Vous êtes sur la page 1sur 188

ENSINO História

MÉDIO
a
2 série
MANUAL DO
PROFESSOR

3
Caderno
Manual do Professor

História
Igor Oliveira Vieira
Gisella de Araujo Moura
Daniel de Araujo dos Santos
Rodrigo Bueno de Abreu
Rogério Athayde
Direção de inovação e conteúdo: Guilherme Luz
Direção executiva de integração: Claudio Falcão
Direção editorial: Renata Mascarenhas
Coordenação pedagógica e gestão de projeto: Fabrício Cortezi de
Abreu Moura
Gestão de projeto editorial: Camila Amaral Souza
Desenvolvimento pedagógico: Filipe Couto
Revisão pedagógica: Ribamar Monteiro
Gestão de área: Alice Silvestre e Camila De Pieri Fernandes (Linguagens),
Wagner Nicaretta e Cláudia Winterstein (Ciências Humanas)
Edição: Caroline Zanelli Martins, Cíntia Leitão, Juliana Mendonça Biscardi
e Vivian Viccino (Língua Portuguesa e Redação), Carla Rafaela Monteiro, Andressa
Serena de Oliveira, Marina de Sena Nobre, Érika Domingues do Nascimento
e Eduardo Augusto Guimarães (História), Elena Judensnaider, Brunna Paulussi,
Raquel Maygton Vicentini e Karine M. dos S. Costa (Geografia)
Gerência de produção editorial: Ricardo de Gan Braga
Fluxo de produção: Paula Godo (coord.), Fabiana Manna e Daniela Carvalho
Revisão: Hélia de Jesus Gonsaga (ger.), Kátia Scaff Marques (coord.),
Rosângela Muricy (coord.), Adriana Rinaldi, Ana Curci, Ana Paula C. Malfa,
Brenda T. de Medeiros Morais, Carlos Eduardo Sigrist, Célia Carvalho, Cesar
G. Sacramento, Danielle Modesto, Diego Carbone, Gabriela M. de Andrade,
Larissa Vazquez, Lilian M. Kumai, Luciana B. de Azevedo, Luís Maurício Boa
Nova, Marília Lima, Marina Saraiva, Maura Loria, Patricia Cordeiro, Patrícia
Travanca, Paula T. de Jesus, Raquel A. Taveira, Ricardo Miyake, Sueli Bossi,
Tayra B. Alfonso, Vanessa de Paula Santos, Vanessa Nunes S. Lucena
Edição de arte: Daniela Amaral (coord.), Catherine Saori Ishihara
Diagramação: Casa de Tipos, Karen Midori Fukunaga
Iconografia e licenciamento de texto: Sílvio Kligin (superv.), Cristina
Akisino (coord.), Denise Durand Kremer (coord.), Claudia Bertolazzi, Claudia
Cristina Balista, Daniel Cymbalista, Ellen Colombo Finta, Ellen Silvestre,
Fernanda Regina Sales Gomes, Fernando Cambetas, Iron Mantovanello,
Jad Silva, Karina Tengan, Roberta Freire Lacerda Santos, Roberto Silva e
Sara Plaça (pesquisa iconográfica), Liliane Rodrigues, Luciana Castilho, Paula Claro
e Thalita Corina da Silva (licenciamento de textos)
Tratamento de imagem: Cesar Wolf, Fernanda Crevin
Ilustrações: Alexandre Koyama, Casa de Tipos, Júlio Dian
Cartografia: Eric Fuzii, Alexandre Bueno
Capa: Gláucia Correa Koller Créditos das imagens de abertura: Ciências Humanas: Gerson Gerloff/
Foto de capa: Sanjatosi/Shutterstock Pulsar Imagens, Thomaz Vita Neto/Pulsar Imagens, Rubens Chaves/Pulsar
Imagens, Fernando Podolski/iStock/Getty Images, Alf Ribeiro/Shutterstock,
Projeto gráfico de miolo: Gláucia Correa Koller
R.M. Nunes/Shutterstock (História), marchello74/iStock/Getty Images
(Geografia)
Todos os direitos reservados por SOMOS Sistemas de Ensino S.A.
Rua Gibraltar, 368 – Santo Amaro
CEP: 04755-070 – São Paulo – SP
(0xx11) 3273-6000
© SOMOS Sistemas de Ensino S.A.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Sistema de ensino pH : ensino médio : caderno 1 a 4 :


humanas, 2ª série : professor. -- 1. ed. --
São Paulo : SOMOS Sistemas de Ensino, 2017.

Vários autores.
Conteúdo: Língua portuguesa I -- Redação --
História -- Geografia.

1. Geografia (Ensino médio) 2. História (Ensino


médio) 3. Livros-texto (Ensino médio) 4. Português
(Ensino médio) 5. Português - Redação (Ensino médio)
I. Hormes, Raphael. II. Caldas, Marcelo. III. Vieira,
Igor. IV. Augusto Neto.

16-01961 CDD-373.19

Índices para catálogo sistemático:


1. Ensino integrado: Livros-texto: Ensino médio 373.19

2017
ISBN 978 85 468 0850-2 (PR)
Código da obra 526256317
1ª edição
1ª impressão

Impressão e acabamento

Uma publicação
Sumário
geral

CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS

13 Era Vargas: do 14 Era Vargas: o Estado 15 Dutra e o segundo


MÓDULO

MÓDULO

MÓDULO
Governo Provisório 5 Novo (1937-1945) 10 governo Vargas 16
ao Estado Novo
HISTÓRIA

(1930-1937)

16 O governo Juscelino 17 Os governos Jânio 18 A ditadura civil-militar:


MÓDULO

MÓDULO

MÓDULO
Kubitschek 19 Quadros e João 23 governos Castelo 27
Goulart Branco e Costa e Silva
HABILIDADES E COMPETÊNCIAS
Competência de área 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 – Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 – Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 – Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos.
H4 – Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 – Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência de área 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações
socioeconômicas e culturais de poder.
H6 – Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 – Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 – Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem
econômico-social.
H9 – Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial.
H10 – Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
histórico-geográfica.
Competência de área 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as
aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 –
Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 –
Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 –
Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
H14 –
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica
acerca das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 – Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência de área 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no
desenvolvimento do conhecimento e na vida social.
H16 – Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 – Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 – Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais.
H19 – Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 – Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência de área 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da
democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 – Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 – Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 – Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 – Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 – Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência de área 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos
históricos e geográficos.
H26 –
Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 –
Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e(ou) geográficos.
H28 –
Relacionar o uso das tecnologias com os impactos socioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 –
Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações
humanas.
H30 – Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Era Vargas: do Governo
13Módulo
Provisório ao Estado Novo
(1930-1937)

HISTÓRIA
OBJETOS DO CONHECIMENTO HABILIDADES
• Principais características da Era Vargas • H8 - Analisar a atuação dos movimentos sociais que
• O Governo Provisório (1930-1934) e a Revolução contribuíram para mudanças ou rupturas em processos
Constitucionalista (1932) de disputa pelo poder.
• A Constituição de 1934 e a radicalização política • H11 - Identificar registros de práticas de grupos sociais
• O Golpe do Estado Novo (1937) no tempo e no espaço.

M—dulo 13
• H12 - Analisar o papel da Justiça como instituição na
organização das sociedades.
• Entender a relação entre o Estado e os trabalhadores.
• Caracterizar a Constituição de 1934.
• Identificar os fatores para o Golpe do Estado Novo.
• Compreender o cenário internacional na construção
do regime brasileiro.
• Contextualizar a Revolução de 1930.
• Comparar os movimentos políticos surgidos após 1934.
• Analisar a reação da elite paulista.

INTRODUÇÃO ESTRATÉGIAS DE AULA


Este módulo aborda os primeiros anos da Era Var- A Era Vargas é provavelmente um dos temas mais in-
gas, ou seja, o Governo Provisório (1930-1934) e a fase teressantes do currículo de história do Brasil. O que cer-

Era Vargas: do Governo Provisório ao Estado Novo (1930-1937)


constitucional (1934-1937). Isso significa trabalhar com tamente tornará a aula bem produtiva é destacar a impor-
os alunos as razões da Revolução de 1930, a Revolução tância do legado varguista a longo prazo na história do
Constitucionalista de 1932, a Constituição de 1934, a ra- país. É possível, por exemplo, apontar o modelo criado
dicalização política entre direita e esquerda no Brasil (AIB por Getúlio como um marco das relações entre a socieda-
e ANL), a Intentona Comunista (1935) e o Golpe do Esta- de e o Estado nacional brasileiro.
do Novo (1937). Isso permitiria levantar questionamentos importan-
O principal objetivo do módulo é fazer os alunos com- tes sobre o papel do Estado na atualidade, no Brasil
preenderem que, apesar dos avanços políticos, como o e no mundo. A partir desse tema, seria possível ainda
voto secreto, a consolidação das leis trabalhistas e, tam- refletir sobre projetos de privatização e a perspectiva de
bém, a promulgação da Constituição de 1934, a Era Var- revisão da legislação trabalhista, tão caros ao modelo
gas foi marcada pela forte presença do Estado e de seu neoliberal.
líder e pela sua importância para a história do Brasil, ten- Da mesma forma, poderão ser discutidos os limites
do em mente os eixos teóricos apontados pelo texto de extremos a que um Estado pode chegar, como a interdi-
referência: trabalhismo, nacionalismo, industrialização e ção dos direitos civis, a violência oficial e o monitoramento
reaparelhamento do Estado. ideológico, típicos das ditaduras.

5
AULA 1
B) Crise política
Na primeira aula deverão ser tratados com cuidado os
1. Intentona Comunista (1935)
temas da seção Para começar, em particular a importân-
cia de Vargas para a história do Brasil. Ainda nesta aula, 2. Plano Cohen (1937)
avance até a Revolução Constitucionalista de 1932. 3. Golpe do Estado Novo (1937)

AULA 2 EXERCÍCIOS
Na segunda aula deverão ser contemplados a Consti-
Em particular para este módulo, dê atenção ao exercí-
tuição de 1934 e o Governo Constitucional, abrangendo o
cio 8 da seção Praticando o aprendizado; ao exercício 6
Plano Cohen e o Golpe do Estado Novo, em 1937.
da seção Desenvolvendo habilidades; e ao exercício 9 da
seção Aprofundando o conhecimento.
SUGESTÃO DE QUADRO Como sugestão de exercícios em sala, na primeira
aula podem ser feitos os exercícios 1 e 2 da seção De-
senvolvendo habilidades e o exercício 10 da seção Apro-
DO GOVERNO PROVISÓRIO AO ESTADO fundando o conhecimento. Na segunda aula podem ser
NOVO (1930-1937) feitos o exercício 7 da seção Praticando o aprendizado e
o exercício 4 da seção Aprofundando o conhecimento.
I. Introdução
Os demais exercícios propostos podem ser solicita-
1. O caráter da Revolução de 1930
dos como tarefa para casa, para fixação e verificação do
2. A importância de Vargas aprendizado.
➜ Trabalhismo

➜ Nacionalismo

➜ Industrialização ATIVIDADES COMPLEMENTARES


➜ Estado
1. Recurso audiovisual
3. Contexto internacional Assistir a filmes, séries ou documentários sempre
➜ Crisegeral do liberalismo (1920-1930): econô- ajuda a compreender conteúdos trabalhados em sala.
mica e política É necessário ter cuidado para não substituir a aula por
um audiovisual, não permitir a dispersão da turma du-
II. Governo Provisório (1930-1934) rante a exibição e deixar claro que esse é um recurso
A) Primeiras medidas (1930-1932) importante para complementar o que foi exposto em
1. Início do reaparelhamento do Estado sala de aula. Para este módulo, uma ótima sugestão é
2. Nomeação de interventores nos estados uma produção brasileira:

B) Revolução Constitucionalista de São Paulo (1932) • Olga, de Jayme Monjardim. Brasil, 2004. (141 min).
➜ São Paulo 3 Vargas – oposição ao governo au- O filme foi baseado na biografia de Olga Benário,
toritário de Vargas militante de esquerda e esposa de Luís Carlos Prestes, e
➜ Derrota
conta sua trajetória, política e pessoal, até sua morte na
paulista – convocação da Assembleia
Alemanha. Ao sugerir o filme, destaque na narrativa, como
Constituinte
pano de fundo, as condições da crise política brasileira e
C) Constituição (1934) internacional dos anos 1930.
➜ Voto secreto
➜ Voto feminino
2. Trabalho em grupo

➜ Legislação
Peça aos alunos que façam uma pesquisa em biblio-
trabalhista
teca pública ou na internet. Eles deverão buscar, em jor-
III. Governo Constitucional (1934-1937) nais da época, material de referência sobre o período
A) Polarização política estudado e apresentar um panorama das opiniões sobre
o governo de Getúlio Vargas. Direcione a pesquisa para
1. AIB (1932)
alguns temas-chave, como as leis trabalhistas, a discus-
2. ANL (1935)
são sobre o caráter centralizador do governo, o voto fe-
minino, entre outros.

6
Organize a apresentação dos resultados da pesquisa, principais problemas a ser enfrentado no imediato pós-trin-
com a elaboração de cartazes ou exposição das imagens ta. Segundo o Centro Industrial do Brasil, em 1930, no Rio,
recolhidas. A atividade pode ser o ponto culminante das o número de operários sem emprego chegava a 40.000 e em
tarefas realizadas em sala, ou apresentada em uma feira São Paulo a 60.000.
em seu colégio.
Os graves acontecimentos econômicos, portanto, atingiam
Os objetivos dessa atividade são fomentar a pesqui-
diferentes classes sociais e forçavam uma reflexão que, tendo
sa; fazer o aluno ter contato inicial com um tipo de fonte
histórica; ler e interpretar documentos da época; analisar seu início nos anos vinte, possuía como ponto crucial justa-
dados e conseguir um comparativo. mente a revisão crítica da experiência política da 1a República,
nela incluídas as questões de política econômica.
Nesta revisão, a defesa das atividades agrárias, particu-
MATERIAL DE APOIO AO PROFESSOR larmente a defesa do café, continuava a ser reconhecidamen-

HISTÓRIA
te apontada por todos como o elemento primordial para a
LIVRO superação da crise. O próprio empresariado mencionava tal
LIRA NETO. Getœlio (1882-1930): dos anos de formação necessidade, chamando atenção, entretanto, para o fato de
à conquista do poder. São Paulo: Companhia das Letras, que tal preocupação não poderia ser realizada em detrimento
2012. de um real atendimento dos problemas que afetavam a in-
dústria e o comércio. A esse respeito chegam a mencionar o

M—dulo 13
TEXTOS perigo dos argumentos antiprotecionistas que insistiam em
Texto 1 ver as indústrias brasileiras como setor marginal e “artificial”
PAI DE QUEM? da economia do país e não como um de seus importantes
elementos constitutivos.
O movimento operário brasileiro não se iniciou em 1930,
Desta forma, os problemas que a burguesia industrial
nem foi esse o momento das políticas públicas em relação
e comercial enfrentava, no início da década de trinta, eram
aos trabalhadores. Porém, é inegável que mudanças significa-
graves, uma vez que atravessava um dos momentos de maior
tivas se operaram na sociedade brasileira a partir da chamada
depressão econômica em suas atividades, além de estar
Revolução de 1930. Mudanças na política econômica, reo-
ameaçada pela possibilidade de uma nova investida do livre-
rientando paulatinamente investimentos e prioridades para
-cambismo, estimulada pela situação vigente.
o setor urbano-industrial, sem entretanto qualquer ruptura
GOMES, Ângela Maria de Castro. Burguesia e trabalho: política e legislação
mais abrupta com os interesses da grande lavoura. Altera- social no Brasil. 1917-1937. Rio de Janeiro: Campus, 1979. p. 200-201.
ções no papel do estado, economicamente mais interventor e
politicamente mais centralizador, que, com todas as nuances Texto 3
e possibilidades em jogo, tendeu a caminhar no sentido de Antes de mais nada, é preciso dizer que a ideia de “revo-
uma conformação francamente autoritária. lução de 30” talvez seja a construção mais bem elaborada do
MATTOS, Marcelo Badaró. O sindicalismo brasileiro após 1930.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003. p. 10-11. pensamento autoritário no Brasil. Como tal, foi e continua

Era Vargas: do Governo Provisório ao Estado Novo (1930-1937)


sendo um poderoso instrumento de dominação, na medida
Texto 2
em que apagou a memória dos vencidos na luta e construiu o
MUITOS PROBLEMAS futuro na perspectiva dos vencedores.
Desde o ano de 1928 os industriais vinham apontando Tanto é assim que mesmo as explicações mais sofistica-
os crescentes problemas que assolavam a economia do país e das, aquelas que procuraram fugir dos esquemas da história
particularmente criticando a política de valorização do café. oficial, acabam caindo, ao se debruçar sobre os aconteci-
Esta situação iria agravar-se, em muito, a partir de 1929 com a mentos entre 1920 e 1930, na armadilha ideológica montada
multiplicação de falências e com a quase paralisação de mui- pela ótica do vencedor. [...]
tas fábricas. No Rio de Janeiro, por exemplo, as falências e A sistemática exclusão, repressão e manipulação do mo-
concordatas chegam a alcançar a soma de 816.658.689$000, vimento operário pelas classes dominantes e por aqueles que
além de existir um número considerável de indústrias com se autodenominaram representantes dos trabalhadores – es-
capacidade de trabalho reduzida em cerca de 50%. ses são os suportes da ideia de revolução de 1930.
Neste contexto, o desemprego crescia assustadoramen- A convergência desses objetivos – exclusão, repres-
te, tanto no campo como na cidade, tornando-se um dos são, manipulação e controle dos trabalhadores – confere

7
o conteúdo real àquilo que a história oficial (a memória res pelos seus direitos, foi elaborada a CLT, no
dos vencedores) chama de Revolução de 1930. Por trás governo Vargas, com a liderança do ministro do
desses objetivos, tanto os das classes dominantes como os Trabalho, Indústria e Comércio, Lindolfo Collor.
daqueles que se diziam porta-vozes do proletariado, uma Havia uma clara intenção do Estado de controlar
os trabalhadores por meio do registro na Cartei-
mesma e única lógica os identifica: a lógica da dominação.
ra de Trabalho e da Lei da Sindicalização.
TRONCA, Ítalo. Revolução de 1930: a dominação
oculta. São Paulo: Brasiliense, 1993. p. 7 e 13. 8. a. A questão remete ao Movimento Integralista, co-
nhecido como Ação Integralista Brasileira (AIB), li-
derada por Plínio Salgado. Esse grupo era influen-
GABARITO COMENTADO ciado pelo fascismo italiano e tinha como símbolo
a letra grega sigma. Seus integrantes apoiavam
um governo centralizado e nacionalista, tinham
PRATICANDO O APRENDIZADO um discurso moralista pautado no lema “Deus, Pá-
tria e Família”, criticavam as ideias comunistas e
1. b. Getúlio Vargas enfrentou algumas oposições con-
não apoiavam o anarquismo.
sideráveis durante seus 15 anos de governo, entre
1930 e 1945. Podemos citar como exemplos a opo-
sição paulista, materializada na Revolução Consti- DESENVOLVENDO HABILIDADES
tucionalista de 1932, e a oposição de aliancistas,
que culminou na Intentona Comunista. Essas opo- 1. d. A questão apresenta uma delimitação cronológi-
sições causaram instabilidade política ao governo ca, de 1931 até 1940, que exclui a CLT, elaborada
Vargas. em 1943, que ampliou a ingerência do Estado nas
questões trabalhistas, prática adotada pelo gover-
2. c. O período que antecedeu o golpe de Estado de
no Vargas desde seu início.
Vargas foi marcado pelo aumento das oposições
e pela forte polarização ideológica, com o cres- A política trabalhista de Vargas é um dos aspectos
cimento da influência comunista por meio da mais lembrados desse período e, se de um lado
Aliança Nacional Libertadora, liderada por Luís garantiu direitos aos trabalhadores, de outro teve
Carlos Prestes. Diante dessa situação, Vargas se como objetivo manter o controle sobre a organiza-
apoiou no Exército e no grupo fascista dos in- ção operária. A repressão às “ideologias perturba-
tegralistas e fechou o Congresso Nacional, im- doras” ficou a cargo da repressão policial e não do
pondo nova Constituição, suspendendo direitos Ministério do Trabalho.
e liberdades. O Golpe foi justificado pela amea- 4. d. O discurso dos militares contido no documento
ça comunista, já que o Exército teria descoberto apresentado é claramente anticomunista e repre-
um plano para a tomada do poder, denominado senta o apoio do Exército à articulação golpista
Plano Cohen. liderada por Getúlio Vargas, que instituiu a dita-
5. e. O Governo Constitucional foi o único momento dura do Estado Novo no Brasil. Desde 1934, com
da Era Vargas marcado pelo liberalismo e pelo a organização da ANL, passando pela tentativa
respeito à ordem constitucional; contradito- comunista de 1935, o discurso anticomunista tor-
riamente, abriu possibilidades para que movi- nara-se o principal elemento de propaganda dos
mentos de oposição se organizassem e se ma- setores mais conservadores, refletindo, em parte,
nifestassem, em confronto direto com a política a situação de polarização existente na Europa, que
varguista. De um lado, os comunistas conse- culminou com a ascensão de grupos fascistas ao
guiram criar um amplo movimento de massas, poder em diversos países.
com um projeto de esquerda, a Aliança Nacio- 6. e. A interpretação precisa dos artigos constitucionais
nal Libertadora (ANL), e, de outro, percebe-se mencionados no enunciado, sobretudo quanto
a organização do fascismo na Ação Integralista ao da Constituição de 1934, levaria à resposta
Brasileira (AIB). Tal situação é entendida como correta.
reflexo da situação internacional, muitas vezes Do ponto de vista do conhecimento histórico, a
denominada “polarização ideológica”. Constituição de 1891 ampliou o direito de voto em
7. d. A questão remete à criação da Consolidação das relação à anterior, a de 1824, na qual o voto era
Leis do Trabalho (CLT), na Era Vargas (1930-1945). censitário, mas manteve a restrição desse direito
No contexto da República Velha (1889-1930), a ao sexo masculino e sob determinadas condições.
questão social era vista como uma questão de po- Na Constituição de 1934, estabeleceu-se o direito
lícia. Após a organização e a luta dos trabalhado- de voto às mulheres.

8
APROFUNDANDO O CONHECIMENTO importações. Em 1934 foi aprovada uma nova Cons-
tituição, que estabeleceu, entre outras medidas, o
2. c. A questão remete à Era Vargas (1930-1945). Nesse voto secreto, o voto feminino e os direitos traba-
contexto histórico, o Brasil passou por inúmeras lhistas. Vargas era nacionalista e não se identificava
transformações nas áreas social, política, econômi- com o comunismo. Com a centralização do poder
ca e cultural. Na política, foi ampliado o poder do nas mãos do presidente, foi se diluindo a ideia de
Estado, culminando na ditadura do Estado Novo federalismo, isto é, de autonomia para os estados
(1937-1945). Na economia, Getúlio mudou o mo- da federação.
delo econômico do Brasil, de uma economia agrá- 5. c. Na tentativa de atender a algumas reivindicações
ria exportadora para uma indústria de substituição dos trabalhadores com o objetivo de controlá-los,
de importações. Para ele, a questão social era uma o governo Vargas apresentou uma série de leis fa-
questão de Estado; daí a criação da CLT, reunindo voráveis a eles. Como o reconhecimento dos sin-

HISTÓRIA
as leis trabalhistas. Vargas adotou um nacionalis- dicatos era vinculado ao Ministério do Trabalho,
mo na busca da construção de uma identidade na- podemos concluir que, se, por um lado, diversas
cional. Na Constituição de 1934 foram inseridos o dessas medidas ofereceram benefícios reais aos
voto secreto, o voto feminino e as leis trabalhistas. trabalhadores, por outro, o Estado possuía ins-
3. a. A questão remete à Era Vargas nas fases Provisória trumentos para combater o movimento operário
(1930-1934), e Constitucional (1934-1937). Ao assu- organizado, garantindo, ao mesmo tempo, a tran-
quilidade social reivindicada pelas elites.

M—dulo 13
mir o poder em 1930 mediante uma revolução, Var-
gas aumentou o poder do Estado por meio de um 7. c. A ideologia varguista valorizava o apoio aos traba-
processo de centralização do poder que acabou lhadores. Entre os feitos de Vargas em benefício
culminando no Golpe do Estado Novo, em 1937, dos trabalhadores podemos citar a criação do Mi-
quando foi implantada uma ditadura política no nistério do Trabalho, Indústria e Comércio, a cria-
país. Vargas mudou o modelo econômico do Bra- ção do Ministério da Educação e Saúde e a pro-
sil, substituindo a agricultura exportadora por uma mulgação da Consolidação das Leis do Trabalho
política denominada indústria de substituição de (CLT).

ANOTA‚ÍES

Era Vargas: do Governo Provisório ao Estado Novo (1930-1937)

9
14Módulo
Era Vargas: o Estado Novo
(1937-1945)
OBJETOS DO CONHECIMENTO HABILIDADES
• A Constituição de 1937 • H3 - Associar as manifestações culturais do presente
• A política econômica de Vargas aos seus processos históricos.
• A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial • H9 - Comparar o significado histórico-geográfico das
• A crise do Estado Novo organizações territoriais em escala local, regional ou
mundial.
• H15 - Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais,
políticos, econômicos ou ambientais ao longo da
História.
• H21 - Identificar o papel dos meios de comunicação na
construção da vida social.
• Caracterizar a Constituição de 1937.
• Identificar os princípios da política econômica de
Vargas.
• Compreender a entrada do Brasil na Segunda Guerra
Mundial.
• Relacionar a Segunda Guerra com a crise do Estado
Novo.
• Analisar o papel do Departamento de Imprensa e Pro-
paganda (DIP) para o governo.

Igualmente, é de grande importância que os alunos


INTRODUÇÃO sejam levados a questionar essas conquistas, em razão
da ditadura que estava instaurada. Por isso, é necessário
Este módulo vai tratar do Estado Novo (1937-1945), destacar também o controle ideológico, representado
tido como uma das fases mais importantes da história da pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP); a
República brasileira, na qual foi instituído um regime di- prática socialmente manipuladora do corporativismo –
tatorial e outras tantas mudanças que ocorreram durante em particular com a subserviência dos sindicatos que o
sua duração. governo sustentava – ; e, claro, a exceção de um regime
É fundamental que os alunos saibam reconhecer os que realizava prisões arbitrárias e torturas, exilava e ma-
itens mais destacados desse período. Entre eles: a confir- tava seus opositores.
mação da tendência à centralização política do Estado; a Por fim, não deixe de destacar a relação do contexto
participação dos atores sociais e políticos, como a Aliança internacional com as condições internas do país. Essa
Nacional Libertadora (ANL) e a Ação Integralista Brasileira circunstância fica mais bem demonstrada na participa-
(AIB); a consolidação da substituição das importações – ção do Brasil na Segunda Guerra Mundial e nas conse-
com a adoção do modelo industrial liderado pelo setor de quências diretas que ela causou, levando o Estado Novo
base; e as medidas governamentais de caráter trabalhista, à crise e finalmente à deposição de Getúlio Vargas, em
particularmente o operariado urbano. outubro de 1945.

10
dições do trabalho e da produção industrial; encerrando
ESTRATÉGIAS DE AULA com a exposição sobre o Departamento de Imprensa e
O legado do Estado Novo continua a repercutir nos Propaganda (DIP).
nossos dias. Seja por causa do papel representado pelo Es-
tado na vida dos brasileiros, seja pelas medidas adotadas AULA 2
em favor dos trabalhadores. Não é por acaso que esse é
A segunda aula começará tratando da vida social do
um dos temas que mais frequentam os exames vestibulares
Estado Novo; da participação do Brasil na Segunda Guer-
em todo o Brasil. Não deixe de lembrar isso a seus alunos.
ra Mundial; e, finalmente, da crise do Estado Novo e da
Mas, além disso, essa época ainda permite bons deba-
deposição de Vargas, em 1945.
tes sobre a importância da participação política, os limites da
atuação do poder, os danos que uma ditadura pode causar
EXERCÍCIOS
para a sociedade, a força que se costuma atribuir às lideran-

HISTÓRIA
ças carismáticas, o papel da propaganda, entre tantos outros. Em particular, para este módulo, dê atenção ao exercí-
Tente desenvolver os temas dessa aula de maneira a cio 5 da seção Praticando o aprendizado; ao exercício 6
apresentar aos alunos os pontos de vista do Estado, dos da seção Desenvolvendo habilidades; e ao exercício 6 da
opositores e dos outros atores em torno das questões apre- seção Aprofundando o conhecimento.
sentadas no módulo. Mostre as conquistas daquela época, Como sugestão, para a primeira aula podem ser feitos
sem perder de vista as condições ditatoriais do regime, que os exercícios 4 e 8 da seção Praticando o aprendizado.
teve tanto parentesco com os regimes totalitários.

Módulo 14
Na segunda aula, o exercício 3 da seção Desenvolvendo
habilidades; e os exercícios 2 e 3 da seção Aprofundando
o conhecimento.
AULA 1
Os demais exercícios propostos podem ser solicita-
A primeira aula deverá abordar a Constituição de dos como tarefa para casa, para fixação e verificação do
1937 (“A Polaca”); a Intentona Integralista (1938); as con- aprendizado.

SUGESTÃO DE QUADRO

ESTADO NOVO (1937-1945) C) Controle político-ideológico


• Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP)
I. Criação do Estado Novo
• Departamento de Ordem Pública e Social (Dops)
A) Constituição de 1937 (“A Polaca”)
D) Diversão
• Caráter centralizador • Música, samba, carnaval, futebol e revistas em
• Supressão dos direitos individuais quadrinhos
• Proibição de greve
III. O Brasil vai à guerra
• Controle dos sindicatos (corporativismo) • Situação internacional
• Nacionalização e estatização da economia • “Política de boa vizinhança”
B) A Intentona Integralista (1938) • O “paradoxo”: Política Interna (ditadura) 3 Política
• Confirmação da tendência centralizadora Externa (liberalismo)
• Ausência de partidos e de eleições IV. A crise do Estado Novo
II. Vivendo no Estado Novo • Manifestações contrárias ao governo
– Manifesto dos Mineiros
Era Vargas: o Estado Novo (1937-1945)
A) Produção
– Congresso dos Escritores
• Setor agrícola (café, açúcar, borracha, cacau, algodão)
• Retorno dos “Pracinhas”
• Setor industrial (CSN e CVRD)
• Promessa de eleições (presidência e assembleia cons-
B) Trabalho tituinte)
• Corporativismo (legislação trabalhista e controle dos • Anistia
sindicatos) • Novos partidos (UDN, PSD, PRB)
• Salário mínimo • Campanha Queremista
• CLT • Deposição (outubro de 1945)

11
Esse esforço de centralização político-administrativa,
ATIVIDADES COMPLEMENTARES pelo qual se mantém a autonomia do Estado, manifesta-se
através da montagem de um complexo quadro jurídico-insti-
1. Recursos audiovisuais
tucional que estabelece novos padrões de governo e cria os
Para este módulo existem muitas opções de filmes e mecanismos necessários para dar viabilidade à interferência
documentários que podem ser sugeridos aos alunos como
do Estado nos diferentes setores da realidade social. Certos
recurso para ampliar o entendimento acerca do período
componentes básicos do regime implantado – como a am-
estudado. Veja alguns títulos a seguir:
pliação dos poderes do chefe do Executivo Federal, garantida
• Memórias do cárcere, de Nelson Pereira dos Santos.
Brasil, 1984. (185 min). pela Constituição de 1937, as normas regulamentadoras das
O filme é baseado na obra homônima do escritor Gra- relações entre o governo central e os Estados, restringindo
ciliano Ramos, preso pela ditadura Vargas. a autonomia dos Executivos estaduais, os instrumentos de
• Novas diretrizes para tempos de paz, de Daniel Filho. intervenção na economia, os meios de controle da vida polí-
Brasil, 2009. (80 min). tica, bem como a estrutura corporativa dos mecanismos de
Conta os últimos momentos da ditadura Vargas. inserção dos diferentes grupos, aí incluídos os trabalhadores
• Trilogia nacional de documentários sobre a participação urbanos, no sistema político – apontam todos na direção aci-
do Brasil na Segunda Guerra Mundial, dirigida e produ- ma especificada. [...]
zida por Erik de Castro: Levando em conta estas considerações, podemos con-
O primeiro título, Senta a púa, 1999 (112 min), conta ceber a centralização e o fortalecimento do Executivo du-
a história da atuação da Força Aérea Brasileira (FAB), na rante o Estado Novo como o clímax de um processo político
Europa. marcado por uma crise de poder, em que a incapacidade de
O segundo título, A cobra fumou, 2003 (94 min), fala qualquer dos grupos em confronto impor-se aos demais seria
da Força Expedicionária Brasileira (FEB). o traço dominante. Uma das formas de dar viabilidade a essa
O terceiro título, O Brasil na Batalha do Atlântico, 2012 acomodação entre os setores dominantes dentro da estrutura
(82 min), trata da Marinha de Guerra do Brasil e sua parti- de poder pode consistir no estabelecimento de um complexo
cipação no conflito.
jogo de influências, em que sejam definidas distintas áreas às
quais se garante acesso privilegiado aos grupos diretamente
2. Trabalho em grupo
interessados, assegurando-se simultaneamente o fechamen-
Proponha a realização de uma pesquisa sobre a par-
ticipação do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Para isso
to do processo decisório em suas instâncias superiores. Nes-
existe farta bibliografia, material gráfico e textos digitali- se sentido, o autoritarismo corporativista do Estado Novo,
zados, filmes e documentários sobre o tema, que podem sem representar uma partilha do Estado entre os diferentes
auxiliar na realização da atividade. setores da elite dominante, seria, por outro lado, uma alter-
nativa para canalizar conflitos e interesses heterogêneos para
o interior do aparelho do Estado, dada a complexidade cres-
MATERIAL DE APOIO AO PROFESSOR cente de uma coalizão dominante destituída de uma força
nuclear unificadora.
DINIZ, Eli. O Estado Novo: estrutura de poder, relações de classes. In:
TEXTOS Hist—ria Geral da Civiliza•‹o Brasileira. O Brasil Republicano.
Sociedade e Política. São Paulo: Difel, 1983. p.77 e 84-85. v. 10. Tomo III.
Texto 1
Texto 2
Manda quem pode, obedece quem tem juízo
Bases para uma economia moderna
Os vários autores que se dedicaram ao estudo do Estado
Novo no Brasil, apesar das particularidades do tratamento pro- No curso do Estado Novo, o governo deu um impulso
posto, da maior ou menor riqueza de informações e, mesmo, decisivo ao projeto de desenvolvimento, no qual a industria-
do maior ou menor teor explicativo do esquema analítico utili- lização era o foco privilegiado. Mencionado por Getúlio já
zado, coincidem na ênfase ao caráter centralizado e monolítico ao anunciar o golpe de 10 de novembro, o projeto ganharia
do Estado brasileiro durante esse período de sua história polí- forma em documento que ficaria conhecido como Carta de
tica, configurando-se as condições favoráveis a um alto grau de São Lourenço, dado a conhecer em entrevistas à imprensa,
autonomia em suas relações com a sociedade. [...] entre fevereiro e abril de 1938. Nele estabeleciam-se como

12
pontos fundamentais a implantação de uma indústria de base, Era o que rezava o item a, do artigo 1º do decreto de cria-
em particular a grande siderurgia, considerada indispensável ção do Departamento. Em outros itens lemos:
para a industrialização do país; a nacionalização de jazidas “c) fazer a censura do teatro, do cinema, de funções re-
minerais, quedas d’água e outras fontes de energia; a nacio- creativas e esportivas de qualquer natureza, da radiodifusão,
nalização de bancos e companhias de seguros estrangeiros; a da literatura social e política, e da imprensa, quando a esta
expansão da rede de transportes; o incremento da produção forem cominadas as penalidades previstas pela lei;
de carvão nacional; e a elaboração de políticas para diversificar d) estimular a produção de filmes nacionais;
as exportações; fazia-se ainda alusão à implantação do salário
e) classificar os filmes educativos e os nacionais, para a
mínimo e à complementação da legislação trabalhista. O pro-
concessão de prêmios e favores [...];
grama era vinculado ao grande objetivo de promover a unidade
nacional e acabar com o contraste entre “os brasis, um polí- o) promover, organizar, patrocinar ou auxiliar manifes-

HISTîRIA
tico, outro econômico, que não coincidem”, apontando-se, a tações cívicas e festas populares com intuito patriótico,
certa altura, “o sertão, o isolamento, a falta de contato como os educativo ou de propaganda turística, concertos, conferên-
únicos inimigos temíveis para a integridade do país”. cias, exposições demonstrativas das atividades do governo,
bem como mostras de arte de individualidades nacionais e
A fim de minorar o problema da insuficiência de recur-
estrangeiras;
sos ao ambicioso projeto de desenvolvimento, o governo con-
cedeu linhas especiais de crédito para a indústria nacional, p) organizar e dirigir o programa de radiodifusão oficial

M—dulo 14
compensando em parte a redução do fluxo de investimentos do governo [...].”
externos. Nesse sentido, foi importante a ação da cartei- A importância do rádio para o novo regime patenteou-se
ra agrícola e industrial do Banco do Brasil e sobretudo do pela instauração, sob a direção da Divisão de Radiodifusão
CTEF (Conselho Técnico de Economia e Fianças), ambos do Departamento de Imprensa e Propaganda, da compulsória
criados em 1937. Este último emitiu vários pareceres sobre “Hora do Brasil”. Compulsória porque todas as estações de-
iniciativas governamentais, incluindo a criação de empresas veriam entrar em rede para transmitir para todo o Brasil uma:
e órgãos estatais destinados a incentivar os investimentos em “[...] informação oficial, uma prestação de contas do go-
setores estratégicos. Dentre essas empresas e órgãos desta- verno ao povo, em que a narração pura e simples dos atos e
cam-se o Conselho Nacional do Petróleo (1938), o Conselho iniciativas da autoridade se torna o melhor e mais convenien-
Nacional de Águas e Energia Elétrica (1939), a Companhia te elogio ao regime. Como hora cultural do rádio, destina-se
Siderúrgica Nacional (1940), a Companhia Vale do Rio Doce a desenvolver e incentivar o gosto da boa música e da boa
(1942), a Fábrica Nacional de Motores (1943) e a Compa- literatura [...]”
nhia Hidroelétrica do São Francisco (1945). TOTA, Antônio Pedro. O Estado Novo. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 34-35.
FAUSTO, Boris. Getúlio Vargas. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p.107-108.

Texto 4
Texto 3
O Estado Novo e a invenção do trabalhismo
Para não haver dúvidas: o DIP
O primeiro aspecto a ressaltar para que se possa com-
Para o processo de legitimação, o Estado se utilizou de preender o sentido da nova cultura política que o Estado Novo
meios mais modernos para chegar às massas. estava criando é o do vínculo que se constrói entre a ideia de
A criação do DIP – Departamento de Imprensa e Propa- cidadania e a existência de direitos sociais, particularmente
ganda – em dezembro de 1939 – nos dá bem uma ideia do direitos do trabalho. Por isso, é fundamental entender que o
Era Vargas: o Estado Novo (1937-1945)
papel que representavam os modernos instrumentos de co- Estado Novo não interrompe apenas o exercício efetivo das
municação para a ditadura de Vargas, principalmente quando práticas políticas representativas que então vinham sendo ex-
ficavam sob a subordinação direta de Lourival Fontes, diretor perimentadas: novos partidos, novas constituições (federal e
desse importante departamento. O DIP tinha por fim: estaduais), novos representantes (inclusive uma representa-
“centralizar, coordenar, orientar e superintender a ção classista, eleita por delegados dos sindicatos) etc. É nesse
propaganda nacional interna e externa e servir perma- período que se articula e se difunde, de maneira incisiva e
nentemente como elemento auxiliar de informação dos sistemática, um discurso que desqualifica os direitos políticos
ministérios e entidades públicas e privadas, na parte que e todo tipo de práticas liberal-democráticas, tachando-os de
interessa à propaganda nacional”. ineficientes, custosos e também corruptores.

13
Um discurso muito bem elaborado e muito conforme às 5. d. O golpe dado por Vargas em 1937 tem uma forte
ideias políticas autoritárias dominantes na época, que inves- inspiração nos estados totalitários europeus. Ge-
tiu fundamentalmente contra o Poder Legislativo, seus re- túlio cancelou as eleições em 1937 e assumiu o
presentantes, seus rituais e suas organizações. Executivo com muito poder legitimado por uma
GOMES, Ângela de Castro. Cidadania e direitos do trabalho. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
nova constituição. Fechou agremiações políticas,
Editores, 2002. p. 33-34. promoveu ações visando popularidade e ascensão
da sua imagem, criou a Consolidação das Leis do
Texto 5 Trabalho (CLT), entre outras ações. A participação
do Brasil na Segunda Guerra Mundial foi contra-
E de quem somos amigos? ditória considerando que os pracinhas brasileiros
foram enviados para lutar contra ditaduras na Eu-
A Política de Boa Vizinhança foi obra de Franklin Delano ropa e havia uma ditadura no Brasil. Dessa forma, a
Roosevelt. Na gestão anterior, do republicano Hoover, houve derrota do nazifascismo na Europa contribuiu para
um primeiro movimento que buscou melhorar as relações en- o fim do regime ditatorial no Brasil.
tre os Estados Unidos e a América Latina. A própria expressão 6. a. O golpe ou autogolpe de 1937, que se valeu do
– Política da Boa Vizinhança – [...] havia sido cunhada por falso plano de golpe comunista conhecido como
Hoover. Mas foi Roosevelt quem deixou claro, em palavras e Plano Cohen, estabeleceu o Estado Novo no Bra-
ações, o sentido da nova política para a América Latina. [...]. sil, uma ditadura na qual a Constituição de 1934
A América Latina transformava-se numa região experi- estava anulada e Vargas concentrava todos os po-
deres em suas mãos.
mental para a nação mais poderosa do mundo. Os Estados
Unidos esperavam, com a Política da Boa Vizinhança, pro- 7. b. Criada durante a ditadura do Estado Novo, a CLT
ajudou a fortalecer a imagem de Getúlio como de-
mover e melhorar o nível dos países da América Latina, em
fensor da classe trabalhadora, o que lhe rendeu a
especial do Brasil. Para isso, Nelson Rockefeller defendeu, alcunha de “pai dos pobres”.
na conferência do México, o aumento dos investimentos
8. b. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi pro-
estrangeiros na região, mas dentro do espírito de defesa do mulgada durante a Era Vargas e constituía a pri-
livre mercado. O mercado era a melhor arma para combater meira legislação que tratava profundamente da
o nacionalismo estatizante e a disseminação das ideias co- questão trabalhista no Brasil, assegurando aos tra-
munistas. Com isso, os arquitetos da moderna relação entre balhadores direitos como o salário mínimo, a cartei-
os Estados Unidos e a Ibero América esperavam combater o ra de trabalho, as férias remuneradas, entre outros.
atraso econômico e social dos países latino-americanos. 9. c. O DIP, criado durante o Estado Novo, tinha como
TOTA, Antônio Pedro. O imperialismo sedutor. São Paulo: função exaltar a figura de Vargas, promovendo
Companhia das Letras, 2000. p. 177 e 186.
ampla censura cultural e jornalística e intensa re-
pressão aos opositores do presidente.
GABARITO COMENTADO 10. b. A participação brasileira na Segunda Guerra foi
efetiva, com o envio de pracinhas da Força Expedi-
cionária Brasileira. Os militares brasileiros, inclusive,
PRATICANDO O APRENDIZADO foram decisivos para a vitória aliada na Batalha de
Monte Castello, travada entre 1944 e 1945.
2. c. A afirmativa [II] está incorreta, porque o Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB) era varguista e apoiava
o presidente e seu regime político. DESENVOLVENDO HABILIDADES
3. b. O fato de o ditador Vargas, exaltador dos regimes
1. c. A charge retrata três momentos do Estado Novo.
totalitários europeus, colocar o Brasil na guerra ao
Primeiro: sua implantação em 1937, inspirada em
lado daqueles que lutavam contra Alemanha e Itá-
regimes totalitários europeus, por meio de uma
lia gerou uma péssima repercussão entre a popu-
centralização do poder nas mãos do Executivo. Ao
lação brasileira, que passou a questionar o regime
chamar Getúlio de Führer (líder), a charge preten-
autoritário varguista.
de associá-lo a Hitler, o líder nazista. Segundo: em
4. c. A afirmativa [I] é falsa porque os paulistas perde- 1941, após o incidente de Pearl Harbor, que culmi-
ram a Revolução Constitucionalista de 1932 e ela nou com a entrada dos Estados Unidos e do Brasil
não tinha o componente trabalhista em sua pauta. na Segunda Guerra Mundial contra as ditaduras
A afirmativa [IV] é falsa porque o DIP era um órgão do Eixo. O título faz um trocadilho com o nome do
censor do governo de Getúlio Vargas. presidente americano, Franklin Delano Roosevelt.

14
Terceiro: Vargas, diante da nova conjuntura histórica 6. c. Durante a Era Vargas, em específico no período do
que surgiu em 1945 após o fim da guerra, recebeu Estado Novo, foi aprovada a CLT, que trazia uma
apoio do Partido Comunista Brasileiro, liderado por série de benefícios aos trabalhadores e, como
Luís Carlos Prestes. aprovada durante uma ditadura, contava com me-
2. a. A questão remete à relação da cultura afro-brasi- canismos de controle sobre as ações sindicais.
leira com a sociedade e com o Estado ao longo
da história do Brasil. Getúlio Vargas, entre 1930 APROFUNDANDO O CONHECIMENTO
e 1945, procurou valorizar a integração étnica e
construir uma identidade nacional, daí o uso do 2. b. Em 1945, em meio à crise da ditadura do Estado
futebol como meio unificador. A Copa do Mundo Novo, apoiado por Getúlio Vargas, surgiu um mo-
de 1938 na França teve a presença de negros na vimento em defesa da sua permanência no poder,
seleção brasileira (Leônidas da Silva). A Era Vargas cujo lema era “Queremos Getúlio”. Por isso, o mo-

HISTîRIA
representou um divisor de águas na relação entre vimento recebeu o nome de Queremismo.
Estado e cultura afro-brasileira ao retirar da crimi-
3. e. O Queremismo constituiu um amplo movimento
nalidade o candomblé e a capoeira e transformá-
de massas que exigia a permanência de Getúlio
-los em patrimônio da cultura brasileira.
Vargas na presidência da República até a elabora-
3. d. No Brasil, Getúlio Vargas foi a expressão maior do ção de uma nova constituição. Vargas manifestou-
populismo, fenômeno político na América Latina -se favorável ao movimento, contando com o

M—dulo 14
entre as décadas de 1930 e 1960. A manipulação apoio do Partido Comunista Brasileiro, que voltou
das massas trabalhadoras com proveito político, à legalidade e cujos militantes foram anistiados
utilizando meios de comunicação de massa, e em pelo presidente. A pressão da oposição e o temor
particular o rádio, era uma característica básica do de que ocorresse um novo golpe de estado leva-
populismo. O programa de rádio a “Hora do Bra- ram Vargas a ser deposto pelos militares em 30 de
sil” foi criado durante o Estado Novo para difundir outubro de 1945.
as realizações do governo e contribuiu para pro-
5. a. A questão remete à participação do Brasil na
mover a imagem positiva de Vargas como o “pai
Segunda Guerra Mundial. Naquele contexto, o
dos pobres” junto aos trabalhadores.
Estado Novo, o Brasil era caracterizado por uma
4. b. Vargas pretendia, no regime do Estado Novo, con- ditadura política liderada por Vargas. Quando
trolar a circulação de informações a seu favor, nos começou a guerra, em 1939, o governo brasilei-
moldes do que os governos nazifascistas faziam na ro adotou uma postura de neutralidade. Era uma
Europa. neutralidade estratégica visando conseguir recur-
5. c. Somente a proposição c está correta. A questão sos para investir na indústria de base. Dentro do
remete à criação do programa de rádio estatal e governo havia simpatizantes dos Aliados (demo-
também à estatização da Rádio Nacional durante a cracia) e do Eixo (ditadura). Após o ataque japonês
ditadura do Estado Novo, 1937-1945. O presiden- à base dos Estados Unidos no Havaí, Pearl Harbor,
te Getúlio Dorneles Vargas utilizou os meios de em dezembro de 1941, os Estados Unidos entra-
comunicação de massa para defender a ideologia ram na guerra contra o Eixo. Com apoio e inves-
do Estado, como o nacionalismo, o populismo e a timento dos Estados Unidos, o Brasil também de-
construção de uma identidade nacional. clarou guerra contra o Eixo.

ANOTA‚ÍES

Era Vargas: o Estado Novo (1937-1945)

15
15 Módulo
Dutra e o segundo
governo Vargas
OBJETOS DO CONHECIMENTO HABILIDADES
• A Constituição de 1946 • H2 - Analisar a produção da memória pelas sociedades
• O governo Dutra (1946-1951) humanas.
• O governo Vargas (1951-1954) • H9 - Comparar o significado histórico-geográfico das
• Oposições e crises: liberalismo 3 nacionalismo; organizações políticas e econômico-sociais em escala
entreguistas 3 nacionalistas local, regional ou mundial.
• O suicídio de Getúlio Vargas • H11 - Identificar registros de práticas de grupos sociais
no tempo e no espaço.
• H21 - Identificar o papel dos meios de comunicação na
construção da vida social.
• Caracterizar a Constituição de 1946.
• Compreender a política econômica do governo Dutra.
• Analisar o papel da Guerra Fria durante o governo Dutra.
• Identificar rupturas e continuidades em relação ao Es-
tado Novo.
• Caracterizar os partidos políticos.
• Identificar os objetivos da política econômica do go-
verno Vargas.
• Compreender o papel da imprensa na crise do gover-
no Vargas.
• Identificar os fatores que contribuíram para a morte do
presidente Vargas e interpretar a carta-testamento.

Em relação ao segundo governo Vargas, o destaque


INTRODUÇÃO maior deve ser conferido ao confronto entre dois projetos
O objetivo deste módulo é apresentar e problema- de desenvolvimento econômico distintos para o Brasil: o
tizar os primeiros governos democráticos estabelecidos projeto dos nacionalistas e o dos liberais. Deve-se relacio-
no Brasil após o fim do Estado Novo: os governos Dutra nar esse debate aos problemas enfrentados por Vargas em
(1946-1951) e Vargas (1951-1954). seu segundo governo e que culminaram no seu suicídio.
É importante caracterizar a Constituição de 1946 iden- A carta-testamento deve ser analisada como um ins-
tificando os passos garantidos por ela em relação ao esta- trumento para a compreensão da história do Brasil Repú-
belecimento de um sistema democrático no Brasil. blica e para a formação de uma memória a respeito do
Para compreensão do governo Dutra, deve-se relacioná- presidente Vargas.
-lo ao cenário internacional marcado pela Guerra Fria, apon- Entre os conceitos que devem ser destacados estão:
tando o posicionamento adotado pelo governo brasileiro. democracia, liberalismo, nacionalismo e Guerra Fria.

16
Para compreensão dos conteúdos a serem desen- SUGESTÃO DE QUADRO
volvidos, é importante mobilizar o conhecimento prévio
dos alunos sobre o fim do Estado Novo e noções sobre a
Guerra Fria. BRASIL – PERÍODO DEMOCRÁTICO:
GOVERNOS DUTRA E VARGAS
I. A Constituição de 1946
ESTRATÉGIAS DE AULA • Voto secreto e universal, exceto para analfabetos
e soldados
AULA 1 • Liberdade de expressão e opinião
• Eleições diretas para cargos do Executivo e do
Inicie a aula lembrando as características que dife-
Legislativo
renciam uma ditadura de um sistema democrático. Você

HISTîRIA
pode relembrar características do Estado Novo – como a
• Pluralidade sindical e partidária
ausência de partidos políticos, a censura aos meios de co- • Direito de greve
municação, a ausência de eleições, a perseguição política, • Leis trabalhistas
as prisões – a fim de compará-las com as determinações
II. O governo Dutra (1946-1951)
da Constituição de 1946. • Eleito pela coligação PSD/PTB
Nessa aula também devem ser apresentadas as • Inserção do Brasil no contexto da Guerra Fria →

Módulo 15
principais características do governo Dutra, incluindo o alinhamento automático aos EUA: liberação de im-
posicionamento do Brasil no contexto internacional da portações, rompimento de relações diplomáticas
Guerra Fria. A análise desse governo possibilitará uma com a URSS, cassação do registro do PCB e dos
reflexão sobre os limites da recém-instaurada democra- mandatos de parlamentares comunistas
cia brasileira, uma vez que o governo agiu de forma re- • Intervenção em sindicatos e proibição de greves
pressiva em relação aos movimentos sociais e cassou o
• Plano Salte
registro do PCB.
III. O governo Vargas (1951-1954)
AULA 2 • Eleito pelo PTB/PSD → tentativa da UDN de im-
pedir sua posse
Na segunda aula trate do governo Vargas, destacando • Debate entre nacionalistas e liberais → a campanha
o debate entre nacionalistas e liberais em relação à cria- “O petróleo é nosso” e a criação da Petrobras
ção da Petrobras. Também deve ser analisada a crise que • As greves e o anúncio de aumento de 100% do
resultou no suicídio do presidente. salário mínimo
Trechos da carta-testamento devem ser trabalhados • As denúncias de corrupção e as pressões de gru-
com a turma, a fim de que os alunos percebam a constru- pos conservadores contra o governo
ção da imagem associada a Getúlio Vargas como a de um • O atentado contra Carlos Lacerda (UDN)
homem que sacrificou a vida lutando pelo povo brasileiro. • A crise e o suicídio (24/08/1954)
Se possível, podem ser exibidas fotografias sobre a reação
• O significado da carta-testamento
popular à notícia da morte do presidente.

EXERCÍCIOS
Sempre estimule os alunos a fazer os exercícios suge-
ATIVIDADES COMPLEMENTARES
ridos em cada fim de módulo. Eles são um bom recurso
para a fixação do aprendizado, auxiliando a tirar dúvidas e 1. Recurso audiovisual
na preparação para as provas. Assistir a filmes, séries ou documentários ajuda na com- Dutra e o segundo governo Vargas

Solicite aos alunos que realizem em sala de aula os preensão de conteúdos trabalhados em sala. É necessário
exercícios 1, 4, 6 e 9 da seção Praticando o aprendizado; ter cuidado para não substituir a aula por um audiovisual,
os exercícios 1, 3, 4 e 9 da seção Desenvolvendo habili- não permitir a dispersão da turma durante a exibição e dei-
dades; e os exercícios 3, 6 e 8 da seção Aprofundando o xar claro que este é um recurso importante para comple-
conhecimento. mentar o que foi exposto em sala de aula.
Os demais exercícios propostos podem ser solicita- Outro cuidado é conhecer a temática e os pontos abor-
dos como tarefa para casa, para fixação e verificação do dados no filme antes de exibi-lo em sala de aula. É preciso,
aprendizado. também, fazer uma leitura crítica e procurar discutir com os

17
alunos os fatos apresentados no filme, evitando identificar MOURA, Gisella de Araujo. O Rio corre para o Maracanã.
o que foi exposto como verdade absoluta. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1998.
Duas abordagens podem ser elaboradas com esse recur- LIRA NETO. Da volta pela consagração popular ao suicídio.
so. A primeira é utilizar o material inteiro, sem cortes. Esse tra- São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
balho só pode ser realizado com bastante tempo disponível SCHWARCZ, L. História do Brasil nação: olhando para
e deve ser planejado com cuidado. Neste caso é útil elaborar dentro (1930-1964). Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
uma folha de acompanhamento, com informações sobre o
______; STARLING, H. Yes nós temos democracia. In:
contexto abordado, e um pequeno questionário, relacionan-
______; STARLING, H. Brasil: uma biografia. São Paulo:
do o conteúdo do que foi visto com o conteúdo da aula.
Companhia das Letras, 2015. p. 386-411.
Outra forma é selecionar pequenos trechos e utilizá-los
durante a aula. É um pouco mais trabalhoso, exige bastante
preparo e algum conhecimento de edição de vídeos, mas o GABARITO COMENTADO
resultado é excelente e a aula fica muito dinâmica.
Neste módulo é sugerido o seguinte filme:
• Getúlio, de João Jardim. Brasil, 2014. (101 min). PRATICANDO O APRENDIZADO
O filme aborda os últimos dias de vida de Getúlio Var-
1. d. O discurso de Carlos Lacerda (UDN) revela o temor
gas, desde o atentado da rua Tonelero, no dia 5 de agos-
que os setores conservadores tinham em relação a
to de 1954, até o suicídio, no dia 24 de agosto. Pode ser
um novo governo de Getúlio Vargas, identificado
trabalhado para caracterizar a crise política que atingiu o
com a criação do trabalhismo no Brasil.
governo e que resultou no suicídio do presidente.
6. e. A política econômica do presidente Dutra caracteri-
2. Trabalhos em grupo zou-se inicialmente pela liberação das importações
brasileiras, resultando na evasão das divisas acumu-
1. Considerando a importância que a imprensa teve na
ladas durante a Segunda Guerra Mundial. O Plano
crise que resultou na morte de Vargas, o professor pode
Salte foi adotado depois e classificava os setores de
pedir aos alunos que elaborem jornais. A turma pode ser
saúde, alimentação, transportes e energia como prio-
dividida em grupos – a sugestão é que o número de par-
ritários, devendo receber investimentos do governo.
ticipantes de cada grupo não ultrapasse quatro – e cada
grupo cria um jornal cujo posicionamento editorial deve
ser definido. Alguns jornais devem defender o governo DESENVOLVENDO HABILIDADES
Vargas, enquanto outros devem atacá-lo. O resultado dos
trabalhos pode ser exposto na própria sala de aula ou em 1. b. A cassação dos parlamentares comunistas ocorreu
outro espaço adequado da escola. após o governo Dutra colocar o PCB na ilegalida-
2. Outra sugestão de trabalho é que os alunos pesqui- de, considerando, em um cenário marcado pela
sem canções que falem de Getúlio Vargas. Existem, parti- Guerra Fria, que o partido representava interesses
cularmente, alguns sambas dedicados ao presidente. As estrangeiros no país. Com a perda da legenda, o
canções podem ser apresentadas na sala de aula em gra- STE decidiu também pela cassação dos parlamen-
vações ou mesmo cantadas pelos alunos. É interessante tares eleitos pelo PCB, contrariando o princípio
propor uma reflexão sobre como Vargas é retratado nelas. democrático da pluralidade partidária estabeleci-
do pela Constituição de 1946.
4. a. Somente a alternativa a está correta, pois o trecho da
MATERIAL DE APOIO AO PROFESSOR carta-testamento revela o caráter nacionalista que
Getúlio Vargas pretendia imprimir ao seu governo
LIVROS E ARTIGOS e a oposição que sofreu de grupos liberais ligados
aos interesses de empresas estrangeiras. O governo
E ELE voltou... o Brasil no segundo governo Vargas. Dis-
Vargas foi caracterizado pelo nacionalismo econô-
ponível em: <https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/
mico, isto é, ele defendia que o Brasil explorasse as
AEraVargas2/artigos>. Acesso em: 25 out. 2016.
próprias riquezas naturais, sua própria matriz ener-
GETÚLIO: os 50 anos do suicídio que abalou o país. In: Re- gética e tivesse sua indústria de base, alicerces para
vista Nossa História. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, o desenvolvimento da indústria do país, alcançando,
ano 1, n. 10, p. 14-41. assim, autonomia ou independência com relação ao
MARTINS, Franklin. Quem foi que inventou o Brasil? A mú- capital estrangeiro ou às influências de governos es-
sica popular conta a história da República. Volume I – de trangeiros no Brasil. Por isso, a defesa da campanha
1902 a 1964. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. “O petróleo é nosso”.

18
16Módulo
O governo Juscelino Kubitschek

HISTîRIA
OBJETOS DO CONHECIMENTO HABILIDADES
• A situação política do Brasil após o suicídio de • H1 - Interpretar historicamente e/ou geograficamente
Getúlio Vargas fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
• O processo eleitoral e a posse de Juscelino • H2 - Analisar a produção da memória pelas sociedades
Kubitschek humanas.
• O Plano de Metas • H8 - Analisar a ação dos Estados nacionais no que se

M—dulo 16
• A construção de Brasília refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfren-
• Os anos dourados: desenvolvimento, reivindica- tamento de problemas de ordem econômico-social.
ções sociais, cultura e consumismo • H13 - Analisar a atuação dos movimentos sociais que
• Os efeitos do nacional-desenvolvimentismo contribuíram para mudanças ou rupturas em processos
de disputa pelo poder.
• H19 -  Reconhecer as transformações técnicas e tec-
nológicas que determinam as várias formas de uso e
apropriação dos espaços rural e urbano.
• Identificar as estratégias de estabilização política.
• Identificar os objetivos e métodos para o crescimento
econômico.
• Avaliar a situação socioeconômica em face das expec-
tativas do Plano de Metas.
• Analisar os efeitos do Plano de Metas.
• Analisar os desdobramentos culturais do período.

O cenário cultural brasileiro também deve ser aborda-


INTRODUÇÃO do para que o aluno identifique as importantes manifesta-
O objetivo deste módulo é analisar as principais carac- ções que surgiram no país e relacione-as ao período que
terísticas do governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), ficou conhecido como “anos dourados”. O governo Juscelino Kubitschek

destacando o modelo nacional-desenvolvimentista adota- Ao final do módulo, o aluno deve ser capaz de fazer
do para promover o crescimento econômico do país. uma avaliação crítica sobre o período JK, destacando e
Para a compreensão do período, é preciso ter conhe- relativizando elementos que beneficiaram ou prejudi-
cimento prévio sobre o segundo governo Vargas, espe- caram os diversos setores sociais e econômicos. Tam-
cialmente em relação à oposição que o modelo naciona- bém é importante que o aluno consiga avaliar se os
lista adotado pelo governo suscitou em setores liberais objetivos do Plano de Metas foram alcançados e quais
da sociedade brasileira, sobretudo na União Democrática foram as consequências dessas ações para as gerações
Nacional (UDN). seguintes.

19
SUGESTÃO DE QUADRO
ESTRATÉGIAS DE AULA

AULA 1 OS ANOS JK (1956-1961)


A primeira aula deve abordar o contexto conturbado • A eleição de JK: a tentativa da UDN de impedir
da eleição e posse de JK. O assunto pode ser introduzido a posse e o “golpe preventivo” do marechal Lott
com a retomada das discussões sobre as disputas entre • A habilidade política de JK → apoio de industriais,
UDN e PTB/PSD, que ocorreram no segundo governo Var- fazendeiros e militares
gas. É importante destacar a ação dos militares tanto na
tentativa de impedir a posse de JK quanto no “golpe pre- I. O nacional-desenvolvimentismo
ventivo” que garantiu sua posse. • Tripé econômico: o Estado estimulando o empre-
Nesta aula devem ser apresentadas as propostas do sariado nacional, investindo em indústrias de base
Plano de Metas do governo, além do projeto de constru- e promovendo a abertura ao capital estrangeiro
ção de uma nova capital: Brasília. • Plano de Metas: energia, transporte, indústrias
de base, alimentação, educação, comunicação e
a construção de Brasília
AULA 2

Nesta aula devem ser destacadas as características Brasília era uma metassíntese: símbolo da mo-
culturais do período JK e dos movimentos sociais, espe- dernidade, promoção da integração nacional
cialmente as Ligas Camponesas.
• Crescimento do PIB
A fim de tornar a aula mais dinâmica e interessante,
pode ser proveitoso trazer algumas canções da Bossa II. Panorama sociocultural
Nova e também imagens do período, como da constru- • Surgimento das Ligas Camponesas
ção de Brasília, do desenvolvimento da indústria automo-
bilística e de algumas propagandas de bens de consumo. • Bossa Nova
Dessa maneira, é possível introduzir o aluno no contexto • Cinema Novo
da época, discutindo o conteúdo das propagandas, tan- • Televisão
to em seu aspecto visual como em relação aos produtos
que ali são anunciados. Essas imagens podem ser obtidas • Conquistas esportivas: a Copa do Mundo de 1958
principalmente na internet, em sites como o do CPDOC: • A ideia dos “anos dourados”
<http://cpdoc.fgv.br/>.
Ainda nesta aula, devem ser analisados os efeitos do III. Críticas ao modelo econômico
nacional-desenvolvimentismo sobre a sociedade brasilei- • Aumento das desigualdades sociais e regionais
ra, mostrando os aspectos positivos e negativos que po- • Opção pelo rodoviarismo
dem ser associados ao governo JK.
• Crescimento da inflação e da dívida externa

EXERCÍCIOS
Sempre estimule os alunos a fazer os exercícios suge-
ridos em cada fim de módulo. Eles são um bom recurso ATIVIDADES COMPLEMENTARES
para fixar o aprendizado e tirar dúvidas na preparação
para as provas.
1. Recurso audiovisual
Solicite aos alunos que realizem em sala de aula os
Assistir a filmes, séries ou documentários ajuda a com-
exercícios 1, 3 e 7 da seção Praticando o aprendizado;
preender os conteúdos trabalhados em sala de aula. É
os exercícios 3 e 5 da seção Desenvolvendo habilida-
necessário ter cuidado para não substituir a aula por um
des; e os exercícios 1, 4, 7 e 9 da seção Aprofundando o
audiovisual, não permitir a dispersão da turma durante a
conhecimento. exibição e deixar claro que esse é um recurso importante
Os demais exercícios propostos podem ser solicita- para complementar o que foi exposto anteriormente.
dos como tarefa para casa, para fixação e verificação do Outro cuidado é conhecer a temática e os pontos
aprendizado. abordados no filme antes de exibi-lo para a turma. É pre-

20
ciso, também, fazer uma leitura crítica e procurar discutir BOJUNGA, Claudio. JK: o artista do impossível. Rio de
com os alunos os fatos apresentados no filme de maneira Janeiro: Objetiva, 2001.
que não tome o que foi exposto como verdade absoluta.
FAUSTO, Boris. O período democrático 1946-1964. In: His­
O recurso audiovisual pode ser trabalhado utilizando tória do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995.
o material inteiro, sem cortes. No entanto, esse trabalho
só pode ser realizado com bastante tempo disponível e GOMES, A. C.; PANDOLFI, D. C.; ALBERTI, V. (Org.).
deve ser planejado com cuidado. Também é útil elaborar A república no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira;
uma folha de acompanhamento, com informações sobre CPDOC, 2002.
o contexto abordado, e um pequeno questionário, rela- ______ (Coord.). História do Brasil nação. Volume 4:
cionando o conteúdo visto com o conteúdo da disciplina. Olhando para dentro 1930-1964. Rio de Janeiro: Obje-
Outra maneira de usar esse recurso é selecionar pe- tiva, 2013.

HISTîRIA
quenos trechos e exibi-los durante a aula. É um pouco
mais trabalhoso, exige bastante preparo e algum conheci- O GOVERNO de Juscelino Kubitschek. Dicionário histórico­
mento de edição de vídeos, mas o resultado é excelente e ­biográfico brasileiro pós­1930. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV,
a aula torna-se muito dinâmica. 2001.
Neste módulo é sugerido o seguinte documentário: O GOVERNO de Juscelino Kubitschek. Disponível em:
• Os anos JK – uma trajetória política, de Silvio Tendler. <https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos>.
Brasil, 1980. (110 min). Acesso em: 17 out. 2016.

M—dulo 16
2. Trabalhos em grupo OS ANOS JK. In: Revista Nossa História. Biblioteca Nacio-
nal, Rio de Janeiro, ano 2, n. 23. p. 12-34.
1. Uma atividade que pode ser realizada é a monta-
gem de uma exposição sobre os “anos dourados”. A tur- SCHWARZ, L.; STARLING, H. Os anos 1950-1960: a bossa,
ma pode ser dividida em grupos – sugerimos de até cinco a democracia e o país subdesenvolvido. In: _____. Brasil:
alunos – e cada grupo ficará responsável por pesquisar de- uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
terminado tema relacionado ao período. Você pode per- p. 386-411.
guntar aos alunos que temas eles sugerem ou apresentar
algumas possibilidades, como música, cinema, esportes e
propaganda. Os grupos devem selecionar imagens, músi-
cas, reportagens e vídeos sobre o período para a monta- GABARITO COMENTADO
gem da exposição. Talvez seja possível contar com depoi-
mentos de pessoas que viveram essa época. A exposição
pode ser montada na própria sala de aula ou em algum PRATICANDO O APRENDIZADO
outro espaço da escola.
2. Outra sugestão é solicitar uma pesquisa, em trios, 1. b. O Plano de Metas definia cinco áreas prioritárias:
para a composição de um trabalho sobre a história de al- energia, indústrias de base, transporte, alimenta-
guma das Regiões Administrativas do Distrito Federal (Cei- ção e educação. Durante o governo JK houve uma
lândia, Taguatinga, Samambaia, etc.). Para tal, os alunos série de investimentos no setor elétrico, como as
necessariamente precisarão pesquisar e entender a estru- hidrelétricas de Furnas e Paulo Afonso. A alternati-
tura e a organização do poder no Distrito Federal. Prova- va a está errada, pois as metas relativas à educação
velmente eles vão se deparar com algumas questões: O não foram atingidas. A alternativa c está errada,
que são Regiões Administrativas? São cidades? Brasília não pois a Sudam não foi criada durante o governo JK;
tem prefeito? A pesquisa também trará aos alunos a opor- a alternativa d está errada, pois durante o gover-
tunidade de entender o destino de alguns daqueles milha- no JK indústrias automobilísticas estrangeiras se
res de trabalhadores que rumaram até o Planalto Central instalaram no Brasil. A alternativa e também está
em busca de trabalho, pois muitas dessas regiões tiveram errada, pois a CSN não foi privatizada durante o O governo Juscelino Kubitschek

origem nos acampamentos dos candangos. governo JK.


7. b. O nacional-desenvolvimentismo adotado pelo
governo JK era baseado em um tripé econômico:
MATERIAL DE APOIO AO PROFESSOR capital estatal, capital privado nacional e capital
estrangeiro. Foi um período em que muitas em-
LIVROS E ARTIGOS presas estrangeiras entraram no país, investindo,
BENEVIDES, Maria Vitória. O governo Juscelino Kubitschek. sobretudo, no setor de bens de consumo duráveis,
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001. como a indústria automobilística.

21
DESENVOLVENDO HABILIDADES fez com que a imagem de JK fosse associada a
essas figuras históricas, pois o presidente estava
4. a. A representação mostra Juscelino vestindo uma desbravando o Planalto Central com um projeto
indumentária que remete aos bandeirantes, ser- moderno, tendo em vista a modernidade e o pro-
tanistas que, saindo das regiões mais litorâneas, gresso do país.
desbravaram o interior do Brasil em busca de es- 9. a. A charge ironiza o fato de o presidente JK se ausen-
cravos, metais preciosos e outras riquezas, no sé- tar da capital, sem tempo ou disposição para tra-
culo XVI. A maneira como os bandeirantes eram tar dos problemas nacionais – greve, inflação, vida
lembrados, na figura de desbravadores e destemi- cara e crise econômica –, pois viajava frequente-
dos ao abrir caminhos para o interior do território mente para o Planalto Central, onde estava acom-
e, assim, levar a civilização a um Brasil selvagem, panhando as obras da construção de Brasília.

ANOTA‚ÍES

22
17 Módulo
Os governos Jânio Quadros e
João Goulart

HISTÓRIA
OBJETOS DO CONHECIMENTO HABILIDADES
• As eleições presidenciais de 1960 • H11 - Identificar registros de práticas de grupos sociais
• As medidas e a renúncia de Jânio Quadros no tempo e no espaço.
• A crise política e a Campanha da Legalidade • H13 - Analisar a atuação dos movimentos sociais que
• A solução parlamentarista contribuíram para mudanças ou rupturas em processos
• O presidencialismo de João Goulart de disputa pelo poder.

M—dulo 17
• A radicalização política • H21 - Identificar o papel dos meios de comunicação na
• A derrubada de João Goulart construção da vida social.
• H24 - Relacionar cidadania e democracia na organiza-
ção das sociedades.
• Indicar os fatores que determinaram a vitória eleitoral
do presidente Jânio Quadros.
• Identificar as ações de política interna e externa.
• Compreender a fragilidade do governo Jânio Quadros.
• Compreender a solução parlamentarista.
• Avaliar a política econômica adotada pelos presiden-
tes Jânio Quadros e João Goulart.
• Analisar os objetivos e os efeitos da renúncia de Jânio
Quadros.
• Explicar a proposta de Reformas de Base defendida
pelo presidente João Goulart.
• Explicar a radicalização política do país.
• Contextualizar o golpe que derrubou o presidente
João Goulart e o papel dos civis e dos militares nesse
processo.

Os governos Jânio Quadros e João Goulart


aliança PTB/PSD. Os alunos também devem ter algum
INTRODUÇÃO conhecimento prévio sobre a Guerra Fria.
O objetivo deste módulo é analisar os governos de Os alunos devem ser capazes de identificar as contra-
Jânio Quadros e João Goulart, os últimos presidentes dições políticas, econômicas e sociais que marcaram esses
antes do golpe civil-militar que estabeleceu, a partir de governos e que resultaram no processo de radicalização
abril de 1964, uma ditadura no Brasil. política. O contexto histórico também deve ser relacio-
Para compreensão do conteúdo, são necessários nado à Guerra Fria, pois, como veremos, esse cenário foi
conhecimentos prévios sobre os governos anteriores determinante para o que aconteceu no país.
(de Dutra até Juscelino Kubitschek), especialmente no O módulo também pretende trabalhar as manifesta-
que diz respeito às disputas políticas entre a UDN e a ções culturais e sociais do período.

