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Psicologia & Sociedade; 17 (1): 17-28; Jan/abr.

2005

POLICIAIS CIVIS: REPRESENTANDO A VIOLÊNCIA


Vânia Cristine Cavalcante Anchieta
Divisão de Assistência à Saúde da Polícia Civil do Distrito Federal
Ana Lúcia Galinkin
Universidade de Brasília

RESUMO: Este texto trata das representações sociais elaboradas por policiais civis acerca da violência, no
desempenho de sua função de proteger a sociedade de atos ilícitos e criminosos. Partiu-se do enfoque teórico da
Teoria das Representações Sociais que define representações sociais como uma forma de conhecimento elabo-
rado por uma coletividade, que orienta as práticas sociais e as relações sociais entre pessoas e grupos. Os dados
obtidos através da técnica de grupos focais mostraram que os sujeitos da pesquisa elaboraram “teorias”, ou
representações sociais sobre a violência, que podem explicar suas ações, muitas vezes violentas, no combate à
criminalidade.
PALAVRAS-CHAVE: violência, polícia civil, representações sociais

POLICEPERSONS: REPRESENTING VIOLENCE

ABSTRACT: This article discusses about the social representations of violence created by police officers whose
duty is to work in order to control and prevent violence, as well as to protect society from criminality. The work
is based on the Social Representations Theory, which defines social representations as a collective knowledge
that guides the social practices and the social relationships between people and groups. The data obtaneid
through focal groups technique showed that the subjects involved in this research have elaborated a “theory”, or
social representations about violence, which may explain their own behaviour, which is, not rarely, violent in
their attempt to fight against criminality.
KEY-WORDS: violence, police officers, social representations

