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Cidades brasileiras: expansão urbana na região Centro-Norte e

desafios da gestão
Luiz Otávio Rodrigues Silva, FAU-UTL, Portugal1
Ana Adélia Batista, FCSH, Portugal 2
Ernesto Martelo Júnior, FDUL, Portugal 3
Resumo
No Brasil, a ocupação Centro-Norte intensificou-se por um movimento demográfico
direccionado pela actuação sucessiva de medidas públicas oficiais. A abertura de
frentes voltadas ao agronegócio e a exploração mineral têm estreita ligação com
4
construções de cidades novas .
A Capital Federal, transferida para o planalto central em 1960, segundo Bruand
5
(1981) , resultou da ousadia económica e da política que ensejou a construção de
outras cidades em áreas de fronteiras, tornando-se “realidades irreversíveis”. As
cidades novas constituíram-se em exemplos emblemáticos do planeamento como
acto de poder e de estratégia de ocupação.
Em função do movimento migratório, a ocupação das cidades projectadas não se
desenvolveu como previsto em seu plano urbanístico. Repete-se a lógica perversa
6
das cidades planeadas: “ideias fora do lugar” e “lugares fora das ideias” , trazendo
impactos marcantes no espaço em que esses projectos foram estruturados.
A pretensão deste estudo é apontar algumas das transformações ocorridas na rede
urbana, bem como o impacto resultante da implantação dos projectos de Grande
7
Escala e seus reflexos sobre o ambiente, nomeadamente, na cidade de Palmas,
Estado do Tocantins.

1
Professor licenciado do Curso de Arquitectura e Urbanismo da Universidade Federal do Tocantins e
Doutorando em Urbanismo na Faculdade de arquitectura e Urbanismo da Universidade Técnica de
Lisboa com o tema: Cidades Novas no Brasil Pós-Brasília com orientação do Professor Doutor Carlos
Dias Coelho. E-mail: luiz@uft.edu.br
2
Mestre em Gestão do Território, Ambiente e Recursos Naturais; Departamento de Geografia e
Planeamento Regional. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa.
E-mail: anadegeo@gmail.com
3
Mestrando em Ciências Jurídico-Políticas na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
E-mail: ernestomartelo@gmail.com
4
Denomina-se “cidades novas” as urbes criadas intencionalmente, “ex novo” a partir de um plano
elaborado, sendo este baseado em estimativas de expansão, um programa de necessidades, potencial
da população, da cultura e do desenvolvimento do lugar e as condições essenciais para o funcionamento
da urbe (nota dos autores).
5
BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981.
6
MARICATO, Ermínia. As ideias fora do lugar e o lugar fora das ideias. In: ARANTES, Otília et al. A cidade
do pensamento único – desmanchando consensos. Petrópolis: Vozes, 2002.
7
Projecto de “Grande Escala” refere-se à electrificação das cidades e a mitigação dos seus impactos
mediante ao uso sustentável da energia.
Palavras–chave: Estruturação Territorial, Cidades Novas, Configuração Urbana,
Políticas Públicas e Impactos Ambientais.
1. Introdução
No contexto mundial, a exploração e a expansão de novas frentes económicas e
migratórias, em geral estão relacionadas e motivadas pela reprodução do capital e
acúmulo de riquezas. A integração territorial, como parte do processo de formação
de um mercado de consumo foi um objectivo perseguido pela política de expansão
territorial brasileira. Esse fenómeno tem reflexos no território e evidencia as
alterações provocadas pelas cidades no ambiente.
Na cidade configurada, são reveladas as marcas de organização, de
espacialização, de amálgamas ou hibridismos culturais e de poder. A leitura que
temos sobre as cidades novas planeadas, mostra formas e construções políticas
fundadas sobre uma espécie de mito organizativo que está associado às
elaborações teóricas de experiências da organização científica do trabalho e do
espaço. Pode-se dizer que é um mito, partindo do princípio de que esta estrutura é
auto-suficiente e capaz de reduzir a zero os problemas sociais do seu tempo e as
influências indesejáveis do seu entorno. Portanto, em função dessa dinâmica, o
principal desafio dos planeadores e técnicos que discorrem sobre as cidades é
implementar uma política urbano-habitacional eficiente para os novos moradores e
nomear medidas que minimizem os impactes no território.
Com dimensões continentais, o Brasil é um dos poucos países, que não possui o
seu território plenamente construído ou apropriado; porém, possui frentes pioneiras
sempre em grande dinamismo. Na prática brasileira, o planeamento de cidades
novas foi e continua sendo muito disseminado, como é o caso de Belo Horizonte,
Goiânia, Brasília e Palmas.
A participação dos actores sociais envolvidos através de suas políticas de
estruturação do território, práticas, interesses, concepções e contradições no qual
os modelos urbanos constituem instrumentos de concentração de produtos e força
de trabalho. A urbanização, vista dessa maneira, é um processo contínuo, que se
concretiza dentro dos limites possíveis pelo jogo de força e dos actores envolvidos.
8
Este processo evidencia-se especialmente da região Centro-Norte , que a partir
dos anos 1960 tem passado por transformações radicais nos diferentes tipos de
cidades da região, influenciado pelos avanços de fronteiras que tomaram nova
dimensão no século XX, a partir de diversas outras regiões do país. Pode-se citar
como exemplo dessas lógicas espaciais, o programa do Governo Federal

