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Responsabilidade Social:
Construindo e Consolidando Valores
Associação Pró-Ensino Superior em Novo Hamburgo - ASPEUR
Centro Universitário Feevale
Desenvolvimento Regional e
Responsabilidade Social:
Construindo e Consolidando Valores
Margarete Panerai Araújo
Maristela Mercedes Bauer
(Organizadoras)
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Inajara Vargas Ramos
REALIZAÇÃO
Instituto de Ciências Sociais Aplicadas
Diretor: Alexandre Zeni
EDITORA FEEVALE
- Coordenação
Celso Eduardo Stark
- Analista de Editoração
Maiquel Délcio Klein
- Assistente de editoração
Fabíula Zimmer
Sabrina Martins
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Fabíula Zimmer
CAPA
Celso Eduardo Stark
Maiquel Délcio Klein
REVISÃO
Elin Maria Lanius Lautert
IMPRESSÃO
Gráfica Nova Letra
ISBN 85-7717-001-2
CDU 658:316.47
© Editora Feevale – TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer
forma ou por qualquer meio. A violação dos direitos do autor (Lei n.º 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo
184 do Código Penal.
APRESENTAÇÃO.........................................................................................07
UM DIAGNÓSTICO DA GESTÃO PRATICADA EM INICIATIVAS DE ECONOMIA
SOLIDÁRIA E OS SEUS DESAFIOS GERENCIAIS: ESTUDO DE CASO DO
MUNICÍPIO DE CACHOEIRINHA ..........................................................09
Pedro de Almeida Costa e Rosinha da Silva Machado Carrion
Introdução
Dadas as peculiaridades da concepção filosófica da economia solidária, a
utilização das ferramentas gerenciais clássicas, usadas na administração de organi-
zações empresariais públicas e privadas, com ou sem fins lucrativos, por muito
1
Administrador, Mestre em Administração e Doutorando em Administração pelo PPGA/UFRGS.
Professor do Centro Universitário Feevale.
2
Professora do PPGA/UFRGS. Coordenadora do Núcleo de Pesquisa sobre Terceiro Setor –
NIPETS do PPGA/UFRGS.
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ainda que,
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Talvez por estar impregnada por uma ideologia muito forte de oposição
ao modo de produção capitalista, a teorização da chamada Economia Solidária
preocupa-se mais com as relações sociais e políticas entre os participantes e des-
ses com os demais atores do ambiente político, econômico e social, do que
propriamente com o processo de racionalização administrativa a que se dedicam
mais fortemente as empresas tradicionais. Não há referência sobre decisões
gerenciais eficientes, no sentido do uso de teorias e princípios de administração.
Não significa que a questão da administração ou do gerenciamento dos
EES não esteja recebendo preocupações dos teóricos. Singer (2000a) refere que
a descrença na capacidade administrativa dos trabalhadores é uma ameaça maior
aos EES do que a própria reação que o capitalismo poderia ter a essas iniciativas.
Enquanto no capitalismo a administração seria um exercício de liderança e de
gestão de conflitos ligado aos mecanismos de dominação do capital sobre o
trabalho, na Economia Solidária as decisões devem ser coletivas e os dados trans-
parentes, de forma que o conhecimento fragmentado dos trabalhadores possa
ser mobilizado de forma integrada para as tomadas de decisão.
Ao revisar o modelo de gestão para empresas autogestionárias, Nakano
(2000) evidencia alguns parâmetros mínimos, sendo apenas um deles referente
ao que se chama de técnicas modernas e efetivas de gestão. Pode-se ver, portanto, que a
análise da questão “administração e gerenciamento dos EES” não chega no nível
de um “modus operandi” que seja específico desse tipo de organização e não pres-
creve mudanças no “saber-fazer” administrativo, colocando a ênfase maior na
dimensão moral da administração e na sua influência nas relações de trabalho
solidárias e na apropriação dos excedentes. Percebe-se, então, um caminho aber-
to para a pesquisa que se aproxime desse “saber-fazer” peculiar, já que “a conclu-
são de toda essa discussão é que a gestão democrática é plenamente compatível
com o emprego da competência científica” (SINGER, 2000a:21).
Como, então, seria o modelo de gestão para os empreendimentos de
economia solidária? Gaiger (2003) lembra que o trabalho consorciado “confere
à noção de eficiência uma condição bem mais ampla, referida igualmente à qua-
lidade de vida dos trabalhadores e à satisfação de objetivos culturais e ético-
morais” (GAIGER, 2003, p.135).
Andion (2002) identificou quatro diferentes dimensões que comporiam a
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Metodologia de Pesquisa
O tipo de pesquisa empreendida, pelo longo tempo de trabalho em cam-
po, já pressupunha algum tipo mínimo de intervenção, dada a extrema carência
que os grupos pesquisados apresentavam. Desenhava-se, assim, um cenário típi-
co para uma pesquisa-ação, em que o pesquisador, ao mesmo tempo em que
reconhecesse a gestão do empreendimento, pudesse intervir nesse modus operandi,
visando a sua otimização e buscando equilíbrio entre o espírito crítico e a
instrumentalidade, posicionamentos tradicionalmente tratados como mutuamente
excludentes em ciência social, mas que Thiollent (1997) encara como um desafio
prático da pesquisa-ação. No entanto, em função da limitação de tempo para
conclusão da pesquisa, a estratégia adotada foi o estudo de caso (YIN, 2001). Por
ser também um fenômeno complexo, a Economia Solidária presta-se muito
bem ao estudo de caso.
As iniciativas estudadas são EES do município de Cachoeirinha3, no Rio
Grande do Sul, apoiados por um programa específico da Secretaria Municipal
de Trabalho e Ação Social daquele município, em especial pelo Departamento de
Geração de Trabalho e Renda. Esse programa municipal, por sua vez, é um
desdobramento de um programa estadual da Secretaria de Desenvolvimento de
3
O município de Cachoeirinha possui 42 Km2, antes ocupados por atividades agrícolas e pecuárias,
mas que a partir de 1970, com a inauguração de um distrito industrial que causou um forte surto
migratório que veio a urbanizar toda a área do município, o seu perfil mudou substancialmente.