INTRODUÇÃO pesquisadores (BRETAS, 1997; SOARES, 1996; MUNIZ,


Em um levantamento da produção acadêmi- 1998; PAIXÃO, 1982 CITADOS POR ZALUAR, 2004
ca, que teve como objeto a violência, Zaluar (2004) p.263) que procuram entender a organização polici-
encontrou 118 trabalhos cujo tema são as “institui- al, sua cultura e suas práticas cotidianas para expli-
ções brasileiras encarregadas de combater o crime e car violações aos direitos humanos e o exercício ile-
manter a ordem pública”(p.223). Deste total, 61 tex- gal do poder. Ao focalizarem as experiências dos po-
tos eram dedicados à polícia e, a maioria deles, fazia liciais no exercício de suas funções, alguns estudos
denúncias da violência policial. Estes estudos que fo- têm encontrado que muitos destes profissionais con-
calizam atos violentos praticados por policiais, (PI- denam a violência e a arbitrariedade cometida por
NHEIRO, IZUMINO & FERNANDES,1991; ADOR- seus pares, e demonstram sofrimento no trabalho che-
NO,1995; VELHO,1996; PINHEIRO,1997; gando, alguns, a adoecerem (BRETAS,1997;
CARDIA,1997) mostram, ainda, que estes agentes atu- CAVASSANI,1998). Pesquisas voltadas para o estudo
am de forma mais coercitiva contra os alvos mais dos policiais enquanto homens e mulheres trabalha-
vulneráveis como, por exemplo, pobres, crianças e dores (CARDIA,1997; CASSAVANI,1998; ANCHIETA,
adolescentes abandonados (PINHEIRO,1997). Os ca- 2003) mostram que esta mudança de foco pode trazer
sos de violência policial levaram a população a cons- informações importantes para a compreensão da vi-
truir uma imagem negativa dos policiais, além de são de mundo destes profissionais, de suas relações
sentimentos de descrença e medo com respeito às suas com a sociedade e de suas ações no combate à
ações (CARDIA,1997). Menandro & Souza (1989) ob- criminalidade. O trabalho aqui apresentado seguiu
servaram, em uma pesquisa realizada entre policiais esta orientação, procurando apreender as representa-
militares, que estes têm consciência da visão negativa ções sociais que policiais civis elaboraram acerca da
que a população tem da forma como exercem sua violência em sua prática profissional, em suas
atividade profissional, mas sua compreensão da rela- interações sociais com seus pares e com outros atores
ção sociedade-polícia é ingênua, não questionadora. sociais com os quais se relacionam no exercício de
Um outro enfoque tem sido dado por alguns suas funções. A partir de tais representações pode-se
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entender, ou pelo menos conjeturar sobre as ações e sutil e pouco visível de violência. Do ponto de vista
comportamentos desses agentes no seu lidar com a dos atores sociais, por sua vez, um ato considerado
violência. Partiu-se do enfoque teórico da Teoria das violento dependerá do contexto ideológico em que o
Representações Sociais (MOSCOVICI, 1986), que pos- ato é cometido e do lugar e posição social em que se
tula serem as representações sociais uma forma de encontram as pessoas envolvidas (GRUNDY &
conhecimento elaborado por uma coletividade, que WEINSTEIN, 1976). Dependerá, ainda, se estão na
orienta as práticas e relações sociais entre pessoas e posição de vítimas ou de agressores.
grupos. Tal conhecimento é construído através das O que se observa no momento, é uma escala-
comunicações sociais e pode ser apreendido através da de crimes e violações das leis e das normas cuja
de diferentes formas comunicacionais. E foi através conseqüência é, também, uma crescente insegurança
das conversações sobre a violência, no contexto de e mudança de comportamento da população, parti-
grupos focais, que se procurou apreender as represen- cularmente nos grandes centros urbanos. Manifestan-
tações sociais que os sujeitos da pesquisa elaboraram do-se em novas formas, a violência ocupa um espaço
acerca da violência. cada vez maior na mídia, nas conversações cotidia-
nas e nas produções acadêmicas. Nesse sentido tem se
VIOLÊNCIA E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS mostrado como relevante, (WAGNER, 1998) para ser
A violência é um fenômeno que varia em suas objeto de elaboração de representações sociais, ou de
formas de expressão de uma cultura para outra, de reformulação das já existentes, entre diferentes seg-
um período histórico para outro em uma mesma soci- mentos da sociedade, particularmente entre policiais,
edade, assim como em seu significado para os dife- que têm nos atos violentos e criminosos, e nas trans-
rentes grupos sociais que a vivenciam. Ao comentar gressões da lei e da ordem, o objeto de seu trabalho.
que a violência não é a mesma de um período históri- Um dos critérios, segundo Wagner (1998),
co para outro, Wieviorka anuncia a emergência de para que um objeto ou fenômeno social tenha rele-
novos paradigmas quando afirma: “quer se trate das vância para se transformar em representação social,
manifestações tangíveis do fenômeno e suas represen- são as mudanças que provoca na rotina e no padrão
tações, ou da maneira como as ciências sociais o abor- de comportamento de indivíduos ou grupos. Outro
dam, mudanças tão profundas estão em jogo que é critério, ainda segundo o autor citado, é o número de
legítimo acentuar as inflexões e as rupturas, mais do pessoas que partilham dessa representação e que per-
que as continuidades...” (1997 p.5). Para este autor, tencem a um grupo reflexivo que, na definição de
os novos paradigmas tomam a forma de crise e criam Turner (1987) citado por Wagner (1998), é um con-
o ambiente social, político e econômico favorável a junto de pessoas que se caracteriza como uma unida-
formas de violência mais instrumentais, infra-políti- de social. A representação do fenômeno implica a ela-
cas, calculadas e frias, que trazem a marca do indivi- boração de um conhecimento sobre o problema ou,
dualismo moderno. Os conflitos se reduzem às rela- no caso de um fenômeno novo, na ancoragem em
ções interpessoais e individuais, e o sentido da ativi- outros conhecimentos estabelecidos que possam lhe