8
Na acepção deste trabalho, Centro-Norte compreende a Região Norte e Centro–Oeste do Brasil
(constituídos por 10 Estados mais o Distrito Federal). No decorrer da história, essa conotação adquiriu
uma conotação político – militar, no sentido de segurança e protecção do território de um Estado.
Ultimamente, a atenção das ações governamentais acoplada a um planeamento estratégico,
encarregado de impulsionar os diversos modelos de ocupação, tem-se voltado para essa região.

2
9
denominado “Marcha para o Oeste” , na década de 30. Prosseguido pelo governo
10
de Juscelino Kubitschek de Oliveira com o seu Plano de Metas , na década de 50,
que tomaram direcção nessas regiões, chegando finalmente à região amazónica. A
construção de Brasília é caracterizada como símbolo dessa expansão.
Nota-se que esses processos foram marcados por programas implementados nas
últimas seis décadas, provocados pelo crescimento industrial e serviços urbanos,
bem como por mudanças estruturais na agricultura. Trata-se de um processo
inacabado, não sendo apenas mais uma etapa da internacionalização da economia
em curso, desde a Segunda Guerra Mundial. No entanto, trata-se também da
inserção de todos os países nas trocas internacionais de bens e serviços, sob o
impacto da globalização e da hegemonia dos circuitos financeiros na organização
dos fluxos internacionais dos capitais.
2. A configuração do Espaço Brasileiro

9
O programa “Marcha para o Oeste” resultou da necessidade de ocupar os vazios demográficos no interior
do País nos anos 30 e 40 e, aliviar pressões ocasionadas pelo excesso de população no Centro-Sul. Era
também um momento de definições no campo da divisão regional da economia, onde o Centro-Sul, as
regiões mais centrais do país e o Oeste buscavam definir seus papéis, cabendo a estes últimos o
fornecimento de gêneros alimentícios, tornando-se ao mesmo tempo, mercados aptos a consumir
produtos industrializados do Sul (AQUINO, 1996).
10
O Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira apresentou ao povo o “Plano de Metas”, com o lema
“cinquenta anos em cinco”. O plano consistia na implantação de frentes de investimento em áreas
prioritárias para o desenvolvimento económico, voltados principalmente para rodovias, hidroeléctricas,
aeroportos e indústrias, como suporte à expansão capitalista moderna no Brasil. Para esse intento, foi
criado o Banco Nacional de Desenvolvimento – BNDE (actual BNDES), agente financiador e captador de
recursos.

3
No país, as novas formas de reordenação das cidades e as questões sobre
territorialidade têm sido investigadas por autores como: Reis, 1967; Becker, 1988;
Rodrigues, 1988; Trindade Jr.,1997; Villaça, 1999; Cidade, 2003; Jatobá, 2006. Os
seus estudos demonstram que o processo de ocupação do país é orientado em
função das necessidades externas.
11
Becker (1990) , afirma que foram várias as razões marcantes que concorreram
para a dinamização da urbanização na região Centro-Norte do Brasil nas décadas
de 1950, 1960, 1970 e 1980, no contexto da fronteira económica (Figura 1).