Atualmente, a população estimada de 111.454 habitantes é totalmente urbana (FEE, 2003). O
último censo, de 2000, indicava uma população 100% urbana de 107.564 habitantes. Essa população
representa 2,9% da população da chamada região metropolitana de Porto Alegre, capital do Estado do
Rio Grande do Sul, que envolve 28 municípios e um total de 3.658.376 habitantes (IBGE, 2000).
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Assuntos Internacionais do Estado do Rio Grande do Sul, que vigorou até de-
zembro de 2002. O grupo estudado faz parte do Fórum Municipal de Econo-
mia Solidária, instituição prevista no referido programa, e que congrega todos os
grupos de Economia Solidária identificados no município e apoiados por esse
programa de apoio do Poder Público.
O foco da investigação foi desvendar como são as práticas gerenciais nos
empreendimentos, de modo que o pesquisador se valeu de um roteiro semi-
estruturado que cobrisse em especial os processos de tomada de decisão, aqui
entendidos como a característica mais marcante da gestão. Outras fontes de coleta
de dados foram usadas, especialmente a observação participante do pesquisador,
que se apresenta como uma fonte qualificada para desvendar as práticas adminis-
trativas dos empreendimentos. Há, ainda, algum material didático impresso, volta-
do à capacitação gerencial dos empreendedores4, e que foi usado como fonte
secundária.
A observação participante durou um ano, ao longo do qual foi possível
conviver diretamente com os EES, com os empregados da prefeitura que estão
encarregados do programa e da própria secretária municipal, cuja secretaria está
abrigando o programa no município, com as ONGs envolvidas nas atividades
de formação e assessoria dos grupos.
Resultados da Pesquisa
As conclusões da pesquisa cobrem quatro diferentes tipos de objetivos: pro-
cesso de surgimento dos grupos, modos de gestão apresentados, papel das políti-
cas públicas no apoio aos empreendimentos e levantamento das necessidades de
capacitação e assessoria em gestão. Para o escopo deste artigo, focamos nas conclu-
sões referentes aos modos de gestão apresentados pelos empreendimentos e, em
conseqüência, das suas necessidades de capacitação e assessoria em gestão.
O ponto principal de atenção da pesquisa, no tocante ao aspecto da gestão
dos empreendimentos de economia solidária, foi o processo de tomada de deci-
são nos grupos. Em especial foram considerados os processo de entrada e saída de
4
Materiais utilizados nos programas de Economia Solidária da SEDAI/RS e no programa Qualificar
RS, também desenvolvido pela SEDAI e voltado à capacitação técnica e gerencial individual, e que
eventualmente abre vagas aos participantes do EES contemplados pelo programa de Economia
Solidária.
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Considerações Finais
Essa maneira de administrar, diagnosticada nos EES, pode revelar sutil-
mente uma lógica própria, segundo a qual estariam operando esses empreendi-
mentos: eles crescem e desenvolvem essa nova lógica exatamente ao vencerem
esses desafios. São modelos práticos que apontam para uma possível ligação
entre a lógica de mercado (reprodução do capital) e a lógica da solidariedade
(divisão), articulando uma combinação em que eles se reforçam reciprocamente
e garantem a viabilidade do empreendimento.
A partir da realidade desse trabalho de pesquisa, algumas considerações já
foram tecidas, especialmente de considerações metodológicas para o ensino da
administração a esses empreendimentos dentro da economia Solidária (COSTA,
2003a, COSTA; 2004). Cabe, entretanto, ainda algumas considerações quanto à
peculiaridade da gestão na Economia Solidária.
Uma alternativa possível para o entendimento da lógica particular de ges-
tão ali encontrada é a explicação de Tenório (1998), que distingue uma gestão
estratégica da gestão social. A gestão estratégica é a comumente empregada nas
organizações públicas e privadas, sendo caracterizada por umas “ações sociais
utilitaristas, fundadas no cálculo de meios e fins e implementada através da interação
de duas ou mais pessoas, na qual uma delas tem autoridade formal sobre a
outra” (TENÓRIO, 1998;14). Nessa linha de ação, a organização privada deter-
mina a sua própria condição de atuação no mercado ou até mesmo conforma e
determina o mercado. É essa concepção de gestão que é tão criticada pelos
ideólogos da Economia Solidária. Uma gestão social opõe-se a esse modelo de
gestão estratégica, na medida em que os processos decisórios são construídos
por diferentes sujeitos sociais a partir de relacionamentos intersubjetivos. Cria-se
assim um novo paradigma de relação entre os sujeitos sociais, que Tenório (1998)
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Referências Bibliográficas
ANDION, Carolina. As particularidades da gestão em empreendimentos de
economia solidária. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 23, 2002,
Salvador, BA. Anais. Rio de Janeiro, ANPAD, 2001.16 p.
BURREL, Gibson e MORGAN, Gareth. Sociological paradigms and
organisational analysis. London: Heinemann, 1999, 427 p.
CARRION, Rosinha da Silva Machado. Economia solidária no RS: desafios à
sustentabilidade. In: ASSEMBLÉIA DO CLADEA, 37, 2002, Porto Alegre,
RS. Anais. Porto Alegre: CLADEA, 2002, 10p.
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RESPONSABILIDADE, ÉTICA E COMUNICAÇÃO:
REFLEXÕES SOBRE A TENSÃO ORGANIZAÇÃO-
ECOSSISTEMA1
Rudimar Baldissera2
Marlene Branca Sólio3
Resumo
Sob o paradigma da complexidade, reflete-se aqui sobre responsabilidade
social e cidadania organizacional, ultrapassando as idéias que têm sido difundidas
pelo marketing. Entende-se que a noção de responsabilidade social não é da qua-
lidade da estratégia. Trata-se de fundamento filosófico-epistêmico, atualizado como
princípio basilar do ser organizacional, tendendo a fazer-se presente/manifestar-
se nas percepções e reflexões e ações/fazeres organizacionais. Fluxo multidirecional
toma lugar no ambiente da organização, assim como nas relações dialógico-
recursivas que estabelece com o entorno. Pode-se dizer que os níveis de respon-
sabilidade social/cidadania, materializados por determinada organização, encon-
tram possibilidades, temporalidades e intensidades de realização no fundamento
epistêmico-filosófico que a rege. Evidencia-se, também, a importância do papel
dos diversos agentes sociais como força de pressão para essa transformação
epistêmico-filosófica.
