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Camila Aparecida Braga Oliveira; Helena Miranda Mollo; Virgínia Albuquerque de

Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de
História da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP,
2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7)

HISTÓRIA INTELECTUAL E HISTORIA DOS CONCEITOS:


POSSÍVEIS ABORDAGENS PARA A HISTORIOGRAFIA DA AMÉRICA LATINA
Lucas Machado dos Santos∗

Este artigo tem por objetivo desenvolver uma discussão acerca da importância
da aproximação de duas escolas historiográficas para o estudo da história intelectual e
da história do pensamento político: o contextualismo lingüístico da escola de
Cambridge1 e a história dos conceitos de origem alemã2. Não tem por intenção
apresentar uma discussão geral acerca das características teóricas e metodológicas
destas duas escolas3, mas intenciona delimitar a operacionalidade de certos aspectos
metodológicos presentes nestas correntes teóricas para um estudo de caso, inserido na
história do pensamento político latino-americano: a análise do ideário político e
pedagógico do Cubano José Martí quanto às propostas para um projeto americanista de
educação popular. Desta forma serão tratados os conceitos e abordagens que permitem
operacionalizar esta pesquisa de dissertação de mestrado.
Os principais formuladores da escola do contextualismo lingüístico são os
historiadores Quentin Skinner e John Pocock. Desde meados da década de 60, as
inovações desta abordagem estão relacionadas a chamada “virada lingüística”,
provocando uma virada “historicista”4 nos estudos sobre história do pensamento
político. Para os propósitos desta pesquisa serão abordados os conceitos de contexto,
atos de fala e intencionalidade autoral em dialogo com as propostas de Quentin Skinner,
mas principalmente, a abordagem de John Pocock acerca dos conceitos de linguagem,
lance e vocabulário político. Antecipo que esta pesquisa pretende realizar um diálogo
mais específico com as propostas de Pocock, entendendo que elas possuem certas


Mestrando em História Social pelo PPGHIS-UFRJ.
1
Centrando o debate nas perspectivas de seus dois principais representantes, os historiadores Quentin
Skinner e John Pocock.
2
Em um dialogo com o historiador Heinhart Koselleck.
3
Para uma apresentação do debate geral entre estas duas correntes ver: “Feres J.J e Jasmim, Marcelo
Gantus. História dos Conceitos: Debates e Perspectivas. RJ: ED. PUC. 2006”.
4
A proposta básica destes historiadores está no estudo das idéias em contexto, no qual o historiador deve
investigar a linguagem dos atores da época, para interpretar os possíveis significados dos discursos, sem
transferir para o passado as preocupações políticas presentistas do historiador. A possibilidade ou não
desta tarefa gerou debates e críticas entre diversos autores, ver: “História dos conceitos. Dois momentos
de um encontro intelectual. In: Feres J.J e Jasmim, Marcelo Gantus. História dos Conceitos: Debates e
Perspectivas. RJ: ED. PUC. 2006”, e também: “Feres J.J. De Cambridge para o mundo, Historicamente:
revendo a contribuição metodológica de Quentin Skinner”.

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Camila Aparecida Braga Oliveira; Helena Miranda Mollo; Virgínia Albuquerque de
Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de
História da Historiografia: biografia & história intelectual. Ouro Preto: EdUFOP,
2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7)

nuances distintas da proposta metodológica de Skinner, apesar dos diversos pontos de