Figura 1. Fluxos Migratórios.


Fonte: Adaptado de SANTOS, Regina Bega. Migrações no Brasil. São Paulo: Scipione,
199412.

Os núcleos pré-existentes tornaram-se factores de atracção de capital e de fluxos


migratórios, base da organização do mercado de trabalho e locus da acção
político-ideológica com vistas ao controle social. Sendo este o começo da chamada
industrialização pesada da economia brasileira que assinalou a entrada do país em
uma nova fase económica, ou seja, de acesso ao modelo de acumulação intensiva,
conhecida como desenvolvimentista ou de acumulação. Embora esse processo
tivesse início no governo de Juscelino Kubitschek, a modernização económica
atingiu seu auge nos governos militares após o ano de 1964, o que a define
politicamente, como conservadora.
Portanto, as regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil, revelam estruturas
semelhantes quanto ao peso da metropolização, da indústria e do comércio nesse
processo de fronteiras económicas, isto deve-se ao factor de suas cidades médias
como Goiânia, Belém e Manaus que, juntamente com Brasília, desempenharem
um papel de atracção desses fluxos migratórios.
É importante citar os dados do último censo demográfico, o qual revela a
concentração populacional nas áreas urbanas, no qual as regiões Centro-Oeste e

11
Apud TRINDADE JUNIOR, Saint-Clair Cordeiro da. Produção do Espaço e uso do Solo Urbano em
Belém. Belém UFPA, NAEA, 1997.
12
Acedido a Março de 2010 em http://www.jf.ifsudeste.edu.br/EXSEL/provasanteriores/provas%202008-
2/modular_prova2A.pdf

4
Norte apresentam crescimento significativo, destacando-se a Norte, que passou de
13
59,1 % em 1991 para 69,9% em 2000 (Figura 2) .

Figura 2. Urbanização das Grandes Regiões do Brasil.


14
Fonte: Censo Demográfico 2000, IBGE .

Na Região Norte, destaca-se a cidade de Belém, Capital do Estado do Pará, pela


importância do comércio regional, como umas das frentes de penetração dos fluxos
migratórios desde o período colonial e contínuo até as décadas recentes.
Portanto, tornar as cidades mais sustentáveis em relação à produção e o consumo,
é um importante e urgente desafio para os gestores, tendo em vista que políticas
públicas pautadas na sustentabilidade ambiental para os centros urbanos, podem
trazer importante contributo para o futuro dos espaços urbanos.
Outro factor importante a ser mencionado é que nas cidades concentra-se o maior
consumo de energia, de recursos naturais e de produtos gerados no planeta.
Paralelamente, a dinâmica que as envolve, no âmbito cultural, socioeconómico e
político, poderão também, propiciar a promoção das mudanças em direcção à sua
sustentabilidade, através da aplicação de políticas de gestão para tal finalidade.
Com efeito, as redes urbanas preexistentes funcionavam como núcleos isolados,
em que os povoamentos seguiram secularmente à disposição geográfica da rede
fluvial (quando a navegação era o principal meio de transporte). “A economia e a
cultura regionais organizavam-se em função da relação com o rio, que fazia o
papel de ligação entre as cidades, de eixo de transporte e de escoamento da
15
produção e meio de subsistência das populações” .
Para fomentar o mercado interno e derrubar as barreiras de isolamento entre as
áreas mais dinâmicas economicamente e as menos desenvolvidas, foram

13
IBGE - Instituto Brasileiro de geografia e Estatística (2008). Acedido a Março 2010 em
http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/pesquisas/demograficas.html
14
Idem.
15
JATOBÁ, Sérgio Ulisses Silva. Gestão do Território e a produção da socionatureza nas ilhas do lago de
Tucuruí na Amazônia brasileira. Tese de Doutorado. UnB, Brasília, 2006, p.67.