23
também as principais manifestações culturais do período
ESTRATÉGIAS DE AULA e as pressões sociais enfrentadas pelo presidente. O con-
teúdo dessa aula termina com a deposição do presidente
AULA 1 pelo golpe civil-militar.
Caso seja possível, apresente algumas imagens das
Para introduzir o tema das aulas, relembre os últimos
manifestações do período – como as Ligas Camponesas,
momentos do governo JK, quando a inflação e o aumento
o Comício da Central do Brasil e a Marcha da Família com
da dívida externa causaram problemas econômicos para o
Deus pela Liberdade.
país e inviabilizaram a eleição do marechal Lott (PSD/PTB)
para sua sucessão. Em seguida, apresente a candidatura
de Jânio Quadros, apoiado pela UDN, e ressalte seu cará- EXERCÍCIOS
ter personalista e conservador. Seria interessante mostrar
para os alunos o jingle da campanha de Jânio, assim como Sempre estimule os alunos a fazer os exercícios suge-
algumas imagens do candidato. Esse material é facilmente ridos em cada fim de módulo. Eles são um bom recurso
obtido na internet. para a fixação do aprendizado, auxiliando na resolução de
Nessa aula, discuta sobre o período desde a eleição de dúvidas e na preparação para as provas.
Jânio Quadros até a adoção do parlamentarismo como me- Solicite aos alunos que realizem em sala de aula os
dida para garantir a posse de João Goulart. exercícios 1, 2 e 6 da seção Praticando o aprendizado; os
exercícios 2, 3 e 5 da seção Desenvolvendo habilidades;
e os exercícios 1, 2, 5 e 7 da seção Aprofundando o
AULA 2 conhecimento.
Nessa aula devem ser analisadas as dificuldades en- Os demais exercícios propostos podem ser solicitados
frentadas por Jango na tentativa de implementar seu como tarefa para casa, para fixação e verificação do
projeto de Reformas de Base. Devem ser apresentadas aprendizado.

SUGESTÃO DE QUADRO

O FIM DO PERÍODO DEMOCRÁTICO: GOVERNOS • UDN apoia impedimento


JÂNIO QUADROS E JANGO • Leonel Brizola (PTB) e a “Campanha da Legalidade” →
I. O governo Jânio Quadros (janeiro-agosto 1961) defesa da posse de Jango
• Político personalista e conservador, eleito com o apoio ↓
da UDN apoio de setores legalistas das Forças Armadas
• Vassoura como símbolo da campanha: varrer a corrupção ↓
• Medidas econômicas austeras: corte de subsídios, res-
ameaça de guerra civil
trição de créditos, aumento de impostos
• Aprovação de emenda constitucional estabelecendo
• Adoção de medidas polêmicas e conservadoras
o parlamentarismo
• A Política Externa Independente (PEI) → aproximação
com países do Leste Europeu e com a China; conde-
III. O governo Jango (1961-1964)
coração a Che Guevara
↓ 1. O parlamentarismo (1961-1963)
oposição da UDN e de outros grupos liberais • Jango assume com poderes reduzidos
• A renúncia → tentativa de se fortalecer na Presidência • Agravamento dos problemas econômicos
↓ • Incremento dos movimentos sociais: greves de tra-
fracasso: Congresso aceita balhadores, pressão de sindicatos, ação das Ligas
II. A crise política Camponesas, protestos estudantis
• Ministros militares declaram-se contra a posse do vice- • Antecipação do plebiscito → volta do presidencialis-
-presidente, João Goulart (PTB) mo (janeiro de 1963)

24
2. O presidencialismo (1963-1964) • Opção pela esquerda → Jango decide realizar as
• Jango retoma poderes de fato Reformas de Base por decreto
• O Plano Trienal → controle da inflação e retomada

o comício da Central do Brasil (13/3/1964)
do crescimento econômico
• Reação conservadora: Marcha da Família com Deus
• As Reformas de Base: agrária, eleitoral, tributária,
pela Liberdade
urbana e educacional → governo não consegue
• Episódios: quebra de hierarquia militar e a defla-
aprová-las no Congresso
gração do movimento militar (31/3/1964) para der-
• Estatuto do Trabalhador Rural, Lei de Remessa de
rubar o presidente
Lucros, retomada de relações com a URSS → des-

contentamento da UDN, conservadores, banquei-

HISTÓRIA
Apoio dos governadores de MG, SP e do estado
ros e imprensa da Guanabara
• Direita: governo acusado de promover reformas ↓
socialistas Legislativo declara vaga a Presidência do Brasil
• Esquerda: pressiona pela realização das reformas • Retaguarda dos Estados Unidos: Operação Brother
• Estados Unidos → temor de que o Brasil se torne Sam
comunista • Jango não resiste ao golpe e exila-se no Uruguai

Módulo 17
das tensões vividas nas regiões rurais do país, onde
ATIVIDADES COMPLEMENTARES os camponeses eram explorados pelos latifundiários.
• Dossiê Jango, de Paulo Henrique Fontenelle. Brasil,
1. Recurso audiovisual 2013. (102 min)
Assistir a filmes, séries ou documentários ajuda a com- O documentário procura compreender o contexto
preensão de conteúdos trabalhados em sala. É necessário de radicalização política que o Brasil viveu no início
ter cuidado para não substituir a aula por um audiovisual, dos anos 1960 e que resultou na deposição do pre-
não permitir a dispersão da turma durante a exibição e sidente Jango. Na segunda parte do filme, busca-se
deixar claro que este é um recurso importante para com- elucidar as circunstâncias da morte de Jango, ocorri-
plementar o que foi exposto em sala de aula. da na Argentina em 1976.
Outro cuidado é conhecer a temática e os pontos abor- • Jango, de Silvio Tendler. Brasil, 1984. (115 min)
dados no filme antes de vê-lo em sala de aula. É preciso,
Esse documentário aborda o governo de João Goulart.
também, fazer uma leitura crítica e procurar discutir com
os alunos os fatos apresentados no filme de maneira a não • O dia que durou 21 anos, de Camilo Galli Tavares.
identificar o que foi exposto como verdade absoluta. Brasil, 2013. (77 min)
Duas abordagens podem ser elaboradas com esse re- O documentário analisa as relações do governo dos
curso. A primeira é utilizar o material inteiro, sem cortes. Estados Unidos com a deposição do presidente
Esse trabalho só pode ser realizado com bastante tempo João Goulart.
disponível e deve ser planejado com cuidado. Nesse caso • Vidas secas, de Nelson Pereira dos Santos. Brasil,
é útil elaborar uma folha de acompanhamento, com infor- 1963. (103 min)
mações sobre o contexto abordado e um pequeno ques- Outra produção da década de 1960, o filme é basea-
tionário, relacionando o conteúdo do que foi visto com o do na obra de Graciliano Ramos e trata das injustiças

Os governos Jânio Quadros e João Goulart


conteúdo da matéria. sociais e da miséria vividas pelas populações do
Outra forma é selecionar pequenos trechos e utilizá-los Nordeste brasileiro.
durante a aula. É um pouco mais trabalhoso, exige bastante
preparo e algum conhecimento de edição de vídeos, mas o 2. Trabalho em grupo
resultado é excelente e a aula fica muito dinâmica.
Com o objetivo de aprofundar o debate sobre o radi-
Neste módulo são sugeridas as seguintes obras: calismo político que o Brasil viveu no início dos anos 1960,
• Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha. pode ser proposta aos alunos a elaboração de um painel
Brasil, 1964. (120 min) apresentando os grupos que se opunham ao governo Jango
O filme foi produzido enquanto o Brasil vivia a radica- e ao projeto das Reformas de Base e os grupos que apoia-
lização política que marcou o governo Jango e trata vam o presidente. Esse trabalho deve ser feito em grupo –

25
sugerimos que os grupos tenham no máximo cinco alunos. início da reforma agrária, uma das principais refor-
A apresentação pode ser feita na forma de cartazes, jornais, mas de base defendidas pelo governo.
slides, peças de teatro, músicas, etc. É importante que a for- 5. a. Goulart, ex-ministro do Trabalho de Getúlio, era her-
ma de apresentar o conteúdo seja criativa para que os alunos deiro de um modelo populista de governo, de forte
não se limitem a copiar as informações reunidas. presença estatal nas relações de trabalho e no rit-
mo da economia. Também seguiu uma cartilha de
grandes reformas de base, como a reforma agrária,
MATERIAL DE APOIO AO PROFESSOR uma demanda conhecida das organizações civis de
esquerda. O governo Goulart foi marcado por desa-
LIVROS E ARTIGOS gradar os setores da direita sem conseguir controlar
A trajetória política de João Goulart. CPDOC. Disponível os ânimos dos setores à esquerda em suas reivindi-
em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos>. cações. Por isso Goulart é retratado na charge sem
Acesso em: 6 dez. 2016. conseguir domar os cavalos que representam as
duas vertentes políticas.
ABREU, Alzira Alves (Coord.). Dicionário histórico-biblio-
gráfico brasileiro pós-1930. Rio de Janeiro: Editora FGV; 6. b. Entendendo que teria apoio das camadas mais
CPDOC , 2001. baixas das Forças Armadas e dos trabalhadores,
Jango acreditava que esse apoio seria suficien-
DELGADO, Lucília de Almeida Neves. Euforia precoce.
te para forçar o Congresso a aprovar as reformas
Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 7, n. 74.
propostas. Porém, grupos civis e militares estavam
Rio de Janeiro, nov. 2011. p. 58-61.
bastante apreensivos com as consequências nega-
Dossiê: O golpe de 1964. Revista de História da Biblioteca tivas dessas reformas aos seus interesses, além de
Nacional, ano 7, n. 83. Rio de Janeiro, ago. 2012. p. 22-39. acreditarem que essa radicalização significaria a
FERREIRA, Jorge. João Goulart: uma biografia. Rio de Ja- imposição de um governo comunista.
neiro: Civilização Brasileira, 2011.
MELO, Demian Bezerra de. O plebiscito de 1963: in- DESENVOLVENDO HABILIDADES
flexão de forças na crise orgânica dos anos sessenta.
Dissertação (Mestrado). Universidade Federal Flumi- 3. b. A única alternativa correta é a letra B, que se refe-
nense, 2009. 227 f. Disponível em: <www.historia.uff. re aos problemas econômicos enfrentados pelo
br/stricto/teses/Dissert-2009_Demian_Bezerra_de_ presidente Jango, como o aumento da inflação
Melo-S.pdf>. Acesso em: 6 dez. 2016. e a diminuição do ritmo de crescimento econô-
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Jango e o golpe de 1964 na mico do país. Esses problemas deixavam clara a
caricatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. necessidade da realização de algumas reformas
estruturais, a fim de superar os limites ao desen-
volvimento econômico do país.
GABARITO COMENTADO 4. c. A charge mostra João Goulart revirando o conteú-
do de um baú que contém uma caricatura de
PRATICANDO O APRENDIZADO Getúlio Vargas e vários papéis representando mo-
delos autoritários de poder já usados, como o Es-
2. a. A única alternativa correta é a letra A, pois no tado Novo e a possibilidade de uma nova Consti-
Comício da Central do Brasil, Jango anunciou o tuição de poder centralizador.

ANOTAÇÕES

26
A ditadura civil-militar:
18Módulo
governos Castelo Branco
e Costa e Silva

HISTîRIA
OBJETOS DO CONHECIMENTO HABILIDADES
• O governo de Castelo Branco • H3 - Associar as manifestações culturais do presente
• Aspectos econômicos aos seus processos históricos.
• Protestos e repressão • H8 - Analisar a ação dos estados nacionais no que se
• Os Atos Institucionais refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfren-
• O governo de Costa e Silva tamento de problemas de ordem econômico-social.

M—dulo 18
• O afastamento do presidente e a Junta Militar • H11 - Identificar registros de práticas de grupos sociais
no tempo e no espaço.
• H15 - Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais,
políticos, econômicos ou ambientais ao longo da
História.
• H21 - Identificar o papel dos meios de comunicação na
construção da vida social.
• H24 - Relacionar cidadania e democracia na organiza-
ção das sociedades.
• Identificar os instrumentos institucionais usados para
limitar as liberdades democráticas.
• Identificar as reações da sociedade diante do autori-
tarismo.
• Compreender o papel da repressão e a sua relação
com ações semelhantes do passado e da atualidade.
• Diferenciar os grupos políticos dentro das Forças
Armadas.
• Analisar a política econômica do governo no período.
• Analisar o significado do AI-5 dentro da dinâmica do
regime.

A ditadura civil-militar: governos Castelo Branco e Costa e Silva


cesso de bipolarização mundial e de adoção da Doutrina
INTRODUÇÃO de Segurança Nacional (DSN) na política interna brasileira.
O objetivo deste módulo é analisar os mecanismos de Neste módulo, o aluno deve compreender como o mo-
estruturação da ditadura civil-militar brasileira. vimento que ocorreu em março de 1964, justificado pelos
setores que o apoiaram como necessário para a preservação
Para compreensão do conteúdo, são necessários co- da democracia brasileira, resultou no estabelecimento de
nhecimentos prévios sobre o governo do presidente João uma ditadura. Também é importante reconhecer que, em-
Goulart (Jango) e sobre a Guerra Fria. A deposição de Jan- bora o poder tenha sido transferido para uma Junta Militar,
go e o posterior estabelecimento de uma ditadura civil- que passou a indicar os generais presidentes, o regime con-
-militar devem ser compreendidos como parte de um pro- tou com apoio de importantes setores da sociedade civil.

27
SUGESTÃO DE QUADRO
ESTRATÉGIAS DE AULA

O REGIME MILITAR (1964-1985)


AULA 1
I. O governo Castelo Branco:
Na primeira aula, introduza o assunto relembrando as a estruturação do regime
razões para a deposição do presidente João Goulart, reto- • Apoio de diversos segmentos da sociedade bra-
mando as ideias de que o movimento seria, para alguns se- sileira ao golpe civil-militar: ideia do “golpe cirúr-
tores, um “golpe cirúrgico”, feito para salvar a democracia gico”.
brasileira, e de que o calendário eleitoral para escolha de • Estabelecimento dos Atos Institucionais:
um novo presidente seria mantido e os militares voltariam AI-1: transferência do poder para o general Caste-
aos quartéis. lo Branco; fortalecimento do Executivo → prisões
Explique ainda que o mecanismo utilizado para garan- e cassações.
tir uma ideia de legalidade ao regime foi a aprovação dos AI-2: eleições indiretas para presidente e biparti-
Atos Institucionais. darismo → Arena (apoio) e MDB (oposição con-
sentida).
Nesta aula, apresente as determinações dos quatro
AI-3: eleições indiretas para governadores.
primeiros atos e da Constituição de 1967. Trate também
AI-4: convocação do Congresso para aprovação
do modelo econômico adotado pelo regime, caracteriza- de nova Constituição (1967).
do pelo arrocho salarial e pelo fim das barreiras econômi- • Criação do Serviço Nacional de Informações (SNI)
cas à presença do capital estrangeiro, com o objetivo de → controle e repressão sobre opositores.
controlar a inflação e garantir a retomada do crescimento • PAEG → estabilização e crescimento: o “arrocho
econômico do país. salarial” e a abertura aos investimentos estrangei-
ros.
• Sucessão de Castelo Branco: escolha do general
AULA 2 Costa e Silva → vitória da “linha dura”.
Na segunda aula devem ser apresentadas as principais II. O governo Costa e Silva
manifestações de oposição ao regime, com destaque para • Recrudescimento da oposição ao regime: a
as que ocorreram no ano de 1968. Mostre como o recru- Frente Ampla, o movimento estudantil; a Pas-
descimento dos protestos foram silenciados com a decre- seata dos Cem Mil, as greves de Osasco (SP) e
tação do AI-5, o “golpe dentro do golpe”. de Contagem (MG).
• Panorama cultural da época: a música de protesto,
o Tropicalismo, a Jovem Guarda; o teatro Opinião;
EXERCÍCIOS o Cinema Novo.
• Discurso de Márcio Moreira Alves e decretação do
Sempre estimule os alunos a fazer os exercícios suge- AI-5: o “golpe dentro do golpe”.
ridos em cada fim de módulo, pois são um bom recurso • Crescimento dos movimentos de luta armada: a
para a fixação do aprendizado, auxiliando-os a tirar dúvi- guerrilha rural e a urbana.
das e na preparação para as provas. • Afastamento de Costa e Silva.
Solicite aos alunos que realizem em sala de aula os
exercícios 1 e 4 da seção Praticando o aprendizado; os
exercícios 1, 5 e 8 da seção Desenvolvendo habilidades;
e os exercícios 1, 4, 5 e 6 da seção Aprofundando o co- ATIVIDADES COMPLEMENTARES
nhecimento.
Os demais exercícios propostos podem ser solicita- Recurso audiovisual
dos como tarefa para casa, para fixação e verificação do Assistir a filmes, séries ou documentários contribui
aprendizado. para a compreensão de conteúdos trabalhados em sala.

28
É necessário ter cuidado para não substituir a aula por um REIS, Daniel Aarão (Coord.). Modernização, ditadura e de-
audiovisual, não permitir a dispersão da turma durante a mocracia. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014.
exibição e deixar claro que este é um recurso importante
_____. Ditadura ou democracia: a busca de uma identida-
para complementar o que foi exposto em sala de aula.
de (1964-1968). In: _____. Ditadura e democracia no Brasil.
Outro cuidado é conhecer a temática e os pontos abor- Rio de Janeiro: Zahar, 2014. p. 47-73.
dados no filme antes de vê-lo em sala de aula. É preciso,
também, fazer uma leitura crítica e procurar discutir com os SCHWARZ, Lilia M.; SARLING, Heloisa M. No fio da navalha:
alunos os fatos apresentados no filme de forma que não ditadura, oposição e resistência. In: _____. Brasil: uma bio-
sejam identificados como verdade absoluta. grafia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 437-466.
Duas abordagens podem ser elaboradas com esse re-
curso. A primeira é utilizar o material inteiro, sem cortes. SITES
Esse trabalho só pode ser realizado com bastante tempo BRASIL. Legislações Históricas. Atos Institucionais. Portal

HISTîRIA
disponível e deve ser planejado com cuidado. Para isso, é da Legislação. Disponível em: <www4.planalto.gov.br/
útil elaborar uma folha de acompanhamento, com infor- legislacao/legislacao-historica/atos-institucionais>. Aces-
mações sobre o contexto abordado e um pequeno ques- so em: 7 dez. 2016.
tionário, relacionando o conteúdo do que foi visto com o
conteúdo da matéria. FESTIVAL da Música Popular Brasileira (TV Record). Dispo-
nível em: <http://dicionariompb.com.br/festival-da-musica-
Outra forma é selecionar pequenos trechos e utilizá-los
popular-brasileira-tv-record/dados-artisticos>. Acesso em:
durante a aula. É um pouco mais trabalhoso, exige bastante

M—dulo 18
7 dez. 2016.
preparo e algum conhecimento de edição de vídeos, mas o
resultado é excelente e a aula fica muito dinâmica. MEMÓRIAS da ditadura. Disponível em: <http://memorias
Em relação aos conteúdos trabalhados neste módulo, daditadura.org.br>. Acesso em: 7 dez. 2016.
são sugeridos os seguintes filmes: O GOLPE a ditadura militar. Folha de S.Paulo. Disponível
• Uma noite em 1967, de Renato Terra e Ricardo Calil. em: <http://arte.folha.uol.com.br/especiais/2014/03/23/
Brasil, 2010. (85 min) o-golpe-e-a-ditadura-militar/index.html>. Acesso em:
O documentário utiliza imagens de arquivo da Rede 7 dez. 2016.
Record e conta a história da final do 3o Festival da Mú-
TROPICÁLIA. Disponível em: <http://tropicalia.com.br/
sica Popular Brasileira, ocorrido no teatro Paramount,
identifisignificados/movimento>. Acesso em: 7 dez. 2016.
no centro de São Paulo. Entre os 12 finalistas estavam
Chico Buarque e MPB 4, com “Roda viva”; Caetano
Veloso, com “Alegria, alegria”; Gilberto Gil e Os Mu- TEXTO
tantes, com “Domingo no parque”; e Roberto Carlos,
com o samba “Maria, carnaval e cinzas”. Com o rev—lver na m‹o
• O que é isso companheiro?, de Bruno Barreto. Brasil, A esquerda começou a se preparar para enfrentar a
1997. (110 min)
ditadura de arma na mão antes mesmo do endurecimento
O filme é uma adaptação do livro homônimo, escrito
do regime. Militantes da Ação Popular (AP) e de outros
por Fernando Gabeira, que trata do sequestro do em-
grupos menores foram a Cuba fazer treinamento militar
baixador dos Estados Unidos, Charles Burke Elbrick.

A ditadura civil-militar: governos Castelo Branco e Costa e Silva


pouco depois do golpe, de acordo com o historiador Jacob
Gorender. O PCdoB despachou os primeiros militantes
para a região onde mais tarde desencadeou a guerrilha do
MATERIAL DE APOIO AO PROFESSOR Araguaia em 1966, dois anos antes do AI-5. A primeira
turma enviada para treinamento em Cuba pelo líder da
LIVROS E ARTIGOS
Ação Libertadora Nacional (ALN), Carlos Marighella, de-
ABREU, Alzira Alves de (Coord.). Dicionário histórico-biográ- sembarcou na ilha em 1967.
fico brasileiro pós-1930. Rio de Janeiro: Ed. da FGV, 2001.
A primeira bomba explodiu em 1966, no aeroporto de
GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada. São Paulo: Com- Guararapes, no Recife. Escondida dentro de uma maleta e
panhia das Letras, 2002. acionada por um relógio, ela foi armada por militantes da
MARTINS, Franklin. Quem foi que inventou o Brasil? v. II – AP e foi detonada momentos antes da hora prevista para a
de 1964 a 1985. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. chegada de Costa e Silva, que era aguardado naquela manhã
O GOLPE: militares e civis na trama de 1964. Revista de para vários compromissos na cidade. Um oficial da Marinha,
História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, ano 7, o almirante Nelson Fernandes, e o jornalista Edson Régis
n. 83, p. 18-39. ago. 2012. morreram na explosão.

29
Ex-militantes que participaram da luta armada justifi- verno soltasse 15 presos políticos em troca de sua liberta-
cam até hoje a opção como a única saída que encontraram ção. Eles conseguiram tudo o que queriam, mas o sequestro
para se opor ao regime depois que os militares fecharam também deu aos militares o pretexto de que precisavam para
os canais tradicionais de participação política. Mas docu- reorganizar seu aparato repressivo e dar início à fase em que
mentos deixados pelas organizações com as quais eles se o combate à esquerda foi mais feroz.
envolveram mostram que, no calor da hora, a explicação TUDO sobre a ditatura militar. Folha de S.Paulo. Disponível em: <http://arte.folha.uol.
com.br/especiais/2014/03/23/o-golpe-e-a-ditadura-militar/a-ditadura.html>.
para seus objetivos era outra. A guerrilha era uma etapa Acesso em: 7 dez. 2016.
na luta para derrubar a ditadura militar e substituí-la por
outra, de caráter socialista.
Os militantes desses grupos acreditavam que o principal GABARITO COMENTADO
erro da esquerda em 1964 fora não resistir ao golpe. Agora,
achavam que sua tarefa era fazer a revolução liderando pelo
exemplo, realizando ações armadas que despertassem nas PRATICANDO O APRENDIZADO
massas trabalhadoras o entusiasmo necessário para segui-los. 1. b. O estado de direito é aquele que garante as liber-
O fim dessas organizações foi trágico, e nenhuma chegou dades civis, os direitos humanos, sociais, coletivos
nem perto de alcançar esse objetivo. e as liberdades fundamentais por proteção jurídi-
Vários desses grupos, como a ALN, surgiram de dissidên- ca, sujeitando mesmo as autoridades à aplicação
cias do velho PCB, que caiu em descrédito após a derrota da lei. Tal estado não existia no Brasil durante a
sofrida em 1964 e se manteve longe da luta armada. Alguns ditadura civil-militar, mas existe no de hoje.
chegaram a realizar ações conjuntas, mas não havia unidade 4. d. Em ambos os casos citados, as manifestações fo-
entre eles e a clandestinidade em que operavam contribuía ram desencadeadas pela instabilidade das insti-
para reforçar seu isolamento. O PCdoB foi o único grupo tuições governamentais e a falta de participação
que conseguiu criar um foco guerrilheiro. ou representação política por parte da maioria da
população brasileira.
A primeira tentativa foi organizada com dinheiro de
Cuba e o apoio de Leonel Brizola, que vivia exilado no Uru- A “Passeata dos Cem Mil” ocorreu em 1968, no
guai desde 1964. Um grupo de 14 guerrilheiros, liderados contexto da ditadura militar, em protesto contra a
violência do regime e a morte do estudante Édson
por militares que haviam sido expulsos do Exército logo após
Luís no Rio de Janeiro. A marcha contou com a par-
o golpe, montou um acampamento na Serra do Caparaó, na
ticipação de muitos jovens estudantes, que defen-
divisa entre Minas Gerais e o Espírito Santo, em 1966. Fo- diam a mudança do país, o fim da ditadura militar e
ram capturados em 1967, antes de entrar em ação. a implantação de um modelo democrático.
A maioria desses grupos limitou-se a realizar ações de im- Em junho de 2013, uma série de manifestações
pacto reduzido, como assaltos a bancos e depósitos de armas, ocorreu no Brasil. Inicialmente defendendo o pas-
cujo objetivo era obter condições para sobreviver na clandestini- se livre em São Paulo, o “Movimento Passe Livre”
dade. Mas algumas ações foram espetaculares, como o assalto atingiu várias cidades brasileiras e caracterizou-se
a um cofre guardado na casa de uma amante do ex-governador por reivindicações bastante diversificadas. Partici-
paulista Adhemar de Barros, que em 1969 rendeu US$ 2,5 mi- param dessas manifestações muitos jovens estu-
lhões para a VAR-Palmares. A presidente Dilma Rousseff atuava dantes, que se organizaram por meio das redes
na organização nessa época, mas não participou do assalto. sociais. Essas manifestações apontam para o esgo-
tamento do modelo político brasileiro. As manifes-
Houve momentos em que eles pareciam estar por toda
tações possuem semelhanças (críticas ao governo
parte, e não só nos cartazes da polícia. Durante a greve de
e participação de jovens) e diferenças (em 1968 o
Osasco em 1968, a ALN e a VPR planejaram ações para cortar Brasil era uma ditadura militar, em 2013, uma de-
a eletricidade das fábricas, que não chegaram a realizar. Quan- mocracia, apesar da repressão registrada).
do estudantes da Universidade de São Paulo e do Mackenzie
entraram em confronto na rua Maria Antônia no mesmo ano,
as duas organizações forneceram armas para que os alunos da DESENVOLVENDO HABILIDADES
USP se defendessem.
1. d. Em virtude da censura e da repressão, a resistên-
A ação mais audaciosa foi realizada em setembro de cia durante a ditadura militar tinha de ser feita de
1969, quando guerrilheiros da ALN e do Movimento Revo- maneira moderada e, muitas vezes, disfarçada.
lucionário 8 de Outubro (MR-8) sequestraram o embaixador A poesia, então, representou uma das principais
dos EUA no Brasil, Charles Elbrick, e exigiram que o go- formas de resistência ao regime.

30
História
Era Vargas:
do Governo

13
Provisório ao
Estado Novo
Módulo (1930-1937)

OBJETOS DO CONHECIMENTO
• Principais características da Era Vargas
• O Governo Provisório (1930-1934) e a Revolução
Constitucionalista (1932)
• A Constituição de 1934 e a radicalização política
• O Golpe do Estado Novo (1937)

HABILIDADES
• H8 - Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para
mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
• H11 - Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
• H12 - Analisar o papel da Justiça como instituição na organização das sociedades.
• Entender a relação entre o Estado e os trabalhadores.
• Caracterizar a Constituição de 1934.
• Identificar os fatores para o Golpe do Estado Novo.
• Compreender o cenário internacional na construção do regime brasileiro.
• Contextualizar a Revolução de 1930.
• Comparar os movimentos políticos surgidos após 1934.
• Analisar a reação da elite paulista.

178
PARA COMEÇAR

Será que uma pessoa é capaz de mudar o rumo da História? Um único indivíduo, dotado de ca-
pacidades extraordinárias de inteligência, liderança, carisma, além de uma vontade inabalável de
fazer justiça, de defender os pobres e salvar os oprimidos – essa pessoa existe ou já existiu? Ou
estamos inventando fantasias, falando de um super-herói das revistas em quadrinhos, dos dese-
nhos animados; um personagem dos filmes de aventura; um semideus das mitologias antigas?
E se essa pessoa tão excepcional fosse um político, um ho-

GEORGE KARGER/LIFE COLLECTION/GETTY IMAGES


mem que esteve no poder de um país e foi apontado como

HISTÓRIA
responsável por muitas mudanças importantes durante o
tempo em que governou? Um homem que, bem longe de ser
herói, foi visto por muitas pessoas como um salvador, como
um pai, e por outras até como um tirano.
Houve uma época da história do Brasil que ganhou o nome
de um homem só: a Era Vargas (1930-1945). Getúlio Vargas foi

M—dulo 13
aclamado por muitos como o realizador de transformações
fundamentais que levaram o Brasil a superar muitos de seus
problemas crônicos.
Mas foi ele mesmo quem fez isso? E se foi, teria feito sozinho?
Essas e outras questões referentes à Era Vargas estão entre os
Getúlio Vargas na década de 1930.
assuntos discutidos neste módulo.

PARA APRENDER

O caráter da Revolução de 1930


Getúlio Vargas chegou ao poder em 1930, por meio de

KEYSTONE/GAMMA/GETTY IMAGES

Era Vargas: do Governo Provisório ao Estado Novo (1930-1937)


uma revolução. Junto a ele não estavam os operários, os
camponeses ou mesmo as camadas médias urbanas, mas
os militares – muitos deles egressos dos movimentos te-
nentistas da década de 1920 – e as elites descontentes com
o pacto oligárquico da Primeira República. Portanto, não
coube a ele o papel de líder de um movimento de mas-
sas, culminando com uma violenta tomada de poder. Na
verdade, Getúlio não desejava promover grandes rupturas
sociais no Brasil, como uma reforma agrária ou a reestrutu-
ração das bases democráticas do país.

Getúlio Vargas cercado de generais


no Palácio do Catete, no Rio de
Janeiro, em 19 de novembro de 1930.

179
ARQUIVO OSWALDO ARANHA/CPDOC-FGV

Assim como se estuda o caráter revo-


lucionário do movimento liderado por Ge-
túlio Vargas, também se examina o caráter
golpista do movimento, na medida em que
Vargas chegou ao poder respaldado por mi-
litares, sem ter respeitado a regra constitu-
cional vigente e negligenciando o resultado
das eleições em que fora derrotado. Golpe,
por ter destituído o presidente da Repúbli-
ca – Washington Luís –, evitado a posse do
candidato eleito – Júlio Prestes – e ter se
assenhorado do governo sem respaldo das
instituições da época.
Vargas assumiu o controle da nação
reclamando justiça e falando em nome do
povo brasileiro. Ele representava as dissi-
dências oligárquicas do Rio Grande do Sul
Em gesto simbólico representando a tomada do poder, os revolucionários gaúchos
amarraram seus cavalos no Obelisco da avenida Rio Branco assim que chegaram ao Rio de
– que tentaram várias vezes assumir o papel
Janeiro, em 1o de novembro de 1930. de protagonistas da Primeira República –,
de Minas Gerais e do Nordeste. Com isso, conquistou a simpatia dos que se sentiam desprezados pelo
arranjo político do pacto oligárquico (representado pelos grandes produtores paulistas de café e pelos coro-
néis espalhados Brasil afora), ou seja, os setores populares, como o operariado e as camadas médias urbanas.
O título de Revolução de 1930 teve como objetivo minimizar o caráter golpista da tomada de poder. Mas,
se a insistência histórica em usar o termo “revolução” for mesmo irrevogável, então ainda se poderá fazer
bom uso dele. Afinal, durante os quinze anos em que Getúlio Vargas esteve no comando do governo, enor-
mes transformações aconteceram. Não seria exagero dizer que o Brasil foi transformado entre os anos 1930
e 1945, quando a Era Vargas chegou ao fim.

A importância de Vargas
Assim que Getúlio Vargas assumiu o poder, os traços mais significativos de sua contribuição para a histó-
ria do Brasil começaram a ser percebidos. Podemos indicar pelo menos quatro grandes temas ou tendências
que explicam sua importância.

Trabalhismo
Durante a Primeira República (1889-1930), os trabalhadores dos grandes centros urbanos, como Rio de
Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre, revelaram uma enorme capacidade de
organização, por meio dos sindicatos – de orientação anarquista ou comunista –, de clubes operários e da
imprensa, que reivindicavam melhores salários e condições mais dignas de trabalho. Chegaram a formar
partidos e concorrer a eleições, contribuindo para um quadro mais intenso de atividade política. Os patrões
se uniram e encontraram nos governos das primeiras décadas republicanas importantes aliados: a forte re-
pressão policial do Estado brasileiro e uma legislação que condenava as ações dos trabalhadores como atos
criminosos só ampliavam as tensões sociopolíticas da época.
Quando Getúlio Vargas se apresentou como candidato às eleições presidenciais em 1930, prometeu em
sua campanha garantir direitos aos trabalhadores brasileiros. Isso fez com que a Aliança Liberal – nome da
chapa de Vargas – ganhasse a simpatia de muitos daqueles que compunham os setores populares e as cama-
das médias urbanas de algumas capitais.

180
Com a tomada do Palácio do Catete, em outubro de 1930, Vargas deu início a um amplo processo de
concessões aos trabalhadores. Entre as mudanças mais significativas, podemos assinalar as seguintes:

Ideia de trabalho: por meio de inúmeros recursos de propaganda e de órgãos governamentais,


Vargas buscou valorizar o trabalhador, rompendo com uma longa história de menosprezo e desres-
peito, fortemente ancorada no passado escravista.
Leis trabalhistas: até 1945, Vargas foi responsável pela criação de mais de 100 leis trabalhistas.
Também é destaque a criação, em 1943 e em vigor até hoje, da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), a reunião das leis trabalhistas existentes até aquele momento em um só documento.
Atuação do Estado: Vargas criou o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (1930) e a Justiça

HISTÓRIA
do Trabalho (1941), tornando o Estado o grande interlocutor entre os interesses dos trabalhadores e
os dos empregadores.
Controle: criou diversos instrumentos de controle e representatividade, como a Carteira de Tra-
balho (1932), incentivou a sindicalização e a formalização de sindicatos perante o governo, entre
outras medidas.
Corporativismo: com a concessão das leis trabalhistas, o controle dos sindicatos e a propaganda

Módulo 13
oficial implantada pelo Estado, Vargas criou no Brasil um sistema de corporativismo, em que patrões
e empregados são representados por corporações reguladas pelo governo.

É importante, entretanto, não superestimar o

FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, RIO DE JANEIRO


papel de Getúlio Vargas. Ao considerar as leis traba-
lhistas como um gesto de generosidade, negligen-
ciam-se décadas de lutas operárias no Brasil. Vargas
soube se aproveitar das reivindicações feitas por um
longo período de mobilizações sociais, políticas e
ideológicas dos trabalhadores durante a Primeira
República para ter apoio dos trabalhadores e, as-
sim, controlar os sindicatos e as suas mobilizações.
A visão construída pela propaganda de governo e
perpetuada ao longo de décadas foi a figura de um
governante paternal, que estendeu sua mão bene-
volente em favor dos pobres, humildes e subser-

Era Vargas: do Governo Provisório ao Estado Novo (1930-1937)


vientes operários brasileiros. No entanto, podemos
apontar nas atitudes de Vargas um claro interesse
em gerar condições de controle sociopolítico sobre
os trabalhadores.

Manchete do jornal
Diário da Noite, de
11 de agosto de 1943,
sobre a Consolidação
das Leis do Trabalho.

181
REPRODU‚ÌO/CARTILHA DO D.I.P./ARQUIVO DA EDITORA

Nacionalismo

pH_Historia_EM2_CA_ Durante o Segundo Reinado (1840-1889),


Modulo13_F005: Imagem de dom Pedro II buscou implementar a ideia de
alguma propaganda do gov- um Brasil integrado, o que fazia muito sentido
erno Vargas, feito pelo DIP, em uma monarquia.
relacionado ao nacionalismo. Durante a Primeira República, esse senti-
Importante ter bandeiras, mento nacional ficou ainda mais difuso. Isso se
símbolos nacionais e a figura explica pelo princípio federalista – que norteava
do presidente. Como nas im- a Constituição de 1891 e, na prática, ampliava a
agens modelo. autonomia dos governos estaduais do Brasil – e
pela convergência política e econômica que a
“política do café com leite” gerava em direção
a São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Com Vargas, o nacionalismo ganhou nova
expressão com base nos seguintes pontos:
Imagem retirada de uma das cartilhas de propaganda formuladas durante a Era Vargas.
Nesse caso, o tema era a associação de Getúlio à educação brasileira.

Atuação do Estado: Vargas, na prática, pôs fim ao princípio federalista logo nos primeiros mo-
mentos de sua administração, com a dissolução do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas
e das Câmaras Municipais. Anos mais tarde, com o Estado Novo (1937-1945) e a Constituição de 1937,
essa tendência ganhou estatuto oficial. Isso gerou o sentimento de um governo disposto a atuar em
todos os estados que compunham a União de maneira equânime.
Propaganda e ideologia: Getúlio Vargas criou a ideia de um país unido. Para isso vários esforços
foram mobilizados, como o discurso em favor dos trabalhadores do Brasil, em estilo de samba. Além
disso, o rádio, que agora alcançava todo o território brasileiro, particularmente com a inauguração da
Rádio Nacional (1936) e do programa Hora do Brasil, no ar a partir de 1935, em que o próprio Getúlio
se dirigia aos brasileiros onde quer que estivessem, foi usado como propaganda.
Soberania nacional: Vargas inaugurou uma nova forma de atuação na economia, vinculando as
atividades estratégicas – como as da indústria de base – ao Estado, garantindo, dessa maneira, a
soberania nacional em relação aos recursos naturais do Brasil. Assim, foram criadas a Companhia
Vale do Rio Doce (1942) e a Companhia Siderúrgica Nacional (1941), com os objetivos de explorar o
subsolo brasileiro, obtendo carvão, ferro, pedras e metais, e produzir aço.

GOTAS DE SABER

Samba: de perseguido a vital


O samba foi um ritmo musical marginalizado durante a Primeira República. Os encontros dos composi-
tores e intérpretes em rodas de samba eram considerados desacato à ordem pública, e seus participantes,
vistos como vadios.
O governo de Vargas, em seu projeto nacionalista, encontrou no samba um elemento capaz de unir o
povo brasileiro, portanto incentivou e popularizou o ritmo, transformando-o em importante mercadoria da
indústria cultural. No decorrer da década de 1930, o samba foi ganhando espaço nas rádios e nas ruas. Mais
à frente, já no Estado Novo, o samba também se tornou uma ferramenta ideológica do regime varguista.

182
Industrialização
Até 1930, o Brasil já possuía diversas atividades industriais produzindo bens de consumo, principalmente
nos setores de calçados, bebidas, tecidos, alimentos e produtos farmacêuticos. A produção têxtil era, sem
dúvida, a mais representativa, atendendo a cerca de 80% das demandas nacionais na década de 1920. Mas a
economia brasileira ainda era muito dependente de importações e concentrava a parte mais significativa de
sua produção no setor agrícola, com destaque para o café, o açúcar, o algodão e o cacau. Durante a adminis-
tração de Vargas, teve início o que se consagrou chamar de substituição de importações, ou seja, o princípio
de um longo processo de aumento das exportações em relação às importações.
O país até então era desprovido de infraestrutura de transportes capaz de favorecer a integração regional
ou a promoção de mercados internos mais dinâmicos. Apesar de o setor ferroviário contar com quase 20 mil

HISTÓRIA
quilômetros de extensão até o fim da década de 1920, boa parte das linhas férreas estava localizada nas
regiões Sudeste e Sul – com destaque para Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo – e não apresentava
condições ideais para as necessidades de um

ARQUIVO OESP/AGÊNCIA ESTADO


país como o Brasil. Criado em 1934, o Plano
Geral Nacional de Viação buscou soluções
para integrar o transporte entre as regiões do

Módulo 13
país, por meio da expansão e da interligação
de ferrovias, rodovias e hidrovias.
A partir da Era Vargas teve início um novo
período da história da industrialização brasilei-
ra, no qual o objetivo era fortalecer as indús-
trias de base em contraposição à produção de
bens de consumo, a fim de promover o desen-
volvimento autônomo do país, isto é, diminuir
a dependência do capital internacional. Entre
outras razões, destaca-se a atuação do Esta-
do em diversos empreendimentos. Além da
Companhia Vale do Rio Doce e da Companhia
Siderúrgica Nacional, Vargas criou, em 1938, o
Conselho Nacional do Petróleo – que ante-
cedeu a criação da Petrobras, em 1953 – e, em
1942, a Fábrica Nacional de Motores (FNM)
Linha de produção de caminhões da Fábrica Nacional de Motores em Duque de Caxias,
– apelidada de “Fenemê” –, responsável pela estado do Rio de Janeiro, 1973.
produção de automóveis e caminhões. Vargas

Era Vargas: do Governo Provisório ao Estado Novo (1930-1937)


ACERVO ICONOGRAPHIA
também impulsionou a indústria química, com
a fundação da Companhia Nacional de Ál-
calis – que produzia implementos para a pro-
dução de sabão, detergente, sal de cozinha
e vidro – e da Companhia Hidro Elétrica do
São Francisco, a primeira grande geradora de
energia elétrica do país.

Manifestação de
trabalhadores da Companhia
Siderúrgica Nacional
durante as comemorações
do Dia do Trabalho no Rio
de Janeiro, 1942.

183
Reaparelhamento do Estado
Até 1930 a economia brasileira contava principalmente com a atuação de capitais privados, nacionais ou
estrangeiros. Foi assim durante o período imperial (1822-1889), quando os interesses de produtores rurais
independentes ou de grandes conglomerados ingleses agiam com liberdade na economia do Brasil. Mesmo
a prestação de serviços básicos, como a coleta de lixo e a limpeza de chaminés e de praias, era dominada
por empresas privadas.
Com a Primeira República não foi diferente. Inspirada pelo exemplo estadunidense, a Constituição de
1891 pregava o princípio liberal para a gestão econômica, em que o Estado exerce o papel de regulador.
Além do mais, é preciso lembrar que as principais atividades produtivas do Brasil continuavam sendo as do
setor agrário exportador, controladas majoritariamente por capitais privados.
Os anos 1930 vieram alterar essa realidade no Brasil e no mundo. Desde a década anterior, estava claro
que o modelo liberal de organização política, social e econômica estava em crise.
A economia estadunidense havia apresentado um desempenho extraordinário nos anos seguintes à Pri-
meira Guerra Mundial (1914-1918). Em meados da década de 1920, os Estados Unidos eram liderança em
todos os setores industriais, donos da maior infraestrutura de transportes e comunicações e responsáveis
pelos mais expressivos índices de consumo do mundo. O sucesso da economia, porém, acabou tendo um
preço muito alto, e, em 1929, a Bolsa de Nova York quebrou, levando os Estados Unidos e diversos países a
um sombrio período de depressão econômica na década de 1930.
A crise econômica sem precedentes colocou em sério questionamento a agenda liberal das últimas dé-
cadas. Como resposta à crise, diversas nações precisaram de uma forte intervenção do Estado para sair
da depressão. No caso estadunidense, o presidente Franklin Delano Roosevelt, a partir de 1933, propôs e
implementou o que ficou conhecido como New Deal – impôs restrições de produção a diversos setores da
produção industrial e aos setores agrícolas, recuperou bancos, estimulou a oferta de empregos com um sem-
-número de obras estatais, interveio na regulação da moeda e renovou a relação do Estado com os trabalha-
dores, criando o que veio a ser conhecido como Welfare State (“Estado de bem-estar social”).
Essa foi uma época, portanto, em que os problemas do liberalismo (econômicos, sociais ou políticos) não
eram resolvidos com soluções liberais. Ao contrário, essa foi uma época em que a intervenção do Estado foi
percebida como a instância ca-
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS/CPDOC

W. ENGELHARDT/F. SCHNEIDER/HTTP://LIBIMAGES.WOLFSONIAN.ORG

paz de realizar a superação das


crises. E foi assim, com o con-
junto de soluções apresentadas
pelo Estado em diversas partes
do mundo e de diferentes ma-
neiras, que foi possível imaginar,
pH_Historia_EM2_CA_
mesmo que momentaneamen-
Modulo13_F008: Imagem de
te, respostas para as dificulda-
propaganda de Getúlio Var-
des da década de 1930.
gas, de forma que possa ser
feita uma comparação com a
F009, ou seja, precisam ter
os mesmos elementos, con- Assim como na Alemanha nazista,
a máquina de propaganda do
forme exemplos a seguir. Estado brasileiro criava a imagem
de um governo simpático. Nas duas
imagens, é evidente o direcionamento
às crianças, que são as gerações
futuras. À esquerda, cartilha criada
pelo Departamento de Imprensa e
Propaganda (DIP) de Vargas. À direita,
cartaz de propaganda enaltecendo
o lado amigável de Hitler com as
crianças, no qual se lê “Crianças, o que
vocês sabem sobre o Führer?”.

184
Com Vargas o reaparelhamento do Estado seguiu uma tendência. Além das motivações internas – como
a superprodução do café, as urgências da modernização brasileira, a necessidade de deter o controle político
e econômico das oligarquias paulistas, e até mesmo pessoais, uma vez que Getúlio já havia demonstrado
simpatia pelo modelo intervencionista durante sua gestão como governador do estado do Rio Grande do
Sul –, o cenário internacional possibilitava e exigia maior presença do Estado para a superação dos desafios
econômicos, sociais e políticos da época.
Podemos identificar essa característica da Era Vargas em alguns pontos marcantes:

Estado interventor: houve intervenção do governo em diversas atividades econômicas, não só


nos setores industriais de base, como já foi indicado, mas também na produção agrícola, por exem-

HISTÓRIA
plo, com a criação do Departamento Nacional do Café (1933) e do Instituto do Açúcar e do Álcool
(1933), para regulamentar a produção e a distribuição desses produtos. Vargas, igualmente, atuou por
meio do Estado nas produções de arroz, feijão, trigo e milho, visando ao mercado interno.
Controle sociopolítico: Vargas limitou a participação política às instâncias de representação cria-
das pelo próprio governo. O exemplo mais significativo nesse sentido foi o controle dos sindicatos.
Na prática, Vargas conseguiu desbaratar os combativos sindicatos anarquistas e comunistas da Pri-

Módulo 13
meira República, favorecendo um novo modelo de organização operária, que louvava seu nome gra-
ças às “concessões” trabalhistas que realizava.
Propaganda e ideologia: desde o primeiro momento, Getúlio se mostrava preocupado com a própria
imagem. O esforço de usar os recursos radiofônicos para aumentar o alcance de sua voz pelo Brasil afora já
dava demonstração disso. Mas foi um pouco mais tarde, durante o Estado Novo (1937-1945) e com a funda-
ção do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), em 1938, que isso se tornou ainda mais evidente.

Governo Provisório (1930-1934)

Primeiras medidas
A Revolução de 1930 havia alcançado sucesso. Getúlio Vargas, com farda militar, posava para fotos ao
lado de outros representantes civis e líderes tenentistas, como os generais Góis Monteiro, Flores da Cunha,
Tasso Fragoso, Mena Barreto e Miguel Costa, além do almirante Isaías Noronha. Foram mais de vinte dias
desde o embarque em Porto Alegre no chamado “Trem da Vitória” até o Rio de Janeiro. Mas os desafios só
estavam começando, conforme podemos perceber, a seguir, em um trecho do discurso de Vargas em sua

Era Vargas: do Governo Provisório ao Estado Novo (1930-1937)


posse, em 3 de novembro de 1930.

[...] Passado, agora, o momento das legítimas expansões pela vitória alcançada, precisamos refletir
maduramente sobre a obra de reconstrução que nos cumpre realizar. Para não defraudarmos a expecta-
tiva alentadora do povo brasileiro; para que este continue a nos dar seu apoio e colaboração, devemos
estar à altura da missão que nos foi por ele confiada. Ela é de iniludível responsabilidade. Tenhamos a
coragem de levá-la a seu termo definitivo, sem violências desnecessárias, mas sem contemplações de
qualquer espécie.
O trabalho de reconstrução que nos espera não admite medidas contemporizadoras. Implica o reajus-
tamento social e econômico de todos os rumos até aqui seguidos. Não tenhamos medo à verdade. Preci-
samos, por atos e não por palavras, cimentar a confiança da opinião pública no regime que se inicia. [...]
BIBLIOTECA Digital da Câmara dos Deputados. Getúlio Vargas. Disponível em: <www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/
plenario/discursos/escrevendohistoria/getulio-vargas/perfil-parlamentar-de-getulio-vargas>. Acesso em: 14 nov. 2016. p. 309-310.

185
REPRODU‚ÌO/ARQUIVO DA EDITORA
Liderança inquestionável do processo que o levou ao
Palácio do Catete, Vargas se declarava apenas um “sol-
dado da revolução”, um “homem de honra” que assumia
“provisoriamente o governo da República, como delega-
do da revolução, em nome do Exército, da Marinha e do
povo brasileiro”. A expectativa geral em torno do novo
governo era de grandes e rápidas mudanças no país, em
particular contra os chefes políticos que vinham contro-
lando a Primeira República, os “coronéis” e as elites que
mantinham o sistema oligárquico por meio da “política
dos governadores” e da “política do café com leite”.
Embalado pela euforia do momento, Vargas tomou as
primeiras medidas do Governo Provisório, já revelando sua
Getúlio Vargas, então chefe do Governo Provisório, e seus ministros, em 1931.
tendência centralizadora e ditatorial: dissolveu o Congres-
so Nacional, fechou as Assembleias Legislativas estaduais e
destituiu todos os governadores de suas cadeiras – com exceção de Olegário Maciel, de Minas Gerais, que havia
apoiado a Aliança Liberal de Getúlio em 1930 –, nomeando interventores militares para o comando dos estados.
Apesar do discurso reformista e das primeiras ações políticas que pareciam golpear as bases do velho
coronelismo, Getúlio não poderia simplesmente negligenciar a importância do café, dos cafeicultores e da
crise de superprodução que havia se instalado nos últimos anos da década de 1920. Por essa razão, ainda
em dezembro de 1930, o Governo Provisório se comprometeu a comprar o excedente de produção do café,
atendendo às exigências dos fazendeiros, principalmente os paulistas. Em junho de 1931, o governo federal
comprou e queimou quase 3 milhões de sacas de café para diminuir a oferta e aumentar o preço do produto
no mercado internacional. Com essa prática, até o final da Era Vargas, em 1945, seriam queimados um total
aproximado de 78,2 milhões de sacas de café.
Acerca das questões ligadas ao universo do trabalho, Getúlio promoveu imediatas inovações: ainda em
1930 foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. A importância dessa medida é inquestioná-
vel: o novo ministério elevava os temas da questão operária para o nível do primeiro escalão do Executivo
federal e colocava o Estado na condição de interlocutor privilegiado dos trabalhadores brasileiros diante
de seus empregadores. Antes, questões que envolviam as relações de trabalho eram da alçada do Minis-
tério da Agricultura.
Ainda em dezembro de 1930, foi editada a Lei de Nacionalização do Trabalho, que obrigava todas as
empresas a contratar dois terços do total de seus funcionários entre os cidadãos brasileiros, uma tentativa de
afastar os estrangeiros que trouxeram para o Brasil as ideias anarquistas e comunistas na organização dos sin-
dicatos anos antes. No ano seguinte, o Decreto no 19 770 criou a Lei de Sindicalização, que regulava a criação
de sindicatos. Apesar das antigas reivindicações operárias sobre o direito à formação de sindicatos, é preciso
dizer que na prática, com essa determinação oficial, o Estado passou a tutelar os organismos sindicais. Foi o
início dos chamados “sindicatos pelegos” e do corporativismo. Os trabalhadores e as empresas passaram a
ser representados por corporações que negociavam com o governo, mediando os conflitos entre eles. Dessa
maneira, o Estado passou a controlar ações e decisões trabalhistas.
Ainda em 1931, Vargas regulamentou o trabalho feminino, proibiu o trabalho infantil, impediu a de-
missão de gestantes e instituiu a obrigatoriedade do descanso
Glossário
semanal para empregados do comércio e da indústria. Em 1932,
Pelego: refere-se ao sindicalista que defende
uma antiga bandeira da luta operária finalmente foi atendida as orientações do Ministério do Trabalho
com força de lei: a redução da jornada de trabalho para oito em detrimento das reivindicações da classe
horas diárias. que representa. Em seu sentido próprio, faz
referência a um tipo de manta de lã que se
Mas nem todos estavam aprovando a forma com que Vargas coloca sobre a sela, no dorso do cavalo, para
amaciar o assento do cavaleiro.
intervinha na nação. O coro dos descontentes vinha de São Paulo.

186
Revolução Constitucionalista (1932)
Desde que Getúlio assumiu o poder em outubro de 1930, a Constituição de 1891 passou a ser negligen-
ciada. O novo presidente governava por decretos, instituindo a ordem com os artifícios legais que ele próprio
definia. Esses fatos, além do fechamento dos Legislativos federal e estaduais, não deixavam dúvidas de que
Getúlio estava à testa de uma ditadura.
REPRODUÇÃO/ARQUIVO DA EDITORA

REPRODUÇÃO/ARQUIVO DA EDITORA

HISTÓRIA
Módulo 13
Era Vargas: do Governo Provisório ao Estado Novo (1930-1937)
Cartazes da Revolução Constitucionalista de 1932.

Líderes de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, aliados de Vargas, andavam descontentes com os rumos
que o novo governo vinha tomando. Os gaúchos acreditaram que teriam maior espaço político com a presen-
ça de um conterrâneo na Presidência. Entretanto, isso não ocorreu. Os mineiros, por sua vez, que apoiavam
Vargas desde a articulação da chapa Aliança Liberal, com o governador Antônio Carlos de Andrada, também
sentiam a tendência centralizadora da administração revolucionária, bem diferente da autonomia experimen-
tada durante os anos da Primeira República. Em São Paulo, porém, a situação era bem pior.
Estava claro que a elite paulista era a grande derrotada pelo movimento que havia colocado Getúlio no
Palácio do Catete. O presidente deposto, Washington Luís, era paulista; o candidato vitorioso das eleições
presidenciais e que não pôde tomar posse em 1930, Júlio Prestes, era paulista; o café, que até então tinha seu
destino decidido pelos produtores rurais – principalmente os paulistas –, estava em crise e sob controle da
União. Para aumentar ainda mais seus problemas, os paulistas amargavam a escolha arbitrária de intervento-
res federais em seu estado. Não faltava muito para que os dissabores das derrotas sentidas a partir de 1930
levassem a uma reação contra o governo.

187
Os paulistas não aceitavam a continuidade do governo Vargas e exigiam a imediata formação de uma As-
sembleia Constituinte. Em maio de 1932, milhares de manifestantes contrários a Getúlio reuniram-se na praça da
República, no centro de São Paulo, empunhando faixas em que se viam escritas palavras de ordem como “São
Paulo unido exige a Constituinte”, “São Paulo para os paulistas” e “Hoje, como no passado, paulistas avante!”.
Na noite de 23 de maio, a praça da República foi palco do enfren-
AUTORIA DESCONHECIDA/SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA, SP.

tamento entre manifestantes e tropas do governo, que tentavam inu-


tilmente conter a multidão. Dezenas de pessoas foram feridas e qua-
tros jovens estudantes morreram: Mário Martins de Almeida, Euclides
Miragaia, Dráusio Marcondes e Antônio Américo Camargo. Nos dias
seguintes, São Paulo tinha quatro mártires como bandeira e uma sigla
como emblema, formada com as iniciais de seus nomes – MMDC –,
para a organização cívica contra o governo Vargas.
A partir de julho de 1932, e durante os três meses seguintes, São
Paulo se transformou em campo de guerra. Lideranças militares e gru-
pamentos civis, como o MMDC e a Liga de Defesa Paulista, chegaram a
arregimentar milhares de homens – operários, estudantes, intelectuais
e outros voluntários oriundos das camadas médias – na luta contra o
governo federal. Mas Vargas, comprometendo-se com a promessa de
instalação de uma Assembleia Constituinte e invocando a necessidade
de manter o país unido – acusando os líderes paulistas de conspirarem
em favor de uma suposta independência em relação ao Brasil –, con-
seguiu reunir forças contra os rebeldes. Até mesmo os descontentes
políticos de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul apoiaram Getúlio e as
tropas federais contra os paulistas.
Manifestação dos paulistas contra o Governo Provisório de Antes que setembro de 1932 chegasse ao fim, as lideranças milita-
Getúlio Vargas durante a Revolução, em 25 de janeiro de res rebeldes, encabeçadas pelo general Bertoldo Klinger, depuseram
1932.
armas e se apresentaram para a negociação. Vargas determinou a pri-
são dos líderes constitucionalistas; alguns deles foram exilados para Portugal, outros ainda tiveram seus
direitos políticos cassados.
O governo federal procurou mostrar mudanças da política de Getúlio Vargas para com os paulistas por
meio de medidas, tais como preparar condições para a escolha dos representantes da Assembleia Constituinte,
que se realizaria a partir de maio de 1933, e nomear um interventor paulista, Armando de Sales Oliveira. Ele foi
responsável pela reorganização do aparelho administrativo do estado e pela criação da Universidade de São
Paulo – que reunia, entre outras, as já existentes Faculdade de Medicina, Escola Politécnica e Faculdade de
Direito do Largo São Francisco, escolas que viram alguns de seus alunos mortos em combate durante o conflito
de 1932 –, medida que visava à formação de uma nova elite política e intelectual após o fracasso da revolta.

GOTAS DE SABER

A Revolu•‹o de 1932 e o voto aberto


É comum associar a Revolução Constitucionalista de São Paulo à Constituinte e à Constituição de 1934.
O orgulho dos paulistas, que defenderam a democracia contra a tirania de Vargas, ainda hoje pode ser no-
tado. Lamentavelmente, porém, é possível dizer que, entre os projetos apoiados pelos paulistas durante a
Revolução Constitucionalista, estava a manutenção do voto aberto, o que certamente favoreceria o “voto de
cabresto” e o controle eleitoral que havia permitido, entre outros artifícios, um longo período de preponde-
rância de São Paulo na política nacional brasileira.

188
A Constituição (1934)
Mesmo antes de a Revolução Constitucionalista rebentar, em julho de 1932, Getúlio Vargas havia solici-
tado ao ministro da Justiça, Oswaldo Aranha, que criasse um projeto eleitoral para o Brasil. Por essa razão,
no dia 24 de fevereiro de 1932 foi promulgado o Decreto no 21 076, que instituiu o novo Código Eleitoral
Brasileiro. As maiores conquistas alcançadas por esse novo instrumento legal foram a instituição do voto uni-
versal, direto e secreto, e o voto feminino. Ainda não podiam votar menores de 21 anos, analfabetos, clérigos
regulares, militares de baixa patente em serviço – os chamados “praças de pré” –, mendigos e desocupados.
Foi com esse novo perfil eleitoral que foram escolhidos os representantes da Assembleia Constituinte, esco-
lha essa acelerada por causa da revolta em São Paulo.
As eleições ocorreram em maio de 1933 e tiveram como resultado a escolha de 254 novos parlamenta-

HISTÓRIA
res, fortemente influenciados pelos tradicionais grupos das oligarquias estaduais. Vargas, porém, conseguiu
contar com a presença e o voto da “representação classista”, um bloco composto de quarenta deputados
oriundos de sindicatos e associações patronais, além de funcionários públicos, delegados e profissionais
liberais, que auxiliaram na aprovação de algumas conquistas sociais significativas.
Como parte das negociações entre a Assembleia Constituinte e o governo, ficou instituído que haveria
eleições indiretas para a Presidência da República apenas para o mandato de 1934-1938, como uma espécie
de “transição democrática”. Assim, Vargas foi escolhido presidente do Brasil pelo Congresso Nacional. Na ver-

Módulo 13
dade, esse foi apenas um mecanismo legal que permitiu a Vargas se manter no poder por mais um mandato.

HISTÓRIA EM FOCO

Mulheres na política

O Código Eleitoral promulgado em fevereiro de

COL.CARLOTA P. QUEIROZ/ARQUIVO DA EDITORA


1932 concedeu pela primeira vez o direito de voto às
mulheres. Antes disso, é conhecido um caso de parti-
cipação política feminina: em 1928, no Rio Grande do
Norte, foi eleita a primeira prefeita da América do Sul,
Alzira Soriano.
Muitas mulheres se candidataram à Constituinte de
1934, como Berta Lutz e Leolinda de Figueiredo Daltro,
mas apenas Carlota Pereira de Queirós conseguiu se
eleger por São Paulo. […] No discurso que pronunciou
na Assembleia em 13 de março de 1934, a deputada Carlota Pereira de Queirós, primeira deputada

Era Vargas: do Governo Provisório ao Estado Novo (1930-1937)


[…] enfatizou a colaboração imprescindível da mulher federal do Brasil durante a instalação da Assembleia
Constituinte de 1934. Note a disparidade entre a
no processo de reconstitucionalização do país. presença masculina e a feminina.
Em 1933, Berta Lutz, líder da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, publicara A nacionalidade
da mulher casada, obra em que defendia os direitos jurídicos da mulher. Foi convidada pela deputada Carlota
Pereira de Queirós para elaborarem em conjunto um trabalho para a Constituinte de 1934. Nele era defen-
dida a eleição da mulher e a reforma do ensino de acordo com as demandas da nova sociedade urbano-indus-
trial. Vários artigos da Constituição de 1934 iriam de fato beneficiar a mulher, entre eles os que estabeleciam
a regulamentação do trabalho feminino, a igualdade salarial e a proibição de demissão por gravidez.
Mas a questão do papel da mulher não despertava consenso. O grupo católico, articulado em torno
do Centro Dom Vital, fazia restrições à emancipação feminina, considerando-a uma ameaça à estabilida-
de familiar. Esse ponto de vista iria se manifestar frequentemente nas expressões do cotidiano. Nas revis-
tas humorísticas ilustradas, a mulher emancipada passaria a ser objeto de inúmeras charges e caricaturas.
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC). Participação política feminina.
Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/Constituicao1934/ParticipacaoFeminina>. Acesso em: 27 set. 2016.

189
IMPRENSA NACIONAL/WIKIMEDIA COMMONS

A Constituição de 1934 foi promulgada no dia 16 de julho. Ela refletiu


os diversos interesses que estavam em jogo na época. Manteve o princípio
federalista e a autonomia dos estados para a cobrança de tributos relati-
vos à exportação de produtos, numa clara concessão feita às oligarquias
regionais. Ao mesmo tempo, foi ampliado o poder do intervencionismo
estatal na economia e consagrado o privilégio da União sobre as riquezas
do subsolo. Os direitos trabalhistas, que vinham sendo garantidos por meio
de decretos governamentais, e as conquistas do Código Eleitoral foram
absorvidos pelo texto constitucional.
A Constituição de 1934 trouxe muitas novidades:

• Voto secreto, universal e direto, para cargos do Executivo e do


Legislativo, em todo o país.
• Impedimento ao voto de menores de 21 anos, analfabetos, “pra-
ças de pré”, clérigos e mendigos.
• Instituição do voto feminino.
• Inclusão da legislação trabalhista no texto constitucional, com os
artigos 120 e 121. Entre outros direitos, constavam: salário mínimo;
regime de oito horas de trabalho por dia; proibição do trabalho in-
Capa da Constituição da República dos Estados fantil; regulação do trabalho das mulheres, estipulando a equipara-
Unidos do Brasil, de 1934, publicada pela Imprensa ção salarial; fim das restrições relativas a idade, sexo, nacionalidade
Nacional.
ou estado civil; repouso semanal; férias com remuneração de trinta
dias ao ano; assistência à gestante e descanso após o parto, sem
riscos de perda de emprego ou prejuízo de salário.

Governo Constitucional (1934-1937)

A radicalização política
O movimentado cenário internacional dos anos 1930 era bem conhecido dos brasileiros. Na verdade, havia
pelo menos duas décadas as informações sobre os conflitos europeus, como a crise nos Bálcãs (1912-1913), a
Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Revolução Russa (1917), eram acompanhadas com interesse e fartura
de detalhes pelos principais jornais das capitais brasileiras. Da mesma maneira, as tendências político-ideológi-
cas da década de 1920, que convergiram para posicionamentos extremados, ecoaram no Brasil.
A direita brasileira estava organizada por meio de grupamentos civis, como a Legião de Outubro (1930)
e a Legião Cearense do Trabalho (1931), ou movimentos de caráter cultural, de forte apelo ideológico, como
o Movimento Verde-Amarelo (1924) e o Grupo da Anta (1927). Em linhas gerais, essas organizações condena-
vam o comunismo, pregavam a formação de um Estado forte, a defesa de concessões favoráveis aos traba-
lhadores e o apoio ao nacionalismo. Eram, porém, grupos de direita dispersos pelo país.
Em 1932, foi criada no Rio de Janeiro a Ação Integralista Brasileira (AIB). Seu fundador, o jornalista e
escritor paulista Plínio Salgado, já havia participado das iniciativas do Movimento Verde-Amarelo, ao lado do
intelectual Menotti del Picchia. Salgado havia visitado a Europa poucos anos antes e de lá voltara encantado
com o governo fascista de Mussolini. Para muitos, em todo o mundo, a alternativa italiana tinha alcançado
sucesso rápido nos planos econômico e social, por meio do fortalecimento político do Estado e do abandono
das incertezas da democracia liberal daquela época.

190
O Integralismo foi a tradução

CPDOC/FGV
do modelo fascista italiano no Bra-
sil, cujas ações – estratégias mi-
diáticas, discurso anticomunista,
exaltação da identidade nacional
e dos valores do trabalho – eram
absorvidas e adaptadas à reali-
dade brasileira. Além disso, a mi-
se-en-scène festiva dos nazistas,
com grandes desfiles, discursos
longos e emocionais e símbolos

HISTÓRIA
emblemáticos, de grande ape-
lo popular, também compunha a
nova “liturgia” política da direita
nacional.
Os integralistas eram egres-
sos, em sua maioria, das camadas

M—dulo 13
médias urbanas, profissionais li-
berais – como médicos, dentistas, Sessão de encerramento do I Congresso Integralista Regional das Províncias Meridionais do Brasil, em
Blumenau, Santa Catarina, 1935. Plínio Salgado é visto ao centro, sentado.
advogados e jornalistas – e milita-
res de patentes inferiores. Usavam uniforme verde-oliva e gravata preta. Tinham abaixo do ombro esquerdo
uma braçadeira preta com um disco branco, na qual se podia ver gravada no meio a letra grega sigma,
copiando o modo como a suástica nazista era usada. Levantavam o braço direito, em sinal de sentido, e
gritavam em uníssono a saudação Anauê! (“Salve!”, em tupi-guarani), de maneira semelhante àquela que os
nazistas faziam com seu Heil!.
A revista Anauê!, publicação oficial dos integralistas, estimava, em

ACERVO PLêNIO SALGADO/ARQUIVO PòBLICO HISTîRICO RIO CLARO, SP.


maio de 1936, aproximadamente 800 mil membros da Ação Integralista
Brasileira em todo o país. O discurso nacionalista e anticomunista ganhou
simpatia e adesão de representantes das elites e das camadas médias ur-
banas, mas a AIB não chegou a se tornar um partido de grande importân-
cia nacional. Além disso, após o Golpe do Estado Novo, em novembro de
1937, Getúlio Vargas conseguiu desbaratar os movimentos de esquerda,
anular qualquer resquício democrático e liberal e tornar as campanhas da
AIB obsoletas.

Era Vargas: do Governo Provisório ao Estado Novo (1930-1937)


GOTAS DE SABER

O símbolo dos integralistas


A letra grega sigma (S) foi escolhida como símbolo integra-
lista por seu significado matemático de soma: os adeptos do
Integralismo seriam então o somatório dos brasileiros, sem dife-
renças de classes, sem divergências ideológicas, todos reunidos
em prol da defesa dos valores da nação. Mesma ideia do modelo
fascista, segundo a qual um graveto é fácil de ser quebrado, mas
um feixe (fascio) é muito resistente.
Capa da segunda revista Anauê!, órgão oficial de
propaganda da AIB.

191
ARQUIVO PCDOB/REPRODUÇÃO

Em oposição à AIB estavam os grupos de esquerda. Desde o fim


do século XIX, graças às organizações operárias que atuavam nos
grandes centros do Brasil por meio de sindicatos, clubes e jornais, as
ideias do anarquismo, do socialismo e do comunismo já eram bas-
tante conhecidas. Trabalhadores em todo o país poderiam facilmen-
te identificar sindicatos, partidos, uniões ou ligas aos quais estavam
relacionados.
Seguindo orientação da Internacional Comunista, o Partido Comu-
nista Brasileiro (PCB), fundado em 1922, criou diversos grupamentos
de esquerda, em escala nacional, visando conter os possíveis avanços
dos grupos fascistas em território brasileiro. Entre as diversas organiza-
ções, estavam o Comitê contra as Guerras Imperialistas, a Reação Fas-
cista, o Congresso Nacional contra as Guerras, a Sociedade de Amigos
da Rússia, a Frente Comum Antifascista, a Frente Popular contra o Fas-
cismo e a Guerra. De todas essas organizações, a mais importante foi a
Aliança Nacional Libertadora (ANL).
A ANL foi criada em janeiro de 1935, durante uma sessão da Câ-
mara Federal, no Rio de Janeiro, com a leitura de um manifesto que
criticava o governo Vargas e a Lei de Segurança Nacional, que tramitava
em plenário na ocasião. Entre os participantes no ato de sua fundação
estavam presentes representantes de camadas médias urbanas, mem-
bros da elite política carioca, como o próprio prefeito da cidade, Pedro
Ernesto, muitos oficiais da baixa patente e tenentes, com forte tendên-
Sede da Aliança Nacional Libertadora, que foi colocada na
ilegalidade em julho de 1935. cia de esquerda. Na ocasião o líder inconteste das agitações militares
dos anos 1920, Luís Carlos Prestes, foi aclamado presidente de honra
REPRODUÇÃO/ARQUIVO DA EDITORA

da ANL.
As propostas da ANL possuíam um apelo nacionalista e de es-
querda. Falavam da organização de um governo popular, de garan-
tias de liberdades civis, da nacionalização e estatização de empresas
estrangeiras e da suspensão imediata do pagamento da dívida ex-
terna. Isso permitia à Aliança, talvez pela abrangência de seu dis-
curso, conseguir a reunião de militares de esquerda (egressos do
tenentismo), comunistas, socialistas cristãos e até liberais. Dessa ma-
neira, o próprio PCB considerava a atuação da ANL uma espécie de
anteparo para as ações do partido.
A liderança de Prestes mostrou-se de suma importância para o des-
tino da ANL. Até maio de 1935, apenas cinco meses depois de sua fun-
dação, a Aliança já contava com 50 mil membros, somente no Rio de
Janeiro. Prestes conseguiu chamar a atenção dos tenentes de esquer-
da, dos militares nacionalistas e liberais, com um discurso abrangente
e catalizador. Mas, em 11 de julho daquele ano, o governo declarou a
ANL ilegal, seus escritórios foram fechados, e uma série de prisões foi
realizada.
A ANL não agiu na ilegalidade como o PCB, que durante anos
aprendeu a sobreviver em condições de clandestinidade em razão
de sua trajetória popular e operária: a Aliança conspirou nos quartéis,
como era do agrado dos tenentes, beneficiando-se das bases que Luís
Cartaz de propaganda da Aliança Nacional Libertadora
convocando para a realização de comício. Carlos Prestes começara a arregimentar.