dade violenta leva os princípios do mercado às últi- dar sentido.
mas conseqüências, inclusive ao tráfico de pessoas, Representações sociais, segundo Moscovici,
comenta Zaluar (2004). são “um conjunto de conceitos e explicações originados
Michaud sustenta que a violência é um fenô- na vida cotidiana, no curso das interações
meno que ocorre nas interações sociais quando “um interpessoais...”(1986, p.181) constituindo-se em
ou vários atores agem de maneira direta ou indireta, “...uma forma de conhecimento socialmente elaborada
maciça ou esparsa, causando danos a uma ou várias e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui
pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade para a construção de uma realidade comum a um
física, seja em sua integridade moral, em suas posses conjunto social” (JODELET, 2001, p.22). Tal
ou em suas participações simbólicas e culturais” conhecimento tem importante função para as pessoas
(1989, p.10). Nesta perspectiva, a violência pode ocor- em sua vida privada, bem como para a organização
rer nas relações sociais as mais diversas, sendo que o dos grupos em que vivem, caracterizando-se como uma
próprio reconhecimento das diferenças entre sujeitos forma específica de pensamento e de sentimento,
e grupos, que se manifesta na construção das identi- correspondendo a “um conjunto mental estruturado,
dades e alteridades, pode constituir-se em fonte de isto é, cognitivo, avaliativo, afetivo e simbólico sobre
tensão latente ou manifesta. Ao “transformar a dife- um fenômeno socialmente relevante” (WAGNER, 1998,
rença em assimetria, numa relação hierárquica de p.4). Refere-se, ainda, ao universo de opiniões (de
desigualdade com fins de dominação, de exploração grupos, segmentos, classes sociais etc) e modela a
e opressão...” (CHAUÍ, 1984, p.51), ocorre o realidade a partir do conhecimento já existente,
“assujeitamento do outro”, uma forma muitas vezes criando significações e originando novos
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comportamentos (MOSCOVICI, 1986). Por se tratar que partilham experiências, valores e crenças comuns
de uma produção coletiva, portanto partilhada, se (Jodelet, 2003).
constrói através das comunicações, da linguagem, em Participantes
suas diversas formas de expressão (MOSCOVICI, 1994). Participaram desta pesquisa 27 policiais ci-
Enquanto uma organização significante, ope- vis que desempenham as funções de agentes e escrivães,
rando como um sistema de interpretação da realida- por serem eles que têm contato mais direto com a
de que rege as relações dos indivíduos com o seu meio população e, por conseqüência, com a violência. En-
físico e social, determinando seus comportamentos e tre eles, 12 policiais tinham menos de três anos de
práticas sociais (Abric, 1998), as representações soci- trabalho na instituição policial e 15, mais de três anos.
ais têm um papel fundamental na dinâmica das rela- Entre os 27 sujeitos, com idade variando entre 26 e 40
ções sociais e cumprem, segundo este autor, quatro anos, havia 18 homens e nove mulheres. Destes, 23
funções que são: saber, ou seja, compreender e expli- tinham nível superior (diversas áreas acadêmicas) e
car a realidade; identitária, definindo e protegendo a quatro o curso médio (desde 1998, para o ingresso na
especificidade dos grupos; de orientação das práticas Polícia Civil, é exigido o diploma de nível superior
e comportamentos dos sujeitos e justificadora, a nesta unidade da Federação). Participaram dos gru-
posteriori, das práticas sociais. pos focais policiais lotados em cinco delegacias de
No processo de elaboração das representações polícia (circunscricionais) e três delegacias
sociais nas sociedades modernas, onde o saber cientí- especializadas.
fico se desenvolve e é valorizado, idéias e teorias ci- Instrumento e procedimentos
entíficas são usadas nas interpretações e Foram realizados oito grupos focais, com
reinterpretações da realidade, integrando-se ao conhe- duração de aproximadamente duas horas cada, sen-
cimento elaborado por uma coletividade sobre fenô- do um grupo constituído em cada delegacia. A esco-
menos que lhes são significativos. Ao serem fragmen- lha das delegacias se baseou em sua localização, pro-
tadas em sua transposição para o senso comum, as curando-se aquelas estabelecidas em diferentes regi-
teorias científicas perdem seu significado original, ões administrativas, buscando-se, dessa forma, diver-
mesmo guardando similaridades com a fonte sificar as delegacias e o perfil socioeconômico das
(GRIZE,1989 CITADO POR WAGNER, 1998) e passam populações atendidas. Esta diversidade permite iden-
a fazer parte das “teorias” de senso comum construídas tificar as “teorias” sobre a violência construídas por
para explicar a realidade e, por conseqüência, orien- unidades particulares, em função de suas
tar e justificar as práticas sociais. Mas, além disso, e especificidades e localização, além daquelas elabo-
principalmente, justificam e legitimam posições ideo- radas pela polícia enquanto uma corporação. Em to-
lógicas e concepções morais já existentes das as entrevistas, gravadas com a prévia autoriza-
(WAGNER,1998), podendo reforçar preconceitos e ção dos participantes, seguiu-se um roteiro semi-
sustentar discriminações. O conhecimento científico estruturado contendo questões pertinentes aos objeti-
ou acadêmico é, assim, adaptado e integrado ao co- vos da pesquisa.
nhecimento do senso comum, possibilitando a com- Por se tratar de uma abordagem qualitativa,
preensão e explicação da realidade, orientando e jus- os dados colhidos foram interpretados a partir do
tificando as ações dos sujeitos e grupos e, ainda, con- referencial teórico que orientou a pesquisa. Segundo
ferindo-lhe legitimidade e autoridade. Paillé e Mucchielle a análise qualitativa é “...um modo
Partindo-se desses pressupostos teóricos pro- discursivo de reformulação, de explicação ou