5
construídos eixos rodoviários interligando todas as regiões do país. A partir da
década de 60, registaram-se um movimento migratório espantoso em decorrência
dos investimentos estatais e da industrialização do sector energético.
As áreas de investimentos públicos em sectores importantes como petróleo,
16
hidroelectricidade , indústrias de base e infra-estrutura, ganharam grandes
dimensões. A partir daí, com o resultado dessas obras de intervenção acarretou
um incremento demográfico, orientando, inclusive, a acção dos capitais privados e
uma intensidade da política de substituição de importações para fomentar a
produção industrial interna.
Este modelo adoptado pelo estado brasileiro, conhecido por “fordismo”, reproduziu
o modo de produção de trabalho especializado e foi implantado de maneira
17
intervencionista e conservadora . Como resultado dessas intervenções, a região
Centro-Norte passou por várias transformações, na forma, nas funções, na
estrutura do território e na importância, originando complexas redes urbanas, onde
cada centro passou a desempenhar múltiplos papéis com novos actores
emergentes. Porém, as políticas urbano-habitacionais não se fizeram eficientes
diante de uma diversidade de formas espaciais.
18
Segundo Trevisan (2009) , as inúmeras políticas adoptadas nessas frentes
dinâmicas de actividades económicas criaram uma estreita relação com a
construção de cidades novas. Nesse contexto específico, como resultado dessas
frentes dinâmicas, surge um novo arranjo espacial, como no caso de Palmas,
capital do Estado do Tocantins, que foi implantada sob influência directa das
teorias urbanísticas que nortearam Brasília e, está situada em uma região que vem
passando por profundas mudanças dentro do processo de reordenação territorial
do país, desde 1960.
Inaugurada em 20 de Maio de 1989, como a última capital brasileira planeada do
século XX, Palmas, que possui hoje em torno de 248.000 habitantes, segundo
19
dados do IBGE , foi projectada para que pudesse, além de abrigar a estrutura
administrativa do novo Estado do Tocantins, também servir como pólo de
integração entre as regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil, interligando a infra-
estrutura de energia eléctrica e de transportes do interior do país (Figura 3).

16
Segundo BERMANN (1991), o ano de 1955 para o sector eléctrico pode ser considerado um marco para
o Brasil, no que diz respeito à intervenção directa do Estado na geração de electricidade, com a entrada
em operação da central hidroeléctrica de Paulo Afonso (Rio São Francisco, Estado da Bahia), a Usina
Hidroeléctrica Tucuruí (primeira de grande porte construída na região amazónica), primeira parte do
sistema de transmissão Norte-Nordeste e a entrada em operação da Usina Hidroeléctrica de Itaipu.
17
O discurso desenvolvimentista trazia implícita a promessa de que o desenvolvimento traria benefícios, ou
seja, “crescer para depois dividir”. Era o discurso ideológico para uma política económica na qual, apesar
das altas taxas de crescimento, aumentavam em igual medida a concentração de renda, as
desigualdades sociais e o aumento desordenado da periferia das cidades. Daí seu carácter conservador
(JATOBÁ, 2006).
18
TREVISAN, Ricardo. Cidades Novas: 2009. Tese de Doutorado. UnB, Brasília.
19
Acedido a 20 de Março de 2010 em http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1
6
Palmas
Tocantins

Figura 3. Localização geográfica de Palmas – Tocantins


Fonte: Revista o Tocantins – Governo do Estado, 200020.

Embora Palmas seja mais uma cidade nova e com apenas vinte e um anos de
fundação, apresenta sérios problemas urbanos resultantes do crescimento
desordenado, como a expansão periférica decorrente dos vazios urbanos e os
seus efeitos no elevado custo para a implantação e manutenção da infra-estrutura
e equipamentos públicos na cidade.
Em função do fluxo migratório intenso oriundos das mais diversas regiões do país,
a ocupação territorial de Palmas, nos aspectos morfológicos, não se desenvolveu
como previsto. Passadas duas décadas de sua implantação, ocorreram várias
tentativas de invasão de áreas públicas e particulares, algumas com sucesso,
devido à falta de uma política habitacional eficiente para os novos moradores que
chegam a cada ano.
O crescimento da cidade foi incentivado por programas de estímulo de acesso às
facilidades na aquisição de lotes dentro do plano, muitos deles adquiridos através
de doação. Por essa razão verificou-se considerável crescimento populacional,
registado principalmente nos primeiros dez anos da sua implantação e
consolidação, principalmente pelo fomento dos meios produtivos. Essas
transformações também levaram a uma expressiva valorização no mercado
imobiliário da região.

