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Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de
História da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP,
2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7)
Este artigo tem por objetivo desenvolver uma discussão acerca da importância
da aproximação de duas escolas historiográficas para o estudo da história intelectual e
da história do pensamento político: o contextualismo lingüístico da escola de
Cambridge1 e a história dos conceitos de origem alemã2. Não tem por intenção
apresentar uma discussão geral acerca das características teóricas e metodológicas
destas duas escolas3, mas intenciona delimitar a operacionalidade de certos aspectos
metodológicos presentes nestas correntes teóricas para um estudo de caso, inserido na
história do pensamento político latino-americano: a análise do ideário político e
pedagógico do Cubano José Martí quanto às propostas para um projeto americanista de
educação popular. Desta forma serão tratados os conceitos e abordagens que permitem
operacionalizar esta pesquisa de dissertação de mestrado.
Os principais formuladores da escola do contextualismo lingüístico são os
historiadores Quentin Skinner e John Pocock. Desde meados da década de 60, as
inovações desta abordagem estão relacionadas a chamada “virada lingüística”,
provocando uma virada “historicista”4 nos estudos sobre história do pensamento
político. Para os propósitos desta pesquisa serão abordados os conceitos de contexto,
atos de fala e intencionalidade autoral em dialogo com as propostas de Quentin Skinner,
mas principalmente, a abordagem de John Pocock acerca dos conceitos de linguagem,
lance e vocabulário político. Antecipo que esta pesquisa pretende realizar um diálogo
mais específico com as propostas de Pocock, entendendo que elas possuem certas
∗
Mestrando em História Social pelo PPGHIS-UFRJ.
1
Centrando o debate nas perspectivas de seus dois principais representantes, os historiadores Quentin
Skinner e John Pocock.
2
Em um dialogo com o historiador Heinhart Koselleck.
3
Para uma apresentação do debate geral entre estas duas correntes ver: “Feres J.J e Jasmim, Marcelo
Gantus. História dos Conceitos: Debates e Perspectivas. RJ: ED. PUC. 2006”.
4
A proposta básica destes historiadores está no estudo das idéias em contexto, no qual o historiador deve
investigar a linguagem dos atores da época, para interpretar os possíveis significados dos discursos, sem
transferir para o passado as preocupações políticas presentistas do historiador. A possibilidade ou não
desta tarefa gerou debates e críticas entre diversos autores, ver: “História dos conceitos. Dois momentos
de um encontro intelectual. In: Feres J.J e Jasmim, Marcelo Gantus. História dos Conceitos: Debates e
Perspectivas. RJ: ED. PUC. 2006”, e também: “Feres J.J. De Cambridge para o mundo, Historicamente:
revendo a contribuição metodológica de Quentin Skinner”.
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Camila Aparecida Braga Oliveira; Helena Miranda Mollo; Virgínia Albuquerque de
Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de
História da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP,
2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7)
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Ver: Richter, Melvin. The history of political and social concepts. Oxford University Press. New York.
1995.
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Ver: “Feres J.J. De Cambridge para o mundo, Historicamente: revendo a contribuição metodológica de
Quentin Skinner”.
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Camila Aparecida Braga Oliveira; Helena Miranda Mollo; Virgínia Albuquerque de
Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de
História da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP,
2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7)
preocupações com a trajetória, dentre outras, permitiriam este resgate das intenções
originais por parte do historiador. Este foco central no resgate de intenções autorais foi
sendo relativizado pelo próprio Skinner. O texto “Meaning and Understanding in the
History of Ideas”, de 1969, coloca o resgate das intenções efetuadas nos discursos
enquanto uma tarefa central, mas já em 1974 no texto “Some problems in analysis of
political thought in action” 7, ele afirma que esta seria uma dentre suas preocupações,
relativizando a centralidade desta questão. De qualquer maneira, a noção de
intencionalidade autoral perpassa de forma geral a obra de Skinner enquanto um
conceito central de sua elaboração teórica8.
È identificado neste ponto, uma diferença entre Skinner e Pocock, na medida em
que aproximação desta pesquisa com a escola do contextualismo lingüístico se dá,
sobretudo, pelo trabalho de Pocock com o conceito de linguagem: “o conceito central
que orienta o labor meta-teórico de Pocock é ‘linguagem’ e não intencionalidade
autoral” (FERES; GANTUS, 2006: 20). Por conta desta questão faremos aqui um
diálogo com os artigos de Pocock publicados no Brasil em 2003 sob o título de
Linguagens do Ideário Político, por conta da revisão historiográfica contida nestes
artigos acerca da proposta do contextualismo lingüístico. Ao definir “o estado das artes”
(POCOCK, 2003: 23), de como os historiadores têm elaborado a história do discurso
político sob a influência de propostas da filosofia da linguagem, Pocock ressalta o
estudo
O estudo das idéias de um autor, no caso desta pesquisa, as idéias de José Martí,
não poderia começar com uma abordagem direta do que o autor escreveu para buscar
atribuir o significado dos discursos produzidos. O estudo das linguagens socialmente
constituídas e nas quais os discursos são produzidos seria a tarefa primordial do
7
Ver: “História dos conceitos. Dois momentos de um encontro intelectual. In: Feres J.J e Jasmim,
Marcelo Gantus. História dos Conceitos: Debates e Perspectivas. RJ: ED. PUC. 2006”,
8
Ver: “Feres J.J. De Cambridge para o mundo, Historicamente: revendo a contribuição metodológica de
Quentin Skinner”.
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Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de
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Uma ‘linguagem’ no nosso sentido específico é então, não apenas uma maneira
de falar prescrita, mas também um termo de discussão prescrito para o discurso
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História da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP,
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A expressão sugere jogo e manobra tática, e nossa compreensão ‘do que ele (o
autor) 9 estava fazendo’ quando executou seu lance depende, portanto, em
9
Adição nossa.
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Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de
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Referências a noção de campo semântico relacionada a questão do vocabulário político, foram
anteriormente já feitas tendo como pressuposto a aproximação teórica aqui referida.
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Referências Bibliográficas
FERES J.J; JASMIM, Marcelo Gantus. História dos Conceitos: Debates e
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2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7)
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