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XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

Geotecnia e Desenvolvimento Urbano


COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

Análise de desempenho de provas de carga estática em estacas


Jaime Gonçalves Lopes
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, jaaime@live.com

Henrique Furia Silva


Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, henrique.furia@gmail.com

Isabella Torres Fortuna


Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, isabellatf@hotmail.com

Letícia Medola Valvassori


Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, leticiamedola@hotmail.com

Letícia Monego Weindler


Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, lemonego@globo.com.br

RESUMO: A proposta deste artigo é apresentar o ensaio de provas de carga estáticas, sua
importância e estudar os principais métodos de ensaio: unidirecional e bidirecional. Como itens
fundamentais em edificações com fundações em estacas, as provas de carga são a garantia de que a
fundação foi bem dimensionada ao revelar o comportamento da estaca isolada quando submetida à
ação de cargas maiores do que o projetado de acordo com os critérios de segurança. São
apresentados dois estudos de caso em estacas hélice contínua, nos quais a prova de carga foi
executada pelos métodos unidirecional e bidirecional. Os resultados dos ensaios são apresentados e
analisados, possibilitando diversas comparações técnicas sobre as particularidades de cada método e
conclusões acerca do desempenho das estacas ensaiadas no solo em análise. Verificou-se que ambos
os métodos comprovam a eficácia da interação solo-estaca e são recursos práticos para a verificação
segura da capacidade de carga de estacas.

PALAVRAS-CHAVE: Prova de carga estática, Unidirecional, Bidirecional, Fundações profundas,


Estacas.

