a tecnologia tem oportunidade de o aplicar a problemas suficientemente gerais para esclarecer utilmente a historia humana. ‘© segundo modo consiste em considerar A como origem de A’ de A", de A", etc.; embora pareca idéntico ao primeiro, comporta uma importante fonte de erros: a distancia de evolugfo entre Ae A’ é muitas vezes inferior & distancia de evolugio entre A’ e B’, 0 que 22 ruscita, por exemplo, © terceiro modo errado: 2(prot6tipo suposto) ol oer ie A’, de B’, de C*™*, ete. origer #0 ceedos foram claramente explorados pela paleontolog Fode permitir-se © risco de tragar drvores geneal6gicas: ¢ gue peta, as poucas teorias de conjunto actuaram com menor preci: etnolem virtude da grande confusdo dos documentos. A maior parte aa jiberiano (A***) é um Bo co fiea-se reduzido a supor que um facto siberiano (A"™) das ee de uma forma ancestral comum a varios povos asiiticos sig ona form enema comes, én, pos Se Cae ee nt conf ser pe ene Tc smn et sean ew etn Ps i i ra 0 filésofo, qu Beet SD sca rinse eects Sei” ria a a iu at a ee eww ne se enn ec pe a ae a Seema alread Gas gone artefactos de silex. E com estes materiais ingratos que o ional «Minti, Se he sbordet ae meet Se ee a mat a ale fe oa des ee” Sa Se Ee ee ee pa a,b em ats ne EI Ss kerf ae ae 23 ‘Tendéncia e facto Este duplo aspecto levar-nos-ia a distinguir, na actividade humana, duas espécies de fenomenos de natureza diversa: fendmenos ae fendéncias, relativos 4 propria natureza da evolucao, ¢ de facto, estilo indissoluvelmente ligados ao meio em que se verifican, A tendéncia tem um carécter inevitivel, previsivel, rectilineo; € ela due leva o silex seguro na mio a adquirir um cabo, 6 fardo nastada sobre duas varas a munir-se de rodas. Por o adoro ser uma tendencies que o homem se pinta com terra colorida, seguindo para tal ae linkas naturais do seu corpo: Satiemes opostos do globo, os mesmos desenhos ao longo das pernes ua volta dos seios: ele vai inevitavelmente fixar oramentos ei toca {parte onde seja possivel suspendé-los e enfiar espinhas ou fragmen IRs, de 2880 nos Iobulos das orethas, nos lébios, nas narinas, pores assim fica bem a vista ¢ € realizavel sem ser muito doloross, son uuita efusdo de sangue nem grande incémodo anatmico, A presenga de pedras suscita a existéncia de um muro, e a erecyao do muse plica a alavanca ou a roldana. A roda acarreta o aparecimente de inanivela, da correia de transmissiio, da desmultiplicagao. No ienecs das tendéncias todas as extens6es sio possiveis: quando o visiaho tao C.aPerfeicoamento que, na ordem ldgica, se segue ao estado em due se nira © povo visado, este Gltimo’ adopta-o sem esforos “a finelogo, sem pano de fundo hist6rico, deixa de controlar aquilo que tanto pode ser uma invencfo local como uma adopeso revente na milendria. Ao contrério da tendéneia, o facto € imprevisivel e particular. Tanto § fghcontro da tendéncia com as mil coineidéncias do meio ~~ iste, a ‘do pura ¢ simples de um outro povo. E. ; € um compromisso instivel que se estabelece \lencias e o meio. A forja, por exemplo, é um compromises inte plastico entre virtualidades inutilizaveis na pratica religiao, € assim surge como mjversal, na medida em que um minimo de tendéncias simples se n para produzir uma inddstria metaltirgica. Entre os extremoe do po ¢ do espago, entre a forja dos egipcios ¢ a dos malaics exe relugdes na medida em que as tendéncias se retinem de modo idention, ecient foria sudanesa ou tonguse depois, definitivamente, na ferja de determinado artesao em determinada aldeia, 24 A tendéncia e 0 facto sio as duas faces (uma abstracta e a outra concreta) do mesmo fenémeno de determinismo evolutive, que serd retomado no final deste volume. Uma vez que a evolugao marca, no mesmo sentido, o homem fisico e os produtos do seu cérebro e da sus mio, € normal que o resultado de conjunto se traduza pelo paralelismo lipsis ovens i mee et peresn renee ocala portigoctar © nor bolatdeses que; aa asa Ch ae Guat seculos armas verdadchtocnte pctest ose Seeds miterte tan yormnenieae a epee emu pode provirancontinldade doc acor wena cara: Ett 8 SSAA de eit Geeta de " eee over val darnaranae ag aes meee si cosa Graduagées do facto A acedo de controlo apenas pode ser exercida sobre fuctos. be preparados c agrupados em feixes o mais substanciais possiveis. Est feixes esclarecerio tanto melhor a histéria dos poves quanto mais diversos forem os temas que os compuserem (ja que nao € possivel englobar a totalidade da actividade do povo considerado). To como terreno de estudo as ferramentas agricolas, a economia agn ou a morfologia rural, é