20
Apud SILVA, Luiz Otávio Rodrigues. Formação da Cidade de Palmas de Tocantins. Dissertação de
Mestrado. Universidade de Brasília. Brasília – DF, 2003.

7
Quanto à superfície urbanizada, a cidade é uma “colcha de retalhos” e cujos
princípios urbanísticos diferem da proposta original além dessa deficiência na
gestão de implementação, várias manchas urbanas surgiram no entorno do Plano
urbanístico. A estruturação desordenada avança sobre a área rural causando
problemas ambientais e acarretando excessivas despesas ao erário municipal.
Há muita semelhança com o processo de ocupação do espaço em Brasília. De
maneira similar ao precoce surgimento das cidades satélites da Capital Federal
(Taguatinga, a primeira, iniciou-se em 1958), a ocupação da Área de Expansão Sul
de Palmas começou em 1989, com o núcleo satélite Taquaralto, também antes da
inauguração da cidade (Figura 4).
Foi discorrido que, a depender das forças políticas e económicas vigentes em um
determinado território, os interesses que as articulam e as mobilizam se
caracterizam como os elementos fundamentais na determinação das práticas
urbanas. Mas também caracteriza-se por ser o lugar onde os investimentos de
capital são maiores, seja em actividades localizadas na cidade, seja no próprio
espaço urbano, na produção da cidade.
Tendo em vista os aspectos das políticas territoriais no Brasil, enfocados neste
trabalho, constata-se que a sua divisão regional teve raízes nas Capitanias
Hereditárias quando o País teve, então, pela primeira vez, a delimitação de suas
fronteiras internas, seguindo um processo histórico em que os limites territoriais
basearam-se nos recursos naturais.

8
Figura 4. Núcleos Satélites do Município de Palmas.
Fonte: AMTT – Agência Municipal de Trânsito e Transportes/Palmas21

Neste processo de formação das fronteiras internas no Brasil, as influências das


políticas regionais, tanto para a criação de novos núcleos urbanos como para a
preservação dos já existentes, foram bastante significativas. Neste contexto, a
actuação dos actores sociais dominantes dentro desse jogo de força no
atendimento a interesses mais particulares, tem prejudicado as tentativas de
ordenação das cidades por parte de seus planeadores e urbanistas. A cidade real,
tal como ela se apresenta, contraditória por natureza e complexa em sua essência
e manutenção, se opõe à cidade dos planeadores.
A cidade real, portanto, se configura através do somatório de práticas sociais, nos
âmbitos político, económico e cultural, que determinam a sua morfologia em um
espaço repleto de vivências, construções e transformações contínuas.

21
Apud SILVA, Luiz Otávio Rodrigues. Formação da Cidade de Palmas de Tocantins. Dissertação de
Mestrado. Universidade de Brasília. Brasília – DF, 2003.