192
A Intentona Comunista (1935)
Diante das tensões crescentes e da

WWW.CONEXAONATAL.BLOGSPOT.COM.BR
forte repressão do Estado contra qual-
quer oposicionista, não importando se
comunista, liberal ou aliancista, uma re-
volta era iminente.
A Intentona Comunista, liderada
pela ANL e contando com a participa-
ção de militares de baixa patente com
inclinações comunistas, eclodiu no dia

HISTÓRIA
23 de novembro de 1935, na capital do
Rio Grande do Norte. O XXI Batalhão de
Caçadores se insurgiu contra o governo,
tomando o poder da capital sem gran-
de resistência. O novo governo chegou
a reduzir de imediato o preço do pão,

Módulo 13
suspendeu a cobrança de impostos e
mandou prender os coletores dos tribu-
tos. Nos dias seguintes houve festa em
Natal, com direito a um clima carnavales-
co. Com a ameaça de bombardeio sobre
Sede da polícia de Natal, Rio Grande do Norte, atacada pela Intentona Comunista em 1935.
a capital, os líderes rebeldes fugiram ou
foram presos, e o levante do Rio Grande do Norte teve fim quatro dias depois de seu início.
No Recife, no dia 24 de novembro, horas depois da notícia do início das ações em Natal, os militares
do XXIX Batalhão Militar se rebelaram, obtendo rápida adesão de setores populares armados. Os rebeldes
ocuparam a praça da Independência, no centro da capital pernambucana, cortaram as comunicações e
isolaram a cidade, com a suspensão do serviço de bondes. Mas já no dia seguinte, graças aos esforços fe-
derais, o movimento foi debelado, com a prisão de suas lideranças e um saldo de sessenta mortos e pouco
mais de duzentos feridos. No mesmo dia, o governo federal enviou ao Congresso Nacional o pedido de
autorização para declarar estado de sítio no país pelo período de um mês; de fato, essa situação perdurou
até junho de 1937.
No Rio de Janeiro, a situação se mostrou mais grave. Dias depois dos acontecimentos no Nordeste, a
Aliança Nacional Libertadora, orientada por Luís Carlos Prestes, decidiu que o levante carioca deveria ser

Era Vargas: do Governo Provisório ao Estado Novo (1930-1937)


desencadeado, mesmo considerando o aumento da repressão governamental. Na verdade, o plano original
dos rebeldes da ANL era que a revolução fosse orientada pelo levante do Rio de Janeiro. Os demais bata-
lhões brasileiros deveriam ter respondido às iniciativas que partiriam da capital federal, e não o contrário.
Getúlio, porém, mantinha agentes infiltrados nas fileiras do Comitê Revolucionário nordestino, precipitando
a iniciativa do golpe e facilitando, dessa maneira, sua contenção. Prestes havia decidido manter a data ajus-
tada para a insurgência dos batalhões do Rio de Janeiro: 27 de novembro. Assim, às 2 h 30 da madrugada,
o III Regimento de Infantaria, sediado na praia Vermelha, foi mobilizado para marchar em direção à sede do
governo federal, a poucos quilômetros de distância, no bairro do Catete.
As tropas fiéis ao governo, porém, agiram rapidamente, contendo as ações militares da praia Vermelha e
da Escola de Aviação do Campo dos Afonsos. O jornal A Manh‹, órgão do PCB, foi fechado no mesmo dia.
Não houve a greve geral imaginada pelos rebeldes nem a adesão popular que acreditavam que se seguiria
naturalmente ao levante dos quartéis. Na verdade, a reação da maioria da população carioca foi de surpresa,
espanto e medo diante dos acontecimentos daquela madrugada. Ainda no início da tarde do dia 27 de no-
vembro, os líderes militares se entregaram, e mais de mil pessoas foram presas.

193
ACERVO FOLHA/FOLHAPRESS
Manchete do jornal Folha da Manh‹, de 26 de novembro de 1935, sobre a tentativa de golpe ao governo de Getúlio Vargas,
a Intentona Comunista.

Além de fracassada, a Intentona Comunista teve perdas consideráveis: cinquenta de seus combatentes
foram mortos, todos recrutas; Luís Carlos Prestes foi preso, condenado a trinta anos de prisão – dos quais
cumpriu dez –, ficando em completo isolamento até 1943; Olga Benário, judia, grávida e esposa de Prestes,
foi enviada para a Alemanha nazista, onde deu à luz na prisão e faleceu, no ano seguinte, no campo de exter-
mínio de Bernburg. A filha, Anita Leocádia Benário Prestes, foi entregue aos cuidados da avó.
A repressão do governo aumentou exponencialmente nos anos seguintes, justificada pela lembrança dos
alvoroços militares e comunistas de novembro de 1935. O chefe da polícia do Distrito Federal, o ex-tenente
Filinto Müler, torturava pessoalmente os prisioneiros e facilitava a violência contra as mulheres dos movimen-
tos de esquerda nas delegacias, impondo condições desumanas e abjetas contra os opositores do regime.
Enquanto a esquerda era sufocada, Vargas controlava a opinião pública, usando para isso os recursos da
imprensa, do rádio e a proliferação de instrumentos de cooptação do operariado urbano, em particular por
meio da nova legislação trabalhista, em constante expansão.

O Golpe do Estado Novo (1937)


Restabelecida a ordem, bastava esperar as eleições. Graças ao que foi determinado durante a Assem-
bleia Constituinte, em 1933, Vargas se manteria no poder como um governo de transição, até as eleições
presidenciais marcadas para janeiro de 1938.
Havia bastante movimentação política de candidatos ao cargo de chefe da nação. Entre os mais eminen-
tes estavam o oposicionista Armando de Sales Oliveira, líder da Revolução Constitucionalista de São Paulo
em 1932; o escritor paraibano José Américo de Almeida, ministro de Viação e Obras Públicas do governo
Vargas; e também o nome mais destacado da AIB, seu fundador, Plínio Salgado, “o sapientíssimo arquiteto”,
como era chamado pelos integralistas.
Vargas não demonstrava sua intenção de permanecer no Palácio do Catete. Com bastante habilidade, vinha
se articulando com lideranças militares – particularmente o ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, e
o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, o general Góis Monteiro – e civis – com destaque para os inter-
ventores estaduais e políticos proeminentes de todo o país. Considerando que o artifício da ameaça comunista
poderia ser seu maior aliado, como catalisador do apoio necessário no caso de um golpe que o mantivesse no
poder, Vargas passou a preparar uma simulação. Olímpio Mourão Filho, um capitão do Exército membro da AIB,
mas simpatizante do governo Vargas, redigiu o que seria um plano comunista de revolução. O plano era uma
farsa, um fato produzido por agentes do governo que serviria como justificativa para um golpe.

194
Em agosto de 1935, o Plano Cohen, como ficou conhecido, foi am-

J. CARLOS/REVISTA CARETA/FBN, RIO DE JANEIRO, RJ.


plamente divulgado pelo rádio e depois publicado pela imprensa escri-
ta. O governo pôde usar os episódios da Intentona de 1935 e o medo
renovado pela farsa para aumentar ainda mais a repressão contra oposi-
cionistas, não apenas na capital federal, mas em todo o país.
O nível de tensão aumentou nas semanas seguintes à divulgação do
Plano Cohen. Até que no dia 10 de novembro de 1937, respaldado pelo
temor em relação ao que se chamava de “ameaça estrangeira”, Vargas
decretou estado de sítio, enviou tropas da cavalaria para a porta da Câ-
mara e do Senado, impedindo a abertura do Legislativo federal, e divul-
gou, por meio do Diário Oficial, a nova Constituição brasileira, chamada

HISTÓRIA
de “A Polaca”.
O Golpe do Estado Novo manteve Vargas no poder e iniciou um dos
mais polêmicos e sombrios períodos da história do Brasil.

M—dulo 13
Desenho de J. Carlos realizado para a revista Careta:
“Na porta do Catete: Getúlio — Para quê cerca
de arame farpado? Bastam as habituais cascas de
banana”. As cascas de banana fariam escorregar e
cair os candidatos ao Palácio do Catete.

SITUAÇÃO-PROBLEMA

Em 1997 a Companhia Vale do Rio Doce foi privatizada. Na sas atividades econômicas se apresentavam como alternativa
ocasião, o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso viável para as dificuldades da ocasião. Apesar dos inúmeros
(1994-2002) argumentava que o modelo estatizante de Getúlio revezes que podem ser apontados, em particular no que diz
Vargas já havia se esgotado, que o gigantismo do Estado criava respeito à ruptura democrática provocada pelo governo da
obstáculos para o crescimento econômico nacional e que, por época, a Era Vargas foi fundamental para a reestruturação da
essas razões, seria preciso rever as bases do legado varguista. economia brasileira.
Leia um trecho de um artigo escrito pelo ex-presidente

Era Vargas: do Governo Provisório ao Estado Novo (1930-1937)


Fernando Henrique Cardoso sobre esse assunto:

MARCELO PRATES/HOJE EM DIA/FOLHAPRESS


Na segunda metade dos anos 90, quando se tratou de atrair
o capital privado para os investimentos que o Estado já não
podia fazer na oferta de telecomunicações, energia, petróleo,
etc., flexibilizaram-se monopólios estatais e se criaram as agên-
cias reguladoras para assegurar a competição nesses setores,
evitando o surgimento de monopólios privados.
CARDOSO, Fernando Henrique. Ainda as privatizações. O Estado de S. Paulo, São Paulo,
4 mar. 2012. Disponível em: <http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,ainda-as-
privatizacoes-imp-,843803>. Acesso em: 3 out. 2016.

O modelo de Estado criado por Vargas no Brasil de fato


é datado. Correspondeu às necessidades urgentes dos anos
1930 e ao colapso geral do liberalismo. Como vimos, a inter-
venção estatal e a ampliação da presença do Estado em diver- Vista de mina da Vale, em Timbopeba, Minas Gerais.

195
Convém, agora, levantar algumas questões: essa isen- o exílio e a morte? A mudança do modelo de Estado valeu
ção caberia a qualquer governo, mesmo se tratando de a pena?
uma ditadura, que rompe com os princípios democráticos, Não haverá uma só resposta para esses questionamen-
apesar de suas ditas “boas intenções”? Seria válido reco- tos, nem será possível deixar de pensar nesses problemas.
nhecer o governo Vargas como fundamental para a rees- Converse com os colegas, os professores e os familiares;
truturação econômica do Brasil, considerando que muitas tente desenvolver seus argumentos com base no que você
vantagens reais foram alcançadas em favor de uma parcela aprendeu. Ouça com atenção as opiniões diferentes ou
significativa da população, mas sabendo que opiniões con- contrárias às suas. Assim é possível desenvolver um pensa-
trárias na época foram silenciadas com a prisão, a tortura, mento crítico e livre.

PARA CONCLUIR

Neste módulo, você estudou que:


• a Revolução de 1930 não foi propriamente uma revolução social ou política clássica, mas um
golpe que colocou Getúlio Vargas no poder;
• Getúlio Vargas operou grandes transformações no Brasil. Os principais temas do seu gover-
no foram o trabalhismo, o nacionalismo, a industrialização e o reaparelhamento do Estado;
• o Governo Provisório (1930-1934) deu início às transformações que Vargas operou no Brasil,
mas, ainda assim, constituía uma fase ditatorial para o país;
• os paulistas não aceitaram o rumo da política nacional e deram início ao processo que ficou
conhecido como Revolução Constitucionalista de São Paulo (1932);
• a Constituição de 1934 consagrou direitos trabalhistas e garantia de voto universal, incluin-
do o voto feminino;
• a radicalização política do Brasil refletia as condições internacionais daquele período, por
meio da Ação Integralista Brasileira (AIB), de extrema direita, e da Aliança Nacional Liberta-
dora (ANL), representando a esquerda nacional;
• a Intentona Comunista (1935) foi uma iniciativa fracassada de revolução liderada pela ANL;
• a utilização do Plano Cohen e o Golpe do Estado Novo (1937) foram possíveis em virtude
do medo da população em relação ao comunismo e do desejo de Getúlio Vargas de se
manter no poder.

Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das quest›es sinalizadas com asterisco.

PRATICANDO O APRENDIZADO

1. (UFU-MG – Adaptada) Liberal, a coligação partidária oposicionista que em 1929 lan-


Os anos que antecederam ao Estado Novo foram de eferves- çou a candidatura de Getúlio Vargas à Presidência da Repúbli-
cência e disputa política. Essa situação tinha a ver com a diver- ca. Enquanto alguns dos que aderiram à Aliança Liberal faziam
sidade das forças que se haviam aglutinado em torno da Aliança oposição sistemática ao regime, outros ali ingressaram apenas

196
por discordar do encaminhamento dado pelo então presidente b) Uma tentativa golpista por parte dos integralistas,
Washington Luís. insatisfeitos com a administração getulista que eles
PANDOLFI, Dulce Chaves. Os anos 1930: as incertezas do regime. apoiaram desde o início do governo em 1930.
In: FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucília Neves de Almeida (orgs.).
O Brasil Republicano. O tempo do nacional-estatismo: do início c) O estabelecimento de um “estado de exceção” por
da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003, p. 17. (Adaptado). parte de setores militares fortemente inspirados no
nazismo.
A instabilidade política no período de 1930 a 1937 esta- d) A antecipação das eleições presidenciais para 1937,
va associada, entre outros fatores, como forma de abreviar a permanência de Getúlio no
a) ao caráter liberal e pouco intervencionista do gover- poder.
no Vargas, o que provocou a insatisfação dos indus- e) A criação de um estado sindicalista, modelo que seria

HISTÓRIA
triais, desejosos de medidas estatais de estímulo à implantado na Argentina por Perón a partir de 1946.
economia.
b) ao crescimento das oposições a Vargas, vindas espe- 4. (PUCC-SP) Observe a caricatura.
cialmente das oligarquias derrotadas em 1930 e do
nascente movimento comunista.

NçSSARA/VEST.COPEVE-CEFETMG
c) ao avanço do movimento tenentista, que passou a

M—dulo 13
organizar ações armadas contra o governo Vargas,
como a Intentona de 1935.
d) à inexistência, durante este período, de uma Consti-
tuição, o que aumentou a insatisfação das forças de
oposição, como as oligarquias de Minas e São Paulo.
e) ao crescimento dos integralistas, contrários às políti-
cas estatizantes de Getúlio Vargas.
(Joel Rufino dos Santos. “História do Brasil”. São Paulo: Marco Editorial, 1979. p. 196.)

2. (UFMT) Entre os motivos alegados por Getúlio Vargas A caricatura revela um momento da chamada “era de
para decretar o Estado Novo, em novembro de 1937, Vargas”, quando Getúlio preparava-se para
pode-se citar a) assumir a presidência da República, após a sua elei-
a) a iminência do início da 2a Guerra Mundial e a neces- ção indireta pela Assembleia Constituinte.
sidade de proteger as nossas fronteiras. b) liderar um golpe militar, instaurando um período his-
b) as greves operárias, os saques e as depredações que tórico conhecido por Estado Novo.
tomaram conta do país no período. c) disputar as eleições diretas para a presidência da Re-
c) a descoberta de uma suposta insurreição comunista, pública, no contexto da redemocratização do país.

Era Vargas: do Governo Provisório ao Estado Novo (1930-1937)


o chamado Plano Cohen. d) executar os princípios do Plano Cohen, visando impedir
d) as denúncias de fraudes no processo de escolha do o avanço dos comunistas e dos integralistas ao poder.
seu sucessor, publicadas pela imprensa. e) comandar uma revolução constitucionalista, contra a
e) a insatisfação da elite paulista com o regime, que oligarquia do setor agroexportador.
ameaçava separar-se do restante do país.
5. (IFCE) O período Constitucional da Era Vargas, que se
3. (Ibmec-RJ) Em novembro de 1937, com o apoio de am- estende de 1934 a 1937, foi marcado por tempos difíceis
plos setores das Forças Armadas, Getúlio Vargas anun- e conturbados. Melhor identifica esse período:
ciou ao país a suspensão das eleições presidenciais, o a) teve lugar um movimento de rebeldia conhecido
fechamento do Congresso, a outorga da constituição como Revolução Constitucionalista, que exigia que se
conhecida como “Polaca”, tudo isso em função de um fizesse uma nova constituição para o país.
certo “Plano Cohen” que previa: b) foi instituída uma nova moeda para o país – o cruzado –
a) Atentados contra importantes figuras da República, como forma de estabilizar o país, que sofria os efeitos
para facilitar a tomada do poder pelos comunistas. da crise de 1929.

197
c) pela primeira vez na história do país, um governan- a) estimular a produção, especialmente nas indústrias
te era processado por crime político (impeachment), onde os direitos trabalhistas foram imediatamente
perdendo seu mandato. implantados.
d) tem lugar a luta entre duas forças: “nacionalistas” e b) fortalecer os sindicatos, estimulando o movimento
“entreguistas”, ocasião em que acontece a nacionali- grevista e a conquista de direitos por parte dos traba-
zação do petróleo – “o petróleo é nosso”. lhadores.
e) foram firmados dois movimentos antagônicos, que c) incentivar o corporativismo, característica do anar-
refletiam, aqui, o crescimento das ditaduras na Euro- cossindicalismo incorporado pelo governo Vargas em
pa: a Ação Integralista Brasileira (fascista) e a Aliança sua política trabalhista interventora.
Nacional Libertadora (comunista). d) controlar os trabalhadores, através da carteira de tra-
balho e da lei de sindicalização, que propiciaram o
6. (Vunesp-SP) esvaziamento dos sindicatos.
Em março de 1988, o modelo sindical levado por Lindol- e) desarticular as oposições, encaminhando a elabora-
fo Collor para o Ministério do Trabalho completou 57 anos ção de uma legislação social que favorecia operários,
de idade. Em todos estes anos foi olhado com suspeita pelos camponeses e o próprio empresariado.
empresários e com bastante desconfiança pelos grupos socia-
listas, comunistas e pela esquerda em geral. Atribuía-se sua 8. (Cefet-MG – Adaptada)
criação, na década de 30, à influência das doutrinas autoritá-

ACERVO PLêNIO SALGADO/ARQUIVO PòBLICO HISTîRICO RIO CLARO, SP.


rias e fascistas então na moda.
Letícia Bicalho Canêdo. A classe operária vai ao sindicato, 1988.

Entre as características do modelo citado no texto, so-


bressaíam
a) o direito de greve e a valorização da luta de classes.
b) a unicidade sindical por categoria e o corporativismo.
c) a liberdade de organização sindical e a conscientiza-
ção política dos trabalhadores.
d) o predomínio de lideranças de esquerda e a autono-
mia de atuação dos sindicatos.
e) o controle governamental e a sindicalização obrigató-
ria dos trabalhadores.

7. (Uepa) Leia o texto para responder à questão. Revista Anauê, publicação da Ação Integralista Brasileira.
Disponível em: <http://integralismoehistoria.blogspot.com.br>.
Acesso em: 15 set. 2015.
O Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, criado
em novembro de 1930 e batizado, no discurso de posse de A imagem apresentada contém símbolos de um mo-
seu primeiro titular, Lindolfo Collor, de Ministério da Revo- vimento político vigente no Brasil nos anos 1930, que
lução, apresentou, nos seus primeiros anos de existência, um propunha a
conjunto de anteprojetos relativos à duração da jornada de a) construção do país com base no sentimento naciona-
trabalho, regulamentação do trabalho feminino e de menores, lista e nos valores morais da época.
férias para comerciários e industriais, convenções coletivas de
b) criação do estado fundamentada no modelo populis-
trabalho, salário mínimo, juntas de conciliação e julgamento,
ta e na defesa da classe trabalhadora.
porcentagem de estrangeiros empregados nas empresas [...].
(LUCA, Tânia Regina de. Direitos Sociais no Brasil. In: PINSKY, Jaime & Carla. c) edificação da nação baseada em valores comunistas
História da Cidadania. São Paulo: Contexto, 2008, p. 478). cujo lema seria “Deus, pátria e família”.
A intervenção do governo Vargas no campo das rela- d) lapidação da pátria inspirada nos ideais anarquistas
ções de trabalho fica evidente no texto. Essa postura que defendiam um estado forte e liberal.
contribuiu para: e) estatização da economia e defesa dos direitos individuais.

198
DESENVOLVENDO HABILIDADES

1. ENEM c) orienta a busca do consenso entre trabalhadores e


C2 De março de 1931 a fevereiro de 1940, foram decretadas patrões.
H12
mais de 150 leis novas de proteção social e de regulamentação d) proíbe o registro de estrangeiros nas entidades pro-
do trabalho em todos os seus setores. fissionais do país.
Todas elas têm sido simplesmente uma dádiva do governo. e) desobriga o Estado quanto aos direitos e deveres da

HISTÓRIA
Desde aí, o trabalhador brasileiro encontra nos quadros gerais classe trabalhadora.
do regime o seu verdadeiro lugar.
DANTAS, M. A força nacionalizadora do Estado Novo. Rio de Janeiro: DIP, 3. (Fatec-SP) Considere o desenho 1914 de Raul Pedernei-
1942. Apud BERCITO, S. R. Nos Tempos de Getúlio: da revolução de 30
ao fim do Estado Novo. São Paulo: Atual, 1990. C3 ras, retratando o movimento sufragista de mulheres que
H11
reivindicavam o direito de votar.
A adoção de novas políticas públicas e as mudanças ju-

RAUL PEDERNEIRAS/FUNDA‚ÌO BIBLIOTECA NACIONAL, RIO DE JANEIRO.


rídico-institucionais ocorridas no Brasil, com a ascensão

M—dulo 13
de Getúlio Vargas ao poder, evidenciam o papel históri-
co de certas lideranças e a importância das lutas sociais
na conquista da cidadania. Desse processo resultou a
a) criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comér-
cio, que garantiu ao operariado autonomia para o
exercício de atividades sindicais.
b) legislação previdenciária, que proibiu migrantes de
ocuparem cargos de direção nos sindicatos.
c) criação da Justiça do Trabalho, para coibir ideologias
consideradas perturbadoras da “harmonia social”.
d) legislação trabalhista, que atendeu reivindicações
dos operários, garantido-lhes vários direitos e formas
de proteção.
Disponível em: <http://www2.uol.com.br/historiaviva/
e) decretação da Consolidação das Leis do Trabalho reportagens/conquistas>. Acessado em: 19/08/2008.
(CLT), que impediu o controle estatal sobre as ativida-
des políticas da classe operária. A luta pelo sufrágio feminino estava inserida dentro

Era Vargas: do Governo Provisório ao Estado Novo (1930-1937)


de um contexto mais amplo da luta das mulheres pela
2. ENEM emancipação social, política e econômica. Ao fazer uma
C3
retrospectiva histórica dessa luta, é possível afirmar que:
H13 Fugindo à luta de classes, a nossa organização sindical tem
sido um instrumento de harmonia e de cooperação entre o a) a mulher francesa conquistou o direito ao voto univer-
capital e o trabalho. Não se limitou a um sindicalismo pura- sal a partir da eclosão da Revolução Francesa de 1789.
mente “operário”, que conduziria certamente a luta contra o b) o voto feminino tornou-se obrigatório nos países eu-
“patrão”, como aconteceu com outros povos. ropeus para as mulheres operárias desde o início da
FALCÃO, W. Cartas sindicais. In: Boletim do Ministério do Trabalho, Revolução Industrial.
Indústria e Comércio. Rio de Janeiro, 10 (85), set. 1941 (adaptado).
c) o Brasil foi o último país latino-americano a conceder
Nesse documento oficial, à época do Estado Novo o direito de as mulheres votarem, conquista obtida no
(1937-1945), é apresentada uma concepção de organi- período da ditadura militar.
zação sindical que
d) a luta das mulheres brasileiras pelo direito ao voto
a) elimina os conflitos no ambiente das fábricas. obteve sucesso a partir da inclusão desse direito na
b) limita os direitos associativos do segmento patronal. Constituição de 1934.

199
e) o direito do voto universal feminino foi assegurado Os versos transcritos foram cantados pelos “aliancistas”,
nos Estados Unidos da América desde a proclamação nos primeiros anos da Era Vargas (1930-1945). Com base
da Independência. nos versos e nos conhecimentos sobre a Era Vargas, con-
sidere as afirmativas a seguir.
4. ENEM
I. Teve como um de seus aspectos marcantes a ten-
C3
H13 Os generais abaixo-assinados, de pleno acordo com o Ministro dência à democratização do Estado.
da Guerra, declaram-se dispostos a promover uma ação enérgica
II. A Aliança Nacional Libertadora (ANL) foi um movi-
junto ao governo no sentido de contrapor medidas decisivas aos
mento que congregou diversos atores sociais: par-
planos comunistas e seus pregadores e adeptos, independente-
tidos políticos, sindicatos, associações e entidades
mente da esfera social a que pertençam. Assim procedem no ex-
diversas, sendo suas principais forças políticas os
clusivo propósito de salvarem o Brasil e suas instituições políticas
tenentes e os comunistas.
e sociais da hecatombe que se mostra prestes a explodir.
Ata de reunião no Ministério da Guerra, 28/09/1937. BONAVIDES, P.; AMARAL, R. III. O suposto Plano Cohen, imputado aos comunistas
Textos pol’ticos da hist—ria do Brasil, v. 5. Brasília: Senado Federal, 2002 (adaptado). pelos oficiais do exército, auxiliou no recrudescimen-
Levando em conta o contexto político-institucional dos to da repressão anticomunista no país e foi uma das
anos 1930 no Brasil, pode-se considerar o texto como justificativas para a implantação do Estado Novo.
uma tentativa de justificar a ação militar que iria IV. Com a aquiescência dos comunistas, o governo
a) debelar a chamada Intentona Comunista, acabando Vargas preparou os instrumentos de apoio à ANL,
com a possibilidade da tomada do poder pelo PCB. primeira tentativa de organização da sociedade civil
b) reprimir a Aliança Nacional Libertadora, fechando to- no Brasil, aprovando a Lei de Segurança Nacional,
dos os seus núcleos e prendendo os seus líderes. visando ao combate dos crimes contra a ordem po-
c) desafiar a Ação Integralista Brasileira, afastando o pe- lítica e social.
rigo de uma guinada autoritária para o fascismo. Estão corretas apenas as afirmativas:
d) instituir a ditadura do Estado Novo, cancelando as elei- a) I e IV. d) I, II e III.
ções de 1938 e reescrevendo a Constituição do país.
b) II e III. e) I, II e IV.
e) combater a Revolução Constitucionalista, evitando
c) III e IV.
que os fazendeiros paulistas retomassem o poder
perdido em 1930.
6. ENEM A definição de eleitor foi tema de artigos nas
5. (UEL-PR) Leia o poema a seguir. C3
H12
Constituições brasileiras de 1891 e de 1934. Diz a Cons-
C1
tituição da República dos Estados Unidos do Brasil de
H11
Governo mais avacalhado 1891: “Art. 70. São eleitores os cidadãos maiores de 21
O Gegê sempre sorrindo anos que se alistarem na forma da lei”.
Por causa da nossa ‘Aliança’ A Constituição da República dos Estados Unidos do Bra-
Acabará caindo, acabará caindo. sil de 1934, por sua vez, estabelece que: “Art. 180. São
O Gegê tá de calças na mão eleitores os brasileiros de um e de outro sexo, maiores
de 18 anos, que se alistarem na forma da lei”.
Por causa da nossa revolução Ao se comparar os dois artigos, no que diz respeito ao
O povo todo já está cansado gênero dos eleitores, depreende-se que
De ser explorado a) a Constituição de 1934 avançou ao reduzir a idade mí-
Por este ladrão! nima para votar.
O Gegê entrou num botequim
b) a Constituição de 1891, ao se referir a cidadãos, refe-
Bebeu cachaça e saiu assim... ria-se também às mulheres.
Levando um tamanho chute c) os textos de ambas as Cartas permitiam que qualquer
Foi tomar vermute cidadão fosse eleitor.
Com amendoim. d) o texto da carta de 1891 já permitia o voto feminino.
VIANNA, Marly de Almeida Gomes. e) a Constituição de 1891 considerava eleitores apenas
“Revolucionários de 35: sonho e realidade”.
São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 561. indivíduos do sexo masculino.

200
APROFUNDANDO O CONHECIMENTO

1. (Unicamp-SP) c) A Constituição de 1934 adotou medidas democráti-


Em janeiro de 1932, o aniversário de São Paulo foi comemo- cas e criou as bases da legislação trabalhista. Além
rado com enorme comício na Praça da Sé. A multidão empu- disso, sancionou o voto secreto e o voto feminino.
nhava bandeiras do Estado, além de cartazes com palavras de d) Houve a extinção do Ministério do Trabalho e dos tri-
ordem como “Tudo pelo Brasil! Tudo por São Paulo!”, “Abaixo bunais do trabalho, medidas que visavam cortes nos

HISTÓRIA
a ditadura!”, ou ainda “Constituição é Ordem e Justiça!”. gastos públicos para estabilizar o país, que ainda so-
(Ilka Stern Cohen, “Quando perder é vencer”. Revista de História da Biblioteca Nacional, fria reflexos da Crise de 1929.
Rio de Janeiro, jul. 2012. http://www.revistadehistoria.com.br/secao/dossie-imigracao-
italiana/quando-perder-e-vencer. Acessado em 05/10/2012.) e) Ocorreu estímulo à indústria leve e criação de meca-
a) Aponte dois aspectos que contribuíram para a tensão nismos para proteger os interesses dos cafeicultores,
entre o governo Vargas e o Estado de São Paulo, em pois o governo deveria comprar os excedentes da
1932. produção de café para salvar o setor agrícola.

M—dulo 13
Washington Luís foi o último presidente da chamada “política
do café com leite”, o revezamento do poder entre as oligarquias 3. (PUC-RS) Para responder à questão, considere as possí-
paulistas e mineiras. Com a posse de Vargas, a oligarquia paulista veis características do Governo Provisório e Constitucional
foi derrubada do centro do poder. O presidente implementou um
(1930-1937).
governo intervencionista centralizador, nomeando interventores I. Centralização do poder e crescimento do setor in-
para os estados. dustrial.
II. Elaboração da Constituição de 1934 (na qual são in-
corporados o voto feminino e os direitos trabalhistas).
b) Explique por que a Constituinte era uma reivindica- III. Identificação com o socialismo e com a coletivização
ção dos paulistas. da produção agrícola.
Os paulistas pretendiam barrar o Governo Provisório, que atuava IV. Fortalecimento do federalismo, cabendo às polícias
sem respeitar a Constituição vigente, de forma ditatorial; garantir militares estaduais conter os extremismos dos gru-
maior independência dos estados perante o governo federal e pos de direita.
possibilitar uma abertura política capaz de trazer de volta ao poder Estão corretas apenas as afirmativas
as oligarquias paulistas. a) I e II.
b) I e III.

Era Vargas: do Governo Provisório ao Estado Novo (1930-1937)


2. (IFPE – Adaptada) A Era Vargas, ou Período Getulista, c) III e IV.
como também ficou conhecida, teve início com a Revo- d) I, II e IV.
lução de 1930, que deu fim à República dos Oligarcas, e) II, III e IV.
afastando do poder o então presidente Washington Luís
e uma série de governadores. 4. (EsPCEx-SP) Durante o governo Vargas (1930-1945), surgi-
ram no Brasil duas agremiações políticas, a Aliança Nacio-
Identifique, nos itens abaixo, as principais mudanças do
nal Libertadora (ANL) e a Ação Integralista Brasileira (AIB).
período.
a) Os direitos trabalhistas concedidos permitiam plena Leia as afirmações abaixo.
liberdade de organização da classe trabalhadora sem I. A ANL era de tendência fascista e a AIB tinha ten-
nenhum controle do governo sobre os sindicatos. dência socialista.
b) Entre os direitos trabalhistas estavam o Décimo Ter- II. Ambas defendiam a moratória (não pagamento da
ceiro Salário, licença-maternidade por 90 dias e o adi- dívida externa), a nacionalização das empresas es-
cional de um terço do salário no mês de férias. trangeiras e o combate aos latifúndios.

201
III. O líder da AIB era Plínio Salgado. 7. (Cefet-MG)
IV. Argumentando a existência de um “Plano Cohen”, o
A preocupação com uma organização científica do trabalho
governo Vargas ordenou a dissolução do Congresso
podia ser sentida desde o momento revolucionário, ainda em
Nacional.
1930. Ela se traduzira por duas grandes iniciativas: as cria-
V. Em novembro de 1935, a ANL fracassou na tentativa ções do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e do
de tomar o poder através de um golpe (Intentona Ministério da Educação e Saúde. As medidas administrativas
Comunista). e legislativas levadas a efeito por esses dois ministérios reve-
lavam a cooperação necessária para a superação de todos os
Assinale a alternativa que apresenta apenas afirmações
problemas dos trabalhadores brasileiros.
corretas.
PANDOLFI, Dulce. (org.). Repensando o Estado Novo.
a) I e III d) II e V Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1999, p. 59.

b) II e IV e) I e IV O processo histórico, apresentado no texto, enfatiza os


c) III e V a) aspectos repressivos do Estado Novo.
b) conflitos resultantes da reforma agrária.
5. (PUC-SP)
c) princípios ideológicos do governo Vargas.
O direito às férias é adquirido depois de doze meses de tra- d) problemas provenientes da crise cafeeira.
balho no mesmo estabelecimento ou empresa [...], e exclusi-
e) movimentos comunistas dos líderes militares.
vamente assegurado aos empregados que forem associados de
sindicatos de classe reconhecidos pelo Ministério do Traba-
8. (UFPR) Criada em 1932, a Carteira de Trabalho foi du-
lho, Indústria e Comércio.
rante décadas o principal documento para os brasilei-
Artigo 4o do Decreto 23.768, de 1934, citado por Kazumi Munakata.
A legislação trabalhista no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 82. ros. Até 1980, a carteira ainda trazia inscrita a seguinte
apresentação, assinada por Alexandre Marcondes Filho,
O artigo acima revela uma característica da relação en- Ministro do Governo Vargas:
tre o Estado e os trabalhadores industriais no período
A carteira de trabalho, pelos lançamentos que recebe, confi-
Vargas: o
gura a história de uma vida. Quem examina logo verá se o porta-
a) socialismo.
dor é um temperamento aquietado ou versátil; se ama a profis-
b) militarismo. são escolhida ou se ainda não encontrou a própria vocação; se
c) corporativismo. andou de fábrica em fábrica como uma abelha, ou permaneceu
d) sectarismo. no mesmo estabelecimento, subindo a escala profissional. Pode
ser um padrão de honra. Pode ser uma advertência.
e) anarquismo.
Associe o teor desse documento com o ideário político
6. (ESPM-SP) Na década de 30, durante o governo de Ge- da época em que foi produzido.
túlio Vargas, mais exatamente em 1937, a divulgação do O governo Vargas seguia o modelo populista, em que o Estado era
Plano Cohen: atuante na vida social, política e econômica do país. Uma importante
a) Desencadeou a revolução constitucionalista contra característica dessa intervenção foi a política trabalhista, por meio da
Getúlio Vargas. qual os trabalhadores urbanos tiveram direitos assegurados, mas com

b) Serviu de estopim para o desencadeamento do que um custo: foram submetidos a um intenso controle governamental.
ficou conhecido por Intentona comunista. Com a Carteira de Trabalho, conforme elucida o texto, o governo e os

c) Serviu de pretexto para o governo de Getúlio Vargas empregadores conhecem todo o perfil profissional da pessoa, o que

colocar imediatamente a Ação Integralista Brasileira pode soar como alerta ao empregador ou ameaça ao trabalhador.
na ilegalidade.
d) Forçou o rompimento diplomático entre o Brasil e os
governos dos países que formavam o Eixo.
e) Serviu de pretexto para o golpe de Estado que im-
plantou no Brasil uma “nova ordem”, o Estado Novo.

202
9. (Fatec-SP) A Revolução de 1930, ponto de partida de Caíram os quadros oligárquicos tradicionais; subiram os mili-
uma nova fase da História brasileira, atingiu principal- tares, os técnicos diplomados, os jovens políticos e, um pouco
mente São Paulo, que perdeu sua tradicional hegemo- mais tarde, os industriais.
nia política realizada pela “política do café com leite”. FAUSTO, B. Hist—ria concisa do Brasil. 2. ed.
São Paulo: Edusp, 2006, p. 182.
O sistema de interventorias, posto em prática pelo go-
verno provisório, em nada melhorou o relacionamento A partir da leitura do excerto acima, avalie as seguintes
deste com São Paulo. afirmativas.
Como consequência disso ocorreu I. A “Revolução de 1930” inaugurou uma nova fase
a) a Revolução Constitucionalista a favor da imediata da República brasileira, na qual o Estado, diferente-
constitucionalização do país, o que abriria possibili- mente do que ocorreu na “República Velha” (1889-
dades de retorno dos paulistas ao poder.

HISTÓRIA
-1930), buscou sua legitimidade em classes médias e
b) a Intentona Comunista, liderada pela extrema esquer- populares, e não nas antigas oligarquias ligadas ao
da cujo lema era “Deus, Pátria, Família”. núcleo cafeeiro.
c) a Intentona Integralista, que chegou a ocupar o palá- II. O excerto permite inferir que é preciso relativizar o
cio presidencial, controlando o poder por quatro dias. enquadramento do movimento de 1930 na ideia de
d) convocação imediata da Assembleia Constituinte que “revolução”. As transformações decorrentes da tro-

M—dulo 13
colocaria em prática a Constituição de 1935. ca de elite do poder só seriam percebidas ao longo
da “Era Vargas”.
e) o movimento tenentista, cujos revoltosos de Minas Ge-
rais exigiam a formação de um governo provisório, a III. A Aliança Liberal representava classes regionais não
eleição de uma Constituinte e a adoção do voto secreto. associadas ao núcleo político e econômico cafeeiro.
Composta de Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraí-
10. (Unisc) A “Revolução de 1930” foi um movimento que ba, a Aliança depôs o presidente Washington Luís e
reuniu grupos e lideranças de três diferentes estados colocou Getúlio Vargas no poder.
que compuseram a chamada Aliança Liberal. Segundo
Assinale a alternativa correta.
FAUSTO (2006),
a) Somente as afirmativas I e II estão corretas.
a classe média deu lastro a Aliança Liberal, mas era por de-
b) Somente a afirmativa I está correta.
mais heterogênea e dependente das forças agrárias [...]. Os vi-
c) Somente a afirmativa II está correta.
toriosos de 1930 compunham um quadro heterogêneo, tanto
do ponto de vista social quanto político. [...] A partir de 1930 d) Somente as afirmativas I e III estão corretas.
ocorreu uma troca de elite do poder sem grandes rupturas. e) Todas as afirmativas estão corretas.

ANOTA‚ÍES

Era Vargas: do Governo Provisório ao Estado Novo (1930-1937)

203
Era Vargas:

14
o Estado Novo
(1937-1945)
Módulo

OBJETOS DO CONHECIMENTO
• A Constituição de 1937
• A política econômica de Vargas
• A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial
• A crise do Estado Novo

HABILIDADES
• H3 - Associar as manifestações culturais do presente aos seus
processos históricos.
• H9 - Comparar o significado histórico-geográfico das organizações
territoriais em escala local, regional ou mundial.
• H15 - Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos
ou ambientais ao longo da História.
• H21 - Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
• Caracterizar a Constituição de 1937.
• Identificar os princípios da política econômica de Vargas.
• Compreender a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial.
• Relacionar a Segunda Guerra com a crise do Estado Novo.
• Analisar o papel do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) para o governo.

204
PARA COMEÇAR

Imagine muitas mudanças acontecendo ao mesmo tempo, rapidamente; e não só na vida de


uma pessoa, mas na vida de um país inteiro. Imagine viver uma época em que tudo parecia estar
sendo mudado na vida cotidiana: a maneira como as pessoas encaravam seus trabalhos, a relação
com o poder político do governo, a interação com as muitas formas de divertimento. Imagine que
o que até então era considerado vergonhoso passou a ser crescentemente motivo de orgulho,
coisa que muitas pessoas passaram a desejar, porque havia se tornado um novo valor, uma nova
ideia, uma nova forma de olhar para a própria vida.

HISTÓRIA
Dizendo assim parece que tudo melhorou de repente. Não mesmo. Porque com essas mudanças
vieram outras que não eram nem um pouco positivas. Em razão dessas mudanças, pessoas per-
deram a liberdade de expressar livremente seu pensamento: foram presas, torturadas ou mortas
por discordar; muitas pessoas foram expulsas do país por achar que as mudanças não eram boas,
ou porque não eram as mudanças desejadas.
A Era Vargas (1930-1945), e mais particularmente o Estado Novo (1937-1945), foi uma época de

M—dulo 14
grandes transformações no Brasil. Muitas delas verdadeiramente favoráveis a um grande número
de trabalhadores em todo o país. Mas houve um custo alto para isso. Teriam sido as circunstâncias
da ocasião? Era uma época em que atitudes como aquelas, de um regime de exceção, eram jus-
tificáveis? Aceitar uma ditadura para alcançar vantagens econômicas seria correto? O que pensar
sobre essa época? Que ensinamentos podemos retirar daqueles fatos?
O Estado Novo é uma fase das mais importantes e polêmicas da história do Brasil. Veremos, ago-
ra, como esse período pode nos fazer pensar ou nos ajudar a mudar de ideia ainda hoje.

BELMONTE/FOLHAPRESS

Era Vargas: o Estado Novo (1937-1945)

Charge de 1937 satirizando a mudança de governo: sai o chefe do governo provisório, Getúlio Vargas, e em seu lugar
entra o sr. Getúlio Vargas.

205
PARA APRENDER

A articulação do golpe
A suposta ameaça comunista, representada pelo Plano Cohen – um documento que teria sido apreendi-
do pelas Forças Armadas –, foi utilizada como justificativa para o golpe, que teve apoio dos setores militares
e consentimento das camadas médias populares, que temiam o suposto avanço comunista. Em 10 de novem-
bro de 1937, Getúlio Vargas aproveitou para fazer com que o Congresso decretasse mais uma vez o estado de
guerra e postergou as eleições previstas para janeiro do ano seguinte, prosseguindo com seus planos para
continuar no poder. Com isso, o país seria novamente governado pelo mesmo presidente, Getúlio Vargas,
mas as condições políticas haviam sido bastante alteradas.
Uma ditadura nem sempre se assume como tal. E foi assim naquele ano de 1937, quando Getúlio Var-
gas anunciou ao Brasil que cumpriria sua responsabilidade de “homem de Estado”. Mas o anúncio deixava
entrever o incômodo que a democracia causava e os caminhos que seriam percorridos pela nação nos anos
seguintes.
Em carta lida à nação pelo rádio, ainda em 10 de novembro, o presidente se dizia forçado a tomar me-
didas extremas “que afetam os pressupostos e convenções do regime, os próprios quadros institucionais,
os processos e métodos do governo”. Segundo ele, a tal estado de coisas chegava o país graças a eventos
“estranhos à ação governamental” que tornavam a “democracia de partidos” um problema, convertendo-se
em verdadeira “ameaça à unidade da pátria” e pondo em situação de “perigo a existência da Nação”. Leia,
na próxima página, um trecho do discurso proferido por Vargas.

ACERVO CPDOC/FGV

Getúlio Vargas lê a carta à nação, na qual anunciou a necessidade de fortalecer o poder do Estado e a continuidade de seu mandato. Era o
início do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937.

206
HISTÓRIA EM FOCO

À nação

O homem de Estado, quando as circunstâncias impõem uma decisão excepcional, de amplas reper-
cussões e profundos efeitos na vida do país, acima das deliberações ordinárias da atividade governamen-
tal, não pode fugir ao dever de tomá-la, assumindo, perante a sua consciência e a consciência dos seus
concidadãos, as responsabilidades inerentes à alta função que lhe foi delegada pela confiança nacional.
[...] As exigências do momento histórico e as solicitações do interesse coletivo reclamam, por vezes,
imperiosamente, a adoção de medidas que afetam os pressupostos e convenções do regime, os próprios
quadros institucionais, os processos e métodos de governo.

HISTÓRIA
Por certo, essa situação especialíssima só se caracteriza sob aspectos graves e decisivos nos períodos
de profunda perturbação política, econômica e social. A contingência de tal ordem chegamos, infelizmen-
te, como resultante de acontecimentos conhecidos, estranhos à ação governamental, que não os provocou
nem dispunha de meios adequados para evitá-los ou remover-lhes as funestas consequências. [...]
Quando as competições políticas ameaçam degenerar em guerra civil, é sinal de que o regime consti-
tucional perdeu o seu valor prático, subsistindo, apenas, como abstração. A tanto havia chegado o País. A

Módulo 14
complicada máquina de que dispunha para governar-se não funcionava. Não existiam órgãos apropriados
através dos quais pudesse exprimir os pronunciamentos da sua inteligência e os decretos da sua vontade.
Restauremos a Nação na sua autoridade e liberdade de ação: na sua autoridade, dando-lhe os ins-
trumentos de poder real e efetivo com que possa sobrepor-se às influências desagregadoras, internas ou
externas; na sua liberdade, abrindo o plenário do julgamento nacional sobre os meios e os fins do Governo
e deixando-a constituir livremente a sua história e o seu destino.
Trecho do discurso de Getúlio Vargas na noite de 10 de novembro de 1937, que instituiu o Estado Novo. Disponível em: <www2.camara.leg.br/
atividade-legislativa/plenario/discursos/escrevendohistoria/getulio-vargas/perfil-parlamentar-de-getulio-vargas>. Acesso em: 7 out. 2016.

A Constituição de 1937 tornava oficial a nova conjuntura política. Seu texto foi redigido pelo advogado
mineiro Francisco Luís da Silva Campos. Conhecido pelo apelido debochado de “Chico Ciência”, já tinha
sido secretário de Educação do Distrito Federal e consultor-geral da República durante o governo Vargas.
Na ocasião, Francisco Campos era ministro da Justiça e responsável pela implementação da nova ordem de
caráter ditatorial.
O novo texto constitucional era altamente centralizador e de forte caráter nacionalista, sendo possível
encontrar nele vestígios do totalitarismo europeu, seja do fascismo italiano, seja do nazismo alemão. Supri-
mia direitos individuais, ampliava o mandato presidencial para seis anos e entregava ao chefe do Executivo
amplos poderes para atuar nas esferas política, econômica e social.
A legislação trabalhista foi mantida, bem como o direito do controle do subsolo e dos recursos hídricos
pelo Estado. As greves foram proibidas, e os sindicatos e as associações de trabalhadores passaram a ser
instituições controladas oficialmente pelo governo.

GOTAS DE SABER Era Vargas: o Estado Novo (1937-1945)

A Polaca
A Constituição de 1937 foi apelidada pelos setores populares cariocas de “A Polaca”. O nome tem a du-
biedade de um trocadilho gaiato, porque tanto poderia ser associada à Constituição polonesa de 1935 – que
na época respaldou o governo ditatorial do general Pilsudski – quanto fazer referência às prostitutas do cais do
porto do Rio de Janeiro.

207
A Constituição também entregava ao governo a responsabilidade de coordenar a economia por meio da
criação do Conselho de Economia Nacional. Por meio desse órgão foi possível ampliar ainda mais a atuação
do Estado nos setores agrícola e industrial.
A centralização política a que Vargas deu início em 1930 atingiu seu auge durante o Estado Novo. Na
prática, o princípio federalista, que havia sido preservado na Constituição de 1934, teve fim com a nova fase
do governo. Para tanto, destaca-se a submissão dos governos dos estados e o fechamento das casas legis-
lativas estaduais, o que levaria a novos interventores nomeados por Vargas – como, aliás, já havia ocorrido
anteriormente – e a novas organizações administrativas, liquidando-se qualquer resquício de autonomia que
ainda tivesse sobrevivido à Revolução de 1930.
E para que não houvesse dúvidas sobre a maneira como o governo conduziria sua tendência centraliza-
dora, Vargas deu ordens para que fossem queimadas todas as bandeiras estaduais do país em uma cerimônia
pública de farto caráter simbólico, realizada em dezembro de 1937 no largo do Russel, bairro da Glória, em
plena capital federal. O evento contou com a presença de diversas autoridades do governo, com particular
destaque para o ministro da Justiça, Francisco Campos, que discursou na ocasião, conclamando o país a se
manter unido diante dos desafios que aquele momento impunha. Após a fala do ministro, reproduzida a se-
guir, foi realizada a execução do hino nacional brasileiro por diversas bandas de música do Distrito Federal,
sob a regência do maestro Heitor Villa-Lobos. Em seguida, as 21 bandeiras dos estados foram cremadas, o
que evidenciou a tendência do governo para a unidade e a defesa dos princípios nacionais.

Bandeira do Brasil, és hoje a única. Hasteada a esta hora em todo o território nacional, única e só, não
há lugar no coração dos brasileiros para outras flâmulas, outras bandeiras, outros símbolos. Os brasileiros
se reuniram em torno do Brasil e decretaram desta vez com determinação de não consentir que a discórdia
volte novamente a dividi-lo, que o Brasil é uma só pátria e que não há lugar para outro pensamento do
Brasil, nem espaço e devoção para outra bandeira que não seja esta, hoje hasteada por entre as bênçãos da
Igreja e a continência das espadas e a veneração do povo e os cantos da juventude. Tu és a única, porque
só há um Brasil – em torno de ti se refaz de novo a unidade do Brasil, a unidade de pensamento e de ação,
a unidade que se conquista pela vontade e pelo coração.
Discurso do ministro da Justiça Francisco Campos na cerimônia da festa da bandeira, em novembro de 1937.
Apud OLIVEN, G. R. A parte e o todo: a diversidade cultural do Brasil Nação. Petrópolis: Vozes, 1992.

ACERVO NOSSO SƒCULO/ABRIL CULTURAL

Cremação
das bandeiras
estaduais
brasileiras.
Rio de Janeiro,
4 de dezembro
de 1937.

208
O Levante Integralista (1938)
Com a declaração do golpe do Estado Novo, a Ação Integralista Brasileira (AIB) imaginou que seria a
base de sustentação política do regime, a exemplo do fascismo italiano e do nazismo alemão. O jornal
A Ação, órgão dos integralistas, comemorava o novo texto constitucional e saudava sua principal liderança,
Plínio Salgado, como o “Condestável da Nação”. Nas ruas, os “Homens do Sigma” desfilavam com seus uni-
formes verdes e os braços direitos levantados, fazendo a conhecida saudação fascistoide, gritando “Anauê!”.
Mas Vargas não tinha qualquer pretensão de oficializar uma relação com os integralistas. Muito pelo con-
trário: antes que 1937 chegasse ao fim, todos os partidos foram extintos e proibidos, incluindo a AIB. Além
de evitar interferências partidárias em seu governo – o que contrariaria a ideia de unidade nacional que estava
sendo construída –, Vargas não desejava que o Estado Novo fosse confundido com os regimes totalitários eu-

HISTÓRIA
ropeus, apesar das características em comum. Getúlio se mantinha cuidadosamente atento às possibilidades
de aproximação internacional com as democracias liberais, em particular com os Estados Unidos.
Com a proibição dos partidos e a AIB preterida do comando do país, até mesmo com a expulsão de
alguns de seus membros do Distrito Federal, os “camisas verdes” começaram a conspirar. Se por um lado o
líder integralista Plínio Salgado arquitetava um plano para derrubar o presidente, por outro buscava a apro-
ximação com Vargas para que seu grupo pudesse participar do governo.

Módulo 14
No dia 11 de maio de 1938, depois de uma sequência desastrosa de fatos, os integralistas tentaram tomar
de assalto o Palácio Guanabara, instalado no bairro carioca de Botafogo. Estavam lá Getúlio Vargas, sua filha
Alzira e alguns membros do governo. O plano era quase ingênuo: raptar o presidente e a cúpula política,
embarcá-los no cruzador Bahia, ancorado no porto do Rio de Janeiro, e empossar Plínio Salgado como novo
ditador brasileiro. O esquema contava com a participação de alguns poucos elementos da Marinha e do Exér-
cito, além de civis entusiasmados. Mas o golpe não obteve sucesso. Poucas horas depois do início do levante, a
adesão era nula, os rebeldes foram capturados pelas forças militares, alguns foram presos e outros, executados
sumariamente. A iniciativa se mostrou um completo fracasso.
Plínio Salgado, mentor da iniciativa frustrada da AIB, estava bem longe, em São Paulo, esperando em se-
gurança as notícias sobre o desenvolvimento das ações na capital federal. Capturado, não admitiu qualquer
participação no evento e, portanto, foi poupado. Apenas em maio de 1939 foi novamente detido e enviado
para o exílio em Portugal, onde viveu
com uma magra pensão oferecida
pelo governo que ele havia tentado

ARQUIVO FOLHA DA MANHÌ/FOLHAPRESS


derrubar.
O Levante Integralista – ou In-
tentona, como também é chamado
– se prestou, afinal, a um papel: reve-
lar a tendência do Estado Novo, sob
comando de Getúlio Vargas, de que
não haveria espaço para qualquer in-
terferência política ou ideológica es-
tranha aos interesses do Estado, isto
é, à vontade pessoal de Vargas. Era Vargas: o Estado Novo (1937-1945)

Edições de jornais da época


noticiaram o Levante Integralista.
Destacam-se o caráter heroico
atribuído ao presidente e as
manchetes sensacionalistas de
forte tendência governista. Na
imagem, manchete da Folha da
Manhã, de 12 de maio de 1938.

209
Vivendo no Estado Novo
O Estado Novo foi uma ditadura. E como em qualquer ditadura, foi uma época em que muitas pessoas
sofreram perseguições políticas, resultando em prisões, torturas, exílios e mortes, por discordarem do go-
verno. Não existem dados precisos sobre o número de vítimas dessa fase de nossa história, mas isso não
impede que verifiquemos a gravidade imposta pelos regimes de exceção. Porque bastariam a censura dos
veículos de imprensa, cidadãos silenciados, prisões arbitrárias ou exílios políticos para que nos colocássemos
em alerta em relação a um governo assim.
Alguns autores tratam o Estado Novo como um regime totalitário. Nesse caso, essa fase da história do
Brasil pode ser compreendida em um contexto mais amplo, seguindo uma tendência política, social e eco-
nômica que se afirmava naquela mesma ocasião no ambiente europeu. De fato, há diversas semelhanças do
Estado Novo brasileiro com o fascismo ou com o nazismo. Essa não é uma aproximação meramente circuns-
tancial; ela acaba por fazer dessa fase do governo Vargas um período que desafia os impasses da crise do
liberalismo da década de 1930 mundo afora. Seja como for, estamos falando de um regime de exceção, da
falência do modelo liberal e do esgotamento do recurso democrático no país. Assim, em linhas gerais, foram
características do Estado Novo:

• Política – centralização do Estado, ausência de partidos e de eleições, fechamento das casas


legislativas municipais, estaduais e do Congresso Nacional;
• Economia – confirmação da tendência intervencionista, com destaque para a indústria de base;
• Sociedade – ausência de liberdades civis, ou seja, não havia liberdade de imprensa, de opinião
ou de expressão, forte repressão e violência contra os opositores do regime, controle ideológi-
co dos trabalhadores urbanos em favor do governo.

Administração pública e Economia


Desde 1930, o governo federal direcionava suas ações em favor do intervencionismo estatal. Mas a partir
de 1937 essa tendência foi ampliada.
Um dos primeiros órgãos criados por Vargas foi o Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp).
Previsto pela Carta de 1937 e criado em julho de 1938, buscou eficiência e racionalidade no setor público.
Procurou implantar a lógica da formação profissional, da capacidade técnica e do mérito, deixando para trás
um passado de funcionalismo público marcado pela filiação partidária e pela indicação política.
Vargas também criou órgãos e conselhos político-administrativos que garantiram o comando direto da
economia. Entre eles, destacaram-se os seguintes:
• Conselho Técnico de Economia e Finanças (CTEF) – seu foco era o monitoramento, o controle e a inter-
venção nas contas públicas de estados e municípios, tirando dos governos regionais toda a autonomia
que um dia tiveram enquanto existia, efetivamente, o federalismo;
• Conselho Federal de Comércio Exterior (CFCE) – criado antes, em 1934. Seu objetivo era centralizar a po-
lítica econômica externa, expandindo-a e racionalizando-a. Era formado por membros dos mais diversos
setores da organização pública do Estado e, mais tarde, também por membros oriundos do setor privado.
Todos eram órgãos estatais que estudavam e promoviam discussões, assessoravam o Poder Executivo na
elaboração e na execução de suas decisões e ainda facilitavam o acesso do setor privado ao aparelho esta-
tal. Dessa maneira, a participação do governo federal era intensa nas tomadas de decisões sobre os rumos
da economia, seja nos níveis de produção, seja na gestão das finanças, dos gastos públicos e do comércio
internacional. A crise liberal, como já abordado anteriormente, abriu novas perspectivas de intervenção total
do Estado na economia.

210
Getúlio ampliou a atuação do Estado na produção agrícola, por meio de ór-

REPRODUÇÃO/ARQUIVO DA EDITORA
gãos como o Departamento Nacional do Café e o Instituto do Açúcar e do Álcool,
ambos criados em 1933, mas fortalecidos durante o Estado Novo, com o objetivo
de controlar todo o setor produtivo do café e da indústria sucroalcooleira. A inter-
venção estatal mudou alguns parâmetros produtivos, pois a produção de alguns
artigos, como algodão, mate, borracha e pinho, aumentou no Estado Novo, propi-
ciando melhores oportunidades comerciais nas exportações brasileiras.

Brasil: taxa de crescimento anual da produção agrícola e industrial –


1920-1939 (%)
1920-1929 1929-1933 1933-1939

HISTÓRIA
Produção agrícola 4,1 2,4 2,0
Produção industrial 2,8 1,3 11,3
Fonte: LEOPOLDI, Maria Antonieta P. Estratégias de ação empresarial em conjunturas de mudança política.
In: PANDOLFI, Dulce (Org.). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1999. p. 122.

Mas foi sem dúvida o setor industrial que mais sofreu mudanças nessa épo-

M—dulo 14
ca. Visando superar a longeva tradição agroexportadora do Brasil, Vargas criou o
Conselho Nacional do Petróleo (CNP), em 1938 – dando início às pesquisas acerca
Peça publicitária produzida pelo
dos recursos petrolíferos brasileiros –; a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Departamento Nacional do Café para
estimular o consumo da bebida.
em 1941 – produtora de aço –; e a Companhia Vale do Rio Doce, em 1942 – para
a produção de minérios, pedras preciosas e semipreciosas. Embaladas pelas necessidades estadunidenses
durante a Segunda Guerra Mundial, tanto a Vale quanto a CSN produziram, para exportação, carvão, ferro
e aço suficientes para alimentar a economia nacional e superar pela primeira vez a longa história de hege-
monia da exportação de artigos agrícolas no Brasil. Entre 1937 e 1945 o país produziu expressiva quantida-
de de cimento, ferro, carvão, aço, cassiterita, grafite, minério de cromo e sal.
Vargas criou também a Fábrica Nacional de Motores (FNM), em 1942, para a produção de uma frota de
veículos automotores nacionais; a Companhia Nacional de Álcalis, em 1943, empresa estatal responsável pela
produção do setor químico; e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), em outubro de 1945, capaz
de gerar energia elétrica suficiente para abastecer os estados da Bahia, de Sergipe, de Alagoas, de Pernambu-
co e da Paraíba.
Na década de 1940, os setores industriais superaram as exportações agrícolas, até mesmo as de café,
açúcar, algodão, borracha e cacau, produtos que marcaram a história da economia nacional até então. Por
essa razão é que se pode dizer que com Vargas ocorreu a consolidação da substituição das importações.
CÉSAR DINIZ/PULSAR IMAGENS

ACERVO ICONOGRAPHIA

Era Vargas: o Estado Novo (1937-1945)

Vista da antiga Companhia Nacional de Álcalis, já desativada, em Arraial Construção da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda,
do Cabo, Rio de Janeiro, 2012. Rio de Janeiro, 1941.

211
Trabalho
A legislação trabalhista e o amparo estatal em favor dos trabalhadores já se haviam iniciado nos primeiros
dias do governo Vargas, em 1930. Mas foi com o Estado Novo que essa tendência foi consolidada. A Cons-
tituição de 1937, em seu artigo 140, previa a formação de “entidades representativas das forças de trabalho
nacional, colocadas sob a assistência e a proteção do Estado”. De tal maneira que durante a ditadura estado-
-novista brasileira tornava-se obrigatória a criação de órgãos de representação dos trabalhadores – como os
sindicatos – atrelados ao Estado. Essa prática foi importada do fascismo italiano, sob a liderança de Benito
Mussolini, e com o respaldo legal da chamada Carta del Lavoro de 1927. Chamava-se corporativismo e pode
ser definida como uma forma de relacionamento entre o Estado e os trabalhadores, em que as concessões
legais e o controle dos sindicatos serviam como instrumento sociopolítico de dominação. Somados a isso, os
recursos de propaganda e a repressão contra oposicionistas criavam um controle eficiente dos trabalhadores.
Em 1943, o governo criou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Ela se apresentava como um
recurso valoroso para a defesa dos direitos dos trabalhadores, na medida em que reunia em um só tomo
toda a legislação criada por Vargas até então. Mas, além disso, a CLT obrigava os líderes sindicais a
apresentarem atestado de bons antecedentes e instituía a
cobrança obrigatória do imposto sindical. Durante o Esta-
do Novo, foram desbaratados definitivamente os antigos
ACERVO CPDOC/FGV

sindicatos combativos da Primeira República. Vargas aca-


bou por tornar as novas representações mais semelhantes
a clubes operários – ou órgãos assistencialistas – do que
propriamente a sindicatos denotativos das vocações de
trabalhadores independentes.
Apesar do modelo intervencionista e controlador, a vida
dos trabalhadores brasileiros, principalmente a do operaria-
do urbano, mostrou significativa melhora. Desde as conquis-
tas que se tornaram possíveis com a Constituição de 1934,
e repetidas pela Carta de 1937, os trabalhadores passaram
a gozar de direitos que nunca tiveram a oportunidade de
experimentar. Além de toda a extensa legislação trabalhis-
Trabalhadores homenageiam Getúlio Vargas na Esplanada do Castelo, Rio ta e das instituições governamentais – como o Ministério
de Janeiro, 1940.
do Trabalho e a Justiça do Trabalho, a Carteira de Trabalho,
de 1932, e o salário mínimo, de 1940 –, o governo ainda se
ACERVO ICONOGRAPHIA

esmerava em criar recursos ideológicos que valorizavam o


trabalho e os trabalhadores, de modo a incorporar todos em
um só discurso hegemônico de identidade nacional.
Todo um modelo de propaganda, envolvendo comí-
cios, desfiles e atos cívicos, ligava a pessoa do presidente
da República às regulamentações e aos direitos trabalhis-
tas consolidados na CLT. O 1o de Maio, Dia do Trabalho,
antes uma data de reivindicação, luta e enfrentamento, foi
habilmente apropriada pela máquina de propaganda esta-
tal. Nesses comícios, Vargas se transformou no defensor e
pai dos trabalhadores do Brasil; aquele que, em detrimento
de todas as lutas feitas pelos trabalhadores por melhores
condições de trabalho desde o começo do século XX, assu-
miu para si o protagonismo histórico desses feitos. A seguir
veremos como a propaganda estatal construiu a identidade
Trabalhadores em comemoração ao Dia do Trabalho no estádio do
Pacaembu, São Paulo, 1944. de Getúlio Vargas e do Estado Novo.

212
Propaganda e controle político-ideológico
Os Estados totalitários utilizaram intensamente a propaganda para divulgar seus interesses e criar uma
imagem popular. Valeram-se dos recursos tecnológicos mais avançados das décadas de 1930 e 1940 –
como o rádio, o cinema e até a televisão –, além da imprensa, de jornais, revistas, livros, panfletos, cartilhas
e pôsteres promocionais. Festas populares, esportes e cultura de massa, nada ficava alheio à máquina de
divulgação dos governos ditatoriais daquela época. E não foi diferente no caso brasileiro.
Para organizar a promoção do governo e a censura oficial no Brasil, foi criado em 1939 o Departamento
de Imprensa e Propaganda. Sob a direção do jornalista Lourival Fontes, o DIP – como ficou mais conhecido
– era responsável por toda a produção da imagem do regime e pelo cuidado com a sua condução ideológica.

HISTÓRIA
Leia a seguir um trecho do decreto que criou e estabeleceu as tarefas do DIP.

Art. 1º Fica criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (D. I. P.), diretamente subordinado ao
Presidente da República.

Módulo 14
Art. 2º O D. I. P. tem por fim:
a) centralizar, coordenar, orientar e superintender a propaganda nacional, interna ou externa, e servir,
permanentemente, como elemento auxiliar de informação dos ministérios e entidades públicas e privadas,
na parte que interessa à propaganda nacional;
[…]
c) fazer a censura do Teatro, do Cinema, de funções recreativas e esportivas de qualquer natureza, de
radiodifusão, da literatura social e política, e da imprensa, quando a esta forem cominadas as penalidades
previstas por lei;
[…]
n) proibir a entrada no Brasil de publicações estrangeiras nocivas aos interesses brasileiros, e inter-
ditar, dentro do território nacional, a edição de quaisquer publicações que ofendam ou prejudiquem o
crédito do país e suas instituições ou a moral;
o) promover, organizar, patrocinar ou auxiliar manifestações cívicas e festas populares com intuito
patriótico, educativo ou de propaganda turística, concertos, conferências, exposições demonstrativas das
atividades do Governo, bem como mostras de arte de individualidades nacionais e estrangeiras;
p) organizar e dirigir o programa de radiodifusão oficial do Governo; […]
Decreto-Lei no 1.915, de 27 de dezembro de 1939. Disponível em: <www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1930-1939/
decreto-lei-1915-27-dezembro-1939-411881-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 20 dez. 2016.

Mas foi por meio do rádio que o Departamento de Imprensa e Propaganda se mostrou de grande

Era Vargas: o Estado Novo (1937-1945)


eficiência. Com a capacidade de penetração e extensão do sistema radiodifusor, o DIP pôde levar a voz
do próprio presidente aos lugares mais distantes do país. É fato que a Hora do Brasil já era transmitida em
cadeia nacional e em caráter obrigatório desde 1934. Mas com o DIP a disciplina do programa aumentou
a eficiência da propaganda.
Por fim, o DIP promovia a imagem de Vargas, alimentando seu estigma de político pacificador, represen-
tante da unidade nacional e “pai dos pobres”. Getúlio era fotografado distribuindo esmolas, aparecia em
cartilhas escolares, muito coloridas, associando-o à educação das crianças, ao universo do trabalho e ao Bra-
sil. Ainda era motivo de títulos de livros que exaltavam sua liderança, como Sorriso do presidente Vargas, Ge-
túlio Vargas: estadista e sociólogo, Vargas e os verbos agir e trabalhar e História de um menino de São Borja.

213
D.I.P./ARQUIVO DA EDITORA

ACERVO CPDOC/FGV

Capa de cartilha concebida pelo DIP, Vargas em visita a um orfanato em Petrópolis, Rio de Janeiro, em 1941.
em 1940.

De outro modo, a censura também fazia seu serviço. No início dos anos 1940, por exemplo, eram quase
16 mil programas de rádio, em todo o Brasil. Entre eles, novelas, noticiários, programas de humor, transmis-
sões esportivas e musicais. Compositores populares, como Noel Rosa e Wilson Batista, eram frequentemente
convidados a fazer alterações nas letras de seus sambas. Um dos casos mais famosos foi o da canção “Bonde
São Januário”, de Ataulfo Alves e Wilson Batista, que, depois de pressões do DIP, deixou de ser um elogio à
malandragem, tornando-se praticamente um hino estado-novista em favor do trabalho. A letra originalmente
falava que o “Bonde São Januário / Leva mais um otário” para trabalhar. Depois do ajuste, “Quem trabalha /
É quem tem razão”, e o bonde “Leva mais um operário / Sou eu que vou trabalhar”. Leia a seguir a versão
final de “Bonde São Januário”.

Bonde São Januário

Quem trabalha Antigamente


É quem tem razão Eu não tinha juízo
Eu digo Mas resolvi garantir
E não tenho medo meu futuro
De errar
Vejam vocês
O Bonde São Januário Sou feliz
Leva mais um operário vivo muito bem 
Sou eu A boemia
Que vou trabalhar Não dá camisa
A ninguém
É, vivo bem
Ataulfo Alves e Wilson Batista

Em última instância, se todos os recursos da propaganda e da censura falhassem, o governo ainda poderia
lançar mão de seu aparelho repressor. Em 1924 – portanto, antes da Revolução de 1930 e da Era Vargas –, foi
criado no Rio de Janeiro o Departamento de Ordem Pœblica e Social (Dops), com o objetivo de conter os

214
movimentos sociopolíticos da época, em particular as ações operárias e as agitações dos militares. Durante o Es-
tado Novo, o Dops foi reaparelhado, agregando outras funções, como as de espionagem e de investigação dos
agentes oposicionistas, de fiscalização e de monitoramento de associações de moradores, sindicatos e clubes ope-
rários, além de produzir inquéritos e relatórios sobre as ações de indivíduos suspeitos de tramar contra o regime.
O Dops também se tornou conhecido pelas prisões arbitrárias e pelas sessões de tortura que realizava em
seus porões. Não se tem o número sequer aproximado de quantas pessoas foram presas, torturadas ou mortas
durante o Estado Novo. Muitos arquivos do Dops foram queimados às vésperas do fim da ditadura, em 1945,
dificultando o conhecimento do alcance mais exato do modelo de repressão criado sob a tutela de Vargas.
O departamento sobreviveu ao fim da Era Vargas e foi extinto somente no apagar das luzes da ditadura
civil-militar (1964-1985), em 1983, quando novamente foram incinerados muitos de seus arquivos. O acervo
documental que resistiu às tentativas de esconder os horrores dos regimes de exceção no Brasil é formado

HISTÓRIA
por milhares de páginas de inquéritos, prontuários e dossiês e ainda é motivo de pesquisa. Boa parte desses
documentos, porém, é relativa ao período posterior a Vargas, entre 1964 e 1983.

Cultura e educação
Era intenção do governo federal interferir em qualquer instância da vida dos brasileiros. E isso não só nos

Módulo 14
assuntos tomados com maior gravidade, como a nova orientação da política econômica, a doutrinação ideo-
lógica ou o combate aos opositores. Também interessavam ao governo as diversões e a cultura de massa.
Já havíamos falado do papel do rádio como instrumento de grande alcance, usado por Vargas para
chegar a lugares que nenhum outro governante brasileiro antes dele pôde ambicionar. Esse artifício per-
mitido pelo rádio respaldava as intenções do governo de muitas maneiras. Primeiro, na medida em que
criava a ilusão de proximidade de Vargas com o povo brasileiro, que então podia ouvir sua voz dentro de
casa, comunicando a todos os progressos que realizava e prestando contas minuciosamente de suas ações
como governante. Segundo, porque gerava a impressão de que qualquer outra representatividade política
era dispensável. Por último, porque por meio do rádio parecia ser possível experimentar a ideia de unidade
nacional, tão cara ao Estado Novo.
Muito desse sucesso no rádio deveu-se à estatização da Rádio Nacional, em 1940, uma emissora líder
de audiência desde a década de 1930. Com um quadro de funcionários qualificados e uma das pioneiras no
uso de pesquisas de audiência para atrair anunciantes, os dirigentes da emissora aumentaram o alcance e a
penetração da rádio entre as camadas populares.
ARQUIVO JACY PACHECO/REPRODUÇÃO

REPRODUÇÃO/AGÊNCIA NACIONAL

REPRODUÇÃO/ARQUIVO DA EDITORA

REPRODUÇÃO/ARQUIVO DA EDITORA

ARQUIVO NIREZ/REPRODUÇÃO

Era Vargas: o Estado Novo (1937-1945)


REPRODUÇÃO/ARQUIVO NIREZ

ACERVO RÁDIO NACIONAL, RIO DE JANEIRO, RJ

FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL,


RIO DE JANEIRO, RJ

ACERVO BETTMANN/ARQUIVO DA EDITORA

De cima para baixo, da


esquerda para a direita:
Noel Rosa, Wilson Batista,
Ataulfo Alves, Silvio Caldas,
Dalva de Oliveira, Francisco
Alves, Dorival Caymmi, Ary
Barroso e Carmen Miranda.

215
Além dos usos oficiais, das radionovelas, campeãs de audiência, e do radiojornalismo, como o renomado
Repórter Esso, foi por meio do rádio que o Brasil inteiro pôde ouvir as músicas de Noel Rosa e Wilson Batista,
as vozes de Orlando Silva – “o cantor das multidões” –, Francisco Alves – “o rei da voz” –, Dalva de Oliveira,
Silvio Caldas, Aracy de Almeida, Ataulfo Alves, Dorival Caymmi e tantos outros. Foi durante o Estado Novo
que o samba passou a ter status de música nacional brasileira, e artistas como Ary Barroso e Carmen Miranda
ganharam fama internacional, divulgando a imagem de um país alegre, colorido e de uma “beleza sem par”.
Leia o boxe Getúlio “inventou” o Carnaval brasileiro, na próxima página, que trata das estratégias utilizadas
por Vargas, a fim de criar uma identidade nacional.
O futebol, de prática elitista, se transformou em “esporte das multidões”. O próprio Vargas escolhia o
estádio do Vasco da Gama, o maior do Rio de Janeiro naquela época, e o Pacaembu, em São Paulo, para que
fossem palco das celebrações anuais do 1o de Maio. E não somente

ARQUIVO CORREIO BRAZILIENSE/D.A PRESS


por razões de infraestrutura, mas pelo apelo popular que o esporte
já havia alcançado. Os times brasileiros já estavam organizados em
diversos pontos do país desde a fundação da Confederação Brasileira
de Desportos (CBD), em 1914. Mas o esporte ainda se mostrava muito
amador e elitista. Em 1937, foi criada a Confederação Brasileira de
Futebol (CBF) já no sentido de um programa disciplinador, profissional
e, claro, voltado para as massas em escala nacional.
A seleção brasileira de futebol participou das Copas do Mundo
de 1930, no Uruguai, e de 1934, na Itália; em ambas as vezes foi
eliminada ainda nas fases preliminares. Mas, apesar de não terem
trazido para casa o troféu, os brasileiros encantaram os europeus em
1934, particularmente Leônidas da Silva, apelidado com paixão pela
imprensa carioca de “Diamante Negro”. Leônidas foi, muito prova-
velmente, o primeiro grande herói do futebol brasileiro e chegou a
ser garoto-propaganda de um chocolate que ganhou seu apelido e Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”,
inventor do gol de bicicleta, na Copa do
é vendido até hoje. Mundo de Futebol de 1938.
O mercado editorial brasileiro estava superaquecido, especialmente com as publicações regulares de
revistas de variedades, como A Cigarra, Revista da Semana e O Cruzeiro; com os suplementos que acompa-
nhavam os jornais, como a revista Carioca – sobre os bastidores do rádio, do jornal A Noite – e o Vamos Ler
– semanário que publicava artigos sobre temas diversos e traduzia contos publicados no mercado estaduni-
dense, do jornal A Manhã e da revista oficial do regime, Cultura e Política.
Os suplementos infantoju-
venis ganharam tanto destaque

RJ
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, RIO DE JANEIRO, RJ

IRO,
que passaram a ser levados ao

NACIONAL, RIO DE JANE


público em edições autôno-
mas. Foi assim que várias revis-
tas em quadrinhos foram publi-
cadas no Brasil, como a Mirim,
O Guri e Gibi, reproduzindo
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA

aqui as aventuras de heróis es-


trangeiros, como Flash Gordon,
Tarzan, Mandrake, Fantasma,
O Príncipe Valente, O Gato Félix,
Super-Homem e Batman. Além
dos personagens que vinham
de fora, revistas como O Tico-
-Tico contavam também as tra-
palhadas bem brasileiras de Re- Capa e página da primeira edição do
almanaque O Tico-Tico, de 1937. Tirinhas
co-Reco, Bolão e Azeitona. de Reco-Reco, Bolão e Azeitona.

