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CURSO – Delegado de Polícia Federal nº 27

Data – 21/09/16

DISCIPLINA – Direito Penal (Parte Especial)

PROFESSOR – Christiano Gonzaga

MONITOR(A) – Bruna Ribeiro Guimarães

AULA 03

Sumário:

DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL (continuação)


4. Redução a condição análoga à de escravo (art. 149, CP)

DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO


1. Violação de domicílio (art. 150, CP)

CRIMES PATRIMONIAIS
1. Furto (art. 155, CP)
1.1. Furto noturno (art. 155, §1º, CP)
1.2. Furto minorado (art. 155, §2º, CP)
1.3. Furto por equiparação (art. 155, §3º, CP)
1.4. Furto de semovente domesticável de produção (art. 155, §6º, CP)
1.5. Furto qualificado (art. 155, §4º)
2. Roubo (art. 157, CP)
2.1. Espécies de violência
2.2. Espécies de roubo

Recapitulação:

Na aula passada estudamos o crime de lesão corporal e suas espécies.

Estudamos ainda os crimes de perigo, quais sejam, crime de perigo de contágio venéreo,
perigo de contágio de moléstia grave, perigo para a vida ou saúde de outrem, abandono de
incapaz, exposição ou abandono de recém-nascido, omissão de socorro, condicionamento de
atendimento médico-hospitalar emergencial, maus-tratos e rixa.

Iniciamos o estudo dos crimes contra a liberdade pessoal. Passamos pelos crimes de
constrangimento ilegal, ameaça, sequestro e cárcere privado. Hoje finalizaremos os crimes contra
a liberdade pessoal com o estudo do crime de redução a condição análoga à de escravo.

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DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE PESSOAL (continuação)

4. Redução a condição análoga à de escravo (art. 149, CP)

Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos
forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho,
quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o
empregador ou preposto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Nos termos do informativo 752 do STF, a competência para julgamento deste crime é da
Justiça Federal.

Informativo 752, STF:

Crime de redução a condição análoga à de escravo e competência - 3


O Plenário retomou julgamento de recurso extraordinário, afetado pela 2ª Turma, em que
se discute a competência para processar e julgar ação penal por crime de “reduzir alguém
a condição análoga à de escravo” (CP, art. 149), se da justiça estadual ou federal — v.
Informativos 556 e 573. Em voto-vista, o Ministro Joaquim Barbosa (Presidente) divergiu
do entendimento do Ministro Cezar Peluso (relator) e proveu o recurso, para reconhecer a
competência da justiça federal. Aduziu que esse caso seria similar ao tratado no RE
398.041/PA (DJe de 19.12.2008) , oportunidade em que o STF teria firmado a competência
da justiça federal para processar e julgar ação penal referente ao crime do art. 149 do CP.
Ressaltou que, após aquele julgamento, teria se aprofundado o combate ao trabalho
escravo no País, a indicar que a manutenção da competência da justiça federal na matéria
seria essencial para a segurança jurídica e para o desenvolvimento social brasileiro.
Asseverou que a Constituição traria robusto conjunto normativo voltado à proteção e à
implementação dos direitos fundamentais, caracterizado pela preocupação com a
dignidade humana e com a construção de uma sociedade livre, democrática, igualitária e
plural. Assinalou que o constituinte teria dado importância especial à valorização da
pessoa humana e de seus direitos fundamentais, de maneira que a existência comprovada
de trabalhadores submetidos à escravidão afrontaria não apenas os princípios
constitucionais do art. 5º da CF, mas toda a sociedade, em seu aspecto moral e ético.
RE 459510/MT, rel. Min. Cezar Peluso, 1º.7.2014. (RE-459510)

