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Aflições

na nossa vida
Bispo Alexander (Mileant)
Traduzido por Valéria Zeferino / Olga Dandolo

Conteúdo:
A inevitabilidade das aflições. Filosofia e religião sobre o mal e o sofrimento.
Ensinamento das Sagradas Escrituras sobre o mal e os sofrimentos. A Obtenção do Bem
Superior. Conclusão. A oração do angustiante (Salmo 142).

A inevitabilidade das aflições.


A vida nos convence diàriamente de que as aflições são inevitáveis. Há aqueles que sofrem
de pobreza, da perda dos entes queridos, de alguma doença, de calúnia e da maldade do
homem e há quem sofre das suas próprias paixões, defeitos ou manias. Às vezes uma pessoa
parece feliz, mas na realidade passando pelos tormentos da alma, esconde sua aflição.
Haverá algum sentido em nossas desgraças, haverá um objetivo inconsciente, ou tudo
isto é apenas o resultado da imperfeição do mundo e da colisão caótica dos fatores acidentais?
Ou talvez os sofrimentos sejam enviados especialmente como punição pelos pecados, como
uma forma de “vingança” pela desobediência? Será que existe uma possibilidade de evitar as
aflições ou, pelo menos, diminuir a força delas, — e se sim, então como? Serão as aflições
uma forma de contribuição para o crescimento espiritual do homem, ou elas apenas perturbam
a existência dele e exasperam-no? As respostas a estas perguntas estão longe de serem óbvias,
e — como vamos ver — as religiões e as diferentes escolas filosóficas respondem de forma
distinta.
Nesta brochura nós queremos dar uma visão para o problema do mal e das aflições à
luz do conceito cristão. Primeiramente, observaremos como as religiões e as diferentes escolas
filosóficas interpretam o mal e o sentido das aflições, depois iremos facultar o ensinamento
sobre isso das Escrituras Sagradas e dos santos padres e finalmente mostraremos como o
estado de espírito correto, confortado pela fé em Deus, pode mudar radicalmente a nossa
percepção das aflições e das alegrias da vida.

Filosofia e religião
sobre o mal e o sofrimento.
Quer a religião, quer a filosofia, ocuparam-se do problema do mal desde os tempos mais
remotos. No sentido mais amplo a palavra “mal” significa tudo que apresenta o contrário do
bem e é compreendida negativamente pelo homem. Do ponto de vista do homem o mal não
deve existir: ele traz a dissonância na harmonia da existência. No entanto não há nenhum
domínio na vida, onde não se sinta a presença do mal de uma ou outra forma. A filosofia
distingue três tipos do mal: físico, moral e metafísico.
O mal físico — é tudo aquilo que aflige o homem e perturba o seu bem-estar, por
exemplo: desgraças, sofrimentos, doenças, tormentos, o medo da morte, etc. É preciso
relacionar com isto também as desgraças sociais na sociedade humana: pobreza, distribuicão
desigual e injusta do trabalho e da riqueza, e também, as emoções da alma, preocupações,
dúvidas, imperfeições fisicas e mentais, que tornam o homem um ser deficiente e perturbam a
existência dele.
O mal moral — transgressão da vontade humana, das normas da lei moral e atos
decorridos desta mesma transgressão. Do ponto de vista cristão é o único mal
verdadeiramente autêntico. Finalmente o mal metafisico é a imperfeição que decorre
inevitàvelmente da natureza da existência. Os objetos físicos impreterivelmente limitam um ao
outro, as forças cegas da natureza colidem e lutam entre si; daqui surgem tempestades,
tremores de terra, catástrofes e condições climáticas desfavoráveis e outras calamidades na
natureza onde pessoas, animais e plantas perecem. Alguns veêm a imperfeição da natureza em
que certos animais existem por conta da destruição dos outros e os fortes esmagam os fracos.
O mal por natureza — é sempre negativo. Ele leva não para o crescimento, mas para
a perda e a privação, para a destruição da ordem existente. Alguns pensadores antigos
procuraram a fonte do mal na natureza. Todavia os cientistas contemporâneos chegam à
conclusão de que as calamidades e as catástrofes no mundo fisico levam ao aperfeiçoamento
da natureza. Assim, por exemplo: a explosão de uma estrela, o que é uma catástrofe do ponte
de vista da sua existência, permite a formação de vários elementos pesados (ferro, zinco,
ouro), que são necessários para o surgimento de formas de existência mais completas e
perfeitas — as plantas e os animais. Da mesma forma, por vezes, depois do perecimento
catastrófico de alguns tipos de plantas e animais, surgem outros mais perfeitos e mais
resistentes. A luta pela existência entre os animais é necessária para manter a descendência
saudável. Desta maneira, o mal metafísico não é o mal em si, quando observado no contexto
dos resultados para os quais ele conduz.
Mais difícil é a questão da relação entre o mal moral e o mal físico. O nosso sentido
interior nos diz que o mal físico (os sofrimentos, as doenças, a morte), provàvelmente, decorre
do mal moral — da transgressão intencional da ordem moral superior. Todas as pessoas
concordam que uma pessoa virtuosa merece alguma recompensa e uma pessoa pervertida
merece o castigo adequado, e tal opinião já existia há muito tempo antes do nascimento de
Cristo. A comparação das concepções religiosas dos povos antigos mostra que quer as tribos
selvagens, quer os povos mais civilizados são praticamente iguais na apreciação do bem moral
e do mal moral, — pelo menos, nos casos importantes e principais. Todos os povos, tanto os
antigos, quanto os contemporâneos sempre distinguiram a pessoa boa da pessoa má, o
virtuoso do imperfeito. Todos concordam entre sí de que é preciso conduzir-se para o bem e
coibir o mal, que a virtude é louvável e a viciosidade é censurável, que o homicídio, o
adultério, o furto, a mentira, etc. — tudo é mau, e que o amor, a ajuda aos outros, e a vida
moderada — é bom. De fato, tal como anteriormente, agora existem grupos, que admitem, e
às vezes estimulam os atos, que são considerados pecados do ponto de vista cristão. Mas
depois de se inteirar atentamente das razões esclarecidas, fica evidente que tal justificação dos
atos imorais decorre não da diferença da interpretação moral dos mesmos, mas pela imposição
de fatores externos: as condições de vida, o nível cultural ou motivos politicos. No que se
refere a lei moral inata, ela é uma só para todos.
Dando a apreciação moral dos atos, todos concordam que em princípio toda boa ação
merece a recompensa e cada ato mau — o castigo. Mas mesmo aqui surge o conflito entre o
que todos consideram como bem e o que se observa na realidade, a saber: muitas vezes as
pessoas virtuosas sofrem e não têm nem ajuda, nem defesa enquanto os ofensores delas

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impunemente continuam a fazer as arbitrariedades e ainda vivem na prosperiedade. Durante
muitos milênios as religiões e as escolas filosóficas diferentes explicaram distintamente as
razões desta contradição.
O pessimismo filosófico-religioso ensina que o mundo é o mau e que a não existência
preferível à existência. De acordo com esta doutrina, o mau é o princípio ativo do universo e o
bem é nada mais do que ilusão e um alvo que sempre escapa. Essa ideia tornou-se a base do
budismo, que ensina que a vida consciente é o mau, a felicidade é inacessível e não há outra
possibilidade de evitar o sofrimento, a não ser através da cessação da existência e dissolução
da não existência (nirvana). De acordo com o budismo, a fonte do sofrimento do homem é a
sua sede de existência. A felicidade verdadeira pode ser acessível só em condições do sonho,
isento das imagens, dos desejos e de qualguer atividade.
O dualismo religioso existente na religião persa antiga imputa o mal a um dos dois
opostos, aos quais pertencem misturados agora no mundo o bem e o mal. Zoroastro ensinou
sobre a existência dos dois princípios eternos sempre hostilizados e independentes um do
outro: Ormuzd é o deus da luz e do bem e Ahriman é o deus do mal. Este dualismo mitológico
passou à seita instituida por Mani em 238 depois de Cristo.Eles ensinavam que o mal, como o
bem, têm a substância real e é um ser absolutamente independente. O representante concreto
do mundo do bem é o primeiro homem — Adão celeste, e do mundo do mal — é Satanás. Em
consequência da luta entre eles aconteceu a mistura dos elementos contrários do bem e do
mal. Para a extração deste caos que foi formado, ao que pertence à esfera do bem, foi criado
um mundo visível, ao qual a Divindade manda por vezes seus mensageiros: Buda, Zaratustra,
Jesus e, por fim, Mani. Depois da extração completa da luz desse caos, os limites dos dois
mundos firmar-se-ão para sempre.
As seitas gnósticas dos primeiros séculos do cristianismo seguiam a doutrina do
dualismo, ainda que algumas delas divergiam em algumas questões particulares, mas todas
reconheceram que a matéria era o mal. O mundo procedeu-se por meio da emanação, através
de Demiurgo — um tipo de intermediário entre Deus inacessível e a matéria impura; todas as
criaturas partem da natureza de Deus, que se define por eles como a plenitude da existência
(pleroma), sendo que cada origem (emanação) compreende-se menos perfeita do que a
anterior.
O dualismo religioso-filosófico serve de base ao neoplatonismo e à teosofia. O
fundador do neoplatonismo Plotinus (205-270 depois de Cristo) ensinou sobre as degradações
na escala da existência. Deus está acima do mundo. Ele é ilimitado, impessoal, inconcebível e
inacessível. Tudo proveio Dele por meio da emanação. O passado é menos perfeito, é o
simples reflexo de Deus e representa uma série de degraus em diminuação, terminando em
não-existência, em trevas. O primeiro fruto é o juizo, isto é, o ser superior. O objetivo da vida
do homem consiste na libertação dos grilhões corporais e no regresso ao mundo das ideias;
para isto é necessário o catarsis, purificação dos grilhões do mal e rompimento da aliança do
espírito e do corpo. Os sofrimentos não entram no plano da criatura superior, eles são apenas
consequências não premeditadas da imperfeição da natureza. Entretanto do ponto de vista de
um todo, os sofrimentos podem trazer um determinado benefício.
A particularidade das doutrinas acima citadas sobre a natureza do mal e o sentido dos
sofrimentos do homem, é que neles não existe a noção do Deus como a melhor criatura
pessoal e bondosa, a Qual criou o mundo com vontade própria e constantamente sente
preocupação por ele.
Agora resumidamente observaremos as opiniões de alguns filósofos sobre a questão
atual. Sócrates (469 — 399 antes de Cristo) era interessado pelo problema do mal moral. Ele
julgava que o mal moral provinha da ignorância. Ninguém é mau de bom grado, mas por
ignorância. Todas as pessoas podem ficar boas por meio da cultura do intelecto. A virtude é
única e a essência dela consiste na sabedoria. “A virtude é o conhecimento” — ensinou
Sócrates.