ter, desde logo, & disposigao um instrumento de investigagao Gil. Quando este quadro é cotejado, em varios grupos, com outros quadros estabelecidos conjuntamente sobre outrs tecriieas de fabrico € de aquisicio, imediatamente se obtém uma série de imagens multidimensionais cujo confronto, embora nem sempre pe mita estabelecer a hist6ria das relagdes dos diferentes grupos entre si, pelo menos delimita claramente os problemas hist6ricos. Uma vez quc estamos impossibilitados de estabelecer, para cada povo, um quar completo que permita comparacées infaliveis, julgo ser preferivel este segundo método, que nao prejudica o desenvolvimento da GIA Leroi-Goumnan: © Gesto € a Patavra, I Técnica e Linguagem, Edigies 70 Lisboa, 1981, figs, Of segs, 25 dade ¢ mantém a uma distancia segura ai tentagbes demasiado aliciantes dos frescos monumentais. Como ja dissemos, o controlo néo pode exercer-se sendo sobre ictos bem preparados; tal como um animal ndo pode ser conhecido nem classificado com rigor sendo depois de dissecado e preparado no laboratorio, assim também o facto carece de valor enquanto os seus Pormenores nao forem aparentes. Dado o método dos feixes de factos 0 ser apliciivel senéio a povos bem conhecidos, toda a investigagao ‘ca pelo estudo de factos isolados. Podemos conferir a esses factos isolados consisténcia suficiente para os tratar individualmente como feixes, evidenciando os seus caracteres acessorios: a comparagao entre plainas ou entre limas provenientes de diferentes povos $6 6 proficua se se 3 er para cada objecto uma lista que parta do trago ) € se estenda aos caracteres mais aparentes (trabalho da madeira ou do metal, lamina de ferro ou de pedra) ‘e. seguidamente. aos pormenores mais particulares (fixagio do cabo, ataduras, sentido simbolico da ferramenta). As pecas isoladas de uma mesma série adquirem entao um real valor comparativo, ¢ a melhor Prova obtém-se quando se constata que as séries no vio ja abarcar todo o globo terrestre mas sim inscrever-se honestamente em Zonas bem delimitadas. Uma vez que se aleancem tais resultados, constata.se que os factos apresentam diferentes graus de valor e que nao so os caracteres do primeiro grau, geralmente ligados & tendencia, que sao os mais interessantes, mas antes os de segundo ¢ de terceiro gra, especificamente relacionados com 0 povo ou grupos de povos donde provem o facto estudado. ilustrar este processo, tomemos o exemplo do propulsor (figuras 1a 9), uma simples’ prancheta ou vareta terminando em gancho ou olhal, que se destina a prolongar braco do langador no arremesso de langas ou arpdes. O seu plano é uniforme e simples: em todos os casos encontramos uma extremidade para a preensao, uma outra extremidade em que se apoia a arma a arremessar, eum corpo mais ou menos alongado. Além disso, 0 seu mecanismo é invariavel ¢ encontramo-nos deste modo nas meihores condigdes possiveis para inventariar e graduar as caracteristicas especificas a cada forma Primeiro grau: instrumento destinado a aumentar a forga de Propulsdo de uma arma de arremesso. Segura-se por uma extremidade com a mio direita, apoiando-se a outra extremidade na arma a Projectar (ABC), Repartigaio: Europa da Idade da rena, Australia e Melanésia actuais, América Arctica actual, América pré-colombiana. 3B) Prancheta oval, com gancho e punho: Australia R Ptancheta oval muito larga: Austrilia Ocidental (3) 2 grau | 3.° grau /4.° grau | 5.° grau: | Drancheta alargada em direcga0 a0 punho: Austtalta setentrional (3°) AA) Varetacilindricd terminada por um gancho: Europa da Idade da rena, Melanésia, Prancheta slargada em diseyio 20 gancho: Austria meridional (2) Pen © Prancotaihibectagsi etm ganchos © ana America ‘08 propulsores da Idade da Rena, mal conhecidos sem entalhes para os dedos: México ( ; tormann-se inutlizavets pare slew Jor? Sores com argolas para os dedos: Estados Unidos (4°) pendice de aposo para'a mio. Peru (1), ‘com entalhes para os dedos: exquimds ocidentals © centrais, apéndice de apoio para a langa cancindé: Melanésia (2) conta do norosste 26 i 27 prancheta estreits: esquimés ocideniais, costa do noroeste. Entalhes simétricos: costa do noroeste (3) bbordos paraiclos: Alssca do sul (6). entalhes profundos: ‘Alasea central e do norte (7). Drancheta large: esqulmos centrais ¢ orientals (8): ‘om cial em ver do pancho: esquimés ortentais (9) AAs subdivisdes foram levadas até ao quinto gra apenas no caso do propulsor estreito com entalhes, a fim de nao alongar inutilmente este Quadro, mas 0 conjunto € ja suficiente para mostrar o mecanismo de individualizagio progressiva dos factos. Foi com base ‘na aplicacio Geste.