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Referéncia deste capitulo Neste capitulo, vocé devera estudar: KOCH, Ingedore G. Villaga; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Coeréncia: de que depende, como se estabelece. In: A coeréncia textual. 13. ed. Sdo Paulo: Contexto, 2011, p. 49-105 Quais os fatores estabelecem a coeréncia textual CAPITULO 4 Coeréncia: de que depende, como se estabelece 4.1 Consideracées gerais Por tudo 0 que jé dissemos até agora, fica mais do que evidenciado quea coeréncia se estabelecena dependéncia de uma multiplicidade de fatores, o que inclusive levou a uma abordagem multidisciplinar dessa mesma coeréncia. Uma vez que ela passou a ser vista como um principio de inter- possibilita ou dificulta, impede) essa interpretagéo do texto tem a ver com 0 estabelecimento da coeréncia. Os estudos sobre coeréncia, abstraidas as questdes de 6nfase e explicitude dos fatores abordados, so quase undni- ‘mes em postular que 0 estabelecimento da coeréncia depen- de: a) de elementos linguisticos (seu conhecimento e uso), bem como, evidentemente, da sua organizagio em uma cadeia linguistica e como e onde cada elemento se encaixa nesta cadeia, isto &, do contexto linguéstico; b) do conhecimento de mundo (largamente explorado pela semantica cognitiva e/ou x0 KOCH « TRAGUA procedural), bem como o grau em que esse conhecimento é partilhado pelo(s) produtor(es) e receptor(es) do texto, o que se reflete na estrutura informacional do texto, entendida como a distribuicéo da informagao nova e dada nos enunciados e no texto, em fungao de fatores diversos; c) de fatores pragm- ticos e interacionais, tais como 0 contexto situacional, os inter- locutores em si, suas crencas e intencdes comunicativas, a fungdo comunicativa do texto. Evidentemente, cada um destes fatores se relaciona com outros fatores. Assim, o conhecimento de mundo teré a ver, na interpretago, com a construgio de um mundo textual e sua adequagao aos modelos de mundo do produtor e recep- tor do texto. Essa construgao do mundo textual vai depender largamente das inferéncias que o interpretador faz. ou pode fazer. Em nivel seméntico, tal conhecimento de mundo tera aver com 0 estabelecimento de uma unidade/continuidade de sentido, um sentido tinico para o todo. Ligada ainda ao conhecimento de mundo, temos a questao da informatividade, que diz respeito a previsibilidade /imprevisibilidade da in- formagao dentro do mundo textual O contexto situacional se relaciona tanto com o nivel semintico e 0 conhecimento de mundo, como, por exemplo, na identificacao de referentes deiticamente indicados, quan- tocom onivel pragmatico, quando, por exemplo, s6 se pode identificar que ato de fala ¢ executado por um enunciado por saber situacionalmente que temos um patrao falando com 0 empregado numa fabrica. Retornaremos a estas questdes no item sobre situacionalidade Pragmaticamente, principios conversacionais, como 0s de Grice (1975), podem afetar o estabelecimento da coeréncia. Grice estabelece, como postulado basico que rege a comuni- cacao humana, o Princfpio da Cooperagiio (“Faca sua contribui- Tex E coenbicu E Peg ao conversacional tal como é requerida no momento em que ocorre pelo propésito ou direcdo do intercimbio em que esta engajado”) do qual decorrem quatro maximas: a) Maxima da Quantidade ("Faca que sua contribuicdo seja tao informativa quanto for requerido para o propésito corrente da conversa- ‘Gao; ndo a faca mais informativa do que o requerido”); b) Maxima da Qualidade (“Nao diga o que acredita ser falso; no diga sendo aquilo para o que vocé possa fornecer evidén- cia adequada”); c) Maxima da Relagao ("Seja relevante”, pertinente); d) Maxima do Modo (“Seja claro”). Charolles e Franck apresentam o principio da coopera- ao como bésico no processo de interpretagéo que leva ao estabelecimento da coeréncia: os usuarios sempre se assu- ‘mem mutuamente como cooperativos e, portanto, creem que a sequéncia