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Este texto está baseado

no estágio da autora em
BONNEUIL:
Bonneuil, que faz uma leitu-
ra atual do lugar que os
adultos ocupam no trabalho ESCOLA
institucional com crianças
autistas e psicóticas.
Propõe-se que o lugar dos
adultos é o de educador,
OU
ofertando significantes e ,
colocando-se à disposição
para a identificação; não o
educador da pedagogia em
TRATAMENTO?
busca de seus ideais, mas
um educador que se
oferece para a relação com
estas crianças como sujeito
dividido, castrado, atravessa-
do pela psicanálise, com
R e n ata 1 e t r i
uma escuta analítica que,
através de suas inter-
venções, pode favorecer
mudanças subjetivas nas
crianças.
Bonneuil; escola;
tratamento..

J Lv? inegável o fato de a École Expérimentale de


IBONNEUIL: Bonneuil-sur-Marne ser considerada, para nós, como uma
SCHOOL referência no que diz respeito ao tratamento e escolariza-
OR THERAPY?
ção de crianças autistas e psicóticas. Isto pode ser nota-
This article is a report
of the author experience as do tanto no número de estagiários brasileiros que passam
a trainee at Bonneuil. It por lá todos os anos, quanto na influência da criação, em
analyses the role of adults São Paulo, da Pré-Escola Terapêutica Lugar de Vida, que
on the institutional work muito se inspirou em Bonneuil e hoje é considerada uma
with autistic and psychotic
children. According to the instituição de ponta nesse campo de pesquisa.
author, those adults work Eu fiz meu estágio há quatro anos e atualmente faço
as educators. They would parte da equipe do Lugar de Vida. Existe um tema que
offer signifiants to the chil- tem sido alvo dos meus estudos neste momento, e que
dren and be available for
identification with them. posso localizar num interesse que teve sua origem naque-
They wouldn't be the edu- la experiência. A maneira como vou abordar aqui este
cators of pedagogy, that assunto é uma leitura que faço atualmente desta experi-
pursue an ideal, but edu- ência, já tendo conhecido outros trabalhos, e por isso é
cators that present them-
uma leitura pessoal que não está necessariamente de
selves as divided, castrated,
psychoanalysis-influenced acordo com como isto é visto e entendido em Bonneuil.
individuals; they would Ou seja, vou partir das cenas vividas lá para minha re-
have an analytical hearing flexão, mas farei uma leitura que talvez alguns deles não
that may promote subjec- concordassem.
tive changes on children.
Bonneuil; school;
therapy.
Psicanalista; membro da equipe da Pré-Escola
Terapêutica Lugar de Vida, bolsista da Fapesp no Mestrado
em Psicologia pela Universidade de S ã o Paulo.
Introduzindo a questão: vou tentar como norteadora do trabalho, quando
defender aqui a leitura de que a posição diz que esta mudança de posição da cri-
ocupada pelo adulto que intervém com ança, saindo do lugar no qual o discur-
as crianças em Bonneuil é a posição de so do Outro (família, medicina, peda-
educador; não que se encarne o lugar gogia) a aprisionou, é algo que aconte-
de educador como na pedagogia, é ceria na análise de neuróticos e ainda
apenas uma posição como instrumento assim quando é bem-sucedida. Manno-
no trabalho institucional com crianças ni nâo estaria levando em conta que "é
psicóticas, que se diferencia ainda da de preciso um ato analítico e um ato do
professor e de analista. sujeito para que ele aceite renunciar ao
Em Bonneuil, "instituição estoura- gozo que comporta esta repetição da
da", o trabalho é dividido entre o que cena e que se invente uma nova relação
acontece dentro da instituição, e o que com o Outro".^ Eu acrescentaria que,
se passa fora, em espaços diversos. no caso da psicose, seria o educador o
Dentro, um espaço que acolhe a desor- profissional mais bem posicionado para
dem e os sintomas, um lugar para viver fazer intervenções que visariam ao a-
a loucura, que tem uma montagem para brandamento do gozo, e quem sabe um
contê-la, como o escolar, o jogo, os ate- surgimento do sujeito do desejo, fazen-
liês de conto, pintura, escultura e as ati- do então um paralelo com o analista no
vidades que visam ao funcionamento caso da neurose.
da instituição (cozinha, limpeza, com- Como a mudança de cena não da-
pras, e t c ) . Fora, nos estágios que reali- ria conta de libertar a criança da etique-
zam alguns adolescentes, nas famílias ta impressa pelo Outro, o trabalho que
de acolhimento, na circulação social co- se faz em Antenne, segundo Kusnierek,
mo um todo, trata-se de lugares onde incide sobre o Outro que somos (os
