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(PAOLO NOSELLA)
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Diz respeito ...
conhecidas as perseguições e torturas contra bruxas e heresias. O lazer, cultura, arte,
tempo livre, etc. eram concebidos como concessões toleradas.
No século XV e XVI o trabalho do homem se transforma: utiliza cada vez menos
as mãos e cada vez mais a livre disponibilidade do corpo. A esperança de libertação do
homem é depositadas nas máquinas, as quais acreditavam que iriam libertá-los da
prisão do “destino”, sendo assim “... a máquina sempre foi o sonho de libertação do
homem” (p.32). Acreditavam que as máquinas poderiam finalmente reduzir a cansativa
jornada de trabalho para transformar o homem escravo em um consumidor da arte,
política e cultura.
LABOR
Sem dúvida, e até foi reconhecido por Karl Marx, houve a força revolucionária
do capital moderno. A partir do século XVII ocorre uma nova forma de trabalho, uma
nova concepção de trabalho, onde agora o trabalhador pode “livremente” negociar a sua
força, seu corpo de trabalho (concebida como propriedade inalienável) com o capitalista,
em troca de salário. As máquinas da sociedade, agora industrial, faz o homem sonhar
com a possibilidade de agora poder dispor de tempo livre, ações criativas, sociais e
políticas, ou seja, para a poiésis. Ocorre então a transformação do trabalho tripalium para
o trabalho poiésis.
Esse processo de mudança, é agora apoiado pelas ideias ousadas e inteligentes
da ciência progressista e não mais da religião, ocorre a negação dos dogmas religiosos, a
separação entre teologia e razão. O processo educativo se baseia na
preparação/formação de mão-de-obra no sentido de torna-la mais adequada às novas
funções nas fábricas e nos serviços modernos. Ou seja, a educação burguesa adequa-se à
nova dinâmica de trabalho se propondo a aprimorar a “livre força de trabalho humano”
para o mercado de trabalho. Podemos compreender que as formas de trabalho
sobreviviam as antigas maneiras de produzir. A nova educação nacional estava sob
o pano de fundo das orientações educacionais arcaicas.
No início do labor as máquinas eram vistas com bons olhos pela ciência
progressista e defendidas sobre a alcunha de “melhor para o trabalhador”. Entretanto, o
“romantismo” do sonho com a chegada das máquinas na sociedade industrial cai por terra
quando os trabalhadores começam a perceber que as máquinas não estavam tão a favor
como a ciência progressiva defendia, pois a jornada de trabalho não diminuía mas sim
aumentava enquanto a jornada lucrativa do dono da máquina era beneficiada. As
máquinas portanto, eram na verdade relações humanas, elementos de vínculos e
compromissos políticos com o capital e hostis com os trabalhadores. Com isso, os
trabalhadores passaram a creditar a esperança de libertação das máquinas não mais nestas
e sim nos seus companheiros. Surgem os sindicatos.
De fato, os processos técnicos advindos, na fase inicial da industrialização, com
as máquinas encurtaram a jornada de trabalho e ao mesmo tempo as quais, por causa
disso, aumentavam pois acumular capital tornou-se necessidade. Marx compreende esse
fenômeno a partir da noção de relações sociais, onde as máquinas representam a
materialização das relações humanas, ou seja, históricas e trata-se agora de mudar essas
relações que implica em uma questão político-científica. Nesse momento começa a surgir
uma nova concepção de trabalho: o trabalho poiésis, uma forma de trabalho criativa,
combativa, de solidariedade, radicalmente nova e contraposta ao labor. Uma ação social,
complexa e criativa. Isso não significa que na modernidade não haja apologia ao labor,
ainda na modernidade encontramos argumentos a favor, no intuito de preservar a relação
capitalista de trabalho contemporâneo.
As máquinas passam a ser compreendidas por Marx a partir de duas
perspectivas: 1) o surgimento das máquinas até 1825 era com o intuito de melhorar a
qualidade das mercadorias e 2) após 1825, as máquinas eram aperfeiçoadas de modo a
enfrentar as exigências dos trabalhadores. Nesse sentido, compreende-se que a relação
produtiva é sempre relação humana e política em contraponto com a noção tecnicista,
funcional, mecânica da relação de trabalho.
... É preciso [...] que o operário possa escrever um livro [...] sem por isso se ver
obrigado a abandonar o torno ou a bancada. [...] que o artesão descanse de seu trabalho
diário para se dedicar às artes, letras ou às ciências, sem deixar por isto de ser um
produtor” (p.36).
Sob essa ótica, emerge uma nova concepção de trabalho nos séculos XIX e XX
agora pensada pela classe trabalhadora e está sob o pano de fundo da superação entre
teoria e prática (trabalho manual e intelectual). A transformação do labor para a poiésis
passaria pelas bandeiras do “não-trabalho” e da redução da jornada de trabalho.
Importante ressaltar que o “não-trabalho” não deve ser entendido como o ócio no sentido
vulgar e não se trata também de uma recusa ao trabalho mas sim de uma forma de trabalho
que vise relacionar universalmente o homem com a máquina e eliminar a
separação/fronteira entre trabalhadores das mãos e intelectuais2.
2
Perspectiva apontada no texto do Frigotto como uma das crises de aprofundamento teórico
3
Recorrendo a soluções pedagógicas rousseaunianas.
considerar esta nova forma de trabalho, a poiésis. Que se baseie em pedagogias criativas,
não-autoritárias e concretas.