Palavras-chave: Comunicação, Responsabilidade Social, Cidadania, Or-
ganizações, Ética/Moral.
1
Este artigo é parte da pesquisa “Balanço Social: transparência ou estratégia de marketing“, que os
autores desenvolvem na Universidade de Caxias do Sul.
2
Relações Públicas, Especialista em Gestão de Recursos Humanos, Mestre em Comunicação/
Semiótica, Doutor em Comunicação. Professor da Feevale e UCS. Email: rudimarbaldissera@bol.com.br.
3
Jornalista, Especialista em História Contemporânea, Mestre em Comunicação. Professora da UCS.
Email: brancasolio@terra.com.br.
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Interrogações
Caos ético-moral. Parece ser essa a sensação experimentada pela atual so-
ciedade, por conta da ebulição de muitas e novas idéias/olhares, das possibilida-
des/potencializações tecnológicas/científicas, dos diversos ritmos (acelerados/
(des)compassados), das novas relações de (des)organização e das diferentes pos-
turas indivíduo/grupo(s), dentre outras coisas. A tensão que se atualiza entre esses
elementos-força reconfigura/catalisa a sociedade, isto é, de alguma forma, im-
plica uma transformação matricial. Ao mesmo tempo em que ela exige e impri-
me algum tipo de movimento social, também tende a criar um certo mal-estar,
insegurança, resistência – quando não medo – frente ao novo que se apresenta.
Importa dizer que, como efervescência, esse movimento de (re)configuração
pode remeter (jogar) a sociedade para qualquer direção, inclusive para o caos. Na
figura do caos sociocultural está-se inclinado a pensar especialmente no individu-
alismo exacerbado4, que poderia levar ao fim das redes sociais. Aqui, não mais
importariam as relações comprometidas com o outro (com a alteridade de qual-
quer natureza), mas, sim, os resultados individuais; os fins justificariam os meios.
Nesse sentido, observa-se que a questão do individualismo tem sido a
grande pauta das atuais discussões ético-morais. É preciso que se atente, no en-
tanto, para o fato de que, como processo sociocultural, a construção/transfor-
mação da moralidade e da ética não se dão no lugar do instantâneo. Essa confor-
mação permite afirmar que o atual mapa das relações humanas está diretamente
imbricado em um processo histórico que levou à mitificação da tecnologia e da
ciência, e que objetivou a dominação do homem sobre a natureza, desprezando
qualquer possibilidade de revés. Vale observar que, de acordo com Grun, “a
predominância do humano sobre todas as coisas e criaturas do mundo tem seu
marco filosófico moderno fundamental no pensamento de Descartes” (2002, p.
24). Esse paradigma investiu a ciência de caráter libertário, concebendo-a como a
única forma de conhecer. ‘Com a’ e ‘pela’ ciência, a humanidade acreditava assu-
mir as rédeas de seu próprio destino. Ainda hoje, em algum nível, essa concepção
mantém-se basilar para muitas das possibilidades de conhecimento do mundo,
isto é, somente é considerado verdadeiro aquilo que é da qualidade do científico.
Nessa direção, parece importante destacar uma concepção que, em algu-
mas esferas, gera constrovérsia: a pseudo-independência da ciência. Um olhar
4
Sobre esse assunto ver Lipovetsky, 2004.
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[…] O estado precisa parecer como expressão do interesse geral e não como
senhorio particular de alguns poderosos. Os não-proprietários podem re-
cusar, como fizeram inúmeras vezes na História, o poder pessoal visível de
um senhor, mas não o fazem quando se trata de um poder distante, separa-
do, invisível e impessoal como o do Estado. Julgando que este se encontra
a serviço do bem comum, da justiça, da ordem, da lei, da paz e da seguran-
ça, aceitam a dominação, pois não a percebem como tal (2002, p. 415-6).
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A semente da sociedade moderna está no século XVII, quando a mecânica newtoniana estabelece
uma nova visão de mundo, no qual o mecanicismo é a única forma legítima de fazer ciência,
desprezando e evitando associação com a sensibilidade. Senhor do seu destino, o homem despreza
os saberes ecologicamente sustentáveis; o organísmico já não tem valor.
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Sobre isso ver Thompson, O escândalo político: poder e visibilidade na era da mídia.
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Perspectiva apresentada por Certeau no livro “A invenção do cotidiano”, 1994.
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[...] a imagem-conceito é compreendida/explicada como um constructo simbólico, complexo e
sintetizante, de caráter judicativo/caracterizante e provisório, realizada pela alteridade (recepção)
mediante permanentes tensões, dialógicas, dialéticas e recursivas, intra e entre uma diversidade de
elementos-força, tais como as informações e as percepções sobre a entidade (algo/alguém), o
repertório individual/social, as competências, a cultura, o imaginário, o paradigma, a psique, a
história e o contexto estruturado. (BALDISSERA, 2005, p. 279)
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Os Balanços Sociais são objeto da pesquisa em desenvolvimento desde 03/2003, conforme nota
número 3.
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Essa noção foi estudada em Baldissera e Sólio, 2004.
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No livro Introdução ao pensamento complexo, Morin (2001) opõe a idéia de racionalismo à de
racionalidade.
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Sentido assumido sob o Paradigma da Complexidade desenvolvido por Morin (1996b, 2001,
2002a, 2002b).
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Referências Bibliográficas
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas
fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. 9. ed. São
Paulo: Hucitec, 1999.
BALDISSERA, Rudimar; SÓLIO, Marlene Branca. Balanço Social:
transparência e/ou mistificação para lograr consenso?. In: ARAUJO,
Margarete Panerai (org.). Responsabilidade social como ferramenta de
política social e empresarial. Novo Hamburgo: Feevale, 2004, p. 61-78.
BALDISSERA, Rudimar. Imagem-conceito: anterior à comunicação, um
lugar de significação. Porto Alegre: 2004. 295 p. Tese (Doutorado em
Comunicação) – Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social,
PUCRS, 2004.
CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano. Petrópolis: Vozes, 1994.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2002.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 4 ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1995.
GEERTZ, Cliford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC
Editora, 1989.