contato entre as metodologias propostas pelos dois autores.
A possibilidade de pontos de contato entre as perspectivas metodológicas de
Pocock com a do historiador alemão Heinhart Koselleck, principal formulador da escola
da história dos conceitos, tem sido apontada por diversos historiadores de diferentes
países, destacando-se, Melvin Richter5. Entendendo que as formulações de Koselleck
têm diversos e diferentes aspectos relacionados a temas distintos, especificamente, é
proposta aqui a possibilidade de diálogo da preocupação de Pocock com a
reconstituição do vocabulário político de um contexto de debates, com a contribuição de
Koselleck acerca da semântica histórica dos conceitos, no sentido da investigação dos
conceitos básicos que formam o campo semântico de um debate político. A
identificação do campo semântico dos conceitos permite poder distinguir sobre quais
são as possibilidades de significado do uso de um conceito em determinado contexto
histórico e lingüístico. Portanto a discussão acerca da semântica histórica será
relacionada com a tarefa de resgatar os conceitos básicos de determinado contexto
lingüístico, para a melhor compreensão dos atos de fala proferidos por diferentes atores
relacionados a determinado tema ou debate investigado.
O apelo aos estudos das idéias em contexto, reivindicação maior de Skinner, se
relaciona com a proposta de evitar anacronismos na interpretação dos textos políticos,
que aconteceria quando o historiador transfere o horizonte de preocupações do presente
para o passado investigado. A preocupação com a elaboração de uma metodologia
propriamente histórica dos estudos do pensamento político é uma questão central para
Pocock e Skinner. Porém as proposições das formas de relacionar texto e contexto
mudam em certos aspectos, desde as proposições iniciais elaboradas na década de 60, e
também ganham contornos distintos nesses dois autores. Segundo João Feres6, outro
aspecto central das preocupações de Skinner está na questão da intencionalidade autoral,
ou na possibilidade de verificar e distinguir as intenções efetuadas, daquelas não
efetuadas nos discursos. Como foi tratada acima, a recomendação do historiador se ater
ao horizonte de preocupações políticas da época dos atores históricos investigados,

5
Ver: Richter, Melvin. The history of political and social concepts. Oxford University Press. New York.
1995.
6
Ver: “Feres J.J. De Cambridge para o mundo, Historicamente: revendo a contribuição metodológica de
Quentin Skinner”.

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Camila Aparecida Braga Oliveira; Helena Miranda Mollo; Virgínia Albuquerque de
Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de
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preocupações com a trajetória, dentre outras, permitiriam este resgate das intenções
originais por parte do historiador. Este foco central no resgate de intenções autorais foi
sendo relativizado pelo próprio Skinner. O texto “Meaning and Understanding in the
History of Ideas”, de 1969, coloca o resgate das intenções efetuadas nos discursos
enquanto uma tarefa central, mas já em 1974 no texto “Some problems in analysis of
political thought in action” 7, ele afirma que esta seria uma dentre suas preocupações,
relativizando a centralidade desta questão. De qualquer maneira, a noção de
intencionalidade autoral perpassa de forma geral a obra de Skinner enquanto um
conceito central de sua elaboração teórica8.
È identificado neste ponto, uma diferença entre Skinner e Pocock, na medida em
que aproximação desta pesquisa com a escola do contextualismo lingüístico se dá,
sobretudo, pelo trabalho de Pocock com o conceito de linguagem: “o conceito central
que orienta o labor meta-teórico de Pocock é ‘linguagem’ e não intencionalidade
autoral” (FERES; GANTUS, 2006: 20). Por conta desta questão faremos aqui um
diálogo com os artigos de Pocock publicados no Brasil em 2003 sob o título de
Linguagens do Ideário Político, por conta da revisão historiográfica contida nestes
artigos acerca da proposta do contextualismo lingüístico. Ao definir “o estado das artes”
(POCOCK, 2003: 23), de como os historiadores têm elaborado a história do discurso
político sob a influência de propostas da filosofia da linguagem, Pocock ressalta o
estudo

sobre a variedade de linguagens em que o debate político pode-se desdobrar


(...); e segundo, sobre os participantes do debate político, visto como atores
históricos, reagindo uns aos outros em uma diversidade de contextos
lingüísticos e por outros contextos históricos e políticos que conferem uma
textura extremamente rica à história, que pode ser resgatada de seus debates.
(POCOCK, 2003: 37)

O estudo das idéias de um autor, no caso desta pesquisa, as idéias de José Martí,
não poderia começar com uma abordagem direta do que o autor escreveu para buscar
atribuir o significado dos discursos produzidos. O estudo das linguagens socialmente
constituídas e nas quais os discursos são produzidos seria a tarefa primordial do

7
Ver: “História dos conceitos. Dois momentos de um encontro intelectual. In: Feres J.J e Jasmim,
Marcelo Gantus. História dos Conceitos: Debates e Perspectivas. RJ: ED. PUC. 2006”,
8
Ver: “Feres J.J. De Cambridge para o mundo, Historicamente: revendo a contribuição metodológica de
Quentin Skinner”.