-mecanismo que agrupel, com um minimo de intervencio pessoal, os materiais deste livro. Embora s6 incidentalmente se volte a Fazer referencia 20 processo, este permanece subjacente A rotalidade das divisoes a seguir propostas. Acompanhando as etapas da progres- sao, poderemos verificar que 0 propulsor surge, no primeiro sau, Como um facto praticamente universal, pois abarca a Europa, ‘Austrilia, a América e estende-se desde a Idade da Rena até ao século XX. Se ficdssemos 86 por af, poderiamos estabelecer indmeras relagdes histéricas No segundo grau (0 primeiro estidio que penso ser utilizével) desenham-se centros bem delimitados: Europa pré-historica, Austré- Tia, América, Enquanto o primeiro grau apenas assinala uma tendencia realizada (a de aumentar a forca de propulsao de uma arma alongando irtificialmente 0 brago humano), j4 0 segundo grav delimita zonas feogrificas. Se, a partir de agora, quisermos estabelecer relagoes historicas possiveis entre os centros, ser necessario recorrer a um feixe de factos novos extraidos dos graus seguintes (© terceiro grau € 0 dos grandes cortes no interior dos grupos éinicos, As principais divisoes das tribos austrafianas materializam-se has variagdes do propulsor a ocidente, a norte e a sul do seu habitar Entre os esquimos, os dois tipos — propulsor com espera e propulsor com olhal ~~ marcam bem a separagao entre os grupos orientais © os Go oeste, Os propulsores da América India, que desapareceram antes Su pouco depois do descobrimento, so muito mal conhecidos para Que seja possivel extrair deles informagoes muito pormenorizadas para diém do terceiro grau. As informagées detalhadas dos viajantes permitem todavia trabalhar, neste grav, sobre feixes bastante conside- Pivels, o mesmo ja forecendo uma possibilidade de controlo sério 8s construgoes histéricas. © quario grau (podiemos acrescentar outros quando a informagao € sufickentemente ampla) Conduz A descrigao pormenorizada do facto © & Sua fixagido num grupo estrito, e pode ser um indicador de vestigios de Telagoes mantidas entre factos de tereeiro grau. A partir do quarto {grau, € extremamente Taro que os factos ultrapassem o Ambito da tribo Su da confederacao de tribds: iss0 86 s¢ verifiea com os objectos de troca, tais como as marmitas de pedra dos esquimés, ot os copos dos sabres japoneses (que se infiltraram, na qualidade de omamentos, em 28 toda a costa setentrional do Pacifico, até a0 Alasca) ou as armas de {ope bem como, de modo geral, todos os objectos que ultrapassam Wipossibilidades locais de fabrico, E“inueil insistir no perigo que representa, para o futuro de uma teoria, o emprego de factos no primeira grat, caso alias bastante raro, tendo poucos teoricos conseguido construirtcorias monumentais sobre Stpoveamento geral do globo a partir de documentos to. débels Manos raro € encontraremse ilhotas de factos de segundo ou terceiro frau, interligadas por pontes de factos de primeiro grawi €-0 artficio fue permite assocarem-se dois povos que se querem unides por Magbes historicas WVemos assim gue 0 primeiro grau do facto corresponds & sua fungio: martclo, apio, propulsor =~ enumeracio esta que implica Identificagto do primero grau do facto com a tendénci, uma vez qu {ta corresponde estritamente a divisdes logicas da aetividade hur E posetvel representar as relusdes de conjumto por um quadro: ‘TENDENCIA FACTO 1 Le gra 2egru gray 2.8 gray 3. gra A gra matar um animal um ARPAO com ponta de osso e flutuador de bexiga asin com Universo inteiro Oceano Pacifico / Esquimés do Alasen A partir de uma tal constatagéo, toma-se bem evidente que se justifica a nossa desconfianca quanto ao valor hist6rico do primeiro Brau do facto; aquilo que diz respeito & tendéncia — isto ¢, subdivis6es cémodas que a nossa logica introduz na actividade dos homens — apenas esté ligado ao meio, quer dizer, a substinc histérica, através de uma palavra. Este primeiro grau € todo-poderoso sempre que se trate de ordenar os factos em categorias. O seu valor arquitectural é precioso € utiliza-lo-emos neste livro, que nao passa de uma projeccio légica da meada intrincada dos factos observaveis em cada ponto do tempo ¢ do espaco. Todavia, na auséncia de outros, limites, recuso-me desde j4 a fazer qualquer construgio hist6rica. Hierarquia das técnicas ‘A insisténcia com que se apresenta ao espitito dos autores 0 problema da origem € de molde a mantermo-nos bem. atentos Identificdmos j4 um indubitével vicio de construgdo: 0 te6rico passa 29

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