216
HISTÓRIA EM FOCO

Getúlio “inventou” o Carnaval brasileiro

Disseminação dos desfiles de escolas de samba do Rio para todo o país


foi estratégia para criar identidade nacional

[...] A folia faz parte de um processo que culminou com a propaganda nacionalista do ex-presidente
Getúlio Vargas, que governou o país de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954. É o que explica a historiadora e
mestre em História da Música Maria Clara Wasserman. “O samba vinha sem uma identidade própria,
com muitos ritmos ainda misturados. Com a difusão das rádios, vai se legitimando o que a gente conhece

HISTÓRIA
hoje como Samba de Estácio”, explica Maria Clara. “Quando Getúlio chega ao poder, ele percebe o samba
como movimento popular e, em 1932, regulamenta os desfiles de escolas de samba.”
A historiadora afirma que foi a partir daí que o Carnaval dos pobres, das escolas de samba dos morros,
se misturou à folia dos ricos, marcada pelo desfile de corsos, com automóveis enfeitados que vieram a
dar origem aos atuais carros alegóricos. E a propaganda getulista tratou de difundir aquela festa pelo país
como símbolo de brasilidade.

M—dulo 14
[...] A criação do Departa-

KEYSTONE-FRANCE\GAMMA-RAPHO/GETTY IMAGES
mento de Imprensa e Propa-
ganda (DIP) foi responsável
por difundir o samba da en-
tão capital federal para todo o
país, por meio das rádios na-
cionais. “Aos poucos, o samba
foi caindo no gosto do brasi-
leiro”, afirma a historiadora.
Ela diz ainda que outras ações
para popularizar a arte no Bra-
sil incluíam o ensino de mú-
sica nas escolas comandadas
pelo músico Heitor Villa-Lobos
e a criação do Dia da Música
Popular Brasileira, evento or-
ganizado em 1939.
[O cientista político Adria-
no] Codato conta que essas
estratégias iam além do con-
trole das massas pela arte ou Réplica do dirigível Graf Zeppelin feito sobre um automóvel ornamentado, em
do controle das manifestações desfile de Carnaval no Rio de Janeiro, em 1932.
artísticas em si. O objetivo era conquistar apoio popular, que fosse na direção contrária à das oligarquias que
haviam governado o país até então. “O predomínio paulista [na política nacional] era um obstáculo. O Brasil Era Vargas: o Estado Novo (1937-1945)
era um país hegemonizado por um estado que era quase monocultor de café. Para mudar o padrão econô-
mico, de um país agroexportador para um país industrial, foi preciso quebrar a hegemonia paulista. Além de
repressão e coerção, isso exigiu ações culturais desse tipo”, afirma o cientista político.
A construção desse novo padrão econômico, portanto, criou uma das mais marcantes identidades
nacionais, que persiste como a que mais é lembrada em outros países. […]
AL’HANATI, Yuri. Sob inspiração nazista, Getúlio “inventou” o Carnaval brasileiro. Gazeta do Povo, 9 fev. 2013. Disponível em: <www.gazetadopovo.com.br/
vida-publica/sob-inspiracao-nazista-getulio-inventou-o-carnaval-brasileiro-a64fpn1ovrutmeepdb7jo18bk>. Acesso em: 10 out. 2017.

217
O Brasil vai à guerra
A situação da Europa era de alerta no começo da década de 1930. Desde que o novo chanceler da Ale-
manha, Adolf Hitler, foi empossado em 1933, a tensão internacional progredia rapidamente. Em pouco tem-
po os discursos radicais de Hitler sobre supremacia racial, nacionalismo e antissemitismo ficaram conhecidos
em toda parte. Além disso, era real o perigo de invasões alemãs em nome da conquista do denominado
“espaço vital”. Então, em poucos anos a Alemanha se fortaleceu militarmente e avançou sobre os territórios
da Áustria, da Tchecoslováquia e da Polônia. Era o início da Segunda Guerra Mundial.
Os primeiros anos do conflito foram favoráveis ao Eixo – Alemanha, Itália e Japão. Rapidamente as ban-
deiras totalitárias avançaram pela Europa e pelo Pacífico. O Império Japonês conquistava territórios conti-
nentais da China, da Índia e da Oceania, sem contar os avanços sobre as ilhas do Pacífico. O modelo liberal
dava sinais de que se encerraria com a vitória dos Estados totalitários.
Enquanto isso, Vargas tentava evitar uma tomada de posição mais firme diante do cenário internacional.
Afinal, o Brasil mantinha boas relações diplomáticas e comerciais com Alemanha, Itália e Japão, da mesma
maneira que o fazia com Inglaterra, França e Estados Unidos. Em 1938, por exemplo, 25% das importações
brasileiras eram de origem germânica, contra 24,2% de produtos estadunidenses. Embaixadores nazistas
frequentavam o Palácio do Catete, tentando uma aproximação formal com a República brasileira, usando
para tanto o argumento da afinidade ideológica existente entre os dois regimes. Os estadunidenses faziam o
mesmo, jogando duro com a presença insistente de sua cultura de massa, seja por meio do cinema, seja por
meio da música ou de personagens dos desenhos animados.
O interesse pelo Brasil parecia ser evidente: o enorme potencial de produção da indústria de base – car-
vão, ferro e aço – que poderia fazer pesar a balança em um cenário de conflito. Em particular, os alemães não
esqueceram o fracasso de 1918; sabiam que o apoio do Brasil poderia significar o fornecimento das matérias-
-primas necessárias para sustentar o esforço da guerra.

GOTAS DE SABER

Zé Carioca e a Segunda Guerra Mundial


Entre tantos esforços de aproxi-

© 1942 WALT DISNEY RKO RADIO PICTURES INC.


mação, os Estúdios Disney criaram um
personagem que seria o exemplo da
simpatia dos estadunidenses pelo Bra-
sil durante a denominada “Política de
boa vizinhança”: Zé Carioca.
Concebido pelo próprio Walt
Disney enquanto estava hospedado
no Copacabana Palace, no Rio de
Janeiro, Zé Carioca era o espírito ale-
gre e colorido dos brasileiros. Pelo
menos na visão dos estadunidenses.
Anos depois, em 1942, estreava o
filme Saludos Amigos (Alô, amigos
– título em português), em que Pato
Donald, Zé Carioca e Ponchito visita-
vam as praias do Brasil e do México
em um tapete voador. Pôster do filme Saludos Amigos, de 1942.

218
Como contrapartida, o presidente es-

REPRODU‚ÌO/EMPRESA BRASILEIRA DE NOTêCIAS


tadunidense, Franklin Delano Roosevelt,
lançou a chamada “Política de boa vizinhan-
ça”, com o interesse de criar vínculos mais
fortes com os países da América Latina, em
particular com o Brasil e o México, ambos
com grande potencial produtivo nos setores
de base. Várias reuniões de cúpula foram
realizadas nesse sentido, em Buenos Aires
(1936), Lima (1938), Panamá (1939) e Havana

HISTÓRIA
(1940), objetivando a formação de um bloco
interamericano coeso de solidariedade em
torno dos Estados Unidos, contra o inimigo
externo. Diferentemente do “Big Stick” do
início do século XX, representado pelo forte
intervencionismo no continente americano,

M—dulo 14
essa nova política estadunidense foi basea-
da na diplomacia, em acordos comerciais e
na influência cultural.
Já com o avanço dos conflitos, na Eu-
Osvaldo Aranha discursa na III Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores,
ropa e no Pacífico, e com a entrada dos Es- em 1942, no Rio de Janeiro.
tados Unidos na guerra – depois do bom-
bardeio a Pearl Harbor pelos japoneses, em dezembro de 1941 –, o Rio de Janeiro sediou a III Reunião
de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores em janeiro de 1942. Nessa ocasião, o ministro das
Relações Exteriores do governo Vargas, Osvaldo Aranha, liderou a decisão de apoiar os Estados Unidos.
A Conferência foi encerrada com quase todos os países participantes declarando sua aliança com os
estadunidenses. Somente Argentina e Chile não o fizeram por discordar do rompimento imediato das
relações com a Alemanha.
Os alemães reagiram imediatamente, abrindo fogo contra embarcações brasileiras. Em fevereiro de
1942, foram afundados três navios da marinha mercante, o Buarque, o Olinda e o Cabedelo, que desapa-
receram completamente no oceano Atlântico. Os submarinos alemães continuaram a torpedear embar-
cações brasileiras nos meses seguintes. Até que, em agosto daquele ano, seis navios foram afundados
no litoral da Bahia, causando centenas de mortes e comoção nacional. Foi o suficiente para que o Brasil
rompesse relações com a Alemanha e decretasse, em 22 de agosto, estado de beligerância e, no dia 31 do
mesmo mês, estado de guerra contra o Eixo.

GOTAS DE SABER

A negociação do apoio brasileiro na Segunda Guerra Mundial Era Vargas: o Estado Novo (1937-1945)

Na III Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores, os estadunidenses fizeram uma proposta
tentadora para que o Brasil estivesse ao seu lado durante a guerra: financiariam a construção da Companhia
Siderúrgica Nacional e da Companhia Vale do Rio Doce, destinadas respectivamente à produção de aço e
minérios. Além disso, modernizariam as Forças Armadas nacionais e criariam bases militares em Natal, Recife e
Belém. O ministro Osvaldo Aranha, desse modo, defendeu a formação da aliança com os Estados Unidos e a
ruptura com a Alemanha.

219
REPRODUÇÃO/ARQUIVO DA EDITORA

REPRODUÇÃO/ARQUIVO DA EDITORA
Em 1943, contradizendo a opinião dos mais
céticos, que não acreditavam que o Brasil se en-
volveria no conflito armado, foi criada a Força Ex-
pedicionária Brasileira (FEB), e no ano seguinte
foram embarcados 5 400 homens para a Euro-
pa, sob o comando do general Mascarenhas de
Moraes. Mais de 25 mil soldados foram enviados
para a guerra contra o Eixo, além de quatrocentos
aviadores da Força Aérea Brasileira (FAB), incluin-
do o filho de Getúlio, o tenente Lutero Vargas.
As ações dos militares brasileiros foram coroa-
das de êxito. Os combatentes estiveram sob o co-
mando do general estadunidense Mark Clark, do
V Exército dos Estados Unidos, e atuaram no ter-
ritório italiano de Nápoles, ao sul, subindo até a
região noroeste, em Turim. As batalhas mais im-
portantes foram a de Monte Castelo, em feverei-
Estampas promocionais do sabonete Eucalol sobre a campanha da FEB na Itália. Essas ro de 1945, e a de Castelnuovo, em 5 de março.
foram algumas das peças publicitárias criadas para a promoção do Estado Novo.
Mas a FEB tomou ainda Montese, Zocca, Livorno,
Collecchio, Fornovo, Alexandria e Turim.
Dias depois das últimas vitórias contra os inimigos, as tropas nazistas se renderiam, em 2 de maio de
1945, pondo fim também à participação brasileira na guerra.

A crise do Estado Novo


A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial era de uma incoerência cristalina. Enquanto havia
esforço de uma coalisão mundial para derrotar as potências tirânicas da Alemanha e da Itália, o Brasil man-
tinha um regime interno de ditadura feroz, bastante semelhante ao daqueles inimigos que o país ajudou a
combater na Europa. É claro que essa circunstância não passou despercebida por muitos brasileiros.
À revelia dos órgãos repressores e da censura, alguns movimentos de oposição ao governo federal come-
çaram a tomar corpo. Estudantes ligados à União Nacional dos Estudantes (UNE) fizeram diversas passeatas
ao longo de 1943 contra os regimes totalitários e a favor da democracia. Em outubro daquele ano houve
uma grande demonstração de oposição ao Estado Novo. O Manifesto dos Mineiros, como ficou conhecido,
era um documento assinado por membros da elite de Minas Gerais, incomodados com a longa duração de
Vargas no poder. Falavam de democracia, mas não daquela em que os direitos seriam partilhados por todos;
desejavam outra, em que os velhos privilégios oligárquicos seriam mais uma vez atendidos.
Vargas tomou as medidas esperadas em ocasiões como aquela, criando represálias pontuais contra cada
um dos signatários do documento, exonerando uns de cargos, forçando outros à aposentadoria. Apesar das
limitações de seu alcance social, o Manifesto dos Mineiros continua a ser visto como o marco inicial da crise
do Estado Novo.
Em janeiro de 1945 foi a vez de vários intelectuais, reunidos no I Congresso Brasileiro de Escritores,
publicarem uma declaração conjunta em que pregavam a necessidade da legalidade democrática, de um
regime eleito pelo voto universal e do “pleno exercício da soberania popular”. Entre os nomes ilustres que
assinaram o documento estavam Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Antonio Candido, Fernando Sabino,
Jorge Amado, Rachel de Queiroz, Gilberto Freyre, Manuel Bandeira, Caio Prado Júnior e Sérgio Buarque de
Holanda. Os escritores falavam também da estranheza de existir um país como o Brasil, com uma política
externa tão diametralmente oposta à sua política interna, de tal modo que era inaceitável a continuidade da
ditadura estado-novista.

220
Mas foi com o retorno dos soldados brasileiros

REPRODUÇÃO/AGÊNCIA NACIONAL
dos campos de batalha europeus que a situação se
mostrou insustentável. Os “pracinhas”, como eram
carinhosamente chamados pela imprensa nacional,
foram recebidos com festa popular no Rio de Janeiro.
Milhares de pessoas foram às ruas da cidade saudar
seus heróis, que tinham alcançado a proeza de der-
rubar um governo tirânico do outro lado do oceano.
A imprensa, já há alguns meses menos dispos-
ta a cumprir as exigências impostas pela censura do
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), pu-

HISTÓRIA
blicava cartas, manifestos e opiniões contrárias ao
governo. Mesmo alguns homens de confiança de
Getúlio, que estiveram a seu lado desde a campanha
de outubro de 1930, quando subiu ao poder, come-
çavam a se distanciar. Esse foi o caso, por exemplo,
Retorno dos “pracinhas” ao Brasil, em maio de 1945, no Rio de Janeiro.
de José Américo de Almeida, escritor, autor do ro-

Módulo 14
mance regionalista A bagaceira, ex-ministro dos

FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, RIO DE JANEIRO, RJ


Transportes de Vargas e pré-candidato das frustradas
eleições presidenciais de 1938. José Américo critica-
va abertamente Vargas por meio dos jornais.
Enquanto isso, os generais Góis Monteiro e Eu-
rico Gaspar Dutra, dois dos mais fiéis escudeiros de
Vargas desde os primeiros tempos da Revolução de
1930, renunciaram às posições favoráveis à Alema-
nha e ao nazismo que mantinham antes da guerra,
adotando em 1945 o discurso em favor das liberda-
des democráticas, ao estilo estadunidense.
Getúlio tentava se adaptar às novas circunstân-
cias, prometendo ainda para aquele ano eleições
livres para presidente e para uma nova Assembleia
Constituinte. Vargas também mandou libertar e anis-
tiar presos políticos, como Luís Carlos Prestes – man-
tido atrás das grades desde a Intentona Comunista,
dez anos antes.
A anistia foi garantida, e os posicionamentos
políticos começaram a se restabelecer na forma de
partidos. Foi assim com a criação da União Demo-
crática Nacional (UDN), do Partido Social Democrá-
tico (PSD), do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), do
Partido Social Progressista (PSP), do Partido Nacio- Era Vargas: o Estado Novo (1937-1945)

nal Trabalhista (PTN), do Partido Democrata Cristão


(PDC), entre outros. O Partido Comunista Brasileiro
(PCB), depois de um longo período de interdição,
também pôde gozar novamente da legalidade.

Jornais brasileiros noticiam o fim da


Segunda Guerra Mundial, em 1945. Capa
do Diário da Noite, de 18 de julho de 1945.

221
REPRODUÇÃO/ARQUIVO DA EDITORA
Manifestação do que ficou conhecida como Queremismo, em 1945.

Getúlio, que “abençoou” a criação do PTB por meio de lideranças sindicais, de membros das em-
presas estatais e de funcionários do Ministério do Trabalho, viu também se organizar em torno de seu
nome um movimento que tentava mantê-lo no poder: o Queremismo. Ele era sustentado pelos slogans
“Queremos Getúlio!” e “Queremos Getúlio: com ou sem Constituinte!”. Sua intenção era manter o pre-
sidente no comando do país, havendo ou não eleições naquele ano. Mas o ambiente político para isso
era praticamente impossível.
As campanhas eleitorais ganhavam corpo. A UDN lançava seu candidato, o brigadeiro Eduardo Gomes,
feroz oposicionista de Vargas, apoiado pelas elites urbanas, pelo empresariado, pelos intelectuais de forma-
ção liberal e pela Aeronáutica. O marechal Dutra, sem carisma e sem traquejo político, era o hesitante candi-
dato do PSD, respaldado também por representantes das elites, urbanas e rurais, e por militares do Exército.
Em 25 de outubro de 1945, o irmão de Getúlio, Benjamim Vargas, foi nomeado chefe de polícia do
Distrito Federal, cargo tradicionalmente ocupado por militares. Lançaram-se rumores de que esse ato tinha
por objetivo prender os generais que estariam conspirando contra o regime. Então, no dia 29 daquele mês,
diante das movimentações dos quartéis em favor da redemocratização, do cenário de grande mobilização
política em favor das eleições para presidente e para a constituinte
ACERVO REVISTA LIFE/REPRODUÇÃO

e do último ato de afronta aos militares, Vargas foi comunicado por


Góis Monteiro e Dutra acerca da disposição de retirá-lo do poder.
Dias depois, Getúlio exilou-se em sua cidade natal, São Borja, no
Rio Grande do Sul. De lá anunciou seu apoio a Dutra, o que acabou
alavancando a candidatura e a eleição do marechal.
O Estado Novo terminou como havia começado: em meio às ra-
dicalizações político-ideológicas e às agitações dos quartéis. Ape-
sar dos anos de repressão e censura, a ditadura foi encerrada com
um melancólico e apaixonado apoio popular. Anos mais tarde Ge-
túlio Vargas retornaria ao Palácio do Catete “nos braços do povo”,
sentaria novamente na cadeira presidencial e de lá só sairia para
“entrar para a História”.

Getúlio Vargas no exílio em


São Borja, Rio Grande do Sul.

222
SITUAÇÃO-PROBLEMA

Uma das maiores conquistas da Era Vargas (1930-1945) Nesse trecho os próprios trabalhadores, por meio do
foi, sem dúvida, a mudança operada no campo do trabalho. periódico paulista A Plateia, falavam das vantagens da sindi-
E não somente por causa da legislação ou das instituições calização e da carteira profissional. Nos dois casos a organi-
favoráveis aos trabalhadores, mas principalmente pela ma- zação dos operários era acompanhada de uma nova discipli-
neira que se pensava sobre esse assunto. na, definida e fiscalizada pelo Estado.

HISTÓRIA
Até a década de 1930, os trabalhadores, de forma geral, As ações de Vargas não eram movidas apenas por um
eram vistos com desdém ou menosprezo pelas elites. Certa- desejo cívico ou humanitário de servir às massas. Havia
mente essa situação devia-se ao passado ainda recente do igualmente uma clara vocação de poder em jogo, de con-
trabalho escravo e ao forte preconceito em relação a tudo trole sociopolítico, que se construiu com muita habilidade
o que fosse associado às manifestações populares. Em seus durante aqueles anos. Como vimos neste módulo, a prática
discursos, ao contrário, Vargas exaltava o trabalhador: do corporativismo atendia a muitas necessidades dos tra-
Nenhum governo, nos dias presentes, pode desempenhar balhadores, na mesma medida em que criava para o Estado

M—dulo 14
a sua função sem satisfazer as justas aspirações das massas um nível inédito de interferência na vida deles. E mais: quem
trabalhadoras. [...] O trabalho só se pode desenvolver em am- pensasse ou agisse de maneira diferente sofreria as duras
biente de ordem. [...] Como sabeis, em nosso país, o traba- consequências do Estado repressor.
lhador, principalmente o trabalhador rural, vive abandonado, A Era Vargas foi a épo-

ACERVO CPDOC/FGV
percebendo uma remuneração inferior às suas necessidades. ca dos maiores avanços em
[...] Ninguém pode viver sem trabalhar; e o operário não pode favor dos trabalhadores bra-
viver ganhando, apenas, o indispensável para não morrer de sileiros; porém, foi também
fome! O trabalho justamente remunerado eleva-o na dignida- uma ditadura, com todos
de social. os lamentáveis recursos tirâ-
Discurso de Vargas realizado no Estádio de Futebol São Januário, durante as nicos, ou seja, com prisões
comemorações do Dia do Trabalho. 1o de maio de 1938. arbitrárias, torturas, mortes,
Perceba que Vargas apelava para a necessidade da reali- exílios, censura, etc.
zação das “justas aspirações dos trabalhadores” e associava Então o que pensar so-
ordem e dignidade social a salários adequados. Os próprios bre a Era Vargas? Seria le-
operários respondiam a essas iniciativas quando se manifes- gítimo comemorar as con-
tavam em favor da sindicalização. Leia o que dizia o jornal quistas populares, mesmo
popular A Plateia: conhecendo a história de
A nossa corporação está se organizando em Sindicato, para sua ditadura? Ou condena- Carteira profissional de Getúlio
a defesa de seus interesses imediatos, a defesa dos nossos sa- mos o regime de exceção, Dorneles Vargas.
lários e a garantia do nosso pão. Todo Metalúrgico consciente apesar de saber dos avanços daquela época? Será que tomar
deve formar ao lado de seus irmãos firmes e dispostos, pois a partido diante dos fatos históricos nos leva a compreendê-los
união faz a força e com esta seremos respeitados, ouvidos e melhor ou, ao contrário, dificulta nossa percepção sobre eles?
satisfeitos nos nossos objetivos. Reflita sobre essas questões. Converse com seus fami-
Ingressando para o seu Sindicato tereis oportunidade, ope- liares e seus professores e tente entender o que eles pen- Era Vargas: o Estado Novo (1937-1945)
rário metalúrgico, de retirar sua Carteira Profissional. Com sam sobre esse assunto. Não se apresse em encontrar uma
esta e só com esta tereis direito às férias, que os patrões sempre resposta ou chegar a uma conclusão. Fique sabendo que
se recusam a conceder, inventando pretextos de toda a sorte e grandes historiadores também vêm refletindo a esse respei-
só cedendo diante da força organizada dos operários formados to, sobre os dilemas deixados pelo legado da Era Vargas, e
dentro dos seus Sindicatos de Classe. é difícil para eles também. Mas fica aqui o convite: pense
A PLATEIA, 28 de setembro de 1934. sobre o que você estudou.

223
PARA CONCLUIR

Neste módulo, você estudou que:

• o Estado Novo teve início em 1937 por meio de um golpe justificado pelo temor em relação
aos comunistas;

• durante o Estado Novo confirmaram-se e fortaleceram-se as tendências criadas desde a Re-


volução de 1930, ou seja, a centralização política, a intervenção econômica e a aproximação
social com os trabalhadores brasileiros, em particular o operariado urbano;

• a Constituição de 1937, “A Polaca”, era altamente centralizadora, conferindo a Vargas


enormes poderes administrativos, pondo fim ao federalismo e formalizando o controle
dos sindicatos;

• os integralistas reagiram em 1938 contra o governo por se acharem preteridos;

• o Estado Novo criou indústrias de base, como a CSN e a CVRD, realizando a modernização
da economia nacional e a substituição das importações;

• o Estado Novo consagrou a prática do corporativismo, por meio das concessões da legisla-
ção trabalhista e do controle dos sindicatos;

• o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) foi o órgão de censura e promoção do


Estado Novo;

• foi muito intensa a vida cultural do Brasil na época do Estado Novo, por meio do rádio, da
música popular, do futebol, dos desfiles das escolas de samba, das várias revistas em circu-
lação, entre outras atividades;

• o Brasil foi à Segunda Guerra Mundial na Europa contra os países do Eixo – Alemanha, Itália
e Japão –, ficando ao lado dos Estados Unidos com sua “Política de boa vizinhança”;

• as campanhas da FEB e da FAB foram vitoriosas e heroicas, garantindo a conquista de di-


versos pontos estratégicos na costa oeste e no norte da Itália;

• a participação do Brasil na guerra pareceu incoerente a muitas pessoas, já que a política


interna – caracterizada por uma ditadura – contradizia a opção da política externa, definida
pela defesa de valores liberais;

• Vargas tentou se manter no poder, mesmo com a crescente oposição, por meio de recur-
sos como a convocação de eleições para presidente da República e para a Assembleia
Constituinte, a declaração de anistia para os presos políticos, a liberação de partidos e a
campanha queremista;

• Vargas foi forçado a se retirar do poder em outubro de 1945, apesar do apoio popular que
ainda mantinha.

224
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das quest›es sinalizadas com asterisco.

PRATICANDO O APRENDIZADO

1. (UFRGS-RS) Com a instituição do Estado Novo em 1937, c) I e III apenas.


Getúlio Vargas inaugurou um novo regime político no Brasil, d) II e III apenas.
marcado pelo autoritarismo. Entre as características e meca-
e) I apenas.
nismos de controle da ditadura varguista, pode-se citar:
a) a mobilização das massas em grande escala através
3. (PUCC-SP – Adaptada) Para responder à questão a se-
da atuação de um partido único controlado pelo líder

HISTÓRIA
guir, considere o texto abaixo.
do governo.
b) a opção pelo modelo de desenvolvimento econômi- No fim de 1944 estávamos em regime de ditadura no Brasil,
co liberal, com a privatização dos meios de produção como todos sabem. Uma ditadura que já se ia dissolvendo,
e a abertura do mercado ao capital internacional. porque o ditador de então começara a acertar o passo com
c) a difusão e veiculação de propagandas e ideais do as chamadas Potências do Eixo; mas quando os Estados Uni-
novo regime através de programas de rádio como o dos entraram na guerra e pressionaram no mesmo sentido os

M—dulo 14
“Repórter Esso” e a “Hora do Brasil”. seus dependentes, ele não só passou para o outro lado, como
d) o alinhamento contínuo e incondicional da política teve de concordar que o país interviesse efetivamente na luta,
externa do país às diretrizes norte-americanas. como aliás pedia a opinião pública, às vezes em manifestações
e) o reforço das unidades federativas, que passaram a de massa que foram as primeiras a quebrar a rotina disciplina-
dispor de ampla autonomia político-econômica e ad- da de tranquilidade aparente nas grandes cidades.
CÂNDIDO, Antonio. Teresina etc. Rio de Janeiro:
ministrativa, com vistas a garantir a soberania e a inte- Paz e Terra, 1980, p. 107-108.
gridade territorial frente a ameaças imperialistas.
Sobre a dissolução do regime político brasileiro, a que
2. (Uece) Acerca das razões apontadas para o final do Estado o texto de Antonio Cândido se refere, é correto afirmar:
Novo (1937-1945) no Brasil, observe as proposições abaixo. a) A oposição da nascente burguesia industrial da região
I. A contradição percebida na prática estado-novista Sudeste às leis trabalhistas formuladas pelo Ministro
– externamente lutara contra regimes autoritários e do Trabalho e a agitação da Força Pública contribuí-
centralizadores na Segunda Guerra Mundial, e in- ram para a desestabilização do regime autoritário no
ternamente mantinha um regime antidemocrático Estado Novo.
e centralizador – é apontada como uma forte razão b) As repercussões da Segunda Guerra Mundial se en-
para a queda do regime. trelaçaram à crise política interna, formando uma
II. A criação e a organização de vários partidos políti- complexa rede de contradições que resultou na cria-
cos compostos por adversários do regime, como o ção de uma conjuntura favorável ao desmantelamen-
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido Social to do Estado Novo.
Democrático (PSD) e, principalmente, a União Demo- c) A acirrada disputa entre a esquerda, representada pela
crática Nacional (UDN), que formaram a mais forte Aliança Nacional Libertadora, e a direita radical e fas-
oposição ao Estado Novo, levando-o ao seu final. cista da Ação Integralista Brasileira criou as condições

Era Vargas: o Estado Novo (1937-1945)


III. A nomeação de Benjamin Vargas, irmão de Getúlio necessárias para a derrocada da ditadura varguista.
Vargas, um civil, para o cargo de chefe de polícia do d) A extrema instabilidade política, marcada por tentativas
Distrito Federal, tradicionalmente ocupado por mili- de golpes e contragolpes de caráter nacionalista, de-
tares, desagradou profundamente aos setores milita- sestabilizou a estrutura do Estado e levou à decadência
res, o que contribuiu para a queda do regime. do governo totalitário implantado por Getúlio Vargas.
e) As contestações ao regime autoritário, expressas pelo
É correto o que se afirma em:
descontentamento de parcelas significativas da socie-
a) I, II e III. dade brasileira, incentivaram rebeliões populares que
b) I e II apenas. levaram à queda do Estado Novo.

225
4. (UFSM-RS) A letra do samba de Wilson Batista e Ataulfo c) A imigração alemã para o Brasil foi incentivada, sendo
Alves, “O bonde de São Januário” (1940), diz o seguinte: permitida a manutenção do uso do idioma de origem
pelos imigrantes no cotidiano.
Quem trabalha tem razão/ Eu digo/ E não tenho medo
d) O fim do Estado Novo foi acelerado pela vitória dos
de errar/ O bonde de São Januário/ Leva mais um operário/
aliados na Segunda Guerra Mundial, que demonstrou
Sou eu que vou trabalhar/ Antigamente eu não tinha juí-
contradição com a permanência de um ditador na
zo/ Mas hoje eu penso melhor/ No futuro/ Graças a Deus/
presidência do Brasil.
Sou feliz/ Vivo muito bem/ A boemia não dá camisa pra
e) Para não entrar em contradição com seus aliados es-
ninguém.
trangeiros, Vargas adotou a livre imprensa e a livre
Na letra dessa música, constata-se uma mudança da fundação de partidos políticos.
perspectiva dos sambistas do início do século XX, que
costumavam valorizar a vida boêmia e não o trabalho. 6. (Uern)
Essa mudança deveu-se:
Em meados de 1937, o embaixador Negrão de Lima,
I. à vitória paulista na Revolução Constitucionalista de cumprindo uma missão para Getúlio Vargas, visitou vários
1932, que resgatou o valor do trabalho entre os ope- estados angariando apoios para um golpe de Estado. Pas-
rários brasileiros. sando por Natal, conseguiu a concordância do governador
II. à instauração do Estado Novo, que implementou do estado Rafael Fernandes para o autogolpe que se avizi-
uma política de forte desenvolvimento industrial e nhava. Embora adversário de Vargas, a aceitação de Rafael
mobilizou milhares de trabalhadores. Fernandes às pretensões de Vargas lhe valeu uma sobrevida
III. ao nacionalismo e desenvolvimento propagados à frente do executivo estadual. A derrota dos comunistas,
pela ditadura getulista e ao estímulo à produção de em 1935, foi diretamente responsável pela mudança no “re-
manufaturados em substituição às importações difi- lacionamento entre o governo estadual e o governo federal”,
cultadas pela 2a Guerra Mundial. pois os adversários do governador Rafael Fernandes eram
também “adversários do próprio regime”. Assim, um governo
IV. à implementação de órgãos de repressão e censura,
inicialmente fraco fortaleceu-se com a execução de medidas
como o DIP (Departamento de Imprensa e Propa-
repressivas ao movimento comunista.
ganda), durante o governo do general Eurico Gaspar Trindade, 2010.
Dutra, impedindo a veiculação de produtos culturais
considerados permissivos. Getúlio Vargas contou com certa aquiescência do Rio
Grande do Norte para o golpe de Estado ou autogolpe
Está(ão) correta(s):
a que se refere o enunciado, que aconteceria de fato,
a) apenas I e III. em 1937, e seria responsável pela:
b) apenas II. a) instauração do Estado Novo.
c) apenas II e III. b) decretação da “Política dos Governadores”.
d) apenas IV. c) neutralização definitiva das internacionais operárias.
e) I, II, III e IV. d) contenção a nível nacional do movimento tenentista.
e) ascensão da Ação Integralista Brasileira ao poder.
5. (IFSC) Em 1937, Getúlio Vargas deu início ao Estado
Novo. Esse período durou até 1945, quando se finalizou
7. (Fatec-SP) A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
aquilo que ficou conhecido como “Era Vargas”. Sobre o
aprovada por decreto de 1o de maio de 1943, represen-
Estado Novo, assinale a alternativa correta.
tou a reunião e sistematização da vasta legislação tra-
a) O nacionalismo varguista não permitiu qualquer tipo
balhista produzida no país após a Revolução de 1930.
de interferência estrangeira no país, fosse por meio
Introduziu também novos direitos e regulamentações
de empréstimos, por migrações, tampouco por insta-
trabalhistas até então inexistentes, tratou minuciosa-
lações de bases militares.
mente da relação entre patrões e empregados e estabe-
b) Por ter entre suas características o nacionalismo, Var- leceu regras.
gas governou com o auxílio dos integralistas. (http://tinyurl.com/nsttkur Acesso em: 30.06.2014. Adaptado)

226
Analisando o contexto histórico mencionado no texto, é Getúlio Vargas, que fortaleceu sua imagem de protetor
correto afirmar que a CLT: da classe trabalhadora.
a) evidenciou as relações estreitas do governo Vargas
A sistematização da legislação trabalhista recebeu o
com o comunismo soviético.
nome de:
b) contribuiu para a divulgação de uma imagem de “pai
a) Carta del Lavoro.
dos pobres” para Getúlio Vargas.
c) ampliou a participação da classe operária em movi- b) Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).
mentos grevistas e comunistas. c) Ato Institucional no 5 (AI 5).
d) proporcionou uma rebelião nas Forças Armadas, dan- d) Justiça do Trabalho (JT).
do início às ditaduras militares.

HISTÓRIA
e) Fundo Social Sindical.
e) prejudicou as atividades produtivas do setor cafeeiro,
que se encontrava no auge. 9. (PUC-RS) Sobre as políticas e medidas adotadas por Ge-
túlio Vargas, durante o Estado Novo, é correto afirmar:
8. (UPF-RS)
a) Nesse período, Getúlio Vargas completou a sua po-
REPRODU‚ÌO/VEST. UPF-RS

lítica trabalhista, criando o Ministério do Trabalho,

Módulo 14
Indústria e Comércio, em 1942, e instituindo a Conso-
lidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943.

b) O governo desenvolveu uma política de incentivo à


industrialização, inibindo a importação de bens ma-
nufaturados e criando algumas empresas estatais im-
portantes, como a Cia Siderúrgica Nacional, a Fábrica
Nacional de Motores (FNM) e a Petrobras.

c) Vargas desenvolveu uma política autoritária de re-


pressão aos opositores, com censura ferrenha à im-
prensa e ampla propaganda das ações do governo,
através da criação do DIP, Departamento de Imprensa
(Disponível em http://www.cpdoc.fgv.br. Acesso em 27 set. 2014) e Propaganda.
1o de maio, Dia do Trabalhador. O ano era 1943 e o está- d) A política externa do governo Vargas foi marcada
dio de São Januário, no Rio de Janeiro, estava abarrotado de pelo apoio irrestrito aos EUA em troca de vantagens
pessoas. Não havia espaço para respirar, a população gritava econômicas. Isso levou o país a enviar um contin-
eufórica pelo presidente Getúlio Vargas, que discursou: “O gente militar para a Segunda Guerra Mundial (1939-
trabalhador brasileiro possui hoje seu código de direito, a sua 1945) – a Força Expedicionária Brasileira (FEB) –, a
carta de emancipação econômica, e ele sabe perfeitamente o fim de lutar contra o Eixo ao lado de tropas norte-
que isso vale”. -americanas.

O evento acima descrito remete à constituição de uma e) Na fase final do regime, Getúlio evitou a sua depo-
sição, permitindo a volta das eleições e a criação de
Era Vargas: o Estado Novo (1937-1945)
legislação que tratou minuciosamente da relação en-
tre patrões e empregados, estabelecendo regras refe- novos partidos, como a UDN, o PTB e o PSD. Dessa
rentes a jornada de trabalho, férias, descanso semanal maneira, conseguiu manter-se politicamente atuante
remunerado, condições de segurança e higiene dos na democracia, elegendo-se novamente presidente
locais de trabalho, normatização do trabalho da mu- em 1950.
lher e do menor, dentre outras questões. A anotação
dos contratos de trabalho deveria ser feita na carteira 10. (UFRGS-RS) Em 1942, o governo brasileiro decretou es-
de trabalho, instituída em 1932 e reformulada em 1943. tado de guerra contra a Alemanha e a Itália, enviando,
Esse ato conferiu grande prestígio popular ao presidente em 1944, tropas para o continente europeu.

227
Com relação à participação brasileira na Segunda Guer- talação de bases militares norte-americanas em seu
ra Mundial, é correto afirmar que território.
a) a experiência da Força Expedicionária Brasileira (FEB), d) a participação do Brasil na guerra, contra os regimes
durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), foi nazifascistas, estava em consonância com a forma de
decisiva para o sucesso da expedição brasileira. governo democrática assumida por Getúlio Vargas,
b) a tomada de Monte Castello, na Itália, foi a principal desde 1937.
conquista militar realizada pelos pracinhas da FEB. e) a participação do Brasil junto aos aliados concedeu
c) o Brasil, durante o período em que permaneceu ao país um assento permanente no Conselho de Se-
neutro em relação aos conflitos, não permitiu a ins- gurança da Organização das Nações Unidas.

DESENVOLVENDO HABILIDADES

1. (UEG-GO) 2. (Ifsul-RS) A discussão atual sobre os sacrifícios de ani-


C1 C1 mais em rituais de candomblé trouxe à tona, novamen-
H3 H3
te, a análise sobre a cultura afro-brasileira e os precon-
REPRODUÇÃO/VEST.UEG-2015

ceitos que essa sofreu e sofre em uma sociedade ainda


marcada pelo eurocentrismo.

REPRODUÇÃO/VEST. IFSUL-2016
Disponível em: <www.portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=51433>.
Acesso em: 15 abr. 2015.

A charge apresentada retrata três momentos da trajetó-


ria política de Getúlio Vargas, sendo que a figura refe-
rente ao ano de
a) 1937 ironiza a ascendência alemã da família de https://www.facebook.com/photo.php?fbid=851581941562053&set=a.448191275234457.
109383.100001307657634&type=1&theater Acesso em: 26/04/2015.
Vargas.
b) 1937 critica a filiação de Vargas ao Partido Integralista A respeito da cultura afro-brasileira e da sua relação com
Brasileiro. a sociedade e com o Estado brasileiro ao longo da His-
tória do Brasil, é correto afirmar que
c) 1945 ironiza o apoio recebido por Vargas do Partido
a) o governo de Getúlio Vargas representou uma revolu-
Comunista Brasileiro.
ção na relação do Estado com a cultura afro-brasileira,
d) 1941 critica o Estado Novo comparando-o ao New ao retirar da criminalidade o candomblé e a capoeira
Deal norte-americano. e transformá-los em patrimônios culturais nacionais.
e) 1945 elogia o Estado Novo comparando-o ao gover- b) diversas políticas estatais durante a República Velha fo-
no soviético. ram adotadas a favor da inserção dos afrodescendentes

228
na sociedade brasileira, em nome da superação do ziando o Ministério da Educação não só da propaganda, mas
preconceito histórico gerado pela escravidão, como também do rádio e do cinema. A decisão tinha como objetivo
o apoio governamental à ocupação de cargos de co- colocar os meios de comunicação de massa a serviço direto
mando das forças armadas por militares negros. do Poder Executivo, iniciativa que tinha inspiração direta no
c) as medidas afirmativas na atual sociedade brasileira recém-criado Ministério da Propaganda alemão.
CAPELATO, M. H. Propaganda política e controle dos meios de comunicação.
têm possibilitado aos afrodescendentes uma valo- Rio de Janeiro: FGV, 1999.
rização política e social que permite julgar aspectos
de manifestações africanistas como os sacrifícios de No contexto citado, a transferência de funções entre mi-
animais cometidos pelo candomblé sem que isso seja nistérios teve como finalidade o(a):
visto como preconceito racial. a) desativação de um sistema tradicional de comunica-

HISTÓRIA
d) diversas leis preconceituosas foram adotadas a nível ção voltado para a educação.
nacional após a abolição da escravatura, estabele- b) controle do conteúdo da informação por meio de
cendo uma divisão racial no transporte público, nas uma orientação política e ideológica.
cidades e até mesmo nos espaços ocupados pelos c) subordinação do Ministério da Educação ao Ministé-
trabalhadores nas lavouras. rio da Justiça e ao Poder Executivo.
e) a ditadura militar brasileira (1964-1985) foi responsável d) ampliação do raio de atuação das emissoras de rádio

Módulo 14
por grande inclusão das minorias, inclusive as mani- como forma de difusão da cultura popular.
festações religiosas afrodescendentes, bem de acor-
e) demonstração de força política do Executivo diante
do com a tendência agregadora e tolerante daquele
de ministérios herdados do governo anterior.
período.

5. (Fatec-SP) Observe atentamente a imagem.


3. ENEM
C1
C5
H21
A partir de 1942 e estendendo-se até o final do Estado H1

Novo, o Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio de Getú-


lio Vargas falou aos ouvintes da Rádio Nacional semanalmen-
te, por dez minutos, no programa “Hora do Brasil”. O objetivo
declarado do governo era esclarecer os trabalhadores acerca
das inovações na legislação de proteção ao trabalho.
GOMES, A. C. A inven•‹o do trabalhismo. Rio de Janeiro: IUPERJ /
Vértice. São Paulo: Revista dos Tribunais,

REPRODU‚ÌO/VEST. FATEC-SP-2016
1988 (adaptado).

Os programas “Hora do Brasil” contribuíram para:


a) conscientizar os trabalhadores de que os direitos so-
ciais foram conquistados por seu esforço, após anos
de lutas sindicais.
b) promover a autonomia dos grupos sociais, por meio
de uma linguagem simples e de fácil entendimento. <http://tinyurl.com/q6uwzm3> Acesso em: 25.08.2015.

c) estimular os movimentos grevistas, que reivindicavam


A charge refere-se ao período:
um aprofundamento dos direitos trabalhistas.
a) do Império (1822-1889), governado por D. Pedro II,
d) consolidar a imagem de Vargas como um governante
que tinha grande interesse por inovações tecnológicas Era Vargas: o Estado Novo (1937-1945)
protetor das massas.
e utilizou o rádio como instrumento de propaganda.
e) aumentar os grupos de discussão política dos traba-
b) da Primeira República (1889-1930), cuja principal mar-
lhadores, estimulados pelas palavras do ministro.
ca foi a censura a artistas, intelectuais e jornalistas
contrários ao governo.
4. ENEM
c) do Estado Novo (1937-1945), sob o comando de Ge-
C5
H21
Em 1943, Getúlio Vargas criou o Departamento de Propa- túlio Vargas, que utilizou o rádio para enaltecer os fei-
ganda e Difusão Cultural junto ao Ministério da Justiça, esva- tos de seu governo.

229
d) do desenvolvimentismo (1955-1961), liderado por Durante o governo de Getúlio Vargas, foram desen-
Juscelino Kubitschek, que introduziu os meios de co- volvidas ações de cunho social, dentre as quais se
municação de massa no Brasil. destaca a
e) da ditadura civil-militar (1964-1985), no qual artistas e a) disseminação de organizações paramilitares inspira-
jornalistas podiam expressar-se livremente nas rádios, das nos regimes fascistas europeus.
porém eram censurados nas redações dos jornais e
emissoras de TV. b) aprovação de normas que buscavam garantir a posse
das terras aos pequenos agricultores.
6. ENEM
c) criação de um conjunto de leis trabalhistas associadas
C3 As relações do Estado brasileiro com o movimento operário e
H15 ao controle das representações sindicais.
sindical, bem como as políticas públicas voltadas para as questões
sociais durante o primeiro governo da Era Vargas (1930-1945), d) implementação de um sistema de previdência e segu-
são temas amplamente estudados pela academia brasileira em ridade para atender aos trabalhadores rurais.
seus vários aspectos. São também os temas mais lembrados pela e) implantação de associações civis como uma estraté-
sociedade quando se pensa no legado varguista. gia para aproximar as classes médias e o governo.
D’ ARAÚJO, M. C. Estado, classe trabalhadora e políticas sociais. In: FERREIRA, J.;
DELGADO, L. A. (Org). O tempo do nacional-estatismo: do início ao apogeu
do Estado Novo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

APROFUNDANDO O CONHECIMENTO

1. (UFJF-MG) Leia os textos abaixo e, em seguida, respon- 2. (Fatec-SP) Observe a fotografia, que retrata uma mani-
da às questões: festação popular no Rio de Janeiro em 1945.
[...] os 23 anos entre a chamada “Marcha sobre Roma” de

REPRODUÇÃO/VEST. FATEC-2014
Mussolini e o auge do sucesso do Eixo na Segunda Guerra
Mundial viram uma retirada acelerada e cada vez mais catas-
trófica das instituições políticas liberais.
HOBSBAWM, Eric. “A queda do liberalismo”. In: A Era dos Extremos, p. 115.

A complexidade dos problemas morais e materiais inerentes


à vida moderna alargou o poder de ação do Estado, obrigando-o
a intervir mais diretamente, como órgão de coordenação e di-
reção, nos diversos setores da atividade econômica e social”.
Getúlio Vargas, Discurso, 1938, vol. 3, p. 135-136.

A Era Vargas é associada ao contexto marcado por aquilo


que Eric Hobsbawm chamou de “retirada acelerada e cada
vez mais catastrófica das instituições políticas liberais”.
Cite e explique duas políticas da Era Vargas que se rela-
cionam com a “queda do liberalismo”. http://tinyurl.com/referenciainfoescola Acesso em: 12.08.2013.

A partir de 1930 Vargas aumentou o poder do Estado. Em 1937 Considerando o conteúdo dos cartazes e o período em
implantou a ditadura do Estado Novo com uma forte centralização do que a manifestação ocorreu, é correto afirmar que se tra-
poder no Executivo, destruindo qualquer concepção liberal de Estado. tava de:
O Estado interferiu na economia criando as indústrias de base, com a) uma greve de trabalhadores rurais, exigindo o fim da
estatais como a Vale do Rio Doce e a Companhia Siderúrgica República do Café com Leite.
Nacional de Volta Redonda. O Estado também interferiu no social
b) uma manifestação do Queremismo, que defendia a
com a elaboração da CLT, Consolidação das Leis do Trabalho. continuidade de Vargas no poder.

230
c) um comício do Partido Comunista, exigindo que Var- As cinzas dos 451 oficiais e praças mortos no conflito, en-
gas revogasse as leis trabalhistas. tre eles oito pilotos da Força Aérea Brasileira (FAB), foram
d) um protesto integralista, que criticava Getúlio Vargas transladadas do cemitério de Pistoia, na Itália, para o Brasil,
pela convocação da Constituinte. em 5 de outubro de 1960, e hoje repousam no monumento
e) um comício do candidato Vargas, que concorria pela aos mortos da II Guerra Mundial, no Rio de Janeiro.
UDN às eleições para presidente.
Sobre a participação do Brasil na II Guerra Mundial
leia as alternativas abaixo e em seguida responda ao
3. (UFTM-MG) A palavra de ordem do movimento quere-
que se pede:
mista, articulado em 1945, era: Nós queremos Getúlio.
Sobre o queremismo, é correto afirmar que I. O governo Vargas procurou manter-se neutro no con-
a) se tratou de um movimento popular, nascido nas fá- flito no início do período, esperando obter vantagens

HISTÓRIA
bricas do ABC paulista. econômicas.
b) foi organizado por intelectuais e propunha a conti- II. Após 1941, o governo brasileiro assinou acordos com
nuação de Vargas na presidência. os Aliados, que construiriam bases militares no nor-
c) resultou da união dos maiores partidos políticos, que deste brasileiro e financiariam a construção da Usina
temiam as eleições livres. de Volta Redonda.

Módulo 14
d) nasceu nas Forças Armadas, assustadas com a popu- III. Faziam parte do Governo Vargas apoiadores dos
laridade de Luís Carlos Prestes. Aliados e simpatizantes do Nazismo.
e) foi articulado a partir do Palácio do Catete, numa ten- IV. A Alemanha reagiu ao alinhamento do Brasil torpe-
tativa de manter Vargas no poder. deando navios brasileiros no Oceano Atlântico, cau-
sando a morte de centenas de pessoas.
4. (Fatec-SP) Após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil vi-
veu importantes transformações em seu sistema político. V. Em 1942 o Brasil declarou guerra às potências do
Em meio a esse processo, o país presenciou um movi- Eixo (Alemanha, Itália, Japão) e enviou as primeiras
mento chamado queremismo que: tropas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para
a) defendia a presença de Getúlio Vargas na condução lutarem em solo italiano.
da transição democrática.
Marque a alternativa correta:
b) propunha a exclusão de Getúlio Vargas do cenário
a) Todas as alternativas estão corretas.
político nacional.
b) Todas as alternativas estão incorretas.
c) era liderado pela esquerda brasileira e exigia a legali-
zação do Partido Comunista Brasileiro (PCB). c) Apenas a II alternativa está correta.
d) tinha como bandeira principal o retorno da política do d) Apenas a IV alternativa está incorreta.
café com leite. e) Apenas as alternativas I e II estão corretas.
e) pedia a prisão do presidente Getúlio Vargas e de seus
colaboradores políticos. 6. (PUC-PR) O Estado Novo no Brasil (1937-1945) marcou um
período de progresso econômico e repressão política.
5. (UFJF-MG) Observe a imagem:
Assinale a alternativa correta relativamente a este pe-
REPRODU‚ÌO/VEST. UFJF-2015

ríodo:
a) Adquiriu, na Inglaterra, numerosos navios de guerra, Era Vargas: o Estado Novo (1937-1945)

incluindo encouraçados, cruzadores e porta-aviões,


marcando o reaparelhamento da marinha.
b) Implantou obras de infraestrutura, sendo destaques a
Companhia Siderúrgica Nacional e a Companhia Vale
do Rio Doce.
c) Realizou uma reforma agrária, maneira encontrada
para fazer cessar a agitação no campo.

231
d) Prestigiou partidos políticos liberais, como a UDN 8. (Ufes)
(União Democrática Nacional) e o PSD (Partido Social
Democrático). Deixa Lisboa o contingente da FEB
e) Concedeu grande liberdade sindical, podendo esses O público apinhou o cais e as elevações da capital portugue-
órgãos de classe reivindicar melhores salários, defla- sa para despedir-se dos soldados brasileiros – Dois ‘pracinhas’
grando greves, se necessário. ficam em terra – Marcada para o dia 17 a chegada ao Rio.
(O GLOBO, 05-09-45)
7. (UPF-RS) No contexto do Estado Novo (1937-1945), a
política externa do governo Vargas oscilou entre apro- Em plena Segunda Guerra Mundial e durante o gover-
ximar-se da Alemanha e dos Estados Unidos. Com a no autoritário do Estado Novo no Brasil, o presidente
eclosão da Segunda Guerra Mundial, Brasil e Estados Vargas assinou decreto que levou o Brasil a entrar nesse
Unidos acabaram por negociar pragmaticamente condi- conflito, de cujo término no ano de 1995 se comemorou
ções para o alinhamento. o cinquentenário. A participação do Brasil foi por meio
Assinale a alternativa que apresenta questões que estavam da FEB, composta por soldados brasileiros.
envolvidas na agenda de discussões entre os dois países. Explique como tal participação e, posteriormente, o fim
da guerra, com a vitória dos aliados, contribuíram para o
a) O fim do desmatamento da Amazônia pelo Brasil, a
término do Estado Novo no Brasil.
diminuição da emissão de gás carbono e a liberação
A entrada do Brasil na Segunda Guerra trouxe uma contradição
da navegação do rio Negro pelos Estados Unidos.
insustentável para o governo de Vargas, pois, internamente, o país
b) A cessão das bases do Nordeste do Brasil para o esta-
vivia uma ditadura do tipo fascista e, externamente, combatia o
cionamento de tropas norte-americanas, a concessão
nazifascismo ao lado das democracias. A vitória das democracias
de financiamento norte-americano para a moderni-
forçou no Brasil o processo de redemocratização.
zação das Forças Armadas brasileiras e a criação da
Companhia Siderúrgica Nacional.
c) O financiamento para reabertura do Banco do Brasil
e a concessão da base de Alcântara para lançamento
de satélites norte-americanos.
d) O ensino obrigatório da língua inglesa nas escolas
brasileiras e a proibição do idioma italiano e alemão.
e) A implementação do ALCA (Acordo de Livre Comér-
cio das Américas) e a venda de materiais estratégicos
brasileiros – bauxita, berilo, cromita, ferro-níquel, dia-
mantes industriais, minério de manganês, mica, cris-
tais de quartzo, borracha, titânio e zircônio.

ANOTA‚ÍES

232
Dutra e o

15
segundo governo
Vargas
Módulo

OBJETOS DO CONHECIMENTO
• A Constituição de 1946
• O governo Dutra (1946-1951)
• O governo Vargas (1951-1954)
• Oposições e crises: liberalismo 3 nacionalismo; entreguistas
3 nacionalistas
• O suicídio de Getúlio Vargas

HABILIDADES
• H2 - Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
• H9 - Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e
econômico-sociais em escala local, regional ou mundial.
• H11 - Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
• H21 - Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
• Caracterizar a Constituição de 1946.
• Compreender a política econômica do governo Dutra.
• Analisar o papel da Guerra Fria durante o governo Dutra.
• Identificar rupturas e continuidades em relação ao Estado Novo.
• Caracterizar os partidos políticos.
• Identificar os objetivos da política econômica do governo Vargas.
• Compreender o papel da imprensa na crise do governo Vargas.
• Identificar os fatores que contribuíram para a morte do presidente Vargas e interpretar a carta-testamento.

233
PARA COMEÇAR

Leia o texto a seguir.

Passadas seis décadas do suicídio do presidente Getúlio Dornelles Vargas, legados do ex-chefe do
Executivo ainda continuam vivos na política, na economia e na estrutura social brasileira, aponta o his-
toriador Gunter Axt, doutor em História Social da Universidade de São Paulo (USP). Pressionado por
militares e pela oposição a renunciar ao mandato, o presidente que mais tempo ficou à frente do país
pôs fim à própria vida, aos 72 anos, com um tiro no coração disparado por um revólver Colt calibre 32.
A morte trágica do líder civil da Re-
RAFAEL ANDRADE/FOLHAPRESS

volução de 1930, presidente constitucio-


nal, ditador do Estado Novo e um dos
principais personagens da política bra-
sileira no século 20 gerou comoção no
país em 24 de agosto de 1954 e adiou,
por uma década, um golpe de Estado. O
suicídio do homem conhecido como “pai
dos pobres” foi o desfecho dramático de
uma crise política que antecipou o epí-
logo do segundo governo de Vargas na
Presidência da República.
São espólios da administração getu-
lista, por exemplo, a Petrobras, a Com-
panhia Vale do Rio Doce, o Banco Na-
cional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES), além de conquistas
sociais como a Consolidação das Leis
Trabalhistas (CLT), o salário mínimo e
o voto feminino. Contabilizando-se os
dois momentos em que comandou o Pa-
lácio do Catete, antiga sede do governo
federal, o gaúcho do pequeno município
de São Borja, na fronteira do Brasil com
Pijama e revólver usados por Getúlio Vargas no dia de sua morte a Argentina, ditou os rumos do país ao
são exibidos no Museu da República, no Rio de Janeiro.
longo de 19 anos. [...]
“Getúlio propôs perspectivas inovadoras, que um político comum da época dele não teria estabe-
lecido. O legado de Vargas é complexo, se estende por todos os setores da vida nacional, da política à
cultura”, observou o especialista. [...]
COSTA, Fabiano. Legado de Vargas persiste 60 anos após suicídio, aponta historiador. G1, 24 ago. 2014.
Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/08/legado-de-vargas-persiste-
60-anos-apos-suicidio-aponta-historiador.html>. Acesso em: 13 out. 2016.

Getúlio Vargas permanece como um dos mais importantes políticos da história brasileira. Seu
suicídio, em 24 de agosto de 1954, marcou de forma trágica a política nacional.
Por que Vargas permanece como um personagem tão relevante? Que fatores levaram o presiden-
te a optar pelo suicídio? Qual é o legado de seu governo? Essas são algumas das questões que
este módulo pretende abordar.

234
PARA APRENDER

As eleições de 1945 e a Constituição de 1946


O fim do Estado Novo, em outubro de 1945, marcou o início da redemocratização do Brasil. A organiza-
ção de novos partidos políticos – atrelada ao desmantelamento do controle ideológico promovido pelo Es-
tado, principalmente por meio do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) – foi parte desse processo
e teve grande importância no período democrático (1946-1964).

HISTÓRIA
Os grupos de oposição ao presidente Getúlio Vargas organizaram a União Democrática Nacional (UDN),
que lançou o brigadeiro Eduardo Gomes como candidato às eleições presidenciais – marcadas para dezem-
bro de 1945, com eleições também para a Assembleia Nacional.
Os interventores estaduais ligados ao Estado Novo articularam a formação do Partido Social Democrá-
tico (PSD) e lançaram o general Eurico Gaspar Dutra candidato à Presidência da República. Foi organizado
também o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), ligado aos sindicatos vinculados ao Ministério do Trabalho e

M—dulo 15
aos trabalhadores urbanos, que acabou por apoiar a candidatura de Dutra. O Partido Comunista Brasileiro
(PCB) foi legalizado e lançou Iedo Fiúza candidato à Presidência.
Eduardo Gomes largou na frente na disputa pela sucessão de Vargas, mas sua candidatura acabou com-
prometida após declarações do próprio candidato de que não estava interessado no voto da “malta de
desocupados” que frequentava os comícios de Vargas durante o Estado Novo. Hugo Borghi, político ligado
a Vargas, iniciou grande campanha contra Gomes, apresentando-o como o candidato das elites. Dutra, que
não alcançava o mesmo sucesso do seu opositor, viu a sorte mudar às vésperas das eleições. Uma semana
antes das eleições, Vargas deixou o silêncio em que se encontrava em São Borja (RS) e pediu ao povo que
votasse no candidato do PSD. Era o que faltava para a vitória de Dutra, que conquistou 55% dos votos, con-
tra 35% dados a Eduardo Gomes e 10% a Iedo Fiúza. O resultado mostrou que a população desaprovava o
antigetulismo e associava o candidato da UDN aos interesses das elites, e confirmou também o prestígio de
Getúlio Vargas.
Ao mesmo tempo que ocorreram eleições presidenciais, os eleitores escolheram deputados e sena-
dores encarregados de elaborar uma nova Constituição, um dos mais importantes passos no processo
de redemocratização do país. Getúlio Vargas

CPDOC/FGV
disputou as eleições legislativas pelo PTB e
demonstrou que sua carreira política não ha-
via terminado. O regulamento eleitoral na épo-
ca permitia que um candidato concorresse si-
multaneamente à Câmara dos Deputados e ao
Senado Federal por mais de um estado. Vargas
elegeu-se senador (por Rio Grande do Sul e São
Paulo) e deputado constituinte (por Rio Grande
Dutra e o segundo governo Vargas
do Sul, São Paulo, Distrito Federal, Rio de Janei-
ro, Minas Gerais, Paraná e Bahia). Assumiu uma
cadeira no Senado em maio de 1946 e participou
dos trabalhos que resultaram na elaboração da
nova Constituição brasileira.

Deputados reunidos em Assembleia


Nacional Constituinte de 1946.

235
Promulgada em 18 de setembro de 1946, a nova Constitui•‹o garantiu o estabelecimento de um
regime democrático-representativo no país. Entre seus pontos principais, destacamos os seguintes:

Art. 1o – Os Estados Unidos do Brasil mantêm, sob o regime representativo, a Federação e a República.
Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido. [...]

Art. 36 – São Poderes da União o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, independentes e harmônicos


entre si. [...] 

Art. 43 – O voto será secreto nas eleições. [...]

Art. 56 – A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, segundo o sistema
de representação proporcional, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Territórios. [...]

Art. 60 – O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos
segundo o princípio majoritário. [...]

Art. 78 – O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República. [...]

Art. 131 – São eleitores os brasileiros maiores de dezoito anos que se alistarem na forma da lei.

Art. 132 – Não podem alistar-se eleitores:


I – os analfabetos;
II – os que não saibam exprimir-se na língua nacional;
III – os que estejam privados, temporária ou definitivamente, dos direitos políticos. [...]

Art. 141 – A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabili-
dade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos
seguintes:
§ 1o – Todos são iguais perante a lei. [...]
§ 5o – É livre a manifestação do pensamento, sem que dependa de censura, salvo quanto a espetácu-
los e diversões públicas, respondendo cada um, nos casos e na forma que a lei preceituar pelos abusos
que cometer. Não é permitido o anonimato. É assegurado o direito de resposta. A publicação de livros
e periódicos não dependerá de licença do Poder Público. Não será, porém, tolerada propaganda de
guerra, de processos violentos para subverter a ordem política e social, ou de preconceitos de raça ou
de classe.
§ 6o – É inviolável o sigilo da correspondência.
§ 7o – É inviolável a liberdade de consciência e de crença e assegurado o livre exercício dos cultos
religiosos, salvo o dos que contrariem a ordem pública ou os bons costumes. As associações religiosas
adquirirão personalidade jurídica na forma da lei civil. [...]

Art. 145 – […]. Parágrafo único – A todos é assegurado trabalho que possibilite existência digna. O
trabalho é obrigação social. [...]

Art. 166 – A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola. Deve inspirar-se nos princípios
de liberdade e nos ideais de solidariedade humana. [...]
Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 18 de setembro de 1946. Disponível em: <www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Constituicao/Constituicao46.htm>. Acesso em: 13 out. 2016.

236
O governo Dutra (1946-1951)
Empossado em 31 de janeiro de 1946, Eurico Gaspar Dutra foi o primeiro presidente após o fim do Es-
tado Novo. Vitorioso graças ao apoio recebido de Vargas, logo Dutra começou a se afastar das ideias do
ex-presidente. Assim que tomou posse, Dutra estabeleceu um acordo interpartidário e se aproximou de se-
tores conservadores, inclusive da UDN, o que levou o PTB a romper com o presidente.
Em abril de 1946, Dutra proibiu os jogos de azar e fechou os cassinos em todo o país, mostrando a marca
de seu moralismo. Consta que a medida foi tomada atendendo aos apelos de sua esposa, católica fervorosa,
conhecida como dona Santinha, que atribuía ao marido a função de zelar pela moral e pelos bons costumes
do país. De uma hora para outra, cerca de 40 mil pessoas – entre músicos, garçons, crupiês e outros – ficaram
desempregadas.

HISTÓRIA
Com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), teve início um período marcado pela polari-
zação ideológica entre capitalismo e socialismo. As duas grandes potências, Estados Unidos e União
Soviética, passaram a disputar áreas de influência sobre diversos países, iniciando assim a Guerra Fria,
estudada em módulos anteriores. O Brasil governado pelo presidente Dutra foi marcado por esse con-
texto internacional.
O alinhamento do governo brasileiro aos Estados

REPRODUÇÃO/ARQUIVO TSE

Módulo 15
Unidos na Guerra Fria resultou em um grande movimen-
to anticomunista e, em maio de 1947, o Tribunal Supe-
rior Eleitoral (TSE) cassou o registro do PCB, alegando
que o partido servia aos interesses soviéticos no Bra-
sil, além de ser antidemocrático por estimular a luta de
classes no país. No ano seguinte, o Congresso Nacional
decidiu cassar o mandato de todos os parlamentares co-
munistas – incluindo o senador Luís Carlos Prestes, que
conquistara uma expressiva votação nas eleições legis-
lativas de 1945. O passo seguinte foi o rompimento das
relações diplomáticas com a União Soviética.
Esse alinhamento ao bloco capitalista mostrou-se
cada vez mais intenso nos anos seguintes. A assinatura do
Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar), no
Rio de Janeiro, em 1947, estabeleceu uma cooperação mi- Julgamento do Partido Comunista Brasileiro (PCB) na sede do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), Rio de Janeiro, 1946.
litar entre os 22 países americanos signatários e reforçou os
laços entre Brasil e Estados Unidos no cenário de bipolari-

AUTORIA DESCONHECIDA/ARQUIVO DA EDITORA


zação mundial. Em agosto de 1949, foi criada a Escola Su-
perior de Guerra (ESG), um centro de estudos responsável
por difundir a Doutrina de Segurança Nacional (DSN) e o
anticomunismo no país.
As medidas econômicas adotadas pelo governo Du-
tra romperam com o modelo intervencionista do Estado
Novo. Acreditava-se que o controle estatal na produção Dutra e o segundo governo Vargas

e no comércio atrapalhava o desenvolvimento do país, e


ainda se somava à inflação acumulada nos últimos anos da
Segunda Guerra Mundial. Assim, para o governo, medidas
liberais seriam necessárias, a fim de mudar os rumos da
economia brasileira.
Presidente Dutra em visita aos
Estados Unidos, ao lado do
presidente Truman, 1949.

237
A redução dos impostos de importação resultou em uma entrada desenfreada de artigos importados
no Brasil, provocando uma rápida evasão das divisas que o país havia acumulado durante a Segunda Guerra
Mundial por meio das exportações feitas naquela época. A penetração de produtos estrangeiros influenciou
também a cultura de massas no Brasil, por meio de histórias em quadrinhos, do cinema, da música, entre
outros. Os padrões de comportamento estadunidenses passaram a ser copiados pela sociedade brasileira.

COL. PARTICULAR/ARQUIVO DA EDITORA

COL. PARTICULAR/ARQUIVO DA EDITORA


Anúncios de alguns
dos produtos
estrangeiros que
entraram no país
nos primeiros anos
do governo Dutra.
THÉO/FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, RIO DE JANEIRO, RJ.

Diante dos desastrosos resultados obtidos com a polí-


tica de liberação de importações, o governo adotou algu-
mas medidas em 1947, entre elas um sistema de licenças
para importação. Dessa maneira, foram favorecidas as im-
portações de itens básicos para as indústrias, como má-
quinas e combustíveis, em detrimento da importação de
bens de consumo. Com a moeda brasileira ainda valorizada
em relação ao dólar, houve um desestímulo da exportação
de mercadorias em benefício da produção para o abaste-
cimento do mercado interno, o que começou a estimular
certo desenvolvimento da indústria nacional. Mais tarde,
em maio de 1950, o Plano Salte – sigla que definia as áreas
prioritárias para investimentos do governo (saúde, alimen-
tação, transportes e energia) – entrou em vigor. Esse plano
representou uma tentativa de reorganizar a economia e re-
tomar o crescimento, mas apresentou poucos resultados
efetivos.
O aumento da inflação e o congelamento de salários
agravaram sensivelmente as condições de vida dos trabalha-
Correa e Castro – O meu Judas eu o queimei na época da Semana Santa, dores brasileiros e provocaram manifestações e greves. O go-
mas os seus você poderá malhá-los durante o ano inteiro!, charge de verno reprimiu os sindicatos, proibiu greves e responsabilizou
Théo, publicada em 1947, que satiriza os problemas enfrentados pelo
governo Dutra: a inflação, o câmbio e o anticomunismo. os comunistas pelas agitações.

238
Em 1950, iniciou-se a corrida presidencial pela sucessão de Dutra. O PSD lançou a candidatura do pouco
conhecido Cristiano Machado, apoiado pelo presidente, enquanto a UDN tentava novamente eleger o bri-
gadeiro Eduardo Gomes, com apoio dos antigos integralistas. A chegada de Vargas à disputa, lançado pelo
PTB, abalou as esperanças dos outros candidatos.
Durante seu mandato de senador, Vargas viajou pelo Brasil, fomentando uma base eleitoral que se mos-
trou bastante eficaz no momento das eleições. Em sua campanha, teve como principais bandeiras a industria-
lização e a ampliação da legislação trabalhista, revivendo o trabalhismo construído no Estado Novo.
Carlos Lacerda, vereador carioca eleito pela UDN, ameaçou: “O sr. Getúlio Vargas, senador, não deve
ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado,
devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”. De nada adiantou, pois “o velhinho” voltou
ao Palácio do Catete.

HISTÓRIA
Valendo-se do apoio recebido principalmente dos trabalhadores urbanos – que identificavam Vargas
como grande responsável pela legislação trabalhista –, o ex-presidente obteve 48,7% dos votos, contra 29,6%
de Eduardo Gomes e 21,5% de Cristiano Machado. A UDN ainda tentou impedir a posse de Vargas, alegando
que ele não obtivera maioria absoluta dos votos – o que não era exigido pela Constituição –, mas não rece-
beu apoio dos oficiais superiores do Exército e o TSE rejeitou o recurso.

Módulo 15
Glossário
Trabalhismo: ideologia política centrada no
presidente e na sua imagem, construída com
a participação do Departamento de Impren-
sa e Propaganda (DIP) ao longo do Estado
Novo. Vargas teria envolvimento direto e
pessoal na valorização do trabalho, na demo-
cracia social e em todos os benefícios alcan-
çados pela classe trabalhadora.
NçSSARA/ARQUIVO DA EDITORA

Charge de Nássara sobre o retorno de Vargas à


política nacional, chamado de “velho” ou “velhinho”
pela mídia. A charge faz uma paródia com uma
música tocada no rádio naquele momento.

O governo Vargas (1951-1954)


Vargas assumiu seu lugar no Palácio do Catete em janeiro de 1951. Do ponto de vista econômico, seu
segundo governo caracterizou-se pela coadunação entre desenvolvimento industrial, nacionalismo, dirigismo
estatal e aproximação com o capital estrangeiro. A criação, em junho de 1952, do Banco Nacional de Desen-
volvimento Econômico (BNDE) tinha como objetivo elaborar análises de projetos e atuar como o braço do
governo na implementação das políticas consideradas fundamentais para o avanço da industrialização no país.
Adotando uma política conciliatória a fim de agradar aos partidos e aliados que apoiaram sua candida-
Dutra e o segundo governo Vargas
tura, formou um ministério com nomes conservadores, denominado por ele “Ministério da Experiência”, e a
maioria das pastas foi entregue a políticos do PSD. No Ministério da Guerra, nomeou o general Estillac Leal,
ligado à corrente nacionalista do Exército: de um lado estavam os militares que se intitulavam nacionalistas,
aqueles que defendiam o crescimento econômico baseado na industrialização, na interferência do Estado
em áreas estratégicas e no distanciamento ao alinhamento estadunidense – identificados como esquerdistas
pelos grupos de oposição; de outro, os democráticos – chamados “entreguistas” pelos opositores, defen-
diam uma menor intervenção estatal na economia, a gradual abertura da economia ao capital estrangeiro e
o total alinhamento ideológico e político com os Estados Unidos.

239
REPRODUÇÃO/ARQUIVO DA EDITORA

Os nacionalistas defendiam a neutralidade do Brasil na


Guerra da Coreia (1950-1953), apesar das pressões estaduniden-
ses para que o Brasil declarasse guerra à Coreia do Norte, ideia
apoiada pelos democráticos. Essa dualidade entre nacionalistas
e democráticos tomou conta da sociedade brasileira. As opi-
niões também se dividiam em relação à exploração do petróleo
e da energia elétrica.
O debate entre o modelo econômico a ser seguido mobili-
zou diversos segmentos da sociedade: parte dos militares e em-
presários defendia posições liberais; trabalhadores, estudantes
e intelectuais de esquerda defendiam o nacionalismo. Enquanto
os nacionalistas defendiam o monopólio estatal do petróleo, os
“entreguistas” eram favoráveis à participação do capital privado
na exploração desse recurso. A campanha pela nacionalização
da exploração do petróleo ganhou as ruas por meio do slogan
“O petróleo é nosso” e provocou intensa mobilização popular.
No dia 3 de outubro de 1953, Vargas assinou a lei que criou
a Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras), empresa de propriedade e
controle totalmente nacionais, com participação majoritária da
União, encarregada de explorar, em caráter monopolista, direta-
mente ou por subsidiárias, todas as etapas da indústria petrolí-
fera, exceto a distribuição.
Foi também em 1953 que Vargas realizou uma reforma minis-
terial, nomeando, entre outros, João Goulart para o Ministério do
Cartaz da campanha “O petróleo é nosso”, conduzida pelo Centro de
Estudos e Defesa do Petróleo e da Economia Nacional (CEDPEN). Trabalho, Indústria e Comércio. Jango, como era conhecido, era
A campanha difundia a nacionalização da exploração do petróleo. presidente nacional do PTB, amigo pessoal do presidente e ho-
mem de bom trânsito nos meios sindicais. A pasta da Fazenda foi
entregue a Osvaldo Aranha, político que esteve presente nas equipes de Vargas desde 1930. As mudanças minis-
teriais revelavam as prioridades do governo: combate à inflação – com um programa de estabilização elaborado
por Osvaldo Aranha – e maior aproximação com a classe trabalhadora, por meio da ação de João Goulart.