1 INTRODUÇÃO Tendo em vista que o colapso de uma


estrutura de fundação pode provocar danos
Na engenharia de fundações brasileira, o início irreversíveis, principalmente à vida dos
da utilização do concreto armado aliado ao usuários, são executadas provas de carga para
surgimento de equipamentos específicos para a verificação de desempenho das estacas e
execução de estacas nas primeiras décadas do aferição na prática dos valores teóricos.
século XX, propiciou a execução de fundações Os ensaios de prova de carga estática (PCE)
profundas visando garantir a segurança são executados através da aplicação de
estrutural de obras que apresentam cargas carregamentos temporários na estaca e podem
elevadas. Com a modernização dos ser feitos previamente, durante, ou após a sua
equipamentos, das metodologias e o incremento execução na obra. O ensaio é executado em dois
nas cargas suportadas pelas estacas, estágios: carregamento e descarregamento. No
naturalmente surgem questionamentos acerca da primeiro, são aplicados incrementos de carga
capacidade de carga dos solos de base. nas estacas através de macacos hidráulicos
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reagindo contra um sistema de reação até atingir Para a elaboração de um projeto de fundações
o fator de segurança exigido pela Norma ou a em estacas profundas, geralmente são utilizados
ruptura da estaca. O descarregamento é o métodos semi-empíricos para estimar tanto a
estágio no qual o solo e a estrutura da estaca são carga admissível quanto o comprimento final da
aliviados com a redução gradual de carga. Em estaca de fundação, tomando por base os
cada estágio são monitorados os valores de resultados de sondagens a percussão (SPT) ou
carga aplicada e deslocamento e os resultados mais raramente sondagens a percussão com
são apresentados em forma de tabelas e gráficos medidas de torque (SPT-T). Porém, para saber o
(curva carga x deslocamento). Estes dados fator de segurança real das estacas é necessária
devem ser analisados pelo projetista de a realização de provas de carga estática em um
fundações sob o ponto de vista de cargas número estatístico de estacas definido pela NBR
admissíveis, deslocamentos e fatores de 6.122/2010. Segundo Vinicius Oliveira (2014,
segurança para validar a utilização da estaca p.22) "Os ensaios estão cada vez mais
como elemento de fundação. elaborados e os resultados estão muito
Apesar de sua grande utilização, a PCE próximos à realidade, tornando os projetos de
unidirecional apresenta algumas dificuldades, fundação mais econômicos e confiáveis".
como a necessidade de ser executada sobre um A partir de 2010, a obrigatoriedade da
bloco de estacas, a utilização de vigas de reação execução de provas de carga para verificação da
e equipamentos com dificuldades de acesso, segurança de fundações no Brasil trouxe o
itens que encarecem o custo do ensaio. Em ensaio à discussão no meio técnico, gerando
oposição a estes fatores, estudos buscaram a questionamentos, retroanálises e o
aplicação de um novo método de realização de aprimoramento a respeito dos métodos
PCE: a célula de carga bidirecional. O método existentes. Segundo Décourt (2013)
foi desenvolvido pelo brasileiro Da Silva e "Especificamente na engenharia de fundações
publicado em 1983, paralelamente à estudos não há consenso sobre praticamente nada.
desenvolvidos por Ostenberg nos Estados Entretanto, há consenso absoluto de que a
Unidos. Segundo Cruz (2015), a célula de carga melhor e mais confiável maneira de se avaliar a
bidirecional já é o método de ensaio mais capacidade de carga de qualquer fundação é
utilizados no mundo e vem crescendo de forma através de provas de carga."
significativa no Brasil. As PCE podem ser realizadas
Verifica-se que há divergência de opiniões previamente, durante ou após a execução das
entre considerações de cálculo, eficiência e estacas. Quando realizada durante a obra, a
interpretação dos resultados de cada ensaio e, norma define que a carga atingida no ensaio
em grande parte, estas divergências se devem à deve ser no mínimo duas vezes a carga de
larga aplicação da PCE unidirecional versus ao trabalho definida em projeto para as estacas.
menor acervo da PCE bidirecional. Desta Ainda de acordo com a norma, este fator pode
forma, este trabalho objetiva-se a apresentar ser reduzido para 1,6 vezes a carga de trabalho
resultados e particularidades dos dois métodos, somente para as provas de carga executadas
visando garantir que a decisão entre um método previamente. Se a carga alcançada não atingir os
ou outro seja tomada meramente por fatores de segurança citados, será necessária a
motivações técnicas, envolvendo viabilidade, reanálise das estacas e possivelmente a
custo e objetivos, de maneira semelhante à execução de um projeto de reforço. Quando a
escolha do tipo de fundação a ser utilizada. prova de carga é feita previamente este tipo de
problema é eliminado, pois caso o coeficiente
de segurança não seja atingido ainda há tempo
2 PROVAS DE CARGA ESTÁTICA de modificar o projeto de fundações ou a
distribuição de cargas.
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2.1 Prova de carga unidirecional x


bidirecional

As PCE unidirecionais são executadas com o


carregamento e descarregamento de carga
através de um macaco hidráulico posicionado
sobre o topo da estaca, conforme indicado na
Figura 1, e com medições realizadas através de
um manômetro ou célula de carga. Para que Figura 2. Detalhamento de uma PCE bidirecional.
ocorra reação no macaco hidráulico durante o
carregamento, é necessário um sistema No ensaio bidirecional, a força aplicada pela
composto por vigas apoiadas em estacas célula de carga (G) deve ser capaz de equilibrar
previamente calculadas a resistirem aos esforços o atrito lateral no trechodo fuste acima da célula
de tração. (F1) com a somatória do atrito lateral no trecho
do fuste abaixo da célula (F2) e a resistência de
ponta (P), conforme a Equação 2:

G = F1 = F2 + P (2)