linguistica a ser interpretada foi produzida para ser um texto coerente, quer os sinais de coeréncia se manifestem diretamente na superficie linguistica ou nfo. Isto se explica por meio dos principios de textualidade que abordamos em 4.8, a saber, idade. Charolles (1987) enfatiza que a coeréncia é estreitamente dependente do interpretador que recebe o texto e busca interpreté-lo, usando seus conhecimentos linguisticos, de mundo ete. Nos textos conversacionais orais, elementos paralinguis- ticos também atuam no estabelecimento da coeréncia: olhar, movimentos do corpo (Goodwin, 1981), expressio facial, osturas corporais, interacao corporal (proximidade, toques etc.), gestos (déiticos ou nao) podem dar osentido ou m ficar totalmente o sentido do que se enuncia, afetando, pois, acoeréncia, Van Dijk (1981) apresenta a seguinte lista: m« mentos déiticos, outros gestos, expressio facial, movimentos do corpo e interagao corporal, como afetando a identificacao 2 OCH « TRAMGLA de atos de fala realizados através dos enunciados. Sabemos que, em muitos casos, tais elementos afetam 0 enunciado também no que respeita a seu sentido nao pragmatico, pro- posicional. Outros elementos que afetam o célculo do sentido €, portanto, a coeréncia, apenas no oral, séo a entonacao e fatores prosddicos em geral, como velocidade e ritmo de fala. Diferengas da coeréncia no oral e no escrito ainda sao apre- sentadas nas secdes 2.4, 4.2 ¢ 4.7. Accoeréncia depende também da observagao de certas convengées sociais de como se devem realizar certos atos de fala. Assim, por exemplo, a fala do doente mental nao se reocupa com o significado social das ligacdes que faz e, por isso, soa incoerente. Charolles (1978) propde quatro metarregras de coeréncia: repeticio, progress, no contradigao e relago. Segundo a me- tarregra de repeticao, um texto, para ser coerente, deve con- ter, em seu desenvolvimento linear, elementos de recorréncia estrita. A metarregra de progressio diz que, para que um texto seja coerente, é preciso haver no seu desenvolvimento uma contribuicéo semantica constantemente renovada. O que se depreende dessas duas regras é que, em todo texto, deve haver retomadas de elementos jé enunciados e, a0 mes- ‘mo tempo, acréscimo de informacao. Sao estas idas e vindas que permitem construir textualmente a coeréncia. As reto- madas sao feitas, em grande parte, por meio dos mecanismos de coesio referencial e, na progressio, exercem papel impor- tante os mecanismos de coesao sequencial (cf. Koch, 1989). Isto ¢, a coeréncia manifesta-se parcialmente no texto por meio dos mecanismos coesivos. Segundo a metarregra de nao contradicao, para 0 texto ser coerente, “é preciso que no seu desenvolvimento nao se introduza nenhum elemento seman- tico que contradiga um contetido posto ou pressuposto por “Te«TO COERENCIA uma ocorréncia anterior, ou deduzivel desta por inferéncia’” Jé pela metarregra de relacio o texto serd coerente se “os fatos que se denotam no mundo representado estejam rela- cionados”. Posteriormente, Charolles (1979) propde o acrés- cimo da metarregra de macroestrutura, tomada de emprés- timo a Van Dijk. Poder-se-ia acrescentar uma metarregra de “superes- trutura”, que teria a ver com a estrutura de cada tipo de texto: descritivo, narrativo, dissertativo ete. Isto corrobora ‘0 que propusemos em 2.4 e reiteramos na seco sobre inter- textualidade quanto a relacao entre tipos de texto e coerén- cia. Para Charolles (1978), as metarregras tratam da cons- tituigo da cadeia de representacdes semanticas e suas relagdes de conexidade que constituem o texto, As metarre- gras estabelecem “um certo ntimero de condicdes que um texto deve satisfazer para ser reconhecido como bem for- mado por um dado receptor, numa dada situagao”. Ora, a introducao do receptor e da situagao traz a tona a questo da interlocugao e deixa claro que tais metarregras estio sujeitas a aspectos da situagao de comunicagao ¢ nao sao, por si, suficientes