9
3. Gestão para a sustentabilidade ambiental das cidades
É importante salientar que para além das políticas desenvolvimentistas, estejam
presentes nas cidades elementos de promoção da sustentabilidade no que se
refere à produção e ao consumo.
A partir da década de 60, eventos mundiais importantes, como o Clube de Roma
22
(1968) , as crises do petróleo (1973 e 1979), a publicação do “Relatório
23
Brundtland” (1987) , a “Conferência do Rio” (1992) e a “Agenda Habitat” (1996),
contribuíram para a mudança de paradigma e consciência a respeito do uso
racional dos recursos naturais e consequentemente a procura pelo
desenvolvimento sustentável.
O resultado foi o surgimento de muitos desafios, como alterações no padrão de
consumo, ocupação das cidades, gestão do espaço e dos recursos naturais. Neste
trabalho destacamos a Agenda 21, um dos documentos assinados na Conferência
do Rio. A Agenda salienta, dentre outras, a busca pelo desenvolvimento de
políticas e estratégias nacionais em direcção a uma gestão eficiente das cidades.
No âmbito brasileiro, foram criadas políticas nacionais sobre a égide do Ministério
do Meio Ambiente. Foi editado o documento “Brasil 2020” da Secretaria de
Assuntos Estratégicos da Presidência da República na qual lança diretrizes à
promoção do desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos,
associando a problemática social e ambiental urbana. Partindo dessas premissas,
as cidades devem ser situadas no conjunto, integrando os planos, projectos e
acções de desenvolvimento urbano, entendendo que as políticas públicas sendo
bem implementadas, exercem um papel fundamental para sustentabilidade das
cidades como cumprimento de uma agenda específica, a chamada “Agenda
Marrom”. Isto significa, sobretudo, melhorar a qualidade ambiental nas cidades
brasileiras para torná-las sustentáveis. Portanto, a reorientação das políticas de
desenvolvimento urbano depende de uma reestruturação dos sistemas de gestão e
de planeamento, através de mecanismos para uma gestão integrada e participativa
24
para ampliar a responsabilidade ecológica de toda a sociedade .
No entanto, há muitos desafios para a gestão urbana no Brasil, particularmente em
aplicar modelos de políticas que aliem as novas exigências da economia
globalizada à regulação pública da produção da cidade e ao enfrentamento do
quadro de deterioração socioambiental.

22
Fundado em 1968 por Aurelio Peccei, industrial e académico italiano e Alexander King, cientista
escocês. Destinava-se à discussão de vários temas, nomeadamente desenvolvimento sustentável e
ambiente. Publicou em 1972, a obra “Os limites do crescimento”, que trata das questões cruciais para o
futuro desenvolvimento da sociedade. Mais desenvolvimentos em www.clubofrome.org.
23
CMMAD – Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Nosso Futuro Comum. 2a
edição. Rio de Janeiro: FGV, 1991.
24
CONFEA - Conselho Federal de Engenharia, Arquitectura e Agronomia. Agenda 21 Brasileira – cidades
sustentáveis. MMA – Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21, 2002.
Acedido a Março de 2010 em http://www.soeaa.org.br/61_soeaa/_textos_referenciais_13.pdf

10
Uma das alternativas importantes tem sido a formação de parcerias com os
municípios, a co-gestão dos serviços comunitários, o aperfeiçoamento da
regulação urbanística, a elaboração de orçamentos públicos participados, a
implementação de planos estratégicos, directores e de desenvolvimento local.
Estas iniciativas fortalecem-se através da elaboração e desenvolvimento das
propostas da “Agenda 21 Local”. A atribuição de competências permite apoiar as
iniciativas do poder local para superar os entraves e acolher as oportunidades de
25
sustentabilidade urbana, de natureza estrutural .
Porém, a aplicação das políticas habitacionais ainda são deficientes no Brasil. Os
custos sociais são elevados, principalmente quanto às ocupações irregulares e em
áreas inadequadas, comprometendo a utilização racional dos recursos naturais, no
26
contexto da sustentabilidade urbana .
O planeamento da expansão de aglomerados urbanos deve ser realizado pela via
da sustentabilidade da cidade, porque não se trata apenas de estruturar os
espaços, mas de utilizá-los de forma ordenada. O desafio é a transformação da
cidade caótica em cidade sustentável, sob a premissa do equilíbrio ambiental entre
o construído e o natural considerando o bem-estar da população e o correcto uso
do solo. Porém, a dificuldade encontrada tem como razão os interesses do capital
27
especulativo imobiliário .
Queremos ressaltar que a cidade de Palmas foi projectada em quadrícula, esta
maneira permite melhor utilização do espaço e dos recursos. Porém, actualmente a
expansão ocorre de forma fragmentada, em virtude da gestão ineficiente,
acarretando o aumento de custos de implantação de infra-estrutura (rede de
esgoto, água, energia), administração e sociais. Sendo assim, a cidade tem o
desenvolvimento prejudicado no seu plano urbanístico, nos moldes dos novos
paradigmas da sustentabilidade das cidades.
É neste sentido que os actores actuantes no tecido urbano, muitas vezes se
apropriam de teorias urbanísticas aplicadas na configuração urbana das cidades
desvirtuando dos seus verdadeiros objectivos sociais e confirmam seu poder
enquanto forças dominantes.