Observa-se então que o posicionamento da


célula deve proporcionar um equilíbrio das
forças na interação solo-estaca e é fundamental
para a correta realização do ensaio e
consequente interpretação incorreta do
Figura 1. Detalhamento de uma PCE unidirecional. comportamento da estaca.
Os estudos nacionais e internacionais mais
Neste caso, toda a força aplicada pelo recentes a respeito das PCE unidirecionais
macaco hidráulico apresenta reações de igual sugerem que o método identifica deslocamentos
intensidade nas vigas conectadas às estacas excessivos nas estacas de reação, gerando
auxiliares (2Q) e na soma do atrito lateral (F) resultados em discrepância com a realidade,
com a resistência de ponta (P) da estaca, além de apresentar dados com grau satisfatório
conforme a Equação 1. de precisão, mas com desvios relacionados à
distribuição das tensões por atrito lateral e pela
2Q = F + P (1) base da fundação. Mesmo com a utilização da
instrumentação, este ensaio tende a apresentar
Já as PCE bidirecionais são executadas uma resistência de ponta maior e uma
através de uma célula de carga posicionada no resistência por atrito lateral menor do que a
fuste da estaca, conforme indicado na Figura 2, existente, pois desconsidera a existência de
com o princípio de que a estaca reaja contra ela tensões residuais como afirma Fellenius (2014).
mesma. A célula funciona como um cilindro Desta forma, a literatura atual busca alternativas
acionado por tubos conectados à superfície que de interpretação dos resultados do ensaio
causam sua expansão. Ao se expandir, a célula através de correlações semi-empíricas e
provoca a ruptura física da estaca e após o interpolações, visando aproximá-los ainda mais
ensaio deve ser preenchida com nata de cimento da realidade.
de forma a recuperar a integridade da estaca. Comparativamente, os estudos elaborados a
respeito das PCE bidirecional visam a aceitação
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do método no meio técnico, fortalecendo seus A diferença entre os diagramas normais


resultados e indicando-a como uma alternativa impossibilita a comparação direta entre os
aos principais problemas da PCE convencional, métodos, motivando a busca por extrapolações
pois ele considera as tensões residuais na ponta e correlações que tornem possíveis uma
da estaca, além de não necessitar de vigas de comparação efetiva entre os métodos. A
reação e demais equipamentos para a execução distribuição das cargas no ensaio unidirecional
do ensaio. Adicionalmente, o meio técnico possui a mesma configuração dos pilares aos
discute sobre posicionamento da célula de carga quais as estacas serão submetidas, enquanto o
em uma estaca, que é de fundamental ensaio bidirecional apresenta as maiores cargas
importância para o sucesso do ensaio. Fellenius no meio do fuste e são distribuídas em duas
(2014) sugere que a célula de carga seja direções. A correlação entre as duas
colocada a uma altura de 2 ou 3 vezes o distribuições ainda é fruto de estudos no meio
diâmetro da estaca acima de sua base, de modo geotécnico.
a garantir igualdade entre a resistência no fuste Como forma de analisar e entender melhor
(acima da célula) e a parcela restante do fuste os dois procedimentos aqui apresentados, serão
somada à resistência de ponta (abaixo da apresentados na sequência dois estudos de caso:
célula). Em alguns casos, pode haver uma uma PCE unidirecional e uma PCE bidirecional.
limitação executiva para instalação das células, Ao analisar as premissas adotadas, o método
como por exemplo a profundidade da célula em executivo, as interferências e os resultados
estacas hélice contínua e a impossibilidade de obtidos, serão discutidas as questões
realizar o ensaio em fundações já concluídas. apresentadas a respeito de ambos os métodos.
Outra grande discussão no meio geotécnico é
com relação a interpretação dos resultados no
ensaio bidirecional. Como a carga é aplicada em 3 PROVA DE CARGA UNIDIRECIONAL
regiões distintas nos dois ensaios, os diagramas
de transferência de cargas serão completamente A prova de carga estática unidirecional a ser
diferentes conforme ilustrado na Figura 3. estudada foi executada em um empreendimento
residencial, localizado na Avenida Onze de
Junho, no município de São Paulo/SP.
De modo que o projeto ficasse mais
econômico e para aproveitar as estacas de
projeto como estacas de reação, foi escolhido
estrategicamente um bloco do pilar com uma
configuração apropriada para a realização do
ensaio. O bloco P28 é composto por 4 estacas
ϕ80 cm que fizeram parte das estruturas de
fundação do edifício, como mostra a Figura 4.
Estas foram dimensionadas e utilizadas como
elementos de reação através do acréscimo de
barras de ancoragem Dywidag ST85/105 ϕ32
(inseridas em toda sua profundidade) para
absorver os esforços de tração gerados no
ensaio.
Figura 3. Diagrama de esforços normais em estacas ao
longo do ensaio de PCE unidirecional (à esquerda) e
bidirecional (à direita).
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A medição de deslocamentos da estaca foi