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A RESPONSABILIDADE SOCIAL QUE CONSTRÓI E
CONSOLIDA VALORES: NO CAMINHO DOS MOVIMENTOS
SOCIAIS ATÉ AS ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS
Denise Russo1
Maristela Mercedes Bauer 2
Margarete Panerai Araújo3
Resumo
O cenário temático de Responsabilidade Social e Gestão Social constitui –
se como tema emergente junto a atuação política e metodológica das Organiza-
ções não-Governamentais - ONGs. O espaço de fortalecimento e autonomia des-
sas organizações foram oportunizados pelos já conhecidos movimentos sociais e
setores populares, que sempre ao longo da história colaboraram com seu papel
transformador, seus reflexos e dificuldades, introduzindo referências teóricas e
mediadoras sobre esse tema. À Responsabilidade Social também é uma referência
no projeto do Centro Universitário Feevale que vem atuando com ONGs.
Palavras-chave: Movimentos Sociais, Organização não-Governamental,
Responsabilidade Social.
1
Graduada em Administração de Empresas, especialista e mestre em Gestão empresarial pela UFRGS.
Professora da Feevale, participa do projeto de Gestão Social. E-mail: deniserr@terra.com.br.
2
Graduada em Ciências Contábeis, especialista em Contabilidade pela FGV e Mestre em Engenharia
de Produção pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM - PPGEP. Professora do Centro
Universitário FEEVALE. E-mail: maristelabauer@feevale.br.
3
Graduada em Bacharelado e Licenciatura em Ciências Sociais pela PUCRS, Especialista em
Antropologia Social e Mestre em Demandas e Políticas Sociais no Serviço Social. Atualmente é
Doutora em Comunicação Social pela PUCRS e Professora da Feevale. Também nessa instituição
coordena o Projeto de Extensão Gestão Social - ICSA. E-mail: mpanerai@terra.com.br.
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O Instituto ETHOS de Responsabilidade Social é uma associação sem fins lucrativos, que visa
mobilizar, sensibilizar empresas a gerirem seus negócios de forma socialmente responsável, em
parcerias, na construção de uma sociedade mais próspera e justa. Consulta pelo site http://
www.ethos.org.br.
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“Bilanz social na França, sozialbilanz na Alemanha, social audit nos Estados Unidos da América.”
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tivos, entretanto com imensos desafios, cujos resultados são de grande impacto
social. Com elas nasce uma demanda de profissionalização e necessidade de apoio
gerencial. Tais entidades estão se tornando cada vez mais conhecidas, nacional e
mundialmente, dedicando-se a diferentes causas. Hoje são mais de 250.000 orga-
nizações somente no Brasil, e assim como as empresas privadas, enfrentam os
problemas de gestão no seu dia-a-dia.
Por outro lado, estudos vêm apontando que várias empresas brasileiras
ainda estão em “estágio zero” de Responsabilidade Social, ou seja, sem qualquer
ação implementada ou sem conhecimento sobre as oportunidades para se apro-
ximar da sociedade civil com um discurso condizente com as práticas. O Projeto
Gestão Social pretende promover e divulgar esse conhecimento aos Gestores
do Terceiro Setor e tornar mais amplo aos setores privados para utilizarem um
método de aprendizagem teórico-prático, que será divulgado como capacitação
junto aos acompanhamentos propostos e da produção desse conhecimento.
Dentro das Instituições de Ensino Superior Comunitária aparece esse es-
paço privilegiado para reflexão e construção das ações para a comunidade exter-
na. Este espaço de ensino, pesquisa e extensão foram construídos a partir de uma
necessidade atual da própria sociedade civil. É a partir desse espaço que muitos
programas e projetos estão sendo desenvolvidos, com o objetivo de oportunizar
não só um novo campo de atuação do administrador de empresas, como de
gerar conhecimento e oportunidades para a comunidade em geral.
A principal justificativa desse projeto é a própria causa que as ONGs
defendem: a reversão do quadro de diferenças sociais e a possibilidade de uma
vida digna para todos. Para tal, é necessário reconhecer o 3º Setor como um
setor emergente, que contribui para o crescimento da sociedade, que existe for-
malmente e que precisa ser capacitado para atingir os seus resultados. Assim, o
projeto atua prioritariamente na sensibilização da sociedade civil, fomentando a
participação cidadã no desenvolvimento social sustentado das comunidades, bem
como na promoção, capacitação, orientação empresarial e jurídica e social das
entidades do terceiro setor.
Com uma atuação voltada prioritariamente para a educação, a
integração multidisciplinar do conhecimento, integrando e estimulando a
pesquisa, o ensino e a prática extensionista, pretendemos partilhar teori-
as, conceitos, informações e relatos de experiências capazes de colaborar
com o “fazer ciência”, tanto divulgado em nossa sociedade complexa.
Construir e consolidar valores, tratar dessas diferentes visões e sua influ-
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Referências Bibliográficas
ANDERSON, Perry. O fim da história (De Hegel a Fukuyama). Trad. De
Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1992.
CASTELLS, Manuel. Movimientos sociales urbanos. Madri: Siglo XXI,
1974.
CEPPA – Guia de Orientação 1999 – Documento Guia para a
Responsabilidade Social SA 8000.
CERTO, Samuel C. Administração Estratégica. São Paulo: Makron Books,
1993.
DE LUCA, Márcia Martins. Demonstração do Valor Adicionado. São
Paulo: Atlas, 1998.
DRUCKER, Peter. Administração de Organizações Sem Fins
Lucrativos. São Paulo: Pioneira, 1992.
________. Trabalhar Sem Partitura. HSM Management. Baruerí, São Paulo.
Edição Especial. set.-out., 1997.
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RESPONSABILIDADE SOCIAL:
RELACIONANDO ATITUDES E VALORES
Nara Grivot Cabral1
Resumo
O texto apresenta elementos do movimento de responsabilidade social
que surgiu no Brasil na segunda metade da década de 90, mostrando brevemente
alguns posicionamentos que se dividem entre o apoio e a crítica quanto ao
envolvimento de empresas e indivíduos no enfrentamento dos problemas soci-
ais. Revelando a ambigüidade e a contradição contida no conceito de responsabi-
lidade social, o enfoque da exclusão social aponta um caminho para a construção
dos valores e atitudes que estejam de acordo com a dimensão cultural e ética da
época atual.