25
CONFEA - Conselho Federal de Engenharia, Arquitectura e Agronomia. Agenda 21 Brasileira – cidades
sustentáveis. MMA – Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21, 2002.
Acedido a Março de 2010 em http://www.soeaa.org.br/61_soeaa/_textos_referenciais_13.pdf
26
GIRARDET, H. The Gaia Atlas of Cities: New Directions for Sustainable Urban Living. Londres: Gaia
Books, 1996. Apud BAZOLLI, João Aparecido. Os Efeitos dos Vazios Urbanos no Custo de Urbanização
da Cidade de Palmas – TO. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Tocantins, 2007, p. 63
27
Idem. p. 66.

11
4. Considerações Finais
Na acepção deste estudo, apontamos que o impacto da implantação dos Projectos
de Grande Escala, associado a uma forte migração da população acarretou
impactos significativos no ambiente em que esses projectos se desenvolveram.
Esses processos são identificados como sendo os responsáveis pelo aparecimento
de cidades novas e pela reactivação e/ou crescimento de outras que estavam
praticamente desactivadas, desde o período colonial. Portanto, as novas formas de
organização do espaço e das actividades produtivas, fizeram da cidade uma
condição essencial para sua estruturação.
Os núcleos populacionais na região Centro-Norte desde o período mencionado,
sempre tiveram papel importante na absorção de fluxos migratórios e na economia
regional. Os projectos/políticas urbano-governamentais tornaram-se um elemento
estruturador para garantir o desenvolvimento das fronteiras, porém, novos
elementos e desafios surgiram através dos tempos.
Com esta explanação, tentou-se discorrer que os actores sociais actuantes e o
grau de complexidade de implantação desses projectos e suas relações nas áreas
de influência, tiveram como reflexo os seus desdobramentos no ambiente. As
políticas de gestão e a ineficiência administrativa quanto a sua aplicação eficaz não
contemplaram ampla parcela da população residente nessas cidades novas.
Por outro lado, o impacto desses conflitos tende a conduzir a política para que
contemple as necessidades da sociedade em seu conjunto. Neste contexto, a
gestão vem se tornando um grande desafio diante de uma sociedade que começa
a questionar as mudanças através de uma participação efectiva.
As experiências trazem contribuições importantes para a realização e avanço das
políticas de reestruturação urbana, bem como a participação da sociedade e de
técnicos comprometidos na procura de soluções para os problemas urbanos,
colaborando com as decisões e a gestão das cidades, nas áreas de sua influência.
A promoção de discussões no meio científico objectiva debater temas relacionados
com as questões pertinentes para a actualidade, particularmente sobre as
questões urbanas que atingem directamente a sociedade, mediante as exigências
ético-ambientais.
Acrescenta-se ainda a importância do intercâmbio e da troca de experiências que
muito contribuem para a maturidade profissional, podendo traduzir em benefícios
socioambientais e tornar a cidade um espaço sustentável.

12
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no Tocantins: Dissertação de Mestrado Universidade Federal de Goiás,
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CONFEA - Conselho Federal de Engenharia, Arquitectura e Agronomia. Agenda 21
Brasileira – cidades sustentáveis. MMA – Comissão de Políticas de
Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21, 2002. Acedido a Março de
2010 em http://www.soeaa.org.br/61_soeaa/_textos_referenciais
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do Brasil. Configuração e Dinâmica da Rede Urbana. Petrópolis, Março de
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GASPAR, Pedro Portugal. O Estado de Emergência Ambiental. 1ª ed. Almedina,
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GIRARDET, H. The Gaia Atlas of Cities: New Directions for Sustainable Urban
Living. Londres: Gaia Books, 1996. Apud BAZOLLI, João Aparecido. Os
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– TO. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Tocantins, 2007.
HUGON, Paulo. História das Doutrinas Económicas. São Paulo: Atlas, 14.ª ed.,
1995.

13
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 2000.
Acedido a Março de 2010 em
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1
IBGE – Instituto Brasileiro de geografia e Estatística. Censo demográfico 2000.
Acedido a Março, 2010, de IBGE em
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