Crime de redução a condição análoga à de escravo e competência - 4


O Ministro Joaquim Barbosa consignou que os crimes contra a organização do trabalho
comportariam outras dimensões, para além de aspectos puramente orgânicos. Nesse
sentido, não se cuidaria apenas de velar pela preservação de um sistema institucional
voltado à proteção coletiva dos direitos e deveres dos trabalhadores. Reputou que a tutela
da organização do trabalho deveria necessariamente englobar outro elemento: o homem,
abarcados aspectos atinentes à sua liberdade, autodeterminação e dignidade. Assim,
quaisquer condutas violadoras não somente do sistema voltado à proteção dos direitos e
deveres dos trabalhadores, mas também do homem trabalhador, seriam enquadráveis na
categoria dos crimes contra a organização do trabalho, se praticadas no contexto de
relações de trabalho. Anotou que a Constituição teria considerado o ser humano como um
dos componentes axiológicos aptos a dar sentido a todo o arcabouço jurídico-
constitucional pátrio. Ademais, teria atribuído à dignidade humana a condição de centro de
gravidade de toda a ordem jurídica. Acresceu que o constituinte teria outorgado aos

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princípios fundamentais a qualidade de normas embasadoras e informativas de toda a
ordem constitucional, inclusive dos direitos fundamentais, que integrariam o núcleo
essencial da Constituição. Salientou, nesse sentido, o art. 170 da CF (“A ordem
econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social”). Ponderou que,
diante da opção constitucional pela tutela da dignidade intrínseca do homem, seria
inadmissível pensar que o sistema de organização do trabalho pudesse ser concebido
unicamente à luz de órgãos e instituições, excluído dessa relação o próprio ser humano.
RE 459510/MT, rel. Min. Cezar Peluso, 1º.7.2014. (RE-459510)

Crime de redução a condição análoga à de escravo e competência - 5


O Ministro Joaquim Barbosa registrou que o art. 109, VI, da CF estabelece competir à
justiça federal processar e julgar os crimes contra a organização do trabalho, sem explicitar
quais delitos estariam nessa categoria. Ressalvou que, embora houvesse um capítulo
destinado a esses crimes no Código Penal, inexistiria correspondência taxativa entre os
delitos capitulados naquele diploma e os crimes indicados na Constituição, e caberia ao
intérprete verificar em quais casos se estaria diante de delitos contra a organização do
trabalho. Reputou que o bem jurídico protegido no tipo penal do art. 149 do CP seria a
liberdade individual, compreendida sob o enfoque ético-social e da dignidade, no sentido
de evitar que a pessoa humana fosse transformada em “res”. Frisou que a conduta
criminosa contra a organização do trabalho atingiria interesse de ordem geral, que seria a
manutenção dos princípios básicos sobre os quais estruturado o trabalho em todo o País.
Concluiu que o tipo previsto no art. 149 do CP se caracterizaria como crime contra a
organização do trabalho, e atrairia a competência da justiça federal. Afastou tese no
sentido de que a extensão normativa do crime teria como resultado o processamento e a
condenação de pessoas inocentes pelo simples fato de se valerem de trabalho prestado
em condições ambientais adversas. Sob esse aspecto, um tipo aberto ou fechado deveria
ser interpretado pela justiça considerada competente nos termos da Constituição.
Sublinhou que a má redação ou a contrariedade diante da disciplina penal de determinado
tema não desautorizaria a escolha do constituinte. Em seguida, pediu vista o Ministro Dias
Toffoli.

O crime de redução a condição à análoga de escravo configura-se com a jornada


excessiva (fora dos parâmetros legais) + condições degradantes. Ver informativos 660 e 688 do
STF.

Informativo 660, STF

Inquérito e redução a condição análoga à de escravo – 1


O Plenário, por maioria, recebeu denúncia oferecida contra deputado federal e outro
denunciado pela suposta prática do crime previsto no art. 149 do CP (“Reduzir alguém a
condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada
exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho,quer restringindo, por
qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou
preposto”). A inicial acusatória narra — a partir de relatório elaborado pelo Grupo Especial
de Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego — que eles teriam submetido
trabalhadores de empresa agrícola a jornada exaustiva e a condições degradantes de
trabalho, cerceando-lhes a locomoção com o objetivo de mantê-los no local onde
laboravam. Reputou-se não ser exigida, para o recebimento da inicial, valoração
aprofundada dos elementos trazidos, que seriam suficientes para a instauração da ação
penal. O Min. Luiz Fux acrescentou que o tipo penal em questão deveria ser analisado sob
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o prisma do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. Destacou que as
condições de higiene, habitação, saúde, alimentação, transporte, trabalho e remuneração
das pessoas que laboravam no local demonstrariam violação a este postulado e, ademais,
configurariam o crime analisado. Aduziu que a denúncia descreveria práticas delituosas
perpetradas no âmbito da estrutura organizada pelos representantes da empresa, sendo
certo que, em crimes societários, os criminosos esconder-se-iam por detrás do véu da
personalidade jurídica em busca da impunidade.
Inq 3412/AL, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Rosa Weber, 29.3.2012.
(Inq-3412)