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A escola dos cirineus (do nome da cidade Cirene, que surgiu em 435 antes de Cristo)
identificou o mal com os sofrimentos e o bem com o deleite. De acordo com esta doutrina, o
único alvo da vida e o único valor dela é o deleite (hedonismo). Epicuro (342-271 antes de
Cristo) ensinou que nenhum deleite não deve ser rejeitado, exceto aquele, que acarrete
sofrimentos. Nenhum sofrimento não deve ser aceito, exceto aquele que leve ao prazer ainda
maior. A doutrina hedonística depois chegou ao pessimismo, segundo a qual a vida humana é
desnecessária e sem objetivo, porquanto o prazer —o único bem — é muitas vezes
inacessível. Eles consideravam que era melhor morrer do que sofrer.
Platão (428-347 antes de Cristo) viu a razão do mal fora da perfeição da matéria e de
tudo o que foi criado. O mundo aparente é imperfeito, o ser verdadeiro pertence apenas a
conclusões generalizadas (idéias). As ideias não são só subjetivas, mas também possuem o
objetivo num mundo particular de ideias. À cabeça das ideias todas está, à semelhança do sol,
a ideia do Bem. Demiurgo (Criador), olhando para o mundo das ideias, criou o mundo finito
das criaturas. A alma do homem representa o elo-intermediário entre dois mundos. Por sua
natureza ela é imortal. O objetivo da vida humana é assemelhar-se a Deus, tornar-se sábio.
Platão viu a fonte do mal e a impossibilidade de juntar o início ideal à matéria inerte. O
mal de Aristóteles (384-322 antes de Cristo) é o aspecto nesessário da mudança constante da
matéria, que não tem em si a essência real. O objetivo da vida é o deleite, que se alcança pelas
atividades úteis. Cada situação da vida exige uma ação adequada, que deve harmonizar-se
naturalmente com a necessidade. Demais ou muito pouco de qualquer coisa levam ao vício.
Por exemplo, o uso de dinheiro pode ser relacionado à avareza ou ao desperdício. Ambos são
maus.
Os estóicos ensinaram que o mal é necessário para benefício integral: a imperfeição das
partes aumenta a perfeição no total. A força Divina, coexistente com o mundo harmoniza o
bem e o mal neste mundo inconstante. O mal moral provém da vontade má das pessoas, não
da vontade Divina. Isto supera-se pela vontade Divina e dirige-se para a meta do bem. Entre
os estóicos dominava o ideal do sábio inabalável, indiferente ao exterior, às calamidades do
mundo, e ciente com orgulho de sua liberdade interior.
Espinosa (1532-1677) identificando Deus com a matéria, declarou que na natureza
não existem nem o bem nem o mal, só o pensamento humano insere estas definições ao
fenômeno. Sendo que o mundo é Deus, o mal não pode existir, porque todos os fenômenos
são mudanças naturais da substância Divina.
O ensinamento mais completo do mal na filosofia nova, foi dado por Leibniz (1644-
1716). A ele pertence a diferenciação dos vários aspectos do mal e a tentativa de explicar a
essência dele. No hino de Cleantio para Zeus se pode ver a aproximação à doutrina de Leibniz
relativa à natureza do bem e do mal no mundo. “Nada acontece sem Ti na Terra, nem no mar,
nem no céu, exceto o mal, o qual as pessoas fazem por causa de sua estupidez. Portanto Tu
uniste todo mal e o bem em um só, para que exista um único e eterno plano para todas as
coisas.”
Kant (1724-1804) apontou para o caráter incondicional da lei moral e tentou criar
uma ética independente da procura de vantagem no proveito pessoal, do sentimento de prazer
e dos motivos religiosos. A moralidade da ação está inteiramente condicionada pelo motivo do
procedimento. O sentido de dever —é o único motivo absolutamente bom e impecável. A ética
—é a lei do nosso próprio intelecto e por essa razão deve ser cumprida por si própria.
“Proceda de tal maneira que a regra de sua vontade possa ser o princípio da legislação
universal.” O prazer e a felicidade podem ser aceitos na qualidade de recompensa, mas em si
não constituem o bem. Nenhum ato, realizado pela vontade própria, é considerado moral. O
dever representa a sensatez da natureza humana, absolutamente independente dos desejos e
das inclinações. Todavia Kant não conseguiu explicar como considerar os atos das pessoas que
seguem os sentidos de dever absolutamente diferentes. Por exemplo, um patriota julga que o
dever dele é ir à guerra e defender o seu país, mas um pacifista considera qualquer guerra

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como o mal. Como se pode deduzir aqui uma lei moral, que seja universal, obrigatória para
todos? Para os seguidores da filosofia de Kant, o bem superior é a defesa da ordem social
atual; o ideal deles é a vida farta e serena.
Gegel (1770-1831) desenvolveu a ética da reverência perante o regime social
conservador, isto é o país. Ele considerava que o mal era quando uma pessoa por um
sentimento particular se opõe à ordem social. O moral ideal — é a confluência de todos os
sentidos particulares numa só lei-tradição objetiva.
Shopenhauer e Gartman se tornaram representantes do ensinamento pessimista no
Ocidente, afirmando que o universo em si era mau e nele não se podia ter a felicidade. De
acordo com Shopenhauer (1788-1860) o mundo é o resultado da vontade cega. Ele é o mau e
não deve existir. A não existência é preferível à existência. O nosso mundo é o pior de todos
os possíveis. Ele não pode ser ainda pior, porquanto se ele fosse pior, já não existiria em
absoluto. A felicidade é algo negativo; consiste na ausência de sofrimentos, enquanto que o
sofrimento é algo real. Os sofrimentos surgiram ao mesmo tempo que a consciência, como que
inseparáveis. A atividade do homem provém da aspiração insatisfeita. A vida toda do homem é
ou sofrimento ou tédio. A salvação desta posição atinge-se por meio do conhecimento da
unidade de todas as criaturas e através da negação da vontade.
Desde meados do século XIX, na Inglaterra, tal como nos Estados Unidos, a ética
dividiu-se numa vasta quantidade de escolas de orientações diferentes, onde não existiam os
valores superiores e absolutos e onde não havia Deus pessoal, como fonte de todo tipo de
bem. Esta é a fonte do caráter da qualidade de ser condicional de todas as teorias éticas delas.
Desta maneira a ética científica sem religião fracassou. A moral sem religião é como um
edifício sem fundamento.
Assim, por exemplo, Nitzche (1844-1900) ensinou, que o mal era relativo, o mal
moral era um surgimento temporário e passageiro, porque o homem é “o animal, que ainda
não está bem adaptado para o seu meio ambiente. Ele tentou criar os princípios da nova moral
de super-homem, derivado da evolução do desenvolvimento. Nitzche abertamente louvou a
força grosseira e a agilidade para a vitória na luta da existência. As virtudes cristãs, tais como
a humildade, o perdão, e o amor, ele chamava de “virtudes dos escravos.” A vontade forte e as
aspirações para o domínio (não o juízo) são as chaves para o sucesso na vida. A guerra tem
uma força purificadora e que enobrece. O futuro pertence ao super-homem. A crueldade, a
bravura e a firmeza serão as novas virtudes do homem do futuro.
Spencer (1820-1903) seguia a doutrina evolucionária do surgimento e do
desenvolvimento do sentido moral nas condições, nas quais viviam os antepassados dos
homens de hoje: dos costumes grosseiros e cruéis até os mais refinados e elegantes.
Pobre de conteúdo e pouco convincente é o ensinamento materialista sobre o mal e o
sentido dos sofrimentos. O materialismo ensina que não existe nada, exceto a matéria. Por isso
todos os processos, incluindo os psíquicos, podem ser ligados com os movimentos dos átomos
e com os processos químicos na mente de uma pessoa. Daqui provém a hipótese de todas as
noções relativas ao bem e ao mal. No materialismo os conceitos éticos estão ligados com os
conceitos das coisas agradáveis e úteis em cada minuto concreto e nas condições dadas. A
natureza não conhece nem o dever, nem valores. A moral é o produto da consciência social, e
cada sociedade forma a sua própria moral. Num periodo histórico pode surgir uma moral e
noutro —outra. Se tudo é relativo, então não há nem virtude, nem vício e só existem a
vantagem ou a desvantagem; os sofrimentos e a morte são absurdos, a justiça não existe. Eis a
conclusão: apressa-te a buscar tudo o que consegues da vida, porque quando morreres, tudo
acaba para ti.
O denominador comum para a maioria dos filósofos-moralistas dos séculos XV-XX
era a eliminação de Deus e dos conceitos religiosos da ética. Muitos deles eram agnóstistas,
panteistas, materialistas e mesmo às vezes relacionaram-se à religião com hostilidade.