para explicitar as condigdes que um texto deve atender para ser bem formado. Antes de passarmos ao comentario, de forma mais parti- cularizada, da relagao da coeréncia com 0s fatores aqui levan- tados, gostarfamos ainda de registrar as colocagdes de Franck (1980) sobre sequéncias fortemente e fracamente coerentes. Franck (1980) propée a incluso, na andlise da conver- sacdo, da nogao de relevancia da teoria dos atos de fala, afirmando que fala de um interlocutorécoerente coma fala do antecessor, no sentido mais amplo do termo, quando ela retém um aspecto significativo, ainda quesecundtio, da fala anterior. $6 em continuagdes optimais, as pressuposicées e, Ey NOCH - TRAMGLA aestrutura tematica dos enunciados anteriores sao totalmen- te assumidas e suas preferéncias de continuacao atendidas. Para Franck, neste caso, temos uma contribuicao (fala) forte- ‘mente coerente, porque seu aspecto significativo essencial se liga ao aspecto significativo essencial da contribuigao (fala) anterior. No outro caso, em que o aspecto significativo es- sencial do segundo turno se orienta para um aspecto nao essencial do primeiro, ou vice-versa, temos uma fala fraca- ‘mente coerente. Franck dé o seguinte exemplo: (11) (1) A~O Sr. deseja falar com meu marido? interpelado pode prosseguir com uma das seguintes falas: (2) B— Sim, por favor, se nao for incomoda-lo, prezada senhora. B— Por qué? A serihora é esposa de Willi Miller? (@) B— Nao fale assim tao cheia de si, eu a conhego de antigamente, Lisa. (5) B— Pst, ndo fale tao alto. Ninguém deve nos ouvir. Para Franck, (2) é fortemente coerente com (1), ¢(3)a(5) séo fracamente coerentes. Franck afirma que falas fracamen- te coerentes podem perturbar a evolucao harménica de uma conversacao ou irritar 0 parceiro, ofendendo-o. Isto ocorre porque o receptor considera que o outro nao coopera ade- quadamente, desviando o rumo da conversacao. Para nés, quando a coeréncia é forte, estabelecese facil- mente relagio entre as falas, ocorrendo 0 oposto no caso da coeréncia fraca Nas seges seguintes, buscaremos explicitar como cada tipo de fator e/ou cada fator em particular concorre para 0 estabelecimento da coeréncia ‘TEXTO E COERENCIA + 5 4.2 Conhecimento linguistico ‘Todos os estudiosos so unanimes em admitir que os elementos linguisticos tém grande importancia para o esta- belecimento da coeréncia, embora Brown e Yule (1983) afir- ‘mem que é iluso pensar que entendemos o significado de ‘uma mensagem com base apenas nas palavras e na sintaxe. Buscando evidenciar que a compreensio depende de nosso conhecimento de mundo e de fatores pragméticos, dao exem- plos de mensagens linguisticas que nao tém a forma de frase, semelhantes ao exemplo (12). (12) Exemplo semelhante ao de Brown e Yule é 0 do aviso transctito abaixo e afixado no quadro de avisos junto & entrada da biblioteca de uma instituigdo quesse dedica ao estudo da linguagem. Coléquios discurso narrativo dos mitos indigenas Prof. Dr. Joao da Silva 5° feira, 20-10-1988 horas Auditério IIL Acompreensao deste aviso, cujos elementos linguisticos nao chegam a constituir uma frase, depende pelo menos dos seguintes conhecimentos do produtor e receptor do texto, no presentes no aviso: a) que os coléquios s4o reunides de professores e alunos da institui¢ao e outros interessados em que um pesquisador (da instituigdo ounao) expde um traba- Ihoseu em andamento ou concluido, seguindo-se a exposicao discusses sobre o assunto; b) que o assunto é de linguistica; %6 KOCH « TRAMGUA c) quem é 0 professor e quais suas qualificacdes; e d) onde é o Auditério II. Vimos que é a coeréncia que determina, em tiltima ins- tancia, que elementos vao constituir a estrutura superficial linguistica do texto e como eles vao estar encadeados na se- quéncia linguistica superficial, e isto é suficiente para deixar claro que a recuperagao desta coeréncia passa pelas marcas linguisticas. Muitos autores inclusive chamam a atengao para a relagio