Inquérito e redução a condição análoga à de escravo – 2


O Min. Ricardo Lewandowski registrou que ao menos um dos núcleos do tipo descrito no
art. 149 do CP — submeter alguém a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva — estaria
suficientemente demonstrado, sem prejuízo de outros que fossem, eventualmente, melhor
explicitados. O Min. Ayres Britto, por sua vez, observou que além deste núcleo do tipo, a
submissão a condições degradantes de trabalho estaria presente. Asseverou, ademais,
que o art. 149 do CP não protegeria o trabalhador — tutelado pelo art. 203 do mesmo
diploma —, mas o indivíduo de maneira geral. No ponto, o Min. Cezar Peluso, Presidente,
divergiu, ao frisar que a origem histórica do crime de redução a condição análoga à de
escravo teria incluído o tipo na defesa da liberdade. Entretanto, com a modificação advinda
pela Lei 10.803/2003, o campo de proteção da norma teria sido restrito às relações de
trabalho, pela vulnerabilidade imanente à condição do trabalhador. Assim, o objeto da
tutela material seria a dignidade da pessoa na posição de trabalhador, e não a liberdade de
qualquer pessoa. Bastaria, portanto, a demonstração do fato de trabalhador ser submetido
a condições degradantes, para que fosse caracterizado, em tese, o crime. Reputou, por
fim, que ambos os denunciados teriam o domínio dos fatos, ou seja, não poderiam ignorar
as condições a que os trabalhadores eram submetidos e, portanto, seriam capazes de
tolher a prática do crime.
Inq 3412/AL, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Rosa Weber, 29.3.2012.
(Inq-3412)

Inquérito e redução a condição análoga à de escravo - 3


Vencidos os Ministros Marco Aurélio, relator, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Celso de Mello,
que rejeitavam a peça acusatória. O relator afirmava que os fatos nela narrados não
consubstanciariam responsabilidade penal, mas cível-trabalhista. Anotava que o simples
descumprimento de normas de proteção ao trabalho não configuraria trabalho escravo, o
qual pressuporia cerceio à locomoção, diante de quadro opressivo imposto pelo
empregador. Nesse sentido, o tipo penal versaria a submissão a trabalhos forçados ou a
jornada exaustiva, com sujeição a condições degradantes ou restrição da liberdade em
virtude de dívidas com o contratante. Afastava, também, o dolo por parte dos denunciados.
O Min. Dias Toffoli corroborava que o crime em questão tutelaria a liberdade individual, que
não teria sido atingida. O Min. Gilmar Mendes reforçava que dar enfoque penal para
problemas de irregularidade no plano trabalhista seria grave, embora reconhecesse a
necessidade de melhoria das condições de trabalho de maneira geral. Assim, deveria
haver outras iniciativas, além da punição, para buscar soluções a respeito, especialmente
nos setores econômicos mais dinâmicos. O Min. Celso de Mello assentava que o fato de
os denunciados ostentarem a condição de diretor-presidente e diretor-vice-presidente da
empresa, por si só, não poderia justificar a acusação, sob pena de presunção de culpa em
âmbito penal. Não obstante, reconhecia a possibilidade de o Ministério Público formular
nova denúncia, em que as condutas fossem individualizadas.
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DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO

1. Violação de domicílio (art. 150, CP)

Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade


expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

O delegado que der ordem para que seus subordinados entrem no domicílio do investigado
sem mandado judicial não responde por violação de domicílio e sim pelo crime do artigo 3º da Lei
de Abuso de Autoridade.

