EXIGEISILN DENNIS MUILENBURG
SOMOS TODOS
EMBRAER
OCEO da Boeing diz que a compra da empresa brasileira vai promover
a industria aeroespacial nacional e abriré caminho para estreitar
a parceria do Brasil com os EUA na area de defesa
MARCELO SAKATE
7EXIGEISILw DENNIS MUILENBURG
A VENDA DO CONTROLE da
divisdo de avides comerciais da
Embraer 4 americana Boeing tor-
nou-se um dos temas sensiveis do
debate eleitoral. O antincio do
acordo preliminar para 0 negdcio
de 4,75 bilhdes de délares, em ju-
Iho, levou alguns candidatos a di-
zer que, se eleitos, vaio usar o direi-
to do governo de vetar a transacio.
A ameaga no abala a confian¢a
do CEO da Boeing, Dennis Mui-
lenburg. Para ele, a venda sera
aprovada pelo governo atual ou
pelo proximo. O avanco das nego-
ciagdes, acredita Muilenburg, vai
mostrar — aos politicos e a socie-
dade — os ganhos advindos da
parceria, em investimentos que
vao gerar empregos e beneficiar os
fornecedores. Ele vai além: diz en-
xergar potencial para o desenvol-
vimento conjunto de projetos na
area de defesa. O executivo ameri-
cano, 54 anos, engenheiro aeroes-
pacial de formacao, afirma que o
setor atravessa uma era dourada
de inovagGes e prevé, ao longo da
proxima década, a chegada ao
mercado dos avides hipersénicos,
do transporte aut6nomo aéreo nas
cidades e dos voos na 6rbita baixa
da Terra. Muilenburg, um apaixo-
nado pelo ciclismo de estrada, dis-
se que pretende celebrar o espera-
do desfecho do acordo pedalando
com funciondrios da Embraer no
Brasil. A seguir, sua entrevista a
VEJA, concedida por videoconfe-
réncia, de Chicago.
A Boeing tentou comprar a Em-
braer inteira, mas, diante da re-
sisténcia do governo brasileiro,
aceitou assumir apenas o contro-
le da divisao de aviées comer-
ciais. Por que 0 negécio é tao im-
portante para a Boeing? Temos
muito respeito pela Embraer. Ja tive
0 privilégio de conhecer a equipe
da empresa em projetos passados
e sempre fiquei muito bem im-
pressionado pelos talentos e pela
capacidade técnica da Embraer.
Foi por meio dessa colaboragao de
anos que concluimos que seria be-
néfico juntar esforgos. Enxerga-
mos muito valor nessa parceria
para nossos clientes, que sdo as
companhias aéreas. A combinagao
de produtos e servicos vai ser a
melhor do mercado e beneficiaré
os empregados das duas empre-
sas, que, juntas, estdo em 150 pai-
Nossas linhas de produtos sao
complementares, com avides de
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diferentes tamanhos, sem que haja_ Havera alguma garantia de pre-
sobreposicao. O negécio sera be- servagéo dos empregos? Esta-
néfico para as duas companhias. mos comprometidos em ter um
centro de exceléncia na aviagao
Oprincipal sindicato de trabalha- comercial no Brasil para aerona-
dores daEmbraer dizqueonegé- ves com 100 a 150 assentos. Esta-
cio pée em risco 13000 empre- mos comprometidos com outra
gos, Eumaameacareal? Espera- joint venture (uma associagdo en-
mos ampliar nossa presen¢a notre as companhias) para 0 KC-
Brasil a longo prazo. Planejamos 390 (0 novo avido de transporte
investir mais no paise aumentar a __militar da Embraer), também com
capacidade da Embraer, criar mais __ base no pais. Parte do acordo vai
empregos nas dreas de engenharia _incluir suporte de engenharia e de
ede produgao. Vemos 0 negécio, _outras areas a fim de garantir uma
portanto, como algo que vai gerar __ base técnica e de trabalhadores
crescimento para 0 Brasil. no Brasil. Sao varios acertos que
daro as pessoas a confianga de
que vamos continuar a investir no
“A medida que as ez
NegOCiaGOES AVANCEM, —oauevaiacontecer com fornece-
ficard muito ClarO QUE —Scrrrcremos comeuctos mars
oacordo entre Embraer — fartcisrauasendeunrascon
e Boeing vai criar valor Frnvccuses cesta: cnvisnen
para o Brasil. E acredito — iecimenesscuremconunte co
que 0S beneficios atrairGo tiene screanvuetswoser pos
O apoio do governO” —taoanssoamasmecaisscenENIGSSN OENNIs MUILENBURG
comendas maiores, nao s6 para
componentes de novas aeronaves
como para a prestacao de servicgos.