Inflação, oposição da imprensa e crise política


O aumento da inflação e a perda do poder de compra dos salários provocaram muitas greves no Brasil.
Enquanto o presidente Dutra agiu com extremo autoritarismo em relação às reivindicações sociais, proibindo
as greves e intervindo em vários sindicatos, durante o governo Vargas os trabalhadores organizaram diversas
manifestações, lutando por aumentos salariais e pela ampliação da legislação trabalhista.
Em janeiro de 1954, João Goulart propôs um aumento de 100% para o salário mínimo como forma de
repor as perdas salariais dos últimos anos. A proposta enfrentou forte reação do próprio ministro da Fazen-
da, pois este avaliou que as finanças públicas não iriam suportar tal reajuste, além de pressões da UDN e de
grupos oposicionistas pela saída de Jango, acusado de estimular a luta de classes no país.
Um grupo de 82 coronéis e tenentes-coronéis assinou um “Manifesto dos Coronéis”, ressaltando o ambiente
de instabilidade que dominava o país, as discrepâncias que a proposta de reajuste salarial poderia provocar – um
operário passaria a ganhar quase o mesmo valor que um oficial – e a deterioração moral do Exército. Vargas afas-
tou Jango do Ministério, mas no dia 1o de maio de 1954 concedeu o reajuste proposto aos trabalhadores.
Outro problema que Vargas enfrentou desde o primeiro dia de seu governo foi a oposição da imprensa
e dos meios de comunicação brasileiros. A lembrança da Constituição de 1937 outorgada pelo então ditador,
que suprimiu a liberdade de opinião e estabeleceu a censura, era ainda recente entre intelectuais e jornalistas.

240
Carlos Lacerda, proprietário do jornal Tribuna da Imprensa, e Assis Chateau-

ARQUIVO OESP/AGÊNCIA ESTADO


briand, proprietário dos Diários Associados, eram os principais jornalistas a fazer
graves acusações contra o presidente. Uma das denúncias revelou que o jornal
Última Hora, de propriedade do jornalista Samuel Wainer, fundado em junho de
1951, um dos poucos jornais que apoiavam o governo, havia recebido emprésti-
mos do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Instalou-se, então, uma
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar possíveis irregularidades.
Em abril de 1954, a imprensa publicou uma entrevista concedida pelo ex-mi-
nistro das Relações Exteriores – João Neves da Fontoura – em que ele acusava
Vargas de manter correspondência com Perón (presidente da Argentina) com o
objetivo de assinar um acordo político-econômico incluindo o Chile – o Pacto

HISTÓRIA
do ABC –, para estabelecer uma união aduaneira entre os três países capaz de
enfrentar as pressões econômicas feitas pelos Estados Unidos sobre a América
do Sul. A oposição ao governo passou, então, a acusar Vargas de pretender
implantar uma república sindicalista no país. As possíveis negociações entre Carlos Lacerda, um dos principais opositores de
Vargas e Perón serviram de base a um pedido de impeachment contra o pre- Vargas, discursando no interior do estado de São
Paulo, na década de 1950.
sidente, encaminhado ao Congresso em maio de 1954.

M—dulo 15
REPRODUÇÃO/ARQUIVO DA EDITORA
A situação agravou-se quando, no dia 5 de agosto de 1954, Carlos Lacerda foi
vítima de um atentado quando retornava para sua casa na rua Tonelero, em Co-
pacabana. Lacerda escapou da emboscada, mas o major da Aeronáutica, Rubens
Vaz, que fazia sua segurança, morreu no episódio. Lacerda acusou Vargas de ser o
mentor do atentado: “Perante Deus, acuso um só homem como responsável por
esse crime. Este homem chama-se Getúlio Vargas”.
Em poucas horas, a Polícia Civil conseguiu identificar o motorista do carro
que dera fuga ao pistoleiro. Este revelou que Climério de Almeida, membro da
guarda pessoal de Getúlio, estava envolvido no episódio. As pressões pela re-
núncia de Vargas ganharam força na imprensa e a Aeronáutica decidiu instaurar
um inquérito policial-militar (IPM) para investigar os fatos.
A “República do Galeão”, como ficou conhecido o inquérito sediado na
Base Aérea do Galeão, começou a revelar uma série de irregularidades e atos
criminosos cometidos por elementos ligados ao governo: Gregório Fortunato,
chefe da guarda pessoal do presidente, teria contratado o pistoleiro, além de
manter negócios ilícitos com um dos filhos do presidente. Era o “mar de lama
do Catete”, como noticiavam os jornais.
As Forças Armadas aliaram-se aos grupos oposicionistas que atuavam no
Congresso e começaram a articular o afastamento de Vargas. Em um docu-
mento que ficou conhecido como Manifesto dos Generais, 27 generais do
Getúlio Vargas e Gregório Fortunato, guarda-
Exército uniram-se à Marinha e à Aeronáutica e passaram a exigir a renúncia -costas do presidente conhecido como “Anjo
do presidente. Negro”.

Depois de afirmar que não renunciaria, Vargas convocou, no dia 23 de agosto, uma reunião ministerial para
Dutra e o segundo governo Vargas
discutir a crise que atingia seu governo. Ao final da reunião, Vargas aceitou se afastar do governo até que o
IPM fosse concluído. Após a reunião, o presidente retirou-se para seus aposentos no próprio Palácio do Catete.
Soube, então, que os generais não estavam dispostos a aceitar sua licença.
Na manhã de 24 de agosto, Getúlio Vargas disparou um tiro contra o próprio peito. Quando as emissoras de
rádio começaram a anunciar o suicídio do presidente, milhares de pessoas saíram às ruas para chorar a morte
do “pai dos pobres”. Calcula-se que 100 mil pessoas dirigiram-se ao Palácio do Catete para se despedir de
Vargas. Enquanto isso, jornais oposicionistas, como Tribuna da Imprensa e O Globo, eram empastelados, isto é,
tiveram suas sedes atacadas pela população enfurecida.

241
A revelação do conteúdo de uma carta datilografada, encontrada na mesinha de cabeceira junto à cama
do presidente, provocou grande comoção na população. Na sua despedida, Vargas apresentava-se como
um homem que sacrificou sua vida pela liberdade do Brasil e do povo brasileiro, como pode ser visto no
documento do boxe a seguir.

HISTÓRIA EM FOCO

A carta-testamento

Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam
sobre mim.
Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam
sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi,
o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos
e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e
instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campa-
nha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de
garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão
do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas
riquezas através da Petrobras e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobras
foi obstaculada até o desespero.
Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente. Assumi o Go-
verno dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estran-
geiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes
constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal
produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a
ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo
suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora
se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o
sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma so-
frendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta
por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu
sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue
será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio
respondo com o perdão.
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje
me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém.
Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra
a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as in-
fâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte.
Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar
na História.
Getúlio Vargas. A carta-testamento. Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1954.
Disponível em: <www0.rio.rj.gov.br/memorialgetuliovargas/conteudo/expo8.html>. Acesso em: 13 out. 2016.

242
O suicídio de Vargas foi o último lance de um
político habilidoso, que preferiu sacrificar a vida a ter
sua imagem manchada pela História, segundo suas
próprias palavras inscritas na carta-testamento. Como
escreveu o jornalista Lira Neto: “Em vez de significar
um gesto de fraqueza e covardia, a autoimolação de
Getúlio o tornava um mártir e, para o imaginário co-
letivo nacional, um símbolo heroico de resistência”.
Com seu ato extremo, Vargas evitou uma intervenção

CPDOC/FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, RIO DE JANEIRO, RJ.


militar que já estava sendo articulada e que contava

HISTÓRIA
com o apoio de lideranças civis, como o jornalista
Carlos Lacerda. Café Filho, vice-presidente, assumiu o
governo. A UDN viu a expectativa de assumir o poder
afastar-se de seus horizontes.

Módulo 15
Cortejo fúnebre de Vargas na praia de
Copacabana, no Rio de Janeiro.
Fotografia de 25 de agosto de 1954.

SITUAÇÃO-PROBLEMA

Leia os textos a seguir sobre o fim da Era Vargas. garçom, seu Manuel, íntimo da equipe de frequência obrigatória,
começou a cortar o pão e o queijo, enquanto puxava conversa:
Texto 1
— Pois quais são as novidades? O homem cai ou não?
Na madrugada insone de 24 de agosto de 1954, desci os de- Resumi o desfecho consumado. O presidente Getúlio Var-
graus de madeira gasta da velha escadaria barulhenta do falecido gas estava no chão, deposto pelos militares. No Palácio do Ca-
Diário de Notícias – então vivíssimo, no pico do prestígio e da au- tete ultimava-se a redação da nota oficial confirmando a renún-
toridade –, e com meia dúzia de passos refiz o trajeto até o bote- cia negociada, sob imposição dos generais rebelados.
quim da esquina da praça Tiradentes com a rua da Constituição. A nova alvoroçou seu Manuel. Em altos brados, repassou-a
Naquela hora tardia, com as primeiras claridades da au- à freguesia de desocupados, prostitutas, gigolôs, vagabundos,
rora espantando o negrume noturno, o boteco cochilava, com marginais.
poucos fregueses renitentes espalhados pelas mesinhas de Pois o boteco ganhou vida, despertou do cansaço, da fome
manchas venerandas, esticando a conversa vadia e engolin- e do álcool para a comemoração ruidosa, aos vivas, molhada
do as últimas doses. O local e a hora permitem recompor o pela farta distribuição de cachaça. Generoso, seu Manuel não
Dutra e o segundo governo Vargas
cenário e resgatar o ambiente. A praça enfeitada pela estátua cobrou os sanduíches.
equestre de Pedro I purgava a justa fama de valhacouto da Voltei à redação ruminando aquele flagrante da volubilidade
vadiagem, com a peculiaridade de polo de atração dos homos- da opinião pública. O velho Vargas estava acabado, impopular,
sexuais de fim de linha. E de toda a fauna da sarjeta, de men- no bagaço.
digos às sobras do vício eclético, dos gigolôs às prostitutas do Narrei o episódio ao Odylo Costa, filho, chefe da seção polí-
trottoir expelido do Mangue. tica, ao Heráclio Salles, ao Osório Borba, ao Vanderlino Nunes.
Encostei-me no balcão e encomendei sanduíches para en- Decidimos não registrá-lo na edição que anunciaria a virtual de-
ganar a fome da longa e tensa virada da editoria política. Dono e posição de Vargas: não era hora de tripudiar sobre o vencido.

243
Deixei a redação pela manhã, por volta das 6 horas, para o Texto 2
segundo turno no O Dia, então instalado num sobradão da rua
Marechal Floriano, quase esquina da rua Uruguaiana. No meio Excelentíssimo cadáver
da caminhada a notícia do suicídio de Getúlio Vargas estron- [...] No dia 24 de agosto de 1954, horas depois do disparo
dou pela voz poderosa de Heron Domingues, depois do prefixo com o qual Getúlio Vargas selou sua vida, a capital da República
dos estridentes metais do Repórter Esso. tornou-se palco de intensas agitações por conta do suicídio do
presidente. Muitas pessoas, ao saberem da morte de Vargas, fo-

ARQUIVO JORNAL DO BRASIL/CPDOC JB


ram imediatamente ao Palácio do Catete, onde permaneceram
horas em busca da oportunidade de ver o corpo. As ruas do Rio
de Janeiro próximas à sede do governo também foram tomadas
por populares desde cedo. À tarde ocorreram distúrbios mais vio-
lentos, quando centenas de pessoas, armadas com pedaços de
madeira e dando vivas ao presidente morto, percorreram as ruas
da cidade rasgando cartazes de propaganda dos candidatos an-
tigetulistas. Grupos da Polícia, do Exército e da Aeronáutica fo-
ram chamados para conter a população, mas, ainda assim, houve
a depredação de edifícios, como o da Esso, além das ameaças
que pairaram sobre a sede do jornal Tribuna da Imprensa, da
Rádio Globo e da Embaixada Americana. Na praia do Flamengo,
quando a notícia da morte de Vargas foi veiculada pelo rádio,
carros particulares, táxis e coletivos pararam em plena avenida
e seus passageiros, estupefatos, se dirigiram aos passageiros de
outros carros em busca de informações, como se não quisessem
dar crédito ao que ouviam nos rádios. Outras capitais, como São
Paulo, Belo Horizonte e Recife, também foram focos de agita-
ções. As mais graves ocorrências foram verificadas em Porto Ale-
Manifestação popular em pesar pela morte de Getúlio
Vargas. Rio de Janeiro, 1954. gre, quando a população incendiou dois jornais e uma emissora
E vi a cidade virar. Nunca assistira à cena igual. O ar de de rádio identificados como de oposição ao governo Vargas.
festa, o clima de desafogo que percebia nos pedaços de con-
ARQUIVO UH/ARQUIVO PòBLICO DO ESTADO DE SÌO PAULO, SP.

versa afinada pelo tom de repulsa do “já vai tarde”, incendia-


do pela chispa da tragédia, transformou-se instantaneamente.
Estaquei na avenida Passos, siderado pela cena patética: uma
senhora, preta e de idade indefinida, parecia trespassada pela
notícia trombeteada pelo rádio e que juntava gente aturdida à
porta de uma loja. Esbugalhou os olhos, estufou como se fosse
arrebentar e estourou num desespero que uivava e berrava os
mais terríveis xingamentos bíblicos e prometia implacável vin-
gança popular.
Não era louca. Mas a profeta da turbulência que se espa-
lhou pelo Rio, aos gritos de punição aos assassinos, com a fúria
indiscriminada de grupos que carpia suas lamentações em ui-
vos de ódio contra tudo e todos, os mesmos que aplaudira até
então. A cidade ardeu em incêndios, desatinou-se no quebra-
-quebra e na pilhagem, até que se exauriu o ímpeto da desforra.
Primeira página
Só então a multidão encontrou-se para chorar o suicida que do jornal Última
Hora de 24 de
aplicara seu derradeiro golpe político. Um golpe de mestre. agosto de 1954,
Villas-Bôas Corrêa. Eu vi. In: GOMES, Ângela de Castro (Org.). noticiando
Vargas e a crise dos anos 50. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994. p. 15-6. Disponível em: a morte de
<http://cpdoc.fgv.br/producao_intelectual/arq/165.pdf>. Acesso em: 13 out. 2016. Getúlio Vargas.

244
Estatísticas de órgãos de imprensa getulistas, como o jor- Reconhecido como “pai dos pobres”, Getúlio Vargas
nal Última Hora, calcularam em um milhão de pessoas a mul- conseguiu garantir a manutenção de uma memória que o
tidão que teria passado pelas imediações do Palácio do Catete identifica como um defensor dos trabalhadores brasileiros.
no dia 25. Dali saiu um enorme cortejo fúnebre em direção ao Vargas tirou a própria vida para não se submeter à sua reti-
Aeroporto Santos Dumont. Já a revista Manchete descreveria o
rada do poder por um golpe civil-militar e para evitar uma
acontecimento como “uma das maiores manifestações popula-
execração popular.
res jamais verificadas no Brasil”. As fotografias do período dão
conta de uma enorme multidão a percorrer o trajeto em direção Em sua opinião, como a carta-testamento contribuiu
ao aeroporto, a partir do qual o corpo de Getúlio Vargas seguiu para o estabelecimento dessa memória? Qual o significado
para o sepultamento em São Borja, sua cidade natal. [...] político da morte de Vargas? Por que sua herança política é
MARCELINO, Douglas Attila. Excelentíssimo cadáver. In: Revista de História da Biblioteca ainda tão importante no Brasil? Discuta essas questões com

HISTÓRIA
Nacional, 9 set. 2007. Disponível em: <www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/
excelentissimo-cadaver>. Acesso em: 13 out. 2016. o professor e com os colegas.

PARA CONCLUIR

M—dulo 15
Depois de uma longa ditadura (1937-1945), o Brasil viveu um processo de redemocratização ini-
ciado no fim do Estado Novo. A realização de eleições diretas para presidente e para uma Assem-
bleia Nacional Constituinte foi um passo importante desse processo.
A nova Constituição brasileira, promulgada em setembro de 1946, tratava de assegurar a pleni-
tude do regime democrático, garantindo liberdade de expressão e associação, eleições diretas
para todos os cargos do Executivo e do Legislativo, direitos trabalhistas, entre outros pontos.
Em janeiro de 1946, Dutra assumiu a Presidência. Por trás dos milhares de votos recebidos por ele,
pairava a sombra do ex-ditador Getúlio Vargas.
O governo Dutra (1946-1951) foi marcado pela radicalização política dos tempos da Guerra Fria.
O presidente aliou-se aos Estados Unidos da América, pautou seu governo pelo anticomunismo
e pelo conservadorismo político, e adotou medidas econômicas liberais.
Rompido com Dutra desde o primeiro ano de seu governo, Getúlio Vargas lançou-se candidato
à Presidência da República em 1950. Obteve uma expressiva vitória eleitoral e voltou ao Palácio
do Catete.
Desde o início de seu mandato, Vargas enfrentou dura oposição da UDN e de setores das Forças
Armadas, desconfiados de sua associação com as classes trabalhadoras. Defendendo a emanci-
pação do Brasil em relação ao capital estrangeiro, Getúlio adotou uma política econômica nacio-
nalista e desenvolvimentista, criando o BNDE e a Petrobras.
A tentativa de assassinato do jornalista Carlos Lacerda, em agosto de 1954, provocou enorme
turbulência no governo. As investigações revelaram que figuras próximas a Vargas estavam envol-
vidas em graves irregularidades. As pressões pela renúncia do presidente aumentaram. Dutra e o segundo governo Vargas
Em uma última tentativa de salvar sua memória, Getúlio Vargas disparou, na manhã do dia 24 de
agosto de 1954, um tiro contra o próprio peito. Deixou uma carta-testamento, endereçada ao
povo brasileiro, em que explicava as pressões que vinha sofrendo como obra daqueles que não
admitiam sua posição em defesa dos interesses nacionais e da população.
A morte de Vargas provocou enorme comoção nacional e adiou em dez anos um golpe civil-mili-
tar que vinha sendo articulado para afastá-lo do governo.

245
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das questões sinalizadas com asterisco.

PRATICANDO O APRENDIZADO

1. (FGV-RJ) Leia o fragmento a seguir, extraído de um ar- O apelido de “pai dos pobres”, dado a Getúlio Vargas,
tigo do jornalista Carlos Lacerda, publicado no jornal pode ser associado:
Tribuna da Imprensa, em junho de 1950. a) ao autoritarismo do presidente diante dos movimen-
tos sociais, manifesto na repressão às associações de
O Sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à
operários e camponeses.
Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve
tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para b) aos esforços de negociação com a oposição, com a
impedi-lo de governar. decorrente distribuição de cargos administrativos e
funções políticas.
A partir do fragmento, assinale a alternativa que apresen- c) ao caráter popular do regime, originário de uma re-
ta a interpretação correta do discurso de Carlos Lacerda. volução social e empenhado no combate à burguesia
a) Marca o rompimento público com o trabalhismo, de- industrial brasileira.
vido aos planos ditatoriais de Vargas. d) à política de concessões desenvolvida junto a sin-
b) Reflete a posição dos setores liberais contrários à apro- dicatos, como contrapartida do apoio político dos
ximação do Brasil com os países do Leste europeu. trabalhadores.
c) Denuncia Vargas, que pretendia modificar a constitui- e) à supressão de legislação trabalhista no país, que
ção para se candidatar à Presidência da República. obrigava o governo a agir de forma assistencialista.
d) Representa o posicionamento político de setores
contrários ao trabalhismo. 3. (Uece – Adaptada) Assinale a opção que apresenta somen-
e) Mostra a defesa intransigente do processo eleitoral te características do segundo Governo Vargas (1951-1954).
contra as ameaças ao sistema democrático. a) Apoio sistemático ao Partido Comunista Brasileiro –
PCB; controle da inflação; proibição da entrada de
2. (Vunesp-SP) Examine a charge do cartunista Théo, publi- capital estrangeiro no País.
cada na revista Careta em 27.12.1952. b) Crescente instabilidade política; aumento do custo
de vida; sistemática oposição da União Democrática
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, RIO DE JANEIRO, RJ.

Nacional – UDN.
c) Defesa inconteste dos interesses populares; estabili-
dade política; amplo desenvolvimento econômico.
d) Controle da inflação; apoio do Partido Comunista
Brasileiro – PCB; oposição sistemática do Partido Tra-
balhista Brasileiro – PTB – ao governo.
e) Estabilidade política – apoio dos trabalhadores brasi-
leiros – crescimento econômico.

4. (PUC-SP – Adaptada)

Os efeitos políticos do suicídio de Getúlio Vargas (1882-


-1954), que hoje completa 60 anos, já se dissiparam há
muito tempo, mas o ato continua a reverberar pela singu-
laridade. Num homem tão racional e metódico, mesmo os
“Você é que é feliz”... lances da paixão foram comedidos pelo cálculo. Psicologia
Getúlio: – Ser pai dos pobres dá mais trabalho do
que ser Papai Noel! Você só se amofina no Natal: à parte, o extraordinário nesse suicídio é seu alcance polí-
a mim eles chateiam o ano inteiro! tico – num derradeiro passe de mágica o velho prestidigita-

246
dor inverte a maré, derrota os inimigos quando mal haviam c) apesar de o Partido Comunista encontrar-se na ile-
aberto o champanhe e se consagra na memória popular, galidade a partir de 1947, esse agrupamento político
comandando seu vasto eleitorado por algumas décadas des- foi decisivo na luta pela criação de uma empresa que
de o além-túmulo. explorasse o petróleo nacional, em contraposição aos
Otavio Frias Filho. “Mil disfarces de Getúlio Vargas convergem partidos nacionalistas, como a UDN, a qual defendia
num gesto de coerência”, in Folha de S.Paulo, 24.08.2014. Adaptado.
a criação de uma empresa pública, com a possibilida-
O suicídio de Getúlio Vargas, em agosto de 1954, foi de da presença de capitais estrangeiros e associada
provocado, entre outros fatores, às grandes empresas petrolíferas, principalmente as
estadunidenses.
a) pela campanha contrária a seu governo unanimemen-
d) a Constituição de 1946 preconizava a criação de uma
te desenvolvida pela imprensa escrita, pela dificulda-
empresa pública de capital nacional para a exploração

HISTÓRIA
de de articular uma candidatura de sucessão e pelas
de todos os recursos naturais, inclusive o petróleo, mas
recentes derrotas eleitorais de seu partido político.
a ação do governo Dutra protelou essa decisão, caben-
b) pela perda do apoio do operariado, pela oposição do ao governo Vargas, após forte pressão da UDN e do
dos sindicatos e das centrais operárias e pela insatis- PSD, decretar a criação de uma empresa estatal de pe-
fação popular com a criação da legislação trabalhista. tróleo, mas com permissão para a presença do capital
c) pelas dificuldades políticas e econômicas enfrentadas estrangeiro nas atividades de maior risco.

Módulo 15
durante o mandato, pela forte oposição parlamentar e) a ideia de uma empresa estatal para a exploração
e pela crise provocada pelo atentado contra um de do subsolo brasileiro nasceu ainda durante o Estado
seus adversários políticos. Novo, mas não pôde ser concretizada em virtude da
d) pela reação popular a seu governo ditatorial, pelas posição governamental de apoio ao desenvolvimen-
pressões internacionais pela redemocratização e pela to agrícola; entretanto, no pós-Segunda Guerra, com
perda do apoio político da burguesia nacionalista. o importante apoio político e financeiro dos Estados
e) pelas reações contrárias a seu projeto de abertura do Unidos, foi criada uma empresa estatal com o mono-
país ao capital estrangeiro, pelo aumento significativo pólio da exploração do petróleo, excetuando-se a
pesquisa de novos campos.
da dívida externa e pela crise com os setores militares
após o chamado Comício da Central. 6. (CN-RJ) Em 1945, Getúlio Vargas foi deposto, encerran-
do o Estado Novo. Foram convocadas eleições gerais e o
5. (FGV-SP) Em 3 de outubro de 1953, o presidente Getúlio general Eurico Gaspar Dutra foi eleito presidente da Re-
Vargas sancionou a Lei no 2 004, que criava a Petrobras. pública e empossado em janeiro de 1946.
Sobre o processo de criação dessa empresa, é correto Sobre a economia no governo Dutra, é correto afirmar que:
afirmar que a) o presidente Dutra deu prosseguimento à política de
a) as fortes rivalidades entre os principais partidos bra- seu antecessor, estabelecendo o pleno controle esta-
sileiros da etapa pós-Estado Novo, PSD, PTB e UDN, tal na economia e, ao final de seu governo, lançou a
não prevaleceram no debate de constituição de uma campanha “O petróleo é nosso”.
empresa nacional destinada à exploração petrolífera, b) com a implementação do Plano Salte, foi feita a pa-
porque todos concordavam com a necessidade de vimentação da rodovia Rio-São Paulo e foram criadas
uma empresa estatal e monopolizadora, ainda que a a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Compa-
UDN não apoiasse o endividamento externo para ga- nhia Vale do Rio Doce.
rantir as primeiras ações da nova empresa. c) o presidente Dutra propôs o Salte, um plano econô-
Dutra e o segundo governo Vargas
b) as suas origens remontam à década de 1940, com a mico desenvolvimentista que priorizava investimentos
campanha do petróleo, e avançou muito com o envio, nas áreas da Saúde, Alimentação, Transporte e Ener-
por Vargas, em janeiro de 1951, de um projeto de lei gia, que seria controlado exclusivamente por empre-
para a criação da Petróleo Brasileiro S.A., aprovada sas americanas.
como uma empresa de propriedade e controle total- d) o governo Dutra, inicialmente, seguiu um modelo
mente nacionais, encarregada de explorar, em caráter antiliberal, todavia, com o começo da Guerra Fria, as
monopolista, todas as etapas da indústria petrolífera, pressões americanas fizeram com que houvesse uma
exceto a distribuição de derivados. mudança de orientação nessa política.

247
e) com a política de abertura aos produtos estrangeiros, o 9. (UFF-RJ)
governo acabou facilitando as importações de produ-
Visto que, de fato, a Constituição de 1946 estabeleceu nor-
tos supérfluos, como brinquedos, e consumindo grande
mas e medidas para a instalação de uma estrutura democráti-
parte das reservas em moeda estrangeira acumuladas.
ca no país, dando ensejo a uma abertura do processo político
nos dezoito anos subsequentes, ao observador mais descuida-
7. (IFCE) Após a renúncia de Getúlio Vargas, em 1945, o
do a redemocratização pode parecer mais radical do que na
primeiro governo eleito é do general Eurico Gaspar Du-
realidade o foi.
tra. Sobre seu governo, é correto afirmar-se que: SOUZA, Maria do Carmo Campello de. Estado e Partidos Políticos
no Brasil (1930-1964). São Paulo: Alfa-Omega, 1976, p. 105.
a) definiu o Brasil nos planos da política externa, como
aliado cubano. Com base nas afirmações contidas no texto, é possível
b) adotou princípios do liberalismo como base da políti- afirmar que:
ca econômica brasileira. a) a redemocratização iniciada em 1945 perdeu sua radi-
c) proibiu a entrada de capitais estrangeiros no país. calidade por ter sido apenas um ritual político, vazio
d) privilegiou uma economia estatal no desenvolvimen- de efetivos partidos.
to econômico. b) a redemocratização de 1945 só pôde existir em fun-
e) permitiu a atuação do partido comunista brasileiro. ção da criação de três novos grandes partidos polí-
ticos, totalmente independentes de vínculos com o
8. (UFRGS-RS) Observe a charge abaixo. Estado Novo: o PSD, a UDN e o PTB.
c) o retorno do pluripartidarismo e de eleições diretas
foi superposto à estrutura herdada do Estado Novo,
marcada pelo sindicalismo corporativista e pelo siste-
ma de interventorias.
d) a redemocratização não foi radical devido à prepon-
derância que teve, junto a ela, a União Democrática
Nacional (UDN), partido formado com o beneplácito
NçSSARA/ARQUIVO DA EDITORA

de Vargas.
e) a hipertrofia do Poder Legislativo foi uma das conse-
quências da redemocratização.

10. (Ibmec-SP)
No pós-guerra, o entendimento do nacionalismo é extrema-
mente complicado pela avaliação de seus sentidos no momento
FAUSTO, Bóris. Getulio Vargas: o poder e o sorriso. de acelerada mudança histórica. Os Aliados derrotaram exata-
São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
mente os nacionalismos racistas e imperialistas do nazifascismo.
Esta charge, inspirada em uma marcha de carnaval inter- O termo é marcado, conota práticas desumanas derrotadas pela
pretada por Francisco Alves, faz referência: civilização [...]. Contudo, é também no imediato pós-guerra, que
a) à ascensão de Getúlio Vargas ao poder, após o golpe o termo reaparece referindo-se à descolonização, às novas na-
do Estado Novo. cionalidades e às práticas defensivas de economias fragilizadas.
Trecho retirado de Guimarães, César. Vargas e Kubitschek: a longa
b) ao término do Estado Novo com a destituição de Ge- distância entre a Petrobras e Brasília. In: República no Catete.
Rio de Janeiro: Museu da República, 2001, pág. 160.
túlio Vargas.
c) à volta de Getúlio Vargas ao poder, após o governo No Brasil, o tema apresentado pelo texto foi caracterizado:
de Eurico Dutra. a) Pelas discussões entre os integralistas e a Aliança Na-
d) à eleição de Getúlio Vargas como governador do Rio cional Libertadora, cujos resultados foram favoráveis
Grande do Sul, após a redemocratização. a Vargas, notadamente simpático ao fascismo.
e) à reeleição de Getúlio Vargas como presidente, após b) Pelo estímulo às revoltas nacionalistas e separatistas
o governo JK. que ocorreram durante a década de 50, todas elas

248
influenciadas pelo movimento de autodeterminação d) Pelo embate entre dois projetos de desenvolvimento,
dos povos. sendo um deles defensor da entrada de capitais es-
c) Pela entrada maciça de investimentos estrangeiros trangeiros e outro, do intervencionismo do Estado.
voltados à promoção da agricultura do café, estimu- e) Pelos enfrentamentos entre os comunistas, favoráveis à
lando a defesa do preço do produto pela interven- criação da Petrobras, e os nacionalistas, contrários à nova
ção estatal. estatal criada durante o governo de Getúlio Vargas.

DESENVOLVENDO HABILIDADES

HISTÓRIA
1. (FGV-SP) Leia esta notícia veiculada pela imprensa em 13 e) A cassação levou ao fim do PCB e à fundação do
C3 de agosto de 2013. PC do B, que teve seus direitos imediatamente reco-
H15
nhecidos, e à formação de diversos outros pequenos
A Câmara dos Deputados devolveu hoje, simbolicamente, o partidos, que se dedicaram à luta armada.

Módulo 15
mandato parlamentar a 14 deputados, do antigo Partido Co-
munista Brasileiro (PCB), que foram cassados em 1948. Os 2. (Cefet-MG)
mandatos foram cassados pelo então Superior Tribunal Elei- C4
H18
toral (STE), que cancelou o registro do partido em 7 de maio Senhores Membros do Congresso Nacional:
de 1947, quase três anos após os deputados terem sido eleitos. Tenho a honra de submeter à consideração de Vossas Exce-
No início da sessão, o presidente da Câmara, deputado lências o anexo projeto de lei destinado a criar a sociedade por
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), prestou sua homena- ações Petróleo Brasileiro S.A., para levar a efeito a pesquisa,
gem aos deputados cassados. “Hoje, ao prestar esta home- a extração, o refino, o transporte de petróleo e seus derivados,
nagem, resgatamos a dignidade do Parlamento brasileiro frente bem como quaisquer atividades correlatas ou afins [...].
a um episódio que fez o partido sangrar e deixou importante Mensagem do Presidente Getúlio Vargas ao Congresso Nacional,
em 08 dez. 1951. Apud: ALENCAR, Chico et al. História da
parcela da população sem representação política”, disse. Sociedade Brasileira. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1996. p. 391.
http://www.ebc.com.br/noticias/politica/2013/08/camara-devolve-
simbolicamente-mandato-a-14-deputados-do-pcb-cassados-em. Esta mensagem expressa o(a):
Acesso em 02 de setembro de 2013.
a) objetivo do governo em implementar uma política
Com base nessa notícia, é correto afirmar: econômica nacionalista para o país.
a) A cassação dos parlamentares ocorreu devido à des- b) busca de adesão parlamentar para a política governa-
coberta de um projeto de tomada do poder pelo mental de privatização de estatais.
PCB, que teria como base a formação de uma guerri- c) desejo do presidente em ampliar o poder aquisitivo
lha rural estabelecida no interior do Brasil. da população brasileira de baixa renda.
b) A cassação dos parlamentares revela os limites da d) compromisso do governo com o processo de desa-
democracia brasileira entre 1945 e 1964, impedindo propriação de terras improdutivas no país.
a livre organização partidária no país, no contexto da
e) necessidade de obter o apoio do capital monopolista
Guerra Fria.
internacional aos projetos governamentais.
Dutra e o segundo governo Vargas
c) A cassação dos parlamentares ocorreu devido à de-
núncia do deputado comunista Jorge Amado de que 3. (IFSP)
o PCB havia conspirado com Getúlio Vargas visando à C3 Pedreiro Valdemar
H15
manutenção do Estado Novo.
d) A cassação interrompeu uma longa jornada de funcio- Você conhece o pedreiro Valdemar?
namento legal do PCB, iniciada em 1922, quando da Não conhece
sua fundação, e interrompida, pela primeira vez, em Mas eu vou lhe apresentar
1947. De madrugada toma o trem da circular

249
Faz tanta casa e não tem casa pra morar c) construção de um pacto entre o governo e a oposição
Leva a marmita embrulhada no jornal visando fortalecer a Petrobras.
Se tem almoço, nem sempre tem jantar d) iminência de um golpe protagonizado pelo Partido
O Valdemar, que é mestre no ofício Comunista Brasileiro (PCB).
Constrói um edifício e depois não pode entrar e) pressão dos militares contra o monopólio estatal so-
bre a exploração e a comercialização do petróleo.
O samba Pedreiro Waldemar, composto por Wilson Ba-
tista e Roberto Martins, em 1946,
5. (Cefet-MG) Analise o quadro seguinte.
a) livre da censura do Estado Novo, aponta para a luta C4
H18
de classes, denunciando o intenso grau de explo-
Distribuição setorial do PIB brasileiro, 1910-1950 (%)
ração a que estavam submetidos os trabalhadores
Ano Agricultura Indústria Serviços*
brasileiros.
1910 35,8 14,0 50,2
b) devido às imposições do Estado Novo, realiza uma
exaltação ao trabalho e ressalta o valor do trabalha- 1920 32,0 17,1 50,9

dor brasileiro. 1930 30,6 16,5 52,9

c) faz parte da propaganda ufanista desenvolvida ao 1940 25,0 20,8 54,2


longo da ditadura militar, que exaltava as realizações 1950 24,3 24,1 51,6
do povo brasileiro. *Inclui governo.

d) ia na contramão do discurso oficial da época e exalta- Fonte: HADDAD, C. Crescimento do produto real. Brasil 1900-1947.
Rio de Janeiro: FGV (1978) e IBGE (1990). Estatísticas Históricas
va o trabalho, visto pelos compositores como o único do Brasil apud Abreu, M. e Vernes, D. (1997, p. 26).
meio de ascensão social para as pessoas de classe
baixa. Sobre a distribuição setorial do PIB brasileiro nos primei-
e) denunciava as formas de trabalho escravo que persis- ros 50 anos do século XX, é correto afirmar que a:
tiam no Brasil logo após a aprovação da Lei Áurea. a) indústria passou a ser o setor econômico prepon-
derante.
4. ENEM b) agricultura deixou de ser um setor econômico ex-
C1
H2
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de pressivo.
domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros in- c) produção industrial passou por um lento processo de
ternacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o incremento.
trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social.
d) produção de bens de capital é hegemônica na econo-
Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. [...]
mia do período.
Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas
riquezas através da Petrobras, mal começa esta a funcionar, a e) expansão do setor de serviços seguiu o mesmo ritmo
onda de agitação se avoluma. da industrialização.
VARGAS, Getúlio. Carta-Testamento, Rio de Janeiro, 23/08/1954 (fragmento).
Disponível em: <www.rio.rj.gov.br/memorialgetuliovargas/>. Acesso em: 26 jun. 2009.
6. ENEM

O contexto político tratado refere-se a um significativo C1


H1 Texto I
período da história do Brasil, o 2o Governo de Vargas
(1951-1954), que foi marcado pelo aumento da infiltra- A bandeira no estádio é um estandarte/A flâmula pendura-
ção do Partido Comunista Brasileiro (PCB) nos sindicatos da na parede do quarto/ O distintivo na camisa do uniforme/
e pelo distanciamento entre Getúlio e os militares que o Que coisa linda é uma partida de futebol/ Posso morrer pelo
haviam apoiado durante o Estado Novo. O conteúdo da meu time/ Se ele perder, que dor, imenso crime/ Posso chorar
carta-testamento de Getúlio aponta para a: se ele não ganhar/ Mas se ele ganha, não adianta/ Não há gar-
a) existência de um conflito ideológico entre as forças ganta que não pare de berrar/ A chuteira veste o pé descalço/
nacionais e a pressão do capital internacional. O tapete da realeza é verde/ Olhando para a bola eu vejo o sol/
Está rolando agora, é uma partida de futebol
b) tendência de instalação de um governo com o apoio
SKANK. Uma partida de futebol. Disponível em:
do povo e sob a égide das privatizações. www.letras.terra.com.br. Acesso em: 27 abr. 2010 (fragmento).

250
Texto II 8. Leia o texto a seguir e responda.
C2
H7
O “gostar de futebol” no Brasil existe fora das consciências O governo brasileiro, no pós-guerra, cortejou os Estados
individuais dos brasileiros. O gosto ou a paixão por um deter- Unidos, esperando que sua postura durante a Segunda Guer-
minado esporte não existe naturalmente em nosso “sangue”, ra Mundial, enviando tropas à Itália – em contraste com a
como supõe o senso comum. Ele existe na coletividade, em posição de simpatia de outros governos latino-americanos,
nosso meio social, que nos transmite esse sentimento da mes- em particular o da Argentina – rendesse apoio financeiro ao
ma forma que a escola nos ensina a ler e a escrever. reequipamento da economia. Nesse quadro, o governo Du-
HELAL, R. O que é Sociologia do Esporte? São Paulo: Brasiliense, 1990. tra moveu-se para a direita, em linha com o agravamento da
Guerra Fria, com a ruptura de relações com a URSS e a deci-
Chamado de ópio do povo por uns, paixão nacional por
são de tornar ilegal o Partido Comunista.
outros, o futebol, além de esporte mais praticado no

HISTÓRIA
ABREU, Marcelo de Paiva. O processo econômico. In: História do Brasil Nação:
Brasil, pode ser considerado fato social, culturalmente olhando para dentro. Rio de Janeiro, Objetiva, 2013. p. 204.

apreendido, seja por seus praticantes, seja pelos torce-


A respeito do governo do presidente Eurico Gaspar Du-
dores. Nesse sentido, as fontes acima apresentam ideias
tra (1946-1951), o texto revela que:
semelhantes, pois o:
a) a Guerra Fria interferiu na decisão do presidente de
a) futebol aparece como elemento integrante da cultura
enviar tropas para lutar na Itália durante a Segunda
brasileira.

M—dulo 15
Guerra Mundial.
b) lazer aparece em ambos como a principal função so-
b) o rompimento de relações com a URSS inviabilizou a
cial do futebol.
recuperação econômica do Brasil.
c) “tapete verde” e a “bola-sol” são metáforas do na-
c) a aproximação com os EUA no cenário da Guerra Fria
cionalismo.
resultou no rompimento de relações com a URSS e a
d) esporte é visto como instrumento de divulgação de cassação do registro do Partido Comunista.
valores sociais.
d) a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial
e) futebol é visto como um instante de supressão da de- garantiu apoio incondicional do governo dos EUA no
sigualdade social. pós-guerra.
e) a Segunda Guerra Mundial contribuiu para o fortaleci-
7. Observe a charge a seguir e responda.
mento da economia brasileira, que pôde então pres-
C1
H1 cindir do apoio financeiro dos EUA.

9. Leia os textos a seguir e responda.


C1
NçSSARA/ARQUIVO DA EDITORA

H2
Com muito bom humor, essa marchinha, cantada no carna-
val de 1954, dava a receita para resolver os problemas brasilei-
ros, que se avolumaram nos últimos anos do segundo governo
de Getúlio Vargas – meses mais tarde, em agosto, o presidente
se mataria em meio a uma gravíssima crise política e institu-
cional. A fórmula apresentada pelos sambistas era simples:
enxugar o Estado e fazer doutores e funcionários públicos pe-
A charge do presidente Dutra (1946-1951), feita por Nás-
gar no cabo da enxada.
sara, revela uma característica de seu governo:
MARTINS, Franklin. Quem foi que inventou o Brasil? A música popular conta a Dutra e o segundo governo Vargas
a) eleito pela UDN, Dutra afastou qualquer possibilidade história da República – 1902-1964. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. Volume I.

de diálogo com o PSD.


b) eleito pelo PSD-PTB, Dutra buscou aproximar-se tam- Se eu fosse Getœlio
bém da UDN. O Brasil tem muito doutor,
c) Dutra procurou manter-se acima dos partidos políticos. Muito funcionário, muita professora,
d) Dutra baseou-se apenas no apoio do PSD. Se eu fosse o Getúlio,
e) Dutra rompeu com o PSD. Mandava metade dessa gente pra lavoura. 

251
Mandava muita loura avenida com o samba O grande presidente, de Osvaldo
Plantar cenoura Vitalino de Souza. Leia um trecho da letra a seguir e as-
E muito bonitão sinale a alternativa correta:
Plantar feijão Salve o estadista, idealista e realizador
E essa turma da mamata, Getúlio Vargas
Eu mandava plantar batata. O grande presidente de valor
Roberto Roberti e Arlindo Marques Jr., 1954.

Ele foi eleito deputado 


Segundo a interpretação de Franklin Martins e a leitura
Para defender as causas do País
da música transcrita, podemos considerar que:
E na Revolução de 30
a) nos últimos anos do segundo governo Vargas, muitos
Ele aqui chegava
funcionários públicos foram transferidos para o cam-
Como substituto de Washington Luís
po, a fim de estimular a economia nacional.
E do ano de 1930 pra cá
b) não havia alternativas para a crise econômica brasilei-
Foi ele o presidente mais popular [...]
ra, fundamentada no contraste entre o pequeno nú-
mero de lavradores e o grande número de doutores. a) a composição enfatiza o suicídio do presidente Var-
c) a falta de mão de obra qualificada era um dos proble- gas e sua carta-testamento.
mas enfrentados pelo presidente Vargas. b) a composição ressalta o caráter nacionalista das rea-
lizações do presidente Vargas, como a construção da
d) os problemas econômicos do país poderiam ser resol-
Usina Siderúrgica Nacional e a extração do petróleo.
vidos se o número de funcionários públicos diminuísse
e aumentasse o número de trabalhadores rurais. c) a composição limita-se a analisar o período em que
Vargas foi deputado federal.
e) a ausência de um plano econômico de governo era a
principal razão para a fragilidade do segundo gover- d) a composição ignora a trajetória política de Vargas,
no Vargas. apresentando-o como chefe de uma revolução.
e) a composição aborda o debate entre nacionalistas
10. No carnaval de 1956, dois anos após o suicídio de Getú- e entreguistas que caracterizou o segundo governo
C4 lio Vargas, a Estação Primeira de Mangueira desfilou na
H18
Vargas.

APROFUNDANDO O CONHECIMENTO

1. (Cefet-MG) Analise
CPDOC/FUNDA‚ÌO GETòLIO VARGAS, RIO DE JANEIRO, RJ.

A repercussão da morte de Vargas, em 24 de agosto de


a imagem “Cortejo 1954, explica-se politicamente pela:
fúnebre de Getúlio
Vargas”, na praia de a) manipulação do povo para abafar escândalos políticos.
Copacabana. b) pressão dos desempregados para garantir direitos
sociais.

c) atuação dos conservadores para barrar o avanço


comunista.

d) manifestação das massas populares para expressar


sua comoção.
Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/ e) articulação dos sindicatos para reconduzir os militares
producao/dossies/AEraVargas2/album>.
Acesso em: 21 jul. 2013. ao poder.

252
2. (Mack-SP – Adaptada) O governo de Eurico Gaspar Du- Com base no cartaz, estabeleça a relação econômica
tra (1946-1951) foi influenciado pelos acontecimentos in- entre “Bandeira Nacionalista” e “Independência do Bra-
ternacionais que marcaram o pós-guerra. A política eco- sil” no contexto do Segundo Governo Vargas.
nômica adotada em seu governo tinha como principal O governo Vargas foi caracterizado pelo nacionalismo econômico, isto
objetivo: é, ele defendia que o Brasil explorasse as próprias riquezas naturais,
a) o aumento da intervenção do Estado, que passou sua própria matriz energética e tivesse sua indústria de base,
a controlar as importações, diminuindo as tarifas alicerces para o desenvolvimento da indústria do país, alcançando,
alfandegárias. assim, autonomia ou independência com relação ao capital
b) a manutenção de uma política de confisco para com- estrangeiro ou às influências de governos estrangeiros no Brasil. Por
bater a inflação que, entretanto, não prejudicou os isso, a defesa da campanha “O petróleo é nosso”.

HISTÓRIA
ajustes salariais dos trabalhadores.
c) a liberalização do câmbio, aumentando as importa-
ções de produtos supérfluos, sem adotar uma política
de seleção nas importações.
d) a adoção de uma política liberal e nacionalista, favo-
rável aos negócios das empresas nacionais.

M—dulo 15
e) a manutenção das condições favoráveis à acumulação
de capital, por meio de uma política social democráti-
ca e nacionalista.

3. (Uema) O Segundo Governo Vargas (1951-1954) foi marcado 4. (IFBA)


pela reorientação do eixo central da política econômica bra-
Constituem monopólio da União: a pesquisa e a lavra das
sileira. A chamada “vocação agrícola do Brasil” foi intensa-
jazidas de petróleo [...], a refinação do petróleo nacional ou
mente questionada e a industrialização consolidou-se como o
estrangeiro, o transporte marítimo do petróleo bruto de ori-
principal caminho para o desenvolvimento brasileiro.
gem nacional.
Nesse processo, a campanha “O Petróleo é Nosso” assume
Artigo 1o da Lei de criação da Petrobras (1953). In: CASTELLI JUNIOR,
papel central na estratégia governamental e desencadeia uma Roberto. História: texto e contexto. São Paulo: Scipione, 2006. p. 604.
intensa polêmica entre os “nacionalistas”, favoráveis à campa-
nha, e os chamados “entreguistas”, opositores. A criação da Petrobras, em 1953, representa uma vitória:
Fonte: VAINFAS, Ronaldo et al. História: o mundo por um fio: a) dos grupos ligados a capital inglês que garantiu bai-
do século XX ao XXI. Vol. 3. São Paulo: Saraiva, 2010.
xas taxas de importação do petróleo brasileiro.
REPRODUÇÃO/APERJ, RIO DE JANEIRO, RJ.

b) do projeto nacionalista de desenvolvimento econômi-


co do Brasil, através do monopólio estatal do petróleo.
c) do capital norte-americano que garantiu controle
acionário sobre a Petrobras pelo financiamento para
sua criação.
d) da burguesia brasileira que passava a ter o monopólio
sobre a extração, transporte e distribuição do petró-
leo nacional.
Dutra e o segundo governo Vargas
e) da iniciativa privada ligada ao capital nacional ou es-
trangeiro que receberia do Estado brasileiro garantias
para investir na exploração do petróleo.

5. (IFSC) Neste ano de 2014 o Brasil sediará a Copa do


Mundo de Futebol. Contudo, não será a primeira vez
que isto acontece, pois no ano de 1950 o país já tinha
sediado esse evento, quando o Brasil chegou na final

253
ASSOCIATED PRESS/AGÊNCIA ESTADO

tem gente com fome


tem gente com fome
tem gente com fome

Piiiiii
Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

mas perdeu para o Uruguai. Sobre o Brasil da década de Os versos de “Tem gente com fome”, do primeiro livro
1950, podemos afirmar corretamente que: de Solano Trindade, Poemas de uma Vida Simples, le-
a) Um dos motivos que levou Getúlio Vargas a instituir o varam o poeta para a cadeia, por ordem do presidente
Estado Novo foram as manifestações contrárias para Eurico Gaspar Dutra. Embora tenha tomado outras me-
que o Brasil sediasse a Copa de futebol em 1950, didas como essa, o governo Dutra (1946-1951) é conhe-
pois havia muitos cartazes comunistas e contrários cido como um período de redemocratização, durante o
ao Governo. qual foi elaborada a Constituição de 1946.
b) Ocorreram muitas manifestações contrárias à sedia- a) Identifique, na Constituição de 1946, duas medidas
ção da Copa no Brasil, pois o governo já gastava mui- que tenham representado a reconquista das liberda-
to com a construção de Brasília como nova capital fe- des democráticas.
deral e não conseguiria finalizar as obras tendo esse A Constituição de 1946 trouxe algumas reconquistas das
gasto a mais. liberdades democráticas, entre as quais:
c) Com a Copa do Mundo ocorrendo no Brasil, a popu- – o restabelecimento da independência e do equilíbrio entre os
laridade do presidente Getúlio Vargas, que governa- Poderes;
va naquele período, cresceu. Aproveitando-se desse – a determinação de realização de eleições diretas e secretas para
momento, instaurou-se o regime ditatorial conhecido os cargos do Legislativo e do Executivo;
como Estado Novo.
– a pluralidade e a liberdade partidária;
d) Dentre as grandes mudanças que a Copa do Mundo – o reconhecimento do direito de greve e a garantia à livre
no Brasil possa ter influenciado na década de 1950,
associação de classe;
podemos destacar: a fundação da primeira rede de
– o direito às manifestações públicas de caráter reivindicatório ou
televisão do Brasil, a TV Tupi; a entrada de multinacio-
contestatório;
nais; e a industrialização, na segunda metade dessa
– a garantia às liberdades individuais, além da liberdade de
década.
imprensa.
e) A Ditadura Militar utilizou-se da Copa do Mundo no
Brasil como propaganda de seu governo. Uma das
principais propagandas comparava o Brasil com paí-
ses ditos de Primeiro Mundo, pois somente estes se-
diavam copas de futebol.

6. (UFRJ – Adaptada)

Tem gente com fome

Trem sujo da Leopoldina


correndo correndo
parece dizer

254
b) Considerando o contexto brasileiro do período, ex- O ponto principal de nossa ação política consiste em man-
plique por que o governo Dutra assumiu um caráter ter a linha de oposição e acentuar o propósito de luta crescen-
conservador. te contra as forças que há tantos anos dominam o poder, na
O aluno deverá analisar o caráter conservador do governo Dutra, corrupção administrativa e comprometendo as bases morais
inserido em um contexto de bipolarização mundial, considerando a da vida política.
Convenção Nacional da UDN, 1957. Citado em BENEVIDES, M. V. de M.
adoção de medidas como: A UDN e o udenismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
– a formação de uma aliança com setores políticos conservadores
(aliança PSD-UDN, formalizada no “acordo interpartidário”); Nos documentos acima podem ser reconhecidos posi-
– a cassação do PCB e dos mandatos dos parlamentares cionamentos e atitudes que marcaram a atuação de li-
comunistas; deranças da União Democrática Nacional (UDN), partido

HISTÓRIA
– a repressão sobre o movimento sindical; que existiu de 1945 até 1965.
– o rompimento de relações diplomáticas com a União Soviética.
A partir desses documentos, indique duas característi-
cas da atuação udenista em meio às disputas políticas
e partidárias do período. Cite, ainda, uma iniciativa ou
uma crise na qual o partido se envolveu.
A UDN, União Democrática Nacional, foi um partido político criado no

M—dulo 15
final da ditadura do Estado Novo em oposição ao governo de Getúlio
Vargas. A UDN, com sua concepção liberal, defendia a abertura da
economia brasileira para o capital externo, enquanto Vargas adotava
uma postura nacionalista. Derrotada nas eleições presidenciais de
1950 e 1954 pela coligação PTB/PSD, a UDN tentou dar um golpe
para impedir a posse do vencedor. Isso ocorreu em 1950 e 1955,
7. (Uerj)
quando venceram Vargas e JK, respectivamente. A UDN estava
A Getúlio Vargas dirijo, de todo coração, um apelo supre-
envolvida na grave crise política de 1954, que culminou no suicídio de
mo; presidente da república: renuncia para salvar a Repúbli-
Vargas, e participou do golpe de 1964.
ca. Getúlio Vargas: deixa o poder para que o teu país, que é
o nosso país, possa respirar nos dias de paz que os teus lhe
roubaram. Sai do poder, Getúlio Vargas, se queres ainda me-
recer algum respeito como criatura humana, já que perdeste o
direito de ser acatado como chefe do governo.
Carlos Lacerda. Tribuna da Imprensa, 11/8/1954.

Pegou o Carlos Lacerda


Com a sua cara de frango
No cenário político
Querendo dançar o tango
8. O governo do presidente Dutra (1946-1951) foi marcado
Querendo com a Argentina
pela inserção do Brasil em um novo contexto mundial, es-
Sujar a carta de Jango tabelecido após o término da Segunda Guerra Mundial.
[...] a) Identifique o referido contexto mundial.
O contexto mundial é a Guerra Fria ou a bipolarização mundial Dutra e o segundo governo Vargas
Agora dizem os golpistas
entre o mundo capitalista (liderado pelos Estados Unidos) e o
Que são loucos nos extremos mundo socialista (liderado pela União Soviética).
Os eleitos não tomam posse
Muita bala nós teremos
Isso caro leitor
É o que veremos
Cuíca de Santo Amaro, em “A vitória de J. J. ou a vitória de um morto”, s/d. Citado
em CURRAN, M. J. História do Brasil em cordel. São Paulo: Edusp, 2001.

255
b) Explique como o Brasil se colocou nesse novo cenário, 9. Analise o papel dos meios de comunicação na crise que
identificando duas medidas adotadas ao longo do go- resultou no suicídio do presidente Getúlio Vargas, no dia
verno Dutra que explicitam esse posicionamento. 24 de agosto de 1954.
O Brasil aliou-se aos Estados Unidos. Esse posicionamento pode Os principais jornais e rádios do país fizeram sistemática oposição
ser identificado em várias medidas adotadas pelo governo, como: ao governo, apresentando denúncias de corrupção e outros fatos
– rompimento de relações diplomáticas com a União Soviética; que pudessem enfraquecer Vargas. O jornalista Carlos Lacerda, da
– cassação do registo do PCB; UDN, foi seu principal opositor e acusou Vargas de ser o mandante do
– cassação dos mandatos dos parlamentares comunistas; atentado que sofreu no dia 5 de agosto de 1954. Os jornais exigiram
– assinatura do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca a renúncia de Vargas. Sem conseguir contornar a crise, o presidente
(Tiar); se recusou a renunciar e tirou a própria vida.
– criação da Escola Superior de Guerra (ESG).

10. Compare a política econômica adotada por Dutra (1946-


-1951) com a adotada por Vargas (1951-1954).
Enquanto Dutra adotou o liberalismo econômico, permitindo a
entrada de produtos e empresas estrangeiras no Brasil, aumentando
o déficit da balança comercial do país, Vargas adotou uma política
nacionalista, criando empresas que fossem capazes de impulsionar o
desenvolvimento econômico do Brasil, diminuindo sua dependência
em relação ao capital estrangeiro.

pH
A Copa do Mundo de 1950
Entre os dias 24 de junho e 16 de julho de 1950, o Brasil sediou
a IV Copa do Mundo de Futebol. Tratava-se do primeiro evento
esportivo mundial após o término da Segunda Guerra Mundial
e por isso as expectativas eram muitas. O governo brasileiro já
havia percebido a importância dos campeonatos esportivos para
REPRODUÇÃO/FIFA

a construção de uma memória nacional e para o estabelecimento


de laços identitários.
A pretensão de sediar um evento de tamanha repercussão
foi lançada pelo Brasil em 1938, quando o país vivia sob a di-
Cartaz da Copa do Mundo de
tadura do Estado Novo, governado por Getúlio Vargas. Mas a Futebol de 1950, realizada no Brasil.

256
sede da próxima Copa – que deveria ocorrer em 1942 – já estava definida: Alemanha. Seria mais
uma oportunidade de Hitler mostrar ao mundo a “superioridade da raça ariana”, como fizera nas
Olimpíadas de 1936, realizadas em Berlim. O Brasil se candidatou a sediar a Copa de 1946.
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) interrompeu o torneio e, em 1946, o Brasil foi escolhido
pela Fifa para sediar o próximo campeonato, marcado inicialmente para 1949 e depois adia-
do para 1950. A Fifa fez algumas exigências, entre elas, a de que a cidade do Rio de Janeiro, então
capital federal, deveria construir um estádio digno de abrigar partidas das seleções.
O governo aceitou o desafio: a IV Copa do Mundo era a oportunidade de tornar o Brasil um país
mundialmente conhecido, consagrar-se por meio do futebol e mostrar sua capacidade realizadora.

HISTÓRIA
O Brasil era então governado por Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), primeiro presidente elei-
to após o término do Estado Novo. O futebol aparecia como um elemento capaz de forjar uma
identidade nacional e a realização do torneio relacionava-se ao projeto republicano de associar o
país à modernidade, ao progresso.
O futebol brasileiro já despertava interesse na Europa, desde que Leônidas da Silva, o “Diamante
Negro”, fora eleito o melhor jogador de futebol da Copa de 1938 e o Brasil conquistara o terceiro

M—dulo 15
lugar no torneio. Naquela ocasião, o sociólogo Gilberto Freyre apontou as características particulares
do nosso futebol: astúcia, ligeireza, espontaneidade, relacionando-as à mestiçagem do povo brasilei-
ro. Nasceu, então, a expressão “futebol-arte”, que diferenciava os jogadores brasileiros dos europeus.
Em relação à construção de um estádio no Rio de Janeiro, o desafio era grande, mas serviria
para mostrar a capacidade empreendedora do país. O governo municipal assumiu a responsabili-
dade pela obra e, no dia 20 de janeiro de 1948 – dia em que se comemora São Sebastião, padroeiro
da cidade –, foi lançada a pedra fundamental daquele que seria o “maior estádio do mundo”.
Milhares de operários trabalharam na obra, inaugurada no dia 16 de junho de 1950, pouco
antes do início da Copa. O estádio, que mais tarde recebeu o nome oficial de Jornalista Mário
Filho, apelidado de Maracanã, nome do riacho que passa próximo, tornou-se símbolo de um
novo momento que se inaugurava no país, associado à ideia da capacidade realizadora do povo
brasileiro, ao progresso e à vitória.

FLÁVIO DAMM/O CRUZEIRO/EM/D.A PRESS

Dutra e o segundo governo Vargas

Estádio do Maracanã em partida pela Copa do Mundo de Futebol de 1950. Revista O Cruzeiro de 8 de julho de 1950.

257
O maior desafio havia sido superado: a cidade do Rio de Janeiro tinha um estádio municipal,
com capacidade para 155 000 mil pessoas. Faltava agora a conquista da Taça Jules Rimet.
Na primeira fase do torneio, o Brasil venceu o México (4 a 0), empatou com a Suíça (2 a 2)
e derrotou a Iugoslávia (2 a 0), resultados que garantiram sua classificação para a segunda fase.
Classificaram-se também as seleções da Espanha, da Suécia e do Uruguai.
O torneio era de pontos corridos (vitória valendo 2 pontos e empate, 1) e na fase final as qua-
tro seleções se enfrentariam. Conquistaria a Taça Jules Rimet o time que obtivesse maior número
de pontos. Todos os jogos do Brasil nessa fase foram realizados no Estádio Municipal, já conhe-
cido como Maracanã. A cada partida a imprensa estimulava a torcida brasileira, ressaltando que
apoiar o “escrete nacional” era uma forma de servir à pátria.
Na primeira partida, contra a Suécia, aproximadamente 140 mil pessoas assistiram à vitória da
seleção brasileira por 7 a 1. Enquanto isso, Uruguai e Espanha empatavam em 2 a 2, no Estádio
do Pacaembu (São Paulo-SP).
Na partida seguinte, nova goleada: 152 772 pagantes assistiram à vitória brasileira por 6 a 1
contra a Espanha. Como o Uruguai derrotou a Suécia em sua segunda partida, alcançando 3 pon-
tos, o jogo entre Brasil e Uruguai decidiria o campeão mundial. Ao Brasil, com 4 pontos ganhos,
bastava o empate para obter a taça.
Naquele domingo, 16 de julho de 1950, parecia que toda a cidade havia se dirigido ao está-
dio. Os portões foram abertos às 11h e cerca de 200 000 pessoas compareceram ao Maracanã,
confiantes na vitória da seleção brasileira. A festa já estava organizada e mesmo antes de a par-
tida se iniciar o jornal A Noite trouxe a fotografia com os jogadores brasileiros usando a faixa
de “Campeões Mundiais de Futebol”. O prefeito Ângelo Mendes de Morais discursou antes da
partida, ressaltando que o governo havia feito sua parte ao construir o estádio e que agora cabia
aos jogadores a conquista da Copa.
O primeiro tempo terminou 0 a 0, para desconforto da torcida brasileira, que não via a hora
de explodir e comemorar a vitória. Logo no primeiro minuto do segundo tempo, Friaça abriu o
placar para o Brasil. Parecia o início de uma nova goleada. Aos 20 minutos, Schiaffino empatou
para o Uruguai. O estádio emudeceu e assistiu apático aos momentos finais da partida. Aos 33
minutos, o impossível aconteceu: em um rápido contra-ataque uruguaio, Ghiggia desempatou o
jogo. Poucos acreditavam no que estava acontecendo: uma vitória que parecia certa, esvaindo-se
pelos dedos. Muitos irromperam em lágrimas e deixaram silenciosamente o estádio.
A derrota brasileira para o Uruguai na Copa de 1950 suscitou várias interpretações. Segun-
do o jornalista Nelson Rodrigues, o Brasil padecia do “complexo de vira-latas”, acovardava-se
quando uma importante conquista se aproximava. Alguns responsabilizaram o goleiro Barbosa
e o zagueiro Bigode pela falha, contribuindo para o recrudescimento do preconceito racial no
futebol, pois ambos eram negros.
Foram necessárias duas Copas do Mundo para que o país superasse o trauma e finalmente
conquistasse a taça: na Suécia, em 1958. A experiência de 1950, todavia, deixou marcas impor-
tantes. Apesar da derrota, o futebol brasileiro obteve reconhecimento internacional: muitos jor-
nalistas estrangeiros elegeram a seleção brasileira a melhor seleção da Copa. O futebol tornou-se
uma das “marcas registradas” do país e o “futebol-arte” influenciou várias gerações de joga-
dores. Além disso, durante muitos anos o Estádio Municipal Mário Filho, mais conhecido como
Maracanã, foi o “maior do mundo”, encantando muitas pessoas pela sua grandeza e por suas
perfeitas linhas arquitetônicas.

258
O governo

16
Juscelino
Kubitschek
Módulo

OBJETOS DO CONHECIMENTO
• A situação política do Brasil após o suicídio de Getúlio
Vargas
• O processo eleitoral e a posse de Juscelino Kubitschek
• O Plano de Metas
• A construção de Brasília
• Os anos dourados: desenvolvimento, reivindicações sociais, cul-
tura e consumismo
• Os efeitos do nacional-desenvolvimentismo

HABILIDADES
• H1 - Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais
acerca de aspectos da cultura.
• H2 - Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
• H8 -  Analisar a ação dos Estados nacionais no que se refere à dinâmica dos flu-
xos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
• H13 - Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou
rupturas em processos de disputa pelo poder.
• H19 - Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias for-
mas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
• Identificar as estratégias de estabilização política.
• Identificar os objetivos e métodos para o crescimento econômico.
• Avaliar a situação socioeconômica em face das expectativas do Plano de Metas.
• Analisar os efeitos do Plano de Metas.
• Analisar os desdobramentos culturais do período.
259
PARA COME‚AR

Leia o texto a seguir.

Brasília, 56 anos, uma capital gradeada

O traço livre do arquiteto idealizou uma cidade igualmente fluida. Entretanto, ao completar
56 anos [...], a capital federal tem se tornado cada vez mais fechada e distante de seu plano original.
Para a área central de Brasília, Lúcio Costa projetou uma área em que “os vazios são por ele preenchi-
dos, sendo a cidade deliberadamente aberta aos 360 graus do horizonte que a circunda”.
Sem o efetivo controle das autoridades públicas, a cada dia a cidade cerca-se com grades, tapu-
mes, cercas vivas e condomínios fechados, opondo-se ao objetivo de Lúcio Costa de criar uma cidade-
-parque. O local proporcionaria um conforto ambiental, aumentando a percepção da cidade no sítio,
a partir de seu próprio espaço.
Cercado há mais de três anos por motivo de se-
JOSÉ CRUZ/ABR/RADIOBRAS

gurança, o Supremo Tribunal Federal (STF) não tem


previsão de ter as grades retiradas. Localizada na Pra-
ça dos Três Poderes, a Corte não está sozinha em sua
preocupação de evitar riscos ao patrimônio público e
seus membros. Alguns metros à frente, o Palácio do
Planalto e o Congresso Nacional também têm cercas
instaladas, limitando o acesso dos turistas e manifes-
tantes. [...]
A cidade tem o título de Patrimônio Cultural da Hu-
manidade e desde 1987 é considerada Patrimônio Mun-
dial, sendo o único bem contemporâneo a merecer a dis-
tinção. A cidade é considerada um marco da arquitetura
Grades de proteção em frente ao Supremo Tribunal
Federal (STF) em Brasília, Distrito Federal, 2016.
e urbanismo modernos e tem a maior área tombada do
mundo – 112,25 km². [...]
De acordo com o superintendente no Distrito Fe-
JOSÉ CRUZ/ABR/RADIOBRAS

deral do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico


Nacional (Iphan), Carlos Madsen, o órgão fiscaliza as
instalações inadequadas de cercamento em espaços
públicos, mas esbarra em ações judiciais que impe-
dem a retirada de grades ou outros tipos de barreiras.
[...]
Cristiano Sousa Nascimento, da Organização
Não Governamental Urbanistas por Brasília, destaca
que o cercamento que teria caráter provisório tem se
tornado permanente na cidade. “O que é justificado
por uma agressão ou ameaça tem se tornado uma gra-
de fixa e é por comodismo de retirar e colocar nova-
mente. A gente estranha muito e há uma história de
empurra-empurra entre as autoridades. Essas cercas
passam a sensação de ameaça constante, o turista
Grades de proteção em frente ao Palácio do Planalto
em Brasília, Distrito Federal, 2016. olha e fica assustado”, critica.

260
Para reverter o cenário de desconstrução do plano original, a Agência de Fiscalização do Distri-
to Federal (Agefis) começou a diagnosticar em toda a área tombada – Brasília, Cruzeiro, Sudoeste,
Candangolândia e Noroeste – as edificações que ferem o tombamento. A ação, em sua primeira fase,
é educativa e tem seu foco em conscientizar os síndicos da importância de preservar o tombamento
da cidade. [...]
A área residencial de Brasília, segundo o conceito de Lúcio Costa, seria outra praça. Nela, pro-
jeções de edifícios sobre pilotis dispostos livremente “abrem” o quarteirão tradicional de habitações,
substituindo os limites de muros e edifícios pelas árvores. Seguindo a realidade dos edifícios públicos,
a área também está se fechando.

HISTÓRIA
“A superquadra foi pensada para ser aberta, com uso franco, ir e vir pleno. As pessoas estão come-
çando a usar uma série de artifícios, que vão na contramão no conceito da cidade, com um abuso de
uso e ocupação do solo”, diz Frederico Flósculo. [...]
“Falta informação e orgulho”, acrescenta Cristiano Nascimento. “As pessoas ainda não percebe-
ram que não há nada como o Plano Piloto, que é uma coisa única e que não vai acontecer de novo.
Não existe outra igual no mundo. Em Brasília conseguiu-se construir uma cidade diferente de todas

M—dulo 16
as outras. Enquanto as pessoas não acordarem, não se orgulharem e não tiverem essa visão, a preser-
vação fica mais complicada”, conclui.
CRISTALDO, Heloisa. Brasília, 56 anos, uma capital gradeada. Agência Brasil, 21 abr. 2016.
Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-04/brasilia-uma-capital-gradeada>. Acesso em: 14 out. 2016.

Brasília foi inaugurada no dia 21 de abril de 1960. Era a metassíntese do governo do presidente Jusce-
lino Kubitschek, que pretendia imprimir a modernidade como marca de sua gestão: “50 anos em 5”.
Hoje a capital do Brasil, reconhecida desde 1987 como Patrimônio Mundial, enfrenta uma série de
desafios. Cresceu muito além das expectativas daqueles que a planejaram e convive com típicos
problemas de grandes centros urbanos.
No entanto, traz nas suas linhas urbanísticas e arquitetônicas as marcas de Oscar Niemeyer e Lúcio
Costa e de todos aqueles que ajudaram a torná-la possível. Permanece como lembrança de um
Brasil idealizado e de uma época em que o país vivia seus “anos dourados”. Materializa algumas
das contradições do país: uma cidade planejada para ser democrática, mas que hoje é gradeada.
Neste módulo, vamos estudar o período em que Brasília foi construída.

PARA APRENDER

A elei•‹o de Juscelino Kubitschek O governo Juscelino Kubitschek

Vimos no módulo anterior que o suicídio de Getúlio Vargas acabou por representar um duro golpe nas
pretensões dos partidos de oposição (sobretudo nas da União Democrática Nacional – UDN) de chegar ao
poder. Nos últimos dias de agosto, vivenciaram-se os preparativos de um iminente golpe, apoiado também
por militares, para retirar o presidente do cargo. A morte de Vargas foi de grande impacto e comoção em
meio à sociedade, principalmente entre as camadas médias da população.
O então vice-presidente, João Café Filho, que estava articulado com os golpistas para derrubar Getúlio,
assumiu o governo após a morte do presidente. Em outubro de 1955, ocorreram eleições presidenciais.

261
REPRODUÇÃO/ARQUIVO DA EDITORA

O Partido Democrata Cristão lançou a candidatura de Juarez Távora – repleta de


confirmações e desistências nos meses anteriores ao pleito – com o apoio da UDN,
enquanto o PSD e o PTB se uniram em apoio ao candidato Juscelino Kubitschek
(que fora deputado federal, prefeito de Belo Horizonte e governador de Minas Ge-
rais), cujo candidato a vice-presidente era João Goulart, ex-ministro do Trabalho do
governo Vargas. Para os udenistas, a chapa formada por JK e Jango representava a
herança varguista que eles tanto queriam eliminar.
Tendo em vista que essa herança poderia trazer vantagem à coligação PSD/PTB,
a UDN, às vésperas das eleições, tentou aprovar uma emenda constitucional que le-
varia a decisão do pleito para a Câmara dos Deputados caso não houvesse maioria
absoluta dos votos (que não era exigida pela Constituição), mas ela não foi aprovada.
A dobradinha PSD/PTB, com apoio oficial do PCB (partido que se encontrava na
ilegalidade) na figura do líder Luís Carlos Prestes, conseguiu uma vitória apertada,
derrotando novamente a UDN: em turno único, Juscelino Kubitschek obteve 33,82%
dos votos válidos, enquanto Juarez Távora conquistou 30%. A pequena diferença
entre os dois primeiros candidatos era apenas um indício dos problemas que JK viria
a enfrentar antes de assumir o governo.
Cartaz de O descontentamento provocado pela vitória de JK e Jango também atingiu os círculos militares. No dia
campanha o
da coligação 1 de novembro de 1955, no enterro do general Canrobert Pereira da Costa, o coronel Jurandir Bizarria Ma-
PSD/PTB para
a eleição para
mede fez um discurso elogiando o falecido no seu combate ao varguismo e defendeu abertamente sua posi-
Presidência ção de impedir a posse dos candidatos do PSD/PTB. O ministro da Guerra, marechal Henrique Teixeira Lott,
e Vice-
-Presidência da considerou o discurso uma quebra de hierarquia e exigiu do presidente a punição do coronel. Café Filho,
República, que que estava em entendimentos com os golpistas, negou o pedido. Pouco depois, afastou-se da Presidência,
eram eleições
independentes alegando problemas de saúde, e cedeu lugar a Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados e partidário
em 1955.
da tentativa da UDN de evitar a posse de JK e Jango.
No dia 11 de novembro, tropas comandadas pelo marechal Lott cercaram o Palácio do Catete, ocupa-
ram os quartéis da polícia do DF, controlaram os correios e a sede da companhia telefônica. A Câmara dos
Deputados declarou Carlos Luz impedido de governar, e o presidente do Senado, Nereu Ramos, assumiu a
Presidência da República. Dias depois, recuperado, Café Filho tentou reassumir a Presidência, mas também
foi impedido pelo Congresso Nacional. Com tanques nas ruas e o país sob estado de sítio, a posse de JK e
Jango foi garantida.
O episódio ficou conhecido como “golpe preventivo”, uma vez que as articulações comandadas
pelo marechal Lott tiveram como objetivo evitar o golpe que tentava impedir a posse dos eleitos. No dia
31 de janeiro de 1956, JK e Jango assumiram suas respectivas
REPRODUÇÃO/ARQUIVO NACIONAL

cadeiras no Palácio do Catete.