§ 2º - Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é cometido por funcionário público, fora


dos casos legais, ou com inobservância das formalidades estabelecidas em lei, ou com
abuso do poder.

O §2º do artigo 150 está tacitamente revogado pelo artigo 3º, “b” da Lei 4.898/65 – Lei de
abuso de autoridade.

Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:


b) à inviolabilidade do domicílio;

Houve revogação por ser a Lei 4.898/65 posterior ao CP.

Para que o agente policial adentre o domicílio do investigado sem que cometa crime
previsto no artigo 3º da Lei 4.898/65 deve haver autorização judicial, pois a inviolabilidade do
domicílio é clausula de reserva de jurisdição.

Além do domicílio, também são cláusulas de reserva a interceptação telefônica e


telemática e a decretação de prisão provisória.

Obs: segundo entendimento do STF, não é necessária autorização judicial para a quebra do sigilo
de dados fiscais e bancários (informativo 814, STF). É requisito para a quebra do sigilo desses
dados que haja prévio procedimento investigativo instaurado.

CRIMES PATRIMONIAIS

O princípio da insignificância é aplicável aos crimes patrimoniais praticados sem violência.


É vedada a aplicação deste princípio aos crimes contra a administração pública e aos crimes
praticados com violência.

A aplicação do princípio da insignificância gera a atipicidade material da conduta.

Para a efetiva aplicação deste princípio, o STF entendeu que devem ser preenchidos 4
vetores, que estão previstos no HC 112.262/MG.

HC 112.262/MG:

(...) É cediço que a) O princípio da insignificância incide quando presentes,


cumulativamente, as seguintes condições objetivas: (a) mínima ofensividade da conduta do
agente, (b) nenhuma periculosidade social da ação, (c) grau reduzido de reprovabilidade
do comportamento, e (d) inexpressividade da lesão jurídica provocada; b) a aplicação do

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princípio da insignificância deve, contudo, ser precedida de criteriosa análise de cada caso,
a fim de evitar que sua adoção indiscriminada constitua verdadeiro incentivo à prática de
pequenos delitos patrimoniais. (...)

1. Furto (art. 155, CP)

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:


Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Acerca do momento consumativo do furto existem algumas teorias. Dentre elas, as mais
relevantes são a teoria da amotio/ apprehensio, e a teoria da posse mansa e pacífica.

A teoria da amotio entende que o furto se consuma no momento da inversão da posse. A


teoria da posse mansa e pacífica entende que o crime se consuma quando o agente possui a
posse mansa e pacífica do bem.

O ordenamento jurídico brasileiro atualmente adota a teoria da amotio.

Para a consumação do crime de furto a inversão da posse deve ocorrer com intuito
definitivo. Furto de uso não é crime.

1.1. Furto noturno (art. 155, §1º,CP)

§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.

O §1º traz uma majorante para o crime de furto. Para aplicação desta majorante basta que
o furto ocorra no período noturno, que é o período após as 18 horas. Não é preciso que a vítima
esteja dormindo, basta que ocorra após as 18 horas.

O STJ, no informativo 554, manifesta o entendimento de que a majorante do furto noturno


pode ser aplicada a quaisquer das hipóteses do §4º (furto qualificado).