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Castro Buarque (orgs). Caderno de resumos & Anais do 5º. Seminário Nacional de
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historiador. Desta forma, o contexto lingüístico pode ser investigado ao se estudar os


diversos atores políticos de um debate que definem o contorno das pautas discutidas e
dos significados possíveis dos termos e conceitos, que servem de meio para expressar
diferentes propostas e intenções. O contexto lingüístico é, portanto, por característica,
ambivalente, na medida em que permitem diferentes atores se apropriarem das
convenções lingüísticas vigentes para atribuir aos seus atos de fala particulares,
diferentes significados. O historiador deve, portanto:

levar adiante suas investigações, simultaneamente em duas direções, na dos


contextos em que a linguagem foi enunciada e nas dos atos de fala e enunciação
efetuadas no e sobre o contexto oferecido pela própria linguagem e outros
contextos na qual ela se situa. (POCOCK, 2003: 35)

Essa observação acerca do dialogo em duas direções é importante na medida em


que interpretar o discurso de um autor relacionando-o com o contexto lingüístico e as
convenções vigentes em torno de um debate, não significa aprisioná-lo ao contexto, mas
verificar a possibilidade de um autor estar inovando sobre o contexto lingüístico, de
forma a alterá-lo através das mudanças de significação relacionadas com seus atos de
fala. Porém, antes de continuar nesta direção é importante situar em que sentido é
tratado aqui, os idiomas e as linguagens.
O conceito de linguagem é usado por Pocock, não no sentido étnico de
linguagem, mas como sub-idiomas dentro de uma língua vernácula, em que em que
esses idiomas significam linguagens restritas á atividades específicas, “retóricas,
vocabulários especializados e gramáticas, modos de discursar ou falar sobre a política
que foram criados e difundidos e muito mais importante, empregados no discurso
político” (POCOCK, 2005: 65). Ou também a linguagem pode ser considerada como
um contexto de um modo de discurso institucionalizado, como em uma profissão ou em
uma instituição religiosa ou política.
Para Pocock, “a linguagem, no sentido em que estamos usando o termo, é a
chave do historiador tanto para o ato de fala quanto para o contexto” (POCOCK, 2006:
35). O enfoque no estudo das linguagens permite a observação do contexto e a
interpretação dos atos de fala e seus sentidos argumentativos:

Uma ‘linguagem’ no nosso sentido específico é então, não apenas uma maneira
de falar prescrita, mas também um termo de discussão prescrito para o discurso

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político, social ou histórico no interior da qual a própria linguagem se situa.


Contudo, neste mesmo ponto somos obrigados a reconhecer que cada
linguagem, em certa medida, seleciona e prescreve o contexto dentro do qual
ela deverá ser reconhecida. (POCOCK, 2006: 37)

Considerando as linguagens e seu contexto pode-se entender o como novas


experiências e conflitos políticos permitem a produção de inovações e mudanças “no
discurso da linguagem sob estudo” (POCOCK, 2006: 37). Portanto, considerando a
linguagem como questão central para a compreensão dos contextos e dos atos de fala,
pode-se buscar os “meios para compreender como um ato de fala é efetuado num
determinado contexto lingüístico e, em particular, como atua e inova sobre ele”
(POCOCK, 2006: 39).