As tentativas da oposição de derrubar o governo não fo-
ram eliminadas com a posse de JK. Pouco após o início de seu
governo, JK enfrentou, em fevereiro de 1956, uma revolta de
oficiais da Aeronáutica de caráter nacionalista, os quais denun-
ciavam negociações do governo com grupos financeiros inter-
nacionais para a entrega dos recursos energéticos nacionais.
Liderados por militares udenistas, os rebeldes partiram do
Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, para a base aérea de
Jacareacanga, no sul do Pará, onde estabeleceram seu pon-
to de resistência ao governo. O movimento foi controlado em
cerca de vinte dias. Procurando estabelecer o diálogo com os
opositores, o presidente encaminhou ao Congresso Nacional
Da esquerda para a direita, Flores da Cunha, Juscelino, Nereu Ramos e
Jango, no dia da posse no Rio de Janeiro, 1956. um pedido de anistia aos rebeldes, que foi aceito.

262
O Plano de Metas
Durante a campanha à Presidência da República, JK lançou o slogan “50 anos em 5”, que deixava claro
o caráter desenvolvimentista que imprimiria ao governo. Para realizar o que JK pretendia, foi apresentado o
Plano de Metas, que definia cinco setores essenciais ao desenvolvimento do país: transporte, energia, indús-
tria de base, alimentação e educação.
Estudos feitos por comissões e missões econômicas desde a década de 1940 formaram a base técnica
para que as metas fossem traçadas. A Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, o Banco Nacional de Desen-
volvimento Econômico (BNDE) e a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) detectaram
os pontos mais sensíveis e limitadores da economia brasileira. Uma metassíntese foi incorporada ao plano: a
construção de uma nova capital para o Brasil.

HISTÓRIA
Juscelino Kubitschek fundamentou a execução do Plano de Metas em uma política que ficou conhecida
como nacional-desenvolvimentista, executada com base no seguinte tripé econômico: capital estatal, capi-
tal privado nacional e capital estrangeiro.
Afastando-se do nacionalismo de Vargas, JK considerava que o capital estrangeiro poderia contribuir
para a industrialização do Brasil. Graças à utilização da instrução 113 da Superintendência da Moeda e do

M—dulo 16
Crédito (Sumoc), muitas empresas estrangeiras transferiram seus equipamentos para o Brasil, facilitando os
investimentos estrangeiros na indústria automobilística, nos transportes aéreos, nas estradas de ferro e na
produção de aço e de eletricidade. Além disso, o presidente adotou medidas que favoreciam o empresa-
riado nacional (como abertura de créditos) e reconheceu a importância do Estado na execução de obras de
infraestrutura e na estruturação de indústrias de base.
A realização dessa política significou um aumento dos gastos públicos e dos créditos concedidos pelo Banco
do Brasil, o que provocou o aumento da inflação. Pressionado por várias greves – cerca de 29 em 1958 –, JK con-
cedeu diversos aumentos do salário mínimo. Ao mesmo tempo, a crise internacional que derrubou o preço de
produtos da pauta de exportações brasileiras (especialmente do café) contribuiu para piorar a situação econômica
do país. O crescente deficit público e o aumento da inflação passaram a ameaçar a execução do Plano de Metas.
Em março de 1958, o Fundo Monetário Internacional (FMI) concluiu que o Brasil não tinha condições de
arcar com os empréstimos externos, de cerca de US$ 300 milhões, feitos para a realização das obras do Plano
de Metas, e exigiu mudanças na política econômica brasileira. Suspensão de subsídios, contenção de salá-
rios, corte de gastos e controle inflacionário foram algumas das medidas exigidas. A fim de não abrir mão de
sua política desenvolvimentista, JK decidiu, em junho de 1959, romper com o FMI.

REPRODU‚ÌO/ARQUIVO PòBLICO DO DF, BRASêLIA.


A construção de Brasília
Segundo JK, a ideia de construir Brasília surgiu
quando ele realizava um comício na cidade de Jataí,
em Goiás. Ao apresentar seu programa de gover-
no e prometer o cumprimento da Constituição, um
espectador perguntou ao então candidato à Presi-
dência se ele pretendia transferir a capital federal,
O governo Juscelino Kubitschek

uma vez que tal determinação constava em todas


as Constituições brasileiras desde 1891. Arrebata-
do pelo desafio, JK prometeu que a construção da
nova capital no Planalto Central (a localização já
estava definida por estudos feitos pela Comissão
Cruls, entre 1892 e 1896) seria a metassíntese de
seu governo. Plano Piloto de Brasília elaborado pelo urbanista Lúcio Costa entre 1957 e 1960.

263
A Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) foi criada em setembro de 1956 para tornar rea-
lidade a construção de um novo Distrito Federal. No ano seguinte, foi realizado um concurso de projetos, e
a proposta da nova capital apresentada pelo urbanista Lúcio Costa, criticada por uns e aclamada por outros,
foi a vitoriosa. Ele, juntamente com o arquiteto Oscar Niemeyer, foi o grande idealizador da nova capital.
Milhares de trabalhadores foram mobilizados – chamados de candangos – e participaram da construção
de Brasília. JK acompanhava de perto a execução das obras, viajando frequentemente do Rio de Janeiro para
o Planalto Central. Uma das primeiras construções da cidade, aliás, foi o Catetinho, residência provisória do
presidente, nome que aludia ao Palácio do Catete, no Rio de Janeiro.

COL. GERODETTI-CORNEJO/ARQUIVO DA EDITORA


Prédio do
Congresso
Nacional em
construção,
visto do Palácio
do Planalto,
também em
obras, em 1960.

O governo de JK colocou em destaque a crença do Brasil como “país do futuro”, e a construção de Brasília
foi a melhor representação desse futuro. Cidade modernista, completamente planejada, surgiu no interior do
território brasileiro destinada – segundo a propaganda governamental – a promover a integração nacional. O
ritmo das obras foi acelerado, e, em 21 de abril de 1960, feriado de Tiradentes, JK inaugurou a nova capital,
chamada de Brasília.
Os críticos ao projeto ressaltaram os enormes gastos na obra, com impacto negativo na inflação, e sur-
giram diversas denúncias de corrupção, uma delas encabeçada por Carlos Lacerda, que pediu a abertura de
uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar denúncias de superfaturamento.

Os “anos dourados”
Uma das características comumente associadas aos “anos JK” foi o clima de tolerância política e eferves-
cência cultural vivido no Brasil. O governo de JK foi marcado pelo despontar de novos movimentos culturais
e pela organização de alguns movimentos sociais, na cidade e no campo.
Ao longo de seu governo, JK demonstrou sua capacidade de negociar, mesmo com adversários políticos.
Aos rebeldes de Jacareacanga, por exemplo, ele acenou com a anistia. Em relação à UDN, buscou aproximar-
-se de algumas correntes do partido a fim de conseguir aprovação de seus projetos no Congresso. Foi assim
que conseguiu aprovar o projeto de lei para a construção de Brasília. Ainda que não tenha legalizado o PCB,
o partido gozou de relativa liberdade de ação durante seu governo.

264
O movimento sindical cresceu, acompanhando o crescimento do próprio operariado urbano em razão
da política desenvolvimentista adotada. A figura de João Goulart como vice-presidente contribuiu para o
bom relacionamento com os sindicatos, embora algumas grandes greves tenham ocorrido ao longo de seu
governo. A política de reajustes anuais do salário mínimo adotada por JK garantiu a manutenção do poder
de compra do salário, apesar do crescimento inflacionário.
Porém, JK não deixou para trás os traços de

ARQUIVO OESP/AGæNCIA ESTADO


controle social herdados dos governos anteriores. A
política relativa aos sindicatos e a suas ações (espe-
cialmente as greves) seguia as restrições e os mode-
los de controle já em curso no governo Dutra. Nesse
período, a vigilância e a repressão ao movimento

HISTÓRIA
organizado dos trabalhadores eram exercidas pelo
Setor de Fiscalização Trabalhista (a partir de 1955,
chamado de Seção Trabalhista), ao qual competia
manter um serviço permanente de vigilância e inves-
tigação especializada em aspectos político-sociais
da massa de trabalhadores e de seus sindicatos.

M—dulo 16
Para tal controle, montou-se um complexo sis-
tema integrado de comunicação entre órgãos de
controle social: a Divisão de Polícia Política Social
(DPS), o Conselho de Segurança Nacional (CSN), as
seções de Segurança Nacional existentes em todos
os ministérios, as Delegacias de Ordem Política e Social (Dops) e as Secretarias de Segurança estaduais. Essa Francisco
Raimundo
rede de informações recebeu o nome de Sistema Nacional de Segurança, que teve como principais alvos Paixão fala aos
os líderes sindicais com supostas motivações comunistas – lembrando aqui o apoio do Brasil aos Estados trabalhadores
rurais em
Unidos em relação à Guerra Fria. frente ao
Sindicato dos
Foi durante os anos JK que os movimentos rurais passaram a ocupar as páginas da imprensa brasileira. Trabalhadores
na Lavoura de
A luta pela reforma agrária e os protestos contra a opressão dos fazendeiros ganharam visibilidade na luta Governador
das Ligas Camponesas, surgidas em 1955 e lideradas pelo advogado Francisco Julião. Valadares,
Minas Gerais,
As mudanças ocorridas no país na década de 1950 foram significativas. De país agrário-exportador, o em 1964.
Brasil transformara-se em país urbano-industrial. A modernidade que o presidente pretendia imprimir ao seu
governo era verificada nas mudanças de hábitos de algumas parcelas da sociedade.

GOTAS DE SABER

As Ligas Camponesas

As Ligas tinham suas origens na luta dos foreiros do Engenho Galileia, em Vitória de Santo Antão,
na Zona da Mata de Pernambuco. Foi lá que a primeira Liga foi criada, em 1955. Desse polo inicial,
elas rapidamente se expandiram por vários municípios, chegando mesmo a estabelecer núcleos em
outros estados. Foi no Nordeste, no entanto, que a sua atuação foi mais intensa. A sua projeção na-
O governo Juscelino Kubitschek

cional, e também a de seu principal líder, Francisco Julião, foi embalada pela visão que se firmou do
Nordeste, na década de 1950, como região problema, caracterizada por calamidades climáticas como
a seca, pela miséria, pela fome, por índices altos de mortalidade e baixos de saúde e educação, cons-
tituindo-se, enfim, em uma das representações do atraso.
GRYNSZPAN, Mario. Movimentos sociais no campo. Disponível em: <https://cpdoc.fgv.br/
producao/dossies/JK/artigos/Politica/MovimentosSociaisCampo>. Acesso em: 17 out. 2016.

265
REPRODUÇÃO/HÉLIO SILVA/RIOFILME

REPRODUÇÃO/ARQUIVO DA EDITORA
Sociedade e cultura
A influência dos Estados Unidos na
sociedade brasileira era cada vez maior
e difundia os valores associados à so-
ciedade de consumo e à prosperidade.
A  classe média urbana consumia eletro-
domésticos, artigos de plástico e tecidos
sintéticos. O rádio, as revistas e os jornais,
o cinema estadunidense e a televisão
contribuíam para mudanças nos padrões
de comportamento. A modernidade tra-
zia mais praticidade ao dia a dia e influen-
ciava a paisagem das cidades com seus
prédios modernistas. Brasília seria a maior
representação dessa modernidade.
O desejo do novo marcou a produ-
ção cultural do período. Nas artes plásti-
Cartaz do filme Rio, 40 graus, de Nelson Anúncio da geladeira Gelomatic 700, cas, os ideais construtivistas marcaram a
Pereira dos Santos, 1955. claramente direcionada a consumidores da
classe média, 1955. arte moderna, que buscava novas formas,
cores e espaços, rejeitando a figuração e
a representação realistas e dando origem ao Concretismo e ao Neoconcretismo. Participaram desse movi-
mento artistas como Abraham Palatnik, Lygia Clark, Ivan Serpa, Lígia Pape, Hélio Oiticica, entre outros.
O cinema propôs uma reflexão sobre a realidade brasileira. Absorvendo elementos da cultura popular,
cineastas como Nelson Pereira dos Santos e Glauber Rocha provocaram uma revolução estética, produzindo
filmes com baixo orçamento. O filme Rio 40 graus, de Nelson Pereira dos Santos, lançado em 1955, é consi-
derado o precursor do Cinema Novo. Abordando de forma lírica, mas também crítica, o dia de jovens que
viviam em uma favela no Rio de Janeiro, o cineasta procurou lançar um olhar sobre questões de cunho social.
O teatro também foi marcado por novas montagens que procuravam aproximar a plateia dos atores,
com custos menores, privilegiando dramaturgos nacionais e tornando os espetáculos acessíveis ao povo.
As experiências realizadas

ARQUIVO FSP/FOLHAPRESS
pelo Teatro de Arena, dirigi-
do por Augusto Boal, e pelo
Teatro Oficina, dirigido por
José Celso Martinez Correa,
propunham a reflexão sobre
problemas sociais e políticos
e a conscientização da plateia.

Fachada do Teatro de Arena


em São Paulo, s.d.

266
A primeira emissora de televisão foi inaugurada no Brasil em 1950, mas foi durante o governo de JK que
esse veículo de comunicação começou a se expandir para além dos grandes centros, transmitindo programas
em rede nacional. Logo a televisão tornou-se o principal mercado publicitário no país, e seu potencial para
campanhas políticas foi percebido. Em 1954, cerca de 34 mil domicílios possuíam TV; em 1960, esse número
saltou para 598 mil. Em abril do mesmo ano, imagens da inauguração de Brasília foram transmitidas para Rio
de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.
A Bossa Nova foi o ritmo que melhor representou os anos JK. Originado no Rio de Janeiro, no final da
década de 1950, esse novo estilo musical misturava elementos do jazz estadunidense com a música popular
brasileira e criava outra concepção musical. Com uma interpretação mais intimista, com letra e música in-
tegradas, músicos como Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto propunham também a
releitura de canções populares nacionais.

HISTÓRIA
A expansão da indústria fonográfica, assim como os shows nas boates de Copacabana, na Zona Sul
do Rio de Janeiro, ajudaram a divulgar as canções. A identificação do governo com o novo estilo musical
foi tão forte que o compositor Juca Chaves fez, em 1959, uma modinha homenageando JK: “Presidente
bossa-nova”. No final dos anos 1950, a expressão “bossa nova” significava qualquer coisa de novo e
moderno que acontecia no Brasil.
O clima de otimismo na área cultural, identificado com o governo, traduziu-se também em importantes

M—dulo 16
conquistas esportivas para o Brasil. Em novembro de 1956, Ademar Ferreira da Silva conquistou sua se-
gunda medalha de ouro em uma Olimpíada, na prova de salto triplo, em Melbourne (Austrália). Em 1958, a
seleção brasileira de futebol finalmente conquistou a Copa do Mundo, disputada na Suécia, que marcou a
estreia, em um mundial, do jovem Pelé, que viria a ser considerado o melhor jogador masculino de todos
os tempos. O presidente mandou um telegrama de congratulação para os jogadores em que dizia: “Para-
béns, finalmente somos um povo que não mais conhece derrotas”. Em 1959, a tenista Maria Esther Bueno
tornou-se a número 1 do tênis mundial. O pugilista Eder Jofre tornou-se, em 1960, campeão sul-americano
de peso-galo e campeão mundial.
NÌO FORNECIDO/ASSOCIATED PRESS/AE/CÑDIGO IMAGEM:149916

O governo Juscelino Kubitschek

Final da Copa do Mundo de 1958, em Estocolmo, Suécia.

267
Efeitos do nacional-desenvolvimentismo
Os resultados obtidos pelo Plano de Metas foram bastante positivos no que concerne às metas econô-
micas – transporte, energia, indústrias de base. Entre 1955 e 1961, a produção industrial cresceu 80%. Alguns
setores tiveram resultados excepcionais: a produção de aço cresceu 100%; indústria mecânica, 125%; eletri-
cidade e comunicações, 380%; e material de transportes, 600%. O indicador do Produto Interno Bruto (PIB)
teve um crescimento anual de 7% entre 1957 e 1960.
A indústria automobilística foi uma das alavancas do desenvolvimento econômico do período. Grandes
empresas estrangeiras estabeleceram-se no Brasil, como a Ford, a Volkswagen e a General Motors, instalando-
-se na região do ABC paulista. Milhares de quilômetros de rodovias foram construídos no Brasil, como a Belém-
-Brasília (2 mil km) e a Fortaleza-Brasília (1 500 km).
A opção pelo transporte rodoviário, todavia, trouxe uma série
Glossário
de problemas para o país, entre eles a dependência do petróleo
Produto Interno Bruto: indicador que mede a
(para pavimentação das estradas, combustível e lubrificantes) e atividade econômica do país. Há duas formas
os elevados custos para conservação das rodovias. A priorização de cálculo: a primeira trata da soma de todas
as riquezas produzidas dentro do país – in-
do modelo de transporte individual no governo JK vem até hoje dústria, serviços ou agropecuária; a segunda
moldando a sociedade e a economia, de forma que o transpor- é medida pelo consumo, de quem compra
essas riquezas: governo, famílias, investimen-
te de massas e o escoamento da produção em grande escala tos, importações e exportações. No Brasil,
(ferrovias e hidrovias, por exemplo) foram deixados em segundo o cálculo é feito pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
plano.
ARQUIVO FSP FOLHAPRESS

JK inaugura fábrica de caminhões em São Bernardo do Campo, São Paulo, 1956.

Além disso, as metas de cunho social – alimentação e educação – foram praticamente desprezadas. A
educação recebeu apenas 3,4% das verbas originalmente destinadas ao plano, privilegiando a preparação de
pessoal de nível técnico. A educação básica não foi contemplada. Ao término do governo, o analfabetismo
atingia cerca de 40% da população brasileira acima dos 15 anos.
A produção de alimentos tampouco teve o aumento de que necessitava para abastecer o mercado
nacional. Desse modo, o Brasil continuou dependente da importação de vários produtos, como o trigo,
subsidiado pelo governo.

268
A abertura ao capital estrangeiro e os empréstimos obtidos no exterior impulsionaram o crescimento
econômico do país, mas provocaram o endividamento externo e o aumento da inflação.
As desigualdades sociais e regionais também aumentaram. A classe média foi a grande beneficiada com
o modelo nacional-desenvolvimentista: profissionais qualificados – como engenheiros e médicos – tiveram
seus salários valorizados e conseguiram acesso às novidades do mercado de consumo. Enquanto isso, a
maior parte da população brasileira continuava distante das maravilhas do mundo moderno.
Apesar da tentativa de integrar o país – objetivo da construção da nova capital –, a região Centro-Sul foi a
mais beneficiada pelo modelo econômico adotado, pois foi o destino escolhido para a instalação da maioria
das empresas.
Em 1959, o governo criou a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), a fim de esti-

HISTÓRIA
mular o desenvolvimento econômico da região e combater a “indústria da seca” – termo utilizado para iden-
tificar as práticas de corrupção que beneficiavam grandes fazendeiros da região. Os resultados da Sudene,
todavia, foram pouco satisfatórios.
O otimismo que acompanhou o Brasil durante a maior parte dos anos JK deu lugar a um cenário de in-
certezas. No último ano de governo, o país enfrentava uma inflação crescente de cerca de 25% e uma dívida
externa de quase 4 bilhões de dólares, problemas que seriam herdados pelo sucessor de JK.

Módulo 16
SITUAÇÃO-PROBLEMA

Observe a charge e leia o texto a seguir. Texto 2

Texto 1
A Brasília utópica e seu lado B
Meta de Faminto
Uma cidade inventada para ser o marco de uma nova era
THƒO/FBN,RJ/ENEM 2013

de um país. Brasília era a síntese da proposta modernista de


desenvolvimento que Juscelino Kubitschek desenhava para o
Brasil há cinquenta anos. Hoje o Distrito Federal, que gira em
torno da capital do país, é uma síntese nacional: uma região
com muitas riquezas, mas profundamente desigual.
O estabelecimento da capital federal no interior do país,
que já constava de um dispositivo na Constituição de 1891,
foi o mote para a aventura da construção do novo Brasil, mes-
clando a modernidade do capitalismo com o monumentalis-
mo da cidade, expresso em suas largas avenidas. A capital foi
projetada para coordenar a expansão econômica e social que
fatalmente, acreditava-se, o país atingiria. “O problema da uto-
pia da modernidade é que sempre há o não moderno, que se
O governo Juscelino Kubitschek

transforma, mas continua o mesmo conduzindo o processo”,


afirma Marília Luíza Peluso, professora do Departamento de
Charge “Meta de Faminto”, de Théo.
Geografia da Universidade de Brasília (UnB).
JK — Você agora tem automóvel brasileiro, para correr em Segundo artigo de Peluso, para representar a emergência de
estradas pavimentadas com asfalto brasileiro, com gasolina um país em desenvolvimento, a capital federal foi forjada com
brasileira. Que mais quer? base num urbanismo modernista que, segundo a autora, era utó-
JECA — Um prato de feijão brasileiro, seu doutô! pico, pois buscava descontextualizar a cidade de seu ambiente.

269
Entretanto, era justamente essa descontextualização que repre- opções de trabalho, porque tem os ministérios e muitas vagas
sentaria a imagem de um grande país que buscava um novo futu- em órgãos públicos”, afirma Souza. […]
ro, enterrando nosso passado colonial. Ainda segundo o artigo, os Em Ceilândia, o problema não é o acesso, mas a falta de op-
padrões do urbanismo modernista restringiam os desejos e as di- ções. “Não temos muitas opções de lazer na cidade. De um modo
ferenças dos habitantes das cidades. No caso de Brasília, a cidade geral, o jovem se reúne em grupos, mas não se diverte”, conta
foi concebida com tudo que seria necessário para o bem-estar dos Souza. Frequentar os bares brasilienses, porém, não parece uma
moradores e sua função de capital federal, afastando as mazelas solução. Souza conta que ele e alguns amigos foram advertidos
dos grandes centros. “(Lúcio) Costa projetou uma cidade muito pela polícia, que abordou o ônibus em que estavam, em direção a
singela, mas complexa em sua concepção. O plano detalhava o Brasília, a não irem à capital à noite, pois jovens de Ceilândia só
núcleo urbano em termos de locais de trabalho e habitação, co- iriam para o Plano Piloto naquele horário para cometer delitos.
mércio, lazer e circulação com uma simplicidade que permitiu
sua implantação em três anos e 10 meses”, ressalta Peluso. [...] O lado B de Brasília
A pesquisadora acredita que, apesar de ser uma cidade plane- Brasília foi um celeiro de bandas de rock nos anos 1980.
jada, não há mudança no caráter contraditório das relações sociais, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Plebe
pois, no território onde foi construída, as práticas que se instau- Rude foram formadas por jovens da capital federal influencia-
raram em seguida à inauguração reproduzem as mesmas relações dos pelo punk rock que fazia sucesso nos Estados Unidos. Por
seculares. “Brasília é singular em suas formas do Plano Piloto, mas concentrar o staff da diplomacia brasileira (e suas famílias), os
tão antiga quanto o Brasil em suas periferias e invasões”, resume. jovens tinham acesso facilitado à produção musical do exterior.
Construída em ritmo acelerado, Brasília demandou um E quando o assunto é identidade cultural, a distância entre
imenso contingente de trabalhadores que, após a inauguração, Ceilândia e o Plano, de 25 km, parece ainda maior. “O rock
se estabeleceram na região. Para acomodar a população, os ad- que foi produzido em Brasília nos anos 1980 não chegou às
ministradores lançaram mão, ano após ano, da construção de cidades-satélites, por exemplo. Não tivemos nossos represen-
cidades-satélites. Segundo Peluso, o inglês Sir William Holford, tantes. Foi só a burguesia que tocou suas guitarras e cantou
membro do júri que escolheu o plano piloto de Brasília, propôs suas músicas. Não nos confraternizamos”, enfatiza Souza. […]
as cidades-satélites como forma do crescimento da capital, su- Brasília é multifacetada, mestiça e paradoxal, assim como
pondo que ela excederia os 500 mil habitantes para os quais foi o Brasil. Também como a nação, ainda é uma jovem senhora.
projetada. A ideia de cidades-satélites e cidades-jardins data dos À capital restam muitas questões para resolver com suas cida-
fins do século XIX e princípios do século XX, como forma de des mais próximas e com o resto do país. Os próximos cinquen-
crescimento das cidades com qualidade de vida. […] ta anos dirão se ela conseguirá avançar onde precisa (ou se os
As diferenças avanços serão para todos).
DERBLI, Márcio. A Brasília utópica e seu lado B. Agencia Iberoamericana para la difusión de
Segundo um levantamento realizado pela ONU (que consi- la Ciencia y la Tecnología (DiCYT), 11 maio 2010. Disponível em: <www.dicyt.com/noticia/
dera todo o DF), Brasília é uma das vinte cidades do mundo com a-brasilia-utopica-e-seu-lado-b>. Acesso em: 17 out. 2016.

maior índice de desigualdade social, segundo o coeficiente de


Gini, usado para calcular a desigualdade de distribuição de renda. As charges políticas exploram situações enfrentadas por
A pontuação atingida pela capital (0,6) é semelhante ao índice na- personagens públicos em seus governos. Na charge apre-
cional (0,58), o que reforça a visão da cidade como um espelho do sentada, o presidente Juscelino Kubitschek dialoga com
país. Quanto mais próximo a um é o índice, maior a desigualdade. Jeca, um representante do povo brasileiro. Já o texto abor-
As disparidades que o brasiliense, ou o candango, encontra da as desigualdades sociais geradas por causa da constru-
entre o Plano Piloto e as cidades-satélites são grandes, tan- ção da nova capital federal.
to em termos de infraestrutura como sociais. Segundo Sérgio Explique a ironia presente no título da charge, “Meta de
Cássio de Souza, fundador da ONG Grupo Atitude, que realiza Faminto”, e identifique os avanços e problemas apresentados
trabalhos de cunho social com jovens de Ceilândia, não há na pelo diálogo no que se refere ao governo JK. Avalie com o
cidade-satélite recursos suficientes para realização de eventos professor e com os colegas os problemas denunciados pela
culturais e a administração do Distrito Federal investe pouco charge e pelo texto e de que forma eles se relacionam. Apro-
na região administrativa. As opções de emprego na cidade são veite também para pensar e identificar os atores sociais que se
restritas. “O jovem da Ceilândia tem empregos pontuais. Não beneficiaram da modernização brasileira e os que não usufruí-
temos muitas oportunidades de trabalho com carteira assinada. ram dos benefícios dessa transformação. A capital, no Planalto
Na maior parte das vezes, trabalhamos em Taguatinga, que tem Central, cumpriu com a missão de integrar o país? O Brasil
um comércio mais desenvolvido, e em Brasília, que tem mais tornou-se um país mais moderno e desenvolvido para todos?

270
PARA CONCLUIR

Juscelino Kubitschek assumiu a Presidência da República em janeiro de 1956, após o suicídio de


Getúlio Vargas e um período de presidentes interinos. O início de seu governo foi marcado por
tentativas de impedir sua posse e grande instabilidade política.
Contrastando com esse tumultuado início, o governo JK foi identificado como um período de
prosperidade econômica e efervescência cultural, caracterizado como os “anos dourados”.
O respeito à ordem democrática permitiu o fortalecimento de movimentos sociais no campo e

HISTÓRIA
na cidade e produziu grandes manifestações culturais, como a Bossa Nova e o Cinema Novo.
As conquistas esportivas reforçavam a ideia de que o Brasil era um país vitorioso.
A implantação de uma política nacional-desenvolvimentista, baseada na estruturação de um tripé
econômico (capital estatal, capital privado nacional e capital estrangeiro), e a adoção do Plano de
Metas impulsionaram o desenvolvimento industrial do país. O PIB cresceu em média 7% ao ano
no período e uma nova capital foi inaugurada, Brasília, materializando a ideia de modernidade
que o presidente trazia no slogan “50 anos em 5”.

M—dulo 16
Os últimos anos do governo JK, todavia, foram marcados pela emergência de problemas econô-
micos: o crescimento da inflação e do endividamento externo, acompanhado pelo aumento da
concentração de renda e das desigualdades sociais e regionais.
A opção pelo modelo nacional-desenvolvimentista revelava os problemas que o país teria de
enfrentar.

Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das quest›es sinalizadas com asterisco.

PRATICANDO O APRENDIZADO

1. (UEL-PR) A construção da cidade de Brasília fez parte d) Priorizou a importação de veículos automotores para
do processo desenvolvimentista dos anos 1950 liderado o país se inserir no mercado internacional.
pelo presidente Juscelino Kubitschek e seu vice, João e) Privatizou a Companhia Siderúrgica Nacional, com a
Goulart. O projeto modernizante de JK assentava-se na abertura do seu capital para investidores estrangeiros.
política do “50 anos em 5”, que preconizava, entre ou-
tras coisas, dotar o país de uma infraestrutura suficiente 2. (PUCC-SP)
para sustentar a industrialização. A década de 1950 foi marcada pelo anseio de modernização
Com base nos conhecimentos sobre a política econômi- do país, cujos reflexos se fazem sentir também no plano da cul-
ca desse período histórico brasileiro, assinale a alterna- tura. É de se notar o amadurecimento da poesia de João Cabral,
tiva correta. poeta que se rebelou contra o que considerava nosso sentimen-
O governo Juscelino Kubitschek

a) Disseminou o ensino técnico para todas as regiões do talismo, nosso “tradicional lirismo lusitano”, bem como o sur-
gimento de novas tendências experimentalistas, observáveis na
país por meio dos institutos técnicos federais.
linguagem renovadora de Ferreira Gullar e na radicalização dos
b) Expandiu a construção de usinas hidrelétricas e abas-
poetas do Concretismo. As linhas geométricas da arquitetura
teceu de energia o setor produtivo.
de Brasília e o apego ao construtivismo que marca a criação
c) Implantou a Sudam, que realizou a modernização e a poética parecem, de fato, tendências próximas e interligadas.
transformação da região amazônica. (MOUTINHO, Felipe, inédito)

271
A inauguração de Brasília, símbolo da modernização b) garantir a posse do presidente eleito Juscelino
empreendida durante o período de governo de JK, foi Kubitschek, hostilizado pelos setores conservadores
acompanhada de uma série de impactos imediatos, en- da sociedade civil e das Forças Armadas.
tre os quais podemos citar: c) derrubar o vice-presidente João Goulart e substituí-lo
a) a mudança da capital federal, medida que causou por um político mais próximo à ala conservadora das
muita polêmica, pois o projeto havia sido inusitado Forças Armadas.
na história do Brasil, e os funcionários federais recusa- d) prevenir uma possível vitória do Partido Comunista
vam-se a mudar para o Centro-Oeste. Brasileiro nas eleições de 1955.
b) o fim do isolamento econômico do Centro-Oeste por e) substituir o presidente Juscelino Kubitschek por Carlos
meio da inauguração de uma extensa rede viária e de Lacerda, candidato vitorioso no pleito daquele ano.
um grande parque industrial nas imediações da capital.
5. (Col. Naval-RJ) No plano da política partidária, o acordo
c) a migração de pequenos agricultores do sul do país
entre o PSD e o PTB garantiu o apoio aos principais pro-
para Goiás e Mato Grosso, estimulados por incentivos
jetos do governo Juscelino Kubitschek no Congresso. O
estatais para o plantio da soja e a agropecuária volta-
traço comum que aproximava os dois partidos era:
da à exportação.
a) a preocupação dominante com a sorte das camadas
d) a transformação da localidade em fundamental polo
médias, articuladas em torno dos sindicatos de servi-
turístico nacional, em função da curiosidade estran-
ços e de funcionários autônomos.
geira em conhecer a primeira cidade planejada da
b) o getulismo do PSD (setores dominantes no campo, a
América Latina.
burocracia governamental e setores da burocracia in-
e) o crescimento de cidades-satélites muito além da pro- dustrial e comercial) e o getulismo do PTB (burocracia
porção imaginada por Lúcio Costa em seus primeiros sindical e do Ministério do Trabalho e a maioria dos
planejamentos, em função da grande população de trabalhadores urbanos organizados).
trabalhadores atraída à região.
c) o autoritarismo esclarecido do PTB (organizando as
massas urbanas dos pequenos e médios centros do
3. (Cefet-MG) país) e o despotismo do PSD (criando as condições
Os anos JK, como se tornaram conhecidos, foram anos de básicas para a sobrevivência de pequenos sindicatos).
otimismo. O presidente irradiava simpatia, a “bossa nova” sur- d) a atuação junto aos setores despossuídos (os cha-
giu na música brasileira, tornando-se, pouco a pouco, conhe- mados “marmiteiros”) das grandes metrópoles, que
cida em todo o mundo. sempre atuaram no sentido de alcançar uma melhor
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Olhando para dentro: 1930-1964. situação de vida.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 115.
e) a defesa incondicional da instrução 113 da Sumoc
O referido período da história do Brasil caracterizou-se (Superintendência da Moeda e do Crédito), que, ao
pela propiciar uma fuga de capitais estrangeiros do país,
a) política externa imparcial. permitia que o capital industrial nacional encontrasse
condições para a sua ampliação.
b) economia nacional neoliberal.
c) cultura oligárquica excludente. 6. (PUC-RJ)
d) sociedade reformista igualitária.
REPRODU‚ÌO/ARQUIVO NACIONAL, RIO DE JANEIRO, RJ.

e) experiência eleitoral democrática.

4. (UFRGS-RS) O período da chamada República Populista


(1945-1964) foi marcado por uma série de crises políticas,
das quais o Golpe Preventivo, realizado pelo Marechal
Henrique Lott, em novembro de 1955, é um exemplo.
O principal objetivo desse golpe era:
a) afastar o presidente Jânio Quadros e instaurar uma
ditadura militar no país.

272
Em julho de 1959, em uma palestra no Clube Militar, no Pode ser considerada uma consequência do plano de
Rio de Janeiro, o presidente Juscelino Kubitschek expôs metas:
alguns aspectos de seu arrojado Plano de Metas, por ele a) O Estado permitiu a participação do capital estran-
apelidado de “50 anos em 5”. geiro em setores como o de petróleo, dos transportes
Esse conjunto de medidas integrava um projeto de e da produção de aço.
desenvolvimento nacional que:
b) As portas do país foram abertas para a entrada dos
a) não resultou em qualquer mudança no cenário eco- capitais estrangeiros.
nômico nacional, a despeito da divulgação na mídia
c) A relação do governo com o capital nacional foi mar-
e da bem estruturada propaganda do governo sobre cada pela convergência total de interesses.
sua necessidade de implantação.
d) O transporte rodoviário foi deixado de lado, optou-se

HISTÓRIA
b) reafirmava a vocação agrária nacional, estimulando a pelo transporte ferroviário.
exportação de bens primários, razão pela qual inves-
e) O governo controlou a entrada de capitais estrangeiros
tiu na construção de estradas para o escoamento da
no país, direcionando-os para o setor de bens de capital.
produção.
c) concebia o investimento estatal em setores básicos da 8. (UFG-GO) Leia os textos a seguir:
economia e a gestão dos recursos naturais sob o pon-
Vento do mar e o meu rosto no sol a queimar, queimar

Módulo 16
to de vista nacionalista, mas não rejeitou a entrada de
Calçada cheia de gente a passar e a me ver passar
capitais estrangeiros no país.
NETO, Ismael; MARIA, Antônio. “Valsa de uma cidade”, 1954.
d) não se preocupou com o desenvolvimento do Nor-
Ah! Se ela soubesse
deste, pois tinha como meta principal a transfe-
que quando ela passa
rência da capital federal para Brasília, uma cidade
construída a partir da estaca zero na região central o mundo inteirinho se enche de graça
do país. e fica mais lindo
e) restringiu as emissões de papel-moeda e impôs o por causa do amor.
JOBIM, Tom; MORAES, Vinicius de. Garota de Ipanema, 1962.
controle de preços, conseguindo, assim, contornar o
grave problema da inflação, que assolava o país havia As composições acima podem ser vistas como parte de
muitos anos. um conjunto de transformações ocorridas entre os anos
de 1950 e 1960, na sociedade brasileira. O novo elemen-
7. (Uern) to que elas expressam se relaciona

No governo de JK predominou o discurso desenvolvimen- a) à afirmação da mulher como sujeito no espaço público.
tista. O lema era assegurar o progresso econômico do Brasil b) ao surgimento de um distinto modo de vida, vincula-
através do Plano de Metas, que priorizava os setores básicos, do à experiência urbana.
como transportes, energia, educação e indústria. Prometendo c) ao nascimento de uma experiência cotidiana, ligada
realizar em cinco anos aquilo que normalmente seria feito em ao fim da sociedade industrial.
cinquenta, o governo passava a imagem de que o Brasil estava d) à preocupação com a saúde e com a qualidade de
entrando numa era de otimismo e que as mudanças termina- vida nas metrópoles.
riam por beneficiar a todos.
e) à inversão do movimento de ocupação do território
Rezende, A. P. e Didier, M. T. Rumos da História. História Geral e do Brasil.
Volume Único. Ensino Médio. 2. ed. São Paulo: Atual, 2005. p. 608. brasileiro, em direção ao litoral.
O governo Juscelino Kubitschek

ANOTA‚ÍES

273
DESENVOLVENDO HABILIDADES

1. (Vunesp-SP) Que não sai de mim


C4
H18
Não sai de mim
Brasília simbolizou na ideologia nacional-desenvolvimentista o
Não sai
“futuro do Brasil”, o arremate e a obra monumental da nação a
ser construída pela industrialização coordenada pelo Estado pla-
Mas se ela voltar
nificador, pela ação das “forças do progresso” (aquelas voltadas
Se ela voltar que coisa linda!
para o desenvolvimento do “capitalismo nacional”), que paula-
Que coisa louca!
tinamente iriam derrotar as “forças do atraso” (o imperialismo,
o latifúndio e a política tradicional, demagógica e “populista”). Pois há menos peixinhos a nadar no mar
José William Vesentini. A capital da geopol’tica, 1986. Do que os beijinhos
Que eu darei na sua boca [...]
Segundo o texto, a construção de Brasília deve ser Composição: Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
entendida: Disponível em: <www.vagalume.com.br/tom-jobim/chega-de-saudade.html>.
Acesso em: 19 set. 2015.
a) como uma tentativa de limitar a migração para o cen-
tro do país e de reforçar o contingente de mão de A letra da música acima é normalmente apresentada
obra rural. como a precursora da Bossa Nova. Ela apareceu pela pri-
meira vez em 1958 no LP, com o mesmo nome da música,
b) dentro de um conjunto de iniciativas de caráter libe-
do cantor João Gilberto, que, a partir desse momento,
ral, que buscava eliminar a interferência do Estado
inovava a música brasileira com uma nova “batida” de
nos assuntos econômico-financeiros.
violão. A chamada Bossa Nova foi produto do intuito de
c) dentro do rearranjo político do pós-Segunda Guerra um grupo de jovens que desejavam renovar a música bra-
Mundial, que se caracterizava pelo clima de paz nas sileira, já que o que era tocado no rádio não representava
relações internacionais. o novo estilo de vida da juventude do período.
d) dentro de um amplo projeto de redimensionamento A Bossa Nova, como movimento, tinha características
da economia e da política brasileiras, que pretendia que estavam em consonância com o momento político
modernizar o país. vivido pelo Brasil, pois:
e) como um esforço de internacionalização da economia a) apresentava a vida no campo, a terra e os animais
brasileira, que provocaria aumento significativo da ex- como temáticas principais. Nesse período, os gover-
portação agrícola. nos brasileiros levavam a cabo a reforma agrária e a
defesa da agricultura familiar.
2. (UEMG – Adaptada) b) percebe-se uma incisiva defesa da democracia e das li-
C3
H11
berdades individuais, já que se vivia uma ditadura que
Chega de saudade usava da repressão e censura para calar o meio artístico.

Vai minha tristeza c) suas letras demonstravam o engajamento político de


jovens de esquerda que defendiam um golpe comu-
E diz a ela que sem ela não pode ser
nista contra o governo Jango, que era completamen-
Diz-lhe numa prece
te subserviente aos EUA.
Que ela regresse
d) era uma música moderna com novos arranjos harmô-
Porque eu não posso mais sofrer
nicos e novos temas que se associavam à urbanização
e à industrialização que marcaram o governo Jusceli-
Chega de saudade no Kubitschek.
A realidade é que sem ela e) suas letras propunham uma reflexão sobre os proble-
Não há paz não há beleza mas sociais do Brasil, estimulada pelo programa de
É só tristeza e a melancolia reformas de base adotado pelo governo.

274
3. (FGV-SP) Leia um trecho de uma entrevista com o histo- 4. (Vunesp-SP)
C1 riador Francisco Alembert. C2

PETER SCHEIER/REPRODUÇÃO/VEST. UNESP


H2 H8

[...] os governos vêm sucessivamente utilizando a retórica,


a imagem e o mito do governo de Juscelino, por isso ele con-
tinua tão forte e tão presente. Mas há também algo em co-
mum na utilização de JK por esses governos. De uma forma
ou de outra, eles procuram justificar o crescimento econômi-
co dentro da democracia. Ele agradava a burguesia, porque
se mostrava um governo modernizador, e também agradava a
esquerda, mesmo não tendo uma política de esquerda. Mas

HISTÓRIA
alcançou um crescimento realmente fantástico, nunca visto
antes. O grande problema é que isso não foi dividido por toda
a sociedade. A forma como Juscelino Kubitschek é representado no
(www.sinprosp.org.br/reportagens_entrevistas. asp?especial= cartaz:
102&materia=281. Acessado em 20 ago. 2014)
a) associa a construção de Brasília ao desbravamento
A partir da entrevista, é correto afirmar que o chamado do interior do país e sugere um projeto de integra-

M—dulo 16
mito JK: ção nacional.
a) fundamenta-se em dois avanços essenciais do go- b) expressa o esforço para que ele seja aceito pelo elei-
verno Juscelino Kubitschek: a eficiente política de torado, que sempre o rejeitou por ser descendente
combate às disparidades regionais, o que garantiu de imigrantes.
um enorme crescimento econômico do Nordeste, e a c) questiona o autoritarismo de seu governo e a impo-
melhoria da distribuição de renda nacional por meio pularidade do projeto de transferência da Capital
dos aumentos salariais do operariado. para Brasília.
b) tem sido alimentado por diversos governos brasilei- d) caracteriza a inauguração da nova Capital como estra-
ros, mesmo com posturas ideológicas diferentes, por- tégia de afastar o poder federal dos principais centros
que o ex-presidente pode ser lembrado como o autor econômicos do país.
de um importante processo de abertura da econo-
e) é uma crítica ao arcaísmo de suas ações políticas e uma
mia, como também o artífice de um desenvolvimento
defesa da modernização econômica e política do país.
econômico acelerado.
c) constituiu-se a partir da competência única do presi- 5. ENEM
dente da República em amarrar as lideranças políticas C1
H3
da UDN, do PTB e do PSD ao projeto de mudança

REPRODUÇÃO/ACERVO LÚCIO COSTA


da capital e construção de Brasília, compreendida por
todas essas forças políticas democráticas como ne-
cessidade para o desenvolvimento nacional.
d) baseia-se na capacidade política do então presidente
brasileiro, líder de uma grande negociação entre as
forças econômicas e políticas nacionais, que efetivou
um processo de reforma agrária progressista, além
da extensão dos direitos trabalhistas aos homens do
O governo Juscelino Kubitschek

campo.
e) está vinculado à reconhecida sensibilidade política de
Juscelino Kubitschek, que foi capaz de articular todas
as principais forças políticas nacionais, formando um
governo de coalizão de centro-esquerda, com a par-
ticipação das mais representativas lideranças da UDN Lúcio Costa, Plano Piloto de Brasília. Disponível em:
e do PSB. <www.vitruvirus.es>. Acesso em: 7 dez. 2011.

275
O arrojado projeto arquitetônico e urbanista da nova ca- c) o crescimento do setor de bens de consumo, que ad-
pital federal fez com que Brasília fosse, no ano de 1987, vinha do investimento externo e transformava o coti-
considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco, diano doméstico.
porque o Plano Piloto de Brasília concretizava os prin- d) a ausência de diversidade na indústria, que investia
cípios do: na fabricação de um único modelo por produto em
a) urbanismo modernista internacional. virtude da produção em série.
b) modelo da arquitetura sacra europeia. e) o incentivo governamental ao casamento, que am-
c) pensamento organicista das metrópoles brasileiras. pliava o mercado consumidor de produtos domésti-
cos para o conforto familiar.
d) plano de interiorização da capital.
e) projeto nacional-desenvolvimentista do governo JK.
7. (Vunesp-SP)
C3
6. (UFG-GO) Analise a imagem a seguir. H11
Bossa nova é ser presidente
C4
H19 desta terra descoberta por Cabral.

REPRODU‚ÌO/VEST. UFG
Para tanto basta ser tão simplesmente:
simpático, risonho, original.
Depois desfrutar da maravilha
de ser o presidente do Brasil,
voar da Velhacap pra Brasília,
ver Alvorada e voar de volta ao Rio.
Voar, voar, voar.
[...]
Juca Chaves apud Isabel Lustosa.
Hist—rias de presidentes, 2008.

A canção Presidente bossa-nova, escrita no final dos


anos 1950, brinca com a figura do presidente Juscelino
Kubitschek. Ela pode ser interpretada como a
a) representação de um Brasil moderno, manifestado na
construção da nova capital e na busca de novos valo-
res e formas de expressão cultural.
b) celebração dos novos meios de transporte, pois
O CRUZEIRO, Rio de Janeiro, 1960. Disponível em: Kubitschek foi o primeiro presidente do Brasil a utili-
<http://www.memoriaviva.com.br/cruzeiro/>. Acesso em: 27 fev. 2012.
zar aviões nos seus deslocamentos internos.
Para um lar que está se formando agora… ou para a dona
de um lar que já se formou há muito tempo… não há outro c) rejeição à transferência da capital para o Planalto
presente tão desejado, útil e oportuno como estes belíssimos Central, pois o Rio de Janeiro continuava a ser o cen-
Aparelhos ARNO! tro financeiro do país.
d) crítica violenta ao populismo que caracterizou a polí-
Publicado na revista O Cruzeiro, na década de 1950, a tica brasileira durante todo o período republicano.
imagem integra um anúncio publicitário que, associado
e) recusa da atuação política de Kubitschek, que permi-
às mudanças na política brasileira, expressa:
tia participação popular direta nas principais decisões
a) a acessibilidade aos produtos domésticos para as dis- governamentais.
tintas parcelas da população, que podiam consumir
tendo em vista o cenário de pleno emprego. 8. (Cefet-MG – Adaptada) Durante as festividades da inau-
b) a presença feminina no mercado de trabalho, que C1 guração de Brasília, em 1960, ocorreu a apresentação de
H1
permitia à mulher tornar-se uma consumidora privile- uma peça teatral ao ar livre, que foi assim descrita por
giada dos produtos industrializados. um jornalista da época:

276
A luta pela interiorização da capital e a construção de 9.
Brasília foram retratadas [...]. Enxadas, pás, picaretas e ou- C2
H8

THÉO/FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, RIO


DE JANEIRO, RJ.
tras ferramentas foram distribuídas entre os figurantes, que
representavam os operários de Brasília [...]. Cada um dos
episódios era contrastado pela oposição de um velho [...].
Mas quando por fim ele manifesta sua aversão à fundação
de Brasília, oito tratores barulhentos invadiram a cena e apa-
receu no céu um helicóptero. Dele desceu um homem, de
porte semelhante ao de Juscelino, a acenar para a multidão,
que aplaudia, enquanto o velho pessimista foi metido no he-

HISTÓRIA
licóptero que o levou para longe [...].
Apud DUARTE, Luiz Sérgio. 21 de abril de 1960: inauguração de Brasília. THÉO. Sem título. Careta, Rio de Janeiro, ano L, n. 2579, p. 28, 30 nov. 1957.
In: BITTENCOURT, Circe (Org.). Dicion‡rio de datas da Hist—ria do Brasil.
São Paulo: Contexto, 2007. p. 107-108.
Na charge publicada pelo caricaturista Théo, na revista Ca-
Considerando o contexto histórico no qual a peça foi reta, podemos identificar uma crítica ao governo JK, que:
representada, a melhor interpretação para sua mensa- a) não estava disposto a cuidar dos problemas nacionais
gem é: – greve, inflação, vida cara e crise econômica –, pois

M—dulo 16
a) O país vivia um período de otimismo e a adesão a estava envolvido na construção de Brasília e nas fre-
grandes obras significava apoiar a modernidade. quentes viagens para o Planalto Central.

b) Os construtores da cidade foram afastados de sua b) era incapaz de ver os problemas nacionais – greve,
obra pela discriminação social e as cidades-satélites inflação, vida cara e crise econômica –, pois havia se
nasceram para abrigá-los. mudado para Brasília.
c) A ocupação do interior do território nacional deslo- c) ausentava-se sempre do Rio de Janeiro, deixando os
cou o centro econômico do país e possibilitou o nas- problemas nacionais – greve, inflação, vida cara e cri-
cimento do novo sindicalismo. se econômica – para seus assessores resolverem.
d) As tradições rurais dos goianos foram simbolicamen- d) desconhecia os problemas nacionais – greve, inflação,
te incorporadas pelo projeto modernista do país e a vida cara e crise econômica –, pois a imprensa estava
cultura nacional saiu enriquecida. censurada e nada falava sobre tais questões.
e) A construção da nova capital significou a vitória da e) era incapaz de solucionar os problemas nacionais –
modernidade e a eliminação das desigualdades so- greve, inflação, vida cara e crise econômica –, que con-
ciais no Brasil. siderava de pouca importância.

APROFUNDANDO O CONHECIMENTO
O governo Juscelino Kubitschek

1. (PUC-RJ) dente que ousou duvidar da eterna vocação agrícola do país


Da figura e da atuação de Juscelino Kubitschek terá fica- e que aliou ao desenvolvimento acelerado uma experiência
do, para adversários e admiradores, a imagem de seu espírito bem-sucedida de governo democrático.
BENEVIDES, Maria Victoria.
otimista e criador, iluminado por inegável tolerância política. In: GOMES, Ângela de Castro. “O Brasil de JK”.
Não deixa de seduzir o fascínio do “50 anos em 5” do presi- Rio de Janeiro, Editora da FGV/CPDOC, 1991, p. 9.

277
a) Caracterize duas ações do governo JK relacionadas à

REPRODUÇÃO/VEST. UERJ-2013
superação do subdesenvolvimento.
O aluno pode se referir à adoção de um Plano de Metas, que
pretendia imprimir acelerado desenvolvimento à sociedade
Getúlio Vargas
brasileira. O plano previa cinco setores básicos da economia examinando o
protótipo de um
(energia, indústria, transporte, educação e alimentação) que carro brasileiro
deveriam receber maiores investimentos do governo. Os setores produzido pela
Fábrica Nacional de
que mais recursos receberam foram o de energia, o de transporte Motores, em 1951.
Carroantigo.com
e o de indústrias de base.
As metas, em sua maioria, alcançaram resultados considerados Os governos de Getúlio Vargas e de Juscelino Kubitschek
positivos (educação e alimentação não tiveram êxito). Como foram momentos marcantes da história econômica brasi-
exemplos de realizações do período, o aluno pode citar a construção leira, especialmente no que se refere ao desenvolvimento
de hidrelétricas e a produção de energia elétrica, a ampliação da industrial do país.
produção de petróleo e de aço, a instalação das multinacionais da Uma semelhança entre o processo de industrialização
indústria automobilística, entre outros. brasileiro verificado no governo de Vargas e no de JK
A construção de Brasília era a metassíntese que representava a está apontada em:
modernização, a integração e o desenvolvimento e também pode a) expansão do mercado interno.
ser caracterizada como uma das ações do governo. b) flexibilização do monetarismo.
c) regulação da política ambiental.
d) autonomia do progresso tecnológico.
b) Explique a percepção de que o governo JK foi “uma
experiência bem-sucedida de governo democrático”. 3. (Uespi) Sob a presidência de Juscelino Kubitschek (1955-
O aluno deve se referir ao fato de que, contrastando com os -1961), a nação brasileira assistiu à criação de Brasília –
governos anteriores (Dutra e Vargas), Juscelino Kubitschek considerada, pela Unesco, patrimônio cultural da huma-
governou dentro da legalidade, respeitando os movimentos de nidade – e vivenciou:
oposição e a liberdade assegurada pela Constituição, o que não a) momentos de euforia resultantes, em boa parte, da
ocorreu durante o governo Dutra. Além disso, JK concluiu seu política desenvolvimentista de incremento à indús-
mandato, diferentemente de Vargas, que cometeu suicídio. tria nacional e aumento do poder aquisitivo da clas-
Se os alunos tiverem conhecimento sobre os governos que ainda se média.
serão trabalhados – Jânio Quadros e João Goulart –, eles também b) importante papel político para a aproximação dos
podem considerar que Jânio renunciou à presidência sete meses países da América Latina com os Estados Unidos, em
após iniciar o mandato e Jango foi deposto por um golpe civil-militar. vista da estratégica posição do Brasil no Atlântico Sul.
c) época de forte repressão política ao operariado e
descaso para com a interiorização do desenvolvimen-
to econômico.
d) um período predominantemente liberal, em termos
2. (Uerj) econômicos, o que pode ser exemplificado pelo início
da construção da Companhia Siderúrgica Nacional.
REPRODUÇÃO/FOLHA DE SP/VEST. UERJ-2013

e) uma forte recessão econômica em que a indústria na-


cional não deu sinais de crescimento e o poder aqui-
sitivo da classe média caiu.

Juscelino Kubitschek
na inauguração da 4. (UFPR – Adaptada) As duas figuras a seguir são pro-
representação da pagandas de carro publicadas na famosa revista O
Volkswagen no Brasil,
em 1959. Cruzeiro, em 1960 (O Cruzeiro, no 27, 16 de abril de
folha.uol.com.br 1960). Analise as figuras, explicando o que foi o Plano

278
de Metas e quais suas consequências para a sociedade 5. (PUC-RJ – Adaptada)
brasileira no período do governo Juscelino Kubitschek
(1956-1961). Boa
Vista
Equador Macapá

REPRODUÇÃO/UFPR, 2012.
São Luís

24
90

1770
Manaus Fortaleza
Teresina

1 945
19
Natal

40

60
0
1 26

18
50 João
17 Pessoa
Porto 85
Velho 16 0
2 Recife
16
Rio 1 92 5 Maceió
Branco 0 1 45
2 280 0 Aracaju
1 27

1 030 Salvador
Cuiabá
925
5
22
Goiânia OCEANO
ATLÂNTICO

HISTÓRIA
72 940
5
94
0
Belo Vitória

890
Horizonte

1260 0
111
São Rio de Janeiro
córnio
de Capri Paulo
Trópico
Curitiba
OCEANO
Florianópolis

1650
PACÍFICO N
Porto Alegre
0 610

km

M—dulo 16
Posição do Planalto Central brasileiro e as distâncias a que se ache
das capitais e territórios. Revista Bras’lia, jan. 1957. (Adaptado)

Desenvolvimento e integração nacional foram objetivos


de vários governos republicanos brasileiros. O presidente
REPRODUÇÃO/UFPR, 2012.

Juscelino Kubitschek (1956-1961) considerava a construção


de Brasília um dos objetivos do seu projeto de governo.
Qual a importância da construção de Brasília para as
ações desenvolvimentistas propostas no Plano de Metas?
Brasília era a metassíntese do Plano de Metas, pois a interiorização
da capital possibilitaria uma maior integração nacional, condição para
o desenvolvimento do país. Em complementação às outras metas, a
construção de Brasília estimularia a indústria automobilística, assim
como a produção de matérias-primas e a geração de energia.

6. (Vunesp-SP) A construção de Brasília durante o governo


Juscelino Kubitschek (1956-1961) teve, entre suas moti-
vações oficiais,
a) afastar de São Paulo a sede do governo federal, impe-
O aluno deve considerar que o principal objetivo do Plano de Metas dindo que a elite cafeicultora continuasse a controlá-lo.
era promover o desenvolvimento econômico do Brasil. Apesar de
b) estimular a ocupação do interior do país, evitando a
contemplar aspectos diferentes do desenvolvimento, sua ênfase era o concentração das atividades econômicas em áreas
avanço no setor industrial, com mecanismo de atração de empresas litorâneas. O governo Juscelino Kubitschek
e capitais estrangeiros, que seriam responsáveis pela geração de c) deslocar o funcionalismo público do Rio de Janeiro,
empregos, pela modernização da vida urbana e pelos novos permitindo que a cidade tivesse mais espaços para
investimentos. A indústria automobilística (representada pelos acolher os turistas.
automóveis das imagens) foi um dos principais setores utilizados para d) tornar a nova capital um importante centro fabril, reu-
promover o crescimento econômico pretendido. nindo a futura indústria de base do Brasil.
e) reordenar o aparato militar brasileiro, expandindo suas
áreas de atuação até as fronteiras dos países vizinhos.

279
7. (Unifesp) Comemora-se em 2010 o centenário de nasci- 8. (Cefet-MG) Com o Plano de Metas, lançado pelo gover-
mento do compositor Adoniran Barbosa. “Saudosa Ma- no brasileiro na segunda metade dos anos 1950, houve
loca”, de 1955, e “Trem das Onze”, de 1964, estão entre uma ruptura com a política econômica vigente no país,
as mais significativas de suas composições. desde a década de 1930, porque se:
“Saudosa Maloca”: Ali onde agora está/ Esse edifício arto,/ a) favoreceu o pequeno capitalista nacional por meio de
Era uma casa veia,/ Um palacete assobradado,/ Foi ali, seu crédito barato das agências estatais.
moço,/ Que eu, Mato Grosso e o Joca,/ Construímos nossa b) incentivou a criação de mercados consumidores e a
maloca,/ Mas um dia, nóis nem pode se alembrá,/ Veio os produção de bens de consumo duráveis.
home, com as ferramenta,/ E o dono mandô derrubá.
c) garantiu a estabilização da economia graças aos me-
“Trem das Onze”: Não posso ficar nem mais um minuto canismos de distribuição de renda.
com você/ Sinto muito, amor, mas não pode ser/ Moro em d) reservou o monopólio do processo de industrializa-
Jaçanã,/ Se eu perder esse trem/ Que sai agora às onze horas/ ção e de avanço tecnológico às empresas estatais.
Só amanhã de manhã.
e) proibiu a entrada de capitais estrangeiros no país, esti-
a) As composições de Adoniran Barbosa expressam o mulando exclusivamente a industrialização nacional.
processo de urbanização da sociedade, que se in-
tensificou nos anos 50 do século passado. Cite duas 9. (Unifesp) O Plano de Metas de Juscelino Kubitschek,
causas do crescimento das cidades brasileiras a partir presidente brasileiro de 1956 a 1961, apontava cinco
dessa data. áreas prioritárias de investimentos estatais: energia,
A segunda metade da década de 1950 foi marcada pela política transporte, alimentação, indústria e educação. Indique:
desenvolvimentista do presidente Juscelino Kubitschek, apoiada a) o tipo de industrialização privilegiado pelo Plano de
no Plano de Metas, que tinha como base a industrialização do Metas.
país e o desenvolvimento de outros setores, principalmente de O Plano de Metas priorizava as indústrias de base e a fabricação
energia e transporte. Nesse período, muitas empresas e capitais de bens de consumo duráveis e não duráveis.
estrangeiros estabeleceram-se no país, concentrando-se nas áreas
urbanas, principalmente da região Sudeste.

b) As letras de “Saudosa Maloca” e de “Trem das Onze” b) as atribuições que, de acordo com o Plano de Metas,
descrevem os problemas e as dificuldades sociais ge- o Estado brasileiro assumia para estimular o cresci-
rados por essa urbanização. Que problemas sociais mento econômico.
são apresentados nessas composições? De acordo com o Plano de Metas, caberia ao Estado os
“Saudosa Maloca” descreve os problemas relacionados à investimentos nos setores energético (Eletrobras), siderúrgico
moradia. O crescimento urbano foi marcado pela verticalização e (Companhia Siderúrgica Nacional e Belgo-Mineira), petrolífero
pela valorização de diversas áreas centrais nas cidades, forçando (Petrobras) e de comunicação (Embratel), na construção de
o deslocamento das populações mais pobres, que normalmente grandes rodovias, na saúde, na educação, entre outros.
viviam em “malocas” ou cortiços para áreas periféricas. Já “Trem
das Onze” destaca o problema nos transportes, com a ampliação
das distâncias – em razão do crescimento das cidades – e a
limitação dos transportes públicos, principalmente nas áreas
periféricas.

280
10. (Uerj)

Brasil: Plano de Metas, previsões e resultados – 1957-1961


previsão realizado %
energia elétrica
2 000 1 650 82
(1 000 kW)
carvão
1 000 230 23
(1 000 toneladas)
petróleo – produção
96 75 76
(1 000 barris/dia)
petróleo – refino
200 52 26

HISTÓRIA
(1 000 barris/dia)
ferrovias
3 1 32
(1 000 km)
rodovias – construção
13 17 138
(1 000 km)
rodovias – pavimentação
5 – –
(1 000 km)

Módulo 16
aço
1 100 650 60
(1 000 toneladas)
cimento
1 400 870 62
(1 000 toneladas)
carros e caminhões
170 133 78
(1 000 unidades)
Fonte: Orenstein e Sochaczewski, 1990.
AMÉRICO FREIRE et al. Adaptado de História em curso. O Brasil e suas relações com
o mundo ocidental. São Paulo: Editora do Brasil; Rio de Janeiro: FGV, 2004.

O Plano de Metas aplicado durante o governo de Juscelino Kubitschek, entre 1956 e 1961, visava estimular o desenvol-
vimento econômico brasileiro.
Pela leitura do quadro, conclui-se que um dos objetivos alcançados pelo Plano de Metas foi:
a) integração das redes de transporte rodoferroviário.
b) modernização das técnicas de extrativismo mineral.
c) ampliação dos investimentos na infraestrutura industrial.
d) expansão dos capitais privados na prospecção de petróleo.

ANOTA‚ÍES

O governo Juscelino Kubitschek

281
Os governos

17
Jânio Quadros e
João Goulart
Módulo

OBJETOS DO CONHECIMENTO
• As eleições presidenciais de 1960
• As medidas e a renúncia de Jânio Quadros
• A crise política e a Campanha da Legalidade
• A solução parlamentarista
• O presidencialismo de João Goulart
• A radicalização política
• A derrubada de João Goulart

HABILIDADES
• H11 - Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
• H13 - Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudan-
ças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
• H21 - Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
• H24 - Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
• Indicar os fatores que determinaram a vitória eleitoral do presidente Jânio Quadros.
• Identificar as ações de política interna e externa.
• Compreender a fragilidade do governo Jânio Quadros.
• Compreender a solução parlamentarista.
• Avaliar a política econômica adotada pelos presidentes Jânio Quadros e João Goulart.
• Analisar os objetivos e os efeitos da renúncia de Jânio Quadros.
• Explicar a proposta de Reformas de Base defendida pelo presidente João Goulart.
• Explicar a radicalização política do país.
• Contextualizar o golpe que derrubou o presidente João Goulart e o papel dos civis e dos militares
nesse processo.
282
PARA COMEÇAR

Leia o texto a seguir.

Com arquivos e áudios da Casa Branca, filme revela apoio dos EUA ao golpe de 1964
YOICHI OKAMOTO/LBJ PRESIDENTIAL LIBRARY, WASHINGTON D.C., EUA.

HISTÓRIA
O presidente
Lyndon Johnson
(à direita)

Módulo 17
autorizou o
embaixador
Lincoln Gordon
(à esquerda) a
desestabilizar
o governo de
João Goulart,
além de enviar
navios ao Brasil.

O filme O dia que durou 21 anos, de Camilo Tavares, revela como os Estados Unidos colaboraram
para o golpe militar de 1964, que derrubou o presidente brasileiro João Goulart, com base em documentos
sigilosos de arquivos norte-americanos e áudios originais da Casa Branca. O documentário [...] apresenta
áudios de conversas dos presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson com assessores sobre o Brasil e
mostra como os vizinhos do norte apoiaram os conspiradores, com ações de desestabilização e até militares.
O embaixador dos Estados Unidos no Brasil no início dos anos 1960, o intelectual brasilianista
de Harvard Lincoln Gordon, aparece como quase um vilão, com seus alarmantes telegramas para os
presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson, em que apontava o risco iminente de o Brasil seguir
Cuba em direção ao comunismo. “Se o Brasil for perdido, não será outra Cuba, mas outra China, em
nosso hemisfério ocidental.” No contexto da Guerra Fria da época, pouco após Cuba se tornar socia-
lista, esse era o pior pesadelo dos americanos. [...]
O documentário mostra, então, as ações de propaganda dos EUA, coordenadas por Gordon, para
desestabilizar o governo brasileiro. Cita a criação e o financiamento de supostos institutos de pesquisa anti-
-Goulart, como o Ibad (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) e o Ipes (Instituto de Pesquisas e Estu-
dos Sociais), para bancar “pesquisas” e campanhas de 250 candidatos a deputados, oito a governador e 600

Os governos Jânio Quadros e João Goulart


a deputado estadual no país. Além disso, o estímulo de greves e artigos na imprensa contra o governo eram
o “feijão com arroz” de “ações encobertas” da CIA (Agência Central de Inteligência) onde se pretendia der-
rubar regimes, como explica o coordenador do Arquivo de Segurança Nacional dos EUA, Peter Kornbluh.
Em telegrama para Washington, Gordon admite: “Estamos tomando medidas complementares
para fortalecer as forças de resistência contra Goulart. Ações sigilosas incluem manifestações de rua
pró-democracia, para encorajar o sentimento anticomunismo no Congresso, nas Forças Armadas,
imprensa e grupos da Igreja e no mundo dos negócios.” Entrevistado, o assessor de Gordon na em-
baixada, Robert Bentley, não nega o financiamento americano, apenas sorri, cala e diz: “Isso era uma
polêmica quando cheguei [ao Brasil].”

283
REPRODU‚ÌO/ARQUIVO DA EDITORA
O filme reitera ainda a importância do adido
militar da embaixada Vernon Walters, amigo de ofi-
ciais brasileiros desde a Segunda Guerra Mundial,
como o general Castelo Branco, que viriam a ser
fundamentais na derrubada de Goulart. Cabia a
Walters identificar insatisfeitos entre militares. O
oficial descreve Castelo Branco, então chefe do Es-
tado-Maior do Exército, como “altamente compe-
tente, oficial respeitado, católico devotado e admira
o papel dos EUA como defensores da liberdade”.
Segundo Bentley, “havia muita confiança em Cas-
telo Branco”, o “homem para sanear a situação, do
ponto de vista dos interesses americanos”.
Quando a situação esquenta, os EUA concor-
João Goulart ao lado do embaixador estadunidense dam em mandar navios de guerra para a costa bra-
Lincoln Gordon.
sileira, na chamada Operação Brother Sam, com
o objetivo de intimidar e dissuadir o governo de resistir ao golpe. O presidente norte-americano autoriza,
em áudio, a fazer “tudo o que precisarmos fazer. Vamos pôr nosso pescoço para fora (nos arriscar).” [...]
Um telegrama “top secret” da CIA, de 30 de março – véspera da eclosão do movimento – mostra como
os americanos estavam bem informados e articulados com os conspiradores. No documento intitulado
“Planos de Revolucionários em Minas Gerais”, os espiões dizem que “Goulart deve ser removido imedia-
tamente. Os governadores de São Paulo e Minas Gerais chegaram definitivamente a um acordo. A ignição
será uma revolta militar liderada pelo general Mourão Filho. As tropas vão marchar para o Rio de Janeiro.”
Documento assinado pelo secretário de Estado dos EUA, Dean Rusk, confirma que os golpistas pe-
diram apoio militar aos EUA. “Pela primeira vez, os golpistas brasileiros pediram se a Marinha americana
poderia chegar rapidamente à costa sul brasileira.” Para o professor de História da UFRJ Carlos Fico, a reta-
guarda da Brother Sam foi fundamental para dar segurança aos militares que derrubariam o regime. Apesar
dos documentos, e de forma pouco convincente, o diplomata Bentley nega ter ouvido falar na operação. [...]
Após o sucesso da iniciativa, Gordon escreve aos EUA. “Tenho o enorme prazer de dizer que a eliminação
de Goulart representa uma grande vitória para o mundo livre.” Robert Bentley conta que participou, no gabine-
te vazio de Goulart, de reunião sobre a posse do novo regime em que estava o presidente do Supremo Tribunal
Federal. Ao telefone para o embaixador, foi perguntado se a posse do novo regime tinha sido legal, e respondeu:
“‘Parece que foi legal, não sei dizer’. Acordei 12 h depois e [os EUA] tinham reconhecido o governo.” [...]
O documentário é também um projeto familiar e uma homenagem do diretor, Camilo Tavares, ao
pai, o jornalista e ativista político Flávio Tavares – um dos 15 presos trocados pelo embaixador americano
Charles Elbrick, sequestrado no Rio em 1969.
GOMIDE, Raphael. Disponível em: <http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2013-03-15/com-arquivos-e-
audios-da-casa-branca-filme-revela-apoio-dos-eua-ao-golpe-de-64.html>. Acesso em: 17 out. 2016. Adaptado.

Como pôde ser lido no texto, em 2013 chegou aos cinemas brasileiros o filme O dia que durou 21
anos. Trata-se de mais uma tentativa de compreender os motivos que resultaram na implantação, a
partir de abril de 1964, de uma ditadura civil-militar no Brasil e também de identificar a amplitude do
apoio estadunidense a esse processo.
Assim, o objetivo deste módulo é entender os problemas e as pressões relacionados aos governos de
Jânio Quadros e João Goulart, que desembocaram na implantação de uma longa ditadura no Brasil.

284
PARA APRENDER

A eleição presidencial
Nas eleições presidenciais de 1960, a União Democrática Nacional (UDN) decidiu apoiar um candidato de fora
dos quadros do partido, mas que parecia ter todas as condições para tornar-se presidente: Jânio da Silva Quadros.
Eleito suplente de vereador pelo Partido Democrata Cristão (PDC) em 1947, Jânio Quadros assumiu uma
cadeira na Câmara paulista no ano de 1948, após a cassação dos mandatos dos parlamentares comunistas.

HISTÓRIA
A partir daí, decolou para uma trajetória política meteórica: deputado estadual, prefeito e governador de
São Paulo, até chegar à Presidência da República. Ao longo de sua trajetória, destacou-se pelo estilo perso-
nalista e pela independência em relação aos partidos políticos.
Em abril de 1959, o Movimento Popular Jânio Quadros (MPJQ), uma frente suprapartidária, lançou sua
candidatura a presidente, logo recebendo o apoio do Partido Trabalhista Nacional (PTN), uma pequena agre-
miação de expressão exclusivamente paulista. Vislumbrando em Jânio Quadros a possibilidade de derrotar o

M—dulo 17
PSD e o PTB, a UDN ofereceu apoio a sua candidatura, o que foi fundamental para que ela obtivesse projeção
nacional. Segundo Carlos Lacerda, um dos principais nomes da UDN, “Jânio Quadros tinha cheiro de povo”.
O PSD lançou o marechal Henrique Teixeira Lott para a sucessão de Juscelino Kubitschek, em aliança com
o PTB, que indicou João Goulart para ser mais uma vez vice-presidente da República.
A campanha de Jânio Quadros foi marcada pela retórica do

REPRODU‚ÌO/ACERVO ALESP, SP.


combate à corrupção – incluindo a adoção da vassoura como sím-
bolo para varrer a corrupção –, da austeridade econômica e do
saneamento das finanças públicas. O jingle da campanha dizia:
“Varre, varre, varre, varre / Varre, varre vassourinha / Varre, varre a
bandalheira / O povo já está cansado / De sofrer dessa maneira /
Jânio Quadros é esperança / Desse povo abandonado”.
Nos comícios, suas atitudes o distanciavam das adotadas pelas
elites e o aproximavam do povo: usava ternos mal cortados e amarro-
tados, comia sanduíche de mortadela e banana.
Jânio Quadros venceu as eleições de 3 de outubro de 1960
com 48% do total dos votos, o marechal Lott ficou em segundo,
com 32%, e Ademar de Barros (PSP) em terceiro, com 20% dos
votos. A Vice-Presidência foi conquistada por João Goulart, que
Jânio Quadros com a vassoura, símbolo de suas campanhas
recebeu aproximadamente 4,5 milhões de votos. políticas, na década de 1950.
PICTORIAL PARADE/GETTY IMAGES

Os governos Jânio Quadros e João Goulart

João Goulart, Jânio


Quadros e Juscelino
Kubitschek em cerimônia
de posse, em Brasília, 1960.