DIREITO PENAL. FURTO QUALIFICADO PRATICADO DURANTE O REPOUSO


NOTURNO. A causa de aumento de pena prevista no § 1° do art. 155 do CP - que se
refere à prática do crime durante o repouso noturno - é aplicável tanto na forma simples
(caput) quanto na forma qualificada (§ 4°) do delito de furto. Isso porque esse
entendimento está em consonância, mutatis mutandis, com a posição firmada pelo STJ no
julgamento do Recurso Especial Repetitivo 1.193.194-MG, no qual se afigurou possível o
reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de furto
qualificado (art. 155, § 4º, do CP), máxime se presentes os requisitos. Dessarte, nessa
linha de raciocínio, não haveria justificativa plausível para se aplicar o § 2° do art. 155 do
CP e deixar de impor o § 1° do referido artigo, que, a propósito, compatibiliza-se com as
qualificadoras previstas no § 4° do dispositivo. Ademais, cumpre salientar que o § 1° do
art. 155 do CP refere-se à causa de aumento, tendo aplicação apenas na terceira fase da
dosimetria, o que não revela qualquer prejuízo na realização da dosimetria da pena com
arrimo no método trifásico. Cabe registrar que não se desconhece o entendimento da
Quinta Turma do STJ segundo o qual somente será cabível aplicação da mencionada
causa de aumento quando o crime for perpetrado na sua forma simples (caput do art. 155).
Todavia, o fato é que, após o entendimento exarado em 2011 no julgamento do EREsp
842.425-RS, no qual se evidenciou a possibilidade de aplicação do privilégio (§ 2°) no furto
qualificado, não há razoabilidade em negar a incidência da causa de aumento (delito
cometido durante o repouso noturno) na mesma situação em que presente a forma
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qualificada do crime de furto. Em outras palavras, uma vez que não mais se observa a
ordem dos parágrafos para a aplicação da causa de diminuição (§ 2º), também não se
considera essa ordem para imposição da causa de aumento (§ 1º). HC 306.450-SP, Rel.
Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 4/12/2014, DJe 17/12/2014.

1.2. Furto minorado (art. 155, §2º, CP)

§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir


a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a
pena de multa.

Considera-se coisa de pequeno valor aquelas até 1 salário mínimo.

Será aplicada a minorante do §2º somente nas hipóteses em que não couber a aplicação
do princípio da insignificância.

Não cabe insignificância no furto qualificado, entretanto cabe aplicação desta minorante
(súmula 511 do STJ).

Súmula 511: É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155


do CP nos casos de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do
agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.

1.3. Furto por equiparação (art. 155, §3º, CP)

§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor
econômico.

Este § aplica-se, por exemplo, à energia elétrica, ao sêmem de boi e outras energias que
possuam valor econômico.

Entretanto, segundo informativo 623 do STF, não é aplicável à subtração de sinal de TV a


cabo. Conforme o Supremo, a energia é transmitida por meio de fios condutores, enquanto que o
sinal é transmitido por meio de ondas. Aplicar o §3º à subtração de sinal de TV a cabo seria
analogia in malan partem, o que é vedado no direito penal.

1.4. Furto de semovente domesticável de produção (art. 155, §6º, CP)

§ 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente


domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração.

Para configuração desta qualificadora basta o roubo de um único semovente, desde


que seja de produção.

Não é possível a aplicação do princípio da insignificância, já que se trata de crime


qualificado.

A inclusão desta qualificadora ao crime de furto ocorreu em razão de uma pressão política
exercida pela bancada ruralista no Congresso Nacional, que desejava coibir os crimes cometidos
pelo MST.

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Este parágrafo é a manifestação típica do direito penal simbólico/inflacionário/do pânico, ou
seja, o legislador criminaliza condutas visando atender aos anseios sociais.

1.5. Furto qualificado (art. 155, §4º, CP)

Ao furto qualificado é possível a aplicação da majorante do § 1º (furto noturno) e da


minorante do §2º (furto de coisa de pequeno valor), entretanto não é possível a aplicação do
princípio da insignificância. Obs: para haver aplicação da minorante no §2º deve ser observada a
súmula 511 do STJ (primariedade do agente, pequeno valor da coisa e qualificadora de ordem
objetiva).

§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:

I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;

O crime de furto qualificado pela destruição ou rompimento de obstáculo é não transeunte


e, portanto, é imprescindível a realização do exame de corpo de delito (art. 158, CPP).

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de
delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Não havendo perícia, não é possível a aplicação desta qualificadora. O MP deverá


denunciar pela prática do crime de furto simples.

Havendo desaparecimento do corpo de delito, o exame poderá substituído por prova


testemunhal (art. 167, CPP). Ver Resp. 1008913/RS.