curou-se identificar as representações sociais dos po- teorização de um testemunho, de uma experiência ou
liciais civis acerca da violência buscando-se, ainda, de um fenômeno” (2003, p.1). Considerou-se como
localizar a apropriação de teorias científicas que fo- representações sociais dos policiais aquelas explica-
ram incorporadas às explicações do fenômeno, com ções recorrentes em todos os grupos. Diferenças en-
uma finalidade justificadora e legitimadora das ações contradas nos discursos e recorrentes em uma delega-
destes profissionais, o que poderá ajudar na compre- cia foram consideradas como particularidades na re-
ensão do comportamento dos policiais e da maneira presentação social daquela unidade.
como justificam suas ações.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
MÉTODO Os sujeitos dos oito grupos de pesquisa, das
Optou-se pela pesquisa qualitativa, por ser oito delegacias escolhidas, descreveram e explicaram
esta abordagem a mais adequada a uma investigação a violência de forma semelhante, mostrando que uma
sobre as representações sociais, uma vez que se trata representação social do fenômeno fora por eles ela-
de uma elaboração subjetiva realizada nas relações, borada, e que podia ser interpretada como própria da
nas práticas e nas comunicações sociais entre sujeitos instituição policial. Observou-se que os entrevistados
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não definiam violência, mas a descreviam como um ções para o crescimento da violência refletidas nas
fenômeno que é, segundo eles, “muito pior do que as seguintes frases: “Eu acho que, necessariamente, pas-
pessoas imaginam”; “O que nós vemos aqui, as pesso- sa pela má distribuição de renda. Começa por aí, num
as não têm noção do que o ser humano é capaz de universo bem macro...”; “A questão é social, o Estado
fazer, porque às vezes a gente tá em casa, vê pela perdeu o controle...”; “A violência tem várias raízes,
televisão notícia de uma coisa e outra, mas você ver, mas a principal, realmente, é a falta de interesse do
vivenciar aquilo é completamente diferente”; “Vocês Estado...”.
não sabem nem a metade do que acontece”. Para os Tais explicações, de caráter mais “sociológi-
participantes há uma realidade que não é percebida co”, mostram a apropriação de um discurso acadêmi-
pela população, que a vê de uma forma “ingênua” e co, um saber científico popularizado, que fundamen-
“distante”, mediada pelos meios de comunicação. Uma ta as causas da violência em questões socioeconômicas
violência “teórica”, na definição dos policiais. Esta- estruturais. A partir dos anos de 1970, explicações
beleciam, com este discurso, uma relação hierárqui- consideradas como de esquerda, construídas por ci-
ca entre sua visão do problema e aquela do cidadão entistas sociais que se dedicavam aos problemas soci-
comum, demonstrando a superioridade de sua com- ais como violência, exclusão social, marginalidade e
preensão, por serem autoridades no assunto, em assuntos correlatos, apontavam as desigualdades so-
contraposição à ingenuidade do cidadão comum. Ao ciais, o desemprego, a ausência de políticas voltadas
falarem sobre seu cotidiano, entretanto, apareciam para a educação e saúde da população como as prin-
suas definições de violência, que se referiam à cipais causas da violência (ZALUAR, 2004). Nesta
criminalidade como assassinatos, latrocínios, roubos, abordagem, tanto os autores da violência quanto seus
estupros, brigas, limitando-se às manifestações físi- alvos são mostrados como vítimas de um Estado pou-
cas do fenômeno, às agressões e danos contra as pes- co preocupado com a justiça social, o que é reprodu-
soas e suas posses. O roubo foi identificado como a zido no discurso dos policiais. Zaluar (2004) chama
mais freqüente agressão, desencadeando outras: “O a atenção para os riscos desta correlação entre pobre-
grande percentual da violência se dá em briga por za e criminalidade, que pode alimentar preconceitos
valores. 85% das nossas ocorrências aqui é crime con- e discriminação contra as populações pobres.
tra o patrimônio. Você mata, furta um carro, você Causas familiares: a desestruturação famili-
mata pra roubar, você seqüestra pra pedir resgate”. ar aparece como outra causa da violência. Se nas pri-
Ao identificarem a violência com a criminalidade, os meiras explicações são apontados fatores
policiais a estão definindo a partir do lugar social macrossociais, agora são as interações microssociais,
onde se encontram, “na linha de frente”, “trocando que se estabelecem no plano das relações familiares,
tiro com marginais”, como disseram. Não se referem as responsáveis pela violência. De um Estado distante
a outras expressões do fenômeno, como danos contra e abstrato os entrevistados passam a identificar pes-
pessoas e grupos em sua integridade moral, em suas soas concretas, os pais, que não conseguem um rela-
participações simbólicas ou culturais como descrito cionamento familiar adequado e nem são mais capa-
por Michaud (1989). zes de transmitir valores essenciais aos filhos. Estas
Quanto às causas da violência foi possível explicações aparecem nas falas: “Porque se você não
apreender três categorias explicativas nas oito dele- tiver educação em casa, não adianta ser formado, ter
gacias onde se realizou a pesquisa: causas sociais, doutorado ou ter defendido tese, se você não tem base
desestruturação familiar e índole do criminoso. familiar ou seus pais não ensinaram o que é moral,
Causas sociais: apareceram em um primeiro respeitar o que é dos outros...”; “Toda violência tá
momento das entrevistas, o que pode ser entendido relacionada a desestrutura familiar...”. Comentam
como parte de um discurso “polido”, descrito por sobre pais e mães que trazem seus filhos até a delega-
Fairclough (2001) como aquele que atende à necessi- cia para serem repreendidos pelos policiais, numa
dade de aprovação, de corresponder à expectativa do demonstração de falta de controle sobre os filhos e