fazer "papel de normal", como dizia profissionais) para a criança, Outro que
Mannoni em reuniões com os estagiá- sabe e por isso goza. O trabalho é feito
rios. na direção da "destituição recíproca dos
Uma das concepções defendidas múltiplos parceiros do sujeito na insti-
por ela neste trabalho, e que seria o ori- tuição"^, colocando-se a barra sobre o
entador desta forma de funcionar, é de Outro, trabalho este constante e incan-
que a mudança de cena operada pela sável. O exemplo dado neste texto es-
circulação da criança em outros espa- clarece bem a noção de destituição
ços, em outros cenários, seria o sufici- recíproca. É o caso de uma criança que
ente para esta se livrar do saber mor- sofre de uma séria doença e que deve
tífero do Outro. Parece que ela não leva tomar medicamentos, e os profissionais
em conta com suficiente peso o deter- devem garantir que isto ocorra. Mas ela
minismo da cadeia significante, que não deve tomar o remédio porque fu-
provoca com freqüência nesta clínica o lano que tem este encargo num deter-
que Laznik-Penot chamou de "efeito minado dia quer que ela tome, senão
carta roubada", ou seja, uma repetição porque ele é obrigado pela diretora a
da mesma cena, embora com protago- lhe dar, que por sua vez é obrigada pe-
nistas diferentes. Neste sentido, parece- lo médico da criança, que por sua vez é
me bastante pertinente a crítica de obrigado por sua função e assim por
Monique Kusnierek (1997), profissional diante. Todos estão em lugar de Outro
que trabalha em Antenne 110, institui- castrado, devendo se curvar a alguma
ção belga que recebe o mesmo tipo de lei maior que os ultrapassa.
criança e que também tem a psicanálise A intervenção a partir do lugar de
educador poderia ter esta incidência e, uma vez que barra o saber
absoluto do Outro, poderia resultar numa mudança subjetiva da cri-
ança, num abrandamento de gozo, e propiciar as condições para
que ela possa de fato sair do lugar de carta roubada e produzir uma
nova cena? Vou me basear, assim, para esta discussão, tanto em
cenas vividas quanto em discussões de quais seriam os princípios
norteadores deste trabalho, e o entendimento que eu faço deles.
Bonneuil é referida pelas crianças como uma escola, por
alguns como escola de loucos, mas escola. Esta instituição é regis-
trada como hospital-dia em termos administrativos, mas é o signi-
ficante escola que tem maior força, ainda bem! Jerusalinsky (1997)
já nos falou longamente da importância deste significante, a escola
como um lugar de trânsito, para se entrar e sair, reconhecida social-
mente como o lugar normal da criança. O discurso que circula em
Bonneuil é de que não é uma instituição de tratamento, mas um
lugar para estas crianças viverem e fazerem seus percursos particu-
lares, o que não se tem espaço nas escolas normais, onde o uni-
versal e os ideais massacram a particularidade. É aí que a psica-
nálise começa entrando, dando a garantia do particular, contra o
universal. No entanto, toda instituição está calcada em leis, inclu-
sive esta. Não existe laço social sem interdição de gozo. É esta
articulação ética entre lei e desejo que a psicanálise deve garantir
numa instituição, e o personagem que vai trabalhar a este favor,
dentro deste ponto de vista que estou defendendo aqui, é o edu-
cador atravessado pela psicanálise, o questionamento analítico vem
provocar a báscula da impotência ao impossível deste lugar, o
mestre (educador) fica reduzido a um semblante com o qual opera
a instituição, um Outro que se coloca como castrado.
Se Bonneuil foi criada para dar um espaço de vida para as cri-
anças segregadas do sistema educacional, não tem no entanto
como objetivo a aprendizagem ou a escolarização das crianças, ain-
da que isto aconteça lá dentro com muitas delas, mas como o
desembocar de um trajeto, como um pedido da criança. Quando
isto acontece, tanto ela pode ser encaminhada para uma escola
normal, como pode seguir seus estudos regulares dentro da insti-
tuição, com a ajuda de educadores da rede nacional, fazendo seus
exames por correspondência. Mas até atingir este ponto, o trabalho
é todo direcionado para um surgimento de sentido, para um advir
de um sujeito de desejo e, neste sentido, independente do
enquadre onde sejam feitas as intervenções, a direção é a mesma.
Ou seja, antes da relação pedagógica professor/aluno poder ser
instalada, existe um trabalho prévio a ser realizado pelo educador.
Um exemplo que ilustra bem o que estou falando é de um
adolescente que trazia como repetição estereotipada uma fala