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os
vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

Resp. 1008913/RS:

PENAL. RECURSO ESPECIAL. FURTO QUALIFICADO. ESCALADA. AUSÊNCIA DE


EXAME DE CORPO DE DELITO. INCIDÊNCIA DE QUALIFICADORA. PROVA
TESTEMUNHAL. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE LAUDO PERICIAL.
VESTÍGIOS FACILMENTE PERCEPTÍVEIS POR QUALQUER PESSOA. IRRELEVÂNCIA.
PRECEDENTES. FURTO QUALIFICADO PELO CONCURSO DE AGENTES.
APLICAÇÃO DA CAUSA DE AUMENTO DE PENA PREVISTA PARA O ROUBO
PRATICADO EM CONCURSO DE AGENTES. INADMISSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA
RESERVA LEGAL. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO,
PROVIDO.
1. Pela interpretação dos arts. 158 e 167 do Código de Processo Penal, conclui-se que,
relativamente às infrações que deixam vestígio, a realização de exame pericial se mostra
indispensável, podendo a prova testemunhal supri-lo apenas na hipótese em que os
vestígios do crime tiverem desaparecido. Precedentes do STJ.
2. No caso dos autos, a qualificadora do rompimento de obstáculo apenas poderia ter sido
comprovada por exame pericial, já que os vestígios não haviam desaparecido.
3. O fato de os vestígios do delito serem facilmente perceptíveis por qualquer pessoa não
afasta a indispensabilidade do exame de corpo de delito direto, cuja realização não fica ao
livre arbítrio do julgador, mas, ao contrário, decorre de expressa determinação legal.
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4. O estatuto repressivo prevê como qualificado o furto cometido por dois ou mais agentes,
estabelecendo no § 4º do art. 155 do Código Penal a pena de 2 a 8 anos como limite à
resposta penal.
5. Assim, fere o referido dispositivo legal o decisum que, em nome dos princípios da
proporcionalidade e da isonomia, aplica ao furto qualificado o aumento de pena previsto
no § 2º do art. 157 do Código Penal, haja vista que, em obediência ao princípio da reserva
legal, não cabe ao julgador criar figuras delitivas ou aplicar penas que o legislador não haja
determinado.
6. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido para
redimensionar a pena privativa de liberdade imposta ao réu, fixando-a em 2 anos, mantidas
as demais cominações do acórdão impugnado.

Atualmente é pacífico o entendimento do STF no sentido de que tanto quebrar a janela do


carro para furtar o carro, quanto quebrar a janela do carro para furtar objetos dentro dele é furto
qualificado (informativo 585, STF).

Informativo 585, STF:


Furto Qualificado e Rompimento de Obstáculo: a Turma indeferiu habeas corpus em que a
Defensoria Pública da União pleiteava, sob alegação de ofensa ao princípio da
proporcionalidade, o afastamento da qualificadora do rompimento de obstáculo à subtração
da coisa (CP, art. 155, § 4º, I). Sustentava que o furto dos objetos do interior do veículo
seria mais severamente punido do que o furto do próprio veículo, impondo-se sanção mais
elevada para o furto do acessório. Entendeu-se que, na situação dos autos, praticada a
violência contra a coisa, restaria configurada a forma qualificada do mencionado delito.
HC 98606/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 4.5.2010. (HC-98606)

II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;

Destreza é a habilidade humana incomum. Ex: furtar dinheiro da carteira da pessoa sem
que ela perceba.

Escalada é a transposição de obstáculo. Ex: subir em uma escada para pular o muro;
cavar um buraco para entrar no local desejado.

Para aplicar a qualificadora da escalada deve haver um mínimo esforço na transposição do


obstáculo.

Furto mediante fraude X estelionato: no furto mediante fraude o agente retira o bem da
posse da vítima (subtrai o bem) utilizando-se de meios fraudulentos. No estelionato a própria
vítima entrega o bem ao criminoso. Ex: vítima entrega o carro para o falso manobrista. Ver
informativos 326 e 344 do STJ.