entrevistador, como uma estratégia para mitigar os incapacidade para educá-los. E nestas falas, a
atos de fala que seriam potencialmente ameaçadores desestruturação da família tem as suas próprias cau-
na interlocução. O Estado é apontado como respon- sas, que são a modernidade e a psicologia. Estas con-
sável pela violência na medida em que não oferece tribuem para que ocorra a perda dos limites e dos
condições de trabalho e educação para toda a popu- valores fundamentais na educação dos filhos, devido
lação. A má distribuição de renda, a falta de interesse à permissividade e ao abandono de práticas mais co-
dos governos em solucionar os problemas sociais, a ercitivas na educação, o que se depreende das frases
falta de controle do Estado sobre a violência, a ausên- seguintes: “Essa psicologia moderna de que não pode
cia de planejamento que leva ao crescimento bater, que não pode corrigir...”; “A criança não tem
desordenado das cidades, são algumas das explica- mais limite. Ela não aprende a dar valor nas peque-
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nas coisas”. Mais uma vez o autor da violência é víti- dos os tipos problemas, desde pequenos furtos até
ma de circunstâncias, desta vez familiares, que o in- homicídios, sendo as características dos sujeitos com
duzem ao crime. A violência deixa de ser um proble- quem lidam mais variadas que nas delegacias
ma social e passa a ser um problema familiar com especializadas.
implicações psicológicas para os filhos. A explicação Uma diferença foi observada entre as delega-
do fenômeno pela desestruturação familiar é um dos cias circunscricionais e as delegacias especializadas.
discursos da psicologia que busca explicar os desvios Naquelas em que os agentes lidam com crianças e
de comportamento e as dificuldades de ajustamento adolescentes, a ênfase recaiu sobre o papel da famí-
dos jovens. A violência familiar, por sua vez, seria um lia, salientando a importância dessas relações
dos elos da cadeia de violências, ou de sua reprodu- microssociais na formação da criança e do adoles-
ção, fazendo dos filhos vitimados, futuros autores de cente. Os policiais dessas delegacias vêem os filhos
atos violentos (CASTRO, 2001; GUERRA, 1998). Se- como vítimas dos pais, quando são usados para resol-
gundo Cardia (1997) citada por Lucinda, et al. (1999, verem ou encobrirem problemas conjugais. Ao se re-
p.35) quando há violência na família existe uma alta ferirem à violência cometida por e contra crianças e
probabilidade dos filhos estarem sendo socializados adolescentes, os entrevistados dizem: “Sempre é as-
para se tornarem violentos. sim: o casal ta separando, já teve muita coisa, aí ta
Causas pessoais: neste caso os entrevistados separando, aí aquela briga, né?...”; “Uma pessoa (ado-
retiram a responsabilidade de causas externas ao su- lescente) envolvida com homicídio, normalmente, a
jeito e localizam-na no próprio sujeito. Ao afirmarem família dela tá desestruturada...”; “Começa com a vi-
sobre a “índole ruim” daqueles que praticam crimes, olência dentro de casa, com problemas de desajuste
os entrevistados responsabilizam as pessoas que, nes- familiar, violência dentro de casa, pai, mãe, irmão.
ta explicação, optam pela violência e pela Eu acho isso aí extremamente grave, é um grande
criminalidade. Falas como: “Quem parte pro roubo é começo pra ele praticar a violência...”. O comporta-
porque a índole dele é ruim, é porque tem índole ruim mento violento ou criminoso dos jovens se explicaria,
mesmo...”; “ Existe a questão da criminalidade nata. em parte, como aprendido com os pais e, em parte,
As pessoas acham que não existe, mas existe”. Ao in- como uma resposta reativa à violência doméstica e à
troduzirem a índole como causa da criminalidade os desestruturação familiar. E aqui prevalece o discurso
entrevistados reforçam sua explicação mostrando que da psicologia.
a maioria das pessoas pobres não comete crimes, e Algumas diferenças foram encontradas, tam-
pessoas ricas os cometem. Seus próprios exemplos bém, em relação ao praticante da violência, quando
fundamentam seus argumentos: “Eu venho de família os sujeitos da pesquisa procuraram identificar quem
muito pobre, também. Morava em barraco de madei- são as pessoas que praticam o crime. Os agentes que
ra, meu pai matava ratazana pra eu comer”; “Meu lidam com homicídios apontam diferenças entre o
pai chegou nesta cidade e comprava e vendia garrafa assassinato e outros tipos de crime afirmando que
e criou três filhos (...) pessoas que foram criadas co- qualquer pessoa pode matar, dependendo das circuns-
migo saíram pra marginalidade e tinham poder aqui- tâncias. Já os outros crimes estariam associados à
sitivo bem maior que a gente...”. E confirmavam sua identidade do criminoso ou a sua especialidade: “Quem
explicação argumentando que pessoas ricas cometem mata? Qualquer um mata. Quem rouba é o ladrão,
crimes: “Você vê muita gente rica, que o caboco teve quem estupra é o estuprador, quem trafica é o trafi-
de tudo, e não é por desleixo da família, porque foi cante”. Esta ´especialização` não foi observada nas
bem educado e, hoje, eu sei que tá preso...”; “Tem falas dos outros grupos.
gente que não adianta você dar casa, dar trabalho, As diferenças entre as delegacias mostram a
dar comida, dar roupa, cuidar bem, com carinho, que importância das experiências particulares dos agen-
o cara vira vagabundo”. tes, de sua prática profissional com problemas e su-
Este argumento se contrapõe às causas soci- jeitos específicos, na construção de suas explicações
ais e familiares ao apontar o indivíduo como alguém sobre fatos significativos de sua realidade. Se um sa-
que pode ter boas condições financeiras e muitas op- ber sobre a violência foi construído e partilhado pelo
ções na vida, mas sua índole má o desvia para o cri- conjunto de agentes no exercício de suas funções e
me. Dessa forma, essencializam o ato criminoso ao através das vivências comuns e das diversas formas