Palavras-chave: Responsabilidade Social, Exclusão Social.
Introdução
A discussão sobre o conceito de responsabilidade social tem suscitado
posicionamentos diversos, com argumentos que defendem ou criticam o papel
das instituições e dos indivíduos em assumirem ou não uma posição ativa na
busca de enfrentamento dos problemas sociais e ambientais.
Na sociedade brasileira, especialmente na segunda metade da década de
90, iniciou-se um movimento que ressalta a importância da responsabilidade so-
cial como caminho para o desenvolvimento social, econômico e ambiental do
país. Entretanto, conjuntamente com a difusão do conceito e da prática da res-
1
Psicóloga. Mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela Unisinos e Especialista em Projetos Sociais
e Culturais pela UFRGS. Analista de Projetos junto à Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos
Comunitários do Centro Universitário Feevale.
Desenvolvimento Regional e Responsabilidade Social: construindo e consolidando valores
ponsabilidade social entre diversos grupos sociais, pesam as críticas dela ser uma
fórmula de auto-promoção empresarial e pessoal, de transferência das funções
do Estado e de desmobilização dos espaços de reivindicação social.
Entre posicionamentos progressistas e conservadores, todos concordam
que é urgente a construção de uma sociedade mais justa, com menos violência e
desigualdade social. É consensual a idéia de que o modelo de desenvolvimento
proposto pela modernidade não se concretiza nos dias de hoje, visto que a pro-
messa de progresso tecnológico não trouxe melhorias na qualidade de vida para
todos (YOUNG, 2005). Os indicadores socioeconômicos apontam para um
modelo de desenvolvimento que se esgota sob o ponto de vista ambiental, en-
contrando-se limitado nas alternativas e nas condições de trabalho e renda, mos-
trando elevação nos índices de violência, notadamente, na juvenil. Portanto, agra-
vam-se as situações que provocam a vulnerabilidade e a injustiça social
(POCHMANN, 2003).
Para Gil (2002), não podemos entender a exclusão se não compreender-
mos antes a dimensão social e cultural em que vivemos, os valores que nos go-
vernam e que nos conferem um certo sentido e sentimento diante da pobreza e
da marginalização do outro. Assim, é no contexto e no enfoque da exclusão
social que a análise da responsabilidade social passa a ganhar profundidade, sen-
tido e importância.
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[...] a velha exclusão social não desaparece. O problema dos baixos níveis
de renda e instrução se mantém, mas agora sob nova forma. O desemprego
e a informalidade contribuem para romper os vínculos sociais numa socie-
dade cada vez mais competitiva, onde existe uma sede por padrões de
consumo mais sofisticados e na qual a violência desponta como sintoma
máximo da dessocialização. (POCHMANN, 2003, p. 54)
Nessa nova dinâmica, a exclusão deixa de ser dada como algo “natural”,
sempre associada às situações de pobreza, ampliando-se para as diversas cama-
das populacionais, polarizando ainda mais a divisão entre ricos e pobres e
aprofundando a crise social que iniciou nos anos 80 e que se agrava nos dias de
hoje. Com essa nova face da exclusão, o inimigo contra o qual lutar deixa de ser
tão facilmente identificável e as estratégias para derrotá-lo passam a não ser tão
evidentes.
Segundo Pochmann, o combate à exclusão tornou-se um desafio hercúleo
devido a sua dimensão e dinâmica, exigindo planejamento e ação de gestores de
políticas públicas estatais e não-estatais e disposição de trabalhar de forma articu-
lada e participativa, além de ser necessária a superação da visão de encarar a
política social como residual e subordinada à política econômica, como refere:
“As soluções para os novos e velhos problemas perpassam as esferas dos gover-
nos e todas as áreas de atuação do poder público, envolvendo de maneira deci-
siva a sociedade civil” (POCHMANN, 2003, p.58).
Para o sociólogo Fernando Gil (2002), a exclusão social abarca um con-
junto variado de problemas sociais especialmente urgentes, que exigem não só a
intervenção dos poderes públicos, mas também do indivíduo, articulando as
políticas sociais públicas e privadas com as ações individuais. A eficácia das ações
de enfrentamento da exclusão social, no entanto, depende do conceito, da clareza
e dos consensos que se tenha acerca dos múltiplos e fundamentais aspectos que
compõem a dinâmica dos processos de exclusão. Para o autor, a reflexão orde-
nada e coerente da exclusão exige um esquema de análise complexo, que consi-
dere os diferentes graus, níveis, causas e relações entre os distintos tipos e efeitos
dos fenômenos sociais que provocam a desigualdade de oportunidades.
55
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Desenvolvimento Regional e Responsabilidade Social: construindo e consolidando valores
O que essa palavra evoca é tudo aquilo de que sentimos falta e de que
precisamos para viver seguros e confiantes. Em suma, ‘comunidade’ é o
tipo de mundo que não está, lamentavelmente, a nosso alcance – mas no
qual gostaríamos de viver e esperamos vir a possuir (...) ‘Comunidade’ é
nos dias de hoje outro nome do paraíso perdido – mas a que esperamos
ansiosamente retornar, e assim buscamos febrilmente os caminhos que
podem levar-nos até lá (BAUMAN, 2003, p. 9).
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Desenvolvimento Regional e Responsabilidade Social: construindo e consolidando valores
Aqui, na realização de tais tarefas, é que a comunidade mais faz falta; mas
também aqui reside a chance de que a comunidade venha a se realizar. Se
vier a existir uma comunidade no mundo dos indivíduos, só poderá ser (e
precisa sê-lo) uma comunidade tecida em conjunto a partir do compartilhamento
e do cuidado mútuo; uma comunidade de interesse e responsabilidade em
relação aos direitos iguais de sermos humanos e igual capacidade de agirmos em
defesa desses direitos (BAUMAN, 2003, p. 133-134).
Considerações Finais
O movimento de responsabilidade social pretende contribuir para o de-
senvolvimento sustentável do país com o envolvimento de empresas e indivídu-
os em ações que estejam além das práticas filantrópico-assistencialistas, tendo em
vista a construção da cidadania e o fortalecimento das políticas públicas. Sem
dúvida, esse debate supõe princípios teóricos e limites práticos, que, nos dias de
hoje, estão em construção.