285
O governo Jânio Quadros: moralização e austeridade econômica
Os primeiros dias do governo de Jânio Quadros – o primeiro presidente a ser empossado na nova capital
federal – foram marcados pela adoção de medidas que pretendiam transmitir a ideia de moralização e ino-
vação dos costumes. Jânio proibiu corridas de turfe em dias úteis, rinhas de galo, uso do lança-perfume em
bailes de Carnaval, desfile de misses com maiôs cavados e regulamentou jogos de cartas em clubes.
Levando adiante um programa que denominava “obra de saneamento moral da nação”, Jânio estabele-
ceu sindicâncias para verificar irregularidades em cinco diretorias públicas, determinou abertura de inquéri-
tos em repartições governamentais e reduziu direitos e privilégios de funcionários públicos.
Em relação à política econômica e financeira, o ministro da Fazenda Clemente Mariani anunciou corte de
gastos públicos, restrição de crédito e estímulo às exportações, medidas necessárias para combater o deficit
orçamentário, o desequilíbrio nas contas públicas e a inflação. Foi anunciada uma reforma cambial que
resultou no corte de subsídios a produtos essenciais, significando aumento do custo de vida. Tais medidas
agradaram os credores internacionais e possibilitaram ao governo a renegociação da dívida externa, mas
foram duramente criticadas por grupos oposicionistas.
Jânio Quadros acreditava estar acima dos partidos políticos, por isso começou o seu governo sem formar
uma base política. Enviava aos ministros e assessores centenas de “bilhetinhos”, revelando-se pouco aber-
to ao diálogo. Com o Congresso controlado pelo PTB e pelo PSD, enfrentava dificuldades para governar.
Carlos Lacerda, antes tão entusiasmado com a perspectiva de Jânio levar a UDN ao poder, logo rompeu com
o presidente, a quem identificava como “o mais mutável, o mais desequilibrado, o mais pérfido de todos os
homens públicos que apareceram no Brasil”.

A política externa e a renúncia


Em um cenário marcado pela Guerra Fria, Jânio Quadros adotou a Política Externa Independente (PEI),
aberta a relações com todos os países do mundo, uma terceira via perante a fragmentação mundial entre
capitalistas e socialistas. Essa orientação provocou forte reação em grupos que o apoiavam, inclusive em jor-
nais como O Globo, Tribuna da Imprensa e O Estado de S. Paulo, que defendiam o alinhamento automático
com os Estados Unidos.
ARQUIVO CB/D.A PRESS

Em abril de 1960, Jânio manifestou-se publicamente contra a


invasão estadunidense a Cuba: “O Brasil, reiterando sua decisão
inabalável de defender neste continente e no mundo os princípios
de autodeterminação dos povos e de absoluto respeito à sobe-
rania das nações, manifesta a sua profunda apreensão sobre os
acontecimentos que se desenrolam em Cuba”.
Buscando estabelecer relações com países do bloco socialista,
Jânio determinou o restabelecimento da validade dos passaportes
brasileiros para esses países e enviou duas missões comerciais ao
Leste Europeu. O presidente recebeu nos meses seguintes a pri-
meira missão comercial da China e deu os primeiros passos para o
reatamento das relações diplomáticas com a União Soviética.
No dia 19 de agosto, Jânio Quadros condecorou Ernesto Che
Guevara, líder da Revolução Cubana – ao lado de Fidel Castro – e
ministro da Indústria e Comércio daquele país, com a Ordem do
Cruzeiro do Sul, a mais alta condecoração brasileira destinada a
estrangeiros. Tal gesto provocou indignação dos setores conser-
vadores civis e militares, representados, por exemplo, por Carlos
Presidente Jânio Quadros cumprimenta o ministro cubano Che
Guevara durante cerimônia de condecoração, 1961. Lacerda, governador do estado da Guanabara à época.

286
HISTÓRIA
REPRODU‚ÌO/ACERVO ALESP, SP.

Em seu último
ato como
presidente,
Jânio Quadros
passa em
revista a tropa

M—dulo 17
do Batalhão
da Guarda
Presidencial, em
Brasília, 1961.

No dia 24 de agosto, Lacerda fez um discurso no rádio e na televisão acusando Jânio Quadros de tra-
mar um golpe para fortalecer o Poder Executivo e efetuar amplas reformas no país. No dia seguinte, Jânio
Quadros apresentou ao Congresso Nacional uma carta anunciando sua renúncia à Presidência. Em segui-
da, pegou um avião em direção a São Paulo. No texto
referia-se a “forças terríveis” que haviam se desenca-
deado contra ele.
Para algumas linhas de pesquisa histórica, a re-
núncia de Jânio Quadros é entendida como uma
tentativa do presidente de se fortalecer. Conside-
rando que o vice-presidente João Goulart, do PTB,

APPE/O CRUZEIRO/D.A PRESS


era visto pelos setores conservadores civis e militares
como muito “à esquerda”, cogitou-se que Jânio ima-
ginasse que a renúncia não seria aceita. Além disso,
Jango (como Goulart era mais conhecido) não esta-
va no Brasil: encontrava-se em viagem oficial à Chi-
na e não poderia assumir a Presidência de imediato,
como previsto pela Constituição. Dessa maneira, Jâ-
nio acreditaria em uma provável recusa da renúncia

Os governos Jânio Quadros e João Goulart


e assim teria condições de reivindicar ao Congresso
maior liberdade de ação para realizar as reformas que
julgasse necessárias. A tentativa do suposto “golpe
branco”, entretanto, não deu certo.

A renúncia, charge do
Appe. O Cruzeiro,
7 de outubro de 1961.
Biblioteca Nacional.

287
A crise política e a solução parlamentarista
A renúncia foi prontamente aceita pelo Congresso Nacional e, diante da ausência de João Goulart, a
Presidência foi transferida para Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados. Criou-se então uma gra-
ve crise política. Algumas lideranças civis começaram a articular um meio de impedir a posse do vice. Os três
ministros militares – o general Odylio Denis, da Guerra; o brigadeiro Gabriel Grün Moss, da Aeronáutica; e o
almirante Sílvio Heck, da Marinha – também se declararam contra a posse de Jango, que consideravam muito
próximo aos sindicatos, uma brecha para os comunistas chegarem ao poder. Já o marechal da reserva e ex-can-
didato à Presidência, Henrique Teixeira Lott, distribuiu um manifesto à nação em defesa da legalidade da posse
de Jango, resultando em sua prisão por ordem dos ministros militares.
Leia a seguir um trecho do manifesto do marechal Lott a favor da posse de Jango.

Tomei conhecimento, nesta data, da decisão do Senhor Ministro da Guerra, marechal Odylio
Denis, manifestada ao representante do governo do Rio Grande do Sul, deputado Rui Ramos, no
Palácio do Planalto, em Brasília, de não permitir que o atual presidente da República, Sr. João Gou-
lart, entre no exercício de suas funções e, ainda, de detê-lo no momento em que pise o território
nacional.
Mediante ligação telefônica, tentei demover aquele eminente colega da prática de semelhante vio-
lência, sem obter resultado. Embora afastado das atividades militares, mantenho um compromisso de
honra com a minha classe, com a minha pátria e as suas instituições democráticas e constitucionais.
E, por isso, sinto-me no indeclinável dever de manifestar o meu repúdio à solução anormal e arbitrária
que se pretende impor à Nação.
Dentro dessa orientação, conclamo todas as forças vivas do país, as forças da produção e do pen-
samento, dos estudantes e intelectuais, dos operários e o povo em geral, para tomar posição decisiva e
enérgica no respeito à Constituição e preservação integral do regime democrático brasileiro, certo ainda
de que os meus camaradas das Forças Armadas saberão portar-se à altura das tradições legalistas que
marcam sua história no destino da Pátria.
LOTT, Henrique Teixeira. Manifesto à Nação, 26 de agosto de 1961.
Disponível em: <www.al.sp.gov.br/noticia/?id=280826>. Acesso em: 17 out. 2016.

No Rio Grande do Sul, o governador Leonel Brizola (PTB) criou a chamada Campanha da Legalidade, de-
fendendo a posse de João Goulart, conforme previa a Constituição. O general Machado Lopes, comandante
do III Exército, declarou apoio à campanha, recebendo adesões de outros oficiais-generais. Brizola utilizou-
-se de ondas curtas de rádio que alcançavam todo o país para criar a “Rede da Legalidade”, que defendia a
posse de Jango.
A crise política desencadeada com a renúncia de Jânio Quadros dividiu a sociedade brasileira, que se mo-
bilizava pela posse de Jango ou pelo impedimento do vice-presidente. Informado acerca da renúncia do pre-
sidente, João Goulart iniciou uma lenta viagem de volta ao Brasil – passou por Zurique, Paris, Barcelona, Nova
York, Miami, Buenos Aires e Montevidéu –, adiando a chegada até que a situação no Brasil estivesse definida.
Diante da ameaça de uma guerra civil, principalmente diante da mobilização popular, o Congresso Na-
cional buscou uma “solução de compromisso” e aprovou um Ato Adicional, garantindo o mandato de João
Goulart sob sistema parlamentarista de governo. Ficou estabelecido ainda que, em janeiro de 1965, um
plebiscito iria decidir pela continuação ou não do parlamentarismo.
Assim, Jango, que retornara ao Brasil, desembarcando em Porto Alegre, no dia 1o de setembro, assumiu
a Presidência da República no dia 7, mas com poderes bastante reduzidos, pois parte das atribuições do
Executivo seriam do Conselho de Ministros, chefiado pelo primeiro-ministro.

288
HISTÓRIA EM FOCO

Leonel Brizola e a Campanha da Legalidade


Leonel de Moura Brizola filiou-se ao PTB e iniciou sua carreira política como deputado estadual pelo Rio
Grande do Sul em 1947. Eleito deputado federal (PTB-RS) em 1954, Brizola destacou-se como um dos prin-
cipais opositores de Carlos Lacerda (UDN). Em 1955, elegeu-se prefeito de Porto Alegre e procurou atender
às reivindicações das classes trabalhadoras, como construção de escolas primárias, melhoria nos transportes
coletivos e saneamento básico.
Em 1958, elegeu-se governador do estado.

HƒLIO PASSOS/O CRUZEIRO/EM/D.A PRESS


Seu governo foi caracterizado pelo fortalecimen-

HISTÓRIA
to do papel do Estado no desenvolvimento in-
dustrial do Rio Grande do Sul. Em maio de 1959,
o governo encampou a Companhia de Energia
Elétrica Rio-Grandense, filial da American and
Foreign Power Company (Amporf). Em 1962, o
governo nacionalizou a Companhia Telefôni-

Módulo 17
ca Rio-Grandense, subsidiária da International
Telephone and Telegraph (ITT). Tais medidas
provocaram grande repercussão na imprensa
e forte reação do governo dos Estados Unidos.
Brizola também expandiu o número de escolas
no estado e apoiou o Movimento dos Agriculto-
res Sem Terra (Master).
Após a renúncia de Jânio Quadros, Brizola
determinou a ocupação militar da Rádio Guaíba
O governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola em discurso
e da Rádio Farroupilha e formou a “rede da lega- para rádios, no movimento da Campanha da Legalidade. Rio
Grande do Sul, 1961.
lidade”, comandando 104 emissoras de rádio dos
estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, em defesa da posse do vice-presidente João Goulart.
Leia a seguir um trecho de um texto a respeito da campanha iniciada por Leonel Brizola defendendo a posse
de João Goulart.

O governo federal tinha fechado três rádios por divulgarem os manifestos de Brizola. O gover-
nador então mandou transferir para os porões do Piratini [Palácio do Governo gaúcho] os estúdios
da rádio Guaíba, com os transmissores protegidos pela Brigada Militar (a PM gaúcha). Outras 15
rádios do país e do exterior se incorporaram à Cadeia da Legalidade. Por ondas curtas, os discursos e
despachos eram traduzidos para várias línguas. [...]
A situação ficou mais tensa quando um radioamador interceptou uma mensagem com a ordem de que

Os governos Jânio Quadros e João Goulart


a Força Aérea e o 3o Exército bombardeassem o Piratini. Ninhos de metralhadoras foram instalados no
alto do palácio e na vizinha catedral. Carros, jipes, sacos de areia e bancos defendiam o lugar. O coman-
dante militar da região, general José Machado Lopes, pediu um encontro com Brizola, que, de metralha-
dora em punho, pegou o microfone no porão do palácio e fez um célebre discurso:
“Não nos submeteremos a nenhum golpe. Que nos esmaguem. Que nos destruam. Que nos cha-
cinem nesse palácio. Chacinado estará o Brasil com a imposição de uma ditadura contra a vontade
de seu povo. Esta rádio será silenciada. O certo é que não será silenciada sem balas. Resistiremos
até o fim. A morte é melhor do que a vida sem honra, sem dignidade e sem glória. Podem atirar.

289
HTTP://LEGALIDADE50ANOS.BLOGSPOT.COM.BR

Que decolem os jatos. Que atirem os armamentos que tiverem


comprado à custa da fome e do sacrifício do povo. Joguem es-
sas armas contra este povo. Já fomos dominados pelos trustes e
monopólios norte-americanos. Estaremos aqui para morrer, se
necessário. Um dia, nossos filhos e irmãos farão a independência
de nosso povo.” [...]
Porto Alegre tinha 635 mil habitantes; em apenas cinco dias,
45 mil deles se inscreveram para participar da resistência e entra-
ram em filas para receber armas e treinamento. Um antigo arsenal
da Brigada, comprado no início dos anos [19]30 para um eventual
confronto com Getúlio, foi distribuído. “Brizola armou a população
em Porto Alegre. No interior, o trabalho foi feito pelos Centros de
Tradições Gaúchas, com armas artesanais, como lanças e facões”,
diz o historiador Ferreira [Jorge Ferreira, autor de João Goulart, uma
biografia. Civilização Brasileira, 2011].
LUCENA, Eleonora de. Leonel Brizola e a defesa da legalidade. Folha de S.Paulo.
Ilustríssima. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/955500-
leonel-brizola-e-a-defesa-da-legalidade.shtml>. Acesso em: 17 out. 2016.
Leonel Brizola inspeciona armas de
grupamento militar da Campanha da
Legalidade. Rio Grande do Sul, 1961.

O governo parlamentarista de João Goulart (1961-1963)


A aprovação de uma emenda estabelecendo o sistema parlamentarista de governo foi a solução encon-
trada para evitar a eclosão de uma guerra civil no Brasil, mas não foi capaz de solucionar os graves problemas
econômicos e sociais que o país enfrentava, como o aumento da inflação e do
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, RIO DE JANEIRO, RJ.

endividamento externo, as desigualdades sociais e a concentração fundiária.


Tancredo Neves (PSD) foi o primeiro-ministro escolhido, mas renunciou em
julho de 1962. Jango tentou nomear San Tiago Dantas (PTB), porém seu posicio-
namento político favorável ao afastamento dos Estados Unidos e a aproximação
com os países do bloco socialista inviabilizaram seu nome.
Em julho seguinte, o Congresso aprovou o nome de Brochado da Rocha
(PSD), que prometeu antecipar para dezembro de 1962 a realização do plebiscito
que decidiria sobre a manutenção ou não do parlamentarismo. Brochado não
conseguiu que o Congresso aprovasse a antecipação do plebiscito e renunciou
em setembro de 1962. Diante da decretação de uma greve geral dos trabalha-
dores, o Congresso determinou a realização do plebiscito no dia 6 de janeiro de
1963.
A experiência parlamentar, por tantas idas, vindas e renúncias no curto pe-
ríodo em que ocorreu, entre a renúncia de Jânio Quadros e o plebiscito de
1963, mostrou sinais de engessamento político, travando as medidas neces-
sárias para a recondução econômica nacional. Enquanto setores militares, so-
ciais e econômicos fortemente combativos a Jango faziam campanha a favor
Página do jornal Tribuna da Imprensa, de 21 de
do parlamentarismo ou até mesmo do boicote ao plebiscito, grande parte da
dezembro de 1962, com a Campanha pelo Não, população via no presidencialismo a possibilidade de uma reorganização das
que convocava os cidadãos a votar contra a
permanência do parlamentarismo. políticas econômicas e sociais.

290
O editorial do jornal O Globo, na véspera da consulta, dava a ideia de que o presidencialismo ganharia,
sem com isso apoiar Jango. Leia a seguir um trecho desse periódico.

Queremos, entretanto, dirigir aos nossos leitores uma palavra de estímulo, no sentido de compare-
cimento às urnas. Primeiramente, porque se trata de um dever cívico, a que não se pode furtar quem se
considera um cidadão prestante. [...]
Em segundo lugar, sendo ponto pacífico que o referendo trará de volta o presidencialismo (uma vez
que o mau experimento do parlamentarismo não conseguiu convencer a Nação), é preciso que todos
colaborem para que os resultados sejam realmente expressivos das tendências populares, a fim de que
o Congresso se sinta orientado na futura reforma constitucional, prevista na mesma lei que antecipou a

HISTÓRIA
consulta ao povo.
[...] Necessitamos, com urgência, de um governo harmônico, de autoridade, sobretudo, responsável.
Só o regime presidencialista nos proporcionará um governo assim. [...]
O Globo, 5 de janeiro de 1963, capa.

M—dulo 17
Com a vitória do Não e o retorno do sistema presidencialista de governo, Jango ampliou seus poderes.

O governo Jango (1963-1964)

O Plano Trienal e as Reformas de Base


No final de 1962, o ministro extraordinário do Planejamento, Celso Furtado, elaborou o Plano Trienal de
Desenvolvimento Econômico e Social, com o objetivo de controlar o deficit público e o crescimento infla-
cionário. Além de medidas ortodoxas – como controle cambial e corte de gastos –, o plano previa a adoção
de um conjunto de Reformas de Base, necessárias para a retomada do crescimento econômico do país. A
aprovação das reformas dependeria de 3/5 dos votos do Congresso, o que era impossível de ser obtido sem
o apoio do PSD.

HISTîRIA EM FOCO

As Reformas de Base
As Reformas de Base consistiam em um conjunto de propostas para promover alterações nas estruturas
econômicas, sociais e políticas que garantisse a superação do subdesenvolvimento e permitisse uma diminuição
das desigualdades sociais no Brasil. 
O governo defendia a necessidade da realização de reformas bancária, fiscal, urbana, administrativa, agrária

Os governos Jânio Quadros e João Goulart


e universitária, assim como a extensão do direito de voto aos analfabetos e às patentes subalternas das forças
armadas, de sargento para baixo.
Apontava-se, ainda, a necessidade de maior controle dos investimentos estrangeiros no país, mediante a
regulamentação das remessas de lucros para o exterior.
A reforma agrária era a principal bandeira do programa, que beneficiaria milhões de trabalhadores rurais.
Para tanto, o programa apresentado pelo governo previa alteração na Constituição, que determinava indeni-
zação prévia em dinheiro para terras desapropriadas. O governo propunha o pagamento das indenizações por
meio de títulos da dívida pública.

291
As negociações com investidores e credores internacionais não foram satisfatórias, e o governo não foi
capaz de cumprir as metas estabelecidas de controle inflacionário. Os trabalhadores, atingidos pela alta dos
preços, pressionavam reivindicando aumentos salariais. Enquanto isso, o projeto de Reformas de Base não
avançava no Congresso Nacional.
Os movimentos sociais no campo e nas cidades pressionavam o governo pela realização das reformas.
Organizações como o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), a União Nacional dos Estudantes (UNE) e as
Ligas Camponesas promoviam passeatas e manifestações em defesa das reformas. Os trabalhadores rurais
organizaram sindicatos e reclamavam cada vez mais por mudanças que colocassem fim à estrutura fundiária
excludente do país. Em 1963, o governo criou o Estatuto do Trabalhador Rural, estendendo aos trabalha-
dores do campo direitos trabalhistas básicos, como férias remuneradas, aviso prévio e descanso semanal
remunerado.
Estudantes engajados nos Centros Populares de Cultura (CPCs) pretendiam conscientizar politicamente
o povo, levando teatro, cinema, artes plásticas e literatura às camadas populares. O governo lançou, em 1962,
o Plano Nacional de Educação, que pretendia alfabetizar todas as crianças jovens entre sete e 23 anos até
o ano de 1970, e estimulou o método de educação para adultos criado pelo educador pernambucano Paulo
Freire, a fim de alfabetizar o maior número possível de trabalhadores, tornando o acesso à cultura uma pos-
sibilidade para muitos. Era a “pedagogia da libertação”, que considerava que só o acesso ao conhecimento
é verdadeiramente libertador.

GOTAS DE SABER

Os movimentos culturais
Como vimos no módulo anterior, os anos 1950 foram marcados por intensa efervescência cultural. No início
da década de 1960, as questões colocadas pelo governo João Goulart, sobretudo a partir da adoção do progra-
ma de Reformas de Base, influenciaram o cenário cultural do país.
A defesa de uma arte mais engajada resultou, entre ou-

ROGƒRIO DUARTE/ARQUIVO DA EDITORA


tras iniciativas, na criação, no Rio de Janeiro, em 1962, do
Centro Popular de Cultura (CPC) a partir da união de estu-
dantes, por meio da UNE, com artistas e intelectuais de es-
querda. O objetivo dos CPCs era divulgar – através de peças
de teatro, filmes, livros – uma arte popular revolucionária.
No teatro, o diretor Augusto Boal, do Arena, e o Teat(r)o
Oficina propunham uma crescente reflexão sobre os proble-
mas existenciais. O Cinema Novo continuava suas experiên-
cias, trazendo luz para os problemas sociais do país, parti-
cularmente para o Sertão nordestino, com os filmes Vidas
secas, de Nelson Pereira dos Santos; Deus e o diabo na terra
do sol, de Glauber Rocha; e Os fuzis, de Ruy Guerra.

Cartaz do filme Deus e o


Diabo na terra do Sol, de
Glauber Rocha, 1964.

292
Influências externas
O contexto internacional reforçava os inquietamentos dos anticomunistas no Brasil. Além do clima de
repressão política aos comunistas (ou àqueles que eram apontados como tal) nos Estados Unidos, o mundo
vivenciou, no começo dos anos 1960, uma escalada das tensões provenientes da Guerra Fria. Seu auge acon-
teceu em outubro de 1962, quando o mundo esteve à beira de uma guerra nuclear. Logo após a Revolução
Cubana, que levou Fidel Castro e o comunismo ao poder na ilha, os Estados Unidos apoiaram uma tentativa
de derrubada do regime, sem sucesso. Temendo um ataque militar estadunidense, Fidel, em um acordo
com a União Soviética, conseguiu instalar em Cuba mísseis nucleares capazes de alcançar Washington, que
considerou o ato uma declaração de guerra. Enquanto isso, mísseis estadunidenses foram instalados em uma
base na Turquia, com capacidade para destruir Moscou. Após dias de muita tensão, Estados Unidos e União

HISTÓRIA
Soviética chegaram a um acordo para evitar o conflito bélico. Cuba, por sua vez, sofreu um bloqueio econô-
mico por parte da superpotência do Ocidente que perdura há mais de cinquenta anos.
Lincoln Gordon, diplomata estadunidense no Brasil, sugeriu ao presidente Kennedy apoio financeiro a
candidaturas conservadoras no país. O Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad), sob orientação da
CIA, financiou vários candidatos às eleições legislativas de 1962, comprometidos em defender os interesses
do capital estrangeiro e condenar a reforma agrária.

Módulo 17
A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) patrocinou, a partir do pri-
meiro semestre de 1962, o projeto Corpos da Paz, por meio do qual milhares de cidadãos estadunidenses
foram enviados ao Brasil. Eles distribuíam alimentos, roupas e remédios para a população das áreas mais mi-
seráveis do país, sobretudo no Nordeste, mas também traziam infiltrados cerca de 40 mil soldados e agentes
do governo capazes de garantir sustentação a uma intervenção militar para a derrubada de Goulart.
A política interna brasileira também afetou o papel do Brasil no cenário internacional. A aprovação pelo
Congresso, em setembro de 1962, da Lei de Remessas de Lucros representou um duro golpe nas relações
Brasil-Estados Unidos. A condenação do governo Jango da intenção estadunidense de intervir militarmente
em Cuba a fim de solucionar o impasse provocado pela Crise dos Mísseis levou o presidente Kennedy a can-
celar a visita que faria ao Brasil.

A radicalização política
No Brasil, em fevereiro de 1962, um grupo de empresários do Rio de Janeiro e de São Paulo fundou o
Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes) com o objetivo de defender seus interesses diante do aumento
da intervenção estatal na sociedade e do crescimento de influências comunistas.
Com o restabelecimento do presidencialismo e
a defesa das Reformas de Base, o Ipes intensificou

FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, RIO DE JANEIRO, RJ.


sua atuação contra o governo, associando-o ao co-
munismo. Foram publicados artigos nos principais
jornais do país, livros, panfletos e folhetos anticomu-

Os governos Jânio Quadros e João Goulart


nistas, e catorze filmes de “doutrinação democráti-
ca” foram produzidos pelo instituto, que também
financiou cursos, seminários e conferências. A ação
do instituto tratou de fomentar entre empresários,
fazendeiros e setores da classe média a ideia de que
Jango preparava um golpe para instaurar uma dita-
dura comunista no país. A Revolta dos Sargentos,
ocorrida em setembro de 1963 e que defendia a
elegibilidade de sargentos, suboficiais e cabos, au-
mentou a pressão sobre o governo. Primeira página do Jornal do Brasil, de 14 de março de 1964.

293
ACERVO ICONOGRAPHIA

Com o esgotamento das negociações com o PSD e os setores conser-


vadores do Congresso, Jango optou por uma guinada à esquerda. Decidiu
realizar o programa de reformas por decreto, valendo-se do apoio dos prin-
cipais grupos políticos de esquerda – sindicatos, estudantes, trabalhadores,
Ligas Camponesas. O plano consistia na realização de grandes comícios nas
principais cidades do país, a fim de mobilizar o povo pelas reformas.
O primeiro comício ocorreu no Rio de Janeiro, na estação da Central do
Brasil, no dia 13 de março de 1964. Compareceram cerca de 150 mil pessoas,
que assistiram ao discurso de Jango defendendo a necessidade de mudan-
ça na Constituição e anunciando a apropriação das refinarias de petróleo
particulares e a desapropriação de terras situadas às margens de estradas e
João Goulart, ao lado da esposa, no Comício das açudes. Leia a seguir um trecho do discurso proferido no comício da Central
Reformas, ocorrido na Central do Brasil. Rio de
Janeiro, 13 de março de 1964. do Brasil.

HISTîRIA EM FOCO

Discurso da Central do Brasil


Essa Constituição é antiquada, porque legaliza uma estrutura socioeconômica já superada, injusta e desumana; o
povo quer que se amplie a democracia e que se ponha fim aos privilégios de uma minoria; que a propriedade da terra seja
acessível a todos; que a todos seja facultado participar da vida política através do voto, podendo votar e ser votado; que se
impeça a intervenção do poder econômico nos pleitos eleitorais e seja assegurada a representação de todas as correntes
políticas, sem quaisquer discriminações religiosas ou ideológicas. [...]
O caminho das reformas é o caminho do progresso pela paz social. Reformar é solucionar pacificamente as contradi-
ções de uma ordem econômica e jurídica superada pelas realidades do tempo em que vivemos.
Trabalhadores, acabei de assinar o decreto da Supra [Superintendência da Reforma Agrária] com o pensamento vol-
tado para a tragédia do irmão brasileiro que sofre no interior de nossa Pátria. Ainda não é aquela reforma agrária pela qual
lutamos.
Ainda não é a reformulação de nosso panorama rural empobrecido.
Ainda não é a carta de alforria do camponês abandonado.
Mas é o primeiro passo: uma porta que se abre à solução definitiva do problema agrário brasileiro.
O que se pretende com o decreto que considera de interesse social para efeito de desapropriação as terras que ladeiam
eixos rodoviários, leitos de ferrovias, açudes públicos federais e terras beneficiadas por obras de saneamento da União, é
tornar produtivas áreas inexploradas ou subutilizadas, ainda submetidas a um comércio especulativo, odioso e intolerável.
Não é justo que o benefício de uma estrada, de um açude ou de uma obra de saneamento vá servir aos interesses dos
especuladores de terra, que se apoderaram das margens das estradas e dos açudes. A Rio-Bahia, por exemplo, que custou
70 bilhões de dinheiro do povo, não deve beneficiar os latifundiários, pela multiplicação do valor de suas propriedades,
mas sim o povo.
Não o podemos fazer, por enquanto, trabalhadores, como é de prática corrente em todos os países do mundo civiliza-
do: pagar a desapropriação de terras abandonadas em títulos de dívida pública e a longo prazo.
Reforma agrária com pagamento prévio do latifúndio improdutivo, à vista e em dinheiro, não é reforma agrária. É
negócio agrário, que interessa apenas ao latifundiário, radicalmente oposto aos interesses do povo brasileiro. Por isso o
decreto da Supra não é a reforma agrária.
Sem reforma constitucional, trabalhadores, não há reforma agrária. Sem emendar a Constituição, que tem acima dela
o povo e os interesses da Nação, que a ela cabe assegurar, poderemos ter leis agrárias honestas e bem-intencionadas, mas
nenhuma delas capaz de modificações estruturais profundas. [...]
Discurso de João Goulart no comício de 13 de março de 1964, na Central do Brasil, Rio de Janeiro.
Disponível em: <www.institutojoaogoulart.org.br/conteudo.php?id=31>. Acesso em: 17 out. 2016.

294
GERALDO VIOLA/O CRUZEIRO/EM/D.A PRESS

HISTÓRIA
M—dulo 17
Milhares de pessoas participando da Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Praça da Sé, São Paulo, 19 de março de 1964.

O comício da Central do Brasil despertou medo em muitos setores da sociedade, que temiam a radica-
lização do governo e a preparação de um golpe para implantação de uma ditadura comunista. No dia 19 de
março, cerca de 300 mil pessoas saíram às ruas de São Paulo para protestar contra o governo. Era a Marcha da
Família com Deus pela Liberdade, organizada pela União Cívica Feminina e pela Campanha da Mulher pela
Democracia, entidades de mulheres católicas conservadoras, patrocinadas pelo Ipes. A sociedade civil revelava
assim o apoio ao movimento que já estava sendo articulado por alguns militares para derrubar o presidente.
Alguns dias depois do comício, no dia 25 de março, membros da Associação de Marinheiros e Fuzileiros
Navais se reuniram no Rio de Janeiro para reivindicar melhores salários e elegibilidade, evento que ficou
conhecido como Revolta dos Marinheiros. A entidade, liderada pelo cabo Anselmo dos Santos, não era re-
conhecida pela Marinha e os participantes do evento foram presos. Dois dias depois, Jango soltou e anistiou
os marinheiros, levando a Marinha a aderir ao golpe (veja imagem na próxima página).

Os governos Jânio Quadros e João Goulart


A maioria dos jornais do país, alinhados ao Ipes, colocava-se contra o governo de Goulart. As reformas
sociais propostas pelo governo afetavam os interesses dos grupos econômicos que controlavam os meios de
comunicação de massa no Brasil.
Em editorial publicado no dia 29 de março, o Jornal do Brasil pedia ao Exército a manutenção da ordem
e do estado de direito. Os jornais Correio da Manhã e O Globo associavam o governo Jango à ameaça de
implantação de uma ditadura comunista e à incapacidade de governar. Fomentava-se assim o clima de insta-
bilidade política propício para a deflagração do golpe.
No dia 30, Jango decidiu comparecer à posse da nova diretoria da Associação dos Sargentos, em
um almoço no Rio de Janeiro. Alguns políticos e amigos procuraram convencer o presidente a não ir

295
DOUGLAS FERREIRA DA SILVA/O CRUZEIRO/EM/D.A PRESS
Cabo José Anselmo dos Santos, líder da Revolta dos Marinheiros. Rio de Janeiro, março de 1964.

ao evento, visto que sua presença poderia ser considerada uma provocação à oficialidade das Forças
Armadas. O discurso de Jango no evento foi interpretado como mais um estímulo à quebra da disciplina
e da hierarquia militar. Foi a gota d’água para que os militares defensores de um golpe decidissem que
chegara a hora de agir.
No dia seguinte ao encontro do presidente com os sargentos, os principais jornais do país publicaram
editoriais pedindo a saída de Jango: “Os Poderes Legislativo e Judiciário, as classes armadas, as forças de-
mocráticas devem estar alertas e vigilantes e prontos para combater todos aqueles que atentarem contra o
regime. O Brasil já sofreu demasiado com o governo atual. Agora, basta!” (Correio da Manh‹, 31 de março
de 1964).
Pouco a pouco, as notícias revelavam que um golpe civil-militar para destituir o presidente João Gou-
lart estava em curso. Ele foi iniciado em Minas Gerais, na madrugada do dia 31 de março, pelo general
Olímpio Mourão Filho – que em 1937 forjara o Plano Cohen. Rapidamente vários oficiais aderiram ao mo-
vimento, assim como os governadores de Minas Gerais, da Guanabara, de São Paulo e do Rio Grande do
Sul. A CGT decretou uma greve geral na tentativa de impedir a deposição do presidente, mas não obteve
sucesso. Sindicalistas, estudantes, políticos e fuzilei-
ros tentaram resistir.
Ao saber do movimento em andamento, João
Goulart deixou a Guanabara, no dia 1o de abril, em
direção a Brasília e de lá dirigiu-se para Porto Alegre.
O presidente Nas primeiras horas do dia 2 de abril, o presidente do
da Câmara dos
Deputados Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vago o
Ranieri Mazzilli cargo de presidente da República – embora o presi-
com diversos
militares à sua dente João Goulart estivesse em território nacional –
volta, quando
assumiu a e transferiu a chefia do governo para o presidente da
Presidência em Câmara, Ranieri Mazzilli. O Poder Judiciário legitimou
2 de abril de
1964. a posse de Mazzilli.
ARQUIVO O DIA/FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, RIO DE JANEIRO, RJ.

296
Enquanto isso, em Porto Alegre, Leonel Brizola tentava convencer Jango a resistir. Informado por alguns ge-
nerais, que ainda se mantinham fiéis, sobre as dificuldades a enfrentar e sabendo do apoio que o governo dos
Estados Unidos já manifestara ao movimento para destituí-lo, Goulart preferiu não resistir. Segundo Brizola, Jango
teria dito: “Eu verifico o seguinte: que a minha permanência no governo terá que ser à custa de derramamento de
sangue. E eu não quero que o povo brasileiro pague esse tributo. Então eu me retiro. Peço a vocês que desmobi-
lizem que eu vou me retirar”. No mesmo dia, João Goulart partiu para o exílio no Uruguai.
Instalava-se no Brasil uma longa ditadura, que duraria 21 anos.

SITUAÇÃO-PROBLEMA

HISTÓRIA
Leia os fragmentos de textos a seguir. A paz alcançada. A vitória da causa democrática abre ao
País a perspectiva de trabalhar em paz e de vencer as graves

Módulo 17
Ressurge a democracia dificuldades atuais. Não se pode, evidentemente, aceitar que
Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os essa perspectiva seja toldada, que os ânimos sejam postos a
patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias fogo. Assim o querem as Forças Armadas, assim o quer o povo
brasileiro e assim deverá ser, pelo bem do Brasil
ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial:
Editorial de O Povo. Fortaleza, 3 de abril de 1964.
a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das
Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a Multidões em júbilo na Praça da Liberdade
falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina,
o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá- Ovacionados o governador do estado
-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.
e chefes militares
Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não
poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o an- O ponto culminante das comemorações que ontem fize-
teparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo ram em Belo Horizonte, pela vitória do movimento pela paz e
admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, dian- pela democracia foi, sem dúvida, a concentração popular de-
fronte ao Palácio da Liberdade. Toda área localizada em frente
te da Nação horrorizada.
à sede do governo mineiro foi totalmente tomada por enorme
Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação
multidão, que ali acorreu para festejar o êxito da campanha
existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu
deflagrada em Minas [...], formando uma das maiores massas
grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados,
humanas já vistas na cidade.
sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do O Estado de Minas. Belo Horizonte, 2 de abril de 1964.
Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e
de tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo. Os trechos dos editoriais e manchetes reproduzidos re-
Editorial de O Globo, Rio de Janeiro, 2 de abril de 1964.
velam o posicionamento de alguns jornais brasileiros acer-

Os governos Jânio Quadros e João Goulart


Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder ca do golpe que derrubou o presidente João Goulart, em
como imperativo de legítima vontade popular o Sr. João Bel- abril de 1964. Nos textos aparecem algumas razões para a
chior Marques Goulart, infame líder dos comuno-carreiristas- derrubada de Jango. Com base no que você estudou neste
-negocistas-sindicalistas. Um dos maiores gatunos que a histó- módulo, explique o papel da imprensa na queda de Jango.
ria brasileira já registrou. O Sr. João Goulart passa outra vez à Identifique também as razões para o golpe. Discuta essas
história, agora também como um dos grandes covardes que ela questões com o professor e com os colegas.
já conheceu. No próximo módulo, você vai saber se as expectativas
Tribuna da Imprensa. Rio de Janeiro, 2 de abril de 1964. em relação ao fim do governo Goulart foram cumpridas.

297
PARA CONCLUIR

A eleição de Jânio Quadros para presidente da República, apoiado pela UDN, em outubro de 1960,
marcou o fim da hegemonia PTB-PSD no governo federal. Político personalista, Jânio quis imprimir
sua marca pessoal no governo e acreditou estar acima dos partidos políticos.
Sua curta passagem pela Presidência foi caracterizada pela adoção de uma política econômica auste-
ra, medidas de efeito e uma política externa independente.
No contexto marcado pela Guerra Fria, a aproximação do Brasil com países do bloco socialista não
recebeu apoio dos grupos conservadores que, como a UDN, tinham ajudado a elegê-lo. Sem diálogo
com o Congresso, Jânio Quadros ainda tentou o que muitos analistas consideram um blefe: ofereceu
sua renúncia ao Congresso, apostando que ela não seria aceita, visto que o vice-presidente, João
Goulart (PTB), era considerado um político muito à esquerda.
A renúncia de Jânio Quadros, em agosto de 1961, foi aceita pelo Legislativo, mas resultou numa gra-
ve crise política no país, pois os ministros militares e alguns políticos da UDN se declararam contra a
posse de Jango. O governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola (PTB), iniciou então uma campa-
nha pela posse de Jango, que ficou conhecida como “Campanha da Legalidade” e obteve apoio de
setores das Forças Armadas.
A iminência da deflagração de uma guerra civil levou o Congresso Nacional a buscar uma solução
para a crise e foi aprovada uma emenda estabelecendo o sistema parlamentarista de governo. Assim,
João Goulart assumiu a Presidência, mas com poderes reduzidos.
A crise econômica – caracterizada pelo crescimento inflacionário e pela desaceleração da economia
brasileira – resultou em muitos protestos. Em janeiro de 1963, foi aprovada uma emenda que resta-
beleceu o presidencialismo.
Jango planejou então para o restante de seu mandato um plano econômico que foi chamado de Pla-
no Trienal, no qual estava incluída a necessidade da realização de reformas estruturais no país, como
a reforma agrária, tributária, eleitoral, urbana e educacional.
O projeto das Reformas de Base alarmou os setores conservadores, e o Congresso não aprovou as me-
didas. Pressionado pelos movimentos sociais e grupos de esquerda que defendiam as reformas, Jango
decidiu aprová-las por decreto. Sua estratégia era a realização de grandes comícios populares em que elas
seriam anunciadas. O primeiro comício ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, no dia 13 de março de 1964.
A partir de então ganhou força entre círculos civis e militares a disposição de derrubar o presidente.
O envolvimento de Jango em dois episódios de quebra de hierarquia militar forneceu ainda mais
munição para os setores golpistas, convencidos de que Jango iria instaurar uma ditadura comunista
no país. A grande imprensa tratou de difundir a necessidade de afastamento do presidente a fim de
salvar a democracia brasileira. O governo dos Estados Unidos acom-
ALBERTO JACOB/CPDOC JB

panhou atentamente o que ocorria no Brasil, apoiando os militares


brasileiros que conspiravam contra Goulart.
O movimento militar para derrubar Jango teve início no dia 31 de
março de 1964, logo recebendo apoio dos principais governadores
do país. O Legislativo e o Judiciário também aderiram ao golpe. Jan-
go preferiu não resistir e deixou o Brasil no dia 2 de abril de 1964.
Iniciava-se assim uma longa ditadura militar no país, comemorada
por milhares de brasileiros que acreditaram que finalmente a demo-
cracia e a liberdade estavam asseguradas.

Imagem da marcha realizada na cidade do Rio de Janeiro,


que comemorou a derrubada de Jango. Abril de 1964.

298
Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das quest›es sinalizadas com asterisco.

PRATICANDO O APRENDIZADO

1. (FGV-RJ) A eleição de Jânio Quadros, em 1960, a) realização da reforma agrária.


significou certa alteração de rumos da política brasileira b) gratuidade do ensino público.
com relação ao período iniciado em 1945. Tal alteração c) concessão do voto aos analfabetos.
baseou-se:
d) introdução dos direitos trabalhistas.
a) No apoio que os comunistas emprestaram à candi-

HISTÓRIA
datura de Jânio em troca da legalização do PCB, que 3. (UFRGS-RS) A denominada “Campanha da Legalidade”,
ocorreria em 1961. ocorrida no Rio Grande do Sul no final de agosto de
b) Na primeira vitória das forças trabalhistas em pleitos 1961, foi uma consequência da
nacionais e no fortalecimento de novas lideranças a) renúncia do presidente Jânio Quadros, que provocou
sindicais. a mobilização política para garantir a posse do vice-
c) No rompimento da hegemonia paulista e no descon- -presidente João Goulart.

M—dulo 17
tentamento militar provocado pelas propostas eleito- b) vitória eleitoral do PTB, que supostamente ameaçava
rais janistas. os setores conservadores da sociedade brasileira.
d) Na vitória de uma candidatura da UDN, que interrom- c) renúncia do presidente Juscelino Kubitschek, fato que
peu a série de vitórias do PSD e do PTB, em arranjo provocou uma extensa mobilização militar visando
político orquestrado por Getúlio Vargas. garantir a posse de João Goulart.
e) Na inauguração de um novo estilo político baseado d) vitória eleitoral do PSD, partido que tinha em seus
na valorização das estruturas partidárias e na defini- quadros diversos elementos supostamente golpistas.
ção clara de propostas políticas programáticas. e) política promovida por Leonel Brizola, que queria
impedir a tomada do poder pelos grupos ligados à
2. (Uerj) luta armada.
Dirijo-me a todos os brasileiros, não apenas aos que con-
seguiram adquirir instrução nas escolas, mas também aos 4. (Uern – Adaptada) Nos discursos da presidente Dil-
milhões de irmãos nossos que dão ao Brasil mais do que rece- ma Rousseff, eleita para um segundo mandato a partir
bem, que pagam em sofrimento, em miséria, em privações, o de 2015, já foi mencionada a possibilidade de se fazer
direito de ser brasileiro e de trabalhar sol a sol para a grandeza plebiscito visando reformas políticas para o Brasil. Em
deste país. Aqui estão os meus amigos trabalhadores, na pre- outros momentos da nossa história, foram realizados
sença das mais significativas organizações operárias e lideran- plebiscitos. Em 1963, em pleno período liberal demo-
ças populares deste país. Àqueles que reclamam do Presiden- crático, um plebiscito decidiu
te da República uma palavra tranquilizadora para a Nação, o a) pela exoneração do cargo do então presidente Jânio
que posso dizer-lhes é que só conquistaremos a paz social pela Quadros, dando lugar a seu vice, João Goulart.
justiça social. A maioria dos brasileiros já não se conforma b) pela volta ao sistema presidencialista, substituindo o
com uma ordem social imperfeita, injusta e desumana. parlamentarismo vigente naquele momento peculiar

Os governos Jânio Quadros e João Goulart


João Goulart, em comício no Rio de Janeiro, 13/03/1964. do Brasil.
Adaptado de jornalggn.com.br.
c) por instalar a ditadura militar que duraria mais de 21
No evento conhecido como Comício da Central do Bra- anos no país, mudando radicalmente os rumos da
sil, o presidente João Goulart proferiu discurso em que política nacional.
reafirmava algumas das propostas de seu governo, aten- d) pela instauração de CPIs (Comissões Parlamentares
dendo a demandas de organizações sindicais. de Inquérito), visando trazer mais transparência ao
A proposta desse governo mais diretamente associada à processo eleitoral.
promoção da justiça social foi: e) pelo impeachment do presidente João Goulart.

299
5. (UFRGS-RS) Observe a charge abaixo, relativa à a) das articulações do capital externo, capitaneado pe-
administração do presidente João Goulart (1961-1964). los Estados Unidos, tendo à frente, no Brasil, partidos
da oposição ao presidente Goulart, como o PTB.
b) do golpe civil-militar – setores opositores das medi-
das tidas como esquerdizantes do até então presi-
AUGUSTO BANDEIRA/REPRODU‚ÌO VEST. UFRGS

dente Goulart, apoiados decisivamente pelos Esta-


dos Unidos.
c) do golpe militar que resultou na retirada de João
Goulart da presidência, impondo um governo de ex-
ceção ao Brasil, marcado, por sua vez, pelas garantias
das liberdades individuais.
d) de conspirações oposicionistas às “Reformas de
Base” – amplo programa de base populista, visando
às reformas estruturais, consolidando uma reforma
agrária radical já em curso no Brasil.
A respeito da orientação política do governo de João e) da luta armada a João Goulart, pois, com sua ascensão,
Goulart, é correto afirmar que ela defendia o capital externo passou a consolidar seu domínio sobre
a) a continuidade do projeto político getulista, originá- o país, com a marginalização das camadas populares.
rio de uma dissidência oligárquica, mas com ênfase
nas reformas sociais. 7. (Udesc) A Marcha da Família com Deus pela Liberdade:
b) a implementação de um projeto político socialista, Movimento surgido em março de 1964 e que consistiu em
apoiado nos trabalhadores urbanos, tendo um cunho uma série de manifestações, ou “marchas”, organizadas prin-
revolucionário acentuado. cipalmente por setores do clero e por entidades femininas
c) a hegemonia dos setores conservadores no cenário po- em resposta ao comício realizado no Rio de Janeiro, em 13
lítico brasileiro, sustentado pelas oligarquias regionais. de março de 1964, durante o qual o presidente João Goulart
anunciou seu programa de reformas de base.
d) a expressão dos interesses do imperialismo norte-
Adap. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/
-americano no Brasil, interessado em combater uma AConjunturaRadicalizacao/A_marcha_da_familia_com_Deus acessado em: 12/08/2015.
suposta influência soviética.
Assinale a alternativa correta sobre a Marcha da Família
e) a continuidade da tradicional política oligárquica da
com Deus pela Liberdade.
República Velha, assentada na defesa dos interesses
das elites industriais. a) Mostrou o protagonismo do movimento feminista e
da contracultura, em especial a Campanha da Mulher
6. (Mack-SP) pela Democracia (Camde), a União Cívica Feminina e
Havia dois golpes em marcha. O de Jango viria amparado no a Fraterna Amizade Urbana e Rural.
“dispositivo militar” e nas bases sindicais, que cairiam sobre b) Congregou segmentos das classes populares, em es-
o Congresso, obrigando-o a aprovar um pacote de reformas e pecial sem tetos e operários da indústria, em parceria
a mudança das regras do jogo da sucessão presidencial. [...] com a Federação do Centro das Indústrias do Estado
O ex-governador gaúcho Leonel Brizola achava que viria de cá, de São Paulo (FIESP).
do presidente, seu cunhado... Fazia tempo que Brizola repetia: c) Tinha como meta propagar a ideia de liberdade reli-
“Se não dermos o golpe, eles o darão contra nós”. giosa e de liberdade sexual.
Elio Gaspari. A ditadura envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 51.
d) Contou com a aliança de setores de esquerda da Igreja
O texto acima relata os momentos decisivos que leva- católica e da juventude estudantil de classe média, con-
ram ao golpe contra João Goulart, em 1964. Nele, há a tra o conservadorismo da sociedade brasileira.
citação de “dois golpes em marcha”. Um está explicita- e) Era favorável à deposição do presidente eleito João
do no excerto, o outro está corretamente indicado em Goulart e teve papel importante no golpe militar de
uma das alternativas abaixo. Trata-se 1964.

300
8. (Mack-SP – Adaptada) Soviética ao governo brasileiro em troca da constru-
Juiz de Fora, Minas Gerais, 31 de março de 1964. Um ge- ção de uma base militar soviética no Brasil.
neral [...] põe na rua equipamentos e tropas do Exército sob c) a forte instabilidade política na ocasião; o temor esta-
seu comando. Destino: Rio de Janeiro. Objetivo: derrubar o dunidense e de empresários brasileiros, considerando
governo. O golpe está desencadeado. [...] o país vulnerável ao comunismo soviético; as fortes
COUTO, R. C. História indiscreta da ditadura e da abertura: oposições internas ao governo Goulart.
Brasil 1964-1985. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1999. p. 24.
d) o apoio estudantil a João Goulart, com passeatas
Considerando os fatores para o golpe civil-militar que ins- e organização armada da luta contra os militares,
taurou um regime autoritário no Brasil entre 1964 e 1985, fazendo o golpe – a princípio agendado para 1965 –
deve-se levar em consideração ser antecipado para se evitar maiores agitações no

HISTÓRIA
a) a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, que país.
reuniu milhares de pessoas em São Paulo e no Rio de e) o número de ações de membros do governo Goulart
Janeiro a favor do governo Goulart e, por isso, foi for- que não impediram o golpe militar e se colocaram
temente reprimida pelas Forças Armadas. prontamente a favor da intervenção, por considera-
b) a participação decisiva dos Estados Unidos, com re- rem o presidente incapaz, como foi o caso de Leonel
ceio dos vultosos empréstimos realizados pela União Brizola.

M—dulo 17
DESENVOLVENDO HABILIDADES

1. (Uerj) a) direitos políticos.


C3
H15
O professor Alcino Salazar, secretário de justiça da b) reparações étnicas.
Guanabara, declarou a O Globo que a extensão do voto ao c) benefícios sociais.
analfabeto é perigosa concessão aos inimigos do regime d) oportunidades econômicas.
democrático, fundado na verdade e na pureza do princípio
da representação. 2. ENEM
Adaptado de O Globo, 21/02/1964.
C3
H15
Em meio às turbulências vividas na primeira metade dos
Em sua mensagem ao Congresso Nacional em 15 de março anos 1960, tinha-se a impressão de que as tendências de es-
de 1964, o presidente João Goulart escreveu: “Outra discri- querda estavam se fortalecendo na área cultural. O Centro
minação inaceitável atinge milhões de cidadãos que, embora Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes
investidos de todas as responsabilidades [...] e integrados à (UNE) encenava peças de teatro que faziam agitação e propa-
força de trabalho, com seu contingente mais numeroso, são ganda em favor da luta pelas reformas de base e satirizavam o
impedidos de votar por serem analfabetos”.
“imperialismo” e seus “aliados internos”.
ALEIXO, J. C. B; KRAMER, Paulo. Os analfabetos

Os governos Jânio Quadros e João Goulart


e o voto: da conquista da alistabilidade ao desafio KONDER, L. História das Ideias Socialistas no Brasil.
da elegibilidade. Senatus, Brasília, outubro/2000. São Paulo: Expressão Popular, 2003.

As declarações do professor Alcino Salazar e do presi- No início da década de 1960, enquanto vários setores
dente João Goulart foram feitas em um momento de da esquerda brasileira consideravam que o CPC da UNE
polarização na sociedade brasileira, que culminou na ins- era uma importante forma de conscientização das clas-
tauração do regime autoritário em 31 de março de 1964. ses trabalhadoras, os setores conservadores e de direita
Ambas as declarações expressavam, naquele momento, (políticos vinculados à União Democrática Nacional –
visões antagônicas relacionadas à seguinte dimensão da UDN –, Igreja Católica, grandes empresários etc.) enten-
cidadania: diam que esta organização

301
a) constituía mais uma ameaça para a democracia brasi- A proposta dessa charge visa:
leira, ao difundir a ideologia comunista. a) sinalizar a necessidade de se implantar as reformas de
b) contribuía com a valorização da genuína cultura na- base.
cional, ao encenar peças de cunho popular. b) vincular a prática governista aos ideais da esquerda
c) realizava uma tarefa que deveria ser exclusiva do Esta- revolucionária.
do, ao pretender educar o povo por meio da cultura.
c) apontar a possibilidade de o presidente restaurar um
d) prestava um serviço importante à sociedade brasileira, regime autoritário.
ao incentivar a participação política dos mais pobres.
d) apoiar as mudanças constitucionais propostas pela
e) diminuía a força dos operários urbanos, ao substituir presidência da República.
os sindicatos como instituição de pressão política so-
e) defender a legalidade do governo João Goulart.
bre o governo.

3. ENEM 5. (PUC-SP)
C3 Não é difícil entender o que ocorreu no Brasil nos anos C5
H15 H21
imediatamente anteriores ao golpe militar de 1964. A dimi-
nuição da oferta de empregos e a desvalorização dos salários,
provocadas pela inflação, levaram a uma intensa mobilização
política popular, marcada por sucessivas ondas grevistas de
várias categorias profissionais, o que aprofundou as tensões
sociais. “Dessa vez, as classes trabalhadoras se recusaram a

AUGUSTO BANDEIRA/FBN, RIO DE JANEIRO, RJ.


pagar o pato pelas sobras” do modelo econômico juscelinista.
MENDONÇA, S. R. A industrialização brasileira.
São Paulo: Moderna, 2002 (adaptado).

Segundo o texto, os conflitos sociais ocorridos no início


dos anos 1960 decorreram principalmente:
a) da manipulação política empreendida pelo governo
João Goulart.
b) das contradições econômicas do modelo desenvolvi-
mentista.
Augusto Bandeira. Correio da Manhã, 21.09.1963. Apud: Rodrigo Patto Sá Motta.
c) do poder político adquirido pelos sindicatos populistas.
d) da desmobilização das classes dominantes frente ao
avanço das greves. É correto afirmar que a charge, publicada em setembro
de 1963,
e) da recusa dos sindicatos em aceitar mudanças na le-
gislação trabalhista. a) celebra as reformas realizadas pelo presidente João
Goulart e as interpreta como sendo resultado das mo-
4. (Cefet-MG – Adaptada) A charge a seguir foi publicada bilizações populares.
C5 em maio de 1962, no jornal Correio da Manh‹.
H21 b) mostra que o golpe militar é iminente e que o presi-
dente João Goulart defende a necessidade de repri-
AUGUSTO BANDEIRA/FBN, RIO DE JANEIRO, RJ.

mir os movimentos sociais.


c) critica o presidente João Goulart e faz alusão a pro-
testos, greves e forte crise política e social, que ocor-
riam durante seu governo.
d) rejeita a autoridade do presidente João Goulart e
defende a rebelião como única saída para superar as
dificuldades políticas e econômicas.
e) destaca o uso político da mídia pelo presidente João
Goulart e critica a influência do rádio e da televisão no
FONTE: Jornal Correio da Manhã. Rio de Janeiro, maio de 1962. cotidiano dos brasileiros.

302
6. (Unisc-RS) 8. (Cefet-MG – Adaptada)
C5 C3
A partir da desapropriação do Engenho Galileia, as ligas ex-

SAMPAULO/REPRODU‚ÌO VESTIBULAR
H21 H13

pandiram-se por todo o estado de Pernambuco, chegando a ter,


em 1961, 10.000 associados e, no mínimo, 40 sedes munici-
pais. [...] As ligas também iriam se estender por vários estados
do Nordeste e outras regiões do país, tornando-se particular-
mente fortes nos estados da Paraíba, Rio de Janeiro e Goiás.
FONTE: AZEVEDO, Fernando Antônio. As Ligas Camponesas.
São Paulo: Paz e Terra, 1982. p. 73.

A partir da leitura do texto, podemos identificar que a

HISTÓRIA
O ano de 2011 marcou o transcurso de 50 anos de um atuação das Ligas Camponesas estava relacionada ao
importante fato da História Contemporânea do Brasil, a) apoio dos sindicatos rurais à empresa agromercantil,
episódio ao qual se refere a charge acima. Esse movi- fundamental para o crescimento da economia.   
mento, liderado pelo governador Leonel Brizola, ficou b) alinhamento político entre os grandes produtores rurais
conhecido como
do Nordeste e lideranças vinculadas ao campesinato.   
a) Movimento Contra a Ditadura Militar.
c) compromisso dos trabalhadores rurais na defesa de

M—dulo 17
b) Campanha da Legalidade.
uma reforma agrária mantenedora da estrutura lati-
c) Campanha das Diretas Já. fundiária.   
d) Marcha dos Sem, referindo-se aos sem-terra, aos d) modelo fundiário brasileiro, caracterizado por meca-
sem-trabalho e aos sem-teto.
nismos excludentes do campesinato da vida social e
e) Movimento pela Anistia. política.   
7. ENEM e) apoio de grandes fazendeiros ao projeto de reforma
C2 A consolidação do regime democrático no Brasil contra os agrária defendido pelo presidente Jango.
H9
extremismos da esquerda e da direita exige ação enérgica e
permanente no sentido do aprimoramento das instituições 9. ENEM

políticas e da realização de reformas corajosas no terreno eco- C4


H18 Mas plantar pra dividir
nômico, financeiro e social.
Não faço mais isso, não.
Mensagem programática da União Democrática Nacional (UDN) – 1957.
Eu sou um pobre caboclo,
Os trabalhadores deverão exigir a constituição de um governo Ganho a vida na enxada.
nacionalista e democrático, com participação dos trabalhadores
O que eu colho é dividido
para a realização das seguintes medidas: a) Reforma bancária
Com quem não planta nada.
progressista; b) Reforma agrária que extinga o latifúndio; c) Re-
gulamentação da Lei de Remessas de Lucros. Se assim continuar vou deixar o meu sertão,
Manifesto do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) – 1962. BONAVIDES, P.; mesmo os olhos cheios d’água
AMARAL, R. Textos políticos da história do Brasil. Brasília: Senado Federal, 2002.
e com dor no coração.
Nos anos 1960 eram comuns as disputas pelo significado Vou pro Rio carregar massas

Os governos Jânio Quadros e João Goulart


de termos usados no debate político, como democracia e pros pedreiros em construção.
reforma. Se, para os setores aglutinados em torno da UDN,
Deus até está ajudando:
as reformas deveriam assegurar o livre mercado, para
aqueles organizados no CGT, elas deveriam resultar em está chovendo no sertão!

a) fim da intervenção estatal na economia.    Mas plantar pra dividir,


Não faço mais isso, não.
b) crescimento do setor de bens de consumo.   
VALE, J.; AQUINO, J. B. Sina de caboclo.
c) controle do desenvolvimento industrial.    São Paulo: Polygram, 1994 (fragmento).

d) atração de investimentos estrangeiros.    No trecho da canção, composta na década de 1960, re-


e) limitação da propriedade privada.    trata-se a insatisfação do trabalhador rural com

303
a) a distribuição desigual da produção. Texto II
b) os financiamentos feitos ao produtor rural. Nada pode ser colocado em compensação à perda das liber-
dades individuais. Não existe nada de bom quando se aceita
c) a ausência de escolas técnicas no campo.
uma solução autoritária.
d) os empecilhos advindos das secas prolongadas. FICO, C. A educação e o golpe de 1964. Disponível em: www.brasilrecente.com.
Acesso em: 4 abr. 2014 (adaptado).
e) a precariedade de insumos no trabalho do campo.
Embora enfatizem a defesa da democracia, as visões do
10. ENEM
movimento político-militar de 1964 divergem ao foca-
C3
H14 rem, respectivamente:
Texto I
O presidente do jornal de maior circulação do país desta- a) Razões de Estado – Soberania popular.
cava também os avanços econômicos obtidos naqueles vinte b) Ordenação da Nação – Prerrogativas religiosas.
anos, mas, ao justificar sua adesão aos militares em 1964, dei- c) Imposição das Forças Armadas – Deveres sociais.
xava clara sua crença de que a intervenção fora imprescindível d) Normatização do Poder Judiciário – Regras morais.
para a manutenção da democracia.
e) Contestação do sistema de governo – Tradições cul-
Disponível em: http://oglobo.globo.com.
Acesso em: 1o set. 2013 (adaptado). turais.

APROFUNDANDO O CONHECIMENTO

1. (Unicamp-SP) Na foto abaixo reproduzida, o presidente 2. (Uerj)


Jânio Quadros condecora o líder da Revolução Cubana,
Meu país aumentará a ajuda ao Brasil, para cooperar com o
Ernesto Che Guevara.
novo governo. As mudanças registradas no Brasil foram feitas
REPRODUÇÃO/VEST. UNICAMP

de acordo com a Constituição. Os militares, os governadores


de Estados Democráticos e os que os apoiaram puseram fim a
uma ameaça contra o sistema constitucional do Brasil. Derru-
baram o presidente João Goulart para defender a Constituição.
Dean Rusk, secretário de Estado dos EUA, abril de 1964.

Peço ao Congresso a condenação do movimento militar bra-


sileiro. O Terceiro Mundo, o dos países que foram coloniza-
dos e lutam por sua grandeza, foi golpeado pela plutocracia
mundial, o governo dos mais ricos e poderosos. Isso é sentido
FONTE: http://bloghistoriacritica.blogspot.com.br Acessado em 3/01/2013.
pelos mexicanos em sua própria carne.

a) Como essa condecoração pode ser explicada no con- Antonio Vargas MacDonald, deputado mexicano, abril de
texto das propostas do governo Jânio Quadros para 1964.
Adaptado de Nosso SŽculo (1960-1980). São Paulo: Abril Cultural, 1980.
as relações externas do Brasil?
Em um contexto marcado pela Guerra Fria, o governo Jânio Variadas foram as repercussões internacionais à deposi-
Quadros adotava uma política externa independente, buscando ção do presidente João Goulart, em abril de 1964, como
não se submeter nem aos Estados Unidos nem à União Soviética. expressam os depoimentos citados.
Che Guevara era um dos líderes do governo socialista cubano.
Considerando a natureza do movimento que depôs o
b) Quais grupos, no Brasil, criticaram esse acontecimento? presidente brasileiro em 1964, identifique a principal di-
Os setores conservadores (como empresários, militares, ferença entre o posicionamento do secretário de Estado
fazendeiros) e a UDN. norte-americano e o do deputado mexicano. Em seguida,

304
apresente um aspecto do contexto internacional da época o seguinte argumento comum às duas manifestações a
que explique o posicionamento dos Estados Unidos. favor da intervenção militar:
Enquanto o deputado mexicano condena o golpe que depôs o a) Defesa dos preceitos fundamentais da democracia li-
presidente João Goulart e defende a soberania dos países beral burguesa, como a liberdade de expressão.
latino-americanos, o secretário de Estado dos Estados Unidos declara
b) Crítica às políticas públicas, vistas como incapazes
apoio ao novo governo brasileiro, estabelecido, segundo ele, para
de controlar a inflação e promover o desenvolvimen-
garantir o respeito à Constituição do país. to do país.
O posicionamento dos Estados Unidos pode ser relacionado ao
c) Defesa do catolicismo e da “família tradicional”
contexto da Guerra Fria, particularmente em relação ao temor de que
como sustentáculos dos valores cristãos da socieda-
movimentos como o que ocorrera em Cuba, em 1959, se repetissem
de brasileira.

HISTÓRIA
em outros países da América Latina. A fim de garantir sua
d) Incapacidade do governo Goulart e do governo Dil-
influência política e econômica, os Estados Unidos apoiaram
ma de atender às demandas dos movimentos sociais
ditaduras latino-americanas que se alinhavam favoravelmente ao país.
e das minorias.

3. (Uema – Adaptada) e) Oposição diante da dependência da economia brasi-


leira frente ao capital estrangeiro manifesta na defesa
ARQUIVO O GLOBO/VEST. UEMA

M—dulo 17
incondicional do nacionalismo econômico.

4. (UFU-MG – Adaptada)
No final de março de 1964, civis e militares se uniram
para derrubar o presidente João Goulart, dando um golpe
de Estado, tramado dentro e fora do país. Entre uma data
e outra, 1964 e 1985, o Brasil passou por um turbilhão de
acontecimentos. A economia cresceu, alçando o país ao oitavo
PIB mundial. Mas, igualmente, cresceram a desigualdade e
a violência social, alimentadas em boa parte pela violência
do Estado. A vida cultural passou por um processo de mer-
cantilização, o que não impediu o florescimento de uma rica
Marcha da Família com Deus pela Liberdade, São Paulo, 19 de março de 1964.
cultura crítica ao regime. Os movimentos sociais, vigiados e
reprimidos, não desapareceram; tornaram-se mais diversos e
AUTORIA DESCONHECIDA/REPRODUÇÃO/VEST. UEMA

complexos, expressão de uma sociedade que não ficou passiva


diante do autoritarismo.
NAPOLITANO, Marcos. 1964: história do regime militar brasileiro.
São Paulo: Contexto, 2014. p. 7-8 (Adaptado).

No ano de 2014, foram intensos os debates e discus-


sões públicas sobre os cinquenta anos do golpe militar,
o qual deu início ao nosso último período ditatorial, que
se estendeu até 1985.

Os governos Jânio Quadros e João Goulart


A respeito do processo político que levou ao golpe e
à posterior ditadura, cite dois aspectos da crise do go-
Manifestação no Rio de Janeiro, 15 de março de 2015. verno João Goulart (1961-1964) que contribuíram para a
sua queda.
As imagens acima retratam dois momentos singulares
O aluno pode citar dois entre os seguintes aspectos: a crise
da história política do Brasil: a conjuntura pré-golpe de
econômica do governo Jango; o temor dos setores conservadores de
1964, momento em que se deu a destituição de João
que o projeto de Reformas de Base fosse realizado; os episódios de
Goulart, e as recentes manifestações contra o governo
Dilma Rousseff. Em comum aos dois processos, destaca- quebra de hierarquia militar que contaram com o apoio do presidente.

-se o apoio à tomada de poder pelos militares. Identifica-se

305
5. (FGV-RJ) Em 13 de março de 1964, o então presidente A partir da afirmativa acima:
João Goulart participou de um comício popular no Rio a) explique um dos fatores que levaram à queda do go-
de Janeiro, intitulado “Comício das Reformas”. Leia um verno João Goulart;
pequeno trecho do discurso de João Goulart e depois O aluno poderá explicar: a oposição que alguns setores
responda às questões propostas. empresariais faziam ao projeto nacionalista defendido pelo
Brasileiros, a hora é das reformas de estrutura, de mé- governo; a radicalização política relacionada ao contexto da Guerra
todos, de estilo de trabalho e de objetivo. Já sabemos que Fria; o fortalecimento dos movimentos sociais e suas pressões
não é mais possível progredir sem reformar; que não é mais pela realização de reformas econômicas e sociais; o envolvimento
possível admitir que essa estrutura ultrapassada possa rea- do presidente com episódios de quebra de hierarquia militar; a
lizar o milagre da salvação nacional para milhões de bra- campanha de desestabilização do governo Goulart por institutos
sileiros que da portentosa civilização industrial conhecem
de propaganda, como o Ipes, que tinha penetração nos setores
apenas a vida cara, os sofrimentos e as ilusões passadas. O
médios da população; a proposta das Reformas de Base, em
caminho das reformas é o caminho do progresso pela paz
especial a reforma agrária, que contrariava interesses dos
social. Reformar é solucionar pacificamente as contradi-
setores latifundiários e que foram vistas por muitos como uma
ções de uma ordem econômica e jurídica superada pelas
radicalização do governo; a aprovação da lei de limitação de
realidades do tempo em que vivemos.
http://www.ebc.com.br/cidadania/2014/03/discurso-de-jango-na- remessas de lucros, prejudicial ao capital estrangeiro.
central-do-brasil-em-1964. Acessado em 16 de agosto de 2014.

a) A quais reformas se refere o Presidente da República b) identifique um acontecimento deflagrador do Golpe


em seu discurso? de 1964.
O presidente se refere às Reformas de Base. O aluno poderá identificar: o comício na Central do Brasil, no Rio
de Janeiro, em 13 de março de 1964, quando o presidente João
b) Por que as propostas de João Goulart provocaram Goulart lançou o programa de reforma agrária e nacionalização das
forte reação em alguns setores da sociedade brasilei- refinarias de petróleo; a realização da Marcha da Família com Deus
ra da época? pela Liberdade, em oposição ao governo; a revolta dos
Porque as reformas propunham mudanças nas estruturas da marinheiros, em 26 de março de 1964, quando a tropa não acatou
sociedade brasileira, como a reforma agrária, a educacional e a ordem do ministro da Marinha sobre a prisão dos dirigentes do
a tributária. Os setores conservadores – como empresários, movimento, enquanto o presidente anistiava os insurgentes; o
fazendeiros e integrantes das camadas médias – consideravam comparecimento do presidente à posse da nova diretoria da
que as reformas eram uma ameaça ao direito de propriedade Associação dos Sargentos, no Automóvel Club do Rio de Janeiro,
privada e significavam a “esquerdização” do país. no dia 30 de março de 1964, parecendo demonstrar sua adesão à
subversão da hierarquia militar e aos radicais de esquerda.

7. (Unifor-CE) Veja o trecho dessa notícia, publicada na


Folha de S.Paulo, em 20 de março de 1964:
A disposição de São Paulo e dos brasileiros de todos os re-
cantos da pátria para defender a Constituição e os princípios
6. (PUC-RJ) Uma conjugação adversa foi responsável democráticos, dentro do mesmo espírito que ditou a Revolu-
pelo Golpe de 1964, que completou 50 anos. Podemos ção de 32, originou ontem o maior movimento cívico já ob-
identificar diferentes fatores que levaram à queda do servado em nosso Estado: a “Marcha da Família com Deus,
governo João Goulart, como os de ordem econômica, pela Liberdade”. Com bandas de música, bandeiras de todos
político-institucional, social, ideológica, assim como os Estados, centenas de faixas e cartazes, numa cidade com
acontecimentos deflagradores de ações reativas, ar festivo de feriado, a “Marcha” começou na Praça da Repú-
tanto no plano civil como no militar, que culminaram blica e terminou na Praça da Sé, que viveu um dos seus maio-
no golpe. res dias. Meio milhão de homens, mulheres e jovens – sem

306
preconceitos de cor, credo religioso ou posição social – foram Analise a charge, publicada originalmente em 17.05.1963,
mobilizados pelo acontecimento. Com “vivas” à democracia e identifique como ela representa as dificuldades en-
e à Constituição, mas vaiando os que consideram “traidores frentadas pelo governo João Goulart em seu projeto de
da pátria”, concentraram-se defronte da catedral e nas ruas reformas sociais.
próximas. Ali, oraram pelos destinos do país. E, através de Em 1963, o presidente João Goulart apresentou o Plano Trienal, um
diversas mensagens, dirigiram palavras de fé no Deus de to- conjunto de medidas econômicas que visavam combater a inflação
das as religiões e de confiança nos homens de boa vontade. e retomar o crescimento econômico do país. Esse programa previa
Mas, também de disposição para lutar, em todas as frentes, a realização de reformas estruturais mais profundas, as chamadas
pelos princípios que já exigiram o sangue dos paulistas para Reformas de Base, que incluiriam as reformas agrária, tributária,
se firmarem.
financeira, educacional e eleitoral. Essas reformas foram combatidas

HISTÓRIA
Sobre a “Marcha da Família com Deus, pela Liberdade” pelos partidos políticos UDN e PSD, que representavam os interesses

é correto afirmar que: da elite brasileira (proprietários de terras, industriais, banqueiros,


grandes comerciantes e parte da classe média) e de um capitalismo
a) foi uma manifestação pública organizada por vários
setores da esquerda brasileira em apoio ao governo liberal aberto ao capital estrangeiro que via nessa tentativa de

do presidente João Goulart. reforma um viés esquerdista e uma real tentativa do governo de
efetuar uma distribuição de renda.
b) foi uma demonstração de que parte da classe média

Módulo 17
conservadora brasileira e do clero estava claramente
contrária à ideia de um golpe militar no Brasil.
c) teve como resposta imediata o “Comício das Refor-
mas”, realizado no Rio de Janeiro, organizado pelas
centrais sindicais, com a participação de João Goulart. 9. (UFMG) Analise esta charge.

LAN/REPRODUÇÃO/VEST. UFMG
d) organizada pela União Cívica Feminina e pela Campa-
nha da Mulher pela Democracia, com o apoio de po-
líticos conservadores, serviu de “aval” civil ao golpe
militar de 1964.
e) teve dentre os seus principais oradores os governa-
dores do Rio Grande do Sul (Leonel Brizola) e de Per-
nambuco (Miguel Arraes).

8. (Vunesp-SP)

Os governos Jânio Quadros e João Goulart


AUGUSTO BANDEIRA/REPRODUÇÃO/VEST. UNESP

LAN. JORNAL DO BRASIL, 5 JUN, 1963. IN: MOTTA, Rodrigo P. Sá.


Jango e o golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2006, p. 117. (Adaptado).

No início da década de 1960, o debate político sobre a


implementação das Reformas de Base gerou uma forte
mobilização e radicalização política no País. A partir da
análise dessa charge e considerando outros conheci-
(Augusto Bandeira apud Rodrigo Patto Sá Motta.
Jango e o golpe de 1964 na caricatura, 2006.) mentos sobre o assunto,

307
a) Explique em que consistia a proposta de Reformas de b) Analise como esses dois aspectos contribuíram para a
Base do governo João Goulart. justificativa do golpe militar de 1964.
As Reformas de Base pretendiam alterar as estruturas da O descontrole inflacionário fez com que Jango perdesse o apoio
sociedade brasileira, como no caso da reforma agrária e tributária, de parte dos trabalhadores e da classe média. Já as camadas
promovendo uma maior distribuição de renda no país. conservadoras se opuseram ao projeto de Reformas de Base,
considerado de orientação socialista, defendido pelo governo

b) Explique o posicionamento de cada uma das lideran- como forma de superar os problemas econômicos. Esses fatores
ças políticas representadas na charge. reforçaram a ideia de um golpe de Estado, articulado por
A charge apresenta o presidente João Goulart defendendo as setores civis e militares da sociedade brasileira e apoiado pelo
reformas, também apoiadas por Leonel Brizola, ambos integrantes governo dos Estados Unidos.
do PTB. Já Carlos Lacerda, da UDN, opunha-se ao programa
reformista do governo.

c) Cite duas manifestações contrárias ao governo João


Goulart que foram estimuladas pelas propostas de
Reformas de Base.
O aluno deve citar as seguintes manifestações: a Marcha 11. (Unicamp-SP – Adaptada)
da Família com Deus pela Liberdade e o golpe civil-militar
Em 30 de março de 1964, o presidente João Goulart fez um
desencadeado em abril de 1964.
discurso, no qual declarou: “Acabo de enviar uma mensagem
ao Congresso Nacional propondo claramente as reformas que
o povo brasileiro deseja. O meu mandato será exercido em
toda a sua plenitude, em nome do povo e na defesa dos inte-
10. (Fuvest-SP) Considere as seguintes charges.
resses populares.”
AUGUSTO BANDEIRA E BIGANTI/
REPRODUÇÃO/VEST. FUVEST

Adaptado de Paulo Bonavides e Roberto Amaral, Textos pol’ticos da hist—ria do Brasil.