entendê-lo como inerente ao autor do crime. Esta fala, de comunicação entre eles, experiências particulares
que aparece mais no final das entrevistas, parece in- trouxeram um conhecimento e uma explicação pecu-
dicar uma representação própria daquele coletivo de liares que aparecem nas falas de alguns agentes e iden-
policiais e pode estar refletindo suas crenças e convic- tificam o seu grupo.
ções particulares. Este foi um discurso mais freqüente A pobreza, mesmo não tendo sido apontada
nas delegacias circunscricionais, que lidam com to- diretamente como causa de violência, aparece como
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associada a ela quando afirmam que as situações de ção] é policiais que se envolvem com corrupção, poli-
privação criam as condições para o crime, e que os ciais desonestos, que isso reflete em toda categoria,
criminosos saem das periferias e vão para as regiões que é generalizado”. Procuram, assim, se desidentificar
mais ricas para “trabalhar”. Afirmam, ainda, que os dos policiais corruptos (SMITH E MACKIE, 2000) afas-
crimes mais violentos são cometidos por pessoas mais tando-se psicologicamente do grupo estigmatizado.
pobres: “Aqui, 99% das ocorrências contra a pessoa, Percebem, também, que a sociedade os vê de
crimes violentos, são oriundos das classes mais bai- forma negativa por exercerem uma profissão que de-
xas”; “A miséria dá mais condições de surgirem pesso- finem como “um mal necessário”, alguém que se en-
as que escolhem a violência como meio de ascensão”. carrega de “limpar a sujeira da sociedade”: “Quando
Também o tráfico de drogas aparece no discurso dos a população precisa de polícia, chama-se a polícia.
entrevistados como “oportunidade mais lucrativa” que Quando não precisa mais, espezinha, se enxovalha a
o trabalho braçal: “Pra que você vai trabalhar de ser- polícia” desqualificando assim, o próprio trabalho.
vente de pedreiro pra ganhar R$ 400,00 ou menos Entretanto, afirmam que a mesma sociedade que os
enquanto com tráfico se tira duas três vezes mais”; critica por agirem de forma violenta, espera deles
“Com o tráfico o retorno é muito mais rápido”; “Acor- maior agressividade no combate ao crime e à violên-
dar, pegar ônibus, lotação, esses negócios, pra ga- cia. Querem resultados e fecham os olhos para os
nhar um salário mirradinho por mês. Ele quer é di- métodos: “A pessoa tem uma moto que é furtada (...)
nheiro mole, é o dinheiro fácil”. acha que você vai pegar a pessoa (autor) ali na dele-
Voltando aos estudos acadêmicos, nas déca- gacia e vai balançar, vai dar uns tapas na cara, que a
das de 1960 e 1970, algumas correntes teóricas das pessoa vai devolver na hora, e a gente sabe que não é
ciências sociais chamavam a atenção para o proble- assim”. Pesquisas que focalizaram o imaginário po-
ma das favelas e das migrações internas, apontando pular e as representações sociais de diferentes seg-
a territorialização da pobreza como uma forma de mentos da sociedade corroboram estas impressões dos
segregação social, colocando grandes contingentes da policiais, mostrando que o medo da violência e o pre-
população mais pobre à margem dos centros urbanos conceito contra certos grupos e categorias de pessoas,
e de seus benefícios (VERAS, 2002). Esta levam a população a apoiar medidas repressivas,
marginalização, própria de uma sociedade (CARDIA,1997; MENANDRO & SOUZA, 1989). Ao
hierarquizada e excludente, colocava aquelas parce- identificar nordestinos, negros, pobres e favelados
las da população em condições precárias e indignas, como ameaça, a população justifica o racismo e ou-
tendo que lutar por sua sobrevivência. Marginalidade, tros preconceitos sociais (ZALUAR, 2004) e torna-se
que em sua origem se referia a viver à margem das conivente com ações violentas da polícia. No caso em
cidades, ao ser apropriada e ressignificada pelo senso estudo, o que não é percebido pelos policiais é a
comum, passou a ser associada à pobreza e à pluralidade da sociedade e as diferentes opiniões de
criminalidade. Marginal tornou-se sinônimo de cri- diferentes grupos sobre um mesmo problema, o que
minoso, de meliante. Viver nas periferias, nesta lhes parece uma ambigüidade de uma sociedade que
reinterpretação de marginalidade, faz do habitante é vista por eles como homogênea e uniforme. A ex-
das periferias, no mínimo, um suspeito. Se, no discur- pectativa em relação à ação policial depende, ainda,
so dos policiais, a pobreza não foi apontada como do lugar onde se encontra quem critica e quem con-
causa direta da violência, os pobres aparecem como dena: de vítima ou de criminoso. Além disso, trata-se
sujeitos propensos ao crime, mesmo que isto se justifi- de uma sociedade hierarquizada, onde as soluções para
que pelas suas condições precárias de vida. os conflitos não são as mesmas para pessoas e cate-
Sobre a violência policial, os entrevistados gorias sociais diferentes. Isto é notável no próprio sis-
foram enfáticos ao afirmarem que, tanto a violência tema judiciário, analisado por Kant de Lima, quando
cometida pelos agentes de polícia, quanto a corrupção o autor afirma que as “formas oficiais de administra-
praticada por alguns deles são, de fato, cometidas ção dos conflitos no Brasil se regem por princípios
por “bandido travestido de polícia”, “bandido com complementares” criando um dilema que se caracte-
carteirinha de polícia” e nesse momento apelam para riza pelo “uso alternativo (ora) de fórmulas adequa-
o papel da Corregedoria que, ao mesmo tempo em das a sociedades individualistas e igualitárias, ora ade-
que é percebida como dificultando as ações da polí- quadas à administração de conflitos em sociedades
cia devido à sua rigidez no controle de seu comporta- hierarquizadas” (1996, p.168).
mento, é uma garantia da lisura da maioria dos poli- Os policiais sentem-se, ainda, injustiçados por
ciais. Preocupam-se com a imagem que os “policiais serem foco das atenções quando alguns deles come-
bandidos” passam para a sociedade e que é generali- tem crimes e todos são julgados, mas ninguém se lem-