efetuada através de 4 extensômetros, com haste
de curso de 50 mm e precisão de 0,01 mm,
dispostos nas 4 faces do bloco de coroamento,
denominado de D1 a D4. Os relógios foram
instalados por meio de garras magnéticas
apoiadas nas vigas de referências metálicas,
cujos apoios foram confeccionados com
Figura 4. Bloco de fundação utilizado para o ensaio de
PCE unidirecional com destaque na estaca ensaiada.
pontaletes de madeira cravados na região fora
da área de influência do ensaio.
Para a realização da prova de carga O carregamento foi executado seguindo
estática, foi adicionada uma estaca no centro do todas as recomendações citadas na NBR
bloco, denominada E-ensaio ensaiada para 12.131/2006. O carregamento utilizado no
compressão. A estaca ensaiada tem também ensaio foi do tipo misto, isto é, lento até 1,2
diâmetro de 80cm e 15 metros de comprimento, vezes a carga de trabalho (2.700 kN) com
com a carga de trabalho prevista de 2.250kN e incrementos de 500 kN por estágio e
possui uma armação longitudinal composta por carregamento rápido nos demais estágios com
12 barras de ϕ25 mm. incrementos de 250 kN por estágio, até a atingir
O sistema de medição foi obtido através acarga máxima de 2,0 vezes a carga de trabalho
da instalação de duas vigas metálicas de (Qmáx = 4.500 kN).
referência, com os apoios localizados a uma No trecho lento foram observados os
distância aproximada de 3,00 m do eixo da critérios de estabilização das deformações em
estaca ensaiada. todos os estágios de carregamento, ao passo que
Sobre o topo da estaca teste, foi executado no rápido, os incrementos tiveram intervalos
um bloco de concreto armado, denominado de constantes de 10 minutos. O descarregamento
bloco de coroamento, cuja função é suportar os foi realizado, através de 5 decrementos iguais
esforços gerados durante o ensaio através do de 900 kN.
macaco hidráulico. O macaco foi posicionado As cargas aplicadas, determinadas através
entre o bloco de coroamento e a face inferior da do manômetro da bomba, foram verificadas por
viga. Assim, quando o macaco é acionado, meio de células de carga devidamente
transmite os esforços à estaca teste e reage calibradas sobre o macaco. Os resultados
contra as vigas metálicas que transmitem os obtidos no ensaio são apresentados na Figura 6.
esforços de tração para as estacas de reação.
Toda a estrutura descrita é apresentada na
Figura 5.

Figura 5. Ensaio de PCE unidirecional com o bloco de


coroamento, macaco hidráulico e vigas metálicas.
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Curva carga x deslocamento profundidade e a célula expansiva foi


Estaca hélice contínua posicionada a 17,0m de profundidade.
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000 Todo o ensaio foi amparado pela NBR
0
D1 12.131/2006. De acordo com a Norma, foi
-5 D2 adotado o método de carregamento rápido.
D3
-10
Neste método, devem ser aplicados
D4
Deslocamentos (mm)