Brasília: Senado Federal, 2002, vol. 7, p. 884.

Sobre o contexto em que esse discurso foi pronunciado,


é possível afirmar o seguinte:
a) Enfrentando a oposição de setores conservadores,
Jango tentou usar as reformas de base, que deveriam
abranger a reforma agrária, a eleitoral, a educacional e a
financeira, para garantir apoio popular ao seu mandato.
b) Quando Jango apresentou ao Congresso Nacional as
reformas de base, elas já haviam sido alteradas, abrin-
do mão da reforma agrária, para agradar aos setores
Essas charges foram publicadas durante a presidência conservadores, e não apenas às classes populares.
de João Goulart (1961-1964).
c) Com as reformas de base, Jango buscou afastar a fama
a) Cada charge apresenta uma crítica a um determina- de esquerdista, colocando na ilegalidade os partidos
do aspecto do governo de Goulart. Identifique esses comunistas, mas motivou a oposição de militares e po-
dois aspectos. líticos nacionalistas, ao abrir o país ao capital externo.
A primeira charge apresenta o crescente processo inflacionário
d) Jango desenvolveu um plano de reformas que de-
(representado pelo grande rato, à frente da família brasileira) vivido veriam alterar essencialmente as carreiras dos mili-
na época no Brasil e a segunda aborda a suposta aproximação tares, o que desagradava muitos deles, mas também
de Jango com governos socialistas, representados pelas listras do reprimiu várias greves do período, irritando as clas-
tigre no formato da foice com o martelo sobreposto, símbolo do ses populares.
comunismo. e) Nenhuma das alternativas anteriores.

308
A ditadura
civil-militar:

18
governos
Castelo Branco
Módulo e Costa e Silva

OBJETOS DO CONHECIMENTO
• O governo de Castelo Branco
• Aspectos econômicos
• Protestos e repressão
• Os Atos Institucionais
• O governo de Costa e Silva
• O afastamento do presidente e a Junta Militar

HABILIDADES
• H3 - Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos
históricos.
• H8 - Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos
fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
-social.
• H11 - Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
• H15 - Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambien-
tais ao longo da História.
• H21 - Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
• H24 - Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
• Identificar os instrumentos institucionais usados para limitar as liberdades democráticas.
• Identificar as reações da sociedade diante do autoritarismo.
• Compreender o papel da repressão e a sua relação com ações semelhantes do passado e da atualidade.
• Diferenciar os grupos políticos dentro das Forças Armadas.
• Analisar a política econômica do governo no período.
• Analisar o significado do AI-5 dentro da dinâmica do regime.
309
PARA COMEÇAR

Em maio de 2012, o governo brasileiro instituiu a Comissão Nacional da Verdade com o objetivo
de apurar as violações aos direitos humanos no Brasil entre 1946 e 1988. O resultado dos trabalhos
dessa comissão foram concluídos em 2015.
Observe o infográfico a seguir, que traz alguns dados apurados pela Comissão da Verdade.

Comissão Nacional da Verdade – relatório final


Conclusões sobre a repressão e tortura durante a ditadura

Agentes Mortos e Militares


responsáveis desaparecidos que a ditadura
pela repressão na ditadura perseguiu

434 6 591
377
210 desaparecidos 3 340 da Aeronáutica
Sindicatos sob 191 mortos 2 214 da Marinha
intervenção*
33 corpos 800 do Exército
536 localizados 237 das polícias
estaduais
*Entre 1964 e 1970
Fontes: Relatório final da Comissão Nacional da Verdade, 2014; G1. Disponível em: <www.g1.com.br>.
Acesso em: 10 jan. 2017.

A partir de abril de 1964, o Brasil mergulhou numa longa e cruel ditadura. Mas muitos dos que
apoiaram a deposição do presidente João Goulart acreditavam que a “Revolução Redentora” –
como a ela se referiam os chefes militares do movimento – iria salvar a democracia brasileira. Neste
módulo veremos como a ditadura se estruturou no Brasil.

PARA APRENDER

A estruturação do regime
Como vimos no módulo anterior, o presidente João Goulart foi derrubado por um golpe civil-militar em
abril de 1964. No dia 2 de abril, foi instituído o Comando Supremo da Revolução, formado pelo brigadeiro
Francisco Assis Correia de Melo (Aeronáutica), pelo vice-almirante Augusto Rademaker (Marinha) e pelo
general Artur da Costa e Silva (Exército).

310
ARQUIVO/AGÊNCIA O GLOBO

HISTÓRIA
A Marcha da Vitória, versão carioca da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, ganhou o centro do Rio de Janeiro no dia
seguinte à vitória do movimento militar.

M—dulo 18
No dia 3 de abril de 1964, Jango exilou-se

O GLOBO
no Uruguai. A queda do presidente foi comemo-
rada por vários setores da sociedade brasileira
que acreditavam que o estabelecimento de uma
ditadura comunista havia sido evitado e a de-
mocracia no país estava protegida. As diversas
“marchas da vitória” que ocorreram em algumas
cidades brasileiras revelavam o apoio ao golpe.
O apoio ao movimento estava relacionado
à ideia de um “golpe cirúrgico”, isto é, que o
governo Jango era um mal que precisava ser
extirpado – por isso a ação conjunta de civis e
militares para derrubá-lo –, mas as eleições pre-
sidenciais previstas para outubro de 1965 seriam
mantidas e a normalidade democrática seria res-
taurada no país. Não foi o que aconteceu.

A ditadura civil-militar: governos Castelo Branco e Costa e Silva


Logo nas primeiras horas após a derru-
bada do presidente Jango, teve início uma
violenta repressão contra os setores mais
organizados da esquerda. No dia 2 de abril,
o prédio da União Nacional dos Estudan-
tes (UNE) no Rio de Janeiro foi incendiado.

Detalhe da primeira página


do jornal O Globo, de
3 de abril de 1964, destacando
a Marcha da Vitória.

311
As Ligas Camponesas e o Comando Geral

ARQUIVO/AGÊNCIA
dos Trabalhadores (CGT), além de outras
organizações, foram declarados ilegais.
Várias lideranças políticas foram perse-
guidas, como Gregório Bezerra, militante
comunista, que foi preso, espancado por
um coronel do Exército e arrastado pe-
las ruas do Recife até a cadeia, tudo com
anuência da sociedade civil, que apoiou a
queda de Jango.
No dia 9 de abril, o Comando Su-
premo da Revolução estabeleceu o Ato
Institucional número  1 (AI-1), o pri-
meiro de uma série de medidas que
pretendiam criar um aparato legal para
o governo estabelecido. O Ato deter-
minou que o Congresso Nacional iria
eleger um presidente para concluir o
mandato de João Goulart, e, no dia
11 de abril, o general Humberto de Alen-
car Castelo Branco assumiu a Presidência
da República. No seu discurso de posse,
ele prometeu transferir o governo para
um presidente eleito, que seria escolhido
em outubro de 1965.
O afastamento de João Goulart não
terminou com os planos da cúpula do gol-
pe para eliminar qualquer possibilidade de Incêndio no prédio da UNE. Rio de Janeiro, abril de 1964. Ainda naquele ano,
um levante de caráter de esquerda. O Ato os movimentos estudantis seriam todos extintos.
fortaleceu as atribuições do Poder Executivo e autorizou ao presidente da República a cassação de mandatos
legislativos, a exoneração de funcionários públicos civis e militares e a suspensão dos direitos políticos dos cida-
dãos por até dez anos, com o objetivo de perseguir aqueles que o governo considerava perigosos à democracia
e à nação. O cerco estava se fechando: durante o governo de Castelo Branco, 5 mil pessoas foram presas, 2 mil
funcionários públicos foram demitidos, 386 pessoas foram cassadas e centenas de marinheiros, fuzileiros navais
e oficiais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica foram expulsos ou reformados.
A ação do novo governo baseava-se na Doutrina de Segurança Nacional (DSN), que justificava o bi-
nômio “segurança e desenvolvimento”. O general Golbery do Couto e Silva, um dos mentores intelecutais
das perseguições políticas, iniciou a montagem de um sistema de espionagem e repressão. No 13o andar
do edifício do Ministério da Fazenda, no centro do Rio de Janeiro, foi estabelecido o Serviço Nacional de
Informações (SNI), órgão que chegaria a ter milhares de funcionários espalhados por todo o país.
O SNI tornou-se o principal órgão da Comunidade de Informações, que reunia os órgãos de informa-
ção das Forças Armadas – o Centro de Informações da Marinha (Cenimar), o Centro de Informações do
Exército (CIE), o Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica (CISA) –, do Departamento da Polí-
cia Federal, dos ministérios e das polícias militares, além dos Departamentos de Ordem Política e Social
(Dops) das delegacias estaduais. Todos esses órgãos trabalhavam para identificar as ameaças ao governo
e eliminá-las. Leia a seguir um boxe sobre a DSN e o SNI e as ideias e ações que fundamentaram a perse-
guição aos inimigos do governo.

312
GOTAS DE SABER

Siglas de controle
DSN
Pela lógica anticomunista inerente à Doutrina de Segurança Nacional, os conflitos políticos, ou
qualquer projeto de reforma que mobilizasse as massas trabalhadoras, poderiam ser uma porta de
entrada para a “subversão”. Nessa perspectiva, os exércitos nacionais dos países capitalistas liderados
pelos EUA deveriam cuidar da defesa interna contra a “subversão comunista infiltrada”. Portanto, o
inimigo seria, primordialmente, um “inimigo interno”, que poderia ser qualquer cidadão simpatizante
ou militante do comunismo.

HISTÓRIA
MEMÓRIAS DA DITADURA. Disponível em: <http://memoriasdaditadura.org.br/repressao/>. Acesso em: 31 out. 2016.

SNI
A criação do Serviço Nacional de Informações (SNI) trouxe à área de Inteligência uma ampla
estrutura nacional. O SNI foi instituído pela Lei no 4.341, de 13/06/1964, com a função de “superin-
tender e coordenar, em todo o território nacional, as atividades de Informações e Contrainformações,

M—dulo 18
em particular as que interessem à Segurança Nacional”.
O novo órgão era diretamente ligado à Presidência da República e atendia o presidente e o Con-
selho de Segurança Nacional. O chefe do Serviço tinha sua nomeação sujeita à aprovação prévia do
Senado Federal e contava com prerrogativas de ministro.
AGÊNCIA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA. Disponível em: <www.abin.gov.br/institucional/
historico/1964-servico-nacional-de-informacoes-sni/>. Acesso em: 31 out. 2016.

Em outubro de 1965, ocorreram eleições para governadores, com partidos de oposição ao regime con-
quistando expressivas vitórias em estados importantes, como Guanabara, com Negrão de Lima, do Partido
Social Democrático (PSD), e Minas Gerais, com Israel Pinheiro, do PSD. O resultado alarmou o governo federal,
preocupado com a perspectiva de perder o controle sobre a situação. Para evitar que um presidente oposi-
tor ao regime chegasse ao poder, foi decretado o AI-2, estabelecendo que as eleições presidenciais seriam
indiretas, ou seja, realizadas pelo Congresso Nacional. A fim de controlar de forma mais eficaz o Poder Legis-
lativo, o ato também determinava o fim dos partidos políticos existentes e a instauração do bipartidarismo: a
Aliança Renovadora Nacional (Arena) – partido que apoiava o regime, formado por muitos ex-udenistas – e o
Movimento Democrático Brasileiro (MDB) – a oposição consentida, entendida por alguns analistas como

A ditadura civil-militar: governos Castelo Branco e Costa e Silva


uma oposição controlada pelo governo por meio da repressão.
Legalmente, era possível haver outros partidos, porém com a condição de que fossem representados
por 20 senadores e 120 deputados federais. Como era praticamente impossível alcançar esses números ou
organizar politicamente tantos representantes, a lei viabilizou o bipartidarismo.
No ano seguinte, em fevereiro, novo Ato Institucional, o AI-3, estabeleceu que também as eleições para
governadores seriam indiretas e que os prefeitos das capitais seriam indicados pelos governadores.
Em outubro de 1966, o Congresso elegeu o general Artur da Costa e Silva como presidente. A escolha do
ex-ministro da Guerra representava uma vitória da chamada “linha dura”, grupo dentro das Forças Armadas
que defendia a permanência do poder nas mãos dos militares, pois entendiam que apenas os setores das
Forças Armadas seriam capazes de manter longe o perigo externo e interno do comunismo.
Antes de deixar o governo, Castelo Branco editou o AI-4, em dezembro de 1966, convocando o Congresso
para discussão, votação e promulgação de uma nova Constituição, que entrou em vigor em 1967.
Os opositores ao regime foram cerceados também pela Lei de Imprensa, aprovada em 1967, que
estabelecia pesadas multas aos veículos de comunicação, além da prisão de jornalistas, caso algum

313
material publicado fosse considerado ofensivo à moral e aos bons costumes ou uma ameaça à ordem e à
segurança nacional. Leia a seguir um fragmento de texto sobre as atitudes que podiam ser enquadradas
na Lei de Imprensa.

FORTUNA/REPRODU‚ÌO
[…] divulgação de notícias falsas capazes de pôr em
perigo o nome, a autoridade e crédito ou prestígio do Brasil;
ofensa à honra do presidente de qualquer dos poderes da
União; incitação à guerra ou à subversão da ordem políti-
co-social, à desobediência coletiva às leis, à animosidade
entre as Forças Armadas, à luta entre as classes sociais, à
paralisação dos serviços públicos, ao ódio ou à discrimina-
ção racial; propaganda subversiva; incitamento à prática de
crimes contra a segurança nacional. Para julgamento de tais
delitos passou a ser competente o foro militar. [...]
CPDOC/FGV. Lei de Imprensa. Disponível em: <www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/
verbete-tematico/lei-de-imprensa>. Acesso em: 31 out. 2016.
Charge do cartunista Fortuna mostrando um
jornal recortado, simbolizando um corte de
material feito pela ditadura.

O modelo econômico
Conforme vimos no módulo anterior, o golpe civil-militar que destituiu o presidente João Goulart contou
com apoio do governo dos Estados Unidos, que viu em Jango a iminência de o Brasil se tornar uma nação
comunista em território latino-americano, área de influência capitalista, no contexto do embate com o so-
cialismo na Guerra Fria. No novo governo instaurado no Brasil, esse apoio seria identificado a partir de uma
série de medidas econômicas que abandonaram a política nacionalista anterior e abriram o país para o capi-
tal estrangeiro. Foram assinados acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), e o governo liberou a
remessa de lucros para o exterior, além de atrair empresas estrangeiras. Leia a seguir sobre a criação do FMI
e seus objetivos.

GOTAS DE SABER

O que é o FMI?

O Fundo Monetário Internacional (FMI) é uma organização internacional que resultou da Con-


ferência de Bretton Woods (1944). […]
Os objetivos declarados da organização são promover a cooperação econômica internacional, o co-
mércio internacional, o emprego e a estabilidade cambial, inclusive mediante a disponibilização de re-
cursos financeiros para os países-membros para ajudar no equilíbrio de suas balanças de pagamentos.
Os [...] países-membros contribuem colocando à disposição do FMI uma parte de suas reservas
internacionais. Se necessário, o Fundo utiliza esses recursos para operações de empréstimo visando a
ajudar países que enfrentam desequilíbrios de pagamentos. Os recursos são desembolsados mediante
o cumprimento de requisitos estabelecidos em um programa negociado com o Fundo.
BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Disponível em: <www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/
diplomacia-economica-comercial-e-financeira/119-fundo-monetario-internacional>. Acesso em: 31 out. 2016.

314
Ao longo do governo Castelo Branco foi adotado o Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg), cujos
objetivos eram controlar a inflação e retomar o crescimento econômico. A inflação era considerada fruto de
basicamente três fatores: endividamento público, expansão do crédito às empresas e aumentos salariais
acima dos ganhos da produtividade. O plano buscava limitar o consumo, mas também identificava a neces-
sidade de adotar uma política monetária e fiscal restritiva – controlando o crédito e a emissão de moedas – e
eliminar os reajustes salariais, que, segundo o governo, pressionavam a inflação a subir. A repressão silencia-
ria os trabalhadores.
Apesar do declarado apoio ao novo governo, cuja política externa caracterizava-se pela automática alian-
ça com os Estados Unidos, os esperados investimentos externos não ocorreram. O Paeg conseguiu reduzir o
crescimento da inflação – embora o índice ainda fosse alto (cerca de 25% em 1967) – e retomar de forma mo-
desta o crescimento econômico, mas bem longe dos números do período do governo Juscelino Kubitschek.

HISTÓRIA
Ainda que os resultados do Paeg ficassem aquém do esperado, contribuíram para a estabilidade econômica.
O preço a ser pago por essas medidas foram, entre outros, o arrocho salarial e a falência de centenas de
pequenas empresas entre 1964 e 1967.

Os protestos contra o governo e o recrudescimento da ditadura

M—dulo 18
Comprometido inicialmente com um discurso de preservação da democracia brasileira, o novo governo
deixou claro desde o início seu caráter repressor. As críticas tornaram-se mais fortes quando, em julho de
1964, uma emenda constitucional prorrogou o mandato de Castelo Branco até março de 1967. A instituciona-
lização da ditadura a partir dos sucessivos Atos Institucionais foi aumentando o descontentamento, mesmo
de setores que inicialmente haviam apoiado o golpe.
A Junta Militar indicou o nome de Artur da Costa e Silva para a sucessão de Castelo Branco. Seu nome
foi aprovado pelo Congresso, controlado pela Arena, e o general assumiu a Presidência em março de 1967.
Considerado um militar da “linha dura”, isto é, disposto a intensificar o controle sobre a sociedade e garantir
a permanência da ditadura, ao longo de seu governo os protestos sociais ganharam força.
Importantes lideranças políticas civis reforçavam suas críticas ao regime. A partir de 1965, estudantes
universitários começaram a organizar as primeiras manifestações de rua contra o governo, entrando em
confronto com a polícia. Em outubro de 1966, foi lançada a Frente Ampla, uma improvável aliança entre
Carlos Lacerda – que rompeu definitivamente com o regime após o cancelamento das eleições presidenciais
em 1965 –, João Goulart e Juscelino Kubitschek. A disposição dos militares de permanecerem no poder
por tempo indeterminado descontentava mesmo aqueles que haviam apoiado o golpe. Carlos Lacerda, um
dos principais articuladores civis da deposição de Jango, buscou o apoio de Juscelino Kubitschek – cassado
em junho de 1964 e exilado em
ARQUIVO/AGæNCIA O GLOBO

A ditadura civil-militar: governos Castelo Branco e Costa e Silva


Lisboa – e do próprio Jango –
exilado em Montevidéu.

Carlos Lacerda à esquerda


e Juscelino Kubitschek à
direita em conversa sobre
a Frente Ampla no Rio de
Janeiro, 1967.

315
A Frente Ampla foi uma das primeiras formas organizadas de oposição ao regime e chamou-o de “ditatu-
ra” em seus manifestos. Entre fins de 1967 e início de 1968, o movimento organizou mobilizações e comícios
em cidades de São Paulo e Paraná, mas uma portaria do Ministério de Justiça, estabelecida em abril de 1968,
proibiu todas as suas atividades.
A grande imprensa também adotava novos posicionamentos. Os jornais O Estado de S. Paulo, Correio
da Manhã e Jornal do Brasil intensificavam as críticas ao caráter antidemocrático do regime. Alguns setores
dentro da Igreja católica também começaram a se posicionar contra o desrespeito aos direitos humanos e a
política de arrocho salarial que sacrificava os trabalhadores.
Manifestações culturais no teatro, nas artes plásticas, no cinema, na música, entre outros, engrossavam
o coro dos descontentes. Os festivais da canção, então muito populares no país, revelavam um novo gênero
musical: a música de protesto.
Embora houvesse uma oposição que tentava atuar dentro das limita-
ARQUIVO/AGÊNCIA O GLOBO

das possibilidades legais, alguns grupos buscaram, por vias mais extremas,
se mobilizar em movimentos de luta armada; esses grupos começaram a
se organizar ainda em 1965, quando alguns guerrilheiros invadiram o Sul
do país, mas foram rapidamente derrotados. Em 1966, um foco guerrilheiro
ligado à liderança de Leonel Brizola foi estabelecido na serra do Caparaó
(entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo), mas foi desarticulado
pela polícia.
A partir de 1967, ações de guerrilha urbana – como assaltos a bancos e
a instituições que sustentavam a ditadura – começaram a dar suporte a no-
vas organizações que surgiam, garantindo-lhes armas e dinheiro. Destacou-
-se então a Ação Libertadora Nacional (ALN), formada por ex-integrantes
do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e dirigida por Carlos Marighella. Ao
longo do ano seguinte, surgiram outros grupos de luta armada, reunindo
sobretudo jovens dispostos a arriscar a vida para derrotar o regime.
O ano de 1968 foi marcado por várias manifestações contra a ditadura.
No dia 28 de março, estudantes organizaram um protesto contra a comida
servida no restaurante universitário Calabouço, no Rio de Janeiro. A Polícia
Militar invadiu o restaurante para reprimir o protesto e um jovem estudante,
Édson Luís, de 18 anos, foi morto com um tiro no peito. Seu cadáver trans-
formou-se num símbolo da arbitrariedade e da violência do regime. O corpo
foi levado pelos estudantes para a Assembleia Legislativa, e o velório reuniu
Repressão na missa de sétimo dia do estudante milhares de pessoas. Protestos ocorreram em várias cidades do país.
Édson Luís, no Rio de Janeiro, 1968.
No dia do enterro, em protesto, os cinemas da Cine-
TEIXEIRA/AJB

lândia anunciaram três filmes: A noite dos generais, À


queima-roupa e Coração de luto. As pessoas se manifes-
tavam com cartazes e gritavam palavras de ordem: “Ma-
taram um estudante. E se fosse seu filho?”; “Os velhos
no poder, os jovens no caixão.”; “PM 5 Pode Matar”;
“Bala mata fome?”. A missa de sétimo dia foi realizada
na igreja da Candelária, no centro do Rio de Janeiro. A
Polícia Militar cercou o prédio com seus cavalos, impe-
dindo que as pessoas deixassem o local. Cenas de vio-
lência policial foram registradas em várias ruas da cidade.

Temendo que o corpo de Édson Luís desaparecesse por ação policial,


os estudantes levaram-no para a Assembleia Legislativa do estado da
Guanabara, 1968.

316
EWANDRO/AJB

Passeata dos

HISTÓRIA
Cem Mil, em
1968.

Os protestos contra o governo começavam a ganhar força. No Rio de Janeiro, estudantes, artistas,
religiosos e professores se uniram, em junho de 1968, na Passeata dos Cem Mil, a maior manifestação de
oposição ao regime desde sua instauração.
Os trabalhadores se mobilizavam contra as perdas salariais, e greves estouraram em Contagem (MG) e

M—dulo 18
Osasco (SP), sendo duramente reprimidas.
O terrorismo militar também se intensificava: bombas foram lançadas em teatros no Rio de Janeiro, em
julho e agosto de 1968. Em São Paulo, o espetáculo Roda viva – com texto de Chico Buarque e direção de
José Celso Martinez Corrêa – foi atacado pelo Comando de Caça aos Comunistas (CCC), grupo paramilitar
de extrema direita que atuava na repressão aos movimentos estudantis e culturais ditos de esquerda. Eles
atacavam, por exemplo, peças teatrais e centros acadêmicos. Leia a seguir um trecho da descrição do que
ocorreu na noite em que o espetáculo Roda viva foi atacado.
ARQUIVO/FOLHAPRESS

Na noite de 17 de julho, quando o espe-


táculo acabou, os camarins foram invadidos.
Dezenas de galalaus entraram batendo, com
pedaços de pau e socos-ingleses. Organi-
zaram um corredor polonês e obrigaram os
atores a irem para a rua como estivessem. A
atriz Marília Pêra e seu colega Rodrigo San-
tiago foram nus. Continuaram apanhando

A ditadura civil-militar: governos Castelo Branco e Costa e Silva


em frente ao prédio do teatro, diante de uma
plateia atônita e de duas guarnições de ra-
diopatrulha, imóveis. Pêra foi socorrida por
uma camareira que a cobriu com um blusão.
Citado por: GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada.
São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 299.

Camarim destruído após o ataque pelo CCC, no final da


encenação da peça Roda viva.

Em outubro desse mesmo ano, o 30o Congresso da UNE em Ibiúna, no interior paulista, foi desbara-
tado pela polícia, e centenas de estudantes foram presos. Em São Paulo, um confronto entre estudantes
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (considerados de esquerda) e
estudantes de Direito da Faculdade Mackenzie (que reunia grupos de extrema direita), conhecido como
Batalha da Maria Antônia, resultou na morte de um estudante.

317
ARQUIVO/FOLHAPRESS

No mesmo dia da Passeata dos Cem Mil,


a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) –
grupo político-militar de oposição ao regi-
me, formado por estudantes e ex-militares,
ex-membros do Movimento Nacionalista
Revolucionário (MNR) e da Política Operá-
ria (Polop) – promoveu um atentado contra
o quartel-general da 2a Região Militar do
Exército, em São Paulo, e um sargento foi
morto. O ato inflamou os setores das Forças
Armadas que desejavam um endurecimento
Estudantes presos no Congresso da UNE, em Ibiúna, em 1968. do regime.
Um discurso proferido na Câmara dos Deputados foi o pretexto encontrado pela ditadura para incremen-
tar a repressão. O deputado Márcio Moreira Alves (MDB-GB) protestou contra a invasão da Universidade de
Brasília (UnB) pela Polícia Militar e pediu aos pais que não permitissem que seus filhos participassem das co-
memorações do Dia da Independência, pois o governo vinha atuando de forma extremamente violenta contra
os estudantes. Leia no boxe a seguir o discurso do deputado Márcio Moreira Alves.

HISTÓRIA EM FOCO

O discurso de Márcio Moreira Alves

Senhor presidente, Senhores deputados. Todos reconhecem, ou dizem reconhecer, que a maioria
das Forças Armadas não compactua com a cúpula militarista, que perpetra violências e mantém este país
sob regime de opressão. Creio haver chegado, após os acontecimentos de Brasília, o grande momento da
união pela democracia. Este é também o momento do boicote. As mães brasileiras já se manifestaram.
Todas as classes sociais clamam por esse repúdio à violência.
No entanto, isso não basta. É preciso que se estabeleça, sobretudo por parte das mulheres, como já
começou a se estabelecer nesta Casa por parte das mulheres parlamentares da Arena, o boicote ao mi-
litarismo. Vem aí o Sete de Setembro. As cúpulas militaristas procuram explorar o sentimento profundo
de patriotismo do povo e pedirão aos colégios que desfilem junto com os algozes dos estudantes. Seria
necessário que cada pai e cada mãe se compenetrasse de que a presença de seus filhos nesse desfile é um
auxílio aos carrascos que os espancam e metralham nas ruas. Portanto, que cada um boicote esse desfile.
Esse boicote pode passar também às moças, aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens
oficiais. Seria preciso fazer hoje no Brasil com que as mulheres de 1968 repetissem as paulistas da
Guerra dos Emboabas e recusassem a entrada à porta de sua casa àqueles que vilipendiam a Nação.
Recusassem a aceitar aqueles que silenciam e, portanto, se acumpliciam.
Discordar em silêncio pouco adianta. Necessário se torna agir contra os que abusam das Forças
Armadas falando e agindo em seu nome. Creio, senhor presidente, que é possível resolver esta farsa,
essa democratura, esse falso entendimento pelo boicote.
Enquanto não se pronunciarem os silenciosos, todo e qualquer contato entre civis e militares deve
cessar, porque só assim conseguiremos fazer com que este país volte à democracia. Só assim consegui-
remos fazer com que os silenciosos que não compactuam com os desmandos de seus chefes sigam o
magnífico exemplo dos 14 oficiais de Crateus que tiveram a coragem e a hombridade de publicamente
se manifestarem contra um ato ilegal e arbitrário de seus superiores.
BRASIL Câmara dos Deputados. Ato Institucional 5: Íntegra do discurso do ex-deputado Márcio Moreira Alves, 2 de setembro de 1968. Disponível
em: <www2.camara.leg.br/camaranoticias/radio/materias/CAMARA-E-HISTORIA/337450-ATO-INSTITUCIONAL-5--%C3%8DNTEGRA-DO-
DISCURSO-DO-EX-DEPUTADO-M%C3%81RCIO-MOREIRA-ALVES-(02’-51%22).html>. Acesso em: 31 out. 2016.

318
O discurso teve pouca repercussão no Poder Legislativo, mas foi reproduzido e distribuído em diversos
quartéis. Os militares o consideraram uma afronta e solicitaram ao Congresso autorização para cassar o
deputado. O Congresso rejeitou o pedido, e, no dia 13 de dezembro de 1968, o presidente Costa e Silva
decretou o mais violento de todos os atos, o AI-5, que transformava o Brasil em uma ditadura sem disfarces,
escancarada. O Ato autorizava o presidente a:

• decretar estado de sítio;


• intervir em estados e municípios;
• cassar mandatos parlamentares;
• suspender por dez anos os direitos políticos de qualquer cidadão;

HISTÓRIA
• decretar recesso do Congresso Nacional, das câmaras de vereadores e das assembleias legislativas
estaduais;
• decretar o confisco de bens considerados ilícitos;
• demitir ou reformar oficiais das Forças Armadas e das Polícias Militares;
• promulgar decretos-leis e atos complementares;
• suspender o direito de habeas corpus para criminosos políticos, que deveriam ser julgados por

M—dulo 18
tribunal militar.

Após a decretação do Ato, o deputado Márcio Moreira Alves e outros parlamentares tiveram os manda-
tos cassados e os direitos políticos suspensos. Carlos Lacerda e o senador Juscelino Kubitschek foram pre-
sos. Nos meses seguintes foram decretadas novas cassações, e novas medidas de fortalecimento do Poder
Executivo foram tomadas.
As redações de jornais e as emissoras de rádio e de televisão foram ocupadas por censores. Caetano
Veloso e Gilberto Gil foram presos em São Paulo e encaminhados para o Rio de Janeiro: tiveram os cabelos
raspados e foram exilados.

O afastamento de Costa e Silva


Em agosto de 1969, Costa e Silva anunciou à imprensa que um projeto de reforma constitucional elabo-
rado pelo seu governo havia sido concluído e seria apresentado para ser votado pelo Congresso, que seria
reaberto. No entanto, antes que isso ocorresse, o presidente teve um derrame cerebral. A situação era irre-
versível. Os ministros militares assumiram o governo, formando uma Junta Militar temporária, e o vice-presi-

A ditadura civil-militar: governos Castelo Branco e Costa e Silva


dente Pedro Aleixo, único a não apoiar a decretação do Ato, foi afastado da sucessão presidencial.
No dia 4 de setembro, o embaixador dos
ACERVO ICONOGRAPHIA

Estados Unidos, Charles Burke Elbrick, foi se-


questrado no Rio de Janeiro na mais espetacu-
lar ação de grupos de esquerda vista até então
no Brasil. Em troca da libertação do preso, o
governo foi obrigado a ler em cadeia de rádio e
televisão e a publicar nos principais jornais um

Em pé, a partir da esquerda: Luís Travassos, José Dirceu,


José Ibrahim, Onofre Pinto, Ricardo Vilas, Maria Augusta
Carneiro, Ricardo Zarattini e Rolando Frati. Agachados:
João Leonardo, Agonalto Pacheco, Vladimir Palmeira, Ivens
Marchetti e Flávio Tavares, presos políticos trocados pelo
embaixador estadunidense em foto tirada momentos antes
do embarque rumo ao exílio em 1969.

319
manifesto denunciando os crimes cometidos por ele, incluindo a tortura sistemática de presos políticos. O
manifesto, que exigia ainda a libertação de 15 presos políticos, foi assinado pelo Movimento Revolucionário
8 de Outubro (MR-8) e pela ALN.
No dia 8 de outubro, a Junta Militar anunciou a escolha do general Emílio Garrastazu Médici para suces-
são de Costa e Silva, decisão que foi ratificada pelo Congresso, reaberto no dia 25 de outubro para a votação.
Começava ali aquele que seria o momento mais violento da ditadura militar, os “anos de chumbo”.
Leia a seguir o manifesto que foi escrito pelos integrantes do MR-8 e da ALN, grupos que planejaram e
sequestraram o embaixador dos Estados Unidos, Charles Burke Elbrick.

HISTÓRIA EM FOCO

O manifesto dos revolucionários


Grupos revolucionários detiveram hoje o sr. Charles Burke Elbrick, embaixador dos Estados Unidos,
levando-o para algum lugar do país, onde o mantêm preso. Este ato não é um episódio isolado. Ele se
soma aos inúmeros atos revolucionários já levados a cabo: assaltos a bancos, nos quais se arrecadam
fundos para a revolução, tomando de volta o que os banqueiros tomam do povo e de seus empregados;
ocupação de quartéis e delegacias, onde se conseguem armas e munições para a luta pela derrubada da
ditadura; invasões de presídios, quando se libertam revolucionários, para devolvê-los à luta do povo; ex-
plosões de prédios que simbolizam a opressão; e o justiçamento de carrascos e torturadores.
Na verdade, o rapto do embaixador é apenas mais um ato da guerra revolucionária, que avança a
cada dia e que ainda este ano iniciará sua etapa de guerrilha rural.
Com o rapto do embaixador, queremos mostrar que é possível vencer a ditadura e a exploração, se
nos armarmos e nos organizarmos. Apareceremos onde o inimigo menos nos espera e desapareceremos
em seguida, desgastando a ditadura, levando o terror e o medo para os exploradores, a esperança e a
certeza da vitória para o meio dos explorados.
O sr. Burke Elbrick representa em nosso país os interesses do imperialismo, que, aliados aos
grandes patrões, aos grandes fazendeiros e aos grandes banqueiros nacionais, mantêm o regime de
opressão e exploração.
Os interesses desses consórcios de se enriquecerem cada vez mais criaram e mantêm o arrocho salarial,
a estrutura agrária injusta e a repressão institucionalizada. Portanto, o rapto do embaixador é uma advertên-
cia clara de que o povo brasileiro não lhes dará descanso e a todo momento fará desabar sobre eles o peso de
sua luta. Saibam todos que esta é uma luta sem tréguas, uma luta longa e dura, que não termina com a troca
de um ou outro general no poder, mas que só acaba com o fim do regime dos grandes exploradores e com a
constituição de um governo que liberte os trabalhadores de todo o país da situação em que se encontram.
Estamos na Semana da Independência. O povo e a ditadura comemoram de maneiras diferentes.
A ditadura promove festas, paradas e desfiles, solta fogos de artifício e prega cartazes. Com isso, ela
não quer comemorar coisa nenhuma; quer jogar areia nos olhos dos explorados, instalando uma falsa
alegria com o objetivo de esconder a vida de miséria, exploração e repressão em que vivemos. Pode-se
tapar o sol com a peneira? Pode-se esconder do povo a sua miséria, quando ele a sente na carne?
Na Semana da Independência, há duas comemorações: a da elite e a do povo, a dos que promovem
paradas e a dos que raptam o embaixador, símbolo da exploração.
A vida e a morte do sr. embaixador estão nas mãos da ditadura. Se ela atender a duas exigências, o
sr. Burke Elbrick será libertado. Caso contrário, seremos obrigados a cumprir a justiça revolucionária.
Nossas duas exigências são:
a) A libertação de quinze prisioneiros políticos. São quinze revolucionários entre os milhares que
sofrem as torturas nas prisões-quartéis de todo o país, que são espancados, seviciados, e que amargam

320
as humilhações impostas pelos militares. Não estamos exigindo o impossível. Não estamos exigindo
a restituição da vida de inúmeros combatentes assassinados nas prisões. Esses não serão libertados,
é lógico. Serão vingados, um dia. Exigimos apenas a libertação desses quinze homens, líderes da luta
contra a ditadura. Cada um deles vale cem embaixadores, do ponto de vista do povo. Mas um embai-
xador dos Estados Unidos também vale muito, do ponto de vista da ditadura e da exploração.
b) A publicação e leitura desta mensagem, na íntegra, nos principais jornais, rádios e televisões
de todo o país.
Os quinze prisioneiros políticos devem ser conduzidos em avião especial até um país determina-
do – Argélia, Chile ou México –, onde lhes seja concedido asilo político. Contra eles não devem ser

HISTÓRIA
tentadas quaisquer represálias, sob pena de retaliação.
A ditadura tem 48 horas para responder publicamente se aceita ou rejeita nossa proposta. Se a
resposta for positiva, divulgaremos a lista dos quinze líderes revolucionários e esperaremos 24 horas por
seu transporte para um país seguro. Se a resposta for negativa, ou se não houver resposta nesse prazo, o
sr. Burke Elbrick será justiçado. Os quinze companheiros devem ser libertados, estejam ou não conde-
nados: esta é uma “situação excepcional”. Nas “situações excepcionais”, os juristas da ditadura sempre

M—dulo 18
arranjam uma fórmula para resolver as coisas, como se viu recentemente, na subida da junta militar.
As conversações só serão iniciadas a partir de declarações públicas e oficiais da ditadura de que
atenderá às exigências.
O método será sempre público por parte das autoridades e sempre imprevisto por nossa parte.
Queremos lembrar que os prazos são improrrogáveis e que não vacilaremos em cumprir nos-
sas promessas.
Finalmente, queremos advertir aqueles que torturam, espancam e matam nossos companheiros:
não vamos aceitar a continuação dessa prática odiosa. Estamos dando o último aviso. Quem prosseguir
torturando, espancando e matando ponha as barbas de molho. Agora é olho por olho, dente por dente.
AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN); MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO 8 DE OUTUBRO (MR-8). Disponível em:
<www.franklinmartins.com.br/estacao_historia_artigo.php?titulo=manifesto-do-sequestro-do-embaixador-americano-rio-1969>. Acesso em: 31 out. 2016.

SITUAÇÃO-PROBLEMA

A ditadura civil-militar: governos Castelo Branco e Costa e Silva


Observe as imagens a seguir.
ARQUIVO/JB
ZIRALDO/ACERVO DO ARTISTA

A capa do
Jornal do Brasil
sobre o AI-5, de
dezembro de
1968, trazia a
seguinte previsão:
“Tempo negro.
Temperatura
sufocante. O ar
está irrespirável.
O país está sendo
varrido por fortes
Charge de Ziraldo sobre o AI-5. ventos.”.

321
No dia 13 de dezembro de 1968, o ministro da Justiça Gama e Silva anunciou em cadeia nacional de rádio e televisão a
decretação de mais um ato institucional. Tratava-se do AI-5, o mais radical de todos os atos, estabelecido para aumentar o
controle sobre a sociedade brasileira e sem data para ser suspenso.
O Ato vigorou por cerca de dez anos e conferiu ao regime político brasileiro o caráter de uma indisfarçável ditadura.
Considerando os pontos estabelecidos pelo AI-5 e a situação que se instaurou no Brasil, analise o significado da charge
produzida por Ziraldo e da primeira página do Jornal do Brasil na edição de 14 de dezembro de 1968. Discuta suas impres-
sões com o professor e os colegas.

PARA CONCLUIR

O golpe civil-militar desferido contra o presidente João Goulart em março de 1964 contou com
apoio de amplos setores da sociedade brasileira. Muitos acreditavam que aquele “golpe cirúrgico”
livraria o país da ameaça de uma ditadura comunista e preservaria a democracia brasileira.
Todavia, o que se verificou desde que o poder foi transferido para o Comando Supremo da Re-
volução foi o desrespeito às liberdades individuais e o estabelecimento de um regime ditatorial.
A decretação de sucessivos atos institucionais foi definindo as características do governo.
O programa econômico adotado pelo novo governo tinha como prioridades o combate à inflação
e a retomada do crescimento econômico. Com esses objetivos, foi garantida a abertura ao capital
estrangeiro e a adoção do “arrocho salarial”.
Aos poucos, alguns setores da sociedade brasileira foram despertando e se dando conta de
que os militares que assumiram o poder não tinham data para largá-lo. O ano de 1968 revelou
o aprofundamento dos protestos contra o regime e também a disposição de setores das Forças
Armadas de aumentarem a repressão. No dia 13 de dezembro, o governo anunciou a decretação
do AI-5. Era o golpe dentro do golpe.

Veja, no Manual do Professor, o gabarito comentado das quest›es sinalizadas com asterisco.

PRATICANDO O APRENDIZADO

1. (Uerj) Em junho de 2013, várias manifestações mobili- É inevitável a comparação com as grandes manifestações
zaram a população das capitais brasileiras. A fotogra- ocorridas anteriormente, como a Passeata dos Cem Mil, no
fia mostra a ocupação da área externa do Congresso Rio de Janeiro, em 1968. Se, nesta, a extensão e o tipo de
Nacional por manifestantes: repressão policial aumentaram o custo da participação e res-
MARCELLO CASAL JR/ABR

tringiram o escopo da manifestação a um grupo mais restrito


e específico de manifestantes, na de agora, 45 anos depois, o
uso de meios não letais de repressão baixou o risco de danos
e aumentou, por consequência, a presença de uma gama mais
ampla de setores da sociedade. Uma coisa é bala de chumbo e
o grito de “abaixo a ditadura”; outra é bala de borracha e o aviso
de que o “pote de mágoa vazou”.
notícias.com.br Marly Motta. Adaptado de noticias.uol.com.br.

322
Uma diferença entre as manifestações populares na so- b) a imposição do bipartidarismo com a Aliança Reno-
ciedade brasileira datadas do ano de 1968 e as ocorridas vadora Nacional (ARENA), que agrupava partidários
em junho de 2013 está associada hoje à vigência de: do governo, e o Movimento Democrático Brasileiro
a) restrição ao voto (MDB), que reunia a oposição;
b) estado de direito c) a cassação do Partido Comunista, declarando-o ile-
c) soberania do legislativo gal, por considerá-lo culpado pela agitação e desor-
dem no país;
d) supremacia do executivo
d) a imposição do monopartidarismo com a formação
e) repressão agressiva do Estado.
do Partido Democrático Social (PDS), baluarte do
2. (IFCE) O Ato Institucional No 05 (AI 5): Estado autoritário;

HISTÓRIA
a) estabelecia a Lei de Anistia para presos políticos. e) a extinção de todos os partidos políticos e a proibição
de qualquer atividade político-partidária.
b) decretava o fim do Estado Novo.
c) instituía mudanças econômicas no país que ficaram
4. (UPE) Observe a imagem a seguir:
conhecidas como o “Milagre Brasileiro”.
d) conferia ao presidente amplos poderes, como suspen-

Módulo 18
SIMANCA/ACERVO DO ARTISTA
der direitos políticos, fechar o Congresso Nacional e
cassar mandatos de parlamentares.
e) instalava o bipartidarismo com a criação da Aliança
Renovadora Nacional (ARENA) e do Movimento De-
mocrático Brasileiro (MDB).

3. (ESPM-SP)
O golpe de Estado de 31 de março de 1964 foi lançado
aparentemente para livrar o país da corrupção e do comu-
nismo e para restaurar a democracia, mas o novo regime co- Disponível em: <http://hhenkels.blogspot.com.br/2013_06_01_archive.html>
meçou a mudar as instituições do país através de decretos,
chamados Atos Institucionais (A.I.). Eles eram justificados Há uma grande comparação tanto por parte da imprensa
como decorrência “do exercício do poder constituinte, ine- como dos meios de comunicação em relação aos movi-
rente a todas as revoluções”. mentos sociais durante o Regime Civil-Militar no Brasil do
O AI – 1 foi baixado em abril de 1964, pelos comandan- século passado e os atuais que, de início, foram chamados
tes das Forças Armadas, estabelecendo a eleição de um novo de “movimento passe livre”.
Presidente da República por votação indireta do Congresso

A ditadura civil-militar: governos Castelo Branco e Costa e Silva


Assinale a alternativa que apresenta os principais fa-
Nacional. O general Humberto de Alencar Castelo Branco foi
tores políticos que concorreram para a eclosão desses
eleito presidente.
movimentos.
O AI – 1 não tocara no calendário para as eleições ao gover-
no dos estados. Em outubro de 1965 realizaram-se as eleições a) Ascensão da nova classe média que reivindicava re-
diretas em onze deles. O resultado das urnas alarmou os meios formas nos marcos regulatórios.
militares, pois a oposição triunfou em estados importantes. b) Baixa produtividade em detrimento a um alto nível de
Em 17 de outubro de 1965, dias após as eleições estaduais, inovações tecnológicas.
foi decretado o AI – 2. c) Efetivação da reforma de alguns marcos jurídicos, a
Boris Fausto. História do Brasil – adaptado.
exemplo de rodovias e aeroportos.
A medida mais importante do AI – 2 foi: d) Instabilidade das instituições e crise da representação
a) a imposição do militarismo, com o fechamento defini- no âmbito da política.
tivo do Congresso Nacional e a substituição de todos e) Ampliação dos recursos nos investimentos básicos de
os membros do Supremo Tribunal Federal; energia e telecomunicações, por exemplo.

323
5. (Unicamp-SP – Adaptada) O historiador Daniel Aarão Reis tem defendido que o regime instaurado em 1964 não seja
conhecido apenas como “ditadura militar”, mas como “ditadura civil-militar”, pois contou com a participação civil.
Para exemplificar o envolvimento civil, é possível citar
a) manifestações populares como a “passeata dos 100 mil”, a campanha pela anistia e as “Marchas da família com Deus
e pela liberdade”.
b) a atuação homogênea do clero brasileiro e da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), que temiam a instauração do
comunismo no país.
c) a participação da população nas eleições parlamentares, legitimando as decisões políticas por meio de referendos.
d) o apoio de empresários, grupos midiáticos, políticos civis e classes médias urbanas que davam sustentação aos militares.
e) a realização de plebiscitos que aprovavam os atos institucionais editados pelo governo.

DESENVOLVENDO HABILIDADES

1. ENEM c) a constituição de dinastias ao longo da história pare-


C1
ce não fazer diferença no presente em que o tempo
H1
Grupo escolar evapora.

Sonhei com um general de ombros largos d) a possibilidade de resistir está dada na renovação
e transformação proposta pela poesia, química que
que fedia
desvela e repõe.
e que no sonho me apontava a poesia
e) a resistência não seria possível, uma vez que as víti-
enquanto um pássaro pensava suas penas
mas, representadas pelos pássaros, pensavam apenas
e já sem resistência resistia.
nas próprias penas.
O general acordou e eu que sonhava
face a face deslizei à dura via 2. (IFBA)
vi seus olhos que tremiam, ombros largos, C3 A Segurança Nacional compreende, essencialmente, medi-
H12
vi seu queixo modelado a esquadria das destinadas à preservação da segurança externa e interna,
vi que o tempo galopando evaporava inclusive a prevenção e repressão da guerra psicológica adver-
(deu para ver qual a sua dinastia) sa e da guerra revolucionária ou subversiva.
Artigo 3o da Lei de Segurança Nacional – 1969. In: CASTELLI JUNIOR, Roberto.
mas em tempo fixei no firmamento Hist—ria: texto e contexto. São Paulo: Scipione, 2006, p. 632.
esta imagem que rebenta em ponta fria:
poesia, esta química perversa, A Lei de Segurança Nacional serviu ao Regime Militar como:
este arco que desvela e me repõe a) justificativa para o golpe que destituiu o governo de
nestes tempos de alquimia. João Goulart e instalou a Ditadura Militar no Brasil.
BRITO, A. C. In: HOLLANDA, H. B. (Org.). 26 Poetas Hoje: antologia. b) justificativa para a criação do bipartidarismo como
Rio de Janeiro: Aeroplano, 1998.
forma de impedir a ação de partidos subversivos.
O poema de Antônio Carlos Brito está historicamente c) instrumento legal para legitimar prisões e condena-
inserido no período da ditadura militar no Brasil. A forma ções de brasileiros considerados subversivos.
encontrada pelo eu lírico para expressar poeticamente d) dispositivo ideológico dos grupos que lutavam pela
esse momento demonstra que manutenção da Ditadura Militar através da guerra
a) a ênfase na força dos militares não é afetada por aspec- revolucionária.
tos negativos, como o mau cheiro atribuído ao general. e) instrumento de controle sobre as produções artísticas
b) a descrição quase geométrica da aparência física do e culturais consideradas nocivas aos ideais revolucio-
general expõe a rigidez e a racionalidade do governo. nários do Regime.

324
3. ENEM e a limitação das remessas de lucros ao exterior, assim como –
C5
diante da imposição norte-americana – pelo rompimento das
H24 A Comissão Nacional da Verdade (CNV) reuniu represen- relações diplomáticas com Cuba.
tantes de comissões estaduais e de várias instituições para (Arthur José Poerner, “O céu é das elites”. In: Daniel Souza e Gilmar Chaves (org.), Nossa
apresentar um balanço dos trabalhos feitos e assinar termos paix‹o era inventar um novo tempo)

de cooperação com quatro organizações. O coordenador da


A partir do fragmento, pode-se identificar, entre outros,
CNV estima que, até o momento, a comissão examinou, “por
como fatores responsáveis pela ruptura político-institu-
baixo”, cerca de 30 milhões de páginas de documentos e fez
cional de 1964,
centenas de entrevistas.
Disponível em: www.jb.com.br. Acesso em: 2 mar. 2013 (adaptado).
a) a omissão do governo brasileiro durante a Crise dos
Mísseis de Cuba e a aprovação das Reformas de Base
A notícia descreve uma iniciativa do Estado que resul- pelo Congresso Nacional.

HISTÓRIA
tou da ação de diversos movimentos sociais no Brasil b) os grupos ligados ao latifúndio, ao temor da partici-
diante de eventos ocorridos entre 1964 e 1988. O obje- pação dos setores populares nas questões nacionais
tivo dessa iniciativa é: e os interesses das empresas multinacionais.
a) anular a anistia concedida aos chefes militares. c) a repressão do governo Jango contra os militares de
b) rever as condenações judiciais aos presos políticos. baixa patente, os aumentos salariais excessivos e as

M—dulo 18
c) perdoar os crimes atribuídos aos militantes esquer- recorrentes greves estudantis.
distas. d) a decisiva oposição de Juscelino Kubitschek ao gover-
d) comprovar o apoio da sociedade aos golpistas anti- no Jânio, o acordo econômico com a União Soviética
comunistas. e a crise do petróleo.

e) esclarecer as circunstâncias de violações aos direitos e) as classes médias preocupadas com a corrupção no
humanos. governo Jango, as facilidades para a entrada do capital
estrangeiro no país e o aumento do desemprego.
4. ENEM Em abril de 2009, o Supremo Tribunal Federal
C3 (STF) decidiu pela suspensão da Lei de Imprensa, 6. (UFSJ-MG – Adaptada) Observe a imagem.
H12
C1
imposta pelo governo em 1967. A lei editada durante o

BIER/ACERVO DO ARTISTA
H13

regime militar previa multas pesadas contra jornalistas e


veículos de comunicação.

A suspensão da lei representou um importante passo:


a) na garantia da liberdade de imprensa.
b) para o fim da censura no país.
c) para silenciar movimentos de oposição ao governo.

A ditadura civil-militar: governos Castelo Branco e Costa e Silva


d) para acabar com todos os processos contra jornais e
jornalistas.
e) para a redemocratização do país. Fonte: <www.educacional.com.br/ziraldo>

5. (FGV-SP) Leia um fragmento de memória de um jornalis- A fala do personagem da charge faz referência ao:
C1 ta brasileiro, escritor, ex-preso político e exilado. a) período histórico da Ditadura Militar no Brasil (1964-
H2
-1984).
Para mim, que havia sido, no limiar da década [de 1960],
b) desvio de recursos públicos e à corrupção no Brasil
um rebelde sem causa concreta, fã de James Dean e simpa-
atual.
tizante da “juventude transviada”, o golpe significou, de ime-
c) problema da crise econômica atual e das indeniza-
diato, mais um salto à frente na conscientização da realidade.
ções trabalhistas.
Inclusive porque as medidas inaugurais do regime implantado
em 1o de abril não deixavam margem a dúvidas: contra a refor- d) período histórico do Estado Novo (1937-1945).
ma agrária no campo, o tabelamento dos aluguéis nas cidades e) período histórico da República da Espada (1889-1893).

325
7. (Mack-SP) A imagem foi publicada no jornal Correio da Manhã, no
C2
H8
[...] a nova política do governo passou a abranger dois planos dia de Finados de 1965. Sua relação com os direitos po-
de atuação; em um, mais imediato, a correção das deforma- líticos existentes no período revela a
ções que se revelavam em todas as manifestações do proces- a) extinção dos partidos nanicos.
so de desenvolvimento brasileiro político-militar, econômico,
b) retomada dos partidos estaduais.
social e externo; em outro, a adoção de uma estratégia para o
c) adoção do bipartidarismo regulado.
desencadeamento de um surto de progresso, igualmente na-
quele sentido integrado, levando em conta a realidade brasi- d) superação do fisiologismo tradicional.
leira em seu conjunto. e) valorização da representação parlamentar.
O primeiro passo dessa política de reconstrução constituiu,
evidentemente, na restauração da ordem, em todas as áreas, e 9. (PUC-RJ)
da autoridade, segundo o princípio constitucional. C3

EDITORA ABRIL/REPRODU‚ÌO
H13
Castelo Branco, mensagem ao Congresso Nacional, 1965.

Assinale a alternativa que contém a síntese mais completa


a respeito do contexto histórico e político do texto acima.
a) A necessidade do atual governo de impor a paz
interna, visto que no momento anterior o então
presidente João Goulart havia assumido, perante
os governos estrangeiros, acordos socialistas que
ameaçavam a soberania nacional.
b) O governo Castelo Branco assumiu a preocupação
prioritária com a manutenção da ordem interna do
país, promovendo forte repressão policial a várias en-
tidades, como sindicatos e a UNE, focos de resistência
política ao golpe de 1964.
c) Acreditando que a ordem e o progresso caminhavam
juntos para alcançar a reconstrução nacional, todas as
medidas econômicas tomadas durante o seu governo
É correto afirmar que o evento caracterizado na capa da
contaram com o irrestrito apoio e aprovação popular.
Revista Veja é a expressão:
d) A necessidade de se abandonar o nacionalismo re-
a) do contexto político do Governo Médici, com a insti-
formista implementado durante o mandato de Jânio
tuição da ditadura e a proibição de qualquer manifes-
Quadros e adotar um modelo econômico contando
tação política de oposição.
com o apoio dos militares, investidores estrangeiros e
grandes empresários nacionais. b) do clima libertário, relacionado ao movimento hippie
internacional, que era compartilhado pelos estudan-
e) Foi realizada a primeira revisão na Constituição Nacio-
tes brasileiros, compreendido como desregramento
nal a fim de aumentar o poder político do Executivo
moral pelo governo brasileiro.
a fim de conter a ameaça da proliferação dos ideais
socialistas ou comunistas em nosso país. c) de manifestações violentas de estudantes, vinculados
à União Nacional dos Estudantes, posta na ilegalida-
8. ENEM de desde o governo João Goulart, em 1962.
d) do acirramento das tensões políticas que gerou mobi-
FORTUNA/ACERVO DO ARTISTA

C3
H12
lização da sociedade contra as medidas autoritárias do
governo e que culminou, no final de 1968, no decreto
do AI-5.
e) da intolerância do regime militar a qualquer manifes-
tação política, razão pela qual o Congresso Nacional
FORTUNA. Correio da Manhã, ano 65, n. 22 264, 2 nov. 1965. ficou fechado desde 1964.

326
APROFUNDANDO O CONHECIMENTO

1. (USF-SP) ganhava corpo. Apesar do quadro adverso, a cultura de oposi-


Após o golpe de 1964, o Brasil iniciou uma longa ditadu- ção não perdeu vigor, buscando novas estratégias e assumindo
ra que perdurou até 1985. Lideranças políticas e sindicais variados estilos, conforme o momento da ditadura e a feição
foram presas, parlamentares cassados, militantes políticos própria dos debates entre os próprios cineastas que, solidários
exilados. A ditadura fechou os partidos políticos existentes no impulso de resistência, tinham posições distintas no modo
e criou dois novos. Além disso, o novo governo editou Atos de conceber suas obras e encaminhar suas escolhas temáticas

HISTÓRIA
Institucionais, destacando-se o AI-2 e o AI-5, com os quais e opções estéticas.
criava condições excepcionais de funcionamento “legal” para (Ismail Xavier. “O momento do golpe, as primeiras reações e o percurso do cinema de
oposição no período da ditadura”. In: Angela Alonso e Miriam Dolhnikoff (orgs.). 1964:
atos ilegais e arbitrários. do golpe ˆ democracia, 2015.)
Disponível em: <http://www.historia.ufrj.br/pdfs/2013/livro_ditadura_militar.pdf>
Acesso em: 13/09/2015, às 10h23min Dê um exemplo de uma manifestação cultural “de oposi-
a) Quais eram os dois novos partidos permitidos pelo ção” que teve grande impacto durante o Regime Militar.

M—dulo 18
governo militar? Apresente uma característica de O aluno pode se referir a uma entre as seguintes manifestações
cada um deles. culturais: Cinema Novo, música de protesto, Tropicalismo, peças de
Os novos partidos eram a Arena (Aliança Renovadora Nacional) teatro encenadas pelo grupo Opinião ou pelo Arena.
e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro). A Arena era
formada pelos políticos que apoiavam o regime militar, muitos
ex-integrantes da UDN, enquanto o MDB correspondia a uma 3. (PUC-RJ)
oposição consentida, conveniente para o regime sustentar a ideia
de que era uma democracia.
Alegria, Alegria

Caminhando contra o vento


b) Diferencie os Atos Institucionais n. 2 (AI-2) e n. 5 (AI-5). Sem lenço, sem documento
O AI-2, criado em outubro de 1965, durante o governo de No sol de quase dezembro
Castelo Branco, estabelecia o bipartidarismo (Arena e MDB) e Eu vou
estabelecia eleições indiretas para presidente da República. O AI-5
O sol se reparte em crimes,
foi outorgado em 13/12/1968 no governo do militar Costa e Silva.
Espaçonaves, guerrilhas
Trata-se do mais violento de todos os atos institucionais. Esse ato,
Em cardinales bonitas
considerado um “golpe dentro do golpe” , previa o fechamento
Eu vou

A ditadura civil-militar: governos Castelo Branco e Costa e Silva


do Legislativo pelo Executivo, que poderia legislar em seu lugar,
suspensão dos direitos políticos, intervenção federal em estados Em caras de presidentes
e municípios, suspensão do direito de habeas corpus para crimes Em grandes beijos de amor
políticos, etc. Enquanto os demais atos foram redigidos prevendo
Em dentes, pernas, bandeiras
um prazo de validade, o AI-5 tinha um caráter permanente e só foi
Bomba e Brigitte Bardot
revogado dez anos depois.
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou
Compositor: Caetano Veloso
2. (Unesp – Adaptada)
Desde 1964, o novo regime exerceu forte pressão sobre a A música “Alegria, Alegria” foi composta e cantada por
cultura identificada com propostas de transformação social, Caetano Veloso pela primeira vez no III Festival de Músi-
objetivando impedir a continuidade de uma experiência que ca Popular Brasileira da TV Record em 1967.

327
a) Indique o movimento cultural brasileiro do qual a can- Os movimentos de contestação política ocorridos na
ção “Alegria, Alegria” faz parte e apresente duas ca- década de 1960 tiveram motivações variadas. No Brasil,
racterísticas desse movimento. a Passeata dos Cem Mil foi o episódio mais marcante
O movimento é o Tropicalismo, que pode ser caracterizado pela nesse contexto.
maneira irreverente com que tratava dos problemas sociais Aponte dois elementos do contexto político brasileiro
brasileiros, pelas suas posturas subversivas e pela revelação das da época associados diretamente à ocorrência dessa
contradições sociais brasileiras. passeata. Em seguida, apresente um motivo que, em
1968, contribuiu para a eclosão de revoltas em um dos
outros países citados no texto.
O aluno pode destacar como elementos do contexto político
b) Com base no fragmento da letra de “Alegria, Ale-
brasileiro associados à Passeata dos Cem Mil: a morte do estudante
gria”, cite dois acontecimentos do contexto político
Édson Luís, o recrudescimento das manifestações contra o regime,
nacional e internacional em que a música se tornou
a tentativa de rearticulação do movimento estudantil. Em relação aos
um sucesso.
acontecimentos ocorridos em outros países, o aluno pode destacar
No contexto nacional, o aluno pode citar a repressão imposta
as manifestações de maio na França, a Primavera de Praga, os
pela ditadura militar. No contexto internacional, pode ser citado
protestos contra a Guerra do Vietnã, o movimento pelos direitos civis
o movimento hippie, o movimento pelos direitos civis dos negros
dos negros nos Estados Unidos.
nos Estados Unidos, o movimento feminista ou os protestos
contra a Guerra do Vietnã.

4. (Uerj) 5. (Cefet-MG) Os anos 60 foram de mudança de compor-


tamento da juventude. A revolta estudantil de maio
ARQUIVO/REPRODUÇÃO

de 1968 na França inspirou movimentos de rebeldia e de


contracultura, em vários outros países. A juventude es-
tudantil brasileira, influenciada por esses movimentos,
defendia a
a) atuação dos opositores ao regime político vigente
no país.
b) expansão da oferta de vagas nas universidades pri-
vadas.
c) ação de diversos grupos religiosos na educação pública.
d) difusão dos princípios da democracia racial nas escolas.
e) divulgação dos valores consumistas na sociedade.

Passeata dos Cem Mil, Rio de Janeiro, 26/06/1968.


6. (Facasc) De 1964 a 1985, o Brasil viveu o período deno-
alerj.rj.gov.br
minado de Ditadura Militar. De acordo com Fausto (1999,
O ano de 1968 tornou-se sinônimo de uma rebelião estu-
p. 513): “Outra noção associada ao regime militar é o
dantil mundial. Mas 1968 não existiu de uma forma isolada,
autoritarismo. De fato, o regime não teve características
ele foi o ponto culminante de uma década de movimentos que
fascistas: não se realizaram esforços para organizar as
se espalharam por quase todo o planeta. No Brasil, na França,
massas em apoio ao governo; não se tentou construir o
no México, nos Estados Unidos, na Espanha, no Canadá, na
partido único acima do Estado, nem uma ideologia capaz
Argentina, na Venezuela, na Polônia, na Tchecoslováquia, paí-
de ganhar os setores letrados”. Ainda assim, de acordo
ses com diferentes realidades políticas e diversas condições eco-
com o autor: “Quem manda agora não são os políticos
nômicas se viram enfrentando um mesmo fenômeno político:
profissionais, nem o Congresso é uma instância decisória
rebeliões de jovens estudantes universitários e secundaristas.
importante”. Tendo em vista o texto acima, marque a al-
Adaptado de ARAUJO, M. P. Mem—rias estudantis: da fundação da UNE aos nossos dias.
Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2007. ternativa correta sobre o Regime Militar no Brasil.

328
a) O regime militar utilizou-se amplamente do populis- dos Estudantes (UNE) e as Ligas Camponesas, com mi-
mo, ou seja, a classe operária continuou sendo utilizada lhares de pessoas presas e torturadas.
como um recurso de poder. e) estabeleceu uma política externa de muita aproxima-
b) As classes estudantil e camponesa não perderam força ção com os EUA, evitando qualquer conflito com esse
política e de protesto neste período: as manifestações aliado durante os anos 60 e 80, como forma de com-
dessas classes não só eram permitidas como também bater o comunismo.
não eram reprimidas.
c) Durante a Ditadura Militar brasileira, o poder de man- 9. (Cefet-MG – Adaptada)
do estava nas mãos da alta cúpula militar, que utilizava Ressurge a Democracia. Vive a nação dias gloriosos. Porque
os órgãos de informação e de repressão para a manu- souberam unir-se todos os patriotas, independente de vincula-

HISTÓRIA
tenção do regime militar. ções políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados,
d) O Estado não se utilizou de uma burocracia técnica para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem.
para governar. Fonte: Trecho da Reportagem Ressurge a Democracia. O Globo, Rio de Janeiro, 2 abr. 1964.
Disponível em: <http://www.cartamaior.com.br>. Acesso em: 23 ago. 2014.
e) Os militares atuaram em bloco e coesos na arena po-
lítica brasileira, não havendo divergências políticas O trecho dessa reportagem, produzida no ano de 1964,
entre eles. demonstra que a democracia era

Módulo 18
a) adotada pelos jornais e revistas da época.
7. (FGV-SP) Em 1966, Carlos Lacerda procurou antigos ad- b) justificada para restauração da lei e da ordem.
versários políticos, como João Goulart e Juscelino Ku-
c) articulada por setores que apoiaram o golpe.
bitschek, com o objetivo de organizar uma alternativa
política à Ditadura Militar, contornando os limites do bi- d) reformulada pelas mídias para defender o regime.
partidarismo imposto pelo regime. Tal articulação ficou e) ameaçada pelo governo vigente.
conhecida como
a) Movimento Democrático Brasileiro. 10. (Unifor-CE) O Tribunal Superior Eleitoral aprovou, em se-
tembro de 2013, a criação de mais dois partidos políticos
b) Anistia Ampla, Geral e Irrestrita.
no Brasil: o Partido Republicano da Ordem Social – PROS
c) Frente Ampla.
–, liderado pelo ex-vereador em Goiás Eurípedes de Ma-
d) Frente Popular. cedo, e o Solidariedade, montado pelo deputado federal
e) Diretas Já. Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical. Os
dois partidos são, respectivamente, o 31o e o 32o do país.
8. (PUC-RS) Sobre o Golpe Militar de 1964, é correto afir- A propósito da trajetória dos partidos políticos no Brasil,
mar que é correto afirmar que:
a) ocorreu por iniciativa exclusiva dos militares, sem o a) imediatamente após o golpe militar de 1964, foram

A ditadura civil-militar: governos Castelo Branco e Costa e Silva


apoio da sociedade civil, o que levou as forças arma- extintos todos os partidos políticos que existiam no
das a instituir uma ditadura governada apenas por Brasil, situação que permaneceu até a redemocratiza-
generais e sem a participação de outros setores da ção do país, no início da década de 1980.
sociedade. b) no mês de outubro de 2013, a ex-ministra do Meio
b) teve, como objetivo central, o combate ao comunis- Ambiente, Marina Silva, conseguiu criar o partido
mo no Brasil e à democracia de massas, promovendo Rede Sustentável, legenda sob a qual pretende con-
o fim dos partidos e do sistema eleitoral assim que os correr à presidência da república em 2014.
militares tomaram o poder. c) durante quase todo o período da ditadura militar que
c) procurou pôr fim ao projeto desenvolvimentista, se sucedeu ao golpe de 1964, conviveram no Brasil
promovendo, ao logo de duas décadas, um amplo apenas dois partidos políticos: a Aliança Renovadora
processo de abertura econômica e de privatizações Nacional – ARENA e o Movimento Democrático Bra-
no País. sileiro – MDB.
d) instalou uma intensa repressão contra os setores mais à d) pela legislação eleitoral atualmente vigente à época
esquerda no espectro político, como a União Nacional da criação do PROS e do Solidariedade, os políticos

329
detentores de mandatos eletivos que se transferirem 2 de abril, no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, com
para os novos partidos antes das próximas eleições a partida do ex-Presidente João Goulart para o estrangeiro.
perderão, automaticamente, seus mandatos. M. P. Figueiredo. A Revolução de 1964. Um depoimento para a história pátria.
Rio de Janeiro: APEC, 1970, p. 11-12. Adaptado.
e) com a criação do PROS e do Solidariedade, faltam
apenas três legendas para o atingimento do limite Lembro-me bem do dia 31 de março de 1964. Era aluno
máximo de 35 partidos políticos previsto no Artigo 17 do curso de Sociologia e Política da Faculdade de Ciências
da Constituição Brasileira promulgada em 1988. Econômicas da antiga Universidade de Minas Gerais e mi-
litava na Ação Popular, grupo de esquerda católica [...] No
11. (Mack-SP) dia seguinte, 1o de abril, já não havia dúvida sobre a vitória
Juiz de Fora, Minas Gerais, 31 de março de 1964. Um ge- do golpe. Saí em companhia de colegas a vagar pelas ruas de
neral [...] põe na rua equipamentos e tropas do Exército sob Belo Horizonte [...] Contemplávamos, perplexos, a alegria dos
que celebravam a vitória e assistíamos, assustados, ao início
seu comando. Destino: Rio de Janeiro. Objetivo: derrubar o
da violência contra os derrotados.
governo. O golpe está desencadeado. [...]
J. M. de Carvalho. Forças Armadas e Política no Brasil.
Couto, R. C. História Indiscreta da Ditadura e da Abertura: Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005, p. 118.
Brasil 1964-1985. 3a ed. Rio de Janeiro: Record, 1999, p. 24

Que denominação cada autor utilizou para se referir ao


Nas lembranças dos cinquenta anos do golpe civil-mili-
regime instaurado após 31 de março de 1964? A que se
tar que instaurou um regime autoritário no Brasil entre
deve essa diferença de denominação?
1964 e 1985, deve-se levar em consideração
No texto 1, o autor utilizou a denominação “revolução” para o regime
a) a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, que
instaurado após 31 de março de 1964; já o autor do texto 2 utilizou a
reuniu milhares de pessoas em São Paulo e no Rio de
denominação “golpe”. Essa diferença de denominação está relacionada
Janeiro a favor do governo Goulart e, por isso, forte-
com o posicionamento de cada grupo em relação ao regime instaurado.
mente reprimida pelas forças armadas.
No primeiro caso, estão aqueles que participaram ou apoiaram o
b) a participação decisiva dos Estados Unidos, com re-
movimento. No segundo grupo, os opositores ao regime.
ceio dos vultosos empréstimos realizados pela União
Soviética ao governo brasileiro em troca da constru-
ção de uma base militar soviética no Brasil. 13. (UFSJ-MG – Adaptada) Analisando a situação brasileira
c) a forte instabilidade política na ocasião; o temor esta- de um período do século XX, um embaixador britânico
dunidense e de empresários brasileiros, considerando escreveu:
o país vulnerável ao comunismo soviético; as fortes
Os alunos são reprimidos, os comunistas são poucos e mal
oposições internas ao governo Goulart.
organizados e a única coisa deles que não é underground é o
d) o apoio estudantil a João Goulart, com passeatas fantasma do Che Guevara. A Igreja está dividida, a imprensa
e organização armada da luta contra os militares, amordaçada, os intelectuais exilados ou sem coração. A classe
fazendo o golpe – a princípio agendado para 1965 – ser média em expansão marcha indiferente e se preocupa apenas
antecipado para se evitar maiores agitações no país. em obter as boas coisas materiais da vida [...]. Materialmente
e) o número de ações de membros do governo o país galopou para frente, politicamente foi pra trás […].
Goulart, que não impediram o golpe militar e se Os coronéis da linha dura confiscaram o desenvolvimento es-
colocaram prontamente a favor na intervenção, por piritual de um país de instintos criativos liberais e com uma
considerarem o presidente incapaz, como foi o caso enorme capacidade intelectual.
Citado por FERNANDES, Bob. Memórias de um embaixador inglês. Fonte: http://esportes.
de Leonel Brizola. terra.com.br/jogos-olimpicos/londres-2012/bobfernandeslondres2012/blog/2012/07/18/.

12. (Fuvest-SP – Adaptada) Leia os textos abaixo: Nas passagens acima, o embaixador retratou
a) a Primeira República no início do século XX.
Coube ao Gen. Mourão Filho, Cmt. da 4a Região Militar,
essa histórica iniciativa, a 31 de março, nas altaneiras mon- b) a Ditadura Militar, iniciada em 1964.
tanhas de Minas. E a Revolução, sem que tivesse havido ela- c) o governo Fernando Henrique Cardoso, iniciado
boradas articulações prévias entre os Chefes Militares – não em 1994.
teria havido tempo para isto –, empolga o Exército, a Mari- d) a redemocratização ocorrida após o Estado Novo.
nha e a Aeronáutica, para ter seu epílogo às 11h45min do dia e) a abertura política ocorrida após a suspensão do AI-5.

330
O Sistema de Ensino pH apresenta um material capaz de
auxiliar o aluno a enxergar os caminhos que ele poderá
seguir, possibilitando que, ao final do Ensino Médio, ele
tenha desenvolvido um pensamento crítico para atuar
como cidadão, enfrentar os desafios da sociedade e
obter excelentes resultados no Enem e nos demais
vestibulares do Brasil.

296748
526256317

Vous aimerez peut-être aussi