zada para os policiais honestos: “uma outra questão, bra deles quando acertam, quando prendem crimino-
também, que leva à falta de respeito [pela popula- sos: “O policial é muito visado pela sociedade. Quantos
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padeiros que são traficantes, ou padeiros que comete- te de seu trabalho. Definem o fenômeno como
ram homicídio? Ninguém fala. Mas se um policial criminalidade, objeto de seu cotidiano, limitando-o à
comete algum deslize, pronto, a classe inteira vai jun- sua manifestação física. Circunscrevendo-a à
to pro ralo”. Afirmam que encontram dificuldades no criminalidade, a violência passa a ser um ato prati-
exercício de combate ao crime, pois se vêem cercea- cado pelo “outro”, aquele que está fora da lei. Ao não
dos em suas ações pelo julgamento ambíguo da soci- identificarem outras formas de sua expressão, as ações
edade, pelo controle rígido da Corregedoria e pelo dos policiais só seriam reconhecidas como violentas
“pessoal” dos Direitos Humanos. Na compreensão dos quando se manifestassem como um ato físico. Ao cons-
policiais, a crítica ao seu trabalho se deve à falta de truírem sua “teoria” sobre a criminalidade, responsa-
conhecimento do perigo que correm, das pessoas com bilizam o Estado pela ocorrência da violência, incor-
quem estão lidando e das dificuldades que enfrentam porando argumentos de um saber científico das ciên-
no dia a dia. Esse desconhecimento leva a um julga- cias sociais e, assim, não apenas explicam o porquê
mento errado de sua conduta, um dos motivos que do fenômeno, mas justificam a dificuldade em com-
atrapalha o seu sucesso no combate ao crime. Justifi- bater o crime de forma eficiente. A mesma lógica se
cam-se, assim, atribuindo aos “outros” uma das cau- aplica quando a origem da violência está na
sas de seus fracassos. desestruturação das famílias, e aqui buscam na psi-
Mostram como seu trabalho e a própria vio- cologia explicações para o comportamento dos jovens
lência interferem em suas vidas particulares ao rela- que se tornam violentos e cometem crimes. Um pro-
tarem situações e sentimentos que revelam estarem blema de ordem privada cuja solução está fora da
sob freqüente pressão, seja pelo enfrentamento de cri- alçada da polícia. O mesmo quanto à índole ruim,
minosos e os riscos envolvidos neste enfrentamento, que faz parte da natureza do criminoso. Com respeito
seja pela pressão e críticas externas. Demonstram, à população pobre, que é a principal vítima de um
ainda, sua frustração por verem os “bandidos” que Estado omisso, é mostrada pelos sujeitos da pesquisa
prendem serem soltos pela Justiça. Devido à dedica- como aquela que mais pratica atos ilegais e crimes
ção exclusiva e ao caráter permanente de suas ativi- violentos, o que gera expectativas nos agentes de po-
dades, estando sempre de prontidão para qualquer lícia em relação ao comportamento das pessoas po-
emergência, sem direito a se despirem de seu papel bres. Tornam-se, assim, suspeitos em potencial. Cabe,
profissional, o trabalho invade todos os aspectos da portanto, a esses profissionais, reprimir a
vida desses profissionais: “Pra começar, você tem que criminalidade que é percebida por eles como maior e
estar à disposição, porque a qualquer hora que te cha- pior que aquela vislumbrada pelo cidadão comum.
mar tem que estar disponível”. Essa dedicação exclu- Mas vêem-se tolhidos pela crítica da sociedade e sen-
siva e a identificação com a profissão os faz sentirem- tem-se constrangidos, também, pelas normas inter-
se como que perdendo a própria identidade: “O poli- nas da instituição policial e pelos limites legais im-
cial perde a identidade dele. Ele deixa de ser o João postos ao seu desempenho profissional. Mostram, nesse
que ta sentado no bar bebendo. É um policial”. O dilema, que não têm clareza dos limites permitidos
medo, o “ficar meio paranóico”, a preocupação de às suas ações, que pouco conhecem sobre o sistema
ser reconhecido por algum bandido que prendeu e normativo e legal que rege as ações do policial, e até
sofrer retaliação, “perder a inocência do mundo” são onde iria a violência legítima permitida a um agente
sentimentos presentes que os levam a mudar os hábi- do Estado. Ficam, assim, à mercê das expectativas,
tos, os lugares freqüentados, os amigos. Queixam-se: exigências de eficiência e críticas externas. Nos rela-
“Eles esquecem que o policial é um ser humano que tos, observa-se que os policiais têm consciência da
tem medo também. Tem medo e tem, também, que imagem negativa que a população tem de seu papel
defender a sua vida. Então, acham que tem meia dú- social, que é “limpar o lixo da sociedade”, das ações
zia de robôs aqui”. Mas vêem compensações em seu violentas e da corrupção praticadas por alguns mem-
trabalho, como ficarem mais maduros, mais observa- bros da instituição. Percebem como ambigüidade da
dores, mais lógicos. E, apesar das frustrações, têm sociedade o fato de ora criticar a polícia por não ser
uma visão idealizada de sua função social que, para agressiva no combate ao crime, ora criticar por ser
eles, é uma missão que exige heroísmo, abnegação e agressiva mas, o que não percebem, é a pluralidade e
renúncia. Valorizam, dessa forma, o seu papel social. complexidade da sociedade, e os diferentes contextos
que levam as pessoas a terem diferentes posições em
COMENTÁRIOS FINAIS relação ao seu trabalho. Estas e outras causas, como
Observou-se que os policiais elaboraram re- o enfrentamento de criminosos que provoca medo,
presentações sociais sobre a violência a partir de sua deixam os policias em permanente estado de tensão,
prática profissional, das relações sociais com seus transformando o seu trabalho em um lugar de sofri-
pares e com diferentes sujeitos sociais que fazem par- mento psicológico, compensado pela crença no cará-
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Anchieta, V.C.C.; Galinkin, A.L. “Policiais civis: representando a violência”