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Para tudo o que foi dito deve adicionar-se que o assunto da relação entre os
sofrimentos e os atos morais são difíceis de analisar não só para os ateus. Às vezes mesmo os
crentes abatidos com aflições, ficam perplexos: “Por que Deus permite guerras, epidemias e
violências?…Se Ele é infinitamente bondoso e infinitamente benevolente, Ele mesmo não
poderia olhar indiferentemente para todos os inúmeros sofrimentos dos inocentes. Se Ele é
infinitamente sábio e todo-poderoso, então por que Ele não põe fim a esses sofrimentos? Por
que Ele permite o triunfo do mal? A Bíblia lança luz sobre estes assuntos.

Ensinamento das Sagradas Escrituras


sobre o mal e os sofrimentos.
As Sagradas Escrituras respondem com muita clareza às perguntas principais, relacionadas
ao mal no mundo e aos sofrimentos do homem: o mal e os sofrimentos não proveêm de Deus.
Deus, sendo infinitamente bondoso, criou tudo para o bem e a felicidade do homem. “Deus
viu que tudo quanto tinha feito era excelente” — lemos no final da narrativa bíblica sobre a
criação do mundo (Gên. 1:31). Deus criou o homem puro, bondoso e o dotou de qualidades
espirituais elevadas, assemelhado-o a Si. O destino do homem consistia no desenvolvimento
das qualidades boas em si, e quanto mais ele atingirão aproximação de Deus, mais ele se unia
ao deleite da vida Divina.
Mas o homem não conseguiu manter-se à altura de sua missão. Conforme relata o
Livro de Genesis, o primeiro homem por sugestão da serpente-sedutora, provou do fruto
proibido e assim violou o mandamento direto de Deus. O pecado deste ato consistiu em que o
homem desejou assemelhar-se a Deus, não por meio do desenvolvimento de suas boas
qualidades, o que é ligado ao esforço interior e necessita de tempo, mas automaticamente,
digamos, de um salto corajoso. Com este ato ousado Adão, por incitação do diabo,
pràticamente recorreu à magia, à essência do que consiste a aspiração de obter a capacidade
sobrenatural, os conhecimentos excepcionais ou certos serviços para ações mecânicas e o
exorcismo. Para a magia é característico o desejo de usar as forças misteriosas, do além fora
do contexto do contéudo moral delas e da sua responsabilidade.
Como pode ser visto no relato bíblico, a serpenta não era um simples réptil, mas uma
criação racional, astuta e pérfida. Ela caluniou o Criador e com astúcia seduziu o homem
crédulo. As Sagradas Escrituras explicam também que esta serpente (ela é também o dragão)
era Lúcifer — um dos anjos mais chegados a Deus, no princípio bom e luminoso, mas depois
por seu orgulho revoltou-se contra o seu Criador. Desprendido de Deus, Lúcifer levou
consigo uma parte dos anjos, criando com eles um reino sombrio do mal, lugar de sofrimentos
e horror, chamado inferno. Lúcifer decaído, que significa caluniador, e os anjos que o
seguiram — chamam-se diabos ou demônios. A tragédia do desprendimento de Deus dos anjos
bons aconteceu antes de surgimento do mundo visual. Assim, de acordo com a Bíblia, o mal
não nasceu na matéria ossea, e sim no espírito racional e semelhante a Deus e dele difundiu-se
pelo mundo material.
A viciosidade do pecado do primeiro homem consistiu não só na transgressão de um
determinado mandamento, mas também no fato de que o homem em princípio se desviou de
Deus e ingressou no caminho, que antes dele já havia seguido o seu tentador. O homem se
desviou de seu Pai celeste para servir a si próprio, fazer não aquilo que contribui para o bem,
mas o que é aprazível só para ele. Daqui, da direção depravada da vontade originam-se todas
as desgraças e os sofrimentos da humanidade. Doenças, aflições e morte fisica são as
sequências do mal moral. Com o obscurecimento da alma no homem perturbou-se o balanço
entre sua natureza espiritual e física: o faro moral enfraqueceu e as aspirações nobres
começaram a ser esmagadas pelos desejos carnais caprichosos e desordenados.

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Mas na queda do homem revela-se a piedade infinita de Criador, Quem em
consequencia do pecado — sofrimentos, doenças e morte — converteu sábiamente em meios
de cura e de salvação do homem. As Sagradas Escrituras devotam muito atenção para a
revelação desta verdade.
Depois do desprendimento de Deus começa para o homem um longo e espinhoso
caminho de regresso a Ele. A cura moral deveria ter sido feita ativamente com a participação
da vontade do homem, e não passivamente. A história sagrada mostra-nos como quer pela
propensão interna, quer pelos diferentes meios externos Deus conduz o homem para Si, ajuda-
o a ingressar no caminho do bem e misericordiosamente perdoa as quedas dele. Por motivo de
endurecimento espiritual do homem surgiu a necessidade de anunciar a lei moral, que estava
escrita no fundo da sua natureza moral, na forma de mandamentos simples e claros para que o
homem além de ter orientação interna tenha também a externa. Assim, ao longo do período do
Antigo Testamento Deus divulgava Sua vontade para as pessoas através de Seus escolhidos —
patriarcas e profetas. Pouco a pouco criou-se a coletânea dos livros morais chamada as
Sagradas Escrituras. Os tempos do Antigo Testamento eram o período de ensinamento do
homem sobre princípios da Lei de Deus, da inplantação do sentido perdido de veneração a
Deus e da tomada de consciência da necessidade de obedecer a Deus. Isto foi o período
preparatório para a aceitação do ensinamento Evangélico e para a renovação do coração pela
caridade do Espírito Santo.
Pessoas com alma sensível e através de sua própria experiência, mais cedo ou mais
tarde convencem-se de que toda alegria e consolo vêem de Deus e toda aflição — dos seus
próprios vícios e da viciosidade de outras pessoas. A compreenção desta verdade importante
foi realmente a grande conquista do período do Antigo Testamento. Assim o rei David nos
seus salmos inspirados partilha sua experiência, obtida durante muitos anos: “O Senhor está
perto dos contritos de coração, e salva os que têm o espírito abatido. Muitas são as aflições
que o justo tem na vida, mas o Senhor o livra de todas elas… Vós me ensinareis o caminho
da vida, há abundância de alegria junto de Vós, e delícias eternas à Vossa direita” (Sal.
33:20; 15:11).
As Escrituras do Antigo Testamento ensinavam sobre a justiça absoluta de Deus, de
acordo com o que o homem que faz o bem merece recompensa, mas aquele que faz o mal,
merece castigo. As Sagradas Escrituras ensinavam que a própria pessoa que fez o pecado, e
não os outros, deve ser castigada. Mas na realidade, nem sempre funcionou o princípio da
justiça, para a perplexidade das pessoas, que sinceramente desejavam viver honestamente.
Naquela altura ainda não foram descobertos com toda a clareza os prazos e os meios da
realização da justiça Divina, porque a vida de além-tumulo do homem era condicionada pelo
advento do Messias prometido. Lendo a história sagrada podemos perceber que mesmo as
pessoas boas nem sempre puderam resignar-se com as injustiças gritantes da vida. Elas não
percebiam porque Deus perfeito em tudo por vezes não defende os inocentes e permite o
triunfo da arbitrariedade. Jó o justo, por exemplo, sobre o qual de repente começaram a cair
variadas desgraças, a saber: no período de uns dias ele perdeu todos os seus bens, a familia e
mesmo a saúde, — resignou-se humildemente à vontade de Deus, mas não conseguiu perceber
por que Deus permitiu que estas desgraças todas o tenham atingido.
O profeta Jeremias, muitas vezes estando sujeito a repressões pelo sermão da palavra
de Deus, O questionava:

“Sois sumamente justo, Senhor, para que eu entre em disputa ConVosco,


Entretanto, em espírito de justiça, desejaria falar-Vos. Por que alcançam bom
êxito os maus em tudo quanto empreendem? E por que razão vivem felizes os
pérfidos? Vós os plantastes, e eles criam raízes, crescem e frutificam. Permaneceis
em seus lábios; longe porém dos coraçãos. Mas Vós, Senhor, me conheceis e me
vêdes, e sondais os sentimentos do meu coração a Vosso respeito. Arrebatai-os

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quais carneiros para a matança e consagrai-os, em vista ao massacre. Até quando
permanecerá a terra em luto, e há de secar a erva dos campos? Por causa da
maldade dos homens que nela habitam, animais e pássaros perecem, por
haverem dito: “Não verá o Senhor o nosso fim... Ai de mim, ó minha mãe, que
me geraste para tornar-me objeto de disputa e de discórdia em toda a terra! Não
sou credor nem devedor, e no entanto todos me maldizem... E dia a dia a palavra
do Senhor converter-se para mim em insultos e escárnios. E, a mim mesmo eu
disse: Não mais O mencionarei e nem falarei em Seu nome. Mas em meu seio
havia um fogo devorador que se me encerrara nos ossos. Esgotei-me em refreá-lo,
e não o conseguí” (Jer. 12:1-4, 15:10-11 e 20:8-9).

Deste modo as Escrituras do Antigo Testamento não davam uma resposta completa para a
perplexidade quanto ao por que da justiça ser rompida com tanta frequência. Todavia, mesmo
então alguns já conseguiram entrar um pouco mais profundamente no mistério da aflição e ver
que além de existência dos m;eritos ou não, as aflições têm o seu lado bom. “A tristeza tem
mais valor do que o riso, — nota o sábio rei Salomão no fim do caminho da sua vida, — pois
a tristeza do semblante é boa para o coração” (Ec. 7:3).
O tema central das Escrituras do Novo Testamento é o ensinamento sobre a
salvação do homem pelos sofrimentos voluntários do Filho de Deus. Nas Escrituras do Novo
Testamento os sofrimentos não são apenas um castigo pelo crime; eles possuem uma força
expiatória ativa. O sofrimento é uma fonte de renovação e salvação. Deus não se esconde
atrás dos limites de um espaço imenso e Ele não está indiferente às desgraças das pessoas,
como pensavam os sábios pagãos. Ao contrário, Ele “amou tanto o mundo que deu o Seu
único Filho para que todo aquele que Nele crê não se perca espiritualmente, mas tenha a
vida eterna” (João. 3:16).
Por Sua imensa compaixão pelas pessoas o Filho de Deus desce das alturas de Sua
glória celeste para o nosso mundo aflito, encarrega-Se do fardo dos pecados do homem e
lava-os com Seu puríssimo sangue na cruz. Suas feridas são a cura das nossas doenças, Sua
morte é o início de uma nova vida feliz. Na cruz através dos sofrimentos do Deus-homem
realizou-se o grande mistério da renovação da essência do homem, prejudicada pelo pecado.
São Gregório o Teologista, contrapõe o sacrifício da cruz do Salvador à prova do
fruto proibido em Eden: “Para isso, madeira pela madeira e as mãos pela mão; as mãos
corajosamente estendidas — pela mão imoderadamente esticada, as mãos pregadas — pela
mão voluntáriosa… Para isso — ascenção na cruz pela queda, fel pela saboriação, coroa de
espinhos pelo domínio mau, a morte pela morte.”
Por Sua morte sofrida e ressurreição vitoriosa Deus destituiu a antiga serpente
sedutora e deu aos fiéis “autoridade para poder pisar no inimigo, e serpentes e escorpiões e
todo poder do inimigo” (Luc. 10:19). Para o homem redimido abre-se o caminho para o
Reino Celeste e para a alegria eterna. Para quem é fraco e está habituado a pecar o caminho
para o Céu às vezes parece estreito e difícil, mas o Senhor Jesus Cristo encoraja a cada um,
que tem o desejo de ingressar no caminho da salvação, dizendo: “Venham a Mim todos os que
estão cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei. Levem o Meu jugo e aprendam de Mim,
porque Sou manso e humilde de coração, e acharão descanso para as vossas almas; porque
Meu jugo é suave e meu peso é leve” (Mat. 11:28-30).
As aflições e desgraças do homem nesta vida temporária não são eliminadas pelo
advento de Cristo, porém perderam sua agudeza e a escuridão precedentes. O caso é que o
mal entrelaçou-se tanto com a nossa essência, penetrou tanto no nosso coração, que o
processo de libertação do mal está sempre ligado à dor. Mas o raio celeste do Espírito-
Consolador dispersa as trevas da alma do sofredor e o aquece com o sentimento do amor
Divino. É admiravel que já no caminho do homem para o Reino Celeste o Espírito Santo pela
sua presença dá ao fiel a alegria da vida eterna preparada para ele. Os justos, que foram

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honrados por tal alegria, testemunham, que em comparação com ela todos os bens e alegrias
da Terra ficam insignificantes. Por isso os apóstolos ensinavam que os devotos não devem cair
em tristeza, “como os outros homens (pagões) que vivem sem esperança,” mas devem se
alegrar e agradecer a Deus (1 Tes. 4:13)
“Assim, pois, como Cristo padeceu na carne, armai-vos também vós deste mesmo
pensamento, — escreve o apóstolo Pedro, — quem padeceu na carne rompeu com o
pecado” (1 Ped. 4:1-2). E continua pouco mais adiante: “Caríssimos, não vos pertubeis no
fogo da provação, como se vos acontesse alguma coisa extraordinária. Pelo contrário,
alegrai-vos em ser participantes dos sofrimentos de Cristo, para que vos possais alegrar e
exultar no dia em que for manifestada Sua glória” (Ped. 4:12-13). Assim como o fogo limpa
metais preciosos, é necessário que “para que a prova a que é submetida a vossa fé — (mais
preciosa que o ouro perecível, o qual, entretanto, não deixamos de provar ao fogo) —
redunde para o vosso louvor, para vossa honra e para vossa glória quando Jesus Cristo se
manifesta” (1 Ped. 1:7-8).
A fé cristã amplia os horizontes do homem que crê e lhe dá a oportunidade de ver as
coisas temporárias no plano da eternidade. Os sofrimentos dos inocentes não são inúteis: eles
são meios para se obter mais recompensa no Céu. Assim sendo, de acordo com a parábola
evangélica, para muitas pessoas parecia que a vida ofendeu cruelmente o indigente Lazáro.
Enquanto ele passava fome e desamparado sofria de úlceras, deitado ao portão de um ricaço,
o qual todos os dias banqueteava-se e se divertia. Nem o ricaço nem os amigos dele não
expressavam nem um pouco de compaixão por Lázaro. Quando Lázaro faleceu, ninguem
acompanhou seu funeral. Do ponto de vista do dia a dia o destino dele era injustiça absoluta.
Mas soerguendo a cortina atrás da qual começa o outro mundo, o Evangelho nos permite ver,
que com a morte fisica acabaram-se os sofrimentos de Lázaro e não a vida. Agora, por sua
paciência e benevolência ele mereceu uma grande recompensa. Assim, atravessando a soleira
da vida temporária, o homem entra no mundo, onde reina a justiça absoluta. Por isso nos
minutos difíceis da vida é preciso se lembrar que “os sofrimentos da presente vida não têm
proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada.” (Rom. 8:18).
Para compreensão mais completa do tema citado aqui, são muito validas as
observações autobiográficas do apóstolo Paulo, onde ele conta sobre as experiências, que
ocorreram em sua atividade como apóstolo e como ele a pouco e pouco percebeu a utilidade
delas.