carregamentos em estágios iguais e sucessivos


-15 de no máximo 10% da carga total de trabalho
-20
prevista para a estaca. Em cada estágio, deve-se
manter a carga por 10 minutos, realizando-se
-25 uma leitura no primeiro minuto e outra no
-30
décimo minuto. No carregamento rápido, não é
necessário aguardar a estabilização dos
-35
Cargas (kN)
deslocamentos. O descarregamento deve ser
Figura 6. Curva carga x deslocamentos da PCE realizado em 4 estágios, mantidos por 10
unidirecional. minutos e com a leitura dos deslocamentos.
Anteriormente à execução do ensaio, fixou-
Apesar do visível deslocamento ocorrido no se a célula de carga à armação e foram
término do ensaio, não houve ruptura da estaca conectados três tubos de PVC à célula, que
e o deslocamento na carga de trabalho (Q=2.250 devem percorrer todo o comprimento até a
kN) foi da ordem de 4,0mm, um valor razoável superfície. Estes tubos servirão para a injeção
e aceito no meio geotécnico. O fator de de água na célula, visando a sua expansão
segurança atingido foi de 2,1 vezes a carga de hidrodinâmica, além de medir deslocamentos na
trabalho e a deformação máxima foi da ordem ponta e logo acima da célula de carga através de
de 31 mm, com um valor residual de 26 mm extensômetros posicionados na superfície e
após o descarregamento. Não foi observada conectados à célula.
qualquer anormalidade no sistema de reação Após o preparo do conjunto inicia-se a
durante a execução do ensaio. Considera-se, perfuração do trado até a cota de apoio da
então, que a PCE unidirecional possui resultado estaca, retirando o solo mobilizado
satisfatório e atendeu aos requisitos de concomitantemente à injeção de concreto ao
segurança. longo do fuste. Assim que a estaca está
concretada até o topo, é realizado o içamento do
conjunto célula-armação como indicado na
4 ESTUDO DE CASO: PROVA DE CARGA Figura 7, com o cuidado de não danificar a
BIDIRECIONAL célula de carga. pois qualquer dano na célula de
carga acarretará em resultados imprecisos,
A obra em que foram realizados os ensaios incorretos ou até mesmo na impossibilidade da
localiza-se na cidade de São Paulo, SP, no execução do ensaio. Com o término do
bairro do Jardim Marajoara. Trata-se de um içamento, é necessário aguardar 15 dias para a
conjunto de edifícios residenciais com duas realização do ensaio, de modo que o concreto
torres de 21 pavimentos e 8 apartamentos por ganhe resistência.
andar, de 80 e 60 m², médio padrão.
A PCE foi realizada em Maio de 2016 e está
identificada pela sigla PCE03. A estaca de
80cm de diâmetro possui carga de trabalho
máxima de 2.500 kN e está representada pela
sigla P220A. A estaca possui 24,75m de
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Cada estágio de carregamento é provido pela


injeção de água na célula de carga através dos
tubos PVC e possuem acréscimo de 244,0kN,
com leituras no primeiro e no décimo minuto,
transcorrendo até a carga de trabalho prevista.
A abertura da célula provoca a ruptura física
da estaca, separando assim o fuste em 2 trechos.
Após o término, utilizam-se os tubos que
enviam água para a célula e realiza-se a injeção
de nata de cimento por um dos tubos de PVC. A
partir do momento em que a água é expulsa pela
nata e começa a sair pelo outro tubo na
superfície, prova-se o êmbolo da célula está
todo preenchido com nata. Já o espaço externo
no entorno da célula é preenchido através dos
tubos utilizados para realizar a instrumentação.
Estes tubos são presos com dois anéis na célula
e são rompidos com a pressão no decorrer do
ensaio, possibilitando a injeção da nata de
cimento com alta pressão, o que reestabelece a
Figura 7. Içamento do conjunto célula + armação. integridade da estaca.
O objetivo do ensaio é o fornecimento de
Para a medição dos deslocamentos, curvas carga x deslocamento e garantir a
normalmente são utilizados 3 telltales com estabilidade da estaca na interação com o solo
precisão de 0,01mm. Estes instrumentos são após o acréscimo de cargas. A partir das curvas
previamente e estrategicamente posicionados de carga x deslocamento, pode-se verificar o
em três regiões da estaca de tal forma a se obter desempenho da estaca. A curva é dividida em
leituras de deslocamento do topo da estaca, do duas: uma correspondente ao trecho superior da
trecho de estaca acima da célula e do trecho de célula e outra correspondente ao trecho inferior
estaca abaixo da célula. Todos os telltales são da célula. Sugere-se para estudos futuros a
conectados a extensômetros, utilizados para a interpretação e a transformação das duas curvas
medição dos deslocamentos, como indicado na em uma única para simulação do resultado de
Figura 8. uma prova de carga estática unidirecional. Os
resultados obtidos no ensaio são apresentados
na Figura 9 e a parte acima da célula de carga é
detalhada na Figura 10.