ter missionário de sua profissão. Este quadro não jus- p. 23-62, 1984.
tifica as ações violentas cometidas por alguns polici-
ais no combate à criminalidade, mas permite apreen- FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Brasília:
der a percepção que têm do problema, as “teorias” Ed. UnB, 2001.
que constroem para explicar o comportamento crimi-
noso e suas causas, os sentimentos que desenvolvem GRUNDY, K. W. & WEINSTEIN, M. A. Las ideologias
em suas relações com os diversos atores que fazem de la violência. Madrid: Technos, 1976.
parte de seu cenário profissional. E estas informações
fornecem elementos que ajudam, em parte, a compre- GUERRA, V. N. A. Violência de pais contra os filhos: a
ender as ações, muitas vezes violentas e ilegais, co- tragédia revisitada. São Paulo. Cortez Editora, 1998.
metidas por alguns policiais.
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Vânia Cristiane Cavalcante de Anchieta é


psicologa clínica na Divisão de Assistência à Saúde
da Polícia Civil do Distrito Federal. É mestre em
Psicologia pela Universidade de Brasília tendo
obtido o título de mestre com a dissertação
intitulada “Policial 24 horas: as representações
sociais da violência e identidade entre policiais
civis”. Dedica-se, também, à pesquisa sobre a
influência da violência na vida pessoal e nas
relações familiares dos policiais. O endereço
eletrônico da autora é: v.anchieta@bol.com.br.

Ana Lúcia Galinkin é psicologa pela Univer-


sidade Federal de Minas Gerais, mestre em Antropo-
logia Social pela Universidade de Brasília e doutora
em Sociologia pela Universidade de São Paulo. É
professora e pesquisadora do Departamento de Psi-
cologia Social e do Trabalho, Instituto de Psicologia
da Universidade de Brasília. Ministra aulas de Psico-
logia do gênero no curso de pós-graduação neste
mesmo instituto dedicando-se, ainda, a pesquisas
sobre violência, gênero e minorias políticas.
O endereço eltrônico da
autora é: anagl@terra.com.br

Ana Lúcia Galinkin e


Vânia Cristiane Cavalcante de Anchieta
Policiais civis: representando a violência
Recebido: 23/12/2004
1ª revisão:7/04/2005
Aceite final: 17/06/2005

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