De maneira geral, o desafio da responsabilidade social começa com o
olhar para fora de si, com a atitude pessoal comprometida e com a responsabi-
lidade com o outro. Entretanto, esse caminho, seja empresarial ou individual,
exige uma visão e uma prática que se estenda e se engaje no coletivo, para que não
se torne frágil ou até estéril como alternativa da sociedade frente à complexidade
dos problemas sociais de seu tempo. A ação individual precisa estar articulada
com as relações sociais mais amplas para que possa se tornar uma atuação social
e comunitária efetiva na luta contra a exclusão social.
58
Desenvolvimento Regional e Responsabilidade Social: construindo e consolidando valores
Referências Bibliográficas
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Line, São Leopoldo, ano 5, n.144, p. 5-9, 6 jun. 2005.
59
A INFLUÊNCIA DA ESTRUTURA DE CUSTOS NA
PRECIFICAÇÃO DOS PRODUTOS PELA INDÚSTRIA
COUREIRO-CALÇADISTA DO RIO GRANDE DO SUL
José Eduardo Zdanowicz1
Resumo
O objetivo principal deste artigo é demonstrar que existe uma relação
entre os custos de produção e o orçamento empresarial de qualquer organização
industrial ou comercial, seja de curtume ou calçados, independentemente do porte
ou ramo de atividade econômica. Esta relação é útil, também, na formação de
preços dos produtos. Os objetivos específicos visam complementar as linhas de
pesquisa que foram propostas, por ocasião da defesa de Tese Doutoral realizada
em 31 de janeiro de 2003, na Universidade de León, Espanha. Dentre as várias
linhas traçadas destacam-se a relevância de investigar: se foi atingida a estabilidade
nas vendas dos produtos de couro e calçados, poderá ser determinada uma
política segura de estoques para as empresas coureiro-calçadistas gaúchas, obser-
vando as oscilações e a sazonalidade dos mercados interno e externo. Neste caso,
a empresa do setor em análise deverá manter um estoque mínimo ou de lote
econômico, tendendo para zero de matérias-primas e produtos prontos, buscan-
do praticar um correto planejamento e controle financeiro em termos de liquidez,
capital de giro e rentabilidade. Investigar novas alternativas para a projeção dos
custos de produtos vendidos, analisando se os estoques iniciais de matérias-pri-
mas e produtos prontos deverão ser projetados em valores monetários ou não.
Em contrapartida, se os estoques finais de matérias-primas e produtos prontos
poderão ser estimados em valores físicos e transformados para valores monetá-
rios na data em que o comitê orçamentário desejar. Isto permitirá corrigir, em
tempo hábil, eventuais erros ou equívocos nas formas utilizadas pelas empresas
1
Administrador, Mestre em Economia pela UFRGS, Doutor (Phd) em Administração pela
Universidade de León - Espanha, Professor na UFRGS, FAPA e FACAT.
Desenvolvimento Regional e Responsabilidade Social: construindo e consolidando valores
Referencial Histórico
A Indústria Coureiro-Calçadista é extremamente importante para as eco-
nomias gaúcha e brasileira, considerando seus aspectos relevantes, como o volu-
me das exportações e a geração de novos empregos. O setor sempre recebeu
grande proteção do governo. Após a abertura da economia brasileira, ele vem se
defrontando com novos e fortes concorrentes mundiais, principalmente os insta-
lados no continente asiático.
A evolução e o desenvolvimento do complexo coureiro-calçadista brasi-
leiro teve início no século passado. No Rio Grande do Sul, o surgimento dos
curtumes ocorreu com a chegada dos imigrantes alemães e italianos que aprovei-
taram a grande disponibilidade de peles bovinas existentes no Estado.
O processo de curtimento começou de maneira rudimentar e foi aperfei-
çoando-se ao longo do tempo, graças ao aporte de tecnologia e equipamentos
importados da Europa. O crescimento da indústria calçadista brasileira floresceu
no Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul, constituindo-se no maior cluster mun-
dial, especializando-se em calçados femininos de couro, enquanto as cidades pró-
ximas à Franca, em São Paulo, destacaram-se na produção de calçados masculi-
nos e infantis.
A partir de 2001, o setor em análise, gradativamente, passou a investir me-
nos na qualificação de pessoas (gestão) e na modernização dos processos industri-
ais e comerciais. Por outro lado, a concorrência externa acelerou e qualificou-se
bastante nestes itens, a ponto de existir, hoje, um grande hiato, ao se comparar às
estruturas de custos de empresas do exterior com as das empresas nacionais.
O sistema de produção da indústria coureiro-calçadista, no Rio Grande
do Sul, vem apresentando perdas e desperdícios no processamento operacional
por falta de uma política segura de estoques, gerando custos desnecessários que
deveriam ser evitados pela empresa. Esta constatação serve como uma antítese
ao que é postulado pelo princípio de produção ótima, baseado em ganhos cres-
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não seja através da busca constante e eficaz do lucro, pela redução de custos e
despesas operacionais.
Neste sentido, as empresas do setor em análise, somente poderão incorrer
em custos e/ou despesas operacionais nas atividades que irão contribuir para
realizar resultados satisfatórios a curto ou médio prazo. A primeira regra da
empresa é não gastar com atividades e produtos que não geram valor para o
cliente, a empresa e o acionista. Em outras palavras, a empresa somente poderá
dispender no seu processo operacional aquilo que for estritamente necessário e
útil, tendo em vista a melhoria da qualidade dos seus produtos que o mercado
está exigindo e a preço menor. Portanto, é proibido gastar com atividades e
produtos que não criarão valor adicional para o produto e/ou cliente, visando
eliminar assim todas as perdas do processo produtivo, em termos de estoques,
desperdícios de materiais, ociosidades com funcionários e máquinas na empresa.
Depreende-se que para as empresas coureiro-calçadistas gaúchas só há
uma alternativa para se perpetuarem nos mercados interno e externo: pelo au-
mento dos lucros, via incremento de receitas e/ou diminuição dos custos de
produção e vendas.
O aumento da receita poderá ocorrer de várias maneiras: com a conquista
de novos mercados, o aumento de market share, a otimização dos fatores de
produção, o aumento da produtividade e a eliminação de atividades que não
estejam agregando valor ao produto final.