O historiador deve mover-se da ‘langue’ para ‘parole’, do aprender as


linguagens para determinar os atos de enunciação que foram efetuados ‘dentro’
delas. Depois do quê, ele começará a pesquisar em busca dos efeitos destes atos,
geralmente com relação às circunstancias e ao comportamento de outros agentes
que usaram ou estavam dispostos ao uso destas linguagens, e mais
especificamente ‘sobre’ as linguagens ‘dentro’ das quais esses atos foram
efetuados. (POCOCK, 2005: 66)

Considerando os contextos de linguagens e suas características, o historiador


pode interpretar o sentido do uso das palavras enquanto atos de enunciação de forma á
historicisar o discurso político e atribuir á interpretação das idéias, um caráter históricos
ao situá-las em seus contextos, demonstrando como as idéias por sua vez, podem alterá-
los.
Isso nos leva á importância do conceito de lance, como forma de identificar por
parte de um autor, se ele está usando uma linguagem convencional em relação ao
contexto, de um modo não convencional. Este uso não convencional da linguagem pode
alterar o contexto lingüístico de forma direta ou indireta. Outra possibilidade é a
existência de uma reflexão crítica por parte de um autor acerca da linguagem de sua
época, em uma intenção explícita de alterá-la. Nesta segunda possibilidade, o
historiador pode verificar a existência da criação de uma nova linguagem, ou sub-
linguagem. Quanto ao conceito de lance:

A expressão sugere jogo e manobra tática, e nossa compreensão ‘do que ele (o
autor) 9 estava fazendo’ quando executou seu lance depende, portanto, em

9
Adição nossa.

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grande parte, de nossa compreensão da situação prática na qual ele se


encontrava, do argumento que ele desejava defender, da ação ou norma que ele
desejava legitimar ou invalidar (...). (POCOCK, 2003: 39)

Ou seja, recolhendo uma quantidade suficiente de documentos e referências, o


historiador pode elaborar uma hipótese, acerca do como um autor se utiliza de um
conceito determinado em sentido convencional previamente estabelecido, de forma não
convencional, em referência ao contexto lingüístico. O uso da linguagem em sentido
não convencional carrega a potencialidade de subverter o uso e o campo semântico dos
significados possíveis de um conceito, para além de suas possibilidades convencionais.
Existe também, como foi mencionada, a segunda possibilidade, a de que uma
linguagem nova esteja sendo criada. Nestes casos, muitas vezes percebemos o encontro
entre o filósofo, o teórico e o político. O uso de técnicas sofisticadas de retórica e
metafísica não exclui a potencialidade de intervenção política de um texto. É neste
sentido que “o historiador do discurso deve ver a filosofia e a ação, mais como
coexistentes do que como coisas separáveis: Hobbes ou Locke tanto como filósofos
quanto como panfletistas” (POCOCK, 2003: 39). A maneira como um autor comenta a
linguagem de sua época e reivindica um modo de como ela deva ser utilizada, não é
apenas um debate de cunho filosófico desinteressado, mas faz parte de estratégias que
explicitam intenções políticas e concepções culturais. Deste modo o historiador pode
verificar se os atos de fala de um autor se utilizam das convenções estabelecidas de
forma a contribuir com a sua transformação (junto às intervenções de outros atores), ou
se ele faz parte da reivindicação pela mudança consciente do uso da linguagem política,
com a criação de novas linguagens, com termos novos inventados ou termos re-
significados. È neste ponto que faremos uma relação com a proposta metodológica de
Pocock com a semântica histórica de Koselleck.
Pocock elabora mais sobre a questão das linguagens e idiomas, do que
propriamente dito, a reflexão teórica sobre conceitos. Entendendo que a reflexão de
Koselleck pode dar contribuição substancial para esta proposta metodológica,
buscaremos relacionar a questão apontada por João Feres e Marcelo Gantus, de que
Pocock usa “a expressão ‘vocabulário político’ para se referir aos vocabulários que são
identificáveis em um dado período histórico e numa determinada sociedade” (FERES;
GANTUS, 2006: 26), com a investigação acerca da pluralidade semântica dos