“Estive em dificuldades imensuráveis, com feridas, em cárceres e açoites sem


medida. Muitas vezes ví a morte de perto. Cinco vezes recebí dos judeus os quarenta
açoites menos um. Três vezes fui flagelado com varas. Uma vez apedrejado. Três vezes
naufraguei, uma noite e um dia passei no abismo. Viagens sem conta, exposto a perigos
nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigo no
deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos! Trabalhos e fadigas, repetidas
vigílias, com fome e sêde, frequentes jejuns, frio e nudez!.” (2 Cor. 11:23-27).
E mesmo assim o apóstolo Paulo não tinha nenhuma sombra de exacerbação do ânimo,
nenhum queixume de que ele, dedicando a sua vida a Deus, foi exposto a vexames e escárnio
dos inimigos. Ao contrário, eis como o apóstolo aprendeu a perceber tudo o que lhe ocorreu:

“Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias,
Deus de toda a consolação, Quem nos conforta em todas as nossas tribulaçãoes,
para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus
possamos consolar os que estão em qualquer angústia! Com efeito, à medida que
em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas
consolações. Se pois somos atribulados, é para vossa consolação e salvação. Nos

9
magoam, mas nós estamos sempre felizes; somos pobres, mas enriqucemos a
muitos; não temos nada, mas possuímos tudo.” (2 Cor. 1:3-6, 6:9).

Além das aflições e obstáculos externos, relacionados com a fraqueza, um mal fisico
perturbava o apóstolo Paulo, uma fraqueza interna incompreensível levando-o até o
esgotamento absoluto, que ele chamava “o dardo do anjo satanás” em sua encarnação. Por
três vezes o apóstolo insistentemente suplicou a Deus para livrá-lo dessa doença que impedia
que ele fizesse o seu serviço de apóstolo. Mas Deus em vez de cura apareceu para ele e disse:
“A Minha graça te basta. É na fraqueza que o Meu poder melhor se revela.” Percebendo
que a doença lhe foi dada para benefício espiritual — para ensina-lo a ter a esperança não nas
suas forças, mas sim na ajuda de Deus — o apóstolo chegou a esta decisão: “Portanto,
prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Eis
porque sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no
profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que
sou forte!.” (2 Cor. 12:9-10).
Aqui está uma nova e verdadeiramente valiosa revelação da utilidade das aflições.
Aceitas com humildade e a esperança em Deus, elas atraem para o sofredor a força Divina,
a qual em muitas vezes ultrapassa as forças naturais dele e faz o homem de instrumento da
providência de Deus para a salvação de muitas pessoas e mesmo de muitos povos.
Assim, as Escrituras do Novo Testamento abrem diante de nós o lado expiatório dos
sofrimentos. Os sofrimentos voluntários do Filho de Deus levaram à salvação do mundo.
Elimina-se a primeira causa do todo mal — o pecado, e as pequenas aflições temporárias
ficam na qualidade de medicamento, como meio de aperfeiçoamento espiritual. Conforme foi
revelado ao escritor do livro do Apocalispe, apóstolo João o Teologista, o Reino Celeste está
cheio de pessoas de todas as origens, línguas, povos e tribos, pessoas de culturas diferentes,
diferentes níveis de educação e origem social. Todos tinham em comum que eles chegaram
aqui de uma “grande tribulação” (Apoc. 7:14) isto é, cada um que era salvo tinha sua cruz da
vida. E sobre este conjunto incálculavel o apostolo vê no meio do altar celeste o Cordeiro —
Jesus Cristo.
Todos gostariam de entrar no paraíso, mas, nem todos têm consciência e nem todos
querem aceitar o fato de que ele tem que resignadamente carregar a sua parte das aflições para
que não seja estranho entre os outros, vindos através dos sofrimentos. Nós sabemos que
“para entrar no reino de Deus teriam de passar por muitas tribulações” (At. 14:22), e ao
mesmo tempo devemos com toda a força combater os pensamentos sombrios. Um cristão
deve sempre estar contente e agradecer a Deus porque as aflições são um estado temporário.
O seu olhar espiritual deve-se concentrar em Deus, de Quem provém todo o consôlo e alegria,
e também a vida futura, na qual já não haverá mais mentiras nem doenças, nem morte, nem
tudo aquilo que obscurece nossa existência terrestre, mas que será nossa eterna glória.
Relembrando disso, os apostolos ensinavam os cristãos: “Que a vossa alegria seja constante
no Senhor! E mais uma vez vos digo: alegrem-se!.” (Fil. 4:4). A religião cristã é antes de
tudo a fé na vitória do bem. Ela trouxe aos homens a luz, amor e a verdadeira alegria em
comunhão com o Pai Celeste.

Folheto Missionário número P51


Copyright © 2002 Holy Trinity Orthodox Mission
466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011
Redator: Bispo Alexandre Mileant

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(afflictions_in_our_lives_p.doc, 09-25-2002)

Edited by Date

Уважаемый епископ Александр!

Прежде всего, благодарю за Ваше понимание.

Я собрала весь перевод, что я сделала в один файл, чтобы Вам не было необходимости
это делать, и посылаю его Вам в качестве приложения. Слова, которые я не смогла
перевести, я выделила красным, как Вы просили.

Надеюсь, что все читается и не пропали специфические португальские знаки. Жду


Вашего подтверждения.

Остались не переведнными части “Святые отцы о том, как относиться к скорбям,”


“Обретение высшего блага” и ”Заключение.”

Еще раз спасибо за то, что не гневаетесь на меня, за Ваше понимание и сочувствие.

С глубоким уважением,
Валерия
----------------------------------------------------------------------
Valeria & Andre Zeferino
valeria.zeferino@netc.pt / andre.zeferino@netc.pt
ESCRITAS DOS SANTOS PADRES
DE
COMO LIDAR COM AS AFLIÇÕES

Os ensinamentos aqui expostos sobre as aflições ficariam incompletos sem a instrução dos
Santos Padres a respeito do tema. A experiência dos santos — é um tesouro infinito de
sabedoria para qualquer um que tentar lidar corretamente com as inevitáveis aflições, para não
ficar abatido e deprimido com elas. Abaixo trazemos pensamentos escolhidos de preparadores
espirituais ortodoxos, tanto antigos como contemporâneos.
O venerável Antônio o Grande (4o séc. Egito): Quanto mais moderadamente o homem
leva a vida, mais tranquilo ele fica, pois, não se preocupa demais — com empregados e com
aquisição de bens e mercadorias. Se nós nos agarrarmos a isso (coisas da terra), então
estaremos nos submetendo às aflições decorrentes dessas preocupações, e chegamos a
resmungar contra Deus. Dessa maneira, a vontade de ter muito nos enche de agitação, e nós
vagamos pela escuridão de uma vida pecaminosa.

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Santo Monge Efraim o Sírio (Mesopotamia, 4 o séc.): Você não consegue suportar
ofensas? Fique calado — e se sentirá calmo. Não pense que você sofre mais do que os outros.
Assim como para quem vive na terra é impossível evitar o ar, também para o homem, que vive
neste mundo, é impossível não ser tentado pelas aflições e doenças. Os ocupados com o
mundo experimentam também as aflições, mas se direcionam à espiritualidade sobre o
espiritual e adoecem na alma. Porém os últimos serão abençoados, pois seu fruto está pleno de
Deus.
Se a trsiteza chegar, vamos esperar também a aproximação da alegria. Tomemos como
exemplo os que estão navagando no mar. Quando se levanta uma tempestade os navegadores
lutam com as ondas, esperando o tempo se acalmar; e quando chega a calmaria, eles se
preparam para a tempestade. Estão sempre vigilantes, para que o vento que repentinamente
surgir, não os pegue desprevinidos e não vire a embarcação. Assim também nós devemos agir:
quando ocorrer alguma aflição ou circunstâncias difíceis, vamos aguardar o alívio e a ajuda de
Deus, para que não nos deprima o pensamento, como se não houvesse mais esperança de
salvação para nós.
Tudo vem de Deus — as bençãos e as aflições. Mas uma é através da edificação e a
outra através da permissividade e da tolerância. Através da benevolência — é quando vivemos
virtuosamente, pois, é do agrado de Deus que aqueles que vivem virtuosamente se enfeite,
com grinaldas de paciência; através da edifição — é quando ao pecarmos estamos conscientes
do pecado; enquanto que, por negligência — mesmo conscientes, nós não mudamos. Deus nos
castiga providencialmente, nós qie pecamos, para que não sejamos condenados com o mundo,
conforme diz o apóstolo: “Mas, sendo julgados pelo Senhor, Ele nos castiga para não
sermos condenados com o mundo” (1 Cor. 11:32).
Venerável Marco (5o séc. Egito): Se alguém pecar claramente e não se arrepender, não
é sujeito a nenhuma aflição até o seu fim, saiba você que o julgamento dele será implacável...
Aquele que quer se livrar de futuros desgostos deve suportar de bom grado o presente. Pois
desta maneira, mentalmente mudando um ao outro, ele, através de pequenas aflições estará
evitando grandes tormentos.
Quando em consequência de uma ofensa seu interior e seu coração ficam irritados, não
se aflija, que mentalmente despertou o mal escondido dentro de você. Mas com alegria
reprima pensamentos que surgem, sabendo, que junto com o fato de que eles se destroem
quando surgem, junto também se destrói o mal que se encontra debaixo deles e os coloca em
ação. Caso seja permitido que os pensamentos surjam fortes e com frequência, então também
o mal habitualmente se solidifica.
Venerável Isaak o Sírio (6o séc. Síria): A vontade do Espírito é de que Seus filhos
amados vivam em dificulades. O Espírito de Deus não habita dentro daqueles que vivem
tranquilamente. É assim que se distinguem os filhos de Deus dos outros: eles vivem aflitos,
enquanto o mundo se orgulha da fartura e tranquilidade. Deus não desejou que Seus amados
filhos vivessem pacificamente enquanto estivessem em seus corpos, mas sim, Ele quer que eles
vivam agora em aflição, em opressão, em dificuldades, na pobreza, na nudez, na necessidade,
na humilhação, em ofensas, em um corpo sobrecarregado e em pensamentos tristes. Assim se
cumpre aquilo que foi dito sobre eles: “No mundo haveis de ter aflições” (Joã. 16:33). O
Senhor sabe que aqueles que vivem tranquilamente não são capazes de amá-Lo, e por esta
razão, nega aos justos a tranquilidade e os deleites temporários.
Atrás de todo conforto corporal segue o sofrimento e atrás de todo sofrimento por
Deus segue o consolo. A alma que ama a Deus, adquire para sí o consolo em Deus, Nele
Único. A alegria em Deus é mais forte do que esta vida, e quem a encontrou não apenas não
irá olhar para os sofrimentos, mas até mesmo não irá se incomodar em olhar para sua vida, e
alí não terá nenhum outro sofrimento, se realmente houve essa alegria.
Uma pequena aflição por Deus é melhor do que um grande feito realizado sem
preocupação. Aquilo que é feito sem esforço, é a “virtuosidade” das pessoas do mundo. Mas