Quais os objetivos para a parce-
ria na drea de defesa? Ja temos
um acordo com a Embraer para
ajuda-la a ampliar o mercado para
0 KC-390. Tive a oportunidade de
conhecer o aviao. E um produto
muito impressionante, com forte
apelo no mercado. Se juntarmos 0
grande modelo que é 0 KC-390
com 0 acesso a clientes no mundo
inteiro, algo que nés proporciona-
mos, sera uma chance extraordi:
naria de impulsionar os negécios
para a Embraer e o Brasil na 4rea
de defesa. Vejo oportunidades pa-
ratrabalhar em conjunto em uma
linha de produtos mais ampla ao
longo do tempo, e acredito que o
KC-390 pode ser o primeiro gran-
de exemplo de como as duas em-
presas podem ser bem-sucedidas
juntas. Podemos construir a indis-
tria de defesa no Brasil em conjun-
to e, a partir dai, usar essa expe-
riéncia como um catalisador de
oportunidades no futuro.
Ha o temor de que o Brasil perca
a capacidade para desenvolver
alta tecnologia. O centro de pes-
quisas da Embraer pode ser
transferido para os Estados Unt
dos? Pretendemos nao sé manter
como ampliar 0 centro de pesqui-
sae desenvolvimento da Embraer
no Brasil. E parte do investimento
previsto. Ja fizemos muita pesqui-
sa em conjunto em areas como
tecnologia em biocombustivel de
aviacdo e temos planos para apro-
fundar essa parceria em outras
areas. Um dos principais investi-
mentos que a Boeing faz é nas
pessoas, em treinamento e em co-
laboracgdo com universidades e
instituigdes académicas. Desen-
volvemos talentos para o futuro.
E pretendemos trazer essa politi-
ca para o Brasil.
O Brasil vai eleger um novo presi-
dente em outubro. Alguns candi-
datos jé disseram que s4o contra
onegécio. O senhor teme que o
Novo governo vete a operagao?
Estamos atentos as eleicGes brasi-
leiras, mas esperamos fechar 0 ne-
gocio. E importante para a Boeing
ter 0 apoio do governo, mas penso
que, a medida que as negociac6es
avancem, ficara muito claro que o
acordo entre Embraer e Boeing vai
criar valor para o Brasil, empre-
gos, desenvolvimento para o setor
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ecrescimento econémico. Acredi-
to que esses beneficios vao ficar
muito claros e que isso atraira 0
apoio do governo.
O que se pode esperar de mais
inovador em cinco a dez anos na
aviagdo? Vivemos um momento
empolgante na industria aeroes-
pacial. E uma nova era dourada.
Estamos levando mais inovacdo
ao mercado do que em qualquer
outro momento da historia, na
forma de novos avi6es ultraefi-
cientes e ambientalmente corre-
tos. Ao longo da préxima década,
vamos ampliar 0 foco em aerona-
ves supers6nicas e hipersénicas.
Estamos testando tecnologias de
propulsao que vao permitir que
os avides alcancem de cinco a seis
vezes a velocidade do som. Cer-
tas viagens longas poderao ser
feitas em apenas duas horas. De
cinco a dez anos, veremos solu-
gGes no transporte em areas ur-
banas com alta densidade popu-
lacional. Haverd taxis aéreos au-
ténomos. A Embraer esta traba-
Ihando nisso também.
Um dos maiores obstéculos pa-
ra os avides supersénicos 6 0
custo elevado. Seré possivel su-
peré-lo? Essa ainda é a principal
barreira, sem ditvida. O desafio é
chegar a um modelo de negécio
em que haja demanda suficiente
de viajantes dispostos a pagar um
prémio em troca da velocidade.