Figura 8. Extensômetros utilizados no ensaio bidirecional.


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Ponta da estaca
Curva carga x deslocamento
Estaca hélice contínua Fuste - Topo da estaca inferior da célula.
Fuste - Acima célula
5
0
-5
-10 6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
-15
-20
-25 Prova-se, com o sucesso dos ensaios, que
Deslocamentos (mm)

-30
ambos são métodos seguros para a avaliação da
-35
-40 capacidade de carga e do desempenho de
-45 fundações e atingem os fatores de segurança
-50
-55 determinados pela NBR 6.122/2010. Desta
-60 forma, podem e devem ser utilizados como
-65
-70
alternativas de provas de carga em estacas.
-75 Observa-se, porém, que existem diferenças
-80
-85
na interpretação e principalmente na
0 250 500 750 1000 1250 1500
Cargas (kN)
1750 2000 2250 2500 2750
apresentação dos resultados, o que se justifica
Figura 9. Curvas carga x deslocamento do ensaio pela diferença conceitual entre os dois métodos.
bidirecional. O ensaio unidirecional apresenta os dados em
forma de uma única curva carga x
Curva carga x deslocamento Fuste - Topo da estaca
Estaca hélice contínua Fuste - Acima célula deslocamento, enquanto o ensaio bidirecional
1,60 apresenta duas curvas: uma superior à célula e
1,40
outra inferior. É importante destacar que a
transformação das duas curvas do ensaio
1,20
bidirecional em uma única curva não depende
apenas da soma das cargas e dos deslocamentos,
Deslocamentos (mm)

1,00
já que os pontos de aplicação de carga diferem,
0,80
dificultando assim a comparação entre ambos.
0,60
Outro ponto bastante discutido é se o valor
do atrito ascendente é numericamente igual ao
0,40
valor do atrito descendente. Como estes fatos
0,20 ainda não estão bem elucidados, podem
eventualmente induzir a interpretações ou
0,00
0 250 500 750 1000 1250 1500 1750 2000 2250 2500 2750 extrapolações duvidosas com relação ao
Cargas (kN)
resultado final e consequentemente com relação
Figura 10. Detalhe das curvas carga x deslocamento do
trecho acima da célula de carga. ao coeficiente de segurança real da estaca
ensaiada.
Pode-se notar através da curva carga x O ensaio unidirecional atingiu seu objetivo
deslocamentos que a curva inferior apresenta-se de chegar a 2 vezes a carga de trabalho sem o
com quase a totalidade dos deslocamentos ao rompimento da estaca ou do solo em questão.
atingir a carga máxima de ensaio. Isto ocorreu Após chegar à carga desejada (4.500 kN), foi
em grande parte devido ao posicionamento possível perceber um deslocamento de
incorreto da célula de carga, devendo ser locada aproximadamente 6,00 mm até a estabilização
a uma profundidade menor, visando aumentar o do ensaio, chegando a um deslocamento total de
atrito lateral na parte inferior e 30,60 mm na carga máxima do ensaio. Apesar
consequentemente, reduzir os deslocamentos. do ideal nesse tipo de ensaio seja não haver
Sabe-se que a célula de carga foi posicionada deslocamento na estabilização o ensaio foi
corretamente quando a curva apresenta considerado satisfatório, pois chegou a 4.500
deslocamentos proporcionais na parte superior e kN sem a ocorrência de ruptura da estaca.
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O ensaio bidirecional atingiu os fatores de dificultosa a execução do ensaio bidirecional