Informativo 326, STJ - COMPETÊNCIA. FRAUDE ELETRÔNICA. INTERNET. CONTA-


CORRENTE. BANCO.
O cerne da questão consiste em se determinar o juízo competente para processar e julgar
crime de transferências eletrônicas bancárias sem consentimento do correntista para outra
pessoa via internet em detrimento da CEF. No caso dos autos, a fraude foi usada para
burlar o sistema de proteção e vigilância do banco sobre os valores mantidos sob sua
guarda, configurando crime de furto qualificado por fraude e não estelionato. Assim,
considera-se consumado o crime de furto no momento em que o agente torna-se possuidor
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da res furtiva, ou seja, no momento em que o bem subtraído sai da esfera de
disponibilidade da vítima. No caso, a conta-corrente da vítima estava situada em Porto
Alegre-RS, local da consumação do delito (art. 155, § 4º, II, do CP). Com esse
entendimento, em sintonia com o parecer do MPF e a jurisprudência deste Superior
Tribunal, a Seção declarou competente o Juízo Federal suscitante. Precedente citado: CC
67.343-GO. CC 72.738-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 8/8/2007.

Informativo 344, STJ: COMPETÊNCIA. FURTO MEDIANTE FRAUDE. TRANSFERÊNCIA.


VALORES. CONTA-CORRENTE. INTERNET.
A fraude eletrônica para transferir valores de conta bancária por meio da Internet
Banking da Caixa Econômica Federal constitui crime de furto qualificado. Assim, o juízo
competente para processar e julgar a ação penal é do local da consumação do delito de
furto, ou seja, de onde foi subtraído o bem da vítima, saindo de sua esfera de
disponibilidade. Precedentes citados: CC 86.241-PR, DJ 20/8/2007, e CC 67.343-GO, DJ
11/12/2007. CC 87.057-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
13/2/2008.

Furto qualificado pelo abuso de confiança X apropriação indébita: no furto qualificado pelo
abuso de confiança o agente subtrai o bem da vítima sendo que a posse inicial é ilegítima. Ex:
empregada doméstica que furta bens da residência do patrão; caixa de supermercado que subtrai
o dinheiro do caixa. Na apropriação indébita a posse inicial do bem é legítima. Ex: Pessoa que
após a realização do teste drive não devolve o carro à concessionária.

III - com emprego de chave falsa;

Chave falsa é qualquer instrumento que não seja a chave verdadeira (Resp 906685/RS,
STJ).

CRIMINAL. RESP. FURTO. USO DE "MIXA". QUALIFICADORA DO USO DE CHAVE


FALSA. CONFIGURAÇÃO. CONCURSO DE PESSOAS. MAJORANTE DO CRIME DE
ROUBO. APLICAÇÃO AO FURTO QUALIFICADO PELA MESMA CIRCUNSTÂNCIA.
IMPOSSIBILIDADE. REINCIDÊNCIA EXCLUÍDA. IMPROPRIEDADE. ATENUANTE.
INAPLICABILIDADE. SÚMULA 231/STJ. RECURSO PROVIDO. I. O conceito de chave
falsa abrange todo o instrumento, com ou sem forma de chave, utilizado como dispositivo
para abrir fechadura, incluindo gazuas, mixas, arames, etc. II. O uso de "mixa", na tentativa
de acionar o motor de automóvel, caracteriza a qualificadora do inciso IIIdo § 4º do art. 155
do Código Penal. III. Tendo o Tribunal a quo, apesar de reconhecer a presença da
circunstância qualificadora do crime de furto, recorrido aos princípios da proporcionalidade
e da isonomia para aplicar dispositivo legal estranho ao fato, assume papel reservado pela
Constituição Federal ao parlamento. IV. Como não existe paralelismo entre os incisos I, II e
III do § 4º do art. 155 do Código Penal com os demais incisos do § 2º do art. 157 do
Estatuto Repressivo, a fórmula aplicada resultaria numa reprimenda diferenciada para
indivíduos que cometem furto qualificado naquelas circunstâncias, o que é inconcebível. V.
O agravamento da pena pela reincidência reflete a necessidade de maior reprovabilidade
do réu voltado à prática criminosa. Impropriedade de sua exclusão sob fundamento da
perda de sua função teleológica. VI. Não se admite a redução da pena abaixo do mínimo
legal, ainda que havendo incidência de atenuante relativa à menoridade. Incidência da
Súmula 231/STJ. VII. Recurso provido.(STJ - REsp: 906685 RS 2006/0263506-7, Relator:
Ministro GILSON DIPP, Data de Julgamento: 19/06/2007, T5 - QUINTA TURMA, Data de
Publicação: DJ 06.08.2007 p. 683)
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IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

Para que o crime seja qualificado pelo concurso de pessoas basta a reunião de duas ou
mais pessoas.

