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RESUMO: A proposta deste artigo é apresentar o ensaio de provas de carga estáticas, sua
importância e estudar os principais métodos de ensaio: unidirecional e bidirecional. Como itens
fundamentais em edificações com fundações em estacas, as provas de carga são a garantia de que a
fundação foi bem dimensionada ao revelar o comportamento da estaca isolada quando submetida à
ação de cargas maiores do que o projetado de acordo com os critérios de segurança. São
apresentados dois estudos de caso em estacas hélice contínua, nos quais a prova de carga foi
executada pelos métodos unidirecional e bidirecional. Os resultados dos ensaios são apresentados e
analisados, possibilitando diversas comparações técnicas sobre as particularidades de cada método e
conclusões acerca do desempenho das estacas ensaiadas no solo em análise. Verificou-se que ambos
os métodos comprovam a eficácia da interação solo-estaca e são recursos práticos para a verificação
segura da capacidade de carga de estacas.
reagindo contra um sistema de reação até atingir Para a elaboração de um projeto de fundações
o fator de segurança exigido pela Norma ou a em estacas profundas, geralmente são utilizados
ruptura da estaca. O descarregamento é o métodos semi-empíricos para estimar tanto a
estágio no qual o solo e a estrutura da estaca são carga admissível quanto o comprimento final da
aliviados com a redução gradual de carga. Em estaca de fundação, tomando por base os
cada estágio são monitorados os valores de resultados de sondagens a percussão (SPT) ou
carga aplicada e deslocamento e os resultados mais raramente sondagens a percussão com
são apresentados em forma de tabelas e gráficos medidas de torque (SPT-T). Porém, para saber o
(curva carga x deslocamento). Estes dados fator de segurança real das estacas é necessária
devem ser analisados pelo projetista de a realização de provas de carga estática em um
fundações sob o ponto de vista de cargas número estatístico de estacas definido pela NBR
admissíveis, deslocamentos e fatores de 6.122/2010. Segundo Vinicius Oliveira (2014,
segurança para validar a utilização da estaca p.22) "Os ensaios estão cada vez mais
como elemento de fundação. elaborados e os resultados estão muito
Apesar de sua grande utilização, a PCE próximos à realidade, tornando os projetos de
unidirecional apresenta algumas dificuldades, fundação mais econômicos e confiáveis".
como a necessidade de ser executada sobre um A partir de 2010, a obrigatoriedade da
bloco de estacas, a utilização de vigas de reação execução de provas de carga para verificação da
e equipamentos com dificuldades de acesso, segurança de fundações no Brasil trouxe o
itens que encarecem o custo do ensaio. Em ensaio à discussão no meio técnico, gerando
oposição a estes fatores, estudos buscaram a questionamentos, retroanálises e o
aplicação de um novo método de realização de aprimoramento a respeito dos métodos
PCE: a célula de carga bidirecional. O método existentes. Segundo Décourt (2013)
foi desenvolvido pelo brasileiro Da Silva e "Especificamente na engenharia de fundações
publicado em 1983, paralelamente à estudos não há consenso sobre praticamente nada.
desenvolvidos por Ostenberg nos Estados Entretanto, há consenso absoluto de que a
Unidos. Segundo Cruz (2015), a célula de carga melhor e mais confiável maneira de se avaliar a
bidirecional já é o método de ensaio mais capacidade de carga de qualquer fundação é
utilizados no mundo e vem crescendo de forma através de provas de carga."
significativa no Brasil. As PCE podem ser realizadas
Verifica-se que há divergência de opiniões previamente, durante ou após a execução das
entre considerações de cálculo, eficiência e estacas. Quando realizada durante a obra, a
interpretação dos resultados de cada ensaio e, norma define que a carga atingida no ensaio
em grande parte, estas divergências se devem à deve ser no mínimo duas vezes a carga de
larga aplicação da PCE unidirecional versus ao trabalho definida em projeto para as estacas.