A empresa como um todo deverá priorizar estas medidas dentro da or-
ganização e, periodicamente, por atividade, por produto, por departamento, por
dia, por semana, ou seja, a todo instante deverá aplicar o Ciclo do PDCA, a fim
de sempre estar focada na redução de custos, no aumento da qualidade dos
produtos, garantindo a sua sobrevivência junto aos clientes.
Para tanto, todos processos de produção e vendas das empresas do setor
coureiro-calçadista gaúcho deverão ser revistos, imediatamente, determinando
com exatidão os custos certos, necessários e mínimos para se tornar competitivo
no mercado.
64
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Alternativas Viáveis
As empresas gaúchas da indústria coureiro-calçadista devem eliminar suas
perdas de processo urgentemente para que possam obter as condições de sobre-
viver no mercado competitivo. Não há outra saída às empresas do setor em
análise, que não seja a busca constante e contínua em modernizar seu processo de
produção e vendas, através de um planejamento consciente e controle rápido das
anomalias detectadas.
66
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Estas são algumas das técnicas práticas, simples e eficientes a serem adotadas
pelas empresas gaúchas de curtumes e calçados, constituindo-se em formas de
minimizar os custos e/ou maximizar os resultados.
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Conclusões
As empresas pertencentes à indústria coureiro-calçadista brasileira e gaúcha
adotam uma administração conservadora, através de uma gestão familiar, que
empregam de poucos instrumentos gerenciais voltados para a redução de custos e
perdas nos processos de compra e uso de insumos básicos, a produção de produ-
tos não-demandados pelo mercado e a pequena ousadia na venda dos mesmos.
Em parte, se deve a maioria das empresas pesquisadas ser dirigida por
seus fundadores ou pela segunda geração, e algumas companhias, por falta de
qualificação da gestão ou pela não profissionalização de sua administração. Estas
foram as principais causas levantadas na pesquisa junto às empresas do setor,
justificando as perdas gradativas de market share às organizações melhor estruturadas
com técnicas de planejamento e controle de custos bem definidos.
A indústria de curtimento de peles de origem bovina tende a vender quase
toda produção para o mercado externo, pois a sua estrutura de custos é muito
71
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pesada, devido aos insumos importados, à carga tributária e aos salários pagos
com os encargos sociais.
Portanto, as condições para se obter uma rentabilidade satisfatória com a
produção e comercialização do couro wet-blue ou acabado no mercado interno
são mínimas. Acresce-se, ainda, a falta e a distância para se dispor da matéria-
prima básica, a pele. Uma grande quantidade de couro verde é comprada no
centro-oeste do Brasil, ou importada do Mercosul (Argentina e Uruguai), ou de
outros países (Austrália e Estados Unidos) para realizar o seu curtimento por
empresas gaúchas. A tendência, em função dos problemas levantados, é aumen-
tar ainda mais o custo de produção na indústria de curtume no Estado do Rio
Grande do Sul.
Quanto à indústria de calçados gaúcha, deverá trocar a matéria-prima bá-
sica, o couro, por outros materiais equivalentes para a fabricação de calçados.
Principalmente, os seus cabedais deverão ser em laminado sintético, têxtil (lona,
brim, nylon e outros), para tornar o preço do calçado gaúcho mais competitivo
nos mercados interno e externo.
Entretanto, todas as empresas de couros e calçados gaúchas terão que
implantar um sistema de gestão centrado em planejamento e controle de custos
de maneira ampla. Assim, o orçamento de matérias-primas deverá estar em
sintonia com a política de pronto abastecimento a todas as unidades produtivas
da empresa coureiro-calçadista gaúcha, em termos de qualidade e quantidade, no
tempo certo. A empresa de couro ou calçados não poderá sofrer parada em seu
processo de produção por falta ou má qualidade da matéria-prima. A proposta
é dimensionar a necessidade exata de todas as matérias-primas necessárias para o
prazo mais curto possível, não parando a fábrica por falta materiais, nem deixar
ou atrasar a entrega de produtos aos clientes, evitando-se a perda, o desperdício
e a ociosidade do capital de giro.
Outra sugestão refere-se, também, ao custo de matérias-primas que deve-
rá ser calculado segundo as variações de estoques e compras de matérias-primas
estimadas em valores monetários pela empresa do setor. O novo desenho será
determinar o custo da matéria-prima projetada e demais custos operacionais
pelo método do valor atual de mercado. Logo, o estoque final de matérias-
primas deverá estar projetado em unidades físicas e a valorização destas unidades
será pelo preço de mercado, no momento zero, ou seja, na data de avaliação da
proposta orçamentária global da empresa.
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75
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ANEXO 1
10. A empresa utiliza o sistema just in time (a) ou kanban (b) em seu proces-
so produtivo?
a( ) b( ) a+b( )
12. A empresa sabe quais são as operações que não agregam valor ao
produto?
Sim ( ) Não ( )
80
O VALE RIO DOS SINOS E A INSERÇÃO
DO
INTERNACIONAL DO BRASIL NO CONTEXTO DO
NACIONAL DESENVOLVIMENTISMO: 1968-1978.1
Rodrigo Perla Martins2
Gisele Becker3
Resumo
O presente ensaio tem como objetivo principal analisar a relação existente
entre a inserção internacional do Brasil, entre 1968 e 1978, com o desenvolvimen-
to/crescimento econômico industrial do Vale do Rio dos Sinos. Para tanto, tenta-se
relacionar o contexto econômico nacional com o desenvolvimento regional alcan-
çado pelo Vale do Rio dos Sinos, mais especificamente em Novo Hamburgo. Esse
crescimento resultou em um país industrial-exportador e também, em nível local,
uma região urbanizada e desenvolvida. No que tange às possíveis determinantes
internas desse desenvolvimento regional, é possível aferir, ainda que um conjunto
de interesses locais vinculou-se aos objetivos nacionais de então, resultando em uma
política de busca de mercados externos para o produto da região.
Palavras-chave: Desenvolvimento Regional; Política Externa Brasileira;
Inserção internacional do Brasil.