do linguistico com o conceitual-cognitivo (conheci- mento de mundo) e com 0 pragmético, o que reforca ainda mais a importancia das marcas linguisticas como pistas para 0 calculo do sentido e, portanto, da coeréncia do texto. Veja- ‘mos algumas destas colocages. Beaugrande e Dressler (1981) dizem quehé relagées (um certo paralelismo) entre o nivel gramatical e 0 conceitual do texto, mas quea cadeia gramatical s6 se estende por pequenas partes do texto, enquanto a cadeia conceitual abrange o tex- to todo. Beaugrande (1980) mostra ¢ exemplifica alguns candidatos razodveis para correlagao preferencial entre os niveis gramatical e conceitual. Um dos exemplos que ele dé desse paralelismo pode ser esquematizado como em (13) (13) Nfvel gramatical ‘Nivel conceitual sujeito—para—verbo agente — para — ago objeto — para — estado Isto quer dizer que, quando temos, no nivel gramatical, uma estrutura que relaciona um sujeito com um verbo, no nivel conceitual a preferéncia é para que o sujeito seja um agente seo verbo for de agao,e para que o sujeito seja um objeto (um ser visto como paciente ou nao agente) se 0 verbo for de es- tado, como em (14) e (15): ‘Tox € cornENCIA q iad sujeito (14) Omenino agente abriu a porta (aco) (15) Asala objeto estava suja (estado) ‘Tanto a preferéncia é esta que outras relacées sio possiveis, ‘mas, com frequéncia, sao vistas como resultado de alteragées (podemos dizer transformagées) da forma basica, como em (16), onde a passiva é vista como uma transforma¢éo da ativa (16) A porta objeto _ foi aberta (aco) pelo. menino (agente) Prince (1981) e Yule (1981) deixam clara a relagéo das formas linguisticas com a estrutura informacional, 0 que seria mais um papel dessas formas no estabelecimento da coeréncia. jore (1981) mostra que a pragmdtica das expresses 6 necessdria para explicar certos fatos que ocorrem no empre- go das mesmas e que as condigdes pragmaticas para a frase permitem saber suas possibilidades de interpretacio e, por- tanto, permitem perceber/estabelecer sua coeréncia. Fillmore exemplifica, utilizando a pragmatica dos verbos ire vir em frases que adaptamos para o Portugués nos exem- plos (17) a (20). Para facilitar a percepgio das diferengas pragmaticas entre as frases, Fillmore utiliza o recurso de imaginar que elas sao parte de um roteiro cinematogréfico e ‘como seria a filmagem do que cada frase descreve e como ficaria a cena em termos de elementos presentes, posicao da camara etc. Usamos aqui 0 mesmo recurso. Assim, pode-se sa OCH « TRAWGUA perccber que as frases, para serem aceitas como bem sequen- ciadas, requerem um contexto em que os eventos possam ser observados na ordem determinada pelas sequéncias que os descrevem, (17) A porta da lanchonete de Henrique abrit e dois homens vieram para dentro. — camara (observador) dentro da lanchonete — supde que um dos homens, ou os dois, abriram a porta — 86 hd dois homens (18) A porta da lanchonete de Henrique abriu e dois homens foram para dentro. — camara (observador) fora — alguém dentro abriu a porta — pode haver mais de dois homens, mas s6 dois entram ow ha um close na porta ese veem dois homens entra- em (Isto porque temos “dois homens” e no “os dois homens’) (19) Dois homens aproximaram-se da lanchonete de Henrique, abriram a porta e foram para dentro. — camara (observador) fora — pode ou nao haver mais de dois homens em cena — com certeza, foram 05 dois homens que abriram a porta (20) Dois homens aproximaram-se da lanchonete de Henrique, abriram a porta e vieram para dentro. — cimara (observador) dentro, mas tem de haver uma janela ou porta de vidro ou algo que permita a obser- vagio dos eventos na ordem em que sao descritos — pode ou néo haver mais de dois homens em cena — com certeza foram os dois homens que abriram a porta Tonto €coeREvcia p ee No que respeita 8 relacao do linguistico com o pragma- tico, também Van Dijk (1981, p. 233-236) mostra a importan- cia dos tragos linguisticos do