menor acervo da PCE bidirecional. Desta Ainda de acordo com a norma, este fator pode
forma, este trabalho objetiva-se a apresentar ser reduzido para 1,6 vezes a carga de trabalho
resultados e particularidades dos dois métodos, somente para as provas de carga executadas
visando garantir que a decisão entre um método previamente. Se a carga alcançada não atingir os
ou outro seja tomada meramente por fatores de segurança citados, será necessária a
motivações técnicas, envolvendo viabilidade, reanálise das estacas e possivelmente a
custo e objetivos, de maneira semelhante à execução de um projeto de reforço. Quando a
escolha do tipo de fundação a ser utilizada. prova de carga é feita previamente este tipo de
problema é eliminado, pois caso o coeficiente
de segurança não seja atingido ainda há tempo
2 PROVAS DE CARGA ESTÁTICA de modificar o projeto de fundações ou a
distribuição de cargas.
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018
G = F1 = F2 + P (2)
-30
ambos são métodos seguros para a avaliação da
-35
-40 capacidade de carga e do desempenho de
-45 fundações e atingem os fatores de segurança
-50
-55 determinados pela NBR 6.122/2010. Desta
-60 forma, podem e devem ser utilizados como
-65
-70
alternativas de provas de carga em estacas.
-75 Observa-se, porém, que existem diferenças
-80
-85
na interpretação e principalmente na
0 250 500 750 1000 1250 1500
Cargas (kN)
1750 2000 2250 2500 2750
apresentação dos resultados, o que se justifica
Figura 9. Curvas carga x deslocamento do ensaio pela diferença conceitual entre os dois métodos.
bidirecional. O ensaio unidirecional apresenta os dados em
forma de uma única curva carga x
Curva carga x deslocamento Fuste - Topo da estaca
Estaca hélice contínua Fuste - Acima célula deslocamento, enquanto o ensaio bidirecional
1,60 apresenta duas curvas: uma superior à célula e
1,40
outra inferior. É importante destacar que a
transformação das duas curvas do ensaio
1,20
bidirecional em uma única curva não depende
apenas da soma das cargas e dos deslocamentos,
Deslocamentos (mm)
1,00
já que os pontos de aplicação de carga diferem,
0,80
dificultando assim a comparação entre ambos.
0,60
Outro ponto bastante discutido é se o valor
do atrito ascendente é numericamente igual ao
0,40
valor do atrito descendente. Como estes fatos
0,20 ainda não estão bem elucidados, podem
eventualmente induzir a interpretações ou
0,00
0 250 500 750 1000 1250 1500 1750 2000 2250 2500 2750 extrapolações duvidosas com relação ao
Cargas (kN)
resultado final e consequentemente com relação
Figura 10. Detalhe das curvas carga x deslocamento do
trecho acima da célula de carga. ao coeficiente de segurança real da estaca
ensaiada.
Pode-se notar através da curva carga x O ensaio unidirecional atingiu seu objetivo
deslocamentos que a curva inferior apresenta-se de chegar a 2 vezes a carga de trabalho sem o
com quase a totalidade dos deslocamentos ao rompimento da estaca ou do solo em questão.
atingir a carga máxima de ensaio. Isto ocorreu Após chegar à carga desejada (4.500 kN), foi
em grande parte devido ao posicionamento possível perceber um deslocamento de
incorreto da célula de carga, devendo ser locada aproximadamente 6,00 mm até a estabilização
a uma profundidade menor, visando aumentar o do ensaio, chegando a um deslocamento total de
atrito lateral na parte inferior e 30,60 mm na carga máxima do ensaio. Apesar
consequentemente, reduzir os deslocamentos. do ideal nesse tipo de ensaio seja não haver
Sabe-se que a célula de carga foi posicionada deslocamento na estabilização o ensaio foi
corretamente quando a curva apresenta considerado satisfatório, pois chegou a 4.500
deslocamentos proporcionais na parte superior e kN sem a ocorrência de ruptura da estaca.
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
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