sobre os astecas. A partir disto, um adulto propõe uma investigação
sobre a história e a vida cotidiana deste povo. Aos poucos isto foi
se desdobrando num real interesse da criança e foi desembocar nos
calendários utilizados na época, que exigem algumas noções de
matemática para serem operados. nal que esteja a cargo destas crianças
Chegou um momento em que estas tem uma importante função educativa
noções ultrapassaram a possibilidade (Jerusalinsky, 1994), onde nada de es-
deste profissional dar conta, e foi cha- colar ou de ensino se coloca, senão a
mado um professor para dar continui- "posta em ato de uma inscrição" (colo-
dade a esta investigação. Montou-se um car em ato nâo quer dizer produzi-la
ateliê e mais um adolescente integrou mas desdobrá-la em sua máxima exten-
este projeto. Desta forma, pôde se esta- são). Ou seja, a constituição de sujeito
belecer dentro da instituição uma rela- está em jogo, e parece que as especifi-
ção pedagógica, onde a palavra do cidades se diluem um pouco, ficam co-
adulto não era simples eco de um saber locadas para um a posteriori, ainda é
abstrato, mas levava em conta o desejo tempo de construir e nâo desconstruir.
do aluno ao mesmo tempo que a exi- No caso das crianças neuróticas, os pais
gência de rigor científico. No primeiro e seus substitutos exercem as funções
momento desta situação, o adulto esta- necessárias para que esta constituição
ria ocupando o lugar de educador; no se dê. Nas crianças psicóticas, algo
segundo momento, algo de escolar to- desta engrenagem falhou e é no trata-
ma o lugar, e o professor entra em cena. mento que os profissionais vão se depa-
A pergunta que tento responder é rar com isso e trabalhar nesta direção.
que, dada a especificidade desta clínica, Voltando um pouco, vamos falar
não estariam os educadores melhor po- da diferenciação dos lugares de edu-
sicionados para fazer suas intervenções cador e analista sem levar em conta a
no sentido de uma historização deste especificidade desta clínica, a partir da
sujeito e sua possibilidade de dizer-se, leitura do texto Da pedagogia à psica-
de representar-se a partir do que o dis- nálise de Ciaccia (1997). Poderíamos
curso social oferece como possibilida- dizer que cabe ao educador sustentar o
de? Nâo se pode falar em eu já consti- sujeito na autenticação de uma cadeia
tuído nas crianças psicóticas, nem em subjetiva, e colocar-se à disposição para
sujeito, a não ser a partir da posição a identificação. Seria da tarefa da edu-
ética de supô-los ali onde ainda nâo cação algo do âmbito da construção, da
operam. Ou seja, estas crianças, habi- oferta significante, seja através da cons-
tando um lugar de objeto nas relações tituição de identificações ou da oferta
com o outro, não deixam outra opção de um instrumento (o ensino propria-
para o adulto que as toma em trata- mente dito) "para um domínio pelo viés
mento, senão o lugar de sujeito, e é este do saber". Este trabalho teria como di-
sujeito, com uma escuta analítica, mas reção a constituição do eu. Já o analista
se servindo do discurso de mestre (mui- visaria ao sujeito, e o trabalho seria da
to diferente do mestre da pedagogia) ordem da desconstrução. Constituição
que eu estou chamando aqui de edu- do eu e acionamento da divisão subjeti-
cador. va são disjunções, demandariam enqua-
Se entendermos a educação de dres distintos e posições distintas.
maneira ampla ou, como na definição No entanto, se falarmos de psi-
de Jerusalinsky (1994), onde educar se- cose, estas afirmações vacilam, e tanto a
ria "transmitir a demanda social além de psicanálise como a educação precisam
seu desejo", mas graças a ele, podería- rever suas posições. A análise clássica
mos dizer que na psicose infantil a tem de sofrer reformulações, ali onde
"educação" já está comprometida desde há sujeito numa análise de neuróticos,
muito cedo. Assim, qualquer profissio- depara-se com um objeto que coloca o
analista no lugar de sujeito onipotente. a algo para além deste efeito terapêuti-
Colette Soler (1994) ilumina este im- co, visaria a interpelar o sujeito. Logo, o
passe quando indica que, quando não mestre faz semblante de mestre.
há sujeito, torna-se necessário proceder Uma vez que a psicanálise é toma-
a uma análise invertida, no sentido da da como referencial, embora os inter-
instalação do simbólico ao invés de sua ventores não estejam em posição de
desconstrução, no sentido de provocar analistas, o objetivo ideal de uma inter-
o surgimento do sujeito. Ou seja, uma venção é a colocação de um ato, ou