Apresentação
Esse ensaio, como bem diz o nome, tem por objetivo articular o desen-
volvimento regional de Novo Hamburgo, entre os anos 1968-1978, como a
política de inserção comercial brasileira. A contribuição da região para o projeto
1
O presente artigo faz parte de um projeto maior de pesquisa desenvolvido na Feevale intitulado:
“A Educação Superior no Vale dos Sinos: um olhar histórico através da imprensa (1969-1985)”.
2
Mestre em Ciências Políticas pela UFRGS. Docente e Pesquisador da Feevale. E-mail:
rodrigomartins@feevale.br.
3
Doutoranda em Comunicação Social pela PUC-RS; Mestre em História do Brasil pela PUC-RS.
Docente e Pesquisadora da Feevale. E-mail: giseleb@feevale.br.
Desenvolvimento Regional e Responsabilidade Social: construindo e consolidando valores
4
De acordo com Iselda Corrêa Ribeiro, “... podemos acreditar que o desenvolvimento de uma região
só pode ser considerado sustentável se for constituído por um desenvolvimento humano e social,
que abarca as relações sociais regionais e locais e suas contradições. Vendo desse ângulo, podemos
considerar que o conceito de ‘desenvolvimento sustentável’ é possivelmente uma utopia, utopia essa
que deve ser inerente às práticas cotidianas do fazer dos políticos, das ONGS, dos empresários e,
conseqüentemente, dos seus desafios.” (RIBEIRO, Iselda Corrêa. O desenvolvimento local e regional
na região do Vale dos Sinos: um portal para a qualidade de vida. In: RIBEIRO, Iselda Corrêa (org.).
Estudos em desenvolvimento regional II: Pensando Campo Bom. NH: Editora Feevale, 2004.)
5
Sobre o mesmo ver: RIBEIRO, Iselda Corrêa. Desenvolvimento local e regional na região do Vale
dos Sinos: um portal para a qualidade de vida. In: RIBEIRO, Iselda Corrêa (org.). Estudos em
desenvolvimento regional II: Pensando Campo Bom. NH: Editora Feevale, 2004. pág: 19 a 28.
Nesse artigo a autora define com clareza e objetividade, além de um rápido levantamento bibliográfico
sobre conceito.
6
FONSECA, Pedro César D. Vargas. O capitalismo em construção. SP: Brasiliense, 1989.
7
Idem.
82
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84
Desenvolvimento Regional e Responsabilidade Social: construindo e consolidando valores
8
Heloisa Conceição Machado da Silva. Da substituição de importações à substituição de exportações:
a política de comércio exterior brasileira de 1945 a 1979. POA: Ed. da UFRGS, 2004.
9
23.834.945 de pares. MEURER, Marcos Artur. O crescimento das exportações de calçados de
Novo Hamburgo: causas e conseqüências. UNISINOS. Centro de Educação e Humanismo. São
Leopoldo, 1989. mimeo.
10
51.634.489 de pares. Idem.
85
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mercado consumidor, o externo, já que, este último, era mais exigente e concor-
reu com produtos externos.
Podemos afirmar que esses fatores podem estar ligados entre si para o
desenvolvimento da região (no quesito exportação) e articulam-se com a política
de inserção comercial brasileira no período militar.
Paralelo e complementar a isso existiram iniciativas individuais de abertura
de mercado consumidores externos.11 Também cabe ressaltar o incentivo gover-
namental de exportação (via feiras externas) para expôr os produtos. Além, é
claro, do próprio, o surgimento da FENAC12 em âmbito interno que atraíram
empresários estrangeiros e nacionais.
Iniciou-se o processo exportador de calçados a partir do mercado norte-
americano e, em um segundo momento, a Europa. O principal mercado consu-
midor do calçados foi os EUA no início e ao longo da década de 70.
Como medida de proteção aos produtos nacionais, os legisladores ameri-
canos aprovaram sobretaxas aos calçados brasileiros a partir de 1974. Essa reser-
va de mercado imposta pelo legislativo norte-americano não deve ser vista como
pontual ou única, ou até mesmo somente contra o calçado da cidade de Novo
Hamburgo e da região do Vale do Rio dos Sinos, já que o Brasil, de uma forma
geral, sofreu barreiras alfandegárias e de sobretaxas sobre seus produtos manu-
faturados e agrícolas em suas exportações. Para exemplificar, podemos citar o
caso da disputa que houve entre Brasil e EUA na venda de café verde e do café
industrializado (granulado). Essa disputa, e até mesmo a barreira que o calçado
sofreu, deve ser entendida dentro de uma lógica de mercado e de política co-
mercial externa, já que os produtores do chamado primeiro mundo, às vezes,
não conseguem aplicar coerência com o discurso do livre comércio total.
Para um melhor entendimento dessa possível relação entre o dinamismo
interno na produção de produtos acabados e a política comercial externa brasi-
leira no período estudado, deve-se creditar ao esforço da comunidade em âmbi-
to local. Isso é, para que o produto da região se tornasse importante na pauta de
exportações brasileiras, foi necessária uma articulação de interesses internos da
11
Referente depoimentos de Maurício Schmidt, Raul Brandenburguer e Cláudio Strassburguer:
SCHEMES, Cláudia (et.all.) Memórias do setor coureiro-calçadista: pioneiros e empreendedores
do Vale do Rio dos Sinos. Novo Hamburgo: Feevale, 2005.
12
Feira Nacional do Calçado. Para mais informações ver: idem.
86
Desenvolvimento Regional e Responsabilidade Social: construindo e consolidando valores
13
Ver monografia de: ÁVILA, João Carlos Rambor de. O papel do Jornal NH no desenvolvimento
econômico regional. Novo Hamburgo, Monografia de Bacharelado em Jornalismo, Centro
Universitário Feevale, dezembro de 2004.
14
Jornal NH, Novo Hambrugo, 23.06.1971.
87
Desenvolvimento Regional e Responsabilidade Social: construindo e consolidando valores
Referências Bibliográficas
ÁVILA, João Carlos Rambor de. O papel do Jornal NH no
desenvolvimento econômico regional. Novo Hamburgo, Monografia de
Bacharelado em Jornalismo, Centro Universitário Feevale, dezembro de 2004.
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MEURER, Marcos Artur. O crescimento das exportações de calçados de
Novo Hamburgo: causas e conseqüências. UNISINOS. Centro de Educação
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