enunciado, em todos 0s niveis (fonético/fonol6gico, morfol6gico /lexical, sintatico e seman- tico) para apreender os atos de fala realizados e, portanto, estabelecer a coesto pragmatica, Para Fillmore (1981), a tarefa mais importante da gra- matica do discurso é caracterizar, com base no material lin- guistico contido no discurso sob exame,o conjunto de mundos em que o discurso pode representar um papel e daf a impor- tancia da contextualizagao que as formas linguisticas permi- tem. Fillmore nao esta falando de contexto lingufstico (con- texto), mas de contexto de situacao. Fillmore também mostra a relacio das formas linguisti- cas com o tipo de texto, o que tem a ver com a ligagio entre intertextualidade e coeréncia e relaciona-se com o discutido em 2.4. Usa como exemplo 0 caso do texto narrativo oniscien- te seletivo do ponto de vista de um personagem, mostrando como 0 tipo do texto afeta o uso de elementos tais como pronomes, nomes pessoais, SNs definidos, tempos, palavras déiticas, regras de sequenciamento € 0 uso de itens lexicais epistémicos, avaliativos e de experiéncia psicolégica. Se 0 tipo de texto estabelece privilégios e restrigGes especiais ao uso de elementos linguisticos, evidentemente vai influir na possibilidade de interpretagao e percepcao da coeréncia. Franck (1986), falando das sentencas com “dupla ligagio sintética” que ocorrem na conversagao, mostra que em alguns casos elas tém uma fungao ligada a questo da tomada e manutengao do turno e outra ligada a questao da coeréncia eda relevancia da fala presente em face dos enunciados ime- diatamente precedentes. Sentencas ou frases com dupla liga- Go sintética sao aquelas que contém um termo ou expresso © OCH « TRAVAGLIA iat Sequcucia sintativa tanto com 0 que vem antes como com o que vem depois. Nas mii- sicas é comum 0 uso desse recurso para sugestio de duplo sentido. Nestes casos, a dupla ligacio sintatica se evidencia Pela forma de cantar com uma certa divisio das frases pelo ritmo e pausas da miisica. Um bom exemplo é encontrado no trecho da miisica Vocé nfo entende de nada de Chico Buarque de Holanda e Caetano Veloso, transcrito em (21), em que 0 termo “vocé” é cantado entre duas pausas relativamente longas, podendo, por isso, ser percebido tanto como objeto do verbo comer quanto como sujeito de “té entendendo” (21) Vocé é tao bonita. Vocé traz a Coca-Cola eu tomo Vocé bota a mesa eu como, eu como, eu como, eu como, eu como INoctif ‘Nao té entendendo quase nada do que eu digo Eu quero é irme embora Eu quero é dar o fora E quero que voce venha comigo. As sentencas com dupla ligacao sintética séo apenas um cxemplo de como 0 texto oral pode usar tipos de pistas lin- Suisticas diferentes daquelas do escrito para obter coeréncia, ou, por outra, para que o ouvinte possa perceber o texto como coerente. Para finalizar este comentario da relacao de elementos © estruturas linguisticas com a coeréncia, gostariamos de apenas elencar uma boa parte (a lista nao 6 exaustiva) dos fatores de natureza linguistica cujo funcionamento textual Papel no estabelecimento da coeréncia jé foi, de alguma for- ‘ma, enfocado, Sao eles: a anafora (pronominal — retomadas TEXTOE COERENCIA . # pronominais, nominal, déitica, posséssiva); as descrigdes definidas (com 0 mesmo referente); 0 uso dos artigos; as conjungGes, os conectores interfrésicos; marcas de tempora- lidade; tempos verbais (sucesso, concordancia); a repeticao (de signos, estruturas etc.);a elipse; modalidades; entonacio; subordinacéo e coordenacao; substitui¢ao sinonimica; ocor- réncia de signos do mesmo campo lexical;ordem de palavras; marcadores conversacionais; 0 componente lexical e os con- ceitos e mundos que se deflagram no texto; fendmenos de recuperagao pressuposicional; fendmenos de tematizagao: ‘temarema, t6pico-comentario e marcas de tematizacio; fend- menos de implicaco; orientagdes argumentativas de elemen- tos do léxico da lingua; componentes de significado de itens