Neste número podem ser computados os menores de idade, inimputáveis e, até mesmo,
os agentes desconhecidos.

O maior responderá pelo crime de furto qualificado pelo concurso de pessoas e corrupção
de menores (244 – B, ECA).

Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele
praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

Ver súmula 500 do STJ e informativo 669 do STF.

Súmula 500: a configuração do crime previsto no artigo 244-B do Estatuto da Criança e


do Adolescente independe da prova da efetiva corrupção do menor, por se tratar de
delito formal.

Informativo 669 do STF – coautoria e participação de menor:


A participação do menor de idade pode ser considerada com o objetivo de caracterizar
concurso de pessoas para fins de aplicação da causa de aumento de pena no crime de
furto (“Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave
ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência: ... § 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade: ... II -
se há o concurso de duas ou mais pessoas”). Com esse entendimento, a 1ª Turma
denegou habeas corpus em que pretendida a redução da pena definitiva aplicada.
Sustentava a impetração que o escopo da norma somente poderia ser aplicável quando a
atuação conjunta de agentes ocorresse entre imputáveis. Aduziu-se que o legislador
ordinário teria exigido, tão somente, “o concurso de duas ou mais pessoas” e, nesse
contexto, não haveria nenhum elemento específico quanto à condição pessoal dos
indivíduos. Asseverou-se que o fato de uma delas ser menor inimputável não teria o
condão de excluir a causa de aumento de pena.
HC 110425/ES, rel. Min. Dias Toffoli, 5.6.2012. (HC-110425)

§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor


que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.

Não se aplica a qualificadora se o veículo for transportado para outro município, deve ser
transportado para outro Estado ou para o exterior.

É crime material, ou seja, deve haver efetiva transposição da barreira para consumação do
crime.

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2. Roubo (art. 157, CP)

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

Ao momento consumativo do crime de roubo também aplica-se a teoria da


amotio/apprehensio, ou seja, consuma-se no momento da inversão da posse do bem (súmula
582, STJ).

Súmula 582, STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.

2.1. Espécies de violência

A violência pode ser própria/violência real ou imprópria/violência ficta.

Violência própria é aquela que ofende a integridade física da vítima. Está disposta na
primeira parte do caput do artigo 157. Vejamos: “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para
outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa (...)”

Violência imprópria é aquela que afeta a integridade psíquica. Ex: utilização de soníferos,
drogas, etc para consumação do roubo. O uso desses subterfúgios causa redução da capacidade
de resistência da vítima e, portanto, configura-se crime de roubo. A violência imprópria está
prevista na segunda parte do caput do artigo 157. Vejamos: “(...) ou depois de havê-la, por
qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência”.

2.2. Espécies de roubo

O crime de roubo pode ser próprio, previsto do caput do artigo 157 ou impróprio, previsto
no §1º do artigo 157.

O roubo próprio ocorre quando o agente emprega a violência (própria ou imprópria) ou


grave ameaça antes da subtração do bem (art. 157, caput, CP).

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência:

O roubo impróprio ocorre quando a utilização da violência ou grave ameaça é praticada


após a subtração do bem visando garantir a vantagem ou impunidade do crime (art. 157, §1º, CP).

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência
contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção
da coisa para si ou para terceiro.

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Ex: agente que adentra em determinada casa com a intenção de cometer o crime furto.
Entretanto, quando está saindo do local com o bem, encontra com a vítima. Para garantir a
detenção da coisa, o agente se utiliza de violência ou grave ameaça.

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