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conceitos10. Identificar o vocabulário político para entender os atos de fala proferidos


nos contextos lingüísticos, exige uma compreensão dos conceitos básicos que formam
este vocabulário.
A perspectiva de Koselleck aponta para a necessidade de se pensar em conjunto,
a relação entre linguagem, conceitos e experiência. Os conceitos fundamentais de um
vocabulário político não apenas transmitem experiências, mas as constituem, de forma a
que as mudanças na linguagem política apontam conflito e mudanças sociais, tanto
quanto fazem parte delas. Essa relação entre linguagem e experiência é central na
metodologia proposta por Koselleck. Neste sentido ele propõe que “uma análise
histórica dos respectivos conceitos deve remeter não só a história da língua, mas
também as dados da história social, pois toda a semântica se relaciona a conteúdos que
ultrapassam a dimensão lingüística” (KOSELLECK, 2006: 103). Desta forma, “o
interesse pelo emprego de conceitos políticos e sociais e a análise de suas significações
ganham, portanto, uma importância de caráter social e histórico” (KOSELLECK, 2006:
101). A batalha semântica pela definição dos conceitos integra o conjunto das lutas
políticas. Cabe agora uma breve exposição da diferença entre palavras comuns e
conceitos.
Um conceito, ao contrario de uma palavra comum, expressa uma polissemia de
significados associado ao “contexto falado e a situação social” (KOSELLECK, 2006:
109), diferentemente das palavras comuns em que o aspecto de significado e de
significante pode ser pensado separadamente (dentro da tríade significado-significante-
objeto). È neste sentido que Koselleck adverte que “os conceitos são, portanto,
vocábulos nos quais se concentra uma multiplicidade de significados” (KOSELLECK,
2006: 109). No caso dos conceitos políticos, as circunstancias políticas e lingüísticas se
agregam ao significante, de maneira que um conceito pode expressar uma pluralidade
semântica de significados possíveis de serem determinados historicamente. “Uma
palavra se torna um conceito se a totalidade das circunstancias político-sociais e
empíricas, nas quais e para as quais essa palavra é usada, se agrega a ela”
(KOSELLECK, 2006: 109).
A polissemia dos conceitos por sua vez, tem na multiplicidade cronológica, seu

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Referências a noção de campo semântico relacionada a questão do vocabulário político, foram
anteriormente já feitas tendo como pressuposto a aproximação teórica aqui referida.

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aspecto fundamental. Na medida em que um conceito denota uma totalidade de


significado, ele aponta para o passado, no sentido do espaço de experiências, e para o
futuro projetando um horizonte de expectativas. Um conceito pode abarcar, portanto,
diversas camadas temporais:

ao longo da investigação da história de um conceito, tornou-se possível


investigar também o espaço de experiência e o horizonte de expectativa
associados a um determinado período, ao mesmo tempo em que se investigava
também a função política e social desse mesmo conceito. Em uma palavra, a
precisão metodológica da história dos conceitos foi uma decorrência direta da
possibilidade de se tratar conjuntamente espaço e tempo, com a perspectiva
sincrônica de análise. (KOSELLECK, 2006: 104)

Através do dialogo entre conceito e experiência, o vocabulário político de uma


época pode ser compreendido em seus conceitos fundamentais e relacionado ao campo
das experiências vividas. Na medida em que o discurso político não se esgota em sua
temporalidade, ao momento da ação imediata, conceber o discurso político enquanto
ação, não esgota a pluralidade semântica e temporal de suas camadas de significado.
Esta pode ser uma importante contribuição para a teoria dos atos de fala. A experiência
política do presente transmite uma experiência do passado e projeta expectativas em
relação ao futuro, abrindo possibilidades para se entender o discurso político e a
linguagem, enquanto ações que interferem no curso das batalhas pela definição do
futuro, na medida em que os discursos apontam para o porvir em diferentes intenções.
Um mesmo discurso pode, portanto, conter diferentes camadas temporais na relação
entre presente, passado e futuro.
Temos que destacar, porém, que a Historia dos Conceitos, partindo desta
perspectiva sincrônica de relacionar a linguagem política de uma época aos contextos
sociais e lingüísticos, não se limita a esta tarefa:

Em uma segunda etapa da investigação os conceitos são separados de seu


contexto situacional e seus significados lexicais investigados ao longo de uma
seqüência temporal, para serem ordenados uns em relação aos outros, de modo
que as análises históricas de cada conceito isolado agregam-se a uma história do
conceito. (KOSELLECK, 2006: 105)

Deste modo a metodologia da história dos conceitos permite uma análise


sincrônica dos conceitos relacionados a determinados contextos, mas também a análise
diacrônica da mudança dos extratos de significados de um conceito na escala da longa

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duração. Em alguns casos, trata da mudança de um conceito em termos de séculos, em


outros até de milênios, isolando os contextos específicos não quais os conceitos são
efetivamente articulados na linguagem.
Esta questão foi explicitada na medida em que, para os fins da delimitação desta
pesquisa, o diálogo com a perspectiva do Koselleck se dá apenas em um nível
propriamente sincrônico, o de buscar compreender quais os conceitos centrais e o
campo semântico dos conceitos envolvidos nos debates acerca da questão da formação
das nações e a educação popular na América Latina, durante a segunda metade do
século XIX. Esta investigação faz parte da tentativa de uma descrição densa do contexto
intelectual no qual José Martí executou seus atos de fala.
Por conta das limitações de formato deste artigo, não é possível fazer um
apresentação geral das hipóteses desta pesquisa, mas é importante apontar que a
possibilidade de verificar a realização de “lances” por parte de José Martí em relação ao
debate sobre formação da nação e educação popular, só pode ser verificado através de
uma observação do contexto, que permita uma comparação das idéias deste autor em
relação ao modo como a linguagem política era convencionalmente utilizada. Isto
remete a necessidade de compreensão do vocabulário político da época e seus conceitos.
Foi buscado aqui, uma aproximação do contextualismo lingüísticos e os
conceitos de linguagem, lance e ato de fala, com a contribuição da história dos conceitos
acerca da semântica histórica dos conceitos. Esta relação permite uma abordagem mais
sofisticada acerca da pluralidade semântica e temporal do discurso político em suas
distintas camadas de linguagem e significado. A observação sincrônica de um contexto
de debates em comparação a diferentes atos de fala, realizados dentro destes contextos,
permite a elaboração de hipóteses acerca dos diferentes lances que alteram a linguagem
correntemente utilizada. Como vimos os lances podem consistir na criação de novas
linguagens, de forma a atribuir novos ou diferentes significados á experiência das
batalhas políticas em curso, potencialmente, também, intervindo nos rumos das lutas
políticas ao mudarem a forma como os diferentes projetos são elaborados e executados.

Referências Bibliográficas
FERES J.J; JASMIM, Marcelo Gantus. História dos Conceitos: Debates e

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2011.(ISBN: 978-85-288-0275-7)

Perspectivas. RJ: ED. PUC. 2006.


FERES J.J. De Cambridge para o mundo, Historicamente: revendo a contribuição
metodológica de Quentin Skinner. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/dados/v48n3/a07v48n3.pdf>.
KOSELLECK, HEINHART. Futuro Passado. Contribuição á Semântica dos Tempos
Históricos. RJ: Contraponto: Ed. PUC-RJ, 2006.
RICHTER, Melvin. The history of political and social concepts. Vol.1. Regarding
Method. New York: Oxford University Press. 1995.
POCOCK, John. Linguagens do Ideário Político. SP: Ed. USP, 2003.
SKINNER, Quentin. As Fundações do Pensamento Político Moderno. SP:
Companhia das Letras, 1996.
SKINNER, Quentin. Visions of Politics. Cambridge: Cambridge University Press.
2002.
SKINNER, Quentin. Meaning and Understanding in the History of Ideas. History
and Theory, Vol .8 No.1. (1969). Pp. 3-53. Disponível em:
<http://links.jstor.org>.

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