lexicais, 4.3 Conhecimento de mundo Se 0 conhecimento linguistico énecessério para o célculo da coeréncia, todos os estudiosos so unanimes em afirmar que tal conhecimento 6 apenas parte do que usamos para interpretar um texto e, portanto, para estabelecer sua coerén- cia. O estabelecimento do sentido de um texto depende em grande parte do conhecimento de mundo dos seus usuédrios, porque é s6 este conhecimento que vai permitir a realizacao de processos cruciais para a compreensao, a saber: a) a construgao de um mundo textual. A esse mundo se ligam crengas sobre mundos possiveis na concepgao dos usudrios, o que passa pelo modo como o receptor vé 0 texto: falando de um mundo real? de ficeao? etc. Isto influencia decisivamente se ele vai ver 0 texto comocoerente ou incoe- rente. Além disso, para haver compreensio é preciso que 0 a OCH « TRAVAGLIA mundo textual do emissor e do receptor tenham um certo grau de similaridade. O mundo textual, a representacao do mundo pelo texto, nunca coincide exatamente com o “mundo real”, porque ha semprea mediagao dos conhecimentos de mundo (que podem ser mais ou menos amplos), dos interesses e dos objetivos de quem produz (fala, escreve) o textoe de quem o recebe (ouve, 16) e interpreta, buscando seu sentido. Para que a coeréncia do texto possa ser estabelecida é preciso haver correspondén- cia, ao menos parcial, entre os conhecimentos ativados a partir do texto e 0 conhecimento de mundo do receptor, ar- ‘mazenado em sua meméria de longo termo; b)orelacionamento de elementos do texto (frases, partes do texto), aparentemente sem relagao, através de inferéncias; c) oestabelecimento da continuidade de sentido, através do conhecimento ativado pelas expressGes do texto na forma de conceitos e modelos cognitivos; 4d) a construgio da macroestrutura. Oconhecimento de mundo é visto como uma espécie de diciondrio enciclopédico do mundo e da cultura arquivado na meméria. Varios estudos tratam da meméria falando em _meméria semintica e episédica ou em memiéria de longo termo (ou permanente), de médio termo (ou operacional) e de curto termo (ou temporéria). As memérias semantica e episédica podem ser encaixadas na meméria de longo termo. Por isso vamos caracterizar apenas as trés tiltimas, utilizando princi- palmente as formulagies de Kato (1986). A meméria tempo- réria 6 0 lugar onde podemos armazenar sequéncias de mi- ‘meros ou de palavras e tem uma capacidade de armazenagem limitada, conforme alguns estudos, a sete itens. A meméria operacional & o lugar onde o contetido proposicional é arma- ‘Texto €coeRENCIA . 6 zenadiv, nao vende limutagao qua dificagéo dos elementos da meméria tempordria com uma abstracao da forma, através da associagao de seu contetido proposicional a uma informacao prévia do individuo. Os conceitos s40 af ativados como unidades de sentido. A me- méria permanente é 0 espaco de armazenagem e organizagao de todo o nosso conhecimento de mundo, ineluindo o conhe- cimento linguistico, conceitos, modelos cognitivos globais, fatos generalizados e epis6dios particulares provenientes da experiéncia de cada individuo. Normalmente os estudiosos dividem 0 conhecimento em dois tipos: a) conhecimento enciclopédico (“background knowledge”) que representa tudo 0 que se conhece e que est arquivado na meméria de longo termo; b) conhecimento ativado ("foreground knowledge") que é trazido a meméria presente (operacional e/ou temporéria). Esse conhecimento pode ser comum, resultado da expe- rigncia cotidiana, ou cientifico. A diferenca entre os dois pode afetar a compreensdo e criar problemas de coeréncia, princi- palmente porque o cientifico s6 € ativado em circunstancias particulares, fora das quais 0 texto se processa pelo conheci- ‘mento comum. Vejamos um exemplo. Embora cientificamen- te 0 “tomate” seja uma “fruta”, o conhecimento comum nao © coloca nesta classe, mas em outra classe: a dos “legumes”; assim, diante de uma sequéncia como (22) abaixo, as