análise teria papel de construção, de seja, operar uma mudança radical na
oferta significante, o que está do lado posição do sujeito, um depois diferente
da educação, pensando na clínica de do antes. "No entanto, mesmo que este
neuróticos. A educação, por sua vez, ideal sirva de baliza, de referência e de
precisaria abrir mão de seus ideais se esperança na linha do horizonte, na
quisesse se ocupar destas crianças. realidade cotidiana institucional, a inter-
Frente a tudo isso, estou defen- venção funciona mais num continuum
dendo a posição de educador atraves- de 'qualidade' que oscila sem cessar
sado pela psicanálise para dar conta entre um ato que eu qualificaria de ação
desta particularidade que é o tratamen- educativa, não visando tocar a posição
to institucional da criança psicótica. Pa- subjetiva do sujeito, mesma que a atin-
ra precisar melhor qual seria esta posi- ja, e o ato psicanalítico, tal como o en-
ção de educador à qual estou me refe- tende Lacan. Além disso, nenhum valor
rindo, vou me reportar às discussões preditivo pode ser colocado a um ato
trazidas em textos de Antenne e Courtil, posto, em relação à sua chance de con-
outra instituição belga que se ocupa stituir um ato analítico, já que este, do
desta mesma clínica. A própria institu- mesmo modo como a interpretação, só
ição convoca uma posição de mestre pode ser avaliado no après coup"
(que faço aqui eqüivaler ao que estou (Vanderveken, 1993)- O autor fala, en-
chamando de educador), uma vez que tão, da dificuldade desta operação, mas
trabalha na linha da constituição subje- de uma certa viabilidade e, mais que
tiva, ou seja, da construção. No entanto, isto, de uma necessidade ética, se parti-
este é um mestre não todo, castrado, mos da psicanálise, de apostar nesta
que se deixa interrogar pelo discurso direção.
analítico, deixa apontar sua falta. Existe, A partir desta leitura, poderíamos
assim, a posição de mestre, mas ela não dizer que o impasse que me parece exi-
é encarnada, não se acredita num ideal stir em Bonneuil, com relação a ser uma
a ser alcançado. Ou seja, ao lado da instituição educativa ou um tratamento,
oferta significante que seria operada estaria resolvido. Poderíamos dizer que
pelo discurso do mestre, proferido pe- é um tratamento sim, mas que se serve
los educadores, oferta-se também uma da educação ou, melhor dizendo, do
falta, um S(A), pelo atravessamento do educador, como instrumento de trata-
discurso analítico. O educador estaria a mento.
serviço de construir um novo saber, que Concluindo, não se está defenden-
tem a função de proteger e separar o do aqui que um professor não tem seu
sujeito de um Outro absoluto e amea- papel específico com relação a estas
çador. O educador operaria a partir do crianças, mas existe todo um trabalho
discurso do mestre, que é terapêutico anterior a ser realizado pelo que estou
porque o significante dá um lugar, pro- chamando de educador, até para criar
porciona uma identificação, mas visaria as condições mínimas para que uma
criança possa se interessar por aprender. E, mesmo a partir deste
momento, temos averiguado a importância de uma escuta analítica
deste professor, para localizar seu desejo nesta difícil empreitada e
reautorizá-lo na sua função.
Se pensarmos nas influências do saber construído por
Bonneuil sobre o trabalho realizado atualmente no Lugar de Vida,
podemos dizer que neste último realizamos um trabalho prévio
com as crianças, a partir do lugar de educadores com escuta analíti-
ca, e por isso é uma pré-escola terapêutica, construção de condi-
ções mínimas para a criança poder se deparar com este universo
escolar, e no momento em que algo na criança e nos pais pode ser
lido como um pedido ou um interesse pelo universo da apren-
dizagem e da escola, faz-se o encaminhamento para escolas da
rede pública ou particular da comunidade, e o professor também
terá seu espaço de escuta para dar forma ao seu possível desejo de
trabalhar com estas crianças, peça fundamental de toda esta engre-
nagem. A instituição se ocupa também de fazer esta ponte para a
criança, entre o seu tratamento e a circulação social mais ampla,
aqui representada pela escola. •

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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mensuelle (Publicação do Campo Freudiano), sem numeração.

VANDERVEKEN, Y. (1993). Intervention et acte. Les feuillets du Courtil, n.6.

NOTAS

P. 83- Tradução da autora.


Tradução da autora.

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