segurança com deslocamentos de em estacas pré-moldadas de concreto ou
aproximadamente 83,0mm, um valor metálicas e a definição da estaca a ser ensaiada
considerado elevado na prática e deve-se ao deve ser realizada antes da concretagem da
posicionamento incorreto da célula de carga. mesma, para permitir a inserção da célula de
Verifica-se, portanto, que a garantia do bom carga. Vale lembrar também que necessitam de
posicionamento é fundamental para revelar o empresas altamente qualificadas para a sua
comportamento da estaca nas condições reais de realização e difusão.
solicitação. Deve-se destacar, porém, que Por fim, verificou-se que o ensaio
mesmo com o posicionamento incorreto e bidirecional não possui procedimento executivo
considerando a carga de trabalho real do normatizado, apesar de ser validado, e o seu
edifício (2.500kN) o deslocamento total obtido estudo ainda é raso, o que torna sua aceitação
foi de 2,8mm, um valor seguro e aceitável para dificultosa no meio geotécnico. Ressalta-se que
a engenharia de fundações. o ensaio unidirecional é o mais difundido no
mercado por ser uma prática comum há décadas
e já consagrado no meio técnico. A publicação
7. CONCLUSÃO de estudos, procedimentos e o desenvolvimento
comercial das PCE bidirecionais, aliados à
Com os estudos realizados foi possível concluir busca por inovação e competitividade nas PCE
que ambos os ensaios comprovam a eficácia da unidirecionais é um cenário que está em
interação solo-estaca e são métodos práticos desenvolvimento e o seu progresso tende à
para a verificação segura da capacidade de carga contribuir positivamente para o futuro da
e desempenho da estaca. Nota-se pelas provas engenharia geotécnica brasileira.
de carga estudadas, que os métodos semi-
empíricos foram suficientes para o REFERÊNCIAS
dimensionamento das estacas, atendendo o fator
de segurança exigido pela norma. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
Apesar de os dois métodos serem utilizados TÉCNICAS. NBR 6122: Projeto e construção de
fundações. 2. ed. Rio de Janeiro, out. 2010.
para os mesmos fins e apresentarem resultados
satisfatórios, conceitualmente são diferentes. Na ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
prova de carga unidirecional são necessárias TÉCNICAS. NBR 12131: Estacas – Prova de carga
estruturas auxiliares para compor o sistema de estática. 1. ed. Rio de Janeiro, out. 1992.
reação, enquanto o ensaio bidirecional é
CÉLULA Expansiva Hidrodinâmica - Arcos Engenharia
suficiente apenas à estaca teste. Outra diferença de Solos. São Paulo: Arcos Engenharia de Solos,
substancial é o ponto de aplicação da carga, em 2012. (5 min.), son., color. Legendado. Disponível
que no ensaio unidirecional é aplicada no topo em:
da estaca e no bidirecional a aplicação é feita no <https://www.youtube.com/watch?v=eM2722BCwgk
fuste da mesma. Como consequência, existem >. Acesso em: 9 jul. 2012.
controvérsias sobre a interpretação dos CINTRA, José Carlos A. et al. Ensaios estáticos e
resultados. dinâmicos. São Paulo: Oficina de Textos, 2014. 133
É importante acrescentar que a escolha dos p. (Fundações).
ensaios depende também das suas limitações. A
CRUZ, Felipe Souza. Desafios de Inovação - Ensaio
execução do ensaio unidirecional se torna
Bidirecional. 2016. Disponível em:
oneroso devido à necessidade de um espaço <https://www.linkedin.com/pulse/desafios-de-
adequado e acesso para alocar o sistema de inovação-ensaio-bi-direcional-felipe-souza-cruz>.
reação e um transporte mais robusto para tais Acesso em: 28 mar. 2016.
equipamentos. Por outro lado, torna-se
FELLENIUS, Bengt H.. Analysis of results from routine
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static loading tests with emphasis on the Bidirectional


Test. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
MECÂNICA DOS SOLOS E ENGENHARIA
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