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você, aja em segredo e imite Cristo, para ter o merecimento de saborear a glória de Cristo. A
mente não será glorificada junto com Cristo, se o corpo não sofrer junto com Ele.
Mais preciosas do que qualquer prece e sacrifício diante de Deus são as aflições por
Ele e para Ele.
Deus está próximo do coração aflito daquele que clama por Ele, com aflição. Mesmo
que às vezes o submeta a privações corporais ou outras tribulações, o Senhor demostra
imenso amor pela humanidade, proporcionalmente à severidade do sofrimento e aflições do
sofredor.

“Staretz” (o que tem o dom de Deusñ 6 o séc. Palestina): Você deseja livrar-se das aflições e
não encomodar-se com elas? Então aguarde muito maiores, — e tranquilize-se.

Ava Dorofei (7o séc. Palestina): À medida que o pecado é cometido a alma enfraquece, pois, o
pecado enfraquece e leva à extenuação aquele que sucumbe a ele. É por esta razão que a
pessoa se preocupa com tudo que acontece com ela. Porém, se a pessoa progride na bondade,
emtão, à medida da progressão, tudo aquilo que parecia difícil agora parece mais leve.
Existem pessoas que estão tão enfraquecidas pelas doenças e infortúnios desta vida,
que preferem morrer, desde que fiquem livres das aflições. Isto acontece com eles por medo,
insegurança e grande insensatez, pois eles não pensam naquela terrível necessidade que ocorre
com as pessoas quando a alma delas abandona o corpo. Eis o que narra o livro “Paterikon”:
Um certo noviço aplicado perguntou ao seu superior ancião: “Por que eu quero morrer? O
ancião respondeu: “É porque você está evitando as aflições e não sabe que a aflição futura é
muito mais pesada do que a daqui.” E outro noviço perguntou ao ancião: “Por que eu,
encontrando-me em uma cela, caio em desânimo e desatenção?” O ancião lhe disse: “Porque
você ainda não conheceu nem a paz aguardada, nem o futuro sofrimento, pois se você tivesse
conhecimento seguro disso, sua cela poderia estar cheia de vermes, de tal forma que você
estaria com eles até o pescoço, mas você suportaria tudo sem enfraquecer nem um pouco.”
Mas nós, enquanto vivemos, queremos nos salvar e por esta razão enfraquecemos pelas
aflições, no tempo em que deveríamos agradecer a Deus e nos considerar benditos por
podermos nos afligir um pouco aqui, para que possamos obter paz lá.
Acredito que a desonra e a censura que partem das pessoas — são medicamentos que
curam o seu orgulho, e reze por aqueles que o difamaram como por verdadeiros médicos de
sua alma. Esteja certo de que aquele que odeia a desonra, também odeia a modéstia. E aquele
que evita quem o tenha magoado está se afastando da humildade.

Ava Zózimo (4o centenário, Egito): Acabe com as tentações e lute com os pensamentos — e
não restará nenhum santo. Aquele que foge da tentação está fugindo da vida eterna. Quem
forneceu as corôas aos santos mártires senão seus torturadores? Quem foi que presenteou o
primeiro mártir Stephano com tamanha glória senão aqueles que o apedrejaram?

Venerável Serafim de Sarov (18o séc. Rússia). Quem conquistou a paixão, também conquistou
a tristeza. E aquele que foi consquistado pelas paixões não escapará dos grilhões da trsiteza.
Assim como um enfêrmo é detectado pela cor do rosto, também aquele que está possuido
pelas paixões se distingue pela tristeza.
O corpo é o escravo da alma e a alma — é a rainha. Por isso é frequente que pela
misericórdia de Deus nosso corpo se extenue pelas doenças. Por causa dessas doenças as
paixões enfraquecem, e a pessoa cai em sí... Quem suporta as doenças com paciência e
gratidão, é considerada como uma ação ou até algo mais do que isso.
Não se pode empreender ações além da conta, mas sim, é preciso tentar para que o
amigo — nossa carne — seja fiel e apto a praticar noas ações. É necessário seguir o caminho

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do meio, não se desviando nem para a direita, nem para a esquerda: dar espiritualidade ao
espírito, e à carne dar o corporal necessário para a manutenção da vida temporária.
Para os estudantes desejosos em tomar sobre sí excessivos encargos, o venerável
Serafim dizia que suportar com resignação e humildade as ofensas — são nossas correntes e
tecidos grosseiros e pesados.
Precisamos ser tolerantes com nossa alma em suas fraquezas e imperfeições, e suportar
nossas falhas assim como suportamos as falhas dos que estão próximos de nós.
Alegria — não é pecado. Ela afasta a fatiga, pois devido à fadiga surge a depressão, e
não há nada pior do que isso. Ah, se você soubesse, — dizia ele certa vez a um monge, — que
felicidade, que doçura aguarda a alma do justo no Céu então você decidiria suportar com
gratidão qualquer ofensa, perseguição, calúnia desta vida temporária. Se esta nossa cela
estivesse cheia de vermes e se esses vermes estivessem comendo nossa carne no decorrer de
toda nossa vida terrestre, então com todo nosso desejo deveríamos concordar com isso, para
que só assim não nos privemos daquela alegria celestial, a qual Deus preparou aos que O
amam.

“Staretz” Nicon de Optina (1927 — Rússia): Se você quer se livrar da tristeza, não amarre seu
coração a nada nem a ninguém.
O Senhor nos ajuda nas aflições e nas tentações. Ele não nos livra delas, mas nos dá
força para suportarmos com suavidade a até nem as percebermos.

“Staretz” Siluan (ano 1938, Athos): O Senhor ama a todos mas permite as aflições para que as
pessoas reconheçam sua fraqueza e se resignem, e por sua humildade recebam o Espírito
Santo, e junto com o Espírito Santo — fica tudo alegre e feliz.
Você diz: “Eu tenho muitas mágoas” mas eu lhe digo: “Se resigne e então verá que
suas desgraças se transformarão em paz, tanto que você mesmo irá se admirar e dirá: Por que
é que eu sofria e me afligia tanto antes? Mas agora você está feliz porque se resignou e veio a
graça de Deus, embora agora irá te deixar, pois em sua alma esta a paz sobre a qual o Senhor
falou: “Deixo-vos a paz, dou-vos a Minha paz.” É assim que o Senhor dá a paz a toda alma
humilde.
A alma do humilde é como o mar. Jogue uma pedra no mar e ela por um minuto irá
agitar a superfície dele, e em sguida se afundará em suas profundezas. É assim que as aflições
se afundam no coração do humilde, pois a força do Senhor está com ele.
Abade Nicon (1963, Rússia): A paz (enviada por Deus) torna a pessoa insensível às mágoas e
sofrimentos mundanos, apaga todo interesse por este mundo, afasta o desgosto, faz nascer no
coração o amor por todos, o qual cobre todas as faltas do próximo, não as percebe, se força a
ter piedade dos outros, mais do que de sí próprio.