pessoas acham-na problemética e imaginam que seu produtor se tenha enganado ou no uso da palavra fruta ou da palavra tomate ou, por néo verem uma relacdo direta entre as duas frases, vao tentar imaginar uma situago em que ela faca sentido, calculando-Ihe a coeréncia. OCH « TRAMGUA (42) Meu tino wouxe-me uma caixa de tomates. As itutas estavam podres. Finalmente, é preciso lembrar que o conhecimento de mundo resulta de aspectos socioculturais estereotipados. ‘A compreensio do texto vai ser vista como um proces- samento da informagao, do conhecimento na meméria. Osestudos tém revelado que o conhecimento de mundo se estabelece e se armazena na meméria nao isoladamente, ‘mas que se organiza e representa na mente em conjuntos, em blocos, como unidades completas de conhecimento estereo- tipico, chamadas de conceitos e modelos cognitivos globais, dos quais passamos a falar. As teorias seménticas que propsem a compreensao do texto através do processamento de conhe- ‘cimento na meméria sao chamadas normalmente de constru- tivistas, cognitivas ou procedurais. Para Beaugrande e Dressler (1981),0 conceito é um bloco de instrugdes para operacGes cognitivas e comunicativas, é uma configuragio de conhecimentos estruturados em uma unidade consistente, mas nao monolitica ou estanque. Divi- dem os conceitos em primarios (objetos, situagdes, eventos, ages) e secundarios (estado, agente, entidade afetada, rela~ Gao, atributo, localizagao, tempo etc.) e propdem um modelo de funcionamento dos conceitos no processo de compreenséo do texto. Neste modelo, os conceitos primarios seriam os, candidatos mais provaveis a centros de controle no texto, a partir dos quais se pode processé-lo na construgao da conti- nuidade de sentido que estabelece a coeréncia. Segundo Garrafa (1987), os modelos cognitivos globais “so blocos completos de conhecimentos relativos a conceitos intensamente utilizados na interagao humana. Sao estruturas cognitivas que organizam nosso conhecimento convencional de mundo em conjuntos bem interligados"” Texto € cosRencia . en Entre os modelos cognitivos glabais, os “frames”, esquemas, planes e “scripts” vém sendo citados na literatura como os tipos basicos que sao utilizados no processamento cognitivo dos textos com vistas a sua compreensao. Ao lado deles, aparecem os cendrios e modelos mentais. Alguns desses mode- los foram propostos pelos estudos de inteligéncia artificial (‘frames”, “scripts”), outros pela psicologia da cognigao (cenarios, esquemas, modelos mentais). Embora todos os autores que trabalham na linha constru existéncia dos modelos cognitivos, cabe lembrar que hé uma flutuacio terminolégica, demodo que o mesmo conceito pode aparecer com diferentes nomes eo mesmo nome pode apa- recer ligado a diferentes conceitos. Hé autores que utilizam um s6 nome para todos 0s tipos de modelos cognitivos (teo- ria dos “frames”, teoria dos “esquemas” etc.). Tomaremos como base a proposta de Beaugrande e Dressler (1981), com alguns acréscimos que julgamos necessarios. “Frames” sao “modelos globais que contém 0 conheci- mento de senso comum sobre um conceito central (por exem- plo, Nai iagem aérea); estabelecem quais as coisas que,em sdo componentes de um todo, masnao estabelecem entre eles uma ordem ou sequéncia (I6gica ou temporal Osesquemas diferem dos “frames”, porque “sao modelos cujos elementos sao ordenados numa progressio, de modo que se podem estabelecer hipsteses sobre o que seré feito ou mencionadoa seguir no universo textual. As ligagées basicas sao a proximidade temporal e a causalidade, sendo, pois, 08 ‘esquemas previsiveis e ordenados”. Exemplos: Comer em um restaurante, pér um carro em movimento. Um tipo par- ticular de esquemas sao as superestruturas ou esquemas textuais (Van Dijk) de que trataremos em 4.10, Planos sao “modelos globais de acontecimentos e estados que conduzem a uma meta pretendida. Além de terem todos

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