Vejo progressos, hd diferentes mo-
delos em estudo. As companhias
aéreas jd existentes podem ofere-
cer 0 Yoo, mas também novas star-
tups que queiram trabalhar com
avides supersOnicos e construir as
proprias redes de viagem.
Haveré um dia em que as aerona-
ves sero totalmente controladas
por robés? Com 0 tempo, a tecno-
Jogia auténoma estara mais inte-
grada aos avides e poderd oferecer
assisténcia aos pilotos em situacdes
de emergéncia. Mas a decisao final
sobre se voos comerciais poderao
ocorrer com cabines nao tripuladas
caberd as autoridades de regulacao
e dependera também da aceitagao
pelos passageiros. Acredito que a
tecnologia aut6noma sera utilizada
inicialmente, na aviacéio comercial,
para o transporte de carga. Mas ela
jaesta sendo ostensivamente apli-
cada na area de defesa.
Quando os voos para o espago
vao se tornar realidade para
5l7EXGSVSILW DENNIS MUILENBURG
pessoas comuns? Acredito que
vao se desenvolver rapidamente
na préxima década. Estamos tra-
balhando em uma cépsula cha-
mada CST-100 Starliner, com ca-
pacidade de chegar a uma estagao
espacial na orbita baixa da Terra.
Hoje a Estacao Espacial Interna-
cional é 0 tnico destino possivel,
mas, com 0 tempo, acreditamos
que algumas companhias vao de-
senvolver locais como hotéis es-
paciais para que as pessoas facam
turismo. Havera fabricas que po-
derao ser visitadas. A medida que
aparecerem mais destinos, sera
“Vamos ampliar o foco em
avides supersonicos e
hipersénicos, que podem
alcancar de cinco a seis
vezes a velocidade do som.
Certas viagens longas
poderdo ser feitas em
apenas duas horas”
necessaria uma infraestrutura de
transporte para levar e trazer vi
tantes. Isso vai permitir a criag¢do
de um ecossistema espacial. Mui-
tas empresas além da Boeing es-
tao se dedicando a reduzir os cus-
tos de lancamento para o espaco,
como a SpaceX ea Blue Origin. A
6rbita baixa terrestre seré um lu-
gar turistico comum.
E qual ser a primeira companhia
achegar a Marte? A Boeing! Es-
tamos trabalhando no primeiro
foguete e em um sistema de lan-
camento com a Nasa. Também
estamos construindo o primeiro
veiculo. A companhia vem se pre-
parando para os primeiros testes
de langamento em 2019. O plano
é, primeiramente, voltar 4 Lua.
Depois, estabelecer a Lua como
porta de entrada para a missao
até Marte. Para mim, est4 muito
claro que o tnico foguete capaz
de chegar 4 Lua e depois a Marte
€ 0 que esta sendo desenvolvido
pela Boeing e pela Nasa.
Das vendas de aeronaves comer-
cialis da Boeing, 80% destinam-se
aclientes estrangeiros. Como a
guerra comercial desencadeada
pelo governo americano com a
6l7EXIGE ISIcN DENNIS MUILENBURG
China afeta os negécios da com-
panhia? Obviamente, 0 comércio
global é muito importante para a
Boeing. Estamos conversando com
lideres nos Estados Unidos e na
China para que entendam as van-
tagens de uma indiistria aeroespa-
cial saudavel para ambas as econo-
mias. Estimamos que, nos prdxi-
mos vinte anos, o mundo va preci-
sar de cerca de 43 000 novas aero-
naves, das quais pouco mais que
7000 na China. O pais asiatico esta
se beneficiando do rapido cresci-
mento dessa indtistria: o trafego
doméstico de passageiros cresce a
um ritmo de 6% a 8% ao ano. De
modo similar, no lado americano, a
medida que fabricamos mais
avides, criamos mais empregos e
levamos prosperidade ao pais. Es-
tamos, portanto, mostrando aos
dois governos que é preciso buscar
uma solugao produtiva. m
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