A Obtenção do
Bem Superior.
De acordo com a Sagrada Escritura e as experiências dos santos padres, o único e verdadeiro
mal — está na violação das normas morais. A partir disto começam outras formas do mal. O
mal moral surge dentro dos seres moralmente-livres, e se não for interceptado
voluntàriamente, amadurece cada vez mais e se fortalece dentro da pessoa, se unindo pouco a
pouco à sua vontade e cada vez mais manifestando ações destrutivas e infames.
Contudo, como é que surge o mal moral? Que processos espirituais levam a ele?
Pesquisas para a resposta a esta pergunta obrigam à análise mais profunda, o que na realidade

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é o bem. Existem muitos valores espirituais e físicos que são convenientes e os quais devemos
aspirar. E quanto mais alto a pessoa erguer seu olhar para examinar o mais caro dentre eles,
tanto mais claro se torna para ela, que acima de tudo brilha como o sol o absolutamente único
incondicional e maior Bem — o Senhor Deus! É Dele que se originam todas outras virtudes.
Esta verdade se tornará ainda mais evidente se nós nos transportarmos mentalmente
àquele passado remoto, quando ainda não existia nada: nem espiritual (angelical), e nem nosso
mundo visível. Houve um tempo, se é que podemos assim nos expressar, quando não existia
nenhuma forma fundamental de existência, como o tempo e espaço sem os quais é impossível
se imaginar o mundo material. Até mesmo não existia o vazio (vácuo), pois isto faz presumir
espaço. (O vácuo, de acordo com os físicos contemporâneos — é uma condição vibratória
complicada, esponjada do espaço no qual partículas virtuais surgem e desaparecem. Existia
apenas um Ser onipotente, onipresente, incondicional, individual e sensato, a Quem nós
denominamos de Deus.
É claro que é possível imaginar por indução um tempo e um grande vazio infinitos, que
são parcialmente ocupados por mundos parecidos com o nosso. Entretanto falando com rigor,
o vazio infinito, e o tempo infinito — são construções intelectuais inexistentes necessárias para
a resolução de alguns problemas matemáticos e físicos. Na realidade tanto o tempo como o
vácuo — são criações de Deus: proporcionais, limitados e em comparação com Deus,
insignificantes na grandeza. Sòmente Ele é infinito e eterno, estando acima do conceito de
tempo e espaço.
Sendo o princípio de tudo, Deus, em Sua imensa bondade criou inicialmente um
mundo espiritual, povoando-o com seres imateriais inteligentes, os quais nós chamamos de
anjos. Depois disso criou o nosso mundo visível — com sua majestade, beleza e formas
variadas de vida. Finalmente, como uma corôa do mundo visível, Ele criou o homem,
enfeitando-o com algumas de Suas divinas qualidades: vontade livre e inclinação para a
perfeição moral. Como tudo recebeu sua existência do bondoso Criador, tudo leva sobre sí o
carimbo do bem, em maior ou menor escala. É preciso ter plena consciência de que a limitação
e a imperfeição de tudo que foi criado não é o mal (conforme alguns filósofos pensavam), pois
pela sábia organização do Criador na natureza, cada coisa, mesmo a menor partícula, cada ser
microscópico servem o bem total e se completam um ao outro. Assim, toda parte espiritual em
união com a parte física forma um imenso e harmonioso Reino de Bondade.
Enquanto a natureza sem alma é subordinada às leis da necessidadem e os animais são
inseridos de instinto, os anjos possuem a liberdade de escolha entre o errado, o bem e o mal. O
sentimento moral através da voz da consciência sugere qual é a melhor das ações possíveis e
qual a pior do ponto de vista moral; qual o bem mais elevado e qual o mais baixo. Estas duas
características — a liberdade da vontade e o senso moral — elevam os anjos e as pessoas
acima da natureza sem alma e do mundo animal, abrindo um caminho para o aperfeiçoamento
e para maior semelhança com o Criador.
Se cada coisa na natureza, até mesmo a mais insignificante, possue o seu desígneo,
emtão o propósito racinal e moral das criaturas: — anjos e pessoas, consiste na edificação e
fortalecimento do Reino do Bem, — nesta imensa obra de Deus. A natureza participa do
bem geral passivamente, e aqueles livres moralmente, participam ativamente. Isto é uma
grande honra, mas ao mesmo tempo é uma responsabilidade.
Na oração “Pai Nosso” o Senhor Jesus Cristo ensina que todos se direcionem para o
bem maior. As palavras da oração: “Santificado seja o Teu nome” expressam nosso desejo
para que por todas as partes e em todos lugares o nome de Deus seja glorificado. Mas isto se
consegue nem tanto através das louvações verbais a Deus, quanto através do fortalecimento e
expansão do Reino de Bondade Dele, para o qual Ele nos dignou a pertencermos. A súplica
seguinte da oração fala pròpriamente a este respeito mais detalhadamente “Venha a nós o Teu
Reino, seja feita a Tua vontade assim na terra como no Céu.”

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Assim como os planetas e asteróides circundando o sol nada acrescentando ao seu
brilho, também nós não podemos dar nada a Deus daquilo que Ele já não tenha. Ele apenas
quer que nós cada vez mais nos aperfeiçoemos e colaboremos para com o bem do próximo.
Fazendo o bem e o espalhando ao nosso redor, nós nos aprefeiçoamos e nos tornamos
colaboradores de Deus, participantes ativos na construção do Bem. A glória de Deus — é
aquele ponto focal ao qual nosso olhar espiritual deve ser direcionado, pois, tentando
direcionar tudo à glória de Deus, nós jamais iremos tropeçar. Assim como para o Senhor Jesus
Cristo; a meta de sua vinda ao mundo foi para glorificar o nome de Deus Pai (Joã. 7:18;17:1),
assim também Seus seguidores — os cristãos devem aprender a direcionar todos seus
pensamentos, desejos e ações para a glória de Deus. “Portanto, quer comais quer bebais ou
façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus,” instrue o apóstolo.
Deste modo ficando estabelecido que Deus é o Bem maior e absoluto e só Dele fluem
as correntes da luz e da vida, nós agora podemos colocar na perspectiva correta diversos
valores da vida. Cada pessoa deseja e ambiciona alguma coisa. Alguns valorizam acima de
tudo uma vida familiar feliz, outros a carreira, outros a riqueza e outros várias diversões. E
com esta sua benção real ou imaginária eles doam todo seu tempo e sua força, se esforçam, se
apressam, correm para algum lugar, como que estupidificados. Se acaso perdem algo ou
suportam unjustiças, então se magoam e brigam com os outros, chegando às vezes até o
crime. Eles não entendem que os objetivos prestigiosos e as preferências quotidianas — que
tanto os preocupam e para os quais eles expendem tanta energia, são realmente insignificantes
em comparação com as bençãos espirituais, as quais eles não notam e perdem inutilmente.
A consciência de que precisamente Deus e tão somente Ele é o maior e mais absoluto
Bem e fonte de todas as bençãos, ajuda as pessoas a se livrarem das perturbaçãoes da vida e a
vislumbrarem tudo o que sucede na luz verdadeira. A saúde — é bom e a riqueza não é
proibida. O sucesso nos negócios, uma família feliz, alegrias inocentes e outras bençãos na
vida, são enviados a nós para que possamos agradecer a Deus, aprender a imitar a Deus em
Sua bondade e amar ao próximo. Se Deus não manda algo para nós ou até mesmo tira algo de
nós, significa que assim é melhor: para Ele é mais visível aquilo que necessitamos. O mais
importante para todos nós é conhecer Deus e nos aproximarmos Dele, segundo —
proporcionalmente contribui para o reforço e a propagação do reino do Bem. Tirando diversos
bens temporários, o Senhor nos ensina a nos relacionarmos tranquilamente com isso como
algo pequeno e insignificante. É preciso não se esquecer de agradecer a Deus quando Ele nos
envia Sua misericórdia e a não lamentação quando nos é tirado algo. Pois se de acordo com a
palavra do Salvador, até nossos fios de cabelos são contados por Deus e acontecimentos mais
importantes em nossas vidas são dirigidos pela Sua misericordiosa mão direita. Quando nós
aprendermos a ver as coisas deste modo, então nos livraremos de muitas amarguras
excedentes e cada circunstância irá contribuir para o nosso bem estar e bem estar das pessoas
com as quais temos contacto.
Do lado oposto dos valores encontra-se a área do domínio moral do mal, a qual
começa de preferência da benção menor para a maior. Quando alguém compara sua própria
felicidade, seu bem estar com o bem estar do próximo ou se esforça para conseguir a
felicidade por conta do bem estar enviado por Deus, aí então ele parte para um caminho
perigoso. É lógico que erros isolados são inevitáveis, e nós aprendemos com eles, Porém,
quando esse tipo de atividade se torna norma da vida, quando a pessoa por princípio
contrapõe as bençãos menores às maiores, aí então essa pessoa parte para o caminho do mal.
Assim como não existe fim para a perfeição espiritual, também a queda moral não tem limites.
Quanto mais um ser moralmente livre se distancia da Benção maior, tanto mais ele empobrece,
pois, ele gasta a riqueza interior dada pelo Criador. O mal começa pela escolha consciente,
mas, quanto mais longe a pessoa ou o ser espiritual caminha para o lado do mal, mais fica
acorrentado. O mal escraviza qualquer um que o serve — esta é a natureza dele.

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Embora o mal absoluto, assim como o zero absoluto da tempratura, sejam inacessíveis,
repetidos atos imorais rebaixam a pessoa (igual aos anjos caídos de outrora) à sua própria
sorte de “buraco negro,” (objeto astronômico tão sólido que nada, nem mesmo a luz, pode
escapar de seu campo de gravidade). Aí se origina a seu modo a “materialização do mal.” O
“mistério da transgressão” consiste no fato de que os demônios e os pecadores obstinados
chegam a uma perversão tamanha, que começam a sentir prazer, fazendo o mal ou causando
dor aos outros. Simultaneamente com isto, a alienação extensiva de Deus vai aos poucos se
transformando em ódio ardente por Ele e por Seu reino do Bem.
Deste moso aquilo que começou parecendo como um desejo inocente por um prazer
pessoal ou sede de glória, se não parar em tempo, se degenera na preferência consciente do
mal e põe a perder todas as boas qualidades implantadas por Deus. A pessoa (ou anjo decaído)
quanto mais pecar, mais se torna estúpida, impulsiva, descontrolada, desordeira, desenfreada,
indomável em seu ódio. A maldade é igual à chama do inferno que o devora cada vez mais. O
ancião Zózimo fala no livro “Irmãos Karamazov”: (demônios) “insasiáveis pelos séculos dos
séculos, e rejeitam o perdão, e a Deus que os chama, eles amaldiçoam. Ao Deus vivo eles não
conseguem contemplar sem ódio e exigem para que Ele extermine a Sí próprio e tudo aquilo
que Ele criou. E eles irão queimar no fogo de sua fúria eternamente sedentos pela morte e
não-existência. Mas não receberão a morte.”

Conclusão.
Assim sendo, os sofrimentos são inevitáveis nesta vida temporária. Por um lado eles — são a
consequência de nossos pecados pessoais, corrupção moral dos outros e a imperfeição geral
deste mundo temporário. Por outro lado, nas mãos da sábia providência de Deus as aflições se
tornam armas da consciência e correção. Os dois bandidos crucificados junto com Cristo
personificam duas catergorias de pessoas. Todas as pessoas são pecadoras e todas sofrem em
maior ou menor escala. Mas algumas pessoas semelhantes ao bandido que se lamentava,
crucificado à esquerda de Cristo, quanto mais sofrem, mais se enfurecem e as aflições não lhe
trazem nenhum benefício. Outras, semelhantes ao bandido prudente, reconhecem que
mereceram castigo e humildemente pedem perdão e ajuda a Deus. Diante disto suas aflições
quotidianas lhes são imputadas como sofrimento pelo Senhor, e sua cruz pessoal transforma-
se na Cruz de Cristo. Isto serve para sua renovação espiritual e salvação.
Tal é a lei espiritual, que não apenas aceita pacientemente os sofrimentos, mas também
todo esforço em geral, toda provação voluntária, toda renúncia, sacrifício — se transformam
em riqueza dentro de nós. Em paradoxo, mas realmente assim: quanto mais perdemos
externamente, mais ganhamos internamente. Eis porque “é difícil os ricos entrarem no Reino
do Céu” — pois dentro deles não acontece essa substituição para as bençãos celestiais e
incorruptíveis. As almas valentes procuram instintivamtne façanhas e se fortalecem na
renúncia. Isto já era percebido pelos antigos filósofos.
É preciso saber fazer uso das alegrias. Elas, assim como a riqueza ou a glória,
enfraquecem e fazem a pessoa ser presunçosa, frívola e arrogante. Além disso as aflições e
alegrias — são condições puramente subjetivas. O justo sofre, quando vê a perdição dos
pecadores, enquanto que os pecadores se alegram, recebendo o prazer. O ateu se aflige, vendo
o sucesso da fé, e o justo se alegra com isto. Bem aventurados nós, se sofremos pelos mesmos
motivos que o Senhor sofreu, nosso Jesus Cristo, Seus apóstolos e santos, pois também nos
tornaremos participantes da alegria deles.
Existem sofrimentos, os quais podem ser chamados de agitados e supérfluos, que
surgem pela falta de fé e pelas idéias erradas. Às vezes a pessoa sozinha inventa medos e
tumultos emocionais e vive frustrado até mesmo diante de circunstências favoráveis.

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É necessário colocar tudo na vida em seu devido lugar, aprender a distinguir
nitidamente o principal do secundário, o fundamental do menos valioso. Para isto é
indispensável entender e sentir que Deus é o Bem Supremo e fonte de todas as Bençãos.
Existe também a grande felicidade. É a felicidade no Senhor, nos apótolos e santos.
Esta não é uma felicidade do mundo. A felicidade mundana começa com prazer e termina com
aflições, enquanto que a felicidade dos santos começa com aflições e termina em prazer. Os
apóstolos e os mártires foram flagelados e se alegravam no Senhor; foram encarcerados e
agradeciam; eram apedrejados e pregavam. Aquele que se alegra com as coisas mundanas não
pode se alegrar em Deus.
Felicidade terrestre: amor, família, juventude, saúde, deleite da vida e da natureza —
isto também “é bom”e não precisamos pensar que o Senhor julga as pessoas por isso. Apenas
é ruim tornar-se escravo dos próprios prazeres, menosprezando as bençãos espirituais
maiores. O sofrimento, do ponto de vista do desenvolvimento interior, não tem valor por sí
mesmo, mas apenas pelos seu resultados. Perdendo a felicidade terrestra, a pessoa fica face a
face com valores maiores, começa a olhar para sí e para a vida temporária com outros olhos e
se volta para Deus. A consequência disto é que a felicidade está conectada com a lembrança
perpétua de Deus, não excluindo uma vida espiritual intensa — é o bem implícito. De maneira
similar, o sofrimento, se ele irrita ou humilha a pessoa, não transformando-a e não
fortalecendo uma reação benéfica, — é o mal puro.
É bom para nós, se conseguirmos nos livrar em tempo dos largos caminhos deste
mundo e se nem as alegrias da vida, nem as riquezas, nem a sorte não preencham nosso
coração e não o afastem do principal. Em caso contrário o Senhor em Sua ira destruirá nossos
ídolos: a riqueza, o conforto, a carreira, a saúde, a sede pela felicidade terrestre — para que
possamos compreender, finalmente, que tudo isso é nada.

A oração do angustiante (Salmo 142)


Senhor, ouve a minha oração. Dá atenção às minhas súplicas, pois Tu és justo e fiel em tudo
quanto prometes. Não me peças contas; porque perante Ti ninguém pode considerar-se justo!
Os meus inimigos perseguiram-me, abateram-me até ao chão. Fazem-me viver como se fosse
em trevas profundas, como se estivesse com os que já deixaram a vida... Por isso estou tão
angustiado; estou como que afogado em desespero! Mas lembro-me de tudo quanto fizeste
nos tempos passados. Reflito nas Tuas obras, em todo o Teu poder, e por isso estendo-Te as
mãos. A minha alma tem sede de Ti, como uma terra sedenta! Ouve-me depressa, Senhor! O
meu espírito desfalece. Não Te desvies de mim para que não venha a ficar como os que
descem à cova. Permite-me que logo de manhãzinha verifique a Tua bondade, pois confio em
Ti.
Ensina-me o caminho que devo seguir, pois a Ti dirijo a minha oração. Livra-me,
Senhor, dos meus inimigos, pois és o meu único refúgio! Ensina-me a fazer a Tua vontade,
pois és o meu Deus. Que o Teu bom Espírito me guie por um caminho liso. Dá-me uma vida
nova, e honrarei o Teu nome. A Tua justiça sairá dignificada por me tirares da angústia. No
Teu infalível amor para comigo, extermine os meus inimigos, e que sejam destruídos os meus
adversários. Pois a minha vida está ao Teu serviço!

Folheto Missionário número P51


Copyright © 2003 Holy Trinity Orthodox Mission
466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011
Redator: Bispo Alexandre Mileant

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(afflictions_in_our_lives_p.doc, 03-20-2003)

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